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Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Divisão de Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial

Laboratório de AED-01

Mecânica dos Fluidos I


Análise do desenvolvimento da Camada Limite sobre uma Placa Plana

Autores: Professores:
André Afonso Cardoso da Silva Cap. Eng. Dr. Rodrigo Costa Moura
Fernando Antônio dos Santos Diniz Prof. Dr. Tiago Barbosa de Araújo
Gabriel Firme Rodrigues Prof. Dr. Vitor Gabriel Kleine
Gabriel Vinicius Lima de Alburquerque
(gabriel.albuquerque@ga.ita.br)

Guilherme Alves Rezende


Pedro Anacleto Martins Senna De Oliveira
Vinicius Bonavides de Castro Campos

17 de maio de 2023
Conteúdo
1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

2 Aparato Experimental e Calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

3 Estimativas da Faixa de Transição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

4 Análise da Camada Limite Laminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

5 Análise da Camada Limite Turbulenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

6 Análise da Camada Limite Transicional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

7 Flutuação e Nı́vel de Turbulência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

8 Análise do Fator de Forma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

9 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1 Introdução
Este relatório se refere à 3ª prática laboratorial da disciplina de Mecânica dos Fluidos
(AED-01) presente nos cursos de Engenharia Aeronáutica e Engenharia Aeroespacial do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Tal prática foi realizada no dia 17 de maio de 2023, no la-
boratório ”Prof. Kwei Lien Feng”, do ITA, na cidade de São José dos Campos, São Paulo e é
composta por 7 experimentos.
O objetivo geral dos experimentos realizados foi o estudo da camada limite em placa plana,
para o escoamento incompressı́vel, nos regimes laminar, de transição e turbulento. Os objetivos
especı́ficos foram: estimar os valores do número de Reynolds para o inı́cio e para o final da faixa
de transição. Obter e analisar os gráficos adimensionais de U/U0 × y/θ, urms /U0 × y/θ e nı́vel
de turbulência (urms /U ) versus y/θ para cada um dos perfis de velocidade medidos, em que U a
velocidade medida localmente, U0 a velocidade do escoamento livre, urms a flutuação da velocidade
quadrática média local, y a altura do anemômetro de fio quente em relação à placa plana e θ a
espessura de quantidade de movimento. Baseando-se nesses gráficos, discutir a possibilidade ou
não da auto-similaridade dos perfis. Discutir as flutuações de velocidade para os diferentes regimes,
analisando suas respectivas origens e efeitos. E, por fim, estimar o fator de forma (H) para cada
um dos perfis de velocidade medidos, comparando-se os com as previsões teóricas por meio dos
gráficos adimensionais log(H) × log(Reθ ), sendo Reθ = (U0 · θ)/ν, sendo ν a viscosidade cinemática
do ar.
As variáveis ambientes relevantes para o experimento estão presentes na Tabela 1.1

Tabela 1.1: Variáveis ambiente utilizadas nos cálculos.

Variáveis Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Grupo 6 Grupo 7 Média


Temp. (K) 295,4 297,6 293,7 297,0 294,5 294,8 297,6 295,8
Par (mbar) 951,4 950,3 951,6 948,5 950,2 951,4 949,3 950,4
−5
mu (×10 P a · s) 1,82 1,83 1,82 1,83 1,82 1,82 1,83 1,83
3
ρH2 O (kg/m ) 997,53 996,99 997,90 997,13 997,72 997,65 996,99 997,41
3
ρar (kg/m ) 1,12 1,11 1,13 1,11 1,12 1,12 1,11 1,12

Este relatório está organizado da seguinte forma: o aparato experimental e a calibração


estão presentes na Seção 2; as discussões sobre a estimativa da faixa de transição na Seção 3; a
análise da camada limite laminar, turbulenta e transicional estão, respectivamente, nas seções 4, 5
e 6; na Seção 7 são apresentadas as discussões sobre flutuação e nı́vel de turbulência; na Seção 8 o
fator de forma (H) é analisado e, por fim, as conclusões da prática em questão estão na Secção 9.

1
2 Aparato Experimental e Calibração
O túnel de vento fabricado pela Plint Partners (Amarelinho) foi utilizado nessa prática para
fins experimentais.Trata-se de um túnel de sopro, pois o ventilador está localizado antes da seção
de testes e sopra o ar sobre o modelo. Ele possui uma seção de testes com dimensões de 1150 mm
de comprimento, 460 mm de largura e 460 mm de altura. O comprimento total do túnel de vento é
de 4,5 metros, com largura total de 2,0 metros e altura total de 1,8 metro. A faixa de velocidades
nominais na seção de testes varia de 10 m/s a 32 m/s, e a faixa de pressões dinâmicas na seção
de testes pode variar de 8 a 57 mm H2 O . No experimento em questão, a entrada de ar do túnel
foi parcialmente bloqueada para reduzir as velocidades e pressões dinâmicas. Algumas medidas
na faixa de transição podem ser influenciadas, uma vez que o nı́vel de turbulência do escoamento
livre do túnel não é independente da velocidade de operação e tende a crescer com a redução da
velocidade.

(a) (b)

Figura 2.1: a)Tunel de vento b)Bloqueio parcial da entrada de ar

Uma placa plana de 1,2 metro de comprimento e largura igual à seção de testes foi utilizada.
Essa placa é feita de material acrı́lico e possui marcações vermelhas a cada 5 centı́metros ao longo
de seu comprimento. Na parte inferior da placa, foram aplicadas tiras rugosas para analisar seu
efeito na transição do regime de escoamento. As medições foram realizadas após 15 cm da borda
de ataque e antes de 10 cm da borda de fuga para obter resultados confiáveis, evitando efeitos
indesejados, como a formação de uma esteira instável. Para cada medição, antes de acionar o
tunel, a placa plana foi travada por meio de calços para evitar a movimentação.

2
Figura 2.2: Placa plana e sistema de posicionamento

O modelo de sonda Dantec 55P05, foi utilizado para medir perfis da camada limite. Trata-
se de uma sonda de velocidade do tipo fio quente, fabricada pela empresa Dantec, para realizar
medições ao longo da camada limite do escoamento. A técnica de anemometria de fio quente
permite a medição em tempo real da velocidade média e do valor eficaz (root mean square, RMS)
das flutuações de velocidade do escoamento.

(a) Modelo da sonda (b) Aparato de calibração

Figura 2.3: Equipamento de Anemometria

O traverse gear, também conhecido como posicionador, é uma estrutura que suspenderá
o anemômetro de fio quente e, por meio de seus dispositivos eletrônicos, será responsável pela
variação da posição vertical do fio quente. É importante notar que inicialmente a sonda deve ser
posicionada o mais próximo possı́vel da placa (aproximadamente 1 mm de distância da superfı́cie

3
do modelo), e as medidas devem ser realizadas movendo-se monotonicamente para cima. Isso é
necessário, pois durante o movimento descendente, imprecisões no sistema de posicionamento ou
descuido do operador podem fazer com que o anemômetro entre em contato com a placa, o que
o tornaria inutilizável. É ressaltado que o menor deslocamento medido pelo sistema é de 0,01
mm, mas buscar essa precisão não é prático devido à grande sensibilidade do controle do sistema.
Portanto, é mais razoável planejar deslocamentos na ordem de 0,5 mm.
A prática é iniciada com a calibração do anemômetro de fio quente. Na figura 2.3 é ob-
servado um bocal convergente de onde um jato uniforme atinge o fio quente. A pressão dinâmica
da calibração é controlada utilizando um manômetro de Betz, que fornece a informação sobre a
velocidade do jato, uma vez que essa velocidade é determinada pela pressão de estagnação estabe-
lecida antes do bocal de saı́da para a atmosfera. Por meio de um sistema de aquisição, são obtidas
as medidas de voltagem aplicadas ao fio quente. Os dados de calibração são coletados e, após
correlacionar as informações de voltagem e velocidade do jato, é possı́vel criar uma curva seguindo
a Lei de King [1] dada por:

Figura 2.4: Gráfico de calibração

A seguinte equação descreve o gráfico:

E2 = α + βγ U (2.1)

Onde E é a voltagem, U é a velocidade e α, β e γ, são coeficientes de calibração. Para esse


caso especı́fico, os valores são: α = 0, 9487,β = 0, 8483 e γ = 0, 4429, obtidos a pressão de 950,6
mbar e temperatura de 68,8 fahrenheit.

4
3 Estimativas da Faixa de Transição
A maneira a qual foi feita a estimativa foi feito com utilização de um anemômetro de fio
quente. Esse método foi escolhido pois a criação de vórtices é minimizado, o que evita ruı́dos no
resultado.
Primeiramente, o valor de x foi fixado em 0,6m e o y em 1 mm com o fim determinar os
números Reynolds em que está a faixa de transição, o que pode ser analisado na figura 3.1 pois há
um momento em que há uma anomalia na amplitude do sinal e , ao final, uma concentração de
sinais de alta frequência. Logo, foi possı́vel a escolha de um x no qual era observado todos regimes
para que o anemômetro colete dados e camada limite fosse espessa o suficientemente para esse fim.
Já para o y foi escolhido um valor de forma que pudesse varrer a camada limite.
O x e y escolhidos para cada experimento, bem como seus respectivos números de Reynolds
de transição foram tirados das tabelas ??,?? e Falta.

(a) (b)

Figura 3.1: Momento crı́ticos que houve a mudança clara de regime.

Sete experimentos foram realizados, alguma variâncias foram detectados devido a mudança
do bordo de ataque que muda a rugosidade, temperatura e pressão, ventos e erros de medida.
Diante disso, foi realizado uma média para estimar o número de Reynolds a fim de obter a faixa
de transição, como visto na tabela 3.1

Tabela 3.1: Resultados do reynolds para a faixa de transição.

Reynolds Média do reynolds experimental


Inı́cio da transição 1,77×105
Fim da transição 4,39×105

5
4 Análise da Camada Limite Laminar
No regime laminar, com o anemômetro de fio quente em um posição x = 0, 65m do bordo
de ataque da placa plana, calculou-se - utilizando a teoria de Blasius [1] da camada limite para o
regime laminar - a espessura teórica da camada limite, com base na Equação 4.1.

5x
δL = (4.1)
(Reθ )1/2
onde δL a espessura da camada limite para o regime laminar, x é a coordenada horizontal e Rex é
o valor da constante de Reynolds para uma distância x do bordo.
Dessa forma, utilizando os valores obtidos a partir das medidas, sendo a posição na placa
x = 0, 65m, foi possı́vel obter o valor teórico para Rex = 2, 4138.105 e, consequentemente, o valor
teórico de δ99% = 6, 62mm.
Além disso, foi possı́vel medir o valor da espessura experimental da camada limite da
quantidade de movimento θ [1] utilizando a equação 5.2 e a integração via método dos trapézios.
Z y1
ρ.U U
θL = (1 − ) dy (4.2)
0 ρ0 U0 U0
onde θL a espessura da camada limite da quantidade de movimento, ρ a densidade do fluido,
ρ0 a densidade de referência
Para a estimativa da velocidade do escoamento livre U0 , considerou-se as velocidade dos
pontos medidos pelo anemômetro de fio quente com uma altura (ordenada y) superior à camada
limite teórica, fez-se a média desses valores nesses pontos. Os perfis de velocidade obtidos ex-
perimentalmente para o regime laminar possuem a mesma curva caracterı́stica que a teórica de
Blasius, porém apresentam diferença de altura no gráfico. Com o objetivo de coincidir, houve uma
correção na coordenada vertical do fio quente, em que, para a ordenada de todos os pontos no
gráfico do perfil de velocidade, foi adicionada uma correção ycorr = −0, 096.
Em seguida, estimou-se as espessuras empı́ricas da camada limite δ99% e θ utilizando os
códigos e comandos (os quais realizavam a integração via método dos trapézios) disponibilizados
através do software M AT LAB com os dados de velocidade em função da ordenada y obtidos
experimentalmente. Para cada valor de ycorr , dentro de uma faixa determinada, avaliou-se o δ99%
que apresentasse o menor erro médio quadrático entre o perfil de velocidade normalizado obtido
experimentalmente e o perfil teórico obtido através da solução da equação de Blasius. Os valores
obtidos experimentalmente foram δ99% = 7, 21mm e θ = 1, 29mm.
Observe que δ99% = 6, 62mm teórico e δ99% = 7, 21mm experimental, o que representa
um erro de −8, 91%. Essas diferenças entre as espessuras das camadas limites experimental e

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teórica existem devido a alguns fatores, dentre eles o fato de que a teoria de Blasius para a
camada limite no regime laminar considera a placa plana como perfeitamente lisa (o que não é
compatı́vel com a realidade, afinal essa placa apresenta rugosidades) e infinita (no caso, a placa
plana utilizada é finita), além de considerar o escoamento bidimensional do fluido (enquanto, na
verdade, o escoamento é tridimensional). Somado a isso, tem-se os erros e incertezas associados
à montagem experimental - a exemplo da correção da coordenada y - e medições do operador, as
quais podem justificar imprecisões no valor experimental dessa espessura. Sendo assim, esse erro
de 40, 4%
Com base na Figura 4.1, os perfis de velocidade laminar normalizados previstos teorica-
mente para a placa plana, ou seja, a curva teórica de Blasius praticamente não distinguem-se das
curvas experimentais para os perfis de velocidade normalizados. O gráfico plotado foi de gran-
dezas normalizadas y/θ vs U/U0 e como pode-se perceber não há uma dependência do perfil de
velocidade normalizado com o número de Reynolds.

Figura 4.1: Perfil de velocidade normalizada no regime laminar.

Por fim, nota-se a auto-similaridade entre os perfis normalizados, já que ambos decaem no
mesmo perfil de velocidade padrão, coincidente com Blasius para o regime laminar.

7
5 Análise da Camada Limite Turbulenta
No regime turbulento, em procedimento análogo à Seção 4 referente ao regime laminar,
foram tomadas medidas dos perfis de velocidade de um número de Reynolds para a posição da
abscissa x = 0, 65m. A correção da coordenada vertical y = −0, 096m para os perfis turbulentos foi
realizada a partir dos valores encontrados para os casos laminares. Essa correção foi considerada
uma vez que, para a análise dos perfis em regimes distintos, as posição na placa foram fixadas,
variando-se apenas o número de Reynolds. Como a posição horizontal não seria alterada, optou-se
por estimar a correção vertical no regime laminar, uma vez que o resultado exato do Blasius guia
melhor essa correção.
Para o perfil turbulento de velocidades, uma boa aproximação para a maior parte da camada
limite experimental é obtida pela função raiz sétima. A espessura δ99% teórica para a camada limite
no regime turbulento, [2], pode ser calculado a partir da expressão contida na Equação 5.1.

0.16x
δT = (5.1)
(Rex )1/7
onde δT a espessura da camada limite para o regime turbulento, x é a coordenada horizontal e Rex
é o valor da constante de Reynolds para a distância x do bordo.
Dessa forma, utilizando os valores obtidos a partir das medidas, sendo a posição na placa
x = 0, 65m, foi possı́vel obter o valor teórico para Rex = 5, 2042.105 e, consequentemente, o valor
teórico de δ99% = 15.86mm.
Além disso, foi possı́vel medir o valor da espessura experimental da camada limite da
quantidade de movimento θ utilizando a equação 5.2 e a integração via método dos trapézios.
Z y1
ρ.U U
θL = (1 − ) dy (5.2)
0 ρ0 U0 U0
onde θL a espessura da camada limite da quantidade de movimento, ρ a densidade do fluido,
ρ0 a densidade de referência
A estimativa da espessura δ99% e θ (espessura da camada limite da quantidade de movi-
mento) empı́rica foi feita através de um processo iterativo utilizando o software M AT LAB (com
base na regra do trapézio) empregando os dados de posição vertical e velocidade em cada um dos
perfis turbulentos analisados e utilizando a Equação 5.2. Sendo assim, diversos valores de espes-
sura da camada limite foram testados, em que avaliou-se o erro médio quadrático entre o perfil
de velocidades experimental e o perfil raiz sétima, de modo a serem considerados os valores que
minimizavam esses erros. Os valores obtidos foram δ99% = 14, 04mm e θ = 1, 28mm.
Observe que δ99% = 15, 86mm teórico e δ99% = 14, 04mm experimental, o que representa

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um erro de 11, 48%. A diferença existente entre os valores de espessura da camada limite teórica
e experimental para o regime turbulento existe devido a alguns fatores, dentre eles o fato de que a
Equação 5.1 considera o comportamento turbulento desde o bordo de ataque da placa plana (o que
é incompatı́vel com a realidade), além de que a Equação 5.1 não é precisa para y < δ10T . Somado
a isso, podem existir erros de montagem do aparato experimental e de operação que não devem
ser desconsiderados. Logo, esse erro é compatı́vel e esperado para o tratamento experimental
realizado.
Para a compreensão do resultado experimental, foi utilizada a expressão correlacionada ao
perfil de velocidade normalizado, com dados coletados para os sete números de Reynolds distintos
(um de cada grupo que realizou o experimento). Desse modo, foi possı́vel obter o gráfico da Figura
5.1.

Figura 5.1: Similaridade entre os perfis de velocidades normalizadas no regime turbulento.

Por fim, a auto-similaridade entre os perfis normalizados é visual na Figura 5.1 apenas
quando se usa uma normalização mais complexa e ocorre em uma região muito próxima da parede.
Via de regra, em caso menos expecı́ficos, essa auto-similaridade não seria esperada.

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6 Análise da Camada Limite Transicional
A análise da camada limite transicional foi realizada partindo-se das correções das coorde-
nadas verticais já corrigidas para o perfil no regime laminar. Tal procedimento foi executado para
que se minimizasse pertubações uma vez que, fixada as posições horizontais na placa, tomou-se
medidas no regime laminar variando-se apenas o número de Reynolds. Para se determinar a espes-
sura da quantidade de movimento da camada limite foi utilizada a aplicação da massa de dados
através da integração via regra dos trapézios, conforme equação 5.2. Dessa forma, a tabela 6.1
exprime os resultados obtidos.

Tabela 6.1: Resultados obtidos após análise dos perfis de velocidade no regime transicional.

x (m) Reynolds (105 ) θ (mm)


0,45 1,58 0,83
0,55 1,64 1,00
0,60 2,54 1,04
0,65 2,41 1,29
0,70 2,60 1,24
0,75 3,46 1,48
0,80 4,54 1,45

A partir dos dados coletados e calculados na tabela 6.1 foi possı́vel construir os perfis de
velocidade normalizados para cada número de Reynolds, conforme apresentados na figura 6.1. Para
análise de todos os perfis nos diferentes regimes de escoamento foram compilados em um mesmo
gráfico as faixas laminares, de transição e turbulento, conforme figura 6.2.
É possı́vel perceber na figura 6.2, que os perfis transicionais apresentam muito mais simi-
laridade com os perfis turbulentos do que com os laminares. Tal comportamento pode ter sido
resultado de pertubações que causaram transição antecipada, ou de erro de obtenção da faixa
considerada. Entretanto, é esperado que as curvas no regime transicional não apresentem auto-
similaridade já que possuem propriedades de camadas limites laminares e turbulentas, o que é
levemente observado pela tênue diferença entre alguns dos perfis analisados.

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Figura 6.1: Similaridade entre os perfis de velocidades normalizadas no regime transicional.

Figura 6.2: Perfis de velocidade normalizados para todos os regimes.

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7 Flutuação e Nı́vel de Turbulência
A partir de rotina do software Matlab, obteve-se os valores da velocidade da corrente livre e
os valores rms da velocidade foram obtidos para cada valor de y (distância vertical a partir da placa)
e para cada valor de número de Reynolds estudado, visto que diferentes valores foram trabalhados
por cada grupo na prática experimental, para os regimes laminar, de transição e turbulento. Dessa
forma, trabalhou-se com 7 valores de número de Reynolds diferentes. Para se obter o valor da
velocidade de corrente livre, fez-se, para cada caso medido, uma média das velocidades dos pontos
os quais considerou-se estarem acima da camada limite. A determinação desses pontos foi feita
por meio de observação do gráfico do perfil de velocidade e apoiada pelo julgamento de engenharia
dos integrantes do grupo.
Na rotina de Matlab, normalizou-se os valores rms das velocidades bem como se dividiu
tais valores pelos próprios valores das velocidades. Assim, obteve-se 6 gráficos, a saber, y/θ por
urms /Uo e y/θ por urms /U , cada um para os três tipos de escoamento: laminar, de transição e
turbulento. Vale salientar que para cada um dos gráficos há 7 conjuntos de pontos experimentais,
um para cada valor de número de Reynolds. Tais gráficos se encontram nas figuras 7.1, 7.2 e 7.3.

Figura 7.1: a) e b): Perfis de flutuação e de nı́vel de turbulência normalizados respectivamente,


para o regime laminar

. .

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Figura 7.2: c) e d): Perfis de flutuação e de nı́vel de turbulência normalizados respectivamente,
para o regime de transição

Figura 7.3: e) e f): Perfis de flutuação e de nı́vel de turbulência normalizados respectivamente,


para o regime turbulento

Espera-se que as variações no nı́vel de turbulência sejam maiores nos escoamentos turbulen-
tos do que nos escoamentos laminares e transicionais, o que se observa nos gráficos, principalmente
dentro da camada limite, acentuando-se mais quanto mais próximo se estiver da placa (para y =

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0). Fora da camada limite, percebe-se que os valores de nı́veis de turbulência ficam bem próximos
para os diferentes tipos de escoamento, pois nessa região o escoamento já ocorre por uma corrente
livre. Isso pode ser observado nos gráficos a) e b), representando o regime laminar, em que dentro
da camada limite não há significativa dispersão dos pontos para os diferentes conjuntos de dados
oriundos dos diferentes números de Reynolds adotados no experimento. Nesse caso, o pequeno
gradiente existente é advindo de erros experimentais, de modo a concordar com o perfil teórico de
velocidade no escoamento laminar, que deveria ser constante para diferentes números de Reynolds.
Já nos casos dos escoamentos de transição e turbulento, representados pelos gráficos c), d), e) e f),
respectivamente, observa-se uma maior flutuação de pontos, caracterizando maior diferença entre
os perfis de velocidade para diferentes números de Reynolds. Isso ilustra a formação de estruturas
turbilhonares nessa região próxima à placa, dentro da camada limite, de maneira a concordar com
a teoria.

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8 Análise do Fator de Forma
A espessura de deslocamento é um ı́ndice proporcional à ”perda de fluxo de massa”devido à
presença da camada limite, causando um desvio para cima da linha de fluxo do escoamento externo
por uma distância δ ∗ definida pela Equação 8.1 [1].
Z δ 
∗ ρu
δ = 1− dy (8.1)
0 ρe Ue
Podemos também definir a espessura da quantidade de movimento θ em um ı́ndice que é
proporcional à diminuição do fluxo de momento devido à presença da camada limite [1] , sendo
representado pela altura de um tubo de fluxo hipotético que transporta o fluxo de momento ausente
nas condições de fluxo livre, em que é definido pela Equação 8.2.
Z δ 
ρu u
θ= (1 − dy (8.2)
0 ρe Ue Ue
Assim, podemos definir o fator de forma H, que é determinado pela razão da espessura de
deslocamento δ ∗ e a espessura da quantidade de movimento θ [1]. O fator de forma é utilizado
nas análises de camada limite para prever a separação da camada limite e foi estimado experi-
mentalmente pela razão de δ ∗ e θ em cada medida de velocidade. A integração foi feita por meio
da regra do trapézio com os valores de y e u de cada experimento. Além disso, a densidade foi
desconsiderada para o efeito da integração pois assumiu-se um escoamento incompressı́vel. Os
resultados de H foram dispostos na Tabela 8.1.

Tabela 8.1: θ, δ ∗ e H para cada regime de escoamento

Laminar Transição Turbulento


∗ ∗
θ (mm) δ (mm) H θ (mm) δ (mm) H θ (mm) δ ∗ (mm) H
1,1222 3,2140 2,6230 1,0834 1,8509 1,7084 0,8338 1,5588 1,5695
0,8286 2,2137 2,6715 1,1163 2,0711 1,8553 1,2001 2,030 1,6915
0,9676 2,5436 2,6289 0,8860 1,4929 1,6850 1,0064 1,6926 1,6818
0,8750 2,3080 2,6377 0,6979 1,3173 1,8875 0,8640 1,4849 1,7186
0,9207 2,4392 2,6492 1,0897 1,9233 1,7650 1,0063 1,8865 1,5747
0,8519 2,2742 2,6696 0,8020 1,3752 1,7147 0,6594 1,3493 1,7012
1,1326 3,0064 2,6544 1,2677 2,2647 1,9864 1,4000 2,3903 1,7074

Após isso, construiu-se um gráfico em escala logarı́tmica de H em função de Reynolds,


conforme a figura 8.1.

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Figura 8.1: H versus Reynolds em escala logarı́tmica

Podemos observar que os valores de H se aproximam dos valores conceituados na literatura:


de 2,5 a 2,6 no escoamento laminar e de 1,5 a 1,6 no escoamento turbulento [3]. A fim de comparar
com curvas de referência da literatura, foi construı́do o gráfico 8.2 onde dispôs-se H versus Reynolds
com ajuste logaritmo, ao lado de dados empı́ricos da literatura com valores experimentais de
camada limite turbulentas em regime compressı́vel e incompressı́vel [4].

Figura 8.2: a) e b): H versus Reynolds com ajuste logaritmo e dados empı́ricos de H versus
Reynolds, respectivamente

Por fim, podemos observar uma variância maior nos dados do laboratório, levando a uma
menor precisão, causadas por aproximações utilizadas, como a regra do trapézio, e interferências
externas no local de análise devido a outros experimentos próximos.

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9 Conclusão
Na prática realizada foram feitos experimentos para se analisar a camada limite em placa
plana, formada por um escoamento incompressı́vel nos regimes laminar, de transição e turbulento.
Para tal, foram feitas medidas da velocidade do escoamento por meio de um anemômetro de fio
quente, cuja altura com relação à placa podia ser alterada a fim de se montar os perfis de velocidade.
Para que os perfis de velocidade de cada regime pudessem ser montados, foi feita uma estimativa
de qual o intervalo de valores do número de Reynolds para a faixa de transição. Os valores obtidos
foram: 1, 77 × 105 para o inı́cio da transição e 4, 39 × 105 para o final da transição.

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Referências
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2 WHITE, F. M. Viscuous fluid flow. 3. ed. [S.l.]: McGraw-Hill New York, 2006. 8

3 SCHLICHTING, H.; KESTIN, J. Boundary layer theory. [S.l.]: Springer, 1961. v. 121. 16

4 XU, S.; MARTIN, M. P. Inflow boundary conditions for compressible turbulent boundary
layers. In: 16 th AIAA Computational Fluid Dynamics Conference. [S.l.: s.n.], 2003. 16

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