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MIN225- Aplicabilidade de elementos de sustentação de escavações subterrâneas de mineração

Introdução
Em escavações subterrâneas, além da realização da escavação, é importante verificar as questões de
necessidade de suporte, revestimento, tratamento (reforço) e monitoramento/instrumentação. A
caracterização do material sobre o qual se construirá (solo, rocha, material inconsolidado, presença de
descontinuidades e água, de sismicidade) é fundamental para orientar a construção, as necessidades futuras
de manutenção e riscos durante o uso. Existem diversos dispositivos de suporte ou revestimento de aberturas,
modos de preparação desses elementos e resistências intrínsecas que governarão seu modo de atuação como
estrutura de sustentação da escavação, para o uso sustentável do espaço subterrâneo.
A mineração envolve múltiplas aberturas, mantidas abertas por período de tempo relativamente mais curto,
em que se realiza a proteção durante escavação e controla deformações no maciço rochoso. Fatores de
segurança (ou probabilidade de risco) em projetos diferem em relação à função da escavação e de sua vida
útil. A seguir destacam-se aspectos de elementos usuais de sustentação de escavações de mineração.
1-Ancoragens- constituem-se de barra de aço rígida (parafuso) ou flexível (cabo), em furo(s) previamente
executado(s) através das camadas adjacentes à escavação, com o preenchimento ou não do espaço anular
entre a barra e a parede do furo com argamassa de cimento não retrátil (ou com resina poliester). Trabalham
em diversos locais da mina, sob efeitos de suspensão e/ou atrito (formação de viga), como elemento ativo ou
passivo, suprindo a necessidade de estruturas cada vez mais baratas, resistentes, de fácil instalação e que
apresentem redução da área escavada. Há diversos modelos disponíveis, com capacidades de carga
diferenciadas, sendo usadas em diversas finalidades das escavações. Considerada a forma mais simples de
estabilizar maciços rochosos que contêm descontinuidades. Máquinas especiais para realizar furos têm sido
desenvolvidas nos últimos anos para instalação em realces de pequena largura. As ancoragens (mecânicas)
devem ser usadas em estratos rochosos que tenham resistência à compressão uniaxial superior a 55 MPa.
Cabos podem ser usados em cruzamento de galerias, frentes de lavra (prévios, como em corte e enchimento)
e em auxílio ao controle da diluição. Usualmente menor que 3 m comprimento em galerias, mas até 7 m em
aberturas maiores; 15 a 22 m, com cordoalhas de aço. São fortes e deformáveis (capacidade de absorver
energia) em nível mais alto de tensões. Projeto leva em conta: fator de segurança (1,5 a 3), máximo
deslocamento admissível na escavação, capacidade de deformação do parafuso.
2-Arcos (“cambotas”) e quadros- são usados em trabalhos subterrâneos de desenvolvimento linear (poços,
galerias, rampas), como sustentação provisória descontínua, passiva, instalados, via de regra, com seus planos
situados normalmente ao eixo da escavação, em lavras por câmaras e pilares, sublevel stoping e longwall.
Arcos deslizantes têm disposição das peças em função da direção preferencial de tensões, com deslizamento
e aumento da estabilidade com diminuição do comprimento total do arco.

3- Pilares naturais- são estruturas para frentes de lavra, para maciços e minérios mais competentes, mas
também para galerias múltiplas de desenvolvimento, em lavra por longwall. São carregados pelo deslocamento
da rocha adjacente (encaixante) induzido pela lavra, que é contraposto pela (resistência da) rocha que constitui
o pilar. Câmaras e pilares e várias versões de realce em subníveis (furos longos, realces abertos e outros)
representam métodos principais que se baseiam em suporte com pilares permanentes ou temporários.
Técnicas computacionais podem ser usadas para determinação detalhada do estado de tensões por meio do
maciço rochoso. Entretanto, algumas pistas instrutivas nas propriedades de sistemas de pilares podem ser
obtidas de análise simples, baseada em noções elementares de equilíbrio estático, usadas para estabelecer
um estado médio de tensões nos pilares, que pode então ser comparado com a resistência média do maciço
rochoso representativa da geometria particular do pilar.
4- Suportes hidráulicos automarchantes – baseados em esteios hidráulicos, atuam em frentes de lavra,
podendo trabalhar em condições de rock burst e queda de choco, em lavra por longwall. Possibilitam
segurança no abatimento do teto, com alta produção e apresentam alta eficiência, têm altos custos de
investimento e de manutenção, necessitam de mão-de-obra qualificada, admitem pequenas variações na
espessura da camada lavrada.
5- Telas, concreto projetado (shotcrete), straps, selantes (TSLs) - suportes passivos, usados principalmente
em acessos ou pontos de carregamento de minério. Straps são opção às telas, utilizadas também em conjunto
com ancoragens, quando maioria dos planos de fraqueza mergulha em dada direção, a resistência do maciço
rochoso é muito maior na direção dos planos que em outra direção que os atravesse. Nessas circunstâncias,
podem ser modo mais efetivo de revestimento. A espessura do concreto projetado varia entre 25 e 150 mm;
aplicado em rochas autossuportantes em anéis de concreto (1 m de altura, espaçados 4,5-6 m), ou em rochas
com maior dificuldade de sustentação, com menor espaçamento entre anéis ou revestimento total
(“monolítico”). A adição de fibras (aço, sintéticas) proporciona melhor rigidez (flexão, cisalhamento) e
resistência a impacto. Pode ser substituído por poliuretano ou TSL (selantes), com cura mais rápida, melhor
desempenho, em camadas 3-5mm, que reduz logística.
6- Enchimento e material abatido- a introdução de enchimento em realces, com colocações subsequentes,
além de permitir maior recuperação de minério, resulta no assentamento e compactação, aumenta a
resistência ao cisalhamento e transferência de carga às vizinhanças pela formação de arco, com transferência
lateral de tensões verticais (também em lavra post-pillar), na extração ou no fechamento de mina. Há vários
tipos, secos ou hidráulicos e com introdução de cimento (ligante). O gob (goaf)- material abatido- representa
um “autoenchimento” de escavações de lavra, dissipando as tensões e permitindo lavra de minério de baixo
teor, devido ao menor custo operacional, se associando aos suportes hidráulicos.
7- Injeções, congelamento de terreno, enfilagens - técnicas aplicadas em várias fases da mina subterrânea,
como para controle de água, em desenvolvimento (poços e galerias), produção (frentes de lavra e
desenvolvimento adicional) ou fechamento (selamento de poços e vias). Promovem consolidação que visa
melhorar características de resistência, deformabilidade ou impermeabilidade de maciços rochosos, assim
como as injeções sob pressão (“jet grouting”), drenagem (desaguamento) e pré-escavação. Injeções usam
cimento, às vezes com argila ou bentonita, silicatos, resinas epoxy, poliuretano ou asfalto fundido. O
congelamento da água situada nos vazios dos solos melhora temporariamente as suas propriedades enquanto
se executa a escavação, aplicado a solo saturado em água. São métodos mais caros e considerados apenas
quando há problemas técnicos sérios com outras alternativas de que se dispõe. Bombeamento e drenagem,
por sua vez, são técnicas muito utilizadas para manter o nível de água dentro da mina, que permita a
continuação da lavra de forma sustentável. Vedação de furos e solução de problemas de fluxo de água
subterrânea de alta pressão são projetos típicos de injeção realizados em minas subterrâneas.
Usos combinados
Na Mina Taquari-Vassouras (Sergipe, potássio), sustentam-se as frentes de lavra com abandono de pilares
de minério. O revestimento de galeria é realizado com concreto, com cerca de 1 m de espessura, dada a
proximidade da frente de trabalho com aquífero e com a taquidrita (mineral higroscópico).
Na Mina Cuiabá (ouro) são usados: na frente de lavra: parafusos em furo de 3,5 m, diâmetro 35 mm;
aplicam-se 4 resinas curtas (30 cm) de pega rápida e 7 de pega lenta, tirante 21 mm; telamento; em aberturas
de desenvolvimento- aplicação de split-set (furos 51 mm ou 75 mm de diâmetro, comprimento 1 m).
Na Mina Vazante (zinco, Votorantim), em galerias, há cambotas constituídas de 2 ou mais peças, montadas
e aparafusadas no local da aplicação, com espaçamento de 0,5 a 1,5 m, em trechos de rocha muito alterada.
Já em mina de carvão (China) e em Pilar de Goiás (ouro), são galerias com teto inclinado de 20º; na primeira,
quadros de aço com chapéus; parafusos de ancoragem (espaçados de 80 cm, preenchimento do furo com
resina); telas (e/ou straps); o suporte secundário é realizado com cabos de 3 m de comprimento.
Fontes
Brady BHG: Brown ET. 2012. Rock Mechanics for Underground Mining. Klwer. New York.
Dougherty & Schissler. 2020. Mining Reference Handbook p.573-610. SME.
]arrison, J.P.; Hudson, J.A. Engineering Rock Mechanics. Pergamon, p. 267-286. 2007.
Silva, J.M.; 2018. Sustentação de Escavações Subterrâneas Civis e de Mineração. In The Mine, 73, p. 31-33.
Silva, J.M.; Terra, K.L.M.; Lima, C.A. 1998. Tendências no Atirantamento Subterrâneo. Brasil Mineral.
Souza, L. H. 2016. Dimensionamento dos Suportes em Escavações Subterrâneas em Rochas Muito Fraturadas
em uma Mina de Zinco. Monografia de Graduação. FINOM.

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