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SISTEMAS E MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

A CONSTRUÇÃO METÁLICA:
POTENCIALIDADES, LINGUAGEM E PROCESSO CONSTRUTIVO

G03
Fernanda Oliveira
Lisa Franke
Raul Fontes

C2LAB
Laboratório de Construção da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Prof. Nuno Lacerda Lopes
c2faup@gmail.com
ABSTRACT
O seguinte trabalho vem abordar a questão do metal na
arquitectura, mais propriamente no que se refere à utilização
deste material no sistema construtivo de um edifício. A
exploração dos potenciais deste material possibilita, assim,
perceber de que forma a sua escolha na construção pode ou
não ser positiva, e quais as maiores vantagens e
desvantagens da sua utilização. Para tal, foi primordial
entender o processo de construção do Pavilhão de Fafe, do
Arquitecto Carlos Prata, analisando a montagem dos diversos
elementos metálicos e não metálicos na estrutura do edifício,
e reconhecendo a ligação de todas as partes, para que a
conclusão retirada fosse clara e objectiva.
MATERIAIS E SISTEMAS DE CONSTRUÇÃO
A CONSTRUÇÃO METÁLICA: POTENCIALIDADES, LINGUAGEM E PROCESSO CONSTRUTIVO

Fig.1 Pavilhão Multiusos de Fafe, do arquitecto Carlos Prata

P. 3
Fig.2 Edifício Crown Hall (II T, 1956) do arquitecto Mies Van der Rohe
01
O Edifício, Contexto e
Cronologia
O Pavilhão Multiusos, projectado em 2002-2003 pelo
arquitecto Carlos Prata (com colaboração de Nuno Barbosa e
Sara Almeida), está localizado no Parque Urbano da Cidade
de Fafe. Esta obra constitui um exemplo emblemático de
um edifício de estrutura metálica - a expressão do edifício
é claramente a da linguagem do ferro. Tanto no exterior como
no interior se procurou respeitar a coerência dessa linguagem
até ao mais pequeno dos pormenores construtivos.1

Assim, podemos afirmar que a estrutura metálica do pavilhão


é o que mais caracteriza esta obra, além de apresentar claras
vantagens funcionais neste tipo de edifício por, entre outros,
permitir grandes dimensões de vãos. Deste modo, as seis
grandiosas vigas de ferro salientes, que suspendem a
cobertura, marcam claramente a imagem do Pavilhão de Fafe.
É de salientar ainda que Carlos Prata desenhou-o com uma
clara referência e homenagem à obra Crown Hall (IIT, 1956)
do arquitecto Mies Van der Rohe.

O edifício, tal como o seu nome indica, foi projectado por


forma a dar resposta a diversas funções, nomeadamente
actividades desportivas, feiras ou exposições e espectáculos
ou assembleias. Desta forma, a sua plurifuncionalidade
obrigou a uma organização interna especialmente flexível.
Para tal, Carlos Prata recorreu à divisão do pavilhão em várias
áreas sectorizadas, que possibilitam diferentes formas de
articulação entre si.

Fig.3 Alçado e Corte do Pavilhão Multiusos de Fafe

1
PRATA, Carlos. Memória descritiva do projecto de execução do Pavilhão
Multiusos CM Fafe. Porto, 2000
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A CONSTRUÇÃO METÁLICA: POTENCIALIDADES, LINGUAGEM E PROCESSO CONSTRUTIVO

. atravessamento do vazio do recinto desportivo, fizeram com

02
que a opção estrutural tomada tenha recaído sobre longas
vigas metálicas que percorrem toda a largura do edifício e que
descarregam sobre perfis metálicos nas suas extremidades.

Aspectos tipológicos e Assim, quais são as qualidades do material que permitem as

construtivos do edifício referidas vantagens que associamos imediatamente à


construção metálica?

A construção de estruturas metálicas apareceu em meados do


séc. XVIII quando Abraham Darby III e o engenheiro Thomas
Pritchard projectaram, na localidade de Coalbrook na
Inglaterra, uma ponte em ferro forjado sobre o rio Severn.2 Ao
longo de mais de um século, este processo construtivo,
acabou por ser utilizado em pontes, contribuindo para o
distanciamento entre arquitectos e engenheiros da época. Os
primeiros seguiam os padrões conservadores classicistas,
enquanto as obras de engenharia seguiam as potencialidades
que adivinhavam a revolução industrial.

Em meados do séc. XIX surgiram os primeiros perfis metálicos


em forma de I que se tornaram o primeiro material
normalizado para a construção civil e que acabariam por
desempenhar um papel fundamental na construção da época,
ao substituírem os elementos estruturais que eram de madeira
(Mais caros, não ofereciam grande protecção contra incêndios
e não respondiam à necessidade de maior distância entre
apoios.)

Com o avanço da indústria siderúrgica, o ferro forjado deu


lugar ao aço que passou a ser, no final do mesmo século, o
metal preferencialmente usado na construção.3

Após ter sido explorada no uso de grandes vãos, a estrutura


metálica foi potencializada por Gustave Eiffel, na construção
em altura, quando projectou a mítica torre com o seu nome,
em treliça metálica, para a Expo 1889, em Paris. A torre de
324 metros de altura foi a estrutura mais alta do mundo desde
a sua conclusão até 1930, quando perdeu o posto para o
Chrysler Building, em Nova Iorque.

Actualmente estas estruturas continuam a oferecer como


principal vantagem, em comparação às de betão, o peso
reduzido que permite vencer maiores vãos, aumentando a
área útil e reduzindo o custo em fundações. No caso da obra
em estudo, o programa e a consequente necessidade de

2
Hart, F. Henn, W.Franz Hart. Hansjungen Geschossbauten. Barcelona: Editorial
Gustavo Gili, S.A, 1976. pág.9
3
Estrutura metálica e inovação – uma história com mais de dois séculos. Medabil
<Disponível em http://construcaoemtemporecorde.com.br/diariodaobra/estrutura-
metalica-e-inovacao-uma-historia-com-mais-de-dois-seculos/. Acedido em
10/11/2013 >

P. 5
vantagem de permitir uma maior rapidez de construção, assim

03
como uma possível redução de custos de obra.

Outro ponto valioso do metal é o facto de o aço suportar mais

Aspectos Técnicos carga do que o betão, pelo que origina espessuras menores
em elementos estruturais tais como pilares e vigas. O

dos Materiais Pavilhão de Fafe é um exemplo do aproveitamento desta


vantagem – se as vigas salientes fossem de betão,
A utilização de metais na arquitectura deve-se sobretudo a provavelmente iriam ter uma altura de 5 metros em vez dos
propriedades que estes possuem tais como a resistência 2,5 metros que apresentam as suas vigas metálicas. Assim, a
mecânica relativamente alta, ductilidade, dureza, interesse sua grande capacidade de carga possibilita consideráveis
estético (brilho,…) baixa resistência eléctrica, alta dimensões de vãos livres, pois necessita de pouca espessura
condutibilidade térmica e, ainda, uma enorme capacidade de para os elementos estruturais e, consequentemente, de
flexibilidade/adaptabilidade na criatividade arquitectónica. menos espaço para os mesmos. Além desta vantagem,
Assim, na arquitectura o metal é geralmente utilizado como oferece também mais economia nas fundações - uma vez que
material estrutural, de acabamento e de protecção (rufos, elas terão que sustentar menos peso, passarão a possuir
algerozes, entre outros). dimensões menores, que acabará por gastar menos material.

De forma resumida, a construção metálica baseia-se num De referir é também o facto de que o metal poder ser
princípio simples de junção de elementos estruturais, como considerado um material sustentável, pois é reciclável, ao
pilares e vigas, que irão suportar, entre outros, as lajes e contrário do betão, que não pode ser reaproveitado. Desta
paredes divisórias.4 O facto das vigas e pilares serem peças forma, geralmente não existe desperdício de material no
separadas, ligadas apenas em obra, faz com que a junção trabalho com metais. Contudo, a resolução de problemas em
entre os vários perfis metálicos seja uma preocupação obra é mais imediata na construção em betão e alvenaria,
essencial neste tipo de construção, pelo que tem de garantir podendo ser realizadas alterações e correcções em obra. Em
ainda uma coerência com a intenção do arquitecto no contraponto, a estrutura metálica deve estar milimetricamente
desenho do edifício. As formas de conexão são geralmente encaixada e sem rasgos – no caso de existirem, o trabalho
divididas em dois tipos, podendo ser realizada através da tem de ser refeito - uma única abertura pode servir de
soldagem dos elementos e/ou através de um mecanismo de depósito de humidade que, entre outros, poderá conduzir à
ligação entre os elementos, em norma com a ajuda de um corrosão dos elementos metálicos.
terceiro elemento (parafusados, encaixados).5
Metais geralmente utilizados na arquitectura
Assim, a estrutura metálica, sempre de aço, possui unidades6 O aço e o alumínio podem ser considerados os metais mais
industriais desenhadas para permitirem o encaixe umas nas utilizados na arquitectura.8 O alumínio dá forma às esquadrias,
outras, calculadas e desenhadas com o intuito de poderem caixilharias, portas, coberturas e fachadas, não sendo
ser aplicáveis na construção de qualquer edifício. Essas utilizado como elemento estrutural devido ao seu custo
unidades, os chamados perfis, têm uma espessura variável e elevado e à sua baixa capacidade de sustentação. Por sua
caracterizam-se pelo contorno de letras do alfabeto, partindo vez, o aço, além das esquadrias em geral, está presente
do I básico, existindo também o H, o C, o U e a cantoneira em também na estrutura – em colunas, pilares e vigas.9
L, entre outras. Pode-se afirmar que foi a necessidade de aliar
a resistência à estética que esteve na base do Quanto ao alumínio, podemos mencionar vantagens como a
desenvolvimento destes padrões de perfis metálicos.7 Além leveza, a estabilidade bem como o seu interesse estético. É
destes aspectos, a normalização e pré-fabricação tem a clara um elemento que possui uma boa condutibilidade, tornando-o
num material de construção muito utilizado na arquitectura,
geralmente utilizado sob a forma de chapas (laminados) ou
4
extrudados.10 A sua grande vantagem está no facto de ele não
STEEL BUILDINGS IN EUROPE. Multi-Storey Steel Buildings. 2010 <Disponível
em http://amsections.arcelormittal.com/fileadmin/redaction/4-Library/4- enferrujar, e, portanto, estar livre de problemas como a
SBE/EN/MSB08_Description_of_member_resistance_calculator.pdf, acedido em
15-11-2013>
5
Ibid
6
Tecnologia da edificação I – Metais. Departamento de Arquitectura, UFSC. 8
Ibid
9
<Disponível em: http://www.arq.ufsc.br/arq5661/Metais/metais.html, acedido em 19- De referir ainda é o facto de o aço ser também o material dos vergalhões - o
11-2013> esqueleto do betão armado.
7 10
Ibid Ibid
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humidade. Por isso, é muito usado, como referido tratados aquando do seu fabrico, podem levar à corrosão e
anteriormente, em esquadrias, portas, portões e grades, consequente colapso da estrutura; interessa também referir
dispensando assim tratamentos especiais, mesmo em zonas que toda a estrutura necessita de cuidados especiais, na
muito húmidas. Apesar desta resistência à acção do tempo, o junção dos diferentes elementos (pilares, vigas e lajes), para
alumínio torna-se frágil quando materiais alcalinos (cimento, que as movimentações diferenciadas dos diversos
cal e derivados) se aproximam, devendo ser por isso componentes não resultem em patologias. 13
protegido em construção por plásticos ou películas protectoras
aderentes, com o objectivo de evitar a corrosão.11 Em suma, a construção metálica tem claramente vantagens
quando aplicada em edifícios como fábricas, armazéns,
Metais como o zinco são utilizados geralmente nas funções de pavilhões desportivos, estações de transportes, centros de
protecção do edifício, aplicado também por Carlos Prata no exposições, entre outros. Contudo, é também adoptada em
rufo do Pavilhão de Fafe. edifícios residenciais que começaram a exigir novas
qualidades/características, como a possibilidade de grandes
Como excelentes condutores, os metais são também incluídos superfícies envidraçadas e vãos consideráveis. A já referida
em projectos de arquitectura no que respeita a sua procura de liberdade na criatividade do arquitecto, permitida
infraestruturação. Assim, o cobre é um exemplo para esta através da grande flexibilidade oferecida pela construção
função que, além de servir de condutor eléctrico, é também metálica, é seguramente um factor que leva à preferência e
aplicado em instalações de água, esgotos, gás, pluviais, ou adopção deste sistema construtivo. Aspectos como a
coberturas, (impermeabilizações de terraços,…). possibilidade de aplicar cores aos metais com processos
como a anodização14 ou a pintura electrostática15
O aço, o material da estrutura metálica, é o que geralmente desenvolvidos pela indústria, ultra passam claramente o nível
nos referimos quando falamos de ferro. Na verdade o ferro, maioritariamente funcional que a construção metálica possuía
por não ter resistência mecânica, é usado apenas em ainda no século XIX.
elementos como grades, portões, e guardas decorativas, em
que se aproveita a plasticidade do material. Em contraponto, o
aço é empregado quando a responsabilidade estrutural
começa a surgir. Actualmente, existem três qualidades do aço
disponíveis no mercado: o carbono, o cortain e o galvanizado.
A diferença entre eles está no tratamento anticorrosivo de
cada um, que determina também a função que podem
desempenhar. 12

Podemos concluir que naturalmente as especificidades de


cada projecto são as principais condicionantes da opção
estrutural do arquitecto, no entanto, de um modo geral,
quando a escolha é a estrutura metálica, são tidos em conta
factores como a rapidez de execução, a “leveza” e “beleza”
das estruturas, a sua flexibilidade, que permite
acrescentar/adaptar elementos, e a facilidade de
desmontagem e reaproveitamento. Contudo, um sistema
construtivo desta natureza está sujeito a um elevado número
de cuidados, relativos às propriedades dos materiais, que
importa referir: como bons condutores térmicos e sonoros que
são, os metais exigem isolamentos eficazes que anulem
pontes térmicas e acústicas entre a estrutura e o interior do
edifício; por outro lado, estes elementos estão sujeitos a
agressões químicas que, caso não sejam devidamente
13
Tecnologia da edificação I – Metais. Departamento de Arquitectura, UFSC.
<Disponível em: http://www.arq.ufsc.br/arq5661/Metais/metais.html, acedido em 19-
11
Tecnologia da edificação I – Metais. Departamento de Arquitectura, UFSC. 11-2013>
14
<Disponível em: http://www.arq.ufsc.br/arq5661/Metais/metais.html, acedido em 19- Processo que imprime cores diferentes ao metal, naturalmente prateado, sem
11-2013> alterar a sua aparência original. É possível encontrar o alumínio anodizado em
12
Ibid diversas cores, sendo o preto e o bronze os mais comuns.
15 O metal é cobrido por uma camada colorida

P. 7
dividido em duas partes - uma leve e suspensa e outra
agarrada à terra.17
O arquitecto, para conseguir traduzir essa intenção de

04 linguagem na construção do Pavilhão, recorre a grandes


panos de vidro que reforçam a legibilidade do esqueleto
estrutural; recobre as paredes do piso térreo com o mesmo

O Processo Construtivo material do pavimento (apainelados folheados a pau cetim),


constituindo como que uma caixa interior, aberta para o pátio
exterior; e ainda trata o espaço dos restantes pisos com os
mesmos materiais de revestimento – vidraço Ataíja crème em
pavimentos e lambrins – e superfícies pintadas, lisas e
A nível construtivo, o Pavilhão caracteriza-se essencialmente contínuas, na restante porção das paredes e nos tectos.
pelo seu sistema de cobertura – excepcional pelas vigas
metálicas salientes - e pela sua estrutura porticada. De referir ainda é a função dos muros de retenção das
terras (na fachada adjacente à via rodoviária) que se
O sistema construtivo da cobertura é formado por uma grelha encontram- ligados à estrutura, fazendo um contraventamento
reticulada de perfis metálicos (IPE 240), que apoia uma laje mais eficaz desta nas duas direcções.
colaborante (chapa de ferro + betão), sobre a qual é colocada
a camada de forma (betão leve), o isolamento térmico Projecto de execução vs Obra construída
(poliestereno extrudido) protegido, por cima e por baixo,
através de uma manta geotêxtil, sobre a qual é colocada a tela A partir da análise dos desenhos construtivos, coloca-se a
PVC (SIKA). Por sua vez, a grelha é suspensa por seis vigas hipótese de que a obra não tenha sido realmente construída
metálicas de alma cheia com 2,5 metros (salientes), apoiadas conforme indicada no projecto de execução. O problema que
em pilares metálicos (perfis HEB400). A grelha metálica é julgamos existir está no sistema de união das vigas principais
ainda apoiada nos pilares metálicos que constituem os à grelha metálica que sustenta a laje. Se o projecto de
elementos de suporte das caixilharias das fachadas execução estivesse correcto, não haveria possibilidade de
envidraçadas. No que respeita ao emprego de metais em qualquer movimento entre os elementos, que estariam unidos
funções de protecção, podemos mencionar a utilização da por betão. Esse movimento é indispensável devido às
chapa de zinco na cobertura, aplicada em algerozes, características dos metais, que dilatam e contraem sob
pestanas, abas, rufos, remates e em revestimento de caleiras. determinadas circunstâncias térmicas.
Por fim, é colocado ainda isolamento acústico (SONEX) entre
a chapa de ferro da laje colaborante e a grelha metálica. Assim, teria de haver um espaçamento entre a viga principal e
a laje, onde entraria um terceiro elemento metálico que faria a
Em contraste com a leveza do sistema estrutural união entre ambas e que permitiria a margem de manobra
metálico da cobertura, no primeiro piso as lajes (aligeiradas de necessária para o referido movimento (Fig.5 e Fig.8). Esta
vigotas) são suportadas por vigas de betão armado e, em hipótese foi desenhada também pelo engenheiro da obra
parte, por vigas metálicas que apoiam em muros de suporte (Fig.5), pelo que deduzimos que tenha sido realmente esse o
de terras e em paredes de betão armado. Assim, o piso 0 é sistema adaptado.
composto por paredes de betão armado, exceptuando a
fachada norte, que é envidraçada (as fachadas dos restantes
pisos (1 e 2) são envidraçadas em todo o seu perímetro). Este
pavimento é assim agarrado ao piso térreo – (tanto) estrutural
como formalmente.16

As lajes das galerias do segundo piso são


constituídas por lajes aligeiradas (0,15 m de espessura), que
se apoiam numa grelha metálica. Carlos Prata utilizou um
sistema de suporte destas lajes que reforça a ideia de
“levitação” - a referida grelha metálica é suportada por apoios
pontuais constituídos por varões de aço suspensos das vigas
de alma cheia que sustentam a grelha da cobertura, existindo
ainda apoio numa das extremidades nos pilares metálicos que
suportam a cobertura (exterior). Assim, as galerias parecem
“levitar” no Pavilhão, tal como a cobertura sem apoios, porque
pouco visíveis do interior. Desta maneira, o edifício parece ser
Fig.5 Pormenor de suspensão da grelha de cobertura

16 17
PRATA, Carlos. Memória descritiva do projecto de execução do Pavilhão PRATA, Carlos. Memória descritiva do projecto de execução do Pavilhão
Multiusos CM Fafe. Porto, 2000 Multiusos CM Fafe. Porto, 2000
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Fig.6 Interior do Pavilhão Multiusos de Fafe

Fig.7 Planta estrutural da cobertura do Pavilhão Multiusos de Fafe P. 9


Fig.8 Esquissos representativos do método construtivo descrito. Rótula que liga a viga à laje, permitindo o movimento.
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05 Outras obras do arquitecto:


O Autor - Marginal do Rio Douro entre o Centro Histórico e a Afurada, Vila Nova
de Gaia, 2002-2005
- Central de Camionagem, Bragança, 2003
Carlos Adriano Magalhães Macedo Prata nasceu em 1950 na - Instituto de Diagnóstico e Tratamento do Norte, Sete Bicas-Senhora
cidade do Porto, a mesma que o acolheu durante toda a vida da Hora, Matosinhos
e onde o arquitecto estudou Arquitectura (ESBAP). Concluiu o - LIPOR, Central de Valorização Orgânica, Ermesinde, Valongo,
curso em 1975 e em 1980 – após a apresentação de relatório 2003/04
de estágio e prestação da prova pública classificada com 18 - Edifício Transparente, Viaduto Parque da Cidade, Porto, 2006
valores – recebeu o diploma de Arquitecto com média final de - Porto de Recreio da Afurada, Vila Nova de Gaia – em projecto
15 valores.18 - Douro’s Place, Marginal do Douro, Massarelos, Porto, 2005/07
- Escola Artística Soares dos Reis, Porto, 2007/08
- Obras de Melhoria da Barra do Douro, Porto
- Bom Sucesso, Design Resort, Leisure, Golf & Spa, Óbidos – em
projecto
- Hospital e Unidade Residencial de Cuidados Continuados, Rua da
Boavista, Porto
- Centro Atlântico, Matosinhos, Porto – projecto não construído
- Remodelação de Edifício de Habitação Colectiva, Porto, 1998
- Expo’98 Centro de Comunicação Social e Restaurante, Parque das
Nações, Lisboa, 1995-1998
- Remodelação de Stand, Porto, 1991, 1992, 2008
- CM Bragança, Prolongamento da Av. Sá Carneiro, Bragança,
1998/99-2002/03
- Porto 2001 SA. Capital Europeia da Cultura, Requalificação da Baixa
do Porto, Área Oeste A., 1999-2001
- Requalificação do Passeio da Beira Mar, Espinho, 2002-2003
- APDL Área Sob o Viaduto da Via Rápida, Matosinhos, 2004-2006
- Parque Público de Estacionamento Subterrâneo, Espinho, 2004 – em
projecto
Fig.9 Retrato do Arquitecto Carlos Prata - Carlon Life SA, Unidade Residencial de Cuidados Continuados, Av.
Lusíada, Lisboa, 2004 – em projecto
Foi assistente na disciplina de Análise do Território do Curso - Restaurante/Bar, Praia de Wimbi, Pemba, Moçambique, 2005
de Arquitectura da Escola Superior de Belas-Artes do Porto - Casa Eng. António Campos e Matos, Freixieiro de Souteio, Viana do
entre 1980 e 1990; e na disciplina de Projecto da Faculdade Castelo, 1986-1992
de Arquitectura da Universidade do Porto, onde foi membro - Casa Luís Príncipe, Riba D’Âncora, Caminha, 1987-1991
dos Conselhos Directivo e Pedagógico e da Assembleia de - Casa Dr. Pedro Barata Feyo, Freixieiro se Souteio, Viana do Castelo,
Representantes da ESBAP.19 1988-1991
- Casa Francisco Mourão, Labruge, Vila do Conde, 1989-1994
Mais tarde, em 1999, retomou a actividade da docência na - Casa Eng. Raimundo Delgado, Montedor, Carreço, Viana do Castelo,
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto como 1989-1994
Assistente e, posteriormente, como Professor Auxiliar - Casa Dr. Castro Rocha, Barragem de Touvedo, Lindoso, Ponte de
Convidado na disciplina de Projecto IV.20 Barca, 1991-1998
- Casa Dr. José Dias, Rua Pinho Leal, Porto, 1994-1997
Carlos Prata foi também vogal do Conselho Directivo da - Casa Dr. Pinheiro Pinto, Rua de Fez, Porto, 1995-1998
Secção Regional do Norte da Associação dos Arquitectos - Casa Francisco Mourão, Rua Costa e Almeida, Porto, 1997-2000
Portugueses (AAP), entre 1986/1990 durante dois triénios - Casa Dr. Pedro Sequeira, Rua de Vilarinha, Porto, 1999-2003
consecutivos, do Conselho Nacional de Delegados da AAP - Casa Dr. Helvio Bastos, Bairro de Guerra Junqueiro, Porto, 2002-
entre 1992/1995 e do Conselho Directivo Nacional da Ordem 2004
dos Arquitectos entre 1998/2001, sendo actualmente - Casa em Baião, Santa Marinha do Zêzere, 2004-2005
Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Secção Regional
da Ordem dos Arquitectos.21

18
Bom Sucesso Architecture Resort, Leisure & Golf <Disponível em
http://www.bomsucesso.com.pt/architects/carlos-prata-143203. Acedido a
10/10/2013>
19
Ibid
20
Ibid
21
Ibid

P. 11
06
A Obra
apresentação gráfica
O desenho dos espaços do Pavilhão de Fafe foi guiado pela
intenção de torná-lo flexível de modo a possibilitar a
realização de várias funções (como já referido anteriormente,
actividades desportivas, feiras/exposições e
espectáculos/assembleias). Em planta, o pavilhão ocupa uma
área quase quadrangular (54 x 60 metros) possuindo um total
de dois pisos.

No piso 0 desenvolve-se o espaço central do pavilhão, o


recinto desportivo (37x50 m), que ocupa todo o pé direito do
edifício. É neste espaço que se desenvolvem as diferentes
actividades previstas para o Pavilhão Multiusos, sendo a partir
dele que se relacionam os diferentes circuitos de percursos,
tanto públicos como internos. No perímetro do recinto, foram
Fig.10 Bancadas no interior do Pavilhão Multiusos de Fafe
colocadas as infraestruturas necessárias a este espaço
(permanentes), tais como balneários, sanitários e zona de
arrecadação.

Outro elemento a destacar neste projecto é o pátio, sobre o


qual o pavilhão se abre, entendido como espaço de estar
exterior e como possível prolongamento directo de actividades
a serem realizadas no Pavilhão (como feiras, por exemplo).

A plurifuncionalidade do Pavilhão é conseguida através de


diferentes formas de organização do mesmo, demonstrado na
Fig.10. O método base que permite esta polivalência dos
espaços é a utilização de bancadas retrácteis. Assim, por
exemplo, é possível dividir o recinto em dois campos de
treinos ao recolher as bancadas do piso 0 (para permitir o
acesso às bancadas do piso 1. Neste caso, Carlos Prata
pensou num sistema de galerias nos pisos superiores, às
quais se acede através de rampas) ou ocupar o espaço vazio
com um esquema de organização de stands modulares
(3x3m), para a realização de feiras. No evento de
espectáculos, é montado um palco no lado nascente do
recinto, entre as duas portas de acesso à galeria de circulação
dos Camarins, tornando necessário recolher as bancadas
deste lado do piso térreo.
Além das bancadas retrácteis foi previsto um sistema de
infraestruturação especialmente adaptado às várias
actividades previstas para o pavilhão, tal como negativos para
fixações de redes e equipamentos, redes de fundo com
funcionamento motorizado, tapa-vistas amovíveis para
separação física dos campos de treino, balizas, tabelas, um
marcador electrónico, etc.22

22
PRATA, Carlos. Memória descritiva do projecto de execução do Pavilhão
Multiusos CM Fafe. Porto, 2000
MATERIAIS E SISTEMAS DE CONSTRUÇÃO
A CONSTRUÇÃO METÁLICA: POTENCIALIDADES, LINGUAGEM E PROCESSO CONSTRUTIVO

Fig.10 Possibilidades de organização do interior do Pavilhão Multiusos de Fafe

P. 13

Fig.11 Possibilidade de organização do interior do Pavilhão Multiusos de Fafe


07
Um Corte Construtivo
No caso do Pavilhão de Fafe, a linguagem do piso superior
revela, claramente, os princípios estruturais adoptados pelo
que, torna-se mais fácil entender o corte construtivo aqui
apresentado.

Em primeiro lugar, importa analisar o modo como as seis


longas vigas atravessam toda a largura do recinto, suportando
todo o sistema de cobertura do edifício. Assim, como já
mencionado na explicação do processo construtivo, o conjunto
de vigas principais apresenta-se na parte superior da
cobertura, invertendo, aparentemente, a lei natural da
gravitação. No entanto elas não servem de apoio, directo, à
laje, pois a retícula de vigas secundárias é que a segura. Por
sua vez, essa “malha” conecta-se com as seis vigas, que vão
descarregar nos pilares metálicos que aparecem nas suas
extremidades.

Relativamente à composição das lajes, elas são elaboradas


com chapas colaborantes e malhas electrosoldadas, que são
“preenchidas” com betão. Como é apresentado no desenho,
na sua parte inferior, é colocado o isolamento acústico,
enquanto que, por cima, surgem, consequentemente, a
camada de formação de pendente, o isolamento térmico
(entre duas malhas geotêxtis) e a impermeabilização.

Quanto à fachada, ela é “desenhada” pelos longos planos


envidraçados e respectivos caixilhos. Relativamente a estes
últimos, são também metálicos e seguem os alinhamentos das
vigas da reticula da cobertura.
MATERIAIS E SISTEMAS DE CONSTRUÇÃO
A CONSTRUÇÃO METÁLICA: POTENCIALIDADES, LINGUAGEM E PROCESSO CONSTRUTIVO

P. 15
08
Alguns pormenores de
construção 3D

7
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12

10

P. 17
1

10

11

10

Legenda:
4- 1-Viga metálica (principal) 1- 7-Chapa ondulada metálica(ferro)
5- 2-Placas de PVC 2- 8-Chapa de ferro
6- 3-Malha geotêxtil 3- 9-Vidro
4-Isolamento térmico - poliestireno extrudido 10-Isolamento acústico
7- 5- Camada de forma – betão leve 11-Caixilho de metal
8- 6-Betão 12-Viga metálica
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09
Referências de Catálogo
e Marcas
FERPINTA – Ind. Tubo Aço de F.P.T.,S.A.
Carregosa, Ap. 26
3730 - 956 Vale de Cambra
PORTUGAL
Geral: + (351) 256 411 400 | + (351) 965 964 400

Perfil IPE 240 (grelha metálica cobertura; pilares onde apoia a grelha metálica)

Perfil HEB 400 (vigas metálicas de alma cheia)

COLABORANTE® - Perfilagem de Chapa, Lda
Parque Industrial de Adaúfe
Rua dos


Canteiros, Nº17
4710-587 Braga
Telef. :253 300 920

PERFIL COLABORANTE PC 65 (lajes colaborantes da cobertura)

Sika Portugal - Produtos Construção e Indústria, SA
Rua de Santarém, 113
4400-292


Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel. Geral: +351 22 377 69 00

Sikaplan 12 G (telas de impermeabilização em PVC)

Pinhal Novo – Sede


Parque Industrial Vale do Alecrim
Rua do Niquel, Lote 67
2950-424 Palmela
Portugal
Tel: 212388370

Isolamento acústico tipo K-13

P. 19
10
Bibliografia e outras
Referências
ALPENDURADA, Diogo. Memória descritiva e justificativa
(Estrutura) Pavilhão Multiusos CM Fafe. Porto, 2000

Constructing architecture : materials processes structures : a


handbook / ed. Andrea Deplazes. - 2ª nd ed.. -
Basel : Birkhäuser, 2008

Estrutura metálica e inovação – uma história com mais de dois


séculos. Medabil <Disponível em
http://construcaoemtemporecorde.com.br/diariodaobra/estrutur
a-metalica-e-inovacao-uma-historia-com-mais-de-dois-
seculos/. Acedido em 10/11/2013 >

HART, F. Henn, W.Franz Hart. Hansjungen Geschossbauten.


Barcelona: Editorial Gustavo Gili, S.A, 1976

HILBERSEIMER, L. Mies van der Rohe. Milão: CittàStudi,


1993

PRATA, Carlos. Memória descritiva do projecto de execução


do Pavilhão Multiusos CM Fafe. Porto, 2000

STEEL BUILDINGS IN EUROPE. Multi-Storey Steel Buildings.


2010 <Disponível em
http://amsections.arcelormittal.com/fileadmin/redaction/4-
Library/4-
SBE/EN/MSB08_Description_of_member_resistance_calculat
or.pdf, Acedido em 15-11-2013>

Tecnologia da edificação I – Metais. Departamento de


Arquitectura, UFSC. <Disponível em:
http://www.arq.ufsc.br/arq5661/Metais/metais.html, acedido
em 19-11-2013>
MATERIAIS E SISTEMAS DE CONSTRUÇÃO
A CONSTRUÇÃO METÁLICA: POTENCIALIDADES, LINGUAGEM E PROCESSO CONSTRUTIVO

P. 21
MATERIAIS E SISTEMAS DE CONSTRUÇÃO
A CONSTRUÇÃO METÁLICA: POTENCIALIDADES, LINGUAGEM E PROCESSO CONSTRUTIVO

P. 23
Publicação 2013
FAUP

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