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Robson Costa
Rosângela Motta
Liedi Bernucci
Edson Moura
Departamento de Engenharia de Transportes - PTR
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP
Adriana Alves
Instituto de Geociências – IG
Departamento de Mineralogia e Geotectônica
Universidade de São Paulo - USP
Fernando Sgavioli
Vale S.A
RESUMO
A presença de finos na camada de lastro ferroviário não é desejável, pois pode trazer grandes impactos para o
comportamento da via permanente. Estes finos podem ter origens diversas, geralmente sendo provenientes de
bombeamento do subleito, quebra e desgaste dos agregados do lastro devido às solicitações dos trens ou ainda
queda de material transportado na linha (como o minério de ferro). Esse trabalho tem o objetivo de avaliar a
contaminação do lastro em um segmento da Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM), por meio de ensaios
laboratoriais como granulometria, análise química, difração de raios-X e equivalente de areia, de forma a
identificar sua principal fonte de contaminação, o que pode auxiliar na tomada de decisão de medidas corretivas
para este problema. Os ensaios utilizados possibilitaram observar que, neste segmento da EFVM, o
bombeamento de finos não era a fonte principal de contaminação, mas sim a quebra e desgaste de agregados e a
queda de minério de ferro.
ABSTRACT
The presence of fines in the ballast layer is not desirable, as it may provide significant changes in the behavior of
the track. Those fines may have several origins, usually coming from soil pumping upwards, aggregate breakage
and wear due to the traffic of trains or even because of falling materials transported through the line (as iron ore).
This study aims to assess the contamination of the ballast in Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM), through
laboratory tests such as gradation, chemical analysis, X-ray diffraction and sand equivalent, in order to identify
the main source of contamination, which may help in decision making concerning corrective actions for this
problem. The tests allowed to observe that, in this case, soil pumping was not the main source of contamination,
but the wear and breakage of aggregates, as well as falling of iron ore.
1. INTRODUÇÃO
A contaminação do lastro ferroviário com material fino contribui significativamente para a
alteração de suas características, acarretando em mudança da granulometria (reduzindo os
vazios e comprometendo a capacidade drenante, além de interferir no imbricamento entre os
grãos), bem como influencia a resposta resiliente da via (aumentando a rigidez e, por
consequência, elevando os impactos dinâmicos entre a via e o veículo). Neste caso, pode-se
ter a deterioração de componentes tanto da superestrutura, quanto da infraestrutura da via
permanente, comprometendo a trafegabilidade e, principalmente, a segurança da ferrovia.
A contaminação do lastro pode ocorrer basicamente por fratura e abrasão das partículas do
lastro (durante a socaria ou ao longo da vida útil), por desgaste do dormente de concreto, por
infiltração de finos das camadas subjacentes (bombeamento de finos) ou ainda por queda de
materiais da superfície (Selig e Waters, 1994).
Dentro deste contexto, o presente estudo tem o objetivo de avaliar a contaminação do lastro
ferroviário de um segmento da Estrada de Ferro Vitoria Minas (EFVM), a partir de uma
amostra coletada na linha. Esta foi analisada em laboratório, de forma a verificar a natureza e
a composição dos finos contaminantes do lastro, para identificação da origem e da presença
da fração argila. Uma vez tendo-se dados quanto à contaminação de um dado local, pode-se
apontar se o contaminante tem origem principalmente no subleito, ajudando na adoção de
ações corretivas para este caso. Neste estudo propõe-se a utilização do ensaio de equivalente
de areia (EA) para esta identificação, cujos resultados foram associados a análise química e de
difração de raios-X.
Outro parâmetro que pode ser utilizado na avaliação da contaminação do lastro, sendo este
associado ao aspecto granulométrico, é o Coeficiente de uniformidade (Cu), ou de acordo com
Pinto (2006) Coeficiente de não uniformidade (CNU), que corresponde à relação entre os
diâmetros de peneiras em que passam 60% e 10% dos agregados (d60/d10).
Indraratna et al. (2011) citam que as especificações de lastro de diferentes países normalmente
utilizam um intervalo de Cu entre aproximadamente 1,5 e 3,0. Estes mesmos autores
estudaram o efeito da quebra em diferentes graduações de agregados classificadas como muito
uniforme (Cu = 1,39), uniforme (Cu = 1,72), gap graded (Cu = 1,68) e moderada (Cu = 2,03),
conforme apontado na Figura 1. Observou-se que, com exceção da graduação gap graded, a
quebra do lastro diminuiu com o aumento do valor de Cu (mesmo em pequena escala) e,
considerando ainda a suscetibilidade à deformação, a graduação moderada se mostrou
bastante superior à uniforme (que é a mais utilizada nas especificações de lastro atualmente).
Os pesquisadores concluíram que os lastros uniformemente graduados sofrem maiores
deslocamentos e são mais vulneráveis à quebra, em comparação com lastros bem graduados.
Além disso, Indraratna et al. (2011) apontam que em diversos estudos as graduações com Cu
acima de 2,2 diminuem o grau de quebra. Do ponto de vista de drenagem, estas graduações
têm permeabilidade suficiente para a substrutura da via permanente, enquanto seu lastro
estiver livre de finos e o sistema de drenagem estiver funcionando apropriadamente. Estes
estudos demonstram a necessidade de se ter um balanço razoável entre maior resistência do
lastro e boa drenagem, em termos de granulometria, recomendando uma nova faixa
granulométrica para o lastro com Cu na ordem de 2,3 a 2,6.
Durante a coleta, observou-se que os dormentes eram de madeira e que não havia camada de
sub-lastro. A camada de lastro possuía aproximadamente 40 cm de altura (medido do subleito
à base inferior do dormente), aparentando ser composta de duas camadas distintas quanto à
contaminação, onde a primeira (primeiros 20 cm abaixo do dormente) continha certa presença
de material fino, enquanto a segunda (abaixo da anterior) concentrava grande quantidade de
material fino e com umidade acentuada. Embora tenha sido observada essa condição, o
material foi retirado sem considerar tal separação de camadas, devido à operacionalização da
coleta. Posteriormente, realizou-se uma inspeção visual na plataforma (subleito), com o
objetivo de avaliar as condições de drenagem (saturação do solo). Cabe mencionar que
também foi feita uma amostragem de solo local, próximo ao ponto de retirada do lastro, para
caracterização do tipo de material do subleito e verificação de sua eventual presença na
amostra contaminada de lastro.
Foi informado que no lastro daquele local havia a existência de escória de aciaria, a qual tinha
sido utilizada em operação anterior de desguarnecimento, em substituição de parte das pedras
britadas (material natural).
4. ETAPA LABORATORIAL
Inicialmente, os agregados coletados na via permanente foram homogeneizados e quarteados,
conforme ilustrado nas Figuras 3( a) e (b), segundo recomendações das normas NBR NM 27
(2001) e ASTM C702/C702M-11.
(a) (b)
Figura 3 – Material homogeneizado (a) e quarteado (b)
Sant’Agostino (1996) descreve a difração de raios-X como uma metodologia que permite a
determinação das fases, a partir de espectro gerado por sua estrutura cristalina, sendo esta uma
ferramenta extremamente útil na identificação de espécies minerais. Entretanto, para Ulsen
(2011), a identificação dos minerais que constituem uma amostra, normalmente, não é
possível por meio de apenas uma técnica analítica, fazendo-se necessária a conjugação de
duas ou mais. Neste sentido, destacam-se como principais métodos: difração de raios-X,
microscopia óptica, microscopia eletrônica de varredura e cálculos estequiométricos em
função da composição química.
No caso do presente estudo, vale ressaltar que os ensaios de análise química e difração de
raios-X foram usados para indicar a composição mineralógica dos materiais avaliados, sendo
os resultados comparados com a avaliação de granulometria e EA. No caso, os dois primeiros
ensaios constituem métodos mais complexos de execução, requerendo laboratórios
especializados, equipamentos sofisticados e profissionais capacitados, tanto na operação
quanto na interpretação dos dados, tendo-se custos mais elevados.
Durante o ensaio de granulometria, percebeu-se que após a separação da fração fina (realizada
a seco), esta ainda ficava impregnada nas partículas graúdas. Deste modo, procedeu-se à
análise granulométrica com lavagem para se obter melhores resultados. Chamou atenção o
aspecto da “lama” formada por sobre os grãos ao serem molhados, bem como o material fino
que ficou em suspensão na água, denotando uma cor avermelhada.
Adicionalmente, fez-se uma separação por peneiramento, buscando ainda que de forma
visual, avaliar qualitativamente os tipos de grãos retidos em diferentes frações (se se tratavam
de agregado natural ou escória de aciaria, por exemplo). Para tanto, neste caso os finos foram
classificados nas peneiras de aberturas 1,7 mm e 0,425 mm, 0,25 mm, 0,15 mm e 0,075 mm,
mas somente foi possível realizar a avaliação com o material retido nas duas primeiras
peneiras, devido à melhor visualização destas.
As amostras graúdas foram passadas em um britador com mandíbulas de aço, enquanto para a
de finos contaminantes (a qual sabia que continha minério de ferro) foi usado um britador de
tungstênio. No caso do britador de mandíbulas, as amostras foram submetidas, em média, a
quatro ciclos de passagem, ou até que os fragmentos estivessem reduzidos à granulometria de
brita fina (2-3 mm). Seguiu-se à etapa de quarteamento, que resultou na obtenção de uma
alíquota em moinho de tipo planetário de ágata, por 15 minutos, ou até atingir granulometria
menos que 200 mesh (procedimento já usado por Alves, 2009).
A abertura das amostras provenientes dos graúdos, bem como a de solo, foi então efetuada por
fusão alcalina do pó obtido no processo descrito anteriormente, utilizando como fundente uma
mistura de meta e tetraborato de lítio. Já para a análise da amostra de finos contaminantes foi
adotada uma abordagem diferente, uma vez que o caráter metálico da amostra não permite
fusão alcalina. Assim, foi feito um ataque ácido, seguido de protocolo analítico, sendo este
semelhante ao adotado para o restante das amostras.
4.5 Resultados
O resultado de análise granulométrica do material coletado na via permanente é apresentado
na Figura 4, cuja curva indica a contaminação de 24%, em peso, considerando a fração
passante na peneira de 4,75 mm. Entretanto, segundo o estabelecido por Esveld (2001), esse
valor passaria a ser 32%, em peso, considerando a fração passante na peneira de 22,5 mm.
Vale ressaltar que, devido à fração ser composta por partículas de diferentes naturezas,
especialmente agregados naturais, escória e minério de ferro, possuindo diferentes densidades,
os valores em volume seriam outros. Para fins de comparação são apresentados os limites da
graduação Nº 24 recomendada pela AREMA (2013), observando-se uma mudança
significativa da curva granulométrica do material da via, com cerca de 60% do material retido
composto por grãos maiores que 38 mm.
Figura 4 – Granulometria do material coletado na via permanente
5. CONCLUSÃO
O valor elevado do Fouling Index e o valor muito elevado do Coeficiente de Uniformidade
(Cu) já demonstraram o quão desgastado encontrava-se o lastro, comprovando-se a
necessidade da manutenção realizada naquele segmento da EFVM.
A combinação dos resultados observados em todos os ensaios realizados neste estudo, no caso
os mais sofisticados (análise química e difração de raios-X) e os mais simples (granulometria,
e equivalente de areia) possibilitaram a determinação das fontes de contaminação, as quais
eram principalmente oriundas da quebra e desgaste dos agregados do lastro e da queda de
minério de ferro na via.
A composição química do material contaminante indica uma porcentagem significativa para o
perfil exibido no minério de ferro e na escória de aciaria. Neste caso, apesar da análise de
difração de raios-X ter apontado minerais possivelmente oriundos de agregados naturais
(granito-gnaisse) e de minério de ferro, e não de escoria, isso pode ter ocorrido por conta da
amostragem ou pela pequena quantidade de material que é usada na análise (amostra reduzida
a somente algumas poucas gramas, provenientes de uma situação em que se usam toneladas
de material).
Agradecimentos
À Vale S.A. pela parceria em projetos de pesquisa e à equipe de manutenção da via permanente da Estrada de
Ferro Vitória Minas.
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