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EXPERIMENTO EM ESCALA DE EMISSÃO DE POEIRA NO PROCESSO DE

EMPILHAMENTO DE SINTER FEED

CASTRO, M.M.1, LOUZADA, R.L.R.1, WANZELER, H.C.1, SANTOS, D.S.1, MACHADO, L.P.S. 1,
AMARANTE MESQUITA, A.L.1, SANTOS JR, R.M.2

1
Universidade Federal do Pará (UFPA), Laboratório de Fluidodinâmica e Particulados (FluidPar),
e-mail: maycon.castro@tucurui.ufpa.br, e-mail: ryan.louzada@tucurui.ufpa.br, e-mail:
hermeson.wanzeler@tucurui.ufpa.br, e-mail: daniloss@ufpa.br, e-mail: luismachado@ufpa.br,
e-mail: andream@ufpa.br
2
Vale, e-mail: ronaldo.menezes@vale.com

RESUMO
A emissão de poeira pode levar a problemas de saúde, risco de explosão e poluição ambiental.
Para analisar parâmetros associados à geração de poeira em empilhamentos de minério,
utilizou-se uma bancada composta por uma correia transportadora, em escala, para ensaios
laboratoriais, uma mesa de empilhamento com altura ajustável, máxima de 1600 mm em
relação à descarga da correia, e o minério de ferro sinter feed. Contadores de partículas, foram
estrategicamente posicionados na região do entorno do empilhamento do minério de ferro,
com o objetivo de indicar a região da descarga de minério com maior emissão de poeira, para
partículas com diâmetros de 10 μm. Na região frontal e lateral, os picos da emissão, para a
altura de empilhamento intermediária, ocorrem nas alturas 900 mm e 300 mm,
respectivamente, em relação a mesa de empilhamento. A emissão de poeira na região frontal
e lateral aumentam com a altura do empilhamento, sendo mais evidente na região lateral
(cerca de 81% maior).
PALAVRAS-CHAVE: Geração de poeira, Transportador de correia, Empilhamento de minério,
Material particulado.

ABSTRACT
Dust emission can lead to health problems, explosion risk, and environmental pollution. To
analyze parameters associated with the generation of dust in ore stacking, a bench consisting
of a conveyor belt, in scale, for laboratory tests, a stacking table with adjustable height,
maximum of 1600 mm in relation to the belt discharge, was used, and Sinter Feed ore. Particle
counters were strategically positioned in the region surrounding the iron ore stacking, with
the objective of indicating the ore discharge region with the highest dust emission, for
particles with diameters of 10 μm. In the frontal and lateral region, the emission peaks, for
the intermediate stacking height, occur at heights of 900 mm and 300 mm, respectively, in
relation to the stacking table. Dust emission in the frontal and lateral region increases with
stacking height, being more evident in the lateral region (about 81% higher).
KEYWORDS: Dust generation, Belt conveyor, Ore stacking, Particulate matter.
Castro, M.M., Louzada, R.L.R., Wanzeler, H.C., Santos, D.S., Machado, L.P.S., Mesquita, A.M., Santos Jr, R.M.

1. INTRODUÇÃO

As operações de manuseio de sólidos a granel envolvendo a queda de material em


fluxo livre, como na formação de pilhas de estocagem, são comuns na indústria da mineração.
Em tais operações, o descarregamento do minério da tremonha, ou da correia transportadora
em queda livre, faz com que o material particulado (MP) muito pequeno se separe do fluxo
principal e se misture com o ar circundante causando a suspensão de poeira (Wangchai et al.,
2013; Azhar e Rani, 2020).
O risco da emissão de particulado, causando a poluição do ar, está relacionada ao
manuseio de minérios. O particulado de minério muito pequeno, pode viajar grandes
distâncias pela ação do vento e gerar graves riscos à saúde. Problemas respiratórios para
trabalhadores da mineração e comunidades próximas às instalações industriais são
observados. Também, impactos de menor efeito podem ocorrer, como: diminuição da
visibilidade, e precipitação de poeira nas superfícies das casas, veículos e estruturas próximas
(Planner, 2011).
De acordo com Cooper e Arnold (1995), existem dois principais aspectos físicos pelos
quais a poeira se desprende do material a granel e pode ser carregada por correntes de ventos
para fora do fluxo de empilhamento: (i) a poeira é liberada durante a queda livre do material
original, devido colisões com partículas vizinhas e interação com ar circundante; (ii) o impacto
do fluxo de material sobre a superfície da pilha em formação, libera o ar aprisionado causando
a emissão de poeira.
Durante as operações de queda livre de material particulado, o ar circundante é
induzido a se mover pela corrente de material à medida que os particulados contidos no granel
se desprendem do fluxo principal e se envolvem com o ar ambiente. (ANSART, 2009; AZAR,
RANI, 2019; CECALA et al., 2019). Esse cenário influencia na geração de poeira em suspensão,
conforme mostrado na Fig. 1.

Figura 1. Demonstração da indução de ar à medida que o material se desprende do transportador (adaptado


de Cecala et al., 2019)

Devido às graves consequências associadas à inalação de particulados, a


regulamentação da qualidade do ar tem estabelecido padrões rigorosos. Em 2006 e 2012, a
Agência de Proteção Ambiental (EPA) norte-americana realizou modificações nos padrões de
emissão de MP, para refletir a compreensão crescente de efeitos adversos para a saúde
devido à inalação de poeira (EPA, 2022).
Este artigo, tem por objetivo principal a análise experimental da emissão de poeira em
processos de empilhamento de minério. Para esse fim, desenvolveu-se equipamentos e
técnicas para a realização de experimentos de caracterização da geração de poeira durante o
processo de empilhamento de minério. Os resultados deste estudo podem ser aplicados em
processos em escalas reais de empilhamento de materiais a granel.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para o estudo da emissão de poeira gerada durante o empilhamento de minério de


ferro em um pátio de estocagem, utilizou-se um caso real de uma empilhadeira/recuperadora
(protótipo) com capacidade nominal de empilhamento de 8000 t/h e velocidade da correia de
4,2 m/s. Para a realização do estudo em escala utilizou-se a metodologia desenvolvida por
Donecker (2011) e Santos Junior (2017). Como modelo, usou-se um transportador com
capacidade de 75,67 t/h e velocidade da correia de 1,65 m/s. A Fig. 2 mostra o esquema da
bancada.

Figura 2. Desenho esquemático da bancada de empilhamento

Nos ensaios, utiliza-se o minério de ferro sinter feed com teor de 1,7% de umidade. A
metodologia dos ensaios segue as seguintes etapas. Seca-se o material a uma temperatura de
105° C em uma estufa por 24 horas. O material seco é quarteado de acordo com a norma NBR
NM 27 e separado em amostras de 70 kg.
Prepara-se a amostra do material para uma determinada umidade de interesse. Três
amostras são coletadas para confirmação da umidade. Preenche-se a moega de alimentação
com 65 kg do material. Ajusta-se a mesa de empilhamento para a altura de interesse do ensaio
e posiciona-se os contadores de partículas. Uma câmera é posicionada e os contadores são
acionados por 15 s, com uma taxa de amostragem de 1s, para medir a concentração de
partículas no ambiente e estabelecer uma linha de referência. Passado o tempo de
estabilização dos instrumentos, o transportador de correia é ligado e permanece acionado até
esvaziar a moega de alimentação. Ao finalizar o experimento, os contadores permanecem
ligados por mais 30s até se estabilizar novamente. Em seguida, a mesa de empilhamento é
Castro, M.M., Louzada, R.L.R., Wanzeler, H.C., Santos, D.S., Machado, L.P.S., Mesquita, A.M., Santos Jr, R.M.

limpa e se inicia os experimentos para diferentes alturas de empilhamento (800 mm, 1200
mm e 1600 mm).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Definição do posicionamento da medição de partículas.

A Fig. 3 apresenta a configuração de testes de empilhamento de minério de ferro,


composta pelo transportador, mesa e contadores de partículas. Para avaliação das regiões de
maior emissão de poeira, posicionou-se um contador na frente da descarga do material
(contador 1) e o outro contador na sua lateral (contador 2). Realizou-se ensaios variando
apenas a altura dos contadores em relação a mesa de empilhamento (h=300 mm, h=600 mm,
h=900 mm e h=1200 mm) e mantivemos a altura de empilhamento fixa de 1200 mm (altura
do transportador de correia em relação a mesa de empilhamento). Essas medições permitem
determinar quais posições da descarga de material particulado emitem maior concentração
de poeira.

Figura 3. Configuração das alturas dos contadores em relação a mesa de empilhamento (vista frontal).

A Fig. 4 mostra que, o contador 1 (frontal) na altura h=900 mm mediu a maior emissão
de particulados (9.810,49 µg/m³). As demais alturas mediram concentrações abaixo de 4.000
µg/m³. Para a medição de poeira do contador 2, na posição lateral, constatou-se que a altura
h=300 mm foi aquela que apresentou maior concentração de poeira (12.079,02 µg/m³),
quando comparado às outras alturas que ficaram abaixo da concentração de 5.000 µg/m³,
conforme a Fig. 5. Comparando as maiores concentrações, cerca de 20% de poeira é emitida
a mais para a posição lateral do que para a posição frontal.
Figura 4. Concentração de partículas de diâmetro MP10, medidas por um contador frontal a descarga do
material particulado para avaliação da região de maior emissão.

Figura 5. Concentração de partículas de diâmetro MP10, medidas por um contador lateral a descarga do
material particulado para avaliação da região de maior emissão.

Determinou-se também para as alturas de empilhamento mínima (800 mm) e máxima


(1600 mm), os pontos que serão colocados os contadores 1 e 2. A Tab. 1 resume as alturas
dos contadores, em relação a mesa de empilhamento, que serão utilizadas no decorrer dos
ensaios para cada altura de queda de material durante o empilhamento de minério.

Tabela 1. Altura dos contadores (1 e 2), em relação a mesa de empilhamento, para cada altura de queda.
Contador Hmínima (mm) Hmédia (mm) Hmáxima (mm)
Frontal (1) 600 900 1200
Lateral (2) 200 300 400
Castro, M.M., Louzada, R.L.R., Wanzeler, H.C., Santos, D.S., Machado, L.P.S., Mesquita, A.M., Santos Jr, R.M.

3.2 Ensaios variando a altura de empilhamento.

O passo seguinte, consistiu em variar a altura do empilhamento, em relação ao


transportador da correia. A Fig. 6 apresenta os resultados. Nota-se o seguinte comportamento
da nuvem de partículas de minério. O contador 1, localizado no ponto mais acima e frontal ao
fluxo, tem seu ápice de concentração (602,14 µg/m³) quando a altura do empilhamento está
em 1600 mm. Essa concentração decresce 27,95% na posição intermediária (1200 mm) e
atinge sua menor concentração (389,26 µg/m³) na menor altura de 800 mm, um decaimento
na emissão de poeira de quase 36% em relação a concentração na maior altura de queda.

Figura 6. Concentração de partículas de diâmetro MP10, medidas por um contador frontal a descarga do
material particulado.

O comportamento é similar aos resultados apresentados pelo contador 2, localizado


no ponto mais abaixo e na lateral do fluxo, tem seu ápice de concentração na altura de 1600
mm (3192,72 µg/m³). Essa concentração decresce bruscamente quando comparada com a
altura intermediária (1200 mm), cerca de 74%. Porém, quando se compara a concentração da
posição intermediária (848,18 µg/m³) com a concentração na menor altura (710,67 µg/m³)
percebe-se que a diminuição não é significativa, cerca de 16%, assim como foi observado para
o contador na posição frontal.
A Fig. 7 mostra os resultados. Uma hipótese para esse comportamento se atribui ao ar
induzido pelo fluxo mássico, que se espera aumentar com elevação da altura de queda similar
aos resultados apresentados por (Azhar, 2019). Sendo que, as maiores concentrações foram
obtidas pelo contador 2 (lateral) o que pode ter acontecido devido ao impacto do minério com
a bandeja de recebimento. Quanto maior a altura de queda, maior é a intensidade da
dispersão do ar retido no espaço intersticial do material em descarga. Espera-se que estudos
futuros elucidem essa expansão lateral privilegiada da nuvem de poeira. Em menores
quantidades de ar induzido (menores alturas de queda), embora esse fenômeno ainda exista,
é menos intenso, e as partículas muito pequenas criam uma nuvem formada por movimentos
tipicamente ascendentes.

Figura 7. Concentração de partículas de diâmetro MP10, medidas por um contador lateral a descarga do
material particulado.

4. CONCLUSÕES

O laboratório de transportadores de correia desenvolvido para os estudos


relacionados ao mecanismo da geração e controle da emissão de poeira de materiais
particulados foi projetado, construído e testado. Os resultados dos experimentos, para a
caracterização dos pontos de medição de maior emissão de particulados, forneceram a
posição na qual os contadores de partículas devem ser posicionados para uma melhor
eficiência na medição. Isso garante a precisão nos resultados que são obtidos no estudo.
Os resultados mostraram que, a poeira é gerada em dois pontos principais. O primeiro
ocorre na saída do material da correia, no ponto de transbordo do material, onde as partículas
finas, induzidas pelo ar circundante, se desprendem do fluxo principal e se envolve com o ar
ambiente. O segundo ponto ocorre no impacto do fluxo de material sobre a superfície da pilha
em formação, liberando particulados no ar aprisionado causando a emissão de poeira. Com
base nesse primeiro estudo, e com a definição dos pontos de maior emissão durante o
processo de empilhamento de minério de ferro, testes de supressão de poeira serão
realizados, no intuito de investigar a performance na redução da concentração de poeira, com
diferentes mecanismos de controle, tais como aumento da umidade e utilização de sistemas
de aspersão para captura das partículas em suspensão.
Portanto, os resultados preliminares apresentados aqui mostram que a bancada de
correia transportadora permite realizar experimentos em modelo que podem ser
relacionados de forma similar para resolução de problemas e desenvolvimento de novas
Castro, M.M., Louzada, R.L.R., Wanzeler, H.C., Santos, D.S., Machado, L.P.S., Mesquita, A.M., Santos Jr, R.M.

técnicas em casos reais na indústria de materiais a granel. Além disso, o laboratório permite
realizar experimentos relacionados a estudos utilizando variados tipos materiais: minério de
ferro, carvão, bauxita, calcário etc.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Vale pelo apoio financeiro.

6. REFERÊNCIAS

Ansart R, Ryck, AD; Dodds JA. Dust emission in powder handling: Free falling particle plume characterization.
Chemical Engineering Journal 2009;152(2-3):415-420.
Azhar NAL, Rani SI. Experimental study of airborne dust generation during powder free falling. Acta Mechanica
Malaysia 2020;3(2):37-39
Cecala AB, O’brien AD, Schall J, Colinet JF, Fox WR, Franta RJ, et al. Dust control handbook for industrial minerals
mining and processing. Pittsburgh, PA: Department of Health and Human Services, 130-158. 2019.
Cooper, Paul; Arnold, Peter. Air entrainment and dust generation from a falling stream of bulk material. KONA
Powder and Particle Journal 1995; V. 13, P. 125-134.
Donecker P. Dynamic scale modelling (DSM) of transfer chutes. Australian Bulk Handling Review, 2011.
EPA – Environmental Protection Agency, NAAQS Table [homepage on the internet]. Washington, D.C: EPA, 2020
[cited 2022 Mar 26]. Disponível em: https://www.epa.gov/criteria-air-pollutants/naaqs-table
Planner J. A sustainable approach to manage dust emission during handling and transport of coal and iron ore.
In: CASANZ Conference 2011, Auckland, Proceedings [Paper 203]. New Zealand.
Santos Junior RM, Piquet CV, Amarante Mesquita AL, Mesquita ALA. Laboratório de transportadores de correia
para análise de chutes em escala. Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa, 23-27
outubro, Belém, Brasil. (XXVII ENTMME). p. 1646–1653. 2017.
Wangchai S., Hastie DB., Wypych PW. The simulation of particle flow mechanisms in dustiness testes: 11th
International Congress on Bulk Materials Storage, Handling and Transportation. The University of Newcastle,
2013.

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