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ELEMENTOS ESTRUTURAIS CONSTITUÍDOS DE AÇO INOXIDÁVEL

Bruno Vicente Dias

1. Introdução

A busca por uma construção sustentável tem motivado o uso de soluções econômicas que
racionalizem o aproveitamento de espaço, materiais e mão de obra. A construção industrializada
presente no Brasil tem buscado a racionalização em vários níveis do processo construtivo.

As estruturas metálicas têm sido utilizadas desde o século XVII, na forma de tirantes e pendurais
de ferro fundido para estruturas de madeiras em pontes. No início da segunda metade do século
XIX começaram a aparecer os edifícios de múltiplos andares e a partir dos anos de 1900 até os
dias de hoje, houve grande desenvolvimento no estudo do comportamento de estruturas de aço,
principalmente no que diz respeito à instabilidade e à plasticidade. Estas estruturas são
amplamente utilizadas na indústria da construção civil e atualmente, devido ao aperfeiçoamento
das técnicas construtivas, tem-se investido em pesquisas de novos materiais com a intenção de
deixar as estruturas mais leves e esbeltas, garantindo a estética.

A exposição de elementos estruturais feitos de peças metálicas pode manifestar problemas como
a corrosão e a perda de resistência em presença de altas temperaturas. A difusão da
industrialização na construção civil traz uma mudança de paradigma que objetiva uma transição
para o desenvolvimento sustentável e a redução de impactos ambientais. Com isso, tem-se
provocado um aumento da utilização do aço inoxidável na engenharia estrutural.

1.1. O que é o aço inoxidável?

O aço é uma liga metálica constituída basicamente de ferro e carbono, obtida pelo refino do ferro-
gusa – produto de primeira fusão do minério de ferro. O aço inoxidável é o nome dado a uma
família de aços resistentes à corrosão e que contém pelo menos 10,5% de Cromo (Cr) em sua
composição. O Cr aumenta a resistência mecânica à abrasão, à corrosão atmosférica e melhora
o desempenho do aço sob temperaturas elevadas.
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O Cr que compõe os aços inoxidáveis oxida-se em contato com o oxigênio do ar atmosférico,


formando uma camada passiva – uma película estável de Óxido de Cromo (Cr2O3) – que protege
a superfície do aço contra processos corrosivos tanto de uso, como de exposição.

Além da resistência a corrosão, aços inoxidáveis apresentam maiores resistências mecânicas,


apresentando valores mais elevados de tensão máxima quando comparado com os aços
comumente utilizados.

Destacam-se como vantagens a facilidade de limpeza, a durabilidade, a facilidade de


conformação, o baixo custo com manutenção, presença de certa resistência contra o fogo,
proteção ambiental e estética.

1.2. Fabricação

Os aços inoxidáveis podem ser fundidos ou forjados. O processo de fabricação garante que não
há perda de propriedades. Peças menores podem ser feitas por metalurgia como:

 Placas
 Tubos
 Barras
 Parafusos, porcas, arruelas e chumbadores

Os produtos mais comuns disponíveis são os perfis de chapa dobrada – formados a frio – e
possuem alta eficiência em aplicações estruturais leves. As seções laminadas são, geralmente,
feitas sob encomenda e ainda não possuem dimensões padronizadas no Brasil.

1.3. Aplicações

Os aços inoxidáveis podem ser fabricados pelas técnicas disponíveis comumente utilizadas na
engenharia, possuem diversas aplicações e podem ser totalmente reciclados no fim de sua vida
útil. Geralmente são utilizados em ambientes agressivos – como regiões litorâneas ou altamente
poluídas – por possuírem resistência a corrosão, ao fogo – devida a adição de Cr – e à baixas
temperaturas. Sua alta ductilidade garante também resistência às cargas sísmicas, uma vez que
uma maior dissipação de energia é possível – melhora na tenacidade.

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Esses aços são frequentemente usados em estruturas industriais, mas podem ser empregados
em diversas áreas da construção civil apresentando vantagens como grande capacidade de
conformação, durabilidade e baixo custo de manutenção.

Estruturas constituídas de aço inoxidável apresentam custos mais elevados em relação às


estruturas convencionais em aço carbono, mas o baixo custo com manutenção e seu valor estético
torna o uso dessas estruturas uma escolha atrativa.

Arquitetos, designers e engenheiros estruturais descobriram pela primeira vez a durabilidade do


aço inoxidável como material de construção quando um magnata automobilístico Walter P.
Chrysler encomendou o edifício icônico que leva o seu nome no centro de Manhattan. O topo do
Edifício Chrysler (Figura 1) é constituído de estruturas de aço inoxidável e desde 1930 só foram
necessárias três manutenções mesmo situado em um ambiente urbano e litorâneo. Em
contrapartida, estruturas como a Torre Eiffel em Paris, que foi fabricada em aço carbono,
necessitam de manutenções constantes por conta da corrosão de seus elementos.

Outro exemplo de estrutura construída com uso de aço inoxidável é a passarela para pedestres e
ciclistas Celtic Gateway Bridge em Holyhead – UK (Figura 2). Ela possui cerca de 160 metros de
comprimento total e 7 metros de largura.

O aço inoxidável também apresenta uma alta resistência mecânica, portanto, podem-se executar
estruturas mais leves e com alto apelo estético, como é o caso da passarela de pedestres Trumpf
Footbridge (Figura 3) localizada em Ditzingen, distrito de Ludwigsburg, na Alemanha.

1.4. Meio Ambiente

As considerações ecológicas nunca são triviais quando se considera um material de construção.


Muitos materiais usados em edifícios se degradam ambientalmente, geralmente por corrosão.
Amianto, tintas à base de chumbo, revestimentos de chumbo e outros são materiais outrora aceitos
cujos efeitos a longo prazo têm sido perigosos e caros.

O aço inoxidável, por não corroer quando usado corretamente, não adentra o meio ambiente. Isso
pode ser observado em estudos interdisciplinares que demonstraram sua inocuidade mesmo sob
condições de chuva ácida pesada em superfícies recém-desgastadas1. Além disso, seu valor

1BERGGREN, D.; BERLING, S.; HEIJERICK, D.; HERTING, G.; KOUNDAKJIAN, P; LEYGRAF, C.; WALLINDER, I.
O. Release of Chromium, Nickel and Iron from Stainless Steel Exposed Under Atmospheric Conditions and the

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intrínseco de conteúdo de matéria-prima garante que, mesmo com o fim da vida útil de uma
estrutura, os elementos constituídos de aço inoxidável na estrutura sejam reciclados.

Figura 1 – Edifício Chrysler (Nova York – EUA)2

Figura 2 – Celtic Gateway Bridge (Holyhead, UK)3

Environmental Interaction of These Metals – A combined field and laboratory investigation. European Confederation
of Iron and Steel Industries. 2004.
2 Disponível em newyork-forever.com. Acessado em julho de 2022.
3 Disponível em stayinwales.co.uk. Acessado em julho de 2022.

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Figura 3 – Trumpf Footbridge (Ditzingen, GE)4

4 Disponível em structurae.net. Acessado em outubro de 2021.

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2. Propriedades do Material

2.1. Classificação

Existe uma variedade de aços inoxidáveis que se diferenciam pela sua composição química e
tratamento térmico. Podem ser classificados em cinco tipos diferentes, de acordo com sua
microestrutura: austenítico, ferrítico, duplex, martensíticos e endurecidos por precipitação. Os três
mais utilizados na engenharia estrutural são os austeníticos, ferríticos e duplex.

2.1.1. Austeníticos

Os aços inoxidáveis austeníticos mais comuns apresentam 17 - 20% de Cr e 8 - 11% de Ni em


sua composição. É uma liga não magnética de ferro, cromo e níquel. A presença do Níquel
acarreta uma modificação da estrutura do material, que passa a apresentar um arranjo atômico
cúbico de face centrado, elevando sua resistência, o que também o torna não magnético. Além
disso, esse tipo de aço não suporta endurecimento por tratamento térmico. Comparado com o aço
carbono estrutural utilizado na construção civil, os aços inoxidáveis austeníticos apresentam alta
resistência a corrosão, alta ductilidade e possuem uma resistência significativamente melhor em
altas temperaturas. O mais utilizado é o tipo AISI5 304 que contém, basicamente 18% de Cr e 8%
de Ni.

A resistência ao fogo é uma consideração importante em edifícios. O aço inoxidável é o único


material de construção comum que permanece forte e resistente em temperaturas encontradas
em incêndios. Uma mudança na estrutura atômica de aços carbono resulta em um encolhimento
súbito, levando uma estrutura à ruína; e quando isso ocorre em elementos já enfraquecidos pelo
calor, ocorre uma falha catastrófica. O aço inoxidável austenítico mantém a mesma estrutura
atômica e permanece muito mais resistente que o aço carbono em temperaturas elevadas. Assim,
o aço inoxidável austenítico tem grande valor como material para estruturas que devem manter a
integridade estrutural em caso de incêndio.6

A adição de níquel confere às ligas austeníticas de aço inoxidável uma resistência a altas
temperaturas significativamente maiores do que outras ligas, particularmente a capacidade de

5 AISI. Specification for the design of cold-formed steel structural members. American Iron and Steel Institute, 1996.
6 MCGUIRE, M. Stainless steels for design engineers. ASM International. 2008. 304 p.

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resistir à tendência de se mover lentamente ou deformar-se permanentemente sob tensões


mecânicas, conhecidas como fluência.7

2.1.2. Ferríticos

Os aços inoxidáveis ferríticos mais utilizados apresentam 10,5 - 18% de Cr e nenhuma – ou muito
baixa – adição de Ni e baixo teor de carbono resultando em uma limitada resistência mecânica. É
uma liga ferromagnética de ferro e cromo. Sua estrutura atômica é similar à dos aços carbono
(arranjo atômico cúbico de corpo centrado). A ausência do Níquel em sua composição torna-o
mais competitivo economicamente. Estes aços inoxidáveis são menos dúcteis e menos soldáveis
que os austeníticos, mas podem ser largamente utilizados em ambientes corrosivos.

2.1.3. Duplex

Os aços inoxidáveis duplex apresentam 10 - 26% de Cr, 1 - 8% de Ni, até 5% de Molibdênio e 0,05
- 0,3% de Nitrogênio em sua composição. Os aços duplex são caracterizados pela estrutura
combinada ferrítica-austenítica, ou seja, possuem microestrutura bifásica com proporções
similares de ferrita e austenita. Apresentam maiores resistências que os austeníticos e podem ser
amplamente utilizados em ambientes corrosivos; garantem boa ductilidade, facilidade de
soldagem, tenacidade e elevada resistência mecânica. Diferente dos aços inoxidáveis austenítico
e ferrítico, que só podem ser trabalhados a frio, os aços inoxidáveis duplex podem sofrer
tratamento térmico. A relação custo-benefício é satisfatória, já que a quantidade de Ni é reduzida.
Esses aços são muito utilizados na indústria naval e de óleo e gás. Pode ser ainda subdividido em
lean duplex.

2.2. Seleção de materiais

Os aços inoxidáveis são geralmente muito resistentes à corrosão e funcionam satisfatoriamente


na maioria dos ambientes. O limite de resistência à corrosão de um determinado aço inoxidável é
predominantemente dependente de seus elementos constituintes, o que significa que cada grau
tem uma resposta ligeiramente diferente quando exposto a um ambiente corrosivo. Portanto, é

7NICKEL INSTITUTE. Stainless steel for structural applications: The role of nickel. Disponível em nickelinstitute.org.
Acessado em agosto de 2022.

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necessário cuidado para selecionar o grau de aço inoxidável mais apropriado para uma
determinada aplicação. Geralmente, quanto maior o nível de resistência à corrosão necessário,
maior o custo do material. Os aços inoxidáveis duplex oferecem potencialmente maior resistência
à corrosão com um preço menor. Além disso, sua maior resistência pode permitir reduzir os
tamanhos das seções e, portanto, o custo do material. O aço austenítico na condição de trabalho
a frio tem uma resistência à corrosão semelhante à condição de recozido8. As razões mais comuns
para falha em relação à resistência à corrosão são:

 Avaliação incorreta do ambiente ou exposição a condições inesperadas, por exemplo.


contaminação insuspeita por íons de cloreto ou acumulações de superfície maiores do
que o esperado.
 Técnicas inadequadas de fabricação de aço inoxidável (por exemplo, soldagem,
tratamento térmico e aquecimento durante a conformação), remoção incompleta do
cordão de solda ou contaminação da superfície.
 Acabamento muito áspero ou orientado incorretamente.

Mesmo quando ocorrem manchas ou corrosão na superfície, é improvável que a integridade


estrutural seja comprometida. A experiência indica que qualquer problema sério de corrosão é
mais provável de aparecer nos primeiros dois ou três anos de serviço. Em certos ambientes
agressivos, alguns tipos de aço inoxidável serão suscetíveis a ataques localizados.

2.3. Curva comparativa entre os principais tipos de aço inoxidável e o aço carbono

O comportamento mecânico é uma grande vantagem dos aços inoxidáveis em comparação com
o aço carbono. Enquanto o aço carbono apresenta um ponto bem definido para tensão de
escoamento do material, o aço inoxidável apresenta uma curva em que esse ponto não é definido.
O aço carbono apresenta tensão de escoamento menor que os aços inoxidáveis austenítico e
duplex e quando se trata de deformações, os aços inoxidáveis apresentam valores superiores em
relação ao aço carbono. A Figura 4 ilustra as curvas de tensão-deformação para os diferentes
tipos de aço na fase de escoamento e na Figura 5 são apresentadas as mesmas curvas até a
ruína do material.

8SCI. Design Manual for Structural Stainless Steel. 4th Edition. SCI No. P413. The Steel Construction Institute.
Reino Unido. 2017. 106 p.

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Os aços inoxidáveis apresentam curvas sem patamar de escoamento e região de encruamento


bem definida em suas curvas de tensão versus deformação, modificando assim, o comportamento
global das estruturas que o utilizam. Apresentam altos níveis de ductilidade e de ganho de
resistência por endurecimento. Os aços inoxidáveis austeníticos apresentam uma ductilidade que
varia entre 40 - 60%, enquanto o aço carbono apresenta valores entre 20 - 30%.

As curvas de tensão versus deformação apresentam uma diferença no comportamento mecânico


entre os tipos de aço estruturais. Enquanto o aço carbono normalmente exibe comportamento
linear elástico até atingir a tensão de escoamento seguida de um patamar antes que o
endurecimento por deformação seja encontrado, o aço inoxidável apresenta uma resposta não
linear e sem tensão de escoamento bem definida. As resistências de escoamento para os aços
inoxidáveis são definidas de acordo com uma determinada deformação permanente. Adota-se
uma aproximação, que equivale à tensão correspondente a deformação plástica igual a 0,2%, para
definir um ponto da curva que corresponda à tensão de escoamento.

O aço inoxidável também apresenta anisotropia e assimetria em seu comportamento físico no que
diz respeito a tração e compressão. Com isso, se faz necessária a construção de curvas tensão-
deformação para diferentes direções de laminação.

2.4. Acabamento superficial

Quando se trata de aços inoxidáveis, o acabamento superficial geralmente é importante. A


justificativa econômica para o uso desses aços é o fato de eles não sofrerem corrosão se forem
devidamente especificados para o ambiente em que são aplicados. Mesmo em um ambiente
industrial, o acabamento da superfície não deve prejudicar o seu desempenho.

As superfícies brutas, resultantes da laminação e recozimento, não apresentam valor estético.


Sendo aplicados quando a aparência não é relevante. Mesmo assim, existem tratamento
necessários para o aço inoxidável destinado a tais usos. A superfície deve estar livre de:

 Óxidos resultantes de recozimento ou de solda.


 Impurezas acumuladas do ambiente.
 Materiais aplicados no processo de fabricação, como lubrificantes p.e.
 Contaminações por outros materiais, principalmente o ferro.

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Figura 4 – Curvas tensão-deformação para aços inoxidáveis e aço carbono em fase de escoamento9

Figura 5 – Curvas tensão-deformação para aços inoxidáveis e aço carbono até a ruína do material10

9 Adaptada de BADDOO, N. Steel Design Guide 27 – Structural Stainless Steel. American Institute os Steel
Construction
10 Adaptada de BADDOO, N. Steel Design Guide 27 – Structural Stainless Steel. American Institute os Steel

Construction

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2.5. Soldabilidade

A soldabilidade de aços inoxidáveis requer conhecimento na resposta do aço aos efeitos térmicos
e mecânicos do processo de solda.

A principal consideração da soldagem de aço inoxidável em relação ao aço carbono é que o Cr,
que torna o aço inoxidável, deve ser protegido da oxidação. Entretanto, ele permanece como um
elemento resistente a corrosão e não abriga óxidos refratários que diminuiriam a solidez da solda.
O aumento do Cr piora a soldabilidade.

Teores elevados de carbono e cromo comprometem a soldabilidade e diminuem a resistência a


corrosão atmosférica (o teor de carbono é usualmente limitado a 0,20%, nos aços resistentes à
corrosão atmosférica).

A microestrutura da solda não é vista como uma propriedade do material. Propriedades


tecnológicas como a resistência mecânica, a ductilidade e a resistência a corrosão em diferentes
ambientes são os fatores mais relevantes a serem considerados.

Aços inoxidáveis austeníticos possuem, em geral, boa soldabilidade. Eles possuem menores
condutividade e maiores expansões térmicas que o aço carbono ou o aço inoxidável ferrítico o que
aumenta o potencial para tensões residuais. A maior limitação é apresentada nos aços ferríticos
por possuírem baixa expansão térmica, mesmo com boa condutividade térmica. A soldabilidade
em aços inoxidáveis duplex são melhores que nos ferríticos, mas geralmente não tão boa quanto
nos austeníticos. Esse tipo de liga solidifica em um modo completamente ferrítico garantindo uma
boa resistência às trincas no cordão de solda quente comparadas com os austeníticos. Metais de
preenchimento são especialmente projetados com altos níveis de Ni para produzir um equilíbrio
similar ao material base11.

2.6. Ductilidade

É sabido que o aumento do teor de carbono constitui a maneira mais econômica para obtenção
da resistência mecânica nos aços, atuando primordialmente no limite de resistência. Por outro
lado, prejudica sensivelmente a ductilidade e a tenacidade. A ductilidade permite redistribuição de
tensões locais elevadas, ou seja, grandes deformações.

11 OUTOKUMPU. Handbook of stainless steel. Otokumpu high performance stainless steel. Finlândia. 2013. 92 p.

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Aços inoxidáveis, particularmente austeníticos, oferecem alta ductilidade e resistência ao impacto.


Estruturas offshore, postes de amarração, barreiras de segurança e estruturas suscetíveis a
cargas de explosão são aplicações em que a ductilidade e a resistência ao impacto são requeridas
sem fraturar, portanto, a alta ductilidade e as características de encruamento do aço inoxidável é
uma propriedade útil onde a resistência ao carregamento sísmico é necessária.

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3. Dimensionamento

Apesar de haver uma ampla variedade de aços inoxidáveis, todos apresentam a relação tensão-
deformação caracterizada por uma curva em que o ponto de início do escoamento não é definido
de forma nítida como ocorre em alguns aços-carbono por possuir comportamento não linear para
baixas relações tensão-deformação.

O comportamento mecânico do aço carbono é frequentemente representado como uma curva bi


linear, elastoplástico perfeito nas normas de dimensionamento e nas análises numéricas –
dimensionamento no regime elástico. No entanto, esse tratamento não é adequando para as
curvas não lineares dos aços inoxidáveis, levando a resultados extremamente conservadores.
Aços inoxidáveis possuem grande capacidade de deformação.

Diversos modelos constitutivos podem ser utilizados para representar esses materiais
matematicamente, sendo os mais comuns baseados nas formulações complexas – para o cálculo
da resistência – de Ramberg-Osgood12, que tem originalmente propostas para simular o
comportamento do alumínio. O formato da curva, a deformação máxima, nível de ganho de
resistência por encruamento e a ductilidade são variáveis entre os aços. Além disso, a tensão de
escoamento – representada por fy ou σ0,2 – e a ductilidade são influenciadas também pelo processo
de fabricação dos perfis. As formulações de Ramberg-Osgood foram modificadas por Hill13 e assim
foi obtida a Eq. 3.1.

𝜎 𝜎
𝜀= + 0,002 ,𝜎 ≤ 𝜎 , (3.1)
𝐸 𝜎,

onde E0 representa o módulo de elasticidade longitudinal, σ0,2 a tensão de escoamento a 0,2%, n


é o parâmetro de Ramberg-Osgood – ou coeficiente de encruamento – que pode ser calculado
conforme a Eq. 3.214:

12 RAMBERG, W.; OSGOOD, W, R. Description of stress-strain curves by three parameters. Technical Note No. 902,
National Advisory Committee for Aeronautics. Washington, D.C., 1943. 29p.
13 Hill, H. N. Determination of stress-strain relations from offset yield strength values. Technical Note No. 927,

National Advisory Committee for Aeronautics, Washinton D. C., 1944. p. 75-90.


14 The European Union per Regulation. Eurocode 3: Design of steel structures – Parte 1-4: General rules –

Supplementary rules for stainless steels. Bruxelas, 2006. 35p.

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ln 20
𝑛=
𝜎 , (3.2)
ln 𝑅 ,

em que Rp0,01 representa a tensão correspondente a uma deformação de 0,01%.

Muitas pesquisas foram realizadas no intuito de considerar com precisão o comportamento


completo da curva tensão-deformação após a tensão de escoamento ser atingida. Assim, foram
desenvolvidas diversas formulações que utilizam formulações diferentes para cada estágio da
curva, como a equação proposta por Mirambell15, que apresenta uma expressão para o segundo
estágio da curva.

O Eurocode 3-1-4 utiliza para a segunda parte da curva, as formulações de Rasmussen16, onde a
Eq. 3.3 representa o comportamento dos aços inoxidáveis após a tensão de escoamento a ser
atingida.

𝜎−𝑓 𝜎−𝑓
𝜀=𝜀 , + +𝜀 ,𝑓 < 𝜎 ≤ 𝑓 (3.3)
𝐸 𝑓 −𝑓

onde fy é a tensão σ0,2 e εu representa a deformação máxima, que pode ser definida por meio da
Eq. 3.4:

𝑓
𝜀 =1− ≤𝐴 (3.4)
𝑓

em que A é o alongamento após a ruptura, obtido conforme o BS EN1008817. m é um coeficiente


dado por:

15 MIRAMBELL, E.; REAL, E. On the calculation of deflections in structural stainless steel beams: na experimental
and numerical investigation. Journal of Constructional Steel Research, 54. 2000. p. 109-133.
16 RASMUSSEN, K. J. R. Full-range stress-strain curves for stainless steel alloys. J. Constr. Steel Res. v. 59, 2003.

p. 47-61.
17 European Committee for Standardization. Stainless steels – Part 3: Technical delivery conditions for semi-sinished

products, bars, rods, wire, sections and bright products of corrosion resisting steels for general purposes. Bruxelas,
2014. 58p.

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𝑓
𝑚 = 1 + 3,5 (3.5)
𝑓

e Ey é o módulo de elasticidade longitudinal da curva quando a tensão de escoamento é atingida


e é definido por:

𝐸
𝐸 =
(3.6)
1 + 0,02𝑛 𝐸 𝑓

Ademias, há uma gama de estudos que foram realizados para levar em conta a influência da
conformação a frio nas propriedades de seções formadas por aço inoxidável.

No Eurocode 3 é indicado que para casos de análises elásticas deve-se assumir que o
comportamento tensão-deformação do material seja linear, independentemente do nível de
tensão. E de acordo com o Steel Design Guide 27 do American Institute of Steel Construction
(AISC) é convencionalmente adotada a deformação de 0,2%. Se a não linearidade do material é
considerada, ocorrem maiores deflexões devida a perda de rigidez do material. Ao ignorar a não
linearidade do material, os efeitos de segunda ordem são subestimados.

Estes modelos vêm sendo substituídos por um modelo bi linear consideração do encruamento, o
que facilita a sua utilização por projetistas e a inclusão nas normas.

3.1. Atualização das normas de dimensionamento

Os critérios de dimensionamento vêm sendo atualizado nos últimos anos, sendo o Eurocode 3
(EN) e o Design Manual for Structural Stainless Steel (DMS) os mais utilizados. O EN possui
valores de esbeltez mais otimistas, enquanto o DMS, mesmo utilizando os valores de redução e
reproduzindo o sistema de classificação da seção do EN, fornece valores mais conservativos para
esbeltez quando se trata de flexão. No DMS também é indicado uma diferenciação no
dimensionamento entre elementos constituídos de aços inoxidáveis austeníticos e ferríticos.

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A norma europeia está passando por uma revisão em que incorporou elementos do DMS e o
método da resistência contínua em suas diretrizes. A revisão do Eurocode passa a contemplar os
diferentes grupos de aço inoxidável, assim como no DMS e, adicionalmente, alguns itens
específicos a respeito desses materiais. Foi incorporado também um item de análise estrutural
que propõe diretrizes para consideração de efeitos de segunda ordem, imperfeiçoes e métodos de
análises que consideram a não linearidade do material na fase elástica e na fase plástica, sendo
este último utilizando do método da resistência contínua.

A classificação da seção transversal, que antes era feita de forma similar aos elementos
constituídos de aço carbono tanto no antigo EN quando no DMS, passou a depender de um
parâmetro do material que é determinado de acordo com o tipo de aço inoxidável. A região de
encruamento da curva possibilita seções mais esbeltas, então passa-se a verificar o limite que
satisfaz a condição da seção ser de Classe 3 ou de Classe 4.

Para a verificação da resistência a compressão e flexão da seção transversal o novo EN utiliza


das mesmas equações do DMS. Ocorre uma modificação de área para o caso de seções
classificadas como Classe 4. A resistência ao cortante passa a ser verificada com as equações do
EN 1993-1-5 modificadas por Gardner et al.18, diferente do DMS, que não modificava as
formulações.

Na verificação da flambagem, a atualização do Eurocode, assim como no DMS, passa considerar


fatores de imperfeição e índices de esbeltez que levam em conta os diferentes tipos de aço
inoxidável. Sua tabela de coeficientes contempla, ainda, seções soldadas a laser. No caso de
flexão uniforme, os valores dos fatores de imperfeição foram atualizados considerando os
diferentes tipos de aço inoxidável. Para a consideração de cargas combinadas, diversos fatores
de interação foram incorporados considerando diferentes tipos de seção transversal e diferentes
grupos de aço inoxidável.

Nesta nova revisão, fora adicionado ainda, um item que contempla os estados limites de serviço
com coeficientes específicos considerando os diferentes aços para a determinação de flecha.

18 GARDNER, L.; FIEBER, A.; MARCORINI, L. Formulae for calculating elastic local buckling stresses of full
structural cross-sections. Structures. 17, 2-20.

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3.2. Método da resistência contínua

Aços inoxidáveis apresentam ligas de diferentes elementos químicos em sua composição,


portanto, a realização de um estudo aprofundado de suas propriedades físicas se faz necessária
para a elaboração de métodos de dimensionamento mais consistentes. A maioria das normas,
guias e manuais de projeto presentes foram desenvolvidas com premissas similares as adotadas
no dimensionamento de elementos estruturais constituídos de aço carbono, as quais são
baseadas em um comportamento elastoplástico do material ignorando a região de encruamento,
que é uma característica vantajosa dos aços inoxidáveis.

O método da resistência contínua (Constinuous Strength Method – CSM) é uma nova abordagem
de projeto que vem sendo desenvolvida na última década e ela é baseada no comportamento
físico do material. O método visa a garantia do alcance da deformação plástica do elemento
estrutural através de dois conceitos base19:

i) Uma curva base que define o nível de deformação que uma determinada seção
transversal consegue atingir em uma forma normalizada e;
ii) Um modelo que contempla o encruamento do material, e juntamente com o valor da
deformação, pode ser usado para determinar a resistência da seção transversal.

Esta abordagem fornece consistência com a resposta de tensão-deformação do aço inoxidável


permitindo a consideração da zona de encruamento da curva. Uma característica fundamental do
CSM é relacionar a resistência da seção transversal com a capacidade de deformação da seção
que é controlada pela esbeltez e sua suscetibilidade aos efeitos de flambagem local.20

Este método é baseado na deformação do material e substitui o conceito de classificação das


seções transversais em seções supercompactas, compactas, semicompactas e esbeltas – base
para o conceito de flambagem – por uma medida adimensional da capacidade de deformação da
seção transversal, o que garante uma relação contínua entre a esbeltez da seção transversal e a
capacidade de deformação. Sendo assim, a capacidade de deformação da seção transversal é
quem determina a capacidade da seção resistir ao encruamento e, portanto, a capacidade de
carga.

19 GARDNER, L. A New Approach to Structural Stainless Steel. Tese de doutorado. Department of Civil and
Environmental Engineering. Imperial College of Science, Technology and Medice. London, 2002
20 GARDNER, L. The continuous strength method. Proceedings of the Institution of Civil Engineers – Structures and

Buildings. v. 161(3). p. 127-133. 2008. (Awarded ICE Frederick Palmer Prize 2009)

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Os resultados obtidos através das equações propostas pelo Eurocode 3 eram conservadores e
limitavam a resistência à compressão da seção à tensão de escoamento do material. O método
fornece uma curva de projeto que apresenta uma relação contínua entre a capacidade de
deformação da seção transversal normalizada e a esbeltez da seção, ou seja, permite que a
esbeltez da seção seja calculada levando-se em conta toda a seção transversal e não apenas
cada elemento de maneira isolada. Essas curvas são estabelecidas com base em modelos
numéricos e experimentais. A capacidade de deformação da seção transversal é obtida de
maneira normalizada, de modo a compatibilizar com o modelo do material:

𝜀 𝜀
→ (3.7)
𝜀 𝜀

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