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WBA0839_v.1.

APRENDIZAGEM EM FOCO

CONSTRUÇÕES DE ATERRO
SOBRE SOLOS MOLES
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Autoria: Bianca Lopes de Oliveira
Leitura crítica: Eduarda Pereira Barbosa

Recalques intoleráveis, instabilidade do solo e fissuras são situações


indesejáveis em qualquer tipo de obra, mas podem ser comuns no
desenvolvimento de projetos sobre solos moles.

Com o crescimento urbano cada vez mais rápido, a ocupação


de áreas litorâneas e várzeas de rios tem sido frequente. Nessas
regiões, ocorrem depósitos de solos moles, como solos argilosos
saturados com baixíssima resistência ao cisalhamento e alta
compressibilidade.

Esse contexto configura-se como uma situação desafiadora para a


engenharia, uma vez que pode ser necessário projetar obras com
coeficientes de segurança relativamente baixos em comparação a
outros projetos geotécnicos.

Você pode estar se perguntando: Como elaborar esses projetos?


Que parâmetros devem ser levados em consideração e como
podem ser obtidos? A resposta está na disciplina Construções de
aterros sobre solos moles que apresentará os principais métodos
construtivos de aterros sobre solos moles.

Serão apresentados o aterro de conquista, aterro de ponta, aterros


leves, aterros reforçados com geossintéticos, aterros estruturados
como o sobre estacas ou colunas granulares, entre outros.

Mas, como escolher o método adequado para cada situação? Esta


disciplina tem como objetivo esclarecer os parâmetros utilizados
para o dimensionamento de aterros considerando todos os

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elementos envolvidos como solo mole de fundação, o aterro e os
materiais de reforço.

Você também estudará quais investigações geotécnicas são


necessárias para conhecer o solo que servirá de apoio ao aterro,
como os ensaios de palheta e piezocone. Permitirá que você
determine os recalques por meio do estudo do adensamento
unidimensional e conheça quais alternativas podem ser aplicadas
para aceleração desses recalques. Também são apresentadas as
análises de estabilidade utilizadas para a solução de aterros sobre
solos compressíveis, avaliando o solo de fundação, o possível
deslocamento do aterro e a estabilidade global do conjunto aterro
e solo de fundação, além de formas de monitoramento durante e
após a construção dessas obras.

INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira


direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática
abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar
reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática
profissional. Vem conosco!

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TEMA 1

Investigações geotécnicas em solos


moles
______________________________________________________________
Autoria: Bianca Lopes de Oliveira
Leitura crítica: Eduarda Pereira Barbosa
DIRETO AO PONTO

Na construção de obras geotécnicas, como aterros, é possível


encontrar solos que apresentam características compressíveis,
gerando recalques excessivos e até a ruína de estruturas. Em regiões
litorâneas e várzeas de rios e córregos, é comum a localização de
depósito de solos moles, um desafio para a execução de aterros e
construção de edificações.

Os solos moles, conforme Massad (2010), são solos sedimentares


que possuem baixa resistência a penetração (SPT), em geral, argilas
moles ou areias argilosas fofas. Eles apresentam propriedades
geotécnicas bastante variáveis, em função do tipo de formação.
Assim, é imprescindível a execução de investigações geotécnicas
para a determinação de suas características e consequente
elaboração de projetos adequados para as construções a serem
realizadas nestes tipos de solos. Além, do conhecimento da
topografia do local, dados da vizinhança e tipos de obras.

Na investigação do solo busca-se obter amostras para realização de


ensaios no laboratório, executar ensaios de campo in situ, identificar
o tipo de solo e determinar a posição do nível do lençol freático. Este
processo envolve o reconhecimento inicial do solo, investigações
preliminares e complementares, como ilustrado na Figura 1.

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Figura 1 – Etapas da investigação do solo

Fonte: elaborada pelo autor.

Na investigação preliminar para solos moles, a sondagem SPT


fornece NSPT inferior a 2. Esta etapa tem a principal função de
identificar as camadas com suas respectivas espessuras e se
a camada subjacente ao solo mole é drenante. No entanto,
para diferenciar a natureza do solo e sua consistência, devem
ser retiradas amostras que são levadas ao laboratório para a
caracterização completa do solo por meio da determinação de
parâmetros como umidade, análise granulométrica e limites de
Atterberg.

Também são realizados outros ensaios para investigação


complementar. Por exemplo, entre os ensaios de campo in situ mais
comumente utilizados estão o ensaio de palheta e o piezocone. O
ensaio de palheta (vane test) consiste na rotação de uma palheta
cruciforme no solo e medição dos valores de resistência do solo.
Ele permite a determinação dos valores da resistência do solo não
drenada (Su) e a estimativa da razão de sobreadensamento da argila.

O ensaio de piezocone é feito pela cravação contínua de um


elemento cilíndrico de ponta cônica que mede a resistência de
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ponta, o atrito lateral e a poropressão do solo. Com seus dados,
classifica-se o solo, determinando a estratigrafia do terreno e
seu perfil de resistência não drenada. No laboratório, além da
caracterização completa do solo, podem ser realizados ensaios que
auxiliam na determinação da envoltória de ruptura do solo e do Su.
O ensaio de adensamento envolve a compressão de uma amostra
de solo por meio de incrementos de carga, a fim de se calcular a
magnitude dos recalques e sua evolução ao longo do tempo. Além
disso, o solo é uma argila normalmente adensada ou pré-adensada.

Um ensaio muito utilizado para avaliação de solos moles é o ensaio


triaxial UU. Este ensaio não adensado não drenado, permite a
construção do círculo de Mohr em tensões totais e definição da
envoltória de ruptura e do Su. Todos esses ensaios permitem
estabelecer parâmetros para a análise de estabilidade dos aterros e
desenvolvimento de projetos.

Assim, como você pôde observar, a investigação geotécnica é


essencial para minimizar riscos e custos das obras. Para solos moles,
o ensaio de SPT deve ser utilizado juntamente com outros ensaios
complementares. Sem o conhecimento dos parâmetros geotécnicos,
não é possível uma análise correta de estabilidade do aterro e a
definição do melhor método construtivo de execução.

Referências bibliográficas
MASSAD, F. Obras de Terra – curso básico de geotecnia. 2. ed. São Paulo:
Editora Oficina de Textos, 2010.

PARA SABER MAIS

Para a realização de ensaios de laboratório, como o ensaio de


adensamento e os ensaios triaxiais, devem ser retiradas amostras de
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solo em várias profundidades. Existem vários tipos de amostragem
que possuem qualidades diferenciadas de amostras.

Na sondagem SPT é realizada a amostragem com o uso do


amostrador meia-cana padrão. Este amostrador, consiste em uma
ponteira de aço-ferramenta na parte inferior, um tubo de aço
dividido em duas metades e um acoplamento da parte superior.
Após a perfuração até a profundidade desejada, é fixado na haste
de perfuração e utilizado para o ensaio de resistência SPT. Depois
do ensaio realizado, é retirado e a amostra contida em seu interior é
removida e transportada para o laboratório por meio de recipientes
de vidro (DAS; SOBHAN, 2014).

Esse tipo de amostra é considerado deformada, sendo utilizada para


a caracterização do solo por meio da análise granulométrica, assim
como a determinação do limite de plasticidade e limite de liquidez.
Não é utilizado para ensaios mais complexos como o ensaio de
adensamento e triaxial.

Para a obtenção de amostras de solo razoavelmente indeformadas,


pode ser utilizado o amostrador com tubo de paredes finas.
Esses tubos finos e sem costura são chamados de tubos Shelby,
e tem como função obter amostras com pouca deformação.
Após a perfuração, são retiradas as ferramentas de perfuração
e o amostrador Shelby é fixado a haste de perfuração. Depois é
empurrado, hidraulicamente, para o interior do solo, girado até
cortar a base e puxado. Essa amostra é considerada indeformada
sendo selada e levada para o laboratório.

Em caso de necessidade de amostras altamente indeformadas, é


recomendado o uso do amostrador de pistão. Ele é formado por
um tubo de parede fina com um pistão. O pistão, inicialmente, fecha
a extremidade do tubo de parede fina. Ele é inserido no furo até o
fundo e, então, empurrado para dentro do solo hidraulicamente,

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para além do pistão. Após isso, a pressão é liberada por meio de um
furo na haste do pistão. Este é responsável em impedir a distorção
da mostra, não admitindo solo em excesso ou a compressão rápida
dentro do tubo de amostragem.

As amostras indeformadas são essenciais para a determinação


de parâmetros coerentes com a realidade. Quando sofrem
perturbações ou amolgamento, podem perder qualidade. O grau de
amolgamento pode ser expresso em um índice de área, que é dado
por:

Onde De é o diâmetro externo do amostrador e Di é o diâmetro


interno do amostrador. Uma amostra indeformada tem índice de
área menor ou igual a 10% (DAS; SOBHAN , 2011).

Referências bibliográficas
DAS, B. M.; SOBHAN, K. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 7. ed. São
Paulo: Cengage Learning, 2014.

TEORIA EM PRÁTICA

Quando a argila sofre uma ação externa como a ocorrência de um


carregamento, surgem excessos de pressão neutra que promovem
um fluxo de água no seu interior, deformando o solo até atingir um
equilíbrio. Para que seja previsto o comportamento do solo pode ser
realizado o ensaio de adensamento.

Sabendo disso, a fim de elaborar o projeto de um aterro, você


realizou a sondagem e solicitou a realização de ensaios de
adensamento. Ao receber o relatório dos ensaios, percebeu que

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havia resultados discrepantes entre diferentes amostras do mesmo
solo. Ao questionar o técnico envolvido, ele mencionou que poderia
ter ocorrido amolgamento do solo e sugeriu a retirada de novas
amostras.

Reflita: o que é este amolgamento mencionado pelo técnico? Qual


deveria ser sua decisão nesse caso? Caso retire novas amostras,
quais tipos você escolheria para realização dos ensaios de
laboratório? O amolgamento do solo pode ocorrer em quais etapas
do ensaio?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

10
Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da
nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O capítulo indicado, Investigação do subsolo, tem como objetivo


apresentar as principais manifestações patológicas em uma
edificação ocorridas em função da ausência de investigação de
subsolo ou falhas nas investigações.

Para realizar a leitura, acesse a nossa plataforma Biblioteca Virtual e


busque pelo título da obra no parceiro Pearson/Biblioteca Virtual 3.0.

MILITITSKY, J.; CONSOLI, N. C.; SCHNAID, F. Investigação do Subsolo.


In: MILITITSKY, J.; CONSOLI, N. C.; SCHNAID, F. Patologia das
Fundações. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2015. p. 20-49.

Indicação 2

O capítulo indicado, Exploração de subsolo, tem como foco


apresentar os principais métodos de exploração ou investigação
de subsolo, apresentando os detalhes dos ensaios e suas
interpretações.

Para realizar a leitura, acesse a nossa plataforma Biblioteca Virtual e


busque pelo título da obra no parceiro Minha Biblioteca.

CAPUTO, H. P; CAPUTO, A. N. Exploração de Subsolo. In: CAPUTO, H.


P; CAPUTO, A. N. Mecânica dos Solos e suas aplicações. 7. ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2015. p. 200-232.

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QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. A ausência de investigação do subsolo é uma das principais


causas de problemas nas fundações. A programação de uma
investigação pode envolver um programa preliminar do solo e
um complementar dependendo das condições geológicas e do
tipo de projeto. No Brasil, o programa preliminar é normalmente
desenvolvido com base em:

a. Ensaios de sondagens de simples reconhecimento.


b. Ensaios triaxiais UU.
c. Ensaios de palheta.
d. Ensaios de penetração de cone.
e. Ensaios de cisalhamento direto.

2. Para a realização de ensaios de laboratório, a fim de se


obter os parâmetros de resistência de cisalhamento da
argila mole são retiradas amostras do solo em diversas
profundidades. Estas devem possuir boa qualidade para
que se possa prever corretamente o comportamento do

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solo in loco. As amostras amolgadas de amostradores meia-
cana, são consideradas:

a. Amostras indeformadas, utilizadas em ensaios de


adensamento e compressão triaxial.
b. Amostras deformadas, utilizadas em ensaios de granulometria
e adensamento.
c. Amostras deformadas, utilizadas em ensaios de limite de
liquidez, limite de plasticidade e análise granulométrica.
d. Amostras indeformadas, utilizadas em ensaios de
granulometria e limites de liquidez e de plasticidade.
e. Amostras deformadas utilizadas em ensaios de limite de
liquidez, limite de plasticidade e ensaios triaxiais.

GABARITO

Questão 1 - Resposta A
Resolução: O programa preliminar de investigação de
subsolo é realizado a partir de ensaios de sondagem de
reconhecimento SPT, baseados na NBR 6484:2020. Para
informações complementares podem ser realizados ensaios
de campo, como penetração de cone e ensaios de palheta, ou
ensaio de laboratório como ensaio de cisalhamento direto e
ensaios triaxiais UU.
Questão 2 - Resposta C
Resolução: O amolgamento se refere a perturbações no solo
que interferem em sua estrutura inicial. Assim, amostras
amolgadas são consideradas deformadas. Este tipo é utilizado
em ensaios de laboratório como análise granulométrica, limites
de liquidez e plasticidade. Ensaios de adensamento e ensaios
triaxiais exigem o uso de amostras indeformadas.

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TEMA 2

Métodos construtivos de aterros


sobre solos moles
______________________________________________________________
Autoria: Bianca Lopes de Oliveira
Leitura crítica: Eduarda Pereira Barbosa
DIRETO AO PONTO

Com a expansão urbana é crescente a necessidade de obras sobre


depósitos de solos moles, solos com baixa capacidade de carga e
alta deformabilidade. A execução de aterros sobre esses solos,
tem como desafio sua estabilidade e o controle de recalques após
sua construção. Os principais métodos construtivos utilizados são,
basicamente, três tipos: pela substituição do solo, por adensamento
ou pelo uso de elementos de coluna.

Estes métodos podem necessitar da execução de um aterro de


conquista, aterro com a função de permitir que os equipamentos
possam transitar no local e realizem os procedimentos da
construção quando o solo possui baixíssima capacidade de suporte.
Além disso, com o intuito de reforçar o solo, podem ser utilizados
materiais poliméricos de alta resistência denominados geotêxteis,
como mostra a Figura 1. Eles melhoram o fator de segurança do solo
pelo atrito entre o solo e a superfície de reforço.

Figura 1 – Reforço com geotêxtil

Fonte: vadimgouida/iStock.com.

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Os aterros construídos com base na substituição dos solos são
viáveis para espessuras até 4,0 m de solo mole. Essa substituição
pode ser feita total ou parcialmente, por meio de dragas ou
escavadeiras, ou pelo uso de aterro de ponta. O aterro de ponta é
feito por se executar um aterro na ponta do aterro projetado, em
cota superior, de forma que ele, pelo seu peso, desloque e empurre
o solo mole para fora do terreno. O resultado do aterro de ponta é a
substituição de parte do solo mole e embutimento do aterro.

A substituição do solo, seja pelo método total, parcial ou por meio


de aterro de ponta, apresenta dificuldade na garantia da remoção
uniforme do solo mole, podendo gerar recalques pós construção
e ondulações na superfície do aterro. Também tem como
desvantagem a necessidade de altos volumes de bota-fora de um
solo inútil e, possivelmente, contaminado.

Outra metodologia construtiva de aterros é por meio do


adensamento. Quando é construído um aterro convencional sobre
um depósito de solo mole, utilizam-se alturas de aterro de forma a
compensar os recalques que ocorrerão no solo. Como a velocidade
de adensamento dos solos moles, em geral, é baixa, para acelerar
os recalques primários e compensar os recalques secundários, é
adotada a utilização de sobrecarga temporária, drenos verticais ou a
combinação deles.

A sobrecarga temporária, em geral de 1 ou 2 vezes a carga do


aterro, contribui para a velocidade de recalque do solo mole até
sua estabilização. Os drenos verticais consistem em dispositivos
que melhoram a drenagem da camada do solo mole, servindo de
caminho para a água até um colchão drenante que a envia para
a superfície do terreno por gravidade ou bombeamento. Eles são
cravados antes da execução do aterro, e podem ser utilizados
juntamente com o uso de sobrecarga temporária. Neste caso, é
possível o uso de vácuo de forma a reduzir a poropressão do solo,
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aumentando a tensão efetiva do solo e proporcionando melhoria da
resistência da camada.

Quando o solo possui baixa capacidade de suporte que não permite


a execução do aterro em uma única etapa, pode-se aplicar o
aterro de forma lenta e gradual em duas ou três etapas. Também
é possível a adoção de bermas de equilíbrios. As bermas são
estruturas que compensam os momentos atuantes no conjunto
solo e aterro, melhorando a estabilidade global. No entanto, esses
sistemas construtivos exigem prazos maiores de execução. No
caso das bermas, há necessidade de amplas áreas laterais para sua
implantação.

Os aterros leves podem ser utilizados para minimizar a magnitude


dos recalques primários resultantes da obra. Envolve a utilização de
materiais leves como o EPS (isopor) para introduzir vazios no aterro.
Este tipo de aterro tem prazos executivos menores, mas, seu custo
pode tornar sua instalação inviável.

Outro tipo de método construtivo para execução de aterros, é o


uso de aterros estruturados, como o aterro sobre elementos de
estacas. Eles transmitem parte ou a totalidade do carregamento
do aterro para uma camada de solo mais competente, adjacente
ao solo mole. É feito um aterro de conquista e, posteriormente, a
cravação das estacas. São executados os capitéis, e uma geogrelha
pode ser instalada para reforço, acima deles. Em seguida, o aterro é
executado. O aterro estruturado pode ser feito, também, por meio
da execução de colunas granulares ou colunas de brita.

A escolha da técnica construtiva do aterro, depende das


características do solo, do tipo de utilização da área e da vizinhança
e das definições de custo e prazo possíveis.

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Referências bibliográficas
ALMEIDA, M. S. S.; MARQUES, M. E. S. Aterro sobre solos moles. 2. ed. São
Paulo: Editora Oficina de Textos, 2014.

PARA SABER MAIS

Geossintético é um material polimérico que pode ser utilizado


no reforço de estruturas de contenção, aterros sobre solos
moles, estabilização de solos, drenagem e filtração, controle de
erosão, entre outras funções. Existem vários tipos de produtos
geossintéticos, tais como: geobarra; geotêxtil; geotira; geocélula;
geocomposto; geofibra; e geogrelha.

No Brasil, o emprego de geossintéticos iniciou-se na década de 1970.


Nessa época, a falta de informações sobre esses materiais, além
da relutância de seu uso pela comunidade técnica, comprometia a
credibilidade dos geossintéticos na utilização em obras geotécnicas.
A partir da década de 1990, seu emprego cresceu.

Nos aterros sobre solos moles, a camada de geossintético é utilizada


como reforço do solo, aumentando a resistência mecânica do solo
e diminuindo sua deformabilidade. Conforme Palmeira (2018), seu
uso pode aumentar significativamente o fator de segurança da obra,
principalmente quando a relação entre a espessura do solo mole e a
largura do aterro é baixa, tipicamente inferior a 0,7.

Para estabilização de aterros em solos moles, em geral, reforços


geossintéticos são utilizados como geotêxteis tecidos, geogrelhas
e geocomposto. Nos aterros sobre estacas e colunas granulares,
o reforço geossintético pode ser feito para redução das tensões
transferidas ao solo (efeito membrana) ou pela formação de uma
plataforma de transferência de cargas para as estacas. Neste último

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caso, podem ser utilizadas múltiplas camadas de geogrelhas ou
utilizar geocélulas de elevadas alturas.

Para se especificar o reforço que deve ser instalado, deve-se


considerar: características do aterro; limites de deformações;
requisitos para operação do aterro; e consequência de uma ruptura.
O reforço deve apresentar resistência e rigidez à tração, aderência
entre solo/reforço, resistência a danos mecânicos e durabilidade.

A análise de estabilidades de aterros sobre solos moles é realizada,


preliminarmente, por meio de métodos de equilíbrio-limite, como
os métodos de Fellenius e Bishop modificado. A contribuição do
reforço geossintético é pela mobilização de uma força de tração
estabilizadora na interseção entre o reforço e a superfície de
ruptura.

Em projetos de situações críticas ou de maior importância, é


recomendável soluções mais sofisticadas de cálculo, além de
instrumentação geotécnica para o monitoramento da obra, por
exemplo, construir um aterro experimental e monitorá-lo antes da
execução da obra de grande porte.

Referências bibliográficas
PALMEIRA, E. M. Geossintéticos em geotecnia e meio ambiente. São Paulo:
Editora Oficina de Textos, 2018.

TEORIA EM PRÁTICA

Você foi contratado para elaborar um projeto de um trecho de uma


rodovia que deve ser entregue em até seis meses e, após, analisar
os dados obtidos da investigação geotécnica, verificou-se que essa
rodovia está sobre um depósito de solo mole.

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O ensaio de sondagem apresentou que a partir de 2 m de
profundidade, ocorre uma camada de argila muito mole com 6 m de
espessura. As áreas de bota fora e empréstimo estão a menos de
1,0 km, estando dentro do limite econômico para sua utilização. As
áreas próximas são ocupadas por um bairro residencial.

Reflita: existem vários métodos construtivos que podem ser


utilizados sobre solos moles, no entanto, nem todos são viáveis.
Neste caso, que opções você poderia estudar como soluções para
este aterro? Que critérios devem ser analisados? O que levou você a
essa escolha?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

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Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da
nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O capítulo indicado tem como objetivo apresentar as principais


propriedades e usos dos materiais geossintéticos para reforços de
solo nos projetos de engenharia geotécnica.

VERTEMATTI, J. C. Aplicações em reforços de solos. In: VERTEMATTI, J.


C. Manual Brasileiro de Geossintéticos. 1. Reimpressão. São Paulo:
Blucher, 2004. Cengage Learning, 2011. cap. 4. p. 63-174.

Indicação 2

O capítulo indicado tem como foco apresentar as definições do que


é um aterro, seus elementos e recomendações de construção.

BOTELHO, M. H. C. Aterros. In: BOTELHO, H. C. B. Princípios da


mecânica dos solos e fundações para construção civil. São Paulo:
Blucher, 2015. cap. 17. p. 85-90..

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco

21
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. O uso dos geossintéticos tem crescido em diversos projetos da


engenharia geotécnica. São elementos fabricados com polímeros
que podem ser utilizados para drenagem, filtragem, separação
das camadas de solo e reforço da capacidade do solo. Nos
projetos de reforço de aterro, a propriedade que o material
geossintético deve possuir é:

a. Resistência à tração.
b. Resistência à compressão.
c. Impermeabilidade.
d. Dureza.
e. Biodegradabilidade.

2. Na execução de aterros sobre solos moles, nem sempre


os equipamentos conseguem acessar e transitar no local,
sem ficar atolados ou presos devido à baixa capacidade do
solo de suporte. Por isso, para promover esse acesso dos
equipamentos, deve-se executar um:

a. Aterro de ponta.
b. Aterro de conquista.
c. Aterro leve.
d. Aterro sobre estacas.
e. Aterro convencional.

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GABARITO

Questão 1 - Resposta A
Resolução: Os materiais geossintéticos utilizados como
reforços de aterros em solos moles, deve apresentar alta
resistência à tração, melhorando a distribuição das tensões
na base do aterro. Sua utilização cria uma força de tração
mobilizada que aumenta o fator de segurança do conjunto
aterro e solo de fundação.
Questão 2 - Resposta B
Resolução: Para promover a acessibilidade dos equipamentos
necessários para a execução do aterro projetado, quando o
solo apresenta baixíssima capacidade de suporte, deve-se
executar um aterro de conquista. Ele permitirá as cravações,
escavações, execução de ensaios ou outras atividades
necessárias.

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TEMA 3

Previsão de recalques e
deslocamentos horizontais
______________________________________________________________
Autoria: Bianca Lopes de Oliveira
Leitura crítica: Eduarda Pereira Barbosa
DIRETO AO PONTO

Quando se aplica cargas sobre um solo, este é comprimido e


pode sofrer deformações. Essas deformações podem ocorrer
rapidamente, logo após a aplicação da tensão, ou se desenvolver
de forma lenta em função do solo e de seu estado. Em solos
moles, os deslocamentos verticais podem ser imediatos (Δhi), por
adensamento primário (Δh) e por compressão secundária (Δhsec),
como ilustra a Figura 1. O recalque total do aterro será a somatória
desses deslocamentos.

Figura 1 – Tipos de recalques

Fonte: elaborada pelo autor.

Imediatamente à aplicação da carga, sem alteração no teor de


umidade, ocorre o recalque elástico ou imediato. Seu cálculo é
baseado na teoria da elasticidade, sendo maior no centro da área
carregado do que nas bordas, no caso de aterros.

A partir de então, inicia-se a dissipação do excesso de poropressão


ocasionado pelo acréscimo de tensão. Essa dissipação acontece
pela drenagem da água contida nos vazios, promovendo reduções
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de volume do solo por um longo período. Esse é o recalque por
adensamento primário, que pode ser calculado como:

para argilas normalmente adensadas.

para argilas sobreadensadas; submetidas a uma tensão σ’o +


Δσ’o ≤ σ’vm; e,

para argilas sobreadensadas submetidas a uma tensão


σ’o + Δσ’o > σ’vm.

Onde: Cc é o índice de compressão; Cs é o índice de recompressão;


evo o índice de vazios in situ na profundidade de interesse; Δσv é
o acréscimo de tensão; σ’vm a tensão de sobreadensamento; harg a
espessura da camada de argila; e, σ’vo a tensão efetiva do solo in situ.

O tempo necessário para se estabilizar os recalques por


adensamento primário depende das condições de drenagem. No
caso de drenagem unidimensional, o fator tempo é calculado como:

26
Onde: cv é o coeficiente de adensamento obtido no ensaio e hd é a
distância de drenagem igual ao valor de harg no caso de drenagem
em apenas uma face ou igual a metade do valor harg no caso de
drenagem em ambas as faces.

Com isso, calcula-se o recalque em função do tempo por, sendo Uv é


a porcentagem média de adensamento vertical, em função do fator
tempo:

Os recalques por compressão secundária ocorrem, segundo a


hipótese tradicional, ao final do adensamento primário. Em solos
orgânicos ou inorgânicos altamente compressíveis, possuem
magnitude maior, sendo mais importantes do que o recalque por
adensamento primário. Podem ser calculados pela equação:

Onde: tp* se refere ao tempo final do adensamento primário.

Os deslocamentos horizontais são nulos quando analisamos o solo


argiloso subjacente ao centro do aterro. No entanto, os bordos do
aterro sofrem deslocamentos horizontais pois não há confinamento
lateral. Eles são calculados com base em correlações com os
recalques máximos.

Tanto os deslocamentos verticais quanto os horizontais, devem


ser previstos, pois em aterros sobre solos moles, tem magnitude
elevada. Sua análise permite a escolha do método construtivo mais
adequado, de forma a minimizar problemas nas construções.

27
Referências bibliográficas
ALMEIDA, M. S. S.; MARQUES, M. E. S. Aterro sobre solos moles. 2. ed. São
Paulo: Editora Oficina de Textos, 2014.

PARA SABER MAIS

Quando utiliza-se uma sobrecarga temporária em aterros sobre


solos moles, acelera-se o processo de recalque do solo por
adensamento primário e os recalques são compensados por
compressão secundária.

O aterro a ser construído de espessura hf promove uma tensão Δσvf


sobre o solo e determina um recalque primário a tempo infinito de
Δhf. Uma sobrecarga de espessura hs sobre esse aterro (resultando
em uma espessura total de aterro hfs) causa um recalque primário
acumulado a tempo infinito igual a Δhfs. Quando se remove a
sobrecarga em um tempo t1, promove-se uma aceleração no
tempo de estabilização dos recalques. Esses recalques podem ser
calculados pelas equações:

Onde Cc é o índice de compressão; evo o índice de vazios in situ na


profundidade de interesse; Δσv é o acréscimo de tensão devido ao
aterro final; Δσvf é o acréscimo de tensão devido ao aterro final σ’vm a
tensão de sobreadensamento; harg a espessura da camada de argila;
e, σ’vo a tensão efetiva do solo in situ.

28
Para se determinar o tempo t1 da remoção da sobrecarga
temporária, pode-se utilizar um grau de adensamento Us:

A sobrecarga temporária também pode compensar os recalques por


compressão secundária, de forma que estes não aconteçam durante
a vida útil da obra. Em geral, essa compensação é feita durante o
período construtivo pela aplicação de uma sobrecarga temporária,
seguida de sua remoção parcial. Isso faz com que os recalques por
compressão secundária ocorram sob a forma de adensamento
primário (ALMEIDA; MARQUES, 2014).

Referências bibliográficas
ALMEIDA, M. S. S.; MARQUES, M. E. S. Aterro sobre solos moles. 2. ed. São
Paulo: Editora Oficina de Textos, 2014.

TEORIA EM PRÁTICA

Você está desenvolvendo um projeto de um aterro mole, e


precisa prever o recalque por adensamento primário que o solo
argiloso terá. Os ensaios realizados, forneceram alguns dados
do solo de apoio. A argila está saturada, apresentando no ensaio
de adensamento um coeficiente de recompressão de 0,06, um
coeficiente de compressão de 0,35 e um índice de vazios igual a 0,85.

A sondagem mostrou que a camada de argila possui uma espessura


de 2,0 m, entre duas camadas de areia. A tensão vertical total no
centro da camada é de 250 kPa, e possui uma poropressão de 125

29
kPa. O aterro a ser construído aplicará uma tensão no solo de 150
kPa.

Com base nessas informações, qual será a estimativa de recalque


por adensamento primário se a argila for normalmente adensada?
Se o solo apresentasse um OCR igual a 2,0, qual seria o valor desse
recalque?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

30
Indicação 1

O capítulo indicado, Adensamento, tem como objetivo explicar a


fundo a teoria do adensamento unidimensional de Terzaghi, além de
apresentar a metodologia do ensaio de adensamento para obtenção
das variáveis para a estimativa dos recalques.

MASSAD, F. Adensamento. In: MASSAD, F. Mecânica dos solos


experimental. São Paulo: Oficina de Textos, 2016. cap. 10. p. 184-
213.

Indicação 2

O capítulo indicado, Adensamento, complementa os conceitos de


cálculos de recalques por adensamento primário e compressão
secundária, apresentando a solução numérica pelo Método das
Diferenças Finitas.

CRAIG, R. F.; KNAPPETT, J. A. Adensamento. In: CRAIG, R. F.;


KNAPPETT, J. A. Mecânica dos Solos. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.
cap. 4. p. 76-110.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
31
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Quando o solo recebe aplicações de carga, podem ocorrer


deformações nele, denominadas recalques. O recalque que
ocorre durante a dissipação do excesso de poropressões,
transferindo a carga da água para o sólido, é o:

a. Recalque por adensamento primário.


b. Recalque elástico.
c. Recalque por compressão secundária.
d. Recalque imediato.
e. Recalque por compressão terciária.

2. Para projetar um aterro sobre solos moles é importante


avaliar as deformações que este solo apresentará quando
submetido à carga proveniente do aterro. A fim de se
determinar o recalque total deste tipo de aterro, deve-se
calcular três componentes de recalque, sendo eles:

a. Recalques elástico, recalque imediato e por compressão


secundária.
b. Recalques elástico, por adensamento primário e por
compressão secundária.
c. Recalques por compressão primária, secundária e terciária.
d. Recalques imediato, recalque diferencial e por adensamento
secundário.
e. Recalques diferencial, por recompressão e por
descarregamento.

32
GABARITO

Questão 1 - Resposta A
Resolução: O recalque por adensamento primário ocorre
devido à transferência de carga entre a água e os grãos do
solo, envolvendo a dissipação do excesso de poropressão
ocasionado pela aplicação da carga. Com a expulsão da água
dos vazios, o solo se deforma.
Questão 2 - Resposta B
Resolução: O recalque total de um aterro é formado por
três componentes: o recalque elástico ou também chamado
imediato, o recalque por adensamento primário e o recalque
por compressão secundária. O recalque elático ocorre
imediatamente após a aplicação da carga do aterro. O aterro
por adensamento primário ocorre devido à dissipação do
excesso de poropressão ocasionada pelo aterro. O recalque por
compressão secundária acontece pela reestruturação do solo
local.

33
TEMA 4

Estabilidade e monitoramento de
aterros sobre solos moles
______________________________________________________________
Autoria: Bianca Lopes de Oliveira
Leitura crítica: Eduarda Pereira Barbosa
DIRETO AO PONTO

O projeto de um aterro sobre solo mole é realizado a partir


da análise de estabilidade da geometria definida. Para isso,
inicialmente, devem ser definidos os parâmetros dos materiais
envolvidos como a resistência não drenada do solo de apoio do
terreno, informações geotécnicas do aterro e características do
reforço de geossintético. A análise de estabilidade consiste em
verificar os três modos de ruptura que um aterro pode ter: ruptura
pelo corpo do aterro, ruptura global do conjunto aterro-fundação e
ruptura do solo de fundação.

A capacidade de carga do solo de fundação deve ser avaliada. Isso


pode ser feito pelo cálculo da altura máxima do aterro em função da
resistência não drenada Su do solo mole. De acordo com Fellenius, a
altura crítica do aterro pode ser calculada por:

A altura admissível do aterro construído em única etapa é definida


a partir da adoção de um fator de segurança, em geral, igual ou
superior a 1,5.

A avaliação da ruptura global do conjunto aterro fundação pode ser


feita a partir de métodos de equilíbrio limite, a partir da definição
de superfícies de ruptura, circulares ou não. Os métodos mais
utilizados para o cálculo do fator de segurança do aterro são o
método de Fellenius, Bishop modificado e Janbu simplificado. Caso
o fator de segurança calculado seja inferior ao estabelecido em
projeto, pode-se utilizar a execução em etapas ou o uso de bermas
de equilíbrio. Outra possibilidade é o uso de aterros reforçados com
geossintéticos.

35
O uso de geossintéticos tem como objetivo resistir ao empuxo de
terra que se desenvolve no interior do aterro, além de aumentar a
capacidade de carga da fundação, aumentando significativamente
o fator de segurança da obra. A análise de estabilidade dos aterros
reforçados, inicia com a definição da altura crítica do aterro.
Em seguida, é calculada a estabilidade do aterro em razão do
deslizamento ou escorregamento da sua base por meio do equilíbrio
de forças na horizontal.

O reforço do geossintético promove um esforço de tração


mobilizado (T) que pode ser calculado por meio da avaliação de
deslocamento lateral ou pelo método de ruptura por cunha ou por
superfície circular a partir de programas de estabilidade disponíveis.
O valor obtido deve ser comparado à resistência à tração admissível
do material. Definido o valor do esforço de tração T, deve-se definir
a deformação permissível εa (2% a 6%) e o módulo de rigidez do
geossintético por meio da equação:

Nos aterros sobre colunas granulares, são executadas malhas


quadradas ou triangulares de colunas de brita ou areia, encamisadas
ou não com material geossintético. Seu projeto é embasado nos
parâmetros de coesão, ângulo de atrito e peso específico do
conjunto solo-coluna. Devido à complexibilidade desta construção e
à diversidade dos materiais, é recomendada a utilização de métodos
numéricos para a análise de estabilidade, como exemplo o método
dos elementos finitos, que permitem a não utilização de aterros
experimentais. Este método permite a realização de simulações
numéricas para diversas condições, considerando de forma mais
realista as deformações ou tensões que se desenvolvem no aterro.

Construído o aterro ou durante sua execução, o porte da obra ou


o risco inerente a ela, pode necessitar do estabelecimento de um

36
programa de monitoramento geotécnico do aterro sobre solo mole,
como ilustrado na Figura 1. Esse programa tem como objetivo
verificar as premissas do projeto, ajudar no planejamento da obra e
permitir que as obras vizinhas permaneçam íntegras.

Figura 1 – Programa de monitoramento geotécnico

Fonte: elaborada pelo autor.

Os dados obtidos no monitoramento permitem a obtenção de


parâmetros de campo como o coeficiente de adensamento. A
interpretação e análise desses dados é fundamental para o sucesso
da obra.

Referências bibliográficas
ALMEIDA, M. S. S.; MARQUES, M. E. S. Aterro sobre solos moles. 2. ed. São
Paulo: Editora Oficina de Textos, 2014.

37
PARA SABER MAIS

O processo de construção de aterros sobre colunas granulares de


areia ou brita envolve a execução de uma malha de colunas, que
podem ser feitas com ou sem o deslocamento da argila, sendo
destaque o uso das colunas instaladas por vibrossubstituição.
Essa técnica foi desenvolvida em meados do século XX (ALMEIDA;
MARQUES, 2014).

Seu procedimento construtivo segue as seguintes etapas: preenche-


se a caçamba com o material granular, que é içado e utilizado para
preenchimento do tubo. É feita a penetração de um vibrador no
solo, por jateamento, de forma a executar um furo de diâmetro
maior que o vibrador até a profundidade desejada. Após o furo
finalizado, este é preenchido com material granular e, por meio
de curtos movimentos descendentes e ascendentes do vibrador, o
material é vibrado enquanto mais material é introduzido. Durante
esse processo, realiza-se também o jateamento de forma a manter o
material granular limpo. Atingindo a superfície do terreno, a coluna
granular é completada.

Como alternativa, a coluna granular convencional, pode-se utilizar


as colunas granulares encamisadas com geotêxtil. Essa técnica é
interessante quando as argilas do solo de fundação são muito moles
e não fornecem um confinamento lateral da argila adequado. O
encamisamento da coluna consiste na utilização de um geotêxtil
com alto módulo e baixo coeficiente de fluência, mantendo boas
condições de drenagem da coluna (ALMEIDA; MARQUES, 2014).

Nos aterros sobre colunas encamisadas, o espaço comumente


adotado entre elas é de 1,5 m e 2,5 m, sendo o diâmetro das colunas
da ordem de 0,80 m. Os valores de módulo de rigidez (J) do geotêxtil
utilizado situam-se na faixa entre 2000 e 4000 kN/m. Um exemplo
de aplicação desse método é citado por Almeida e Marques (2014)
38
em uma rodovia próxima à cidade de São José dos Campos (SP), a
100 km da cidade de São Paulo. Nesta construção, as colunas foram
executadas utilizando-se equipamentos que fazem estacas do tipo
Franki, com encamisamento de geossintético e areia. Os recalques
medidos foram da ordem de 100 mm e estabilizados em seis meses.

Referências bibliográficas
ALMEIDA, M. S. S.; MARQUES, M. E. S. Aterro sobre solos moles. 2. ed. São
Paulo: Editora Oficina de Textos, 2014.

TEORIA EM PRÁTICA

A escolha do tipo de aterro a ser adotado depende dos parâmetros


do solo de resistência, da resistência do material a ser utilizado
no aterro, do reforço, se houver, e da geometria do aterro, que
permitirá avaliar a estabilidade global do conjunto aterro fundação.

Com base nessas informações, considere três projetos de aterros


que foram construídos sobre uma camada espessa de solo mole
subjacente a uma camada de solo argiloso de compacidade rija.
Foi realizada a análise de estabilidade global de cada um, e obteve-
se um fator de segurança para os aterros 1, 2 e 3 de 1,15, 2,0 e
2,1, respectivamente. Durante seu monitoramento, obteve-se um
coeficiente de adensamento de 0,0005 cm/s, 0,05 cm/s e 0,0005
cm/s.

Reflita: analisando os fatores de segurança obtidos e os coeficientes


de adensamento, qual aterro teria melhor comportamento para a
utilização de sobrecarga temporária? E ao uso de drenos verticais?
Por quê?

39
Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,
acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O capítulo indicado, Geossintéticos em aterros sobre solos moles, tem


como objetivo explicar os aspectos que devem ser considerados nas
análises de estabilidade de aterros sobre solos moles e os métodos
de equilíbrio-limite a serem utilizados.

40
PALMEIRA, E. M. Geossintéticos em aterros sobre solos moles. In:
PALMEIRA, E. M. Geossintéticos em geotecnia e meio ambiente.
São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2018. cap. 8. p. 179-220.

Indicação 2

O capítulo indicado, Aplicações em Reforço de Solos, complementa os


conceitos de dimensionamento e especificação de geossintéticos,
apresentando o método de Low et al. (1990) na análise de ruptura
global.

VERTEMATTI, J. C et al. Aplicações em Reforços de Solo. In:


VERTEMATTI, J. C. Manual Brasileiro de Geossintéticos. São Paulo:
Blucher, 2004. cap. 4. p. 72-83.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Na avaliação de estabilidade de um aterro, devem ser


analisadas todas as possibilidades de ruptura que possam
ocorrer. Uma delas é a ruptura do solo de apoio do aterro,

41
devido sua baixa capacidade de carga. Para se evitar esse tipo
de ruptura, deve ser determinado o parâmetro de:

a. Resistência à compressão do geossintético.


b. Recalque diferencial do solo.
c. Altura crítica do aterro.
d. Resistência de cisalhamento do aterro.
e. Módulo de rigidez do geossintético.

2. Para realizar a análise de estabilidade de um aterro são


utilizados métodos de cálculo para determinar os fatores
de segurança do projeto em relação a estabilidade global,
deslizamento e fundação. Certo projeto de aterro sobre
solos moles apresentou um fator de segurança inferior ao
necessário na análise de estabilidade global. Para solucionar o
problema, o que o engenheiro poderia fazer?

a. Adoção de bermas de equilíbrio.


b. Aumento da altura do aterro.
c. Colocação de sobrecarga temporária.
d. Retirada da camada de geossintético.
e. Redução das etapas do aterro para etapa única.

GABARITO

Questão 1 - Resposta C
Resolução: Na análise de ruptura do solo de fundação de um
aterro, deve-se iniciar pelo cálculo da altura crítica do aterro.
Isso permite determinar se o solo é capaz de receber a carga
prevista em projeto.

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Questão 2 - Resposta A
Resolução: Quando, durante uma análise de estabilidade
global, encontra-se fatores de segurança inferiores ao
adequado, pode-se utilizar a execução em etapas ou o uso de
bermas de equilíbrio. Outra possibilidade é o uso de aterros
reforçados com geossintéticos.

43
BONS ESTUDOS!

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