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Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto


Departamento de Química

Físico-Química Experimental

Experimento 7 – Pressão de Vapor de Líquidos Puros e Misturas

Pâmela Adriane Toni Marques (8625356)


Renato Alexandre Polins Junior (7148196)

Ribeirão Preto/SP
19/02/2021
1. Objetivos
A primeira parte do experimento teve como objetivo determinar a pressão de
vapor da água pura em quatro diferentes temperaturas, utilizando o método do
isoteniscópio, a fim de determinar os valores de ∆Hvap e ∆Svap da água utilizando a
Equação de Clausius-Clapeyron.
A segunda parte do experimento teve como objetivo a determinação da pressão
de vapor da mistura 1-propanol + água em cinco diferentes composições, a fim de
verificar a idealidade da mistura, utilizando a Lei de Raoult como referência.

2. Descrição do experimento
Inicialmente realizou-se a medida da pressão atmosférica utilizando um
barômetro, e, em seguida, um sistema com um manômetro acoplado a um condensador,
um isoteniscópio e uma bomba de vácuo.
Logo após, através do manômetro, realizou-se a medida dos valores de pressão
para a água pura em quatro diferentes temperaturas, todas as medidas foram feitas em
triplicata. Calculou-se então a pressão de vapor da água em cada temperatura, utilizando
a equação 1:
𝑃𝑣 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 − 𝑃𝑚𝑎𝑛 ô𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 (Equação 1)
Depois de calculada as pressões de vapor, plotou-se o gráfico lnP vs. 1/T, pois
através do gráfico se obtém os coeficientes linear e angular, em que o coeficiente
angular será utilizado para a determinação da entalpia de vaporização dá água, através
da equação de Clausius-Clapeyron (equação 2):

∆𝐻𝑣𝑎𝑝
𝑙𝑛𝑃 = − + 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 (Equação 2)
𝑅𝑇

A partir do valor da entalpia, calculou-se a entropia de vaporização a partir da


equação 3, considerando-se que o sistema está em equilíbrio, portanto ΔG = 0:

∆𝐻𝑣𝑎𝑝
∆𝐺 = ∆𝐻 − 𝑇∆𝑆 = 0 ⇒ ∆𝑆𝑣𝑎𝑝 = (Equação 3)
𝑇

Os valores de ∆Hvap e ∆Svap determinados foram comparados com os valores


apresentados na literatura, e o valor de ∆Svap comparado com o previsto pela regra de
Trouton, que é uma observação empírica sobre a entropia de vaporização.
Segundo esta regra, a razão ∆Hvap / T é de aproximadamente 85 J.K-1.mol-1 para
uma ampla diversidade de líquidos, um vez que há uma variação comparável de volume
quando um líquido se evapora e se torna um gás.
Os líquidos que exibem desvios significativos em relação a esta regra têm fortes
interações intermoleculares, como a ligação de hidrogênio, pois estas interações mais
fortes tendem a organizar as moléculas do líquido, e a passagem para o estado gasoso
implica em uma maior variação da desordem do sistema.
Na segunda parte do experimento, foi realizada a medida a pressão, através do
sistema com o manômetro, da mistura água e 1-propanol em cinco diferentes frações
molares, todas as medidas foram realizadas em triplicata. Calcularam-se então as
pressões de vapor experimentais da mistura em cada composição através da equação 1.
Em seguida, calcularam-se as pressões de vapor teóricas da mistura (P) para
todas as frações molares (x) utilizadas no experimento, previstas pela Lei de Raoult
(equação 4). P* corresponde ao valor da pressão de vapor do líquido puro:

∗ ∗
𝑃 = 𝑥á𝑔𝑢𝑎 𝑃á𝑔𝑢𝑎 + 𝑥𝑛 −𝑝𝑟𝑜𝑝𝑎𝑛𝑜𝑙 𝑃𝑛−𝑝𝑟𝑜𝑝𝑎𝑛𝑜𝑙 (Equação 4)

Desta forma, construiu-se o gráfico da variação da pressão de vapor da mistura em


função de sua composição, considerando os valores teóricos calculados e os valores
experimentais determinados. Com este gráfico é possível observar o desvio da
idealidade da solução.
Uma solução que obedece a Lei de Raoult em toda faixa de composição é chamada
de solução ideal, condição que ocorre especialmente quando os componentes da mistura
são estruturalmente semelhantes. Os valores de pressão de vapor da mistura obtidos
experimentalmente foram comparados com os previstos por esta lei.
Os desvios ao comportamento descrito pela Lei de Raoult normalmente ocorrem em
soluções de líquidos estruturalmente diferentes, como é o caso da mistura entre água e
n-propanol.

3. Resultados e Discussão

3.1 Determinação da pressão de vapor, ΔHvap e ΔSvap da água pura

A tabela 1 a seguir registra a pressão obtida no manômetro, a pressão


atmosférica, e a pressão de vapor para cada análise para quatro determinadas
temperaturas. A pressão de vapor foi calculada aplicando a equação 1, conforme
exemplificado a seguir para a primeira análise a uma temperatura de 15°C.
𝑃𝑣 = 714,0 𝑚𝑚𝐻𝑔 − 700,8 𝑚𝑚𝐻𝑔 = 13,2 𝑚𝑚𝐻𝑔

Tabela 1. Valores de pressão de vapor da água obtidos em diferentes temperaturas


Temperatura P1 P2 P3 Pmédia Patm Pv
(°C) (mmHg) (mmHg) (mmHg) (mmHg) (mmHg) (mmHg)
15,0 699,5 701,0 702,0 700,8 714,0 13,2
26,0 687,0 686,0 690,0 687,7 714,0 26,3
37,0 670,5 670,5 670,5 670,5 714,0 43,5
46,0 641,0 640,0 638,5 639,8 714,0 74,2

A entalpia e entropia de vaporização da água podem ser determinadas através do


gráfico 1, que contempla o logaritmo natural da pressão de vapor x o inverso da
temperatura em kelvin (lnP x 1/T). Tais valores para plotagem do gráfico estão contidos
na tabela 2.
Tabela 2. Valores para elaboração do gráfico lnP x 1/T
Temperatura (K) 1/T (K-1) lnP (vapor)
288,15 0,0034704147145584 2,5802168295923252
299,15 0,0033428046130704 3,2695689391837189
310,15 0,0032242463324198 3,7727609380946384
319,15 0,0031333228889237 4,3067641501733348

Gráfico 1. Variação da pressão de vapor da água com a temperatura


Com os coeficientes angular e linear obtidos através do gráfico, é possível
determinar a entalpia e entropia de vaporização da água, a partir das equações 2 e 3.
Dessa forma, pode-se igualar o coeficiente angular, que tem o valor de -5021,13, a
∆𝐻𝑣𝑎𝑝
− , em que R = 8,314 J.K-1.mol-1.
𝑅

∆𝐻𝑣𝑎𝑝
− = −5021,13
𝑅

∆𝐻𝑣𝑎𝑝 = 5021,13 𝐾 . (8,314 𝐽. 𝐾 −1 . 𝑚𝑜𝑙 −1 ) = 41,746 𝑘𝐽. 𝑚𝑜𝑙 −1

Como a vaporização é um processo endotérmico, o valor de ∆Hvap é positivo (o


sinal do coeficiente angular, negativo, é atribuído à tendência da reta, a qual se
apresenta decrescente). Com o valor de ∆Hvap estabelecido e adotando a temperatura de
ebulição da água para 100,0 ºC (373,15 K), visto que a pressão do meio durante o
experimento se encontrava a 714,0 mmHg, é possível calcular ∆Svap.

41746 𝐽. 𝑚𝑜𝑙 −1
∆𝑆𝑣𝑎𝑝 = = 111,87 𝐽. 𝐾 −1 . 𝑚𝑜𝑙 −1
373,15 𝐾

A tabela 3 contempla os valores calculados juntamente com os valores teóricos


encontrados na literatura.

Tabela 3. Valores de 𝛥𝐻𝑣𝑎𝑝 e 𝛥𝑆𝑣𝑎𝑝 obtidos experimentalmente e teóricos


ΔHvap (kJ.mol-1) ΔSvap (J.K-1.mol-1)
Valor experimental 41,746 111,87
Valor teórico 40,7 109,1

O erro relativo porcentual para os valores obtidos experimentalmente pode ser


calculado segundo a equação:

𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑒𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙 − 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜


𝐸𝑟 % = . 100
𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜

Para entalpia de vaporização:

41,746 − 40,7
𝐸𝑟 % = . 100 = 2,57%
40,7

Para a entropia de vaporização:

111,87 − 109,1
𝐸% = . 100 = 2,54%
109,1
Portanto, verifica-se que os valores de ΔHvap e ΔSvap obtidos experimentalmente
apresentaram-se respectivamente 2,57 % e 2,54% acima dos valores teóricos, dentro de
uma faixa aceitável para um experimento realizado em laboratório didático.
Alguns fatores podem acarretar erros nesta determinação, como o fato de a
temperatura não ser mantida totalmente constante durante o experimento, uma vez que o
mesmo foi feito em local aberto, ou seja, que está em constante troca de calor com o
ambiente externo.
O tempo de espera para estabilização da coluna de mercúrio pode de não ter sido
apropriado, e pode ter ocorrido variação nesse tempo entre as análises, não sendo
constante. Outras dificuldades experimentais também podem ter ocorrido, como a
dificuldade no manuseio e controle da linha de vácuo, com problemas principalmente de
manter o borbulhamento constante, possibilitando e propiciando a entrada de ar no
sistema, o que pode causar problemas na medida de pressão; ou até mesmo erros de
paralaxe por parte do operador.
Verifica-se também que o valor de ΔSvap obtido experimentalmente está acima
do previsto pela regra de Trouton (85 J.K-1.mol-1). Este comportamento era esperado,
uma vez que a água apresenta ligações de hidrogênio e se enquadra nos líquidos que
apresentam desvios a esta regra.

3.2 Determinação da pressão de vapor da mistura água e 1-propanol

A tabela 4 a seguir registra a pressão obtida no manômetro, a pressão


atmosférica, e a pressão de vapor para cada análise para cinco determinadas frações
molares. As pressões de vapor foram determinadas a partir da equação 1 conforme
exemplificado abaixo para a primeira análise a fração molar de 1,00:

𝑃𝑣 = 714,0 𝑚𝑚𝐻𝑔 − 685,0 𝑚𝑚𝐻𝑔 = 29,0 𝑚𝑚𝐻𝑔

Tabela 4. Valores de pressão de vapor da mistura obtidos em diferentes composições


Fração molar P1 P2 P3 Pmédia Patm Pv
n-propanol (mmHg) (mmHg) (mmHg) (mmHg) (mmHg) (mmHg)
1,00 685,0 685,5 684,5 685,0 714,0 29,0
0,75 672,0 672,5 672,5 672,3 714,0 41,7
0,50 677,0 676,5 681,0 678,2 714,0 35,8
0,25 684,0 687,0 686,0 685,6 714,0 28,4
0 687,0 686,0 690,0 687,6 714,0 26,4
Em seguida, calculou-se a pressão de vapor teórica da mistura, utilizando a
equação 4 e os valores de pressão parcial apresentados na literatura para a água
(23,8 mmHg) e o n-propanol (20,8 mmHg) a 25 ºC, conforme exemplificado abaixo
para a fração molar de 0,75 de n-propanol. A tabela 5 registra os resultados calculados.

𝑃 = 0,25 23,8 𝑚𝑚𝐻𝑔 + 0,75 . 20,8 𝑚𝑚𝐻𝑔 = 23,0 𝑚𝑚𝐻𝑔

Tabela 5. Pressão de vapor teórica para a mistura de água e n-propanol


x p*v (mmHg) x p*v (mmHg) Pv (mmHg) Pv (mmHg)
n-propanol n-propanol água água teórico experimental
1,00 23,8 0,00 20,8 23,8 29,0
0,75 23,8 0,25 20,8 23,0 41,7
0,50 23,8 0,50 20,8 22,3 35,8
0,25 23,8 0,75 20,8 21,6 28,4
0,00 23,8 1,00 20,8 20,8 26,4

A partir dos dados da tabela 5, construiu-se o gráfico 2, que indica a variação da


pressão de vapor em função da composição da mistura, e compara os valores
determinados experimentalmente com os valores teóricos calculados.

Gráfico 2. Variação da pressão de vapor da água com a fração molar


45,0

40,0
Pressão de vapor (mmHg)

35,0

30,0 Teórico
Experimental
25,0

20,0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00
Fração molar de n-propanol

Observando o gráfico 2, é possível perceber que há um desvio do


comportamento esperado pela Lei de Raoult, ou seja, um desvio da idealidade da
solução.
Este desvio já era previsto, uma vez que as estruturas da água e do n-propanol
são quimicamente diferentes, e a lei é mais bem aplicada para misturas cujos
componentes são estruturalmente semelhantes. Em uma solução ideal de dois
componentes (AB), as interações da substância A são semelhantes às da substância B,
bem como são semelhantes às interações A-B.
Como esta mistura é composta por moléculas que apresentam ligações de
hidrogênio, as interações água-água são fortes, bem como as interações n-propanol-n-
propanol. Por outro lado, a cadeia apolar do álcool repele a molécula polar de água, que
interage mais com o grupo –OH polar, de modo que as interações água-n-propanol são
menos intensas. Isto resulta em um desvio positivo da idealidade, ou seja, observa-se
uma pressão de vapor maior que o esperado pelo cálculo teórico.

4. Conclusão

O experimento realizado permitiu determinar a pressão de vapor da água pura


em quatro diferentes temperaturas, obtendo os valores de 13,2 mmHg a 15 ºC, 26,3
mmHg a 26 ºC, 43,5 mmHg a 37 ºC e 74,2 mmHg a 46 ºC. A partir destes valores,
calcularam-se os valores de ΔHvap e ΔSvap para a água, obtendo 41,746 kJ/mol e 111,87
J/K.mol respectivamente. Estes valores se apresentaram cerca de 2,5 % acima dos
relatados na literatura, o que é aceitável para as condições em que se realizou o
experimento. O valor de ΔSvap apresentou-se acima do previsto pela regra de Trouton
(85 J.K-1.mol-1), o que já era esperado, devido às ligações de hidrogênio presentes nas
moléculas de água.
Além disso, determinou-se também a pressão de vapor da mistura de água com
n-propanol em cinco diferentes frações molares de n-propanol (1,00; 0,75; 0,50; 0,25 e
0,00), obtendo-se os valores 29,0 mmHg, 41,7 mmHg, 35,8 mmHg, 28,4 mmHg e 26,4
mmHg, respectivamente. Utilizando a Lei de Raoult, calculou-se a pressão de vapor
teórica esperada para a mistura, obtendo-se os valores 23,8 mmHg, 23,0 mmHg, 22,3
mmHg, 21,6 mmHg e 20,8 mmHg, respectivamente. Estes dados indicaram que há um
desvio do comportamento esperado pela Lei de Raoult, ou seja, um desvio da idealidade
desta solução, que já era esperado, por se tratar de uma mistura de componentes
estruturalmente diferentes.
5. Referências

ATKINS, P; PAULA J. Físico-Química. Rio de Janeiro: editora LTC, v. 1, 9ª ed., 2014.

CETESB. Ficha de Informação de Produto Químico – ÁLCOOL PROPÍLICO.


Disponível em:
<https://licenciamento.cetesb.sp.gov.br/produtos/ficha_completa1.asp?consulta=%C1L
COOL%20PROP%CDLICO> Acesso em: 18. Fev. 2021.

SOUZA, G. A. L. Deep eutectic solvent" como uma alternativa para a separação da


mistura azeotrópica etanol água via destilação extrativa. 2019. 163 f. Dissertação -
Mestrado em Engenharia Química. Campinas, Unicamp, 2019.

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