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Nori P aulo Griebeler (2), Fernando Falco Pruski (3), J osé Márcio Alves da Silva (4),
Márcio Mota Ramos (5) & Demetrius David da Silva (6)
RESUMO
(1)
Trabalho extraído de Tese de Doutorado, do primeiro autor. Recebido para publicação em abril de 2003 e aprovado em março de
2005.
(2)
Professor Adjunto da Universidade Federal de Goiás – UFG. Caixa Postal 131, CEP 74001-970 Goiânia (GO). E-mail:
griebeler@yahoo.com.br
(3)
Professor Titular do Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa – UFV. Campus Universitário,
CEP 36570-000 Viços a (MG). Bolsista do CNPq. E-mail: ffp ruski@ufv.br
(4)
Engenheiro Civil, DS, Departamento de Engenharia Agrícola, UFV. E-mail: jmarcio@ufv.br
(5)
Professor Titular do Departamento de Engenharia Agrícola, UFV. Bolsista do CNPq. E-mail: mmramos@ufv.br
(6)
Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Agrícola, UFV. Bolsista do CNPq. E-mail: dds@ufv.br
Unpaved roads are essential for the econom ic and social development in Brazil. Water
erosion is one of the key factors causing their degradation. This study developed a new
model of determination of spacing between water outlets in unpaved roads. The surface
runoff hydrograph in the road channel was estimated using the cinematic wave model and
the runoff shear stress was calculated using the flow rate obtained in the hydrograph.
Detachment occurs when the flow shear stress exceeds the critical soil shear stress. The soil
loss was determined multiplying the difference between the flow shear stress and the critical
soil shear stress by the soil erodibility and the area where the runoff shear stress is applied.
The maximum spacing between the water outlets is calculated by the com parison of the soil
loss produced by runoff with the tolerable soil loss. The model determines the road outlet
spacing considering the features of the areas contributing to the runoff and the soil resistance.
The simulations showed that the model is sensitive to changes in the soil erodibility, critical
soil shear stress and channel slope, including the possibility of increasing or reducing the
spacing by altering the tolerable channel depth.
Index terms: soil conservation, hydrologic model, shear stress, water erosion.
MATERIAL E MÉTODOS
obedece dos a do
O hidrograma no canal é obtido acumulando os
ndo à tempos escoa
hidrogramas correspondentes à contribuição de cada
coincid de ment
linha, sendo somadas as vazões referentes ao leito da
ência chegad o ao
estrada e à área de contribuição externa a esta,
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400 Nori Paulo Griebeler et al. So
canal. =
n (3)
5
=
3 (4)
em que
n = coeficiente de rugosidade do terreno (s m -1/3) e Para obter a vazão escoa da no canal, a equação 6
So = declivid a de do t e rr e no na di r eção do foi resolvida pelo método de diferenças finitas,
escoamento (m m -1). segundo o algoritmo proposto por Braz (1990), sendo a
área de escoamento obtida por meio da equação
A profundidade de escoamento é transformada
em vazão pela equação 2. Esta equação é então Q = cAc (8)
substituída na equação 1, sendo a equação resultante em que c e c foram obtidos para o escoamento no
resolvida pelo método de diferenças finitas, de acordo canal, considerando-se um rearranjo da equação de
com algoritmo proposto por Braz (1990). Manning, resultando, para canal triangular, nas
A intensidade instantânea de precipitação (i i) é equações
obtida por meio da equação desenvolvida por Pruski
E = (11)
qr = vazão resultante por unidade de largura, 0,102
qe = vazão, por unidade de largura, proveniente qsc = vazão, por unidade de largura, proveniente da
do leito da estrada (m 2 s-1) e área externa de contribuição (m 2 s-1).
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402 Nori Paulo Griebeler et al.
S = declividade do canal (m m -1).
(7)
Software para a obtenção dos parâmetros da equação de chu- vas A profundidade de escoamento é determinada
intensas para diferentes localid ades do Brasil, podendo ser obtido em com base na vazão de escoamento, declividade do canal
www.ufv.br/dea/gprh. e nas suas características geométricas.
Cá lculo do espaçamen to en tr e desagua-
douros
Para que não ocorra erosão no canal, a tensão
provocada pelo escoamento deverá ser inferior ou,
no máximo, igual àquela que o solo é capaz de A perda de solo tolerável (P st, g) correspondente
resistir. E s t e critério, entretanto, é ba s tante a Vs é determinada pela equação
rigoroso, uma vez que, em decorrência do desgaste
provoca do pelo próprio tráfego, existe a necessidade Pst = Vss (13)
da realização de manutenções periódicas no leito da em que s é a massa específica do solo (g cm -3).
estrada e, desta forma, também nas suas margens,
permitindo que pequenos danos provocados pela Perda de solo provocada pelo escoamento
e r os ã o n os c ana i s poss am se r f a cil m e nt e A p art i r d a s caract e r í s t ica s do cana l e do
recuperados. Outro aspecto a ser considerado está escoamento superficial, a vazão foi transformada em
relacionado com o custo de instalação do sistema de p rofun d i d a de de esco am e nto. Des ta forma , ut
drenagem, o qual aumenta para condições nas quais iliz an do a eq ua ç ã o 11 , o h i d r og ram a de
as perdas sejam consideradas nulas. Tendo em vista escoamento foi transformado em um gráfico de
estes aspectos, considerou-se um valor admissível tensão cisalhante ao longo do tempo, obtendo-se,
para o aprofundamento do canal de drenagem em para cada intervalo de 1 m de canal, o perfil de
decorrência do processo erosivo, de tal forma que variação da tensão provocada pelo escoamento ao lon
es t e sej a at i n gi do q uan do d a r e a liz a ç ã o d a go do t e m po. Na fig ura 2 , e n con tra - se a r ep
manutenção já prevista para a estrada. r ese n tação g ráfica d a v ar i ação d a t e n s ão
Aprofundamento máximo tolerável no canal cisalhante ao longo do tempo, bem como a região con
de drenagem s ide ra d a p ara o cá lcu lo d a pe r d a de solo p r
ovoc a d a pe lo esco am e nt o, se n do tam bé m il u
O aprofundamento máximo para o canal de s tra dos os v a lor es do i nt e r v a lo de t e n s ão
drenagem da estrada (a pm) deve ser atingido em considerado e da tensão média referente a cada
intervalo de tempo igual ao período tomado para intervalo.
manutenção da estrada, o qual é o mesmo utilizado
como pe r íodo de r e torno d a p r ecipitação p ara A partir do momento em que a tensão provocada
determinação do hidrograma. Sendo assim, o valor pe lo esco am e nt o s u pe ra a t e n s ã o c r í t ic a de ci
de a pm corresponde a um valor que não comprometa s a l ham e nt o, oco rr e o desp r e n d i m e nt o e a
o tráfego e que permita a apropriada manutenção conseqüente perda de solo, a qual é determinada pela
da estrada. equação
Perda de solo tolerável no canal t2
Vs = volume de solo a ser removido pela erosão M = tensão média de cisalhamento durante o
(cm3), intervalo de tempo t (Pa),
A = área da superfície do solo considerada para c = tensão crítica de cisalhamento do solo (Pa),
efeito de cálculo (cm2) e t = intervalo de tempo (min),
a pm = aprofundamento máximo (cm). K = erodiblidade do solo (g cm-2 min-1 Pa-1) e
A área A, para efeito de cálculo, foi fixada em A = área da superfície do solo considerada para
1 cm2. efeito de cálculo (cm2).
Tensão máxima
(i) - c
Tensão
(i)
t
t1 t2 Tensão
Figura 2. Representação da variação da tensão cisalhante com o tempo para o escoamento no canal de
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drenagem de uma estrada, indicando a região de interesse para a determinação da perda de solo
provocada pelo escoamento, o intervalo de tempo ( t) e a tensão média referente a este intervalo ( M).
Quadro 1. Valores de erodibilidade em sulcos e tensão crítica para cisalhamento do solo para diferentes
solos em condições de estradas, conforme apresentados por Morfin et al. (1996)
(1)
Erodibilidade do solo (g cm -2 min-1 Pa-1). (2)
Tensão crítica para cisalhamento do solo (Pa).
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7
6
PERDA DE SOLO, g cm-2
5
4
3 - Siltoso
- Arenoso
2 - Argiloso encascalhado
4 - Arenoso encascalhado
1 5 - Argiloso
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
COMPRIMENTO DO CANAL, m
Figura 3. Perdas de solo na base do canal ao longo do seu comprimento, utilizando dados de erodibilidade
e tensão crítica de cisalhamento para diferentes texturas de solo, apresentados por Morfin et al.
-2) de aprofundamento
(1996), para declividade de 5 %, destacando-se a perda de solo para 5 cm (6,5 g cm
de canal.
Esta figura evidencia que o espaçamento máximo Con side ran do os cinco solos analis a dos, os
r eco m e n d á vel e ntr e des a g ua do ur os d i m i nu i espaçamentos obtidos para a declividade de 10 %
expressivamente com o aumento da declividade do foram, em média, 22 % daqueles obtidos para a
terreno, o que pode ser explicado pelo fato de a declividade de 5 %.
declividade do canal interferir, diretamente, como
multiplicador, na equação para determinação da Análise do modelo para diferentes valores de
tensão de cisalhamento provocada pelo escoamento aprofundamento do canal
(Equação 11). Na figura 5, são apresentados os espaçamentos
Embora o aumento da declividade tenha efeito obtidos considerando valores de a pm de 5 e 10 cm.
também na profundidade do escoamento (y), uma Os valores dos espaçamentos entre desaguadouros,
vez que y é reduzida com o acréscimo na velocidade quando do aumento no valor de a pm de 5 cm (Pst =
de escoamento, este efeito é muito menos expressivo 6,5 g) para 10 cm (P st = 13 g), foram de: 283,5 %
que aquele associado à influência direta da declividade (argiloso), 211,3 % (arenoso encascalhado), 220,6 %
(Equação 11); entretanto, faz com que a alteração (argiloso encascalhado), 185,1 % (arenoso) e 173,9 %
provocada na declividade acarrete uma variação não- (siltoso). Evidenciou-se, portanto, que a variação
linear no espaçamento entre desaguadouros. do espaçamento obtido não foi linear com a variação
120
103 Declividade de 5% Declividade de 10%
100
ESPAÇAMENTO, m
80 71
63
60
47
40
23 23
20 15 14 10
0
Argiloso Arenoso Argiloso Arenoso Siltoso
encascalhado encascalhado
450
400
395
Aprofundamento de 10 cm Aprofundamento de 5 cm
350
ESPAÇAMENTO, m
300
250 221
202
200
150
134
103
100 71 63 63
47
50 23
0
Argiloso Arenoso Argiloso Arenoso Siltoso
encascalhado encascalhado
do aprofundamento tolerável, uma vez que este foi DNER. Anuário estatístico dos transportes: GEIPOT, 2000. disponível
aumentado em 100 % e os resultados superaram em <www.dner.gov.br.>. acesso em Abril 2002.
sensivelmente este valor. Esta diferença decorre do
fato de que, para canais triangulares, a variação da GRACE III, J.M.; RUMMER, B.; STOKES, B. J. & WILHOIT, J.
Evaluation of erosion control techniques on forest roads.
profundidade de escoamento e, conseqüentemente,
Trans. Am. Soc. Agric. Eng., 41:383-391, 1998.
da tensão cisalhante não é linear com o aumento no
com p r i m e nto do can a l, conform e j á descr i t o J ULIEN, P.Y.; SAGHAFIAN, B. & OGDEN, F.L. Raster-based
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