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ANÁLISE DE SUPRESSOR DE POEIRA PARA VAGÕES DE MINÉRIO DE FERRO EM

TÚNEL DE VENTO

FONTANA, A.R.F1, LOPES, A.J.C.1, CASTRO, M.M.1, AMARANTE MESQUITA, A.L.1, SANTOS
JR, R.M.2

1
Universidade Federal do Pará (UFPA), Laboratório de Fluidodinâmica e Particulados (FluidPar),
e-mail: arthur.fontana@tucurui.ufpa.br, alex.lopes@tucurui.ufpa.br,
maycon.castro@tucurui.ufpa.br, andream@ufpa.br.
2
Vale, e-mail: ronaldo.menezes@vale.com

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo apresentar um complemento ao método utilizado para
analisar supressores de poeira em vagões de trem. Os ensaios foram realizados com Pellet
feed de minério de ferro, avaliando a perda de massa de material ao longo do tempo e a
emissão de poeira. A emissão de poeira é um problema recorrente na indústria da mineração,
causando danos ambientais e a saúde da população que circunda as regiões que possuem esse
tipo de empreendimento. O vagão utilizado possui dimensões em escala similares aos
utilizados na estrada de ferro Minas-Vitória, sendo ensaiado em um túnel de vento com seção
de testes de 600mm x 600mm, a uma velocidade relativa de 60km/h. Os resultados obtidos
dão auxílio para o melhor entendimento da redução da emissão de partículas ao utilizar certos
tipos de supressores de poeira.
PALAVRAS-CHAVE: Minério de ferro, Emissão de poeira, Túnel de vento, Vagão de trem.

ABSTRACT
This work aimed to present a complement to the method used to analyze dust suppressors in
train cars. The tests were carried out with iron ore pellet feed, evaluating the mass loss of
material over time and dust emission. Dust emission is a recurring problem in the mining
industry, causing environmental damage and the health of the population that surrounds the
regions that have this type of enterprise. The wagon used has scale dimensions similar to
those used on the Minas-Vitória railway, being tested in a wind tunnel with a test section of
600mm x 600mm, at a relative speed of 60km/h. The results obtained help to better
understand the reduction of particulate emissions when using certain types of dust
suppressors.
KEYWORDS: Iron Ore, Dust Emission, Wind Tunnel, Train Wagon.
1. INTRODUÇÃO

As exportações de minério de ferro no Brasil mostraram um aumento nas últimas


décadas, ficando para trás apenas a Austrália (Amba, 2021). Os principais depósitos estão no
chamado Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais, Serra dos Carajás no Pará e Maciço do
Urucum em Mato Grosso do Sul (Freitas, 2021). Após ser extraído, processado na planta e
classificado, o minério é armazenado em pilhas até o envio aos portos em vagões ferroviários,
o meio de transporte mais viável na extração de ferro (Meireles, 2010). O fluxo de minério aos
portos não acompanha a chegada de navios para exportação, uma vez que o minério que vem
das minas excede esse volume, por isso parte do minério ainda é armazenada no porto.
No Brasil, existem duas grandes ferrovias utilizadas para o transporte de minério de
ferro, que são a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). Para
o transporte do minério, são utilizados grandes vagões do tipo gôndola aberta. O minério é
então exposto ao meio ambiente ao longo de sua jornada, emitindo particulados de minério
de ferro. Essa emissão de particulados é muito mais acentuada quando os granéis sólidos são
pouco úmidos, pois a umidade reduzida diminui a força de adesão das partículas, propiciando
a emissão (PLANNER, 2010). Atualmente esforços são conduzidos ela comunidade científica
para a melhor compreensão deste fenômeno (Liu et al., 2020).
Durante a transferência para o porto, os vagões carregados com minério passam por
várias cidades ao longo da ferrovia, gerando incômodo para a população local, através da
poluição ambiental, criando um quadro de mal-estar para a população e oferecendo riscos à
saúde (WATSON et al., 2020). Outra fonte expressiva de poluentes atmosféricos são as pilhas,
que emitem poeira devido à ação dos ventos que passam pelos pátios de estocagem, com
ação semelhante à que ocorre nos vagões (Furieri et al., 2013).
Entre as práticas mais comuns para controle de poeira, constam a umidificação do
material e a adição de produtos químicos, denominados de supressores, que atuam,
dependendo da situação requerida, podendo ser aplicado para recobrimento de superfície,
denominados de supressores solidificáveis (Liu et al., 2018)) ou misturado ao material para
aumentar a coesão entre partículas mais finas e entre essas e as partículas maiores (Ma et al.,
2020).
A pressão exercida pela população e pelos órgãos regulamentadores às empresas que
apresentam fontes de poluente atmosféricos, exigem que essas empresas procurem sempre
investir em novas tecnologias para controle de poeira e aprimoramento delas. Nesse contexto,
o presente trabalho apresenta uma metodologia experimental que visa analisar esses
supressores em função da capacidade que eles possuem de reter massa de material e reduzir
a emissão de particulados.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Aparato experimental


O aparato experimental, apresentado pela Figura 1, consiste em um sistema de
pesagem dinâmico, centralizado em uma seção de teste de um túnel de vento com 0,36m² de
área de seção transversal e 1,8m de comprimento. Externo a seção de teste, é posicionado
um contador de partículas optico, possibilitando a verificação dos níveis de emissão para uma
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faixa de tamanho de partículas de até 55µm. Os itens que compõe o aparato experimental são
apresentados a seguir.

Figura 1. Aparato experimental utilizado: a) Vagão com moto vibrador; b) célula de carga tipo SP; c) Suporte
para o vagão; d) tubo Pitot; e) Termohigrômetro; f) Contador de partículas.

2.2. Metodologia de ensaio


O ensaio consiste em avaliar a erosão eólica do leito de minério a partir de uma
velocidade de vento constante. Para o vagão de trem ainda é considerado uma vibração
constante ao longo do ensaio, para simular as interações mecânicas do minério com o vagão.
O experimento é realizado a uma velocidade de vento de 60 km/h, com duração de 6 horas.
Ao utilizar o vagão com as considerações dinâmicas de vibração, a frequência adotada foi de
20 Hz, sendo utilizada durante todo o experimento.
Ao final do ensaio, é avaliado a perda de massa total do ensaio, e a partir da verificação
da umidade ao final do ensaio, calculado a perda de massa de minério e massa de água. É
verificado também a emissão de particulados captado pelo contador de partículas, para
verificar se o supressor consegue reter a fração mais fina dos particulados durante o ensaio.
2.3 Material utilizado
O material utilizado nos experimentos foi o Pellet Feed de minério de ferro.
A determinação da distribuição granulométrica das amostras é realizada através de
peneiramento a seco, conforme procedimentos descritos na norma NBR NM 248 (ABNT,
2003). O ensaio inicia-se pela avaliação visual das maiores partículas contidas nas amostras,
no intuito de se estabelecer a massa mínima de amostra necessária para realização do ensaio.
Para o caso do pellet feed, foi utilizado 1 kg de amostra por ensaio, sendo realizado em
triplicata. O resultado da granulometria pode ser observado na figura 2, onde podemos
observar uma granulometria média entre 50 μm e 93 μm.
Figura 2. Granulometria Passante do Pellet Feed.
A massa específica foi aferida pelo ensaio do picnômetro para a faixa de granulometria
média, obtendo o resultado de 4,65 g/cm³ +/-0,012.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quatro (04) experimentos foram realizados para verificar a eficiência quanto à emissão
de poeira em vagões. Primeiro, a emissão de poeira e a perda de massa foram verificadas para
uma condição sem supressor. Em seguida, mais experimentos foram realizados para a
condição em que havia uma aplicação de supressor de poeira. Esses mesmos experimentos
foram repetidos posteriormente, aumentando as interações mecânicas do vagão com o
material, para verificar sua influência no resultado da emissão de poeira e perda de massa do
material. Um supressor de poeira nos testes reduz a perda de massa, conforme mostrado na
figura 3. Porém, quando adicionamos uma vibração ao vagão, simulando as interações
mecânicas, o vagão perde menos massa. A vibração durante o ensaio faz com que o material
se torne compactado, reduzindo a perda de massa de água e material, conforme pode ser
visto na Tabela 1.
Tabela 1. Resultado dos testes em vagão.
Experimentos
Parâmetros
(1) (2) (3) (4)
Média da emissão de poeira
3.978,9 5.915,4 458,84 579,9
(µg/m³)
Taxa de erosão eólica (%) 6,1% 4,7% 3,1% 3,6%
Perda de massa de água (%) 4,0% 3,3% 2,29% 2,4%

Onde (1) teste sem o supressor e vibração; (2) sem supressor e com vibração; (3) com
o supressor e sem vibração; (4) com o supressor e com vibração.
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Figura 3. Resultado dos ensaios em vagão de trem.

Há uma tendência de reduzir a perda de massa ao adicionar o supressor de poeira.


Embora compactado pelas ações dinâmicas do vagão sobre o minério, há uma redução na
massa de água perdida, o que pode ser um dos fatores que contribuem para uma menor perda
de massa durante o ensaio em ensaios com vibração.
Analisando a emissão de poeira capturada pelo contador de partículas mostrado nas
figuras 4 e 5, podemos verificar que para o ensaio sem o supressor e vibração (1), houve uma
liberação mais significativa de partículas no leito de minério, decaindo com o tempo. No caso
de nenhum supressor, mas com vibração (2), o nível de emissão de particulado aumenta até
atingir seu máximo em torno de 2 horas de teste, então decai. Nos testes em que foi aplicado
o supressor de poeira (3 e 4), o nível de emissão foi reduzido significativamente,
permanecendo constante ao longo do teste, com apenas alguns picos capturados pelo
contador de partículas.
Figura 4. Emissão de poeira do vagão capturada pelo contador de partículas (MP10): 1) Teste com água e sem
vibração; 2) Teste com água e vibração.

Figura 5. Emissão de poeira do vagão capturada pelo contador de partículas (MP10): 3) Teste com Supressor
e sem vibração; 2) Teste com supressor e vibração.

4. CONCLUSÕES

Os experimentos apresentaram resultados coerentes com as condições as quais as


amostras de minério foram submetidas.
A introdução de vibração no modelo de vagão permitiu a verificação da influência
compactação do material, favorecendo a diminuição da emissão de poeira. A frequência de
vibração foi da ordem que é encontrada em modelos reais de vagões. Porém, essa frequência
pode ser alterada como um parâmetro de controle, para futuras análises.
A medição da emissão de poeira por contador de partículas representa um avanço
neste tipo de ensaios, o que até então não tinha sido observado na literatura. O
monitoramento da emissão de MP10 e/ou MP20, em paralelo com a medição do sistema de
pesagem, permite uma análise completa do problema.
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Os resultados dos testes com supressores de poeira mostraram uma redução na taxa
de erosão eólica, mostrando uma maior eficiência dos supressores quando não são
submetidos a interferências dinâmicas externas, como vibração, reduzindo de 6,1% para 3,1%
para o caso sem vibração e de 4,8% a 3,6% para o caso com vibração.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a vale pelo apoio financeiro e material.

6. REFERÊNCIAS

Anba, 2021, Agência de Notícias Brasil-Árabe, https://anba.com.br/mineracao-brasileira-aumentou-exportacao-


em-2020/, accessed in 18/06/2021
Freitas, Eduardo de. "Principais áreas produtoras de minério no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/principais-areas-produtoras-minerio.htm. Acesso em 17/06/2021.
FURIERI, BRUNO & RUSSEIL, SERGE & SANTOS, JANE MERI & HARION, JEAN-LUC. Effects of non-erodible particles
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672 - 680. 10.1016/j.atmosenv.2013.07.026.
Liu Y, Nie W, Jin H, Ma H, Hua Y, Cai P, Wei W. Solidifying dust suppressant based on modified chitosan and
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Edition, 2nd ed. John Wiley & Sons, Inc., New York, pp. 117-135. Based on formulae of Hinds (1999)Aerosol
Technology: Properties, Behavior, and Measurement of Airborne Particles, 2nd Ed., 2nd ed. John Wiley and Sons,
Inc., New York, NY.

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