Elementos da Paisagem em estudos ambientais

Henrique Glória
Kátia Sampaio
Natalia Citroni
Graziele Ruas 1

Resumo: O presente trabalho visa tratar da importância dos elementos da paisagem em estudos ambientais. Para
tanto, foi feita a análise de um Estudo de Impacto Ambiental do Loteamento Parque das Nações do Município de
Ribeirão Preto-SP, observando-se como os aspectos fisiográficos (pedologia, geomorfologia, geologia, recursos
hídricos, vegetação) foram tratados no documento. A consideração desses elementos da paisagem é essencial
para projetos de construção/arquitetura pautados no desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Paisagem, Estudos Ambientais; Aspectos Fisiográficos; Desenvolvimento Sustentável.

Abstract: The present work aims to address the importance of landscape elements in environmental studies. For
that, an Environmental Impact Study of the Parque das Nações Subdivision in the Municipality of Ribeirão
Preto-SP was analyzed, observing how the physiographic aspects (pedology, geomorphology, geology, water
resources, vegetation) were dealt with in the document. The consideration of these landscape elements is
essential for construction/architecture projects based on sustainable development.

Key-words: Landscape, Environmental Studies; Physiographic Aspects; Sustainable Development.

Introdução

Não raras vezes, na pauta dos noticiários, observa-se acontecimentos tidos como
desastrosos em áreas de ocupação irregular, nas periferias das grandes cidades –
deslizamentos de terra, enchentes, inundações. Apesar de ser fruto de uma urbanização
excludente, que priva os mais pobres de morar em melhores áreas da cidade, o problema
poderia ser evitado ou mesmo minimizado se as políticas públicas urbanas se pautassem em
um desenvolvimento sustentável e inclusivo, considerando as necessidades dessa parcela da
população, bem como os impactos ambientais nessas áreas da cidade.
Assim, tratar dos elementos paisagísticos em estudos de carácter ambiental é de suma
importância, sobretudo pelo fato de a paisagem demonstrar aspectos da natureza de um local
indispensáveis de serem consideradas em projetos urbanísticos. Interessante notar, que a
paisagem apresenta características inerentes a seu processo de formação/constituição. Nesse
sentido, cabe destacar que as paisagens carregam heranças, assim como ressaltou AB’ Saber
(2003): “As paisagens têm sempre o caráter de heranças de processos de atuação antiga,
remodelados e modificados por processos de atuação recente.” (p. 9)

1
Professora da disciplina Estudos Socioambientais e Sustentabilidade do Instituto Federal do Mato Grosso do
Sul, Campus Jardim.
 Desse modo, infere-se que a paisagem atual é prenhe de processos fisiográficos e
ecológicos responsáveis pela sua elaboração e reelaboração. Assim, cabe atentar-se para cada
processo fisiográfico (pedológico, geomorfológico, geológico, hidrológico) e ecológico (flora
e fauna), em sua particularidade e inter-relação com os outros, na elaboração de estudos
ambientais, visando observar as características de determinado lugar ou região para projetos,
construções, entre outras ações humanas que impactem no meio ambiente.
De modo particularizado, cada dimensão do meio físico tem sua importância na
elaboração de estudos de impacto ambiental. Assim, quando trata-se de pedologia, a ênfase
que se dá é ao estudo do solo, de sua constituição (pedogênese), composição, textura,
granulação, cor, permeabilidade, suscetibilidade erosiva, entre outras características – base
essencial para construção civil; na geomorfologia, o que se considera é o relevo em que
determinado lugar se encontra, verificando-se aspectos importantes como a sua formação,
declividade do terreno, entre outros elementos; na geologia, considera-se a embasamento
rochoso de um lugar, importante também no estudo sobre os potenciais mineralógicos do
mesmo, assim como base para entender os processos geomorfológicos (formação do revelo) e
pedogenéticos (formação do solo) de um lugar; na hidrologia considera-se as características
de drenagem, vazão, infiltração/abastecimento das águas superficiais e subterrâneas de um
lugar; na ecologia, por sua vez, considera-se a constituição da flora, o estrato vegetal
(herbáceo, arbustivo, arbóreo), entre outras característica de um lugar.
Porém cabe ressaltar que o sistema natural é dinâmico, e observar a inter-relação dos
elementos apontados é essencial, bem como a interação da sociedade com os mesmos. Assim,
é precípuo pensar em como as atividades humanas irão afetar o solo, o relevo, as rochas, os
recursos hídricos e a vegetação de um lugar, planejando ações para minimizar esses impactos.

Desenvolvimento

Tomando como base o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Loteamento Parque

das Nações, no município de Ribeirão Preto 2, verifica-se a importância de um Estudo que
considere as diferentes dimensões da fisiografia de um lugar para a implantação de um
projeto. Nele são analisadas diversas características do meio físico (Clima, Geologia,
Geotecnia, Geomorfologia, Pedologia, Hidrologia, Hidrogeologia e Ecologia) para elaboração
de um diagnóstico ambiental do local. Para tanto, foi utilizada uma metodologia de
2
O presente Estudo de Impacto Ambiental foi elaborado no ano de 2021 pela empresa Global Ambiente
Consultoria em Meio Ambiente Ltda. O estudo completo pode ser acessado no link:
<https://cetesb.sp.gov.br/eiarima/eia/EIA-276-21-e-amb-096450-2021-Lot-Pq-das-Nacoes-Rib%20Preto.pdf>
levantamento de informações em instituições que atuam nas diferentes áreas de pesquisa para
o diagnóstico dos impactos em uma área maior/externa ao Loteamento – denominada Área de
Influência Indireta (AII) –, assim como foram produzidos/levantados dados que não estavam
disponíveis para a construção de unidades que sintetizavam os resultados sobre os impactos
na área do Loteamento – Área Diretamente Afetada (ADA).
Em relação ao diagnóstico elaborado, cabe tratar brevemente como os elementos da
paisagem (Pedologia, Geomorfologia, Geologia, Hidrologia e Vegetação) são considerados
para o Estudo de Impacto Ambiental do Projeto de Loteamento Parque das Nações:

Pedologia

Para o estudo de impacto na área da pedologia, a caracterização baseou-se em

diferentes fontes, a depender da escala de análise. Constatou-se que o solo que compõem a
ADA é da ordem dos Latossolos, apresentando características de favorável fertilidade química
e boas propriedades físicas, suavidade de declive e baixa erosão. É um tipo de solo favorável
para construção.

Geomorfologia

Na área de geomorfologia, constatou-se que a paisagem da ADA apresenta uma

estrutura formada por baixas taxas de declividade, variando da parte mais alta de 562 metros
para a mais baixa (talvegue do Córrego Palmeiras) com 543 metros. Assim, é um terreno com
boa estabilidade do solo, com baixa suscetibilidade à erosão, propiciando a construção no
local.

Geologia

A análise do substrato geológico do local foi feito com base no levantamento de

dados secundários e teses realizadas no município, bem como pelo método de sondagem à
percussão (SPT). Constatou-se que a ADA apresentava 3 seções geológicas principais:
Camada 1, formada de sedimento aluvionar (pela dinâmica fluvial) – próximo ao leito do
córrego das Palmeiras; Camada 2, formada pelo processo pedogenético da Formação Serra
Geral (corresponde a 10,57% da ADA, mas não superficial); Camada 3, correspondente a
camada mais superficiais de um solo de alteração da Formação Botucatu. Quanto aos recursos
minerais, não há exploração mineralógica na ADA.
Hidrologia

Em relação a hidrologia da ADA, foram realizadas análises de dados secundários,

bem como foram levantadas informações primárias do Córrego das Palmeiras nas estações
secas e chuvosas, onde realizou-se amostragem da água para verificar sua qualidade. Em
relação aos recursos hídricos subterrâneos, foram feitos furos de sondagem no solo para
conhecimento do lençol freático. A ADA situa-se sobre o Aquífero Guarani (reserva de água
mineral, resultado de processos geológicos), onde será feita uma perfuração de um poço
tubular. Na área não foram encontrados indícios de contaminação da água subterrânea. O
estudo deixa claro a preocupação com o monitoramento da qualidade da água do Córrego
após a construção do empreendimento, visando reduzir impactos ambientais futuros.

Vegetação

Para o diagnóstico da flora local foi feito a coleta de dados primários por meio de
campanhas de campo nos anos de 2020 e 2021. Buscou-se identificar na ADA se haviam
espécies em risco de extinção. Verificou-se que a área foi bastante alterada, apresentando
pouca presença de vegetação original, com o predomínio de vegetação secundária em estágio
inicial e médio de regeneração, muito devido ao fato, da ADA situar-se em uma região que
passou por um processo de urbanização acelerado. O estudo deixa evidente a preocupação
com essa dimensão ambiental, apontando soluções para impactos na área, como a preservação
e reposição (plantio compensatório) da Área de Preservação Permanente no entorno de um
córrego a ser canalizado.
Cabe apontar ainda que a Área Diretamente Afetada se insere em uma região maior,
integrando um conjunto de relações ambientais. O Estudo de Impacto Ambiental traz
considerações nesse sentido, ao fazer a análise/diagnóstico do meio físico em escalas maiores,
sintetizados pela equipe que fez o estudo na Área de Influência Indireta (AII). Porém,
resolveu-se não apresentar aqui os detalhes nessa outra escala. Cabe, todavia, lembrar que os
impactos das atividades realizadas na Área do Loteamento podem desdobrar-se nessas áreas
maiores da AII, incidindo, por exemplo, sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Pardo (na qual o
município se insere) ou mesmo sobre as áreas de coleta/recarga do Aquífero Guarani. Nesse
sentido, ressalta-se a importância de um Estudo nessa dimensão ambiental, de modo integrado
e sustentável.
O Estudo de Impacto Ambiental, por fim, é etapa primordial para um projeto
urbanístico, de modo que o desenvolvimento da cidade ocorra de forma equilibrada com o
meio físico-natural, respeitando-se o solo, geologia, relevo, recursos hídricos e vegetação de
um lugar.

Conclusão

Com base na análise do Estudo de Impacto Ambiental, relativo ao Loteamento

Parque das Nações, verificou-se a importância que os elementos da paisagem têm na
elaboração do diagnóstico ambiental do projeto. Ressaltando-se os aspectos fisiográficos que
compõem a área, o EIA embasa as ações que serão mobilizadas para a efetivação do projeto
numa perspectiva que vise minimizar impactos ambientais na área. Considerar como as
atividades humanas irão afetar o solo, o relevo, as rochas, os recursos hídricos e a flora de um
lugar é tarefa precípua para um desenvolvimento equilibrado e sustentável.

Referências Bibliográficas

AB’SABER, A. N. Domínios de Natureza do Brasil: Potencialidades Paisagísticas. São

Paulo: ateliê editorial, 2003.

RKMI Engenharia, EIA – RIMA Loteamento Parque das Nações em Ribeirão Preto. SP,
agosto de 2021. Acesso em 15/06/2022. Disponível em:
https://cetesb.sp.gov.br/eiarima/eia/EIA-276-21-e-amb-096450-2021-Lot-Pq-das-Nacoes-Rib
%20Preto.pdf