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pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/185 Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 889-892

IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X

Estudo de instabilidades de vertentes e taludes no Lobito

e na Catumbela, Angola

Slope stability in Lobito and Catumbela areas, Angola

M. M. Derna1, P. S. Andrade2*, P. M. Callapez3

Artigo Curto
Short Article
© 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP

Resumo: Neste trabalho apresenta-se um estudo sobre as
instabilidades de vertentes e taludes nas áreas urbanas do Lobito e
Catumbela (Angola). Este pretendeu definir as principais causas de
movimentos de vertentes ou talude e consideraram-se fatores como a
litologia, o declive, o coberto vegetal, a ocupação do solo e a
influência antrópica. Deste modo verificou-se que tanto as causas
naturais decorrentes do regime hidrológico e da agressividade do
clima, como a intervenção humana desordenada, contribuem de
forma decisiva para a ocorrência de instabilidade do solo ou
movimento de vertentes e taludes na região estudada com fortes
implicações em danos de infraestruturas e perda de vidas humanas.
As informações contidas neste trabalho permitirão um melhor
ordenamento do território das áreas urbanas do Lobito e Catumbela.
Palavras-chave: Instabilidade de taludes, Rochas carbonatadas,
Ordenamento do Território, Lobito e Catumbela, Angola.
Abstract: In this work, a study about slope instability in Lobito and
Catumbela areas (Angola) is presented. The purpose of this study
was to define the major landslides causes. Several factors were taken
into account such as the lithology, slope angle, vegetation cover, land
use and anthropic influence. It was verified that natural causes related
with the hydrologic and climate conditions, as well as the incorrect
human intervention, contribute in a decisive way to the occurrence of
soil erosion and slope movements in the studied areas. The
information presented in this work will permit a better land-planning
of the Lobito and Catumbela urban areas.
Keywords: Slope stability, Carbonated rocks, Territory planning,
Lobito and Catumbela, Angola.
1
Departamento de Ciências da Terra, Universidade de Coimbra, Lobito,
Angola.
2
Centro de Geociências-FCT, Departamento de Ciências da Terra,
Universidade de Coimbra, Largo Marquês de Pombal, Coimbra, Portugal.
3
Centro de Geofísica. Departamento de Ciências da Terra, Universidade de
Coimbra, Largo Marquês de Pombal, Coimbra, Portugal.
*
Autor correspondente / Corresponding author: pandrade@dct.uc.pt
1. Introdução
As diversas situações de instabilidade estão directamente
relacionadas com os agentes de meteorização e erosão que
atuam na superfície terrestre ou próximo da sua interface.
As causas das instabilidades são por vezes difíceis de
definir, dado que é complexo distinguir, em muitos casos,
o que foi originado pela ação humana ou pela natureza. Na
região do Lobito e Catumbela (Fig. 1), cidades do litoral
oeste de Angola, os efeitos da atividade humana são com
frequência indutores de processos erosivos e de situações
de instabilidade. Neste sentido, as autoridades
administrativas locais pretendem efetuar um planeamento
eficaz, em que a cartografia temática adquire uma grande
importância.
Com efeito, as zonas urbanas consideradas apresentam
numerosas situações de instabilidade de taludes e
vertentes, o que as torna em áreas de risco e perigosidade
natural.
O crescimento rápido da população local e as
aspirações a uma melhor forma de vida tem repercussões
nas questões ambientais. Uma grande parte das áreas
urbanas está ocupada por construções de forma
desordenada e as encostas apresentam marcas de
instabilidades relacionadas com os pendores elevados, a
presença de material rochoso fraturado e de resistência
variável, bem como a existência de depósitos de cobertura
de coerência reduzida.
2. Enquadramento geográfico e geológico
O tipo de ocupação humana presente no Lobito e na
Catumbela, cidades populosas da faixa litoral centro-oeste
de Angola, tem uma importância fundamental na avaliação
das diversas tipologias de riscos geológicos, as quais
dependem, entre outros fatores, da densidade demográfica
e da natureza e localização de bens e infraestruturas
existentes.
Excetuando a restinga do Lobito, densamente
edificada, aproximadamente 85% da população reside nas
áreas de cota mais elevada do espaço urbano e sua
periferia, as quais são recortadas por uma rede incisa de
vales secos com vertentes abruptas (dambas), abertos no
sentido da faixa litoral. A maioria das habitações foi
edificada em adobe e não atendem a normas ou
regulamentos de construção e de segurança, nem a um
plano de ordenamento do território. Não obstante, está
previsto para a área estudada (Fig. 1) um programa de
gestão relativo à construção de infraestruturas e de
habitações, o qual deveria contemplar medidas de
prevenção e correcção das possíveis ocorrências de
 890
instabilidades de vertentes/ ou taludes, nomeadamente as
tipologias queda de blocos, deslizamentos e fluxos,
abordadas neste trabalho.
Fig. 1. Localização dos 12 taludes (T1 a T12) da área de estudo.
Fig. 1. Location of slopes (T1 to T12) of the study area.
Na área considerada registam-se episódios de
precipitação que, apesar de ocasionais, atingem muitas
vezes uma intensidade elevada. Estas situações podem
originar problemas de instabilidade de vertentes, como as
que se verificaram durante os verões de 2001, 2004, 2009
e 2011, causando a destruição de muitas habitações, bens
materiais, infraestruturas e a ocorrência de vítimas
humanas. Também acentuaram situações de erosão, já por
si incrementadas com a retirada do coberto vegetal nos
locais de construção.
Do ponto de vista geológico predominam rochas
carbonatadas de idade cretácica na área de estudo, as quais
são representativas do enchimento sedimentar mesozóico
do onshore da Bacia de Benguela, designadamente
alternâncias de calcários, calcários margosos e margas com
fósseis marinhos pertencentes à Formação de Quissonde e
calcários em bancadas espessas, integrados na Formação
de Catumbela (Buta-Neto et al., 2006; Tavares, 2006;
Quesne et al., 2009; Guiraud et al., 2010). O espaço
ocupado pelas unidades da bacia mesozóica aparece bem
delimitado entre a restinga do Lobito, a planura holocénica
adjacente do delta do Rio Catumbela e o soco metamórfico
e granitóide do maciço marginal, que delimita a transição
para as áreas cratónicas do interior de Angola (Galvão &
Silva, 1972).
O relevo do maciço calcário constituído por estas
unidades, compreende um modelado com diversos
patamares ligados ao desenvolvimento de plataformas de
abrasão e de paleoarribas holocénicas e plistocénicas,
sobre as quais assentam retalhos de depósitos de praia
M. M. Derna et al. / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 889-892
levantada e de depósitos de terraço ligados ao encaixe
fluvial da rede de drenagem local (Carvalho, 1961).
Encontra-se, também, cortado por diversas falhas com
desenvolvimento meridiano.
As unidades carbonatadas apresentam, em geral,
estratos bastante diaclasados e com pendores fracos para o
quadrante oeste. Na área em estudo apresentam-se cortadas
por diversas dambas, vales profundos com sentido de
drenagem para ocidente e vertentes verticalizadas que
atingem, por vezes, alturas próximas da centena de metros,
onde o risco de ocorrência de cheias repentinas é real. É
nestes vales que ocorrem afloramentos de rochas
carbonatadas quase contínuos, bem como numerosos
depósitos de vertente.
Em suma o maciço rochoso que aflora na área de
estudo é constituído por rochas sedimentares como
calcários, margas e gesso, verificando-se que a
permeabilidade é do tipo fissural, e que o maciço se
apresenta medianamente alterado e fraturado.
3. Metodologia
Procedeu-se à definição e análise das diferentes
características dos taludes/vertentes escolhidos, bem como
as suas instabilidades. Elaborou-se uma ficha de trabalho e
efetuou-se a seleção de locais a estudar, situados nas áreas
urbanas do Lobito e da Catumbela, e que apresentam
situações presentes ou potenciais de instabilidade.
A ficha de trabalho apresenta como parâmetros as
características geométricas dos taludes/vertentes, a
litologia, o tipo de vegetação, as estruturas geológicas, o
tipo de instabilidade de acordo com uma adaptação da
classificação de Varnes (1978) e Dikau et al. (1996), os
trabalhos de estabilização, a velocidade dos movimentos
de instabilidade, o estados de atividade, as dimensões da
instabilidade, as consequências e causas externas e internas
da instabilidade. A ficha de trabalho é composta por 17
parâmetros que são apresentados, de uma forma
simplificada, na tabela 1.
Seguidamente efetuou-se o levantamento de campo de
aspectos topográficos, geológicos, estruturais, presença de
vegetação e definição dos tipos de instabilidade.
Procedeu-se ao tratamento dos dados obtidos e à sua
análise e interpretação. O conjunto de informações e de
conclusões do trabalho poderá contribuir para um melhor
planeamento e ordenamento do território da área estudada.
4. Aplicação da metodologia
A região estudada apresenta um grande potencial para a
ocorrência de movimentos de instabilidade de taludes e de
vertentes, devido à ocupação desorganizada da população
e, igualmente, às caraterísticas geológicas e estruturais, ao
relevo e também ao clima árido de períodos de
pluviosidade curta mas intensos.
Na área considerada estudaram-se 12 taludes,
designados como T1 a T12 (Fig. 1), e que evidenciam ou
podem apresentar situações de instabilidade, os taludes
correspondem a vertentes que foram parcialmente
escavadas. Para metade dos taludes estudados a altura é
Instabilidades no Lobito e na Catumbela, Angola
igual ou superior a 20 metros. O pendor dos taludes
considerados é igual ou superior a 70º para seis deles
(50%), enquanto 5 dos taludes (cerca de 42%) têm um
pendor compreendido entre 50º e 70º e somente um
apresenta valores de inclinação entre 35º e 40º.
Tabela 1. Parâmetros de caraterização das instabilidades dos
taludes/vertentes.
Table 1. Parameters of the slope stability characterization.
As litologias predominantes são os calcários, calcários
margosos e margas que são características da unidade Alb3
(Formação de Quissonde). É de salientar a presença de
depósitos de cobertura e/ou vertente em quase todos os
taludes, com a exceção de dois. Os estratos de composição
argilosa são mais frequentes num terço dos taludes.
A vegetação, para cerca de 58% dos taludes, é
inexistente a rasteira, verificando-se que em 25% dos
taludes o predomínio da vegetação herbácea, enquanto
para aproximadamente 17% a vegetação é definida como
rasteira a moderada.
A maior parte das situações de instabilidade
correspondeu à queda de blocos, presente na totalidade dos
taludes, e de fluxos (83% dos taludes), em quatro dos
taludes verificaram-se deslizamentos. As velocidades
destes movimentos foram definidas como rápidas e
pontualmente muito rápidas.
891
Em quase todos os taludes não se constatou a presenças
de trabalhos de estabilização, apenas se registando num
talude a execução de trabalhos de saneamento dos blocos
rochosos instabilizados que se encontravam na base e
noutro a construção prévia de banquetas, com a redução do
pendor. O estado de actividade das instabilidades foi
considerado para a totalidade dos taludes como ativo, com
exceção dum em que a atividade foi considerada suspensa.
As principais causas externas da instabilidade são a ação
da água, presente na totalidade dos taludes, as escavações
no pé do talude e o incremento de carga na parte superior
do talude que estão presentes em 83,3% dos taludes, bem
como a erosão superficial em solos que se verificou em 2/3
dos taludes estudados. A ação da água como uma das
causas principais de instabilidade é claramente percetível,
dado que as situações de instabilidade estão presentes
durante os períodos de precipitação ou pouco tempo após
estes. As causas internas da instabilidade são a litologia
(alternância de calcários e margas, presença de depósitos
de cobertura/vertente), a fracturação, o aumento da pressão
intersticial da água e a diminuição da resistência dos
terrenos, em particular das margas e dos depósitos de
cobertura/vertente. É frequente que a zona de contacto
entre os depósitos de vertente/cobertura com o substrato
rochoso corresponda a uma zona de percolação de água, o
que pode originar situações de instabilidade.
As situações de instabilidade causaram danos em
habitações em 9 (75%) taludes e atingiram as vias de
comunicação nos 12 (100%) taludes estudados. Também se
registaram, de 2009 a 2011, vítimas feridas e mortais,
respectivamente, em 5 (41,7%) e 4 (25%) dos taludes
considerados.
Para além das situações relacionadas com os
movimentos nos taludes é de mencionar que existem
actualmente habitações, designadamente nos bairros
Chimbuila, Kavipa e Kileva, que se localizam em cursos
de água, que se encontram temporariamente secos, esta
situação deverá ser evitada no futuro, não permitindo a
construção de habitações ou de infraestruras nessas áreas.
5. Conclusões e recomendações
Neste estudo efetuou-se a caraterização das instabilidades
que ocorrem nas áreas do Lobito e da Catumbela. A maior
parte das áreas urbanas destas cidades localizam-se em
zonas de relevo acidentado e encontram-se ocupadas de
forma desorganizada, não existindo um plano de
ordenamento do território.
Os movimentos de instabilidade nos taludes são
condicionados pela morfologia, litologia, estrutura
geológica, clima e coberto vegetal. Para além da
perigosidade relacionada com fatores naturais verificou-se
que a acção antrópica tem uma importância muito
significativa nas áreas do Lobito e da Catumbela.
A maior parte das situações de instabilidade
correspondeu à queda de blocos rochosos e fluxos,
verificando-se a presença de deslizamentos em 4 dos 12
taludes estudados. As principais consequências das
instabilidades corresponderam a danos em habitações em 9
892 M. M. Derna et al. / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 889-892
taludes, sendo as vias de comunicação atingidas em todos os
taludes considerados, é de destacar a ocorrência de vítimas
feridas e mortais, respetivamente, em 5 e 4 taludes. É
recomendado a realização de estudos relacionados com a
caraterização de situações de instabilização de taludes, bem
como de outros riscos de origem natural, antrópica e mista.
Devido à situação de perigosidade existente, pode
promover-se o saneamento dos taludes com os devidos
cuidados de modo a não provocar a queda de blocos em
habitações ou a destruição de infraestruturas. Para além do
saneamento as principais medidas de redução da
instabilidade nos taludes propensos a essas situações são: a
drenagem, os muros de gabiões, a utilização de vegetação,
os muros de suporte, as pregagens, as redes de proteção
metálica e as modificações de geometria dos taludes.
No sentido de evitar a queda de blocos rochosos, que são
comuns á totalidade dos taludes estudados, é recomendada a
instalação de redes de protecção metálicas, de modo a
proteger eventuais habitações que se situem nas
proximidades dos taludes/vertentes que são constituídos por
maciços rochosos fracturados. Nos taludes T5, T7 e T11 é
preconizada a utilização de redes de protecção metálica. Na
estabilização de blocos rochosos de maiores dimensões
poderão ser utilizadas pregagens. No talude T12 recorreu-se
à construção de banquetas, de qualquer modo verificam-se
ainda situações de quedas de blocos.
Para as situações de fluxos poderão ser utilizados
gabiões, que correspondem a muros de suporte de
comportamento flexível e drenagem eficiente, e que poderão
servir de retenção aos movimentos que têm provocado
danos significativos e vítimas humanas. A utilização de
gabiões será mais propícia nos taludes T2, T3 e T10.
A Administração Municipal, em parceria com
instituições universitárias e com o governo da província e
nacional, deve efetuar a identificação das áreas de riscos e
de perigosidade elevada, com a finalidade de preparar
políticas de planeamento e ordenamento do território,
permitindo deste modo o desenvolvimento sustentado das
populações residentes.
Referências
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Dikau, R., Brunsden, D., Schrott, L., Ibsen, M.L., 1996. Landslide
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