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RESUMO
O crescimento populacional e adensamento de centros urbanos possui forte relação com a
ampliação de sistemas de transportes, acentuando diversos tipos de impactos ambientais, como a poluição
sonora. Sabe-se que a expansão do transporte coletivo é de suma importância para população e que
mesmo com menores taxas de emissão de poluentes atmosféricos, comparado ao uso de automóveis
particulares, há ainda a emissão de ruído. De acordo com a necessidade de mitigação da poluição sonora o
artigo apresenta o andamento da norma NBR 16.425-5 - Medição e avaliação de níveis de pressão sonora
gerados por sistemas de transportes metroferroviários - prevista para definir a metodologia e critérios para
medição de níveis de pressão sonora e avaliação em ambientes externos às edificações lindeiras a
sistemas de transportes metroferroviários (metrô, VLT, monotrilhos e trens metropolitanos de
passageiros). Observa-se que o ruído proveniente deste meio de transporte depende de algumas
características, tais como: variáveis operacionais (velocidade de operação, conservação da via, instalações
e materiais utilizados). Demonstra-se também no artigo, estudo em que a metodologia para medições de
ruído de linha férrea foi aplicada, a saber a caracterização do ruído do trem na Linha 9 – Esmeralda
(pertencente à CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que enfatiza a necessidade de
abordagem específica para a caracterização de fontes móveis, quando comparada a fontes estacionárias.
ABSTRACT
The population growth and densification of urban centers has a strong relationship with the
expansion of transport systems, accentuating a variety of environmental impacts, such as noise pollution.
It is known that the expansion of public transport is of utmost importance for the population and that even
with lower emission rates of air pollutants, compared to the use of private cars, there is still noise
emission. According to the need to mitigate noise pollution, the article presents the progress of NBR
16.425-5 - Measurement and evaluation of sound pressure levels generated by metro-railway systems -
planned to define the methodology and criteria for measuring metro-railway systems pressure levels
(Metro, VLT, monorails and metropolitan passenger trains). It is observed that the noise coming from this
means of transport depends on some characteristics, such as: operational variables (speed of operation,
road conservation, facilities and materials used). It is also demonstrated in the article is a study in which
the methodology for railroad noise measurements was applied towards the characterization of train noise
in Line 9 - Esmeralda (belonging to CPTM), which emphasizes the need for a specific approach to the
characterization of mobile sources when compared to stationary sources.
DOI: 10.17648/sobrac-87033
1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que a propagação do som em campo livre sofre atenuação com a distância, em
função do espalhamento geométrico da onda. Assim, considerando que a fonte emite energia
sonora através da propagação esférica da onda e que tal energia não sofre variação, à medida que
o receptor se afasta do centro acústico da fonte, o nível de pressão sonora diminui, porque a
superfície da frente de onda aumenta (pois o raio da esfera aumenta).
Neste sentido, fontes fixas e fontes móveis se comportam de maneira distinta, uma vez que as
fontes móveis (ou lineares) perfazem uma composição de fontes fixas – espaçadas entre si – se
movendo ao longo de uma trajetória linear. Tal fenômeno promove a propagação sonora de
todos os pontos distribuídos uniformemente ao longo desta trajetória, de forma cilíndrica
(CNOSSOS, 2012).
Desta forma, a NBR 16425-5 – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora gerados por
sistemas de transportes – Sistema Metroferroviário - foi motivada pela necessidade de
estabelecer procedimentos específicos de medição e avaliação de níveis de pressão sonora, bem
como critérios e descritores sonoros apropriados para sistemas de transportes metroferroviários.
Destaca-se ainda que a Parte 5, da referida norma, se aplica somente ao transporte metropolitano
de passageiros sobre trilhos.
A NBR 16.425-5 visa estabelecer critérios tanto para vias existentes, em operação, quanto
para vias novas, caracterizadas por prolongamentos de sistemas lineares existentes, variantes de
traçado e duplicações com traçado independente, para o qual venha a ser exigido licenciamento
ambiental, além da determinação de limites máximos permitidos para tais níveis de pressão
sonora, para fins de estudos e projetos acústicos em ambientes urbanos, em função de sua
finalidade de uso e da ocupação do solo em áreas lindeiras aos sistemas metroferroviários.
2. METODOLOGIA
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Foram descartados sons intrusivos, ou seja, ocorrências pontuais e/ou atividades não
rotineiras, inerentes ao sistema metroferroviário, mas que, por não fazerem parte da sua operação
comercial – tais como manutenção de via e buzinas - não o caracterizam do ponto de vista de
emissão sonora.
3. ESTUDOS DE CASO
O estudo, realizado em setembro de 2014 no Pátio CEASA, sito à Av. Marginal Pinheiros
– São Paulo, para o prolongamento da Linha 9 da CPTM / SP, trecho Grajaú-Varginha, utilizou
medições acústicas para caracterização do nível de pressão sonora emitido pelos trens CAF
7000, que seriam utilizados em operação futura.
As medições foram realizadas em tomadas contínuas de longa duração, neste caso uma
tomada ininterrupta de 1 hora e 20 minutos, e foi-se anotando o sentido e o número da
composição (trem). Nesse local, pertencente à Linha 9 – ESMERALDA, os trens trafegam para
Osasco ou Grajaú (bairro). A Figura 1 mostra a localização do ponto de medição (P).
Tal local foi escolhido por ser um trecho reto de grande comprimento, em que o trem
atinge maior velocidade, em torno de 70 km/h. Adotou-se como referência de eixo à via mais
afastada (sentido Grajaú), pois os trens estavam em maior velocidade. Assim, o ponto de
medição foi posicionado a 7,50 m do eixo da via de trem. Em relação a via mais próxima
(sentido Osasco), o ponto de medição ficou a 3,50 m. Tal conformação pode ser visualizada na
Figura 2. Todas as passagens de trens foram registradas no analisador sonoro, de forma
ininterrupta e constituem o “plot de eventos” = variação dos níveis de pressão sonora ao longo
do tempo.
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Figura 2: Posicionamento dos pontos de medição. Fonte: Elaboração própria.
Os medidores de ruído foram posicionados com microfone voltado para a fonte de ruído,
sem qualquer bloqueio entre o microfone e a fonte, e dispostos, cada um, a uma altura de 1,2±0,2
metros e 3,5±0,2 metros em relação ao solo, conforme ilustrado na Figura 3 (ISO 3095:2013) e
demonstrado in loco pela Figura 4;
Figura 4: Medições para caracterização dos trens CAF 7000. Fonte: Elaboração própria.
O ruído proveniente das composições fora mensurado considerando toda a sua passagem.
Para definir o período amostral da passagem do trem, foi considerado o nível de pressão sonora
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obtido no instante em que a frente do trem alcançava a posição do analisador de ruído (Lp1) e o
obtido no instante em que a traseira do trem atingia a posição do analisador de ruído (Lp2).
Deste modo, o intervalo considerado antes da passagem do trem foi todo aquele cujos
níveis ambientes se encontraram dentro de um intervalo de 10 dBA do mensurado em Lp1. O
mesmo valeu para o período após o término da passagem da composição, utilizando Lp 2 como
parâmetro. Este procedimento segue descrito na figura 5.
Figura 5: Intervalo de tempo a ser considerado para passagem do trem. Fonte: ISO 3095:2013.
Também foram realizadas medições sonoras de passagem de trem junto à linha 11 – Coral da
CPTM, que liga as estações Luz e Guaianazes. As medições foram realizadas na estação de trem
Dom Bosco, da Linha 11, conforme Figura 6. Essas medições procuraram avaliar a condição de
ruído da passagem de trens em via elevada, como é o caso de algumas linhas em operação (a
mais recente é a Linha 13 – Jade, também da CPTM).
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receptores em áreas de zoneamento conhecido. Os métodos B e C são recomendados para
atividades ferroviárias complexas por natureza, com várias fontes de ruído. O Método B
concentra-se apenas no uso de previsões de ruído para avaliar impactos enquanto que o Método
C alia a combinação de medições de campo e previsões de modelo para avaliar os impactos.
Desta forma, o método que será abordado é a metodologia C, que utiliza medições in loco para
caracterizar o ruído de passagem de trens.
MÉTODO C
Fonte Ponto de
sonora controle
Distância de 30,
50 metros ou
superior
Figura 7: Posicionamento do ponto de controle. Fonte: Railway Noise Measurement and Reporting Methodology.
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Gráfico 1: Exemplo de medição realizada no ponto de cruzamento de linhas e no ponto de controle. Fonte: Railway
Noise Measurement and Reporting Methodology.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os plots de eventos constituem a flutuação dos níveis sonoros dBA ao longo do tempo de
amostragem, para cada posição do microfone. Optou-se por realizar uma tomada contínua de
1 hora e 12 minutos e, através da identificação do trem e cronometragem do horário, conseguiu-
se separar cada passagem de trem e seus respectivos dados. A Figura 8 apresenta o plot total dos
eventos, correspondendo aos 72 minutos amostrados, com um total de 18 passagens, das quais 15
foram válidas.
Figura 8: Plot de eventos da medição sonora total (correspondente a 72,5 minutos) realizada no ponto P,
durante passagens de trens da Linha 9 – Grajaú – Osasco, para o analisador sonoro posicionado a 1,20 m do
piso. Fonte: CLB Engenharia, 2014.
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A Tabela 1 mostra os resultados obtidos nas passagens de trem, já corrigidos os níveis
LAeq das que aconteceram na via sentido Osasco. As passagens que correspondem ao
cruzamento de 2 trens (sentidos opostos) apresentam sempre níveis LAeq maiores, devido à
superposição e soma dos níveis sonoros de ambos os trens.
Tabela 1: Passagens de Trens Válidas (linha 7000): 1,20 m – Svan 943 x 3,50 m Larson 831 - Início das medições:
7:26 hs
Diferença
N° N° do Horário de H1=1,5m H2=3,5m (H1-H2)
Sentido
Passagem carro passagem de altura de altura Média: ~2,1
dBA
1 - 07:28:29 Grajaú 81,2 80,9 0,3
2 7087 07:32:00 Grajaú 80,7 80,5 0,2
3 - 07:39:59 Grajaú 81,1 80,5 0,6
4 - 07:47:09 Grajaú 81,2 80,2 1,0
5 7524 07:49:08 Osasco 78,3 76,2 2,1
6 7514 07:55:31 Grajaú 81,4 80,1 1,3
7 7519 08:01:21 2 trens 86,6 83,3 3,3
8 - 08:08:34 2 trens 88,1 84,1 4,0
9 7115 08:13:40 Grajaú 81,2 80,3 0,9
10 - 08:18:16 Osasco 84,6 79,3 5,3
11 7524 08:20:03 Grajaú 81,4 80,4 1,0
12 7063 08:26:12 Osasco 84,3 80,5 3,8
13 - 08:27:19 Grajaú 81,3 80,0 1,3
14 7528 08:32:33 Osasco 85,1 81,4 3,7
15 7501 08:37:44 Osasco 84,9 81,6 3,3
Observa-se, como esperado, que os níveis sonoros obtidos nas passagens da Linha 11 são
de 2 a 4 dBA menores aos observados nas passagens da Linha 9. Tal fato está diretamente
relacionado à velocidade de operação do trem na Linha 11, mais baixa (~20 a 30 km/h), devido
ao trem estar próximo da Estação e à curva logo após esta, o que obriga também a uma redução
de velocidade.
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Tabela 2: Passagens de Trens Válidas: 1,20 m – Svan 943 x 3,50 m Larson 831 - Início das medições: 19:03 hs
Diferença
H1=1,5m de H2=3,5m de (H1-H2)
Número Nº do carro Horário Direção
altura altura Média: 0,50
dBA
1 7101 19:03 Guaianases 78,7 78,0 0,6
2 7120 19:04 Luz 79,8 79,3 0,5
3 7137 19:09 Guaianases 78,3 77,7 0,6
4 7104 19:13 Luz 78,3 78,1 0,2
5 7127 19:21 Luz 79,0 78,4 0,5
6 7009 19:43 Guaianases 81,8 81,0 0,8
7 7021 18:44 Guaianases 78,9 78,4 0,4
8 7110 18:52 Luz 78,1 77,3 0,8
9 7063 18:53 Luz 78,3 78,3 0,0
10 7028 18:57 Luz 80,1 79,6 0,4
5. CONCLUSÃO
As medições para caracterização do ruído ferroviário descritas nos itens 4.1 e 4.2 seguiram
mesma metodologia, referente ao recuo, tempo de medição, medição em 2 alturas, 1,5 m e 3,5 m,
localização da medição, à 3,5 m e à 7,5 m do eixo da via do trem. Porém pode-se observar que as
medições ocorreram em locais distintos, uma em linha retilínea, Linha 9, e outra em via elevada,
Linha 11, com proximidade com túnel e plataforma de embarque e desembarque.
Tal fato pode ser demonstrado pelo nível de pressão sonora dos trens da linha 9 Ceasa
obterem média de 82,8 dBA à 1,5 m de altura e 80,6 dBA à 3,5 m de altura, enquanto nas
medições da estação Dom Bosco, os níveis médios de pressão sonora serem de 79,1 dBA à 1,5 m
de altura e 78,6 dBA à 3,5 m de altura. Desta forma, os resultados confirmam a correlação entre
o nível de ruído emitido pela passagem do trem (contato roda trilho) e sua velocidade de
operação.
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analisar qual a contribuição e influência de aparelhos de mudança de via, mudança de
velocidades, etc, na emissão de ruído dos trens, nos diferentes trechos.
Conclui-se que tais informações, aliadas à metodologia presente na ISO 3095 – testada neste
artigo em duas campanhas distintas de medições acústicas - são relevantes para subsidiar a
caracterização do nível de pressão sonora das passagens de trens, podendo ser adotadas em
estudos futuros, inclusive para embasamento da metodologia a ser adotada na norma brasileira
NBR 16.425-5.
6. REFERÊNCIAS
[1] BISTAFA, S.R. Acústica Aplicada ao Controle do Ruído, Cap. 09 em Propagação sonora ao ar livre e ruído
ambiental, São Paulo, Edgard Blücher, 2006.
[2] CETESB 100/2009/P - Dispõe sobre a aprovação do Procedimento para Avaliação de Níveis de Ruído em
Sistemas Lineares de Transporte. 2009.
[3] CETESB 389/2010/P - Dispõe sobre a aprovação da Regulamentação de níveis de ruído em sistemas
lineares de transportes localizados no Estado de São Paulo. 2010.
[4] ISO 3095, Acoustics – Railway applications – Measurement of noise emitted by railbound vehicles, 2013.
[5] NBR 13.067 – Carro metropolitano e veículo leve sobre trilho – determinação dos níveis de ruído – método
de ensaio. (em revisão), 1994.
[6] NBR 13.068 – Ruído interno e externo em carro metropolitano e veículo leve sobre trilho (VLT) –
procedimentos, 1987.
[7] NBR 10151: Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas – Aplicável
para os pátios metroferroviários. (em revisão), 2000.
[8] NBR 16313: 2014 Acústica – Terminologia. 2014.
[9] CNOSSOS. Common Noise Assesment Methods in Europe (CNOSSOS-EU). Italy, 2012.
[10] AGENCY - Railway Noise Measurement and Reporting Methodology. Canada, 2011.
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