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VALORAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NA EXPLORAÇÃO MINERAL DO


FERRO: O CASO DE UMA MINERADORA EM FLORESTA DO ARAGUAIA – PA

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Antonio Pereira Junior


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VALORAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NA EXPLORAÇÃO MINERAL DO


FERRO: O CASO DE UMA MINERADORA EM FLORESTA DO ARAGUAIA – PA

Antônio Pereira Junior1; Moema Nunes de Oliveira de Souza2;


Thacyane Caldas Soares Eleres3

RESUMO

A exploração mineral de ferro no Brasil causa impactos ambientais de grande monta aos recursos naturais: água,
solo e ar. O objetivo desse estudo foi analisar a valoração empregada no Relatório de Impacto Ambiental, em
uma mineradora situada no sul do Pará, município de Floresta do Araguaia. A metodologia empregada foi a
revisão sistemática do RIMA para obtenção das licenças ambientais, complementadas com buscas no SIMLAM
PUBLICO. Os resultados mostraram que os impactos ambientais foram caracterizados como ausentes (Etapa 1),
baixo e médio (Etapas 2 e 3). Concluiu-se que os valores estabelecidos para os impactos ambientais causados
pela exploração mineral de ferro no município de Floresta do Araguaia mostraram-se totalmente em desacordo
com as valorações aplicadas para esse tipo de atividade mineradora, o que não identifica de forma real os
impactos ambientais causados nos meios físico, biótico e socioambiental, em face da atividade de exploração
mineral.
Palavras chave: Minério de Ferro; impacto Ambiental; licenciamento ambiental.

VALORATION OF ENVIRONMENTAL IMPACTS OF THE IRON EXPLORATION MINE: THE


CASE OF THE MINE IN ARAGUAIA FOREST – PA

ABSTRACT

The mining of iron in Brazil causes environmental impacts of major consequence to natural resources: water, soil
and air. The aim of this study was to analyze the valuation used in the Environmental Impact Report (EIR) in a
mining company located in southern Para state, municipality of Araguaia Forest. The methodology used was the
systematic review of the RIMA for obtaining environmental licenses, supplemented with searches in SIMLAM
PUBLIC (SEMA). The results showed that environmental impacts characterized as missing (Step 1), lower and
middle (Steps 2 and 3). It concluded that the values established for the environmental impacts caused by the
mining of iron in the Aragua Forest municipality proved to be totally at odds with the valuations applied to this
type of mining activity, which does not identify the real way the environmental impacts caused.
Keywords: Iron ore; environmental impact; environmental licensing.

1
Professor Assistente daUniversidade do Estado do Pará, Departamento de Engenharia Ambiental.
E-mail: jrecobio@yahoo.com.br
2
Engenheira ambiental independente.
3
Engenheira Ambiental. Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Marabá – Pará.

Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 13 , n. 2 p. 128 -138 , jul./dez. 201 6 .


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1. INTRODUÇÃO rebaixamento do nível de lençol freático,


geração de material particulado oriundo do
As atividades de explotação e uso de explosivos.
beneficiamento mineral, de acordo com No lençol freático local, ocorre
Matos (2010), estão classificadas entre as principalmente o rebaixamento ou
mais impactantes ao meio ambiente, bombeamento da água, pois, durante os
notadamente a paisagem e alterações na processos de assentamento da
qualidade do solo, da água e do ar as quais infraestrutura e lavra, um grande volume
acarretam problemas à saúde das pessoas de rochas e de pilhas de minério pode ficar
diretamente envolvidas no exposta aos processos de oxidação, o que
empreendimento e transtornos às pode auxiliar na formação de drenagens
populações que habitam no entorno das ácidas com efeitos adversos para a
jazidas. qualidade das águas superficiais e
Outras atividades minerárias, subterrâneas. Sobre esse aspecto, Paiva
conforme explica Iramina et al. (2009), (2006) confirma que o bombeamento do
como a fase de prospecção e pesquisa lençol freático também pode provocar a
mineral podem ocorrer efeitos negativos ao subsidência de terrenos, principalmente os
ambiente, estes podem ser expressivos, cársticos.
apesar de pouco mencionados na literatura, Para identificar todos esses impactos
estão inseridas nestas etapas as atividades a ferramenta adequada é a Avaliação de
de aberturas de trincheiras, poços e de Impacto Ambiental (AIA) e, segundo
caminhos para os equipamentos de Sánchez (2006), é uma atividade que visa
geofísica e perfuração afetam a vegetação antecipar as implicações futuras de
e a fauna, alteram as paisagens, aceleram decisões presentes, sendo esta, etapa
processos de erosão. fundamental do Estudo de Impacto
Quanto a fase de lavra e Ambiental (EIA), onde a previsão deve ser
beneficiamento, Figueiredo (2000), afirma entendida como uma hipótese
que os impactos oriundos dessas fases são fundamentada e justificada, se possível
mais amplos do que os da fase de pesquisa. quantitativa, sobre o comportamento futuro
Na fase de extração do minério, podem de alguns parâmetros, denominados
produzir-se danos à vegetação e à indicadores ambientais, representativos da
paisagem, especialmente nas lavras a céu qualidade ambiental.
aberto, pois é necessária a remoção da Essa ação é importante, pois, de
cobertura vegetal, afugentamento de fauna, acordo com Salomão (2012), a mineração

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de superfície envolve a completa remoção negligenciados na etapa de encerramento


da cobertura florestal e da capa superior do da atividade apresentam expressivo caráter
solo, existentes sobre o minério, este negativo, estes podem ser imediatamente
material quando armazenado de forma identificados e generalizados entre eles:
inadequada pode sofrer erosão hídrica, desemprego, forte redução da atividade
assoreando os cursos hídricos. As econômica no Município-sede e nas
principais alterações ocorrem no solo e na demais áreas de influência do
topografia do local, através da erosão e da empreendimento, queda substancial da
sedimentação que atingem seu máximo arrecadação de impostos.
impacto a partir do início das atividades de Na etapa pós exploratória, Souza
lavra até pelo menos o início dos trabalhos (2002), expõe que as implicações
de restauração florestal. referentes ao fechamento de uma
Em relação a isso, Sánchez (2006), mineração decorrem do processo de
afirma que as alterações provocadas pela mudança de uso de área que, até então, era
mineração estão associadas à modificação essencialmente de extração mineral, sendo
da paisagem, solos e rochas escavados fundamental, portanto, que sejam
(denominados estéreis), estes, quando observadas as imposições legais que
armazenados sem critério técnico, podem derivam deste fato, relativas ao fechamento
se tornar fontes de poluição das águas, vale da mina propriamente dita, necessidade de
ressaltar que a maioria dos rejeitos do licenciamento da nova forma de uso, à
processo de tratamento do minério é feita possibilidade de um novo aproveitamento
por via úmida, e que estes são dispostos em mineral da jazida desativada e à
estruturas de contenção como barragens e responsabilidade do minerador pelo
diques, porém, estes mecanismos cumprimento da obrigação de executar o
interferem com o ambiente, córregos e plano de recuperação de área degrada
áreas marginais. aprovado pelo órgão ambiental
Todos esses impactos, de acordo com competente.
Fernandes (2007), afirma que eles são Em face dos fatos expostos, justifica-
avaliados durante o licenciamento do se a necessidade de analisar a valoração
empreendimento, porém, os impactos aplicada aos impactos causados pela
sociais que durante esta etapa são mineração com o objetivo de demostrar
classificados apenas como positivos, que tais valorações podem induzir a um
através da criação de empregos e o licenciamento ambiental equivocado
desenvolvimento socioeconômico, quando quanto aos valores utilizados no RIMA.

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2. MATERIAL E MÉTODOS ambiental (assim denominada


erroneamente) x Ação Ambiental
Neste estudo o material utilizado elaborada por SÁNCHES (2006) e contida
para análise e valoração foi o Relatório de na Matriz de Leopold. Isso permite a
Impacto Ambiental (RIMA) elaborado na verificação de inconformidades dos
fase do licenciamento da atividade. procedimentos legais do empreendimento
Realizou-se a identificação e em estudo, mediante a revisão crítica do
caracterização dos impactos ambientais, RIMA. Tal Matriz está contida nesse
(ou aspectos ambientais) descritos nas documento e consta de três Etapas contidas
matrizes de avaliação de impacto. no Quadro 1.
O RIMA foi obtido mediante a A análise dos valores (1 = baixo; 2 =
disponibilização da própria empresa. Em médio; 3 = alto) dos aspectos ambientais
seguida, efetuou-se a interpretação dos (enumerados de 1 a 12) foi efetuada de
resultados previstos no RIMA, com ênfase acordo com os parâmetros estabelecidos
nos impactos descritos nas matrizes e pela empresa terceirizada, responsável pela
avaliação de impactos adotados. Em elaboração da Matriz de Leopold e
seguida, confrontaram-se esses dados com comparado com trabalhos acadêmicos
o que rege a legislação ambiental brasileira pertinentes. Para a terceirizada, a soma
vigente acerca da composição deste desses valores e as respectivas
relatório. Justifica-se o uso do RIMA em classificações dos impactos ambientais,
detrimento ao EIA, devido a lei ambiental obedeceram aos seguintes padrões:
vigente que não permite a cessão do - Ausente (∑ ≤ 10).
mesmo por parte do empreendedor, e isso - Baixo (10 ≤ ∑ ≥ 15).
ocorreu no presente estudo. - Médio (15 ≤ ∑ ≥ 20).
O Método utilizado foi à análise da - Alto (20 ≤ ∑ ≥ 25)
valoração contida na relação aspecto - Muito alto (25 ≤ ∑ ≥ 30).

Quadro 1. Etapas utilizadas para ocorrência de impactos ambiental na mineradora - Floresta do Araguaia/PA.
ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3

- Estudos e Projetos. - Implantação de canteiros e acampamentos. - Transporte de


- Contratação de mão-de-obra. - Terraplenagem, construção das Barragens. minério.
- Trabalhos iniciais de - Construção da unidade Administrativa e de - Lavra regular do
desmatamento. Apoio. minério
- Abertura de acessos provisórios. - Montagem da planta de tratamento de minério. - Fechamento da mina
- Operação da Infraestrutura geral.
- Lavra experimental

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO valorações empregadas mostram-se


ínfimas nas ações 3 (Trabalho inicial de
3.1 Etapa 1
desmatamento) e 4 (Abertura de acessos
As ações do empreendimento nessa
provisórios), onde, todos os impactos
etapa envolveram quatro ações ambientais
ambientais incidentes sobre os aspectos
que atuam sobre doze aspectos ambientais,
ambientais são classificados como de baixo
como pode ser observado na Tabela 1. As
impacto, devido ao uso do valor igual a 1.

Tabela 1. Aspectos ambientais valorados no RIMA, Etapa 1.


ETAPAS ETAPA 1

CAUSAS/FATOR
Estudos e Projetos

de Desmatamento
Trabalhos iniciais
Contratação de
Mão de Obra

TOTAL DE
Abertura de

Provisórios
Acessos
AÇÕES

ASPECTOS AMBIENTAIS 1 2 3 4
1 Drenagem 1 1 2
2 Qualidade da água superficial 1 1 2
3 Erosão/Assoreamento 1 1

4 Uso potencial do solo 1 1 2

5 Qualidade do ar 1 1

6 Flora 1 1 2

7 Fauna 1 1 2

8 Economia Regional 0

9 Economia Local 1 1 1 1 4

10 Emprego e Renda 1 1 2

11 Qualidade de vida 1 1
12 Resíduos e efluentes 1 1 2
TOTAL DE IMPACTOS/AÇÃO (Σ) 1 3 7 10 22

Percebeu-se que os valores obtidos deixam vulnerável a ação de


para trabalhos iniciais de desmatamento (∑ intemperismos desencadeadores de
= 7) e abertura de acessos provisórios (∑ = processos erosivos, além interferir na
10), impactos classificados como qualidade da água pelo carreamento de
negativos, não correspondem ao grau de partículas para os corpos hídricos.
impacto destas ações que, mesmo em Sobre esses fatos, Matos (2010),
vegetações rasteiras e de canga, provocam afirma que a mineração acarreta alterações
supressão vegetal, expõem o solo, e o em todos os compartimentos ambientais

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que se iniciam na fase de pesquisa até o Quanto ao uso potencial do solo,


fechamento da atividade, tanto no âmbito verificou-se que o valor da ação sobre o
ecológico ou social. Essa assertiva também aspecto ambiental continuou com valor
é observada no estudo efetuado por ínfimo (1), o que pode ser interpretado, de
Iramina et al. (2009), pois, essa autora acordo com a empresa terceirizada, causa
enfatiza que fase da pesquisa, tal etapa impacto baixo. Porém, o uso de tratores
pode apresentar impactos expressivos, e causa compactação do solo, o que interfere
afetam vegetação, fauna, alteram as na infiltração e posterior percolação da
paisagens e aceleram processos erosivos. água no solo já desnudo. Dessa forma, a
Logo, o valor utilizado (1), bem valoração empregada não condiz com as
como o valor total (∑) obtido pela pesquisas já efetuadas por Lopes (2006),
terceirizada, para tais impactos, não são Postali et al. (2007) e Reichert, Suzuki e
compatíveis com a afirmativa dessa autora. Reichert (2007), acerca dessa ação e sua
Isso significa que os impactos ambientais consequência.
sobre os aspectos ambientais (12) são Em relação a qualidade de vida,
muito mais significativos em função percebeu-se que não houve, no RIMA,
daqueles contidos no RIMA. valoração. Estudos efetuados por Fearnside
Os resultados também mostraram (2006) e Moutinho (2009) comprovaram
que houve uma valoração baixíssima com que, quando há desmatamento, os serviços
relação a qualidade superficial da água (1), ambientais prestados pela biomassa vegetal
posto que, o uso de máquinas pesadas para em pé (albedo, sombreamento, absorção de
desmatamento e abertura de acessos dióxido de carbono; mitigação na variação
provisórios, dependem de energia derivada da temperatura; melhora no conforto
do petróleo, logo, nessas duas ações pode térmico), sofrem degradação, o que
ocorrer vazamento desse combustível, de culmina com impacto negativo.
caráter químico polar e, em contato com a
3.2 Etapa 2
água, não sofrerá diluição, com isso,
Nesta etapa, o valor atribuído a
compromete a qualidade da mesma.
relação ação ambiental x aspecto
Todavia, observa-se que o valor total
ambiental, não se mostrou diferente
obtido para resíduos e efluentes foi igual a
daquele aplicado à Etapa 1. Porém, as
2, e isso, pela empresa terceirizada, é
somas dos valores dos doze aspectos
considerado como impacto médio, o que
ambientais, que permaneceram os mesmos,
torna a relação valoração e intensidade do
variaram de 7 a 12 (Tabela 2).
impacto, totalmente contraditório.

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Tabela 2. Etapa 2: Valoração dos aspectos ambientais (contida no RIMA) em função das etapas ambientais.
ETAPA ETAPA 2

Lavra Experimental
Administrativa e de

CAUSAS/FATOR
de tratamento de
Terraplenagem,
Implantação de

acampamentos

construção das

Construção da

Montagem da

Infraestrutura

TOTAL DE
Operação da
canteiros e

Barragens

minério.
unidade

Apoio

planta

Geral
AÇÕES

ASPECTOS AMBIENTAIS 5 6 7 8 9 10
1 Drenagem 1 1 1 1 1 5
2 Qualidade da água superficial 1 1 1 1 1 5
3 Erosão/Assoreamento 1 1 1 1 4
4 Uso potencial do solo 1 1 1 1 1 1 6
5 Qualidade do ar 1 1 1 1 1 1 6
6 Flora 1 1 1 1 1 1 6
7 Fauna 1 1 1 1 1 1 6
8 Economia Regional 1 1
9 Economia Local 1 1 1 1 1 1 6
10 Emprego e Renda 1 1 1
11 Qualidade de vida 1 1 1 3
12 Resíduos e efluentes 1 1 1 1 1 1 6
TOTAL DE IMPACTOS/AÇÃO 10 9 7 9 12 9 54
(Σ)

Verificou-se que as ações Sobre a implantação de


construção da unidade administrativa e de empreendimentos de exploração mineral
apoio (Σ=7); montagem da planta de com lavra a céu aberto, Figueiredo (2000)
tratamento de minério (Σ= 9); concluiu que ações como a remoção de
terraplenagem e construção das barragens, cobertura vegetal e consequente exposição
(Σ=9). Nesse aspecto, para que haja o das camadas inferiores do subsolo geram
processo de terraplenagem é necessário a um contraste perceptível a grandes
introdução de material de áreas geográficas distâncias. Ressalta-se que os impactos
diferentes, logo, a modificação na relativos à alteração da paisagem, são mais
composição do solo quanto a matéria significativos e de fácil percepção, pois,
orgânica, invertebrados, densidade do solo são efetuadas escavações,
e infiltração da água, sofrem alterações. desflorestamento, barramento de rios e
Logo, esse valor (9) não condiz com obras de engenharia. Então, as
estudos realizados por Alves, Suzuki e classificações dos graus dos impactos
Suzuki (2007), Campos e Alves (2006) que ambientais como ausente e baixo impacto
mostraram as reais interações negativas na contradizem estudos efetuados na mesma
introdução desse material como, por fase dessa atividade mineral.
exemplo, incremento na densidade do solo,

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3.3 Etapa 3 negligenciou-se os impactos decorrentes da


Os valores para caracterização do operação de uma mina e foi aplicado valor
grau de impacto seguiram o padrão de igual a 1. Contudo, os valores obtidos após
avaliação das etapas anteriores, a soma, variaram entre 09 e 12 (Tabela 3).

Tabela 03. Valoração para a relação ações ambientais x aspectos ambientais na Etapa 3.
ETAPAS ETAPA 3

CAUSAS/FATOR
Lavra Regular do
Transporte do

TOTAL DE
Fechamento
Minério

da mina
minério
AÇÕES

ASPECTOS AMBIENTAIS 11 12 13
1 Drenagem 1 1 2
2 Qualidade da água superficial 1 1 2
3 Erosão/Assoreamento 1 1 2
4 Uso potencial do solo 1 1 1 3
5 Qualidade do ar 1 1 2
6 Flora 1 1
7 Fauna 1 1
8 Economia Regional 1 1 1 3
9 Economia Local 1 1 1 3
10 Emprego e Renda 1 1 2
11 Qualidade de vida 1 1 2
12 Resíduos e efluentes 1 1 1 3
TOTAL DE IMPACTOS/AÇÃO (Σ) 8 11 7 25

Os resultados mostraram que, no mudanças na declividade, no comprimento


transporte de minérios, tem-se impacto dos taludes e nas drenagens naturais,
ausente para transporte de minérios (Σ = tornando a nova superfície instável
8); lavra regular de minério (Σ=11). Essas podendo ocasionar movimentos de massa
valorações determinam a classificação para em taludes de corte e de aterro, subsidência
o impacto ambiental como de baixo de escavações subterrâneas e processos
impacto; para lavra experimental e erosivos. Pôde-se então observar que os
fechamento de mina (Σ=12) o impacto valores obtidos após as somas dos aspectos
ambiental sobre os aspectos ambientais, ambientais na etapa 3, não provocam tais
também foi classificado como de baixo alterações, o que é impossível, pois trata-se
impacto. de atividade mineradora extrativista de
Sobre essas ações ambientais, Vieira ferro, objeto de estudo de Viera (2010).
(2010) afirmou que o meio ambiente local Além disso, estudos efetuados por
sofre algumas alterações, tais como: Bacci, Landim e Eston (2006) e Silva

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(2007), sobre o transporte de minérios e a de oxidação, o que auxilia na formação de


degradação das águas superficiais, drenagens ácidas com efeitos adversos para
mostraram que o transporte de minérios é a qualidade das águas superficiais e
uma das causas mais acentuadas da subterrâneas, além de causar subsidências.
contaminação das águas superficiais. No RIMA em análise, não há preocupação
Porém, no RIMA efetuado pela com esse tipo de impacto ambiental.
terceirizada, a qualidade da água
superficial (Σ=9), obteve classificação
como impacto negativo, ou seja, o 4. CONCLUSÕES
transporte de minérios, no empreendimento
estudado, não será afetado por essa ação. Foram definidos os principais
Quanto à fauna e flora, nessa etapa, impactos previstos nas fases do
os resultados mostraram que, além de não empreendimento, contudo, nem todos
serem atingidos pelo transporte de foram considerados com a valoração
minérios, sofreram impacto ambiental usualmente atribuída pelos autores de
baixo, a partir da lavra regular da mina. referência, assim a valoração foi feita de
Nesse caso, não há formação de drenagem forma parcial, o que compromete a
ácida de mina (DAM). Estudos realizados qualidade de vida e do ambiente.
por Carvalho Filho, Curi e Shinzati (2010), A composição do RIMA não
e Faria (2008) mostraram que a absorção contempla a objetividade quanto à previsão
de DAM, afeta os vegetais que extraem dos impactos significativos, estes não
água de solos contaminados com esse tipo podem ser classificados como ausentes ou
de contaminante. Em função disso, a de baixo impacto, e estas duas
valoração estabelecida no RIMA em classificações são pertinentes nas três
análise, não corrobora com os trabalhos etapas descritas no RIMA, o que se opõe a
efetuados por àqueles autores. Legislação vigente. Além disso, as
Sobre a DAM, Paiva (2006) afirma valorações numéricas utilizadas não
que algumas minas que se localizam sob o expressam a gravidade dos impactos que
nível piezométrico de aquíferos livres ou realmente acontecem no processo da
confinados, ocorre o rebaixamento do extração férrica.
lençol freático, por meio de bombeamento As etapas 1 e 3 apresentaram
da água e, durante este processo, um menores valorações para os 12 aspectos
grande volume de rochas e de pilhas de ambientais analisados pela terceirizada,
minério pode ficar exposto aos processos porém, isso não caracteriza a real

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importância quanto a conservação que Agrop. Bras., v. 45, n.8, p. 903 –


916, 2010.
devem ser ofertadas nesse tipo de
avaliação, para a perda de fauna e flora, FARIA, I. D. Compensação Ambiental:
os fundamentos e as normas, a
contaminação de corpos hídricos, gestão e os conflitos. Brasília:
alterações irreversíveis na paisagem local, Consultoria Legislativa do Senado
Federal, 2008.
o que deteriora a qualidade de vida dos
munícipes de Floresta do Araguaia. Na FEARNSIDE, P. M. Desmatamento na
Amazônia: dinâmica, impactos e
Etapa 2 as somas das valorações controle. Acta Amazonica, v. 36,
mostraram-se mais próximas da realidade n. 3, p. 395 – 400, 2007.

dos impactos ambientais causados pela FERNANDES, F. R. C. Grandes minas e


extração férrica nos aspectos ambientais, comunidade: algumas questões
conceituais. Rio de Janeiro:
porém, não foi efetivo quanto a CETEM/MCT, 2007.
contaminação das águas superficiais.
FIGUEIREDO, B.R. Minérios e
ambientes. Campinas: Unicamp,
2000.

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solo e infiltração da água como
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um Latossolo vermelho distrófico solo de uso florestal submetido ao
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n.31, p. 617 – 625, 2007. Viçosa (MG): R. Árvore, v. 30, n.
3, p. 369 -373, 2006.
BACCI, D. L. C.; LANDIM, P. M. B.;
ESTON, S. M. Aspectos e impactos MATOS, A. T. Poluição Ambiental:
ambientais de pedreira em áreas impactos no meio físico. Viçosa:
urbanas. R. Esc. Minas, v. 59, n. 1, UFV, 2010.
p. 47 – 54, 2006.
MOUTINHO, P. Desmatamento na
CAMPOS, F. S.; ALVES, M. C. Amazônia: desafios para reduzir
Resistência à penetração de um as emissões de gases de efeito
solo em recuperação sob sistemas estufa do Brasil. 2009. Disponível
agrosilvopastoris. Revista em:<http://www.fbds.org.br/IMG/p
Brasileira de Engenharia df/doc-411.pdf.>. Acesso em:15
Agrícola e Ambiental, v. 10, n. 3, out. 2014.
p. 759 – 764, 2006.
PAIVA, C. T. Proposta de Metodologia
CARVALHO FILHO, A.; CURI, N.; para Análise de Passivos
SHINZATO, E. Relações solo- Ambientais da Atividade Minerária.
paisagem no quadrilátero ferrífero Projeto BRA/01/039: Apoio à
em Minas Gerais. Brasília: Pesq.

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Brasília: MME, 2006. Disponível Aspectos Legais. 2002. Disponível
em: em:
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POSTALI, T. et al. Sucessão secundária econômicos da recuperação
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