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Bioquímica Complementos de Química 1

4. CINÉTICA: EFEITO DA TEMPERATURA

INTRODUÇÃO
Um dos parâmetros que mais afecta a velocidade de uma reacção química é a temperatura a
que ela ocorre. A velocidade de uma reacção química aumenta com a temperatura. Por exemplo, o
tempo necessário para cozer um ovo é muito menor se a “reacção” for realizada a 100ºC (cerca de
10 min) do que a 80ºC (cerca de 30 min). Por outro lado, manter os alimentos abaixo de 0ºC
permite conservá-los durante muito tempo, uma vez que diminui a actividade das bactérias. O
aumento da temperatura aumenta a energia cinética das partículas, aumentando o nº de choques por
segundo. Porém, a colisão entre duas moléculas não garante que a reacção ocorra. Quando duas
moléculas colidem, parte da sua energia cinética é convertida em energia vibracional. Se a energia
cinética das moléculas for elevada, então, a vibração das moléculas que colidem será
suficientemente forte para quebrar algumas ligações químicas, o primeiro passo para a formação
dos produtos. Se a energia cinética for pequena, a energia vibracional será insuficiente para quebrar
as ligações e as moléculas afastar-se-ão intactas. Existe assim um valor mínimo de energia de
colisão abaixo do qual não haverá reacção, esse valor designa-se por energia de activação, Eact (Fig
1)

Figura 1 - Diagrama energético de uma reação exotérmica

Uma reacção vulgar envolve um número muito grande de moléculas cujas velocidades são
muito variáveis. Em geral, apenas uma pequena parte das colisões têm energia suficiente para
igualar ou ultrapassar a energia de activação e conduzir a produtos (Fig 2). A maior parte das
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colisões são elásticas. Quando a temperatura aumenta, o número de moléculas com energia cinética
suficiente para, numa colisão, ultrapassar a barreira de energia, também aumenta e, assim, a
velocidade da reacção será maior.

A constante de velocidade de uma reacção depende da temperatura, de acordo com a


equação de Arrhenius:
− Eact
RT
k = Ae

onde Eact é a energia de activação (J/mol) e R a constante dos gases perfeitos (8.314 J K-1 mol-1). O
parâmetro A designa-se por factor de frequência e representa a frequência de colisões. Pode ser
considerado constante para um dado sistema reaccional numa gama de temperaturas muito
alargada. Esta equação pode ser escrita de outro modo aplicando logaritmos naturais a cada um dos
membros:

Ln (k) = Ln (A) - Eact/R (1/T)

Uma representação de Ln (k) em função do inverso da temperatura será uma recta cujo declive é
igual a –Eact/R. Assim, se determinarmos o valor da constante cinética de uma reacção a várias
temperaturas, podemos calcular o valor da sua energia de activação.
Neste trabalho vamos medir a velocidade de uma reacção entre os iões permanganato e
oxalato, em meio ácido, a várias temperaturas e determinar a sua energia de activação.
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2 MnO4-(aq) + 5 C2O42- (aq) + 16 H+ → 2 Mn2+ + 10 CO2 (g) + 8 H2O

A evolução da reacção é monitorizada pela mudança de cor da solução. Na verdade, vamos


medir não a velocidade inicial, mas a velocidade média necessária para o consumo total do ião
permanganato. A velocidade média é definida como -∆[MnO4-]/∆t. Como a concentração final do
permanganato será zero, -∆[MnO4-] será igual à concentração inicial do permanganato. Dado que
nesta reacção apenas o permanganato apresenta uma coloração (violeta) será relativamente fácil
determinar o momento em que a sua concentração se aproxima do zero. Porém, a reacção envolve
um intermediário amarelo, pelo que o ponto final da reacção será detectado pelo desaparecimento
da coloração violeta do ião permanganato e a aparecimento de uma tonalidade amarelada na
solução.
Para calcular Eact não é necessário determinar exactamente o valor da constante de
velocidade. Dado que em todos os ensaios vamos manter constantes as concentrações dos
reagentes, a velocidade média será proporcional à constante de velocidade, pelo que uma
representação gráfica de Ln V em função do inverso da temperatura também será uma recta de
declive –Eact/R.

a b c
V = k [MnO4-] [ C2O42-] [H+] V=k.Cte Ln(V)= Ln (k)+ Ln (Cte)

Ln (V)-Ln (Cte) = Ln (A)-Eact/RT logo Ln (V)=-Eact/R (1/T)+ b b= Ln (A)+Ln (Cte)

As temperaturas que vamos medir são as temperaturas das soluções dos reagentes no início
da reacção. Dado que não vamos efectuar as reacções em banhos termostatizados, durante a reacção
a temperatura da mistura reactiva poderá baixar um pouco, porém, tendo em conta os baixos
tempos de reacção, o erro associado não será significativo.

MATERIAL NECESSÁRIO

• 2 Copos de 50 mL, 2 Provetas 5 ml

• Termómetro, Cronómetro

• 8 Tubos de ensaio, Suporte para tubos de ensaio

• Banho Termostatizado (e suporte para 16 tubos)


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REAGENTES
• Solução de KMnO4 0.0050 M e solução saturada de ácido oxálico

PROCEDIMENTO
• Coloque cerca de 35 ml da solução de KMnO4 0.0050 M num copo de 50 ml. Coloque cerca de 35
ml da solução saturada de ácido oxálico num copo de 50 ml.

• Determine a temperatura do laboratório usando um termómetro.

• Meça com uma proveta 5 ml da solução de KMnO4 para um tubo de ensaio e com outra proveta 5
ml da solução de ácido oxálico para outro tubo de ensaio.

• Adicione o conteúdo de um tubo ao outro e inicie o cronómetro. Agite bem a solução (para tal
transfira a solução de um tubo para o outro 3 vezes).

• Determine o tempo necessário para a solução ficar amarela (sem nenhum tom cor rosa).

• Repita o procedimento mas, desta vez, coloque os 2 tubos de ensaio contendo os reagentes num
suporte dentro do banho-maria mantido a cerca de 30ºC. Após 5 minutos registe a temperatura do
banho, retire os tubos, misture-os e meça o tempo necessário para o desaparecimento da coloração
do permanganato.

• Repita o procedimento efectuando os ensaios às temperaturas aproximadas de 40ºC, 50ºC, 60ºC.


Registe o tempo da reacção e a temperatura de cada ensaio. As temperaturas não têm de ser
exactamente estes valores. O necessário é saber a temperatura exacta do ensaio mesmo que seja um
grau acima ou abaixo. Caso seja necessário lave os tubos e use-os nos ensaios seguintes.
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CÁLCULOS
1. Calcule a velocidade inicial de cada ensaio e preencha a tabela.
Ensaio Temperatura Tempo de Velocidade da Ln (V0) 1/T
(K) reacção (s) reacção (K-1)
1
2
3
4
5

2. Faça um gráfico de Ln (V) em função do inverso da temperatura. Calcule o declive da recta


usando o método dos mínimos quadrados, que permite calcular a equação da recta que melhor se
adapta aos dados. Para N dados (xi, yi) o declive da recta y = m x+b pode ser calculado por
2
S xy Σxi Σy i (Σxi )
m= b = y − mx em que S xy = Σxi y i − e S xx = Σxi2 −
S xx N N

y - Média de valores de y x - Média de valores de x

3. Determine a energia de activação da reacção em kJ/mol.

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