Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

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Ano 5 Setembro de 2014

Nº 48
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Ano 5 – Nº 48 – Setembro de 2014

CONTENÇÃO COM TELA METÁLICA DE ALTA RESISTÊNCIA SEGUIDA DE

APLICAÇÃO DE VIGAS DE CONTRAFORTE ATIRANTADAS E APLICAÇÃO DE
CONCRETO PROJETADO
NOVO SISTEMA É DESENVOLVIDO PELO IPT PARA FACILITAR A
AVALIAÇÃO GEOAMBIENTAL
 ARTIGO
CONTENÇÃO COM TELA METÁLICA
DE ALTA RESISTÊNCIA SEGUIDA
DE APLICAÇÃO DE VIGAS DE
CONTRAFORTE ATIRANTADAS
E APLICAÇÃO DE CONCRETO
PROJETADO
Luiz Antônio Naresi Júnior
Consultor e Gerente de Obras na
empresa Progeo Engenharia Ltda., Juiz
de Fora (MG), Brasil, naresi@naresi.com
RESUMO: O objetivo deste trabalho
foi a execução de obras emergenciais
de contenção para estabilização do
talude de corte em rocha fraturada na
Rodovia BR-101/RJ no km 455 próximo
ao condômínio Porto Galo. A metodo-
logia para liberar a passagem no local
inicialmente utilizada foi a utilização de
explosivos para detonação do grande
bloco de rocha em outros de menor ta-
manho permitindo a liberação parcial
da pista para o trânsito enquanto o ser-
viço de desmonte controlado de rocha
continuava com apoio de escavadeiras
hidráulicas e caminhões, uma equipe
de rapel foi preparada para terminar
de rolar os blocos potencialmente em
risco de escorregamento e queda en-
quanto se monitorava a rodovia atra-
vés de controle de tráfego no sistema
“Pare e Siga”. Outra preocupação foi
conter o restante do deslizamento que
ameaçava a queda dos blocos de rocha
sobre a pista. Foi necessária a remoção
parcial dos blocos soltos e instáveis e
imediatamente foi aplicada uma tela
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metálica de alta resistência por todo o
remanescente dos grandes blocos sol-
tos, pregando a parte superior da tela
com chumbadores de aço no pé dos
grandes blocos de rocha, evitando o
deslizamento ou rotação dos blocos
redondos e a queda destes na pista, si-
multaneamente foi executada a perfu-
ração dos tirantes para conter os blocos
isolados, agora sem o risco de acidentes
com pessoas ou com o trânsito local.
Para a prevenção definitiva da conten-
ção com vigas contrafortes atirantados,
bem como o tratamento das trincas en-
tre os blocos e o travamento das rochas
fraturadas foram executados chumba-
dores de aço injetados e que foram apli-
cados e fixados a tela de alta resistência.
Ainda sim, em alguns locais mapeados,
esse processo foi seguido do concreto
projetado para dar a rigidez final e es-
tabilidade da encosta de acordo com o
projeto.
PALAVRAS-CHAVE: vigas de contra-
forte, tirantes, tela de alta resistên-
cia, rocha grampeada, tratamento de
consolidação de rachaduras, concre-
to projetado.
1 – INTRODUÇÃO
1.1 Histórico da obra:
O sinistro ocorreu dia 01 de junho de
2010 às 17h08, blocos de rocha (pedras)
que caíram da encosta deixaram a ro-
dovia Rio-Santos interditada por mais
de cinco horas após intensa chuva que
atíngiu a região de Angra dos Reis (RJ),
sendo que logo em seguida os funcio-
nários do DNIT (Departamento Nacio-
nal de Infraestrutura de Transportes)
iniciaram uma limpeza no local libe-
rando parcialmente o transito às 7h. Às
11h, técnicos do DNIT realizaram uma
pequena explosão de uma das pedras
que caiu na pista, com o objetivo de
fragmentá-la para facilitar sua retirada
de blocos de rocha menores. O procedi-
mento durou cerca de 20 minutos, tem-
po em que a rodovia ficou interditada
em ambos os sentidos. (Figura 1)
De forma preventiva o trânsito foi li-
berado para dentro do hotel, visto
que após a primeira queda houve a
reincidência de novos blocos de ro-
cha, o que preocupou os responsáveis
pela estrada com relação à liberação
da rodovia. (Figuras 2 e 3)
2 – METODOLOGIA EXECUTIVA
2.1 Detonação dos blocos de
rocha
A detonação do grande bloco de rocha
permitiu a retirada de parte das pedras
com apoio de escavadeiras hidráulicas
e retroescavadeiras. (Figura 4)
Uma pedra de 100 toneladas foi im-
Figura 1 – Rodovia Rio-Santos interditada Figura 2 – Pedra de cerca de 80 t ocupa a pista

Figura 3 – Reincidência de queda de barreira

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Figura 4 – Blocos de rocha sendo retirados Figura 5 – Sistema “Pare e Siga”

plodida pelos técnicos do DNIT. Com

a reincidência, uma pedra de 50 tone-
ladas e outra de 30 toneladas foram
explodidas no mesmo local, próximo
ao trecho na altura de Garatucaia
(bairro de Angra dos Reis, Rio de Ja-
neiro), ainda apresenta riscos de no-
vos deslizamentos.
A análise em todos os trechos foi feita
como forma de prevenção, serão explodi-
das algumas pedras que ainda restam para
que não corram mais riscos de quedas.
Para a continuação do trabalho de
limpeza foi proposto que o trânsito
seguisse em sistema de “Pare e Siga” até
o final das detonações. As pedras foram
colocadas no acostamento da pista, que
foi totalmente liberada. (Figura 5 e 6)
Ao longo da rodovia, também há mais
três trechos que ainda continuam em
meia-pista: Monsuaba, Sapinhatuba I e
na entrada de Paraty.
Os agentes da PRF (Polícia Rodoviária Figura 6 – Sinalização para meia-pista
Federal), que auxiliaram no bloqueio da
pista durante a madrugada do dia 02 de
junho de 2010, ressaltaram que os mo- 2.2 Limpeza de blocos de rocha encosta começaram de forma manual
toristas devem redobrar a atenção ao da encosta com uma equipe de rapel que traba-
passar pelos trechos interditados da ro- A limpeza e rolagem dos blocos de ro- lhou atada a cintos de paraquedismo,
dovia. (Figura 7) cha que permaneciam pendurados na que empurravam com apoio de ala-

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Figura 7 – Blocos lateralmente à pista
Figura 8 – Deslizamento manual de blocos de rocha
vancas os blocos soltos do talude na
rodovia. Já os grandes blocos eram tra-
tados com explosões de pequeno por-
te devidamente controladas para não
afetar a comunidade vizinha, podendo
fragmentá-los em blocos menores per-
mitindo a remoção manual. (Figura 8)
Para o restante dos grandes blocos de-
cidiu-se fazer a contenção com a apli-
cação de tela metálica galvanizada de
alta resistência seguido da aplicação
de tirantes conjugados a vigas de con-
trafortes. (Figura 9)
2.3 Preenchimento das trincas
com concreto projetado
Todas as trincas e cicatrizes a montan-
te do talude, formadas em sua parte
superior, preventivamente foram cala-
fetadas com a aplicação de concreto
projetado, conjugado a tratamento
pontual com injeção de calda de ci-
mento a pressões controladas não ul-
Figura 9 – Vista frontal da encosta
Figura 10 – Consolidação das rachaduras com aplicação de concreto
projetado
trapassando a 2 kg/cm² de pressão de
injeção para a finalidade de reagrupar
o maciço e a família de blocos soltos,
melhorando a estabilidade provisória
da encosta. (Figura 10)
2.4 Execuções de bate-choco e
remoção de pequenos blocos
Uma equipe de bate-choco simul-
taneamente junto com um geólogo
conferia o estado da integridade da
rocha que ficou ao talude, sendo fei-
to um bate-choco com apoio e equi-
pamento de guindar acoplado a uma
gaiola. (Figura 11)
2.5 Monitorações das trincas
A supervisão da obra de forma rotineira
promovia antes da execução dos traba-
lhos a vistoria e o monitoramento, in-
clusive o cadastro das trincas do talude
para efeito de controle antes do térmi-
no da conclusão da obra. (Figura 12)
2.6 Aplicações preventivas da
tela metálica para travamento
dos blocos de rocha para per-
mitir a execução da contenção
com tirantes e vigas de contra-
forte com segurança
Neste momento foi adotada a solução
para permitir a execução dos tirantes em
blocos de rocha deixando que a perfu-
ração roto-percussiva seja feita de forma
que, durante o processo, não haja o risco
de queda dos blocos vizinhos nos usuá-
rios em trânsito na BR-040, e seja fixada
a tela metálica de alta resistência para ga-
rantir a segurança da obra e também dos
trabalhadores que fizeram a perfuraração
sobre os andaimes. A tela foi fixada com
chumbadores na parte superior e tam-
bém travada no pé com apoio de chum-
badores, sendo que toda a perfuração
dos tirantes ocorreu já com a tela aplicada
sobre o talude, para caso houver qual-
quer desprendimento dos blocos a tela
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Figura 11 – Execução de bate-choco
Figura 12 – Monitoramento da trincas
Detalhe dos taludes antes de serem envoltos à tela
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metálica de alta resistência seja suficien-
te para segurar o bloco vizinho, evitando
assim um sinistro ao usúário da pista e
resguardando a vida de todos os traba-
lhadores envolvidos na obra. (Figuras 13,
14 , 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21)
2.7 Montagens de andaimes
metálicos e plataformas de
acesso
Para apoio, a execução da viga de tra-
vamento do pé e dos contrafortes,
bem como permitir a execução da
perfuração dos tirantes, é montado
um andaime tubular metálico em toda
a extensão do talude para que sirva de
acesso seguro à equipe de obra. Esse é
dotado de rodapé e guarda-corpo para
apoio nas perfurações dos tirantes e
também para servir de apoio às perfu-
ratrizes de esteira e àquelas montadas
em andaimes. (Figuras 22, 23 e 24)
2.8 Execuções da viga de contra-
forte do pé do talude
Na sequência das atividades, preocupa-
dos em estabilizar os grandes blocos de
rocha, o primeiro passo foi evitar que o
pé facilite o rolamento dos blocos. Para
isso demos início à viga de contraforte
do pé para travar os blocos no talude e
em paralelo, já com o chumbadores de
crista e do pé dos blocos implantados,
enrijecemos a estrutura com a aplicação
de uma camada de concreto projetado,
garantindo que a estrutura se tornasse
um monolito. (Figuras 25 e 26)
2.9 Início da perfuração de tirantes
Depois de garantidas os condicionan-
tes de segurança para os usuários da
pista em trânsito e a segurança opera-
cional dos trabalhadores é dado início
à perfuração para aplicação dos tiran-
tes nos blocos de rocha de forma que
os tirantes possam garantir a estabili-
dade daquele novo talude. As perfu-
rações são feitas com perfuratrizes do
tipo CR-04 montadas em andaimes, e
irão atravessar o bloco de rocha para
que os tirantes de 35 t de cordoalhas
possam protender as vigas de contra-
forte contra o maciço. (Figura 27)
2.10 Instalação dos tirantes
Tirantes de 35 t são instalados nos fu-
ros aguardando a montagem das vigas
de contraforte. (Figura 28)
Figura 13 – Tela metálica sendo rolada sobre os blocos para travamento provisório

Figura 14 – Detalhe do bloco de rocha envolvido pela tela metálica Figura 15 – Equipe de rapel aplicando a tela metálica

Figura 16 – Detalhe da aplicação do concreto projetado enrijecendo as

trincas e os espações entre os blocos, aumentando o fator de seguran-
ça e dificultando o deslizamento da família de blocos de rocha Figura 17 – Aplicação do projetado

2.11 Armação das vigas de
contraforte
São montadas as vigas de contraforte
para passagem do tirante livre por den-
tro delas com utilização de um tubo de
PVC (Policloreto de Vinila) de Ø 75 mm.
As vigas de contraforte são armadas e
fixadas com parabolts para garantir que
as fôrmas ao serem fechadas não irão
abrir, aproveitando provisoriamente o
tirante para escoramento provisório.
(Figuras 29 e 30)
2.12 Fechamento de fôrmas
Em seguida é feito o fechamento das
fôrmas escoradas entre si, contraven-
tadas e escoradas, utilizando o próprio
tirante antes da protensão definitiva
para o escoramento. (Figura 31)

FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS • 67

 Figura 21 – Detalhe da placa de fixação da tela metálica

Figura 18 – Vista lateral do local onde será feita a contenção

Figura 19 – Detalhe dos blocos superiores soltos e propícios ao

escorregamento antes da contenção

Figura 22 – Montagem de andaimes e plataformas de trabalho na crista

do talude

Figura 20 – Detalhe da tela metálica sendo aplicada de cima para baixo.

Destaque para a altura do talude e do escorregamento Figura 23 – Montagem de andaimes

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Figura 24 – Detalhe da plataforma de trabalho montada sobre os andaimes Figura 27 – Perfuração sobre andaimes para execução de tirantes

Figura 25 – Início da montagem da viga de contraforte de pé dos blocos Figura 28 – Instalação dos tirantes

Figura 26 – Viga de contraforte de pé dos blocos Figura 29 – Detalhe das armações do contraforte

FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS • 69

Figura 30 – Projeto de armação
Figura 31 – Fôrmas de madeirite resinado
70 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS
2.13 Aplicação do concreto nas
fôrmas para viga e contrafortes
Com utilização do concreto projetado
devido ao desnível, é utilizado o con-
creto projetado para aplicação da arga-
massa dosada para fck de 30 Mpa para
as vigas de contraforte.
2.14 Desfôrma
Após a cura do concreto damos início à
desfôrma das estruturas de contrafor-
te. (Figura 32)
2.15 Protensão dos tirantes
Após a conclusão da viga de contrafor-
te e sua cura de cinco dias, passamos
a execução da protensão dos tirantes.
(Figura 33)
3 – RESULTADO DA OBRA
A obra atendeu a finalidade visto que
ficou estanque, as trincas superiores
foram tratadas e tamponadas, as infe-
riores injetadas, o restante do escorre-
gamento devidamente protegido por
Figura 32 – Desfôrma Figura 33 – Protendendo os tirantes

Figura 34 – Perfil transversal de projeto

FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS • 71

Figura 35 – Obra quase acabada
Figura 36 – Obra acabada vista de cima
72 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS
tirantes de 35 t distribuídos nas vigas
de contrafortes que impedem a desci-
da dos blocos de rocha, permitindo as-
sim que a obra ficasse protegida como
um todo. (Figuras 34, 35 e 36)
4 – AGRADECIMENTOS
Agradecimento a todos que direta ou
indiretamente participaram da execu-
ção deste caso real de obra.
5 – REFERÊNCIAS
Naresi, L.A.J. (2008) Segurança do tra-
balho em Obras de Contenção com
Utilização de Tirantes, Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Gradua-
ção em Engenharia de Segurança do
Trabalho, Departamento de Engenha-
ria Civil, Universidade Federal de Juiz
de Fora, 150 p.