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Capacidade de Carga de Estaca Metálica com base em Provas de

Carga à Compressão e à Tração


Uberescilas Fernandes Polido
GEOCONSULT-Consultoria de Solos e Fundações
UFES, Vitória-ES, Brasil, uberescilas@geoconsult.com.br

Carla Therezinha Dalvi Borjaille Alledi


Ifes, Vitória-ES, Brasil, borjaille@ifes.edu.br
UFV, Viçosa-MG, Brasil

Paulo Jose Rocha de Albuquerque


Unicamp, Campinas-SP, Brasil, pjra@fec.unicamp.br

RESUMO: Este trabalho apresenta resultados de provas de carga à compressão e à tração,


realizadas em perfil metálico W250X101 (Açominas), instrumentado em profundidade. O perfil,
com 22,60m de comprimento, foi cravado com martelo de queda livre de 42kN de massa, com
altura de queda de 60cm, em solo sedimentar, de origem marinha, até solo de alteração de rocha,
NSPT na faixa de 39/15cm a 20/8cm, com nega de 2,0mm/10golpes. A prova de carga à compressão
foi feita em vários estágios de carga e descarga, usando célula de carga para aferição dos
carregamentos, até atingir carga final de 4120kN, correspondendo a uma tensão de compressão no
aço de 320MPa. Ao final do carregamento de compressão, que chegou muito próximo da ruptura
geotécnica, a estaca foi descarregada e o sistema de reação foi alterado de forma a possibilitar a
realização de uma prova de carga à tração na mesma estaca. Com base no resultado da prova de
carga à tração foi estimado o atrito lateral da estaca à compressão. São apresentados e analisados os
resultados das provas de carga, comparados com valores estimados por métodos semi-empíricos,
sendo feitas considerações sobre a transferência de carga em profundidade e a geometria da seção
de cálculo adotada para o perfil metálico na estimativa de capacidade de carga na compressão.

PALAVRAS-CHAVE: Estaca metálica, prova de carga, capacidade de carga por atrito lateral e
ponta.

1 INTRODUÇÃO nesse trabalho, que perfis metálicos vem sendo


testados até próximo o limite de escoamento do
A utilização de estacas com perfil metálico no aço. Para perfis usuais enterrados, o Catálogo
Brasil é antiga mas nos últimos anos o emprego de Perfis Metálicos da GERDAU AÇOMINAS
dessas estacas aumentou tendo em vista a (2006), estabelece para o aço ASTM A572
disponibilidade de perfis de aço de maior grau 50, com fy=345MPa, tensão estrutural
resistência e com grande variedade de bitolas. admissível de 210MPa. A literatura
Acompanhando essa tendência vem sendo internacional recomenda valores na faixa de
realizadas, também, provas de carga estática, 0,35 a 0,50fy (Tomlinson,1993). O valor da
objetivando permitir a utilização de tensões de tensão de trabalho a ser utilizada é, na
trabalho que aproveite de forma eficiente a realidade, um problema de capacidade de carga
capacidade de carga estrutural do perfil. Polido geotécnica da estaca. Pode-se dizer que, de uma
et al (2008), apresenta de forma resumida um forma geral, adotava-se correntemente tensões
banco de dados com os resultados de 36 provas de trabalho próximo a 0,35fy, o que equivale a
de carga realizadas em estacas metálicas no 120MPa para o aço Gerdau Açominas.
Brasil no período de 2003 a 2008. Verifica-se, Determinadas bibliografias, como por exemplo,
Velloso e Lopes (2002), recomendam a tensão prova de carga instrumentada é muito rara,
admissível de 120MPa para estacas em perfis devido aos custos e a tecnologia envolvida na
metálicos. Assim, frequentemente, a alternativa operação. No caso de estacas metálicas, além
em estacas metálicas deixa de ser competitiva do fator custo, existe ainda, a dificuldade de
quando comparada com outros tipos de estacas, instalar e preservar a instrumentação para não
pela insegurança dos projetistas em se adotar ocorrer danos durante a cravação.
tensões de trabalho que aproveitem de forma Numa obra em Vitória –ES, em local com
mais eficiente a capacidade de carga estrutural perfil geotécnico muito heterogêneo, foram
da estaca. Em síntese a determinação da realizadas provas de carga à compressão e à
capacidade de carga geotécnica das estacas tração, em estaca piloto, perfil W250X101
metálicas ainda é um assunto que demanda (Açominas), instrumentado em profundidade,
estudos. Polido et al (2008) mostram que a em cinco níveis, com strain-gage. Ao final do
metodologia a ser utilizada no cálculo da carregamento de compressão, que chegou muito
capacidade de carga geotecnica é função da próximo da ruptura geotécnica, a estaca foi
forma como ocorre a transferência de carga da descarregada e o sistema de reação foi alterado
estaca para o terreno, e definem três situações de forma a possibilitar a realização de uma
distintas ao analisar o banco de dados de provas prova de carga à tração na mesma estaca. A
de cargas em estacas metálicas: prova de carga à tração foi levada até a ruptura
a)Transferência de carga predominantemente geotécnica. Com base no resultado da prova de
por atrito lateral; carga à tração foi estimado o atrito lateral da
b)Transferência de carga por atrito lateral e estaca na compressão. Os resultados das provas
por ponta; de carga foram comparados com os valores
c)Transferência de carga predominantemente obtidos pelos métodos semi-empíricos
por ponta. utilizados na estimativa de capacidade carga de
Para o caso de estacas longas trabalhando estaca metálicas na compressão. Os resultados
predominantemente por atrito lateral, Rocha et obtidos com a instrumentação em profundidade,
al (2006), Gusmão (2006) e Falconi et al se mostraram inconsistentes e, portanto, não
(2008), registram a utilização de tensões de serão apresentados neste trabalho.
trabalho próximas ou igual a capacidade de
carga estrutural da estaca com resultados
satisfatórios. Já para o caso de estacas 2 DESCRIÇÃO DO TERRENO E DAS
trabalhando predominantemente por ponta tem FUNDAÇÕES
se utilizado tensões de trabalho com valores
bem inferiores a capacidade de carga estrutural A cidade de Vitória-ES está situada numa ilha,
dos perfis metálicos. onde a parte mais urbanizada, com edificações
A dificuldade na adoção de valores mais de grande porte, fica entre as encostas rochosas
elevados reside principalmente na ausência de e o mar. Nessa região o terreno é constituído,
metodologia de cálculo confiável. A avaliação basicamente, de sedimentos de origem marinha,
dos métodos de cálculo, com determinação das mas os afloramentos de rochas graníticas e
parcelas de atrito lateral e ponta, demandam a gnáissicas e morros são freqüentes, tornando a
realização de provas de carga estática e topografia bastante acidentada (Castello R. e
preferencialmente instrumentadas em Polido U.,1988). Para definição do perfil
profundidade. Polido et al (2008) apresentam geotécnico do terreno no local da obra foram
em seu banco de dados 32 provas de carga realizadas dezenas de sondagens a percussão e
estática, porém, apenas duas foram sondagens rotativas. O impenetravél a
instrumentadas em profundidade. Essas duas percussão variou de 2,0m a 37,0m, tendo sido
estacas estão incluídas na classificação de detectado nesse intervalo a existência de
transferência de carga predominantemente por matacões, camadas de argila marinha, muito
atrito lateral. Na realidade, a realização de mole, com espessura variando de zero a 10,0m,
provas de carga em estacas não é freqüente, e camadas de areia, solos residuais e solos de
alteração de rocha. As estacas metálicas foram
paralisadas, praticamente, em rocha e em solo
de alteração de rocha de elevada resistência à
penetração ou impetrável. Os comprimentos das
estacas metálicas variaram de 10,0m até cerca
de 34,0m. Nas regiões com ocorrência de
matacões e superfícies rochosas inclinadas
foram utilizadas estaca tipo raiz penetrando em
rocha.
O local da prova de carga foi selecionado de
forma que a estaca ficasse com ponta em solo
de alteração de rocha, objetivando investigar a
resistência de ponta do perfil para esse tipo de
terreno, e um comprimento total na faixa de
22,0m a 23,0m, com uma nega de cravação
satisfatória. O solo no local da prova de carga é
apresentado na figura 1, caracterizado pelas
sondagens de simples reconhecimento SP262,
SP268 e ST01, executadas ao redor da estaca
piloto, distantes cerca de 1,0m a 1,50m. O nível
dágua foi localizado na faixa de 2,0m de
profundidade.
Para realização da prova de carga foi
cravada uma estaca piloto, perfil W250X101
(Açominas), com dois segmentos de 12,0m
emendados com talas soldadas. A cravação foi
feita com martelo de queda livre de 42kN, com
altura de queda de 60,0cm, parando em solo de
alteração de rocha, NSPT na faixa de 39/15cm a
20/8cm, comprimento de 22,60m, conforme
perfil geotécnico na figura 1. A cravação foi Figura 1. Perfil geotécnico do terreno com estaca
metálica.
paralisada com nega de 2,0mm/10golpes e
repique elástico da ordem de 13,0mm. Entre o
término da cravação e o início da prova de
carga à compressão aguardou-se 56dias para 3 DESCRIÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO
desenvolvimento da aderência plena entre a E DA PROVA DE CARGA
estaca e o solo. Testes de recravação de estacas
metálicas realizadas na obra mostraram que o A instrumentação da estaca, por meio de strain-
tempo de set-up, recuperação da resitência por gages, em cinco níveis, foi instalada no canteiro
atrito lateral pós cravação, é da ordem de de obras, tomando todos os cuidados possíveis
15dias a 20 dias. necessários a sua proteção. Os extensômetros
elétricos e terminais utilizados foram da marca
Kyowa Eletronics Instruments: os strain-gages,
tipo biaxial (KFG-5-120-D16-11) e terminal
T7. Os strain-gages foram colados na alma do
perfil metálico, próximo à mesa com adesivo
apropriado, ligados por um cabo, por meio do
qual se faziam as leituras com equipamento
localizado ao nível do terreno próximo ao topo
da estaca. Ao longo do comprimento da estaca
os cabos foram protegidos por uma chapa
metálica soldada no perfil antes da montagem 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
da instrumentação. Os extensômetros elétricos
foram protegidos de umidade e choque 4.1 Prova de Carga à Compressão
mecânico com resina de isolamento elétrico e
massa epóxi. Os cabos foram instalados nos Apresenta-se na figura 2 a curva carga x
primeiros 12m, e bem protegidos para evitar deslocamento da prova de carga à compressão,
danos durante a cravação do primeiro com os vários ciclos de carga e descarga
segmento da estaca. Após cravação do primeiro ocorridos na prova de carga. Na tabela 1
segmento de 12m, o segundo segmento foi apresenta-se de forma resumida, para efeito de
emendado com talas soldadas. Durante a solda comparações, os recalques ocorridos em cada
os cabos elétricos foram protegidos em ciclo, o recalque acumulado e as cargas de
embalagem especial e o perfil foi mantido frio ruptura determinadas pelo Método de Van der
com jato d’água para evitar danos nos cabos. Veen (1953) e pela NBR 6122/96-ABNT.
Terminada a emenda os cabos foram Observa-se que no primeiro ciclo a carga foi
introduzidos no segundo segmento de 12m e levada até 2943kN com uma deformação
retomada a cravação. máxima de 26,16mm, sendo que na descarga
A prova de carga á compressão, do tipo foi registrado um recalque residual de apenas
lenta, seguiu as prescrições da NBR12131 2,81mm, ou seja o recalque ocorrido foi,
(ABNT, 2006), foi feita com vários estágios de basicamente, elástico. O recalque unitário foi de
carga e descarga, usando célula de carga para 0,0089mm/kN. A carga de ruptura extrapolada
aferição dos carregamentos até a carga de neste primeiro ciclo, com base no Método de
2943kN. A carga máxima atingiu 4120kN, Van der Veen (1953), foi de 4293kN. Para a
correspondendo a uma tensão de compressão carga máxima de trabalho da estaca, o recalque
no aço de 320MPa. O sistema de reação foi total obtido na prova de carga foi considerado
provido por estacas metálicas da obra. satisfatório para o projeto de fundaçoes da obra.
A prova de carga foi programada No segundo ciclo de carga e descarga, ainda
inicialmente para ser realizada em dois ciclos com carga máxima de 2943kN, observa-se na
de carga e descarga. O primeiro ciclo seria tabela 1 que a estaca apresentou os seguintes
levado até próximo a 2943kN, capacidade valores de recalque: recalque total de 29,36mm,
máxima da célula de carga, quando então seria recalque residual de 5,51mm e recalque unitário
feito a primeira descarga e retirada da célula de de 0,0098mm/kN. Verifica-se que o recalque
carga. No segundo ciclo a estaca seria levada residual dobrou de valor em relação ao inicial, o
até um valor da ordem de 4200kN ou a ruptura que pode ser creditado em parte a redução no
geotécnica. Mas devido a ocorrência de atrito lateral, pois não foi dado tempo para
problemas de vazamento de óleo no macaco estaca recuperar totalmente o atrito original
hidráulico, com perda de pressão, ocorreram verificado no ciclo inical de carga. Assim, foi
mais quatro ciclos de carga e descarga. Cabe transferido para a ponta uma carga maior
ressaltar que o macaco hidráulico inicial não resultando num recalque residual bem maior. A
resistiu carga superior a 4000kN e teve que ser carga de ruptura extrapolada, considerando os
substituído por um novo macaco quando então resultados do segundo ciclo, com base no
foi possível atingir a carga máxima de 4120kN. método de Van der Veen (1953) apresentou
Ao final do carregamento de compressão, uma carga de ruptura da ordem 3788kN. A
que chegou muito próximo da ruptura diferença a menor de 505kN em relação ao
geotécnica, a estaca foi descarregada e o ciclo inicial pode ser creditada também, em
sistema de reação foi alterado de forma a parte, a redução do atrito lateral original e
possibilitar a realização de uma prova de carga talvez em menor grau a alterações na resistência
à tração na mesma estaca. de ponta devido a heterogeneidades no solo de
alteração de rocha.
Figura 2. Curvas Carga x Deslocamento (compressão)

No último ciclo a estaca foi conduzida até a da ponta decorrentes de heterogeneidades do


carga máxima de 4120kN, sem apresentar solo de alteração de rocha, associados ao
ruptura física nítida. Sendo que a carga de fenômeno de cargas residuais próximo a ponta
ruptura extrapolada com base no método de da estaca devido aos ciclos de carga e descarga.
Van der Veen (1953) apresentou valor da Os resultados da instrumentação em
ordem 4135kN, e com base no critério da NBR profundidade seriam fundamentais para ajudar
6122/96-ABNT apresentou como carga de nos esclarecimentos dessas dúvidas, mas os
ruptura valor da ordem de 4000kN, valores medidos se mostraram inconsistentes e
correpondendo a uma tensão no aço de foram abandonados. Ainda não se tem uma
311MPa. Assim, para um fator de segurança explicação satisfatória para a inconsistência
igual a 2, permitiria uma tensão admissível de observada nas medições de deformação via
160MPa, e para um fator de segurança 1,6 strain-gage. A mais pláusível, seria que as
(prova de carga a priori conforme NBR6122/96 elevadas tensões de cravação ocorridas,
- ABNT, um valor de 200MPa, permitindo um principalmete nos instantes finais na obtenção
melhor aproveitamento da capacidade de carga da nega (2mm/10golpes) tenha causado danos
estrutural do perfil. na colagem dos strain-gage na superfície do
Para efeito de comparação de recalques perfil. A preocupação com o dano na
ocorridos nos vários ciclos de carga e descarga instrumentação existia quando se decidiu por
foi tomado como base a carga de 2943kN, essa tecnologia mas a outra alternativa
conforme apresentada na tabela 2. Verifica-se considerada de se fixar uma chapa metálica por
uma concordância razoável entre os recalques meio de parafusos também apresentava
unitários, que variaram entre 0,0072mm/kN a desvantagens. A realidade é que a
0,0098mm/kN, as diferenças podem ser instrumentação em profundidade, por meio de
creditadas a perda de atrito lateral em relação strain-gages, em perfis metálicos cravados com
ao ciclo original, variação da compressibilidade
tensões elevadas, carece de estudos mais aprofundados.

Recalques
Faixa Recalques (mm) Prup (kN)
Recalque Acumulados (mm)
t de
Ciclo Unitário Van NBR-
(dias) Cargas
Total Residual (mm/kN) Total Residual Der 6122/96
(kN)
Veen ABNT
1º - 0-2943 26,16 2,81 8,9x10-3 26,16 2,81 4293 -
2º 0 0-2943 29,36 5,51 9,8x10-3 32,14 8,32 3788 -
3º 0 0-2943 28,54 - 9,7x10-3 36,86 - - -
3° 0 0-3139 32,38 7,57 10,3x10-3 40,70 15,89 3788 -
4º 6 0-2943 23,00 - 7,2x10-3 38,89 - - -
4º 6 0-3924 44,97 17,03 11,5x10-3 60,86 32,92 3725 -
5º 0 0-2943 22,58 - 7,7x10-3 55,50 - - -
5º 0 0-4120 62,57 31,65 15,2x10-3 95,49 64,57 4135 4000
Tabela 2. Resumo dos Resultados da Prova de Carga à Compressão.
t – Período entre descarga e recarga. Prup – Carga de Ruptura.

4.2 Prova de Carga à Tração antes da prova de carga à compressão, o valor


do atrito lateral teria sido um pouco maior. O
Para realização da prova de carga à tração foi tempo de 6 dias aguardado entre a descarga da
dado um prazo de aproximadamente 6 dias compressão e o início do carregamento na
entre o término da prova de carga à compressão tração pode não ter sido suficiente para
e seu início. A figura 3 apresenta as curvas restabelecer o atrito original estaca - solo.
carga x deslocamento da prova de carga à
tração. A ruptura ocorreu de forma nítida ao se
atingir a carga máxima de 1094kN. E num 5 COMPARAÇÕES COM MÉTODOS
recarregamento, logo após a descarga, a carga SEMI-EMPÍRICOS
de ruptura caiu para 899kN, redução de cerca
de 18%, demonstrando que o atrito lateral na A metodologia a ser utilizada no cálculo da
tração sofre um queda em relação ao inicial capacidade de carga geotécnica de estacas
após um ciclo de carga e descarga. Existem metálicas deve levar em conta a forma como
evidências que fenômeno semelhante deve ter ocorre a transferência de carga da estaca para o
ocorrido também no atrito lateral na prova de terreno (Polido et al, 2008). No caso da estaca
carga à compressão. piloto da prova de carga, a transferênica de
carga ocorreu por atrito lateral e por ponta, sem
predominância de uma parcela sobre a outra.
Um outro fator importante é a geometria da
seção de cálculo para determinação da área
lateral e da área da ponta da estaca. Este
assunto tem sido objeto de estudos recentes no
Brasil por vários pesquizadores, Alonso(2008),
Falconi et al(2008), Polido et al(2008). Um
outro problema reside no valor máximo do NSPT
a ser utilizado nas situações em que as estacas
Figura 3. Curvas Carga x Deslocamento (tração). estão com a ponta em solos de alta resistência,
praticamente impenetrável, como é o caso da
Com base no atrito lateral medido na prova de estaca piloto da prova de carga. O critério que
carga à tração e considerando uma relação igual será adotado nesse trabalho baseou-se no
a 0,7, foi estimado o atrito lateral na trabalho de Decourt et al(1989), e considerou
compressão igual a 1563kN. Acredita-se que se como NSPT máximo para estimativa da
a prova de carga à tração tivesse sido realizada resistência de ponta o valor 120. Para
comparação com os resultados das provas de
carga foram feitas estimativas considerando 6 CONCLUSÕES
dois métodos semi-empiricos tradiconais,
Decourt&Quaresma(1978,1996) e - Os resultados da instrumentação em
Aoki&Velloso(1975) modificado por Monteiro profundidade se mostraram inconsistentes e
(1997). Foram verificados também duas foram abandonados. A explicação mais
situações de geometria na determinação da área pláusível é que as elevadas tensões de cravação
lateral do perfil metálico, perímetro colado e tenham causado danos na fixação dos strain-
perímetro circunscrito, e para a ponta foi gages na superfície do perfil, porém a técnica
considerada área plena. Por se tratar de solo de instrumentação utilizada apresentou-se
muito heterogêneo foram realizadas ao redor da promissora, devendo no entanto serem
estaca piloto três furos de sondagem, conforme desenvolvidos mais pesquisas sobre o tema.
apresentado na figura 1. Os resultados das - Verificou-se que adotando geometria com
estimativas pelos métodos semi-empíricos são perímetro colado para área lateral, área plena na
apresentados na tabela 2. Os valores ponta da estaca e NSPT máximo de 120, os
representam a média aritimética dos cálculos metódos semi-empíricos Decourt&Quaresma
feitos para os três furos. Verifica-se que, para (1996) e Aoki&Velloso (1975) modificado por
situação de geometria com perímetro colado os Monteiro (1997) apresentaram boa
metódos semi-empríricos apresentam boa concordância com os resultados da prova de
concordância com os resultados das provas de carga à compressão. Já quando se considerou o
carga. Já quando se considera o perímetro perímetro circunscrito os métodos se mostraram
circunscrito os métodos se mostraram conservativos para o atrito lateral.
conservativos para o atrito lateral. - Considerando os resultados individuais de
estimativa da capacidade de carga na
Tabela 2. Comparação dos Resultados das Provas de compressão, de cada um dos três furos de
Carga com os Métodos Semi-empíricos. sondagem, o método Aoki&Velloso(1975)
Perímetro Carga na compressão modificado por Monteiro(1997) mostrou menor
Metodologia para área (kN)
dispersão de resultados do que o
lateral Lateral Ponta Total
Prova de Decourt&Quaresma(1996).
- 1563 2572 4135 - A experiência na obra mostrou a importância
Carga
Decourt & Colado 1404 2864 4268 da realização de provas de carga e de se
Quaresma Circunscrito 970 2864 3834
caracterizar muito bem um terreno para se
adotar cargas de trabalho seguras e econômicas
Aoki & Colado 1666 2281 3947
Velloso modif. num projeto de fundações em estacas metálicas.
por Monteiro Circunscrito 1150 2281 3431

A carga de ruptura total obtida para os AGRADECIMENTOS


três furos, considerando perímetro colado,
variou no caso do método Decourt&Quaresma Os autores agradecem os apoios da GERDAU
(1978/1996) de 3470kN a 4798kN e no método Açominas, METRON Engenharia, ROSSI
Aoki&Veloso(1975) modificado por Incorporadora, FENGEO Engenharia e ao Engº
Monteiro(1997) de 3746kN a 4179kN. Nesse Ricardo Marques.
aspecto o método Aoki&Velloso(1975)
modificado por Monteiro(1997) mostrou menor
dispersão de resultados. A experiência mostrou REFERÊNCIAS
a importância da realização de provas de carga
e de se caracterizar muito bem um terreno para Alonso, U. R.(2008). Previsão da Capacidade de Carga
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