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ENSAIO DE RESISTÊNCIA DE SUPRESSORES DE POEIRA EM TÚNEL DE VENTO

APLICADOS EM LEITOS DE MINÉRIO

FONTANA, A.R.F1, LOPES, A.J.C.1, CASTRO, M.M.1, AMARANTE MESQUITA, A.L.1, SANTOS
JR, R.M.2

1
Universidade Federal do Pará (UFPA), Laboratório de Fluidodinâmica e Particulados (FluidPar),
e-mail: arthur.fontana@tucurui.ufpa.br, alex.lopes@tucurui.ufpa.br,
maycon.castro@tucurui.ufpa.br, andream@ufpa.br.
2
Vale, e-mail: ronaldo.menezes@vale.com

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo apresentar uma proposta de ensaio em túnel de vento, para
verificar a resistência de supressores utilizados no recobrimento de leitos de minério do
transporte ferroviário e de pilhas de estocagem. Testes envolvendo a ação do vento sobre os
leitos de minério já são desenvolvidos e possuem metodologias bem estabelecidas, contudo,
alguns efeitos provenientes do clima que podem influenciar na eficiência dos supressores são
desprezados. A proposta de ensaio visa incluir o maior número de variáveis climáticas em um
ensaio realizado com modelos de vagão e pilha em escala. São apresentadas as descrições dos
equipamentos utilizados, com as suas respectivas faixas de atuação, definindo o domínio
experimental que o aparato fornece.
PALAVRAS-CHAVE: Minério de ferro, Emissão de poeira, Túnel de vento, Teste de resistência.

ABSTRACT
This work aimed to present a proposal for a wind tunnel test, to verify the resistance of
suppressants used in the covering of ore in rail transport and stockpiles. Tests involving the
action of the wind on the ore beds are already developed and have well-established
methodologies, however, some effects from the climate that can influence the efficiency of
the suppressants are neglected. The test proposal aims to include the largest number of
climatic variables in a test carried out with scale models of wagon and pile. Descriptions of the
equipment used are presented, with their respective performance ranges, defining the
experimental domain that the apparatus provides.
KEYWORDS: Iron Ore, Dust Emission, Wind Tunnel, Endurance Test.
1. INTRODUÇÃO

A avaliação em campo é o método mais direto para testar a emissão e a supressão de


poeira, uma vez que a poeira está sendo emitida direto na fonte. No entanto, além do elevado
custo e tempo consumindo necessários para essa avaliação, o teste em campo é difícil de ser
realizado devido a quantidade de variáveis que existem e a dificuldade de se trabalhar com
objetos em escalas maiores. Diante disso, são desenvolvidos testes em laboratório com objeto
de estudo em escala reduzida, a fim de reproduzir o fenômeno com condições controladas e
com reprodutibilidade dos resultados.
Em pilhas de estocagem e leitos de minério, o fenômeno de emissão de poeira que
ocorre, é o pó fugitivo, o qual a poeira entra em suspensão e é transportada pelo ar. Djukic e
Planner (2010) apresentaram o túnel de vento como uma excelente ferramenta para se avaliar
essa poeira fugitiva.
Para testar a resistência do supressor de poeira a erosão, foi conduzido um
experimento no túnel de vento do Dust Control Laboratory, Shandong University of Science
and Technology (liu et al. 2018). A velocidade do vento era alterada por um inversor de
frequência ligado ao motor do ventilador do túnel de vento. O ventilador possui potência de
18,5 kW e vazão máxima de 20 m³/s, simulando vento natural de até 31,25 m/s. Dois
recipientes de vidro contendo o mesmo carvão de mesma qualidade foram colocados na
plataforma de teste do túnel de vento, onde em um deles, foi pulverizado o supressor. Após
isso, o túnel era ligado a uma velocidade de 5 m/s durante 10 minutos, depois disso, os pós
de carvão restantes nos vidros do relógio foram pesados para se obter a quantidade de
material perdido durante o experimento. Esse experimento se repetiu, variando a velocidade
em 1 m/s até chegar a 20 m/s, verificando que o supressor de poeira pode prevenir
eficazmente as poeiras fugitivas a uma velocidade do vento de 17 m/s.
Santos Junior et al. (2018), apresentou um estudo levando em consideração diversos
tipos de supressores utilizado nos vagões do trecho de Minas Gerais até o porto de Tubarões,
obtendo diferentes resultados de perda de massa para cada tipo de aplicação de supressor
diferente. O túnel de vento utilizado por ele possuía uma seção de testes aberta (600 mm x
600 mm) com comprimento de 1,8 m, razão de contração de 9 e velocidade máxima de 30
m/s.
Zhou et al. (2019) prepararam um composto de gel para utilizar na supressão de poeira
de carvão durante o transporte e armazenamento, utilizando o teste em túnel de vento para
avaliar a eficiência dele. Primeiro, 10 kg de carvão, incluindo diferentes tamanhos de
partículas, foram pesados e empilhados no chão do laboratório. Dois conjuntos de amostras
foram definidos para comparação: um estava de forma natural e o outro foi revestido com
vários tipos de supressor de poeira com uma quantidade de 2,31 ml/m². Em seguida, as
amostras foram colocadas em um túnel de vento, onde foram ensaiados a uma velocidade de
vento de 6 m/s e 8 m/s. As medições foram realizadas em laboratório por 6 dias;
especificamente, nos primeiros 3 dias, as medições da taxa de perda de massa do carvão
foram realizadas sob uma velocidade do vento de 6 m/s, enquanto as medições foram
realizadas sob uma velocidade do vento de 8 m/s nos últimos 3 dias. Durante esses 6 dias, os
parâmetros do microclima em laboratório foram definidos da seguinte forma: a temperatura
em 20 °C, a umidade em 59%.
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Ding et al. (2020) utilizando a mesma metodologia, avalia outro tipo de supressor. Para
esse teste, 3 porções de carvão foram colocadas em 3 placas de petri distintas. Em seguida,
os leitos de carvão foram borrifados com 3 tipos de supressores diferentes: O primeiro era a
própria água, o segundo era um supressor antigo desenvolvido pelo laboratório e o terceiro
era o novo supressor Autocurante que ele queria testar. As 3 placas de petri foram colocadas
do lado de fora do laboratório, sendo submetidos a uma velocidade de vento entre 3 m/s e 5
m/s em uma umidade relativa média de 62% e temperatura média entre 2 °C e 10 °C. A cada
8 horas, as placas eram recolhidas para verificação da massa. Após 6 dias, o ensaio foi
finalizado, apresentando o novo supressor como mais eficiente como mostra a figura 2.17.
Borba (2017), visando avaliar supressores de poeira em vagão de trem, adaptou um
túnel de vento de propriedade da VALE, inserindo um simulador de luz solar, chuva e
adaptando um módulo de vibração no vagão em escala. Os testes foram realizados avaliando
a perda de massa e umidade do material após 6 horas de teste, apresentando um comparativo
entre diferentes tipos de supressores utilizados nos vagões da estrada de ferro Minas-Vitória.
Gama et al. (2021), utilizando a metodologia de Borba (2017), conduziu experimentos
para avaliar a eficiência de um supressor de poeira que utiliza como base Mucilagem de Chia
em diferentes tipos de concentrações, além da avaliação físico-químico do supressor.
Também foram realizados testes com três produtos comerciais para avaliar a efetividade dos
supressores de poeira à base de chia.
Apesar de obter uma comparação entre os supressores, Gama et al. (2021) sugeriu em
suas conclusões que alguns parâmetros da vibração como o tempo, posição e intensidade
fossem melhor investigados para a melhor compreensão e simulação do transporte real de
minério de ferro.
Foi realizado uma proposta de ensaio que tem como parâmetros, além da velocidade
do vento, algumas condições climáticas inerentes ao tempo em que o minério é transportado
pelas ferrovias e tempo de estocagem, tais quais a precipitação de chuva e insolação, e para
o vagão, as condições dinâmicas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Aparato experimental


O aparato experimental, apresentado na Figura 1, consiste em uma mesa giratória,
para possibilitar a variação da direção do vento, acoplada à um sistema de medição de massa
dinâmico, centralizado em uma seção de teste de um túnel de vento com 0,36m² de área de
seção transversal e 1,8m de comprimento. Externo a seção de teste, é posicionado um
contador de partículas optico, possibilitando a verificação dos níveis de emissão para uma
faixa de tamanho de partículas de até 55µm. Os itens que compõe o aparato experimental são
apresentados a seguir
Figura 1. Aparato experimental utilizado: a) Vagão com moto vibrador; b) célula de carga tipo SP; c) Mesa
giratória; d) tubo Pitot; e) Termohigrômetro; f) Lâmpadas incandescentes; g) Bocal de pulverização; h)
Contador de partículas.

2.1.1. Sistema de dinâmica do vagão


A dinâmica que o vagão é exposto durante seu trajeto é simulado utilizando até dois
motovibradores, sendo 1 fixado na lateral e outro fixado na face traseira do vagão, permitindo
a obtenção de até 3 modos de vibração diferentes. A verificação da frequência de vibração do
vagão é realizada pelo acoplamento de 2 acelerômetros ao vagão, e seu controle é realizado
por um inversor de frequência, que permite trabalhar com frequências de vibração entre 8Hz
e 60Hz.

2.1.2. Sistema de medição de velocidade do vento


A velocidade do vento pode ser alterada modificando a frequência de alimentação do
motor elétrico do túnel de vento através de um inversor de frequência. A velocidade de vento
pode ser medida a partir de um tubo de Pitot tipo L de 6 mm de diâmetro e um micro
manômetro portátil KIMO MDP-2500.

2.1.3. Sistema de pesagem


O sistema de pesagem é acoplado ao aparato experimental para verificar a perda de
massa do sistema ao longo do tempo de ensaio. Contudo, para o caso do vagão, que sofre
interferências dinâmicas, é necessário que esse sistema possua um filtro digital próprio para
trabalhar com pesagens dinâmicas.
O sistema deve possuir ação direta de atenuar diretamente nas oscilações de indicação
do peso quando submetida a interferências mecânicas ou eletromagnéticas causadas por
oscilações estruturais do elemento monitorado, dessa forma, foi escolhido o sistema de
pesagem com célula de carga do tipo SP com amostrador disponibilizado pelo fabricante com
filtros digitais embutidos.

2.1.3. Sistema de avaliação de emissão de poeira


Como forma de contribuir para a análise de resultados de emissão de poeira, o sistema
de avaliação de emissão registra as partículas emitidas do sistema para a faixa de 2,5µm até
55µm, com um contador de partículas posicionado na região da saída da seção de testes do
túnel de vento. A forma de registro é através de um contador de partículas do tipo optico,
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modelo Particles Plus 8506-20, possuindo vazão de sucção de 2,83 litros/min e uma precisão
de 99% para faixas superiores a 1µm.
A posição do contador de partículas em relação a base do túnel de vento foi escolhida
com base em um experimento de verificação da posição que captasse uma maior
concentração de poeira, ao deixar o contador de partículas medindo a emissão por um
período de 5 minutos em diferentes posições na saída da seção de testes.

2.1.4. Sistema de insolação


Para reproduzir essa intensidade luminosa em escala, calcula-se a quantidade de
energia que será incidido no vagão levando em consideração a área da do leito de minério.
Para simular essa intensidade da radiação solar, foram utilizadas 2 lâmpadas
incandescentes. Um medidor de intensidade luminosa foi utilizado para verificar se a
intensidade luminosa requerida é atendida. Essa intensidade varia de acordo com o tempo de
teste para simular tempos mais ou menos ensolarados.

2.1.4. Sistema de chuva


Para controlar a chuva dentro da bancada, foi utilizado uma bomba de 12V, ligado a
uma placa de circuito com relé on/off. Um sensor de fluxo tipo hall também é ligado ao
circuito, para medir a vazão de água de chuva aplicada durante o ensaio como é apresentado
pela figura 4.
A névoa de chuva é produzida por um bico de spray tipo cone cheio com 60° de
abertura de cone, garantindo que toda a superfície tanto da pilha quanto do vagão seja
coberta pela chuva, contudo, uma parte do que é aspergido não entra em contato com o
objeto de estudo, por isso, após definir a precipitação a ser estudada, é necessário que seja
realizada uma calibração da quantia de água a ser utilizada no sistema de chuva.
Um temporizador programado na própria placa de controle torna essa etapa
automática, entretanto, para os ensaios com vagão, é necessário que ao chegar próximo ao
tempo em que será aplicado a chuva, a velocidade do vento seja reduzida, visto que por
apresentar uma velocidade maior, o fluxo da chuva é direcionado para outra região da seção
de teste. O período de aplicação dura cerca de 50 segundos.

2.1.5. Medição de umidade relativa e temperatura do ar


A umidade relativa do ar e a temperatura são medidas com um termo-higrômetro de
medição automática, com precisão de 0,21°C para temperatura e 3,5% para umidade relativa
do ar. Os dados podem ser registrados a uma taxa de 1 vez por segundo, podendo ser
ajustado, possuindo uma memória para fazer até 84.000 registros antes de precisar ser
reiniciado.
O sensor é posicionado sobre a seção de testes, registrando o clima do ambiente ao
redor do túnel de vento.

2.2. Metodologia de ensaio


Após a preparação da amostra de minério a ser estudada, preenche-se o vagão em
escala ou um molde da pilha em escala. Em seguida, posiciona-se o modelo sobre o sistema
de pesagem. Verifica-se a insolação desejada e os níveis de chuva desejados, configurando o
temporizador para qual momento do ensaio será inserido a chuva. Começa-se o registro do
contador de partículas e do sistema de pesagem, e logo após isso, configura-se o inversor de
frequência do sistema de análise dinâmica do vagão e liga-se o ventilador do túnel de vento
até que ele atinja a velocidade de vento desejada para os ensaios.
O intervalo de coleta de dados é realizado a cada 5 minutos por um período de 6 horas.
Para o sistema de avaliação de emissão de poeira, esse intervalo entre amostragem é de 15
segundos, possibilitando a captação de diferentes níveis de emissão de poeira ao longo do
tempo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O aparato experimental completo é apresentado pela figura 5. As Variáveis que podem


ser controladas juntamente com a sua faixa de trabalho, são apresentados na tabela 1.
Estabelecendo o domínio experimental da bancada.

Figura 5. Aparato experimental instalado.


Tabela 1. Variáveis de controle dos experimentos.
Variável mínimo máximo
Insolação (W) 0 17
volume de chuva (ml) 0 1000
Vibração do vagão (Hz) 8 60
velocidade do vento 0 30

Para o ensaio de resistência, em um determinado ponto, uma porção de chuva é


inserida no sistema, o que acaba aumentando a massa total deste sistema conforme mostra
a Figura 6, comparando os ensaios de resistência sem supressor (1) e com supressor (2 ). Esse
volume de água de 500 ml é aplicada ao atingir o tempo de teste de 2 horas, levando um
período de aproximadamente 1 minuto para que a aplicação seja concluída.
Nota-se que apesar deste fato, o experimento mostrou uma tendência a perder menos
massa total quando se utiliza um supressor de poeira em comparação com o mesmo teste se
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o supressor, o que pode indicar que mesmo em condições mais severas, o supressor ainda
cumpre seu papel.

Figura 6. Perda de massa para o teste em vagão.

Um fato interessante a ser observado é que mesmo após a chuva, o supressor não se
desfez, retomando sua função para que ao final de 6 horas de experimento, a perda de massa
no vagão que foi aplicado o supressor seja menor.
Para a pilha, foram obtidos alguns resultados como o vagão conforme mostrado na
figura 7, com a diferença que a magnitude da perda de massa foi bem menor, devido a
velocidade do fluxo ser um pouco menor, sendo comparados os ensaios sem supressor (i) e
com Supressor (ii).

Figura 7. Perda de massa para o teste em pilha

4. CONCLUSÕES

O presente trabalho apresentou o desenvolvimento de um aparato experimental para


avaliação da resistência de supressores de poeira em modelos de vagões e pilhas de
armazenamento de minérios. Os equipamentos que compõem o aparato experimental
possibilitam que os ensaios de teste de resistência sejam realizados dentro de um domínio
experimental apresentado nos resultados desse trabalho.
Qualquer modelo que ao ser transformado em escala, possua um comprimento igual
ou inferior a 550mm poderá ser testado nessa bancada.
Mais testes deverão ser realizados para verificar a melhor forma de avaliar esses
ensaios de resistência, testando outras configurações e tempos de ensaio

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a vale pelo apoio financeiro e material.

6. REFERÊNCIAS

Djukic M, e Planner JH. Evaluation of Dust Emission from Coal Wagons. Bulk Europe. Conference held in
September Glasgow; 2010, Scotland.
Gama LA, Spadetto C, Francisco CS, Da Silva Filho EA. Supressão de Material Particulado de Minério de Ferro
Utilizando Mucilagem de Chia. Rev. Virtual Quim 2021, p. 308-592.
Liu Y, Nie W, Jin H, Ma H, Hua Y, Cai P, Wei W. Solidifying dust suppressant based on modified chitosan and
experimental study on its dust suppression performance. Adsorption Science & Technology 2018, Vol. 36, p. 640-
654.
Ding J, Zhou G, Liu D, Jiang W, Wei Z, Dong X. Synthesis and Performance of a Novel High-Efficiency Coal Dust
Suppressant Based on Self-Healing Gel. American Chemical Society 2020, p. 7992-8000.
Borba MVS. Avaliação do uso de diferentes tipos de polímeros supressores de pó no controle de emissões
atmosféricas durante o transporte de minério de ferro na efvm - estrada de ferro vitória a minas. Instituto
Tecnológico Vale, Vitória, 2017.
Zhou G, Ding J, Sun J, Wang Y. Preparation and performance of a composite gel as a dust suppressant for coal
transportation and storage, Journal of Applied Polymer Science 2019, p.136.
Santos JR RM. Procedimentos Experimentais para Avaliação da Emissão de Poeira em Manuseio de Minério,
Universidade Federal do Pará, Tucuruí, 2018

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