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8.2. ESTRUTURAS
Como ponto de partida para todo o projeto de uma edificação industrial estará a definição do
tipo de estrutura a se adotar, decisão a ser tomada pelo projetista em consonância com as exigências do
processo e com as conveniências locais.
A estrutura de uma edificação industrial tem a responsabilidade de receber, transmitindo para
as fundações, as cargas estáticas e dinâmicas decorrentes do processo de fabricação, dos operadores e
dos sistemas de transporte interno.
A estrutura deverá, ainda, absorver as cargas provenientes do seu peso próprio, do vento e do
peso da cobertura, dos tapamentos laterais, dos pisos intermediários, das escadas, das plataformas etc.
A correta definição dessas cargas é fundamental no trabalho do projetista, permitindo melhor
orientar a seleção do tipo da estrutura e dos materiais nela utilizados.
Nas estruturas para uso industrial são empregados, principalmente, o concreto e o aço. Em
menor escala caberia citar a madeira, o alumínio e, mais recentemente, os plásticos.
Estruturas de concreto
Estruturas de aço
O uso do aço laminado nas estruturas industriais oferece como principais vantagens a leveza, no
caso de grandes vãos, se comparada à estrutura de concreto, a facilidade e a rapidez de montagem e a
possibilidade de futuras alterações, de reforços e mesmo de desmontagem e transferência de local.
A estrutura de aço, quer para galpões industriais, quer para suporte de equipamentos ou para
execução de plataformas e escadas de acesso, permite ao projetista criar, com um número
relativamente reduzido de componentes e bitolas padronizadas, toda sorte de subconjuntos e detalhes
estruturais necessários.
Os componentes mais utilizados são os perfis H, C, I, as cantoneiras de abas iguais e desiguais,
os tubos, os vergalhões e as chapas dobradas. Para estruturas leves, provisória s ou que requeiram
rápida montagem, utilizam-se ainda as cantoneiras perfuradas do tipo "Dexion" e seus similares.
A estrutura de aço oferece, ademais, a grande vantagem de dispensar os tempos de cura
exigidos pelo concreto. Nos vãos usuais pode ser encomendada para prazos de entrega bastante curtos.
A mão-de-obra requerida na sua montagem é, entretanto, mais cara que para a execução da estrutura
em concreto, em razão da maior especialização requerida. No cálculo do custo das estruturas metálicas
deve-se também levar em conta a incidência de impostos (ICM e IPI) sobre o valor da estrutura
fabricada, o que não ocorre no caso de estruturas de concreto moldadas no local (os impostos incidem
neste caso apenas sobre o valor de alguns dos materiais utilizados na construção, como o cimento, por
exemplo).
Entre as desvantagens apresentadas pelas estruturas de aço devemos, todavia, apontar a sua
pequena resistência ao fogo, que a deforma facilmente, e os custos de manutenção que, ao contrário do
concreto, são relativamente altos, exigindo pintura periódica e cuidados especiais em ambientes
corrosivos.
A ligação das peças nas estruturas em aço pode ser feita por rebites, por solda ou por parafusos.
A solda embora seja de fácil execução apresenta os riscos de empenamentos e deformações
que dificultam a montagem. O uso de parafusos de alta tensão tem sobre o rebite, além do menor ruído
na montagem, as vantagens de ser de fácil desmontagem e de permitir um controle preciso das tensões
aplicadas.
As estruturas de aço podem ser compostas de peça s em alma cheia ou de peças treliçadas. A
estrutura em treliça, embora mais leve, apresenta maiores dificuldades para sua fabricação e para a
futura conservação que a estrutura de alma cheia.
A estrutura em treliça oferece, todavia a vantagem de facilitar sobremaneira a fixação de
tubulações, calhas para cabos elétricos, sistemas de transportadores etc.
Estruturas de madeira
Estruturas de alumínio
O alumínio tem tido sua aplicação grandemente desenvolvida como material para estruturas
industriais, principalmente por sua conservação fácil, que o torna superior ao aço, dispensando pintura.
Sua grande resistência à corrosão aliada à sua leveza, no que concorre com a madeira, torna o alumínio
um material adequado para certos locais industriais sempre que as soluções estruturais forem
compatíveis com seu pequeno módulo de elasticidade.
Não estaria completa esta apresentação dos materiais utilizados nas estruturas industriais sem
que fizéssemos menção, mesmo ligeira, às "estruturas" do tipo inflável, à base de borracha sintética ou
películas plásticas. Os galpões constituídos desses materiais se mantêm rígidos por meio de câmaras
cheias de ar ou pela sobre pressão aplicada ao ambiente interior. Esse tipo de galpão tem seu principal
campo de aplicação em locais de armazenagem de emergência, permitindo fácil transferência de local.
Também merece menção o plástico estrutural, de utilização ainda restrita, mas que tende a
ganhar aceitação por sua leveza e resistência elevada a agentes físicos e químicos, com amplas
possibilidades de pré-fabricação e de fácil montagem.
Para estruturas de cobertura em arco ou em abóbada pode-se também utilizar uma solução
mista, que conjuga o concreto armado com tijolos especiais de barro cozido. O resultado, que alia a
leveza do conjunto com um razoável efeito estético, pode ser visto na Fig. 8.2. Esta solução estrutural se
aplica especialmente a armazéns com grandes vãos e depósitos cobertos, podendo ser utilizada
também na construção de silos.
Os tetos planos exigem, em geral, maiores cuidados de manutenção que os tetos inclinados, daí
somente serem recomendados quando o processo produtivo o justifique, tendo em vista
principalmente a climatização do ambiente.
(1) Pode ser melhorada mediante revestimentos adequados como alvenaria e outros materiais
(nas colunas e nos pisos intermediários, especialmente).
(2) Pode ser melhorada por meio de tratamentos de imunização.
8.7 . COBERTURAS
Com exceção das telhas de barro, os materiais normalmente utilizados nas coberturas são
também utilizáveis para a execução das fachadas ou de divisórias internas das edificações industriais.
Para esses tapamentos, envolvendo normalmente grandes áreas, são utilizáveis as chapas
onduladas de fibrocimento, de aço galvanizado, de alumínio, de madeira aluminizada e de plástico já
apresentadas no item "Cobertura", variando apenas as espessuras recomendadas e os recobrimentos
necessários que poderão ser inferiores aos adotados para a cobertura.
Podem ser ainda utilizados no tapamento lateral das edificações industriais os seguintes
materiais, além daqueles já vistos no item 8.7. "Coberturas":
- chapas planas de fibrocimento. Fabricadas em dimensões padronizadas, podem ser pregadas
ou aparafusadas na estrutura e têm as mesmas propriedades físicas que ás chapas onduladas do mesmo
material. Para divisória s internas podem ser ainda fornecidas sob a forma de painéis compostos
("sanduíches" ) com miolo de isopor ou de poliuretano, melhorando, portanto, suas característica s
térmicas e acústicas;
- alvenaria de tijolos. É um tipo de fechamento somente econômico para pequenas alturas
devido ao seu grande peso próprio.
A execução da alvenaria pode ser em tijolos maciço s ou tijolos furados, ligados com argamassa.
O material do tijolo é usualmente o barro cozido ou o concreto vibrado, obedecendo às especificações
ABNT EB-19, EB-20 e EB-50.
Para alturas superiores a 4-5 m torna-se necessário suportar essa alvenaria por meio de
elementos estruturais de apoio, em concreto ou metálicos, evitando-se o esmagamento da alvenaria
devido ao seu peso próprio e impedindo-se ao mesmo tempo sua flambagem;
-alvenaria de blocos de concreto pré-moldado. Utilizam-se blocos de concreto pré-moldado,
geralmente vasados, ligados por argamassa. Os blocos são executados em concreto simples, sem função
estrutural, atendendo à EB-50 da ABNT;
-concreto celular. Esse material, por sua leveza e acabamento externo, é especialmente
recomendado para o tratamento de grandes áreas nas edificações industriais. É normalmente fornecido
em placas ou blocos, sendo incombustível, resistente às intempéries e dispensando revestimento.
A porosidade do concreto lhe confere muito boas condições de isolamento térmico e acústico,
além de assegurar um baixo peso específico (enquanto o concreto normal pesa de 2 300 a 2 500 kg/m3,
o concreto celular pode ter apenas 1 000 kg/m3).
Além dos materiais acima apresentados existe uma extensa gama de produtos que, em maior
ou menor escala, podem ser utilizados no tratamento e nas divisões internas dos edifícios de uma
indústria:
— placas de concreto pré-moldado;
— painéis de partícula s de madeira prensada;
— painéis de madeira compensada ou laminada;
— chapas metálicas , lisas ou corrugadas, esmaltadas, anodizadas, plastificadas ou galvanizadas;
— plásticos em geral;
— vidros lisos e martelados, armados, translúcido s ou transparentes, em colorações e texturas
diversas;
— chapas de gesso;
— telas metálicas, trançada s ou de metal expandido (tipo deployé), e muito outros produtos
em constante evolução, disputando um mercado sempre crescente.
Merece ainda menção o uso de isolantes térmicos, incorporados ao material de tapamento
lateral e aos forros nos locais frigoríficos e em regiões de clima frio, onde se utiliza a cortiça , o isopor, o
poliuretano etc.
Nos locais dotados de ar condicionado, a escolha do material para tapamento dever á também
ser compatível com o projeto, reduzindo-se assim as perdas por transmissão.
O projeto e a execução dos tapamentos laterais e das divisórias internas nas edificações
industriais devem ainda ser conjugados com as necessidades decorrentes da ventilação e da iluminação
naturais e com as necessidades do tráfego de entrada e de saída na edificação.
A iluminação natural é assegurada por fiadas de chapas translúcidas ou por janelões ao longo da
edificação. Na disposição desses elementos deve-se evitar a incidência direta dos raios solares nos locais
de trabalho, seja pela escolha adequada da posição das chapas ou dos janelões, seja pela previsão de
marquises e quebrassóis (ou brise-soleils) que podem se constituir ainda em motivo decorativo na
fachada da edificação.
A ventilação natural está muitas vezes ligada à iluminação natural das fachadas, devendo os dois
problemas ser analisados conjuntamente desde a fase de anteprojeto, na concepção arquitetônica das
vária s edificações da indústria. (Ver itens 6.2 e 6.7 do Cap. 6.)
O Código de Edificações da cidade de São Paulo (Lei 8266 de 20.07.75) estipula que a área das
aberturas para iluminação e ventilação dos compartimentos de trabalho em uma indústria não deve ser
inferior a 1/5 de sua área de piso.
Em grandes galpões industriais pode-se ainda assegurar a ventilação natural por meio de
aberturas junto ao solo. Essa solução é especialmente indicada para os casos de aciarias, forjarias e
outros locais em que grandes fontes de calor exigem uma ventilação natural eficiente, a qual ser á
estimulada nesse caso pelas correntes ascendentes de ar quente.
Ainda dentro do conceito de tapamento e isolamento de áreas industriais, cabe mencionar as
soluções adotadas para cercas e muros nos limites dessas áreas.
As cercas, vedando o terreno sem reduzir grandemente a visibilidade, são normalmente de tela
montada sobre postes metálicos ou de concreto armado. O afastamento entre postes consecutivos não
deve ultrapassar 4 a 5 m. Quando se tratar de cercas que definam os limites do terreno ou que isolem
instalações de grande periculosidade, devem ser previstos fios de arame farpado no topo dessas cercas.
As cercas metálicas exigem, além disso, cuidados especiais no seu aterramento elétrico, mormente
aquelas delimitando subestações.
Os muros podem ser executados em alvenaria de tijolo ou de pedra, com ou sem revestimento
ou, ainda, em elementos de concreto pré-fabricados, vasados ou não, de fácil montagem e conservação.
Sua altura nos limites dos terrenos não deve ser inferior a 1,80 m.
Resumindo este tópico, diríamos que o material escolhido para os tapamentos laterais de uma
edificação industrial dever á ser compatível com a estrutura dessa edificação e atender ainda aos
seguintes requisitos:
— adequação à concepção arquitetônica;
— facilidade para conservação e limpeza;
— boas características de isolamento térmico e acústico;
— resistência à corrosão, quando o ambiente assim o exigir;
— possibilidade de assegurar boa iluminação natural, onde necessário;
— possibilidade de assegurar boa ventilação natural, onde necessário.
No projeto das edificações industriais e com vistas à segurança dos operadores, deve-se ainda
ter sempre presentes os seguintes pontos:
— as saídas devem ser de tal forma distribuídas e dimensionadas que os operadores possam
deixar o local de trabalho, em momentos de perigo, com toda a segurança;
— as portas nunca deverão ter menos que 1,20 de passagem livre e sempre abrirão no sentido
da evacuação do recinto ou então serão do tipo corrediço horizontal. Ao se abrirem, entretanto, as
portas não deverão bloquear as vias de circulação, principalmente escadas;
— as portas verticais (tipo guilhotina), as de enrolar e as giratórias são proibidas nas divisões
internas da edificação industrial.
As condições impostas pelo uso continuado das áreas pavimentadas de uma indústria exigem
dos pisos das edificações o atendimento de exigências bastante severas.
Dentre essas exigências podemos relacionar como mais importantes as seguintes:
a) resistência mecânica ao esmagamento, ao choque, às vibrações, à abrasão etc.;
b) resistência a agentes químicos e físicos — óleos, solventes, vapores, ácidos, bases, sais, calor,
luz, umidade etc.;
c) segurança - incombustibilidade, características antiderrapantes, não-centelhamento etc.;
d) higiene e conforto — estabilidade física e química, não descorando, não libertando poeiras e
odores, oferecendo bom isolamento acústico e térmico;
e) fácil manutenção — facilidade de limpeza, possibilidade de reparos localizados, possibilidade
de reposição ou de recuperação da superfície de atrito.
Essas exigências não estarão sempre atendidas, em sua totalidade, pelas características de um
determinado piso, sendo mesmo algumas incompatíveis entre si. Conjugando-se, entretanto, as
propriedades do material de revestimento de um piso com as características de sua base, pode-se
chegar às soluções satisfatórias para todos os casos usuais de aplicação industrial. Competirá ao
projetista saber conciliar, de maneira adequada, o que de melhor oferece cada material com o que mais
se exige do piso de cada instalação.
Em indústria s que operem com materiais altamente inflamáveis ou explosivos, o piso deverá,
acima de tudo, impedir o centelhamento gerado por impactos ou pelo escoamento de cargas elétricas;
uma indústria mecânica de alta precisão não poderia operar sobre um piso que forme, devido ao seu
próprio desgaste, poeiras abrasivas; em indústrias alimentícias, a higiene e a resistência à corrosão
causada por matérias orgânicas são fatores preponderantes; em uma fundição o uso de tijolos
refratários pode ser a melhor solução para o revestimento do piso ao redor dos fornos; o piso para um
pátio de cofres de carga (containers) ou uma laminação é solicitado por grandes esforços mecânicos,
principalmente choques. Desses poucos exemplos vemos quão específica é a escolha do piso mais
correto a cada tipo de instalação industrial.
A resistência de um piso industrial deve fazer face a valores máximos admissíveis de
deformação, podendo-se usar para os casos comuns, o dimensionamento do piso sob um carregamento
igual a 4 vezes a maior carga estática prevista ou 6 vezes a maior carga dinâmica . A distribuição dessa
carga sobre o piso é função do tipo de rodas e de rodeies dos equipamentos de transporte, e das
sapatas e bases dos equipamentos em geral, devendo-se, em cada caso, pesquisar as condições mais
desfavoráveis de carregamento.
Para oficinas mecânicas leves, o carregamento adotado varia usualmente entre 500 a 1 500
kg/m2.
No caso de fundições esse carregamento pode atingir 3 000 kg/m2 ou mais.
Havendo grandes impactos e vibrações intensas (estamparias, forjarias etc.), o piso devera ser
estudado juntamente com as fundações dos equipamentos, evitando-se, por meio de juntas
amortecedoras ou de espaços vazios, a propagação dos choques e das vibrações ao restante da
instalação e, em especial, à estrutura da edificação.
O piso industrial deve ter u m pequeno caimento (normalmente adota-se 0,5 a 1,5%). Em pisos
submetidos ao contato com líquidos agressivos (indústrias químicas matadouros etc.) deve-se prever
uma declividade maior, entre 2,5 a 3%.
A execução do piso é normalmente feita sobre leito de terreno compactado sobre o qual se
aplica a base do piso. A base pode ser flexível ou rígida. Bases flexíveis são a areia, a brita e as misturas
betuminosas. A base rígida é usualmente o concreto podendo ser armado ou não.
Sobre a base se aplica o revestimento do piso, que pode ser:
- flexível - plásticos, borracha, misturas betuminosas;
- semi-flexível - blocos de madeira, biocos pré-moldados de concreto, paralelepípedos etc.;
- rígido — cimentado, cerâmica etc.
Quanto à maneira de execução, os pisos podem ainda ser classificados em pisos monolíticos,
aqueles que são inteiramente moldados no local, e os pisos compostos de blocos, lajotas ou outros
elementos pré-fabricado s ou pré-moldados, aplicados sobre base de concreto, areia, brita etc.
1. Concreto. O tipo clássico de piso industrial é o piso monolítico de concreto, sem revestimento
especial, com a base e o revestimento intimamente ligados e constituídos do mesmo material, variando
apenas sua granulometria.
Neste tipo de piso é importante a previsão de juntas de dilatação. Essas juntas podem ser
simples formas de madeira, perdidas entre as placas de piso concretadas, ou podem assumir aspectos
mais elaborados, consistindo de tecidos betuminosos, enchimento com material plástico , juntas de láte
x etc. As juntas devem prevenir as trincas ou fissuras, o desalinhamento entre as placas e a penetração
da umidade.
Como regra prática pode-se admitir que as juntas devem delimitar superfícies
aproximadamente quadradas, não superiores a 25 m2 , evitando-se assim fissuras de retração devidas a
um espaçamento excessivo entre elas. É conveniente fazer coincidir as juntas do piso com as linhas de
pilares, seus múltiplo s ou submúltiplos. Ressalta-se ainda a importância das juntas de dilatação, em
locais sujeitos a grandes variações de temperatura, como no caso de câmaras frigoríficas, casas de
caldeiras e fundições.
O piso de concreto é pouco resistente aos ácidos e aos óleos, o que pode ser contornado em
parte com a utilização de cimentos aluminosos, que apresentam melhor resistência aos agentes
químicos e também ao calor, além de terem um tempo de cura mais curto que o cimento Portland.
O acabamento da superfície de um piso de concreto pode ser áspero (antiderrapante) ou liso
(de fácil limpeza e usualmente denominado cimentado liso).
A grande desvantagem do revestimento de concreto é, entretanto, a tendência à formação de
poeira, oriunda do material do próprio piso, que se desagrega sob forma de minúscula s partícula s e
que, por serem estas abrasivas, podem comprometer os processos de fabricação e os equipamentos de
maior precisão.
A fim de conferir ao revestimento de concreto características de melhor resistência ao desgaste
e para contornar a desvantagem da formação de poeira, desenvolveram-se inúmeras técnicas baseadas
no tratamento de superfície do piso pela aplicação de produtos aditivos ao concreto.
Dentre os tratamentos de superfície que se podem aplicar aos pisos de concreto, cabe citar:
a. Aplicação de uma película, geralmente à base de compostos sintéticos (resina epóxi, emulsão
de acetato de polivinil, borracha sintética etc.). Essa película, de alguns milímetros de espessura, evita o
contato direto das cargas (rodas de veículos, peças que caem, o próprio calçado dos operadores) com o
concreto. Esse tipo de tratamento não confere ao piso melhor resistência mecânica, porém evita a
formação de poeiras abrasivas, reduz ruído s e vibrações, facilita a limpeza e confere ao piso maior
resistência aos agentes químicos.
A aplicação da película exige que a base de concreto esteja perfeitamente curada e a superfície
esteja livre de óleos, graxas ou quaisquer outras substâncias aderidas ao concreto. Na aplicação da
película a pisos antigos, deve-se fazer previamente uma cuidadosa limpeza do piso com querosene,
gasolina ou tricloroetileno. A aplicação da película pode ser feita com rolo, brocha ou por aspersão. O
piso pode voltar a ser utilizado um ou dois dias após a aplicação e a vida útil do tratamento pode ser de
vários anos, dependendo do tipo, da qualidade e da espessura do material aplicado.
b. Adição de agregados abrasivos de grande dureza, dos tipos comercialmente denominados
oxicret, corodur etc., geralmente à base de quartzo, óxido de alumínio, corindon, carborundum e outros
compostos. Esse tipo de tratamento confere ao piso grande resistência à abrasão, boa proteção
antiderrapante e resistência a altas temperaturas (emprego aconselhado em laminações e forjarias).
A espessura da capa de agregado pode variar de 1 a 5 cm e a adição do agregado pode ser feita
em mistura com cimento Portland, ambos secos, sobre base ainda úmida, antes da pega. O piso assim
tratado oferece pelo menos o dobro da resistência ao desgaste do piso de concreto não-tratado.
c. Adição de agregado metálico ao revestimento de concreto. Utilizam-se normalmente
pequenos cavacos de feno fundido, livres de ferrugem, de óleo e de partículas não ferrosas. Esses
cavacos aplicados com cimento Portland seco, em camada de 1 a 2 cm sobre a base de concreto ainda
úmida , permitem atingir-se excelentes condições de resistência mecânica.
Um piso de concreto assim revestido ter á uma vida útil muitas vezes superior à do concreto
não-tratado. Esse é um tratamento especialmente aconselhado para locais sujeitos a impactos, abrasão
e tráfego intenso, atingindo-se uma resistência ao desgaste normalmente até oito vezes superior à do
piso de concreto não-tratado.
A aplicação dos agregados descritos nos itens b e c pode ser seletiva em função da finalidade da
área no arranjo físico da instalação. Assim, as áreas de carga e descarga e as faixas de tráfego intenso
receberão o agregado em maior percentagem na mistura que as áreas de baixa densidade de tráfego e
menos sujeitas a choques e ao atrito.
2. Asfalto. A pavimentação asfáltica é obtida pela aplicação, a quente ou a frio, de uma mistura
de asfalto e agregados sobre uma base de concreto ou de brita.
Esse tipo de pavimento, por sua flexibilidade, é aconselhado para locais submetidos a tráfego
intenso e sujeitos a grande desgaste. Tal é o caso de pátios de manobra de caminhões, área s para
estocagem de grandes peças etc.
É um tipo de piso impermeável, com boas características de absorção de choques, ruídos e
vibrações, não dando origem a poeiras agressivas e resistindo bem aos agentes químicos, exceto
àqueles que atuem como solventes do betume. A espessura da camada de revestimento pode ser de 3 a
5 cm, dependendo das futuras condições de uso.
O asfalto pode ter acabamento liso ou antiderrapante, dispensa juntas de expansão e, dada sua
plasticidade, não é recomendado para locais sujeitos a temperaturas elevadas.
O revestimento asfáltico é ainda recomendado para locais onde deva ser evitado o
centelhamento, usando-se neste caso agregados apropriados a esta finalidade.
3. Pisos constituídos por elementos pré-fabricados ou pré-moldados. A necessidade de redução
do custo de mão-de-obra no acabamento dos pisos e dos prazos necessário s à sua cura, além de
algumas imposições das próprias instalações industriais, levaram ao desenvolvimento de inúmero s
materiais para pisos que podem ser facilmente aplicados, utilizando-se normalmente uma base de
concreto, armado ou não, que conferirá ao conjunto as característica s de resistência já anteriormente
apontadas no estudo dos pisos de concreto.
A espessura dessa base de concreto varia em tomo de 10-15 cm nos casos usuais.
Para os pisos industriais deste gênero, sob a forma de blocos, tijolos, placas, lajotas etc , são
utilizados os materiais seguintes:
a. Paralelepípedos de granito, gnaiss e outras rochas naturais de elevada resistência mecânica .
Esse tipo de piso é indicado para locais sujeitos a grandes choques, onde os esforços concentrados
conduziriam à ruptura de um piso usual de concreto não-flexível.
Como vantagens adicionais, tem-se a facilidade de substituição de áreas danificadas e o
nivelamento local, que pode ser refeito sem dificuldade. A execução do piso em paralelepípedo s deve
obedecer à NB-52 e pode ser feita sobre camada de areia compactada com aproximadamente 10 cm de
espessura, podendo-se utilizar também, para tal fim, o saibro ou pó-de-pedra.
O rejuntamento do pavimento assim constituído poder á ser feito com cimento ou produtos
betuminosos.
b. Blocos pré-moldado s de concreto. Um piso constituído com esse material, do tipo semi-rígido
, pode ser executado facilmente, muitas vezes sobre o próprio terreno natural devidamente
compactado e livre de vegetação e de matéria s orgânicas . Os blocos, de forma retangular, hexagonal
ou com ângulo s reentrantes que permitam o inter travamento das várias peças, serão aplicados
usualmente sobre uma fina camada de areia ou de pó-de-pedra, o que permitir á o nivelamento do
terreno, podendo-se encher as juntas, se desejado, com produtos betuminosos que assegurem uma
relativa impermeabilização.
Esse tipo de piso pode ser usado em galpões destinados a armazenagem em geral e também em
área s de circulação leve.
Não se aconselha esse material para locais sujeitos a grandes impactos ou de tráfego
extremamente pesado, além de não ser recomendado onde seja exigido um nivelamento rigoroso e
duradouro.
c. Cerâmica . Peças de cerâmica, vitrificadas ou não, têm grande aplicação em indústrias
alimentícias, matadouros e indústrias químicas, onde a presença de agentes agressivos não aconselha o
uso de pisos à base de cimento Portland. A aplicação deste tipo de piso exige cuidado especial na
execução das juntas, a fim de não se tomarem um ponto vulnerável ao ataque dos agentes químicos.
Utiliza-se, para tal, argamassas anti ácidas. O revestimento de cerâmica, do qual temos no mercado uma
grande variedade de tipos, permite ainda uma razoável apresentação estética, podendo-se delimitar
com cores distintas as diversas áreas de trabalho.
d. Placas removíveis de concreto de alta resistência. Este tipo de piso é constituído por placas,
em geral quadradas, cuja dimensão vai até 2 m de lado. As bordas dessas placas podem ser reforçadas
com cantoneiras de aço e as placas podem ser dotadas de rebaixos providos de olhais, o que toma
extremamente fácil o seu transporte, sua montagem e a sua eventual remoção. Devem ser aplicadas
diretamente sobre o solo compactado, sobre uma camada de alguns centímetros de areia fina. É um
tipo de piso ideal para as soluções de emergência, permitindo o revestimento rápido de áreas de
grandes galpões, vias de acesso, pátios etc..
e. Chapas ou painéis de aço. Essa proteção é normalmente utilizada em locais que exijam um
piso falso e removível, sobre canaletas que conduzam cabos, tubulações etc. Utiliza-se também esta
solução no caso de passarelas e de plataformas elevadas, em centrais térmicas, instalações
petroquímicas e outros locais que exijam total incombustibilidade do piso. A fim de se obter um piso
antiderrapante, usa-se normalmente chapa de aço tipo xadrez ou corrugada, chapa lisa com
revestimento abrasivo (tipo lixa), chapa perfurada ou ainda chapa expandida (metal deployé). Em locais
sujeitos a grande umidade, é aconselhável o uso de chapas ou painéis galvanizados.
Um tipo especial, constituído de placas revestidas com borracha ou material plástico, pode ser
usado como piso falso removível em salas de computadores e centros de controle.
f. Blocos ou tacos de madeira. Constituem um tipo de piso bastante adequado às áreas que
circundam máquinas operatrizes, pois:
- absorvem sons e vibrações;
- não originam poeira;
- são de fácil substituição e sua limpeza é feita por simples raspagem;
- ao contrário do concreto, que é um piso "frio" e nocivo à saúde quando sobre ele se trabalha
durante longos períodos, o piso de madeira é um bom isolante térmico, dando conforto ao operador;
- por ser elástica e de baixa dureza, a madeira protege as ferramentas e peças que caem,
absorvendo os choques e evitando mossas e fraturas nas mesmas;
- não dão origem a centelhas.
Esses pisos são constituídos por blocos de madeira, geralmente assentados com as fibras
orientadas verticalmente, sobre uma base de concreto, com aplicação de uma capa de betume ou uma
camada de areia. Não é aconselhável seu uso em locais excessivamente úmidos. Segundo a orientação
vertical ou horizontal dada às fibras da madeira, os blocos ou tacos podem apresentar maior ou menor
resistência ao esmagamento.
A impermeabilidade e a longa vida desse tipo de piso são asseguradas com o tratamento prévio,
à base de creosoto, dos blocos ou tacos, o que também lhes confere propriedades retardantes ao fogo.
g. Revestimento à base de borracha e de materiais plásticos . Esses tipos de piso, que ganham
importância dia a dia, são especialmente indicados para as área s administrativas e sociais da indústria,
onde vêm substituindo os tacos de madeira e a cerâmica. Corredores de grande circulação, cantinas,
escritórios, ambulatórios, laboratórios, salas de controle e casas de comando de subestações são alguns
locais que aceitam com grandes vantagens esses materiais de revestimento. As características principais
dos pisos de borracha ou de materiais plástico s são sua resistência a agentes químicos, facilidade de
limpeza, possibilidade de coloração viva, impermeabilidade, absorção de ruídos e vibrações, bom
isolamento térmico e elétrico e anti-derrapância (podem ser lisos ou estriados). Os pisos de borracha
não dão origem a centelhas e são fornecidos em lençol ou em plaquetas. Para melhor fixação, a contra-
face pode ser dotada de estrias que aderem melhor à base.
Os pisos de plástico podem ser aplicados sob forma de lençóis ou de plaquetas. Sua espessura é
em geral de 2,5 a 5 mm. A aplicação se faz com adesivos especiais, fornecidos normalmente pelo
próprio fabricante do piso.
O material mais utilizado para os pisos plástico s é o PVC, podendo ter o reforço de fibras de
amianto, ligas asfálticas e resinas sintética s de vário s tipos.
Uma variação mais recente são os chamados pisos non woven, de fácil instalação e limpeza,
impregnados com resinas e compostos que repelem a sujeira e permitem sua fácil lavagem e secagem. É
um material especialmente recomendado para os locais administrativos que requeiram a melhor
apresentação.
h. Placas metálicas . Este piso é o mais aconselhado para locais sujeitos a condições extremas de
tráfego e choques. Trata-se de placas de aço ou de ferro fundido, estriadas ou perfuradas, com as
bordas em forma de garra, aplicadas, antes da cura, sobre base de concreto, onde ficam solidamente
ancoradas. É um piso extremamente durável, não origina poeira e é de fácil limpeza. Tem as
desvantagens de absorver mal o ruído e de ser magnético, além de derrapante quando em contato com
o óleo.
4. Revestimento de brita. Embora não possa ser considerado um tipo de piso na acepção usual
do termo, citaremos também a brita, aplicada em camada solta sobre superfícies expostas ao tempo,
principalmente em área s de subestações e refinarias.
Uma camada de 10 cm de espessura é satisfatória na maioria das aplicações.
Seu uso em instalações elétricas expostas ao tempo é recomendado por suas propriedades de
isolamento elétrico, protegendo operadores contra os efeitos das correntes de fuga escoando através
do solo.
A sua incombustibilidade e a relativa permeabilidade às água s pluviais e aos líquidos em geral
(restos de óleo, principalmente) tornam a brita adequada à aplicação em áreas externas, não
submetidas diretamente ao tráfego de veículos. A camada de brita previne a formação de lama e
permite ainda que se eliminem quase completamente as pragas vegetais, que cresceriam normalmente
em um solo natural. Essa vantagem pode ser reforçada com a aplicação periódica de herbicidas, cuja
retenção é também facilitada pela brita.
As características dos diversos tipos de pisos industriais aqui apresentados foram reunidas no
Quadro 8.3, para maior facilidade de comparação entre as possíveis soluções a serem pesquisadas em
cada caso prático.
Para facilitar a tarefa de seleção do tipo mais adequado deve-se ainda utilizar o roteiro que se
segue, na determinação da solução mais recomendada para o piso de um local industrial.
1. Determinar o tipo e o valor das cargas que atuarão sobre o piso industrial.
Distinguir principalmente os efeitos estático s dos efeitos dinâmicos.
2. Levantar as característica s do solo existente no local.
3. Definir a base requerida, determinando suas características de execução (base armada e não
armada, necessidade de impermeabilização etc.).
4. Selecionar e dimensionar os revestimentos adequados às condições de trabalho, levando em
consideração:
a. adequação ao processo;
b. resistência mecânica ;
c. resistência a agentes físico s e químicos ;
d. exigências ditadas pela segurança e pelo conforto.
5. Comparar pelo critério de custos, as soluções tecnicamente aceitáveis, levando em conta:
a. o custo do investimento inicial;
b. a vida útil esperada;
c. os custos de manutenção (reparação e limpeza).
6. Definir o método de aplicação da base e do revestimento, o tipo de juntas, a textura e a
coloração do revestimento, se for o caso.
Ao se fazer a seleção de um tipo de piso para uma grande área industrial, deve-se ter ainda em mente
que:
a. provavelmente, mais da metade do volume de concreto utilizado na implantação de uma
indústria ter á por finalidade a constituição do seu piso ou, pelo menos, da base desse piso;
b. um piso industrial mal executado, mal dimensionado ou de material impróprio às condições
de operação da indústria poder á estar condenado antes mesmo do início de operação dessa indústria ,
podendo sua vida útil reduzir-se, nos casos mais graves, a apenas alguns meses de utilização;
c. sendo o piso uma parte exposta das edificações, tal como suas paredes e teto, faz também
parte do ambiente de trabalho na indústria . O aspecto e a cor desse piso e sua boa conservação
influirão, portanto, diretamente, no conforto ambiental e terão sobre o operador o mesmo efeito que a
pintura das paredes e a coloração dos demais componentes do recinto de trabalho.
8.12. FUNDAÇÕES
As fundações de uma indústria devem atender a duas finalidades básicas e distintas:
- transmitir ao solo o carregamento estático decorrente das edificações, reservatórios, área s de
estocagem etc., onde as cargas são constantes ou variam tão lentamente que não exercem nenhum
efeito dinâmico apreciável;
- transmitir ao solo o carregamento dinâmico decorrente dos equipamentos industriais em
operação, tais como geradores, motores, máquina s operatrizes, transportadores, enfim, todos os
componentes industriais que no seu funcionamento acrescentam, ao carregamento estático decorrente
de seu peso próprio, um carregamento dinâmico, de variação mais ou menos brusca, cíclica ou não.
A fundação ter á sido bem calculada e corretamente executada, quando as deformações
introduzidas no solo pela presença do carregamento não conduzam a recalques que possam afetar a
estrutura da edificação e o alinhamento e nivelamento dos equipamentos, nem propaguem vibrações
indesejáveis às partes vizinhas das instalações.
Para o cálculo de uma fundação é, portanto, necessário caracterizar bem as forças aplicadas ao
solo e conhecer a capacidade desse solo para reagir a essas forças .
A capacidade de carga do solo depende de sua resistência à compressão, de sua resistência ao
cisalhamento, de sua permeabilidade à água, de sua granulometria, e do nível atingido pelo lençol de
água subterrâneo, e seu estudo deve permitir relacionar outras grandezas que também possam influir
na escolha do tipo e no dimensionamento das fundações.
Para determinação das características do solo, recorre-se aos ensaios geotécnicos e às
sondagens no local, cujos métodos de execução, localização e número de furos dependerá da
importância da obra, do valor das cargas atuantes e da maior ou menor homogeneidade do solo, a ser
constatada logo nos primeiros furos. É em geral preferível ter-se um solo de qualidade medíocre, porém
homogênea, a se ter um solo de boa qualidade, porém heterogêneo.
A execução das sondagens deve obedecer à norma brasileira NB-12, que define o número
mínimo de furos a serem executados em determinada área, bem como a maneira de executá-los.
Em princípio, deve-se objetivar, com os ensaios geotécnicos e os vários furos de sondagem,
estabelecer um perfeito levantamento da qualidade do solo em cada ponto do terreno. Os furos de
sondagem devem ser mais próximos:
- onde o solo se apresente mais heterogêneo;
- nas áreas "críticas" do arranjo físico, ou seja, nos locais de maior concentração de
equipamentos e de estruturas pesadas;
- nos locais destinados a certos equipamentos ou instalações, como laminadores, prensas,
castelos d'água, fornos etc.
Os furos de sondagem podem ser mais afastados junto às divisas do terreno, quando se dispuser
de resultados de sondagens já efetuados nas propriedades vizinhas.
Os ensaios mais simples são normalmente executados pelo método de penetração. Em casos
mais complexos, havendo necessidade da determinação das características do solo quanto a sua
permeabilidade, granulometria etc., adotam-se as sondagens especiais com extração de amostras
indeformadas.
Através dos Relatórios de Sondagem, documentos técnicos que reúnem os dados obtidos para
cada furo, chegar-se-á à definição da pressão ou taxa admissível do terreno, expressa em kg/cm2. Essa
taxa define a qualidade do terreno e não dever á ser ultrapassada por ação das cargas atuantes, sob
pena de provocar no solo deformações irreversíveis, que originarão desnivelamentos, fendas e mesmo
trincas nas fundações e nas estruturas.
O Quadro 8.4 reúne valores representativos da pressão admissível em diversos tipos de solo,
para simples orientação do leitor quanto à sua ordem de grandeza.
O projeto de uma fundação consistirá, basicamente, em conciliar o carregamento imposto ao
solo com a resistência deste último. Isto se consegue com a observância das etapas seguintes:
1. Determinação do carregamento aplicado ao solo pelas estruturas e equipamentos, listando-se
as cargas estáticas e dinâmicas, permanentes e acidentais, bem como a orientação dessas cargas (se
inclinadas ou verticais), e a presença eventual de momentos decorrentes do carregamento. Essas
informações permitirão elaborar a denominada Planta de Cargas da edificação.
Quadro 8.4. PRESSÕES ADMISSÍVEIS PARA DIVERSOS TIPOS DE SOLO (Valores meramente ilustrativos,
não devendo ser tomados para efeito de cálculos definitivos)
Tipo do solo Pressão admissível
(kg/cm2)
Aterro heterogêneo não compactado até 0,5
Aterro com areia até 1
Argila mole até 1
Argila arenosa mole 1 a 1.5
Argila de consistência média 1a2
Argila dura 2a3
Argila muito dura 3a4
Areia fina compacta 1a2
Areia grossa compacta 2a3
Areia grossa compacta com pedregulhos 4a5
Pedregulhos de difícil remoção por meios manuais 8 a 10
Terreno rochoso, com pequenas fissuras até 35
Rocha viva maciça sem fissura até 100
2. Escolha do tipo de fundação que seja compatível com a taxa admissível do solo e que seja
adequada, por seu material e pelo processo de execução, com o nível do lenço l de água subterrâneo e
com o grau de agressividade do solo e das águas.
3. Análise do perigo de recalques diferenciais que possam advir do tipo de fundação escolhido,
principalmente em se tratando de fundações de máquina s rigidamente acopladas, onde esses recalques
não são admissíveis.
4. Estudo do isolamento da fundação ou da incorporação de elementos amortecedores de
choques no caso de equipamentos causadores de carregamentos dinâmicos intensos.
5. Determinação da massa total da fundação de maneira a se evitar, através do cálculo, no caso
de carregamentos dinâmicos com freqüência definida, que o conjunto "equipamento + fundação" tenha
uma freqüência natural próxima da freqüência imposta pelo carregamento variável (perigo de
ressonância).
Além das fundações para as edificações industriais, silos, reservatórios etc., sujeitas a
carregamentos eminentemente estáticos, são de grande importância em uma indústria as fundações
para equipamentos, sujeitas, usualmente, a carregamentos dinâmicos de difícil quantificação e
envolvendo, muitas vezes, complexos problemas de mecânica vibratória.
Como regras básica s para execução de uma fundação desse gênero devemos considerar as
apresentadas a seguir.
1. O maciço de fundação para um equipamento que origine cargas dinâmicas de grande
intensidade deve estar isolado das estruturas, seja por meio de lâminas de ar, seja por camadas
absorventes de lã de rocha, cortiça, borracha, molas ou outros dispositivos especiais. Toda e qualquer
ligação rígida com o restante da instalação através de tubulações, estrados, passarelas etc. dever á ser
evitada, pois serão pontos de propagação de choques e vibrações aos demais equipamentos, ao piso e
às estruturas vizinhas.
2. A fundação não deve, por falta de rigidez ou mau dimensionamento, introduzir tensões e
deformações no equipamento; a ligação equipamento-fundação deve ser de molde a impedir que
deslocamentos verticais ou horizontais prejudiquem o funcionamento do equipamento no contexto da
instalação.
3. A fundação deve ter formas simples, livre sempre que possível de entalhes desnecessário s e
de partes em balanço . Recomenda-se obedecer os planos de simetria do equipamento.
4. O ponto de aplicação da força resultante dos carregamentos impostos pelo equipamento
deve, sempre que possível , coincidir com o centro de gravidade da área de apoio da fundação sobre o
solo, com o que se evitam os recalques diferenciais e os desalinhamentos muitas vezes inaceitáveis .
5. Fundações abaixo do nível do lençol freático correm o risco de sofrer infiltrações, além de
propagarem a grandes distância s as vibrações transmitidas pelo equipamento.
Deve-se prever, nesse caso, um caixão impermeabilizado, dentro do qual se apóia o maciço da
fundação sobre molas ou outros dispositivos para amortecimento.
6. Como regra geral, para equipamentos alternativos e rotativos que induzam vibrações de
freqüência inferior a 500 cps, as fundações devem ser leves, sobre base rígida; para equipamentos
alternativos e rotativos que induzem vibrações de freqüência variando de 500 a 1 000 cps, as fundações
devem ter grande massa, assentes sobre base elástica constituída por elementos amortecedores de
vibração; para equipamentos alternativos e rotativos que induzam vibrações de freqüência superior a
1000 cps, como é o caso de turbinas, centrifugadores etc. a fundação deve ter grande massa e apoiar-se
naturalmente sobre o solo, o que oferecer á uma elasticidade satisfatória ao sistema.
7. Equipamentos que produzam grandes choques isolados e não periódicos , como é o caso de
martelos, prensas etc , devem possuir fundações de grande massa com suportes elástico s que
absorvam ao máximo os choques, evitando sua propagação ao terreno, às fundações de equipamentos
adjacentes e às estruturas vizinhas. Isto é especialmente importante no caso de solos pulverulentos,
mais sensíveis às vibrações.
8. Equipamentos de pequeno e médio porte, tais como esmerilhadoras, tornos mecânico s de
pequenas dimensões, furadeiras de coluna etc. poderão ser assentes diretamente sobre o piso
industrial, sem a necessidade de fundações independentes. Para tal, o piso dever á ter sido
dimensionado para esse fim, admitindo um carregamento útil de 1 000 a 2 000 kg/m2, valor satisfatório
para permitir a instalação desses equipamentos sem fundações independentes.
No estudo das fundações e de problemas afins é oportuno ter-se à mão as seguintes normas:
NB-1 - Cálculo e execução de obras de concreto armado.
NB-5 - Cargas para o cálculo de estruturas de edifícios.
NB-12 - Normas gerais de sondagens de reconhecimento para fundações de edifícios.
NB-20 - Prova de carga à compressão de estacas verticais.
NB-27 - Prova de carga direta sobre terreno de fundação.
NB-51 - Projeto e execução de fundações.
Os códigos de obras e de edificações adotados pelas diversas municipalidades também incluem,
via de regra, exigências e restrições aplicáveis ao projeto e à execução de fundações.