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RESUMO
Presente em grande quantidade das obras de pavimentação na região sul do Brasil, o Macadame Seco é uma
composição de materiais que integram um serviço utilizado em sub-bases e reforços de subleito. A execução do
Macadame Seco se dá com a aplicação de uma camada de bloqueio, seguida do agregado graúdo, enchimento com
faixa granulométrica específica, e finalizado com compactação de rolo liso vibratório e abertura ao tráfego. Este
trabalho trata-se do estudo de caso de uma obra do Departamento de Estradas e Rodagem do Estado do Paraná, que liga
os municípios São Mateus do Sul e Irati, na rodovia PR-364, em que o Rachão foi o serviço previsto em projeto para
constituir a camada de reforço do subleito. Ao iniciar as obras, constatou-se presença de folhelho pirobetuminoso, não
sendo possível prosseguir com as soluções indicadas em alguns locais no projeto executivo. Com o intuito de reduzir os
custos e a consequente necessidade de aditivo de valores em obra, verificou-se a possibilidade de substituir o Rachão
com travamento em bica corrida por Macadame Seco. Foram realizados comparativos de referenciais teóricos das
normativas do órgão, seguidos de simulações mecanísticas e finalizado o estudo com aplicação em trecho de segmento
experimental e avaliadas as deflexões no topo das camadas. Verificou-se que os dois serviços são similares e que 50 cm
em Macadame Seco se equivalem a 60 cm de Rachão com travamento em bica corrida.
ABSTRACT
Present in a large number of paving works in the southern region of Brazil, Macadam is a composition of materials that
integrate a service used in sub-bases and subgrade reinforcements. The Macadam is executed with the application of a
blocking layer, followed by the coarse aggregate, filling with a specific granulometric range, and finished with
vibrating smooth roller compaction and opening to traffic. This work present the study of a work by the Department of
Roads and Highways of the State of Paraná, which connects the municipalities of São Mateus do Sul and Irati, on the
state road PR-364, in which Rachão was alternative to form the subgrade reinforcement layer. At the beggining of the
work, the presence of pyrobuminous shale was observed, and it was not possible to proceed with the solutions
indicated. In order to reduce costs and the consequent need to add values at work, it was possible to replace the Rachão
with bica corrida locking by Macadam. Comparatives of theoretical references of the regulations of the agency were
carried out, followed by mechanistic simulations and finalized the study with application in a stretch of experimental
segment and evaluated the deflections at the top of the layers. It was found that the two services are similar and that 50
cm in Macadam is equivalent to 60 cm in Rachão with locking in bica corrida.
1
Consórcio Supervisor Strata-Proes lotada no Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná,
Av. Iguaçu 420 - Rebouças, Curitiba - PR, 80230-020. E-mail: priscilapizutti@der.pr.gov.br
2
Consórcio Supervisor Strata-Proes lotada no Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná,
Av. Iguaçu 420 - Rebouças, Curitiba - PR, 80230-020. E-mail: melissayamada@der.pr.gov.br
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
Este estudo de caso tem por objetivo a comparação e resultado dos experimentos realizados na obra
de implantação da PR-364 em um segmento que faz ligação entre os municípios de São Mateus do
Sul e Irati, na região dos Campos Gerais do Estado do Paraná.
O projeto executivo, datado de 2013, previa as seguintes soluções em função do CBR:
• Nos locais onde as sondagens indicaram CBR menor que 3% haverá a substituição por areia
até onde a sondagem indicar melhor suporte;
• Para um subleito com CBR entre 3% a 6%, estava previsto um rebaixo de 60 cm preenchido
com rachão;
• Para uma resistência do subleito de 6% a 9%, estava previsto um rebaixo de 30cm
preenchido com rachão;
• Para um subleito com CBR maior ou igual a 9%, foram previstas duas camadas de 15 cm de
brita graduada, que seriam suficientes para receber e distribuir as compressões advindas do
revestimento protegendo assim o subleito, não necessitando reforço.
Para os locais com CBR inferior a 9%, a base e sub-base é composta de BGS. A solução com CBR
maior ou igual a 9% era composta de base de BGS e sub-base de MS. Ao iniciar a execução da
obra, a construtora realizou mapeamento de todo o trecho e constatou que o material presente no
subleito se trata de folhelho pirobetuminoso.
O folhelho é uma rocha sedimentar, formada por argila e silte. Tem como característica a facilidade
de se segmentar, pois é composta por lâminas paralelas em baixas espessuras (DNIT, 2021).
No início do trecho, no município de São Mateus do Sul, está instalada a Unidade de
Industrialização do Xisto (SIX), sobre uma das maiores reservas mundiais de xisto, ou folhelho
pirobetuminoso
Devido às características de fratura do material, ao realizar os ensaios laboratoriais de
caracterização e compactação não foi possível atingir o suporte do subleito adequado para emprego
das soluções de pavimentação pré-estabelecidas em projeto. Assim sendo, para manter os
parâmetros de projeto, foi obrigatória a adoção da solução a favor da segurança, que lançava mão
da estrutura com 60 cm de rachão.
Para a execução da camada de rachão foi necessária a inclusão do item de travamento com material
de granolumetria mais fina, pois somente o rachão não trazia a possibilidade de estabilização para
que a próxima camada fosse executada.
Como o Macadame Seco orçado baseado no projeto não seria utilizado, pois o CBR não foi
atingido, foi proposta a realização de teste de equivalência entre serviços, para evitar alterações
significativas nas quantidades de serviços inicialmente contratados.
METODOLOGIA
Materiais
Métodos
Foram avaliadas as similaridades entre os dois materiais com base nos referenciais teóricos,
especificações de serviço, parâmetros de dimensionamento e verificação em campo dos resultados.
As especificações de serviço que basearam as análises foram as do DER-PR. Outro referencial foi o
Manual de Execução de Serviços Rodoviários, também do DER-PR.
Para a verificação mecanística, foi utilizado o software Elsym5. Este é um dos softwares mais
utilizados, pois tem uso simples, além de possibilitar a inserção de até dez cargas em diversos
pontos da superfície do pavimento (PINTO & PREUSSLER, 2010). Quanto maior a quantidade de
pontos de análise no Elsym 5, maior será a precisão dos resultados, sendo que a metodologia é mais
adequada para avaliação dos deslocamentos do que para as tensões (MEDINA & MOTTA, 2015).
Foram avaliadas as deflexões atuantes através da viga Benkelman, com base no método de ensaio
preconizado no documento DNER-ME 024/94.
Onde
Xi = valores individuais
X = média da amostra
s = desvio padrão
k = adotado o valor 1,25
n = número de determinações
Espessura
Camada Material Deflexão admissível
(cm)
CBUQ Faixa C 5 56,0
Revestimento
CBUQ Faixa B 5 63,0
Base BGS 15 67,0
Sub-base BGS 15 76,0
Reforço do Subleito Rachão 60 92,0
Subleito Solo - 149,0
Com esta nova configuração de pavimento apresentada, as deflexões admissíveis a serem atendidas
no topo de cada camada a ser executada passam a ser:
Espessura
Camada Material Deflexão admissível
(cm)
CBUQ Faixa C 5 57,5
Revestimento
CBUQ Faixa B 5 63,9
Base BGS 15 66,5
Sub-base BGS 15 69,3
Reforço do Subleito Macadame 50 75,1
Subleito Solo - 199,0
Verificação in loco
Figura 4. Aferição da deflexão com Viga Benkelman e abertura de poço de inspeção (DER/PR, 2021).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tabela 5. Resultados da viga Benkelman logo após a execução do serviço (AUTOR, 2021)
Espessura (cm) 40 50 60
Deflexão média (x10-2mm) 85,22 76,80 63,34
Desvio padrão 30,56 30,35 21,21
Deflexão característica (x10-2mm) 123,4 114,7 89,9
Não
Resultado Não conformidade Conformidade
conformidade
Tabela 6. Resultados da viga Benkelman logo após 5 dias da execução do serviço (AUTOR, 2021)
Espessura (cm) 40 50 60
-2
Deflexão média (x10 mm) 71,5 54,6 47
Desvio padrão 27,4 10,2 11,8
-2
Deflexão característica (x10 mm) 105,7 67,4 61,7
Resultado Não conformidade Conformidade Conformidade
Verifica-se que com 40 cm não foi possível a camada de Macadame Seco absorver todos os
esforços provenientes do eixo padrão rodoviário, não fornecendo o suporte necessário ao subleito,
conforme já verificado anteriormente na análise mecanística.
Na espessura de 50 cm foi obtida a deflexão característica de 67,4x10-2 mm, que atende tanto ao
projetista com 92x10-2 mm quanto à nova análise de 75,1x10-2 mm.
Como já esperado, para a camada de 60 cm a deflexão também foi atendida.
CONCLUSÃO
O serviço de Macadame Seco pode ser considerado equivalente ou superior ao serviço de Rachão
com travamento, já que se verificou que 50 cm de Macadame Seco se equivale, tanto teoricamente
como in situ, a 60 cm de Rachão com travamento.
O Rachão com travamento possui menos etapas executivas e menor rigor de controle tecnológico,
já o Macadame Seco, por ser necessário atender aos parâmetros de granulometria, faz com que a
camada se torne mais uniforme em todo o segmento. A existência da camada de bloqueio também
faz um grande diferencial, evitando o agulhamento dos materiais no subleito, auxiliando na
uniformidade da camada.
Após a abertura ao tráfego de obra, constatou-se que para a camada atingir a deflexão admissível
necessária para a aceitação do serviço foi necessário aguardar o prazo de acomodação do
travamento para que a camada fosse estabilizada. Após esse prazo, houve redução de 41% da
deflexão na camada de 50 cm e 27% na camada de 60 cm. Para este estudo, o prazo de 5 dias foi
suficiente para atingir a deflexão necessária.
Verifica-se que pode haver um ganho em 10 cm de material apenas pelo ponto de vista da deflexão
para o macadame seco, com a abertura ao tráfego de obra, além da exposição às intempéries.
Considerando que as especificações de serviço do DER/PR encontram-se em revisão, estas e outras
observações serão levadas para que possam subsidiar as discussões acerca da especificação de
serviço de MS.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARTERIS, ES 003 - Especificação Particular para Execução de Macadame Seco. São Paulo.
2021.
BERNUCCI, Leidi Bariani et al. Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros.
Rio de Janeiro: Petrobras; ABEDA, 2008.
MEDINA, J.; MOTTA, L.M.G., Mecânica dos Pavimentos. 3a ed., Editora Interciência, Rio de
Janeiro – RJ, 2015, 620 p.