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ASPECTOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE DE MINERAÇÃO DE AREIA E CASCALHO

NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAPOCÚ, SANTA CATARINA

Francisco Caruso Júnior 1

Resumo – Este trabalho apresenta uma síntese do Estudo de Impacto Ambiental realizado sobre a
atividade de mineração de areia e cascalho na bacia do rio Itapocú, situada na região nordeste de
Santa Catarina, que teve como objetivo apresentar o relacionamento existente entre esta atividade,
vital para o desenvolvimento econômico da região, com a questão ambiental. O estudo constou de
diversas etapas, iniciando-se com a fase de diagnóstico ambiental, posteriormente com a detecção
dos impactos da atividade minerária sobre o meio ambiente, em seguida com a proposição de
medidas mitigatórias e, por fim, com a indicação dos planos de monitoramento. Na etapa
conclusiva, foram propostas diversas ações que têm como objetivo estabelecer normas e diretrizes
para o disciplinamento da atividade e sua compatibilização com o meio ambiente, assim como
propor soluções para o uso futuro da área da bacia do Rio Itapocú, de modo a permitir uma
exploração racional, recuperar e preservar o meio ambiente e garantir o fornecimento à indústria e
ao setor de obras públicas da região nordeste de Santa Catarina.

Abstract – This work presents a summary of the Environmental Impact Assent about the mining
activity of sand and bolder in Itapocú river basin situated on the northeast of Santa Catarina state.
The objective of the assent is to present the relationship between that important economic activity
and the environmental matter. The study has many steps. The first one is the environmental
diagnostic. Second are the impacts of mining activity into environment. Then are presented the
mitigating means and, finally, a monitoring program is indicated. In conclusion, various actions are
proposed in order to establish rules and directives to the discipline of the activity and its
compatibility with the environment. Also, solutions to the further use of the area are proposed in
order to permit a rational exploration, to preserve the environment and to guarantee the provision to
industry and to public constructions on the northeast of Santa Catarina state.

Palavras-Chave – mineração de areia e cascalho, estudo de impacto ambiental.

1
UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí, CTTMar – Laboratório de Geologia, Cx. Postal 360 Itajaí, Santa Catarina.
Tel.: (47) 341-7731, carusojr@cttmar.univali.br
INTRODUÇÃO

O presente trabalho relata, uma síntese do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA)


realizado na bacia hidrográfica do rio Itapocú, situado na região nordeste do estado de Santa
Catarina, que teve como objetivo principal apresentar o relacionamento existente entre a atividade
de mineração de areia e cascalho, vital para o desenvolvimento econômico da região, com a questão
ambiental.
A rede hidrográfica catarinense é caracterizada por dois sistemas independentes de drenagem:
o Sistema Integrado da Vertente do Interior, comandado pela bacia Paraná-Uruguai, e o Sistema da
Vertente Atlântica, formado por um conjunto de bacias isoladas (Gaplan, 1986). O grande divisor
da águas dos dois sistemas é representado pela Serra Geral e, mais ao norte, pela Serra do Mar. As
águas das bacias do Uruguai e do Iguaçu são, dessa forma, drenadas para o interior do continente,
tendo como destino final o grande complexo hidrológico da bacia do Prata. No sentido oposto, ou
seja, para o lado leste, são drenadas as águas da vertente atlântica, desaguando diretamente no
Oceano Atlântico.
O sistema de drenagem desta vertente compreende uma área aproximada de 35.298 km2, ou
seja, 37% da área total do estado, no qual fazem parte diversas bacias, incluindo a do rio Itapocú,
que possui uma área de drenagem de 2.930 km2, com uma densidade de drenagem equivalente a
1,59 km/km2 (figura 1), abrigando 7 municípios.

BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO ITAPOCÚ

Figura 1 – Limites geográficos da Bacia Hidrográfica do Rio Itapocu.

O estudo realizado constou de diversas etapas, iniciando-se com a fase de diagnóstico


ambiental, posteriormente com a detecção dos impactos da atividade minerária sobre o meio
ambiente, em seguida com a proposição de medidas mitigatórias e/ou compensatórias e, por fim,
com a indicação dos planos de monitoramento. Na etapa conclusiva, foram propostas diversas ações
que têm como objetivo estabelecer normas e diretrizes para o disciplinamento da atividade e sua
compatibilização com o meio ambiente, assim como propor soluções para o uso futuro da área da
bacia do Rio Itapocu, de modo a permitir uma exploração racional, recuperar e preservar o meio
ambiente e garantir o fornecimento à indústria e ao setor de obras públicas da região nordeste de
Santa Catarina.

ASPECTOS ECONÔMICOS

A mineração de areia e cascalho, para uso na construção civil, encontra-se presente nos
principais rios e planícies aluvionares da vertente atlântica do estado de Santa Catarina. A areia
quartzosa, para usos mais nobres, é extraída das planícies marinhas / eólicas quaternárias que se
estendem pelo litoral catarinense, ou de sedimentos clásticos continentais, estratificados e friáveis,
da formação Rio Bonito, da Bacia do Paraná.
A construção civil sem dúvida constitui-se ainda no maior mercado consumidor de areia. Para
esta finalidade as especificações técnicas não são tão acuradas, necessitando apenas que o material
se enquadre nas faixas granulométricas exigidas para cada fim.
Areias quartzosas industriais, com alto teor de sílica, destinadas aos mercados vidreiros, de
fundição, cerâmica, farinha de sílica e indústria química, estão cada vez mais implementando o
mercado no país. O consumo de areia de fundição no município de Joinville, em Santa Catarina,
alcança atualmente valores na ordem de 9.000 a 10.000 metros cúbicos por mês.
A areia caracteriza-se pelo baixo valor e grandes volumes produzidos. O transporte responde
por cerca de 2/3 do preço final do produto, o que impõe a necessidade de produzi-la o mais próximo
possível do mercado, que são os aglomerados urbanos. O maior problema para o aproveitamento
das reservas existentes é a urbanização crescente que inviabiliza importantes depósitos ou restringe
a extração. As restrições ambientais à utilização de várzeas e leitos de rios para extração de areia
criam sérios problemas para as lavras e os licenciamentos em operação e, em conseqüência, as
novas áreas de extração estão cada vez mais distantes dos pontos de consumo, encarecendo o preço
final dos produtos.
A Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, transporta de longe quase toda areia que
consome, sendo que a maioria dos locais fica a mais de 100 km. Felizmente, este problema não
ocorre na região nordeste de Santa Catarina, onde se situa a bacia hidrográfica do rio Itapocu, pois o
crescente desenvolvimento da urbanização não tem afetado, por enquanto, a mineração de areia e
cascalho, porque os principais centros consumidores, situados entre Jaraguá do Sul e Joinville,
encontram-se relativamente próximos das jazidas.
No Brasil, 90% da areia é produzida em leito de rios e o restante é proveniente de outras
fontes (DNPM, 2000). Em 1999, foram produzidos 215 milhões de metros cúbicos de agregados
para a construção civil, representando um crescimento de 1,48% em relação a 1988. Desse total,
127,2 milhões de metros cúbicos (203,6 milhões de toneladas) são representados por areia. São
Paulo respondeu por 32,3% da produção nacional e os outros grandes produtores são: Minas Gerais
(12%), Rio de Janeiro (9%), Paraná (7%), Rio Grande do Sul (6,4%) e Santa Catarina (3,9%).
Segundo dados do Anuário Mineral Brasileiro do ano de 1998, relativo ao ano de 1997
(DNPM, 1998), as reservas catarinenses de areia e cascalho eram de 22.789.244 m3 (reserva
medida). Estas reservas estão concentradas nos municípios de Garuva (60.382 m3), Itajaí
(1.060.601 m3), Joinville (21.292.151 m3) e Vargeão (376.110 m3). A quantidade produzida foi de
5.989.155 m3, com valor de produção de R$ 28.318.904,00.
Quanto às reservas de areia industrial, ainda segundo o Anuário Mineral Brasileiro do ano de
1988 (op. cit.), Santa Catarina apresentou 74.428.387 m3 de reserva medida, estando concentrada
nos municípios de Araquari (23.705.547 m3), Araranguá (4.023.193 m3), Imbituba (34.304.442
m3), Jaguaruna (10.433.056 m3), Lontras (446.379 m3), Pedras Grandes (207.000 m3), Rodeio
(13.075 m3) e Urussanga (1.295.695 m3). A quantidade produzida foi de 366.605 m3.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A LAVRA E O BENEFICIAMENTO

A extração de areia da calha do rio é efetuada utilizando-se de balsas que operam no sistema
de dragagem por sucção (figura 2). A balsa é equipada com aspirador hidráulico que, uma vez
direcionado sobre o fundo, succiona os sedimentos para um compartimento no seu interior.

Figura 2 – Extração de areia no leito de rio Itapocú.


Uma vez carregada, a balsa desloca-se até a margem onde é efetuada a operação de
descarregamento da areia, que se inicia através do lançamento de jatos d’água no interior do
compartimento, visando a descompactação da areia e, a seguir, o bombeamento do material para o
depósito situado na margem do rio (figura 3), onde é temporariamente estocado antes de ser
carregado nos caminhões.

Figura 3 - Bombeamento do minério (areia e cascalho) para o depósito situado na margem do rio.

Existe uma orientação por parte dos órgãos de fiscalização e ambiental para que o minério
seja extraído no terço médio do rio, evitando assim a formação de processos erosivos junto às
margens, que poderiam causar o seu desbarrancamento. De acordo com as normas ambientais, cada
trecho licenciado para a atividade extrativa deve realizar os levantamentos e os cálculos necessários
para estabelecer uma distância segura para a estabilidade das margens ribeirinhas.
A extração de areia em cavas (planície aluvionares) tem uma metodologia semelhante, o
único diferencial é que a balsa opera dentro de uma cava aberta em um terraço fluvial. Com o
passar do tempo, o processo de extração torna a cava gradativamente maior e a balsa passa a operar
em diversos setores, extraindo o minério e descarregando na sua margem.
A areia extraída da calha do rio ou em cavas de terraços fluviais não sofre qualquer tipo de
beneficiamento. Após o descarregamento, o minério fica estocado nas redondezas da margem
ribeirinha, sendo que a água utilizada no bombeamento retorna ao rio através de calhas e os
resíduos que ficam retidos nas peneiras; argilas, folhas, raízes e outros fragmentos vegetais (ciscos);
são recolhidos e posteriormente vendidos ou doados.
A geração de matéria-prima qualificada é uma meta a ser alcançada pelos mineradores locais,
em termos de produção de agregados, uma vez que tradicionalmente boa parte da areia produzida na
região não sofre beneficiamento e, desta forma, se desqualifica para alcançar consumidores como as
fábricas de vidro, fundições e cerâmicas especiais, que buscam matérias primas com qualidade.
Em outros estados, notadamente no Rio de Janeiro, existem projetos para o aproveitamento
das areias feldspáticas, um dos constituintes minerais presentes nos depósitos fluviais. A indústria
vidreira e de cerâmica tem o feldspato como importante matéria-prima. As indústrias catarinenses
abastecem-se deste bem mineral em outros estados brasileiros.
Os rios da bacia do Itapocu contêm uma quantidade apreciável de feldspatos, além do quartzo,
mas também ocorre uma boa quantidade de areias líticas (fragmentos de rochas), principalmente no
seu alto curso, que dificulta o processo de separação dos minerais na etapa de beneficiamento.
Os benefícios advindos, caso as pesquisas confirmem as avaliações preliminares do potencial
mineral para feldspatos, incluem a oferta de minério não disponível atualmente no mercado
catarinense, a geração de empregos na região, a arrecadação de impostos, ao aumento da capacidade
produtiva do estado e a introdução de novas tecnologias, a nível extrativo mineral.
Quanto às areias quartzosas, o método extrativo inicia-se com o decapeamento do terreno,
cujos sedimentos são formados por areias quartzosas de coloração esbranquiçada, com espessura
em torno de 0,5 m. A seguir, utilizando-se de uma pá-carregadeira, é extraída a segunda camada
arenosa, de coloração amarelada, até atingir o lençol freático por volta de 2,5 m. Uma vez atingido
o lençol freático, a balsa entra em operação extraindo o minério através de bombas de sucção, até
atingir uma profundidade que varia entre 7 e 10 m (figura 4).

Figura 4 – Balsa extraindo areia de cava. Localidade de Rainha.

Quanto ao beneficiamento, para se adequar às especificações da indústria de transformação, a


areia quartzosa necessita de tratamento prévio para a eliminação de matéria orgânica (raízes, folhas,
etc) e dos argilo-minerais responsáveis pelos teores de óxido de ferro e alumínio, além da
adequação de sua distribuição granulométrica. Para a adequação granulométrica do produto é
necessário eliminar a fração grosseira acima de 3 mm e a fração fina abaixo da peneira 200
(0,074mm). Como os argilominerais situam-se abaixo de 0,074 mm, descartando-se a fração fina
obtém-se produto com baixos teores de ferro e alumínio e com a granulometria específica.
A capacidade e o tratamento das instalações de beneficiamento das mineradoras situa-se entre
20 a 25 m3/h, dependendo do minério tratado. Os módulos de finura, porcentagem de finos e teores
de argila dos produtos destinados ao mercado consumidor, dependem principalmente das
características naturais do minério ou de suas composições, daí a necessidade de separar as camadas
de minério na lavra. A recuperação em massa média do produto final, em relação à alimentação de
minério bruto, é de 92,0%.
A água bruta necessária ao processo é captada próximo às instalações de beneficiamento. O
consumo total de água situa-se entre 30 a 35 m3/h, computando-se as recirculações diretas feitas no
circuito. Os efluentes líquidos do processo de beneficiamento são lançados num ribeirão situado nas
redondezas das mineradoras. As análises de qualidade de água realizadas, mostram que a água
captada apresenta-se geralmente ácida (pH em torno de 4,5), em função de ser proveniente de
regiões paludais ricas em matéria orgânica. O minério em uma das fases de beneficiamento recebe
um tratamento com soda caústica fazendo com que os efluentes industriais lançados no ribeirão
apresentemr um pH em torno de 5,5. Há também um excesso de material fino em suspensão das
águas despejadas, porém as mineradoras estão implantando tanques de sedimentação para corrigir o
problema.

DADOS AMBIENTAIS

Para a caracterização ambiental foram feitos levantamentos de dados primários e secundários,


que permitiram diagnosticar as condições ambientais da bacia hidrográfica. Uma síntese dos
principais aspectos relacionados aos meios físico, biótico e sócio-econômico é apresentado a seguir:

O Meio Físico

Aspectos Climáticos

A região de estudo é dotada de clima mesotérmico, com precipitação bem distribuída por todo
o ano apresentando, em sua totalidade, deficiências hídricas nulas e bons índices de excedentes
hídricos. Encontra-se situada em latitude subtropical, sendo assim zona de transição entre as Massas
de Ar Tropicais e Polares e Linhas de Instabilidades originadas na Baixa do Chaco (Paraguai), isto
é, atingida pelos principais centros de ação da América do Sul.
O sul do Brasil é uma das regiões mais uniformes e de maior unidade climática. A
uniformidade e a unidade são dadas por fatores climáticos dinâmicos, pois a região é passagem
obrigatória da massa polar, o que torna a região constantemente sujeita a bruscas mudanças de
tempo. Devido a essas mudanças bruscas de tempo, tem-se uma influência maior na variabilidade
pluviométrica do que da variabilidade térmica, pois a área em estudo, estando situada em latitude
baixa da região temperada, não está sujeita a grandes desvios térmicos, e sim nas conseqüências do
encontro dessas massas de ar, chamadas de Frentes.
As Massas de Ar Tropical que invadem Santa Catarina pelo continente e pelos oceanos
Atlântico e Pacífico podem ser denominadas Massa de Ar Tropical Continental, Atlântica e
Pacífica, respectivamente. Da mesma maneira, a Massa de Ar Polar também pode ser classificada
de maneira similar, isto é, Continental, Pacífica e Atlântica, obedecendo-se o mesmo sistema de
invasão.

Aspectos Hidrológicos

As análises dos dados de escala de curto termo relacionam os dados subsidiados pela ANEEL,
dos rios Itapocú e Piraí, que foram amostrados respectivamente nas estações Jaraguá do Sul e
Estrada dos Morros. Neste contexto, buscou-se avaliar possíveis relações entre os parâmetros cota,
vazão, área molhada, largura do rio e velocidade média, com a concentração de sedimentos, a fim
de determinar similaridades temporais das oscilações entre aqueles e este último, o qual implica no
aporte de material empregado na extração de bens minerais do leito dos rios.
Dadas as distintas dimensões entre os rios aqui avaliados, também os valores obtidos dos
parâmetros são distintos. A concentração média do Rio Itapocú ao longo do período de dados
disponíveis, foi de 12,11 ppm, máxima de 45,6 ppm e mínima de 4,1, contra média de 4,17, máxima
de 7 e mínima de 1,1 ppm no Rio Piraí.
Outra peculiaridade dos dados está relacionada às diferentes datas em que foram realizadas as
amostragens, e mesmo, à duração destas, mais longas para o Rio Itapocú. Esta observação também
poderia explicar os resultados das regressões lineares, sempre desfavoráveis ao Rio Piraí.
O parâmetro cota x concentração aponta maior similaridade entre os parâmetros do Rio Piraí
do que no Rio Itapocú. No Rio Piraí, as oscilações da concentração estiveram eventualmente
desconexas às cotas, mas mantiveram durante todo o período amostrado uma significativa
proximidade em relação às variações deste parâmetro (figura 5).
160 25

ppm
40 8

cm

cm

ppm
7 140
30 20
6 120
20 5 100 15
Cota Cota
4 80
10 3 60 10
2 Concentração 40 Concentração
0 5
1 20
-10 0 0 0

Jul/96

Jul/97

Jul/98

Jul/99
Abr/96

Abr/97

Abr/98

Abr/99
Out/95

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Jan/00
Jul/97

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Jul/99
Out/97

Out/98

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amostragens
amostragens

Figura 5 - Projeção temporal das oscilações de cota (centímetros) e concentração de sedimentos


(ppm) no Rio Piraí (à esquerda) e no Rio Itapocú (à direita).

O parâmetro vazão x concentração aponta uma inversão na representatividade, em relação ao


item anterior, mas em menor escala. Ambos os rios apresentaram boa cumplicidade dos parâmetros,
com sutil vantagem do Rio Itapocú, que obteve valores significativamente mais baixos entre janeiro
e abril de 1998. Demais oscilações em relação ao mesmo referencial não são tão significativas. Por
outro lado, o Rio Piraí demonstrou uma ausência de relacionamento ligeiramente mais destacada,
sobretudo nos meses de julho dos anos de 1997 e 1998 (figura 6).

70 25

ppm
m3/s

3,5 8
m3/s

ppm

60
3 7 20
6 50
2,5
5 40 15 Vazão
2
4
1,5 Vazão 30 10
3 Concentração
1 2
20
Concentração 5
0,5 1 10
0 0 0 0
Jan/98

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Out/97

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amostragens
amostragens

Figura 6 - Projeção temporal das oscilações de vazão (m3/s) e concentração de sedimentos (ppm) no
Rio Piraí (à esquerda) e no Rio Itapocú (à direita).

O parâmetro que aponta a relação entre área molhada x concentração mostra que, enquanto no
Rio Piraí houve similaridade nos acréscimos ou decréscimos de ambos parâmetros, no Rio Itapocú
as áreas molhadas foram mais estáveis durante o período amostral, dentro de um gradiente reduzido,
em oposição à concentração (figura 7).
9 8 160 25

ppm

ppm

8 7 140
7 20
6 120
6 5 100 15
5 80 Área molhada
4 Área molhada
4 10
3 60
3
2 2 40 Concentração
Concentração 5
1 1 20
0 0 0 0

Jan/96

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Out/98

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Jul/97

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Out/97

Out/98

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Jan/99

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amostragens amostragens

Figura 7 - Projeção temporal das oscilações as áreas molhadas (m²) e concentração de sedimentos
(ppm) no Rio Piraí (à esquerda) e no Rio Itapocú (à direita).

No parâmetro largura x concentração, as oscilações constatadas no Rio Piraí são bastante mais
significativas quanto ao parâmetro largura, pois tendo uma média de 13,72 metros, chegou a um
máximo de 18 e um mínimo de 4,5 metros. O Rio Itapocú, que apresentou média de 57,8 metros,
teve como limite máximo 60,2, e mínimo de 49 metros. O estudo comparativo das evoluções
temporais das concentrações aponta, neste caso, a maior disparidade: o Rio Itapocú demonstra
estabilidade ao apresentar uma largura praticamente imutável ao longo do período amostral,
enquanto o rio Piraí demonstrou certo correlacionamento entre a largura e a concentração de
sedimento na água (figura 8).

70 25 20 8
ppm
m

ppm
60 7
20
50 15 6
15 5
40 Largura
10 4
30 10 Largura
3
20 5 2 Concentração
5
10 Concentração 1
0 0 0 0
Jan/98

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Jul/97

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Jul/99
Abr/97

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Out/97

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Out/95
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Out/96
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Out/97
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Out/98
Jan/99

Out/99
Jan/00
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Abr/97

Abr/98

Abr/99
Jul/96

Jul/97

Jul/98

Jul/99

amostragens amostragens

Figura 8 - Projeção temporal das oscilações das larguras (m) e concentração de sedimentos (ppm)
no Rio Itapocú (à esquerda), e no Rio Piraí (à direita).

No parâmetro velocidade média x concentração, ambos os rios demonstram nesta projeção,


similaridade nos resultados. O Rio Piraí, que obteve média de 0,25 metros/segundo, mínima de
0,042 e máxima de 0,447 metros/segundo, apresentou maior disparidade no comportamento dos
parâmetros, nas amostragens realizadas em 10 de julho de 1997 e em 23 de julho de 1998, meses
que coincidem com estiagens de inverno, reduzindo a vazão. Os dados do Rio Itapocú, demonstram
média de 0,27 metros por segundo, um máximo de 0,635 e um mínimo de 0,07 metros por segundo.
Dadas as dimensões e a posição à montante da estação deste segundo, que indicam maior volume de
água (concordando com os dados de vazão), justificam-se os valores de velocidade média maiores
registradas no Rio Itapocú. E, similarmente ao Rio Piraí, as maiores discrepâncias temporais nos
dados ocorrem em períodos próximos à estação de inverno dos anos de 1996 e 1998 (figura 9).

0,5 25
0,5 8
m/s

m/s

ppm
ppm
7
0,4 20
0,4
6
5 0,3 15 Velocidade média
0,3
4 Velocidade média
0,2 3 0,2 10 Concentração
2 Concentração
0,1 0,1 5
1
0 0 0 0
Jan/98

Jan/99

Jan/00
Jul/97

Jul/98

Jul/99
Abr/97

Abr/98

Abr/99
Out/97

Out/98

Out/99

Jan/96

Jan/97

Jan/98

Jan/99

Jan/00
Out/95

Abr/96

Out/96

Abr/97

Out/97

Abr/98

Out/98

Abr/99

Out/99
Jul/96

Jul/97

Jul/98

Jul/99
amostragens
amostragens

Figura 9 - Projeção temporal das oscilações das velocidades médias (m/s) e concentração de
sedimentos (ppm) no Rio Piraí (à esquerda) e no rio Itapocú (à direita).

Aspectos Geomorfológicos, Geológicos e Pedológicos


As diversas formas de relevo que cobrem a bacia hidrográfica do rio Itapocu resultam,
principalmente, da sua história geológica, da litologia e de fatores paleoclimáticos. Os eventos
geológicos causadores de amplos arranjos estruturais e de expressivas ocorrências litológicas
geraram controle estrutural sobre outros fatores, como o climático, por exemplo, na evolução das
formas de relevo deste domínio.
Baseado nas informações disponibilizadas pelo IBGE - DIGEO/SUL (1998) identificou-se na
área os seguintes domínios morfoestruturais, e seus correlacionados geossistemas:
DOMÍNIO MORFOESTRUTURAL GEOSSISTEMA
Sedimentos Quaternários Planícies Eólicas
Planícies Lagunares
Planícies Aluviais
Planícies Marinhas
Planos e Rampas Coluviais
Coberturas Molassóides e Vulcanitos Associados Morros e Colinas
Rochas Graníticas Serras do Leste Catarinense
Pré-Serra do Mar
Serra do mar
Complexo Metamórfico Migmático Serraria Costeira
Cráton de Luís Alves Colinas Costeiras
Serra Dona Francisca
Em termos geológicos, ocorrem rochas associadas à (1) coberturas fanerozóicas da Bacia do
Paraná na porção oeste da bacia, (2) ao Escudo Catarinense na porção central, e (3) depósitos
sedimentares cenozóicos da planície costeira na porção leste.
As rochas sedimentares da Bacia do Paraná encontram-se representadas pela seqüência
glácio-marinha da Fm. Rio do Sul, constituída por argilitos, folhelhos várvicos e diamictitos; e pela
seqüência flúvio-marinha da Fm. Mafra, com arenitos, conglomerados e argilitos várvicos.
Nos domínios do Escudo Catarinense, afloram rochas do Complexo Granulítico de Santa
Catarina, que incluem gnaisses e outras litologias metamorfizadas na fácies granulito,
retromorfizadas ou não, nas fácies anfibolito e xisto-verde. Observa-se também granitos
circunscritos, intrusivos, pertencentes à Suíte Intrusiva Subida, de idade eo-paleozóica. Ainda nesse
contexto, ocorrem rochas vulcano-sedimentares da Formação Campo Alegre, com riolitos, siltitos,
arenitos e vulcanitos ácidos.
Na planície costeira, os sistemas deposicionais encontram-se subdivididos em: (1)
Continentais, com depósitos de leques aluviais (desde o Plioceno até o Holoceno) e aluvionares
holocênicos; e (2) Costeiros, do tipo dominado por ondas (Hayes, 1979), cujas fácies relacionam-se
à evolução de duas barreiras arenosas, uma pleistocênica e outra holocênica.
Os depósitos de leques aluviais envolve cascalhos, areias e lamas resultantes da ação de
processos de fluxos gravitacionais e aluviais de transporte de material de alteração das vertentes.
Encontram-se constituídos por material de espessura, extensão e granulometria variada, que envolve
desde argila até blocos de rocha e matacões. Os depósitos aluvionares e de retrabalhamento fluvial,
constituídos por sedimentos arenosos e lamosos, eventualmente com cascalheiras, ocorrem em
regiões de baixa declividade e ao longo das drenagens, associados à deposição do sistema fluvial.
Sustentados parcialmente sobre os depósitos continentais ocorre um complexo de ambientes
sedimentares, integrantes da Planície Costeira. Resultam de processos costeiros afetados pelas
variações que o nível relativo do mar sofreu no Quaternário, controladas pela glácio-eustasia,
fazendo com que a planície costeira evoluísse para leste.
Os depósitos pleistocênicos estão representados por terraços arenosos marinhos, recobertos
parcialmente por sedimentação eólica, que têm como característica marcante a coloração amarelo
acastanhada em profundidade, devido a impregnação por matéria orgânica, porém superficialmente
sua coloração é esbranquiçada. Esses terraços, no setor norte da costa catarinense, atingem cerca de
vinte quilômetros de largura e, em sua superfície, podem ser delineados vestígios de alinhamentos
de antigas cristas de praias. Nas porções mais internas das planícies costeiras, a espessura destas
cristas de praia alcança 2,5 metros.
Os depósitos holocênicos compreendem depósitos do tipo laguna-barreira, paleolagunares e
praiais. Dentre os diversos ambientes que compõem este sistema, destaca-se o depósito laguna-
barreira ocorrente na região de Barra Velha (Figura 10).

RIO ITAPOCÚ

PRAIA DA
PENÍNSULA

LAGOA DE
BARRA VELHA

Figura 10 – Sistema laguna-barreira da região de Barra Velha.

De maneira geral, esses depósitos estão relacionados aos processos costeiros associados ao
auge da última fase transgressiva do nível relativo do mar e sua posterior regressão (<5.1 ka). Esse
evento possibilitou a formação da barreira holocênica, assim como a ingressão marinha na direção
noroeste, ocupando os baixos vales pré-existentes e acarretando a formação (ou o restabelecimento)
de um extenso corpo aquoso costeiro. Posteriormente, com a oscilação negativa do nível do mar,
esse corpo aquoso foi sendo colmatado transformando-se num ambiente paleolagunar.
Na região de estudo ocorrem diferentes tipos de solos, os quais estão intimamente
relacionados às formas de relevo e à natureza do substrato rochoso. Na região montanhosa
prevalecem solos do tipo podzólico vermelho-amarelo álico, com argila de atividade baixa,
horizonte A moderado, argiloso a argiloso com cascalho. Esta classe compreende solos minerais
não hidromórficos, profundos, com menor diferenciação de horizontes e usualmente com menor
gradiente textural do que os Podzólicos Vermelho-Amarelos típicos. Em geral ocorrem associados
com solos do tipo cambissolo álico, que compreendem solos minerais também não hidromórficos,
caracterizados pela ocorrência de um horizonte B incipiente, definido pelo baixo gradiente textural,
pela média a alta relação silte/argila ou pela presença de minerais primários de fácil decomposição.
Posuuem geralmente baixa fertilidade. Podem também estar associados com solos litólicos
distróficos, com horizonte A moderado, textura média, com cascalho de rochas metamórficas,
características de relevo forte e ondulado a montanhoso.
Ao longo da planície costeira, ocorrem solos com horizonte A turfoso a moderadamente
arenoso. São solos ácidos com baixa fertilidade natural, com teores extremamente baixos de
nutrientes disponíveis para as plantas. Ocorrem nas áreas de relevo plano, sendo desenvolvidos de
sedimentos lacustre e marinho, estando associados a areias quartzosas marinhas distróficas, tendo
como inclusão solos de mangue. As praias com areias quartzosas marinhas estão associadas a solos
muito pobres, em geral muito salinos. Os tradicionais horizontes pedológicos dificilmente são
encontrados em tal ambiente e geralmente o horizonte A é pouco espesso ou ausente, e o B pode
apresentar acumulação de óxido de ferro e/ou matéria orgânica.
Ao longo dos vales dos rios, onde o relevo é plano ou suavemente ondulado, predominam
solos do tipo Glei-Húmico. São solos argilosos, com alto teor de matéria orgânica, muito utilizados
para o cultivo de arroz irrigado. Por ocorrerem em áreas planas, mal drenadas, apresentam baixa
suscetibilidade à erosão. Apresentam em geral seqüência de horizontes A e Cg, medianamente
profundos, mal drenados, com permeabilidade muito baixa, argila de atividade baixa e textura
normalmente argilosa. São solos de média e boa fertilidade natural. A principal limitação de seu uso
é a má drenagem. Por vezes, ocorrem associados com solos orgânicos distróficos e eutróficos
argilosos, que são solos desenvolvidos sobre sedimentos paludiais em áreas planas sujeitas a
inundações freqüentes, com lençol freático próximo à superfície durante boa parte do ano.

O Meio Biótico

O vale do Rio Itapocu é caracterizado por uma flora extraordinariamente rica em espécies. Da
mesma forma, a vegetação é muito exuberante, graças aos múltiplos fatores ambientais favoráveis.
Muito contribuíram, ainda, para essa riqueza e opulência da flora e vegetação, os fatores histórico-
geográficos, facilitando ou dificultando a expansão de determinadas formações vegetais, o que
resultou, finalmente, numa estruturação e composição de vegetação toda singular, que nem sempre
parece corresponder ao clima regional, de caráter francamente florestal. Não obstante esta grande
diversidade de vegetação, predomina, sobretudo no Médio Vale do Itapocu, a imponente floresta
ombrófila densa costeira, caracterizada principalmente pela sua grande densidade e sua grande
riqueza em espécies de árvores altas, árvores medianas e arbustos, bem como densas populações de
epífitas e um relativo elevado número de lianas lenhosas.
Encontram-se parcialmente representadas no Vale do Itapocu as seguintes formações
vegetais: Vegetação Litorânea (pioneira), Mata Pluvial da Encosta Atlântica (floresta ombrófila
densa costeira), Floresta de Pinhais, Matinha Nebular e Campos. Além destes cinco tipos de
formação vegetal, tem-se a ocorrência de vegetação secundária e pastagens secundárias.
A caracterização da fauna da área de estudo baseou-se numa abordagem qualitativa dos
principais grupos (peixes, mamíferos, aves, répteis, anfíbios, crustáceos e moluscos). Para o estudo
da ictiofauna realizou-se um detalhado levantamento de campo, que permitiu um diagnóstico
através de dados primários. Para os outros grupos, utilizou-se de dados advindos de observações ou
relatos de moradores locais, assim como de dados secundários disponíveis na literatura científica e
em outros estudos realizados na região.

O Meio Sócio-Econômico

Além do levantamento de dados sócio-econômicos dos municípios que fazem parte da bacia,
realizou-se uma série de entrevistas. Buscando estabelecer uma maior confiabilidade dos resultados
oriundos dos dados levantados nas entrevistas, foram definidos três grupos. O primeiro, é composto
pelos atores ambientais, que agregam todos os agentes e instituições voltadas à gestão, fiscalização,
administração ou de formação de opinião da região. O segundo, reúne as entrevistas realizadas com
a comunidade através de abordagens diretas. Este levantamento teve por objetivo, mais do que obter
a opinião pública diante da questão da extração de areia, comparar a similaridade das posições dos
representantes destas comunidades, os atores ambientais, com a de seus representados, resumindo
com que amplitude se dá a reflexão dos anseios da população em seus representantes de classe,
sociais, administrativos ou políticos. Por fim, o terceiro grupo entrevistado agrupa os extratores de
areia e cascalho, que são, além de atores ambientais, foco central deste levantamento, e para os
quais algumas questões peculiares relacionadas aos desdobramentos de sua atividade para com os
ambientes natural e antrópico foram formuladas. Além disso, ainda que sejam atores ambientais,
sua inserção no primeiro grupo poderia influenciar as conclusões deste trabalho acerca da atividade
de mineração.
Um dos questionamentos realizados buscou distinguir dentre os atores, quais acreditam ser a
atividade de extração de recursos minerais lesiva ao meio ambiente e às comunidades do entorno.
Nesse contexto, 67,02% dos atores supõem alguma forma de intervenção negativa da extração para
o rio, enquanto 37,93% não encontram qualquer tipo de problema que possa estar relacionado com
esta atividade. Dentre as sugestões que associaram os problemas da região com a mineração,
18,75% apontam o desmoronamento das margens, 15,63% a alteração da estrutura biológica do rio,
12,5% o desmatamento da vegetação ciliar, e outros 12,5% o aumento da turbidez causado pela
movimentação do leito através dos equipamentos extrativos. Outros problemas que possivelmente
estariam associados à atividade são: erosão constatada em diversas áreas ao longo do rio, os
derrames de óleo durante as operações de extração, o comprometimento de estradas marginais
decorrente dos veículos que transportam o material extraído, e a poluição sonora, dentre outros. As
principais soluções indicadas para a mitigação dos problemas gerados pela extração de areia e
cascalho seriam: a fiscalização eficiente (26,53% das respostas), o diagnóstico ambiental (12,24%),
a adoção de planos de manejo das áreas de extração ao longo do rio (10,2%), o desenvolvimento de
trabalhos de conscientização dos extratores e da comunidade (10,2%), a implantação de processos
de licenciamento ambiental aos extratores (8,16%), a limitação de áreas de extração (4,08%) e a
recuperação das áreas já degradadas (4,08%). Outras propostas somam 12,04%, enquanto 2,04%
dos entrevistados não souberam apontar soluções. Por outro lado, os atores foram questionados
quanto às possíveis relações positivas entre a atividade de mineração e o rio e sua região de seu
entorno: 76,67% dos atores acreditam que haja tais interações positivas. Destes, 37,5% das
respostas indicam a importância do desassoreamento do rio; outra relação importante, é a redução
dos custos da construção civil, pela proximidade da fonte de material (28,13%); a geração de
empregos ficou com 15,63% das opiniões, enquanto a melhoria da vazão das águas, fundamental
durante períodos de grandes chuvas, reduzindo a incidência de cheias, e o incentivo ao
desenvolvimento social detiveram 9,38% cada.

IMPACTOS AMBIENTAIS DETECTADOS

Todos os mineradores que atuam na bacia hidrográfica são licenciados (no DNPM e no órgão
estadual de meio ambiente) e possuem áreas que atualmente são lavradas e outras que deverão ser
no futuro. Subsidiados nessas premissas procurou-se detectar e qualificar os impactos decorrentes
das fases de implantação (caso uma nova frente de mineração venha a se instalar em área já
licenciada), operação e desativação, com base no conhecimento, de um lado, do empreendimento e
de todas as atividades que o mesmo deverá incluir, bem como de suas características, em termos de
contornos, necessidades e decorrências e, de outro, da condição ambiental local, retratada pelo
diagnóstico efetuado.
A mineração de areia e cascalho na região ocorre através da extração em leito de rios, ou
através de cavas em terrenos arenosos de origem fluvial ou marinha. Na avaliação dos impactos
ambientais procurou-se abordar separadamente os métodos extrativos, pois tanto os impactos
quanto as medidas mitigadoras e/ou compensatórias têm características distintas. Em termos de
meio físico e biótico, a maior ênfase foi dada à região aquática, que deverá sofrer o impacto direto
da atividade mineradora. Já em termos de meio antrópico, o destaque foi a população situada nas
circunvizinhanças, que deverá ser, de um lado, a beneficiária direta das vantagens em termo de
emprego, renda e etc., e de outro, deverá ser incomodada com o aumento de ruídos, tráfego, etc.
Quanto à atividade extrativa em leito de rios, os principais impactos negativos na fase de
implantação são: modificações na qualidade das águas superficiais e fluviais, poluição ambiental,
prejuízos à ictiofauna, remoção da cobertura vegetal, afugentamento da fauna local, mudanças no
uso e ocupação do solo e possibilidade de comprometimento do patrimônio arqueológico. Como
impactos positivos tem-se a geração local de empregos, assim como de negócios e renda para as
atividades comerciais e industrial local e regional.
Na fase de operação, os impactos negativos são: modificações na qualidade do ar e nas
condições sonoras, na qualidade de água fluvial, poluição acidental, prejuízos aos ecossistemas
bentônicos e à ictiofauna, mudanças no uso e ocupação do solo, riscos de eventuais acidentes
rodoviários, proliferação de vetores em áreas de acumulação temporária de lixo e sucata e
eventuais conflitos com a atividade pesqueira e turística local. Como impactos positivos tem-se a
geração local de empregos e de negócios e renda para as atividades comerciais e de serviço local.
Com a desativação dos empreendimentos que extraem minério no leito de rio, cessam os
impactos ambientais inerentes aos meios físico e biótico, porém acarreta a liberação de mão-de
obra, agravando um problema social já existente.
Quanto à atividade extrativa pelo método de cavas, os impactos na fase de implantação são
similares aos apontados para a atividade em leito de rios, somado ainda a outros impactos em
função da remoção superficial do solo.
Na fase de operação os impactos são: modificações na qualidade do ar; impactos associados à
atividade de dragagem; exposição do lençol freático com a geração de riscos de contaminação do
aqüífero e condicionamento do microclima local; lançamentos de efluentes industriais (figura );
manutenção de estoques de areia à céu aberto sujeito a carreamento pela ação das águas pluviais ou
a liberação de partículas devido a ação do vento; aceleração de processos erosivos devido a
transporte de minério; riscos de redução da população de flora e fauna; alteração paisagística;
sobrecarga do sistema viário e êxodo da população residente. Como impactos positivos tem-se o
aumento da arrecadação tributária dos municípios e o aumento da produção industrial.
Figura – Efluentes provenientes do processo de beneficiamento de areia quartzosa.

Com a desativação das áreas de mineração, poderá ocorrer nas cavas o desenvolvimento de
erosão, além de processos de escorregamento. A evolução destes fenômenos pode comprometer
terrenos, cursos d’água, obras e atividades circunvizinhas. A cava desativada capta e concentra as
águas de escoamento de superfície podendo acarretar problemas sanitários, além do que nas lagoas
desativadas pode ocorrer o solapamento das margens. Nos reservatórios de decantação sobre a
planície aluvial há o risco de ruptura quando abandonados, com conseqüente liberação para
córregos e rios próximos, de grande quantidade de sólidos em suspensão, que podem acarretar
alteração de pH, turbidez, coloração e concentração de elementos dissolvidos. Há ainda o risco de
afogamento de pessoas e animais pois embora as lagoas estejam situadas em propriedades privadas
e sejam raros os casos de afogamento, alguns moradores das comunidades locais usam as lagoas
para pescar e nadar, sobretudo nos fins de semana, quando não há atividades extrativas, e nas férias
escolares. As lagoas formadas nas cavas de extração constituem criadouros potenciais de larvas de
mosquitos, podendo ocorrer doenças transmissíveis por mosquitos numa região onde a população já
vive em condições precárias de saneamento.

MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS NEGATIVOS

Extração em Leito de Rios

Quando da implantação de novos portos de areia/cascalho, deverão ser adotadas técnicas


adequadas para a drenagem das águas pluviais e para a estabilidade das valas, margens de rios e de
estradas, de modo a evitar erosões, transporte de sedimentos e assoreamento dos cursos d’água.
Para minimizar os efeitos das alterações na qualidade do ar e das condições sonoras,
provocadas pela emissão de poeiras e ruídos em geral, oriundos das operações das mineradoras,
recomenda-se a regulagem dos motores dos veículos e maquinários, e o uso obrigatório para os
operários de Equipamentos de Proteção Individual (como protetores auriculares e luvas).
Deverá ser mantida rígida fiscalização em toda área mineradora, a fim de evitar lançamento,
ao solo e ao rio, de resíduos de qualquer tipo. Resíduos sólidos de qualquer tipo deverão ser
depositados em embalagens apropriadas, indo posteriormente para o depósito dos municípios.
Implantação de ações mais efetivas por parte dos órgãos de fiscalização e ambiental para que
o minério seja extraído no terço médio do rio, evitando assim a formação de processos erosivos
junto às margens, que poderiam causar o seu desbarrancamento.
Não será possível mitigar totalmente os impactos físicos e bióticos na qualidade das águas
fluviais, devido a natureza da atividade. No entanto, estudos sobre a qualidade dos sedimentos que
serão minerados, sobre a hidrodinâmica e os parâmetros bióticos permitirão, no futuro, propor ações
que possam minimizar estes impactantes.
Para evitar eventuais contaminações da água provocadas pela atividade extrativa sugere-se
implantação de procedimentos operacionais visando coibir o vazamento de detritos e dejetos, óleos
ou outros tipos de contaminantes das balsas.
Manter um canal permanente de conversação e negociação com a associação de pescadores da
região, de forma a ajustar procedimentos e diretrizes para a extração de areia e o tráfego de balsas.
Estabelecimento de procedimentos de acumulação de sucatas, de forma a evitar a formação de
criadouros propícios para o desenvolvimento de larvas de insetos (acúmulo de águas paradas) e de
roedores nocivos (abrigos);
Ação integrada envolvendo os empreendedores e as municipalidades locais no sentido de
promover a reintegração dos desempregados no mercado de trabalho local.

Extração em Cavas

Evitar perdas d’água para os mananciais e para o solo; instalar rede de captação e drenagem
ligada a tanques adequados (reservatórios de decantação) prevendo tratamento das soluções ácidas
antes da liberação no meio externo.
As margens das lagoas devem ser revegetadas para minimizar os efeitos erosivos, mantendo o
solo estável e impedindo o assoreamento acelerado da lagoa. Dependendo do uso final que se dará
ao grande reservatório de água formado, sugere-se a criação de peixes nas “lagoas” formadas e
práticas de esportes náuticos, entre outras medidas.
A mudança para o ecossistema de lagoas implica em medidas de conservação/preservação da
qualidade da água, de modo que as lagoas não sejam focos de vetores transmissores de doenças,
bem como devem ser protegidas de contaminação de óleos, graxas e dejetos humanos durante todas
as fases de atividade do empreendimento. O armazenamento de tambores com graxas, óleos,
combustíveis e outros, em locais adequados, com pisos impermeabilizados são indicados para evitar
acidentes e vazamentos que contaminem o solo e conseqüentemente as águas subterrâneas.
Aplicação de procedimento proibindo ações de caça e apanha de animais, com especial
enfoque a aves e mamíferos, estabelecendo punições aos infratores e entrega às autoridades
ambientais, para a aplicação do que prevê a lei de crimes ambientais.
Manter a superfície do solo umedecida, instalar “cortina verde” em torno da mineração para
reduzir a velocidade e força dos ventos e reter a poeira em suspensão.
Promover a drenagem da pilha retendo as areias carreadas nos entornos. Cobrir a pilha,
principalmente nos períodos mais chuvosos. Manter as pilhas distantes das fontes de vibração
interna (operação de máquinas pesadas, etc).
Executar sistema de drenagem das vias de transporte. Implantar medidas para mitigação de
erosão pela água em aterros das vias de transporte. Promover a secagem da areia entes do
transporte. Umedecer as plataformas das vias de transporte e o produto a ser carregado.
Melhoria das estradas de acesso às mineradoras, com a sinalização e implantação de redutores
de velocidade, principalmente próximo às áreas urbanas.

PLANOS E PROGRAMAS DE MONITORAMENTO

Na fase de pré-implantação de uma nova área de extração mineral, procurar seguir as


seguintes diretrizes: Limpeza do terreno e remoção da vegetação existente; o canteiro de obra não
pode estar localizado em área de preservação permanente ou reprodução de animais; instalação e
utilização de equipamentos, para que a poluição e os níveis de ruídos permaneçam em níveis
permitidos pela legislação vigente; destinação adequada de esgotos sanitários, em redes de coleta ou
em fossas sumidouras, especialmente criadas com este propósito; manuseio, transporte e destinação
final de resíduos sólidos, entulho, sobras de material de construção, combustíveis e lubrificantes;
resgate de eventuais remanescentes de sítios arqueológicos encontrados na área; e estabelecimento
de procedimentos de emergência para casos de acidentes envolvendo trabalhadores.
Para a fase de implantação, foram sugeridos os seguintes programas: (1) contenção de
processos erosivos, (2) monitoramento da eventual contaminação do lençol freático e (3) melhoria
do trânsito nas imediações das mineradoras.
Para a fase operacional, os programas são: (1) acompanhamento de dragagens (batimetria,
sedimentologia, etc.), (2) monitoramento das águas fluviais, (3) comunicação social, (4)
monitoramento da percepção comunitária, (5) educação ambiental e (6) gerenciamento costeiro
integrado.
Para a fase de desativação, em especial para o método de extração em cavas, foi indicado um
programa de recuperação ambiental com o objetivo estudar a melhor forma de reintegração da área
de mineração à paisagem natural, apresentando maneiras de incrementar a cobertura vegetal com
espécies nativas da região, melhorando a capacidade de suporte para a fauna e o aproveitamento
econômico/ambiental das lagoas que se formam durante a explotação do bem mineral e que
permanecem após o minério se exaurir. O uso final destas lagoas pode ser a criação de peixes ou a
práticas de esportes náuticos.

CONCLUSÕES

A atividade mineradora de areia e cascalho tem um papel fundamental para o


desenvolvimento econômico da região. O mercado saturado da região sudeste do país está
colaborando para o crescimento de Santa Catarina. Por conta da necessidade de descentralização
dos investimentos no país, o Estado está captando quase R# 2 bilhões em novos empreendimentos e
expansões. O território catarinense está atraindo investimentos por questões logísticas, pela mão-de-
obra qualificada e pela qualidade de vida. Entre essas questões, está a proximidade com vários
portos e a posição geográfica privilegiada, que coloca o Estado entre o maior mercado nacional
consumidor, que é a própria região sudeste, e a emergente economia do Mercosul. De todos os
investimentos previstos para o Estado, mais de 60% são destinados ao nordeste catarinense,
principal pólo industrial de Santa Catarina e que atraiu para si os maiores investimentos
multinacionais, além de concentrar a produção de importantes indústrias.
Os impactos ambientais identificados e analisados como sendo gerados pela indústria da
mineração de areia e cascalho, não foram considerados de grande importância e magnitude, na sua
maioria, podendo ser mitigados de forma a garantir a manutenção da qualidade ambiental no seu
segmento natural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DNPM. 1998. Anuário Mineral Brasileiro. Departamento Nacional de Produção Mineral, Brasília.
V.27, 404 p.
DNPM. 2000. Sumário Mineral. Departamento Nacional de Produção Mineral, Brasília. V.20,
120p.
GAPLAN/SC. 1986. Atlas de Santa Catarina. Rio de Janeiro, Aerofoto Cruzeiro. 173p.
IBGE – DIGEO/SUL. 1998. Diagnóstico Ambiental do Litoral de Santa Catarina, Setor 3. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, Brasília. 141 p.

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