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A EVOLUÇÃO DA IMAGEM CARTOGRÁFICA DOS AÇORES


(SÉCULOS XIII, XIV e XV)

HUMBERTO OLIVEIRA

(BORBA)
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A EVOLUÇÃO DA IMAGEM CARTOGRÁFICA DOS AÇORES


(SÉCULOS XIII, XIV e XV)

HUMBERTO OLIVEIRA

(BORBA)
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SUMÁRIO

- INTRODUÇÃO 4

- ILHAS MÍTICAS E LENDÁRIAS NA CARTOGRAFIA DO

OCEANO ATLÂNTICO 6

- ALTERAÇÕES NA CARTOGRAFIA COM A PASSAGEM DO

CABO BOJADOR 1434 43

- ILHAS DOS AÇORES NA CARTOGRAFIA

Pedro de Reinel 1485 80

- ESTATÍSTICA DAS ILHAS MÍTICAS 110

- TERCEIRA A ILHA MÍTICA “BRAZIL” 111

- CONCLUSÕES 114

- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 116


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INTRODUÇÃO

Os portulanos, atlas, mapas-mundo, mapas e cartas dos séculos,


XIII, XIV e XV e, eventualmente, do século XVI e seguintes, qualquer que
seja a sua designação, referente ao Oceano Atlântico ou Oceano
Ocidental, é o espaço onde se situam ilhas ligadas a mitos ou lendas.

Estes mitos e lendas estão ligados a Santos, como São Brandão, o


mais importante, ou, a lugares como o Paraíso, o Purgatório ou o Inferno e
à lenda da Atlântida. Poderão também estar ligados a outras designações
como ilhas afortunadas ou de sonho.

Estas ilhas estão situadas, de norte a sul do Atlântico desde as Ilhas


Canárias até à Irlanda, e de este a oeste da Península Ibérica até ao Golfo
de México. Frequentemente, localizam-se em frente à Península Ibérica
com a direção do norte a sul.

Um nome sobressai entre todas, pelo número de vezes que aparece


e pela lenda a que está ligada: a Ilha do Brasil, com todas as suas variantes
de designação, Brazil, Bracil, Braxil, Bracir, etc.

Segundo vários investigadores, e não só, esta Ilha está ligada à Ilha
Terceira do Arquipélago dos Açores. No mapa da Terceira de 1582
atribuído ao grande cartógrafo português Luís Teixeira, na zona onde se
situa a cidade de Angra tem a designação “Brazil” e no monte Brasil
sobranceiro à baía tem “Ponta do Brazil”. Esta designação de Ponta do
Brasil aparece noutras cartas da Ilha Terceira. Podemos concluir que estas
ilhas míticas e lendárias estão ligadas pelo seu número e localização ao
arquipélago dos Açores.
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Do fim do século XIII, até ao fim do século XV, os Açores aparecem


como ilhas míticas ou imaginárias, mas em alguns casos com alguma
ligação à realidade. A partir da carta de Valsequa de 1439, já aparecem as
diversas ilhas, com a localização perto do real, mas ainda só com oito, não
as nove, e com nomes diferentes.

Com a carta de Pedro de Reinel de 1485, as ilhas dos Açores estão


devidamente localizadas em latitude, porque em longitude só a partir do
fim do século XVIII com a invenção do relógio astronómico, mas com o
número correto e designação atual.

A partir do século XV, ainda aparecem cartas com ilhas míticas, que
vão sendo cada vez mais raras até ao século XIX.
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ILHAS MÍTICAS E LENDÁRIAS NA CARTOGRAFIA DO ATLÃNTICO

1 – 1275-1282 – Mapa–mundo Hereford de Circa, de Richard de


Halding na catedral de Hereford, Hereford, Inglaterra.

Ilha de São Brandão


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2 – 1290 – Carta Pisana – Anónimo – Carta Genovesa. Biblioteca


Nacional de França, Paris.
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3 – 1321 – Carta Vesconte


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4 – 1321 – Anónimo (atelier Vescontes). Biblioteca Apostólica


Vaticana.
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5 – 1325 – Anónimo (atelier Vesconte). Biblioteca Britânica,


Londres.
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6 – 1325 – Portulano de Angellinus Dalorto – Carta Genovesa ou


Maiorquina. Biblioteca Príncipe Corsini. Florença.

Ilhas Brasil e Daculi


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7 – 1339 – Portulano de Angelino Dulcert – Carta Maiorquina.


Biblioteca Nacional de França, Paris.

Ilhas Brasil, São Brandão e Diculli.


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8 – 1339-1350 – Anónimo – Atelier Dulcert. Biblioteca Britânica,


Londres.
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9 – 1350, (1345-1348) – Livro do Conhecimento.

Escrito por um Franciscano Espanhol.

Ilhas, Lobo, Cabras, Brasil (Terceira), Columbaria (Pico), Ventura


(Corvo), San Jorge, Conejos (Faial), Cuervo Marines.
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10 – 1351 – Atlas Mediceu Laurenziano-Gaddiano. Biblioteca


Medicea Laurenziana, Florença, Itália.

Mapa Florentino. Ilhas com a orientação norte/sul

Ilhas Insulae de Cabrera (Santa Maria e São Miguel), Insulae Brazil


(Terceira), Insulae Ventura Sive Columbis (Faial, Pico e S. Jorge), Insulae
Corvis Marinis (Flores e Corvo).
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11 – 1367 – Carta Catalã.

Ilha Verde. Situada entre a Irlanda, Terra Nova e Açores.


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12 – 1367 - Mapa Irmãos Piziganni, (Domenico e Francesco


Pizzigani). Biblioteca Palatina – Parma, Itália.

Três ilhas distintas com a designação Bracille, Antilia, Mayda,São


Brandão, Daculi.
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13 – 1373 – Francesco Pizzigani. Biblioteca Ambroziana, Milão.


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14 – 1375/1377 - Atlas Catalão de Abraham Cresques, Carta


Maiorquina. Biblioteca Nacional de França, Paris.

Ilhas Bracil, Li Columbi, Insula de la Ventura, San Zorzo, Li Conigi,


Insula de Corvi Marini.
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15 – Século XIV (final) – Anónimo (atelier) Cresques). Biblioteca


Nacional de Nápoles.
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16 – Século XIV (final) – (oficina Cresques). Biblioteca Nacional de


França, Paris.
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17 – 1375 – Atlas Catalão. Biblioteca Nacional Central, Florença.


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18 – 1381 – Portolano Mediceu.

Ilha Brazil
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19 – 1384 c. – Atlas Pinelli Walcknaer. Biblioteca Britânica, Londres.

Atlas Genovês ou Veneziano. Ilhas com a orientação norte/sul.

Ilhas Luovo, Caprara, yª de Brazil, yª de Ventura, San Zorzi, Li Conibi,


Yª de Corvi Marini.
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20 – 1384 c. – Atlas Corbitis.

Detalhe das Ilhas Açores e Madeira.

Orientação norte/sul.
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21 – 1384 - Carta Catalã.

Ilhas Brazil, Mayda.


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22 – 1380-1385 - Mapa de Soleri (Guillem Soler). Biblioteca Nacional


de França, Paris.

Mapa Maorquino. Ilhas com a orientação norte/sul.

Ilhas Capraria, Insula de Brazir, Colunbis, Insula Ventura, San Zorzo,


Li Conigi, Insula de Corvi Marini.
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23 – 1409-1411 – Carta de Albertinus Virga. Biblioteca Nacional de


França. Paris.

Carta Veneziana.
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24 – Século XV (2º quartel) – Carta Anónima (oficina Soler).

Biblioteca Nacional de França, Paris.


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25 – 1413 - Portulano de Mecia de Viladestes. Biblioteca Nacional


de França, Paris.

Ilhas com a orientação norte/sul.

Ilhas Lovo, Capraria, Insola de Brasil, Insola (?), Insola Ventura, San
Zorzi, Li Conigi, Insola de le Corvi Marini.
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26 – 1421 – Francesco de Cesanis. Museu Correr, Veneza.


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27 – 1423 – Mapa Mécia de Viladestes. Biblioteca Laurenziana,


Florência.

Carta Maorquina.
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28 – 1424 – Carta de Zuane Pizzigano. Biblioteca James Ford Bell,


Universidade do Minisota, Miniápoles, U.S.A.

Carta Veneziana.

Ilha Antillia, Satanazes, Royllo e Tammar.


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29 – 1426 – Portulano de Giacomo Giroldi ou Giraldi.

Carta Veneziana. Ilhas com a orientação norte/sul.

Yª de Luovo, yª Caprara, yª de Bracil, yª de Colombis, yª de


Ventura,yª de Sco Zorzi, Delli Coniglli, Corvi Marini.
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30 – 1428 – Carta de Joan de Viladestes. Museu Sarayi, Estambul.


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31 – 1426/1435 – Planisfério de Battista Beccario. Biblioteca Estatal


da Baviera, Munique. Biblioteca Real de Parma.

Carta Genovesa.

Ilhas com a direcção norte/sul. Louvo, Caprara, Collonbi, Insula de


Ventura, San Zorzo, Li Conigi, Corvo Marino.

A ocidente destas ilhas, com a legenda “Insule de novo reperte”


(ilhas de novo achadas), outro grupo de ilhas com as seguintes
designações: Antillia, Reylla, Salvagio, In Mar.
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32 – 1430 - Mapa de Juan de Napoli.

Ilha Brazil.
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DOBRAGEM DO CABO BOJADOR 1434

Data importante para o povoamento dos Açores, pois dá-se a


dobragem do Cabo Bojador, que começou em 1424 e que, após 15
tentativas, foi finalmente ultrapassado por Gil Enes Cavalheiro do Infante,
natural de Lagos.

Para efectuar a ultrapassagem deste cabo, foi necessáro aos


Portugueses, aperfeiçoar e inventar instrumentos náuticos que
permitissem navegar no Oceano Atlântico, de modo a ser possível o seu
regresso aos portos do Algarve e Lisboa.

Este regresso teria, invariavelmente, de ser feito pelos Açores, ou


melhor pelas ilhas do Marco, como eram designadas as Flores e o Corvo,
pelo canal S. Jorge, Graciosa, pela ilha Terceira e, logicamente, por Angra
porto natural abrigado dos ventos dominantes do oeste.

Este regresso tecnicamente só era possível pelos Açores, pois as


correntes e os ventos a isso levavam as caravelas, e pela coincidência
destas ilhas estarem no paralelo de Lisboa que é o 39º norte.

É fácil visualizar este regresso, pelo esquema do Almirante Gago


Coutinho que se anexa de seguida.
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Como se pode ver a partir do paralelo 30 norte, devido às correntes


e ventos dominantes, não é possível regressar à vela pela costa africana
aos portos de Portugal. É necessário navegar pelo largo para efectuar o
seu regresso, e isso, invariavelmente, teria de ser feito por algumas ilhas
dos Açores.

Este problema técnico leva-me a concluir que o povoamento dos


Açores teria começado pelas ilhas do grupo central, nomeadamente a
Terceira, e é por esta razão que Angra é a primeira vila e cidade do
arquipélago, e logo de seguida sede do Bispado.

Angra rapidamente torna-se uma cidade cosmopolita e de grande


movimento comercial, como porto obrigatório de passagem de todas as
embarcações que demandavam o oceano, a sul do paralelo 30º N.

A carta em perspectiva axonométrica de Angra de 1595, atribuída


indevidamente ao Holandês Linschoten, é mais uma prova do que afirmei,
pois, nesta época, só três cidades portuguesas merecem essa honra:
Lisboa, Coimbra e Braga pelas razões que são conhecidas.

A partir desta data, apesar das ilhas míticas e lendárias continuarem


a surgir na cartografia, começa a diminuir o seu aparecimento e a surgir as
ilhas dos Açores, primeiramente mal localizadas e com nomes que não os
atuais, mas rapidamente com a exatidão necessária.

Esta demanda das ilhas míticas vai continuar por mais alguns anos,
pois temos notícias de vários países a armarem barcos, inclusivamente
portugueses, para efectuarem o seu descobrimento e povoamento.
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33 – 1436 – Carta de Andrea Biancho.

1436/1448 – Mapa-mundo de Andre Biancho. Biblioteca


Marciana, Veneza.

Mapa Veneziano.

Ilhas, dois grupos de ilhas, a primeira com a direcção norte/sul.

Li Congi, Corvo Marin, De Brasil, yª de Colonbi, Bentusta (ventura ?),


S. Zorzi, Coruos, Corvos Marinos.

O segundo grupo a oeste do anterior com direcção diferente.

Yª de Vechi Marini, yª de Falconi,yª Fortunate de S. Brandan, yª


Dinferno, yª del Pavion, Bela Ixela, yª Deserta.

Afastado deste segundo grupo, mas nele incluído:

Antilia, Ixola Otinticha.


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34 – 1439 - Portulano de Gabriel de Valsequa. Museu Maritimo de


Barcelona.

Carta maiorquina.

Esta carta tem uma legenda a vermelho por cima de uma inscrição
incompreensível, que diz o seguinte: “Aquestes illes foram trobades p.
Diego de ??? pelot del Rey de Portogall na Lay MCCCCXXVIJ” (estas ilhas
foram encontradas por Diogo de (Silves ?) piloto do rei de Portugal no ano
MCCCCXXVIJ). As datas prováveis para o ano mencionado em numeração
romana seriam 1427, 1432 ou 1437. Esta data está dentro das tentativas
da dobragem do cabo Bojador; no entanto, tem sido muito contestada por
muitos investigadores como apócrifa, e que teria sido colocada após a
execução da carta.

Grupo de oito ilhas, na latitude dos Açores, mas com nomes


diferentes dos actuais. Segundo o Visconde de Santarém em 1841 seriam:

Ylla de Sperta (Pico), Guatrila (São Jorge), ylla de l’Inferno (Terceira),


ylla de Frydols (São Miguel), ylla de Osels (Santa Maria), ylla de ..(Faial),
ylla de Corp-marinos (Corvo), e Conigi (Flores).
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35 – 1439 – Anónimo. Atelier Valsequa. Biblioteca Nacional


Central de Florença.
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36 – 1440 - Mapa de Vinland.


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37 – 1440 – Anónimo (atelier Vallseca). Biblioteca Central de


Florença.
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38 – 1445 – Mapa–mundo de Francesco Rosseli.


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39 – 1447 – Carta de Gabriel de Valsequa. Biblioteca Nacional de


França. Paris.
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40 – 1447 – Pere Rosell. Biblioteca Guarnaciana, Volterra.


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41 – Século XV, 2º quartel – Rafael Soler. Universidade de Berlim.


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42 – 1448 – Mapa de Bianco.

Ilhas Bentusla, Antilia, Man Satanaxio, de Brazil de Binar, São


Brandão (Terceira).
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43 – 1449 – Carta de Gabriel de Valsequa. Arquivo do Estado de


Florença.
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44 – 1450 c. – Anónimo. Biblioteca Estense, Módena.

Ilhas com a direcção norte/sul em frente à Península Ibérica.


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45 – 1455 – Mapa de Bartholomeu Pareto.

Ilhas com a direcção norte/sul.

Ilhas Brazil, São Brandão (Madeira), Antilia, Daculi, Reylla, In in Mar


(sem nome, mas com forma tradicional).
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46 – 1456 - Jacob Bertran. Museu Marítimo Nacional, Greenwich.


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47 – 1456 – Pere-Rosell. Biblioteca Newberry, Chicago.


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48 – 1457-1459 – Mapa-mundo de Fra Mauro.

Várias Ilhas desde a Irlanda ao norte de África.

Brazil
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49 – 1460 ? – Carta de Crhiystofalo Soligo. Museu Britânico.

Ilhas com a posição clássica norte/sul, yª de Luovo, yª Caprara, yª


del Bracil, yª de Colonbi, yª de la venture, yª de san Zorzi, yª deli Conilgli,
yª di Corbi Marini.

Ilhas com a localização aproximada das ilhas dos Açores, yª de Santa


Maria, yª de Sam Michiel, yª de Jhs Xps (Terceira), yª de San Piero (São
Jorge?), yª de San Dinis, yª de Salvis, yª Graciosa, yª de San Tomas, yª de
Samtant (Santo Antão ou Santa Ana).

Perto destas ilhas mais duas: yª de Monte Cristo, yª de Sete Zitate.


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50 – 1460? – Carta de Ginea Portogalexe.

Carta de coleção da anterior, mas em que, pela primeira vez,


aparecem as diversas ilhas dos Açores com os nomes actuais, faltando a
ilha do Pico.

Ilhas yª Santa Maria, yª San Michiel, yª Terceira (aterzera), yª S. Jorie


(São Jorge), yª Graciosa, yª Faial, yª das Floles, yª del Corvo.
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51 – 1466 – Pere Rosell. Biblioteca James Ford Bell, Miniápolis.


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52 – 1468 – Pedro Rosell. Sociedade Hispânica Nova Iorque.

Ilhas Reylla, Saluega, In Mar


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53 – 1473 – Gracioso Benincasa. Universidade de Bolonha.


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54 – Século XV, 3º quartel – Anónimo (atelier Rossel). Sociedade


Hispânica de Nova Iorque.
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55 – 1476 – Francesco de Benincasa. Biblioteca Pública, Génova.


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56 – 1480 - Carta Catalã.

Ilhas Attiaela (Antilia), Brazil, Verde.


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57 – 1480 – Albino de Canepa. Sociedade Geográfica Italiana.


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58 – 1481 c. – Mapa Anónimo de Weimar.

Ilhas Antilia, Salvagio, Brazil.


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59 – 1482 – Carta de Gracioso de Benincasa. Biblioteca da


Universidade de Bolonha, Itália.

Cartógrafo de Ancona, Itália.

Ilhas com a orientação norte/sul.

Ilhas Lovo, Caprara, Isola de Bracil, Colombi, yª de Ventura, San


Giorgio, Li Chonilli, Corvo marini.

A ocidente destas ilhas temos mais duas: Salvaga, Antilia.


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Claudio Ptolomeu, historiador e cientista Grego, que viveu nos


séculos I e II depois de Cristo. Os seus trabalhos, que nos interessam, são
os de geografia e cartografia. A primeira tradução latina da sua geografia
foi feita por Giacomo Ângelo, entre os anos de 1405 e 1409.

60 - Interpretação do mapa-mundo de Ptolomeu.


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61 – 1477 – Carta das Cassitérides de Claudio Ptolomeu.

Consideradas as tábuas antigas. Ilhas identificadas com os Açores,


localizadas a noroeste da Península Ibérica, junto à Galiza.
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62 – Carta das Cassitérides de Claudio Ptolomeu.


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63 – 1490 - Mapa-mundo de Claudio Ptolomeu de Martellus


Germanus.
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64 – 1528 – Isolário de Beneto Bordonne, com as Cassitérides.

Cartografia Veneziana baseada na Geografia de Ptolomeu.


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65 – 1535 – Carta das Cassitérides de Claudio Ptolomeu.

Tábuas novas.
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Estrabão, geógrafo e historiador grego, nascido em Amaséia,


Turquia, no século I AC, e falecido em Roma, no ano 24 DC. Viajou por
todo o mundo conhecido da época, Europa, África e Ásia, autor de uma
obra monumental em 17 volumes intitulada “Geografia”.

66 – Interpretação das Cassitérides da Geografia de Estrabão.


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67 – 1485 - Portulano de Pedro de Reinel. Arquivos de Gironde,


Bordéus.

A partir desta carta as ilhas dos Açores começam a aparecer bem


localizadas em latitude, e com os seus nomes actuais.
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68 – 1486 – Carta de Arnaldus Domenech.


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69 – 1489 – Atlas Veneziano de Cornaro. Bblioteca Britânica,


Londres.

Ilhas Brazil, Mam.


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70 – 1489 – Albino de Canepa. Biblioteca James Ford Bell, Miniápolis


U.S.A.
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71 – 1490 – Anónimo – Carta Genovesa.


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72 – 1490-1492 – Globo de Martin Behaim ou Globo Terrestre de


Nuremberga. Museu Nacional Alemão, Nuremberga.

Martin Behaim, também conhecido por Martinho da Boémia, viveu


alguns anos de 1486 a 1490 na Ilha do Faial – Açores. Casou na dita ilha
com Joana de Macedo, filha do primeiro Capitão Donatário do Faial.

Ilhas Sete Cidades e São Brandão.


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73 – 1492 – Mapa de Jorge Aguiar.


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74 – 1492 - Mapa de Cristóvão Colombo.


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75 – 1493 - Globo de Laon.

Ilhas Antela (Antilia?), Salirosa (Salvagio?).


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76 – 1497 – Carta de Judah Ibnzara.


90

77 – Século XV – Carta Anónima.


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78 – 1500 - Mapa de Juan de la Cosa. Museu Marítimo de Madrid.

Ilhas dos Açores bem localizadas e com os nomes actuais.

Ilha Brasil.
92

79 – 1502 - Planisfério do Cantino. Biblioteca Estense, Modena,


Itália.

Ilhas dos Açores, bem localizadas e com os nomes actuais.


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A partir do início do século XVI, só apresentarei cartas com ilhas


míticas ou lendárias que ainda aparecem na cartografia, pois a partir deste
século as viagens no Oceano Atlântico começam a ser frequentes,
trazendo um melhor conhecimento deste espaço, e como consequência a
verificação de que estas ilhas não existiam na realidade.

80 – 1502 – Mapa de Canerio.

Ilha Antilie (Antilhas). Esta Carta tem a legenda, “Antilhas Del Rey de
Castela”.

81 – 1508-1510 – Mapa Português (Egerton).

Ilhas Sete Cidades (na América do sul), Antiglia (na América do sul),
Bracil, Mam, Antilie (associada às Antilhas).

82 – 1500-1510 - Atlas da Biblioteca de Medicina de Montepellier.

Ilha Brazil.
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83 – 1507 – Mapa do Atlântico e seus arredores de Martin Waldsee


Muller. Bibiloteca do Congresso, U.S.A.

Baseado na Geografia de Ptolomeu.


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84 – 1508 - Mapa de Ruysh.

Ilhas Maida, Insula Daemonorum, Antilia Insula.

85 – 1511 – Mapa Silvanus.

Ilha Brazil.

86 – 1511 – Mapa Peter Martyr.

Ilha Verde.
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87 – 1513 – Mapa Stevens-Brown. Biblioteca Jonh Carter Brown da


Universidade Brown , U.S.A.

Baseado na Geografia de Ptolomeu.


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88 – 1513 - Mapa–mundo Martin Waldsee Muller. Biblioteca do


Congresso, U.S.A.

Baseado na Geografia de Ptolomeu.

Ilhas Mayda, Obbrasil.


99

89 – 1519 – Mapa-mundo de 1519. Biblioteca Nacional de França.


Paris.

Baseado na Geografia de Ptolomeu.

Ilhas Verde, e Brazil.

90 – 1520 – Globo de Johannes Schoner.

Ilha Veridis.

91 – 1528 – Mapa-mundo de Pietro Coppo.

Ilhas Verde e Maida.


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92 – 1529 – Mapa-mundo de Diego Ribero. Bibiloteca Apostólica


Vaticana.

Ilha Maida.
101

93 – 1544 - Mapa de Sebastião Cabot.

Ilhas São Brandão e Demones.

94 – 1542-1546 – Portulano de Pierre Desceliers. Biblioteca


Universitária John Rylands, Manchester.

Cartógrafo Francês.

Ilhas Verde, São Brandão, Mayda, Sete Cidades, Encorporade,


Encorporade Adonda, St. X (duas ilhas distintas, sob a mesma designação),
St. Anne.

Extrato do mapa mostrando as ilhas.


102

95 – 1553 - Mapa de Mateus Prunes. Biblioteca Universitária de


Sassari.

Carta maiorquina.

Ilhas Maida (em forma de crescente), Brazil (de forma circular


cortada), Frislândia.

Extrato do mapa.
103

96 – 1556 – Mapa de Giovanni Battista Ramusin.

Mapa veneziano.

Ilhas Brazil, Demónios.

97 – 1560 – Mapa de Nicolao.

Ilhas Verde, I Man Orbolunda (Maida). Brazil.

98 – 1566 -Mapa de Forlani Zaltiri.

Ilhas Verde, Mayda, Brazil.

99 – 1566 - Mapa de Giovanni Battista de Ramusio.

Mapa veneziano.

Ilha Man (Maida, situada perto das costas da Irlanda).

100 – 1568 – Mapa de Olives.

Ilha Brazil.
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101 - 1569 – Peter Mercator. Biblioteca Nacional de França, Paris.


Biblioteca Nacional de Wroclaw. Biblioteca Universitária de Basel.
Biblioteca Britânica, Londres.

Ilha Grocland.
105

102 – 1570 – Mapa-mundo de Abraham Ortelius. Inserida no Atlas


“Theatrum Orbis Terrarum”

Gravado em Antuérpia.

Ilhas Verde, Sete Cidades, São Brandão, Brazil, Estotilândia, Drigio,


Demónios.
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103 – 1587 – Mapa-mundo de Rumold Mercator. Inserida no Atlas


“Orbis Terra”

Ilha Verde.
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104 – 1587 – Mapa de Richard Hakluyt

Ilha Grocland.

105 – 1595 - Mapa de Abraham Ortelius.

Ilhas São Brandão, e Brazil (situadas a oeste das Ilhas Britânicas).


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106 – 1597 – Mapa de Magini.

Ilhas Brazil (localizada a sudoeste da Irlanda), São Brandão (a oeste


da Ilha Brazil).
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107 – 1606 - Mapa do Bispo Thorlaksson.

Ilha Estotilãndia.

108 – 1670 – Mapa de Nicolas Visher.

Ilha Maidas.

109 – 1673 – Mapa de John Seller.

Ilha Buss.

110 – 1745 – Mapa de Van Keulen.

Ilha Buss.

111 – 1757 – Atlas Universal de M. Rober.

Ilha Maida.

112 – 1814 – Carta do Atlântico.

Ilha Mayda.
110

ESTATÍSTICA DAS ILHAS MÍTICAS E IMAGINÁRIAS

Foram estudados, em pormenor, 57 mapas com ilhas míticas e


imaginárias, que em seguida vou apresentar no seu estudo estatístico.

Por ordem decrescente de aparições, temos as ilhas Brazil, São


Brandão, Verde, Antilia, Savagio e Daculi. Temos mais ilhas como é óbvio,
mas com valores pouco significativos.

A ilha com a designação de Brasil, com todas as variantes deste


nome, (quase todos os investigadores destes assuntos estão de acordo)
está relacionada com a ilha Terceira, no arquipélago dos Açores. Esta Ilha
aparece nos mapas, entre os anos de 1300 e 1600, trinta vezes, o que
representa uma percentagem de 52,63 %.

A ilha com a designação São Brandão, aparece nos mapas, entre os


anos 1250 e 1600, onze vezes, o que representa uma percentagem de
19,30 %.

A ilha com a designação Verde, aparece nos mapas, entre os anos


1350 e 1600, onze vezes, o que representa uma percentagem de 19,30 %.

A ilha com a designação Antilia, aparece nos mapas, entre os anos


1360 e 1520, nove vezes, o que representa uma percentagem de 15,79 %.

A ilha com a designação Salvagio, aparece nos mapas, entre os anos


1430 e 1500, cinco vezes, o que representa uma percentagem de 8,77 %.

A ilha com a designação Daculi, aparece nos mapas, entre os anos


1320 e 1460, cinco vezes, o que representa uma percentagem de 8,77 %.
111

TERCEIRA A ILHA MÍTICA “BRAZIL”?

A cartografia dá-nos uma ajuda para esta interrogação. Será que a


Ilha Terceira no arquipélago dos Açores é a ilha mítica ou imaginária nos
mapas dos séculos XIII até aos finais do XV, e eventualmente seguintes,
com a designação de Brazil.

Efetivamente, temos uma carta da Ilha Terceira editada por


Abraham Ortelius no seu Theatrum Orbis Terrarum (Atlas de todo o
mundo, publicado em 1570 e anos seguintes) que está na Biblioteca
Nacional de Paris, com as dimensões de 220 X 285 mm, datada de 1582,
que não está assinada, mas atribuída ao grande cartógrafo português Luís
Teixeira, por Armando Cortesão, que tem muitas semelhanças com outra
carta também da Terceira, com data de 1587 e esta, sim, assinada por este
cartógrafo.

Esta carta de 1582 tem uma particularidade de ter em cima da


imagem da Ilha inscrito o nome “Brazil”, e no vulcão anexo a poente da
Baía de Angra a designação “ponta do Brazil”, como se pode verificar na
imagem seguinte:
112

A designação de “ponta do Brazil” na imagem da Ilha Terceira vai


repetir-se ao longo dos tempos, como se pode verificar na carta seguinte,
mas esta, já do século XVI, mais concretamente de 1637, editada pelo
geógrafo e cartógrafo holandês Petrus Bertius no seu Atlas.

Todos estes dados, permitem-nos concluir que, efetivamente, as


ilhas míticas e imaginárias estão ligadas ao Arquipélago dos Açores, e que
a existência destas ilhas já era do conhecimento dos povos do
Mediterrânio e do norte de África em geral, e dos portugueses em
particular. E como a ilha mais conhecida do Arquipélago, pela sua
localização e não só, era a Ilha Terceira, daí se me é permitido, chego à
conclusão, da sua ligação à que mais vezes é mencionada nas cartas entre
os séculos XIII a XV, a ilha “Brazil”.
113

Até meados do século XV, estas ilhas não têm interesse para o seu
povoamento, mas a partir da dobragem do Cabo Bojador, os portugueses
verificaram que eram fundamentais para apoio às frotas que
demandavam as rotas de África, e mais tarde a Índia e o Brasil.

Esta necessidade de apoio às frotas no seu retorno das viagens, não


é único, pois temos também o caso da Ilha de Santa Helena no Atlântico
Sul, que funcionava do mesmo modo para as rotas da Índia, Malaca,
China, Japão, etc. Esta ilha não estava povoada com permanência, mas
tinham sido lançadas nos seus terrenos, várias espécies de gado, e
efetuadas plantações de vegetais e árvores para abastecimento dos
barcos que a demandavam.
114

CONCLUSÕES

Este trabalho pretendeu reunir toda a cartografia que possuía, entre


os séculos XIII e XV, devido aos meus trabalhos sobre a carta de Angra e a
evolução da cartografia dos Açores entre os séculos XV e XVIII.

Ao mesmo tempo, tento responder à grande questão atual, sobre os


achados megalíticos na Ilha Terceira, em que muito se discute sobre a
possibilidade de os Açores serem conhecidos e mesmo abordados por
povos, antes do povoamento pelos portugueses.

Enquanto não forem encontrados achados arqueológicos credíveis,


que nos permitam fazer essa afirmação, vamos continuar a elaborar
hipóteses sobre essa possibilidade.

A cartografia pode dar-nos uma ajuda sobre essas hipóteses, com as


ilhas míticas e lendárias que desde o século XIII aparecem em portulanos,
mapas, cartas, mapas-mundo, etc, do oceano Atlântico. É o que estou
tentando fazer, reunindo esse material, de modo a ser possivel um estudo
sério e credível sobre esta matéria.

Sabemos que, desde a idade do bronze, os povos do Mediterrâneo


procuraram o estanho no norte da Península Ibérica, norte da França e sul
da Inglaterra, mais concretamente no país de Gales.

Esta procura era devida a que os constituintes do bronze são o


cobre e o estanho. O cobre existia na bacia mediterrânica, mas o estanho
não, o que levou os fenícios e os cartagineses a passarem as colunas de
hérculos, navegarem no norte de África, costas portuguesas, francesas e
inglesas à sua procura.
115

Pode colocar-se a pergunta porque não irem por terra. A resposta é


simples: porque era uma viagem muito difícil, porque iriam atravessar
zonas muito perigosas e com pagamento de direitos de passagem muito
onerosos. Era muito mais fácil e barata a viagem por mar. No entanto,
havia um trajeto para chegar ao país de Gales, local onde se situavam as
principais minas de estanho, que começava em Marselha, atravessava
toda a França até aos portos onde se passava por barco até à Inglaterra.

Desde Ptolomeu e Estrabão que aparecem estas ilhas com a


designação de Cassitérides, devido ao minério que contém o estanho ser a
cassiterite. Seriam ilhas em que o solo era constituido por estanho puro.
Daí a sua grande divulgação.

Do ponto de vista técnico de viajar no alto mar, seria possível que


alguma ou algumas destas embarcações tivessem abordado as ilhas dos
Açores, arrastado por tempestades, mas de uma maneira casual e não do
ponto de vista de povoamento, que não seria, de modo algum, a sua
intenção.

Teremos também alguns dos povos do norte de África, que,


afastando-se da costa, poderiam facilmente ser apanhados pelos ventos e
correntes abundantes nestas zonas e terem chegado aos Açores.

Estes mapas começam por localizar e dar nomes a ilhas


perfeitamente imaginárias, mas que poderiam ter alguns indícios de
verdade. Mas, à medida que nos aproximamos dos meados do século XV,
com a dobragem do cabo Bojador pelos portugueses, começam a aparecer
na cartografia as ilhas dos Açores e, pouco a pouco, começam a
desaparecer as ilhas míticas e lendárias na cartografia. No entanto ainda
vão perdurar até aos finais do século XVII.
116

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- Coleção de documentos relativos ao descobrimento e povoamento


dos Açores.

Precedida de um ensaio crítico por Manuel Monteiro Velho Arruda.

Terceira edição da iniciativa do Instituto Cultural de Ponta Delgada.

Ponta Delgada 1989.

- http://butronmaker.blogspot.com/

- http://ruipmartins.tripod.com/cartog.html

- http://pt.wikipedia.org/wiki/hist%c3%b3ria_dos_a%c3%azores

- http://en.wikipedia.org/wiki/user:walrasiad/maps

- Portolan Charts from the late thirteenth century to 1500.

Tony Campbel.

-A Atlântida de Cristóvão Colombo.

Pierre Carnac.

-Relações interculturais da cartografia portuguesa com a cartografia


mediterrânica e oriental.

José Manuel Garcia.

Cidade do Porto Outubro de 2013

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