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Estruturas em

aço na projetação
do edifício
Jaqueline Ramos Grabasck

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Identificar as vantagens da utilização de moldura estrutural em aço nas


edificações.
>> Determinar os elementos utilizados para compor os pavimentos de uma
edificação com moldura estrutural em aço.
>> Conceituar construção mista.

Introdução
O uso do aço e do concreto na construção civil caracteriza um período de desen-
volvimento. Tal uso resulta em estruturas mais esbeltas, em plantas baixas com
maior área útil e na possibilidade de execução de edifícios em altura. As molduras
estruturais em aço revestidas com alvenaria começaram a ser utilizadas devido
à necessidade de executar edificações com rapidez, porém com a garantia da
segurança dos usuários em caso de incêndio.
Neste capítulo, você vai conhecer as principais vantagens da utilização de um
sistema estrutural desenvolvido com molduras estruturais em aço. Você também
vai conhecer os elementos utilizados para compor os pavimentos de uma edifi-
cação com moldura estrutural em aço. Além disso, vai verificar a importância do
sistema de construção mista.
2 Estruturas em aço na projetação do edifício

Moldura estrutural em aço nas edificações


Nas edificações desenvolvidas com moldura estrutural em aço, os elementos
estruturais, vigas e colunas, estão conectados uns aos outros. Com essa
configuração, as cargas da edificação direcionam-se diretamente às fun-
dações. Para garantir a rigidez da edificação e o suporte dos elementos de
pisos e cobertura, também são utilizadas vigas secundárias. Por sua vez, os
revestimentos externos apoiam-se na moldura, que é protegida contra o
fogo (ALLEN; IANO, 2013).
De acordo com Teobaldo (2004), o uso do aço na construção civil dá-se
essencialmente pelo fato de os elementos serem pré-fabricados. Portanto, o
processo produtivo é otimizado, o que acarreta a padronização dos elementos
e possibilita a execução em larga escala. A autora complementa que as peças
apresentam maior grau de precisão porque elementos para locais de difícil
acesso são montados em fábrica, o que facilita a instalação das peças e a
execução da obra.
Gomes, Odaguiri e Oliveira (2018) elencam algumas vantagens do uso do
aço na construção civil. Veja a seguir.

„„ Redução do peso das fundações: estimativas indicam que há uma re-


dução de 30% nos custos e no peso das fundações. Isso ocorre porque
a construção é mais leve e transfere cargas reduzidas às fundações.
„„ Canteiro de obras mais organizado e limpo: devido à rápida montagem
e ao pouco entulho gerado, há menos riscos de acidentes em obra.
„„ Redução do tempo de construção: as condições climáticas não alteram
o processo de montagem, e não são utilizadas escoras e formas que
necessitam permanecer na obra durante todo o período de cura do
concreto.
„„ Maior área útil: elementos estruturais esbeltos aumentam o espaço
útil no interior da edificação.
„„ Qualidade do material: há padronização e segurança no processo
produtivo dos elementos estruturais.
„„ Flexibilidade: o processo de montagem e desmontagem é facilitado,
e o material pode ser reaproveitado em outros locais.
„„ Menor desperdício: o sistema estrutural tem medidas precisas, que
facilitam a compra de materiais e evitam sobras.

De acordo com Bellei, Pinho e Pinho (2008), as estruturas em aço apre-


sentam alta resistência e são homogêneas, pois a produção do material é
Estruturas em aço na projetação do edifício 3

realizada de forma controlada. Além disso, as estruturas são desenvolvidas


em curto prazo, de forma seriada, o que garante valores mais acessíveis.
Também há a possibilidade de desmontagem, com substituição e reforço dos
componentes sempre que necessário, bem como de reaproveitamento do
material ao término da vida útil da edificação. Ademais, a execução dessas
estruturas ocorre em menos tempo quando comparada à dos demais materiais.
Como o aço apresenta características bem definidas, já que é um material
homogêneo e isotrópico, segundo Teobaldo (2004), ele gera elementos com
características internas iguais em todas as direções, tendo sempre as mesmas
propriedades. O autor também ressalta a importância da reversibilidade do
material, que possibilita a desmontagem do conjunto e o seu reaproveitamento
sem causar danos aos componentes; afinal, a ligação dos componentes é
realizada por meio de aparafusamento.
Bellei, Pinho e Pinho (2008) indicam que a substituição dos elementos
em concreto armado por estruturas metálicas e a manutenção dos demais
acabamentos usuais alteram o planejamento da obra e acarretam um novo
processo construtivo. A seguir, veja o que caracteriza esse novo processo.

„„ Menor custo de administração: há um número reduzido de operários,


o que viabiliza um prazo menor e reduz significativamente os gastos
com a retirada de entulhos.
„„ Economia nas fundações: como o esqueleto metálico pesa cerca de
10 vezes menos do que as estruturas em concreto, há uma redução
significativa do número de estacas e bases na execução das fundações,
devido à utilização de vãos maiores.
„„ Menor consumo de revestimento: devido à precisão milimétrica do
esqueleto metálico, as espessuras do emboço e do reboco são signi-
ficativamente reduzidas.
„„ Rapidez de execução: há a possibilidade de realizar diversas atividades
ao mesmo tempo, assim como a possibilidade de direcionar esforços
para determinada atividade.
„„ Maior lucratividade do investimento: há maior velocidade de giro do
capital de investimento, além de a área útil ser maior, pois a estrutura
apresenta dimensões reduzidas.

De acordo com Teobaldo (2004), a planta livre (Figura 1) é uma das principais
vantagens desse sistema, pois proporciona ambientes mais amplos em cons-
truções mais leves. Nesse contexto, o processo construtivo é racionalizado
e realizado de forma rápida.
4 Estruturas em aço na projetação do edifício

Figura 1. Exemplo de planta livre nos três pavimentos que compõem a Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo (Fauusp).
Fonte: Kamita (2000 apud BAHIMA, 2015, p. 244).

Allen e Iano (2013) ressaltam que as molduras estruturais em aço podem


ser utilizadas por diversas gerações, necessitando de pouca ou nenhuma
manutenção caso sejam protegidas do ar e do fogo. Ao comparar as moldu-
ras estruturais em aço com as molduras de concreto, os autores reforçam
que as primeiras desempenham a mesma função, entretanto necessitam de
fundações menores, que requerem menos processos de escavação.
Segundo Viana et al. (2007), a utilização do sistema misto aço–concreto
apresenta inúmeras vantagens. Entre elas, destacam-se: “[...] dispensa de
formas e escoramentos, redução do peso próprio e do volume da estrutura,
redução considerável do consumo do aço estrutural [...]” (VIANA et al., 2007,
p. 326).
Cardoso (2013) também lista vantagens do sistema misto aço–concreto.
Veja quais são elas:

„„ maior liberdade projetual, possibilitando a elaboração de projetos


arrojados, devido ao uso do aço;
„„ rapidez de execução;
„„ facilidade e rapidez de montagem, principalmente quando são utili-
zadas lajes do tipo deck, que podem ser usadas como plataforma de
trabalho;
„„ flexibilidade de adaptação e facilidade para passagem de tubulações
hidrossanitárias, elétricas, de climatização e de comunicação;
Estruturas em aço na projetação do edifício 5

„„ alta compatibilidade do aço com demais materiais e elementos


pré-fabricados;
„„ menor prazo de execução, pois não há necessidade de escoramentos
e a execução não é afetada pelas condições climáticas;
„„ racionalização de materiais e mão de obra, com o uso de sistemas
industrializados e a redução do desperdício de materiais;
„„ redução do custo e do peso das fundações;
„„ possibilidade de reutilização de 100% da estrutura ao ser desmontada;
„„ garantia de qualidade e controle dos materiais durante a produção
na fábrica.

Cabe ressaltar que, como qualquer sistema, o uso de molduras estrutu-


rais em aço tem algumas desvantagens. Segundo Cardoso (2013), pode-se
destacar: maior nível de especialização dos trabalhadores; necessidade de
planos de montagem detalhados, principalmente nos mecanismos de ligação;
e resistência do aço à ação do fogo, que pode encarecer o sistema estrutural.

Na planta livre, a estrutura da edificação é desenvolvida de forma


isolada. Isso possibilita que o interior da edificação seja desenvolvido
de diversas maneiras, podendo ser utilizado para diferentes usos, conforme a
necessidade dos usuários (SILVA; ELOY, 2012).

Composição de pavimentos
De acordo com Chase (1931), o pioneiro Home Insurance Building, construído
em 1885, foi executado com uma estrutura de esqueleto completa. As cargas
do piso eram absorvidas por colunas internas e externas, enquanto as car-
gas das paredes eram transferidas para as colunas, sustentadas de forma
independente (Figura 2).
6 Estruturas em aço na projetação do edifício

Figura 2. Home Insurance Building, em Chicago (Estados Unidos), projetado por William Le
Baron Jenney.
Fonte: Hampson (1931, documento on-line).

Durante a demolição do Home Insurance Building, em 1931, profissionais


o analisaram e observaram que era possível remover a parede de um andar
intermediário sem que as paredes acima fossem alteradas. As alvenarias eram
sustentadas por vigas de lintel suportadas por colunas de montante, que por
sua vez eram sustentadas por perfis laminados a cada dois ou três pavimentos
(HAMPSON, 1931). Na Figura 3, observe os profissionais que acompanharam o
processo de demolição do Home Insurance Building examinando a estrutura
para entender em detalhes como ela foi projetada e executada.
Estruturas em aço na projetação do edifício 7

Figura 3. Profissionais examinando a estrutura do Home Insurance Building em 1931.


Fonte: Chase (1931, documento on-line).

Portanto, com a demolição da edificação, alguns profissionais tiveram a


oportunidade de compreender em detalhes como esse edifício pioneiro no
uso das estruturas em aço foi construído. Depois disso, o Home Insurance
Building ficou conhecido como o pai dos arranha-céus modernos. Com as
análises, os profissionais concluíram que a edificação poderia ser mantida de
pé por muitos anos, entretanto foi demolida para dar lugar ao Field Building,
de 43 andares (CHASE, 1931).
Allen e Iano (2013) indicam que a construção de edificações com moldura
estrutural em aço ocorre por meio da montagem de blocos a cada dois andares.
Essa montagem se inicia com a fixação das colunas às fundações, mediante
o uso de placas de base de aço, com inserção de pinos de ancoragem, que
devem ser dispostos previamente nos locais determinados pelo fabricante
das estruturas. Após o primeiro bloco ser aprumado, as placas de base são
grauteadas e os pinos de ancoragem são devidamente apertados. A Figura
4 exemplifica a fixação de uma coluna pesada, que foi soldada à placa de
base, já nivelada e grauteada no local.
8 Estruturas em aço na projetação do edifício

Figura 4. Fixação de coluna pesada em placa de base.


Fonte: Allen e Iano (2013, p. 445).

Após a conclusão do primeiro bloco, realiza-se a fixação das vigas e das


vigas mestras nos devidos lugares, para a composição dos dois primeiros
pavimentos. Quando se passa para o segundo bloco, as seções que formam
as molduras são içadas, posicionadas e conectadas por placas de encaixe ao
primeiro bloco. Em seguida, ocorre a colocação das vigas e colunas nos dois
andares e a conclusão do bloco, que é aprumado e apertado. Esse processo
se repete na execução dos demais pavimentos (ALLEN; IANO, 2013).
Bellei, Pinho e Pinho (2008) apresentam uma sequência lógica a ser seguida
na execução de edificações com múltiplos pavimentos, precedida pela locação
correta das fundações. Veja:

1 — montar algumas colunas próximas; 2 — aprumar as colunas; 3 — montar con-


traventamentos; 4 — montar vigas principais que interliguem as colunas umas às
outras; 5 — montar vigas secundárias que se apoiam nas principais; 6 — verificar o
prumo, alinhamento e esquadro; 7 — torquear ligações parafusadas; 8 — repetir o
processo em outra área próxima, interligando as duas, vertical ou horizontalmente
(BELLEI; PINHO; PINHO, 2008, p. 274–275).

A Figura 5 mostra cada uma dessas etapas.


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Figura 5. Sequência de montagem de edifícios de múltiplos pavimentos.


Fonte: Bellei, Pinho e Pinho (2008, p. 275).

Os autores listam algumas precauções que devem ser tomadas a fim de


manter a rigidez da estrutura. Veja:

„„ os travamentos provisórios devem ser realizados assim que possível;


„„ as ligações rígidas de viga e coluna devem ser realizadas apenas quando
a movimentação da estrutura para a realização de ajustes não for
necessária;
„„ as placas de base devem ser grauteadas apenas quando a montagem
no seu setor estiver finalizada, considerando o limite da primeira
emenda de coluna;
„„ a montagem deve ser iniciada sempre pelos locais inacessíveis, para
facilitar o uso do guindaste no decorrer do processo.

Após a fabricação, alguns elementos podem ser montados em fábrica


para a conferência de medidas e os ajustes necessários. Esse processo é
denominado “pré-montagem” por Bellei, Pinho e Pinho (2008). Ele também
pode ocorrer no canteiro de obras quando as peças são muito grandes para
serem transportadas, necessitando ser divididas em elementos menores.
Segundo Allen e Iano (2013), para a elaboração das lajes, são utilizados
decks metálicos, que são desenvolvidos com chapas finas em aço corrugado,
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a fim de aumentar a rigidez do produto final (Figura 6). Bellei, Pinho e Pinho
(2008) afirmam que atualmente tem-se dado preferência aos decks metálicos,
que também são denominados “steel decks”; em comparação às lajes maciças,
eles aumentam a produtividade. Os autores ainda ressaltam que a montagem
das lajes deve ocorrer apenas após a montagem das estruturas. Porém, para
a estabilização da própria estrutura, pode ser necessário executar lajes em
alguns pavimentos.

Figura 6. Tipos de decks em aço corrugado.


Fonte: Allen e Iano (2013, p. 455).

De acordo com Bellei, Pinho e Pinho (2008), a forma-laje funciona como


uma plataforma de trabalho, atuando como armadura da laje ao apresen-
tar uma armadura em tela soldada, a fim de evitar fissuração (Figura 7). Os
autores indicam a utilização de forro para cobrir a estrutura metálica. Além
disso, há a possibilidade de utilizar apoios intermediários, o que depende
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do vão livre que a estrutura permite desenvolver (o vão é determinado pelo


fabricante do material).

Figura 7. Laje mista com armadura em tela soldada.


Fonte: Alva (2000, p. 100).

Tanto os pisos como as coberturas têm a função de suportar as cargas


gravitacionais e transferi-las para os demais elementos estruturais (no caso
aqui estudado, para as colunas). Os pisos e as coberturas também têm a fun-
ção de distribuir as ações dos ventos e das forças sísmicas, direcionando-as
para os elementos verticais, que têm a função de resistir às ações laterais.
Essa distribuição das forças laterais denomina-se “efeito diafragma”. Ela é
uma distribuição tridimensional que transfere as forças aos elementos con-
traventantes, que por sua vez as transmitem às fundações. Dessa maneira,
o nível de esforços é reduzido e há otimização do desempenho do sistema
como um todo (PEREIRA; FILETTO; LOPES, 2016).
Para a cobertura, pode ser utilizado o sistema de cobertura metálica
contraventado por diafragmas, também denominado “roof deck”. De acordo
com Pereira, Filetto e Lopes (2016), esse sistema é composto por decks metá-
licos conectados em terças metálicas por meio de conectores, que também
ligam as terças aos demais elementos. Os autores indicam a utilização de
dois tipos de conectores, os supports, que conectam os decks à estrutura
suporte, e os side-laps, que conectam um deck ao outro, “[...] podendo estes
serem parafusos autobrocantes ou pneumáticos como também soldas [...]”
(PEREIRA; FILETTO; LOPES, 2016, p. 4).
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Bellei, Pinho e Pinho (2008) ressaltam que, para proteção contra o fogo,
são utilizados tijolos vazados de barro ou de concreto celular, que garantem
de 2 a 4 horas de resistência ao fogo. A Figura 8 apresenta três alternativas de
proteção que utilizam alvenaria. São elas: de 2 horas sem uso de enchimento;
de 3 horas com uso de enchimento de concreto; e de 4 horas com enchimento
de tijolos furados.

Figura 8. Proteções com alvenaria.


Fonte: Bellei, Pinho e Pinho (2008, p. 217).

Além da alvenaria, Bellei, Pinho e Pinho (2008) indicam o sistema misto, que
utiliza alvenaria e argamassas com cimento para a proteção das estruturas
metálicas. A Figura 9 exemplifica a utilização desse sistema.

Figura 9. Proteções com sistema misto (alvenaria e argamassa de cimento).


Fonte: Bellei, Pinho e Pinho (2008, p. 221).
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Com o passar do tempo, os painéis de alvenaria foram substituídos por


painéis de fechamento pré-fabricados. Segundo Sáles (1995), essa troca se
deu pelo ritmo de construção que os painéis de alvenaria exigiam. Como a
estrutura em aço é desenvolvida com mais rapidez, os sistemas não apre-
sentavam sincronia para execução.

Construção mista
Em 1871, ocorreu um grande incêndio em Chicago, que devastou grande parte
das construções em madeira da cidade. Devido à necessidade de reconstru-
ção urgente, o engenheiro e arquiteto William Le Baron Jenney desenvolveu
um sistema para executar edificações que tivessem paredes mais finas e
fossem capazes de abrigar mais andares do que as tradicionais edificações
desenvolvidas apenas com pedra e alvenaria (HISTORY, 2018).
A revolucionária estrutura de aço desenvolvida para o Home Insurance
Building marca a história pelo pioneirismo no uso do aço como elemento
estrutural. Como você já viu, esse edifício é considerado o primeiro arranha-
-céu do mundo. O edifício foi desenvolvido com um esqueleto interno de
colunas e vigas em aço e foi revestido com paredes de alvenaria mais leves,
executadas “penduradas” na estrutura de aço. O desenvolvimento dessas
molduras de aço possibilitou a execução de um edifício com mais janelas, já
que a moldura suporta o peso do edifício e as paredes em alvenaria atuam
como uma pele, protegendo o interior de intempéries (HISTORY, 2018).
A construção mista, conhecida também como “construção híbrida” ou
“construção de esqueleto”, surgiu da necessidade de executar edificações
no menor tempo possível para abrigar um grande número de pessoas em
ambientes que apresentassem proteção adequada contra incêndios. Além
disso, esse tipo de construção possibilitou o desenvolvimento de edificações
em altura, mas com fechamentos verticais mais esbeltos do que os desen-
volvidos até então.
Sáles (1995) ressalta que, apesar de o novo sistema ter se difundido rapida-
mente, a sua diferença em relação às edificações desenvolvidas em alvenaria
não era perceptível externamente. A Figura 10 apresenta a elevação de um
sistema de moldura estrutural em aço para um edifício de 10 pavimentos; nos
pavimentos inferiores, já foram instalados os decks metálicos desenvolvidos
em aço corrugado (ALLEN; IANO, 2013).
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Figura 10. Edificação executada com moldura estrutural em aço e lajes do tipo deck em aço
corrugado.
Fonte: Allen e Iano (2013, p. 453).

De acordo com Alva (2000), a construção mista está diretamente relacio-


nada à evolução do concreto armado e das estruturas em aço. Inicialmente, o
concreto era utilizado apenas como um revestimento para os perfis de aço, a
fim de protegê-los do fogo e da corrosão. O autor reforça que a contribuição
do concreto, em termos de resistência, não era considerada nos cálculos.
O desenvolvimento de conectores de cisalhamento alterou essa premissa,
sendo uma importante contribuição aos avanços referentes às vigas mistas.
Cardoso (2013) afirma que a construção mista apresenta como principais
constituintes os perfis de aço estrutural, o concreto e os seus conectores.
O concreto atua nas zonas de compressão, o aço, nas zonas de tração, e
os conectores, no ligamento de ambos os componentes. Essa combinação
possibilita o melhoramento do desempenho global da edificação. O autor
menciona a intensa aplicação desse sistema em pontes, hospitais e edifícios
comerciais, industriais, residenciais, de escritórios e de estacionamentos.
Atualmente, o uso de “[...] vigas e treliças mistas com conectores de ci-
salhamento e lajes com forma de aço incorporada [...]” (ALVA, 2000, p. 1) é
comum na execução de edificações de múltiplos pavimentos. O sistema
aço–concreto tem atuado contra as forças cortantes e as forças advindas
do vento, acarretando a rigidez da estrutura. O concreto atua na resistência
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aos carregamentos laterais, enquanto o aço apresenta um peso reduzido e


a capacidade de vencer vãos maiores, podendo ser utilizado em estruturas
do tipo pórtico (ALVA, 2000).
Como vantagens, Alva (2000) cita a rapidez de execução, a possibilidade de
gerar vãos médios a elevados e a redução do peso da estrutura. Isso resulta em
fundações mais econômicas e na redução do custo final da estrutura, devido
ao preenchimento ou revestimento das estruturas de aço com concreto. Essa é
uma solução econômica para proteger a estrutura contra o fogo e a corrosão.
Cardoso (2013) indica que, para a utilização de estruturas mistas, deve-
-se considerar o método construtivo já na fase de projeto, seguindo até a
execução das estruturas. Alva (2000) ressalta a importância do sistema misto
na execução de sistemas horizontais, que representam economia de material
e facilidade de execução, apresentando diferentes opções de conectores de
cisalhamento, como pinos com cabeça, perfis laminados, perfis formados a
frio e barras redondas. O autor ainda destaca que as formas de aço incorpo-
radas no sistema de lajes atuam como armadura positiva, dispensam o uso
de escoramento e apresentam a função de diafragma horizontal. Na Figura
11, veja o sistema misto utilizado como um sistema estrutural horizontal.

Capa de concreto Laje de concreto armado

Pré-laje

Viga de aço Viga de aço

Forma de aço
Concreto Laje de concreto armado
incorporada

Viga de aço Viga de aço

Figura 11. Utilização do sistema misto como sistema estrutural horizontal.


Fonte: Adaptada de Alva (2000).
16 Estruturas em aço na projetação do edifício

Já os sistemas verticais devem conferir estabilidade global à edifica-


ção, mediante o direcionamento das ações gravitacionais e horizontais às
fundações. Além disso, Alva (2000) recomenda, devido à resistência destes
elementos às ações do vento, a utilização de pilares, pórticos, paredes, núcleos
e contraventamentos na elaboração dos sistemas verticais; esses elementos
podem ser aplicados tanto em edificações baixas quanto em edificações
altas. Na Figura 12, veja alguns sistemas verticais que podem ser utilizados
nessas edificações.

Pilares Treliça Pórtico Núcleo


interpavimento

Treliça passante Pórticos e paredes Tubos modulares Tubo treliçado


associados

Figura 12. Tipos de sistemas verticais.


Fonte: Adaptada de Corrêa (1991 apud ALVA, 2000).
Estruturas em aço na projetação do edifício 17

Os sistemas verticais conferem estabilidade às edificações em altura,


atuando em conjunto com os demais elementos estruturais. As construções
mistas se caracterizam pela rapidez de execução, pela redução do desper-
dício de materiais, pela redução do consumo de materiais e pela utilização
de elementos estruturais com pesos menores.
Neste capítulo, você pôde verificar a importância do uso do aço na cons-
trução civil; tal uso marca o início da evolução dos processos construtivos. A
partir dele, edificações em altura puderam ser desenvolvidas com elementos
estruturais mais esbeltos, com a possibilidade de implementação de jane-
las maiores nas fachadas, plantas livres e elementos estruturais com peso
reduzido.
Esse desenvolvimento levou à criação dos arranha-céus, incentivando os
profissionais a procurarem alternativas mais eficazes e duradouras. Além
disso, ele gerou estruturas flexíveis, que podem ser alteradas com facilidade,
bem como desmontadas e reutilizadas no final da vida útil da edificação.

Referências
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pdf. Acesso em: 4 dez. 2020.

Leituras recomendadas
CASTRO, F. Mediathek: Laboratory of Architecture. 2017. Disponível em: https://www.
archdaily.com.br/br/920464/mediathek-laboratory-of-architecture-number-3?ad_
source=search&ad_medium=search_result_all. Acesso em: 4 dez. 2020.
CHING, F. D. K. Sistemas estruturais ilustrados: padrões, sistemas e projetos. 2. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2015.
OTT, C. Templo Magen David: Cherem Arquitectos. 2017. Disponível em: https://
www.archdaily.com.br/br/948116/templo-magen-david-cherem-arquitectos?ad_
source=search&ad_medium=search_result_all. Acesso em: 4 dez. 2020.
Estruturas em aço na projetação do edifício 19

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