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FASE 1 _Caracterização e diagnóstico da situação de referência

Volume I - Enquadramento Territorial e Socioeconómico


Abril 2021
ÍNDICE GERAL DE VOLUMES

Volume I – Enquadramento Territorial e Socioeconómico


Volume II – Caracterização da Área de Intervenção
Volume III – Caracterizações de Pormenor
Volume IV – Síntese de Caracterização e Diagnóstico
INDICE DO VOLUME I

1. INTRODUÇÃO 1
2. OBJETIVOS E ESCALAS DE ABORDAGEM 7
3. QUADRO ESTRATÉGICO DE REFERÊNCIA 9
3.1. Estratégia nacional para a gestão integrada das zonas costeiras 10
3.2. Estratégia nacional para o mar 13
3.3. Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território 14
3.4. Plano de Ordenamento do Território da RAM e Programa Regional do Ordenamento da RAM 17
3.5. Plano de Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo [ZEE Madeira] 19
4. CARACTERIZAÇÃO CLIMATOLÓGICA 23
4.1. Elementos do clima presente 24
4.1.1 Temperatura do ar 24
4.1.2 Precipitação 25
4.1.3 Vento 28
4.1.4 Insolação, nebulosidade e humidade relativa 29
4.2. Elementos do clima futuro 29
4.2.1 Temperatura do ar 30
4.2.2 Precipitação 33
4.2.3 Vento 36
4.2.4 Humidade específica 36
4.2.5 Nível médio do mar 37
5. POPULAÇÃO E CONDIÇÕES DE VIDA 39
5.1. População 39
5.2. Parque edificado e habitação 47
6. BASE ECONÓMICA 53
6.1. Atividade económica, qualificações da população e emprego 53
6.2. O caso particular do turismo 62
6.2.1 Oferta 69
6.2.2 Procura 74
6.3. A economia do mar 79
6.3.1 Enquadramento nacional 79
6.3.2 Principais atividades da economia do Mar na RAM 82
6.3.3 Principais potenciais da economia do Mar na RAM 85
7. ACESSIBILIDADES 89
7.1. Infraestruturas rodoviárias 90
7.2. Infraestruturas portuárias 93
7.3. Infraestruturas aeroportuárias 102
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO
EQUIPA TÉCNICA

Técnicos Formação Funções


Prof. Fernando Veloso Gomes Engenharia Civil Coordenação do Programa

/ Hidráulica aplicada Hidráulica marítima


Recursos hídricos
Infraestruturas Ambientais
Arqt.ª Paisag Ana Barroco Arquitetura Paisagista Coordenação executiva
Qualidade Ambiental
Cenários de desenvolvimento
Programa de Intervenções e Plano de financiamento
Prof. Paulo Santos Biologia, com especialidade em Biologia marinha / Ecologia
ecologia animal
Prof. Francisco Barreto Caldas Biologia Biologia terrestre / Ecologia

Prof. Nuno Cruz Geologia / Geotecnia Geologia

Prof. Paulo Silva Ciências geofísicas, com especialidade Oceanografia


em Oceanografia física
Prof. Alfredo Rocha Física / Meteorologia Climatologia

Dr. Daniel Miranda Geografia Sistemas de Informação Geográfica


Acessibilidades e Transportes
Demografia e Atividades Económicas

Dr. Rui Azevedo Economia Economia do mar

Eng. Joaquim Barbosa Engenharia do Ambiente, com Dinâmica Costeira


especialidade em Dinâmica costeira
Avaliação Ambiental Estratégica

Arqt.ª Rute Afonso Arquitetura e Planeamento Urbano Aglomerados Urbanos

Dr.ª Patrícia Lopes Educação Física Atividades náuticas

Dr. João Miranda Direito Sistema jurídico

Dr.ª Filipa Barreira Sociologia Demografia e atividades económicas

Arqt.ª Paisag. Madalena Coutinho Arquitetura Paisagista Paisagem

Sistema de participação

Arqt.ª Susana Magalhães Arquitetura e Planeamento Urbano Aglomerados Urbanos


Acessibilidades e transportes
Zonas balneares

Arq. Pedro Mendes Arquitetura Aglomerados Urbanos


Zonas Balneares

Dr.ª Helena Santos Biologia, com especialidade em Biologia marinha / Ecologia


ecologia animal
Dr.ª Carla Melo Biologia Avaliação Ambiental Estratégica
Infraestruturas Ambientais

Dr.ª Andreia Leite Geologia / Ord. Território Sistemas de Informação Geográfica

Dr. Filipe Martins Geografia Sistemas de Informação Geográfica


FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO
1. INTRODUÇÃO

O Programa para a Orla Costeira da Ilha da Madeira, abreviadamente designado POCMAD, corresponde à
faixa costeira da ilha da Madeira, com uma extensão aproximada de 153 km, abrangendo os municípios de
Porto Moniz, São Vicente, Santana, Machico, Santa Cruz, Funchal, Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do
Sol e Calheta.

A ilha da Madeira corresponde à principal ilha da Região Autónoma da Madeira (RAM), ocupando cerca de
94,6% do território regional, tem cerca tem cerca de 740 km2 e abrange 10 municípios dos onze da RAM.

Figura 1.1_Enquadramento regional

De forma alongada na direção SE-NW, apresenta um comprimento máximo de cerca de 58 km e uma largura
de 23 km. O perímetro da linha de costa da ilha é de cerca de 153km.

As encostas Norte e Sul da Ilha da Madeira possuem características que as diferenciam. Enquanto a encosta
Norte da Ilha é caracterizada por um relevo vigoroso com arribas altas e escarpadas e com pouca ocupação
humana, a encosta Sul da Ilha possui um relevo mais brando e é onde se concentra grande parte da
população.

O Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial - Decreto-Lei n.º 80/2014, de 30 de maio, adaptado
à região pelo DLR n.º 18/2017/M, de 27 de junho [RJIGT-M] – que desenvolve a lei de bases das políticas
públicas de solos, do ordenamento do território e do urbanismo publicada na Lei n.º 31/2014, de 30 de maio
– enquadra a elaboração e aprovação dos POC, bem como a natureza, objetivos, conteúdo material e
documental destes instrumentos de gestão territorial.

Os programas de orla costeira são programas especiais de âmbito regional, elaborados pelo Governo
Regional, que estabelecem “regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais e visam exclusivamente:
(i) a salvaguarda de objetivos de interesse regional com incidência territorial delimitada; e (ii) a garantia das
condições de permanecia dos sistemas indispensáveis à utilização sustentável do território”. (artigo 40.º do
RJIGT-M).

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

O Governo Regional determinou a elaboração do POCMAD através da Resolução n.º 846/2018 de 13 de


novembro, tendo definido como objetivos específicos para a sua elaboração:
a) Estabelecer regimes de salvaguarda de valores e recursos naturais em função da especificidade de
cada área, adequando os diferentes usos e atividades específicos da orla costeira à dinâmica deste
troço costeiro, em observância do princípio da precaução e da prevenção, do princípio da
sustentabilidade e da solidariedade intra e intergeracional e, do princípio da coesão e equidade, bem
como o regime de gestão sustentável do território da orla costeira;
b) Potenciar um desenvolvimento sustentável da zona costeira através de uma abordagem prospetiva,
dinâmica e adaptativa, que fomente a sua competitividade enquanto espaço produtivo, gerador de
riqueza e emprego;
c) Identificar, qualificar e propor estratégias de valorização, socioeconómica, do património
paisagístico, cultural, faunístico, botânico e geológico;
d) Promover a requalificação dos recursos hídricos, tendo em atenção as conectividades e
interdependências entre os meios hídricos interiores e costeiros e sistemas naturais associados,
otimizando em particular o seu papel de alimentação da praia;
e) Compatibilizar os diferentes usos e atividades específicos da orla costeira, visando potenciar a
utilização dos recursos próprios desta área, e os inerentes ganhos socioeconómicos, com respeito
pela capacidade de carga dos sistemas naturais, e o fomento de medidas que atenuem a
sazonalidade;
f) Valorizar e qualificar as praias, poços de maré, arribas e outras formações rochosas, em particular as
consideradas estratégicas por motivos ecológicos, integridade biofísica, usufruto público e turístico;
g) Classificar as praias atendendo à sua vocação balnear, recreativa e proteção costeira;
h) Identificar, proteger, qualificar e valorizar os ecossistemas marinhos e costeiros, assegurando a
conservação da natureza, da biodiversidade e da geodiversidade, com especial incidência para as
zonas de elevado valor ambiental, social, económico, cultural e recreativo;
i) Identificar e estabelecer regimes para a salvaguarda das faixas de risco, e adotar politicas de
adaptação `às alterações climáticas face aos diversos usos e ocupações, numa perspetiva de médio
e longo prazo, nomeadamente, através da contenção da expansão dos aglomerados urbanos e da
não ocupação ou densificação de arias de risco ou vulneráveis, como as áreas existentes na base e
topo das arribas com evidencias de instabilidade elevado ou áreas que apresentam suscetibilidade
elevada de galgamento;
j) Propor medidas de proteção para a orla costeira, com prioridade para as ações que visem a
minimização do risco de erosão, galgamentos e inundação;
k) Assegurar as condições para o desenvolvimento da atividade portuária e garantir as respetivas
acessibilidades marítimas e terrestres, em conformidade com os instrumentos de gestão territorial
aplicáveis e sem prejuízo das competências das administrações portuárias;
l) Promover a gestão integrada em articulação e considerando os programas e planos de interesse
nacional, regional e local, que já existem e os que se encontram em elaboração, nomeadamente, o
Programa Nacional da Politica de Ordenamento do Território, a Estratégia Nacional para a Gestão
Integrada da Orla Costeira, a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, a Estratégia
Nacional de Desenvolvimento de Desenvolvimento Sustentável, a Estratégia Nacional para o Mar, a
Lei da Água e Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Arquipélago da Madeira (PGRH_Madeira),
o Plano Sectorial da Rede Natura 2000, o Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo, o Plano de
situação de ordenamento do Espaço Marítimo, os Planos Diretores Municipais dos 10 concelhos da
ilha da Madeira;
m) Caracterizar e definir programas para a zona marítima de proteção abrangida pelo POC, em estreita
articulação com as Áreas marinhas Protegidas, assegurando a compatibilização co as respetivas
opções de proteção e salvaguarda;
n) Promover a monitorização dos sistemas naturais e construídos, e da própria implementação do
programa, que permitam identificar a necessidade de o alterar ou rever;

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o) Clarificar a repartição de responsabilidades por parte das diversas entidades a quem compete gerir
e manter as infraestruturas marítimas;
p) Identificar as entidades a quem compete assegurar a minimização dos riscos de erosão, galgamentos
e inundações e adoção de medidas preventivas nomeadamente ao nível da dinâmica sedimentar
costeira e fluvial, infraestruturação, planeamento e ordenamento dos usos e ocupações do solo;
q) Clarificar a repartição de responsabilidades por parte das diversas entidades a quem compete
garantir ou executar as medidas e ações definidas;
r) Elaborar um Plano de Ação de Proteção e Valorização do Litoral e um Plano Estratégico de Gestão e
Manutenção das Infraestruturas Marítimas.

Instrumentos que vinculam exclusivamente as entidades públicas, os POC “estabelecem regimes de


salvaguarda de recursos e valores naturais e regime de gestão compatíveis com a utilização sustentável do
território, através do estabelecimento de ações permitidas, condicionadas ou interditas, em função dos seus
objetivos” (artigo 41.º do RJIGT-M).

Assim, devem os POC determinar o quadro de referência das ações permitidas, condicionadas ou interditas
relativamente à ocupação, uso e transformação do solo que serão obrigatoriamente integradas nos planos
territoriais (artigos 41.º e 3.º do RJIGT-M), bem como definir em sede de regulamento próprio as normas de
gestão que visem a proteção e valorização dos recursos e valores naturais, nomeadamente normas relativas
à circulação de pessoas, veículos ou animais, prática de atividades desportivas ou quaisquer comportamentos
suscetíveis de afetar ou comprometer recursos ou valores.

Sem prejuízo do quadro legal, nomeadamente o novo regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial,
o POC deverá adotar os conceitos e as orientações definidas no Decreto-Lei n.º 159/2012, de 24 de julho.

Neste contexto, os POC incidem sobre a orla costeira, a qual compreende, do lado de terra, uma “zona
terrestre de proteção” e, do lado do mar, uma “zona marítima de proteção”, cuja delimitação observa os
seguintes critérios (artigos 8.º e 9.º do DL n.º 159/2012):

▪ “zona terrestre de proteção” - composta pela margem das águas do mar e por uma faixa, medida na
horizontal, com uma largura de 500 m, contados a partir da linha que limita a margem das águas do
mar - a qual excecionalmente pode ser ajustada para uma largura máxima de 1000 m quando se
justifique acautelar a integração de sistemas biofísicos fundamentais no contexto territorial objeto
do plano, isto é na unidades territoriais homogéneas em estreita dependência com a dinâmica
costeira, tais como sistemas dunares arribas fósseis , lagunas costeiras, estuários, etc. – situação que
não se aplica à orla costeira da ilha da Madeira;
▪ “zona marítima de proteção” – faixa compreendida entre a linha limite do leito das águas do mar e
a batimétrica dos 30m referenciada ao zero hidrográfico.

A delimitação da área de intervenção é assim, nos termos da legislação, definida no âmbito de cada programa
no que se refere às faixas de proteção. Por outro lado, atendendo às características morfológicas da orla
costeira, nomeadamente à sua natureza, a delimitação das margens das águas do mar é uma tarefa
complexa, atendendo a que existem poucas áreas do domínio público marítimo legalmente constituídas
através de autos de delimitação.

Neste contexto, a delimitação do leito e das margens do leito das águas marítimas resulta da aplicação da Lei
n.º 54/2005, de 23 de agosto, na sua redação atual, a qual define os conceitos e seus limites, nomeadamente:

▪ Leito das águas do mar:


o Noção: entende-se por leito os terrenos cobertos pelas águas quando não influenciadas por
cheias extraordinárias, inundações ou tempestades;

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

o Limites: é delimitado pela Linha de Máxima Preia-Mar de Águas Vivas Equinociais (LMPMAVE);
essa linha é definida, para cada local, em função do espraiamento das vagas, em condições
médias de agitação do mar, correspondendo à cota topográfica dos 3,4 m no caso do Porto Santo.

▪ Margem das águas do mar:


o Noção: entende-se por margem uma faixa de terreno contíguo à linha que limita o leito das
águas.
o Limites (largura): a margem das águas do mar tem uma largura de 50 m, exceto:
I. Quando tiver natureza de praia em extensão superior aos 50 m, a margem estende-se até
onde o terreno apresentar tal natureza;
II. Quando a margem de 50m atingir arribas alcantiladas, a largura da margem é contada a
partir da crista do alcantil;
III. Se a margem atingir uma estrada regional ou municipal existente, a sua largura só se
estenderá até essa via.

Complementarmente, o Decreto Legislativo Regional n.º 25/2017/M de 7 de agosto, que adapta à Região
Autónoma da Madeira a Lei n.º 54/2005 de 23 de agosto, desenvolve alguns conceitos e especificidades a
aplicar à Região no que respeita a conceitos e critérios de delimitação do domínio público marítimo, dos
quais se destacam:

a) Arriba alcantilada — forma particular de vertente natural costeira, abrupta, com inclinação muito
elevada, talhada em materiais coerentes pela ação conjunta dos agentes morfogenéticos marinhos,
subaéreos e biológicos, definida por critérios próprios adaptados à realidade geomorfológica da
Região Autónoma da Madeira;
b) Crista da arriba — linha que define o limite superior da arriba, em que se verifica rutura muito
acentuada de pendor na transição da face da arriba para a zona superior, mais aplanada;
c) Núcleos urbanos consolidados tradicionalmente existentes — aqueles que constituem os centros
históricos e os núcleos antigos que, em razão da sua morfologia, configuram memórias coletivas
importantes e caracterizam a identidade dos aglomerados;
d) Largura de margem das águas do mar: na RAM se a margem das águas do mar atingir uma estrada
regional ou municipal existente, a sua largura só se estende até essa via (considerando-se para este
efeito: estradas regionais – as estradas classificadas ao abrigo da legislação regional em matéria de
rede viária regional; estradas municipais – as estradas classificadas ao abrigo da legislação regional
em matéria de rede viária regional e municipal);
e) Os terrenos junto à crista das arribas alcantiladas e bem assim os terrenos inseridos em núcleos
urbanos consolidados tradicionalmente existentes nas margens das águas do mar constituem
propriedade privada.

A identificação das arribas alcantiladas, das respetivas cristas e dos núcleos urbanos consolidados,
tradicionalmente existentes foram posteriormente publicados através da Portaria n.º 33/2019, de 31 de
maio, e da Portaria n.º 373/2020, de 17 de julho, respetivamente.

O POCMAD será desenvolvido em cinco fases, designadas por Caracterização e Diagnóstico da situação de
referência, Pré-proposta do POCMAD e Definição de Âmbito da Avaliação Ambiental Estratégica, Proposta
de POCMAD e Relatório Ambiental, Discussão Pública e Relatório de Ponderação e ainda Versão final do
POCMAD e Declaração Ambiental, correspondendo o presente relatório à primeira fase dos trabalhos, que é
constituída pelo seguinte conjunto de relatórios:

▪ Volume I. Enquadramento territorial e socioeconómico;


▪ Volume II. Caracterização da área de intervenção, incluindo um Anexo com peças desenhadas;
▪ Volume III. Caracterizações de pormenor, incluindo um Anexo relativo às zonas balneares,
infraestruturas portuárias e estruturas de defesa costeira;

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▪ Volume IV. Síntese de caracterização e diagnóstico.

Tendo em conta os objetivos do Programa e as características específicas da área de intervenção, os estudos


setoriais têm incidência espacial e de pormenor diversa, consoante a componente em análise: de
enquadramento, correspondendo ao presente volume; de base, correspondendo ao volume II, e de
pormenor, correspondendo ao volume III.

O Volume I, designado Enquadramento Territorial e Socioeconómico, é constituído por 7 capítulos que


sistematizam o conjunto de caracterizações mais abrangentes, permitindo enquadrar as outras
caracterizações de maior pormenor que se desenvolvem nos restantes documentos. Assim, nos capítulos
seguintes são definidas as escalas de abordagem, sistematizadas as orientações das políticas, planos e
programas nacionais e regionais que importa articular no âmbito da elaboração do POCPAD, e desenvolvida
a caracterização do quadro demográfico e das condições sociais da Região e da ilha da Madeira e a análise
transversal da base económica, em especial das atividades ou sistemas com maiores implicações territoriais
e ambientais na orla costeira, como sejam seja o setor do turismo ou as atividades associadas à economia
dos mar, entre outras.

A primeira fase termina com a realização do diagnóstico, consubstanciado no princípio da integração, em


que será explicitado o grau de interdependência das diversas componentes presentes no território e serão
equacionados os usos atuais e potenciais face à procura atual e previsível e aos aspetos de conservação,
proteção e qualidade do ambiente.

Importa realçar, contudo, que nem toda a informação solicitada foi disponibilizada em tempo útil. Esta
situação não é, contudo, impeditiva da concretização dos objetivos desta fase. Admite-se, em consonância
com a própria metodologia de desenvolvimento do estudo, que no início da fase seguinte a síntese de
caracterização, bem como o diagnóstico sejam revistos, quer com base na 2ª reunião e nos pareceres da
Comissão Consultiva, quer pela introdução de novos dados entretanto obtidos.

Por último, importa salientar a disponibilidade sempre prestada pela DRAAC, bem como pelo conjunto de
entidades da Comissão Consultiva, na participação ativa em reuniões de trabalho, nos contactos internos e
na disponibilização da informação.

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

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2. OBJETIVOS E ESCALAS DE ABORDAGEM

Tendo em conta os objetivos do Programa e as características específicas da área de intervenção, de elevado


valor natural, cultural e ecológico, mas, também, de grande atratividade para o desenvolvimento de diversas
atividades (turismo, recreio e lazer, entre outras), as caracterizações terão níveis de abordagem consoante a
dimensão em análise, nomeadamente: de enquadramento, de estudo e de pormenor.

Estas diferentes escalas de abordagem complementares permitirão o desenvolvimento de um instrumento


rigoroso ao nível das propostas, com repercussões na definição e pormenorização posterior das intervenções
que integrarão a proposta.

A área de intervenção, definida nos termos da legislação, será a base considerada ao nível das
caracterizações, sendo ajustada em função do domínio ou componente em estudo de forma a permitir
estabelecer as relações de interdependência e as condições e tendências externas suscetíveis de influir na
dinâmica de ocupação da área de intervenção do POCMAD. Desta forma, a área de análise variará consoante
a componente, domínio ou fator que estiver a ser estudado nas caracterizações considerando a orla costeira
a área base de todas as caracterizações, conforme anteriormente foi referido.

Por exemplo, no caso da dinâmica urbana a área a caracterizar incidirá em especial sobre a frente edificada
na orla costeira (situação, dinâmica recente, disposição dos PMOT sobre essa frente, etc.) embora se
considere que a leitura e avaliação desta componente numa área de estudo correspondente a uma faixa com
2km de largura seja pertinente face à pressão direta que este uso exerce na orla costeira e à escala da ilha.
Da mesma forma, existem outras dimensões do sistema que justificarão pela sua natureza uma abordagem
ao nível do município.

Figura 2.1_Incidência espacial das caracterizações

Área de estudo

Área de
intervenção

Neste relatório pretende-se, de forma sucinta, identificar as principais características e tendências sociais e
económicas da área abrangida pelo POCMAD, tendo em vista que estas dimensões enquadram e explicitam
o modelo territorial instalado. Dada a natureza específica do estudo tentar-se-á, sempre que possível,
extrapolar e pormenorizar as análises para a área de intervenção, que corresponde à zona terrestre de

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

proteção, situação que para alguns dos indicadores é de fácil aproximação permitindo uma leitura bastante
fidedigna à área de intervenção.

Para a maioria dos indicadores será utilizada como base a informação estatística do último período censitário
(Censos 2011, da responsabilidade do INE) complementada outros dados estatísticos mais recentes
disponibilizados pela DREM.

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3. QUADRO ESTRATÉGICO DE REFERÊNCIA

A identificação do quadro de referência estratégico de políticas, planos e programas internacionais, nacionais


e regionais cujas orientações sejam importantes para a elaboração do POCMAD são sistematizados na tabela
seguinte, sem prejuízo de existir um quadro mais amplo de instrumentos de política que enquadrem a gestão
de territórios costeiros e, em particular, de territórios insulares.
Tabela 3.1_Principais políticas, planos e programas com incidência na zona costeira da RAM
Documentos de Referência Internacional
Estratégia da União Europeia para o Desenvolvimento Sustentável
Agenda Territorial da União Europeia
Estratégia Europeia para as Regiões Ultraperiféricas. - Plano de Ação RUP 2020 RAM
Estratégia Europeia para a Conservação da Biodiversidade
Estratégia para a Utilização Sustentável dos Recursos Naturais
Política Comum das Pescas
Política Marítima Integrada para a UE
Diretiva-Quadro da Água
Diretiva-Quadro Estratégia Marinha
Documentos de Referência Nacional
Portugal 2020
Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS)
Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território (PNPOT)
Programa Nacional de Ação para o Crescimento e o Emprego (PNACE)
Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC)
Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ENCNB)
Plano Sectorial da Rede Natura 2000
Estratégia Nacional para a Gestão Integrada da Zona Costeira (ENGIZC)
Estratégia Nacional para o Mar (ENM)
Documentos de Referência Regional
Programa Operacional da Região Autónoma da Madeira 2014-2020
Programa de Cooperação Madeira-Açores e Canárias (MAC)
Plano de Ordenamento do Território da RAM e Programa Regional do Ordenamento da RAM
Programa de Ordenamento Turístico da Região Autónoma da Madeira (POT)
Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Arquipélago da Madeira (PGRH 2016-2021)
Plano de Gestão de Riscos e Inundações da Região Autónoma da Madeira (PGRI-RAM)
Plano Estratégico de Resíduos da Região Autónoma da Madeira (PERRAM)
Plano Integrado dos Transportes da Região Autónoma da Madeira (PIETRAM)
Plano de Política Energética da Região Autónoma da Madeira (PPERAM)
Plano Regional da Política de Ambiente (PRPA)
Plano de Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo (ZEE Madeira)
Estratégia de Adaptação às Alterações Climáticas da Região Autónoma da Madeira
Plano de Ordenamento para a Aquicultura Marinha da Região Autónoma da Madeira (POAMAR)
Planos municipais de ordenamento do território, nomeadamente os PDM de Funchal, Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta
do Sol, Calheta, Porto Moniz, São Vicente, Santana, Machico e Santa Cruz

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

A lista apresentada corresponde às referências consideradas mais relevantes para a gestão das zonas
costeiras nas últimas décadas, destacando-se quer os instrumentos que definem orientações específicas para
as zonas costeiras, quer os que definem modelos de gestão com implicações territoriais nestas zonas

Neste capítulo pretende-se exclusivamente identificar os instrumentos mais relevantes, sem prejuízo de nos
diferentes domínios de caracterização se analisarem detalhadamente os principais instrumentos associados
(e.g. a propósito da caracterização climatológica apresentar-se-ão os cenários definidos na Estratégia de
Adaptação às Alterações Climáticas da Região Autónoma da Madeira ou, no caso, do turismo apresentar-se-
ão as orientações definidas para o turismo no Programa de Ordenamento Turístico da RAM ou, ainda, na
caracterização do uso do solo apresentar-se-á uma análise detalhada das propostas contempladas nos planos
municipais de ordenamento do território com incidência na área de intervenção, entre outros).

Pela relevância estratégica para a elaboração do POCMAD evidenciam-se os seguintes documentos, suja
síntese se apresenta seguidamente:

▪ a Estratégia Nacional para a Gestão Integrada da Zona Costeira [ENGIZC];


▪ a Estratégia Nacional para o Mar;
▪ o Plano de Ordenamento do Território da Região Autónoma da Madeira (POTRAM);
▪ e o Plano de Situação do Ordenamento do Espaço MARÍTIMO (ZEE Madeira) ainda em elaboração.

3.1. Estratégia nacional para a gestão integrada das zonas costeiras

A Gestão Integrada de Zonas Costeiras procura conciliar as diferentes políticas com impacto sobre a zona
costeira de acordo com um quadro de referência que facilite a ponderação de interesses e a coordenação
das intervenções de todos os que são responsáveis e estão envolvidos na utilização, planeamento, gestão e
no seu desenvolvimento.

Neste contexto, em 2006, foram desenvolvidas as Bases para a Estratégia de Gestão Integrada da Zona
Costeira Nacional, que estabelece os princípios e as diretrizes estratégicas da política de ordenamento,
planeamento e gestão da zona costeira portuguesa, continental e insular, nas suas vertentes terrestre e
marinha. Na sequência deste processo, foi solicitado ao Instituto da Água, I.P. (INAG) a elaboração da versão
final da ENGIZC de modo a garantir a articulação das políticas e dos instrumentos que assegurem o
desenvolvimento sustentável da zona costeira, publicada pela RCM n.º 82/2009, de 8 de setembro.

O documento define uma visão para a zona costeira, um conjunto de medidas e de investimentos, bem como
um modelo de governação que deverá ser adaptado em função das suas especificidades nas Regiões
Autónomas.

Respondendo às orientações da UE, as ENGIZC devem ser definidas para uma VISÃO a longo prazo, sem
prejuízo de poderem ser revistas. Neste contexto, a ENGIZC define uma VISÃO para 20 anos. (2029), a qual
deverá atingir:

“Uma zona costeira harmoniosamente desenvolvida e sustentável tendo por base uma abordagem
sistémica e de valorização dos seus recursos e valores identitários, suportada no conhecimento científico e
gerida segundo um modelo que articula instituições, coordena políticas e instrumentos e assegura a
participação dos diferentes atores intervenientes.”

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Esta VISÃO aposta no “desenvolvimento da zona costeira balizado por valores como a identidade, a
sustentabilidade, o ordenamento e a segurança, aos quais se deve subordinar o aproveitamento competitivo
dos potenciais marinhos e marítimos, tanto naturais como culturais, existentes.” A VISÃO, assim definida, é
tributária de um conjunto de premissas sintetizadas no esquema seguinte.

Figura 3.1_Visão da ENGIZC

VISÃO 2029 Uma zona costeira sustentável, baseada


numa gestão que privilegie as opções
naturalizadas e adaptativas,
Uma zona costeira com identidade
salvaguardando os seus recursos e valores
própria, apostando nos seus recursos e
naturais, patrimoniais e paisagísticos
nos valores únicos naturais e culturais Ambiente
Valores
Uma zona costeira
Conhecimento bem ordenada,
Coastal Zone
adequando os usos e
Uma zona costeira
segura e pública, Gestão Planning
management ocupações às
Segurança capacidades de carga e
conjugando a Ordenamento
de resiliência dos
utilização e fruição
Formação sistemas naturais
pública e a ocupação
humana com a gestão
preventiva de riscos
Uma zona costeira competitiva, como
Competitividade espaço produtivo gerador de riqueza e de
emprego centrados na valorização
económica dos potenciais marinhos e
marítimos, naturais e culturais
Fonte: ENGIZC- RCM n.º 82/2009, de 8 de setembro

De acordo com a proposta, a compatibilização destes interesses” obriga a que a concretização da VISÃO
atribua um estatuto de centralidade a três dimensões, designadamente:

1. A formação, como dimensão fundamental para a concretização dos novos paradigmas e das
necessidades emergentes para uma gestão integrada da zona costeira;
2. O conhecimento científico e técnico, como dimensão de suporte à decisão e impulsionadora da
adoção de novos paradigmas;
3. A gestão responsável e eficaz, sustentada no conhecimento adequado dos processos e dos seus
impactos, de acordo com o princípio da precaução, na articulação e co-responsabilização
intersectorial e no envolvimento das comunidades locais e dos agentes interessados”.

Esta VISÃO assentou no sistema de princípios definidos nas Bases para a Gestão Integrada das Zonas
Costeiras Nacionais designadamente: (i) sustentabilidade e solidariedade intergeracional; (ii) coesão e
equidade social; (iii) prevenção e precaução; (iv) abordagem sistémica; (v) conhecimento científico e
técnico; (vi) subsidiariedade; (vii) participação; (viii) co-responsabilização; (ix) operacionalidade.

Estes princípios foram posteriormente vertidos no Decreto-Lei n.º 159/2012, de 24 de julho, que regula a
elaboração e a implementação dos POC e estabelece o Regime sancionatório aplicável às infrações praticadas
na orla costeira, no que respeita ao acesso, circulação e permanência indevidos em zonas interditas e
respetiva sinalização.

Tendo em consideração a VISÃO, os princípios e as opções estratégicas que orientam a ENGIZC, foram
definidos um conjunto de objetivos consubstanciados através de 20 medidas (veja-se tabela seguinte).

Elegendo como uma das dimensões fundamentais para a prossecução da Visão e das metas definidas, a
ENGIZC propõe um modelo de governo que tem em conta a valorização do conhecimento de apoio e as

11
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

especificidades do quadro institucional e que deverá ser adaptado às regiões autónomas em função das suas
especificidades.

Nos termos da RCM “a instituição do modelo de governança é uma medida prioritária que tem como
objetivos criar as condições institucionais para uma coordenação efetiva e eficiente da ENGIZC”.

O modelo de governação proposto para a ENGIZC assenta na identificação de um conjunto de plataformas.


Usa-se a terminologia “plataforma” para lhe conferir um conceito de flexibilidade em oposição a um formato
mais institucionalizado. A própria RCM refere a “constituição e animação de plataformas de concertação e
produção de conhecimento que funcionarão, de acordo com um modelo flexível, (…)”.

As três plataformas correspondem a três dimensões onde a ENGIZC tem que ser desenvolvida e onde é
necessário atuar, tendo em conta que a ENGIZC, é uma política transversal a todos os sectores e está longe
de ser uma política pública tradicional, estabilizada ou “linear”, quer na sua dependência política, técnica,
quer no seu âmbito de intervenção.

Do ponto de vista formal, cada plataforma terá uma natureza própria. A própria RCM propõe que o Modelo
de Governança seja adaptado nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Tabela 3.2_Objetivos e medidas da ENGIZC


OBJETIVOS:
Conservar e valorizar os recursos e o património natural, paisagístico e cultural
Antecipar, prevenir e gerir situações de risco e de impactos de natureza ambiental, social e económica
Promover o desenvolvimento sustentável de atividades geradoras de riqueza e que contribuam para a valorização de
recursos específicos da zona costeira
Aprofundar o conhecimento científico sobre os sistemas, os ecossistemas e as paisagens costeiras
Desenvolver a cooperação internacional
Reforçar e promover a articulação institucional e a coordenação de políticas e instrumentos
Desenvolver mecanismos e redes de monitorização e observação
Promover a informação e a participação pública
MEDIDAS:
M_01: Reforçar e promover um quadro normativo específico para a gestão da zona costeira
M_02: Incentivar e efetivar os mecanismos de gestão de utilização da zona costeira
M_03: Clarificar os procedimentos do licenciamento das principais atividades valorizadoras de recursos específicos exercidas na zona costeira
M_04: Completar a constituição de uma rede coerente e integrada de áreas marinhas
M_05: Assegurar a implementação do programa de intervenção prioritária de valorização da zona costeira
M_06: Promover a gestão integrada dos recursos minerais costeiros
M_07: Identificar e caracterizar as áreas de risco e vulneráveis e tipificar mecanismo de salvaguarda
M_08: (Re) Avaliar a necessidade de intervenções “pesadas” de defesa costeira através da aplicação de modelos multicritérios
M_09: Incorporar nos planos de contingência os riscos específicos da zona costeira
M_10: Proceder ao inventário do domínio hídrico e avaliar a regularidade das situações de ocupação do domínio público marítimo
M_11: Integrar no quadro dos instrumentos de gestão territorial a problemática da gestão integrada da zona costeira
M_12: Criar um quadro de referência estratégica para o desenvolvimento de atividades económicas de elevado valor acrescentado dirigidas à
valorização dos recursos marinhos
M_13: Promover a criação de condições favoráveis ao acolhimento e ao desenvolvimento de atividades da náutica de recreio e de turismo
costeiro sustentável
M_14: Promover publicações técnicas sobre as boas práticas para os usos e atividades sustentáveis da zona costeira
M_15: Criar a plataforma de conhecimento de I&D para a zona costeira
M_16: Assegurar uma formação técnica adequada às exigências da GIZC
M_17: Promover o desenvolvimento de mecanismos de cooperação entre estados e regiões em matéria de GIZC
M_018: Desenvolver um programa nacional de monitorização dos sistemas costeiros, das comunidades bióticas e da qualidade ambiental
M_19: Constituir a plataforma de cooperação que envolva instituições públicas e privadas e que seja um mecanismo para a interpretação
integrada da evolução da zona costeira
M_20: Desenvolver um programa de informação e sensibilização sobre a zona costeira

Fonte: ENGIZC- RCM n.º 82/2009, de 8 de Setembro

12
3.2. Estratégia nacional para o mar

Com a publicação da Resolução de Conselho de Ministros n.º 12/2014, de 12 de fevereiro, é publicada a


Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020 [ENM 2013-2020] assente em quatro pilares estratégicos: o
território de referência, a dimensão, a geografa e a identidade nacional.

Assumindo o “mar” como desígnio nacional defende como modelo de desenvolvimento o “crescimento azul”
entendido numa perspetiva intersetorial, baseada no conhecimento e na inovação em todas as atividades e
usos que incidem, direta e indiretamente, sobre o mar, e que promove uma maior eficácia no
aproveitamento dos recursos, num quadro de exploração sustentada e sustentável.

Tomando como princípios orientadores a gestão integrada do espaço marítimo, a precaução na exploração
de recursos e a participação efetiva de todos, a ENM 2013-2020 aposta em cinco grandes objetivos, a saber:

▪ “Recuperar a identidade marítima nacional num quadro moderno, pró-ativo e empreendedor;


▪ Concretizar o potencial económico, geoestratégico e geopolítico mediante a criação de condições
para atrair investimento, nacional e internacional, e a promoção do crescimento, do emprego, da
coesão social e da integridade territorial;
▪ Aumentar, até 2020, a contribuição direta do setor mar para o Produto Interno Bruto nacional em
50%;
▪ Reforçar a capacidade científica e tecnológica nacional, estimulando o desenvolvimento de novas
áreas de ação;
▪ Consagrar Portugal, a nível global, como nação marítima e parte incontornável da Política Marítima
Integrada e da Estratégia Marítima da União Europeia para a Área do Atlântico”.

Nesse sentido, estabelece um conjunto de ações que se encontram estruturadas no Plano Mar Portugal
(PMP). Este plano de ação abrange de forma alargada diversas áreas de intervenção no domínio do mar,
desde a governação e a administração ao aproveitamento e exploração de recursos naturais, passando tanto
pelo incremento e fomento de setores de atividade económica específicos, como pelo desenvolvimento de
ações com vista ao aprofundamento do conhecimento.

A figura seguinte esquematiza a estrutura geral do Plano Mar Portugal – Madeira e as respetivas Áreas
Programáticas.

13
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 3.2_Estrutura geral do Plano Mar Portugal – Madeira e respetivas Áreas Programáticas

3.3. Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território

O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) é o instrumento mais abrangente e


integrador do sistema de gestão territorial, definindo objetivos e opções estratégicas de desenvolvimento
territorial e estabelecendo o modelo de organização do território nacional. O PNPOT constitui-se como o
quadro de referência para os demais programas e planos territoriais e como um instrumento orientador das
estratégias com incidência territorial, aplicando-se a todo o território nacional, no continente e arquipélagos
dos Açores e da Madeira, sem prejuízo das competências próprias das Regiões Autónomas.

A primeira revisão do PNPOT1 teve como objetivo a elaboração de um novo programa de ação para o
horizonte 2030, no contexto de uma estratégia de organização e desenvolvimento territorial de mais longo
prazo suportado por uma visão para o futuro do país, tendo como desígnio o alavancar a coesão interna e a
competitividade externa do País.

O modelo territorial do PNPOT representa a tradução espacial da estratégia de desenvolvimento do país,


correspondendo a um conjunto de sistemas territoriais que irão informar o ordenamento do território.

Na tabela seguinte apresentam-se as opções principais de cada um desses sistemas para a RAM.

1
A revisão do PNPOT foi aprovada pela Lei n.º 99/2019, de 5 de setembro.

14
Figura 3.3_Extratos dos esquemas do modelo territorial do PNPOT
Sistema natural

Destaca-se a relevância da RAM pela presença de áreas protegidas e Rede Natura, assumidas como ativos estratégicos para a
sustentabilidade, atratividade e competitividade do território.
Sistema social

O PNPOT reforça a necessidade de garantir a coesão territorial, qualidade de vida e igualdade de oportunidades no acesso a
serviços públicos e de interesse geral (na saúde, educação, apoio social, justiça, cultura, desporto, entre outros); apesar do
esforço financeiros nas últimas décadas nas redes de equipamentos e serviços, é importante corrigir as carências existentes
mas numa perspetiva de ponderação da despesa e de sustentabilidade económica, tirando partido da “digitalização” e na
complementaridade intermunicipal. A RAM integra as áreas em declínio demográfico, mas a vulnerabilidade social dos seus
aglomerados não se encontra classificada por falta de informação (situação que ocorre também na Região Autónoma dos
Açores).
Sistema económico

15
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Opções estratégicas do modelo são: alargar a base territorial da competitividade através do estímulo à inovação, apostar na
especialização inteligente a partir dos recursos produtivos instalados Em termos de perfil económico, o território da RAM
integra as classes Comércio e Serviços Coletivos e às Empresas (nos centros urbanos), Comércio, Serviços e Turismo (no litoral
sul da ilha), Agroflorestal, Agroalimentar, Comércio, Serviços e Construção (no setor este da ilha da Madeira), Agricultura,
Agroalimentar, Comércio e Serviços (no setor noroeste da ilha da Madeira) e Pesca e Aquicultura (em Machico e no Porto
Santo); a nível dos nós e redes de conhecimento e inovação, a cidade do Funchal assume uma posição de nível 2 (em 3); das
infraestruturas económicas identificadas, nenhuma se localiza na RAM; ao nível das redes e infraestruturas, destaca-se, para
além dos corredores viários e das redes de fibra ótica submarina, as ligações internacionais, os aeroportos internacionais das
duas ilhas, o porto de cruzeiros e o porto principal do Funchal.
Sistema de conetividade

São reforçadas as infraestruturas de transporte já referidas no sistema económico assim como as áreas protegidas e rede
natura pela relevância na conetividade ecológica.
Sistema urbano

A RAM integra um centro urbano regional (Funchal) e diversos outros centros urbanos que correspondem às sedes de
concelho, estruturam a organização do território e garantem uma oferta diversificada de funções urbanas; todos os centros
urbanos referidos exceto Porto Santo e Porto Moniz integram o subsistema territorial “a valorizar” – sistema de suporte de
equidade territorial na prestação de serviços de interesse geral, sendo as ligações entre elas consideradas “níveis de relação
interurbana”;
Vulnerabilidades críticas

A RAM concentra diversos riscos naturais que devem ser considerados nas opções de ordenamento do território por forma a
reduzir as vulnerabilidades e incentivar a adaptação: inundação, movimentos de massa de vertentes e incêndio rural.

16
3.4. Plano de Ordenamento do Território da RAM e Programa Regional
do Ordenamento da RAM

O Plano de Ordenamento do Território da Região Autónoma da Madeira [POTRAM], publicado DLR n.º
12/95/M, de 24 de junho, alterado pelo DLR n.º 9/97/M, de 18 de julho, estabelece a política de ordenamento
do território para a região. Por forma a responder à necessidade de controlar os efeitos do desenvolvimento
económico e social na transformação do território, o POTRAM veio estabelecer orientações relativas ao uso
e ocupação do solo, à defesa e proteção do ambiente e património histórico, à distribuição da população e à
estrutura da rede urbana. Nesta perspetiva, o POTRAM visa:

▪ A prossecução de um crescimento populacional equilibrado, de forma a superar inconvenientes


resultantes do êxodo rural;
▪ A melhoria dos níveis de educação e de formação profissional e a sua adaptação ao mercado de
trabalho;
▪ A organização da rede urbana por forma a assegurar a diminuição das assimetrias;
▪ A valorização dos recursos naturais, com respeito absoluto pela paisagem humanizada, característica
do território;
▪ A salvaguarda do património natural, histórico e cultural, bem como de atividades tradicionais;
▪ O apoio à modernização de setores económicos de base artesanal situados em zonas rurais, visando
o fortalecimento e melhoria da eficiência da base produtiva regional;
▪ A definição de zonas ordenadas de localização industrial, com adequado sistema de incentivos ao
seu desenvolvimento, visando criar uma base industrial de exportação;
▪ A criação de condições inovadoras em matéria de equipamentos e de animação que permitam
diferenciar o produto turístico da Região e aumentar-lhe a competitividade.

A estratégia subjacente aos objetivos acima enumerados consubstancia-se num modelo de ordenamento do
território assente em três componentes fundamentais:

▪ Zonamento do solo, estabelecido em função do uso dominante;


▪ Hierarquização da rede urbana;
▪ Localização das grandes infraestruturas e dos espaços canais.

Este instrumento foi desenvolvido num quadro legal diferente e num contexto socioeconómico bastante
distinto do atual.

Tratando-se de um plano anterior à Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e Urbanismo (Lei
48/98, de 11 de agosto, que veio conferir um cariz essencialmente estratégico aos PROT), foi elaborado
enquanto instrumento programático e normativo, definidor de critérios e opções de uso e ocupação do solo,
tal como preconizava, à data, o Decreto-Lei 176-A/88, de 18 de maio. Neste quadro, o PROTAM foi para os
municípios o primeiro instrumento de gestão territorial a vigorar nos seus territórios, já que os planos
diretores municipais são posteriores.

Passados cerca de duas décadas de vigência do POTRAM, com todo o território coberto por planos diretores
municipais, alguns já de segunda geração, em face de um novo enquadramento legal, a Resolução n.º
1105/2017, de 29 de dezembro, veio determinar a revisão do POTRAM, aprovado pelo Decreto Legislativo
Regional 12/1995/M, e a elaboração do novo PROTRAM — Programa Regional de Ordenamento do Território
da Região Autónoma da Madeira.

De acordo com a referida resolução, a elaboração do PROTRAM prossegue os seguintes objetivos:

17
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

▪ Desenvolver, no âmbito regional, as opções constantes do programa nacional da política de


ordenamento do território;
▪ Traduzir, em termos espaciais, os grandes objetivos de desenvolvimento económico, social e
ambiental à escala regional;
▪ Equacionar as medidas tendentes à atenuação das assimetrias de desenvolvimento regional;
▪ Servir de base à formulação da estratégia regional de ordenamento territorial e de quadro de
referência para a elaboração dos programas e dos planos territoriais;
▪ Estabelecer, a nível regional, as grandes opções de investimento público, com impacte territorial
significativo, as suas prioridades e a respetiva programação, em articulação com as estratégias
definidas para a aplicação dos fundos comunitários e nacionais;
▪ Compatibilizar as diferentes políticas sectoriais com incidência espacial, com realce para o ambiente,
a paisagem, os transportes, as acessibilidades, a agricultura, a economia, o turismo e o património,
entre outros;
▪ Valorizar a paisagem, promovendo a sua proteção, ordenamento e gestão, em conjugação com as
atividades humanas;
▪ Apresentar um planeamento integrado com o espaço marítimo, tendo em conta, a ocupação
humana, os valores ecológicos e as situações de risco identificadas.
▪ Concretizar as opções constantes dos instrumentos de gestão territorial de âmbito regional, no
respeito dos princípios gerais da coesão, da equidade, da competitividade, da sustentabilidade dos
recursos naturais e da qualificação ambiental, urbanística e paisagística do território;
▪ Valorizar a posição geoestratégica da região, na sua articulação com as rotas transatlânticas;
▪ Afirmar a Região como plataforma de internacionalização da economia regional, reforçando os
fatores de inovação de competitividade e de atração de investimento estrangeiro;
▪ Definir orientações para contrariar os fenómenos de urbanização e edificação dispersa, promovendo
simultaneamente o planeamento e a constituição de áreas apropriadas para o desenvolvimento
urbano sustentável;
▪ Salvaguardar e valorizar os recursos patrimoniais, tanto monumentais como naturais;
▪ Potenciar o sistema de proteção e valorização ambiental, que inclui as áreas, valores e subsistemas
fundamentais a integrar na estrutura ecológica regional;
▪ Definir orientações e propor medidas para um adequado ordenamento agrícola e florestal do
território, bem como a salvaguarda e valorização da paisagem;
▪ O desenvolvimento de uma política integrada para o turismo;
▪ Hierarquizar os principais projetos estruturantes do modelo territorial proposto, bem como os que
contribuam para o desenvolvimento dos sectores a valorizar, e definir orientações para a
racionalização e coerência dos investimentos públicos;
▪ Consolidar a rede de transporte e mobilidade;
▪ Dinamizar a produção e o acesso da população às energias renováveis;
▪ Definir mecanismos de monitorização e avaliação da execução das disposições do PROTRAM.

Estando, portanto, o POTRAM numa fase final do seu processo de revisão, com o novo PROTRAM numa fase
bastante adiantada, considera-se importante salientar o caracter estratégico e orientador do novo
instrumento, comparativamente ao seu antecessor. Com efeito, o novo PROTRAM terá um modelo territorial
para a região suportado num conjunto de opções estratégicas e de normas orientadoras que importará
articular com as opções do POCMAD no quadro das disposições sobre a relação entre os programas e os
planos territoriais estabelecidas no Decreto Legislativo Regional n.º 18/2017/M.

18
3.5. Plano de Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo [ZEE
Madeira]

O Plano de Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo [PSOEM] da ZEE da Região Autónoma a Madeira
foi aprovado pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 203-A/2019, de 30 de dezembro, nos termos da
Lei n.º 17/2014, de 10 de abril, que estabelece as bases da política de ordenamento e de gestão do espaço
marítimo nacional (LBOGEM) e do Decreto-Lei n.º 38/2015, de 12 de março, que define entre outros, o
regime de elaboração e aprovação dos instrumentos de ordenamento do espaço marítimo nacional.

Este instrumento foi elaborado tendo em consideração as orientações estratégicas definidas, visão,
princípios orientadores e objetivos, que se sintetizam na tabela seguinte.

Tabela 3.3_Âmbito, visão e princípios orientadores do PSOEM


ÂMBITO DE APLICAÇÃO
O ordenamento das zonas marítimas nacionais num único instrumento de ordenamento.
O ordenamento do mar português no contexto da bacia do atlântico.
O ordenamento do mar português e sua compatibilização transfronteiriça
VISÃO
O Ordenamento do espaço marítimo nacional como instrumento da sustentabilidade ecológica dos oceanos, de
desenvolvimento económico e social, de consolidação jurídica e de afirmação geopolítica de Portugal na bacia do Atlântico.
Ou
O Ordenamento do espaço marítimo nacional como instrumento de desenvolvimento económico, social e ambiental, de
consolidação jurídica e de afirmação geopolítica de Portugal na bacia do Atlântico
PRÍNCIPOS ORIENTADORES:
Princípio da Sustentabilidade ambiental dos oceanos, Princípio da Precaução, Princípio da Subsidiariedade, Princípio da
Coesão Territorial, Princípio da Compatibilização de usos e atividades, Princípio da Compatibilização de políticas e
instrumentos de ordenamento, Princípio da Participação e Simplicidade de perceção e Princípio da Gestão Adaptativa
OBJETIVOS:
▪ Contribuir para o reforço da posição geopolítica e geoestratégica de Portugal na bacia do Atlântico como maior
estado costeiro da EU.
▪ Contribuir para a coesão nacional, reforçando a dimensão arquipelágica de Portugal e o papel do seu mar territorial.
▪ Contribuir, através do ordenamento do espaço marítimo nacional, para ordenamento da bacia do Atlântico.
▪ Contribuir para a valorização do mar na economia nacional, promovendo a exploração sustentável, racional e
eficiente dos recursos marinhos e dos serviços dos ecossistemas, garantindo a salvaguarda do património natural e
cultural do oceano.
▪ Assegurar a manutenção do Bom Estado Ambiental das águas marinhas, prevenindo os riscos da ação humana e
minimizando os efeitos decorrentes de catástrofes naturais e ações climáticas.
▪ Garantir a segurança jurídica e a transparência de procedimentos na atribuição de Títulos de Utilização Privativa de
Espaço Marítimo Nacional.
▪ Assegurar a utilização da informação disponível sobre o espaço marítimo nacional.
▪ Contribuir para o conhecimento do oceano e reforçar a capacidade científica e tecnológica nacional.
Fonte: DGRM – Plano de Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo. 1ª Reunião Plenária da Comissão Consultiva, março 2016 e
RCM n.º 203-A/2019, de 30 de dezembro

Neste contexto, o ordenamento do espaço marítimo nacional é feito através da elaboração de um plano de
situação que dá execução às orientações de desenvolvimento estratégico estabelecidas na Estratégia
Nacional do Mar 2013-2020 e tem os seguintes objetivos:

▪ Promover a exploração económica sustentável, racional e eficiente dos recursos marinhos e dos
serviços dos ecossistemas;
▪ Preservar, proteger e recuperar os valores naturais dos ecossistemas marinhos com vista à
manutenção do bom estado ambiental do meio marinho;
▪ Prevenir e minimizar os riscos decorrentes das catástrofes naturais, de alterações climáticas ou da
ação humana;

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

▪ Garantir a segurança jurídica e transparência dos procedimentos conducentes à atribuição dos


títulos de utilização privativa;
▪ Garantir a minimização de conflitos entre usos e atividades que ocorrem em espaço marítimo
nacional;
▪ Contribuir para a coesão nacional e gestão partilhada do domínio público marítimo entre o
Governo da República e os Governos das Regiões Autónomas;
▪ Contribuir para o conhecimento do oceano e reforçar a capacidade científica e tecnológica
nacional;
▪ Assegurar as interações terra -mar e a coerência entre o ordenamento do espaço marítimo e os
instrumentos de gestão territorial que impendem sobre a zona costeira.

O PSOEM inclui a espacialização de servidões, usos e atividades atuais e potenciais que importará articular
no âmbito do POCMAD, que se apresentam nas figuras seguintes.

Figura 3.4_PSOEM: servidões

Fonte: PSOEM-Madeira

20
Figura 3.5_PSOEM: Usos e atividades atuais

Fonte: PSOEM-Madeira

Figura 3.6_PSOEM: Usos e atividades potenciais

Fonte: PSOEM-Madeira

Da análise destes elementos constata-se a necessidade de articular as propostas do PSOEM com as do


POCMAD, de forma a compatibilizar usos e atividades deste interface terra-mar, quer em termos de
zonamento quer em termos de normas de gestão.

21
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

22
4. CARACTERIZAÇÃO CLIMATOLÓGICA

O impacto do clima em diferentes sectores de atividade económica suporta a relevância da caracterização


climatológica da ilha da Madeira, assumindo particular importância no âmbito da visão estratégica que prima
a sustentabilidade, bem como o planeamento de medidas de mitigação e adaptação num contexto geral de
alterações climáticas.

Neste capítulo, pretende-se assim descrever o clima presente da ilha da Madeira, face à importância que
desempenha na preservação do património natural, biodiversidade e suporte das atividades económicas da
região, tais como o turismo, agricultura, energia e outros [2,3]. Considerando a vulnerabilidade distinta dos
territórios insulares, nomeadamente no que concerne à adaptação dos sistemas naturais a variações
substanciais do clima e, consequentemente, nos diferentes sectores económicos que asseguram a
subsistência das populações locais, é igualmente relevante apresentar a caracterização expectável do clima
futuro, tendo em conta as projeções disponíveis para esta região.

A localização geográfica da ilha da Madeira, principal ilha do arquipélago da Madeira (constituído por ilha da
Madeira, Porto Santo, Ilhas Desertas e Ilhas Selvagens), situa-se no oceano Atlântico, a sudoeste da costa
continental portuguesa. Sendo uma das maiores ilhas da Macaronésia, possui uma área de cerca de 742.4
km2, extensa flora exótica e clima subtropical seco ou temperado mediterrânico. De facto, na costa sul da
ilha da Madeira encontram-se elementos climáticos típicos de climas tropicais, enquanto na costa norte
ocorrem elementos de climas temperados. As temperaturas médias anuais atingem valores geralmente
superiores a 20 °C e os ventos dos quadrantes oeste a noroeste predominam no Inverno, sendo que no Verão
o quadrante predominante é nordeste. A precipitação anual é geralmente mais baixa no sudeste da ilha (~500
mm), contrastando com a maior precipitação que ocorre nas encostas norte (2000 mm).

A orografia é complexa, com vales profundos entre os picos mais altos e falésias. A altitude média é de cerca
de 1372 m, localizando-se o ponto mais alto no Pico Ruivo (1862 m, Figura 4.1). No extremo leste situa-se a
Ponta de São Lourenço, formando um cabo alongado e de relativa baixa elevação que se prolonga até dois
ilhéus próximos e, na costa sul, a oeste do Funchal, situa-se o cabo Girão, uma das falésias mais altas do
mundo (Figura 4.1).

A presença de múltiplos microclimas na ilha Madeira relaciona-se com o relevo complexo, uma vez que as
encostas apresentam frequentemente declives acentuados, originando-se assim alternância entre zonas de
sombra e exposição solar elevada. A topografia com altitudes muito elevadas favorece a ocorrência de
precipitação orográfica, tornando algumas zonas da ilha muito húmidas, o que permite a existência de
recursos hídricos importantes [4].

De acordo com o sistema de classificação climática de Köppen-Geiger, a ilha da Madeira apresenta duas
variedades climáticas principais, Csa (temperado com Verão seco e quente; geralmente observado nas zonas
costeiras da ilha da Madeira) e Csb (temperado com Verão seco e temperado), predominando a última [5].

[2] P. H. B. Sousa, "Recifes artificiais multifuncionais (RAM) : uma proposta para o desenvolvimento socioeconómico do Porto Santo. Dissertação de mestrado. ISCTE-IUL, Lisboa.,"
2014.
[3] IFCN. (2017). Instituto das Florestas e Conservação da Natureza IP-RAM. Link: https://ifcn.madeira.gov.pt/30-biodiversidade.html
[4] M. Valente, Miranda, P., Coelho, M. F., Tomé, A., Azevedo, E., "Capítulo 2: O Clima Observado," in Impactos e Medidas de Adaptação às Alterações Climáticas no Arquipélago
da Madeira. Projecto CLIMAAT_II., ed, 2006, pp. 12-23.
[5] A. Chazarra, A. Mestre, V. Pires, S. Cunha, Á. Silva, J. Marques, F. Carvalho, M. Mendes, J. Neto, L. Mendes, e L. Filipe Nunes, Atlas Climático dos Arquipélagos das Canárias,
da Madeira e dos Açores - Temperatura do Ar e Precipitação (1971-2000), 2011.

23
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 4.1_Topografia da ilha da Madeira [6]

Excetuando as zonas de maior elevação onde se fazem sentir as temperaturas mais baixas, o clima na ilha da
Madeira é, portanto, geralmente ameno em todas as estações do ano, e com forte efeito moderador do mar
que se traduz numa reduzida amplitude térmica. Sistemas depressionários provenientes de latitudes mais
altas ou formados nas proximidades do arquipélago costumam estar na origem de precipitação profusa. É
ainda de destacar que durante o Verão, predominam ventos do quadrante Norte, associados ao ramo Leste
do anticiclone dos Açores [7].

Ao longo deste capítulo, dever-se-á ter em conta que as informações apresentadas são relativas globalmente
à ilha da Madeira mas, quando indisponíveis mas presentes especificamente para o Funchal (capital do
arquipélago da Madeira), serão igualmente apresentadas, com a devida referência e restrição.

4.1. Elementos do clima presente

Para efeitos de caracterização dos elementos do clima atual na ilha da Madeira no presente documento, é
considerada a Normal Climática relativa ao período 1961-1990.

4.1.1 Temperatura do ar

De acordo com as observações na ilha da Madeira, na normal climática 1961-1990, a temperatura média
anual oscilou entre 8 °C nos nas zonas mais altas e 18-19 °C nas zonas costeiras. A zona mais quente da ilha
situa-se na região do Funchal, a qual se localiza na vertente Sul da ilha da Madeira, a jusante dos ventos
dominantes. Nas regiões mais elevadas, registam-se temperaturas médias mínimas e máximas de,

[3] M. Valente, Miranda, P., Coelho, M. F., Tomé, A., Azevedo, E., "Capítulo 2: O Clima Observado," in Impactos e Medidas de Adaptação às Alterações Climáticas no Arquipélago
da Madeira. Projecto CLIMAAT_II., ed, 2006, pp. 12-23.
[6] adaptado de NASA Visible Earth (https://visibleearth.nasa.gov/view.php?id=42795; último acesso em 3 de Agosto de 2019)
[6] Santos, F.D.; Aguiar, R. - Impactos e Medidas de Adaptação às Alterações Climáticas no Arquipélago da Madeira. Projecto CLIMAAT II. Direccção Regional do Ambiente da
Madeira, Funchal, 2006.

24
respetivamente, cerca de 4°C no Inverno (dezembro a fevereiro) e 16°C no Verão (junho a agosto),
contrastando com as zonas costeiras, onde se verificam geralmente temperaturas médias mínimas e
máximas de, respetivamente, 13°C no Inverno e 23°C no Verão [3].

A evolução da média das temperaturas máximas tem particularmente crescido após 1975, registando-se um
aquecimento de +0.51°C/década para a temperatura máxima e cerca de +0.72 °C/década para a temperatura
mínima, o que se traduz numa diminuição da amplitude térmica diária [3]. Mais se destaca que, no período
após 1975, a ilha da Madeira aqueceu mais do que a média no Hemisfério Norte (onde a tendência de
aumento é de +0.25°C/década) [3].

Na figura seguinte, encontra-se ilustrado o ciclo anual da temperatura na normal climática 1961-1990 no
Funchal, representando-se as temperaturas médias mensais máximas (Tmax) e mínimas (Tmin), bem como
as temperaturas máximas e mínimas absolutas (TmaxAbs e TminAbs, respetivamente). A temperatura média
anual é de 18.7 °C, registando as temperaturas mais baixas nos meses de janeiro e fevereiro e a temperatura
mínima absoluta de 6.4 °C (fevereiro) [3, 4]. Por sua vez, a temperatura mais elevada registada foi de 38.5 °C,
em agosto [3].

Figura 4.2_Normal climática mensal da Temperatura do ar para o período de referência 1961-1990

40

30
Temperatura (ºC)

20

10

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Tmax Tmin TmaxAbs TminAbs

(Tmax – Temperatura média mensal máxima; Tmin - Temperatura média mensal mínima; TmaxAbs - temperatura máxima absoluta;
TminAbs - Temperatura mínima absoluta)

Como indicadores climáticos de temperatura, destacam-se igualmente a evolução temporal do número anual
de noites tropicais (i.e. cuja temperatura mínima é superior a 20 °C) e número de dias de verão (i.e. cuja
temperatura máxima é superior a 25 °C) [3].

Até 1975, foi registado um ligeiro decréscimo de -2.9 dias/década no número de noites tropicais Funchal.
Porém, esta tendência foi revertida a partir de 1975, aumentando a uma taxa expressiva de +18.7
dias/década. Concordantemente, o número de dias de Verão no Funchal também diminui a uma taxa de -4.2
dias/década até 1975, invertendo e passando a aumentar a uma taxa de +23.2 dias/década [3].

4.1.2 Precipitação

No contexto anual, a média da precipitação acumulada atinge um máximo nos picos mais elevados da ilha
da Madeira, rondando cerca de 3400 mm, e um mínimo na região do Funchal, com menos de 600 mm. A

25
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

distribuição geográfica da precipitação anual na ilha da Madeira apresenta uma assimetria norte-sul,
verificando-se precipitação mais elevada, à mesma altitude, na costa norte [8].

À escala anual, esta assimetria na distribuição da precipitação acumulada é menos acentuada no Inverno.
Nas zonas mais altas, e durante o Inverno, a precipitação acumulada ocorre ligeiramente acima dos 1200
mm, enquanto nas zonas de menor altitude (por exemplo, Funchal e vale do Machico) atinge cerca de 300
mm. Por sua vez, durante o Verão, a precipitação nas zonas mais elevadas atinge cerca de 150 mm, exceto
no Arieiro, enquanto na costa sul da ilha a precipitação verificada é ligeiramente inferior a 50 mm,
destacando a assimetria na distribuição da precipitação também nesta estação do ano. Esta assimetria no
Verão está associada ao rumo dominante do vento (norte) nesta estação do ano e por a precipitação ser
principalmente orográfica [7].

A tendência climática da precipitação no Funchal, no período de 1901-2000, indica que não parece ocorrer
uma tendência significativa de longo prazo, ao contrário do verificado anteriormente para a temperatura do
ar. Destaca-se, no entanto, a variação inter-decadal de precipitação, em que ocorrem períodos de menor
intensidade de precipitação média e/ou menor variabilidade inter-anual, particularmente no Inverno [3].
Mais se acrescenta que, a oscilação do Atlântico Norte, NAO (North Atlantic Oscillation), que constitui um
importante fator da variabilidade lenta da atmosfera que afecta o clima de Portugal, indica uma correlação
negativa significativa entre o índice da NAO e a precipitação no Funchal (R=-0.65) [3].

Os valores médios da precipitação acumulada anual e sazonal, e respetivos desvios padrões, encontram-se
ilustrados na figura seguinte, para os períodos 1941-1970 e 1971-2000, sendo de especial relevo o ligeiro
aumento verificado na média anual, refletindo o ligeiro aumento em cada estação do ano [3].

Figura 4.3_Média anual e sazonal da precipitação para o Funchal, nos períodos 1941-1970 e 1971-2000, com representação do
respetivo desvio padrão

800

600
Precipitação (mm)

400 1941-1970
1971-2000
200

0
Média Inverno Primavera Verão Outono
Anual

Da distribuição da precipitação por classes, ilustrada na figura seguinte, destaca-se, na estação da Primavera
e no período mais recente em análise (1941-1970), uma maior precipitação acumulada superior a 250, 300 e
350 mm, contrastando com o que ocorreu no período compreendido entre 1941-1970. No Outono, também
ocorrem precipitações acumuladas elevadas (superiores a 400 mm) no período entre 1971-2000, enquanto
em 1941-1970, a precipitação no Outono foi menos expressiva. De referir ainda que no período mais recente
não ocorreu precipitação acumulada entre 350 e 400 mm, também no Outono [3].

[3] M. Valente, Miranda, P., Coelho, M. F., Tomé, A., Azevedo, E., "Capítulo 2: O Clima Observado," in Impactos e Medidas de Adaptação às Alterações Climáticas no Arquipélago
da Madeira. Projecto CLIMAAT_II., ed, 2006, pp. 12-23.
[8] A. Gomes, Avelar, D., Duarte Santos, F., Costa, H. e Garrett, P., Estratégia de Adaptação às Alterações Climáticas da Região Autónoma da Madeira. Secretaria Regional do
Ambiente e Recursos Naturais, 2015.

26
Relativamente ao ciclo anual de precipitação no Funchal, representado na figura seguinte, a precipitação
anual média é de aproximadamente 643 mm podendo, contudo, atingir os 3400 mm nos pontos mais altos
da ilha da Madeira [4]. Na Figura 4.3, ilustra-se adicionalmente o número médio mensal de dias com
precipitação significativa (PP > 1mm) e precipitação elevada (PP>10mm) [3].

No Funchal, os meses menos chuvosos correspondem a julho e agosto, sendo que os meses mais chuvosos
são janeiro (103 mm), Novembro (101 mm) e Dezembro (100 mm). Ainda relativamente à precipitação, o
Funchal apresenta cerca de 61.3 dias com precipitação significativa e cerca de 20,3 dias com precipitação
intensa [3].

Figura 4.4_Classes de precipitação sazonal para a ilha da Madeira, referente aos períodos 1941-1970 e 1971-2000

Inverno
Primavera
0,4
0,5
Frequência

0,3 0,4

Frequência
0,3
0,2 1941-1970
1941-1970
1971-2000 0,2
0,1 1971-2000
0,1
0
0
<100
<200
<300
<400
<500
<600
<700
>700

<100
<150
<200
<250
<300
<350
<400
Verão Outono
0,6 0,6

0,5 0,5
0,4
Frequência

0,4
Frequência

0,3 0,3
1941-1970 1941-1970
0,2 0,2
1971-2000 1971-2000
0,1 0,1

0 0
<100
<150
<200
<250
<300
<350
<400
>400
0
<10
<20
<30
<40
<50
<60
<70

27
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 4.5_Normal climática mensal da Precipitação para o período de referência 1961-1990 (eixo principal) e número de dias
com precipitação significativa (PP > 1mm) e precipitação elevada (PP>10mm)

10
100 9
8
80
Precipitação (mm)

N.º de dias
6
60
5
4
40
3
20 2
1
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Precipitação (mm) PP>1mm PP>10mm

4.1.3 Vento

A representação da velocidade média do vento para o Funchal, ilustrada na Figura 4.6, mostra que se verifica
uma distribuição aceitável pelos 8 octantes (rumos), ainda que haja rumos claramente mais frequentes, tais
como de Nordeste e Sudoeste. Dado que o Funchal se situa na encosta a jusante da orografia da ilha (veja-
se Figura 4.1), e considerando que o escoamento à escala sinóptica é predominantemente proveniente de
Norte, o clima é fortemente influenciado pelo efeito de Foehn, ou seja, o escoamento atmosférico é
condicionado pelos movimentos de recirculação horizontal e constitui um dos principais motivos para a
diversidade de direções de vento representadas na Figura 4.6 [3].

A intensidade do vento no Funchal é menor, quando comparado com o Porto Santo, dado que a complexa
orografia da ilha da Madeira contribui para um escoamento fortemente afetado por efeitos topográficos e
de superfície. As ocorrências de calma (ventos fracos) observadas são da ordem dos 11% [3].

Figura 4.6_Normal climática da velocidade (km/h) e direção do vento (frequência em %), para o período de referência 1961-1990
N
20
16
NW NE
12
8
4
W 0 E

SW SE

Frequência (%) Velocidade (km/h)

28
4.1.4 Insolação, nebulosidade e humidade relativa

A insolação média mensal, representada na figura seguinte, tem uma distribuição anual bi-modal,
apresentando valores máximos nos meses de agosto (240 h) e julho (228 h). Os menores valores de insolação
registados no Funchal são relativos ao mês de dezembro (140 h). Anualmente, o número total de horas de
sol no Funchal perfaz cerca de 2165 h, menos que as 2265 h registadas em Porto Santo, devido aos efeitos
da orografia de maior altitude na ocorrência de nebulosidade na ilha da Madeira [3].

A evolução da insolação diária, nebulosidade e humidade relativa foi analisada por Valente et al. (2006) para
o período compreendido entre 1950 e 1994, para o Funchal. Os autores estimaram um decréscimo geral da
insolação diária mais acentuado nos anos referentes à década de 1960. Relativamente à nebulosidade, a
tendência aponta para uma diminuição lenta e progressiva ao longo do período considerado. Por sua vez, a
humidade relativa no Funchal tem vindo a aumentar muito ligeiramente a partir da década de 1970 [3].

Figura 4.7_Normal climática mensal da insolação para a ilha de Funchal para o período 1961-1990
250

200
Insolação (h)

150

100

50

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

4.2. Elementos do clima futuro

Constituindo um território insular, as especificidades climáticas e hidrogeomorfológicas da ilha da Madeira


conferem-lhe particular vulnerabilidade aos efeitos das alterações climáticas, atendendo particularmente a
projeções que apontam para um aumento da temperatura, diminuição da precipitação, elevação do nível do
mar e menor período de retorno de eventos meteorológicos extremos [7]. Neste contexto, é fundamental
uma abordagem integrada na proposta e execução de diretrizes que permitam a adaptação da região às
alterações climáticas, para reduzir a vulnerabilidade aos impactes das mesmas, garantindo a sustentabilidade
dos setores socioeconómicos e sistemas biofísicos.

As projeções climáticas propostas pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC –
Intergovernmental Panel on Climate Change, http://www.ipcc.ch/), abrangem uma diversidade de cenários
com base nas concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, designados por SRES (Special Report
on Emission Scenarios). Estes cenários contemplam pressupostos demográficos, económicos, tecnológicos e
sociais, formando quatro famílias principais: A1, A2, B1, B2. As concentrações de CO2 projetadas para estes
cenários compreendem-se entre 540 ppm, para o cenário menos gravoso (B1), e 970 ppm para o cenário

29
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

mais gravoso (A1), o que representa aumentos na ordem dos 90-250%, respetivamente, relativamente aos
valores de 1750 [9].

As fontes de incerteza relativas aos cenários climáticos resultam quer se considerem diferentes cenários de
emissão de gases com efeito de estufa, quer devido a diferenças nas formulações dos diferentes modelos de
circulação global utilizados para simular esses mesmos cenários. Além disso, alguns processos
parametrizados são particularmente difíceis de representar e a resolução espacial dos modelos nem sempre
é suficiente para que a orografia, linhas de costa e sistemas meteorológicos, sejam representados com
grande detalhe [8].

Tendo por base os resultados do Projeto CLIMAAT II, em conjunto com a utilização de modelos de circulação
globais acoplados (atmosfera-oceano), como o HadCM3, as projeções resultantes dos cenários do IPCC serão
utilizadas para caracterizar o clima futuro, com base nas referências [7, 8]. No entanto, ressalva-se que os
cenários SRES apresentados no presente relatório foram substituídos por novos cenários designados por RCP
(Representative Concentration Pathways), tendo por base cenários de forçamento radiativo [10]. No âmbito
deste documento, considerar-se-ão os novos cenários RCP4.5 e RCP8.5, que representam um forçamento
radiativo superior a 4.5 e 8.5 Wm-2 em 2100, respetivamente, quando disponíveis na literatura. Assim para
além das projeções dos SRES, as novas projeções estabelecidas considerando estes novos cenários serão
também contempladas. Refere-se que os cenários RCP4.5 e RCP8.5 são semelhantes aos cenários SRES B2 e
SRES B2.

4.2.1 Temperatura do ar

Temperatura média

Considerando os cenários A2 e B2 do IPCC representa-se a distribuição mensal da temperatura média (Figura


4.8), ilustrando com maior detalhe as variações mensais (Figura 4.9), sazonais e anuais (Figura 4.10) da
temperatura entre os cenários de longo prazo (2070-2099) e o período de referência (1970-1999), para a ilha
da Madeira, segundo Gomes et al. (2015) [7].

Pela análise das Figuras 4.8 e 4.9, verifica-se que as projeções apontam para um aumento da temperatura
mais acentuado durante a Primavera, relativamente às restantes estações. De facto, pela análise da (Figura
4.9), é no mês de maio que ocorrem efetivamente as maiores variações de temperatura entre as projeções
e o período de referência (cerca de +2.8 e +1.7 °C, para os cenários A2 e B2, respetivamente).

Em contrapartida, nestes cenários a longo termo, prevê-se que os meses de verão apresentem em média
menores variações, em termos de temperatura, relativamente ao presente, sendo esta observação mais
notória para o cenário B2 (Figuras 4.8 e 4.9). De facto, prevê-se que o mês de agosto seja efetivamente o que
apresente menores variações relativamente ao presente, estimando-se um aumento de temperatura do ar
em cerca de +2.3 °C e +1.5 °C relativamente ao período de referência, para os cenários A2 e B2,
respetivamente (Figura 4.9).

Complementarmente, e considerando os cenários mais recentes, RCP 4.5 e RCP 8.5, estima-se, que para o
período 2040-2060 (meio do século), a subida na temperatura do ar seja de cerca de 0.92 °C e 1.49 °C para
os cenários RCP 4.5 e RCP 8.5, respetivamente. Para o período relativo ao final do século, 2080-2100, estima-
se um aumento de cerca de 1.53 °C a 2.85 °C, respetivamente, para os cenários RCP 4.5 e RCP 8.5 [9]. De

[9] P. M. A. Miranda, M. A. Valente, A. Tomé, E. B. Azevedo, R. Trigo, and R. Aguiar, "Cenários Climáticos," in Impactos e Medidas de Adaptação às Alterações Climáticas no
Arquipélago da Madeira. Projecto CLIMAAT II. Direcção Regional do Ambiente da Madeira, Funchal., D. S. e. R. Aguiar, Ed., ed, 2006.
[10] R. F. D. Tomé, "Mudanças Climáticas nas Regiões Insulares. Tese de Doutoramento. Universidade dos Açores.," 2013.

30
acordo com Tomé (2013), a análise de distribuição por percentis, indica um aumento generalizado no clima
futuro, com maior expressão nos percentis mais elevados.

As tendências preveem assim um aumento a uma taxa de 0.18 e 0.17 °C/década, para o período de 2040-
2060 e 2080-2010, respetivamente, para o cenário RCP4.5. Para o cenário mais gravoso (RCP8.5) a tendência
aponta para um aumento a uma taxa de 0.30 °C/década até meados do século XXI (período de 2040-2060) e
0.32 °C para o final do século (período de 2080-2100). As diferenças entre os cenários são devidas
essencialmente aos pressupostos para a construção de cada cenário, relativamente ao balanço radiativo [9].

Figura 4.8_Distribuição mensal da temperatura média da ilha da Madeira para o período 2070-2099
25

20
Temperatura média (°C)

15

10

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Referência (1970-1999) A2 B2

Figura 4.9_Variação mensal da temperatura do ar para os cenários A2 e B2 entre 2070 e 2099 e o período de referência 1970-
1999, para a ilha da Madeira
3
Variação da Temperatura (⁰C)

2,5

1,5

0,5

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

ΔA2 ΔB2

31
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 4.10_Variação mensal sazonal e anual da temperatura do ar para os cenários A2 e B2 entre 2070 e 2099 e o período de
referência 1970-1999, para a ilha da Madeira
3

Variação da Temperatura (⁰C) 2,5

1,5

0,5

0
Inverno Primavera Verão Outono Anual

ΔA2 ΔB2

Em termos mensais, estima-se que para o período de 2040-2060, para o cenário RCP4.5, a menor subida de
temperatura ocorra em fevereiro (0.20 °C), sendo que os maiores aumentos sejam registados em maio (1.21
°C). Para o mesmo cenário, mas relativamente ao período de 2080-2100, o menor aumento continua a ser
verificado em fevereiro (1.21 °C) e o maior aumento passa a ser verificado em julho (1.84 °C). Considerando
ambos os períodos considerados, 2040-2060 e 2080-2100, os maiores aquecimentos são previstos ocorrer
entre março e julho, indicando um aumento da amplitude do ciclo anual. [9].

Para o cenário mais gravoso, RCP 8.5, no período de 2040-2060, todos os meses verificam aumentos
superiores a 1.0 °C, excetuando fevereiro, destacando-se que os restantes meses apresentam geralmente
aumentos superiores a 1.3 °C, com incrementos maiores em Maio (2.15 °C). O mesmo cenário, mas referente
ao final do século, aponta para que o aquecimento seja mais relevante entre maio e julho (> 3,0 ᵒC) e menos
nos meses de fevereiro, março e outubro (< 2,6 ᵒC).

Assim sendo, as projeções apontam para que a ilha da Madeira aqueça mais durante os meses de Verão e
Outono e menos na Primavera, sendo o aumento de temperatura menos sentido no Inverno no cenário RCP
4.5 [9].

Temperatura máxima

A tendência para aumento da temperatura máxima diária, prevê-se seja 0,1-0,2 °C superior ao referido para
a temperatura média diária. Para o período de 2040-2060, estima-se que o aumento possa variar entre 1,04-
1,69 °C, enquanto para o período de 2080-2100 estima-se um aumento entre 1,63-3,05 °C [9]. O diferencial
relativo ao aumento da temperatura máxima superior é mais acentuado no final do século (2080-2100),
atingindo diferenças entre os 0,33 e 0,52 °C, respetivamente para os cenários RCP 4.5 e RCP 8.5.

Em termos mensais, para o período de 2040-2060, no cenário RCP4.5, as taxas de aquecimento apresentam-
se variáveis entre 0,19 e 1,36 °C. A maior subida da temperatura máxima prevê-se que ocorra em fevereiro
(aumento de 1,12 °C), sendo que nos restantes meses as variações oscilam em torno dos 0,18 °C em abril e
0,93 °C em janeiro.

32
Complementarmente, ainda para o cenário RCP 4.5, mas para o período de 2080-2100, as variações ocorrem
em torno dos 1,30 e 2,09 °C, respetivamente, em fevereiro e março. Considerando o cenário mais gravoso,
RCP 8.5, as estimativas para o período 2040-2060 apontam para aumentos na temperatura máxima entre
0,95 (fevereiro) e 2,38 °C (maio), prevendo-se que os aumentos no Inverno sejam pouco menores que os
esperados nas restantes estações. Para o mesmo cenário, mas para as projeções de final de século (2080-
2100), o menor amento da temperatura máxima prevê-se que continue a ocorrer em fevereiro, sendo que
os maiores aumentos deverão ser na ordem dos 3,36-4,43ºC, respetivamente para julho e junho. Assim, as
projeções apontam para um aumento de temperatura ligeiramente maior no Verão, não obstante as baixas
diferenças entre as estações do ano, indicando que o aumento das temperaturas máximas apresenta uma
distribuição semelhante à escala sazonal [9].

Temperatura mínima

O aumento da temperatura mínima aparenta ser inferior aos verificados para a temperatura média e
temperatura máxima diária, o que se deverá traduzir num aumento da amplitude térmica [9].

Prevê-se que a temperatura mínima diária deverá aumentar entre 0.85-1.41 °C, para o período de 2040-
2060, e entre 1.46-2.74 °C, para 2080-2100. O aumento de temperatura nos percentis mais baixos é menor
do que ocorre para os percentis superiores [9].

Com vista à escala mensal, no cenário RCP 4.5 para o período 2040-2060, as anomalias variam geralmente
entre 0.67 °C (janeiro) e 1.12 °C (Maio), sendo que entre maio e julho e em novembro as anomalias rondam
os 1.0 °C e em fevereiro destaca-se o facto das anomalias serem muito inferior às restantes (0.14 °C). Prevê-
se que no referido cenário, o aumento da temperatura nos meses de Inverno, seja inferior aos encontrados
nas outras estações do ano. Entre os períodos de meio do século (2040-2060) e do fim do século (2080-2100)
estima-se que ocorra um aumento de temperatura de 0.61 °C, ou seja, o aquecimento deverá ser menor
relativamente ao clima presente e futuro mais próximo. Os maiores aumentos de temperatura antevêem-se
para os meses de Verão e Inverno, sem impacto considerável na amplitude do ciclo anual da temperatura
mínima [9].

Para o cenário RCP 8.5, à escala mensal, prevêem-se que as menores anomalias sejam cerca de 0.85-1.08 °C,
respetivamente, para fevereiro e março, sendo que os restantes meses oscilam entre 1.40-1.60 °C e a maior
anomalia ronda os 1.93 °C, em maio [9].

Considerando a escala sazonal, para o período 2080-2100, os aumentos de temperatura deverão ser menores
no Inverno, ainda que os aumentos para as outras estações do ano se estimem ser semelhantes. As anomalias
oscilam em média nos 1.5 °C, destacando-se valores ligeiramente menores nas estações do Outono e Inverno
[9].

4.2.2 Precipitação

Homologamente à temperatura do ar, considerando os cenários A2 e B2 do IPCC, representa-se a distribuição


mensal da precipitação média (Figura 4.11), ilustrando com maior detalhe as variações mensais (Figura 4.12),
sazonais e anuais (Figura 4.13) da precipitação entre os cenários de longo prazo (2070-2099) e o período de
referência (1970-1999), para a ilha da Madeira, segundo Gomes et al. (2015) [7].

33
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

A análise das Figuras 4.11 e 4.12 sugere que as projeções para os cenários a longo prazo apontam para uma
diminuição geral da precipitação ao longo do ano relativamente ao período de referência, com exceção dos
meses de verão, que verificam a tendência oposta, ou seja, um aumento na precipitação média. Desta forma,
as projeções sazonais disponíveis indicam uma maior diminuição da precipitação média entre o Outono e a
Primavera. De facto, estima-se um aumento da precipitação média face à referência em cerca de 30-70% no
Verão (Figura 4.13), sendo que julho e agosto por si só indicam aumentos de 30-90%, para os cenários B2 e
A2, respetivamente (Figura 4.12).

Pela análise da variação da precipitação mensal relativamente ao total anual do período de referência,
estima-se que no mês de janeiro ocorram diminuições relativas entre 8-10% (Figura 4.11). Quando
comparando a média da precipitação mensal entre o cenário projetado e o período de referência para o mês
de janeiro, a variação aponta para 34-40% (Figura 4.13).

Figura 4.11_Variação média mensal da precipitação em relação à precipitação total do período de referência na ilha da Madeira
para o período 2070-2099
2
Variação mensal da precipitação em relação

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
ao total anual observado (%)

-2

-4

-6

-8

-10

-12

ΔA2 ΔB2

Figura 4.12_Variação mensal da precipitação para os cenários A2 e B2 entre 2070 e 2099 e o período de referência 1970-1999
para a ilha da Madeira
120
100
Variação da precipitação (%)

80
60
40
20
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
-20
-40
-60
-80

ΔA2 ΔB2

34
Figura 4.13_Variação sazonal e anual da precipitação para os cenários A2 e B2 entre 2070 e 2099 e o período de referência 1970-
1999 para a ilha da Madeira
80

Variação da precipitação (%) 60

40

20

0
Inverno Primavera Verão Outono Anual
-20

-40

-60

ΔA2 ΔB2

Para os cenários mais recentes, as projeções indicam, à semelhança dos cenários anteriores, uma diminuição
geral da precipitação. A estimativa desta diminuição situa-se nos 19-24%, para os cenários RCP 4.5 e RCP 8.5,
respetivamente, no período de 2040-2060, o que corresponde a taxas de diminuição de 0.46 mm/dia a 0.58
mm/dia. No período mais próximo do final do século, estas projeções agravam-se, apontando para perdas
de 27-32%, para os cenários RCP 4.5 e RCP 8.5, respetivamente, traduzindo-se em taxas de 0.65 mm/dia e
0.76 mm/dia [9].

Verificando os percentis que caracterizam a maior parte dos dias com precipitação (percentis 25-75), existe
uma considerável redução face à simulação de controlo, estimando-se que o número de dias sem chuva
aumente de 28% para 32%, de 2040-2060, aumentando no final do século para 34%, respetivamente para
RCP 4.5 e RCP 8.5 [9].

Em termos sazonais, as anomalias de precipitação no cenário RCP 4.5 são superiores a 0.3 mm/dias na
Primavera e Outono, apresentando valores na ordem dos 0.1 mm/dia nas restantes estações, para o período
de 2040-2060. Para o período de 2080-2100, a diminuição da precipitação prevê-se ser mais elevada durante
o Inverno, compensada pela recuperação nas outras estações. Prevê-se ainda uma recuperação na perda de
precipitação em 2080-2100 face ao período anterior. Para o cenário RCP 8.5 projeta-se uma subida de 2.0
mm/dia, durante o Verão, compensada por diminuições na ordem dos 2.0 mm/dia durante o Outono e
Inverno, para o período de 2040-2060. Para o período de 2080-2100 estima-se que todas as estações
apresentem uma diminuição da precipitação, recuperada, contudo durante o Inverno, comparativamente ao
período anterior [9].

Considerando a escala mensal, no cenário RCP 4.5 para meados do século (período 2040-2060), prevê-se
uma diminuição generalizada da precipitação, sendo mais expressiva em janeiro (2.36 mm/dia) e março (2.16
mm/dia), com uma ligeira recuperação em fevereiro (1.54 mm/dia). Estima-se ainda que, para os restantes
meses, a diminuição da precipitação seja mais considerável nos meses onde tipicamente a precipitação é
mais elevada. Para o mesmo cenário, mas tendo em conta as projeções para final do século (2080-2100),
aponta-se uma diminuição da precipitação em todos os meses, com maior destaque para janeiro (1.92
mm/dia) e março (1.95 mm/dia). À escala sazonal, antecipam-se perdas de precipitação superiores a 0.6
mm/dia no Outono, Primavera e Verão, para o período de 2040-2060. Para o período entre 2080-2100 estas
perdas prevêem-se que sejam mais expressivas, particularmente no Outono e Inverno, com ligeira
recuperação na Primavera [9].

Para o cenário mais gravoso, RCP 8.5, no período 2040-2060, antevêem-se perdas menores de precipitação
para os meses de abril (0.11 mm/dia), junho (0.17 mm/dia) e agosto (0.42 mm/dia), contrastando com os

35
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

restantes meses em que as perdas são mais acentuadas, nomeadamente janeiro (1.51 mm/dia), março (1.57
mm/dia) e setembro (1.08 mm/dia). Para o mesmo cenário, mas para o período 2080-2100, todos os meses
apresentam anomalias negativas, sendo que fevereiro deverá apresentar a menor perda de precipitação
(0.71 mm/dia), enquanto março (2.03 mm/dia) e dezembro (2.24 mm/dia) apresentam perdas mais
substanciais. À escala sazonal, para o período 2040-2060 projetam-se perdas de cerca de 0.5 mm/dia, com
maior expressividade no Outono e Inverno, sendo que para o período relativo ao final do século, as perdas
previstas são ainda maiores [9].

4.2.3 Vento

As estimativas disponíveis na literatura relativamente ao vento em cenários futuros, tem em conta


exclusivamente as projeções mais recentes baseadas nos RCPs, para os períodos entre 2040-2060 e 2080-
2100. Desta forma, as estimativas para o período relativo ao meio do século (2040-2060) apontam para
perdas da intensidade de vento na ordem dos 1-5 %, correspondendo respetivamente a 0.07 e 0.25 m/s. Esta
diminuição, porém, tende a ser ligeiramente superior, quando considerando o período entre 2080-2100,
situando-se entre os 3-5% (ou seja, respetivamente, 0.18 e 0.27 m/s) [9]. Desta forma, e segundo Tomé
(2013), todos os percentis apresentam anomalias negativas, destacando-se a diminuição mais significativa
quando considerando o evento mais extremo (RCP 8.5).

À escala mensal, para o RCP 4.5, as médias mensais de intensidade de vento mantêm-se semelhantes ao
longo do ano, destacando-se apenas uma ligeira diminuição entre setembro e dezembro. Em contraste, no
RCP 8.5, não obstante o padrão ser semelhante, as perdas mais significativas ocorrem em agosto [9].

As anomalias negativas na intensidade o vento são, portanto, transversais a todos os meses do ano sendo
que, num futuro próximo, as principais diferenças estimam-se que ocorram na Primavera e Verão com
principal destaque para o RCP 8.5, onde as perdas de intensidade são mais notórias. Nas restantes estações
do ano, prevê-se que as diferenças entre os dois cenários em consideração não sejam expressivas. Para o
período referente ao final do século, as anomalias apontam para que sejam semelhantes em ambos os
cenários considerados, particularmente para a Primavera e Inverno, sendo que se estima que para o cenário
RCP 8.5 as perdas mais consideráveis ocorram no Verão [9].

4.2.4 Humidade específica

A humidade específica prevê-se apresentar anomalias positivas para ambos os cenários e todos os percentis,
apontando para que sejam menores no cenário RCP 4.5, dado que o forçamento radiativo e aquecimento
previsto para este cenário é menor do que o previsto para o RCP 8.5. Estes aumentos são, porém, menos
expressivos nos percentis mais baixos comparativamente aos percentis mais altos [9].

Ainda para o cenário RCP 4.5 e RCP 8.5, respetivamente, e para um futuro próximo, antevêem-se aumentos
na humidade específica entre 4-7%, que correspondem a 0.35 e 0.57 g/kg, respetivamente. Para o período
referente ao final do século (2080-2100), os aumentos previstos na humidade específica são maiores,
ascendendo a 8-17% (0.66-1.41 g/kg, respetivamente) [9].

A nível mensal, e para ambos os períodos considerados, meados (2040-2060) e fins (2080-2100) do século
XXI, as anomalias esperam-se que sejam maiores nos meses de Verão e Outono e menores na Primavera. Sob
a perspetiva sazonal, estimam-se aumentos significativos no Verão e Outono, com o registo de anomalias

36
mais baixas nas restantes estações, para ambos os cenários, sendo que a diferenciação entre as estações do
ano é mais notória para o período 2080-2100 [9].

4.2.5 Nível médio do mar

O nível médio do mar resulta predominantemente da variabilidade climatológica natural da Terra, podendo
ser ampliado indiretamente pelos efeitos das atividades antropogénicas [1]. De facto, a subida do nível do
mar resulta essencialmente da dilatação das águas superficiais oceânicas (resultado do aumento da sua
temperatura média), do degelo dos glaciares das montanhas e glaciares situados acima do nível do mar nas
regiões polares. Estima-se que durante o século XX, o aumento médio global do nível do médio do mar tenha
sido de 17 cm, o qual é semelhante ao registado para Portugal Continental, no âmbito dos projetos SIAM I e
SIAM II. À escala global, durante as duas últimas décadas, este aumento verificou-se a uma taxa de 3.1 mm
superior à média do século anterior (1.7 mm/ano) [7].

As principais consequências da subida dos níveis do mar nas regiões costeiras e territórios insulares
consistem na perda de território, infraestruturas, qualidade das águas subterrâneas e ecossistemas costeiros,
com consequente impacto nas atividades económicas [11].

De forma geral, os cenários climáticos para a região da Madeira apontam para um aumento do nível do mar
de 35 cm até ao final do presente século, considerando-se, no entanto, razoável um aumento na ordem dos
50 cm, tal como indicado no âmbito do Projeto CLIMAAT II [4]. Contudo, as projeções disponíveis
considerando o cenário RCP 8.5 do IPCC (equivalente ao cenário A1), apontam para um aumento de 75 cm
do nível do médio do mar no Arquipélago da Madeira até 2100 [12].

[11] APA, "Estratégia setorial de adaptação aos impactos das alterações climáticas relacionados com os recursos hídricos," ed, 2013.
[12] R. E. Kopp, R. M. Horton, C. M. Little, J. X. Mitrovica, M. Oppenheimer, D. J. Rasmussen, B. H. Strauss, and C. Tebaldi, "Probabilistic 21st and 22nd century sea-level
projections at a global network of tide-gauge sites," Earth's Future, vol. 2, pp. 383-406, 2014.

37
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

38
5. POPULAÇÃO E CONDIÇÕES DE VIDA

5.1. População

A RAM tinha, em 2019, 254.254 habitantes, representando apenas 2,5% da população residente no país. As
estimativas a 10 anos apontam, para 2028, para uma redução do número de residentes (-6,9%) e um
decréscimo muito ligeiro da posição relativa face ao país (-0,1%). Em termos de evolução entre 2001 e 2019
a população residente na RAM cresceu 2,5%, contrariando a tendência de decréscimo verificada a nível
nacional (-1,0%). No entanto, considerando o período 2011-2019, a tendência de crescimento inverte-se,
tendo-se registado um decréscimo da população total residente de -3,8%, valor que fica acima do decréscimo
verificado em Portugal (-2,3%).

Tabela 5.1_Dinâmica populacional, 2019


RAM PORTUGAL
População Residente (N.º) 254.254 10.295.909
Taxa de variação (2011/2019) (%) -3,8 -2,3
Projeção da População (N.º), 2028 (cenário central) 236.695 10.058.328
Densidade População (N.º/Km2) 317,0 111,5
% de Jovens (<15) na pop. total 13,1 13,6
Taxa de variação (2011/2019) (%) -23,8 -11,2
% de Jovens (15-24 anos) na pop. total 12,4 10,6
Taxa de variação (2011/2019) (%) -4,8 -3,8
% de População 25-64 na pop. total 57,5 53,6
Taxa de variação (2011/2019) (%) -2,1 -5,1
% de idosos (65 ou +) na pop. total 17,0 22,1
Taxa de variação (2011/2019) (%) 13,4 13,6
Fonte: INE - Estimativas Anuais da População Residente; PORDATA

Esta dinâmica de crescimento negativo do total de residentes na RAM reproduz-se para a população jovem,
isto é, entre 2011 e 2019 a taxa de crescimento da população residente com menos de 15 anos foi negativa
(-23,8%), assim como a variação da população residente com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos
(-4,8%). Comparativamente com o território nacional, as quebras de população jovem na região foram mais
acentuadas nos residentes com menos de 15 anos (-23,8% face a -11,2%) e no grupo etário 15-24 anos (-4,8%
face a -3,8%).

Ainda assim, considerando o peso relativo da população mais jovem (<25 anos) superior ao valor médio
nacional (25,5% face a 24,2%), e o contrário relativamente à população idosa (17% face a 22,1%), pode
concluir-se que a RAM apresenta uma estrutura populacional mais jovem, mas com tendência para
envelhecer.

Quanto às famílias na RAM, constata-se que, em 2019, existiam cerca de 94 mil agregados familiares, o que,
face a 2011, representou uma evolução positiva com um crescimento na ordem dos 2%, inferior ao observado
a nível nacional. A dimensão média das famílias era, em 2019, superior à média nacional (2,7 contra 2,5
pessoas por agregado familiar).

39
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Tabela 5.2_Famílias, 2019


RAM PORTUGAL
Total de Agregados domésticos privados (alojamento - milhares) 93,8 4.148,1
Taxa de variação (2011/2019) (%) 1,7 3,7
% de famílias com filhos 36,2 33,8
% de famílias sem filhos 14,8 24,8
% de famílias unipessoais 19,4 22,5
Dimensão média dos agregados domésticos 2,7 2,5
Total de Agregados domésticos unipessoais (alojamento - milhares) 18,2 934,1
% de agregados domésticos unipessoais de indivíduos com 65 ou mais anos 48,9 54,9
Fonte: INE - Inquérito ao Emprego; PORDATA. A partir de 2011 (inclusive), um alojamento equivale a um agregado

Em termos de estrutura das famílias, a mais representativa correspondia, em 2019, aos agregados
constituídos por casais com filhos (36,2%) e as famílias constituídas por uma só pessoa (19,4%). Em termos
de evolução – e comparando com os valores de 2011 –, são precisamente as famílias constituídas por uma
só pessoa que mais cresceram. Dentro deste universo das pessoas que vivem sós, 48,9% eram, em 2019,
pessoas com 65 ou mais anos, valor que fica abaixo da média nacional.

A população residente na ilha da Madeira representa 98% da população residente na Região, sendo os
concelhos mais populosos os localizados na costa sul: Funchal, Santa Cruz e Câmara de Lobos concentram
71% da população residente na ilha. É na orla costeira que se situam maioritariamente as áreas urbanas e
mais densamente povoadas, como é possível observar na figura seguinte.

Figura 5.1_Densidade populacional (hab/km2) por subsecção estatística, em 2011

Fonte: INE – Censos 2011

São as freguesias situadas mais junto à costa as mais densamente povoadas, destacando-se desde logo a
cidade do Funchal e freguesias limítrofes dos municípios de Câmara de Lobos e Santa Cruz. Pelo contrário, as
freguesias mais afastadas da faixa litoral ou situadas na zona noroeste da ilha apresentam valores de
densidade populacional muito baixos (menos de 50 habitantes por km2).

40
De acordo, com dados mais recentes (2019), Funchal e Câmara de Lobos continuam a ser os municípios da
ilha da Madeira mais densamente povoados (1.367 hab/km2 e 646 hab/km2, respetivamente). Em
contraponto, a densidade populacional no Município de Porto Moniz, em 2019, não chegava aos 30 hab/km2.

As dinâmicas populacionais nos municípios que integram a ilha da Madeira não são, de facto, homogéneas
pelo que importa analisar esta desagregação e compreender melhor o perfil e a evolução da população
madeirense.

Figura 5.2_População residente na ilha da Madeira, por município, em 2019

Fonte: INE - Estimativas Anuais da População Residente; PORDATA

No que respeita à evolução da população residente, tendo por referência o período 2001-2019, constata-se
que na Ilha da Madeira se registou uma dinâmica de crescimento positiva (2,3%) muito impulsionada pelo
aumento de população residente no município de Santa Cruz (+45,9%). Nos últimos 8 anos essa tendência
de crescimento inverteu-se e a ilha da Madeira perdeu cerca de 10 mil habitantes, o que correspondeu a
uma taxa de variação de -3,8%, superior à registada a nível nacional (-2,3%). Com exceção do município de
Santa Cruz, em todos os outros municípios se observou decréscimo da população residente.

Figura 5.3_Variação da população residente na Ilha da Madeira, por município, 2011-2019 (%)

Fonte: INE - Estimativas Anuais da População Residente; PORDATA

41
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Os municípios com perdas populacionais mais significativas foram Porto Moniz (-11,4%), Santana (-11%), e
São Vicente (-8%), apresentando uma tendência de decréscimo de forma contínua, de ano para ano, desde
2001.

Associado a esta regressão demográfica, generalizada à maioria dos municípios da Ilha da Madeira está o
crescimento natural negativo e a incapacidade de atração de novos residentes sendo que os municípios do
Funchal, Machico, Ribeira Brava e Santana formam o conjunto de municípios que no período 2011-2019
registaram crescimento natural negativo menos acentuado que o decréscimo populacional, o que significa
que não existiu capacidade de fixar novos residentes que compensassem o saldo natural negativo. Pelo
contrário, os municípios de Calheta, Ponta do Sol, Porto Moniz e Santana formam o grupo onde o crescimento
natural negativo foi mais acentuado que o decréscimo da população residente, o que reflete que existiu
capacidade de atrair novos residentes.

No caso do município de Santa Cruz tanto o crescimento natural como o crescimento populacional foram
positivos, sendo mais acentuado este último o que reflete que existiu capacidade de atrair novos residentes.

Figura 5.4_Atração demográfica e crescimento da população na ilha da Madeira, por município, 2011-2019

Fonte: INE: Estimativas Anuais da População Residente; PORDATA; Saldo Natural e Capacidade de Atração: cálculos próprios

A análise da população residente na ilha da Madeira em 2011 por subsecção estatística, com base nos dados
da BGRI13 do INE, permite uma maior aproximação aos valores da população residente na área de estudo do
POCMAD, considerando a faixa costeira com aproximadamente 2km de largura.

Assim, na área de estudo do POCMAD (3.679 subsecções) residiam, em 2011, cerca de 185.264 habitantes,
o que representava 70,6% do total da população residente e 77,4% do total das freguesias parcial ou
totalmente abrangidas.

O município do Funchal é o que tem maior peso de residentes no total da área de estudo (39,3%), mas é dos
que tem menor proporção de habitantes nas subsecções das freguesias abrangidas (69,2%), isto porque se
trata de uma zona urbana consolidada que se estende para além da faixa dos 2km.

13
Base Geográfica de Referenciação da Informação.

42
Figura 5.5_População residente na ilha da Madeira, por subsecção estatística, 2011

Fonte: INE – Censos, 2011

Também no município de Câmara de Lobos, o terceiro com maior peso de residentes na área de estudo, a
proporção de habitantes nas subsecções no total das freguesias abrangidas é de 69,9%. Por sua vez, o
município de Porto Moniz concentra toda a sua população dentro da área de estudo do POCMAD e no caso
de Ponta do Sol, cerca de 96% da população reside na faixa costeira. Em Santa Cruz e Calheta também mais
de 90% da população reside nas freguesias abrangidas.

Quanto à distribuição da população residente por freguesia, os dados censitários referentes a 2011 revelam
que as freguesias que compõe parcial ou integralmente a área em estudo representam cerca de 91% da
população total residente na ilha da Madeira. Os municípios de Santana, Porto Moniz, Calheta, Machico e
São Vicente registaram um decréscimo populacional na última década intercensitária. Pelo contrário, em
Santa Cruz observou-se o maior acréscimo da população residente.

Tabela 5.3_População residente na área de estudo do POCMAD, 2011


Var. % dos residentes
População residente (2011) % das % dos residentes
2001/11 nas subsecções
freguesias nos nas subsecções no
Subsecções nas freguesias
Freguesias Subsecções municípios total
(%) abrangidas
Calheta 11.521 10.855 -6,3 100,0 94,2 5,9
Câmara de
Lobos 30.354 21.228 1,3 85,1 69,9 11,5
Funchal 105.191 72.765 6,4 94,0 69,2 39,3
Machico 20.211 16.899 -6,3 92,6 83,6 9,1
Ponta do Sol 8.862 8.531 10,6 100,0 96,3 4,6
Porto Moniz 2.711 2.711 -7,4 100,0 100,0 1,5
Ribeira Brava 12.326 10.167 15,5 92,2 82,5 5,5
Santa Cruz 34.620 32.611 68,9 80,5 94,2 17,6
Santana 7.719 5.991 -13,2 100,0 77,6 3,2
São Vicente 5.723 3.506 -6,1 100,0 61,3 1,9
TOTAL 239.238 185.264 10,1 100,0 77,4 100,0
Fonte: INE – Censos, 2001 e 2011

43
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Na ausência de dados populacionais atuais à escala da freguesia, assume-se que ter-se-á mantido a tendência
de concentração populacional nas freguesias mais urbanas registada no último período censitário, atendendo
aos dados conhecidos da dinâmica urbanística. No período 2001-2011 a variação da população residente nas
subsecções abrangidas pela área de estudo do POCMAD foi positiva, registando-se um crescimento de
+10,1%.

Figura 5.6_Dinâmica da população residente na Ilha da Madeira entre 2001 e 2011, por freguesia

Fonte: INE – Censos, 2001 e 2011

Relativamente aos grupos etários, a figura seguinte evidencia uma estrutura etária da população residente
na llha ligeiramente mais jovem do que a do país. Em 2019 a proporção de jovens até aos 24 anos era superior
à proporção de habitantes com 65 ou mais anos (25,6% face a 17,1%).

Figura 5.7_Estrutura etária da população, em 2019 (Nº e %)

Fonte: INE - Estatísticas de Nados-Vivos; Estatísticas de óbitos; PORDATA

Ainda que com uma estrutura etária ligeiramente mais jovem comparativamente com o país, a Ilha da
Madeira, no período 2011-2019 registou uma variação positiva (+13,5%) da população com 65 ou mais anos
e um crescimento negativo da população da faixa etária 0-14 anos (-23,9%) e do grupo 15-24 anos (-4,5%).
Nos escalões etários mais jovens a perda relativa de residentes fica acima da registada no país (-23,9% nos
0-14 contra -11,2% e -4,5% nos 14-24 contra -3,8%).

44
De facto, o decréscimo da população jovem foi muito significativo e comum a todos os concelhos da Ilha,
sendo que apenas se registou crescimento na faixa etária 15-24 anos em três municípios – Santa Cruz
(+12,7%), Ribeira Brava (+9,2%) e Ponta do Sol (+6,8%).

Figura 5.8_Variação da população residente na Ilha da Madeira, segundo os grupos etários, por município, 2011-2019 (%)

Fonte: INE - Estimativas Anuais da População Residente; PORDATA

Contrariamente ao que se verifica para a população jovem (14-25 anos), a dinâmica de crescimento da
população com 65 ou mais anos foi positiva na maioria dos municípios da Ilha. Apenas cinco municípios
perderam população idosa no período entre 2011 e 2019: Ponta do Sol (-8,4%), Porto Moniz (-6,2%), Santana
(-5,7%), Calheta (-5,3%) e São Vicente (-1,2%). Foi nos municípios de Santa Cruz e Machico que a população
com 65 ou mais anos registou maior crescimento, neste período temporal, (24,6% e 20,7%, respetivamente).
Ainda assim, são concelhos onde a proporção de população idosa é inferior à população jovem e onde a
população em idade ativa assume valores relativos superiores à média regional (60,4% em Santa Cruz e 58,4%
em Machico, face a 57,4% na Ilha da Madeira).

Um cenário de envelhecimento da população é, assim, mais evidente em alguns municípios como, Porto
Moniz, Santana e São Vicente, marcados por perdas significativas de população jovem, entre 2011 e 2019, e
por um peso relativo da população com 65 ou mais anos superior à média da Ilha. Em 2019, o número de
idosos por cada 100 jovens com menos de 15 anos era superior a 200 nestes três municípios.

Uma leitura por freguesia, nomeadamente das freguesias abrangidas pela área de estudo, da proporção da
população residente por grupo etário em 2011 revela que o grupo mais representativo é o dos ativos,
também porque tem um intervalo maior (25-64 anos), seguido do grupo das crianças e jovens (<25 anos) que
tem um peso superior ao grupo dos residentes com 65 ou mais anos e que fica acima da média nacional
(28,8% face a 25,7%).

No que se refere à análise do nível de educação da população potencialmente ativa (25-64 anos) constata-
se que ainda são muitos os desafios que se colocam a Portugal neste domínio. Apesar dos progressos
alcançados nos últimos anos, o país ainda se debate com um défice ao nível das qualificações da população,
nomeadamente a população adulta, com repercussões várias e diversificadas, nomeadamente ao nível da
produtividade, ao nível do emprego/ desemprego, do rendimento das famílias, do exercício da cidadania e
da exclusão social.

De facto, e como é possível observar no gráfico seguinte, cerca de 48% da população portuguesa com idades
compreendidas entre os 25 e os 64 anos tinha, em 2019, um nível baixo de educação. A RAM segue a

45
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

tendência verificada para o país, evidenciando a relevância do nível mais baixo de educação – inferior ao
ensino secundário – (56,1%) e a escassez de população com níveis de qualificação mais elevados – valores
estes, que se encontram manifestamente desfasados da realidade da União Europeia, em que a maioria da
população do escalão etário 25-64 anos possui um nível de educação médio ou superior.

Figura 5.9_Nível de educação da população com idade entre os 25 e os 64 anos, em 2019 (%)

Fonte: Eurostat, LFS, Regional Statistics by NUTS2. ISCED 0-2 – Sem nível de ensino, ensino primário e inferior ao ensino secundário;
ISCED 3-4 – Ensino secundário e ensino pós-secundário; ISCED 5-8 – Ensino superior

Alargando a análise ao total da população com mais de 15 anos constata-se a debilidade da estrutura de
qualificações escolares da RAM. Mais de metade da população ou não tem nível de escolaridade ou tem no
máximo o 3.º ciclo do ensino básico (62,3%), valor que fica acima do observado a nível nacional (57,7%).

Figura 5.10_Proporção da população residente com mais de 15 anos, por nível de escolaridade completo, 2019 (%)

Fonte: INE - Inquérito ao Emprego, PORDATA

Uma análise ao nível do concelho que permita revelar assimetrias relevantes apenas é possível com dados
censitários referentes a 2011. Com piores desempenhos ao nível da escolarização da população destacavam-
se, em 2011, os concelhos de Porto Moniz onde 61% da população com mais de 15 anos ou não tinha nível
de escolaridade ou tinha no máximo o 1.º ciclo do ensino básico, Santana e São Vicente com valores acima
da média regional para a população sem escolaridade.

46
Figura 5.11_Distribuição da população residente na ilha com mais de 15 anos, por nível de escolaridade completo, 2011 (%)

Fonte: INE – Censos 2011

Por outro lado, no caso dos municípios do Funchal e Santa Cruz o peso relativo da população com 15 e mais
anos que possui o ensino secundário ou superior está claramente acima da média regional e também da
média nacional (33% para o Funchal e 33,1% para Santa Cruz face a 26,9% observados para a Ilha e 30,5%
para Portugal).

5.2. Parque edificado e habitação

Segundo a informação do Censo 2011, existiam na Ilha da Madeira 88.238 edifícios clássicos, ou seja, 96% do
total da Região, onde os municípios do Funchal, Câmara de Lobos e Santa Cruz representam 57% (52.013
edifícios).

Figura 5.12_Época de construção dos edifícios, 2011


100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Calheta Câmara Funchal Machico Ponta do Porto Ribeira Santa Santana São
de Lobos Sol Moniz Brava Cruz Vicente

< 1919 1919 a 1945 1946 a 1970 1971 a 1990 1991 a 2000 2001 a 2011

Fonte: INE – Censos 2011

47
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

De acordo os dados dos Censos 2011 relativamente à idade do parque edificado da ilha da Madeira, conclui-
se que cerca de 16% dos edifícios foram construídos na década de 1980. Comparando os municípios,
constata-se que Santa Cruz, Calheta, São Vicente e Porto Moniz apresentam mais de 21% dos edifícios
construídos na década de 2001-2011 e que cerca de 72% dos edifícios localizados no Funchal são anteriores
à década de 1990.

Comparativamente a 2001, registou-se uma dinâmica positiva em toda a ilha (+21,2%), com maior relevância
nos municípios de Santa Cruz (+34,2%) e São Vicente (31,8%), seguidos de Porto Moniz e Machico.

Tabela 5.4_Evolução do nº de edifícios e alojamentos na ilha da Madeira, por município (2001-2011)


Edifícios Alojamentos
2001 2011 Variação (%) 2001 2011 Variação (%)

Ilha da Madeira 72.806 88.238 21,2 92.821 124.636 34,3


Calheta 6.176 6.928 12,2 6.411 7.231 12,8
Câmara de Lobos 8.745 10.319 18,0 10.178 13.346 31,1
Funchal 24.956 29.244 17,2 39.056 51.893 32,9
Machico 6.637 8.510 28,2 7.447 9.851 32,3
Ponta do Sol 3.596 4.311 19,9 3.736 4.679 25,2
Porto Moniz 1.415 1.823 28,8 1.435 1.949 35,8
Ribeira Brava 5.127 6.093 18,8 5.452 6.809 24,9
Santa Cruz 9.279 12.450 34,2 12.040 20.086 66,8
Santana 3.938 4.689 19,1 4.048 4.847 19,7
São Vicente 2.937 3.871 31,8 3.018 3.945 30,7
Fonte: INE - Censos 2001-2011

A mesma tendência de crescimento foi observada no que respeita ao número de alojamentos, sendo o
aumento bastante superior ao número de edifícios (na ordem dos 34,3%), levando a concluir que o número
de edifícios de habitação coletiva registou um acréscimo significativo. Destaca-se novamente Santa Cruz com
o aumento mais expressivo da ilha (aproximadamente +67% dos alojamentos face a 2001), seguido de Porto
Moniz (+36%) e ainda Funchal – que registou um acréscimo de cerca de 11 mil alojamentos –, Machico e
Câmara de Lobos.

Figura 5.13_Taxa de crescimento do número de edifícios na ilha da Madeira entre 2001-2011, por freguesia

Fonte: INE – BGRI 2001/2011

48
Ao nível da freguesia, constata-se que o crescimento do parque edificado é mais acentuado nas freguesias
da faixa litoral quer dos concelhos de Santa Cruz e Machico, quer a norte da ilha da Madeira, quer no setor
sudoeste, destacando-se as freguesias de Caniço, Água de Pena, Santo António da Serra, Ponta Delgada e
Achadas da Cruz, mas também a freguesia de Curral das Freiras, em que nenhuma corresponde à sede de
concelho.

Figura 5.14_Taxa de crescimento do número de edifícios na ilha da Madeira entre 2001-2011, por freguesia

Fonte: INE – BGRI 2001/2011

De acordo com a informação estatística mais recente à escala do lugar (BGRI, 2011) existiam em 2011 61.152
edifícios clássicos na área de estudo do POCMAD, dos quais cerca de 80% eram edifícios isolados com uma
volumetria até 2 pisos - o que demonstra o caráter pouco urbano de grande parte dos aglomerados
abrangidos – e quase 96% apresentam uma utilização exclusivamente residencial, com 1 ou 2 alojamentos.

Segundo os dados do Anuário Estatístico da RAM de 2018, do total de 333 edifícios licenciados pelas câmaras
municipais em 2018, na ilha da Madeira, 280 foram para habitação familiar, dos quais 65% corresponderam
a construções novas.

Figura 5.15_Evolução do número de edifícios de habitação familiar clássica, na Ilha da Madeira (2001-2011)
100 000
90 000
80 000
70 000
60 000
50 000
40 000
30 000
20 000
10 000
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Fonte: DREM – Estimativas do parque habitacional

Com efeito, a ilha da Madeira viu aumentar o seu parque habitacional em cerca de 19% entre 2001 e 2011,
destacando-se os concelhos de Santa Cruz, São Vicente, Porto Moniz e Machico com acréscimos superiores

49
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

a 25%. Na década seguinte, entre 2011 e 2019, segundo os dados da DREM, verifica-se um crescimento de
apenas 1,2% na Ilha, destacando-se a Calheta e Ponta do Sol com um aumento de 3,1% e 2.1%,
respetivamente.

Figura 5.16_Distribuição por concelho do número de alojamentos na ilha da Madeira, 2019

São Vicente
Santana 3% Calheta
4% 6%
Câmara de Lobos
Santa Cruz 11%
16%

Ribeira Brava
5%
Porto Moniz Funchal
1% 42%
Ponta do Sol
4%
Machico
8%

Fonte: DREM – Estimativas do parque habitacional

Em termos de ocupação, recorrendo novamente aos dados dos Censos 2011, a maioria dos alojamentos
clássicos de residência habitual era ocupada pelo proprietário ou coproprietário (78%). A proporção de
alojamentos arrendados ou subarrendados situava-se nos 15,5%. Contudo, estes dados não abrangem
alojamentos que não sejam de residência habitual pelo que abrangem apenas uma parte dos alojamentos.

Em 2011, o número total de alojamentos (125.146) era claramente superior ao número de famílias (90.273)
resultando num excedente de alojamentos da ordem dos 28%, destacando-se aqui também a relevância do
número de alojamentos vagos, que na Ilha rondava os 13,5%. Observando a figura seguinte, constata-se que
os municípios da ponta oeste da ilha concentram um maior número de fogos vagos em relação ao total de
alojamentos – Calheta com quase 18% e Porto Moniz com aproximadamente 16,5%.

Figura 5.17_Proporção de alojamentos vagos na totalidade dos alojamentos na Ilha da Madeira, por município, 2011
20,0%
18,0%
16,0%
14,0%
12,0%
10,0%
8,0%
6,0%
4,0%
2,0%
0,0%
Calheta Câmara Funchal Machico Ponta do Porto Ribeira Santa Santana São
de Lobos Sol Moniz Brava Cruz Vicente
Fonte: INE - Censos 2011

50
Em 2011, na ilha da Madeira, registavam-se um total de 16.854 fogos vagos. Observando a figura seguinte,
com a distribuição pela área de estudo, verifica-se uma maior incidência nas subsecções estatísticas do
município do Funchal, Câmara de Lobos, Ribeira Brava e Calheta, sendo que as freguesias de Seixal, São
Vicente, Boa Ventura, São Jorge e Machico também registam um número elevado de alojamentos vagos,
embora em termos de proporção não sejam tão relevantes atendendo ao total de alojamentos.

Figura 5.18_Distribuição dos alojamentos vagos na área de estudo, por subsecção estatística, em 2011

Fonte: INE – BGRI 2011.

Os fogos licenciados pelas câmaras municipais em 2018, na ilha da Madeira, correspondem maioritariamente
à tipologia T3 (43% dos alojamentos), segundo os dados do Anuário Estatístico da RAM 2018.

Figura 5.19_Tipologia dos fogos licenciados pelas câmaras municipais em 2018

T4 ou mais, 6%

T0 ou T1,
12%

T3, 48% T2, 34%

Fonte: Anuário Estatístico da RAM, 2018

Quanto ao nível de infraestruturação dos alojamentos, os dados censitários apontavam, em 2011, para um
nível de cobertura da ordem dos 99,6% no abastecimento de águas e esgotos, o que também se verificou,
em geral, na Região.

Finalmente, de acordo com os últimos dados divulgados no Anuário Estatístico regional sobre a habitação
social (referentes a dezembro de 2015) existiam na ilha da Madeira 1.623 edifícios de habitação social que
integravam 5.444 fogos, representando 6% do total de alojamentos em 2015. A maior parte dos fogos de
habitação social concentram-se no município do Funchal (cerca de 63% destes fogos na ilha da Madeira),

51
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

seguido de Câmara de Lobos (16,3%) e Santa Cruz (10,9%) que continuam a concentrar as dinâmicas de
construção da Região.

52
6. BASE ECONÓMICA

6.1. Atividade económica, qualificações da população e emprego

Em 2019 a taxa de atividade da Região Autónoma da Madeira ascendia aos 63,3%, superior à observada para
o país em 4 pontos percentuais. Já a taxa de atividade jovem (15-24 anos) ficou abaixo da registada a nível
nacional (29,1% face a 34,3%). Em termos de variação relativamente a 2011 verifica-se um acréscimo da taxa
de atividade total (2,6%) e uma diminuição significativa da taxa de atividade jovem (15-24 anos) que, entre
2011 e 2017, registou um decréscimo de -16,9%, uma quebra mais acentuada do que a observada para o país
que se situou nos -10%.

Tabela 6.1_Taxa de atividade e taxa de emprego na RAM, em 2019 (%) e taxa de variação 2011-2019 (%)
RAM PORTUGAL
Taxa de atividade total (%) 63,3 59,3
Taxa de variação (2011/2019) (%) 2,6 -2,0
Taxa de atividade jovem (15-24) (%) 29,1 34,3
Taxa de variação (2011/2019) (%) -16,9 -10,2
Taxa de atividade feminina (%) 58,6 54,8
Taxa de variação (2011/2019) (%) 4,8 0,4
Taxa de emprego total (%) 58,9 55,4
Taxa de variação (2011/2019) (%) 10,5 4,9
Taxa de empego jovem (15-24) (%) 21,7 28,0
Taxa de variação (2011/2019) (%) 2,4 5,3
Taxa de empego feminina (%) 54,4 50,9
Taxa de variação (2011/2019) (%) 10,6 7,2
Fontes de Dados: INE – Estimativas Anuais da População Residente, INE - Inquérito ao Emprego, PORDATA
Nota: Quebra série 2011: Alterações metodológicas significativas no que respeita ao modo de recolha da informação associado à
introdução do modo telefónico, da consequente alteração do questionário e da adoção de novas tecnologias no processo de
desenvolvimento e supervisão do trabalho de campo.

Relativamente à taxa de emprego a tendência é semelhante, mais elevada na Região do que a nível nacional
(58,9% face a 55,4%) e a taxa de emprego feminina (54,4% face a 50,9%) situando-se a taxa de emprego
jovem (15-24 anos) abaixo da média nacional (21,7% e 28% respetivamente). Comparando os anos de 2011
e 2019, é possível percecionar, uma vez mais, uma semelhança entre a RAM e o país, no que respeita à
evolução da taxa de emprego: o aumento pouco acentuado da taxa de emprego jovem e, o crescimento mais
acentuado da taxa de emprego total.

A repartição do emprego por nível de educação na RAM revela um mercado de emprego dominado por uma
de mão-de-obra pouco qualificada, sendo que, em 2019, esta ascendia às 68 mil pessoas com um nível baixo
de qualificação, o que representava cerca de 53% do emprego total.

A análise da evolução do emprego por níveis de escolaridade, desde 2009 a 2019, na RAM, aponta para uma
progressão na qualificação da mão-de-obra e a respetiva absorção por parte do mercado de trabalho dos
mais qualificados, em detrimento dos menos qualificados. Efetivamente, constata-se uma diminuição
significativa do emprego dos que possuem menores níveis de escolaridade, isto é, inferior ao ensino
secundário (ISCED 0-2), a par de um aumento, ainda que menos significativo, da empregabilidade da

53
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

população que detém um nível de escolaridade equivalente ao secundário (ISCED 3-4) ou superior (ISCED 5-
8).
Figura 6.1_Evolução do emprego (15+) por nível de educação na Região Autónoma da Madeira 2009 - 2019 (milhares)

Fonte: Eurostat, LFS, Regional Statistics by NUTS2. ISCED 0-2 – Sem nível de ensino, ensino primário e inferior ao ensino secundário;
ISCED 3-4 – Ensino secundário e ensino pós-secundário; ISCED 5-8 – Ensino superior

Quanto à repartição setorial do emprego na RAM, constata-se um predomínio do setor dos serviços que, face
ao ano anterior, cresceu em termos absolutos mas perdeu em termos de peso relativo no total do emprego
na Região. O setor secundário foi o que mais cresceu face a 2018 em número de trabalhadores (+8,1%).

Comparativamente com a realidade nacional, o setor dos serviços (impulsionado sobretudo pelo turismo e
atividades associadas) e da agricultura (com destaque para as plantações de batata, banana, maracujá, cana
de açúcar, vinha, entre outros) têm um peso relativo superior na RAM, ao passo que o emprego no setor
secundário é inferior.
Figura 6.2_População empregada por setor de atividade económica na RAM, em 2019 (%)

Fonte: INE, Inquérito ao emprego. Valores calibrados tendo por referência as estimativas da população calculadas a partir dos
resultados definitivos dos Censos 2011

No que diz respeito à taxa de desemprego na RAM, em 2019, esta taxa cifrou-se nos 7,1%, ligeiramente acima
da observada para o território nacional (6,5%). Comparativamente com 2011 regista-se uma evolução
positiva deste indicador, com taxas de variação de -47,4%.

Durante o ano de 2019 estiveram inscritos nos Centros de Emprego da RAM uma média de 15.545
desempregados, dos quais cerca de 11,1% tinham menos de 25 anos e 51,9% eram desempregados de longa
duração (inscritos há 1 ano ou mais).

A análise das assimetrias a nível concelhio só é possível recorrendo aos dados censitários referentes a 2011.
No que se refere às taxas de atividade e emprego para a população com 15 e mais anos destaca-se o

54
município de Santa Cruz com as taxas mais elevadas – acima dos 65% no que se refere à taxa de atividade e
acima dos 55% no que se refere à taxa de emprego –, e superiores à média regional. Em sentido oposto os
municípios da Calheta e São Vicente detinham as taxas de atividade e emprego mais baixas da Região.

Com taxas de atividade e de emprego jovem (15-24 anos) superiores à média regional e relativamente
distanciadas, tínhamos em 2011, os municípios de Câmara de Lobos (40,6% de taxa de atividade e 26,6% de
taxa de emprego) e Ponta do Sol (38,4% de taxa de atividade e 25% de taxa de emprego).

Tabela 6.2_Taxa de atividade, de emprego e de desemprego na RAM, por concelho 2011 (%)

População com 15 e mais anos Jovens (15-24 anos)


Taxa de Taxa de Taxa de Taxa de Taxa de Taxa de
atividade Emprego desemprego atividade Emprego desemprego
Ilha da Madeira 56,9 48,6 14,6 34,0 22,1 35,0
Calheta [R.A.M.] 45,3 39,8 12,3 28,6 20,4 28,7
Câmara de Lobos 57,6 47,2 18,1 40,6 26,6 34,5
Funchal 57,7 49,5 14,2 31,9 20,0 37,2
Machico 53,0 43,9 17,3 32,8 21,5 34,4
Ponta do Sol 52,1 44,4 14,8 38,4 25,0 34,8
Porto Moniz 48,0 42,9 10,7 31,2 24,4 21,7
Ribeira Brava 51,5 44,9 12,9 31,5 22,1 29,8
Santa Cruz 66,1 57,5 13,0 34,9 22,5 35,4
Santana 47,3 40,3 14,8 29,7 19,5 34,3
São Vicente 43,7 38,6 11,7 32,2 23,9 25,7
Fontes de Dados: INE - XII, XIV e XV Recenseamentos Gerais da População, PORDATA

No que diz respeito à taxa de desemprego, o município de Câmara de Lobos também se destaca por, em
2011, ter registado a taxa de desemprego mais elevada da Região para a população total (18,1%). Com uma
taxa de desemprego jovem relativamente distanciada da média regional, pela negativa, destaca-se, o
município do Funchal (37,2%). No contexto da Ilha da Madeira o concelho de Porto Moniz foi o que em 2011
registou as taxas de desemprego, total e jovem, mais baixas (10,7% e 21,7%, respetivamente).

Aproximando a escala de análise à área de estudo do POCMAD, com base nas subsecções estatísticas,
verifica-se que é na área abrangida pelos municípios de Câmara de Lobos e Santana onde se registaram taxas
de desemprego mais elevadas.

No que se refere à população empregada, em 2011, existiam 106.443 residentes empregados na ilha da
Madeira, sendo que cerca de 72% residia na área de estudo do POCMAD, ou seja, 76.561 indivíduos.

A grande maioria da população empregada da ilha da Madeira pertence ao setor terciário, representando,
em 2011, cerca 80%, ficando acima da média nacional. Funchal e Santa Cruz são os municípios com maior
peso relativo da população empregada neste setor (86,5% e 84%, respetivamente) e onde o setor primário é
praticamente irrelevante (0,8% e 2,2%, respetivamente).

55
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 6.3_População empregada por setor de atividade por município, 2011

Fonte: INE – Censos 2011

A população empregada no setor primário na Ilha da Madeira tinha um peso relativo de 3,4%, valor que fica
ligeiramente acima da média nacional (3,1%). A importância deste setor é mais relevante nos municípios de
Porto Moniz (20% da população empregada) e Santana (15,2%). Como é possível observar na figura seguinte,
grande parte da população residente na área de estudo empregada no sector primário situa-se na zona norte
da Ilha.

Figura 6.4_População empregada por setor primário na zona de intervenção, 2011

Fonte: INE, Censos 2011

Quanto ao setor industrial, este representava cerca de 17% da população empregada da Ilha da Madeira,
valor que fica abaixo da média nacional (26,5%). Este setor é mais expressivo nos municípios de Ribeira Brava
e Calheta, onde cerca de 27% e 25%, respetivamente, da população está empregada no setor secundário. É
nas freguesias de Arco da Calheta, Quinta Grande, Caniçal e Campanário que se registam as maiores
percentagens de empregados no setor secundário superiores a 30% e consequentemente acima da média
da área de intervenção (16%).

56
Figura 6.5_População empregada por setor secundário na zona de intervenção, 2011

Fonte: INE, Censos 2011

A proporção de população empregada no setor terciário na área de estudo chega aos 81%, ultrapassando
claramente a média nacional (70,5%), com destaque para a concentração na área que integra os municípios
da costa sul da ilha, nomeadamente nas freguesias urbanas do Funchal.

Figura 6.6_População empregada por setor terciário na zona de intervenção, 2011

Fonte: INE, Censos 2011

Relativamente à estrutura empresarial, em 2018 existiam 27.396 empresas não financeiras na ilha da
Madeira, o que representava 2,1% do total do território nacional. No período 2011-2018 verifica-se um
acréscimo do número de empresas não financeiras na Ilha de 34,4% o que correspondeu a uma taxa de
crescimento média anual de +4,4%.

A repartição das empresas não financeiras por escalão de pessoal ao serviço revela uma clara predominância
das microempresas com menos de 10 trabalhadores, que representam 96,3% do total. Das 17 empresas de
maior dimensão, que empregam mais de 250 trabalhadores, localizadas na ilha da Madeira, 15 encontram-
se no município do Funchal.

57
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 6.7_Evolução do número de empresas não financeiras e pessoal ao serviço na Ilha da Madeira 2011-2018 (%)

Fontes de Dados: INE - Sistema de Contas Integradas das Empresas, PORDATA

A análise por município revela que cerca de metade das empresas não financeiras da ilha da Madeira se
localizam no município do Funchal, seguindo-se os municípios de Santa Cruz (13%) e Câmara de Lobos
(10,4%). Os municípios com menor concentração de empresas são os que estão localizados na parte norte
da ilha: Porto Moniz (1,2%), Santana (2,3%) e São Vicente (2,5%).

Figura 6.8_Empresas não financeiras na Ilha da Madeira, por município, 2018 (n.º e peso de cada município no total da Ilha)

Fontes de Dados: INE - Sistema de Contas Integradas das Empresas, PORDATA

Em termos de variação entre 2011 e 2018 do número de empresas não financeiras, por município, destacam-
se pelo significativo crescimento registado, os municípios da Calheta, Ponta do Sol e Porto Moniz que neste
período viram o número destas empresas mais do que duplicar, passando de 622 para 1.532, de 538 para
1.408 e de 154 para 319, respetivamente.

O emprego gerado pelas empresas não financeiras na Ilha da Madeira ascendia, em 2018, às 73.334 pessoas
ao serviço, o que face a 2011 correspondeu a um aumento de 8%. Os municípios onde se registou maior
crescimento do número de pessoas ao serviço nas empresas não financeiras, no período temporal em análise,
foram Ponta do Sol (+57,8%) e Porto Moniz (+57,9%), que é o município da Ilha com menor volume de
emprego (603 pessoas ao serviço que representam 0,8% do total da Ilha).

Relativamente à distribuição do número de empresas não financeiras por setor de atividade económica na
ilha da Madeira, verifica-se que, em 2018, os setores mais representativos eram o setor da “Agricultura
produção animal, caça, floresta e pesca” (17,6%), o setor das “Atividades administrativas e dos serviços de
apoio” (16%), o setor do “Alojamento, restauração e similares” (13,3%) e o setor do “Comércio por grosso e
a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos” (13%) que juntos representavam cerca de 60% do

58
total de empresas não financeiras da Ilha. Já os setores de atividade económica com menos expressão no
total de empresas não financeiras (menos de 2%) eram: “Indústrias extrativas” (0,1%), “Captação, tratamento
e distribuição de água; saneamento, gestão de resíduos e despoluição” (0,1%), “Eletricidade, gás, vapor, água
quente e fria e ar frio” (0,2%) e “Atividade de Informação e comunicação” (1,2%).

Figura 6.9_Empresas não financeiras em Portugal e na ilha da Madeira por setores de atividade, 2018

Fontes de Dados: INE - Sistema de Contas Integradas das Empresas, PORDATA

Comparativamente com o país a concentração de empresas do setor da “agricultura, produção animal, caça,
floresta e pesca” é mais elevada (17,6% face a 10,4%), assim como do setor do “alojamento, restauração e
similares (13,3% face a 8,9%).

Os setores de atividade económica que mais contribuíram para o acréscimo do número de empresas não
financeiras na ilha da Madeira no período 2011-2018 foram a “Agricultura, produção animal, caça, floresta e
pesca” que registou um crescimento exponencial passando de 426 empresas em 2011 para 4.808 empresas
em 2018, e o “Alojamento, restauração e similares”, cujo crescimento foi na ordem dos 71%.

A estrutura do emprego por atividade económica está alinhada com a estrutura setorial das empresas não
financeiras, sendo que, em 2018, os setores qua mais empregavam eram igualmente o setor do “Alojamento,
restauração e similares” (22%), mas com maior representatividade, o setor do “Comércio por grosso e a
retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos” (17,3%) e o setor das “Atividades administrativas e
dos serviços de apoio” (10,3%) e também, mas com menor expressão o setor da “Agricultura produção
animal, caça, floresta e pesca” (7,7%).

Em suma, e à semelhança do território nacional, o tecido empresarial da ilha da Madeira era, em 2018,
constituído quase exclusivamente por micro e pequenas empresas. A maioria das empresas está concentrada
no Funchal e nos concelhos limítrofes da costa sul, Santa Cruz e Câmara de Lobos. No que se refere aos
setores de atividade, destacam-se os setores das “Atividades administrativas e dos serviços de apoio”, do
“Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos” e do “Alojamento,
restauração e similares”.

De acordo com o Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas existiam na Região Autónoma da Madeira,
em 2016, 11.628 explorações agrícolas, o que correspondia a uma área de 4.893ha de Superfície Agrícola

59
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Utilizada (SAU) e significava uma média de 0,4ha por exploração. Face a 2009 são menos 1.983 explorações
agrícolas o que corresponde a um decréscimo de -14,6% e menos 536ha de SAU.

Em termos de utilização da SAU na RAM, em 2016, cerca de 48,4% era utilizado por culturas permanentes e
38,6% eram terras aráveis.

Numa análise por município, tendo por base os dados de 2009 do Recenseamento Geral da Agricultura,
destacam-se os municípios de Câmara de Lobos e Santana com o maior número de explorações agrícolas e a
maior área de SAU. Nas freguesias que integram parcial ou integralmente a área de intervenção do plano
existiam 12.537 explorações agrícolas, que representavam 92% do total da RAM e correspondiam a uma área
de SAU de 4.645ha.

Tabela 6.3_ N.º de explorações e Superfície Agrícola Utilizada (SAL), 2009

Fontes de Dados: INE, Recenseamento Agrícola/2009

A estrutura da SAU utilizada nos municípios revela um maior predomínio das culturas permanentes em
Câmara de Lobos (69,9%), Funchal (71,3%) e São Vicente (64,2%). Já nos municípios de Machico, Ponta do
Sol, Ribeira Brava, Santa Cruz e Santana mais de 50% da SAU são terras aráveis.

Os efetivos animais predominantes na Ilha da Madeira são as aves, sendo que em 2018 foram produzidas
cerca de 3.000 toneladas de frango e 18.000 ovos. Quanto ao gado, foram abatidos 955 toneladas, mais 4%
que em 2017.

No que diz respeito às principais produções agrícolas em termos de volume de produção na Região Autónoma
da Madeira, em 2018, a batata ascendeu às 28.848 toneladas, seguida da batata-doce com 11.925 toneladas
e da cana-de-açúcar com 10.751 toneladas. No quadro das culturas permanentes a banana domina com uma
produção de 17.597 toneladas, seguida pelas uvas com 3.624 toneladas.

60
Figura 6.10_ Evolução das principais produções agrícolas na RAM, 2011-2018 (toneladas)

Fontes de Dados: DRA - Direção Regional de Agricultura, INE - Instituto Nacional de Estatística, Inquérito à Horticultura/2000, IVBAM - Instituto do
Vinho, Bordado e do Artesanato da Madeira, I.P
(3) Os dados referem-se à soma da banana comercializada com o autoconsumo e as vendas diretas, que se estima ser em 5% da banana
comercializada

Em termos de evolução, e como é possível verificar no gráfico anterior, com exceção da batata e da uva,
todas as restantes produções registaram crescimento no período 2011-2018. As quebras registadas em 2014
e 2016 fizeram com que a produção de batata decrescesse cerca de -26% em 2018 face a 2011. Já a produção
de cana-de-açúcar quase que duplicou a sua produção passando de 5.472 toneladas em 2011 para 10.751
em 2018.

Segundo dados da DREM, em 2018 foram comercializadas cerca de 16,7 mil toneladas de banana, o que face
ao ano anterior representou um decréscimo de -24,1% (menos 5,3 mil toneladas). A maioria da banana
comercializada em 2018 (61,2%) era de categoria extra.

De acordo com dados da DREM, em 2018 foram descarregadas cerca de 7.500 toneladas de peixe nos portos
Madeirenses, o que correspondeu a um valor total de aproximadamente 18,8 milhões de euros.

No que se refere à evolução da atividade da pesca, nos portos da RAM registou-se um aumento de cerca de
3.000 toneladas entre 2011 e 2018 na pesca descarregada, que correspondeu a uma taxa de variação positiva
de 68,8%.

Figura 6.11_ Evolução das principais produções agrícolas na RAM, 2011-2018 (toneladas)

Fontes de Dados: DREM - Direção Regional de Estatística da Madeira, Estatísticas da Agricultura e Pesca

61
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Tabela 6.4_ Principais espécies descarregadas nos portos da RAM, em quantidade e valor, 2018

Fontes de Dados: DREM - Direção Regional de Estatística da Madeira, Estatísticas da Agricultura e Pesca

No período entre 2011 e 2018 a captura do atum e similares mais do que duplicou em quantidade e em valor,
sendo que em 2011 foram descarregadas cerca de 1,4 toneladas desta espécie que renderam perto de 3,3
milhões de euros e em 2018 foram descarregadas 4,7 toneladas com um valor de 8,8 milhões de euros. A
pesca de Peixe-Espada preto também cresceu mas de forma menos significativa, cerca de 13% na quantidade
descarregada e 41% em termos de valor.

6.2. O caso particular do turismo

O turismo desempenha um papel fundamental na economia da Região, envolvendo uma série de setores da
atividade económica, desde a hotelaria e restauração, ao comércio, aos operadores turísticos, às empresas
de animação turística, aos aeroportos, às companhias aéreas, aos portos, às empresas de transporte, etc.

O setor do turismo na RAM é enquadrado por um instrumento de natureza setorial – o Programa de


Ordenamento Turístico da RAM (POT) - aprovado recentemente pelo Decreto Legislativo Regional n.º
15/2017/M, de 6 de junho, e que vem substituir o anterior Plano de Ordenamento Turístico, aprovado em
2002 pelo Decreto Legislativo Regional n.º 17/ 2002/M. Este instrumento, que assume um horizonte de 10
anos, contém uma estratégia de desenvolvimento turístico para região e preconiza o crescimento da oferta
de alojamento assente em dois pilares: a requalificação da oferta na Ilha da Madeira e a garantia de um
crescimento sustentável na Ilha do Porto Santo.

Visão

Madeira - destino para todo o ano, de beleza natural ímpar, seguro, de fácil acesso, cosmopolita, reconhecido
como um «must visit» da Europa, com sol e clima ameno, forte tradição de bem receber e vasta oferta de
experiências, capaz de superar as expetativas mais exigentes.

Missão

Consolidar a Região como um destino turístico diferenciado, pela autenticidade da oferta, baseada no
genuíno e na qualidade do serviço, visando a sustentabilidade económica, social e ambiental.

62
Figura 6.12_Extrato do Modelo Territorial para o Turismo – Ilha da Madeira

Fonte: Revisão do POT da RAM, 2017.

63
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Os objetivos do POT são os seguintes:

▪ Requalificar, na lógica da modernização e manutenção, o produto turístico dominante, nas vertentes


de alojamento, da cidade do Funchal e dos consumos de Natureza/ Paisagem;
▪ Reforçar o papel dos principais eventos tradicionais, através do seu alargamento temporal e
diversificação de atividades associadas, introduzindo experiências associadas às Festas que possam
ser tidas como únicas e memoráveis;
▪ Reforçar a formatação dos produtos de nicho, tendo em vista aumentar a atração dos públicos
turísticos, na procura mundial, que encontram nas respetivas atividades a motivação principal da sua
deslocação;
▪ Desenvolver e consolidar os produtos emergentes em virtude do contexto sócio territorial presente,
associado a algumas dinâmicas emergentes, proporcionar a afirmação e o desenvolvimento de novos
produtos turísticos que alargam os motivos de atração específica à Região;
▪ Otimizar a oferta secundária numa lógica de articulação em rede, aproveitando o facto de a Madeira
apresentar hoje uma oferta secundária mais rica e diversificada, seja em termos culturais,
desportivos ou de animação, suportada em equipamentos e infraestruturas;
▪ Aumentar o peso da Cultura no ordenamento estratégico do Turismo pelo facto de a oferta cultural
da RAM ser rica e diversificada ao nível das atividades, dos equipamentos e dos agentes.

O POT é constituído por um conjunto de normas de execução (gerais e específicas) e pelos programas e ações
que visam a concretização dos objetivos e do modelo territorial que se traduz nas respetivas peças
desenhadas.

Nos quadros seguintes sistematizam-se as normas e programas/ações previstos, dando-se especial enfase
aos que incidem especialmente nas questões a ter em consideração na elaboração do POCMAD.

Tabela 6.5_ Síntese das normas do POT

NORMAS GERAIS
1 Tipos de espaços São considerados 3 tipos de espaços – urbanos, naturais e áreas protegidas e rurais
– as quais correspondem à qualificação estabelecida em PDM
2 Sistema urbano — Centralidades São identificadas as centralidades urbano-turísticas (rede urbana existente onde
Urbano -Turísticas devem concentrar-se preferencialmente os serviços de apoio ao turismo) dividindo-
se em 4 níveis:
- Nível 1 – Centro do Funchal;
- Nível 2 – Calheta, Machico e Santa Cruz;
- Nível 3 – Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol, Porto Moniz, S. Vicente,
Santana e Porto da Cruz;
- Nível 4 – Madalena do Mar, Jardim do Mar, Paul do Mar, Prazeres, Seixal, Ponta
Delgada, Santo António da Serra e Camacha (ilha da Madeira)
A hierarquia definida é suporte das propostas ao nível do reforço da rede de
equipamentos e serviços.
3 Atividades turísticas em espaços Remete para o modelo territorial em termos da localização preferencial das
naturais e rurais atividades a privilegiar.
A desenvolver em sede de PDM e PROTRAM.
Remete para norma 18.
4 Atividades Turísticas no Espaço Remete para o modelo territorial em termos da localização das atividades a
Marítimo privilegiar.
A desenvolver em sede de instrumentos de ordenamento do espaço marítimo.
5 Atividades Turísticas na Orla Remete para compatibilização com POC a desenvolver.
Costeira Remete para norma 20.
NORMAS ESPECÍFICAS – ALOJAMENTO TURÍSTICO
6 Âmbito Territorial Âmbito – ilhas da Madeira e Porto Santo

64
7 Valores de referência de Valor de referência para crescimento da oferta de empreendimentos turísticos na
capacidade de alojamento RAM até 2027 – 40mil camas com bolsa adicional de 1000 camas. Estabelece
turístico mecanismos de revisão dos valores
8 Tipologias de empreendimentos Remete para legislação em vigor.
turísticos
9 Alcance Remete para tradução das normas e respetivo desenvolvimento nos PMOT em vigor.

10 Tipologias de alojamento turístico Define as tipologias admitidas em solo urbano e limita-as a 160 camas por
no solo urbano empreendimento.
As tipologias correspondem às definidas na legislação com exceção dos
empreendimentos de turismo em espaço rural.
11 Intervenção em Espaço Urbano São definidas diretrizes para a requalificação urbano-arquitetónica incluindo,
nomeadamente, a flexibilização de mudança de usos, a majoração de índices e o
controle das intervenções em edifícios com valor patrimonial.
São requisitos arquitetónicos, paisagísticos e ambientais para os empreendimentos,
abrangendo aspetos da integração urbanística dos edifícios e sustentabilidade
ambiental dos mesmos.
12 Tipologias no Espaço Rural Define as tipologias admitidas em solo rural e limita-as a 120 camas por
empreendimento.
As tipologias correspondem às definidas na legislação com exceção dos
apartamentos turísticos.
13 Intervenção em Espaço Rural São definidas diretrizes arquitetónicos, paisagísticos e ambientais, incluindo aspetos
relativos a materiais e métodos de construção, integração de preexistências e
sustentabilidade ambiental.
São, ainda, estabelecidos requisitos para o conteúdo material dos projetos de
arquitetura.
14 Porto Santo Remete para plano de ação.
Identifica a frente de praia - faixa a sul da ER 120 entre o porto comercial e a Ponta
da Calheta - como de uso preferencial turístico e de lazer.
15 Norma Especial Estabelece condições de majoração doa limites à capacidade de alojamento pré-
definida nas normas 10 e 12, variando entre 30% e os 100%. Os critérios privilegiam
as intervenções de requalificação das unidades existentes e, desde que subscritas
pelo governo regional, as situações de qualificação/diversificação da oferta regional,
as iniciativas em solo rural com predominância de áreas verdes e quando
enquadrados em plano de pormenor ou unidades de execução.
16 Lugares de Estacionamento Estabelece parâmetros adicionais relativamente aos PMOT em vigor no que se
refere a autocarros.
17 Ocupação e atividades no espaço Remete para regulamentação específica.
público
NORMAS ESPECÍFICAS – ATIVIDADES TURÍSTICAS NOS ESPAÇOS NATURAIS, ÁREAS PROTEGIDAS E ESPAÇOS RURAIS
18 Atividades permitidas em Espaços Remete para regulamentação específica e para os planos de gestão em vigor.
Naturais e Áreas Protegidas
19 Uso Turístico e de Lazer nos Remete para legislação específica a criar.
Espaços Naturais e Rurais
20 Ordenamento das infraestruturas Define e caracteriza a rede de infraestruturas de náutica de recreio, a transpor
da náutica de recreio para os POC. As tipologias são:
- Marinas – subdivididas em marinas turísticas e marinas urbano-portuárias;
- Portos de recreio – subdivididos em docas e fundeadouros;
- Núcleos de recreio;
- Bases náuticas, subdivididas em marinas secas e varadouros;
- Apoios náuticos, subdivididos em centros de vela e centros de canoagem.
O POT define, ainda, as características da frota a servir e a capacidade de
estacionamento.
21 Alterações climáticas Articula-se com as medidas do programa de adaptação às alterações climáticas, em
termos de acompanhamento institucional
22 Programas e ações Remete para programas e ações definidas no POT

65
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Tabela 6.3_Síntese dos programas e ações previstas no POT


PARTE 1 — PROGRAMAS ESTRUTURANTES PARA A RAM

Programa Estruturante 1 — Percursos Turísticos, Desportivos e de Lazer


Sub-Programa 1.1 Requalificação da antiga Rede de Inclui projetos como a requalificação da antiga Rede de Estradas
Estradas Regionais Regionais, associadas aos Miradouros, Percursos na Cidade do Funchal
e Percursos na Ilha.
Sub-Programa 1.2 Percursos em centralidades Criação de percursos temáticos.
urbano-turísticas
Sub-Programa 1.3 Percursos na Ilha: Percursos no Criação de percursos terrestre, marinho e levadas/veredas.
Mar, na Montanha, no Ar, Levadas
e Veredas, Percursos Desportivos
Programa Estruturante 2 — Qualificação e Sustentabilidade dos Equipamentos e Infraestruturas
Projeto Estruturante Otimização do Porto do Funchal Intervenção de melhoria, reordenamento da infraestrutura e criação
2.1.1 de condições para navios de maior dimensão.
Projeto Estruturante Parque Temático da Madeira Reforçar a relevância do parque existente e melhorar as suas
2.1.2 condições e potencial de atração de utentes.
Programa Estruturante 3 — Qualificação da Oferta de Alojamento
Sub-Programa 3.1 Modernizar e Qualificar a Oferta de Inclui linha de incentivos e novas competências institucionais para
Alojamento apoio ao investimento.
Sub-Programa 3.2 Alojamento Local Mecanismos de monitorização e controle da oferta

Programa Estruturante 5 — Acessibilidade e Mobilidade na RAM


Visa incrementar a acessibilidade à RAM e a sua mobilidade interna. Inclui projetos como: atração de novas rotas aéreas, a
articulação de horários entre meios de transporte; o aumento da capacidade aérea entre ilhas; a redução de preços de voos; a
melhoria da acessibilidade na ilha da Madeira.
PARTE 2 — PROGRAMAS TEMÁTICOS E PROJETOS ESTRATÉGICOS POR ÁREAS E SETORES

Programa Temático 1 — Mais Natureza


Projeto Natureza 1 Estudo das Atividades
Implementação efetiva de condições para a utilização turística das
Turísticas, Desportivas e de
áreas protegidas e de outros espaços naturais de elevado valor
Lazer nos Espaços Naturais
conservacionista. Inclui sistema de monitorização e quantificação da
Protegidos capacidade de carga, sistema de financiamento e contribuição das
atividades turísticas nas ações de conservação e de investigação
científica e reforço da divulgação.
Projeto Natureza 2 Formatação dos Produtos Identificação e formatação dos diversos produtos englobados no
«Turismo de Natureza» Turismo de Natureza e destinados a segmentos da procura específicos.
Programa Temático 2 — Mais Paisagem
Subprograma Mais Vulcanismo na RAM — ▪ Desenvolver a componente geológica suportada na Ilha da
Paisagem Geoparque da RAM Madeira pelo Centro de Vulcanologia e pelas Grutas em S.
Vicente;
▪ Criação do Geoparque da Madeira, integrando os geosítios
existentes;
▪ Elaboração de Rotas Temáticas que expliquem a formação da
Ilha.
Projeto Paisagem Estudo das paisagens da ▪ Identificação, caracterização e recomendações para as tipologias
RAM de paisagens mais importantes da RAM;
▪ Atividades económicas que utilizam a paisagem como suporte,
com destaque para as do turismo, desporto e lazer;
▪ Identificação das áreas mais críticas do ponto de vista
paisagístico para suporte de projetos de requalificação e
revitalização;
▪ Orientações para a reflorestação de áreas críticas com paisagens
degradadas, decorrentes de riscos naturais;
▪ Orientações para o reordenamento de áreas agrícolas ou
agroflorestais abandonadas ou desqualificadas;

66
▪ Orientação genérica para os decisores do planeamento, no
sentido de integrarem considerações e avaliações sobre as
alterações e dinâmicas da paisagem;
▪ Orientações para Rede de estradas regionais/turísticas e suas
margens;
▪ Orientações formativas para os agentes que intervêm na
paisagem e na atividade turística.
Programa Temático 3 — Mais Mar
Sub-Programa 3.1 Requalificação do Sistema Conjunto de projetos e ações, salientando as seguintes para a Ilha da
Portuário da RAM Madeira:
Câmara de Lobos - Reordenamento do Porto de Pesca e criar
infraestruturas de apoio ao desenvolvimento da atividade Marítimo-
Turística conciliada com a atividade da pesca;
Machico - Projetos de Reordenamento e Qualificação das
infraestruturas portuárias, incentivar o calendário de eventos
associados à náutica de recreio e desportiva; e consolidação e
desenvolvimento de atividades e serviços de apoio à náutica de
recreio (manutenção, reparação e construção de embarcações).
Santa Cruz - Consolidação das infraestruturas de apoio à náutica de
recreio.
Porto Moniz - Projeto de Reordenamento e Requalificação do Porto
de Abrigo;
São Vicente – Melhoramento das condições do embarcadouro;
Ribeira Brava - Projeto de reabilitação do Porto;
Ponta do Sol - Projeto de requalificação do cais/embarcadouro e
elaborar projeto de ocupação da Marina com usos sazonais
devidamente enquadrado por análise de risco e de segurança,
transitoriamente, até que seja possível viabilizar a Marina do Lugar
de Baixo;
Madalena do Mar – Projeto de requalificação do cais/embarcadouro;
Calheta – Consolidação das infraestruturas de apoio à náutica de
recreio.
Sub-Programa 3.2 Atividade marítimo-turística Avaliação da evolução da atividade com vista à identificação de
constrangimentos, necessidades e oportunidades, e a ações corretivas
no sentido de garantir padrões de elevada qualidade e segurança.
Sub-Programa 3.3 Passeios de mar Criação de mecanismos de resposta a eventual expansão e excesso de
procura, nomeadamente através de regulamentação complementar e
diversificação dos trajetos
Sub-Programa 3.4 Mergulho recreativo (escafandro A atividade deverá ser objeto de regulamentação específica.
autónomo e snorkeling) Identificação de condições para a instalação de apoio à atividade nas
zonas terrestres adjacentes.
As áreas de potencial interesse na Ilha da Madeira são:
▪ Áreas compreendidas entre a Ponta da Cruz e o Molhe da
Pontinha (que corresponde à área proposta para instalação do
EcoParque Marinho do Funchal — área de paisagem protegida
marinha proposta pela Câmara Municipal do Funchal);
▪ entre o Lazareto e a Ponta da Atalaia, área que integra a Reserva
Natural do Garajau (a primeira Reserva Marinha criada em
Portugal);
▪ área entre Machico e a Ponta de São Lourenço (incluindo toda a
sua extensão na costa sul e costa norte até à Ponta do Bode);
▪ área do Porto da Cruz; área entre a Ribeira do Faial e a Ponta de
S. Jorge (na qual se integra a reserva Marinha da Rocha do
Navio);
▪ área do Seixal;
▪ área do Porto Moniz;
▪ área entre a Ponta do Sol e a Tábua e área do Cabo Girão.
Sub-Programa 3.5 Pesca turística (big game fishing) Estudo da organização e infraestruturação de portos ou marinas, por
forma a permitir o alargamento do número de pontos de partida e o
desenvolvimento da pesca turística. Entre outros, o porto do Porto
Santo poderá constituir um polo de desenvolvimento desta
modalidade.

67
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Possibilidade de criar legislação específica.

Sub-Programa 3.6 Pesca -Turismo (experiência da ▪ Projeto 1 - Aprovação de legislação específica abrangendo:
vivência da pesca marítima operadores, embarcações, pessoal embarcado, artes de pesca,
comercial) licenciamento, taxas, lotação, capturas, destino do pescado e
fiscalização.
▪ Projeto 2 - Ensaio nos Portos de Câmara de Lobos, da Calheta e
do Caniçal aproveitando as infraestruturas dedicadas à pesca
existentes.
Sub-Programa 3.7 Desportos de onda e de prancha Estabelece condições de construção de instalações de apoio a estas
atividades.
Remete para PMOT e POC.
Programa Temático 4 — Mais Cultura
Inclui uma série de orientações e recomendações para além dos 4 projetos:
▪ Reforçar a cultura de forma explícita na identificação e na promoção do produto turístico Madeira
▪ Promover a oferta de Roteiros Turísticos Orientados, com forte componente cultural. Exemplos: trilho urbano pedestre no
Funchal e rotas temáticas.
▪ Colocar mais cultura no espaço público de modo a consolidar uma atmosfera cultural permanente.
▪ Promover um «comércio cultural» qualificado, nomeadamente através de um programa de incentivo à criação ou renovação
de pequenos espaços culturais privados.
▪ Criar um programa de requalificação e modernização dos museus da Madeira, de acordo com padrões internacionais.
▪ Continuar a apoiar e divulgar a realização de festivais e outros eventos de natureza cultural.
Apoiar de forma equilibrada os dois grandes tipos de oferta cultural: «típica» e cosmopolita.
Projeto Cultura 1 Candidatura das Levadas a ▪ Criação de uma base de comunicação entre as diversas entidades
património da UNESCO relacionadas com as Levadas, com vista à sua valorização e
preservação e à definição de um plano de gestão;
▪ Implementação de um plano de gestão sustentável;
▪ Aposta na formação dos recursos das entidades envolvidas na
promoção das Levadas e divulgação de informação referente ao
contexto, história e património das Levadas, com o objetivo de
valorizar o produto;
▪ Aumentar o brand awareness através do reconhecimento criado
pela UNESCO.
Projeto Cultura 2 Programa Madeira 600 — Conjunto de 4 ações que visam um evento comemorativo dos 600 anos
Comemoração dos 600 anos de da «história» da Madeira, criando alicerces para a contínua
História da Madeira proliferação e promoção da cultura regional em anos futuros.
Projeto Cultura 3 Museu no Funchal Criar um espaço de referência que mostre a história e cultura
madeirense aos turistas que visitam o destino, suportado por uma
constante dinâmica dos seus espaços e ofertas. Deverá também ser
orientado para a população regional, servindo de veículo de
valorização e promoção da própria cultura. Inclui 6 ações.
PARTE 3 — PROGRAMAS ORGANIZACIONAIS PARA O TURISMO
Programa Dinamizar a Inovação no Setor ▪ Aumento da capacidade de produção de conhecimento do
Operacional 1 Turístico Centro de Formação e Investigação em Turismo da Universidade
da Madeira.
▪ Criação de protocolo entre incubadoras de empresas e o Centro
de Formação e Investigação em Turismo da Universidade da
Madeira;
▪ Incentivar a adoção de medidas inovadoras nos
empreendimentos turísticos, facilitando o acesso a incentivos
financeiros disponíveis;
▪ Conciliar o acompanhamento por parte da SRETC e das entidades
privadas, das mais recentes inovações no setor do turismo.
Programa Marketing e Promoção Turística Ações inseridas no subprograma operacional intitulado Plano de
Operacional 2 Marketing:
▪ Agregar todas as entidades com responsabilidade numa mesma
estratégia de promoção turística.
▪ Identificar de forma continuada novos intervenientes da
distribuição turística (numa lógica de promoção dirigida aos
mercados que reconheçam o valor dos atributos do destino
RAM).

68

Centrar a comunicação digital do destino numa lógica criativa
baseada na Internet.
▪ Plano de Marketing
Programa Formação Profissional Conjunto de 8 ações que visam criar na Madeira um centro de
Operacional 3 excelência no ensino e formação turísticas.
Programa Qualidade Turística / Certificação / Conjunto de 6 ações que visam reforçar a qualidade turística da RAM
Operacional 4 Inspeção e a comunicação dessa imagem de qualidade.
Programa Programa Turismo Conjunto de 8 ações que têm por objetivo alcançar um elevado nível
Operacional 5 Sustentável/Certificação de diferenciação do Destino, permitindo o reconhecimento e
credibilidade do mesmo e a implantação de uma visão de
sustentabilidade e responsabilidade social e ambiental que seja
irreversível.

6.2.1 Oferta

Segundo os dados do Anuário Estatístico da RAM, em 2018 estavam em funcionamento na Ilha da Madeira
1470 estabelecimentos de alojamento turístico14 (cerca de 95% dos estabelecimentos da Região), refletindo
um crescimento de cerca de 34% face a 2017. Desses 1470, cerca de 8,6% (127) eram estabelecimentos
hoteleiros (hotéis, hotéis-apartamentos, apartamentos turísticos, aldeamentos turísticos, pousadas e quintas
da Madeira) e aproximadamente 4% (56) correspondiam a estabelecimentos de turismo no espaço rural ou
turismo de habitação. Relativamente ao alojamento local – que representa quase 88% a oferta de alojamento
turístico na ilha – registou um crescimento de 35% comparativamente com 2017.

Figura 6.13_Evolução do número de estabelecimentos de alojamento turístico por município (Nº), 2016-2018
1 600
1 400
1 200
1 000
800
600
400
200
0
R. A. M. Calheta Câmara de Funchal Machico Ponta do Porto Ribeira Santa Cruz Santana São
Lobos Sol Moniz Brava Vicente

2016 2017 2018

Fonte: Anuário Estatístico da RAM (2016-2018)

A capacidade (número de camas) nos estabelecimentos de alojamento turístico na Ilha tem vindo a registar
um aumento anual de aproximadamente 7,3% nos últimos 3 anos e totalizava em 2018, em termos globais,
37.608 camas, em que cerca de 63% desta capacidade se concentra nos estabelecimentos de hotelaria.

14
O alojamento turístico inclui a hotelaria (hotéis, hotéis-apartamentos, pousadas, apartamentos, aldeamentos turísticos e Quintas da Madeira), o alojamento local e o
turismo no espaço rural e turismo de habitação.

69
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Tabela 6.6_Estabelecimentos e capacidade de alojamento turístico por município, em 2018


Turismo no espaço rural e
Total Hotelaria Alojamento local
Turismo de habitação

Nº Estab. Nº Camas Nº Estab. Nº Camas Nº Estab. Nº Camas Nº Estab. Nº Camas

R.A.M. 1.542 41.824 141 30.594 1.345 10.170 56 1.060


Calheta 313 3.107 6 1.223 288 1.600 19 284
Câmara de Lobos 17 805 2 … 12 … 3 79
Funchal 724 23.911 78 18.844 644 5.043 2 24
Machico 58 1 428 8 1.069 47 330 3 29
Ponta do Sol 52 548 3 284 45 209 4 55
Porto Moniz 35 562 6 320 27 … 2 …
Ribeira Brava 31 484 3 277 25 176 3 31
Santa Cruz 142 5.008 18 3.868 117 1.041 7 99
Santana 43 788 1 … 35 463 7 …
São Vicente 55 967 2 276 47 474 6 217
Ilha da Madeira 1.470 37.608 127 26.161 1.287 9.336 56 818
Fonte: Anuário Estatístico da RAM, 2018

Observando a tabela anterior, constata-se que a maior parte da capacidade de alojamento turístico está
localizada no município do Funchal, seguido de Santa Cruz e Calheta. Os municípios da costa norte
concentram apenas 6% da capacidade de alojamento turístico da ilha.

Segundo a Direção Regional do Turismo, encontram-se previstos vários novos empreendimentos turísticos
com parecer favorável que permitirão aumentar a capacidade de alojamento em 7.496 camas.

Em termos de distribuição territorial, com base dos dados disponibilizados pelo Serviço Regional de Proteção
Civil da Madeira, verifica-se, conforme já referido anteriormente, que os empreendimentos turísticos se
localizam predominantemente na faixa costeira, destacando-se claramente a frente marítima do município
do Funchal. A tipologia de turismo no espaço rural surge com maior relevância no município da Calheta, assim
como as Quintas da Madeira se localizam maioritariamente no município do Funchal.

Figura 6.14_Distribuição territorial dos empreendimentos turísticos na Ilha da Madeira (2015)

Fonte: Serviço Regional de Proteção Civil, IP – RAM: Plano Regional de Emergência de Proteção Civil

70
Ao nível dos recursos turísticos, com especial impacto nas atividades na orla costeira, segundo a Direção
Regional de Turismo, importa destacar um conjunto alargado de praias e complexos balneares, os percursos
pedestres recomentados e ainda os recursos submarinos que contribuem para o aumento da atração turística
da ilha, nomeadamente:

▪ Spots de mergulho:
o Caniçal: Baixa d’Abra, Cais do Sardinha,
o Machico: 3 Marias, Baixa da Cruz;
o Santa Cruz: Baixa de Santa Catarina, Galo, Garajau, Arena, Gruta da Ponta da Oliveira,
Mamas, Reis Magos, Roca Mar;
o Funchal: Baixa das Moreias, Baixa do Carneiro;
▪ Naufrágios e Afundamentos:
o Bom Rei ou Bowbelle na Madalena do Mar;
o Prompt no Funchal;
o Forerunner/Newton na Ponta de São Lourenço.

Tabela 6.7_Recursos turísticos naturais e artificiais na Ilha da Madeira

NOME TIPO RECURSO CONCELHO Freguesia

Praia da Calheta Artificial Calheta Vila da Calheta


Praia da Enseada Natural Calheta Jardim do Mar
Praia do Porto Natural Calheta Paúl do Mar
Praia do Portinho Natural Calheta Jardim do Mar
Praia da Ribeira das Galinhas Natural Calheta Paúl do Mar
Praia da Fajã do Rancho Natural Câmara de Lobos Quinta Grande
Praia da Fajã dos Padres Natural Câmara de Lobos Quinta Grande
Praia do Vigário Natural Câmara de Lobos Câmara de Lobos
Piscinas das Salinas Artificial Câmara de Lobos Câmara de Lobos
Complexo Balnear Doca do Cavacas Artificial Funchal São Martinho
Complexo Balnear da Barreirinha Artificial Funchal Santa Maria Maior
Complexo Balnear do Lido Artificial Funchal São Martinho
Complexo Balnear da Ponta Gorda Artificial Funchal São Martinho
Complexo Balnear Praia Formosa Natural Funchal São Martinho
Praia de São Tiago Natural Funchal Sé
Praia do Gorgulho Natural Funchal São Martinho
Complexo Balnear do Caniçal Artificial Machico Caniçal
Complexo Balnear do Porto da Cruz Artificial Machico Porto da Cruz
Praia da Alagoa Natural Machico Porto da Cruz
Praia Banda D'Além Artificial Machico Machico
Praia da Prainha Natural Machico Caniçal
Praia da Ribeira Natal Natural Machico Caniçal
Praia de São Roque Natural Machico Machico
Praia dos Anjos Natural Ponta do Sol Madalena do Mar
Praia da Madalena do Mar Natural Ponta do Sol Madalena do Mar
Zona Balnear da Ponta do Sol Natural Ponta do Sol Ponta do Sol

71
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

NOME TIPO RECURSO CONCELHO Freguesia


Complexo Balnear do Clube Naval do Seixal Natural? Porto Moniz Seixal
Praia da Laje Natural Porto Moniz Seixal
Praia do Porto do Seixal Natural Porto Moniz Seixal
Piscinas Naturais do Cachalote Natural Porto Moniz Porto Moniz
Piscinas Naturais do Porto Moniz Artificial? Porto Moniz Porto Moniz
Piscinas Naturais do Seixal Natural Porto Moniz Seixal
Praia do Porto Santo Natural Porto Santo Vila Baleira
Calhau da Lapa Natural Ribeira Brava Campanário
Complexo Balnear da Ribeira Brava Artificial Ribeira Brava Ribeira Brava
Complexo Balnear Hotel Rocamar Artificial Santa Cruz Caniço
Complexo Balnear Lido Galomar Artificial Santa Cruz Caniço
Complexo Balnear da Ribeira da Boaventura Artificial Santa Cruz Gaula
Praia do Garajau Artificial Santa Cruz Caniço
Praia das Palmeiras Natural Santa Cruz Santa Cruz
Praia dos Reis Magos Natural Santa Cruz Caniço
Complexo Balnear do Calhau de São Jorge Artificial Santana São Jorge
Complexo Balnear da Foz da Ribeira do Faial Natural Santana Faial
Complexo Balnear da Ponta Delgada Artificial São Vicente Ponta Delgada
Complexo Balnear de São Vicente Natural São Vicente São Vicente
Promenade do Jardim do Mar Artificial Calheta Jardim do Mar
Promenade da Calheta Artificial Calheta Vila da Calheta
Promenade do Paúl do Mar Artificial Calheta Paúl do Mar
Promenade de Câmara de Lobos Artificial Câmara de Lobos Câmara de Lobos
Promenade do Lido Artificial Funchal São Martinho
Promenade da Praia Formosa - Baía de Funchal/Camara de São Martinho/ Câmara de
Câmara de Lobos Artificial Lobos Lobos
Promenade de Machico Artificial Machico Machico
Promenade da Ribeira Natal Artificial Machico Caniçal
Frente Mar do Porto Moniz Artificial Porto Moniz Porto Moniz
Marginal da Ribeira Brava Artificial Ribeira Brava Ribeira Brava
Promenade do Caniço Artificial Santa Cruz Caniço
Promenade de Santa Cruz Artificial Santa Cruz Santa Cruz
Promenade dos Juncos Artificial São Vicente São Vicente
Palheiro Golfe Artificial Funchal São Gonçalo
Clube de Golfe do Santo da Serra Artificial Machico Santo António da Serra
Porto de Recreio da Calheta Artificial Calheta Vila da Calheta
Gare Marítima Internacional do Porto do
Funchal Artificial Funchal Sé
Marina do Funchal Artificial Funchal Sé
Porto do Funchal Artificial Funchal Sé

72
NOME TIPO RECURSO CONCELHO Freguesia
Marina da Quinta do Lorde Artificial Machico Caniçal
Porto Comercial do Caniçal Artificial Machico Caniçal
Porto de Recreio de Machico Artificial Machico Machico
Porto de Abrigo do Porto Moniz Artificial Porto Moniz Porto Moniz
Porto de Abrigo do Seixal Artificial Porto Moniz Seixal
Cais da Ribeira Brava Artificial Ribeira Brava Ribeira Brava
Kartódromo do Faial Artificial Santana Faial
Clube Naval da Calheta Artificial Calheta Vila da Calheta
Clube Naval do Funchal Artificial Funchal São Martinho
Iate Clube Quinta do Lorde Artificial Machico Caniçal
Iate Clube de Santa Cruz Artificial Santa Cruz Santa Cruz
Clube Naval do Seixal Artificial Porto Moniz Seixal
Clube Naval de São Vicente Artificial São Vicente São Vicente
Complexo das Piscinas Olímpicas do Funchal Artificial Funchal Santo António
Clube de Ténis do Funchal Artificial Funchal São Martinho
Centro Desportivo da Madeira Artificial Ribeira Brava Ribeira Brava
Complexo Desportivo de Água de Pena Artificial Santa Cruz Água de Pena
Polidesportivo da Foz da Ribeira do Faial Artificial Santana Faial
Fonte: Direção Regional do Turismo, 2020.

Ainda de acordo com informação disponibilizada pela Direção Regional de Turismo, encontram-se registados
285 agentes de animação turística, que operam Ilha da Madeira na organização de diversas atividades nas
seguintes temáticas:

▪ Atividades de ar livre/ natureza e aventura, onde se incluem as caminhadas, passeios todo o terreno,
mergulho, etc
▪ Atividades marítimo-turísticas, que integram sobretudo passeios marítimo-turísticos, aluguer de
embarcações, motas de água e outros equipamentos para atividades náuticas;
▪ Atividades culturais, tais como passeios de descoberta do património, rotas temáticas, visitas guiadas
a museus e outros locais associados ao património local;
▪ Atividades reconhecidas como turismo de natureza, como por exemplo, observação de aves,
caminhadas e outras atividades pedestres, passeios e atividades em bicicleta.

Importa ainda fazer referência à Estratégia do Turismo da Madeira 2017-2021, que identifica e categoriza um
conjunto de produtos turísticos por forma a facilitar as dinâmicas associadas à organização e promoção da
oferta, considerando como produtos estratégicos – isto é, produtos centrais para a região já consolidados
com base nos recursos, infraestruturas e oferta existente – a natureza, desportos de natureza e aventura,
touring cultural e paisagístico, a náutica e desportos, sol e mar, na sua maioria relevantes para a elaboração
do POCMAD.

73
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

6.2.2 Procura

No contexto nacional a RAM representou, em 2018, 12,3%15 das dormidas da hotelaria em Portugal, ficando
atrás do Algarve (30,2%), da Área Metropolitana de Lisboa (25,9%) e da Região Norte (14,5%).

A procura pelos estabelecimentos hoteleiros da RAM tem vindo, de uma maneira geral, a aumentar
continuamente desde 2012, alojando em 2018 1,61 milhões de hóspedes que contribuíram para o alcance
de 8,7 milhões de dormidas, o que face ao ano anterior representou um ligeiro decréscimo de -0,3%. Como
é possível observar nos gráficos apresentados, no período 2012-2018, a tendência ascendente quer do
número de hóspedes, quer do número de dormidas, apenas foi contrariada no último ano em análise.

Figura 6.15_Evolução do número de hóspedes e de dormidas na RAM 2012-2018

Fontes de Dados: Estatísticas do Turismo da RAM, DREM

Na ilha da Madeira, em 2018 o número de hóspedes ascendeu aos 1,5 milhões que contribuíram para cerca
de 7,9 milhões de dormidas. Uma análise por município revela uma grande concentração das dormidas no
município do Funchal que em 2018, teve um peso relativo de cerca de 71% no total da Ilha. O segundo
município a concentrar maior número de dormidas foi Santa Cruz (12,9%) seguido da Calheta com 5,8%.
Como é visível na figura seguinte os municípios da costa norte da ilha (Machico, Porto Moniz, Santana e São
Vicente) apenas concentram 7% do total das dormidas na Ilha da Madeira.
Figura 6.16_Dormidas nos estabelecimentos turísticos da Ilha da Madeira, por município, em 2018

Fontes de Dados: Estatísticas do Turismo da RAM, DREM

15
Segundo Dados do INE - Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria e outros Alojamentos, que inclui as novas unidades de Alojamento Local e os estabelecimentos do
turismo no espaço rural

74
A RAM é uma região marcadamente de cariz internacional, sendo que a grande maioria das dormidas nos
estabelecimentos de alojamento turístico foram, em 2018, de turistas residentes no estrangeiro (89%).
Comparativamente com 2017 assistiu-se a um ligeiro crescimento da procura do mercado interno (+0,2
pontos percentuais).

O top 5 dos principais mercados emissores da RAM era liderado, em 2018, pela Alemanha com um peso de
28% no total de dormidas de turistas estrangeiros nos estabelecimentos de alojamento turístico da RAM,
seguido pelo Reino Unido (26,6%), e França (10,7%), tal como é possível constatar no gráfico anterior. Em
termos de variação face a 2017 destaca-se o aumento das dormidas de turistas residentes em França
(+46.083 dormidas) e pelo contrário o decréscimo dos turistas do Reino Unido (-6.714).

Figura 6.17_Dormidas de residentes e não residentes, por país de origem, 2018 (%)

Fontes de Dados: Estatísticas do Turismo da RAM, DREM

Relativamente à estada média a RAM é a região do país onde ocorrem as estadas médias mais longas, 5,2
noites em 2018. Tal como é possível observar no gráfico seguinte, a estada média seguiu uma tendência de
crescimento até 2014, atingindo as 5,46 noites nesse ano, que foi invertida até 2018. A estada média do
mercado externo, que é o principal mercado da RAM fixou-se, em 5,72 noites, ao passo que a do mercado
interno ficou-se pelas 3 noites. A análise por município revela uma permanência mais longa nos municípios
de Santa Cruz (5,51 noites), Funchal (5,45 noites) e Ponta do Sol (5,32 noites).

Figura 6.18_Estada média nos estabelecimentos de alojamento turístico por país de residência habitual dos hóspedes, RAM,
2012-2018

Fontes de Dados: Estatísticas do Turismo da RAM, DREM

75
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Analisando as dormidas segundo a categoria dos estabelecimentos verifica-se que a hotelaria apresenta um
peso muito significativo no total de dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico, ascendendo aos
84% em 2018. No entanto, esta categoria tem vindo a perder peso desde 2015, ao contrário do Alojamento
Local. Dentro da categoria hotelaria sobressaem os hotéis que foram responsáveis por 67,5% do total das
dormidas, seguido pelos hotéis-apartamento também com alguma expressão, tendo representado em 2018,
26% do total de dormidas na hotelaria.

Figura 6.19_Evolução das dormidas e hóspedes no alojamento local, RAM, 2012-2018

Fontes de Dados: Estatísticas do Turismo da RAM, DREM

As dormidas no Alojamento Local têm vindo a ganhar expressão, sobretudo a partir de 2015. Em 2018,
registaram 233.630 hóspedes que deram origem a cerca de 1,2 milhões de dormidas. A estada média nas
unidades de alojamento local situou-se nas 5 noites, em 2018, e a taxa de ocupação-cama em 36,7%.

Quanto aos estabelecimentos de turismo no espaço rural e turismo de habitação, em 2018 receberam 37.488
hóspedes que originaram cerca de 153 mil dormidas. Embora com um crescimento menos evidente que as
unidades de alojamento local, a trajetória do número de hóspedes e de dormidas neste tipo de
empreendimento turístico é igualmente positiva no período 2012-2018, com uma taxa de variação média
anual de 21,3% e 19%, respetivamente. Em 2018, a estada média nestas unidades foi de 4,1 noites e a taxa
de ocupação/cama situou-se nos 42,2%

O padrão de procura turística não é uniforme ao longo do ano, existindo sempre períodos de maior
sobrecarga dos estabelecimentos turísticos. Na RAM esses períodos de maior procura têm acontecido
sobretudo nos meses de julho, agosto e setembro. A taxa de sazonalidade, indicador que permite avaliar o
peso relativo da procura turística dos meses de maior procura relativamente ao total anual, situou-se em
2018 nos 30,9%, valor que tem vindo a diminuir desde 2012.

76
Figura 6.20_Desagregação mensal das dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico da RAM, 2018 (%)

Fontes de Dados: Estatísticas do Turismo da RAM, DREM

Em síntese, a procura e a oferta turística na ilha da Madeira está muito concentrada no município do Funchal,
por contraponto ao reduzido peso relativo das dormidas e da capacidade de alojamento nos municípios
situados na costa norte da ilha. Destaca-se a tendência de crescimento da procura nos últimos anos, apesar
de o ano de 2018 ter sido marcado por decréscimos ligeiros de alguns indicadores.

No entanto importa referir que esta dinâmica positiva da atividade turística da RAM se deverá alterar
significativamente em virtude da situação atual determinada pela pandemia Covid-19. Em função das
medidas de confinamento e das restrições à mobilidade dos cidadãos a atividade turística recuou
significativamente.

A Organização Mundial do Turismo (OMT) anunciou uma estimativa revista do impacto da pandemia a 23 de
março de 2020 em que se prevê uma quebra do turismo internacional entre 20 a 30% no ano de 2020. Esta
estimativa poderá significar uma perda de 290 a 440 milhões de turistas internacionais, fazendo a atividade
turística recuar a níveis de 2012-2014.

O INE incluiu no questionário de março de 2020 do Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria e


Outros alojamentos (IPHH) um novo separador designado "COVID-19", com o objetivo de avaliar o impacto
da atual pandemia na atividade de cada estabelecimento, nomeadamente no que se refere às reservas e
cancelamentos no período de março a agosto de 2020.

Em Portugal, cerca de 79% dos estabelecimentos dos estabelecimentos de alojamento turístico respondentes
referem que a pandemia motivou o cancelamento de reservas agendadas para o período entre março e
agosto.

77
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 6.21_Estabelecimentos com cancelamento de reservas por Região (%)

Fonte: DREM, Estatísticas do Turismo

A RAM é a região com maior peso de estabelecimentos de alojamento turístico a assinalaram o cancelamento
de reservas agendadas para os meses de março a agosto de 2020, sobretudo no segmento da hotelaria. Por
município destaca-se a Ribeira Brava onde a totalidade dos estabelecimentos respondentes referiram o
cancelamento de reservas, seguido do Funchal (98%).

A proporção de estabelecimentos respondentes que reportaram cancelamentos parciais ou totais de


reservas diminui nos meses de verão que, tradicionalmente, são os que têm maior procura. Se em abril,
97,5% dos estabelecimentos reportaram cancelamentos em julho essa proporção desce para 66,1% e em
agosto para 65%.

Figura 6.22_Estabelecimentos com cancelamento de reservas por mês (%)

Fonte: DREM, Estatísticas do Turismo

Nesta região os mercados com maior expressão nos cancelamentos de reservas foram a Alemanha
identificada 72,9% dos estabelecimentos inquiridos, seguido do mercado francês (59,3% dos

78
estabelecimentos) e do Reino Unido (49,6%). O mercado nacional aparece em quinto lugar referido por 30,4%
dos estabelecimentos de alojamento turístico respondentes.

Dados mais recentes divulgados pelo INE, demonstram que no mês de abril todas as regiões registaram
diminuições nas dormidas superiores a 90%, sendo que as quebras maios expressivas ocorreram na RAA (-
99,9%) e na RAM (-99,1%).

6.3. A economia do mar

A presente caraterização da economia do mar na RAM baseou-se na análise de um conjunto de documentos,


nomeadamente a Conta Satélite do Mar (2020), a Estratégia Nacional para o Mar 2021-30, o volume IV do
Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional (RAM) e ainda informação disponível nos websites da Fórum
Oceano, entidade gestora do Cluster do Mar Português e da CE, sobre o Pacto Ecológico Europeu. Este
subcapítulo organiza-se em 3 pontos: no primeiro aborda-se o enquadramento nacional da economia do Mar
e principais dinâmicas verificadas nos últimos anos e, nesse contexto, procede-se ao enquadramento da
economia do Mar da RAM de acordo com os principais indicadores disponíveis; no segundo ponto
apresentam-se os principais agrupamentos da economia do Mar presentes na RAM e sua dinâmica;
finalmente, no terceiro ponto, procede-se à apresentação dos principais potenciais de desenvolvimento da
RA da madeira na área do Mar.

6.3.1 Enquadramento nacional

Qualquer exercício de caraterização da economia do Mar confronta-se com um primeiro problema, o da


definição do seu perímetro e a forma de contabilização das respetivas atividades. A presente abordagem da
Economia do Mar que, pelo objetivo do trabalho, se pretende sintética, segue, ao nível do conceito, dos
agrupamentos de atividades económicas e da informação estatística, a Conta Satélite da Economia do Mar
(CSM). Nesse contexto, entende-se por economia do Mar “O conjunto de atividades económicas que se
realizam no Mar e outras que, não se realizando no Mar, dependem do Mar, incluindo o capital natural
marinho e os serviços não transacionáveis dos ecossistemas marinhos, que não são contabilizados na CSM”
(CSM 2016-2018, 16 novembro de 2020).

A CSM organiza as atividades da economia do mar em 9 agrupamentos, 8 relativos às atividades estabelecidas


e 1 às atividades emergentes (Novos Usos e Recursos do Mar). Os agrupamentos são ainda sistematizados
de acordo com 3 categorias: atividades caraterísticas, em que” parte importante das atividades decorre no
mar ou cujos produtos provêm do Mar ou da costa”, em que se enquadra a maior parte dos agrupamentos;
atividades transversais, nomeadamente os equipamentos Marítimos e os Serviços Marítimos; finalmente as
atividades favorecidas pela proximidade ao Mar, caso do Turismo Costeiro.

Portugal, pela sua posição geográfica, pela extensão da sua ZEE, pela sua história e pela sua cultura, tem uma
forte ligação ao mar, situação que aparece parcialmente refletida em termos económicos: no contexto da EU
Portugal encontra-se respetivamente nas 7ª e 9ª posições nos indicadores VAB da economia do mar / VAB
nacional (4%) e Emprego na economia do Mar / Emprego nacional (4,1%). (CSM, 2020).

Numa perspetiva dinâmica a economia do Mar resistiu melhor que a economia nacional às adversidades da
crise do sub-prime e das dívidas soberanas, os seus principais setores decresceram menos que o verificado
para o conjunto da economia nacional nos indicadores do VAB e do Emprego. A CSM procede a algumas
comparações entre os principais agregados macroeconómicos, conforme se transcreve seguidamente: “No

79
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

triénio 2016-2018 (base 2016), o VAB da CSM representou 3,9% do VAB da economia nacional, e o emprego
correspondeu a 4,0% do total do emprego nacional. Entre 2010-2013 (base 2011), o VAB da EM representou
3,1% do VAB da economia nacional, enquanto o emprego se cifrou em 3,6% do total do emprego nacional”.
No triénio 2016 a 2018, o aumento do peso relativo do VAB e do peso do emprego da economia do Mar na
economia nacional relativamente ao período anterior reflete, fundamentalmente, o crescimento das
atividades favorecidas pela proximidade do mar, cujo VAB e emprego registaram, respetivamente, aumentos
de 128,6% e 51,7%, beneficiando do dinamismo observado na atividade turística a nível nacional.

Apesar deste desempenho favorável no período considerado, a situação presente será diferente, a crise
sanitária, afetando globalmente a economia do Mar, tem um impacto muito pronunciado num dos seus
setores mais importantes – o turismo – prejudicando fortemente as atividades do turismo de cruzeiros, do
turismo náutico, do turismo de sol e praia.

A tabela seguinte permite verificar, para um conjunto de agregados macroeconómicos, a relação entre a
economia do mar e a economia nacional e a sua evolução recente. Merecem destaque os agregados do VAB
e do emprego, como anteriormente referido, e ainda o comportamento das exportações e o saldo da balança
comercial em 2017. Evidentemente que os dados estatísticos apresentados se reportam ao período antes da
pandemia, hoje estarão significativamente alterados nomeadamente pelo comportamento do setor do
turismo. Numa perspetiva dinâmica, e com base na mesma informação, é possível verificar o bom
desempenho da economia do mar no conjunto da economia nacional em todos os agregados
macroeconómicos (com exceção da FBCF). Entre 2016 e 2017 verificou-se um crescimento do VAB, do
emprego e do saldo comercial claramente acima do verificado pela economia nacional, conforme pode ser
comprovado no Quadro 1. No que se refere à estrutura de importações e de exportações destacam-se, no
caso das importações, o peso relativo dos produtos alimentares e da pesca e aquacultura e, no caso das
exportações os serviços de alojamento e de restauração e os produtos alimentares.

Tabela 6.8_Economia do Mar e economia nacional

Indicador 2016 2017 Variação %


VAB Mar (milhões de euros) 6059 6688 10,4
VAB CN (milhões de euros) 161993 169642 4,7
VAR Mar / VAB CN % 3,7 3,9
Emprego Mar (Unidades) 174755 189236 8,3
Emprego CN (Unidades) 4426856 4579158 3,4
Emp Mar / Emp VAB % 3,9 4,1
FBCF Mar (milhões de euros) 412 460 11,7
FBCF CN (milhões de euros) 28893 32888 13,8
FBCF Mar / FBCF CN % 1,4 1,4
Exp Mar (milhões de euros) 3693 4100 11,0
Exp CN (milhões de euros) 74989 83717 11,6
Exp Mar / Exp CN % 4,9 4,9
Imp Mar (milhões de euros) 2512 2555 1,7
Imp CN (milhões de euros) 72849 81739 12,2
Imp Mar / Imp CN % 3,4 3,1
Saldo Com Mar (milhões de euros) 1180 1545 30,9
Saldo Com CN (milhões de euros) 2140 1987 -7,1
Saldo com Mar / Saldo Com CN % 55,1 77,8 41,0
Fonte: CSM, 2020

80
A tabela 6.6 apresenta a importância relativa de cada um dos 9 agrupamentos da economia do Mar
organizados na CSM no total da economia do Mar, de acordo com os indicadores nº de Empresas, VAB e
Emprego. Merecem destaque a nível nacional, pela relevância nos indicadores considerados, o agrupamento
Recreio, Desporto, Cultura e Turismo e o agrupamento Pesca, Aquacultura, Transformação e Comercialização
de Pescado, seguidos a alguma distância pelos agrupamentos Serviços Marítimos e Portos, Transportes e
Logística. Merece ainda referência o facto de, pela 1ª vez, haver referência estatística, na CSM, ao
agrupamento Novos Usos do Mar que, apesar de apresentar posição marginal relativamente aos demais
agrupamentos, sinaliza a sua emergência e potencial de desenvolvimento.

Tabela 6.9_Economia do Mar por agrupamento


VAB
Nº de Emprego
% (milhões de % %
empresas (ETC)
euros)
Pesca, Aquacultura, Transformação e Comercialização 8531 16,2 1667 25,1 61595 33,8
Recursos Marinhos não Vivos 115 0,2 57 0,9 1635 0,9
Portos Transporte e Logística 1052 2,0 707 10,6 12307 6,8
Recreio, Desporto, Cultura e Turismo 39487 75,1 2860 43,1 72147 39,6
Construção, Manutenção e Reparação Naval 411 0,8 156 2,3 4869 2,7
Equipamento Marítimo 422 0,8 206 3,1 6636 3,6
Infraestruturas e Obras Marítimas 738 1,4 270 4,1 6203 3,4
Serviços Marítimos 1755 3,3 711 10,7 16265 8,9
Novos Usos do Mar 81 0,2 8 0,1 340 0,2
CS Mar 52592 100,0 6642 100,0 181997 100,0
Economia Nacional 169700
CSM/ Economia Nacional 3,9
Fonte: CSM, 2020

A análise da Economia do Mar por NUT 1 evidencia, conforme pode ser verificado na tabela seguinte, a
grande importância do Continente no total nacional para os indicadores VAB e Emprego, em ambos os casos
a rondar os 90%. A RAM aparece em segundo lugar nos mesmos indicadores com valores de 6,8% e 5,9% em
termos de VAB e de Emprego, respetivamente, claramente acima dos valores registados pela Região
Autónoma dos Açores (RAA). Numa análise diacrónica regista-se, uma dinâmica mais forte de crescimento
das Regiões Autónomas em relação ao Continente, especialmente da RAM que, entre 2016 e 2017, verificou
um crescimento do VAB de 18,3% e do Emprego de 12,8%, claramente superiores aos crescimentos
registados pelo Continente (9,5% e 7,9% respetivamente) e pelo nível nacional.

Tabela 6.10_Economia do Mar VAB e Emprego Nacional por NUT 1


VAB (un: milhões euros) Emprego (ETC)
2016 % 2017 % Variação 2016 % 2017 % Variação
Continente 5436 89,7 5952 89,0 9,5 157215 90,0 169622 89,6 7,9
RAM 383 6,3 453 6,8 18,3 9868 5,6 11135 5,9 12,8
RAA 240 4,0 283 4,2 17,9 7672 4,4 8479 4,5 10,5
Total 6059 100,0 6688 100 10,4 174755 100 189236 100 8,3
Fonte: CSM, 2020

De acordo com a mesma fonte (CSM) o VAB da economia do Mar nos respetivos VAB regionais da RAM e da
RAA apresenta valores mais expressivos do que os registados para o País: o VAB da EM representou 7,5% na
RAA e 10,3% na RAM. Na RAM verificou-se um claro predomínio das atividades favorecidas pela proximidade
do mar, ou seja, atividades associadas ao turismo costeiro, conforme se detalha no ponto seguinte.

81
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

6.3.2 Principais atividades da economia do Mar na RAM

A maioria das atividades económicas anteriormente referidas a nível nacional estão presentes na RAM,
embora com representações diferenciadas. Podem sistematizar-se em três grandes grupos: Atividades
consolidadas em termos empresariais e de mercado, como é o caso do turismo de cruzeiros e náutica de
recreio, o turismo e o desporto; atividades que ainda se encontram numa fase embrionária, como é o caso
da aquicultura e da biotecnologia; atividades que se encontram estagnadas, como é o caso da construção e
reparação naval (Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional – Vol IV, 2019). A tabela seguinte apresenta os
principais agrupamentos de atividades presentes na Região segundo o VAB.

Tabela 6.11_RAM: Distribuição do VAB por Agrupamento (2016-17)


Agrupamento %
Recreio, Desporto, Cultura e Turismo 76,9
Portos, Transportes e Logística 10,3
Pesca e Aquacultura 8,9
Outros 3,9
TOTAL 100
Fonte: CSM, 2020

O agrupamento mais importante é o de Recreio, Desporto, Cultura e Turismo, responsável pela geração de
quase 77% do VAB da economia do Mar da Região, claramente acima do verificado a nível nacional (43,1%),
refletindo o peso do setor do turismo na economia da Região. Engloba a atividade marítima de recreio e de
desporto, a cultura de vertente marítima e o turismo marítimo e costeiro, incluindo as atividades marítimo-
turísticas que operam na água. A Região apresenta condições geográficas e amenidade climática que
favorecem o desenvolvimento destas atividades ao longo do ano. De entre as várias atividades destacam-se
a Náutica de Recreio e o Turismo Náutico e especialmente a atividade de Cruzeiros que, antes da pandemia,
verificava índices de crescimento significativos, sendo o porto do Funchal (539 192 cruzeiristas e 208 escalas),
juntamente com o porto de Lisboa, os principais portos nacionais, em plano destacado, em termos de nº de
escalas e de passageiros. A RAM beneficia de uma posição geoestratégica privilegiada entre o Mediterrâneo,
o Norte de África e o arquipélago das Canárias e está no cruzamento das rotas de ligação entre os continentes
Europeu e Americano. Neste agrupamento referência também para as atividades de natação em águas
abertas, caça submarina, atividades de desporto de onda e de prancha (surf, bodyboard, kitesurf, stand up
paddle e o windsurf), canoagem, pesca desportiva, vela e triatlo.

O agrupamento Portos, Transportes e Logística é, obviamente, um agrupamento de importância primacial


para uma região insular e ultraperiférica. Grande parte dos abastecimentos da Região e as suas exportações
dependem do transporte marítimo o que dá grande significado a esta fileira. O agrupamento inclui o ramo
dos transportes marítimos de passageiros e de mercadorias, as atividades auxiliares dos transportes por água
e o aluguer de meios de transporte marítimo e fluvial, os portos e a atividade logística. Os principais portos
da Região são o porto do Funchal, que após a reestruturação do sistema portuário passou a ser dedicado
exclusivamente a porto turístico e o porto do Caniçal onde passou a estar concentrada toda a atividade de
carga.

A evolução do volume de carga movimentada nos portos da RAM conheceu dois períodos distintos: até 2004,
ano que culminou um período de crescimento contínuo de carga movimentada em consequência do ciclo de
grandes obras realizadas na Região; após 2004, ano em que se inicia um período de redução progressiva do
volume de carga movimentada. O ano de 2016 regista, em relação a 2004, uma quebra de cerca 66% de carga
movimentada. O movimento global de navios registou a mesma tendência decrescente, entre os anos de
2002 e 2016 houve uma redução de cerca 40%. O movimento de contentores vem ganhando importância

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relativa, em 2016 representava 60 % da carga total movimentada, seguido dos granéis líquidos (21,5%), dos
granéis sólidos (10,3%) e dos inertes (6%).

Destaque ainda para o Registo Internacional de Navios da Madeira (RINM-MAR) que foi constituído com o
objetivo de atrair novos armadores e de garantir o cumprimento dos padrões de segurança dos navios. Este
registo tem verificado um aumento significativo de embarcações registadas, maioritariamente navios de
comércio. O RINM-MAR proporciona um regime fiscal atrativo para as embarcações e para as sociedades de
shipping devidamente licenciadas para operar no âmbito do Centro Internacional de Negócios da Madeira.
(Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional – Vol IV, 2019)

O agrupamento pesca, aquacultura, transformação e comercialização de pescado engloba as atividades da


pesca marítima, apanha de algas e de outros produtos do mar, aquacultura, preparação, conservação e
comercialização de peixe, crustáceos e moluscos e representa cerca de 9% do VAB da economia do Mar na
Região. Destas atividades, a principal geradora de volume de negócios foi a preparação e conservação de
peixes, crustáceos e moluscos que registou, em 2014, cerca de 29 218 137 euros (65,7%), seguida pela pesca,
principalmente tunídeos e peixe-espada preto (25,2%). Em termos dinâmicos este agrupamento registou
uma quebra no número de empresas (19%), pessoal ao serviço (33%) e volume de negócios (19%) durante o
período de crise económica, registando uma melhoria em 2014 em todos estes agregados. É um setor em
que predominam, sobretudo, empresas de pequena dimensão e com uma baixa qualificação profissional. A
frota piscatória regional é caracterizada pela existência de pequenas embarcações (Ordenamento do Espaço
Marítimo Nacional – Vol IV, 2019).

A aquicultura marinha apresenta um enorme potencial de desenvolvimento decorrente das excelentes


condições de temperatura média do mar, do grau de salinidade da água e da proteção da costa Sul da ilha. A
RAM dispõe de uma maternidade e de um centro de investigação - Centro de Maricultura da Calheta, tem
pessoal qualificado e conta com boas infraestruturas portuárias, boas acessibilidades terrestres e facilidade
de escoamento interno (Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional – Vol IV, 2019). A produção aquícola é
ainda modesta, em 2016, foi de 386 toneladas e originou um valor de 1 631 milhares de euros. O Plano de
Ordenamento para a Aquicultura Marinha da Região Autónoma da Madeira (POAMAR), elaborado de acordo
os princípios ecossistémicos recomendados pela FAO, estabelece áreas de expansão da atividade que
permitirão aumentar a produção regional, contribuindo dessa forma para substituir a importação de pescado
a nível nacional e para incrementar as exportações.

A indústria transformadora dos produtos da pesca e da aquicultura, encontra-se em estreita dependência da


atividade da pesca e da aquicultura. A indústria transformadora do pescado é maioritariamente constituída
por micro e pequenas empresas e está orientada, na sua quase totalidade, para a indústria de filetes, postas,
e lombos de peixe-espada e de tunídeos.

O agrupamento construção, manutenção e reparação naval compreende as atividades de construção de


embarcações e plataformas flutuantes, incluindo as embarcações de recreio e deporto, bem como as
atividades de reparação e manutenção de embarcações e o seu desmantelamento. Esta é uma atividade
residual e estagnada na RAM, desenvolvida por micro- empresas dedicadas, sobretudo, à reparação e
manutenção de embarcações.

Além destes agrupamentos principais merece ainda referência um conjunto de outros agrupamentos
presentes na Região, mas de menor importância, englobados na rubrica “Outros” do quadro 4. Seguindo a
classificação da CSM, são os seguintes:

▪ Infraestruturas e obras marítimas engloba as atividades relacionadas com obras de construção e de


expansão de terminais portuários e com a construção e reparação de portos e marinas, bem como
trabalhos de dragagem, de proteção e defesa das áreas costeiras e outras obras marítimas portuárias.
Das atividades presentes na Região merecem referência as seguintes: dragagens para
desassoreamento de canais de navegação nas entradas de portos e barras e respetiva imersão de

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

dragados em área própria; obras de defesa costeira para repor a estabilidade em determinados
troços de costa ou para proteção de áreas específicas no caso de o mar estar a invadir a parte
terrestre; instalação de infraestruturas como por exemplo cabos submarinos e elétricos, a Região é
um nó estratégico de ligação de cabos submarinos entre os continentes europeu, Americano e
Africano.

▪ Equipamento marítimo reúne atividades transversais de suporte às restantes atividades da


economia do mar consideradas na CSM. Este agrupamento heterogéneo dedica-se,
fundamentalmente, às atividades de produção, reparação e comércio de máquinas e equipamento
marítimo, bem como algumas atividades de construção de vertente marítima e atividades de
engenharia e formação profissional associadas ao domínio de equipamento marítimo;

▪ Serviços marítimos agrega as atividades relacionadas com o mar e que são transversais a todos os
outros agrupamentos, nomeadamente a educação, formação e I&D, atividades de governação (por
ex.: administração pública), assim como atividades de segurança marítima e ordenamento do espaço
marítimo, além de outras atividades de serviços que englobam serviços de informação e
comunicação marítimos, bem como atividades de comércio e distribuição relacionados com o mar.
Neste agrupamento merecem destaque as atividades de I&D ligadas ao Mar, nomeadamente no
contexto da Macaronésia, envolvendo as Canárias, os Açores e Cabo Verde e o seu alargamento a
outros países da costa africana como o Senegal e a Mauritânia. A criação, em 2014, do Observatório
Oceânico da Madeira (OOM), com valências nas áreas da avaliação e gestão dos recursos marinhos,
da biodiversidade, das pescas e maricultura, da deteção e seguimento remoto, da modelação e
previsão, constitui um polo relevante para reforçar a posição da RAM na área da investigação e
monitorização do oceano.
Finalmente uma referência à educação e à formação na área do Mar, nomeadamente à oferta
formativa do Instituto Profissional de Transportes e Logística da Madeira (IPTL) com cursos nas áreas
de construção naval, da aquacultura, da segurança e de salvamento.

▪ Recursos Marinhos Não Vivos compreende as atividades relacionadas com a pesquisa e exploração
de minerais marinhos e de recursos energéticos convencionais, como o petróleo e o gás natural.
Inclui ainda as atividades de extração e refinação de sal, bem como de dessalinização da água do
mar. No âmbito deste agrupamento merecem destaque na Região os recursos minerais metálicos,
nomeadamente os nódulos polimetálicos presentes na planície abissal da Madeira e nas zonas
adjacentes ao monte submarino Great Meteor. Existem outras áreas sob jurisdição portuguesa com
grande potencial, mas que ainda não foram estudadas. Os metais exploráveis são o Co, Ni, e Mn,
enquanto metais principais e Pt, Tl e Te, enquanto subprodutos e os locais prováveis para a sua
ocorrência são os montes submarinos a Sul dos Açores, incluindo a cadeia do Great Meteor e a Crista
Madeira Tore (EMEPC, 2014). Além dos recursos minerais metálicos merecem referência os recursos
minerais não metálicos como areia, cascalho, caulino, argila, gesso e sal-gema (Ordenamento do
Espaço Marítimo Nacional – Vol IV, 2019).

▪ Por fim os Novos usos e recursos do mar abrange o conjunto das atividades emergentes, como é o
caso das energias renováveis marinhas (eólica offshore, ondas, marés, correntes marítimas,
bioenergia), da pesquisa e exploração de recursos energéticos não convencionais (hidratos de
metano) e do armazenamento de gás. Inclui ainda a biotecnologia marinha, que poderá contribuir
para diversas funções, desde logo, a energética, através da produção de bioenergia a partir de algas
marinhas, mas também as funções saúde/bem-estar, biomateriais, alimentar e ambiente. Atendendo
à condição insular da região, tem sido seguida uma política energética com vista à redução a prazo
da dependência do exterior, através da exploração do potencial de fontes renováveis de energia
marinha, nomeadamente no que respeita à energia eólica offshore, à energia a partir das ondas e
das correntes oceânicas. Tem sido desenvolvido um conjunto de ações dirigidas, sobretudo, à
inventariação e avaliação dos recursos com base em modelação e medição de parâmetros críticos

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para a caracterização do potencial da energia eólica, energia das ondas e energia das correntes
marítimas (Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional – Vol IV, 2019).

6.3.3 Principais potenciais da economia do Mar na RAM

Portugal possui um conjunto de potenciais relacionados com o Mar relevantes para a promoção do
desenvolvimento sustentável e sustentado do País. A extensão da sua ZEE, os recursos biológicos e geológicos
existentes, a biodiversidade dos seus ecossistemas, a posição geoestratégica como interface da Europa com
outros continentes, a projeção Atlântica reforçada pelas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, a
presença de atividades económicas estabelecidas com significado no conjunto da economia nacional e o
potencial de conhecimento e de tecnologia aplicada, nomeadamente, a novos usos do Mar, são potenciais
que devem ser valorizados numa lógica de economia sustentável, circular e inclusiva, conforme a Visão
afirmada pela Estratégia Nacional para o Mar (2021-2030). Neste contexto o conhecimento científico será o
elemento motor da inovação para o crescimento económico e para a geração de emprego (Estratégia
Nacional para o Mar 2021-2030).

O desenvolvimento da economia do Mar deve obedecer aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das
Nações Unidas (especialmente ao seu objetivo 14) e enquadrar-se nas orientações do Pacto Ecológico
Europeu, nomeadamente no que respeita aos objetivos da descarbonização e transição energética, da
promoção da economia circular e da transição digital. Neste contexto geral, a RAM apresenta um conjunto
de potenciais que importa valorizar do ponto de vista do desenvolvimento económico e social da Região e
do País, salvaguardando as condições de sustentabilidade EGS (European Sustainability Governance) de
acordo com a taxonomia da EU em preparação. Esta taxonomia visa estabelecer uma linguagem comum e
clara sobre sustentabilidade através da definição de um corpo de critérios e de indicadores de acordo com
os 6 objetivos seguintes:

▪ Mitigação dos efeitos das alterações climáticas;


▪ Adaptação às alterações climáticas;
▪ Uso sustentável e proteção da água e dos recursos marinhos;
▪ Transição para uma economia circular;
▪ Controle e prevenção da poluição;
▪ Proteção e restauro da biodiversidade e dos ecossistemas.

Os principais potenciais da RAM a valorizar na área da economia do Mar, com relevância a nível nacional e
internacional situam-se nos domínios seguintes:

▪ Turismo marítimo, incluindo o turismo náutico e de cruzeiros;


▪ Aquacultura;
▪ Exploração dos recursos marinhos, vivos e não vivos, através das biotecnologias marinhas e da
exploração de recursos geológicos do solo marinho.

Evidentemente que além destas atividades há um conjunto de outras atividades a nível regional que são
fundamentais para o funcionamento de uma economia insular e que apresentam potencial de crescimento
como é o caso dos transportes marítimos, da pesca, dos serviços marítimos, entre outros. Entre as diferentes
atividades enumeradas é necessário compatibilizar interesses e usos de forma a minimizar o potencial de
conflito existente entre elas. As situações de conflitualidade de uso e as pressões que o seu desenvolvimento
coloca sobre as zonas costeiras da Região deve merecer ponderação de forma a garantir os equilíbrios sociais
e ambientais que importa salvaguardar.

Dos três domínios anteriormente mencionados consideramos que o da aquacultura é o que reúne condições
para, no curto e médio prazo, produzir um impulso na economia da Região, com impacto direto no

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

crescimento económico, no emprego e nas exportações e servir de alavanca de desenvolvimento de outros


setores. Portugal atingiu, em 2018, a produção em aquacultura de peixes e de bivalves de cerca 14 mil
toneladas (INE, DGRM), em 2016 a produção na RAM foi de apenas 386 toneladas. Estes valores são
claramente insuficientes face às necessidades do País em pescado para consumo e transformação, o que está
na origem de um volume significativo de importações e de um défice da balança comercial de pesca e
aquacultura. O aumento da produção nacional pode substituir importações e nalguns casos promover o
aumento de exportações.

A RAM apresenta condições muito favoráveis do ponto de vista da I&D, da temperatura da água, da
salinidade e da proteção da sua costa a sul para atrair investimento e incrementar a piscicultura,
especialmente de espécies de maior valor acrescentado, casos do lírio e da dourada. A capacidade total de
produção das áreas consignadas no POAMAR é muito significativa e poderá representar cerca de 15,6 mil
toneladas de peixe por ano, com possibilidade de expansão (Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional –
Vol IV, 2019), quantidade que supera, como vimos, a produção nacional em 2018. Um dos problemas que se
tem colocado ao desenvolvimento da piscicultura na Região é o conflito com outros usos, nomeadamente
com o setor do turismo (por problemas de intrusão visual) e, em certa medida, com a pesca. A conflitualidade
com o setor do turismo poderá ser ultrapassada através de modelos de produção assentes em novas
tecnologias (biosensores, robótica, ciência de dados, modelação, materiais, conetividade) que permitem a
submersão das jaulas e a evolução para produções automatizadas e controladas, eventualmente em espaços
mais distantes da costa, resolvendo, nos casos em que a situação se justificar, os problemas de intrusão
visual.

O escalar da piscicultura na Região terá um efeito de arrastamento noutros setores de atividade que integram
a respetiva cadeia de valor, nomeadamente os setores da construção, manutenção e reparação naval
(fornecedor de embarcações e de serviços de manutenção e reparação dos equipamentos), da transformação
de pescado (novos produtos), dos serviços marítimos (seguros, serviços financeiros, I&D, formação), dos
transportes marítimos, da produção de energias renováveis marinhas (para fornecimento de energia às
atividades em offshore) entre outros. O desenvolvimento do setor criará também novos empregos em
atividades ligadas à produção e à transformação do pescado que, nalguns casos, poderão ser ocupados por
ativos com forte ligação ao mar, nomeadamente pescadores.

O setor do Turismo e particularmente o turismo náutico e o turismo de cruzeiros, atividades fortemente


afetadas pela crise pandémica, tenderão a retomar desde que seja resolvida a situação sanitária e que seja
recuperada a confiança dos consumidores. De qualquer forma haverá que adaptar os produtos a novas
condições de procura, nomeadamente no que se refere á garantia das condições de sustentabilidade
ambiental e sanitária exigidas pelo novo contexto. Haverá, provavelmente, uma evolução no sentido da
diferenciação e da gama dos produtos em detrimento de soluções de escala. A Região apresenta ótimas
condições para a inovação, valorizando abordagens mais ecológicas e produtos mais centrados nas
dimensões ambiental e cultural, em linha com os grandes objetivos da Estratégia Turismo 2027, que
estabelece o turismo náutico como uma das áreas prioritárias de atuação e afirmação através de:

▪ “Reforço do posicionamento de Portugal como um destino de surf de referência internacional, e de


atividades náuticas, desportivas e de lazer associadas ao mar, em toda a costa;
▪ Dinamização e valorização de infraestruturas, equipamentos e serviços de apoio ao turismo náutico,
nomeadamente, portos, marinas e centros náuticos;
▪ Atividades náuticas de usufruto do mar ligadas ao mergulho, vela, canoagem, observação de
cetáceos e aves marinhas, pesca;
▪ Passeios marítimo-turísticos e atividades de praia, que integrem a sustentabilidade na cultura náutica
do mar;
▪ Dinamização de “rotas de experiências” e ofertas turísticas em torno do mar e das atividades
náuticas;
▪ Ações de valorização do litoral, incluindo a requalificação das marginais e valorização das praias;

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▪ Projetos de turismo de saúde e bem-estar associado às propriedades terapêuticas do mar;
▪ Valorização dos produtos do mar associados à dieta mediterrânica”.

Neste contexto a criação de Estações Náuticas pode constituir uma forma de valorização e enriquecimento
do produto de turismo náutico na Região. Estação Náutica “é uma rede de oferta turística náutica de
qualidade, organizada a partir da valorização integrada dos recursos náuticos presentes num território, que
inclui a oferta de alojamento, restauração, atividades náuticas e outras atividades e serviços relevantes para
a atração de turistas e outros utilizadores, acrescentando valor e criando experiências diversificadas e
integradas” (http://www.forumoceano.pt -Estações Náuticas de Portugal).

No que diz respeito à exploração dos Recursos Marinhos Vivos e Não Vivos abre-se também um campo de
desenvolvimento, a médio e longo prazos, para a RAM: no que respeita à exploração dos recursos marinhos
vivos, a valorização de microrganismos para o desenvolvimento de novos produtos com aplicação nas áreas
da cosmética, da saúde, da nutracêutica, do ambiente (biorremediação), entre outros; no caso dos recursos
marinhos não vivos, o potencial de valorização, a longo prazo, dos nódulos polimetálicos presentes na
planície abissal da Madeira e zonas adjacentes, começando pelo seu mapeamento e avaliação e pela criação
das condições tecnológicas e logísticas indispensáveis à sua exploração.

Destaque ainda para o papel que a Região pode desempenhar, através do OOM, na observação do Oceano e
das suas relações com o espaço, na recolha e tratamento de dados e na construção de modelos preditivos
com amplo campo de aplicação.

Finalmente merecem referência, pela sua importância para o desenvolvimento da economia do mar na
Região, dois domínios transversais de suporte aos diferentes setores presentes, os seguintes:

▪ O desenvolvimento de serviços digitais de apoio à transição digital de empresas e dos serviços da


Administração Regional, condição chave para a competitividade da Região; setores como a
piscicultura, o turismo, o setor portuário e logística, entre outros, são beneficiários relevantes dos
processos de digitalização;

▪ A criação de hubs de inovação e de aceleração de empresas de forma a contribuir para o


enriquecimento e qualificação do tecido empresarial da Região, capazes de atrair o interesse de
fundos de investimento disponíveis em apoiar novas atividades e empresas da economia do Mar.

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
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7. ACESSIBILIDADES

A propósito do sistema de acessibilidades na ilha da Madeira, importa ter em consideração o Plano Integrado
e Estratégico dos Transportes da Região Autónoma da Madeira 2014-2020, adiante designado por PIETRAM,
com incidência sobre as várias modalidades de transporte – marítimo, terrestre e aéreo.

Este Plano visa dotar a RAM de um instrumento estratégico que permitirá sustentar a tomada de decisões
em matéria de transportes e criar as condições necessárias para operacionalizar os Fundos Europeus
Estruturais 2014-2020. Neste contexto, o PIETRAM assume a seguinte visão para o sistema de transportes da
RAM em 2020:

Um sistema de transportes que garante, de forma económica e ambientalmente eficiente, as necessidades


de deslocação de pessoas e mercadorias a diferentes escalas, contribuindo para mitigar os efeitos da
insularidade e reforçar a integração da região nas dinâmicas económicas do espaço europeu, para o
ordenamento do território e estruturação da rede urbana regional e para promover a competitividade
económica, a coesão territorial e equidade social.

Constituem objetivos gerais do PIETRAM:

I. Melhorar as acessibilidades externas da RAM;

II. Melhorar as condições de mobilidade intrarregional de pessoas e mercadorias;

III. Garantir a adequação do sistema de transportes às necessidades de mobilidade urbana;

IV. Melhorar a eficiência energética e ambiental e a segurança no setor dos transportes;

V. Promover a melhoria do sistema de governância do setor dos transportes.

A cada objetivo estão associadas linhas estratégicas de intervenção e que se traduzem em ações tendentes
a alcançar a visão estabelecida, tais como:

▪ a melhoria das condições dos portos,


▪ a promoção de estratégias de desenvolvimento das infraestruturas de transporte na RAM,
▪ o incentivo a parcerias entre o gestor de infraestruturas aeroportuárias e os operadores turísticos;
▪ entre outros.

Os fluxos de entrada e saída da ilha fazem-se por barco ou avião, existindo ligações diárias por barco à ilha
do Porto Santo, nomeadamente a partir do Porto do Funchal. Relativamente às ligações aéreas existem
ligações regulares (diárias) à Ilha do Porto Santo e a Lisboa assim como a ligação a Ponta Delgada, com
frequência, no mínimo, semanal. Para além destas existem algumas ligações a outras cidades da Europa
Central, como por exemplo de Inglaterra, França e Alemanha, mas também a Espanha e ainda a Caracas,
embora esta última de carácter sazonal.

Ao nível das acessibilidades internas as principais vulnerabilidades estão associadas à falta de ligação da rede
regional a todos os concelhos, designadamente na costa norte da ilha, onde as infraestruturas rodoviárias
existentes apresentam perfis transversais reduzidos e traçado sinuoso, dificultando a acessibilidade.

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7.1. Infraestruturas rodoviárias

De acordo com o estatuto e regime jurídico das vias públicas de comunicação terrestre da Região Autónoma
da Madeira, definido pelo Decreto Legislativo Regional n.º 32/2017/M de 15 de setembro, a rede viária na
RAM integra as seguintes categorias:

▪ Rede regional, distinguindo estradas regionais principais e estradas regionais complementares;


▪ Rede municipal, subdividida em: estradas municipais principais, estradas municipais secundárias e
caminhos municipais – sem prejuízo dos municípios definirem subcategorias em cada uma das
categorias anteriores;
▪ Rede florestal, constituída por caminhos florestais principais, caminhos florestais secundários e
estradões florestais;
▪ Rede agrícola, constituída por caminhos agrícolas principais e caminhos agrícolas secundários – sem
prejuízo dos municípios poderem introduzir subcategorias em cada uma das categorias anteriores.

A rede regional subdivide-se em:

▪ Estradas regionais principais – as vias de comunicação terrestre de maior interesse regional, e


asseguram as ligações entre sedes de concelho e/ou conexão com principais centros de atividade
económica, formando uma rede viária estruturante;
▪ Estradas regionais complementares - vias que estabelecem as ligações entre as estradas regionais
principais e os núcleos populacionais mais importantes e complementam a estrutura principal.

Na ilha da Madeira, na rede principal destaca-se a ER101 – Litoral da Ilha da Madeira com um total de
138,3km de extensão, que atravessa todos os concelhos (Ribeira Brava - Câmara de Lobos - Funchal - Caniço
- Santa Cruz - Machico - Porto da Cruz - Faial - Santana - São Vicente - Porto Moniz - Ponta do Pargo - Calheta
- Ponta do Sol - Ribeira Brava) e é constituída por vários troços com classificações funcionais diferentes (via
rápida, via expresso e via regular), alguns deles em construção ou ainda em fase de projeto (veja-se figura
seguinte).

Figura 7.1_Hierarquização da rede rodoviária regional na ilha da Madeira

Fonte: Direção Regional de Estradas, 2016

90
Ao nível dos tempos de deslocação a existência desta via constitui uma influência decisiva que ajuda a
estabelecer um “padrão” segundo o qual a zona oeste da ilha (com especial destaque para o concelho de
Porto Moniz) é que regista maiores tempos de deslocação, quer para o aeroporto, quer para o Funchal, quer
para o Porto do Caniçal.

A rede regional na área de estudo do POCMAD, com base na informação vetorial disponibilizada pela Direção
Regional de Estradas, totaliza 292,9 km de extensão, nomeadamente:

▪ Estradas regionais principais, com 140,4km de extensão – sendo 116,8km correspondentes à ER 101
atrás referida – e destacando ainda, entre outras:
o ER106, a que corresponde a via rápida de ligação Machico-Caniçal;
o ER116, acesso ao porto do Funchal;
▪ Estradas regionais complementares, com 158,7 km de extensão, asseguram as ligações entre as
estradas regionais principais e os núcleos populacionais, sendo particularmente relevantes nas zonas
onde existem troços da rede principal (via expresso) ainda está em construção ou onde são a única
acessibilidade rodoviária, tais como:
o ER 211: Santana – São Vicente
o ER 222: Ponta do Pargo – Ribeira das Faias – Raposeira
o ER 223: Fajã da Ovelha – Estreito da Calheta

A ilha da Madeira tem sido alvo de investimentos significativos na criação de novas acessibilidades
rodoviárias. Estes melhoramentos, para além de terem permitido encurtar os tempos de deslocação (em
alguns casos de forma muito significativa), permitiram ainda tornar as deslocações por parte da população
mais seguras.

Não obstante os investimentos feitos, ainda persistem algumas carências ao nível da acessibilidade
rodoviária, sobretudo por via de traçados muito sinuosos, em especial na zona norte (entre os concelhos de
Santana e São Vicente) e na zona oeste (entre os concelhos de Porto Moniz e Calheta).

A rede rodoviária representada na cartografia de base do POCMAD teve como critérios a integração dos
traçados disponibilizados pela Direção Regional de Ordenamento do Território (DROTe) à escala 1:25000
(com exceção da rede regional) e com a atualização de algumas vias com base na fotointerpretação dos
ortofotomapas de 2018.

Nesse sentido, relativamente à rede municipal, optou-se por designar por Estradas e Caminhos Municipais
as vias asfaltadas que não estão integradas na rede regional e que asseguram o acesso entre esta e os núcleos
urbanos, bem como os acessos ao litoral. As restantes vias foram designadas “outros caminhos”, integrando-
se aqui os caminhos agrícolas, uma vez que, de acordo com a legislação, a responsabilidade pela classificação
e gestão da rede agrícola é igualmente dos municípios.

Assim, na área de estudo do POCMAD, a rede municipal totaliza 2.188 km, remetendo a identificação da rede
agrícola para os respetivos planos diretores municipais.

Por sua vez, a rede florestal constitui-se como a rede de infraestruturas rodoviárias que asseguram o acesso
e circulação dentro dos perímetros florestais submetidos ao regime florestal, áreas florestais sob gestão
pública e explorações florestais, com a função de permitirem a exploração e proteção dos recursos florestais
e o aproveitamento de outros recursos naturais associados à floresta. A identificação, classificação e gestão
da rede florestal é da responsabilidade da Secretaria Regional do Ambiente, Recursos Naturais e Alterações
Climáticas.

Importa ainda fazer referência aos percursos terrestres recomendados. Na ilha da Madeira existem 30
percursos pedestres, segundo informação disponibilizada pelo IFCN, IP – RAM, estando apenas 7 abrangidos
pela área de estudo do POCMAD, nomeadamente:

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FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

▪ PR5 – Vereda das Fonduras (apenas parcialmente), no município de Machico;


▪ PR7 – Levada do Moinho (apenas parcialmente), no município de Porto Moniz;
▪ PR8 – Vereda da Ponta de São Lourenço, no município de Machico;
▪ PR15 – Vereda da Ribeira da Janela, no município de Porto Moniz;
▪ PR19 – Caminho Real do Paul do Mar, no município da Calheta;
▪ PR20 – Vereda do Jardim do Mar, no município da Calheta;
▪ PR23 – Levada da Azenha, no município de Santa Cruz.

Figura 7.2_Hierarquização da rede rodoviária regional na Ilha da Madeira

Fonte: IFCN, IP – RAM.

No que respeita ao sistema de transportes públicos coletivos, na ilha da Madeira existem 5 operadores de
transporte público coletivo rodoviário de passageiros (TPR) – Horários do Funchal (o único a operar serviços
urbanos), Companhia de Carros de S. Gonçalo, Empresa de Automóveis do Caniço, Sociedade de Automóveis
da Madeira (SAM) e a Rodoeste-Transportadora Rodoviária da Madeira (ambos dedicados ao transporte
interurbano) – assegurando no total 125 carreiras, 57 das quais pelos Horários do Funchal.

Por outro lado, os táxis configuram também um modo importante para algumas deslocações,
nomeadamente turistas e viagens de negócios, pela flexibilidade de percursos e disponibilidade.
Desempenha ainda uma importante função social assegurando em muitas circunstâncias deslocações com
caráter de urgência, sobretudo em áreas rurais.

92
O transporte escolar é assegurado por serviços regulares de TPR, por serviços contratados ou por veículos
das respetivas autarquias, sendo em alguns municípios assegurado por táxis.

7.2. Infraestruturas portuárias

A APRAM, S.A. - Administração dos Portos da Região Autónoma da Madeira S.A., mais conhecida como Portos
da Madeira, é a entidade responsável pela administração e jurisdição da maior parte das áreas portuárias
cujo capital é integralmente público. Tem como objetivo assegurar “a administração dos portos, terminais,
cais e marinas da RAM sob a jurisdição portuária, visando a sua exploração económica, planeamento,
construção, conservação e desenvolvimento, abrangendo o exercício das competências e prerrogativas de
autoridade portuária que lhe estejam ou venham a estar cometidas”.

O Decreto Legislativo Regional n.º 25/2003/M alterou o Decreto Legislativo Regional n.º 19/99/M,
redefinindo a área de jurisdição da APRAM, S. A., definindo limites através de coordenadas geográficas para
as seguintes 16 infraestruturas portuárias na ilha da Madeira (para além do porto do Porto Santo que não
integra o presente POC):

▪ Porto do Funchal;
▪ Porto do Caniçal;
▪ Terminal Marítimo do Porto Novo;
▪ Cais de Machico;
▪ Cais de Câmara de Lobos;
▪ Cais da Ribeira Brava;
▪ Cais da Calheta;
▪ Porto do Porto Moniz;
▪ Terminal da Praia Formosa;
▪ Terminal dos Socorridos;
▪ Cais da Ponta do Sol e Lugar de Baixo;
▪ Cais de Santa Cruz;
▪ Cais da Madalena do Mar;
▪ Cais do Seixal;
▪ Cais do Porto da Cruz;
▪ Cais do Paul do Mar.

Os portos principais da ilha da Madeira são os portos do Funchal e do Caniçal (figura 7.3). Para além das 16
infraestruturas portuárias já referidas, na ilha da Madeira existem ainda diversas infraestruturas costeiras
secundárias que proporcionam o acesso ao mar em condições de segurança diversas. Trata-se
essencialmente de rampas, cais, pontões que têm apoiado o desenvolvimento de atividades de pesca local,
marítimo-turística e balnear ou que têm algum potencial para servir essas atividades.
Em alguns casos estas infraestruturas encontram-se em deficiente estado de conservação, pelo que
necessitam de intervenções significativas ao nível de reparação ou de manutenção. Estas infraestruturas
estão sob a gestão de entidades públicas ou privadas.

O Porto do Funchal é a principal infraestrutura portuária da ilha da Madeira. Localiza-se na enseada do


Funchal que é limitada a W pela ponta da Cruz e a E pela ponta do Garajau, abrangendo um plano de água
virado para S, com o comprimento de 5 milhas e uma largura inferior a 1 milha.

93
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 7.3_Localização dos portos principais da RAM

Fonte: PSOEM – Madeira

A decisão em dotar o Porto do Caniçal das infraestruturas necessárias, para que este se especializasse na
movimentação de carga contentorizada e a granel, retirou do Porto do Funchal estes serviços portuários.

O Porto do Funchal, que até então havia desempenhado o papel de maior porto comercial do Arquipélago
da Madeira, ficou com valências dedicadas a navios de cruzeiro, navegação de recreio, turismo e com um
pequeno núcleo de pesca. Foi superado o problema do excessivo tráfego marítimo e terrestre, desafogou-se
a baía do Funchal de navios de carga e de todo o equipamento responsável pelos impactos negativos que
este tipo de atividade envolve e libertaram-se terraplenos numa área nobre da cidade.

O quebramar ou molhe da Pontinha protege o plano de água do Porto do funchal é do tipo quebramar misto.
Tem um comprimento total de 1 080 m (766 m para o exterior do ilhéu da Pontinha) e uma profundidade
máxima na cabeça da ordem dos -20,0 m ao ZH. O molhe tem uma plataforma à cota +5,1 m (ZH), na
extremidade do cais, uma largura de 40 metros e dispõe de um muro deflector à cota +11,0 m (ZH).

O manto resistente do molhe (do lado do mar), em talude, é constituído por duas camadas de blocos de
betão denominados tetrápodes com 25 t de peso, coroamento à cota +6,3 m (ZH) e fundação à cota -9,0 m
(ZH). Em 2020 foi efetuado o reperfilamento do manto de proteção do molhe da Pontinha, com 1400 novos
tetrápodes de 25 t. Não se efetuava uma intervenção neste manto há 27 anos. No tardoz do molhe de abrigo
(do lado da baía) o cais acostável tem fundos abaixo da cota -10,5 m (ZH) e um comprimento de 922 metros.

O porto do Funchal dispõe das seguintes infraestruturas de acostagem:

▪ CAIS 1 e Rampa RO-RO) (150 m de frente acostável, funciona como terminal de ligações marítimas
regionais;
▪ CAIS 2 (425 m, destina-se à acostagem de navios de cruzeiro, navios de guerra e mega-iates;
▪ CAIS 3 (destina-se à acostagem de navios de cruzeiro, comprimento: 347,0 m);

94
▪ CAIS 4 (pequena doca, limitada a sul por uma ponte-cais, destinada a apoiar a frota de pesca local,
dando acesso ao Entreposto de Frio e à Lota do Funchal. O lado sul da ponte-cais com 65 m que
limita a doca é destinada à atracação dos navios da Marinha);
▪ CAIS 5 (receção de embarcações de serviço do porto e de embarcações de pesca. Este cais possui 95
m);
▪ CAIS 6 (navios de cruzeiro, comprimento 260 m. No terrapleno adjacente existe uma unidade
hoteleira;
▪ CAIS 7 (delimita exteriormente uma doca de recreio tem 137 m de extensão;
▪ CAIS 8 (localizado na zona norte é o cais mais recente. Destina-se a navios de cruzeiro. Tem um
comprimento de 330,0 m. Está exposto à agitação marítima para rumos entre os quadrantes sul e
oeste já que não beneficia da proteção proporcionada pelo quebramar.

A Marina do Funchal situa-se a oeste do Cais da Cidade. Tem uma capacidade 210 embarcações de recreio,
amarradas em pontões e passadiços flutuantes. Na marina existe a possibilidade de abastecimento de água
e de eletricidade. A Marina do Funchal dispõe de infraestruturas de apoio à navegação de recreio, tais como
balneários, telefones e lavandaria. Em redor da Marina existem ainda restaurantes, bares, lojas dedicadas à
náutica de recreio, um pequeno supermercado de apoio, entre outros equipamentos de natureza turística.
A estrutura de proteção é um quebramar de estrutura mista (Molhe / cais), com 160 m de extensão

A doca destinada às atividades marítimo-turísticas, inserida no porto do Funchal e adjacente à marina, dispõe
de condições de acostagem à base de pontões e fingers flutuantes.

A Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Europeus da RAM lançou em 2017 um Concurso Limitado
por Prévia Qualificação de prestação de serviços para a "Implementação de sistema de alerta de aluviões na
RAM - Estudo do leque aluvionar da baía do Funchal" com quatro objetivos. A prestação de serviços engloba
seis componentes: Modelação numérica da hidrodinâmica e da morfodinâmica da baía do Funchal no
intradorso do Molhe da Pontinha; Caracterização e modelação numérica da agitação marítima da baía do
Funchal, à entrada e no interior da área de operação portuária; Modelação física e tridimensional das
infraestruturas e área de operação portuária; Avaliação do custo da implementação de soluções para
melhoria da operacionalidade do porto do Funchal; Estabelecimento de programas de monitorização da
integridade estrutural das infraestruturas marítimas, da batimetria e da agitação marítima no intradorso do
molhe da Pontinha; Formação.

A APRAM lançou em 2018 um Concurso Limitado por Prévia Qualificação para a “Elaboração dos Projetos
para o Prolongamento do Molhe-Cais Exterior (Molhe da Pontinha) e Cais 8 do Porto do Funchal.

O Porto do Caniçal é o porto comercial responsável pela movimentação de cargas que abastecem a Ilha da
Madeira: carga contentorizada, carga geral, granéis sólidos e líquidos. A envolvente do porto é uma
importante plataforma logística para a região, abrigando diversos serviços e indústrias.

O molhe /cais principal tem um comprimento de cerca de 800 m. Inicia-se com fundos de -15 m ZH e a cabeça
está fundada a -30 m ZH. É um quebramar construído em caixões celulares de betão armado. A extensão de
150 m, curvilínea, do enraizamento é constituída por um manto exterior de proteção em blocos de betão
"antifer" de 20 t. A parte interior do molhe beneficiando da sua construção em caixões é acostável
constituindo o terminal de granéis do Porto do Caniçal. O contra-molhe é uma estrutura do tipo vertical. Tem
um comprimento de 183 m.

O Porto do Caniçal dispõe das seguintes infraestruturas de acostagem:

▪ Cais 1 ou terminais de granéis e Ro/Ro, localizado no intradorso do quebramar / molhe de abrigo,


inclui uma rampa Ro/Ro com cerca de 30 m de largura e destina-se a servir o tráfego de granéis, com
exceção dos combustíveis e Ro/Ro;

95
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

▪ Cais 2 ou terminal polivalente. Sendo o principal objetivo do porto a movimentação de contentores,


possui um cais de descarga/carga com cerca de 420 m de comprimento, dos quais 280 m ficam
adjacentes ao parque em terrapleno. Este parque tem aproximadamente 40 000 m2 de área;
▪ Cais para embarcações de pesca, 135 m de extensão e uma extensão adicional de 55 m. Existem
edifícios e uma área de aparcamento com cerca de 9 000 m2, dotada de uma rampa e de um travelift.
Área de plano de água com cerca de 2 700 m2 destinada a albergar pequenas embarcações;
▪ Estaleiro naval, área de cerca de 26 000 m2, dotado de um sistema syncrolift para o posicionamento,
varagem e lançamento de embarcações;
▪ Terminal de combustíveis do Caniçal localizado a Leste do porto do Caniçal. Constituído por 4 boias
de amarração Associado ao terminal existe um parque de armazenagem de combustível localizado
na Zona Franca Industrial da Madeira. Este terminal encontra-se vocacionado para a receção de
produtos petrolíferos.

O cais do Porto Novo destina-se à descarga de inertes, nomeadamente areias para a construção civil.
Pescadores lúdicos também utilizam este cais.

O cais / molhe de Machico é um cais de acostagem com duas extensões não alinhadas num total de cerca
de 185 m de comprimento. Abriga um plano de água com cerca de 15.000 m2 de área. Existe uma rampa
varadouro e um núcleo de recreio e para pesca artesanal com dois pontões flutuantes. A poente do núcleo
de recreio existe um pequeno esporão que conjuntamente com outro esporão mais extenso (150 m)
delimitam uma praia arenosa com cerca de 100 m.

O cais de Câmara de Lobos é um pequeno cais destinado às embarcações de pesca e às embarcações


marítimo-turísticas e recreio. Tem um comprimento de acostagem de 45 m e está associado a uma pequena
plataforma. A proteção em relação à agitação marítima é proporcionada por um alinhamento de formações
rochosas alinhadas. As pequenas embarcações de pesca ficam frequentemente varadas numa plataforma
adjacente à praia de calhau, dotada de uma rampa. A poente existe uma estrutura aderente de proteção
costeira da via marginal com mais de uma centena de metros constituída por enrocamentos e cubos antifer.

O cais da Ribeira Brava é um cais acostável com cerca de 120 m de comprimento, em duas extensões (80 m
e 40 m) quase perpendiculares entre si. Possui um terrapleno com cerca de 1 600 m2 destinado ao
parqueamento de embarcações de pesca e marítimo-turísticas e ainda às operações de apoio à aquacultura.
O acesso é feito através de um túnel onde frequentemente se verificam quedas de blocos e detritos. O manto
exterior é constituído por blocos antifer que se prolonga em mais 215 m para poente constituindo-se em
esporão de taludes de proteção a sul da praia da Ribeira Brava.

Cais da Calheta. O que existe atualmente na frente de mar Calheta é um complexo de estruturas costeiras
que possibilitam a existência de uma marina (entre molhes / cais) e de duas praias (encaixadas em esporões).
A Marina da Calheta (2003-2005), com capacidade para 339 embarcações e 44 motas de água, tem uma bacia
com cerca de 27.000 m2 e terraplenos adjacentes da ordem dos 1.3 ha. É protegida da agitação por um molhe
e por um contra-molhe que também funcionam como cais no intradorso. O plano de água está dotado de
pontões flutuantes e fingers. O molhe foi construído com caixotões e aduelas ´celulares, em betão armado e
tem em cerca de 95 m dos 360 m da sua extensão e no prolongamento que foi realizado (55 m) um manto
exterior de proteção com blocos cúbicos antifer. O manto exterior em cubos prolonga-se, no sentido de
noroeste, numa extensão de 270 m (1º esporão) mais 180 m (2º esporão).

O Porto de Porto Moniz é uma infraestrutura acostável na costa Norte destinada a pequenas embarcações
de pesca e de recreio. É protegida por um quebramar de estrutura mista (cais / molhe) com um comprimento
de cerca de 150 m e cais no intradorso de 130 m. O manto exterior é constituído por blocos antifer de 50 tf.
Possui um parque para as embarcações de pesca (1 000 m2) e uma rampa varadouro.

96
O Terminal da Praia Formosa foi desativado.

O Terminal dos Socorridos destina-se à movimentação de cimentos a granel. É constituído por 2 duques
d´alba de acostagem. Um dos duques d´alba tem um pontão de 200 m de comprimento de ligação a terra.

O Cais da Ponta do Sol é um cais muito antigo, tendo sido construído no século IXX. Não possui as condições
para a acostagem de embarcações. Destina-se às visitas de turistas. Um esporão com cerca de 120 m de
comprimento e seção transversal trapezoidal com blocos cúbicos proporciona abrigo a uma praia. A Marina
do Lugar de Baixo encontra-se destruída e desativada pela ação do mar. O quebramar exterior, com cerca
de 500 m de extensão, proporcionava um plano de água abrigado com cerca de 4.3 ha, permitindo receber
embarcações de 20 m de comprimento, amarrados a pontões flutuantes posicionados com estacas metálicas
verticais cravadas nos fundos.

O Cais de Santa Cruz é um cais / molhe localizado nas proximidades da cabeceira poente do aeroporto, tem
acesso a partir da via rápida. Tem cerca de 55 m de comprimento e é destinado à acostagem de pequenas
embarcações, nomeadamente de pesca e recreio. O cais tem um manto exterior com duas fiadas de blocos
do tipo tetrápode. Possui ainda um pequeno terrapleno (cerca de 1 700 m2), que há vários anos ficou
parcialmente destruído pela ação da agitação marítima. O Cais de Boaventura em Santa Cruz, localiza-se
junto das piscinas da ribeira da Boaventura. É um cais / molhe de abrigo com cerca de 120 m de extensão,
destinado à acostagem de pequenas embarcações (cerca de 60), nomeadamente de pesca e recreio). O cais
tem um manto exterior com duas fiadas de blocos do tipo tetrápode. Na bacia abrigada (cerca de 2 000 m2),
existe um pontão flutuante para amarração e um terrapleno pavimentado e com jardim, adjacente a diversas
edificações. No enraizamento do cais existe um prolongamento recuado que protege uma praia de calhau
rolado.

O Cais da Madalena do Mar é um pequeno cais, perpendicular à linha de costa, tendo como atividade
principal a pesca lúdica. Em estado de ruína está interdito.

O Cais do Seixal é uma infraestrutura acostável na costa Norte destinada a pequenas embarcações de pesca
e de recreio. É protegida por um quebramar de estrutura mista (cais / molhe) com um comprimento de cerca
de 110 m. O manto exterior é constituído por duas fiadas de blocos antifer. Possui uma rampa varadouro.

O Cais do Porto da Cruz, na costa Norte, é um pequeno cais que possui uma rampa varadouro. É utilizado
principalmente por pescadores lúdicos e banhistas. Não permite a acostagem de embarcações.

O Cais do Paul do Mar destina-se à atividade da pesca artesanal e apoio à náutica de recreio e marítimo-
turísticas. Tem um comprimento de 190 m, dos quais cerca de 140 m são acostáveis. O manto exterior é
constituído por duas fiadas de blocos antifer. Está dotada de uma rampa varadouro.

Em termos de Infraestruturas de Apoio náutico às Atividades Turísticas a ilha da Madeira dispõe de cinco
infraestruturas dotadas de abrigo em relação à agitação marítima.

Tabela 7.1_Infraestruturas de apoio náutico às atividades turísticas na ilha da Madeira


Posto de amarração em Comp. Máx. da Data de
Designação Parque seco Operador/ Gestor
flutuação embarcação (m) construção
Porto de Recreio da Calheta 339 (+44 motas de água) 0 25 Público 2005
Marina do Funchal 240 (visitantes + 20) sem informação 20 Privado 1984
Marina Quinta do Lorde 260 0 50 Privado 2002
Porto de Recreio de Machico 70 0 20/25 Público 2005
15/30 (instalações
Porto de Recreio de Santa 40/60 (se equipado c/
do Iate Clube de 15/20 Público 2006
Cruz passadiços e fingers)
Santa Cruz)

97
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

No total, estas infraestruturas da ilha da Madeira disponibilizam aproximadamente 970 lugares de


estacionamento em flutuação.

No POT estão previstas ações de requalificação do sistema portuário relacionado com o turismo em Câmara
de Lobos, Machico, Santa Cruz, Porto Moniz, São Vicente, Ribeira Brava, Madalena do Mar e Calheta.

Estas ações incluem conciliar atividades marítimo- turísticas com a atividade pesca, reordenamento e
qualificação das infraestruturas portuárias, incentivar o calendário de eventos associados à náutica de recreio
e desportiva, consolidação e desenvolvimento de atividades e serviços de apoio à náutica de recreio
(manutenção, reparação e construção de embarcações), requalificação de cais e embarcadouros.

Em relação à Ponta do Sol o POT preconiza o “Projeto de requalificação do cais/embarcadouro e elaborar


projeto de ocupação da Marina com usos sazonais devidamente enquadrado por análise de risco e de
segurança, transitoriamente, até que seja possível viabilizar a Marina do Lugar de Baixo”.

A Figura 7.4 indica a rede de apoio à atividade náutica de turismo com a localização do que serão os portos
base, os portos de escala e os embarcadouros.

Figura 7.4_Zonas e Subzonas de Cruzeiro do Espaço Marítimo da RAM

Fonte: Programa de Ordenamento Turístico da RAM (POT)

No que se refere aos transportes marítimos importa destacar a evolução anual dos navios de cruzeiro nos
portos da Região Autónoma da Madeira, pela crescente procura de cruzeiros que se tem verificado nos
últimos anos. Em 2018, cerca de 44% do total de embarcações comerciais entradas no porto do Funchal
foram navios de cruzeiro (283). Entre 2008 e 2018 verificou-se uma clara tendência de crescimento contínuo
até 2012, ano em que entraram nos portos da Madeira 336 navios de cruzeiro. Entre 2013 e 2014 registou-
se um decréscimo, seguido de uma recuperação em 2015 com um crescimento de 9% face a 2014, seguido
de um novo decréscimo até 2018.

98
Figura 7.5_Evolução do número de embarcações entradas no Porto do Funchal, dos quais navios de cruzeiro, 2008-2018

Fonte: Direção Regional de Estatística da Madeira, Inquérito ao Transporte Marítimo de Passageiros e Mercadorias

Em 2018 o número de passageiros em trânsito em navios de cruzeiro no porto do Funchal foi de 533.273, o
que representou um decréscimo de -0,5% face a 2017. A evolução dos passageiros de cruzeiro em trânsito
no porto do Funchal segue a mesma tendência dos navios de cruzeiro entrados, ou seja, uma evolução
positiva até 2012, onde se atinge o valor mais elevado, 581.048 passageiros, uma quebra entre 2012-2013,
retoma do crescimento em 2015 (+21,6% face a 2014), nova quebra em 2016 seguida de um acréscimo e de
um novo decréscimo em 2018.

Figura 7.6_Evolução do número de passageiros em trânsito em navios de cruzeiro no Porto do Funchal, 2008-2018

Fonte: Direção Regional de Estatística da Madeira, Inquérito ao Transporte Marítimo de Passageiros e Mercadorias

A análise da distribuição dos passageiros de cruzeiro em trânsito revela uma maior movimentação nos meses
de dezembro com 87.518 passageiros (16,4%) e novembro (14,6%). Nos meses de verão, nomeadamente
junho, julho e agosto o peso relativo dos passageiros em trânsito nos cruzeiros na Madeira é inferior a 3,5%.

A grande maioria dos passageiros em trânsito em navios de cruzeiro nos portos da Madeira era de origem
europeia (89%), destacando-se os passageiros da Alemanha que representaram 37,5% do total, seguidos dos
passageiros do Reino Unido (36,3%). Com um peso relativo menos aparece em terceiro lugar os passageiros
de nacionalidade Italiana (4,0%) que face a 2017 cresceram 21%. Em termos de crescimento face a 2017
destaca-se também o número de passageiros em trânsito de nacionalidade espanhola que mais do que
duplicou (+106,8%).

99
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

Figura 7.7_Evolução do movimento de passageiros de cruzeiros Madeira – Canárias – Cabo Verde

Fonte: Estatísticas, APRAM.

Em termos de transporte marítimo de mercadorias, a carga movimentada nos portos da RAM com origem
fora da Região passa pelos portos do Caniçal e Terminal dos Socorridos e ainda pelo porto do Funchal, embora
com cada vez menor relevância. Com origem e destino dentro da Região destacam-se os inertes com origem
na dragagem dos fundos marinhos da costa sul da Ilha da Madeira, descarregados atualmente no terminal
de inertes do Porto Novo.

O movimento de carga na ilha da Madeira concentra-se no Porto do Caniçal, representando, em 2019, 84,4%
do movimento global de mercadorias – incluindo combustíveis (CLCM) – seguindo-se o Terminal de inertes
do Porto Novo com cerca de 11%. O Porto do Funchal registou uma quota de 0,3%.

Figura 7.8_Movimento global de mercadorias nos portos da ilha da Madeira, em 2019

0,3%
11,1%
4,3%

18,6%

65,8%

P. Funchal P. Caniçal CLCM T. Socorridos P. Novo

Fonte: Estatísticas – Movimento anual de carga, APRAM.

Na figura seguinte apresenta-se a evolução da carga movimentada nos diversos portos da ilha nos últimos
10 anos, correspondendo na sua maioria à carga descarregada. Pode constatar-se uma quebra significativa
generalizada entre 2011 e 2012, sendo no Porto do Caniçal e terminal da Companhia Logística de
Combustíveis da Madeira (CLCM) onde se registou uma inversão, com um crescimento progressivo até 2019.
Por sua vez, o terminal de inertes do Porto Novo registou nova quebra acentuada em 2016 (-60%), ano após
o qual se observou uma ligeira recuperação até 2018 e um aumento mais significativo em 2019, duplicando

100
a carga descarregada face ao ano anterior. Já o Porto do Funchal tem registado uma oscilação da carga
movimentada, estabilizando em torno das 3.300 ton até 2018.

Figura 7.9_Evolução do movimento global de mercadorias nos portos da ilha da Madeira (2011-2019)
1200000
1100000
1000000
900000
800000
700000
600000
500000
400000
300000
200000
100000
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

P. Funchal P. Caniçal CLCM T. Socorridos P. Novo

Fonte: Estatísticas – Movimento anual de carga, APRAM.

Em 2019 foram descarregadas nos portos da RAM cerca de 1,05 milhões de toneladas de mercadorias, das
quais 91% no Porto do Caniçal, representando um decréscimo de 7% face a 2009, ainda assim bastante
inferior à quebra registada a nível regional. Por outro lado, observa-se um crescimento da carga carregada
de cerca de 15% no Caniçal, sendo este aumento inferior na RAM, aproximadamente 4,5%.

O movimento de contentores é, no panorama da carga movimentada na RAM, o que apresentou menor


variação na última década, registando um decréscimo de cerca de 9%, face ao número de contentores
movimentados em 2009.

Tabela 7.2_Movimento de carga


Carregados Descarregados
2009 2019 Var % 2009 2019 Var %
RAM
Contentores (nº) 34.132 31.822 -6,77% 34.132 30.034 -12,01%
Mercadorias (ton) 141.992 148.400 4,51% 1.324.586 1.052.008 -20,58%
Porto do Funchal
Contentores (nº) 316 372 17,72% 331 2517 660,42%
Mercadorias (ton) 13.535 2.517 -81,40% 261.231 71.179 -72,75%
Porto do Caniçal
Contentores (nº) 33.042 30.657 -7,22% 31465 28.888 -8,19%
Mercadorias (ton) 125.269 143.684 14,70% 1.028.258 954.817 -7,14%
Fonte: Anuário Estatístico Regional - Direção Regional de Estatística da Madeira

101
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

7.3. Infraestruturas aeroportuárias

A ilha da Madeira é servida pelo Aeroporto Internacional da Madeira Cristiano Ronaldo, inaugurado em 1967
e localiza-se no concelho de Santa Cruz, a 16km da cidade do Funchal. Foi alvo de ampliação e modernização
em 2000 e passou a dispor de uma pista com 2781m construída parcialmente numa estrutura suportada por
180 pilares, ficando o terminal de passageiros com capacidade para movimentar 3,5 milhões de passageiros
por ano.

O aeroporto da Madeira possui ligações diárias com o continente, sobretudo com Lisboa e, em termos de
mercado internacional, predominam as rotas para a Europa Central, nomeadamente Alemanha, Ingraterra e
França. Refira-se ainda a rota para Caracas, dada a relevância do número de emigrantes madeirenses na
Venezuela, embora atualmente menos relevante atendendo à situação crítica naquele país.

No que se refere às ligações inter-ilhas, estas são definidas por obrigações de serviço público, assegurando
duas ligações diárias com Porto Santo - duplicando nos meses de maior procura (abril/maio a setembro) – e
uma ligação semanal (no mínimo) com Ponta Delgada, podendo chegar às 6 ligações por semana no verão.

Figura 7.10_Aeroporto da Madeira

Fonte: Google Earth (Data da imagem: 12/10/2020)

Segundo os dados do PIETRAM, as estatísticas desde 2000 permitem constatar que o aeroporto manteve
uma tendência de crescimento sustentado até 2008. De 2009 a 2012 passou por um período de indefinição,
provavelmente consequência da crise económica, o qual foi ultrapassado a partir de 2013, ano em que
retomou (e reforçou) a tendência de crescimento, tendo ultrapassado pela primeira vez os 3 milhões de
passageiros em 2017, o que se aproxima da sua capacidade teórica de 3,5 milhões de passageiros/ano.

Nos últimos 5 anos, em termos de tráfego comercial, o aeroporto da Madeira registou uma média de 26.684
movimentos de aeronaves (aterragens e descolagens), apresentando um aumento mais significativo

102
(+12,6%) entre 2015 e 2016 – ou seja, mais 2.690 num só ano. O maior número de movimentos verificou-se
em 2017 (25.107 movimentos), após o que tem vindo a decrescer, -3,9% em 2018 e -2,0% em 2019. Esta
tendência de decréscimo deverá continuar a verificar-se, atendendo à situação provocada pela pandemia a
partir de março de 2020.

Figura 7.11_Evolução do tráfego comercial no Aeroporto da Madeira - Movimento total de aeronaves


30 000
24 111 25 107 24 131
25 000 23 651
21 421
20 000

15 000

10 000

5 000

0
2015 2016 2017 2018 2019

Relativamente à proveniência das aeronaves que aterraram no aeroporto da Madeira, verifica-se que a
origem internacional tem vindo a ganhar sucessivamente maior expressão, sobretudo entre 2015 e 2017,
sendo praticamente equivalente ao tráfego nacional em 2018. Por outro lado, segundo os dados do Anuário
Estatístico da RAM, o número de passageiros de tráfego internacional desembarcados, nestes 5 anos, foi
sempre superior ao número de passageiros nacionais. Em termos globais, a evolução foi igualmente positiva
entre 2015 e 2017, sendo que em 2018 se registou um ligeiro decréscimo. Ainda assim, segundo o Anuário
Estatístico da RAM de 2019, desembarcaram no aeroporto da Madeira, 1,6 milhões de passageiros.

Figura 7.12_Evolução do tráfego comercial (aeronaves aterradas) por natureza de tráfego no aeroporto da Madeira
7000

6000

5000

4000

3000

2000

1000

0
2015 2016 2017 2018 2019

tráfego internacional tráfego nacional

Fonte: Anuário Estatístico da RAM 2015-2019

Esta tendência pode ser confirmada pelos sucessivos prémios turísticos atribuídos à Região – eleita o "Melhor
Destino Insular do Mundo" (World´s Leading Island Destination) e "Melhor Destino Insular na
Europa" (Europe's Leading Island Destination em 2013, 2014, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020, pelo World
Travel Awards.

Este facto contribui para explicar que o segmento de tráfego internacional representa já metade do
movimento de passageiros.

103
FASE 1_CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
VOLIME I_ENQUADRAMENTO TERRITORIAL E SOCIOECONÓMICO

O movimento total de passageiros (embarcados, desembarcados e em trânsito) no Aeroporto da Madeira


ascendeu, em 2019, aos 3,2 milhões de passageiros, superando o máximo atingido em 2017 após um ligeiro
decréscimo (-0,7%) em 2018, contrariando a tendência de crescimento verificada desde 2012.

Figura 7.13_Evolução do movimento total de passageiros e de carga no aeroporto da Madeira, 2015-2019


5 000 000
4 500 000
4 000 000
3 500 000
3 000 000
2 500 000
2 000 000
1 500 000
1 000 000
500 000
0
2015 2016 2017 2018 2019
Movimento de passageiros (Nº) 2 605 547 2 971 725 3 202 527 3 181 279 3 206 348
Movimento de carga (kg) 2 932 450 2 897 125 2 891 335 3 139 013 4 316 700

Fonte: ANA - Aeroportos de Portugal, SA./Madeira Aeroportos

Finalmente, o movimento de carga aumentou justamente a partir de 2017, tendo vindo a subir de forma mais
acentuada entre 2018 e 2019, aumentando 1.177 ton. de mercadorias (+37,5%).

O crescimento de movimentos no aeroporto da Madeira ajuda a explicar as sucessivas notícias de atrasos e


cancelamentos de voos por razões operacionais, nomeadamente devido aos ventos fortes que, com
frequência, se fazem sentir em Santa Cruz.

Na ausência de um plano de contingência que encaminhe para o Porto Santo as aeronaves quando estas
situações ocorrem, complementado pelo reforço das ligações marítimas entre ilhas, esta fragilidade do
aeroporto pode constituir uma importante falha na estratégica turística da região.

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