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REFORÇO DE ESTRUTURAS

DE CONCRETO ARMADO COM


SISTEMAS COMPOSTOS FRP
Teoria e Prática

Ari de Paula Machado


Bruno Alberto Machado

PINI
São Paulo
2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Machado, Ari de Paula


Reforço de estruturas de concreto armado com sistemas
compostos FRP : teoria e prática / Ari de Paula Machado,
Bruno A. Machado, -- São Paulo : Pini, 2015.

ISBN 978-85-7266-460-8

1.Compósitos poliméricos 2. Concreto – Reparação


e reforço 3. Estruturas de concreto armado 4. Estruturas de
concreto protendido 5. Polímeros reforçados com ¿bras
I. Machado, Bruno A. II. Título.

15-06396 CDD-624.1834

Índices para catálogo sistemático:


1. Estruturas de concreto armado : Engenharia civil 658.404

Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas


Compostos FRP: Teoria e Prática
䊚Copyright Editora PINI Ltda.
Todos os direitos de reprodução reservados pela Editora PINI Ltda.

Coordenação de Manuais Técnicos: Josiani Souza


Projeto grá¿co e capa: Granun Design
Revisão: Ricardo Sanovick Shimada

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Tel.: 11 2173-2328
www.piniweb.com – manuais@pini.com.br

1ª edição: ago/15
2ª edição: março/2014
AGRADECIMENTOS

Ari de Paula Machado


O autor agradece
Ao engenheiro Fernando Fernandez, grande amigo e incentivador,
que desde 1997 nos acompanha nesta jornada por meio dos siste-
mas compostos.

À BASF, pela con¿ança depositada e pelo patrocínio deste trabalho.

A minha esposa, Lívia, que, uma vez mais, suportou com resignação
os intermináveis serões e ¿ns de semana subtraídos de seu convívio
para a elaboração desta publicação.

Em especial ao meu ¿lho Bruno, companheiro, amigo e coautor des-


te livro, que, com a sua participação entusiasta, jovem e dedicada,
certamente melhorou o resultado ¿nal do nosso trabalho.

Bruno Alberto Machado


Agradeço a minha família, em especial a minha mãe Lívia, por todo
o carinho e dedicação.

A minha esposa Maira, minha grande parceira, pelo fundamental au-


xílio e companheirismo em todos os momentos.

Agradeço principalmente ao meu pai e meu maior herói, Ari, por toda
paciência, incentivo e oportunidades que sempre me proporcionou,
e por poder contribuir para esta publicação.
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

Sumário
Glossário dos termos técnicos ................................................................................xix

Simbologia utilizada ............................................................................................... xxvi

Introdução......... .............................................................................................................1

Capítulo 1 - Propriedades mecânicas dos sistemas FRP


(polímeros reforçados com ¿bra) ..............................................................................35
1.0 Apresentação dos sistemas compostos reforçados com ¿bras ........................................35
1.1 Sistemas de reforço com FRP ..........................................................................................35
1.2 Propriedades mecânicas dos sistemas FRP.....................................................................36
1.3 Sistemas pré-curados .......................................................................................................37
1.4 Sistemas aplicados (curados) por via úmida.....................................................................39
1.5 Sistemas pré-impregnados ...............................................................................................40
1.6 Materiais constituintes e propriedades dos sistemas FRP................................................40
1.6.1 Resinas ...................................................................................................................40
1.6.2 Regularizadores de superfície ................................................................................41
1.6.3 Imprimadores primários ..........................................................................................41
1.6.4 Resinas de saturação .............................................................................................42
1.6.5 Adesivos..................................................................................................................42
1.6.6 Revestimentos protetores .......................................................................................43
1.6.7 Propriedades físicas dos sistemas FRP .................................................................44
1.6.8 Efeitos de temperatura elevada ..............................................................................44
1.6.9 Propriedades mecânicas.........................................................................................45
1.6.10 Comportamento dos sistemas FRP frente às manifestações do meio ambiente ...46
1.7 O sistema composto estruturado com ¿bras de carbono ..................................................48
1.7.1 A matriz polimérica ..................................................................................................49
1.7.2 Comportamento dos sistemas FRP ante a ação de altas temperaturas
e fogo (incêndio) .....................................................................................................50
1.7.3 Reforço com FRP em estruturas submetidas à ações de origem térmica ..............54
1.7.4 Preparação das superfícies para receber o sistema FRP ......................................59

Capítulo 2 - Modos de ruptura (falha) nos sistemas compostos ...........................61


2.0 Modos de ruptura dos sistemas FRP ................................................................................61
2.1 Recomendações para ancoragem do laminado segundo o aci 440.2R-08 ......................68
2.1.1 Determinação do momento de ¿ssuração ..............................................................70

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2.2 Determinação do ponto de início da ancoragem do sistema FRP


segundo diferentes normas ...............................................................................................71
2.3 Ancoragens transversais ...................................................................................................72
2.4 Emendas por traspasse nos sistemas compostos ............................................................73
2.5 Ancoragem segundo as recomendações alemãs .............................................................74
2.6 Ancoragem mecânica para laminados em montagem externa .........................................76
2.6.1 Força máxima admitida para o reforço FRP ...........................................................76
2.7 Veri¿cação da ancoragem de sistemas FRP em montagem externa ...............................78
2.8 Comprimento de ancoragem dos laminados FRP ............................................................78
2.8.1 Apoios extremos .....................................................................................................79
2.8.2 Apoios intermediários..............................................................................................81
2.8.3 Comprimento de ancoragem de laminados em montagem NSM ...........................82
2.8.4 Análise da ancoragem de extremidade com envelopamento de corte ...................83
2.8.5 Determinação do espaçamento entre as ¿ssuras ...................................................86

Capítulo 3 - Mecanismos auxiliares para os procedimentos


de reforço das estruturas ...........................................................................................89
3.0 Determinação da capacidade resistente das seções de concreto armado .......................89
3.1 Determinação do momento Àetor de ruptura das seções retangulares ............................91
3.2 Determinação do momento de ruptura nas seções “T” .....................................................94
3.3 Momento de ruptura de seções retangulares considerando diversas
camadas de armação ........................................................................................................95
3.4 Determinação do esforço cortante de ruptura ...................................................................98
3.5 Análise linear de estrutura com redistribuição limitada de solicitações ............................98
3.6 Arredondamento do diagrama de momentos Àetores .....................................................103
3.7 Reforço com FRP para momentos negativos na região de pilares contínuos
(armação de costura) ......................................................................................................103
3.7.1 Reforço do momento Àetor negativo de uma viga ................................................108
3.8 Ampliação da capacidade resistente à compressão de um
elemento de concreto armado......................................................................................... 111
3.9 Redução do esforço cortante nos apoios ........................................................................114
3.9.1 Cargas próximas aos apoios.................................................................................114
3.10 Compressão centrada equivalente..................................................................................116
3.10.1 Flexão normal composta ......................................................................................116
3.10.2 Flexão oblíqua composta .....................................................................................117
3.11 Dimensionamento à Àexão simples.................................................................................117
3.11.1 Seção retangular ...................................................................................................118
3.11.2 Seção “T” ..............................................................................................................119

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Capítulo 4 - Reforço à Àexão com a utilização de lâminas de ¿bras


de carbono aderidas externamente à superfície do concreto .............................123
4.0 Filoso¿a dos projetos de reforço com ¿bras de carbono.................................................123
4.1 Considerações e conceitos básicos ................................................................................124
4.2 Propriedades características dos materiais ....................................................................125
4.3 Resistência ¿nal da peça reforçada ................................................................................126
4.4 Modos de ruptura de um elemento de concreto..............................................................126
4.5 Dimensionamento do reforço FRP ..................................................................................128
4.5.1 Sequência para o cálculo do reforço à Àexão com FRP .......................................129
4.5.2 Determinação do momento resistente do reforço .................................................130
4.5.3 Nível de deformação do reforço com FRP ............................................................132
4.5.4 Nível de tensão no reforço com FRP ....................................................................133
4.5.5 Fator de redução da resistência dos sistemas FRP .............................................133
4.5.6 Tensões no aço submetido a cargas de serviço ...................................................134
4.5.7 Tensões no FRP submetido a cargas de serviço ..................................................135
4.6 Reforço à Àexão segundo a CNR – DT 200/2004 ...........................................................141
4.6.1 Deformação na estrutura antes do reforço com FRP ...........................................144
4.6.2 Capacidade à Àexão dos elementos reforçados com FRP ...................................144
4.6.3 Recomendações sobre o controle de tensões ......................................................148
4.7 Observações sobre a profundidade da linha neutra .......................................................153
4.8 Deformação máxima admitida em um reforço à Àexão com FRP em função
do número de camadas ...................................................................................................154
4.9 Determinação das tensões de cisalhamento na resina...................................................155
4.10 Recomendações para a ancoragem de extremidades pelas normas
ACI 440.2R-08 e CNR-DT 200/200 ................................................................................159
4.10.1 Descolamento do ¿nal do FRP - ACI 440.2R-08...................................................159
4.10.2 Tensão interfacial para o estado limite de utilização - CNR-DT 200/2004 ...........160
4.11 Considerações sobre Àuência e fadiga ...........................................................................163
4.12 Estruturas de concreto protendido ..................................................................................164
4.13 Deformação da peça e alongamento da armadura de protensão ...................................166
4.14 Reforço à Àexão com a utilização de laminados de ¿bras de carbono aderidos
externamente à superfície do concreto ...........................................................................168
4.14.1 Aplicação dos sistemas laminados .......................................................................170
4.14.2 Dimensionamento à Àexão com laminados de FRP .............................................171
4.15 Exemplos de dimensionamento com laminados .............................................................172
4.16 Reforço à Àexão com a utilização de barras e perfíis de ¿bras de carbono
em montagem (NSM near surface mounted). ................................................................177
4.17 Sistemas FRP a¿xados mecanicamente ao substrato de concreto ................................196

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4.18 Ancoragens conformadas por FRP .................................................................................199


4.19 Obras de reforço à Àexão e ao corte realizadas com sistemas FRP ..............................201

Capítulo 5 - dimensionamento ao corte segundo a norma ACI 440.2R-08 .........209


5.0 Esquemas de envolvimento das peças ...........................................................................209
5.1 Resistência nominal ao corte ..........................................................................................210
5.2 Contribuição do sistema FRP ao corte............................................................................211
5.2.1 Determinação dos níveis de deformação..............................................................212
5.2.2 Espaçamento das lâminas (estribos) de FRP .......................................................212
5.2.3 Limites dos reforços ..............................................................................................213
5.2.4 Resistência do concreto e da armadura transversal ao corte ...............................215
5.3 Reforço ao corte segundo a recomendação cnr-dt 200/2004 .........................................217
5.3.1 Con¿gurações dos reforços ao corte ....................................................................217
5.3.2 Capacidade resistente ao corte de elementos reforçados com FRP ....................219
5.3.3 Resistência efetiva de projeto do FRP ..................................................................221
5.4 Comparativo entre diferentes normas técnicas ...............................................................223
5.5 Considerações sobre tensões e deformações na ¿bra de carbono ................................224
5.6 Capacidade resistente à torção de elementos reforçados com sistemas FRP ...............225
5.6.1 Capacidade torsional ............................................................................................225
5.7 Reforço para o cortante com barras e perfís de ¿bra de carbono em montagem
NSM (near surface mounted) ..........................................................................................229
5.8 Exemplos de reforço de vigas de concreto armado à Àexão e corte com
sistemas compostos reforçados com FRP em montagem NSM. ....................................234
5.9 Sistema de ancoragem “U-Anchor” .................................................................................238
5.10 Precauções com relação à aplicação de tecidos de FRP ...............................................240
5.11 Fotogra¿as com reforço ao corte com sistemas FRP .....................................................242

Capítulo 6 - Reforço de elementos submetidos à compressão axial ..................245


6.0 Compressão axial pura segundo o ACI 440.2R-08 .........................................................245
6.1 Seções transversais circulares........................................................................................248
6.1.1 Cálculo da pressão de con¿namento nas seções circulares ................................251
6.2 Seções transversais não circulares.................................................................................254
6.3 Con¿namento segundo a cnr-dt 200/2004 ......................................................................259
6.3.1 Capacidade resistente axial de elementos con¿nados por FRP...........................260
6.3.2 Pressão lateral do con¿namento...........................................................................262
6.3.3 Determinação da pressão lateral de con¿namento ..............................................263
6.4 Determinação da área não con¿nada das colunas .........................................................265
6.4.1 Contribuição do estribo no con¿namento da seção retangular .............................266

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6.4.2 Pressão lateral de con¿namento devido à ação conjunta dos estribos


e da jaqueta de FRP .............................................................................................268
6.4.3 Tensão de compressão do concreto con¿nado por jaqueta de FRP ....................268
6.5 Como evitar Àambagem das barras longitudinais com FRP ...........................................269
6.6 Carga máxima de Àambagem e esbeltez de colunas con¿nadas por FRP.....................269
6.7 Aumento da dutibilidade segundo a ACI 440.2R-08 .......................................................274
6.7.1 Peças de seção transversal circular .....................................................................275
6.7.2 Peças de seção transversal não circular (retangular ou quadrada) .....................275
6.8 Esforços combinados de Àexão e carga axial segundo a ACI 440.2R-08 ......................275
6.9 Esforços combinados de Àexão e carga axial segundo a CNR-DT 200/2004 ...............276
6.10 Peças submetidas à tração axial pura ............................................................................277
6.11 Artifícios para o aumento da seção con¿nada de colunas retangulares ou quadradas ..278
6.12 Fotogra¿as de con¿namento de colunas por sistemas FRP ...........................................280

Capítulo 7 - Dimensionamento à Àexão e ao corte utilizando barras


de ¿bra de carbono como armadura de tração .....................................................283
7.0 Filoso¿a de projeto ..........................................................................................................283
7.1 Propriedades dos materiais utilizados.............................................................................283
7.2 Fator de redução ambiental (CE) .....................................................................................284
7.3 Tensão de tração nas barras curvadas de ¿bra de carbono ...........................................284
7.4 Características dos materiais constituintes das barras de FRP. .....................................285
7.4.1 Quais as diferenças entre as barras de FRP e as barras de aço? .......................285
7.4.2 Por que utilizar barras de FRP? ............................................................................285
7.4.3 Onde podem ser consideradas utilizações de barras de FRP? ............................286
7.5 Considerações sobre os critérios de dimensionamento..................................................287
7.6 De¿nição das dimensões iniciais dos elementos ............................................................289
7.7 Resistência à Àexão ........................................................................................................289
7.7.1 Capacidade nominal à Àexão ................................................................................292
7.7.2 Fator de redução da resistência à Àexão ..............................................................293
7.7.3 Armação mínima para dimensionamento com barras de FRP .............................294
7.7.4 Fissuração.............................................................................................................295
7.7.5 Momento de inércia efetiva ...................................................................................295
7.8 Considerações especiais ................................................................................................298
7.8.1 Reforço à compressão com barras de FRP. .........................................................298
7.8.2 Redistribuição dos momentos. ..............................................................................299
7.8.3 Múltiplas camadas e combinações de diferentes tipos de barras de FRP. ...........299
7.9 Resistência ao cisalhamento...........................................................................................300
7.9.1 Armadura mínima ao cisalhamento ......................................................................302

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7.9.2 Detalhamento dos estribos de barras de ¿bra de carbono ...................................302


7.9.3 Comportamento ao cisalhamento .........................................................................303
7.10 Comprimento de ancoragem das barras retas ................................................................303
7.10.1 Desenvolvimento das tensões em uma barra reta................................................303
7.10.2 Comprimento de aderência para barra curvadas.................................................304
7.11 Efeito de cargas térmicas no cobrimento de concreto de estruturas reforçadas
com barras de FRP. ........................................................................................................305
7.11.1 Comportamento do concreto.................................................................................307
7.11.2 Variação de temperatura (¨T) que produz a primeira ¿ssura radial
e colapso no cobrimento do concreto ...................................................................309
7.12 Características das barras de ¿bra de carbono ..............................................................311
7.13 Exemplos de dimensionamento com barras ...................................................................312
7.14 Fotogra¿as de obras armadas com barras de FRP ........................................................317

Capítulo 8 - Reforço de alvenarias à Àexão e ao corte com tecidos, laminados


e barras de FRP. ........................................................................................................319
8.0 Flexão nas alvenarias .....................................................................................................319
8.1 Parâmetros a serem considerados para as alvenarias ...................................................321
8.2 Flexão simples nas alvenarias não armadas ..................................................................323
8.3 Flexão simples nas alvenarias armadas .........................................................................325
8.4 Reforço de alvenarias com barras e per¿s de ¿bra de carbono em montagem NSM. ...328
8.5 Detalhes construtivos do reforço de paredes com barras e per¿s de ¿bras
de carbono em montagem NSM. ....................................................................................330
8.6 Reforço de alvenarias com sistemas FRP ......................................................................332
8.6.1 Considerações para o projeto do reforço ..............................................................333
8.6.2 Sugestão de dimensionamento proposto para o reforço de alvenarias ................337
8.6.3 Reforço de paredes de concreto armado submetidas a forças cortantes
atuando em seu plano...........................................................................................344
8.6.4 Con¿namento de colunas de alvenaria .................................................................353
8.7 Dimensionamento de vergas ..............................................................................................361
8.8 Exemplos de alvenarias reforçadas com FRP ....................................................................363

Capítulo 9 - Reforço de elementos circulares ou em coroa circular com FRP ...365


9.0 Procedimento para dimensionamento do reforço ...........................................................365
9.1 Contribuição da ¿bra de carbono ....................................................................................368
9.2 Critérios para dimensionamento .....................................................................................371
9.3 Fotogra¿as do reforço de seções circulares com sistemas FRP ....................................383

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Capítulo 10 - Reforço das estruturas de concreto existentes


com sistemas FRP para a prevenção dos efeitos sísmicos .................................387
10.0 Considerações iniciais....................................................................................................387
10.1 Avaliação sísmica segundo as normas brasileiras..........................................................390
10.1.1 De¿nição da classe do terreno..............................................................................392
10.1.2 Espectro de resposta de projeto ...........................................................................393
10.1.3 Categoria sísmica .................................................................................................395
10.1.4 Força horizontal total (conforme item 9.1 Da NBR 15421:2006) .........................396
10.1.5 Informações preliminares pertinentes ao estudo do reforço. ................................397
10.2 Principais recomendações para o projeto de estruturas de concreto armado
sujeitas a efeitos sísmicos. .............................................................................................398
10.2.1 Elementos submetidos à Àexão ............................................................................398
10.2.2 Recomendações para o cortante ..........................................................................405
10.2.3 Elementos de pórticos resistentes à Àexo-compressão ........................................407
10.2.4 Juntas (nós) dos pórticos ......................................................................................411
10.2.5 Comprimento de ancoragem das armaduras à tração..........................................416
10.3 Metodologia para o projeto de reforço com FRP ............................................................417
10.3.1 Avaliação sísmica de pilares existentes................................................................417
10.3.2 Projeto da ampliação da dutilidade à Àexão .........................................................417
10.3.3 Aumento da dutilidade de uma coluna con¿nada por FRP ...................................420
10.3.4 Critérios para o aumento da resistência ao corte .................................................422
10.3.5 Dimensionamento ¿nal da jaqueta ........................................................................423
10.4 Reforço sísmico das juntas (nós) formadas pelo encontro de vigas e colunas
nas estruturas de concreto ..............................................................................................423
10.4.1 Reforço das juntas com sistemas FRP .................................................................425
10.4.2 Reforço à Àexão ....................................................................................................425
10.4.3 Reforço das juntas ao esforço cortante ................................................................429
10.4.4 Reforço para o cortante dos vãos das vigas .........................................................433
10.5 Fotogra¿as de efeitos sísmicos e projetos sismo/preventivos com FRP.........................434

Capítulo 11 - Dimensionamento de vigas isostáticas de concreto


protendidas com a utilização de compostos FRP .................................................437
11.0 Considerações iniciais.....................................................................................................437
11.1 Dimensionamento à Àexão ..............................................................................................437
11.1.1 Vigas normalmente armadas ................................................................................441
11.1.2 Vigas sub-armadas ...............................................................................................442
11.1.3 Vigas super armadas ............................................................................................443

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11.2 Incremento da capacidade à Àexão para elementos de protensão


posicionados em várias camadas ...................................................................................444
11.2.1 Fatores de redução da resistência à Àexão ..........................................................446
11.3 Tensões admissíveis na Àexão........................................................................................446
11.4 Tensões na região de ancoragem ...................................................................................447
11.5 Ruptura por Àuência dos elementos protendidos de FRP...............................................447
11.5.1 Correção das tensões nos cabos dobrados ou curvados ....................................449
11.5.2 Perdas por relaxação e atrito ................................................................................450
11.6 Recomendações gerais para projeto ..............................................................................452
11.6.1 Armação mínima ...................................................................................................452
11.6.2 Dutibilidade ou deformabilidade ............................................................................452
11.7 Materiais FRP para protensão ........................................................................................454
11.8 Produtos CFRP (carbono) existentes no mercado..........................................................454
11.9 Ancoragens dos elementos de protensão com FRP .......................................................456
11.10 Reforço de vigas de concreto armado por meio de protensão sem aderência
ou externa com elementos de FRP .................................................................................460
11.10.1 Protensão com elementos (cabos) não aderidos..................................................462
11.11 Protensão externa com elementos de FRP ....................................................................465
11.11.1 Tensões no estado limite último na protensão externa .........................................466
11.12 Reforço ao corte por protensão com FRP.......................................................................467
11.13 DeÀexões ....................................................................................................................467
11.13.1 DeÀexões de curto prazo ......................................................................................467
11.13.2 DeÀexões de longa duração .................................................................................468
11.13.3 Informações técnicas complementares.................................................................469
11.13.4 Tensão admissível nos cabos na hora da protensão ............................................470
11.14 Sistemas protendidos com laminados de FRP ...............................................................471
11.15 Exemplo de dimensionamento à Àexão .........................................................................474
11.16 Fotogra¿as de sistemas FRP aplicados ..........................................................................479

Capítulo 12 - Processo construtivo dos sistemas FRP .........................................481


12.0 Reparo do substrato e preparação super¿cial ................................................................481
12.1 Reparação do substrato ..................................................................................................481
12.1.1 Corrosão das armaduras ......................................................................................481
12.1.2 Injeção de ¿ssuras. ...............................................................................................482
12.2 Preparação das superfícies.............................................................................................482
12.2.1 Aplicações de colagem crítica...............................................................................482
12.2.2 Aplicações de contato crítico ................................................................................483

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Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

12.3 Sistemas embutidos na superfície (NSM) .......................................................................483


12.4 Recuperação do substrato de concreto – apresentação ilustrada ..................................483
12.4.1 Pesquisa e delimitação das áreas afetadas..........................................................483
12.4.2 Remoção do substrato de concreto contaminado ................................................484
12.4.3 Recomendações especiais ...................................................................................486
12.4.4 Limpeza e passivação das armaduras..................................................................486
12.4.5 Construção da ponte de aderência. ......................................................................488
12.4.6 Reconstituição da seção da peça. ........................................................................489
12.4.7 Cura da peça estrutural recuperada ....................................................................490
12.4.8 Recuperação de ¿ssuras e trincas estruturais ......................................................491
12.4.9 Irregularidades super¿ciais ...................................................................................493
12.5 Preparação da superfície para o recebimento do sistema FRP......................................495
12.5.1 Procedimentos para colagem crítica .....................................................................496
12.5.2 Emenda das lâminas de ¿bra de carbono.............................................................502
12.6 Instalação dos laminados FRP........................................................................................503
12.7 Instalação do sistema NSM.............................................................................................505
12.8 Inspeção, avaliação e aceitação dos sistemas FRP .......................................................507
12.9 Avaliação e aceitação .....................................................................................................508
12.9.1 Avaliação dos materiais .......................................................................................508
12.9.2 Orientação das ¿bras ...............................................................................................509
12.9.3 Testes de veri¿cação das condições de aplicação dos sistemas FRP ....................509
12.10 Recomendações complementares .................................................................................511
12.10.1 Mistura das resinas ...........................................................................................511
12.10.2 Revestimentos protetores .................................................................................512
12.10.3 Armazenamento do sistema FRP......................................................................513
12.10.4 Manuseio ...........................................................................................................513
12.10.5 Limpeza e disposição ........................................................................................514

Bibliogra¿a ......................................................................................................... 515

xiii
PREFÁCIO

O engenheiro Ari de Paula Machado é o precursor na América Latina na implementação


do projeto e do uso de sistemas FRP para o reforço de estruturas de concreto. Em 1997,
adotou essa nova tecnologia para a reabilitação e o projeto de reforço do Viaduto de Santa
Teresa, em sua cidade natal de Belo Horizonte, Brasil.

Desde então, viu-se envolvido em centenas de projetos de reforço em toda a América Lati-
na, dando suporte à rápida aceitação e disseminação dessa tecnologia.

O engenheiro Ari é um contribuinte vital para a divulgação das técnicas dos sistemas FRP
para os projetos de reabilitação estrutural. Seus numerosos livros e artigos publicados a
respeito do assunto ajudaram a desmisti¿car a utilização dos sistemas FRP nas constru-
ções de concreto e se transformaram em uma técnica vital, utilizada pelos engenheiros
estruturais em atividade. Devido aos seus esforços e às iniciativas educacionais contínuas,
as técnicas de FRP se tornaram muito difundidas em toda a indústria da construção.

Nos últimos anos, seu ¿lho, o engenheiro Bruno Machado, também se envolveu no de-
senvolvimento dessas tecnologias e é atualmente um especialista nessa atividade por seu
próprio esforço e mérito. Como coautor, Bruno incorporou suas numerosas contribuições
ao assunto, fornecendo “insights” valiosos e direção prática para este livro.

O livro contém informações atualizadas de como planejar, projetar e reforçar estruturas


de concreto com sistemas FRP de acordo com as mais recentes informações industriais e
normativas dos Estados Unidos da América e da Europa. Os engenheiros Ari e Bruno são
líderes na utilização dos compostos FRP para reforçar estruturas diversas, demonstrando
a sua perícia e paixão nas páginas deste livro.

Engenheiro Fernando Fernandez


Marketing Manager Latin America – Construction Chemicals
BASF Corporation – The Chemical Company
APRESENTAÇÃO DOS AUTORES

São passados exatos 13 anos desde o lançamento do nosso primeiro livro sobre sistemas
compostos estruturados com plásticos. O título do livro era “Reforço de Estruturas de Con-
creto Armado com Fibras de Carbono”, lançado pela Editora PINI Ltda., em 2002.

Naquela época, os sistemas compostos ainda estavam ensaiando os seus primeiros pas-
sos como alternativa viável para a recuperação e o reforço de estruturas de concreto ar-
mado fragilizadas ou necessitando de aumento em sua capacidade resistente. Na tenta-
tiva de nacionalizar os termos técnicos utilizados na classi¿cação e no dimensionamento
dos materiais, processos e técnicas empregados, utilizamos para denominar os sistemas
compostos estruturados com ¿bras de carbono como sendo CFC (Compostos de Fibra de
Carbono).

Subsequentemente ao livro publicado no Brasil, em 2003, foi lançada uma edição em es-
panhol nos moldes do livro editado pela PINI, com conteúdo totalmente revisto e ampliado,
com enfoque mais amplo das técnicas de dimensionamento e procedimentos construtivos,
edição da Degussa Construction Chemicals Latin America, sob o nome “Refuerzo de Es-
tructuras de Concreto Armado con Fibras de Carbono”.

Esses dois primeiros livros serviram de base e subsídio para uma série de publicações que
se sucederam cada vez mais ampliadas e atualizadas e acabaram resultando, no ano de
2006, na edição pela BASF – The Chemical Company, em português, do livro “Fibras de
Carbono – Manual Prático de Dimensionamento”.

Durante esse período, a utilização dos sistemas FRP para recuperação e reforço de es-
truturas passou da condição de sistemas viáveis para sistemas extensivamente utilizados
em todo o mundo. Tornou-se uma técnica consagrada, segura e competitiva em relação a
outros sistemas de recuperação e reforço existentes.

O objetivo de nosso primeiro livro, no longínquo ano de 2002, era “o de apresentar de


maneira prática e condensada uma compilação de parte da vasta informação existente
sobre o tema bastante atual de reforço de estruturas de concreto armado com a utilização
de sistemas compósitos estruturados com ¿bras de carbono, visando tentar ser uma re-
ferência útil e de consulta rápida para os pro¿ssionais que militam na área de engenharia
especializada na elaboração de projetos para reforço estrutural”.

Com o tempo, a expressão experimental sistemas compósitos consolidou-se como siste-


mas compostos e prevaleceu a nomenclatura americana para a designação dos termos
gerais, e os sistemas CFC passaram a se denominar, universal e genericamente, como
FRP (Fiber Reinforced Polymers), sendo os sistemas, conforme os plásticos utilizados
como estruturantes, conhecidos como CFRP (Carbon Fiber Reinforced Polymer), quando
reforçados com ¿bras de carbono, como GFRP (Glass Fiber Reinforced Polymer), quando
reforçados com ¿bras de vidro e como AFRP (Aramid Fiber Reinforced Polymer), aqueles
reforçados com ¿bras de aramida.

O que nos motivou a lançar esta nova publicação foi a necessidade de atualizar a compi-
lação dos procedimentos normativos, apresentar os novos materiais, técnicas e processos
disponíveis, de forma a permitir que o leitor possa estar ao nível das informações mais
recentes e das tendências e expectativas do desenvolvimento desses procedimentos.

Desta vez, essa publicação é direcionada principalmente aos engenheiros estruturais, uma
vez que trata quase que exclusivamente dos procedimentos atualizados para o cálculo dos
reforços de estruturas de concreto armado com a utilização de sistemas FRP, basicamente
utilizando como ¿bra estruturante o carbono (CFRP) nas suas formas de aplicação mais
usuais. Evidentemente alguns tópicos foram aproveitados das publicações anteriores, de-
vidamente depurados e atualizados. Muitos novos procedimentos de cálculo, entretanto,
são apresentados pela primeira vez, uma vez que, além das normas do ACI – American
Concrete Institute, através de seu Committee 440, são apresentadas normativas da CNR
– Advisory Committee on Technical Recommendations for Construction, por meio da CN-
R-DT 200/2004, além de recomendações esparsas do Deutsches Institut für Bautechnik e
tantas outras associações técnicas relacionadas no texto da publicação.

Finalmente, procuramos produzir um texto de leitura leve e objetiva, mas contendo todas
as informações necessárias e su¿cientes para permitir o dimensionamento estrutural de
reforço de estruturas de concreto armado com a utilização dos materiais FRP.

Como ¿zemos nas edições anteriores, agradecemos antecipadamente os comentários, su-


gestões e críticas dos colegas engenheiros que construtivamente nos ajudem a melhorar e
enriquecer cada vez mais este livro.

Esse é o objetivo deste nosso trabalho.

Ari de Paula Machado


Bruno Alberto Machado
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

GLOSSÁRIO DOS TERMOS TÉCNICOS

TERMOS TÉCNICOS MAIS UTILIZADOS

A
Adesivo Estrutural – agente de colagem resinoso, utilizado para a transferência das car-
gas existentes entre os elementos aderentes.
AFRP – polímero reforçado com ¿bras de aramida.
Agente de Cura – catalisador ou agente reativo que, quando adicionado à resina, produz
a sua polimerização. Também denominado endurecedor ou iniciador.
Alcalinidade – condição de ter ou conter íons de hidroxila (OH): contendo substâncias
alcalinas.
Aplicação de Colagem Crítica – aplicação de sistemas CFC para reforço de estruturas
que necessitam ¿car perfeitamente coladas ao substrato de concreto. Como exemplos típi-
cos dessa aplicação citam-se os reforços à Àexão e ao cisalhamento.
Aplicação de Contacto Crítico – aplicação de sistemas CFC para reforço de estruturas
de concreto armado que necessitam um contato estreito entre o substrato de concreto e
o CFC para funcionar à contento. Como exemplo dessa aplicação citam-se os reforços de
colunas por con¿namento.

B
Barra de FRP – construção limitada por resina normalmente feita com ¿bras contínuas em
forma de barras, grelhas ou cordoalhas utilizadas para reforçar uniaxialmente o concreto.

C
Camada – a aplicação simples de uma lâmina ou tecido do material ¿broso. Camadas múl-
tiplas, quando moldadas juntas, produzem o que se denomina de laminado.
Camada Protetora – camada de acabamento que se utiliza para a proteção do sistema
composto contra a atuação da luz ultravioleta, abrasão e derramamentos ou borrifamentos
de produtos químicos. Possuem também um efeito estético, porque podem reproduzir di-
versas colorações e acabamentos.
Catalisador – substância que acelera uma reação química e permite que ela se desenvol-
va em condições melhores do que outras.

xix
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

CFC – sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono, também chamado por
CFRP.
CFRP – o mesmo que CFC.
Coe¿ciente de Expansão Térmica – a medida da mudança relativa na dimensão linear
em um material devido ao aumento unitário na sua temperatura.
Composto – a combinação de dois ou mais materiais que diferem entre si na composição
e na forma, em escala macro. Os constituintes retêm suas identidades; eles não se dissol-
vem ou se misturam completamente um no outro, embora atuando conjuntamente. Normal-
mente, os componentes podem ser identi¿cados ¿sicamente e exibir uma interface entre si.
Comprimento Desenvolvido – o comprimento de colagem necessário para a transfe-
rência das tensões do concreto para o sistema composto para que a sua capacidade me-
cânica possa ser utilizada. O comprimento desenvolvido é uma função da resistência do
substrato.
Concentração de Tensões – a ampliação dos valores das tensões localizadas em regiões
de colagem, recortes, entalhes, furos ou vazios no concreto comparativamente às tensões
previstas nas fórmulas usuais da mecânica que não levam em consideração essas irregu-
laridades.
Conteúdo de Resina – a quantidade de resina em um laminado expresso seja pela por-
centagem da massa total ou pelo volume total.
Conteúdo de Fibras – a quantidade de ¿bras presentes em um composto, usualmente
expressa como uma fração porcentual do volume ou do peso do composto.
Cordoalha de FRP – construção limitada com resina e feita com ¿bras contínuas na forma
de cordoalha, utilizada para o reforçar uniaxialmente o concreto. As cordoalhas são usual-
mente utilizadas para o reforço do concreto protendido.
Cura – processo que causa uma transformação irreversível nas propriedades das resinas
através de reações químicas. A cura é tipicamente complementada ou afetada pela adição
de agentes ou aceleradores de cura (ver agente de cura), com ou sem temperatura e pres-
são. A cura completa se obtém quando a resina alcança as propriedades especi¿cadas.
Subcura é a condição em que essas propriedades especi¿cadas não são alcançadas.

D
Degradação – declínio da qualidade das propriedades mecânicas do material.
Delaminação – separação que ocorre em um plano paralelo à superfície, como na sepa-
ração entre si das camadas de um laminado de composto.
Descolamento – a separação na interface entre o substrato de concreto e a camada de
reforço.
Desprendimento – ver descolamento.
Durabilidade – a capacidade do material para resistir às intempéries, ataques químicos,
abrasão e outras condições de serviço.

xx
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

Durabilidade à Fadiga – o número de ciclos de carregamento ou deformação necessários


para levar à ruína do material, elemento estrutural ou amostra de teste.

E
Eglass – família de vidros composto por borosilicato de cálcio e alumina com teor de alca-
linidade de 2%. É uma ¿bra de uso geral que é utilizada nos sistemas compostos.
Endurecedor – revestimento ou adesivo bicomponente que promove a cura dos compo-
nentes da resina.
Epóxi – polímero com polimerização de endurecimento por calor contendo um ou mais
grupos epoxídicos, curado através de reações com fenóis, aminas polifuncionais, anidridos
e ácidos carboxílicos. É uma importante resina nos compostos, também utilizada como
adesivo estrutural.
Exposição – processo de expor materiais à atuação ambiental por um determinado espa-
ço de tempo.

F
Fibra – termo genérico para se referir a materiais ¿lamentosos. A menor unidade de um
material ¿broso. Frequentemente, o termo ¿bra é usado como sinônimo de ¿lamento.
Fibra de Aramida – ¿bra orgânica altamente orientada.
Fibra de Carbono – ¿bra produzida através do tratamento térmico de uma ¿bra precursora
orgânica, tal como o poliacrilonitrila (PAN), em um ambiente inerte.
Fibra de Gra¿te – ver ¿bra de carbono.
Filamento – ver ¿bra.
Fibra de Vidro – Um ¿lamento individual obtido através da extrusão ou injeção do vidro
através de um orifício bastante ¿no. O ¿lamento contínuo obtido é uma ¿bra de vidro singu-
lar de comprimento grande ou inde¿nido.
Fibra de Vidro – Tipos – as ¿bras de vidro podem ser: álcaliresistentes (AR), para aplica-
ções gerais (E) e de alta resistência (S).
Fibra Precursora – ¿bras das quais a ¿bra de carbono é derivada, tais como rayon, polia-
crilonitrila ou alcatrão.
Fluência – acréscimo de deformação com o tempo sob a ação de tensões constantes.
Fração em Peso de Fibras – a relação entre o peso de ¿bras e o peso do composto.
Fração em Volume de Fibras – a relação entre o volume de ¿bras e o volume do com-
posto.
FRP – polímero reforçado com ¿bras.

xxi
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

G
GFRP – material composto compreendendo uma matriz polimérica reforçada com ¿bras ou
outras formas de vidro.

H
Híbrido – a combinação de duas ou mais diferentes ¿bras, tal como ¿bra de carbono e ¿bra
de vidro, em um composto.

I
Impregnação – é o processo de saturação dos interstícios das ¿bras de reforço ou de
substrato com a resina.
Inibidor – substância que retarda uma reação química. Também é utilizado em certos tipos
de monômeros e resinas para prolongar o tempo permitido de estocagem.
Interface – a fronteira ou a superfície entre dois meios diferentes, ¿sicamente distintos
entre si.

L
Lâmina de Fibra Seca – lâmina Àexível composta de vários ¿lamentos do material de ¿bra,
ordenados segundo uma orientação comum em um plano. Essa é a con¿guração de todos
os sistemas de reforço que utilizam ¿bras.
Lâmina Unidirecional – ver lâmina de ¿bra seca.
Laminado – uma ou mais camadas de ¿bras contidas em uma matriz curada de resina.
Laminado Anisotrópico – laminado no qual as propriedades dependem da direção na
qual é conformado. Condição típica dos laminados reforçados com ¿bra.
Laminado Bidirecional – laminado polimérico reforçado com ¿bras, orientado segundo
duas direções em seu plano; laminado cruzado.
Layup – o processo de colocar o material de reforço e a resina em posição para moldagem.
Lote – a quantidade de material fabricada durante um mesmo processo de produção, onde
as variáveis de produção permanecem essencialmente constantes.

M
Matriz – resina ou polímero obrigatoriamente homogêneos, no qual o sistema de ¿bras do
composto está embebido.

xxii
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

Micro¿ssuras – ¿ssuras formadas nos compostos quando as tensões localizadas exce-


dem a resistência da matriz.
Módulo de Elasticidade – a relação entre a tensão normal e a correspondente deforma-
ção para tensões de tração ou compressão abaixo do limite de proporcionalidade do mate-
rial. Também denominado módulo de Young ou módulo elástico.
Montagem Subsuper¿cial – o mesmo que montagem super¿cial.
Montagem Super¿cial – de NSM (Near Surface Mounted), disposição de barras de com-
postos inseridas em ranhuras de pequena profundidade, abertas no substrato de concreto,
por cima dos estribos existentes.

N
NSM – o mesmo que montagem subsuper¿cial ou montagem super¿cial.

O
Orientação das Fibras – orientação dos ¿lamentos em uma lâmina de ¿bra seca, expres-
sa como uma medida angular que se mede relativamente ao eixo longitudinal dos elemen-
tos reforçados.

P
PAN – Poliacrilonitrila, ¿bra precursora utilizada para a fabricação da ¿bra de carbono.
PITCH – precursor baseado no alcatrão do petróleo ou do carvão utilizado para a fabrica-
ção da ¿bra de carbono.
Poliéster – uma de um grande grupo de resinas sintéticas, produzidas pela reação de
ácidos dibásicos com di-hidroxilas de álcool, utilizadas em laminados de ¿bras (principal-
mente de vidro) e adesivos.
Polimerização – reação química na qual as moléculas de monômeros se ligam umas às
outras para formar moléculas maiores, em que o peso molecular é múltiplo do das subs-
tâncias originais.
Polímero – O composto formado pela reação de moléculas simples que, combinadas em
condições controladas, produzem material com alto peso molecular.
Poliuretano – produto da reação de um isocianato com algum ou muitos outros compostos
contendo grupos de hidrogênio ativo.
Ponto de InÀamação – temperatura na qual o material se incendeia em presença de uma
fonte de ignição.

xxiii
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Ponto de InÀamação Espontânea – temperatura na qual o material se incendeia esponta-


neamente, sem a necessidade de uma fonte de ignição. Essa temperatura é normalmente
bastante mais elevada daquela do ponto de inÀamação. Conhecida também como tempe-
ratura de autoignição.
PósCura – cura adicional proporcionada pela elevação da temperatura, objetivando au-
mentar o nível de ligação interna, utilizado para melhorar as propriedades ¿nais do políme-
ro ou do laminado.
Potlife – intervalo de tempo, após a mistura das resinas e dos iniciadores de reação, du-
rante o qual a mistura pode ser aplicada sem degradar seu desempenho ¿nal.
Pultrusão – processo contínuo que combina injeção e extrusão para a fabricação de com-
postos que possuem uma seção transversal constante.

R
Relaxação – a redução de carga ou tensão em um material sob um estado constante de
deformação.
Resina – O componente do sistema polimérico que requer um catalisador ou um endure-
cedor para a sua polimerização ou cura na sua utilização nos compostos.
Resistência à Fadiga – a maior tensão que pode ser sustentada sem ruptura para um
determinado número de ciclos de carregamento.
Retardador de Fogo – produtos químicos que são utilizados para reduzir a tendência de
uma resina de queimar. Podem ser adicionados às resinas ou formarem uma camada pro-
tetora sobre o sistema composto.
Ruptura por Fluência – ruptura do material devido à acumulação de deformação por car-
regamento ao longo do tempo.

S
Substrato – qualquer material na superfície no qual outro material pode ser aplicado.
Substrato de Concreto – o substrato de concreto é de¿nido como o concreto original e
qualquer material cimentício utilizado para a reparação ou a recomposição do concreto ori-
ginal. O substrato pode ser constituído unicamente do concreto original ou inteiramente de
materiais utilizados para reparação ou da combinação do concreto original e materiais de
reparação. O substrato inclui a superfície sobre a qual será instalado o sistema composto.

T
Tecido – arranjo de ¿bras tecidas juntas em duas direções. O tecido pode ser interlaçado
ou não, comprimido ou costurado.

xxiv
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

Temperatura de Transição Vítrea – ponto médio da variação de temperatura acima do


qual os componentes resinosos da matriz polimérica do sistema composto mudam do es-
tado frágil para o estado dúctil.
Tempo Útil de Emprego – refere-se ao período em que uma resina epoxídica já catalisada
pode ser trabalhada com espátula ou rolete. Também é conhecido como tempo de traba-
lhabilidade.
Termoestável – resina formada por uma ligação cruzada de cadeias poliméricas, não po-
dendo ser derretida ou reorganizada através da aplicação de calor.
Termoplástico – resina que não possui uma ligação cruzada, podendo geralmente ser
repetidamente derretida ou reorganizada através da aplicação de calor.

W
Wet layup – processo de colocar o material de reforço em um molde ou em sua posição
¿nal e aplicar a resina como um líquido.

xxv
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

SIMBOLOGIA UTILIZADA

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – ADVISORY COMMITTEE ON TECHNICAL


RECOMMENDATIONS FOR CONSTRUCTION

GUIDE FOR THE DESIGN AND CONSTRUCTION OF EXTERNALLY BONDED


FRP SYSTEMS FOR STRENGTHENING EXISTING STRUCTURES – CNR-DT
200/2004

LETRAS ROMANAS MAIÚSCULAS


Ac área da seção transversal do concreto
Af área da armadura de Àexão de FRP
Afw área da armadura de corte de FRP
Al área total de armadura longitudinal de aço
Asw área de uma perna do estribo
As1 área de armadura de aço submetida à tração
As2 área da armadura de aço submetida à compressão
Ec módulo de Young de elasticidade do concreto
Ef módulo de Young de elasticidade do FRP
E¿ b módulo de Young de elasticidade da ¿bra, somente

Em
módulo de Young de elasticidade da matriz
Es módulo de Young de elasticidade do aço da armadura
F(max,d) valor de projeto da força máxima de tração transferida pelo FRP ao suporte de concreto
Fpd valor de projeto da força máxima de ancoragem transferida pelo reforço de FRP co
lado em um estrutura de alvenaria, na presença de uma força perpendicular à área
da superfície colada
Ga módulo cortante do adesivo
Gc módulo cortante do concreto
Io momento de inércia da seção de concreto ¿ssurada e não solicitada
I1 momento de inércia da seção de concreto ¿ssurada e reforçada por FRP
Ic momento de inércia da seção transformada
If momento de inércia do centroide do reforço de FRP relativamente ao eixo neutro
da viga, paralelo a ele

xxvi
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

MRd capacidade resistente à Àexão do elemento reforçado com FRP


MSd momento majorado
Mo momento Àetor atuante antes do reforço com FRP
Ml momento Àetor aplicado na seção de concreto devido às cargas aplicadas depois
do reforço com FRP
N(Rcc,d) resistência axial do membro con¿nado por FRP
N(Rmc,d) resistência axial de alvenaria con¿nada por FRP
NSd força axial majorada
P ¿b fração em peso de ¿bras
Pm fração em peso da matriz
Tg temperatura de transição vítrea da resina
Tm temperatura de fusão da resina
TRd capacidade à torção do membro con¿nado por FRP
T(Rd,f ) contribuição do FRP para a capacidade torsional
T(Rd,max) capacidade torsional da estrutura de concreto comprimida
T(Rd,s) contribuição do aço à capacidade torsional
TSd torção majorada
Tx quantidade de ¿os na direção x
V¿ b fração volumétrica da ¿bra
VRd capacidade resistente ao corte do membro reforçado com FRP

V(Rd,ct)
contribuição do concreto na capacidade de corte
V(Rd,max) contribuição máxima do concreto na resistência ao corte
V(Rd,s) contribuição do aço para a capacidade ao corte
V(Rd,f) contribuição do FRP para a capacidade ao corte
V(Rd,m) contribuição da alvenaria ao corte
VSd força cortante majorada

LETRAS ROMANAS MINÚSCULAS


bf largura do reforço FRP
d distância do centroide da armação à ¿bra mais comprimida
fbd resistência de projeto da cola entre o FRP e o concreto (ou alvenaria)
fbk resistência característica da cola entre o FRP e o concreto (ou alvenaria)
fc resistência cilíndrica do concreto à compressão
fccd resistência de projeto do concreto con¿nado

xxvii
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

fcd resistência à compressão de projeto do concreto


fck resistência característica do concreto à compressão
fctm resistência média de tração do concreto
f fd resistência de projeto do reforço de FRP
f fdd resistência ao descolamento de projeto do FRP (modo 1)
f(fdd,2) resistência ao descolamento de projeto do FRP (modo 2)
f fed resistência efetiva de projeto ao corte do FRP
f fk resistência característica do reforço com FRP
f fpd resistência ao descolamento de projeto do FRP
fmk resistência característica à compressão da alvenaria
fmk^h resistência característica de compressão da alvenaria na direção horizontal
fmcd resistência característica de compressão de alvenaria con¿nada por FRP
fmd resistência à compressão de projeto da alvenaria
fmd^h resistência à compressão de projeto da alvenaria na direção horizontal
fmtd resistência à tração de projeto da alvenaria
fmtk resistência característica à tração da alvenaria
fmtm valor médio da resistência à tração da alvenaria
fvd resistência de projeto ao corte da alvenaria
fvk resistência característica ao corte da alvenaria
fy resistência ao escoamento do aço da armadura longitudinal
fyd resistência ao escoamento de projeto do aço da armadura longitudinal
fywd resistência característica ao escoamento da armadura transversal
fl pressão lateral de con¿namento
f(l,eff) pressão efetiva de con¿namento
h altura da seção
keff coe¿ciente de e¿ciência do con¿namento
kH coe¿ciente de e¿ciência na direção horizontal
kV coe¿ciente de e¿ciência na direção vertical
kĮ coe¿ciente de e¿ciência referente ao ângulo Į das ¿bras relativamente ao eixo lon
gitudinal do membro con¿nado
lb comprimento colado
le comprimento colado ótimo (ideal)
pb distância entre as camadas de barras no con¿namento de colunas de alvenaria
pf espaçamento entre as lâminas de FRP em envolvimento descontínuo em “U”

xxviii
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

s deslizamento na interface
sf deslizamento na interface no descolamento total
tf espessura do laminado FRP
wf largura do laminado FRP
x distância da ¿bra mais comprimida ao eixo neutro

LETRAS GREGAS MAIÚSCULAS


īFk valor característico de energia de fratura especí¿ca
īFd valor de projeto de energia de fratura especí¿ca

LETRAS GREGAS MINÚSCULAS


ĮFe coe¿ciente de segurança da espessura do tecido
Įff coe¿ciente de segurança da resistência do tecido
Ȗm fator parcial para materiais
ȖRd fator parcial para modos de resistência
İo deformação na ¿bra tracionada do concreto antes do reforço por FRP
İc deformação da ¿bra comprimida do concreto
İccu deformação última de projeto do concreto con¿nado
İco deformação na ¿bra comprimida do concreto antes do reforço por FRP
İcu deformação última por compressão do concreto
İf deformação do reforço de FRP
İfd deformação de projeto do reforço com FRP
f(fd,rid) deformação reduzida de projeto de reforços com FRP para elementos con¿nados
İfk deformação de ruptura característica do reforço FRP
İfdd deformação máxima do reforço de FRP antes do descolamento
İmcu deformação última por compressão de alvenarias con¿nadas
İmu deformação última por compressão da alvenaria
İs1 deformação da armadura de aço tracionada
İs2 deformação da armadura de aço comprimida
İyd deformação de escoamento de projeto da armadura de aço
Ș fator de conversão
Ȟ ¿b coe¿ciente de Poisson das ¿bras
Ȟm coe¿ciente de Poisson da matriz
ȡ¿ b densidade da ¿bra

xxix
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

ȡm densidade da matriz
ıc tensão no concreto
ıf tensão no reforço de FRP
ıs tensão na armadura de aço
ıSd tensão normal na face da alvenaria atuando na superfície colada entre o reforço
de FRP e a alvenaria
IJ(b,e) tensão equivalente de corte na interface adesivo-concreto
‫כ‬u curvatura última
‫כ‬y curvatura no escoamento

xxx
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE

GUIDE FOR THE DESIGN AND CONSTRUCTION OF EXTERNALLY BONDED


FRP SYSTEMS FOR STRENGTHENING CONCRETE STRUCTURES – ACI
440.25 – 08

NOTAÇÕES
Ac área da seção transversal de concreto em membros comprimidos (mm2)
Ae área da seção transversal da seção efetivamente con¿nada do concreto (mm2)
Af área do reforço externo de FRP (mm2)
Afanchor área da seção transversal do envolvimento em “U” para a ancoragem do reforço de
FRP à Àexão
Afv área do reforço ao corte de FRP com espaçamento s (mm2)
Ag área da seção bruta do concreto (mm2)
Ap área do reforço protendido na região de tração (mm2)
As área do aço não protendido da seção (mm2)
Asi área da seção do aço situado na camada I da armadura longitudinal (mm2)
Ast área total da armadura longitudinal (mm2)
ab menor dimensão da seção transversal das barras retangulares de FRP
b largura da face comprimida de um membro (mm)
menor dimensão de um membro comprimido de seção transversal prismática (mm)
bb maior dimensão da seção transversal das barras retangulares de FRP (mm)
bw largura da alma ou diâmetro de uma seção circular (mm)
CE fator de redução ambiental
c distância da ¿bra mais comprimida ao eixo neutro (mm)
D diâmetro da seção circular de um membro comprimido (mm)
d distância da ¿bra extrema comprimida até o centroide do reforço de tração (mm)
df profundidade efetiva do reforço de FRP à Àexão (mm)
dfv profundidade efetiva do reforço com FRP ao corte (mm)
profundidade do reforço com FRP como mostrado na Fig. 11.2 (mm)
di distância do centroide da camada i da armadura de aço ao centroide geométrico da
seção transversal (mm)

xxxi
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

dp distância da ¿bra extrema comprimida ao centroide do reforço protendido (mm)


distância diagonal da seção transversal prismática (diâmetro de coluna circular
equivalente) (mm) = ( b2 + h2 )
E2 inclinação da porção linear do modelo tensão-deformação para concreto con¿na-
do com FRP (MPa)
Ec módulo de elasticidade do concreto (MPa)
Ef módulo de elasticidade do FRP (MPa)
Eps módulo de elasticidade do aço de protensão (MPa)
Es módulo de elasticidade do aço (MPa)
es excentricidade do aço de protensão relativamente ao eixo centroidal do membro
no apoio (mm)
em excentricidade do aço de protensão relativamente ao eixo centroidal do membro
no centro do vão (mm)
fc resistência à compressão do concreto (MPa)
fc ′ resistência especi¿cada de compressão do concreto (MPa)

fc ′ resistência média última de tração do concreto baseada numa população de 20


ou mais testes de tração pela ASTM D3039 (MPa)
fc ′ raiz quadrada da resistência especi¿cada de compressão do concreto
fc ′c resistência à compressão do concreto con¿nado (MPa)
fc ′o resistência à compressão do concreto não con¿nado; também igual a 0,85. fc ′ (MPa)
fcs resistência à compressão na condição de serviço do concreto (MPa)
ff nível de tração no reforço FRP (MPa)
f fd tensão de projeto do reforço de FRP colado externamente (MPa)
f fe tensão efetiva no FRP; nível de tensão alcançado na ruptura da seção (MPa)
f fs nível de tensão no FRP produzido por um momento dentro do intervalo elástico do
membro (MPa)
f fu tensão última de tração de projeto do FRP (MPa)
f*fu tensão última de tração informada pelo fabricante (MPa)
fl pressão máxima de con¿namento devido à jaqueta de FRP (MPa)
fps tensão na armadura protendida na resistência nominal (MPa)
f(ps,s) tensão na armadura de protensão para cargas de serviço (MPa)
fpu resistência especi¿cada de tração dos tendões protendidos (MPa)
fs tensão no aço da armadura não protendida (MPa)
fsi tensão na camada I da armadura de aço longitudinal (MPa)
f(s,s) nível de tensão no aço não protendido para cargas de serviço (MPa)

xxxii
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

fy tensão especí¿ca de escoamento do aço não protendido (MPa)


h espessura ou altura de um membro (mm)
hf espessura do Àange (mesa) do membro (mm)
Icr momento de inércia da seção ¿ssurada transformada em concreto (mm4)
Itr momento de inércia da seção não ¿ssurada transformada em concreto (mm4)
k relação entre a profundidade da linha neutra e a profundidade da armadura medi-
da em relação da ¿bra extrema mais comprimida
k1 fator de modi¿cação aplicado a k Ȟ para atender à resistência do concreto
k2 fator de modi¿cação aplicado a k Ȟ para atender ao esquema de envolvimento
kf espessura por unidade de largura por camada do reforço com FRP (N/mm); kf = Ef.tf
Le comprimento ativo de colagem do laminado FRP (mm)
ldb comprimento desenvolvido da montagem próxima à superfície (NSM) da barra de
FRP (mm)
ldf comprimento desenvolvido do sistema FRP (mm)
Mcr momento de ¿ssuramento (N.mm)
Mn resistência nominal à Àexão (N.mm)
Mnf contribuição do reforço FRP à resistência nominal à Àexão (N.mm)
Mnp contribuição da armadura de protensão à resistência nominal à Àexão (N.mm)
Mns contribuição da armadura de aço à resistência nominal à Àexão do membro (N.mm)
Ms momento de serviço da seção (N.mm)
Msnet momento de serviço da seção além da descompressão (N.mm)
Mu momento majorado na seção (N.mm)
n número de camadas do reforço FRP
nf relação entre os módulos de elasticidade do FRP e do concreto =Ef/Ec
ns relação entre os módulos de elasticidade do FRP e do concreto =Es/Ec
Pe força efetiva no reforço protendido (após a manifestação de todas as perdas) (N)
Pn resistência nominal à compressão axial de uma seção de concreto (N)
Pfu resistência média de tração por unidade de largura por camada do reforço FRP (N/mm)
P*fu resistência última de tração por unidade de largura por camada do reforço FRP (N/mm)
Rn resistência nominal do membro
R(nҀ) resistência nominal de um membro submetido a elevadas temperatura
r raio de giração de uma seção (mm)
rc raio dos cantos (quinas) de uma seção transversal prismática con¿nada com FRP (mm)
SDl efeitos da carga permanente

xxxiii
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

SLL efeitos da carga acidental e móvel


Tg temperatura de transição vítrea (oC)
Tgw temperatura de transição vítrea líquida (oC)
Tps força de tração no aço de protensão (N)
tf espessura nominal de uma camada de reforço de FRP (mm)
Vc resistência nominal ao corte da seção de concreto com armadura de aço (N)
Vf resistência nominal ao corte provida pelos estribos de FRP (N)
Vn resistência nominal ao corte (N)
Vs resistência nominal ao corte provida pelos estribos de aço (N)
wf largura das camadas do reforço com FRP (mm)
yb distância do eixo do centroide da seção bruta, desprezando-se a armação, à ¿bra
inferior extrema (mm)
yt coordenada vertical entre a região de compressão medida a partir da posição do
eixo neutro. Ela corresponde à tensão de transição İ´ t, (mm)
Į1 multiplicador de f´c para determinar a intensidade da distribuição de uma tensão
retangular equivalente no concreto
ĮL coe¿ciente longitudinal de expansão térmica (mm/mm/oC)
ĮT coe¿ciente transversal de expansão térmica (mm/mm/oC)
ȕ1 relação da profundidade do bloco retangular equivalente de tensão em relação à
profundidade da linha neutra
İb nível de deformação no substrato de concreto devido a um momento Àetor (positivo
se tração) (mm/mm)
İbi nível de deformação no substrato de concreto por ocasião da instalação do FRP
(positivo se tração) (mm/mm)
İc nível de deformação no concreto (mm/mm)
İ’c deformação máxima do concreto descon¿nado correspondente a f’c (mm/mm); pode
ser considerado como 0,002
İccu deformação axial de compressão última do concreto con¿nado correspondente a
0,85.f’cc em um membro levemente con¿nado (membro con¿nado para restabele-
cer sua resistência à compressão de projeto), ou deformação axial de compressão
última do concreto con¿nado correspondente à ruptura em um membro fortemente
con¿nado (Fig. 12.1)
İ(c,s) nível de deformação do concreto em serviço (mm/mm)
İct deformação de tração do concreto ao nível da força de tração resultante após a
protensão de membros à Àexão (mm/mm)

xxxiv
Reforço de Estruturas de Concreto Armado com Sistemas Compostos FRP | Teoria e Prática

İcu deformação axial última do concreto descon¿nado correspondente a 0,85.f´co ou a


máxima deformação utilizável do concreto (mm/mm), que pode ocorrer a 0,85.f´c ou
0,003, dependente da curva tensão-deformação obtida.
İf nível de deformação no reforço FRP (mm/mm)
İfd deformação de descolamento de sistema FRP aderido externamente (mm/mm)
İfe nível efetivo de deformação no reforço de FRP relacionado à ruptura (mm/mm)
İfu deformação de ruptura de projeto do reforço com FRP (mm/mm)
ε fu deformação média de ruptura do reforço FRP baseado em uma população de 20 ou
mais testes de tração pela ASTM D3039 (mm/mm)
İ*fu deformação de ruptura última do reforço de FRP (mm/mm)
İpe deformação efetiva no aço de protensão após as perdas (mm/mm)
İpi nível inicial de deformação ocorrido na armadura de aço da protensão (mm/mm)
İpnet deformação líquida no estado limite do aço de protensão à Àexão após o desconto
da força de protensão (excluindo deformações devidas à força efetiva de protensão
após as perdas) (mm/mm)
İ(pnet,s) deformação líquida no aço de protensão após a descompressão em serviço (mm/mm)
İps deformação ocorrida na armadura de protensão na resistência nominal (mm/mm)
İ(ps,s) deformação no aço de protensão sob cargas de serviço (mm/mm)
İs nível de deformação na armadura de aço não protendida (mm/mm)
İsy deformação correspondente à resistência de escoamento da armadura de aço não
protendida (mm/mm)
İt deformação líquida quando da tração extrema do aço na resistência nominal (mm/mm)
İ’t deformação de transição na curva (tensão - deformação) do concreto con¿nado por
FRP (mm/mm)
Ҁ fator de redução da resistência
ka fator de e¿ciência para o reforço de FRP na determinação de f’cc (baseado na geo-
metria da seção transversal)
kb fator de e¿ciência para o reforço de FRP na determinação de İccu (baseado na geo-
metria da seção transversal)
kȞ coe¿ciente para o corte dependente da cola
kİ fator de e¿ciência igual a 0,55 para a deformação do FRP para levar em conta a
diferença observada na deformação de ruptura no con¿namento e a deformação de
ruptura observada em testes de tração
ȡf relação de reforço com FRP
ȡg relação entre a área da armadura de aço longitudinal e a área da seção transver-
sal de um membro em compressão (As/bh)
ȡs relação da armadura não protendida

xxxv
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

ı desvio padrão
IJb resistência média da cola para barras de FRP em montagem NSM (MPa)
ȥf fator de redução de resistência do FRP; = 0,85 para Àexão (calibração baseada nas
propriedades de projeto dos materiais); = 0,85 para o corte (baseado em análises
con¿áveis) para reforços com esquemas de envolvimento com três lados (“U”) ou
dois lados; = 0,95 para seções com envolvimento completo ao corte

xxxvi
INTRODUÇÃO

DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS SISTEMAS COMPOSTOS


Com a utilização do concreto armado um novo e vasto campo de realizações se descorti-
nou para a engenharia civil. Novas e cada vez mais ousadas estruturas foram construídas
e os grandes vãos se tornaram prática comum em nossos dias. Por muito tempo se acre-
ditou que o concreto armado seria o material de¿nitivo, uma vez que as suas patologias
demoraram algum tempo para se manifestar, criando uma falsa sensação de segurança e
durabilidade.
No entanto, descobriu-se que o concreto armado, similarmente a qualquer material da na-
tureza, estava sujeito à ação deletéria do meio ambiente, das agressões físicas e químicas
durante o período de sua utilização e tinha, inclusive, problemas introduzidos ainda na sua
gênese.
Com o acelerado progresso da humanidade ocorrido a partir do Século 20, as neces-
sidades de estruturas especí¿cas para diversas atividades foram aumentando, e, tendo
em vista o rápido desenvolvimento das técnicas e dos produtos utilizados, as estruturas
passaram a ter uma vida útil dentro da sua ¿nalidade inicial muito curta, em função da
permanente necessidade de ajustá-las a novos processos, novos carregamentos e novas
destinações. Muitas vezes, entretanto, as necessidades de intervenções eram decorrentes
do enfraquecimento e envelhecimento das estruturas decorrentes de patologias deletérias
instaladas nas mesmas.
Assim, juntamente com as técnicas necessárias às construções de novas estruturas, sur-
giram as técnicas para a sua reparação e reforço.
Um grande número de materiais e de processos foi criado e utilizado para o reforço e a
reabilitação das estruturas. Apenas para não nos alongarmos demasiadamente nesse his-
tórico, recentemente foram criadas técnicas de reforço estrutural através da ¿xação dos
materiais de reforço externamente ao elemento estrutural.
Durante algum tempo foi utilizada a técnica de se reforçarem estruturas de concreto arma-
do por meio de chapas de aço aderidas externamente às superfícies dos seus elementos
através de resinas formuladas à base de epóxi. Essa técnica consistia em se aplicarem
as chapas de aço nas regiões tracionadas por meio de resinas adesivas tendo sido am-
plamente utilizada para reforçar pontes e estruturas diversas ao longo do mundo. Devido
ao fato das chapas de aço serem relativamente pesadas exigindo equipamentos mais ro-
bustos para serem içadas e posicionadas e de necessitarem de preparações super¿ciais
rigorosas (nivelamento) para poderem ser coladas sem que a camada de adesivo fosse
muito espessa, o que reduz sensivelmente a capacidade de transferência de esforços,
aliado ao fato da necessidade de manutenção regular para evitar a corrosão do metal, e,
principalmente, pelo fato das resinas utilizadas apresentarem um processo de deterioração
progressiva por Àuência, esses procedimentos foram, pouco a pouco, sendo abandonados.

1
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Os primeiros sistemas compostos de reforço foram desenvolvidos na Europa, como al-


ternativa para os sistemas de chapas coladas. Trabalhos experimentais com essa nova
técnica foram registrados já em 19781 sendo que, na Suíça, pesquisadores promoveram
os primeiros reforços em pontes com sistemas compostos aplicados externamente2. As pri-
meiras colunas de concreto armado foram reforçadas no Japão, durante os anos de 1980,
tendo esta tecnologia se desenvolvido rapidamente após o terremoto HyogokenNanbu,
ocorrido em 1995. Nos Estados Unidos, o interesse pela utilização dos sistemas compos-
tos se deu, também, nos anos 1980, com as iniciativas da National Science Foundation e
da Federal Highway Administration.
O desenvolvimento de materiais poliméricos avançados possibilitou a utilização dos mes-
mos em uma diversi¿cada gama de aplicação industrial. Por diversos anos esses materiais
têm sido empregados nas indústrias aeroespacial e de defesa, nas construções navais, na
indústria automotiva e até mesmo de equipamentos esportivos (raquetes de tênis e tacos
de golfe, por exemplo).
O alto custo inicial de produção desses materiais, aliada à falta de su¿cientes pesquisas
e informações técnicas adequadas limitaram e inibiram por longo tempo a utilização dos
materiais poliméricos avançados na indústria da construção civil.
Contudo, o constante barateamento das matérias-primas e dos custos industriais de manu-
fatura acabou, tornando esses materiais cada vez mais competitivos relativamente àque-
les tradicionalmente utilizados para a recuperação e o reforço das estruturas de concreto
armado e/ou protendido. Essa viabilização econômica, por sua vez, permitiu que fosse
realizada uma grande variedade de projetos de pesquisa e de construção dirigida espe-
ci¿camente para o uso dos materiais poliméricos, resultando na aquisição de um vasto
conhecimento experimental o que possibilitou a avaliação teórica em bases con¿áveis e
seguras para o projeto e o detalhamento dos reforços das estruturas de concreto armado
e/ou protendidas com materiais poliméricos avançados.
Dentre todos os materiais poliméricos avançados possíveis de serem utilizados nessas
estruturas de concreto armado e/ou protendidas, destacou-se a alternativa da utilização de
sistemas poliméricos estruturados com ¿bras de carbono. Todos os avanços obtidos das
pesquisas e dos ensaios realizados conduziram à produção de per¿s estruturais compos-
tos, telas, tecidos e barras de ¿bras de carbono que estão sendo correntemente utilizadas
para os reforços estruturais. Esses materiais compostos, também conhecidos como polí-
meros reforçados com ¿bras (FRP3 em inglês), começaram a ser produzidos industrialmen-
te a partir de 1982.

SISTEMAS COMPOSTOS
Os materiais estruturados com ¿bras contínuas e matriz polimérica são conhecidos como
compostos. São materiais anisotrópicos e heterogêneos com um comportamento elástico
linear até a ruptura, conforme mostrado na Figura 1.

1 - Wolf e Miessler – 1989.


2 - Meier e Rostasy – 1987.
3 - Fiber Reinforced Polymer – segundo ACI CommiƩe 440.

2
Introdução

Figura 1 – Diagrama tensão-deformação de plásƟcos para FRP.

Existem várias razões e vantagens em sua utilização, tais como:


– são muito leves (geralmente o peso dos sistemas compostos nem é levado em
consideração nos projetos de reforço estrutural);
– são resistentes à corrosão, pois não são metálicos;
– possuem excelentes propriedades mecânicas;
– são aplicados de maneira fácil, não necessitando de equipamentos e ferramentas
especiais;
– adaptam-se facilmente em qualquer superfície em que sejam aplicados.
As ¿bras que estruturam os compostos são disponibilizadas para aplicação em vários tipos
e geometrias, que vão desde os tecidos (uni e bidirecionais) passando pelas placas até os
laminados rígidos.
Os sistemas compostos, principalmente os estruturados com ¿bras de carbono, têm sido
utilizados de modo comercial desde a metade dos anos 1980. O desenvolvimento de sua
utilização vai de poucos reforços no início até chegar a dezenas de milhares de aplicações
nos dias atuais.
As ¿bras mais comumente utilizadas nos sistemas compostos FRP são as de vidro,
carbono e aramida. Entretanto, somente serão avaliadas as ¿bras de vidro e carbono
nessa publicação.

FIBRAS DE VIDRO
O vidro foi por muito tempo a ¿bra predominante para muitas aplicações na engenharia
civil devido ao balanço econômico entre o seu custo e as suas características de resistên-
cia especí¿cas. As ¿bras de vidro são disponíveis comercialmente segundo a formulação
denominada E-Glass.

3
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

O material conhecido como E-Glass é produzido a partir de uma família de vidros obtidos
de silicatos de cálcio e alumina, podendo ser moldados de várias maneiras e com aplica-
ções virtualmente ilimitadas. As ¿bras de E-Glass são responsáveis por cerca de 80% a
90% da produção comercial de ¿bras de vidro.
Como todo composto estruturado com ¿bras o sistema com E-Glass é anisotrópico relativo
ao seu comprimento (direção das ¿bras). Contudo, existem técnicas de con¿guração das
¿bras e procedimentos têxteis especí¿cos que eventualmente podem arranjar as ¿bras de
forma a que o produto ¿nal adquira um grau signi¿cativamente alto de quase isotropia em
seu desempenho. As ¿bras de vidro são incomparavelmente mais resistentes relativamen-
te às demais formulações de vidros, tais como os utilizados em vidraças ou garrafas.
A resistência das ¿bras de vidro é fortemente inÀuenciada pelo grau de proteção con-
tra agressões ambientais, abrasões e contaminação por contato. Quando as ¿bras de
vidro são mantidas sob carregamento constante, com tensões inferiores à resistência
instantânea estática, elas irão falhar em algum ponto após um tempo proporcional à
manutenção das tensões com um valor mínimo, produzindo a ruptura por Àuência, que
é inÀuenciada além das tensões, pelas condições ambientais e efeitos deletérios do
vapor de água. Admite-se, teoricamente, que a superfície dos vidros possui vazios sub-
microscópicos que agem como concentradores de tensões. Além disso, a exposição a
um ambiente com (Ph) elevado pode produzir degradações ou rupturas com intensida-
de função do tempo de exposição.
Esses problemas potenciais foram descobertos já nos primeiros anos de fabricação das
¿bras de vidro e propiciaram um desenvolvimento continuado de tratamentos protetores.
Atualmente esses tratamentos são universalmente aplicados ainda no estágio de fabrica-
ção das ¿bras. Dependendo da matriz resinosa aplicada esses pré-tratamentos permitem
limitar as perdas de resistência por Àuência entre 5% e 10% após a realização de testes
com água fervente com duração de 4 horas.

FIBRAS DE CARBONO
Estruturalmente, a ¿bra mais utilizada é a de carbono. Existem três processos distintos
para a produção comercial dessas ¿bras:
– através do alcatrão (PITCH), subproduto da destilação do petróleo;
– através das ¿bras precursoras de poliacrilonitril (PAN);
– através das ¿bras de rayon.

As propriedades das ¿bras de carbono são determinadas pela estrutura molecular e pelo
grau de tolerância quanto a imperfeições construtivas. A formação das ¿bras de carbono
requer temperaturas acima de 1000º C. A essa temperatura, a maioria das ¿bras sintéticas
derrete e vaporiza. Com o acrílico, entretanto, isso não ocorre e a sua estrutura molecular
permanece durante a carbonização em altas temperaturas. Existem dois tipos de ¿bras de
carbono: a ¿bra com elevado módulo de elasticidade, denominada Tipo 1, e a ¿bra com ele-
vada resistência, denominada Tipo 2. As diferenças entre as propriedades das ¿bras Tipo
1 e Tipo 2 são decorrentes da microestrutura de cada ¿bra. Essas propriedades são deri-

4
Introdução

vadas do arranjo da molécula hexagonal nas camadas entrelaçadas existentes no gra¿te.


Se as camadas apresentarem arranjos tridimensionais, o material é de¿nido como sendo
gra¿te. Se a aderência entre as camadas for fraca e ocorrerem arranjos bidimensionais o
material resultante é de¿nido como sendo carbono. As ¿bras de carbono, portanto, pos-
suem arranjo bidimensional.
Fibras de carbono de elevado módulo de elasticidade (da ordem de 200GPa) exigem que
as camadas de gra¿te sejam alinhadas aproximadamente paralelas ao eixo da ¿bra.
Rayon e ¿bras precursoras isotrópicas derivadas do alcatrão são utilizadas para produzir
carbono com baixos módulos de elasticidade (da ordem de 50GPa).
Tanto o PAN (poliacrilonitril) como precursores líquidos cristalinos de alcatrão são utiliza-
dos para a produção de ¿bras de carbono com elevado módulo de elasticidade quando
carbonizados a temperaturas superiores a 800ºC. O módulo de elasticidade das ¿bras
aumenta com o tratamento térmico em temperaturas situadas entre 1000ºC e 3000ºC. Os
resultados variam em função da ¿bra precursora selecionada. A resistência máxima da
¿bra aparenta ser maximizada a uma temperatura próxima de 1500ºC para o PAN e algu-
mas outras ¿bras precursoras.
As ¿bras de carbono não são facilmente impregnadas pelas resinas, particularmente as
¿bras com elevado módulo de elasticidade. Tratamentos super¿ciais que aumentam o nú-
mero de grupos químicos ativos (e que eventualmente também aumentam a rugosidade
da superfície da ¿bra) foram desenvolvidos para determinados materiais utilizados nas
matrizes resinosas. As ¿bras de carbono são frequentemente revestidas por um tratamento
super¿cial epoxídico que previne a abrasão da ¿bra, facilita o seu manuseio e proporciona
uma interface compatível com a matriz resinosa.
Atualmente existem dois tipos de aplicação dos sistemas compostos utilizados para o re-
forço das estruturas:
– sistemas aderidos externamente às superfícies dos elementos de concreto;
– sistemas aderidos ao concreto dentro de ranhuras abertas no cobrimento da peça
de concreto.

Em um elemento submetido à tração, admite-se que um reforço FRP, com comportamento


elástico linear na região da curva (tensão/deformação) considerada, seja incorporado ao
concreto por meio de resinas adesivas de alta resistência.
Quando se aplica o reforço por meio de elementos FRP inseridos em ranhuras, procedi-
mento denominado NSM (near surface mounted) assume-se que os esforços sejam in-
corporados ao concreto pela transferência de forças, via adesivo, para as superfícies das
ranhuras criadas entre a superfície externa do concreto e os estribos existentes.

CRITÉRIOS BÁSICOS PARA O PROJETO E INSTALAÇÃO DE REFORÇOS


COM FRP
Para que se tenha um projeto de reforço com qualidade, devem ser assumidos os seguin-
tes pré-requisitos:

5
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– a escolha e o projeto do sistema de reforço devem ser feitas por engenheiro espe-
cialmente quali¿cado e com experiência comprovada;
– a fase de instalação deve ser implantada por pessoal que domine as técnicas de
aplicação e que tenha a necessária experiência comprovada;
– que exista uma supervisão e um controle de qualidade durante toda a instalação
do sistema;
– os materiais construtivos aplicados deverão ser especi¿cados como indicado a
seguir:
a) o sistema FRP especi¿cado deve ser projetado para ter a resistência
apropriada e atender às necessidades de durabilidade e desempenho em ser-
viço. No caso de incêndio, a resistência do sistema FRP selecionado deverá
ser adequada para atender ao período de tempo estipulado no projeto;
b) o sistema FRP deverá estar localizado em áreas onde as tensões de tra-
ção necessitem ser aumentadas. Os sistemas FRP não devem ser utilizados
para trabalharem submetidos a tensões de compressão.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O MEIO AMBIENTE


As condições ambientais afetam de maneira particular as ¿bras e as resinas dos diversos
sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono.
As propriedades mecânicas tais qual a resistência à tração, a deformação e o módulo de
elasticidade de alguns sistemas FRP podem se degradar quando submetidas a certas
agressões ambientais, tais como a alcalinidade, a água salgada, agentes químicos, luz
ultravioleta, altas temperaturas, elevada umidade e ciclos de congelamento e descongela-
mento.
Dessa forma, as propriedades dos materiais utilizados para projeto devem levar em consi-
deração essas possíveis degradações.
O engenheiro projetista deve escolher um sistema FRP com base no comportamento co-
nhecido do sistema às condições de serviço previstas. Algumas informações importantes
relativas ao meio ambiente atuante nos sistemas especí¿cos de FRP são fornecidas na
sequência do texto. Mais informações devem ser obtidas diretamente dos fabricantes dos
sistemas FRP.
– Alcalinidade/Acidez: o desempenho de um sistema FRP submetido a um meio
ambiente ácido ou alcalino depende fundamentalmente da matriz epoxídica utili-
zada e das características da ¿bra de carbono. As ¿bras de carbono secas, nuas
e insaturadas ou desprotegidas são resistentes tanto aos meios ambientes ácidos
como os alcalinos. Contudo, a matriz resinosa deverá ser capaz de resistir a essas
agressões e também isolar e proteger a ¿bra de carbono inserida nela e retardar
os possíveis efeitos de deterioração, ou seja, as matrizes resinosas devem ser
resistentes ao meio ambiente ácido ou alcalino.
– Expansão Térmica: os sistemas compostos FRP possuem propriedades de expan-
são térmica diferentes daquelas dos concretos. Além disso, as propriedades tér-

6
Introdução

micas desses sistemas variam de acordo com a direção considerada, longitudinal


ou transversal. No sentido longitudinal (direção das ¿bras) os sistemas compostos
FRP possuem um coe¿ciente de dilatação térmico quase nulo (zero), enquanto na
direção transversal esse coe¿ciente pode ser de 3 a 6 vezes maior do que o do
concreto.
– Condutividade Elétrica: os sistemas compostos FRP são e¿cientes condutores elé-
tricos. Para evitar eventual corrosão galvânica do aço da armadura do concreto os
elementos de carbono dos sistemas FRP não devem estar em contato direto com
o aço da estrutura de concreto.
– Tolerância a Impactos: os sistemas compostos FRP não possuem grande resistên-
cia a impactos, devendo, quando ocorrer essa possibilidade, receberem adequa-
da proteção mecânica.
– Ruptura Por Deformação e Fadiga: os sistemas compostos FRP são altamente
resistentes à ruptura por deformação devido a cargas sustentadas e de fadiga sob
a ação de cargas cíclicas.
– Durabilidade: ainda estão sendo efetuadas pesquisas relativas à durabilidade dos
sistemas FRP. Os engenheiros projetistas devem escolher um sistema para ser
utilizado que disponha de testes de durabilidade consistentes relativas ao meio
ambiente na qual a estrutura a ser reforçada irá trabalhar. Esses testes de dura-
bilidade devem incluir ciclos de calor e umidade, imersão em meio alcalino, ciclos
de congelamento e descongelamento e exposição a raios ultravioleta. Qualquer
sistema composto FRP que envelope completamente ou envolva uma seção de
concreto deve ser investigado em relação aos efeitos da corrosão dos aços das
armaduras, reações sílica/álcali dos agregados, percolação de água e pressão de
migração de vapor. Em áreas onde a transmissão de vapor é esperada devem ser
previstas saídas (espaços ou suspiros de escape) nos sistemas compostos FRP
para permitir a sua liberação.

RESISTÊNCIA MÍNIMA DO SUBSTRATO DE CONCRETO


Os sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono FRP trabalham melhor em
estruturas com concreto são (íntegro) e não devem ser, em hipótese nenhuma, aplicados
em superfícies que apresentem armaduras corroídas ou substrato deteriorado.
Para permitir a aplicação dos sistemas FRP é imprescindível que o substrato de concreto
seja, se necessário, recuperado segundo as recomendações correntes das normas estru-
turais em vigência.
As condições e a resistência do substrato devem ser avaliadas para a determinação de
sua capacidade para receber o reforço com a utilização de sistemas FRP aderidos exter-
namente e internamente em montagens super¿ciais.
A resistência do substrato de concreto é, portanto, um parâmetro importantíssimo para
aplicações condicionadas à condição de colagem crítica, como são os reforços à Àexão e
ao cisalhamento.

7
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Nesses casos, o substrato de concreto deve possuir a necessária resistência para desen-
volver as tensões de projeto transferidas ao sistema FRP através da cola, signi¿cando isso
que o substrato, incluindo aí todas as superfícies de colagem entre as áreas reparadas e
o concreto original, deve possuir su¿ciente resistência à tração e ao cisalhamento para a
transferência de esforços para o sistema FRP.
Para uma adequada aplicação de FRP a tensão de tração do substrato deverá ser no míni-
mo igual a (1,5 MPa), determinada através do teste de arrancamento mecânico.
Além disso, os sistemas compostos FRP aderidos externamente não devem ser aplicados
quando o concreto tiver uma resistência à compressão inferior a (14 MPa).
Em casos em que a aplicação se faça segundo a condição crítica de contato esses valores
mínimos não são condicionantes.
A aplicação dos sistemas FRP não interrompe a corrosão existente nas armaduras de aço.
Se a corrosão do aço for evidente ou esteja degradando o substrato de concreto à aplica-
ção do sistema FRP não é recomendado, a menos que sejam corrigidas tanto as corrosões
do aço como as condições do substrato.

PRODUTOS FRP DISPONÍVEIS PARA UTILIZAÇÃO


Atualmente os produtos FRP disponíveis no mercado se apresentam sob diversas for-
mas, tais como tecidos, laminados, barras e placas. As ¿guras seguintes mostram os
diversos produtos existentes no mercado, e que serão melhor detalhados no desenvol-
vimento deste livro.

Figura 2 – Tecidos de Įbras de vidro, aramida e carbono.

8
Introdução

Figura 3 – Laminados de Įbras de vidro e carbono.

Figura 4 – Barras de Įbras de vidro e carbono.

REQUISITOS BÁSICOS
Os projetos dos sistemas estruturados com FRP devem atender aos seguintes princípios:
– os riscos aos quais a estrutura estará sujeita deverão ser acuradamente identi-
¿cados, eliminados ou atenuados;
– a con¿guração do reforço não deve ser muito sensível aos riscos mencionados
acima;
– os sistemas de reforço devem poder sobreviver à possibilidade de ocorrência de
danos localizados;
– sistemas de reforços que não emitam sinais prévios de seu colapso devem ser
evitados (ruptura frágil).

Esses requisitos básicos podem ser considerados atingido-se:


– os materiais adequados forem utilizados;
– os requisitos de projeto forem atendidos, com uma especi¿cação cuidadosa dos
detalhes construtivos;

9
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– os procedimentos de controle de qualidade foram bem de¿nidos para as instala-


ções relevantes nas particularidades do projeto.

Se o sistema de reforço for previsto para estruturas históricas e monumentos uma ava-
liação crítica das técnicas de reforço deverá ser estabelecida com respeito aos padrões
de preservação e restauração. A viabilidade da técnica de reforço deve ser objetivamente
comprovada, e a solução adotada deve garantir a compatibilidade, durabilidade e, caso
necessário, a reversibilidade.

REQUISITOS DE DURABILIDADE
O sistema composto aplicado em um reforço deve ser dimensionado de tal forma que a
deterioração prevista ao longo de sua vida útil não impacte o seu desempenho de forma a
trabalhar em condições inferiores à prevista.
As condições do meio ambiente podem levar à necessidade do estabelecimento de um
programa de manutenção, que deve ser cuidadosamente previsto.
A durabilidade do sistema composto é de fundamental relevância e todas as condições
para que isso ocorra devem ser mobilizadas na hora da instalação do sistema.
Para que a durabilidade seja garantida, devem ser levados em consideração os seguintes
quesitos:
– a utilização prevista para a estrutura reforçada;
– as condições ambientais esperadas;
– a composição, as propriedades e o desempenho dos novos materiais a serem
utilizados e dos antigos materiais existentes;
– escolha adequada do sistema de reforço a ser empregado, sua con¿guração e
seus detalhes construtivos;
– qualidade da mão de obra a ser utilizada e o seu nível de controle;
– programa de manutenção durante a vida útil da estrutura.

UTILIZAÇÃO DOS SISTEMAS COMPOSTOS


Em que tipo de aplicações podem os sistemas compostos FRP ser utilizados? Essen-
cialmente, onde ocorrem tensões de Àexão e de cisalhamento é possível a aplicação dos
sistemas compostos FRP.

REFORÇO DE VIGAS À FLEXÃO E AO CISALHAMENTO


Os sistemas FRP podem ser utilizados para absorver os esforços de tração devidos aos
momentos positivos e negativos, bem como as tensões tangenciais decorrentes do corte,
como mostrado na Figura 5. Ao corte, as lâminas de FRP podem ser colocadas segundo
as direções 0o, 90o ou assumir qualquer outra inclinação

10
Introdução

Figura 5 – Reforço de vigas com FRP à Ňexão e ao corte.

REFORÇO DE LAJES À FLEXÃO


Identicamente ao caso das vigas, as lajes podem ser reforçadas à Àexão com lâminas de
FRP dispostas segundo as duas direções (ou em qualquer direção) como é mostrado na
Figura 6. Considerando-se a espessura das lâminas de ¿bra (<1mm) a ordem de posi-
cionamento das mesmas não importa, diferentemente do que no concreto armado, onde
a armadura mais solicitada ¿ca na camada inferior. Também no dimensionamento dos
reforços o peso próprio dos sistemas FRP pode ser desprezado por ser muito pequeno
(< 1,5 kg/m2).

Figura 6 – Reforço de lajes com FRP à Ňexão.

11
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

REFORÇO DE PILARES E COLUNAS


O reforço de pilares e colunas utilizando os sistemas compostos FRP pode se feito de duas
maneiras distintas:
– aumento da resistência à Àexão;
– aumento da resistência à compressão por con¿namento da seção.

A Figura 7 mostra esquematicamente essas duas possibilidades de reforço.

Figura 7 – Reforço de pilares e colunas à Ňexão e ao conĮnamento.

Observa-se neste tipo de reforço que o composto FRP está atendendo, simultaneamente,
a duas solicitações diferentes: reforço à Àexão no sentido longitudinal da coluna e con¿-
namento da seção que ocorre ortogonalmente ao eixo longitudinal da coluna. Cada um
desses reforços exige um sistema de colagem próprio e diferenciado. O reforço à Àexão
exige técnicas de colagem crítica e o reforço de con¿namento exige técnica de contato
crítico. Essas técnicas serão apresentadas à frente, mas o conhecimento importante neste
momento é que as aplicações de colagem crítica são instaladas sempre em primeiro lugar
em relação às técnicas de contato crítico. Ou seja, aplicam-se os sistemas para atender à
Àexão e ao corte em primeiro lugar, e, em seguida, sobre o anterior, se aplica o reforço por
con¿namento.

REFORÇO DE RESERVATÓRIOS CILÍNDRICOS


Essas estruturas podem ser reforçadas com a aplicação de FRP disposto no perímetro
da estrutura. Uma vez que o FRP não seja aplicado sob procedimentos de protensão, ele
trabalhará como um elemento passivo, entrando em carga apenas quando da deformação
da estrutura.

12
Introdução

Figura 8 – Reforço de reservatórios cilíndricos.

REFORÇO DE MUROS DE ARRIMO, VIGAS-PAREDE, ALVENARIAS E


AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE RESISTENTE A IMPACTOS E EXPLOSÕES

Figura 9 – Reforço de muros, alvenarias e capacidade de absorver impactos.

Uma variada aplicação dos sistemas compostos FRP pode ser conseguida através do re-
forço de estruturas, tais como muros de arrimo, vigas-parede e mesmo alvenarias, como
indicado na Figura 9.
Essas estruturas podem ser reforçadas tanto à Àexão como ao cisalhamento. Uma aplica-
ção bastante interessante, e que está sendo bastante utilizada preventivamente em casas
e edifícios situadas em regiões sujeitas a tornados e furacões, é o reforço das alvenarias
de tijolos ou de blocos de concreto ao cisalhamento (particularmente com a utilização de
¿bras de vidro EGlass) aumentando-se consideravelmente com essa providência a resis-
tência das mesmas a essas manifestações naturais.

13
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Mais uma interessante aplicação dos sistemas compostos é o reforço de estruturas de


concreto armado a impactos e explosões. Com a utilização de várias camadas de sistema
compósito orientadas cada uma segundo inclinações diferentes (por exemplo 0º para a
primeira, 90º para a segunda, -45º para a terceira, etc.) se consegue excepcional aumento
da resistência da estrutura a impactos diretos e mesmo explosões con¿nadas, Figura 10.

Figura 10 – Incremento da capacidade de absorver explosões e impactos.

RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS HISTÓRICAS


Uma das mais interessantes aplicações dos sistemas compostos FRP ocorre na recupera-
ção de estruturas históricas onde a forma e a estética das estruturas necessita ser mantida.
Uma das principais utilidades dos sistemas FRP nessas construções consiste na substi-
tuição dos antigos tirantes de correntes que travavam os arcos por elementos em barra,
como mostrado na Figura 11. Observe-se na foto da direita que o elemento passa quase
despercebido, não alterando a estética do conjunto.
No reforço de alvenarias são utilizadas lâminas de FRP, conforme mostrado na Figura 12.
O reforço, apesar de perceptível, não agride o conjunto da obra.

Figura 11 – SubsƟtuição de Ɵrantes (correntes) em estruturas anƟgas.

14
Introdução

Figura 12 – Reforço de estruturas históricas com FRP.

Nas Figuras 13 a 15 são mostrados reforços com FRP em estruturas históricas.

Figura 13 – Reforço de estruturas históricas com FRP.

Figura 14 – Reforço do Pallazo Mozzi com FRP- Florença - Itália4.

4 - Corso breve per ingegneri struƩurisƟ – Ordine Degli Ingegneri Provincia de Modena – Ing. Giorgio Giacomini.

15
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 15 – Reforço de arco com sistema FRP- Itália5.

PREVENÇÃO CONTRA EFEITOS SÍSMICOS


Os efeitos sísmicos se manifestam em pilares, particularmente no seu terço superior e
inferior, criando o que se denomina rótula plástica, como mostrado no lado esquerdo da
Figura 16, onde a manifestação ocorreu no terço inferior. Para prevenir-se contra esses
efeitos, assim como outros que ocorrem em pontos diversos das estruturas, como será
mostrado no Capítulo 10, utilizam-se procedimentos preventivos de reforço com os siste-
mas FRP, antecipando as consequências destrutivas dos efeitos sísmicos.
Em países com atividades sísmicas relevantes, é prática comum o reforço preventivo das
edi¿cações consideradas mais sensíveis à manutenção da ordem e dos sistemas de saú-
de, permitindo que os mesmos continuem a funcionar caso estas tragédias ocorram.

Figura 16 – Reforço prevenƟvo anƟsísmico com FRP.

5 - Corso breve per ingegneri struƩurisƟ – Ordine Degli Ingegneri Provincia de Modena – Ing. Giorgio Giacomini.

16
Introdução

QUANDO UMA ESTRUTURA NECESSITA SER REFORÇADA OU


REABILITADA?
Quando uma estrutura de concreto armado começa a apresentar comportamento anômalo
em relação ao seu padrão usual, esta é uma indicação segura de que algo está interfe-
rindo com as suas características originais. A(s) causa(s) dessa(s) anomalia(s) devem,
então, ser pesquisadas para que seja determinado qual o grau de risco a que a estrutura
eventualmente poderá estar submetida se o fenômeno não for interrompido a tempo. Esse
procedimento investigatório deve determinar quais as patologias estão atuando e que pro-
vidências deverão ser adotadas para o saneamento do elemento.

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NO CONCRETO ARMADO


As estruturas de concreto armado ou protendido, como de resto qualquer outro material
construtivo, têm quando de sua concepção uma vida útil estimada em função da sua ¿na-
lidade e da sua utilização em serviço
Essa expectativa de vida útil pode ser conseguida, e mesmo ampliada, desde que se dis-
ponha de uma apropriada manutenção preventiva que consiga manter os materiais consti-
tuintes do sistema estrutural em condições adequadas para que continuem a desempenhar
as suas funções sem restrições ou degradações de qualquer natureza.
Mas, em contrapartida, a vida útil estimada pode ser drasticamente reduzida e mesmo
encerrada se as estruturas apresentarem vícios que afetem o seu desempenho, vícios
estes que vão desde uma inadequada concepção estrutural a defeitos construtivos e de
utilização corrente para cargas de serviço incompatíveis com aquelas previstas quando da
idealização da estrutura. Infelizmente, esses vícios são muito mais frequentes do que se
suspeita, incidindo parcialmente, ou no seu conjunto de variáveis, em um número muito
grande de estruturas em atividade.
Assim, a partir do instante em que uma estrutura apresente alguma desconformidade es-
trutural (anomalia), mesmo que ainda durante a sua construção, deve ser imediatamente
analisada sob a ótica de critérios que permitam estabelecer, sem qualquer dúvida rema-
nescente, o grau de segurança e a sobrevida residual, e em que condições deverá ou
poderá ser utilizada (eventuais restrições de uso).
A essa análise de causas e efeitos chamamos de patologia das estruturas.

PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS


O mesmo princípio de equilíbrio encontrado na natureza é o princípio que rege o equilíbrio
nas construções, como pode ser visto na Figura 17.
Se extrapolarmos o conceito de equilíbrio que deve existir na natureza e nas construções,
podemos sintetizar as ações e reações que ocorrem nas estruturas conforme indicado na
Figura 18.

17
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 17 – Conceito geral de equilíbrio.

Ou seja, para o conjunto de atuação das cargas (esforços solicitantes), deve-se veri¿car
um correspondente e equilibrado sistema resistente.
Ao se projetar uma estrutura devem ser, a priori, conhecidas as cargas mecânicas, físicas
e biológicas que irão produzir as solicitações, as agressões e os ataques ambientais à
mesma. Essas coações deverão ser respondidas por meio de um projeto bem elaborado
e especi¿cado, os materiais utilizados deverão ter qualidade e resistência adequados às
necessidades da estrutura em serviço, e todos esses cuidados deverão culminar com uma
execução de boa qualidade, correspondente aos cuidados e cautelas adotadas nas fases
anteriores, equilíbrio este mostrado na Figura 19.

Figura 18 – Conceito geral de equilíbrio.

Figura 19 – Conceito geral de equilíbrio.

18
Introdução

Assim, quando se necessita reparar uma estrutura de concreto, estamos falando em resta-
belecer o equilíbrio perdido, o que, basicamente, consiste em:
– reconsiderar o espectro atual dos carregamentos;
– proceder para que a estrutura resista ao(s) carregamento(s) que está(ão) ocasio-
nando a(s) falha(s);
– trabalhar em harmonia com a estrutura existente para reequilibrar o espectro dos
carregamentos.

Com base nas indicações da patologia deverá ser estabelecido um diagnóstico das ocor-
rências. Para que esse diagnóstico seja completo, devem ser abordados e conveniente-
mente esclarecidos os seguintes fatores pertinentes aos problemas encontrados:
– as origens do problema;
– os agentes causadores dos problemas;
– as manifestações patológicas;
– os vícios construtivos encontrados;
– o prognóstico para a terapia.

Entre os materiais que mais são utilizados para as construções do homem, um dos que
mais se destaca é o concreto armado. E, surpreendentemente, comparativamente aos
outros materiais de construção, é o que mais está sujeito a enfermidades (patologias). Por
se tratar de um material de uso recente, seu uso se difundiu apenas a partir do ¿nal de
século XIX, durante algum tempo as suas patologias demoraram a se manifestar. Com o
passar do tempo ¿cou claro que, comparativamente ao aço e à madeira, é o material mais
suscetível a agressões.
As manifestações patológicas, de maneira geral, apresentam-se de maneira bastante ca-
racterística e segundo uma incidência já bem estabelecida estatisticamente. A partir dessas
manifestações, é possível o estabelecimento da natureza e das origens dos problemas, e
suas futuras consequências.
As patologias observadas nas estruturas de concreto armado podem ter origens diversas.
Algumas são congênitas, já aparecendo quando da construção das estruturas e outras são
adquiridas ao longo de sua existência, e, o mais preocupante, é que todos esses sintomas
de enfermidade tendem a evoluir com o passar do tempo, o que causa uma grande preo-
cupação no que se refere à segurança e à durabilidade das estruturas conformadas com
esse material que, sem dúvida, é o mais versátil e difundido de todos.
As principais manifestações patológicas, em ordem crescente de ocorrência estatística, são:
– deterioração e degradação química da construção 7%
– deformações (Àechas e rotações) excessivas 10%
– segregações dos materiais componentes do concreto 20%
– corrosão das armaduras do concreto armado 20%

19
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– ¿ssuras e trincas ativas ou passivas no concreto armado 21%


– manchas na superfície do concreto armado 22%

VARIAÇÕES VOLUMÉTRICAS DE ORIGEM TÉRMICA


As variações de temperatura exercem um papel importante na geração de tensões na
massa do concreto. O concreto procede a sua cura por meio de reações exotérmicas, com
grande liberação de calor, o que já produz um ¿ssuramento na estrutura antes mesmo dela
entrar em carga. Durante a sua vida útil, por efeito da variação da temperatura ambiente,
ciclos de dilatação e retração se sucedem, agravando a manifestação de ¿ssuras, que
além de fragilizarem a estrutura permitem a penetração de agentes ambientais externos,
tais como água e ar contaminado.

AGRESSÕES MECÂNICAS
As estruturas são projetadas para suportar carregamentos estáticos e dinâmicos. As ações
associadas aos esforços que produzem desgastes nas superfícies expostas do concreto
armado são denominadas de fenômenos de abrasão e desgaste.
O fenômeno produzido pelo arraste de sedimentos ou o transporte de sólido, bem como o
deslocamento de água sobre os vertedouros das barragens são conhecidos como erosão.
É muito comum que a essas agressões ao concreto se somem ataques químicos, que
debilitam ainda mais a pasta de cimento, tornando essas agressões ainda mais severas.

CARBONATAÇÃO DO CONCRETO
A reação do CO2 (dióxido de carbono) da atmosfera com água intersticial e com o hidróxido
de cálcio do concreto tem como resultante o carbonato e o bicarbonato de sódio, formados
a partir da penetração do primeiro no concreto. Os produtos dessas reações produzem
uma redução do pH do concreto (geralmente com valor maior que 12,5 e que tem capaci-
dade de proteger as armaduras através dos seus óxidos estáveis) iniciando a despassiva-
ção da armadura e o processo de corrosão.

AÇÃO DOS CLORETOS


Os cloretos penetram o concreto de maneira similar a do dióxido de carbono. Também, ao
atingirem as barras de aço da armação, despassivando as mesmas, induzem ao processo
de corrosão.

REAÇÕES EXPANSIVAS NO CONCRETO


Substâncias expansivas podem ser originadas da reação da pasta de cimento do concre-
to com sulfatos. Os sulfatos podem já estar presentes nos componentes do concreto ou
no solo e na água em contato com o elemento estrutural. Essas substâncias expansivas
podem vir a desintegrar o concreto. A desagregação se caracteriza pela perda do poder
aglomerante do cimento, fazendo com que os agregados graúdos se destaquem da arga-

20
Introdução

massa, que por sua vez também se desfaz. Especial atenção deve ser dada às reações
expansivas conhecidas com álcali-agregado e álcal-isílica.

CORROSÃO DO AÇO DAS ARMADURAS


Esse fenômeno geralmente se consagra pelo fato de ser, quase sempre, o primeiro a ser
observado em uma estrutura de concreto armado. A corrosão se origina de uma reação
eletroquímica no aço que resulta na produção de óxidos de ferro altamente expansivos. A
expansão produzida pelos óxidos de ferro é de tal intensidade que pode produzir o des-
colamento, via tensões de tração, da camada de cobrimento da armadura, expondo-as ao
meio ambiente.

OCORRÊNCIA DE FISSURAS
As ¿ssuras podem ser classi¿cadas, a grosso modo, como inativas e ativas. Geralmente as
¿ssuras inativas são decorrentes da retração hidráulica, juntas de concretagem mal trata-
das e recalques estabilizados. As ¿ssuras ativas são decorrentes, na maioria dos casos, da
atuação de esforços excessivos, e devem ser analisadas com muito cuidado, pois tendem
a ter a sua abertura agravada quando forem feitas intervenções de reforço. De certa forma,
as ¿ssuras ativas podem ser consideradas como juntas naturais da estrutura, e como tais
devem ser avaliadas. Como exemplo típico de uma junta natural citam-se aquelas ¿ssuras
produzidas por efeito térmico na estrutura (variação de temperatura). As ¿ssuras estru-
turais devem ser eliminadas, pois produzem a redução da inércia efetiva de uma peça,
enfraquecendo a sua capacidade resistente. Existe todo um procedimento de correção das
¿ssuras que não será aqui descrito.
Como pode ser observado, a maioria das patologias é decorrente do intercâmbio dos agen-
tes agressivos existentes na atmosfera com os materiais constituintes do concreto, troca
permitida pelo fato do concreto ser um material poroso (permeável). Dessa forma, boa
parte das patologias poderia ser evitada ou minimizada, desde que pudessem ter sido
agregadas ao concreto as seguintes providências iniciais:
– execução de um concreto menos poroso através de um fator água/cimento baixo;
– redução da permeabilidade do concreto para ¿ns de controle de ¿ssuração;
– adoção de cobrimentos da armadura tais que retardassem ao máximo a chegada
das frentes de carbonatação e de cloretos até as mesmas;
– agregado a uma boa disposição das armaduras nas peças de modo a se evitar a
formação de vazios (ninhos de concretagem) e chocos.

Essas medidas são as mais importantes, mas não são as únicas. Entretanto, em função
do enfoque principal deste livro, não cabem ser aqui relacionadas, devendo ser objeto de
pesquisa externa por parte do leitor.

21
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

TÉCNICAS AVANÇADAS DE INSPEÇÃO


Quando o projetista é chamado, para promover a recuperação/reforço estrutural de ele-
mentos de concreto armado, não raramente encontra um cenário em que vários dos coad-
juvantes descritos atrás atuaram e deixaram as suas cicatrizes e rastros que deverão ser
eliminados ou neutralizados para que os procedimentos de reforço não sofram das mes-
mas enfermidades que fragilizaram o “doente”.
Será de sua responsabilidade conduzir os trabalhos de recuperação e saneamento do con-
creto armado para que ele possa receber adequadamente os esforços oriundos daquela
intervenção. Nenhum reforço será mais resistente do que o substrato em que ele for ade-
rido, ou seja, nem a técnica mais evoluída pode ser implantada em um substrato que não
consiga alcançar o nível de tensões por ela despertado.
Nem sempre, entretanto, a inspeção visual de uma estrutura é su¿ciente para o estabele-
cimento de um diagnóstico patológico da mesma. Algumas vezes essas avaliações devem
ser complementadas por técnicas mais avançadas de inspeção, que devem ser utilizadas
como informação complementar à inspeção visual ou de outras técnicas mais simples já
utilizadas na inspeção.
Essas técnicas avançadas geralmente servem para melhor avaliar as patologias detecta-
das durante a inspeção visual com o objetivo de:
– analisar elementos e componentes que não puderam ser facilmente inspeciona-
dos durante a inspeção visual ou com a utilização de procedimentos exploratórios
mais simples;
– inspecionar elementos que já apresentaram problemas estruturais no passado ou
que entraram em colapso em estruturas semelhantes à inspecionada;
– estabelecer padrões de amostragem em elementos críticos;
– avaliar elementos passíveis de sofrerem ruptura frágil;
– monitoraro comportamento da estrutura em serviço.
Esses métodos avançados de inspeção podem ser aplicados em estruturas de concreto
e de aço, necessitando para a sua execução de mão de obra treinada e são classi¿cados
segundo duas categorias principais:
– ensaios não destrutivos;
– ensaios destrutivos.

Os ensaios não destrutivos, como o próprio nome indica, permitem que se inspecione os
elementos sem que a sua utilização seja prejudicada. Já os métodos destrutivos podem
vir ou não afetar permanentemente a integridade do elemento estrutural que está sendo
analisado, dependendo da intensidade da veri¿cação realizada.
No caso do corte de elementos estruturais o procedimento é totalmente destrutivo, mas, no
caso da retirada de corpos de prova por meio de extratores e brocas, os efeitos podem ser
moderados ou leves. Os métodos destrutivos só podem ser realizados mediante autoriza-
ção especial das partes interessadas.

22
Introdução

Os ensaios apresentados a seguir obedecem a classi¿cação da Publicação IPR-7096.

ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS PARA O CONCRETO


Existem hoje, disponíveis no mercado, os seguintes ensaios não destrutivos para o concreto:
– testes com pacômetros: o pacômetro é um dispositivo magnético utilizado para a
determinação da posição das armaduras nas peças. A maioria desses aparelhos
permite detecção até uma profundidade de 8 cm, com uma precisão de até 0,6 cm;
– testes com ultrassom: os testes com ultrassom podem fornecer informações im-
portantes relacionadas com a integridade dos elementos de concreto, mas exige
grande perícia do operador para que os resultados sejam con¿áveis;
– medição da velocidade de ondas de som e de ondas de ultrassom: este método
detecta áreas internas ¿ssuradas e de concreto deteriorado, inclusive quanti¿can-
do características de resistência, como o valor do módulo de elasticidade da peça;
– testes de penetração: os testes de penetração e de “rebound” medem a dureza
do concreto, podendo ser utilizados para a avaliação de sua resistência. O mar-
telo suíço (martelo Schmidt) é o dispositivo utilizado para medir a resistência do
concreto endurecido à penetração. O dispositivo, através de uma mola, atinge a
superfície do concreto, e com base na resposta pode ser estimada a resistência
à compressão do concreto. A vantagem desse método é de que se pode estimar
com facilidade a resistência do concreto em diferentes partes dos elementos. Vale
a ressalva, porém, de que apenas a superfície do concreto está sendo testada;
– métodos elétricos: a condutividade elétrica do concreto pode ser medida a partir
de testes com eletrodo de sulfato de cobre. Uma menor resistência elétrica indica
uma signi¿cativa presença de cloretos e permite avaliar a atividade da corrosão
nas armaduras;
– testes de avaliação de fadiga nas armaduras: através do equipamento conhecido
como MFD (magnetic ¿eld disturbance system) pode ser conhecido o efeito da
fadiga sobre as barras das armaduras de concreto armado convencional e de
concreto protendido;
– detecção de cloretos no concreto: para a detecção de cloretos em materiais de
construção pode ser utilizada uma investigação com nêutrons. A medição da reÀe-
xão dos raios gama gerados pelo bombardeamento dos materiais com nêutrons
fornece um espectro mostrando diferentes elementos, um dos quais é o cloreto;
– testes de ultrassom com laser: esses testes fornecem como resultado informações
sobre falhas no concreto e posições das barras de armadura que não podem ser
detectadas nos testes de ultrassom comuns. As medições das ondas acústicas
geradas permitem avaliar a qualidade do concreto em diferentes profundidades a
partir da superfície.

6 - Manual de Inspeção de Pontes Rodoviárias – Publicação IPR-709 – Ministério dos Transportes – 2004.

23
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

ENSAIOS DESTRUTIVOS NO CONCRETO


A retirada de testemunhos de concreto é uma forma destrutiva de inspeção, podendo en-
fraquecer o elemento. Os testemunhos devem ser retirados de trechos sãos do concreto
e devem ter um diâmetro de três vezes a dimensão do maior agregado. Após a retirada
dos testemunhos, o vazio deixado deverá ser preenchido imediatamente com argamassa
especial, sem retração:
– carbonatação: a reação do óxido de cálcio do concreto com o dióxido de carbono,
vapor de água e gases atmosféricos resulta na carbonatação, fenômeno que pro-
duz uma redução na proteção do aço contra a corrosão. Para que seja determina-
da a profundidade da carbonatação em uma peça estrutural é obtida através da
exposição dos testemunhos de concreto extraídos a soluções químicas. Concre-
tos com carbonatação permanecem com a mesma cor enquanto que os concretos
sem carbonatação mudam a sua cor após a exposição;
– medição da umidade interna: essa medição se faz necessária quando se deseja
conhecer a atividade da corrosão. Os testemunhos retirados são colocados em
fornos de laboratório para a eliminação da umidade;
– endoscópios: os endoscópios são tubos de medição que podem ser inseridos em
orifícios perfurados em um elemento de concreto. A luz necessária ao exame ge-
ralmente é fornecida através de ¿bras óticas. Trata-se de um método visual, sendo
classi¿cado como destrutivo em função da necessidade da criação de um orifício;
– resistência do concreto: para a determinação da qualidade e resistência do concre-
to é necessária a extração de corpos de prova que serão submetidos, em labora-
tório, aos ensaios de resistência à compressão, de corte, quantidade de cimento,
de vazios e dos módulos de elasticidade estático e dinâmico;
– resistência das armaduras: as reais propriedades do aço das armaduras somente
podem ser caracterizadas a partir da extração de amostras (barras). Essa opera-
ção exige cautela, uma vez que reduz a quantidade de aço na seção, consequen-
temente a capacidade resistente da mesma.

ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS PARA O AÇO


– líquido penetrante: os testes com líquido penetrante são utilizados para de¿nir
a extensão e grandeza das descontinuidades nas superfícies dos elementos de
aço. Uma das de¿ciências do processo é que o mesmo não detecta a profundida-
de da anomalia e nem defeitos não super¿ciais;
– ultrassom: os ensaios com ultrassom detectam defeitos em peças chatas e ¿nas e
em pinos, podendo ser utilizado para determinar a espessura de elementos e for-
necer informações sobre a perda de seção transversal e integridade das soldas,
visto que detecta vazios, inclusões e ¿ssuras;
– radiogra¿as: a radiogra¿a é utilizada para a detecção de descontinuidades tais
como vazios super¿ciais e profundos, trincas e ¿ssuras, assim como permite de-
terminar a espessura do elemento;

24
Introdução

– tomogra¿a computadorizada: equipamento que utiliza raios gama e raios-x para


a detecção de descontinuidades tanto em elementos de concreto como de aço;
– emissões acústicas: as emissões acústicas permitem identi¿car ¿ssuras em evo-
lução, uma vez que quando a ¿ssura cresce ela emite sons que se propagam a
partir da mesma, permitindo que sejam captados por sensores colocados na su-
perfície do elemento.

ENSAIOS DESTRUTIVOS PARA O AÇO


– teste de dureza: o teste de dureza Brinell mede a resistência do aço à penetração.
Através da pressão de uma bola de aço endurecido sobre a amostra do aço é pro-
duzida uma endentação que permite que seja calculada a dureza do aço;
– teste de resistência à tração: a resistência do aço à tração pode ser determinada
submetendo as amostras a tensões cada vez maiores até que seja atingido um
escoamento excessivo ou a sua ruptura;
– análise química do aço: a composição química do aço é uma importante infor-
mação sobre a possibilidade de ¿ssuração das soldas, seja por ¿ssuras a frio ou
¿ssuras a quente;
– teste de impacto: o Teste de Impacto Sharpy determina a quantidade de energia
necessária para provocar a fratura de uma amostra. Ele é utilizado para determi-
nar se o aço é passível de uma ruptura frágil.

AVALIAÇÃO DA NECESSIDADE DE RECUPERAÇÃO/REFORÇO


De modo geral, todos os problemas patológicos são originalmente decorrentes do que
denominamos de vício construtivo. O problema começa a ocorrer a partir da instalação e
da permanência desse mecanismo de de¿ciência (ou vício). O correto conhecimento do
processo é fundamental para que seja estabelecida uma terapia adequada e e¿ciente. Ou
seja, não basta apenas a detecção do problema pois essas patologias tendem a deteriorar
com o passar do tempo o concreto armado. Os mecanismos de deterioração do concreto
podem ser de natureza física, química ou biológica, sendo comum a manifestação con-
comitante de mais de um desses mecanismos, que atuando conjuntamente podem vir a
acelerar ainda mais a sua perspectiva de degradação. Torna-se imprescindível, portanto, o
conhecimento do mecanismo de sua criação para que novas manifestações não ocorram
após a reabilitação (recomposição das condições normais de suporte) proposta. Citando
como exemplo, uma ¿ssura decorrente de Àexão não pode ser simplesmente obturada
sem que se conheça e neutralize o agente que a produziu, sob o risco de ela volte a se
manifestar, possivelmente em outra locação, quando a peça for novamente submetida ao
esforço que a originou.
Portanto, os problemas patológicos, de modo geral, são decorrentes dos vícios construtivos
incorporados ao processo em alguma ou em várias das seguintes etapas de construção:
– durante a fase de PLANEJAMENTO da obra;
– durante a fase do PROJETO da construção;

25
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– durante a fase da FABRICAÇÃO dos materiais que comporão a construção;


– durante a fase de CONSTRUÇÃO propriamente dita, onde são incorporados os
diversos materiais e processos;
– durante a fase de UTILIZAÇÃO da construção.

Geralmente as etapas de planejamento, projeto, fabricação e construção se desenvolvem


em períodos relativamente curtos (inferiores, em média, a 2 ou 3 anos). Contudo, a fase de
utilização da estrutura pode-se estender por mais de 50 anos. Dessa maneira, é extrema-
mente importante a determinação da etapa que ensejou o aparecimento do vício construti-
vo, inclusive para a ¿xação de responsabilidades civis.
Por ordem crescente de incidência, são as seguintes principais origens dos problemas
patológicos:
– causas diversas 4%
– utilização incorreta das estruturas 10%
– de¿ciência dos materiais construtivos 18%
– de¿ciência de execução 28%
– de¿ciência de projeto 40%

Essa estatística pode ser vista no grá¿co da Figura 20.

Figura 20 – Problemas patológicos mais comuns.

No livro “Manual de Rehabilitación de Estructuras de Hormigón”7, Capítulo 2, são apresen-


tados dois grá¿cos indicando as principais manifestações patológicas em estruturas de

7 - Manual de Rehabilitación de Estructuras de Hormigón – Reparación, Refuerzo y Protección - REHABILITAR – Red


TemáƟca – Paulo Helene e Fernanda Pereira – 2003.

26
Introdução

concreto armado e as suas origens, atribuídas a Carmona & Marega (1988), juntamente
com o comentário de que pode-se chegar à conclusão de que as estruturas de concreto
armado contemporâneas estão cada vez mais vulneráveis ao surgimento precoce de ma-
nifestações patológicas.

Figura 21 – Principais manifestações patológicas em estruturas de concreto armado no Brasil (a) e suas origens (b)
(CARMONA & MAREGA, 1988).

São bastante diversi¿cados os agentes causadores dos problemas ditos patológicos nas
construções. Podem ser citados, basicamente, os seguintes:
– de¿ciência dos projetos relativos à determinação das cargas atuantes, estabele-
cimento incorreto das dimensões necessárias e especi¿cações inadequadas de
materiais e processos;
– ações térmicas internas (gradientes térmicos originados pelo calor de hidratação)
e externos (variação sazonal de temperatura) atuando nas estruturas de concreto
armado;
– agentes químicos e biológicos diversos;
– intemperismo, tais como variação de umidade, agentes atmosféricos diversos,
agressões ambientais, etc;
– utilização inadequada da construção (alteração da destinação, acréscimo das so-
licitações, etc.).

Um bom DIAGNÓSTICO é fundamental para o estabelecimento da TERAPIA a ser empre-


gada para a recuperação e/ou reforço da estrutura. Quanto melhor o diagnóstico, maior
será o êxito da terapia.
Assim, diagnosticadas as causas dos problemas patológicos da construção, podem ser
indicadas as terapias necessárias para o seu saneamento. Cada causa de¿nida exige
uma ou várias terapias especí¿cas. Concomitantemente e necessariamente o resultado do
diagnóstico conduz a um PROGNÓSTICO do desempenho da construção após a realiza-
ção daquelas terapias. O desempenho futuro da construção deve ser analisado em função
da sua atual condição estrutural e da sua utilização especí¿ca.

27
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Em relação às condições estruturais da construção podem ser projetados dois cená-


rios distintos:
– a construção será REABILITADA, isto é, serão recompostas as condições normais
de suporte para as quais tinha sido anteriormente desenvolvida;
– a construção será REFORÇADA, isto é, terá a sua condição de suporte aumenta-
da em relação àquela para a qual tinha sido anteriormente projetada.

Tanto no caso da construção ser REABILITADA como no caso de ser REFORÇADA ,devem
estar perfeitamente de¿nidas as condições básicas do desempenho futuro da mesma, tais
como:
– de¿nição precisa da destinação e das condições de utilização da construção. Es-
ses condicionantes alertarão para que não ocorra uma solicitação indevida das
mesmas;
– de¿nição da segurança estrutural, com o estabelecimento dos seus carregamen-
tos-limite. Essas recomendações impedirão que sejam excedidas as tensões e as
deformações admitidas para a construção recuperada.

Caso não ocorra uma recuperação total da construção, devido a limitações técnicas ou
de restrições fundamentadas na relação custo-benefício, os condicionantes anteriormente
relacionados se tornam muitíssimo importantes, visando ao estabelecimento de condições
de utilização com limitações e restrições. Essa situação ocorre frequentemente quando o
processo de recuperação é LIMITADO ou é executado PARCIALMENTE. Na recuperação
limitada não são atingidas as condições originalmente projetadas de suporte. No segundo
caso, apenas partes da construção serão recuperadas.

CUSTO DA RECUPERAÇÃO EM FUNÇÃO DO TEMPO DE MANIFESTAÇÃO


DA PATOLOGIA
Deve ser observado que os problemas patológicos detectados nas construções tendem a
se agravar com o passar do tempo. Pior ainda, um problema patológico especí¿co pode
ensejar o aparecimento de outras anomalias patológicas decorrentes e/ou associadas à
causa primária.
É evidente que, se todas as medidas preventivas e de proteção da construção forem ade-
quadamente consideradas e providenciadas ainda em nível de elaboração do projeto, as
eventuais de¿ciências ainda passíveis de ocorrência estarão contidas em uma faixa relati-
vamente estreita de manifestação.
Quanto antes as ocorrências patológicas forem descobertas e corrigidas, menor será o
custo da reabilitação.
Uma das maneiras mais conhecidas de avaliação do custo de reabilitação das construções
é o “Grá¿co de Sitter”, onde os custos de recuperação se apresentam segundo uma pro-
gressão geométrica de razão 5 (cinco).

28
Introdução

São consideradas, nesse grá¿co, quatro etapas distintas variando desde a fase de projeto
até a fase de utilização da construção:
a - ainda na fase de projeto;
b - durante a fase de execução da construção;
c - fase de utilização da construção ocorrendo manutenção preventiva;
d - fase de utilização da construção não ocorrendo manutenção preventiva.

a) Ainda na fase de projeto:


Quaisquer providências tomadas durante a fase de projeto visando prevenir ou corrigir
futuras manifestações patológicas correspondem a um custo arbitrado de valor 1 (unitário).

b) Durante a fase de execução da construção:


Qualquer medida adicional às especi¿cadas em projeto visando sanear ou evitar ocorrên-
cias patológicas não previstas durante a fase anterior corresponderão a um custo da ordem
de 5 (cinco) vezes maior do que se a medida já houvesse sido tomada.

c) Durante a fase de utilização da construção ocorrendo manutenção preventiva:


Se a possibilidade da ocorrência patológica puder ser prevista ou antecipada quando da
manutenção regular da construção e serem tomadas imediatamente as medidas cabíveis
para o seu controle ou supressão, o custo dessa intervenção será 5 (cinco) vezes menor
do que custaria se a medida for tomada após a ocorrência da manifestação. Mesmo assim,
esse custo seria 25 (vinte e cinco) vezes superior ao custo incorporado à estrutura se a
medida houvesse sido recomendada quando da elaboração do projeto.

d) Durante a fase de utilização da estrutura não ocorrendo manutenção preventiva e


necessitando manutenção corretiva:
Essa fase já é de correção das ocorrências patológicas. Ou seja, os problemas são eviden-
tes e a deterioração completamente manifesta. O custo para a correção dessas anomalias
será de 5 (cinco) vezes aquele da fase anterior, e 125 (cento e vinte e cinco) vezes superior
aos custos da fase de projeto.
Levando-se em consideração o elevado custo da reabilitação das estruturas, quando a
mesma é realizada no estágio ¿nal, é fortemente recomendado que se as anomalias não
forem detectadas nas fases de projeto e/ou de construção da obra se tomem imediatas
providências para a sua correção ao primeiro indício de alguma patologia importante, en-
quanto os custos de reparação ainda justi¿carem a conveniência da utilização da estrutura,
uma vez que se pode chegar ao extremo de ser necessária a sua interdição (parcial ou
total) ou mesmo a sua completa demolição.
Essas proporções podem ser vistas no grá¿co representativo da Lei de Sitter, apresentado
na Figura 22.

29
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 22 – GráĮco da Lei de SiƩer.

PROCEDIMENTOS PARA DEFINIR O PROJETO DE RECUPERAÇÃO


ESTRUTURAL
De¿nido qual será o caminho escolhido para a recuperação da estrutura inicia-se o proces-
so de AVALIAÇÃO e da ANÁLISE do problema. Essa avaliação passa pela determinação
da capacidade resistente da estrutura, ou seja, para os esforços de tração, de corte, de
Àexão, de compressão e da estabilidade do elemento avaliado, para que se tenha o conhe-
cimento do que será considerado para o projeto de recuperação. Os passos considerados
essenciais estão mostrados na Figura 23.

Figura 23 – Avaliação e análise da recuperação.

30
Introdução

Na sequência desses procedimentos passa-se ao estágio de de¿nir a estratégia do re-


forço, onde decisões têm que ser tomadas: o reforço ou a estabilização (restauração), ou
mesmo os dois. Em função dos carregamentos incidentes (carga a suportar) o reforço e/
ou a recuperação poderão ser implantados através de elementos ativos ou passivos. Essa
sequência de decisões é mostrada na Figura 24.

Figura 24 – Decisão: reforço aƟvo ou passivo?

Os reforços podem ser aplicados de três maneiras distintas em uma estrutura existente:
sob a forma passiva, isto é, elementos que somente passam a trabalhar quando ocorrem
as deformações sob carga; sob a forma ativa, isto é, o elemento de reforço já é instalado
sob carga e transfere esse esforço ao elemento a ser reforçado mesmo antes que ocorram
as deformações sob carga e, ¿nalmente, sob forma mista quando se utilizam de forma as-
sociada os reforços ativos e passivos.

Figura 25 – Decisão: reforço aƟvo, passivo ou misto?

A última etapa de decisão, a partir da escolha entre as opções ativa e passiva será a de-
¿nição de qual sistema de recuperação/reforço será adotado. Existem várias alternativas
disponíveis na construção civil para essas intervenções, tais como, entre outros tantos:
– aumento da seção resistente;
– transformação da estrutura em estrutura mista concreto/aço;
– aplicação de sistemas compostos de reforço;

31
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– aplicação de protensão externa;


– grauteamentos externos e internos;
– diminuição dos esforços via redução dos vãos estruturais.

Essas técnicas de reparação estão mostradas sucintamente na Figura 26, lembrando que
cabem muitas outras técnicas passíveis de serem utilizadas.

Figura 26 – Técnicas de reparação/reforço.

Uma vez escolhida a opção que atende às necessidades da recuperação e/ou reforço,
passa-se à fase de detalhamento do projeto.

DADOS BÁSICOS PARA A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE REFORÇO


Antes de ser projetado o reforço, algumas pesquisas essenciais devem ser feitas no local
de aplicação do reforço visando obter as seguintes informações:
– dimensões dos membros estruturais a serem reforçados;
– localização, tamanho das ¿ssuras e deteriorações;
– localização e extensão das corrosões existentes nas barras das armaduras;
– presença de corrosão ativa;
– quantidade e locação das armaduras existentes nos elementos a serem reforçados;
– resistência na compressão do concreto obtida “in loco”;
– pesquisa de sonoridade (batida de choco) do concreto, principalmente no cobri-
mento do mesmo, em todas as áreas onde serão colados os sistemas FRP de
reforço;
– determinação da resistência à tração do concreto por meio de “pull-off adhesion
test” (teste de arrancamento);

32
Introdução

– para a determinação da capacidade resistente da estrutura original devem ser le-


vantadas as informações disponíveis nos projetos, da revisão da memória de cál-
culo e dos desenhos de armação, se necessário, por meio de engenharia reversa;
– caso não se disponha de cadastro da obra, infelizmente uma ocorrência muito
comum nos projetos de reforço, cabe ao projetista determinar as dimensões geo-
métricas do elemento por meio de medições feitas “in situ” e a avaliação das arma-
duras existentes por meio da abertura de “janelas” de inspeção para que se possa
conhecer a geometria e a seção das armaduras existentes, como a mostrada na
Figura 27.

Figura 27 – Abertura de janelas para pesquisa de armação.

Com uma base de dados con¿ável, o projetista pode, en¿m, iniciar os procedimentos do
projeto de reabilitação e/ou reforço.

33
CAPÍTULO 1

PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS SISTEMAS FRP


(POLÍMEROS REFORÇADOS COM FIBRA)

1.0 APRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS COMPOSTOS REFORÇADOS COM


FIBRAS
Materiais contínuos reforçados com ¿bras plásticas e envolvidos em matrizes poliméri-
cas são considerados como compostos. Esses materiais são heterogêneos, anisotrópicos,
apresentam um comportamento linear-elástico até a sua ruptura e foram inicialmente de-
senvolvidos para substituir os sistemas em que eram utilizadas chapas de aço aderidas
ao concreto com resinas epoxídicas eventualmente reforçadas com conectores metálicos
para auxiliar na absorção dos esforços de corte.
Nos últimos anos, esses materiais têm sido amplamente utilizados para o reforço de es-
truturas, tendo passado de poucas dezenas de aplicações por volta dos anos 1980 até
milhares nos dias de hoje. Existem registros de reforços estruturais utilizando sistemas
compostos em vigas, lajes, paredes, juntas e conexões, canais de fumaça, chaminés, silos,
treliças, pontes, torres, tendo sido esses sistemas aplicados em concreto armado, pro-
tendido, estruturas de aço, ferro-fundido, madeira e alvenarias diversas. Esses sistemas
criaram uma nova oportunidade de recuperação de edi¿cações em que as características
originais precisavam ser preservadas, tais como edifícios históricos ou de interesse artísti-
co, ou naqueles em que as técnicas tradicionais existentes não poderiam ser efetivamente
implantadas.
Os sistemas compostos utilizados para reforços estruturais estão disponíveis em diversas
geometrias, desde tecidos com malhas uni e bidirecionais até elementos com superfícies
bem de¿nidas como laminados, slides e barras redondas.

1.1 SISTEMAS DE REFORÇO COM FRP


Os sistemas FRP disponíveis para o reforço externo de estruturas de concreto armado são
classi¿cados da seguinte maneira:
– Sistemas pré-curados (pre-cured systems): que são manufaturados em diversas
formas por pultrusão ou laminação e são diretamente colados no elemento estru-
tural a ser reforçado;

35
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– Sistemas aplicados por via úmida (wet lay-up systems): são sistemas manufatura-
dos com ¿bras distribuídas em uma ou mais direções, como os tecidos e as folhas,
e impregnados com resina no local da aplicação.
– Sistemas pré-impregnados (prepreg systems): manufaturados com ¿bras uni ou
multidirecionais, tais como folhas ou tecidos, pré-impregnadas por ocasião de sua
fabricação com resina parcialmente polimerizada e que deverão ser coladas ao
elemento a ser reforçado com o uso de resinas adicionais.

1.2 PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS SISTEMAS FRP


Nos sistemas compostos estruturados com ¿bras, essas exercem uma dupla função, trans-
portando capacidade de carga e rijeza para o composto, enquanto a matriz é necessária
para assegurar a distribuição da carga às ¿bras e protegê-las das agressões do meio am-
biente. A maioria dos materiais dos sistemas FRP é feita com ¿bras de alta resistência e
rijeza enquanto sua deformação de ruptura é inferior àquela da matriz epoxídica.

Figura 1.1 – Relação tensão-deformação entre as Įbras, o FRP e a matriz.

A Figura 1.1 mostra a relação (tensão-deformação) para a ¿bra, a matriz e o sistema FRP
resultante.
Nela pode ser observado que o material resultante, o sistema FRP, tem menor rijeza que a ¿bra
e rompe à mesma deformação (İf,max) das próprias ¿bras. Decorrente desse fato, além dessa
deformação última, é prevenida a distribuição de carregamentos das ¿bras para a matriz.
Para sistemas compostos formados por ¿bras unidirecionais, o comportamento mecânico
do composto pode ser estimado utilizando-se modelos micromecânicos que indicam as
seguintes características:
Ef = V¿b.E¿b+(1-V¿b ) Em
f ¿b ≅ V¿b.f ¿b+(1-V¿b ) fm onde,

V¿b é a fração volumétrica de ¿bras, relação entre o volume de ¿bras no volume total do composto.
E¿b módulo de elasticidade da ¿bra.
Em módulo de elasticidade da matriz.

36
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

De modo geral podem ser considerados os seguintes valores para a de¿nição das proprie-
dades dos componentes dos sistemas FRP:

Propriedades dos Componentes


Fibras Matriz
E¿b=220 GPa Em=3 GPa
f ¿b=4.000 MPa fm=80 MPa

Tabela 1.1 – Propriedades dos materiais FRP

A Figura 1.2 mostra materiais compostos com frações volumétricas de ¿bra variando entre
30% a 100%. Os valores de rijeza e resistência da ¿bra são notavelmente maiores que
aqueles correspondentes à matriz, resultando que as propriedades mecânicas dos com-
postos FRP, (Ef e f f) são controladas principalmente pelas ¿bras, sendo que a contribuição
da matriz pode ser negligenciada.

Figura 1.2 – Relação tensão-deformação para diferentes frações volumétricas de Įbra.

1.3 SISTEMAS PRÉ-CURADOS


Os sistemas pré-curados de FRP consistem em uma grande variedade de formas compos-
tas manufaturadas (produzidas em fábricas) e, de certa maneira, podem ser associados
aos elementos de concreto pré-fabricados. Os sistemas pré-curados são caracterizados
por sua disposição unidirecional, o que permite a normatizar uma série misturas para se
de¿nir a espessura e a resistência do composto, uma vez que a fração volumétrica, em
geral, varia entre 50% a 70%. Os valores fornecidos pelos fabricantes dos sistemas devem
ser baseados em critérios normativos, e no caso dos sistemas pré-curados normalmente
são fornecidas as características mecânicas relativas à seção transversal do mesmo, com
padrões bem especi¿cados.

37
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Essa técnica consiste na aplicação via colagem de elementos laminados de FRP conve-
nientemente produzidos em fábrica em condições higrométricas ideais, com controle de
qualidade preciso. As vantagens desta técnica estão associadas à melhor qualidade do
laminado que pode ser aplicado de forma controlada e com tempo mais reduzido de traba-
lho. Uma das desvantagens seria que, para peças muito grandes, haveria um aumento no
custo de transporte das mesmas. Esse sistema exige um particular cuidado no projeto e na
execução das ligações (uniões) e nas regiões de superposição.
Existem três formas mais importantes dos sistemas FRP pré-curados:
– folhas laminadas de material unidirecional, fornecidas tipicamente sob a forma de
placas largas para estoque ou na forma de ¿tas ¿nas fornecidas enroladas sob a
forma de bobinas;
– grades (ou grelhas) multidirecionais, também fornecidas enroladas sob a forma de
bobinas;
– cascas (normalmente cilíndricas) pré-conformadas, fornecidas na forma em que
são fabricadas, em segmentos cortados longitudinalmente de tal forma a poderem
ser abertos e aplicados em volta de colunas, normalmente utilizadas para con¿na-
mento sísmico de elementos.

A Fotogra¿a 1.1 mostra como esses últimos elementos são produzidos e instalados.
A jaqueta de FRP tem Àexibilidade su¿ciente para ser aberta e poder “vestir” o elemento
a ser reforçado. Uma vez posicionado em volta da coluna, ela é ajustada de forma a ¿car
completamente aderida através da resina ao substrato de concreto. Se necessário, pode-
se utilizar uma cobre junta ajustada sobre a emenda da peça para se permitir a completa
transferência dos esforços.

FotograĮa 1.1 – Elementos pré-curados de FRP.

38
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

Outra aplicação de elemento pré-curado em coluna circular é mostrada na Fotogra¿a 1.2.


Observar a semelhança dos procedimentos com o anterior.

FotograĮa 1.2 – Instalação de elementos pré-curados de FRP.

1.4 SISTEMAS APLICADOS (CURADOS) POR VIA ÚMIDA


No caso de sistemas aplicados por via úmida, a espessura ¿nal do laminado de FRP não
pode ser estimada de uma maneira determinística. Entretanto, é recomendado que sejam
referidas as características geométricas e mecânicas do tecido seco de acordo com os
dados técnicos fornecidos pelos fabricantes.
Para se determinar a área da seção transversal de sistemas aplicados por via úmida (Art),
a seguinte expressão pode ser utilizada:

Tx .Nf
Art = onde,
10 . ρfib

Art expresso em (mm2 x mm).


Tx é a contagem de ¿os referidos à direção principal, expresso em TEX(g x km)
Nf número de ¿os por unidade de largura, referidos à direção principal, expresso em (¿os/cm).
ȡ¿b densidade da ¿bra, expressa em (g/cm3).

No caso de tecidos com o mesmo número de ¿bras nas duas direções ortogonais (¿bras
balanceadas) a área da seção transversal do laminado (Art) também pode ser calculada
através da seguinte expressão:
pt
Art =
2.ρfib

pt é a massa do tecido por unidade de área, expressa em (g/m2).

39
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

No caso de tecido unidirecional, (Art) pode ser assim avaliado:


pt
Art =
ρfib

A Figura 1.3 mostra, esquematicamente, os procedimentos de aplicação do sistema FRP


curado por via úmida.

Figura 1.3 – Aplicação do sistema curado por via úmida.

1.5 SISTEMAS PRÉ-IMPREGNADOS


Os sistemas pré-impregnados (prepreg) são impregnados diretamente na fábrica e forne-
cidos em rolos. A resina deve receber tratamento pré-polimerizante. O sistema pré-impreg-
nado é uma ¿na folha, em média com 0,15 mm de espessura, Àexível e moderadamente
pegajoso, coberto por um ¿lme destacável de papel de silicone ou similar, aplicado sobre
a superfície com o objetivo de preservar o sistema de contaminações externas. As carac-
terísticas mecânicas e os dados técnicos dos sistemas pré-impregnados são idênticos aos
dos sistemas aplicados via úmida.

1.6 MATERIAIS CONSTITUINTES E PROPRIEDADES DOS SISTEMAS FRP


Os materiais constituintes utilizados nos sistemas FRP disponíveis e comercializados in-
cluem resinas, imprimantes, regularizadores, saturantes, adesivos, ¿bras e revestimentos
protetores. Todos esses componentes foram desenvolvidos e extensivamente testados
para permitir o aumento de resistência das estruturas de concreto armado.

1.6.1 RESINAS

As resinas utilizadas para os sistemas FRP abrangem um grande faixa de resinas polimé-
ricas nas quais se incluem os imprimantes, os regularizadores super¿ciais, os saturantes
e os adesivos. As resinas comumente utilizadas, incluindo os epóxis, os ésteres de vinil
e poliésteres, foram formuladas para trabalharem atendendo às mais variadas condições
ambientais e de compatibilidade, entre as quais se destacam:
– compatibilidade e adesão com e ao substrato de concreto;

40
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

– compatibilidade e adesão com e ao sistema composto FRP;


– resistência aos efeitos (agressões) ambientais, incluindo, mas não limitados à umi-
dade, água salgada, variação extrema de temperaturas e aos agentes químicos
normalmente associados ao concreto exposto;
– capacidade de preenchimento de vazios;
– trabalhabilidade;
– tempo de utilização (pot-life) consistente com as necessidades da aplicação;
– compatibilidade e adesão com e às ¿bras que estruturam o sistema composto;
– desenvolvimento das propriedades mecânicas apropriadas para o sistema com-
posto FRP.

1.6.2 REGULARIZADORES DE SUPERFÍCIE

Os regularizadores de superfície são utilizados para o preenchimento de vazios ou cor-


reção de imperfeições super¿ciais visando propiciar uma superfície lisa e desempenada
sobre a qual o sistema compósito será colado.
De modo geral, os regularizadores de superfície utilizados nos sistemas compostos são
adesivos bicomponentes com 100% de sólidos e consistência ¿rme. Suas principais carac-
terísticas mecânicas são:
– Resistência à tração 23,0 MPa.
– Alongamento máximo de tração 1,6%.
– Módulo de tração 262,0 MPa.

Esses produtos podem ter uma espessura máxima recomendada de 3 mm.

1.6.3 IMPRIMADORES PRIMÁRIOS

Já os imprimantes são utilizados para penetrar na superfície do concreto para produzir


ponte de aderência para as resinas de saturação ou adesivos.
As massas de enchimento (regularizadoras) são utilizadas para preencher as irregularida-
des (vazios) super¿ciais e para produzir uma superfície suave e lisa na qual o sistema FRP
possa ser aderido.
Em média, as suas principais características são:
– Resistência à tração 13,0 a 15,8 MPa.
– Alongamento máximo à tração 10 a 30%.
– Módulo tangencial 689,0 a 826,8 MPa.

41
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

1.6.4 RESINAS DE SATURAÇÃO

As resinas de saturação são utilizadas para impregnar as ¿bras do reforço, ¿xando-as no


local e garantindo uma capacidade resistente ao corte para permitir uma transferência de
carga efetiva entre as ¿bras. As resinas de saturação são utilizadas para a impregnação
das ¿bras que constituem o reforço estrutural dos compostos, ¿xando-as no local e garan-
tindo um meio efetivo para a transferência das tensões de cisalhamento entre as mesmas.
As resinas de saturação também servem como adesivo para os sistemas pré-impregna-
dos, permitindo a transferência das tensões de cisalhamento entre o substrato de concreto
previamente imprimado e o sistema composto.
A resina inÀui muito pouco para a resistência ¿nal do sistema composto, mas exerce rele-
vante função para a absorção dos esforços de Àexão e cisalhamento.
Uma recomendação fundamental é de que se deve utilizar estritamente a quantidade de
resina necessária à impregnação ou à colagem para que não ocorram alterações sensíveis
nas características do composto. Um excesso de resina acarreta uma menor resistência
¿nal e um peso maior.
São as seguintes as características fundamentais das resinas utilizadas nos sistemas
compostos:
– baixa retração durante o processo de cura da matriz;
– deformação de ruptura compatível com as deformações das armaduras existentes;
– permanência de sua estabilidade frente à atuação de agentes químicos;
– su¿ciente capacidade de aderência às ¿bras do sistema;
– módulo de elasticidade da ordem de 2000 MPa;
– proteção das ¿bras de carbono contra os efeitos do meio ambiente e da abrasão;
– garantir a orientação das ¿bras de carbono na matriz.

Geralmente as resinas de saturação são resinas epoxídicas de baixa viscosidade, bicom-


ponentes e com 100% de sólidos. Suas principais características são:
– Resistência à tração por Àexão 43,0 MPa.
– Resistência direta à tração 78,0 MPa.
– Resistência à compressão 88,0 MPa.

1.6.5 ADESIVOS

Os adesivos são utilizados para colar laminados pré-curados de FRP às superfícies do


concreto e sistemas NSM ao substrato de concreto. Os adesivos garantem, ao estabelece-
rem um meio de transferência das tensões de cisalhamento entre o substrato de concreto
e o laminado, uma ligação resistente ao corte entre o substrato do concreto e o sistema de
reforço FRP.
As ¿bras plásticas contínuas são os elementos resistentes dos sistemas compostos. A ¿bra
garante a sua resistência e rijeza.

42
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

FotograĮa 1.3 – Instalação de elementos pré-curados (laminados) de FRP com adesivos.

1.6.6 REVESTIMENTOS PROTETORES

Finalmente, os revestimentos protetores dos sistemas compostos têm por ¿nalidade prote-
gê-los de efeitos potencialmente danosos do meio ambiente e das agressões mecânicas.
Esses revestimentos são aplicados sobre o sistema FRP já curado e podem ser constituí-
dos de diversas maneiras, tais como:
– revestimentos poliméricos, geralmente epoxídicos ou poliuretânicos;
– revestimentos acrílicos, que podem ser sistemas acrílicos aplicados com desempe-
nadeira ou sistemas acrílicos com base cimentícia, aplicados com texturas variadas;
– revestimentos cimentícios que podem exigir que seja criada uma rugosidade sobre
o sistema FRP, como o polvilhamento de areia sobre a resina ainda úmida, e que
podem ser aplicados da mesma maneira como se aplicam esses revestimentos
sobre a superfície do concreto;
– camadas intumescentes protetoras, com base em polímeros, utilizadas para o
controle de propagação de chamas e geração de fumaça, para atendimento de
requisitos normativos. Os revestimentos intumescentes apresentam resistência
contra incêndios para a Classe I da norma ASTM E84;
– podem ser também fornecidos revestimentos especí¿cos para atender a condi-
ções ambientais especí¿cas.

De modo geral, a instalação dos sistemas FRP da MasterBrace curados por via úmida
pode ser resumida no seguinte processo:

43
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

1.6.7 PROPRIEDADES FÍSICAS DOS SISTEMAS FRP

As ¿bras plásticas contínuas são os elementos resistentes dos sistemas compostos. A ¿bra
garante a sua resistência e rijeza.
O peso especí¿co dos materiais que conformam os sistemas FRP variam de 1,2 g/cm3 até
2,1 g/cm3, o que é cerca de quatro a seis vezes inferior ao peso especí¿co do aço. Os siste-
mas compostos aplicados sobre o concreto adicionam tão pouco peso que geralmente são
desconsiderados. O pequeno peso dos sistemas permite que o seu manuseio e aplicação
sejam extremamente facilitados. A Tabela 1.3 mostra os pesos especí¿cos típicos para os
sistemas FRP instalados.

Densidades Típicas dos Materiais dos FRP (g/cm3)(*)


Aço Fibra de Vidro Fibra de Carbono Fibra de Aramida
7,9 1,2 a 2,1 1,5 a 1,6 1,2 a 1,5

Tabela 1.3 – Pesos especíĮcos do Aço versus FRP.

Os coe¿cientes de variação térmica dos sistemas FRP unidirecionais são diferentes nas suas di-
reções longitudinal e transversal, dependendo do tipo de ¿bra e da fração em volume da mesma.

CoeÀcientes Típicos de Variação Térmica dos FRP(*)


Coef. de Variação Térmica (10-6/°C)
Direção
Vidro Carbono Aramida
Longitudinal, ĮL 6 a10 -1 a 0 -6 a -2
Transversal, ĮT 19 a 23 22 a 50 60 a 80
(*) - Valores ơpicos para frações em volume de 0,5 a 0,7

Tabela 1.4 – CoeĮcientes de variação térmica do FRP.

A Tabela 1.4 mostra os coe¿cientes de variação térmica típicos dos sistemas mais utiliza-
dos. A análise dessa Tabela mostra que, no caso dos sistemas estruturados com ¿bras de
carbono, o sistema contrai quando ocorrer aumento na temperatura e expande quando
houver redução na temperatura (paradoxo térmico).

1.6.8 EFEITOS DE TEMPERATURA ELEVADA

Próximo à temperatura de transição vítrea (Tg), o módulo de elasticidade dos polímeros é


signi¿cativamente reduzido devido às mudanças em sua estrutura molecular. O valor de
(Tg) depende do tipo de resina, mas normalmente se situa entre 60°C a 90°C. Nos ma-
teriais compostos do FRP as ¿bras, que exibem melhores propriedades térmicas que as
resinas, podem continuar a suportar alguma carga segundo a direção longitudinal até que
a temperatura limite das mesmas seja atingida, cerca de 275°C para as ¿bras de vidro,

44
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

1000°C para as ¿bras de carbono e 175°C para as ¿bras de aramida. Outras propriedades
são afetadas pela transferência de esforços via corte através da resina, tais como as ten-
sões de Àexão, sob a ação de baixas temperaturas. Maiores informações serão fornecidas
ao ¿nal deste capítulo.

1.6.9 PROPRIEDADES MECÂNICAS

1.6.9.1 Comportamento à tração

Quando carregados segundo a direção longitudinal das ¿bras, os materiais dos sistemas
FRP não exibem nenhum comportamento plástico (escoamento) antes da ruptura.
O comportamento à tração desses materiais é caracterizado por uma relação (tensão/de-
formação) elástica linear até a ruptura, que é súbita e frágil, como mostrado na Figura 1.4.

Figura 1.4 – Diagrama Tensão/Deformação dos PlásƟcos.

A tensão de tração e espessura dos sistemas FRP são dependentes de uma série de fato-
res. Uma vez que as ¿bras nos sistemas FRP absorvem quase todo o carregamento, o tipo
de ¿bra, sua orientação e sua quantidade, assim como a maneira com que são fabricadas
afetam as propriedades de resistência à tração das mesmas.
A área líquida de ¿bras de um sistema FRP é calculada usando a área de ¿bra conhecida,
negligenciando a largura total e a espessura do sistema curado, isto é, a resina é excluída
da avaliação. A área líquida da ¿bra é utilizada para caracterizar as propriedades dos sis-
temas aplicados via úmida, no local de sua implantação.
A área bruta do laminado de um sistema FRP é calculada utilizando-se a área total da se-
ção transversal do laminado, incluindo todas as ¿bras e resina. A área da seção transver-
sal é usada tipicamente para denominar as propriedades dos laminados pré-curados, nos
quais a sua espessura é constante e a proporção entre ¿bras e resina é conhecida.
Os sistemas que utilizam a área total bruta do laminado têm maior espessura relativa e menor
resistência e módulo de elasticidade relativos do que os sistemas que utilizam a área líquida
de ¿bras, que possuem menor espessura relativa, mas maiores resistências e módulos de
elasticidade. Essas características diversas podem ser apreendidas da análise da Figura 1.5.

45
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 1.5 – CaracterísƟcas dos laminados e dos tecidos.

Entretanto, mesmo considerando essas variações relatadas, a capacidade de transferir


resistência dada por (f fu.Af) e a rijeza axial (Af.Ef) permanecem constantes.

1.6.9.2 Comportamento à compressão

Os sistemas FRP aderidos externamente não devem ser utilizados para o reforço à com-
pressão devido à falta de dados e testes que possam validar tal utilização. Somente a título
de informação, resultados de testes realizados com laminados mostraram que a resistên-
cia à compressão é inferior que a resistência à tração. O modo de ruptura dos laminados
pode ocorrer por tração transversal, ruptura por corte ou microÀambagem.
O módulo de elasticidade à compressão do FRP é usualmente menor do que o módulo de
elasticidade à tração. Experimentos demonstraram que o módulo de elasticidade à com-
pressão, comparativamente ao de tração, é de cerca de 80% para as ¿bras de vidro, 85%
para as ¿bras de carbono e de 100% para as ¿bras de aramida.

1.6.10 COMPORTAMENTO DOS SISTEMAS FRP FRENTE ÀS MANIFESTAÇÕES


DO MEIO AMBIENTE

Especi¿camente se referindo aos sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono


são relatados o seu comportamento frente às agressões mais frequentes do meio ambien-
te. Todos os grá¿cos apresentados foram obtidos de ensaios realizados com um sistema
composto especí¿co1 de uso comercial corrente.

1.6.10.1 Comportamento relativamente ao calor e umidade

Eventualmente pode ocorrer alguma degradação nos sistemas compostos estruturados


com ¿bras relativamente aos efeitos cumulativos do calor e da umidade. Convém lembrar
que o coe¿ciente de dilatação térmica das ¿bras de carbono é quase zero (mas não é zero),
podendo ser considerado mais ou menos da ordem de (1/10) dos coe¿cientes térmicos do
concreto e do aço. Normalmente os coe¿cientes de dilatação térmica das resinas saturan-

1 - Sistema composto MasterBrace da BASF.

46
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

tes dos sistemas compósitos FRP são cerca de 10 vezes maiores do que os do concreto e
do aço. Assim, o fato mais importante a considerar relativamente à inÀuência da variação
da temperatura ambiente sobre os sistemas FRP é que a deformação limitante é aquela
correspondente à tração existente no concreto, para qualquer temperatura acima de 0ºC.
Apresenta-se na Figura 1.6 o grá¿co do comportamento de um sistema composto especí¿-
co submetido à ação de meio ambientes quentes e úmidos, no que se refere à sua resistên-
cia à tração. Não foi observada qualquer inÀuência da variação de umidade e temperatura
sobre o módulo de elasticidade do composto.

Figura 1.6 – Efeito de meioambientes quentes e úmidos.

1.6.10.2 Efeito de água salgada e alcalinidade no sistema composto

Os sistemas compostos estruturados com ¿bra de carbono demonstraram possuir uma


grande tolerância à inÀuência de água salgada e água alcalina, conforme Figura 1.7.

Figura 1.7 – Efeito da água salgada e da alcalinidade.

Identicamente ao grá¿co da Figura anterior, não foi observada nenhuma alteração no mó-
dulo de elasticidade do compósito.

47
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

1.6.10.3 Efeito da luz ultravioleta no sistema composto

Nas avaliações feitas com o sistema composto sob a ação da luz ultravioleta, não foi ob-
servada qualquer degradação sensível no sistema composto.

1.6.10.4 Ciclos de congelamento e descongelamento no sistema composto

Da mesma maneira, não foram observadas degradações sensíveis no sistema composto


analisado sob a ação de ciclos alternados de congelamento-descongelamento.

1.7 O SISTEMA COMPOSTO ESTRUTURADO COM FIBRAS DE CARBONO


A partir desse instante, o objetivo do livro se concentrará no estudo dos sistemas compos-
tos estruturados por ¿bras de carbono. Essa decisão se torna óbvia quando se observa
que a maioria dos reforços estruturais realizados com sistemas compostos utiliza ¿bras de
carbono em suas diversas con¿gurações.
Os sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono, FRP, são construídos com
dois elementos distintos e fundamentais:
– a matriz polimérica, a quem cabe a função de manter as ¿bras que as estruturam
coesas, propiciando a transferência das tensões de cisalhamento entre os dois
elementos estruturais, concreto e ¿bra de carbono;
– o elemento estrutural, constituído pelas ¿bras de carbono. As ¿bras dispostas uni-
direcionalmente dentro das matrizes poliméricas absorvem as tensões de tração
decorrentes dos esforços solicitantes atuantes.

Figura 1.8 – Sistema composto com Įbras de carbono.

A Figura 1.8 mostra esquematicamente um sistema composto estruturado com ¿bras de


carbono FRP. Naquela ¿gura os bastonetes representam as ¿bras de carbono imersas na
matriz polimérica. Nos plásticos, as armaduras (¿bras) são responsáveis pela resistência
mecânica do sistema, cabendo à matriz polimérica a transferência das tensões de cisalha-
mento do substrato de concreto para o sistema composto.

48
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

1.7.1 A MATRIZ POLIMÉRICA

A matriz polimérica tem necessariamente que ter um alongamento de ruptura muito maior
do que o alongamento que ocorre na ¿bra de carbono, para permitir que a mesma continue
a possuir capacidade de carga mesmo após a tensão na ¿bra ter atingido a sua tensão de
ruptura (limite de resistência).
Dessa maneira, os sistemas compostos FRP devem trabalhar segundo o critério ¿bra com
ruptura frágil e matriz polimérica com ruptura dúctil, conforme indicado no lado esquerdo
da Figura 1.9. Dessa maneira ¿ca descartada a possibilidade de que o sistema FRP entre
em colapso pela ruptura frágil da matriz, possibilidade de ocorrência que está indicada na
parte direita da Figura 1.9.
A Fotogra¿a 1.4 mostra uma ampliação em microscópio eletrônico de uma matriz poliméri-
ca de um sistema composto estruturado com ¿bras de carbono2.
Para se tenha uma noção de grandeza dos sistemas FRP, são necessários 12.000 ¿lamentos
justapostos para que se tenha 1 cm de largura. Na fotogra¿a, no canto inferior direito, existe
uma marcação de escala que indica 10 micrometros. Observe-se que as ¿bras de carbono
(os bastonetes cilíndricos) ¿cam totalmente encapsuladas pela resina da matriz polimérica.

Figura 1.9 – Diagrama tensão deformação dos FRP.

FotograĮa 1.4 – Ampliação eletrônica de uma matriz de F.

2 - FotograĮa genƟlmente cedida pelo Sistema MasterBrace da BASF.

49
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Apenas para que se tenha um termo de comparação, na Figura 1.10, é mostrada a relação
entre o diâmetro de um ¿o de cabelo humano com o diâmetro de um ¿lamento de carbono.

Figura 1.10 – Comparação entre as espessuras do cabelo humano e o Įlamento da Įbra de carbono.

1.7.2 COMPORTAMENTO DOS SISTEMAS FRP ANTE A AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS E


FOGO (INCÊNDIO)

Em qualquer projeto ou construção, um dos aspectos mais importantes a ser considerado


é aquele que se refere à segurança física dos seus ocupantes, e uma das ocorrências que
mais causam preocupação é a possibilidade da ocorrência de incêndio.
Como os sistemas FRP são aderidos externamente às estruturas de concreto armado
para permitir o seu reforço, torna-se imprescindível a veri¿cação da resistência ao fogo da
estrutura reforçada.
Existem diversos códigos e normas estruturais que especi¿cam os requisitos que devem
ser veri¿cados para que se tenha segurança em relação à resistência da estrutura refor-
çada ao fogo. Contudo, o comportamento ao fogo dos materiais que constituem o sistema
FRP ainda escapa ao alcance desses códigos e normas em função do relativo pouco tem-
po de aplicação dos mesmos na indústria da construção civil.
A análise do comportamento ao fogo dos sistemas FRP deve levar em consideração dois
fatores relevantes:
– as resinas de epoxídicas utilizadas nos materiais dos sistemas FRP aderidos ex-
ternamente ao concreto são combustíveis, sendo assim fundamental avaliar o seu
potencial de geração de fumaça e propagação da chama;
– como se utiliza os sistemas FRP como elementos estruturais, deve-se avaliar a
resistência ao fogo da estrutura de concreto reforçada com o mesmo.

1.7.2.1 Propagação da chama e geração de fumaça

Costuma-se adotar para essas veri¿cações as recomendações da norma ASTM E84 –


“Características de Combustão de Superfície dos Materiais de Construção”. Os ensaios
preconizados por essa norma são utilizados para:
– determinar a rapidez da propagação da chama em uma área determinada;

50
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

– determinar a densidade da fumaça gerada quando uma superfície é exposta a uma


fonte térmica controlada à temperatura de combustão.

Os acabamentos de superfície, segundo as recomendações dessa norma, devem apresentar:


Classe I Classe II Classe III
Índice de propagação de chama < 25 < 75 < 200

Já o índice de propagação de fumaça deve ser inferior a 450 para poder classi¿car o aca-
bamento super¿cial.

1.7.2.2 Resistência ao fogo

A resistência ao fogo dos materiais de FRP é basicamente determinada pela qualidade da


resina utilizada no composto.
Essas resinas são tipicamente classi¿cadas como termoplásticas e termoestáveis (ou
termo¿xas):
– as resinas termoplásticas podem se fundir e novamente se solidi¿car repetidas
vezes ao serem aquecidas e resfriadas;
– as resinas termoestáveis experimentam uma reação química para serem curadas,
mas não podem regressar ao estado inicial após sofrerem aquecimento.

Essas resinas que são utilizadas em praticamente todos os materiais compostos da indús-
tria da construção civil passam a um estado frágil vitri¿cado quando expostas a altas tem-
peraturas. A temperatura na qual se inicia essa transição á conhecida como temperatura de
transição vítrea (TG). De modo geral a integridade estrutural de um sistema FRP começa a
se degradar a temperaturas superiores a (TG) decorrente do fato de que a resina não mais
consegue manter inalterada a adesão das ¿bras individuais no composto de FRP.
A temperatura de transição vítrea (TG) das resinas epoxídicas bicomponentes, curadas à
temperatura ambiente, se situa na ordem de 60ºC a 90ºC. Entretanto, os revestimentos
comuns contra incêndio, tais como painéis de gesso, ¿bras minerais diversas, pinturas
intumescentes, etc., não proporcionam isolamento térmico su¿ciente para manter a tempe-
ratura na peça e no FRP abaixo de (TG).
Diante dessa constatação é prática corrente entre os projetistas desconsiderar totalmente
a resistência ao fogo desses materiais compostos e depender exclusivamente da resistên-
cia ao fogo da estrutura existente na sua condição de não reforçada. Esta não é uma situa-
ção exclusiva para os sistemas de FRP, mas comum a reforços estruturais que dependem
de adesivos para a sua ancoragem, como é o caso do reforço com lâminas de aço aderidas
com resinas epoxídicas.
Quando se reforça uma estrutura de concreto armado com a utilização de sistemas FRP
recomenda-se avaliar a resistência ao fogo da estrutura existente segundo os procedimen-
tos normativos correntes. Desde que essa estrutura, ao ser veri¿cada através do critério
de resistência reduzida dos materiais, suporte as solicitações das demandas de serviço
antecipadas, a condição ¿ca atendida.

51
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Considerando que a maioria das estruturas de concreto armado, quando adequadamente


dimensionadas, exibe uma resistência ao fogo superior àquela recomendada pelos códi-
gos é possível efetuar-se o reforço estrutural (aumento das cargas) sem confrontar a meto-
dologia corrente que estabelece que a um aumento de carga corresponde uma diminuição
da resistência ao fogo. Assim, um sistema de FRP pode ser utilizado para compensar os
aumentos de carga sob condições normais.
Em situações em que se necessita aumentar as cargas a tal ponto que a resistência ao
fogo não ofereça a segurança exigida, pode resultar em utilização de proteção contra in-
cêndios e¿caz.
São viabilizados nesse caso a utilização de ¿bras minerais isolantes térmicos, painéis de
gesso ou pinturas intumescentes que isolem a estrutura existente e reduzam a temperatura
na seção. A redução de temperatura aumenta a resistência dos materiais com característi-
cas mecânicas dependentes da temperatura. Convêm ressaltar que esses meios protegem
a estrutura existente e não somente o FRP.
Finalmente, dado que a estrutura existente proporciona resistência ao fogo, existe um li-
mite na quantidade de reforço com FRP que se pode utilizar. Se a estrutura está comple-
tamente isolada termicamente, a sua resistência à temperatura ambiente deve exceder a
nova demanda não antecipada.
Desde que entrou em vigência, a norma ABNT NBR 15.200:2012 – “Projeto de Estruturas
de Concreto em Situação de Incêndio” obrigou a revisão de alguns critérios há muito tem-
po estabelecidos entre os projetistas estruturais ao estabelecer “critérios de projetos de
estruturas de concreto em situação de incêndio, com base nos requisitos de resistência ao
fogo estabelecidos na ABNT NBR 14.432. Transcrevemos a seguir parte do texto referente
à resistência ao fogo”.
“Essa norma aplica-se às estruturas de concreto normais, identi¿cadas por massa especí-
¿ca seca maior do que 2000 kg/m3, não excedendo 2800 kg/m3, do grupo I de resistência
(C20 a C50), conforme a classi¿cação da ABNT NBR 8953. Para concretos do grupo II de
resistência, conforme classi¿cação dea ABNT NBR 8953, podem ser empregadas reco-
mendações do Eurocode 2, Part 1.2”.
5.2 Os objetivos gerais da veri¿cação de estruturas em situação de incêndio são:
- limitar o risco à vida humana;
- limitar o risco da vizinhança e da própria sociedade;
- limitar o risco da propriedade exposta ao fogo;
5.3 Considera-se que os objetivos estabelecidos em 5.2 são atingidos se for demonstrado
que a estrutura mantém as funções corta-fogo e de suporte.
5.4 Os requisitos descritos em 5.3 estão inseridos num conjunto maior de requisitos gerais
de proteção contra incêndio que compreende:
– reduzir o risco de incêndio;
– controlar o fogo em estágios iniciais;
– limitar a área exposta ao fogo (compartimento corta-fogo);

52
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

– criar rotas de fuga;


– facilitar a operação de combate ao incêndio;
– evitar a ruína prematura da estrutura, permitindo a fuga dos usuários e as opera-
ções de combate ao incêndio.

Ensaios mostram que, em situação de incêndio, as peças de concreto rompem usualmente


por Àexão ou Àexo-compressão e não por cisalhamento. Por isso, considera-se apenas a
armadura longitudinal nesse critério.
Mesmo que uma estrutura tenha sido reforçada e não tenham sido alterados os procedi-
mentos iniciais de proteção contra incêndio, a eventual ocorrência deste tipo de sinistro
que venha a dani¿car de forma irreversível o reforço aplicado, não signi¿ca que esteja
totalmente desquali¿cada a estrutura em termos de segurança, uma vez que a resiliência
previamente existente pode ser su¿ciente para garantir o tempo necessário à evacuação
da edi¿cação.
Segundo a NBR 15.200:2012 a veri¿cação da resistência ao fogo de uma estrutura de
concreto armado ou protendido pode ser feita de uma das seguintes maneiras a seguir:
- Método das ações e solicitações: análise do E.L.U pela combinação excepcional
de incêndio conforme NBR 6118:2014 e NBR 8681:2003;
- Método Tabular: conforme NBR 15.200:2012;
- Método Analítico: conforme NBR 15.200:2012;
- Método Experimental: a determinação da resistência ao fogo pode ser justi¿cada
por meios de ensaio conforme NBR 5628.

Caberá ao projetista veri¿car, considerando as combinações de incêndio, se a estrutura por


ele reforçada atende ao tempo mínimo requerido. Caso a estrutura tenha a resistência mí-
nima para não colapsar sem a consideração da existência do reforço, a resistência TRFF
ao incêndio está automaticamente veri¿cada.

1.7.2.3 Proteção intumescente retardadora de fogo

Alguns sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono já desenvolveram prote-


ções visando retardar os efeitos das chamas sobre os mesmos.
A partir de estudos independentes realizados pela empresa Omega Point Research, de San
Antonio3, determinaram que o sistema MasterBrace em sua aplicação standard (top coat
convencional) cumpre com os requisitos mínimos da norma ASTM E84 para a Classe III.
O produto normalmente aplicado, ATX Topcoat, não satisfaz aos requisitos daquela norma
no que se refere à geração de fumaça, portanto, não se deve utilizá-lo em espaços interio-
res submetidos a requisitos de geração de fumaça.

3 - Omega Point Research – San Antonio – Texas – EUA.

53
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Para áreas com requisitos restritos de propagação de chama e de geração de fumaça a


aplicação de duas camadas de MasterBrace Topcoat FRL satisfaz a norma ASTM E84 para
a categoria Classe I, permitindo o seu uso irrestrito em edi¿cações. Esse não é um produto
padrão do Sistema MasterBrace, devendo, portanto, ser especi¿cado quando a sua utiliza-
ção é recomendada.
A tabela 1.6 abaixo indica as utilizações desses produtos.

MasterBrace Índice de Propagação Índice de Propagação


Classe (*)
Topcoat de Chama de Fumaça
sem topcoat 155 405 III
ATX Topcoat standard 70 500 sem corresp.
FRL Topcoat 0 10 I
(*) – Alguns códigos uƟlizam classes A,B e C ao invés de classes I, II e III.

Tabela 1.6 – RevesƟmentos protetores contra fogo.

1.7.3 REFORÇO COM FRP EM ESTRUTURAS SUBMETIDAS A AÇÕES DE ORIGEM TÉRMICA

Os sistemas compostos estruturados com plásticos e utilizando matrizes epoxídicas são


grandemente afetados na sua capacidade resistente quando trabalham em locais com
elevada temperatura ambiente ou quando submetidas a variações térmicas signi¿cativas.
De maneira geral, os sistemas compostos quando utilizados como reforço de estruturas de
concreto trabalham em locais onde a temperatura não excede o ponto de transição vítrea
da matriz, normalmente situado numa faixa de temperatura entre 80ºC e 90ºC, em que os
projetos de reforço são considerados adequados, sem que se torne necessário mais consi-
derações sobre a temperatura atuando sobre o sistema, sendo a temperatura ambiente da
ordem de 70ºC um valor considerado como o limite prático de dimensionamento. Ou seja,
até este valor, não se faz necessária qualquer consideração adicional referente à e¿ciên-
cia do sistema por ação da temperatura. Acima do ponto de transição vítrea as matrizes
epoxídicas começam a ser afetadas em sua e¿ciência, conduzindo a uma diminuição da
capacidade resistente do reforço aplicado.
Essa perda de e¿ciência pode ser considerada como uma das maiores desvantagens das
técnicas de reforço com a utilização de sistemas compostos estruturados com plásticos.
Diversos estudos têm sido realizados com o objetivo especí¿co de estudar o comporta-
mento das matrizes epoxídicas sob a ação de altas temperaturas e fogo (incêndio). As
pesquisas, entretanto, estão longe de esgotar o assunto.
No V Simpósio Edusp Sobre Estruturas de Concreto foi apresentado o estudo “E¿ciência
do Reforço de CFRP em Estruturas de Concreto Sob o Efeito Térmico”4 do qual são trans-
critos alguns comentários e conclusões que são consideradas bastante interessantes e
que são submetidas à apreciação e avaliação dos leitores.

4 - EĮciência do reforço de CFRP em estruturas de concreto sob efeito térmico – A.S. Fortes; I. J. Padaratz; A.O.Barros;
I.F.Freire

54
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

A Figura 1.11 mostra o resultado dos ensaios da capacidade resistente dos corpos de pro-
va onde se constatou que essa capacidade apresenta uma maior diminuição no seu valor
em temperaturas situadas na faixa entre 30ºC e 70ºC decrescendo o gradiente de perda
após aquele valor limite da faixa, evidenciando que o reforço vai diminuindo a sua colabo-
ração na resistência do conjunto.

Figura 1.11 – Diagrama de carga de ruptura vs. temperatura.

No caso dos reforços executados com tecidos (mantas) e laminados colados diretamente
sobre a superfície do concreto, a capacidade resistente da peça reforçada se aproxima
mais rapidamente da capacidade resistente decorrente exclusivamente do concreto do que
no caso das peças reforçadas com laminados em montagem NSM (near surface mounted).
Uma das conclusões mais interessantes do estudo é que se observou um melhor compor-
tamento mecânico das peças com reforço em montagem NSM comparativamente às peças
com aplicação de tecidos e laminados diretamente aderidos à superfície do concreto. As
principais conclusões do estudo são as seguintes:
– a capacidade de carga das peças ensaiadas teve seu valor reduzido em cerca de
15% quando se variou a temperatura de 30ºC para 70ºC, sendo o valor máximo
de redução da ordem de 30% nas proximidades de 150ºC;
– decorrente dessa constatação é importantíssimo o estabelecimento de um coe¿-
ciente de minoração da capacidade resistente do reforço quando do dimensiona-
mento de elementos sujeitos às variações sensíveis de temperatura ou com risco
elevado de incêndio;
– a capacidade resistente das peças reforçadas com montagem NSM de laminados
apresentou uma capacidade resistente sensivelmente superior àquelas reforçadas
com sistemas aderidos diretamente à superfície do concreto. Apesar da redução da
capacidade resistente com o aumento da temperatura, essas peças apresentaram
cargas de ruptura superiores àquelas reforçadas com as outras duas técnicas;
– segundo a conclusão do estudo pode-se admitir que a técnica de laminado em
montagem NSM é a mais e¿caz entre as três técnicas consideradas no trabalho
apresentado.

55
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Um trabalho bem mais recente, “Comportamento ao fogo de vigas de betão armado re-
forçadas CFRP´s” foi apresentado no “2o Seminário de Reforço Estrutural com FRP”, rea-
lizado em 21-11-2011 em Portugal, assinado pelos engenheiros João Pedro Firmo, João
Ramôa Correia e Cristina Lopez e que traz importantes observações sobre este tema,
justi¿cando a sua divulgação.
O trabalho con¿rma que:
– os materiais que constituem os sistemas FRP são combustíveis e liberam fumos
e gases tóxicos;
– as propriedades mecânicas dos sistemas FRP são reduzidas a partir da tempera-
tura de transição vítrea (TG), no intervalo de temperatura compreendido entre 70oC
e 160oC. À temperatura de 600oC a resistência à tração é reduzida 55%;
– a decomposição da resina epoxídica ocorre acima da temperatura (Td), entre
300oC a 500oC;
– o adesivo de colagem é o elemento mais susceptível ao aumento da temperatura.
A 80oC a sua resistência ¿ca reduzida a 80%;
Transcreve-se um importante grá¿co em que é mostrada a variação de massa e energia
dos componentes do sistema FRP com a variação da temperatura, determinando que (ver
Figura 1.12):
– para o FRP o valor de Td =380oC, e que ele é totalmente consumido a 800oC;
– para o adesivo o valor de Td =380oC, composto de 72% de matéria orgânica.

Figura 1.12 – Variação da massa e energia com a temperatura.

Objetivando estudar a evolução dos per¿s de temperatura foram executados ensaios à


Àexão em 6 vigas, sendo 1 viga não reforçada e sem proteção, 1 viga reforçada com FRP
e sem proteção, 2 vigas reforçadas com FRP e protegidas em toda a extensão do reforço
com argamassa de vermiculite/perlite (espessuras 25 mm e 40 mm) e, 2 vigas reforçadas
com FRP e protegidas por painéis de silicato de cálcio (espessuras 25 mm e 40 mm).

56
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

Os resultados são apresentados a seguir com os comentários pertinentes.

Finalmente, são transcritas as principais conclusões do trabalho:


– ¿ca comprovada a sensibilidade dos sistemas FRP sob a ação de fogo quando não
são adotadas medidas de proteção;
– o isolamento térmico na zona de ancoragem permitiu o funcionamento do refor-
ço mesmo quando no restante a ligação concreto-FRP se encontrava “destruída”
pela ação térmica;
– os sistemas de proteção estudados reduziram consideravelmente as temperaturas
ao nível do reforço, prolongando o tempo de resistência.

57
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Tempo de Proteção
do Reforço (min)
---- 23
Isolamento da zona de Placa SC 25 mm 60
ancoragem do laminado + Argamassa VP 25 mm 89
20 cm Placa SC 40mm 137
Argamassa VP 40 mm 167

A norma CNR – DT 200/20045 em seu item 3.6 informa que os materiais FRP são parti-
cularmente sensíveis às altas temperaturas que podem ocorrer durante a ação do fogo.
Quando a temperatura ambiente exceder a temperatura de transição vítrea da resina,
tanto a resistência como a espessura do sistema instalado são reduzidas. No caso de
FRP aplicado como reforço externo ao concreto ou às alvenarias, exposição a altas tem-
peraturas produzem uma rápida degradação da cola entre o sistema FRP e o seu su-
porte. Como resultado, uma redução da sua resistência efetiva e de colagem do sistema
composto pode ocorrer.
Com relação à exposição ao fogo, as propriedades do membro reforçado por FRP podem
ser melhoradas pelo aumento da espessura de revestimentos protetores. É sugerido o
emprego de revestimentos capazes de reduzir a propagação das chamas, bem como da
produção de fumaça.
Com o objetivo de prevenir o colapso da estrutura reforçada com FRP, em função do fato
de que as informações existentes do comportamento atual dos recobrimentos e resinas
existentes sob a exposição ao fogo não serem su¿cientes, é recomendado manter com
valor baixo a contribuição do FRP na resistência do membro reforçado.
É sugerido que as combinações para ações de fogo excepcionais tomem como referência
as seguintes situações descritas a seguir, onde o valor da carga térmica indireta é indicado
pelo símbolo (Ed).
– carga térmica excepcional com o reforço de FRP ainda existente (Ed  0), quando
o sistema de reforço foi dimensionado para suportar exposição ao fogo. As cargas
aplicadas necessitam ser consideradas no estado limite último e os fatores de car-
ga de acordo com condições frequentes de carregamento. Nesse caso, todas as
cargas atuando na estrutura para combinações frequentes deverão ser conside-
radas. A capacidade do membro, reduzida para levar em consideração a duração
da exposição ao fogo, deve ser computada com os fatores parciais pertinentes a
situações excepcionais (para sistemas FRP, (γf = 1,0).
– situação seguinte a um evento excepcional (Ed = 0), quando o sistema de reforço
não estiver mais no local. As cargas aplicadas deverão ser consideradas na con-
dição de carregamento quase permanente. A capacidade do membro, reduzida
para levar em conta a duração da exposição ao fogo, deve ser computada com os
fatores parciais aplicados às condições excepcionais.

5 - “Guide for the Design and ConstrucƟon of Externally Bonded FRP Systems for Strengthening Existent Structures” –
CNR – Advisory CommiƩee on Technical RecommendaƟon for ConstrucƟon.

58
Capítulo 1 - Propriedades Mecânicas dos Sistemas FRP (Polímeros Reforçados com Fibra)

1.7.4 PREPARAÇÃO DAS SUPERFÍCIES PARA RECEBER O SISTEMA FRP

Geralmente não é possível a aplicação dos sistemas FRP diretamente sobre as superfícies
dos elementos a serem reforçados sem antes proceder-se a uma preparação das mesmas.
Para que as aplicações de FRP sejam efetivamente e¿cientes é necessário que o substrato
de concreto esteja em condições tais de suporte e descontaminação que sustentem as
transferências de esforços que ocorrem nos reforços.
A preparação da superfície do concreto deve levar em consideração de qual será o objeti-
vo que leva à aplicação do sistema FRP. Existem dois tipos distintos de aplicação que se
diferenciam pela maneira com que é feita essa transferência de esforços.
– aplicações com colagem crítica;
– aplicações com contato crítico.

As aplicações com colagem crítica, utilizadas para a absorção de esforços de tração e de


corte de vigas, lajes, colunas ou alvenarias, exigem um adesivo de cola na interface siste-
ma FRP e a superfície do concreto.
Aplicações com contato crítico, utilizadas para o con¿namento de colunas, se caracteri-
zam por exigirem apenas um contato íntimo entre as superfícies do FRP e do concreto,
dispensando adesivo de cola, que normalmente só é utilizado para facilitar a instalação do
sistema.
A preparação das superfícies para o recebimento desses dois tipos de aplicação será ob-
jeto de descrição detalhada do Capítulo 12 deste livro.

59
CAPÍTULO 2

MODOS DE RUPTURA (FALHA) NOS SISTEMAS


COMPOSTOS

2.0 MODOS DE RUPTURA DOS SISTEMAS FRP


A resistência à Àexão de um elemento de concreto armado depende da maneira como
ocorrerá a ruptura. Poderão ocorrer os seguintes modos de ruptura em um elemento refor-
çado com sistemas FRP:
a – esmagamento do concreto por compressão antes do escoamento do aço das
armaduras.
b – escoamento por tração no aço das armaduras seguido pela ruptura do elemento
resistente do sistema FRP (tecido ou laminado).
c – escoamento por tração no aço das armaduras seguido do esmagamento do con-
creto por compressão.
d – desplacamento do cobrimento do concreto devido às tensões de tração e corte.
e – descolamento do sistema FRP do substrato do concreto.

O esmagamento do concreto é considerado como atingido se a deformação do concreto


alcançar a deformação máxima permitida (İc = İcu = 0,003)1.
A ruptura do sistema FRP aderido externamente ao concreto é considerado como atingido
se a deformação do FRP alcançar a deformação de ruptura de projeto (İf = İfu) antes que o
concreto atinja sua deformação máxima admitida.
Uma outra demonstração de como funciona a transferência da força de colagem em sis-
temas FRP aderidos externamente, transcrita da publicação “Strengthening of Concrete
Structures with Adhesively Bonded Reinforcement”2 é apresentado na Figura 2.2.
O desplacamento do cobrimento (ou descolamento do sistema FRP) poderá ocorrer se a
força existente no sistema FRP não puder ser resistida pelo substrato do concreto. Normal-
mente essas duas ocorrências são chamadas de descolamento, independentemente de
onde o plano de ruptura se propaga ao longo do substrato de adesivo do FRP.

1 - Segundo as recomendações da ABNT NBR 6118 esse valor seria de (ɸc = ɸcu = 0,0035).
2 - Strengthening of Concrete Structures with Adhesively Bonded Reinforcement – Konrad Zilch, Roland Niedermeier,
Wolfgang Finckh – Beton Kalender – 2014.

61
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 2.1 – Descolamento e delaminação de sistemas FRP colados externamente.

62
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

Figura 2.2 – Princípio da transferência da força de colagem em FRP aderido externamente.

A Figura 2.3 mostra os mecanismos de ruptura que podem acontecer no substrato de con-
creto sobre o qual está aderido o sistema FRP3.

Figura 2.3 – Mecanismos de ruptura no substrato do concreto.

3 - Adaptado da Fig. 4.1 da Norma CNR-DT 200/2004 do NaƟonal Research Council.

63
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A Figura 2.4 é a transcrição da Fig. 13.1 da norma ACI 440.2R-08 e mostra como ocorre
a distribuição interfacial das tensões entre o elemento de FRP e o substrato de concreto e
como podem ocorrer esses descolamentos.

Figura 2.4 – Distribuição conceitual das tensões normais e de corte.

A distribuição das tensões da colagem nos tecidos (laminados) de FRP é complicada pelo
¿ssuramento do substrato de concreto. A distribuição geral elástica das tensões interfaciais
de corte e normais ao longo do reforço com FRP colado a um substrato não ¿ssurado é
mostrada na Figura 2.5 (Fig. 13.2 do ACI 440.2R-08).

Figura 2.5 – Descolamento e delaminação de sistemas FRP colados externamente.

Quando o reforço é transferido pelo sistema FRP, as tensões normais de tração perpen-
diculares à interface entre o sistema aplicado e o suporte (substrato de concreto) podem
surgir devido à rijeza do laminado de FRP, conforme mostrado na Figura 2.6. Essa tensão
normal pode reduzir o valor da tensão de corte interfacial, conforme mostrado naquela
¿gura, e o modo de ruptura pelo descolamento da extremidade do laminado tem um com-
portamento frágil.
Como é consensual, a ligação mais fraca na interface concreto/FRP é o concreto. A quali-
dade do substrato e a sua resistência à tração é que servirão de limite para a determinação

64
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

da e¿ciência do sistema FRP colado ao concreto, que também deverão evitar os modos de
ruptura descritos no item 2.0.

Figura 2.6 – Domínio da resistência representado pelas tensões interfaciais normais e de corte (CNR-DT 200/2004).

Nos elementos de concreto armado que possuem um vão relativamente longo quando
considerado o corte, ou onde a descamação do ¿nal do FRP tiver sido efetivamente contro-
lada, o descolamento do sistema deve se iniciar nas ¿ssuras de Àexão, ¿ssuras de Àexão/
corte, ou ambas, próximas à região de momento Àetor máximo. No caso de carga pontual,
o vão da viga ao corte é a distância do ponto carregado ao apoio mais próximo. Sob car-
regamento essas ¿ssuras se abrem e induzem uma alta tensão de corte interfacial, que
produz o descolamento do FRP que se propaga ao longo do vão na direção decrescente
do momento Àetor. A Figura 2.74 ilustra as principais localizações das possíveis ocorrências
de descolamento dos sistemas FRP.
De maneira geral esta falha não compromete o agregado do concreto, progredindo na ¿na
camada do cobrimento, rica em argamassa. Entretanto, em regiões em que ocorre uma
alta relação corte-momento, essa falha pode ser incrementada.
A descamação nas extremidades do FRP, ainda se referindo como delaminação do co-
brimento, pode ser também resultante das tensões normais desenvolvidas nas extremi-
dades do sistema composto colado externamente. Nesse tipo de delaminação, as barras
de armaduras existentes funcionam basicamente como um redutor da colagem no plano
horizontal, o cobrimento do concreto se destaca do restante da viga e a delaminação se
desenvolve por comprimentos situados entre 100 e 200 mm. Esse efeito se torna ainda
maior se as barras da armadura tiverem sido revestidas por pintura epóxi quando da sua
montagem. A Figura 2.5 mostra esse efeito (Ver Fig. 13.2 ACI 440.R2-08).

4 - Adaptação da Figura 4.2 da CNR-DRT 200/2004.

65
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 2.7 – Descolamento e delaminação de sistemas FRP colados externamente.

Outro modo de descolamento é aquele produzido por ¿ssuras de Àexão no elemento re-
forçado. As ¿ssuras de Àexão produzem descontinuidade no substrato de concreto e esse
efeito aumenta as tensões interfaciais de corte, que são as responsáveis pelo descola-
mento do sistema. As ¿ssuras podem estar orientadas perpendicularmente ao eixo do ele-
mento quando os carregamentos que produzem maiores Àexões predominam e se tornam
inclinadas quando ocorre uma combinação de Àexão e corte. Esse mecanismo de ruptura
é mostrado na Figura 2.85.

Figura 2.8 – Descolamento e delaminação de sistemas FRP colados externamente.

Também ocorre o descolamento decorrente das ¿ssuras inclinadas de corte. No caso de


elementos em que as tensões de corte são predominantes comparativamente às de Àexão,
o que normalmente ocorre junto aos apoios favorece um deslocamento relativo nas bordas
da ¿ssura, como mostrado na Figura 2.9. Esse deslocamento induz ao aumento das ten-

5 - Adaptação da Fig. 7-3 (7 Appending B – Debonding) do “CNR-DT 200/2004 - Guide for the Design and ConstrucƟon
of Externally Bonded FRP Systems for Strengthening ExisƟng Structures” (CNR – Advisory CommiƩee on Technical Re-
commendaƟons for ConstrucƟon).

66
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

sões perpendiculares ao elemento do sistema FRP aplicado que produz o descolamento,


mecanismo que se torna ativo independentemente da presença dos estribos do elemento.
Esse tipo de ruptura não é muito comum quando as cargas aplicadas estão distribuídas ao
longo do vão. Entretanto, no caso de vigas fortemente reforçadas e que não dispõem de
um reforço transversal (estribos) de valor signi¿cativo, o descolamento geralmente se inicia
na extremidade do laminado, devido à descamação do cobrimento.

Figura 2.9 – Descolamento e delaminação de sistemas FRP colados externamente.

Finalmente, pode ocorrer descolamento do sistema por irregularidades (relevo) na superfí-


cie do substrato ou mesmo rugosidade (ver ¿gura 2.10). Esse tipo de descolamento pode
ser evitado com um tratamento super¿cial adequado da superfície do concreto.

Figura 2.10 – Descolamento por irregularidades superĮciais.

67
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

2.1 RECOMENDAÇÕES PARA ANCORAGEM DO LAMINADO SEGUNDO A


ACI 440.2R-08
Segundo as normas americanas (ACI), para prevenir-se uma falha prematura produzida
pelo descolamento, a deformação efetiva no reforço com FRP deve ser limitada àquela no
qual o descolamento pode ser produzido (İfd)6, de¿nida por:

f 'c
ε fd = 0,41 ≤ 0,9 ε fu
nEf tf

A ACI 440.2R-08 em seu item (13.1.2 – FRP end peeling) permite, para evitar análises mais
detalhadas, utilizar as seguintes recomendações gerais para a locação do ponto terminal
dos laminados e tecidos dos sistemas FRP, de forma a ser eliminado o problema de des-
placamento das extremidades:
– para vigas simplesmente apoiadas, uma camada única de laminado deve terminar
pelo menos a uma distância igual a (ldf ) contada a partir do ponto em que ocorre
o momento de ¿ssuração (Mf);
– para sistemas com mais de uma camada, os pontos de terminação de cada cama-
da devem ser espaçados, não podendo o ponto de terminação da última camada
se situar a menos do que (ldf ) após o ponto correspondente a (Mmax.). Para as de-
mais camadas, sucessivamente, deve ocorrer uma defasagem adicional de (150
mm), conforme mostrado na Figura 2.11.

Figura 2.11 – Relação Comprimento de Colagem/Força de Colagem.

– para vigas contínuas, uma única camada de laminado deve ser terminada a uma
distância mínima de (d/2) ou (150 mm § 6”), além do ponto de inÀexão do momen-
to (ponto de momento nulo).

6 - Ver ACI 440.2R-08, Figura (10-2) e comentários.

68
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

Figura 2.12 – Relação Comprimento de Colagem/Força de Colagem.

Para sistemas com múltiplas camadas, os pontos terminação de cada camada devem ser
espaçados, não podendo o ponto de terminação da última camada se situar a menos do que
(ldf) após o ponto correspondente a (Mmax.). Para as demais camadas, sucessivamente, deve
ocorrer uma defasagem adicional de (150 mm), conforme mostrado na Figura 2.12.
No caso da ancoragem dos laminados na face superior dos elementos, caso dos momen-
tos negativos, a ancoragem deve ser feita a partir do diagrama de momento deslocado da
distância (dd). Divide-se a altura do momento Àetor negativo pelo número de partes cor-
respondentes ao número de camadas de FRP, divisão que se estende até o diagrama de
momento Àetor deslocado, como mostrado na Figura 2.13. A partir dessa interseção, é feito
o prolongamento de 150 mm para cada lado.

Figura 2.13 – Relação Comprimento de Colagem/Força de Colagem.

69
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A capacidade de colagem do FRP é desenvolvida ao longo de um comprimento crítico de-


nominado (ldf), calculado através da seguinte expressão7:

n .Ef .tf
l df =
f 'c

2.1.1 DETERMINAÇÃO DO MOMENTO DE FISSURAÇÃO

Cabe ao projetista da estrutura a determinação do ponto onde ocorre o momento que não
produz ¿ssuração na peça de concreto, (MSdf,E), sendo que a força de tração corresponden-
te no ponto será determinada através da análise da seção.
A Norma ABNT NBR 6118:2014 em seu item (17.3 – Elementos lineares sujeitos a solicita-
ções normais – Estados-limites de serviço) assim de¿ne o momento de ¿ssuração:

17.3.1 Generalidades

Nos estados-limites de serviço as estruturas trabalham no estádio I e parcialmente no está-


dio II. A separação entre esses dois comportamentos é de¿nida pelo momento de ¿ssura-
ção. Esse momento pode ser calculado pela seguinte expressão aproximada:

α .fct .Ic
Mr =
γt

sendo
D = 1,2 para seções T ou duplo T.
D = 1,3 para seções I ou T invertido.
D= 1,5 para seções retangulares.
onde
D é o fator que correlaciona aproximadamente a resistência à tração na Àexão com a re-
sistência à tração direta
Jt é a distância do centro de gravidade da seção à ¿bra mais tracionada.
Ic é o momento de inércia da seção bruta de concreto.
fct é a resistência à tração direta do concreto, conforme 8.2.5, com o quantil apropriado a
cada veri¿cação particular. Para determinação do momento de ¿ssuração, deve ser usado
o fctk,inf no estado limite de formação de ¿ssuras e o f(ct,m) no estado limite de deformação
excessiva (ver 8.2.5).
No caso da utilização de armaduras ativas, deve ser considerado o efeito da protensão no
cálculo do momento de ¿ssuração.

7 - ACI 440.2R-08 – Equação (13.2) (Teng ET AL. 2001).

70
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

8.2.5 Resistência à tração

A resistência direta à tração direta fct pode ser considerada igual a 0,9 fct,sp ou 0,7 fct,f, ou,
na falta de ensaios para a obtenção de fct,sp ou fct,f, pode ser avaliado o seu valor médio
ou característico por meio das seguintes equações:
fctk,inf = 0,7 fct,m
fctk,sup = 1,3 fct,m

- para concretos de classes até C50


fct,m = 0,3fck2/3

- para concretos de classes C55 até C90


fct,m = 2,12.ln(1+0,11fck)

onde
fct,m e fck são expressos em megapascal (MPa).

Sendo
fck,j • 7MPa, estas expressões podem também ser usadas para idades diferentes de 28 dias.

2.2 DETERMINAÇÃO DO PONTO DE INÍCIO DA ANCORAGEM DO SISTEMA


FRP SEGUNDO DIFERENTES NORMAS
Comparando as três normas estruturais, a ACI 440.2R - 08, a TR-55 e a FIB-14, no que se
refere ao ponto inicial a partir do qual se estende o comprimento de ancoragem necessário
ao sistema FRP de uma viga simplesmente apoiada, novamente se encontram algumas
diferenças, apontadas na Figura 2.14.
– na ACI 440.2R - 08 a ancoragem é considerada, no vão da viga, a partir do mo-
mento de ¿ssuramento da seção reforçada;
– na TR-55 a ancoragem se inicia a partir do ponto em que não é mais necessário o
reforço com o sistema FRP, correspondente ao momento de ¿ssuramento original
(da viga não reforçada);
– na FIB 14 o ponto de início da ancoragem corresponde à locação da ¿ssura mais
afastada do centro da viga, defasada desse ponto pelo deslocamento de diagra-
ma indicado no Eurocode.

71
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 2.14 – Ponto de início da ancoragem do sistema FRP conforme diferentes normas.

2.3 ANCORAGENS TRANSVERSAIS


O rompimento do cobrimento devido às tensões de tração é parcialmente controlado pelo
nível das mesmas nas extremidades dos elementos do sistema FRP. Pode-se aliviar esse
efeito com a utilização de ancoragens, normalmente formadas por estribos transversais de
FRP que reduzem as tensões decorrentes do encurtamento do sistema, mantendo esse
encurtamento o mais próximo possível da região onde o momento se anula.
Quando o valor do cortante de ruptura no ponto extremo for maior do que (2/3) do cortante
resistente do concreto os laminados e tecidos do FRP devem ser ancorados por meio de
reforço transversal, para prevenir-se o desplacamento do cobrimento do concreto.

72
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

Figura 2.15 – Relação Comprimento de Colagem/Força de Colagem.

A área desse estribo de reforço em forma de “U” pode ser determinada pela seguinte equação8:

( Af .ffu )longitudinal
Af ,ancor . =
( Ef .Kv . ε fu )ancoragem

O valor de (k Ȟ) pode ser calculado como se segue:

K1 .K 2 .Le
Kv = ≤ 0,75
11900 . ε fu

23300
Le =
( nt .tf .Ef ) 0 ,58

2
⎛f' ⎞3
K1 = ⎜ c ⎟
⎝ 27 ⎠

dfv − Le ĺ para estribos em forma de “U”.


K2 =
dfv

2.4 EMENDAS POR TRASPASSE NOS SISTEMAS COMPOSTOS


As emendas por traspasse nos sistemas compostos FRP somente poderão ser executa-
das nos pontos permitidos nos projetos de reforço, nas especi¿cações ou quando autori-
zado pelo responsável técnico do projeto, obedecendo as recomendações do fabricante
do sistema. As ¿bras dos sistemas FRP devem ser contínuas e orientadas na direção em
que ocorre a maior força de tração. Essa continuidade pode ser garantida através de uma
emenda por traspasse, que consiste em sobrepassar uma ¿bra sobre a outra nos locais de

8 - ACI 440.2R-08 – Equação (13.1).

73
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

emenda. O comprimento do traspasse vai ser função da tensão de tração e da espessura


do material do sistema FRP e da resistência de cola entre layers adjacentes. Nos lamina-
dos unidirecionais os traspasses são requeridos somente segundo a direção das ¿bras,
não sendo necessário traspasse no sentido transversal às mesmas. Para sistemas cons-
tituídos por laminados orientados em mais de uma direção, ou tecidos multidirecionais,
poderá ser necessário o traspasse em mais de uma direção para garantir a continuidade
da ¿bra e a resistência geral dos laminados do sistema aplicado. Para mais detalhes, ver
capítulo 12 deste livro.

2.5 ANCORAGEM SEGUNDO AS RECOMENDAÇÕES ALEMÃS

Figura 2.16 – Relação Comprimento de Colagem/Força de Colagem.

O comportamento dos tecidos e laminados de FRP, no que se refere à sua aderência (co-
lagem) no concreto, contrariamente ao que se imagina, difere profundamente da aderência
desenvolvida entre uma barra de aço e o concreto que a envolve.
Enquanto que nas barras de aço a resistência por aderência pode ser aumentada aumen-
tando-se o seu comprimento de ancoragem o mesmo não ocorre com os sistemas FRP,
onde um aumento no comprimento (lb) pode não resultar no correspondente aumento das
tensões de tração, conforme mostrado no grá¿co da Figura 2.16.
Segundo o “Richtlinie für das Verstärken Von Betonbauteilen durch Ankleben Von unidirek-
tionalen kohlenstoffaserverstärkten KunststofÀamellen" (CFK – Lamellen)9, o comprimento
(l(b,max) ) deverá ser obtido a partir do conhecimento do valor de (Fbd,max). Esse último valor
depende das características mecânicas do material e da resistência à tração do substrato
de concreto onde o FRP será aplicado (fcsm).

Fbd ,max = 0,5 .mf .bf .kb .kt Ef .nf .tf .fcsd [N] (1), sendo,

9 - Deutsches InsƟtut für Bautechnik - Berlin.

74
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

fcsm [N/mm2] (2) assim,


fcsd =
γc

Ef .nf .tf
l b,max = 0,7 [mm] (3)
fcsd

Obs: 1 - expressão válida para (1,5 N/mm2 ” fcsm ” 3,0 N/mm2).


2 - os fatores (0,5) e (0,7) das equações (1) e (3) levam em consideração as carac-
terísticas do adesivo da cola.

mf número de placas (lâminas) próximas umas às outras.


bf largura da chapa (lâmina), em [mm].
nf número de placas situadas acima de outras.
Ef módulo de elasticidade do FRP, em [N/mm2].
fcsm tensão de tração na superfície do concreto [N/mm2].
Jc fator de segurança do concreto.
kT fator de redução devido à temperatura.
kb coe¿ciente função da largura.
b largura da viga ou espaçamento entre as placas nas lajes [mm].

– o valor de (kT) leva em consideração variações de temperatura entre -20°C e +30°C e


vale 0,9 para estruturas no exterior e 1,0 para estruturas no interior das edi¿cações;
– o valor de (kb) é determinado, segundo o Deutsches Institut für Bautechnik, com a ex-
pressão:
bf
2−
k b =1,06 b
bf (4)
1+
400

A força da colagem (Fbd), referida ao comprimento colado (lb ” lb,max), pode ser calculada
pela expressão:
lb ⎛ l ⎞
Fbd = Fdb,max . .⎜ 2 − b ⎟
l b,max ⎝ l b,max ⎠

O comportamento dos tecidos de FRP, no que se refere ao seu comprimento de aderência


obedece aos mesmos princípios mecânicos utilizados para os laminados de FRP. Como a
superfície colada dos tecidos é relativamente bem mais larga, comparativamente aos lami-
nados, o comportamento de colagem dos tecidos é muito melhor do que o dos laminados.

75
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

As principais considerações para a utilização do formulário apresentado acima são as se-


guintes:
– a espessura (tf) do laminado é substituída pela espessura teórica da ¿bra utilizada;
– o fator (nf) é considerado como sendo o número de camadas coladas umas sobre
as outras.

2.6 ANCORAGEM MECÂNICA PARA LAMINADOS EM MONTAGEM EXTERNA


A resistência de aderência de um laminado colado externamente à superfície de concreto
pode ser signi¿cativamente aumentada com a utilização de dispositivos mecânicos (placas
metálicas).
As ancoragens mecânicas são calculadas no estado limite último, considerando os coe-
¿cientes de segurança adotados nas normas técnicas (ver Tabela 2.1). Para tanto, deter-
mina-se qual é a força de tração (Ffd,E) que será desenvolvida até o ponto de aplicação do
dispositivo mecânico, sendo, então, esse valor comparado com a capacidade resistente da
ancoragem mecânica (Fad).

CoeÀcientes de Segurança Considerados


Cargas Resistência
Código permanentes acidentais concreto armaduras
JG JQ Jc Js
ACI 318 1,40 1,70 1,00/0,90
Eurocode 2 1,35 1,50 1,50 1,15
DIN 1045-1 1,35 1,50 1,50 1,15

Tabela 2.1 – Relação Comprimento de Colagem/Força de Colagem.

Assim, Fad • F(fd,E), e o valor de (Fad) deve ser minorado por um coe¿ciente de segurança
(Ja = 1,50).
Fak Fak
Fad = =
γa 1,50

2.6.1 FORÇA MÁXIMA ADMITIDA PARA O REFORÇO FRP

Quando a espessura do concreto for muito maior que a espessura do sistema composto
instalado, a força máxima que pode ser transferida ao FRP é expressa de acordo com a
seguinte relação:

Fmax = bf . 2 .Ef .tf . Γ F

76
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

Figura 2.17 – Relação Comprimento de Colagem/Força de Colagem.

Entre a força máxima Fmax permitida no sistema de reforço FRP, considerado com compri-
mento in¿nito, e a energia de fratura *F é assumido que:

∞ ∞
Fmax = bf ∫
0
τ b ( x )dx , Γ F = ∫ τ b ( s )ds
0

Onde tf, bf e Ef representam, respectivamente, a espessura do FRP, largura do laminado e


o módulo de elasticidade na direção de aplicação da força no sistema. A energia de fratura
depende das características mecânicas do concreto e do adesivo, bem como das caracte-
rísticas da superfície do concreto.
Nos sistemas compostos adequadamente instalados, a falha por descolamento ocorre no su-
porte (cobrimento) do concreto, e a energia de fratura pode ser determinada da seguinte forma:

Γ F = kg .kb . fck .fctm (força em N e comprimento em mm).

A CNR-DT 200/2004 recomenda utilizar o valor (kG=0,03).

bf
2−
k b =1,06 b
bf
1+
400

Apresenta-se, na Figura 2.18, indicação esquemática desses dispositivos de ancoragem.

Figura 2.18 – DisposiƟvos mecânicos de ancoragem.

77
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

2.7 VERIFICAÇÃO DA ANCORAGEM DE SISTEMAS FRP


EM MONTAGEM EXTERNA
De forma idêntica ao que ocorre nas barras das armaduras, quando se dimensiona uma
estrutura de concreto armado, os elementos estruturais do sistema composto (tecidos,
laminados, etc.) devem ter as suas extremidades adequadamente ancoradas nas regiões
não ¿ssuradas dos elementos sobre os quais estão aplicados.

Figura 2.19 – Regiões de ancoragem dos sistemas FRP.

De maneira geral, essa região se situa muito próxima aos apoios, quando considerada a
face inferior dos elementos, onde predominam os momentos positivos. No caso da região
dos momentos negativos, geralmente na face superior dos elementos, a ancoragem deve
se estender além dos diagramas deslocados da envoltória dos momentos Àetores, como
indicado na Figura 2.19.

2.8 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM DOS LAMINADOS FRP


Antes de se determinar a ancoragem necessária para os laminados do sistema FRP, é
feita a decalagem (defasagem) do diagrama de momentos Àetores do elemento a ser refor-
çado. A partir desse diagrama é que se determinam as ancoragens necessárias.
O valor de (dd), deslocamento do diagrama de momento Àetor, é calculado a partir da ex-
pressão:
dd = 0,9.d.(1-cotg Į)
(Į) é o ângulo (inclinação) da armadura transversal da seção a ser reforçada e (d) a sua
altura efetiva.

78
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

Figura 2.20 – Regiões de ancoragem dos sistemas FRP.

Para que não se tenha que determinar todo o diagrama deslocado da envoltória dos mo-
mentos Àetores costuma-se considerar como ponto de referência para os critérios de anco-
ragem dos sistemas compostos o ponto em que não mais ocorre ¿ssuramento do concreto
devido ao momento Àetor.
Esse momento é conhecido como momento que não produz ¿ssuração MF, ou seja, mo-
mento correspondente ao limite das tensões de tração compatíveis com àquelas resistidas
pelo concreto sem armação.

2.8.1 APOIOS EXTREMOS

Se denominarmos o ponto em que esse momento se situa como E, a primeira ¿ssura de


tração ocorrerá após esse ponto. Uma maneira prática de se localizar o ponto E é através
da equação (1), assim expressa:
xE = ai + f + l(b,max) + aL (5)

sendo,
xE distância do apoio do elemento até o ponto E.
ai distância do eixo do apoio até a face do apoio.
f distância entre a face do suporte e o ¿nal do sistema FRP.
lb,max comprimento de aderência (colagem) em função de Fbd,max.
al deslocamento (decalagem) horizontal do diagrama de momento.

79
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Os deslocamentos horizontais dos diagramas de momentos Àetores, segundo o


Eurocode 2, são os indicados à seguir:
vigas al = 0,5.zm.(cotș-cotĮ)
vigas de seção T al = 0,5.zm.(cotș-cotĮ)+ x
lajes al = dm

– sendo (x) a distância do reforço colocado na mesa das lajes, fora da nervura das
vigas.
– para estribos verticais e bielas comprimidas a 45°, pode-se adotar a seguinte sim-
pli¿cação: (cotș-cotĮ)=1

Figura 2.21 – Determinação da ancoragem de extremidade.

A força Ffd desenvolvida no sistema FRP deve ser veri¿cada no sentido de que seja garan-
tido que seja inferior a Fbd, capacidade última de ancoragem que pode ser transmitida ao
longo do comprimento lb da Figura 2.21.
Torna-se necessário que seja feita uma distinção entre vigas e lajes maciças, uma vez que
nessas últimas as lâminas (¿tas) não podem ser envolvidas por presilhas, a força de cola-
gem de ruptura tem que ter o seu valor reduzido.
Assim, recomenda-se:
para as vigas Fbd • Ffd (6)
para lajes sólidas Fbd / 1,2 • Ffd (7)

80
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

Se não forem atendidas as condições das equações (6) e (7), deverão ser testadas as se-
guintes alternativas visando a solução do problema:
a – aumentar a seção transversal (área) do sistema FRP.
b – reduzir a distância (f) entre a face do suporte e a extremidade do reforço com
FRP.
c – estender o reforço de FRP além do apoio.
d – aumentar, se possível, a resistência do substrato de concreto – aumentar a pres-
são de contato do reforço com FRP com a utilização de dispositivos adicionais de
ancoragem (ver item 2.3).

2.8.2 APOIOS INTERMEDIÁRIOS

2.8.2.1 Ancoragem para os momentos positivos (face inferior da viga)

Figura 2.22 – Determinação da ancoragem de extremidade.

Como o ponto em que ocorre o momento nulo (ponto de transição) varia conforme as dife-
rentes combinações de carregamento, o sistema deve ser ancorado pelo menos 1 m além
do ponto de momento zero identi¿cado nos deslocamentos da envoltória dos momentos
Àetores. Contudo, pelo menos o comprimento (lb,max), correspondente à capacidade de an-
coragem última, deve ser utilizado.
lf = xe - ai- al - lb

81
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

2.8.2.2 Ancoragem para os momentos negativos (face superior da viga)

Figura 2.23 – Determinação da ancoragem de extremidade.

Para os laminados aplicados na região dos momentos negativos, a equação anterior ¿ca
assim expressa:
lf = xe - ai + al + lb

2.8.3 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM DE LAMINADOS EM MONTAGEM NSM

Comparado aos laminados colados em montagem externa, os laminados montados no


sistema NSM (near surface mounted) possuem uma maior capacidade de ancoragem,
por estarem inseridos em ranhuras, que também podem ser ampliadas com o aumento do
comprimento de colagem (assim como as barras de aço no concreto armado). A força de
colagem (Fdb) no laminado depende do comprimento ancorado (lb) e das propriedades do
material do adesivo, podendo ser assim de¿nida:

Fbd = mf .bf .τ k ,d . 4 ar . l b .(0,4 − 0,0015 .l b ) para( l b ≤ 115mm )

⎛a ⎞
Fbd = mf .bf .τ k ,d . 4 ar . l b .( 26,2 + 0,065 .tanh ⎜ r ⎟ ( l b −115 )) para( l b > 115mm )
⎝ 70 ⎠

onde:
mf número de ranhuras.
bf largura do laminado em [mm].
ar distância do eixo do laminado à lateral do elemento de concreto, em [mm] (válido para
ar • 150mm).

82
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

IJ(k,d) resistência de projeto do adesivo epoxídico em [N/mm2].


A resistência de projeto (tensão de cisalhamento) do adesivo epoxídico, (IJk,d), pode ser
determinada com a utilização da seguinte expressão:

( )
τ k ,d = 2 .fkt ,k − 2 . fkt2,k + fkc ,k .Fkt ,k + fkc ,k fkt ,k onde,

f(Kt,k) tensão característica de tração do adesivo.


f(Kc,k) tensão característica de compressão do adesivo.

Deverão ser utilizados os seguintes coe¿cientes de segurança para a determinação do


valor de (IJ(k,d)), conforme recomendações da norma alemã10:

τ k ,k
τ k ,d =
γb

Jb =1,3 mpara combinações de carga permanente.


Jb =1,05 mpara combinações de carga acidental.

Os comprimentos de aderência necessários para os sistemas FRP em montagem NSM


podem ser assim determinados, ainda de acordo com o Deutsches Institut für Bautechnik:

⎛ 0,4 ⎞ ⎛ 0,16 ⎞ ⎛ Fdb ⎞


para lbd d115 [mm].
l bd = ⎜ − ⎟−
⎝ 0,003 ⎟⎠ ⎜⎝
0,000009 ⎠ ⎜⎝ 0,0015 .bf .τ K ,d . 4 ar ⎟⎠

⎛ ⎞ ⎛ ⎞
⎜ Fdb ⎟ ⎜ 26,2 ⎟
l bd =⎜ ⎟ −⎜ ⎟ +115 [mm] ĺ para lbd >115 [mm].
a
⎜ 0,065 .tanh ⎛⎜ r ⎞⎟ .bf .τ K ,d . 4 ar a
⎟ ⎜ 0,065 .tanh ⎛⎜ r ⎞⎟ ⎟
⎝ ⎝ 70 ⎠ ⎠ ⎝ ⎝ 70 ⎠ ⎠

2.8.4 ANÁLISE DA ANCORAGEM DE EXTREMIDADE COM ENVELOPAMENTO DE CORTE

Uma outra alternativa de melhorar a ancoragem de extremidade de um sistema FRP é


a de serem utilizadas lâminas de FRP aplicadas na con¿guração de atender ao corte. O
envelopamento ao corte é geralmente empregado para evitar a falha por desprendimento
do cobrimento do concreto e que também pode ser aplicado para aumentar-se a força
de colagem. Esse conceito de aumentar-se a força de colagem como consequência do
abraçamento com lâminas para corte é proposto por Husemann11 e apresentado de forma

10 - Deutsches InsƟtut für Bautechnik.


11 - Husemann, U – “Increasing the Bond strenght of retroĮƩed externally bonf strips by means of shear wraping” – 2009.

83
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

bastante minuciosa no livro “Strengthening of Concrete Structures With Adhesive Bonded


Reinforcement”12. Esse reforço de colagem é executado comparando-se a resistência ¿nal
do reforço ao corte com a força do diagrama decalado da força cortante no elemento refor-
çado, conforme mostrado na Figura 2.24.
Para não se des¿gurar o trabalho desenvolvido, será utilizada a nomenclatura original do
mesmo, que deverá ser ajustada pelo leitor à sua preferência.
A equação seguinte mostra que o aumento na força de colagem, devido ao reforço de corte (¨Ff1),
é acrescentado à força de colagem do segmento de lâmina após o ¿nal do reforço de corte.
ΔFf 1
FbLRd = bL .tL .fbLd ( l bL ) +
γ BA

O aumento na força de colagem como resultado das lâminas de reforço do corte pode ser
calculado com a equação seguinte, dependente da largura (bLw), da pressão de contato
(Fu.Įb) e do fator (k1) para levar em conta da forma da seção transversal do envolvimento
de corte da peça.

tL .bL .bLw fctm,surf ⎡ ⎛ Fu ( α b ) ⎞ ⎤


2
Fu .( α b )
ΔFL1 = . . ⎢230 .k1 . − 23 ⎜ k1 . ⎥
120 1,33 ⎢ bL .bLw ⎝ bL .bLw ⎟⎠ ⎥
⎣ ⎦

Figura 2.24 – Determinação da ancoragem de extremidade.

Para se calcular a pressão de contato, uma distinção é feita entre as pressões de contato
(F u,2 ) e (Fu,4 ), que sempre são formadas pelos dois casos geométricos limite, mostrados
na Figura 2.25.

12 - Konrad Zilch, Roland Niedermeier, Wolfgang Finckh – BetonKalender 2014.

84
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

Figura 2.25 – Determinação da ancoragem de extremidade.

A interpolação entre os dois casos limite com o auxílio da equação seguinte é possível,

dependendo do fator geométrico ⎛ 0,4 ≤ α b = bL ≤ 0,8 ⎞ .


⎜ ⎝ ⎟ bw ⎠

⎛ 0,8 − α b ⎞ ⎛ α − 0,4 ⎞
Fu . ( α b ) = Fu.2 . ⎜ ⎟ + Fu.4 . ⎜ b
⎝ 0,4 ⎠ ⎝ 0,4 ⎟⎠

A pressão de contato, em todos os casos, depende da espessura das lâminas do reforço


ao corte. Portanto, é necessário que se calcule em primeiro lugar a espessura do reforço
ao corte, que normalmente é feito com duas lâminas em forma de “L” e uma cantoneira de
aço de fechamento, como mostrado na Figura 2.25.
Dessa forma, deve haver uma distinção entre o Detalhe A daquela Figura, consistindo em
duas lâminas em forma de “L” e o Detalhe B, que além das duas lâminas possuem uma
cantoneira de aço de reforço. Para ser calculado o aumento da força de colagem, é neces-
sário ser avaliada a espessura da área da seção transversal (As) e o momento de inércia
(Is) das cantoneiras de aço nos dois detalhes.
A rijeza do Detalhe A é fornecida pelas seguintes equações:

E.IS ,A = 2.ES .(IS + AS .zS2 ,A


sendo,

1
ZS ,A = tLw + 0,5
2

A rijeza do Detalhe B é fornecida pelas seguintes equações:


E.IS,B = 2.ES.(IS + AS.z2S,B)
zS,B = tLw + 0,5

Com o uso dessas variáveis ¿ca, então, possível ser calculada a pressão de contato para
os dois casos limite (Įb = 0,4) e (Įb = 0,8).

85
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Pressão de contato para o caso limite (Įb = 0,4).


Essa pressão pode ser calculada utilizando as expressões anteriores, que resultam nos
valores (l1 = 0,3.bw – 20) e (l2 = bw – 40). A largura das ¿ssuras para as lâminas de FRP será,
então, (w = 0,35).

2.24.E .Is ,g ,α b 26400 .E .Is ,g ,α b


Fu ,2 = .w1 +
( 3α − 4α ).l 2
3 3
11000 .l13 + 2 .4.E .Is ,g ,α b

⎛ EIs ,g ,α b =0 ,4 ⎞
w1 = w − ⎜1 −
⎝ 4853.l1 + EIs ,g ,α b =0 ,4 ⎠⎟
3

0,3 .bw − 20
α=
bw − 40

E .IS ,A .ES .IS


E .Is ,g ,α b = 0 ,4 = 2 .
E .IS3 A + ES .IS

Pressão de contato para o caso limite (Įb = 0,8).


Essa pressão pode ser calculada utilizando as expressões acima, que resultam nos valo-
res (l3 = 20 + tLW) e (l4 = 2.l3). A largura das ¿ssuras para as lâminas de FRP será, então,
(w = 0,35).

48.E .Is ,g ,α b = 0 ,8 26400 .E .Is ,g ,α b =0 ,8


Fu ,4 = 3
.w 2 +
l 4 11000 .l 33 + 2 .4.E .Is ,g ,α b = 0 ,8

⎛ EIs ,g ,α b =0 ,8 ⎞
w 2 = w − ⎜1 − .0,1
⎝ 4853.l 3 + EIs ,g ,α b =0 ,8 ⎟⎠
3

E.IS ,A .ES .IS


EIs ,g ,α b =0 ,8 = 2.
E.IS ,A + ES .IS

2.8.5 DETERMINAÇÃO DO ESPAÇAMENTO ENTRE AS FISSURAS

As análises mais precisas sobre a colagem dos sistemas FRP são baseadas no conhecimen-
to do espaçamento entre as ¿ssuras que ocorrem na peça de concreto armado. O mecanis-
mo de formação de ¿ssuras numa estrutura de concreto armado depende de uma série de
inÀuências e é sujeito a um considerável desdobramento. Dessa maneira, a estimativa do
espaçamento entre ¿ssuras deve ser feita com critérios conservadores e seguros.
Uma maneira simpli¿cada de se determinar o espaçamento médio do padrão das ¿ssuras
é considerar que ele se realiza conforme a formulação seguinte:
sr = 1,5 .le,0 o onde,

86
Capítulo 2 - Modos de Ruptura (Falha) nos Sistemas Compostos

sr espaçamento médio entre ¿ssuras.


le,o comprimento de transmissão do aço.

Mcr
l ts =
Zs .Fbsm

Mcr momento que produz a ¿ssuração.


Fbsm força média de colagem.
zs braço de alavanca da armadura.

Mcr = k À . fctm,surf .Wc,o onde,

⎛ h ⎞
kft = ⎜1,6 − ⎟ ≥1,0
⎝ 1000 ⎠

h altura (profundidade) total do elemento em (mm).


A força média de colagem é determinada através da circunferência da barra da armadura
e o coe¿ciente médio de colagem.
n
Fbsm = ∑ns ,i .φi .π .fbSm
i =1

Para o cálculo de (fbSm) devem ser usados os seguintes valores, dependentes do tipo de
aço utilizado:
fbsm = 0,43 . kvb1 .f2/3cm, para barras de aço com mossas (corrugado).

fbsm = 0,28 .kvb2 . fcm , para barras de aço lisas.

87
CAPÍTULO 3

MECANISMOS AUXILIARES PARA OS PROCEDIMENTOS


DE REFORÇO DAS ESTRUTURAS

3.0 DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE RESISTENTE DAS SEÇÕES DE


CONCRETO ARMADO
Quando o engenheiro estrutural se debruça sobre um projeto de reforço, ou mesmo reabili-
tação, de estruturas existentes de concreto armado, um dos seus primeiros questionamen-
tos se refere à capacidade resistente das seções envolvidas nesse processo.
Esse conhecimento é fundamental para que se tenha a percepção da ordem de grandeza
do reforço, para saber se o reforço é viável ou não e, se viável, em que condições e em
qual domínio esse reforço será implantado. Em resumo, o que se precisa saber é, co-
nhecidas as dimensões de um elemento estrutural, a quantidade e a disposição das suas
armaduras, mesmo as situadas em regiões sabidamente comprimidas, as características
mecânicas do aço e do concreto utilizados, quais são o momento Àetor e o esforço de corte
que podem produzir a ruína da peça.
De modo geral, o procedimento de se determinarem os esforços solicitantes últimos de
uma estrutura, da qual se conhecem todas as características geométricas e mecânicas
das variáveis envolvidas, se denomina “engenharia reversa” ou “retroengenharia”. Essas
características são, além da geometria da peça, as características mecânicas do concreto
e do aço utilizados.

Figura 3.1 – Geometria da peça e diagrama tensão/deformação do aço.

89
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Os procedimentos mais e¿cazes nesse tipo de veri¿cação são iterativos quando se procura
a posição da linha neutra da seção, para em seguida, a partir dos elementos geométricos
totalmente de¿nidos, calcular o momento Àetor resistente último.
Para que se tenha êxito nessa veri¿cação é necessário o conhecimento do mecanismo dos
domínios do estado limite último de uma seção transversal.
De acordo com a ABNT NBR 6118:2014, a distribuição das tensões no concreto é feita de
acordo com o diagrama parábola-retângulo, com tensão de pico igual a (0,85.fcd). Esse
diagrama pode ser substituído pelo retângulo de profundidade (y = O.x), onde o valor do
parâmetro (O) pode ser tomado igual a:
λ = 0,8 para fck ” 50 MPa, ou,
fck − 50
λ = 0,8 − para fck > 50 MPa
400
A Figura 3.2 apresenta os seguintes domínios de atuação das solicitações normais:

Figura 3.2 – Domínios de Dimensionamento do Concreto Armado

Ruptura por deformação plástica excessiva da armadura:


Reta a – corresponde à tração uniforme.
Domínio 1 – tração não uniforme sem compressão.
Domínio 2 – Àexão simples ou composta sem ruptura à compressão do concreto
(İc < 0,35%) e com o máximo alongamento permitido para o aço (İc < 0,10%).

Ruptura por encurtamento do concreto:


Domínio 3 - Àexão simples (seção subarmada) ou composta com ruptura à compressão do
concreto e com escoamento do aço (İs > İyd).
Domínio 4 – Àexão simples (seção superarmada) ou composta com ruptura à compressão
do concreto e aço tracionado sem escoamento (İs > İyd).

90
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Domínio 4a – Àexão composta com armaduras comprimidas.


Domínio 5 – compressão não uniforme, sem tração.
Reta b – compressão uniforme.

3.1 DETERMINAÇÃO DO MOMENTO FLETOR DE RUPTURA DAS SEÇÕES


RETANGULARES
Na Figura 3.3, a posição da linha neutra é de¿nida geometricamente como sendo:

ε cu + ε y
= declividade da reta ( ε cu + ε y ) , dessa forma temos:
d
ε cu ε cu
xb = =
declividade ε cu + ε y
d

ε cu
xb = (1)
ε cu + ε y
d

Os domínios em que ocorre a Àexão simples são o 2 (Àexão simples ou composta),


3 (Àexão simples, seção subarmada). Nesses domínios, a profundidade da linha neutra
será de¿nida pela desigualdade:
0 ” x ” xb (2)

Nos Domínios 2 e 3, temos que ( ε s > ε y ) , o que quer dizer que a tensão no aço será (fs =fy).
Para o Domínio 4 (Àexão simples e seção superarmada), temos que a profundidade da
linha neutra será:
xb < x ” d (3);

Neste domínio, o aço não atinge a tensão de escoamento ( ε s < ε y ).


Se desprezarmos a contribuição da armadura de compressão (A’s) na Figura 3.3, participa-
ção que será abordada mais à frente, podemos escrever a seguinte expressão:
ε cu x
=
εs d − x

ε cu ( d − x )
εs =
x

91
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 3.3 – Cálculo das deformações no aço.

Assim, a tensão na armadura de aço (fs) será:


ε cu ( d − x )
fs = ε s .Es = .Es
x

ε cu ( d − x )
fs = .Es
x

Considerando-se as equações (1), (2) e (3), para determinar em que domínio se situa o ele-
mento estrutural, a partir do arbítrio da profundidade da linha neutra, é possível conhecer a
tensão na armadura de aço.

Figura 3.4 – Cálculo das tensões no aço.

Da Figura 3.4, tem-se que a resultante de compressão é obtida por:


R = f .( λ x.b )
c
'
c
ĺ onde fc' = α c .fc

A resultante de tração na armadura é dada por:


Rs = As . fs

λx ⎞
O braço de alavanca (z) é expresso por: ⎛⎜ z = d − ⎟.
⎝ 2 ⎠
Conhecidas as resultantes de compressão e de tração, assim como o seu braço de alavan-
ca, aplicando-se as equações de equilíbrio da seção, tem-se:
Rc - Rs = 0, ou seja:
f’c . (Ox.b) - As.fs = 0

92
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Como foi exposto atrás, se (x ” xb) ĺ (fs = fy)


⎛ ε cu ( d − x ) ⎞
se (x > xb) ĺ ⎜ fs = .Es ⎟
⎝ x ⎠

Finalmente, o momento Àetor (Mu) terá como valor:


λx
Mu = Rc .z = fc' .λ x.b( d − )
2
λx
M = f .λ x.b( d −
'
)
2
u c

Após o exposto, destaquemos três equações:

fc' .(.b ) − As .fs = 0 (a) ĺ essa equação fornece a profundidade da linha neutra.

⎛ λx ⎞
Mu = fc' .λ x.b ⎜ d − ⎟ (b) ĺ essa equação fornece o valor do momento de ruptura.
⎝ 2 ⎠

ε cu ( d − x ) (c) ĺ essa equação fornece a tensão no aço no domínio (4).


fs = .Es
x
Como a solução pode estar enquadrada nos domínios (2) e (3) ou no domínio (4) torna-se
necessário proceder previamente a uma veri¿cação para a determinação do domínio em
que efetivamente o momento de ruptura ocorrerá.
Procede-se, portanto, por tentativa, da seguinte maneira:
– admite-se, inicialmente, que a ruptura ocorra nos domínios (2) ou (3). Para isso,
adota-se para a tensão no aço (fs = fy), que introduzido na equação (a) fornece o
A .f
valor da profundidade da linha neutra: ( x = s y
).
λ x.b.f '
c

– conhecido o valor de (x) fazem-se as seguintes comparações:


– se (x ” xb) con¿rma que a solução cai nos domínios (2) e (3) e entra-se com
o valor de (x) na equação (b) para se obter o momento de ruptura.
– se (x > xb) a solução cairá no domínio (4), e o valor de (x) obtido para os
domínios (2) e (3) estão errados. Deve-se, então, substituir se o valor de (fy)
fornecido na equação (c) na equação (a|), disso resulta:
⎛ d − x⎞
λ x.b.fc' − As .Es .ε cu . ⎜ = 0 multiplicando-se a equação por (x) vem:
⎝ x ⎟⎠

λ .b.x 2 .f ' c − AS .ES . ε cu .( d − x ) = 0

( λ .b. f ' c ) x 2 + ( AS .ES . ε cu ).x − AS .ES . ε cu .d = 0 ĺ equação do 2o grau em (x),


cuja solução será:

− As .Es .ε cu + As .Es .ε cu ( As .Es .ε cu + 4.λ .b.d.fc'


x=
2.λ .b.fc'
Determinado o valor de (x) volta-se à equação (b) para se conhecer o momento de ruptura
da seção.

93
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

3.2 DETERMINAÇÃO DO MOMENTO DE RUPTURA NAS SEÇÕES “T”


As seções em “T” são muito frequentes nos casos de reforço com sistemas FRP. O que foi
exposto atrás continua válido para as seções “T”, desde que a resultante de compressão
(Rc) e o braço de alavanca (z) sejam avaliados conforme as seguintes considerações:

Figura 3.5 – Pesquisa da linha neutra nas seções “T”.

a – situação em que (Ox ” hf) ĺ caso em que a linha neutra cai dentro da mesa da seção “T”.
Nesse caso particular, deverão ser considerados os seguintes valores:
Rc = O.bf.x.f’c

λ .x
z=h−
2

b – situação em que (O.x > hf) ĺ caso em que a linha neutra cai abaixo da mesa da seção “T”.

Figura 3.6 – Determinação da linha neutra em seção “T”.

94
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

(Am) área comprimida da mesa da viga “T”.


(Aa) área comprimida da alma da viga “T”.

A resultante da compressão será dada por:


Ra = (Am + Aa) f’c
Rc.z = (Am.hm + Aa.ha) f’c
Am = bf.hf
Aa = bw.(Ox - hf )
hf
hm = λ x −
2

λ x − hf
ha =
2

( Am .hm + Aa .ha )fc'


z=
Rc

3.3 MOMENTO DE RUPTURA DE SEÇÕES RETANGULARES


CONSIDERANDO DIVERSAS CAMADAS DE ARMAÇÃO
No caso em que existe mais de uma camada de armadura e queiramos aproveitar toda
a armação longitudinal existente na seção, tais como as costelas e a armadura de com-
pressão, o procedimento para a determinação do momento de ruptura da seção não
pode ser feito de maneira tão programada como apresentado nos itens anteriores. O
procedimento a ser adotado para que se determine a posição da linha neutra da seção
deverá ser iterativo. Vale o lembrete de que em algumas normas já existe uma predis-
posição no sentido de não ser permitido a utilização das armaduras laterais (de costela)
como parte resistente da seção.
A Figura 3.7 mostra uma seção transversal de concreto armado em que são representadas
várias camadas de armadura indicadas na ordem decrescente, de cima para baixo, ou
seja, a armadura mais próxima do topo da viga recebe a numeração mais elevada, enquan-
to que a armadura mais próxima do fundo da viga (e, consequentemente, a mais afastada
do topo da viga) recebe a numeração mais baixa.
Como critério de cálculo será admitido que todas as camadas de concreto nas quais estão
envolvidas as barras da armadura estejam, a princípio, comprimidas. Quando da elabora-
ção da veri¿cação, uma deformação negativa veri¿cada em uma camada signi¿cará que a
mesma estará tracionada.

95
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 3.7 – Seção com múlƟplas camadas de armadura.

Da Figura 3.8 (Domínios de dimensionamento do concreto armado) veri¿ca-se que o limite


de deformação para o aço da primeira camada (As1), no domínio (2), pode ser ¿xado como
sendo (İs =10‰), enquanto nos domínios (3) e (4), a deformação máxima de compressão
na borda superior será (İcu).

Figura 3.8 – Seção com múlƟplas camadas de armadura.

Vamos iniciar o estudo considerando o domínio (2). A posição da linha neutra nesse domí-
nio deverá obedecer à seguinte desigualdade, conforme indicado na Figura 3.8:

⎛ ε cu ⎞
0≤ x≤⎜ ⎟⎠ d1 donde,
⎝ ε cu + 0,010

⎛ x − di ⎞
ε si = 0,010 ⎜ (d) ĺ para o domínio (2), ver lado esquerdo da Figura 3.8.
⎝ d1 − x ⎟⎠

Considerando-se agora os domínios (3) e (4), temos que a variação da profundidade da


linha neutra está compreendida entre o intervalo:

96
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

⎛ ε cu ⎞
⎜⎝ ε + 0,010 ⎟⎠ d1 < x < d1 , sendo as distribuições das tensões mostradas no lado direito da
cu

Figura 3.8.

⎛ x − d1 ⎞ (e)
ε si = ε cu . ⎜
⎝ x ⎟⎠

Arbitrada a posição da linha neutra (x) são calculadas as deformações de cada camada de
armadura por meio das equações (d) e (e). Conhecida a deformação de cada camada, por
meio do grá¿co tensão/deformação do aço utilizado, determina-se a tensão (fsi) em cada
nível de armação.

Figura 3.9 – Seção com múlƟplas camadas de armadura.

Rc = O.b.x.f’c
λ .x
z = d1 −
2
A força desenvolvida em cada camada de armadura é dada pela expressão:
Rsi = Asi . fsi
Asi - área de aço na camada de armadura considerada.
fsi - tensão no aço da camada de armadura.

Finalmente, as equações de equilíbrio são fornecidas pelas seguintes expressões:


Rc + ∑ i = 1 Asi .fsi = 0
n
(f)

Mu = Rc .z + ∑ i = 1 Asi .fsi ( d1 − d1 )
n
(g)

A expressão (f) fornece a profundidade da linha neutra e a expressão (g) fornece o momen-
to de ruptura da seção.

97
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Como pode ser observado, a determinação do momento de ruptura de uma seção com
várias camadas de armadura é um procedimento bastante trabalhoso para ser realizado
manualmente.

3.4 DETERMINAÇÃO DO ESFORÇO CORTANTE DE RUPTURA


A veri¿cação do cortante resistente de uma seção de concreto armado é um procedimento
simples. Como a armadura de corte (Asw) é supostamente conhecida consiste simplesmen-
te em uma operação reversa da expressão que fornece a armação necessária à absorção
do esforço.

A tensão de cisalhamento em uma peça de concreto armado é dada por:


Vd
τ wd = → donde, Vd = τ wd .bw .d
bw .d

f f
τ ≤ τ = 0,27.α .f , onde ( α v = 1 − ck ) e ( f = 0,85. ) para concretos com ( f ≤ 50 MPa ).
ck

γ
wd wu v cd cd ck

250 c

No caso de se veri¿car o cortante que pode ser absorvido pela armadura transversal exis-
tente (estribos e barras inclinadas), devem ser utilizadas as seguintes expressões:
τ .b
Asw = d w cm 2 / cm , para os estribos verticais.
fyd

τ d .bw
Asw = cm 2 / cm , para armadura inclinada de 45°.
2 . fyd

Vd
onde, τ d =
bw .d

Vd b V
Asw = x w = d → Vd = Asw . d . yd
bw .d fyd d.fyd

Vd = Asw.d.fyd ĺ para estribos verticais.


Vd = ASW .d .fyd . 2 ĺ para armadura inclinada de 45°.

3.5 ANÁLISE LINEAR DE ESTRUTURA COM REDISTRIBUIÇÃO LIMITADA DE


SOLICITAÇÕES
Quando um elemento de concreto armado passa a ter necessidade de ser reforçado, na
maioria das vezes isso decorre da alteração dos carregamentos nele atuantes que, conse-
quentemente, modi¿cam as solicitações de Àexão e cortantes para os quais o elemento foi
originalmente projetado.
As solicitações dos novos carregamentos podem produzir esforços localizados de maior ou
menor grandeza que os originais. Geralmente esses novos carregamentos induzem dia-
gramas de Àexão e corte diferenciados dos anteriores, tanto em ordem de grandeza como
em suas locações nos tramos do elemento.

98
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Se as armaduras existentes possuírem seções transversais compatíveis com as necessá-


rias para os novos esforços, caso de pequenos aumentos de carregamento, pode aconte-
cer de não ser necessário o reforço estrutural.
Caso, entretanto, os novos esforços superem a capacidade resistente das armações exis-
tentes na peça, caso de médios e grandes aumentos de carregamento, algum tipo de
reforço passará a ser necessário, aplicado por meio de uma gama variada de recursos
materiais disponíveis. Esse é o caso que mais interessa ser debatido neste capítulo.
As atuais teorias de dimensionamento estrutural admitem que os elementos estruturais
possam sofrer certos tipos de deformação em caráter permanente. Ao aumentar o car-
regamento de uma viga de forma progressiva, um ou mais pontos críticos de momentos
Àetores poderão ter a sua armadura escoada, fenômeno este que produzirá articulações,
normalmente designadas por rótulas plásticas. Para tanto foram desenvolvidas para os
elementos lineares a teoria das rótulas plásticas, que contempla a redistribuição dos esfor-
ços via análise linear, metodologia que já consta das normas estruturais da ABNT através
da NBR-6118.
O que caracteriza uma rótula plástica é o aumento acentuado da curvatura, que pode ter
valores até cerca de 3 vezes o valor da curvatura calculada elasticamente. O escoamento
da armadura na região da rótula plástica se veri¿ca ao longo de um comprimento no en-
torno dos pontos de momento máximo, trecho no qual o valor do momento Àetor não sofre
mais acréscimo, passando a ter um valor ¿xo e denominado de momento Àetor plástico.
Esse mecanismo de deformação é, portanto, decorrente do fenômeno da plasticidade, ou
seja, a propriedade do concreto armado de guardar deformações residuais. O momento
de plasti¿cação pode ser considerado como aquele que produz o aparecimento do estado
limite último, quando (İc = 3,5‰) ou (İs = 10‰). De¿ne-se como a rotação necessária de uma
rótula plástica a diferença que existe entre a rotação que produz o início de sua plasti¿ca-
ção e aquela que produz o colapso total da estrutura.
Deve ser lembrado que a formação de rótulas plásticas não caracteriza a ruína de uma
estrutura, desde que se possa, na região plasti¿cada, contar com um aumento da curvatura
sem que a peça se rompa, ou seja, que a estrutura ainda possua ductilidade. O colapso
total (global) de uma estrutura reticulada com grau de hiperestaticidade (n) somente ocor-
rerá após a formação de (n + 1) rótulas plásticas distribuídas ao longo da mesma, eviden-
temente desde que não ocorram mecanismos que possam produzir um colapso localizado.
Assim dispõe a ABNT NBR 6118:2014 sobre a análise linear com redistribuição, em seu
item 14.6.4 e seguintes:
“– A capacidade de rotação dos elementos estruturais é função da posição da linha neutra
no ELU. Quanto menor for x/d, tanto maior será essa capacidade.
Para proporcionar o adequado comportamento dúctil em vigas e lajes, a posição da linha
neutra no ELU deve obedecer aos seguintes limites:
a) x/d < 0,45, para concretos com fck ” 50 MPa.
b) x/d < 0,35, para concretos com 50 MPa < fck ” 90 MPa.

99
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– Reduzindo-se um momento Àetor de (M) para (GM), em uma determinada seção, a pro-
fundidade da linha neutra nessa seção (x/d), para o momento reduzido (GM) tem os seguin-
tes limites:
a) x/d ” (G - 0,44)/1,25, para concretos com fck ” 50 MPa.
b) x/d ” (G - 0,56)/1,25, para concretos com 50 MPa < fck ” 90 MPa.
Onde o coe¿ciente de redistribuição deve obedecer aos seguintes limites:
a) G • 0,90, para estruturas de nós móveis.
b) G • 0,75, para qualquer outro caso.
Partindo da consideração da ABNT NBR 6118:2014 de que quanto menor for a posição re-
lativa da linha neutra (x/d) maior será a capacidade de rotação da peça, a norma apresenta
em sua Figura 14.7 (¿gura 3.10 deste livro) a capacidade de rotação de rótulas plásticas
(șpl) em função da relação (x/d) e levando-se em consideração a resistência do concreto e
do aço utilizado.
– É dispensada na análise plástica, conforme item 14.5.4 da NBR 6118, a veri¿cação
explícita da capacidade de rotação plástica desde que a posição da linha neutra
seja limitada em:
x/d ” 0,25, se fck ” 50 MPa.
x/d ” 0,15, se fck > 50 MPa.

Figura 3.10 – Figura 14.7 da NBR 6118:2014.

Por que esse mecanismo pode interessar ao engenheiro estrutural encarregado de refor-
çar uma determinada estrutura de concreto armado?
Admitamos uma viga contínua de três tramos, como a representada na Figura 3.11. Essa
viga foi calculada no modo elástico convencional para o carregamento original (q1), para o
qual foi dimensionada. Esse carregamento produz o diagrama de momentos Àetores indi-
cado na Figura 3.12.

100
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Figura 3.11 – Viga conơnua e carregamentos incidentes.

Os momentos Àetores negativos iniciais desse carregamento são (Xi1) e (Xi2) e os momen-
tos positivos iniciais (Mi1), (Mi2) e (Mi3).

Figura 3.12 – Momentos Ňetores iniciais decorrentes do carregamento (q1).

Posteriormente, ocorreu a necessidade de se aumentar o carregamento de (q1) para um


carregamento (q2) sensivelmente maior do que o anterior. O diagrama de momentos Àetores
desse carregamento é o indicado em sombreado na Figura 3.13 e é mostrado superposto
ao carregamento de (q1) para que possam ser visualizadas as alterações que ocorreram.

Figura 3.13 – Momentos Ňetores de (q1) e (q2) superpostos.

101
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Nesse novo carregamento os momentos Àetores negativos e positivos são denominados,


respectivamente, (Xr1), (Xr2), (Mr1), (Mr2) e (Mr3).
Da superposição realizada, observa-se que todos os momentos Àetores da viga sob novo
carregamento, à exceção do momento (Mr2), ultrapassam os momentos Àetores decor-
rentes do carregamento inicial. Ou seja, a viga deverá ser reforçada para atender aos
esforços majorados.
É muito importante, antes que o assunto seja estendido, lembrar que o que está sendo
apresentado é válido apenas para estruturas armadas com aço. O reforço de estruturas já
reforçadas com FRP não podem se valer dos artifícios apresentados por uma razão muito
simples: os módulos de elasticidade dos sistemas FRP, diferentemente daqueles de aço,
são lineares até a ruptura, ou seja, não possuem o patamar de escoamento característico
dos aços. Isto signi¿ca que se pode plasti¿car um diagrama de momento de estrutura de
concreto armado com aço, mas não se pode fazer o mesmo com uma estrutura reforçada
com FRP, porque o sistema composto vai continuar absorvendo esforço até a sua ruptura.
De modo geral, é sempre mais fácil reforçar uma estrutura linear horizontal (caso da viga)
pela sua face inferior, por vários motivos, entre os quais destacamos:
– inexistência de lajes, geralmente apoiadas na sua face superior.
– continuidade de apoios, tais como pilares, que muitas vezes impedem a continui-
dade física dos elementos de reforço.
– inexistência de pisos e pavimentos, que certamente terão que ser retirados e re-
compostos na faixa de reforço.

Se conseguirmos plasti¿car os momentos Àetores nos apoios B e C em valores próximos


aos dos momentos Xi1 e Xi2, de tal forma que a armadura existente atenda a ordem de
grandeza dos mesmos, a redistribuição dos esforços se fará com o acréscimo dos momen-
tos Mr1, Mr2 e Mr3.

Figura 3.14 – Momentos Ňetores de (q1) e (q2) superpostos.

Para tanto utilizamos a linha de fechamento dos momentos A − Xi1 − Xi2 − D a partir da qual
“penduramos” os momentos isostáticos dos três tramos, resultando no diagrama ¿nal de
momentos apresentado na Figura 3.14.

102
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Assim, o reforço será feito apenas na face inferior dos tramos, para os momentos ¿nais
Mf1, Mf2 e Mf3. Se a seção que foi reforçada puder ser considerada uma seção “T” o efeito
da redistribuição dos momentos é ainda mais facilitado pelo fato de existir uma mesa que
fornece uma maior área de compressão.

3.6 ARREDONDAMENTO DO DIAGRAMA DE MOMENTOS FLETORES


Outro artifício permitido pelas normas da ABNT NBR 6118:2014 é o arredondamento do
diagrama de momentos Àetores sobre os apoios e pontos de aplicação de forças conside-
radas concentradas e em nós de pórticos.
Esse arredondamento pode ser realizado de acordo com a Figura 3.15.

Figura 3.15 – Arredondamento de diagrama de momentos Ňetores.

3.7 REFORÇO COM FRP PARA MOMENTOS NEGATIVOS NA REGIÃO DE


PILARES CONTÍNUOS (ARMAÇÃO DE COSTURA)
Muitas vezes o engenheiro estrutural encontra di¿culdade em efetuar reforços com FRP
em regiões em que ocorrem os momentos negativos das vigas contínuas, locações em que
muitas vezes a continuidade de seus apoios (geralmente pilares) não permite a colocação
de reforços com FRP, como mostrado na Figura 3.16. Nessa Figura ocorre a necessidade
de se reforçar a região do momento (Xb) onde a continuidade do elemento de reforço que
deverá ser aplicado na face superior da viga ¿ca obstruída pelo pilar B.

103
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 3.16 – Reforço em região de momento negaƟvo.

Em construções tais como pontes e edi¿cações as lajes costumam ser concretadas con-
comitantemente com as vigas. A monoliticidade criada faz com que as vigas e as lajes
passem a trabalhar em conjunto, estabelecendo o que se denomina como viga “T”. Essa
viga trabalha à Àexão e também para os esforços derivados tais como corte e torção. A
distribuição do cisalhamento e do Àuxo de torção se faz de acordo com a Figura 3.17.

Figura 3.17 – Distribuição do corte e torção em viga “T”.

Desde que a laje adjacente a ambos os lados da viga tenha armadura adequada, o ele-
mento de reforço pode ser aplicado lateralmente à viga e os seus esforços transferidos
para o eixo longitudinal da viga. Esse mecanismo de transferência é denominado de efeito
de costura, devido ao fato de que o esforço cortante da viga, nesse caso, está acompanha-
do por um momento de torção.

104
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Imaginemos uma viga com seção “T” em que as mesas direita e esquerda à nervura te-
nham dimensões diferentes (bf1) e (bf2), como mostrado na Figura 3.18.

Figura 3.18 – Seção transversal da viga “T”.

Da Figura 3.19, em que é apresentada uma seção “explodida” de uma viga “T”, para a qual
é admitido que (z1 ≅ z2 = z) e que nos momentos apresentados se tenha (M2 > M1), vem:

Figura 3.19 – Reforço em região de momento negaƟvo.

Atot. = Am1 + An + Am2 ĺ área comprimida total da seção transversal da peça.


As parcelas de compressão que atuarão nas mesas da seção “T” serão:

Rc1 .Am1
na mesa 1 - (no lado esquerdo da ¿gura)
Atot .

105
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Rc 2 .Am1
(no lado direito da ¿gura)
Atot .

Rc1 .Am2
na mesa 2 - (no lado esquerdo da ¿gura)
Atot .

Rc 2 .Am2
(no lado direito da ¿gura)
Atot .

O equilíbrio da seção é garantido pela força cortante desenvolvida entre os dois pontos
considerados, de tal forma que:
Rc1 .Am1 Rc 2 .Am1
− + υ sd1 .Δ x = 0
Atot . Atot .

Rc1 .Am2 Rc 2 .Am2


− + υ sd 2 .Δ x = 0
Atot . Atot .
Am1
υsd1 .Δ x = (Rc 2 − Rc1 )
Atot .
Am2
υsd 2 .Δ x = (Rc 2 − Rc1 )
Atot .
M1
Rc1 =
z
M
Rc 2 = 2
z
⎛ M2 M1 ⎞ Am1 A
υsd1 .Δ x = ⎜ − ⎟ = (M2 − M1 ) m1
⎝ z z ⎠ Atot . Atot . .z
⎛ M2 M1 ⎞ Am2 A
υsd 2 .Δ x = ⎜ − ⎟ = (M2 − M1 ) m2
⎝ z z ⎠ Atot . Atot . .z

chamando-se ( M2 − M1 = ΔM ), tem-se que:


ΔM Am1
Vsd1 = .
Δx.z Atot .
ΔM Am2
Vsd 2 = .
Δx.z Atot .

ΔM
¿nalmente, como ( = Vsd ) temos:
Δx
Vsd Am1
Vsd1 = .
z Atot .
Vsd Am2
Vsd 2 = .
z Atot .

106
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Se quisermos generalizar as equações apresentadas podemos escrever:

Vsd Ai
Vsdi = .
z Atot .

Ai área interessada da seção tranversal da mesa.


Atot. totalidade da seção comprimida da viga de seção “T”.
Vsdi esforço de corte para cálculo da armação na mesa interessada.
z braço de alavanca do binário resistente na seção interessada.
Vsd esforço total de corte na seção interessada.

A armadura de costura, que é conformada por barras dispostas perpendicularmente aos


planos de ligação das abas com a nervura, é, assim, calculada:

As ,cost . Vsd Ai
≥ .
s fyd .z Atot .

Quando do dimensionamento das ligações da laje superior como as de pontes (tabuleiro)


com as vigas (nervuras) é muito comum a utilização de mísulas para diminuir as tensões
de cisalhamento e permitir a inserção das armaduras destinadas a estabelecer as ligações
necessárias entre os elementos (armação de costura). Nesse caso, costuma ser adotado
um procedimento bastante expedito, mas de uso generalizado, para a determinação do
valor da armadura de costura, como é demonstrado à partir da Figura 3.20.

Figura 3.20 – Regra da costura em lajes de ponte.

Para que se conheça a armadura de ligação complementar (armadura de costura) para a


ligação da nervura com a mesa é necessário o prévio conhecimento da posição da linha
neutra da viga “T” no caso de pontes de concreto armado. No caso de pontes em concreto
protendido, usualmente essa posição corresponde ao centro de gravidade da seção.

107
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A sequência de cálculo, para as indicações da viga da Figura 3.20, é a seguinte:


– cálculo da área de concreto acima da linha neutra.
5
Atotal = ∑Ai = A1 + A2 + A3 + A4 + A5
i =1

– cálculo da área acima do plano considerado para veri¿cação (plano 1-1).


A1-1 = A1 + A2 + A3 + A4

– conhecida a armação (Asw), soma das armaduras transversais necessárias para


absorver os esforços de corte e de torção da viga, a determinação da armadura
de costura se faz da seguinte maneira:

A1−1
As ,costura = Asw .
Atotal

A norma ABNT NBR-6118:2014, com referência às armaduras de ligação mesa-alma (ou


talão-alma), assim considera, em seu item 18.3.7:
- os planos de ligação entre mesas e almas e talões e almas de vigas devem ser
veri¿cados com relação aos efeitos tangenciais decorrentes das variações de ten-
sões normais ao longo do comprimento da viga, tanto sob o aspecto de resistência
do concreto, quanto das armaduras necessárias para resistir às trações decorren-
tes desses efeitos.
- as armaduras de Àexão da laje, existentes no plano de ligação, podem ser consi-
deradas parte da armadura de ligação, quando devidamente ancoradas, comple-
mentando-se a diferença entre ambas, se necessário. A seção transversal mínima
dessa armadura, estendendo-se por toda a largura útil e adequadamente ancora-
da, deve ser de 1,5 cm2 por metro.

3.7.1 REFORÇO DO MOMENTO FLETOR NEGATIVO DE UMA VIGA

Com base no exposto sobre a regra da costura, algumas alternativas de reforço se viabili-
zam, principalmente pela variedade dos equipamentos de perfuração hoje disponíveis no
mercado, que permitem a execução de tarefas antes consideradas impossíveis.
Um primeiro caso, simples, mas extremamente comum nas necessidades de reforço estru-
tural, consiste no reforço na região de momento negativo de uma viga, em região em que
a continuidade de elementos de reforço é di¿cultada pela existência de um pilar, conforme
mostrado na Figura 3.21.
Observe-se na Figura 3.21 que foram executados rasgos lateralmente ao pilar para a co-
locação das barras de reforço. Evidentemente deve ser veri¿cada ou complementada a
armadura de “costura” necessária para a solidarização do conjunto. Geralmente, por ser
essa uma região densamente armada, não ocorre a necessidade de qualquer armadura
complementar, situação que deverá ser con¿rmada.

108
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

São realizados rasgos com espessura média de 2,5 cm (o ideal é que seja atingida a face
superior da armadura existente) e largura da ordem de 5 cm (dependendo do número de
barras a serem inseridas). As barras de FRP são posicionadas dentro dos rasgos, que se-
rão preenchidos com argamassa epoxídica para promover a adesão das barras ao sistema
estrutural. Normalmente não acontece alternância de esforços nessas regiões (alternância
entre momentos positivos e negativos). Se isso acontecer, é recomendável que as barras
de FRP sejam presas por conectores com espaçamento proporcional ao diâmetro da mes-
ma para evitar uma possível Àambagem da barra, como mostrado ao ¿nal deste Capítulo.

Figura 3.21 – Reforço do momento Ňetor negaƟvo de uma viga.

A Figura 3.22 mostra como é feita a adesão da barra de ¿bra de carbono ao concreto (as
medidas indicadas são apenas indicativas).

Figura 3.22 - Detalhe de Įxação das barras.

109
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Na Fotogra¿a 3.1 é mostrada uma intervenção real, com os rasgos que contêm as barras
já preenchidos.
Existem situações em que pode ser necessário perfurar o concreto na base dos pilares
para que seja executado o reforço. Apesar de se constituir numa solução bastante traba-
lhosa de ser executada, é perfeitamente possível com o ferramental de corte disponível
atualmente, como, por exemplo, as perfuratrizes com mangote. Os furos passantes na
base dos pilares permitem a continuidade das barras de FRP.

FotograĮa 3.1 – Reforço de momento Ňetor negaƟvo com barras FRP.

Figura 3.23 – Reforço de Ňexão atravessando pilar.

110
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Evidentemente que para a locação dos furos deverá ser feita uma sondagem da armadu-
ra existente, para que seja evitado o corte de barras do pilar. A solução está representada
na Figura 3.23.
A Figura 3.24 apresenta, no Corte B-B, uma sugestão de como pode ser efetuada a fura-
ção necessária, bem como o detalhe de ¿xação das barras de FRP.

Figura 3.24 – Detalhe da furação e Įxação das barras de FRP.

3.8 AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE RESISTENTE À COMPRESSÃO DE UM


ELEMENTO DE CONCRETO ARMADO
É possível, com certa facilidade, aumentar a resistência à tração de um elemento de con-
creto armado. Entretanto, muitas vezes, o reforço de um elemento se torna inviável por
falta de resistência à compressão.
E
Deve-se recordar que a relação ( n = Es ) entre os módulos de elasticidade do aço e do
c
concreto normalmente varia entre 7 e 9. Isso quer dizer, estruturalmente, que 1 cm2 de
aço é equivalente entre 7 cm2 a 9 cm2 de concreto. De modo geral, despreza-se, no
cálculo dos reforços, a contribuição da armadura de compressão do elemento, conside-
rada na maior parte das vezes como armadura porta-estribo. Essa armadura, contudo,
pode ser utilizada e mesmo ampliada com a utilização de procedimentos simples, au-
mentando-se a resistência da região comprimida. Através do exemplo seguinte procu-
ra-se demonstrar a e¿ciência desse recurso.
Na Figura 3.25 mostra-se uma mesma viga de concreto armado na qual é veri¿cada a re-
sistência à compressão de duas maneiras:
– sem considerar nenhuma armadura comprimida.
– considerando-se a seção com armadura de compressão inserida.

111
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Iniciemos a veri¿cação pela seção apresentada no lado esquerdo da Figura 3.25, onde não
existe armadura de compressão.
Tem-se:
Ac = 22.45 = 990 cm2
fck = 25 MPa
kgf/cm
Ec = 0,85.5600. 25 ≅ 238000 kgf 2 2
/ cm

Ea = 2100000 kgf/cm2
2100000
n= = 8,824
238000
0,85.250
Fc = 990. ≅ 150268 kgf
1,4

Figura 3.25 – Resistência à compressão.

Considerando-se a inclusão de 5 barras de (ĭ = 25 mm), inseridas a uma profundidade de


5 cm, o centro de gravidade da seção comprimida em relação ao limite inferior da região
comprimida será, assim, determinado:

990.11 − 25.17 + 25.8,824.17


y lim.inf . = = 11,99 cm
990 − 25 + 25.8,824

0,85.250
Fc = (965 + 220,60 ) . ≅ 179957 kgf
1,4

Comparação:
Força de compressão sem armadura Fc=150268 kgf
Força de compressão com armadura Fc=179957 kgf
Acréscimo de 19,8%

Se considerarmos o momento da força de compressão em relação ao baricentro da arma-


dura de tração nos dois casos, tem-se:
MAs = 150268.73 = 10969564 kgf.cm (sem armadura de compressão)
MAs = 179957.73,99 = 13315018 kgf.cm (com armadura de compressão)

Observa-se um acréscimo de 21,38%.

112
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Como pode ser observado, o acréscimo eventualmente obtido na resistência à compressão


de um elemento pode signi¿car a viabilidade de um reforço realizado em condições limites.
Uma das maneiras com que se pode incluir a armadura de compressão na seção do elemen-
to é através da execução de ranhuras como as utilizadas nos sistemas NSM (ver Capítulo 4),
como mostrado na Figura 3.26.

Figura 3.26 – Montagem NSM.

É importante lembrar que as barras geralmente estão inseridas acima dos estribos da se-
ção e, por esse motivo, torna-se importante controlar o comprimento livre de Àambagem
das mesmas, o que é feito com a inserção de “grampos” a distâncias correspondentes ao
diâmetro das barras utilizadas, conforme recomendações das normas estruturais.

Figura 3.27 – Conectores (“grampos”) para limitar o comprimento de Ňambagem das barras.

Na Fotogra¿a 3.2 é mostrado como esse controle é feito na prática. Observar as ranhuras
contínuas onde as barras são inseridas e os conectores utilizados para limitar o compri-
mento de Àambagem das barras comprimidas.
Quando o elemento a ser reforçado tiver continuidade lateral por meio de lajes ou mesa, o
acréscimo de armadura de compressão pode ser colocado em uma região que extrapole
a projeção do elemento, e esteja lateralmente ao mesmo, desde que sejam atendidas as
condições da “regra da costura”, como foi mostrado neste capítulo. Essa con¿guração
pode ser vista na Figura 3.28 seguinte.

113
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 3.2 – Barras inseridas em ranhuras e “grampos” para limitar o comprimento de Ňambagem das barras1.

Figura 3.28 – Inserção de armadura de compressão obedecendo as condições de transferência deĮnidas na


“regra da costura”.

3.9 REDUÇÃO DO ESFORÇO CORTANTE NOS APOIOS


Muitas vezes, quando ocorre mudança de utilização de uma edi¿cação, com o aumento de
sobrecarga, podemos utilizar da redução direta do cisalhamento na região dos apoios de
forma a viabilizar o procedimento de reforço.

3.9.1 CARGAS PRÓXIMAS AOS APOIOS

Para o cálculo da armadura transversal, no caso de apoio direto (quando a carga e a rea-
ção de apoio forem aplicadas em faces opostas do elemento estrutural), valem as seguin-
tes prescrições:
– a força cortante oriunda de carga distribuída pode ser considerada, no trecho entre
o apoio e a seção situada à distância d/2 da face do apoio, constante e igual à
desta seção, conforme Figura 3.29.

1 - Reforço da Secretaria de Estado da Fazenda do Estado de Minas Gerais – Projeto do autor.

114
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Figura 3.29 – Esforço cortante de carga distribuída.

– a força cortante devida a uma carga concentrada a uma distância a ” 2.d do eixo
teórico do apoio pode, nesse trecho de comprimento a, ser reduzida multiplican-
do-a por a/(2.d), Figura 3.30.

Figura 3.30 – Esforço cortante de carga concentrada.

VS = VS(p) + VS(P) = VS(p) + P.(L - a)/L


VS,Red = VS(p) + VS(P),Red = VS(p) + P.[(L - a)/l].a/2.d
VS - VS,Red = P.[(L - a)/L] . (1 - a/2.d)
VS,Red = VS - P.[(L - a)/l] . (1 - a/2.d)

Conforme indicado nas ¿guras 3.29 e 3.30, a força cortante reduzida devido simultanea-
mente à carga distribuída e carga concentrada próxima ao apoio é dada por:
VS,Red = VS,max – q . (c + d)/2 - P. [(L - a) / L] . (1 - a / 2.d)

Esta redução somente é válida para o cálculo das armaduras. Para a veri¿cação da biela
de compressão a carga total deve ser considerada sem redução. No caso de apoios indi-
retos este tipo de redução não é permitida.

115
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

3.10 COMPRESSÃO CENTRADA EQUIVALENTE


Muitas das vezes, de forma a se viabilizar o procedimento de reforço de pilares ou de vi-
gas com certo grau de compressão, pode-se tratar a Àexão normal composta e/ou a Àexão
oblíqua composta como uma compressão centrada equivalente. Este procedimento fazia
parte da NBR 6118 até sua revisão de 2010. A partir da publicação de 2014, esse item não
foi mais incluído na norma.

3.10.1 FLEXÃO NORMAL COMPOSTA

O cálculo para o dimensionamento de seções retangulares ou circulares com armadura


simétrica, sujeitas a Àexo-compressão normal, em que a força normal reduzida (Ȟ) seja
maior ou igual a 0,7, pode ser realizado como um caso de compressão centrada equiva-
lente, em que:

⎛ e⎞
Nsd ,eq. = Nsd . ⎜1 + β. ⎟ e Msd ,eq. = 0
⎝ h⎠

NSd
ν=
Ac .fcd

e M
= Sd
h Nsd .h
1
β=
d'
(0,39 + 0,01α ) − 0,8
h

sendo o valor de (α) dado por:

1
α=− se α < 1, em seções retangulares.
α s
s

D = Ds se Ds • 1, em seções retangulares.
D=6 se Ds < 6, em seções retangulares.
D= -4 em seções circulares.
Supondo que todas as barras sejam iguais, ( α s ) é dado por:

αs =
(nh − 1)
(nv − 1)

O arranjo de armadura adotado para detalhamento (Figura 3.31) deve ser ¿el aos valores
d'
de ( α s ) e ( ) pressupostos.
h

116
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Figura 3.31 – Determinação de NH e NV.

3.10.2 FLEXÃO OBLÍQUA COMPOSTA

Nas situações de Àexão simples ou composta oblíqua, pode ser adotada a aproximação
dada pela expressão de interação:
α α
⎡ MRd .x ⎤ ⎡ MRd .y ⎤
⎢ ⎥ +⎢ ⎥ =1
⎣ MRd .xx ⎦ ⎢⎣ MRd .yy ⎦⎥

Sendo,
(MRd.x) e (MRd.y): componentes do momento resistente de cálculo em Àexão oblíqua com-
posta, segundo os dois eixos principais de inércia (x) e (y), da seção bruta, comum esforço
normal resistente de cálculo (NRd) igual à normal solicitante (NSd). Esses são os valores que
se deseja obter;

(MRd.xx) e (MRd.yy): momentos resistentes de cálculo segundo cada um dos referidos eixos
em Àexão composta normal, com o mesmo valor de (NRd). Esses valores são calculados a
partir do arranjo e da quantidade de armadura em estudo.

(D) é um expoente cujo valor depende de vários fatores, entre eles o valor da força nor-
mal, a forma da seção, o arranjo da armadura e de suas porcentagens. Em geral pode ser
adotado (D = 1), a favor da segurança. No caso de seções retangulares, pode-se adotar
(D = 1,2).

3.11 DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO SIMPLES


Partindo do princípio que o leitor esteja familiarizado com o dimensionamento de estruturas
de concreto armado, iremos apenas recapitular os passos básicos para o dimensionamen-
to das estruturas à Àexão que serão utilizados para o reforço com FRP.

117
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

3.11.1 SEÇÃO RETANGULAR

Para as seções retangulares basta se determinar o valor de (K). Quando (K) for menor que
o valor de (KL), o elemento não precisa de armação de compressão. Caso contrário, se
(K > KL) será necessário a inclusão de armadura de compressão (A’s). A veri¿cação das
armaduras de Àexão pode ser feita com a utilização das expressões da Figura 3.32.
A posição da linha neutra (x) ¿ca determinada pela seguinte relação

⎛ 1 − 1 − 2k ' ⎞
x = d. ⎜ ⎟
⎝ 0,8 ⎠

Figura 3.32 – Determinação dos valores de K para seção retangular.

118
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

3.11.2 SEÇÃO T

Para as seções do tipo T as mesmas premissas são válidas, bastando seguir o formulário
a seguir, indicado na Figura 3.33.

Figura 3.33 – Determinação dos valores de K para seção “T”.

A posição da linha neutra X ¿ca determinada pela seguinte relação:

(
x = d. 1 − (1 − 2k ' ) )

119
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Exemplo 3.1: Para uma viga de concreto armado simplesmente apoiada com vão livre de
600 cm, seção (25 x 60) e concreto (fck = 25 MPa) armado com aço CA-50, pede-se calcular
os seguintes valores:
- a armação necessária para um carregamento uniformemente distribuído de
24 kgf/cm bem como a profundidade da linha neutra.
- a deformação da viga devida à atuação apenas de seu peso próprio, bem como a
profundidade da linha neutra.
- a armação necessária para um carregamento uniformemente distribuído de
60 kgf/cm bem como a profundidade da linha neutra.

Considerar, nas veri¿cações, (d = 56 cm) e (d’ = 4 cm).


tf
g = 0,25 . 0,60 .2,5 = 0,375 = 3,75 kgf / cm
m

250
fc' = .0,85 = 151,78 ≅ 152 kgf / cm 2
1,4

Para o carregamento distribuído de 24 kN/cm:


g + p = 3,75 + 24,00 = 27,75 kgf/cm
27,75.600 2
M( g + p ) = = 1248750 kgf .cm
8
1248750.1,4
k= = 0,147 K < KL ou seja, K ' = K = 0,147
152.25.56 2

As =
152.25.56
4350
( )
1 − 1 − 2.0,147 = 7,798 ≅ 7,80 cm 2

⎛ 1 − 1 − 2.0,147 ⎞
x = 56 ⎜ ⎟ = 11,183 cm
⎝ 0,8 ⎠

Determinação da deformação devida ao peso próprio:


3,75.600 2
Mgo = = 168750 kgf .cm
8
168750.1,4
k= = 0,020 K ≤ KL então K ' = 0,020
152.25.56 2
⎛ 1 − 1 − 2.0,020 ⎞
x = 56 ⎜ ⎟ = 1,414 cm
⎝ 0,8 ⎠

1,414
z = 56 − = 55,293 cm
2
168750.1,4
Fs = = 4272,70 kgf
55,293
4272,70
fs = = 547,78 kgf / cm 2
7,8

σ 547,78
ε= = = 2,608.10 −4
mm/mm ou seja, ε = 0,260‰
E 2100000

120
Capítulo 3 - Mecanismos Auxiliares para os Procedimentos de Reforço das Estruturas

Para o carregamento distribuído de 60 kN/cm:


g + p = 3,75 + 60,00 = 63,75 kgf/cm

63,75.600 2
M( g + p ) = = 2868750 kgf .cm
8

2868750.1,4
k= = 0,337 K > KL ou seja, K ' = K L = 0,320
152.25.56 2

As = As1 + As2

As1 =
152.25.56
4350
( )
1 − 1 − 2.0,320 = 19,568 cm 2

152.25.56(0,337 − 0,320 )
As2 = = 0,896 cm 2
⎛ 4⎞
4350. ⎜1 − ⎟
⎝ 56 ⎠
As = 19,568 + 0,896 = 20,464 cm2
0,896
As' = = 0,896 cm 2
1

⎛ 1 − 1 − 2.0,320 ⎞
x = 56 ⎜ ⎟ = 28,00 cm
⎝ 0,8 ⎠

121
CAPÍTULO 4

REFORÇO À FLEXÃO COM A UTILIZAÇÃO DE LÂMINAS


DE FIBRAS DE CARBONO ADERIDAS EXTERNAMENTE
À SUPERFÍCIE DO CONCRETO

4.0 FILOSOFIA DOS PROJETOS DE REFORÇO COM FIBRAS DE CARBONO


A norma ACI 440.2R-08 trata da ¿loso¿a empregada no reforço das estruturas de concreto
armado com compostos estruturados com ¿bras de carbono (FRP) no seu item 10.0 – Re-
forço à Flexão1.
Proceder à colagem de sistemas FRP na face tracionada de um elemento de concreto
submetido à Àexão, orientado segundo o comprimento axial do mesmo, pode proporcionar
um aumento signi¿cativo na sua resistência à Àexão. Majorações na capacidade resistente
entre 10% e 160% já foram documentadas. Quando, entretanto, se levam em consideração
os limites de resistência decorrentes da agressão ambiental, fatores de segurança e mino-
ração, bem como da ductilidade e das condições de serviço, esses valores se enquadram
em torno de 40% a 45%.
As recomendações de projeto são baseadas nos princípios dos projetos no estado limite úl-
timo. O conceito de abordagem desse tema permite levar a níveis aceitáveis de segurança
contra a ocorrência tanto do limite de aproveitamento (utilização) das estruturas, tais como
controle de deformações excessivas e ¿ssuração, bem como das solicitações no estado
limite último, como falência estrutural, ruptura por tensões excessivas e ruptura por fadiga.
Ao se avaliar a resistência nominal de um elemento os possíveis modos de falência es-
trutural e as subsequentes tensões e deformações em cada material construtivo devem
ser mensuradas. Para a determinação das condições de utilização do elemento, podem e
devem ser utilizados parâmetros de engenharia tais como relações modulares e seções
transformadas (homogeneizadas).
De acordo com a norma ACI 440.2R-08 os sistemas de reforço com sistemas compostos
estruturados com ¿bras de carbono devem ser projetados de acordo com as recomenda-
ções de utilização e resistência da versão corrente da norma ACI 318, utilizando-se os
fatores de majoração e minoração dos carregamentos e das ações nela indicados.
Os fatores adicionais de redução aplicados à contribuição do reforço com FRP são reco-
mendados na ACI 440.2R-08 visando compensar a insu¿ciência de conhecimento sobre

1 - ACI 440.25-08 – Chapter 10 – Flexural Strengthening.

123
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

a atuação desses sistemas de reforço comparativamente ao conhecimento tecnológico


do concreto armado e concreto protendido. Os engenheiros devem incorporar fatores de
minoração da resistência mais conservadores se ainda ocorrerem incertezas referentes às
características mecânicas do FRP ou das condições do substrato inferiores àquelas discu-
tidas nas recomendações do ACI.
No caso da utilização dos reforços com FRP visando à prevenção de ações sísmicas nas
estruturas é recomendável a utilização de procedimentos que levem em consideração os
princípios de avaliação da capacidade resistente máxima das mesmas. Nesse caso é re-
comendável admitir que a estrutura deve utilizar toda a sua capacidade resistente e, em
função disso, exigir que a resistência ao esforço cortante dos seus elementos constituintes
esteja adequada a esse nível de solicitação.

4.1 CONSIDERAÇÕES E CONCEITOS BÁSICOS


Quando se utiliza para o reforço de estruturas de concreto armado à Àexão um sistema
composto estruturado com ¿bras de carbono (FRP), ele é aderido nas preferencialmente
nas faces superior e/ou inferior das peças. Ou seja, o sistema FRP é um sistema de reforço
externo.
Para o cálculo da resistência à Àexão de uma estrutura de concreto armado reforçado com
¿bras de carbono, algumas considerações e conceitos básicos devem ser estabelecidos,
tais como:
– os estudos e cálculos deverão ser efetuados com base nas dimensões existentes
da seção e da quantidade e da distribuição das armaduras de aço da mesma,
assim como das propriedades e características mecânicas dos materiais consti-
tuintes do elemento de concreto a ser reforçado;
– prevalecem os critérios de Bernoulli, Figura 4.1, ou seja, as seções planas per-
manecem planas após a ocorrência dos carregamentos e as deformações são
linearmente proporcionais à sua distância à linha neutra.

Figura 4.1 – Obediência aos critérios de Bernoulli.

– despreza-se a resistência à tração do concreto;


– a deformação do concreto não pode ultrapassar 3,5‰ quando dimensionado se-
gundo os critérios da ABNT e 3,0‰, segundo as recomendações do ACI;

124
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

– a aderência entre o sistema composto FRP e o substrato de concreto deve ser


perfeita;
– a deformação será considerada linear até a ruptura no sistema composto FRP.

4.2 PROPRIEDADES CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS


O dimensionamento à Àexão deve levar em consideração as seguintes recomendações de
projeto:
f fu = CE . f*fu
İfu = CE . İ*fu

ffu
Ef = onde:
ε fu

f fu tensão de tração máxima de projeto da ¿bra de carbono.


f*fu tensão de tração máxima da ¿bra de carbono (fornecida pelo fabricante).
İfu deformação máxima de projeto da ¿bra de carbono.
İ*fu deformação máxima da ¿bra de carbono (fornecida pelo fabricante).
CE coe¿ciente de exposição ambiental.
O coe¿ciente de redução ambiental CE é obtido da Tabela 4.1 seguinte:

O coe¿ciente de redução ambiental CE


Coe¿ciente de
Condição de exposição Tipo da Fibra
Redução Ambiental CE
Carbono 0,95
Exposição ao interior Vidro 0,75
Aramida 0,85
Exposição ao exterior Carbono 0,85
(pontes, cais e garagens Vidro 0,75
desprotegidas) Aramida 0,65
Ambientes agressivos Carbono 0,85
(fábricas químicas, estações Vidro 0,50
de tratamento de água) Aramida 0,70

Tabela 4.1 – CoeĮciente de redução ambiental.

125
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

4.3 RESISTÊNCIA FINAL DA PEÇA REFORÇADA


Os procedimentos de reforço estrutural exigem que o dimensionamento estrutural exceda
os esforços majorados, conforme indicado abaixo:
݊.Mn • Mu onde,

݊ fator de redução da resistência.


Mn resistência de cálculo à Àexão.
Mu momento Àetor de cálculo atuante na seção.

4.4 MODOS DE RUPTURA DE UM ELEMENTO DE CONCRETO


A ruptura das peças de concreto armado reforçadas com FRP podem ocorrer em quatro
possibilidades distintas:
1 – ruptura por escoamento do aço antes do esmagamento do concreto.
2 – ruptura por escoamento do aço antes da ruptura do sistema FRP.
3 – ruptura por esmagamento do concreto antes da ruptura por escoamento do aço.
4 – ruptura do sistema composto FRP antes da ruptura por escoamento do aço.

d' A's εc α1f c f s' A's


α1fc Ac
c εs β1c
linha neutra
=h

h d
df ~

As f s As
εs f f Af

Af εf

Figura 4.2 – Equilíbrio (Deformações x Forças Resultantes) na seção.

– Os modos de ruptura 1 e 2 caracterizam um comportamento dúctil da estrutura, o


que é desejável.
– Os modos de ruptura 3 e 4 caracterizam um comportamento frágil da estrutura,
menos desejável que o anterior.

O valor de (ȕ1) é fornecido pela seguinte expressão geral (ACI 318):

fc'
β1 = 1,05 − 0,005. onde,
7

126
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

ȕ1 razão de profundidade do bloco retangular de tensões de compressão em relação à


profundidade da linha neutra.
f’c = Resistência à compressão do concreto.
Quando a ruptura for controlada pelo esmagamento do concreto o bloco de tensões pro-
posto por Whitney, pode ser utilizado sem modi¿cações com profundidade (0,85.c) para
concretos com resistência até 27 MPa. Acima desse valor o valor de (ȕ1) deve ser dimi-
nuído de uma taxa constante de 0,05 para cada 7 MPa de acréscimo de resistência, mas
nunca tomado com valor inferior a 0,65, ou seja:
- ȕ1 = 0,85 para 17 MPa < f’c < 28 MPa.
- f’c •28 MPa - o valor de ȕ1 deve ser diminuído em (0,05) para cada (7 MPa) de
acréscimo sobre a resistência de (28 MPa).
- ȕ1 • 0,65.

Se o controle da ruptura for determinado pela ruptura do FRP ou pela delaminação do co-
brimento do concreto, o bloco de tensões de compressão determinado por Whitney fornece
resultados mais acurados.
O bloco de tensões de compressão pode ser calculado de forma aproximada através da
relação parabólica entre a tensão e a deformação do concreto, por meio das expressões
seguintes:

4.ε 'c − ε c
β1 =
6.ε 'c − 2.ε c

3.ε 'c .ε c − ε c2
α1 =
3 β1 .ε 'c 2

fc'
ε 'c = 1,71.
Ec

H’c máxima deformação do concreto não con¿nado, podendo ser considerado com o valor
aproximado (0,002).
Ec módulo de elasticidade do concreto.
O módulo de elasticidade (Ec) pode ser tomado como ( w 1,5
c .0,043 fc
'
), em MPa, para valo-
res de densidade (wc) compreendidos entre 1.440 e 2.480 kgf/m . Para concretos de den-
3

sidade normal pode-se adotar,


Ec = 4700. fc'

Convém destacar que a máxima deformação unitária utilizável na ¿bra extrema submetida
à compressão do concreto se supõe2 igual a 0,003.
Outros tipos de ruína podem acontecer em acréscimo aos listados, tal como uma falha
prematura localizada na interface do concreto do substrato com o sistema composto. Esse

2 - ACI 318-05 – item 10.2.3.

127
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

tipo de falha, contudo, pode ser evitada através de um detalhamento apropriado do sistema
FRP utilizado.
Independentemente de onde estiver a seção analisada, a ruptura controlada pelo descola-
mento do composto deve governar os procedimentos. Dessa forma, a deformação máxima
permitida no FRP para impedir a ruptura por descolamento devido ao ¿ssuramento não
poderá exceder ao indicado na expressão seguinte:

fc'
ε fd = 0,41. ≤ 0,9.ε fu onde,
n.Ef . tf

n número de camadas do reforço FRP.


tf espessura de cada camada do reforço FRP.
Ef módulo de elasticidade do FRP.

4.5 DIMENSIONAMENTO DO REFORÇO FRP


Quando da sua aplicação o sistema FRP não está submetido a qualquer nível inicial de
tensões. Entretanto, o substrato ao qual ele será aderido já está submetido a tensões de-
correntes da atuação de seu peso próprio, forças de protensão e/ou outros eventuais tipos
de solicitação existentes por ocasião da instalação do reforço.
Dessa forma, o nível de tensões atuantes na ¿bra de carbono será diferente daquele que
ocorre na ¿bra extrema do substrato sobre o qual o reforço é colado.
Para se conhecer o nível de tensão ao qual o reforço será submetido é necessário que se
conheça previamente o nível de tensão existente na superfície do substrato na hora de sua
aplicação. Conhecido esse nível de tensão conhece-se o nível de deformação existente na
¿bra extrema do concreto à qual será aderido o reforço.

Figura 4.3 – Deformação inicial de peso próprio.

Essa deformação pré-existente deverá ser subtraída da deformação ¿nal encontrada para
a ¿bra de carbono para que se possa estabelecer o nível de tensão com o qual a ¿bra de
carbono efetivamente trabalhará.
A deformação máxima permissível na ¿bra de carbono será fornecida pela seguinte equação:
Hfc = (İb - İbi ) ” İfu onde,

128
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Hb - deformação na ¿bra considerada no reforço para o carregamento máximo.


Hbi - deformação pré-existente quando da instalação do reforço de ¿bra de carbono.

A Figura 4.3 mostra como deve ser determinada a deformação (İbi) a partir da análise
elástica dos carregamentos existentes quando da instalação do sistema FRP, que são, de
modo geral, constituídos apenas por cargas permanentes (gravitacionais).
Assim a deformação (İbi) deve ser considerada como deformação inicial e, portanto, ser
excluída da deformação ¿nal admissível para o sistema FRP.
O ACI Committee 440 recomenda que o reforço à Àexão através de sistemas compostos
estruturados com ¿bras de carbono seja feito no estado limite último. Os critérios de di-
mensionamento à Àexão no estado limite último estabelecem que a capacidade resistente
à Àexão de um elemento deve exceder a demanda estrutural.
A análise para o estado limite último calcula a capacidade resistente da seção pela com-
binação das condições de equilíbrio das deformações, compatibilidade das tensões e o
comportamento reológico do concreto e dos demais materiais constituintes na ruptura.

4.5.1 SEQUÊNCIA PARA O CÁLCULO DO REFORÇO À FLEXÃO COM FRP

Para o cálculo do reforço de uma viga de concreto armado com a utilização de sistemas com-
postos estruturados com ¿bras de carbono devem ser efetuadas as seguintes veri¿cações:
– determinação do momento Àetor máximo de cálculo do reforço que atuará na viga
(Mref.maj.).
– determinar o momento Àetor resistente de cálculo da viga a partir das característi-
cas geométricas da seção e das características mecânicas dos materiais consti-
tuintes da mesma (Mresist.).
– comparar (Mref.maj.) com o (Mresist.). Se (Mresist.) > Mref.maj.) a viga não necessitará de
reforço à Àexão. Se, entretanto, (Mresist.) < Mref.maj.) a viga necessitará de reforço.
– no caso de a viga necessitar de reforço, determinar o modo de ruptura para o reforço.
Se (0 ” x ” xb), domínios 2 e 3, o reforço será calculado para a condição de viga subarma-
da. Se (xb < x ” d), domínio 4, o reforço será calculado como para uma peça superarmada,
como mostrado na Figura 4.4.

Conhecido o regime no qual será dimensionado o reforço com FRP o procedimento é o


seguinte:
1 – arbitra se a profundidade da linha neutra (c) em conformidade com o modo de
ruptura.
2 – calculam-se as deformações dos diversos materiais admitindo-se a linearidade
da variação das mesmas.

129
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 4.4 – Domínios de Dimensionamento do Concreto Armado.

3 – conhecidas as deformações calculam-se as tensões atuantes nos diversos


materiais.
4 – a partir do conhecimento das forças se faz as veri¿cações do equilíbrio das mes-
mas. Se o momento resistente encontrado no sistema reforçado for maior que o
momento solicitante máximo de cálculo (Mref.maj.) o processo está completo.
O procedimento descrito é iterativo, uma vez que a etapa 1 que determina o resultado
¿nal é arbitrada, podendo ou não atender simultaneamente às condições de resistência
necessária e economia, devendo ser repetida tantas vezes quanto necessário para a con-
secução desses objetivos.
Uma vez concluído o processo iterativo faz-se a veri¿cação da ductilidade do sistema FRP.

4.5.2 DETERMINAÇÃO DO MOMENTO RESISTENTE DO REFORÇO

Figura 4.5 – Determinação do momento resistente (ACI).

130
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

O momento resistente de uma viga de concreto armado reforçada com sistemas FRP é
consequência dos seguintes esforços componentes:
Fc – resultante da seção comprimida do concreto.
F’s – força resultante da seção comprimida da armadura.
Fs – força resultante da seção tracionada da armadura.
Ff – força resultante da seção tracionada de ¿bra de carbono.

Essas resultantes, assim como as suas localizações, estão indicadas na Figura 4.5.
A capacidade resistente ao momento Àetor de um elemento reforçado com FRP pode ser
expressa da seguinte maneira:

⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = As .fs . ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Af .ffe ⎜ df − 1 ⎟ + As' .fs' ⎜ 1 − d ' ⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠
sendo
fs = Es . Hs < fy
f’s = Es . H’s < fy
f fe = Ef.Hc,f ” Ef . İfe
ȥf - coe¿ciente adicional de redução com valor 0,85.
Esse fator de redução (ȥf) está de¿nido na ACI 440 - 10.2.10 com base nas análises de
con¿abilidade discutidas na seção 9.1 e que foram baseadas nas propriedades calibradas
estatisticamente da resistência à Àexão, conforme Okeil et al. – 2007.

Sabendo-se que:
Fs = As . fs
F’s = A’s . f’s
Ff = Af . f fe
Fc = D1 . f’c . ȕ1.c

A expressão acima pode ser assim reescrita:

⎛ β .c ⎞ ⎛ β1 .c ⎞ ' ⎛ β1 .c ⎞
Mn = Fs . ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Ff ⎜⎝ df − ⎟ + Fs ⎜⎝ − d' ⎟
⎝ 2 ⎠ 2 ⎠ 2 ⎠

Admitindo-se que não exista armadura de aço para compressão a expressão do momento
resistente pode ser simpli¿cada para:

⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = As .fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Af .ffe ⎜ df − 1 ⎟ , ou, ainda
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

131
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = Fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Ff ⎜ df − 1 ⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

Considerando que,
Ff = Af . f fe
f fe = Hf . Ef = (Hb - Hbi )Ef

⎛ h − c⎞
εf = εc ⎜
⎝ c ⎟⎠

⎡ ⎛ h − c⎞ ⎤
ffe = ⎢ε c ⎜ ⎟ − ε bi ⎥ Ef
⎣ ⎝ c ⎠ ⎦

⎡ ⎛ h − c⎞ ⎤ (4a)
Ff = Af .Ef ⎢ε c ⎜ ⎟ − ε bi ⎥
⎣ ⎝ c ⎠ ⎦

O equilíbrio das forças é calculado através da determinação do nível de tensões dos ma-
teriais constituintes. Assim, o equilíbrio interno das forças é satisfeito se, e somente se, for
obedecida a seguinte expressão:

Fs + Ff (4b), ou seja,
c=
Fc + Fs'

A profundidade da linha neutra é encontrada ao se satisfazer simultaneamente a equação


(4a) através da equação (4b), estabelecendo-se assim o equilíbrio interno das forças e a
compatibilidade das deformações.

4.5.3 NÍVEL DE DEFORMAÇÃO DO REFORÇO COM FRP

É muito importante o conhecimento do nível de deformação no reforço executado com FRP


no estado limite último.
Decorrente do fato de que o sistema FRP é linearmente elástico até a sua ruptura, o nível
de deformação do FRP será mandatório no dimensionamento do reforço estrutural.
Dessa forma, a deformação máxima que poderá ser atingida no reforço com FRP será
determinado para as seguintes situações:
- situação de ruptura do concreto.
- situação de ruptura do sistema FRP.
- situação na qual o sistema FRP se descola do substrato de concreto.

Com base nessas avaliações, a deformação efetiva que pode ser atingida pelo reforço de
FRP é assim expressa:

⎛ df − c ⎞ sendo,
ε fe = ε cu ⎜ − ε bi ≤ ε fd
⎝ c ⎟⎠

132
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

İbi deformação inicial da seção devido às cargas instaladas quando do reforço.


df profundidade efetiva do reforço FRP.
A profundidade da linha neutra para a determinação da deformação correspondente ao
estado de carregamento existente no elemento no instante da aplicação do reforço pode
ser assim obtida3:
1 - determina-se o valor de (Mg,reforço), momento nominal de cargas permanentes
quando da aplicação do reforço.

Mg ,reforço
2 – Determina-se o valor de (k) ĺ k =
fc .b.d 2

3 – Compara-se o valor de (k) encontrado com o valor de (kL);


se (k ” kL) adota-se (k’= k)
se (k > kL) adota-se (k’= kL)
4 – a posição da linha neutra ¿ca determinada pela seguinte relação:

⎛ 1 − 1 − 2k ' ⎞
c = d. ⎜
⎝ 0,8


( )
para seções retangulares e c = d. 1 − 1 − k ' para seções em “T”.

5 – conhecido o valor de (c) determina-se o braço de alavanca ⎛⎜ z = d − 0,8.c ⎞⎟ .


⎝ 2 ⎠

4.5.4 NÍVEL DE TENSÃO NO REFORÇO COM FRP

A ACI 440.2R-08 também limita o nível de tensão que pode ser atingido nos reforços com
FRP, antes da ruptura por Àexão da seção. Esse nível efetivo de tensão pode ser obtido da
correlação com o nível de deformação do FRP, assumida a condição de comportamento
perfeitamente elástico (ou seja, através da lei de Hooke):
f fe = Ef . İfe

4.5.5 FATOR DE REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA DOS SISTEMAS FRP

Uma das consequências da utilização de reforçados com sistemas FRP nas estruturas de
concreto armado é a redução da ductilidade do elemento original (sobre o qual foi aplicado
o reforço). Em alguns casos, essa perda é desprezível, mas seções que possam apresen-
tar signi¿cativa perda de ductilidade devem ser veri¿cadas.
Para elementos de concreto armado, não protendidos, a ductilidade adequada é atingida
se a deformação no aço, no instante do rompimento do concreto ou no descolamento ou
delaminação do sistema FRP seja, pelo menos (0,005).
O fator de redução da resistência (Ҁ) é fornecido pelas equações abaixo:
φ = 0,90 para Hf • 0,005

3 - Seguindo as recomendações da ABNT NBR 6118/2014.

133
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

0,25( ε f ε sy )
φ = 0,65 + para ε sy < ε t < 0,005
0,005 sy

φ =0,65 para Ht ” Hsy


Onde,
Ht - deformação unitária líquida de tração no aço, na situação extrema de tração, no esta-
do de resistência nominal, excluindo as deformações unitárias produzidas por pré-esforço
efetivo, Àuxo plástico, retração de cura e variação de temperatura4.
No Apêndice C.3.2.2 onde são de¿nidas as seções controladas pela compressão, tem-se
os seguintes valores, como de¿nidos em 10.3.3 da mesma norma:
φ = 0,75 para elementos com reforço em espiral.
φ = 0,70 para outros elementos reforçados.
Para as seções com deformação unitária líquida de tração, o valor de (Ht), conforme
de¿nido acima, está compreendido entre os limites para as seções controladas pela
compressão e as seções controladas pela tração, sendo permitido que o valor de (Ҁ)
seja incrementado linearmente desde o valor controlados por compressão até o valor
(Ҁ = 0,90) na medida em que (Ht) aumente desde o limite de deformação unitária contro-
lada pela tração até o valor (0,005).

4.5.6 TENSÕES NO AÇO SUBMETIDO A CARGAS DE SERVIÇO

O nível de tensões na armadura de aço pode ser calculado baseado na análise da seção
¿ssurada de concreto reforçado com FRP. Essa veri¿cação pode ser feita a partir da ex-
pressão seguinte

⎡ ⎛ k.d ⎞ ⎤
⎢Ms + ε bi .Af .Ef ⎝⎜ df − 3 ⎠⎟ ⎥ .(d − k.d ) Es
fss = ⎣ ⎦
⎛ k.d ⎞ ⎛ k.d ⎞
As .Es ⎜ d −
⎝ ⎟ .(d − k.d ) + Af .Ef ⎜⎝ df − ⎟ .( df − k.d )
3 ⎠ 3 ⎠

O valor de (k) pode ser calculado com a utilização da seguinte expressão:

2
⎛ E E ⎞ ⎛ E E ⎛ d ⎞⎞ ⎛ E E ⎞
k = ⎜ ρs . s + ρf . f ⎟ + 2 ⎜ ρs . s + ρf . f ⎜ f ⎟ ⎟ − ⎜ ρs . s + ρf . f ⎟ ,
⎝ Ec Ec ⎠ ⎝ Ec Ec ⎝ d ⎠ ⎠ ⎝ Ec Ec ⎠
onde

As
ρs =
Ac ,g

Af
ρf =
Ac ,g

4 - ACI 318-05 – Capítulos 8-10, Apendice C.

134
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Ac,g área bruta da seção transversal da peça.


Ms é o momento devido a todas as cargas sustentadas (carga permanente e parcela
sustentada da carga acidental ou móvel, mais o máximo momento produzido em ciclos
de fadiga).

4.5.7 TENSÕES NO FRP SUBMETIDO A CARGAS DE SERVIÇO

O nível de tensões no reforço de FRP pode ser calculado utilizando a equação apresenta-
da a seguir:

⎛ E ⎞ ⎛ d − k.d ⎞
ffs = fss . ⎜ f ⎟ . ⎜ f ⎟ − ε bi .Ef ≤ 0,55ffu
⎝ Es ⎠ ⎝ d − k.d ⎠

Está sendo apresentado, na sequência, um exemplo do cálculo do reforço de uma viga


com a utilização de sistema FRP estruturado com ¿bras de carbono. O exercício segue o
roteiro de cálculo indicado pela norma ACI 440.2R-08 na sua Parte 5 – Exemplos5.
Exercício 4.1: Pede-se reforçar com FRP a viga apresentada na Figura 4.6.

Figura 4.6 – Viga simplesmente apoiada para reforço.

O carregamento de carga acidental da viga deverá ser (p = 125 N/cm). Quando da aplica-
ção do reforço a viga estará submetida ao carregamento de peso próprio de (g = 45 N/cm),
o carregamento ¿nal da viga, carga permanente mais acidental, será de (g + p = 170 N/cm).
O momento resistente da viga é Mres.= 9.492 kN.m.
Sabe-se que a viga foi armada com (As = 6,25 cm2) e (A’s =1,60 cm2), aço CA-50 e concreto
com (fck = 27 MPa).
Considerar para o FRP (Ef = 228000 MPa), (İ*fu = 0,017 mm/mm), (f*fu = 3800 MPa) e
(tf = 0,33 mm) e que a viga está inserida em ambiente com exposição ao interior.

5 - ACI 440.2R-08 – Part 5 – Examples.

135
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Iniciaremos a resolução do problema proposto determinando a deformação da viga subme-


tida apenas ao seu peso próprio, ou seja, (g = 4,5 kN/cm). Essa etapa de veri¿cação será
feita segundo os critérios da norma ABNT NBR-6118.

45.750 2
Mg = ≅ 3164062 N.cm
8

0,85.2700
= 1639,4 ≅ 1640 N / cm 2 N/cm
2
fc' =
1,4

3164062.1,4
k= = 0,03 → k' = k = 0,030
30.55 2.1640

⎛ 1 − 1 − 0,030 ⎞
c = 55 ⎜ ⎟ = 1,038 cm
⎝ 0,8 ⎠

0,8.1,038
z = 55 − = 54,585 cm
2

3164062.1,4
Fs ,c = ≅ 81152 N
54,585

81152
fs' = ≅ 12985 N / cm 2
6,25

12985
εs = = 0,0006 = 0,6‰
21000000

58,962
ε bi = 0,0006. = 0,0007
53,962

1250.7,5 2
M p,ref . = = 8789 kN.cm
8

Mg ; p,ref . = 3164 + 8789 = 11953 kN.cm > M res. = 9492 kN.cm − exige reforço

136
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

A resolução do problema consiste no atendimento da igualdade exposta abaixo, que é a


condição de equilíbrio do sistema de forças.
Fs + Ff
c=
Fc + Fs'

A partir desse instante o problema será resolvido com a utilização das recomendações da
norma ACI - 440.2R-08.

fc' 27
β1 = 1,05 − 0,05. = 1,05 − 0,05. = 0,857
7 7

Ec = 4700. fc' = 4700. 27 = 0,857

As = 5.1,25 = 6,25 = 62,5 mm2


Hbi = 0,0007

Vamos admitir, como primeira tentativa, a utilização de 2 (duas) lâminas de ¿bra de carbo-
no, com (tf = 0,33 mm), (bf = 270 mm) e (Af = 0,66.270 = 178,20 mm2).

fc' 27
ε fd = 0,41. = 0,41. = 0,0055
n.Ef .tf 2.228000.0,33

ε fd = 0,0055 ≤ 0,9.ε fu = 0,9.(0,95.0,017 ) = 0,0144 OK !

Admitindo-se (arbitrando-se) c = 0,25.d = 0,25.550 = 137,50 mm vem:

⎛ df − c ⎞
ε fe = ε cu ⎜ − ε bi ≤ ε fd
⎝ c ⎟⎠

⎛ 600 − 137,5 ⎞
ε fe = 0,003 ⎜ − 0,0007 = 0,0094 ≤ ε fd = 0,0055 não OK !
⎝ 137,5 ⎟⎠

Dessa forma, Hfe = Hfd = 0,0055

⎛ c ⎞ ⎛ 137,5 ⎞
ε c = (ε fe + ε bi ) . ⎜ = (0,0055 + 0,0007 ) . ⎜ = 0,0018
⎝ df − c ⎠⎟ ⎝ 600 − 137,5 ⎟⎠

⎛ d −c ⎞ ⎛ 550 − 137,5 ⎞
ε s = (ε fe + ε bi ) . ⎜ = (0,0055 + 0,0007 ) . ⎜ = 0,0055

⎝ df − c ⎠ ⎝ 600 − 137,5 ⎟⎠

fs = Es.Hs = 210000.0,0055 = 1161 N/mm2

N N
fs = 1161 2
≤ fy = 435 não OK !
mm mm 2

137
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Deverá ser, então, adotado para a tensão no aço: fs = 435 N 2


mm
fe = Ef . Hfe = 228000 . 0,0055 = 1254 N/mm 2

Por semelhança de triângulos, obtemos a deformação do aço em compressão:


Hs = 0,0013
N N
fs' = Es .ε 's = 210000.0,0013 = 264 ≤ fy = 435
mm 2 mm 2

Deverá ser, então, adotado para a tensão no aço: fs' = 264 N 2


mm
Cálculo do Equilíbrio das Forças Resultantes:

1,71.fc' 1,71.27
ε 'c = = = 0,0019
Ec 24221

4.ε 'c − ε c 4.0,0019 − 0,0018


β1 = = = 0,7436
6.ε 'c − 2.ε c 6.0,0019 − 2.0,0018

3.ε 'c .ε c − ε c2 3.0,0019.0,0018 − 0,0018 2


α1 = = = 0,8717
3.β1 .ε 'c 2 3.0,7436.0,0019 2

As .fs + Af .fe 6,25.4350 + 1,782.12540


c= = = 9,434 cm
α1 .fc' .β1 .b 0,8717.270.0,7436.30

ccalc. = 94,340 mm = carb. = 137,5 mm não convergiu!

Admitindo-se, como segunda tentativa, (c = 0,20.d = 0,20.550 = 110,00 mm) e a utilização


das mesmas 2 (duas) lâminas de ¿bra de carbono, com (tf = 0,33 mm), (bf = 270 mm) e
(Af = 0,66.270 = 178,20 mm2) vem:

fc' 27
ε fd = 0,41. = 0,41. = 0,0055
n.Ef .tf 2.228000.0,33

Hfd = 0,0055 ” 0,9.İfu = 0,9.0,016 = 0,0144 OK!

138
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

⎛ df − c ⎞
ε fe = ε cu ⎜ − ε bi ≤ ε fd
⎝ c ⎟⎠

⎛ 600 − 110 ⎞ não OK!


ε fe = 0,003 ⎜ − 0,0007 = 0,0127 ≤ ε fd = 0,0055
⎝ 110 ⎟⎠

Dessa forma, Hfe = Hfd = 0,0055

⎛ c ⎞ ⎛ 110 ⎞
ε c = (ε fe + ε bi ) . ⎜ = (0,0055 + 0,0007 ) . ⎜ = 0,0014
⎝ df − c ⎟⎠ ⎝ 600 − 110 ⎟⎠

⎛ d −c ⎞ ⎛ 550 − 110 ⎞
ε s = (ε fe + ε bi ) . ⎜ = (0,0055 + 0,0007 ) . ⎜ = 0,0056
⎝ f
d − c ⎟
⎠ ⎝ 600 − 110 ⎟⎠

fs = Es . İs = 210000.0,0056 = 1169 N/mm2

N N
fs = 1169 ≤ fy = 435 nãoOK
mm 2 mm 2

deverá ser, então, adotado para a tensão no aço: fs = 435 N/mm2


fe = Ef . Hfe = 228000 . 0,0055 = 1254 N/mm2
Por semelhança de triângulos obtemos a deformação do aço em compressão:
H’s = 0,0009

f’s = Es.İ’s = 210000.0,0009 = 189 N/mm2 ” fy = 435 N/mm2


Deverá ser, então, adotado para a tensão no aço: f’s = 189 N/mm2

Cálculo do Equilíbrio das Forças Resultantes:

1,71.fc' 1,71.27
ε 'c = = = 0,0019
Ec 24221

4.ε 'c − ε c 4.0,0019 − 0,0014


β1 = = = 0,7209
6.ε 'c − 2.ε c 6.0,0019 − 2.0,0014

139
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

3.ε 'c .ε c − ε c2 3.0,0019.0,0014 − 0,0014 2


α1 = = = 0,7711
3.β1 .ε 'c 2 3.0,7209.0,0019 2

As .fs + Af .fe 6,25.4350 + 1,782.12540


c= = = 11,001cm
cm
α1 .fc' .β1 .b 0,7711.270.0,7209.30

ccalc. = 110,01 mm = carb. = 110,00 mm convergiu!

Contribuição do aço para a Àexão:

⎛ β .c ⎞ ⎛ 0,7209.11 ⎞
Mns = As .fs . ⎜ d − 1 ⎟ = 6,25.4350 ⎜ 55 − ⎟⎠ = 1387515 kgf .cm
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2

⎛ β .c ⎞ ⎛ 0,7209.11 ⎞
Mnf = Af .ffe . ⎜ df − 1 ⎟ = 1,782.12540 ⎜ 60 − ⎟⎠ = 1252175 kgf .cm
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2

∅.Mn = ∅ [Mns + ψ .Mnf ] = 0,9 [1387515 + 0,85.1252175 ] = 2206677 kgf .cm

∅.Mn = 2206677 kgf .cm > Mu = 1785900 kgf .cm

Observa-se que esse resultado foi obtido arbitrando-se as dimensões da lâmina e do nú-
mero de camadas, demonstrando que o processo é iterativo (e por tentativas) cabendo ao
projetista determinar o nível de re¿namento que ele deseja para o seu dimensionamento.
Veri¿cando as tensões em serviço na armadura de aço e no FRP
2
⎛ E E ⎞ ⎛ E E ⎛ d ⎞⎞ ⎛ E E ⎞
k = ⎜ ρs . s + ρf . f ⎟ + 2 ⎜ ρs . s + ρf . f ⎜ f ⎟ ⎟ − ⎜ ρs . s + ρf . f ⎟
⎝ Ec Ec ⎠ ⎝ Ec Ec ⎝ d ⎠ ⎠ ⎝ Ec Ec ⎠

Es 6,25 2100000
ρs . = . = 0,030
Ec 1800 244210

Ef 1,782 2280000
ρf . = . = 0,009
Ec 1800 244210

df 60
= = 1,091
d 55

k= (0,030 + 0.009 )2 + 2 (0,030 + 0,009.1,091) − (0,030 + 0,009 ) = 0,246

kd = 0,246.55 = 13,524 cm

⎡ ⎛ k.d ⎞ ⎤
⎢Ms + ε bi .Af .Ef ⎜⎝ df − 3 ⎟⎠ ⎥ .(d − k.d ) Es
fss = ⎣ ⎦
⎛ k.d ⎞ ⎛ k.d ⎞
As .Es ⎜ d −
⎝ ⎟ .(d − k.d ) + Af .Ef ⎜⎝ df − ⎟ .( df − k.d )
3 ⎠ 3 ⎠

⎛ k.d ⎞ ⎛ 13,524 ⎞
ε bi .Af .Ef ⎜ df − ⎟ = 0,0007.1,782.2280000 ⎜⎝ 60 − ⎟ ≅ 157823
⎝ 3 ⎠ 3 ⎠

140
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

(d − k.d ) Es = (55 − 13,524 ) .2100000 ≅ 87099600


⎛ k.d ⎞ ⎛ 13,524 ⎞
⎟ .(d − k.d ) = 6,25.2100000 ⎜⎝ 55 − ⎟ (55 − 13,524 ) = 2,749
10
As .Es ⎜ d −
⎝ 3 ⎠ 3 ⎠

⎛ k.d ⎞ ⎛ 13,524 ⎞
⎟ .(df − k.d ) = 1,782.2280000 ⎜⎝ 60 − ⎟ (60 − 13,524 ) = 1,048
10
Af .Ef ⎜ df −
⎝ 3 ⎠ 3 ⎠

17.750 2
Ms = ≅ 1195312 kgf .cm
8

fss =
[1195312 + 157823 ].87099600 = 3104,371 kgf ≤ 0,8.5000 = 4000
kgf
OK !
10 10 2
2,749 + 1,048 cm cm 2

⎛ E ⎞ ⎛ d − k.d ⎞
ffs = fss . ⎜ f ⎟ . ⎜ f ⎟ − ε bi .Ef ≤ 0,55ffu
⎝ Es ⎠ ⎝ d − k.d ⎠

⎛ 2280000 ⎞ ⎛ 60 − 13,524 ⎞
ffs = 3104,371. ⎜ . − 0,0007.2280000 = 2180,774 kgf / cm 2
⎝ 2100000 ⎟⎠ ⎜⎝ 55 − 13,524 ⎟⎠

kgf kgf
ffs = 2180,774 2
≤ 0,55.ffu = 0,55. (0,9.3800 ) = 1881 OK !
cm cm 2

4.6 REFORÇO À FLEXÃO SEGUNDO A CNR-DT 200/2004


No dimensionamento no estado limite último de membros de concreto reforçados com FRP
é exigido que tanto a capacidade à Àexão (Mrd) e o momento último majorado (Msd) satisfa-
çam à seguinte inequação:
Msd ” Mrd

A análise de um membro de concreto reforçado com FRP, no estado limite último se baseia
nas seguintes hipóteses fundamentais:
– a seção transversal perpendicular ao eixo longitudinal da peça antes da defor-
mação permanece, ainda, plana e perpendicular ao eixo da viga após a deÀexão
(hipótese de Bernoulli);
– existe adesão perfeita entre o FRP e o concreto e entre o aço e o concreto;
– o concreto não trabalha à tração;
– as leis constitutivas do concreto e do aço são consideradas de acordo com os có-
digos construtivos correntes;
– o FRP é considerado um material linear até a ruptura;
– o reforço com FRP é efetivo para baixas relações geométricas de armaduras de
aço. As regras estabelecidas se referem exclusivamente a essa situação (aço no
escoamento último).

141
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

É assumido que a ruptura por Àexão ocorre em uma das seguintes condições:
– a deformação máxima do concreto à compressão (İcu), como de¿nido pelos atuais
códigos, é atingida;
– a deformação máxima de tração do FRP (İfd) é atingida. Essa deformação é cal-
culada como:

⎧ ε fk ⎫
ε fd = min ⎨ηa . .ε fdd ⎬ (1) onde,
⎩ γf ⎭

Hfk deformação característica na ruptura do sistema de reforço adotado.


Jf coe¿ciente de¿nido na Tabela 4.2.
Șa coe¿ciente de¿nido na Tabela 4.3.
Hfdd deformação máxima de¿nida pelo descolamento intermediário.

ffdd ,2
ε fdd =
Ef

2.E .
ffdd ,2 = kcr .fdd = cr fk

γ f ,d γ c

kcr adotado com o valor 3,0 se dados mais especí¿cos não estiverem disponíveis.
Ef módulo de elasticidade do FRP.
īfk energia especí¿ca de fratura.

Γ fk = 0,003.k b . fck .fctm (unidades N e mm)

fctm valor médio da resistência à tração do concreto.


kb coe¿ciente geométrico dependente das larguras do elemento (b) e do FRP (bf), dado por:

bf
2−
kb = b ≥1 (comprimento em mm)
bf
1+
400

Onde ( bf ≥ 0,33 ). Se ( bf < 0,33 ) será adotado o valor de (kb) correspondente a


b b
( bf = 0,33 ).
b

142
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

A capacidade resistente ao corte do elemento reforçado deve ser maior que o valor da
demanda de corte. Se necessário, a capacidade resistente ao corte deve ser aumentada
conforme as recomendações dos códigos em vigência.
– pelo fato do elemento reforçado com FRP em geral estar carregado por ocasião da
aplicação do composto, a deformação existente na estrutura antes da aplicação
do FRP deve ser subtraída da deformação total admissível.

Fatores Parciais (Jm) Para materiais e Produtos


Modo de Ruptura Fator Parcial Aplicação Tipo A Aplicação Tipo B
Ruptura do FRP Jf 1,10 1,25
Descolamento do FRP Jf,d 1,20 1,50

Tabela 4.2 – Fator parcial (Jm).

Fator de Conversão Para Diferentes Exposições Ambientais (Șa)


Condições de Exposição Tipo de Fibra/Resina Șa
Vidro/Epóxi 0,75
Interna Aramida/Epóxi 0,85
Carbono/Epóxi 0,95
Vidro/Epóxi 0,65
Externa Aramida/Epóxi 0,75
Carbono/Epóxi 0,85
Vidro/Epóxi 0,50
Ambiente Agressivo Aramida/Epóxi 0,70
Carbono/Epóxi 0,85

Tabela 4.3 – Fator parcial (ɻa).

Fatores Parciais (Jrd)


Modelo de resistência Jrd
Flexão/Combinação de Àexão e carga axial 1,00
Corte/Torção 1,20
Con¿namento 1,10

Tabela 4.4 – Fator parcial (Jrd).

143
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

4.6.1 DEFORMAÇÃO NA ESTRUTURA ANTES DO REFORÇO COM FRP

– quando um reforço de FRP é aplicado a um elemento sujeito a carregamentos já


existentes, a deformação inicial deve ser avaliada quando o momento Àetor devido
às cargas existentes (Mo) for maior que o momento de ¿ssuração da peça. Se não
for esse caso, a deformação inicial pode ser desprezada.
– o projeto é desenvolvido assumindo um comportamento elástico-linear para todos
os materiais do elemento que está sendo analisado.
– as deformações a serem levadas em consideração são aquelas de compressão
(İco) e a deformação (İo) do lado tracionado, onde o sistema FRP é aplicado. Essas
tensões são determinadas por meio da proporcionalidade de triângulos no diagra-
ma de deformação, função das propriedades geométricas e mecânicas da seção
transversal.
A deformação inicial de tração do peso próprio (İo) pode ser assim avaliada:
Mgk
εo =
0,9.d.Es .As2

Mgk momento de serviço devido às cargas permanentes atuantes no instante da instalação


do sistema FRP.
As2 área da armadura de compressão.
Es módulo de elasticidade do aço da armadura.

4.6.2 CAPACIDADE À FLEXÃO DOS ELEMENTOS REFORÇADOS COM FRP

A análise à Àexão dos elementos pode ser realizada usando o equilíbrio de forças e a com-
patibilidade das deformações.
A tensão em determinado ponto deve corresponder à deformação no mesmo ponto e as
forças internas devem equilibrar os efeitos das cargas externas.
Existem dois tipos de ruptura que podem ser observados, dependendo se a deformação úl-
tima do FRP (Região1) ou a deformação última de compressão (Região 2) forem atingidas.

Figura 4.7 – Modos de ruptura de um elemento de concreto armado reforçado com FRP.

144
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Quando o projeto cai na Região 1 a ruptura é devida à ruptura do sistema FRP. Qualquer
diagrama de deformação correspondente a esse modo de ruptura tem o seu ponto de refe-
rência no valor da deformação (İfd) de¿nido na expressão (1).
A distribuição das deformações ao longo da altura do elemento tem que ser linear para
satisfazer as hipóteses fundamentais apresentadas. Elas devem ser, assim, calculadas:
ε = ε (para o FRP)
f fd
x
ε = (ε fd + ε o ) ” ε cu (para o concreto em compressão)
c
(h − x )
ε x − d2
s2
= ( ε fd + ε o ) (para o aço em compressão)
(h − x )

ε d−x
s1
= ( ε fd + ε o) (para o aço em tração)
(h − x )

ε deformação última do concreto em compressão.


cu

Quando o projeto recai na Região 2, a ruptura é devida ao esmagamento do concreto (de-


formação igual a (İcu) com o escoamento do aço por tração, enquanto a deformação do FRP
não alcança o seu valor último. A distribuição das deformações ao longo da altura da peça
tem que ser linear para atender às hipóteses fundamentais. Elas são, assim, calculadas:

ε cu
εf = .( h − x ) − ε o ≤ ε fd (para o FRP)
x
İc = İcu (para o concreto em compressão)
x − d2
ε s2 = ε cu . (para o aço em compressão)
x
d−x
ε s1 = ε cu . (para o aço em tração)
x

Para identi¿car o modo de ruptura (falha do sistema) deve ser calculada a relação mecâni-
ca do FRP, (ȝf), fornecido pela expressão:

bf .( nf .tf ,1 ) .fdd 2
μf =
fcd .b.d

Uma vez conhecido (ȝf) ele é comparado relação mecânica equilibrada (ȝf1 - 2) fornecida
pela expressão:

h
0,8.ε cu .
μf 1− 2 = d − μ .(1 − μ )
s
ε cu + ε fd + ε o

145
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Nessas equações:
fcd é igual à resistência à compressão de projeto do concreto, (fcd), adequadamente reduzi-
da, se necessário ou conveniente.

As1 .fyd
μs =
fccd .b.d

As2
μ=
As1

Ho é a deformação produzida pelas cargas permanentes quando da instalação do sistema FRP.

Mgk
εo =
0,9.d.Es .As2

Mgk momento Àetor devido às cargas permanentes existentes quando da instalação do


sistema FRP.
- se (ȝf ” ȝf1-2) a ruptura (falha do sistema) se dá na Região 1.
- se (ȝf > ȝf1-2) a ruptura (falha do sistema) se dá na Região 2.
Essas duas situações são mostradas na Figura 4.8.

Figura 4.8 – DeĮnição do modo de ruptura de um reforço FRP.

Para ambos os casos de modos de ruptura, a posição (x) do eixo neutro é computada por
meio da equação de equilíbrio translacional ao longo do eixo da viga, como mostrado:

146
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

0 = ψ .b.x.fcd + As2 .σ s2 − As1 .fyd − Af .σ f onde,

fcd resistência à compressão de projeto do concreto (fcd) com seu valor adequadamen
te reduzido, se necessário.
A capacidade resistente à Àexão (MRd) do elemento reforçado pode ser calculado utilizando
a equação de equilíbrio rotacional, como indicado:

1
MRd = ⎡ψ .b.x.fcd (d − λ .x ) + As2 .σ s2 (d − d1 ) + Af .σ f .d1 ⎤ (3 )
γ Rd ⎣ ⎦

JRd coe¿ciente parcial considerado com valor 1,0.


Nas equações (2) e (3) os coe¿cientes não dimensionais (\) e (O) representam a resultante
das tensões de compressão e a sua distância da ¿bra extrema comprimida, respectiva-
mente, divididos por ( b.x.fcd ) e por (x) respectivamente. A Figura 4.9 esclarece melhor os
dois coe¿cientes adimensionais:

Figura 4.9 – Determinação dos coeĮcientes (\) e (O).

Conhecida a resultante de compressão na peça, (Rc) os coe¿cientes (\) e (O) podem ser
calculados:
Rc h
ψ= e λ= c
b.x.fcd x

Se o aço estiver em sua fase elástica, as tensões podem ser obtidas pela multiplicação da
deformação correspondente pelo módulo de elasticidade do mesmo (ıs = Es .İs). De outra
forma, elas podem ser assumidas iguais à tensão de escoamento do aço (fyd). Em ambas
as regiões, 1 e 2, a deformação exibida pelas barras de aço tracionadas é sempre maior
do que (Hyd ).
Como os materiais de FRP têm um comportamento elástico linear até a ruptura, suas
tensões devem ser calculadas multiplicando-se a deformação calculada pelo módulo de
elasticidade do FRP (ıf = Ef . Hf).

147
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Para evitar a ocorrência de que as barras de aço da armadura permaneçam elásticas até
x
a ruptura o coe¿ciente não dimensional ( ξ = ) não deve exceder o valor limite ([lim), cal-
d
culado como se segue:

ε cu
ξlim =
ε cu + ε yd

4.6.3 RECOMENDAÇÕES SOBRE O CONTROLE DE TENSÕES

Se recomendações de projeto, no caso de combinações raras de carregamento, não es-


tiverem adequadamente contempladas nas normas estruturais devem ser obedecidos os
seguintes limites:

Tensões Limites
Concreto 0,6 fck
Armadura de aço 0,8 fyk
Aço de protensão 0,6 fpk
Material FRP Șa.fpk(*)
(*) de¿nido conforme Tabela 3.4 da CNR-DT 200/2004

Exercício 4.2: Pede-se reforçar com FRP a viga apresentada na Figura 4.10.

Figura 4.10 – Viga simplesmente apoiada para reforço.

O carregamento de carga acidental da viga deverá ser (p = 227 N/cm). Quando da aplica-
ção do reforço a viga estará submetida ao carregamento de peso próprio de (g = 45 N/cm).
O carregamento ¿nal da viga, carga permanente mais acidental, será de (g + p = 272 N/cm).
O momento resistente da viga é Mres. = 9,492 tf.m.
Sabe-se que a viga foi armada com (As = 6,25 cm2) e (A’s = 1,60 cm2), aço CA-50 e concreto
com (fck= 27 MPa).
Considerar para o FRP (Ef = 228000 MPa), (İ*fu = 0,017 mm/mm), (f*fu = 3800 MPa) e
(tf = 0,33 mm) e que a viga está inserida em ambiente com exposição ao interior.

148
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Observar que se trata do mesmo problema solucionado com os critérios da ACI 440.2R-08.
Dados dos carregamentos:
Mg = 3,164 tf.m
Mp = 15,960 tf.m
Mres. = 10,153 tf.m
M(g+p) = 3,164 + 15,960 = 19,124 tf.m

Características do concreto:
fck = 270 kgf/cm2

fck 270
fcd = = = 168,75 ≅ 169 kgf / cm 2
γc 1,6

fctm = 19,50 kgf/cm2

fctm 19,5
fct = 0,7. = 0,7. = 8,53 ≅ 8,50 kgf / cm 2
γc 1,6

Características do aço:
fy = 5000 kgf/cm2

fy 5000
fyd = = = 4347,8 ≅ 4350 kgf / cm 2
γs 1,15

Características do FRP:
Ef = 2280000 kgf/cm2
DfE.Ef = 0,9.2280000 = 2052000 kgf/cm2
f tk = 38000 kgf/cm2
Dff..f tk = 0,9.38000 = 34200 kgf/cm2
tf,1 = 0,33 mm

Para este tipo de aplicação, Tipo A e ambiente interno, o valor de (Ka), (Jf) e (Jfd) são obtidos
das tabelas seguintes, parcialmente transcritas (já reproduzidas anteriormente):

149
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Fator de Conversão Para Diferentes Exposições Ambientais (Ka)


Condições de Exposição Tipo de Fibra/Resina Ka
Interna Vidro/Epóxi 0,75
Aramida/Epóxi 0,85
Carbono/Epóxi 0,95

Fatores Parciais (Jm) Para materiais e Produtos


Modo de Ruptura Fator Parcial Aplicação Tipo A Aplicação Tipo B
Ruptura do FRP Jf 1,10 1,25
Descolamento do FRP Jf,d 1,20 1,50
Assumindo o número de camadas de FRP como (nf = 1), a deformação máxima de projeto
(Hfd) pode ser assim calculada:

⎧ ε fk ⎫
ε fd = min ⎨ηa . ,ε ⎬
⎩ γ f fdd ⎭

ffk 3000
ε fk = = = 0,0132
Ef 228000

ε fk 0,0132
ηa . = 0,95. = 0,0114
γf 1,10

ffdd ,2
ε fdd =
Ef

kcr 2.Ef .Γ fk
ffdd ,2 = kcr .fdd =
γ f ,d . γ c tf

Γ fk = 0,003.k b . fck .fctm (unidades N e mm )

Admitindo-se (bf = 270 mm) temos:

bf
2−
kb = b ≥1
bf
1+
400

270
2−
kb = 300 = 0,810 ≤ 1 dessa forma, k = 1,00
270 b
1+
400

Γ fk = 0,03.1,0. 27.1,95 = 0,218 N / mm 2

150
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

3,0 2.228000.0,218
ffdd ,2 = = 1084,684 ≅ 1085 N / mm 2
1,2. 1,6 0,33

1085
ε fdd = = 0,0038
228000

ε fd =min{0,0114;0,0038} dessa forma,

Hfd = 0,0048

O mecanismo de falha dos sistemas FRP podem ser de dois tipos, dependendo tanto da
deformação por tração máxima do FRP (Hfd) como a da deformação máxima por compres-
são do concreto (Hcu ). Para a identi¿cação da região o procedimento é o seguinte:
Mgk 3164000
εo = = = 0,0002
0,9.d.Es .As2 0,9.550.210000.160

bf .( nf .tf ,1 ) .fdd 2 270.1.0,33.1085


μf = = = 0,0217
fcd .b.d 27.300.550

As1 .fyd 625.435


μs = = = 0,061
fcd .b.d 27.300.550

As2 160
μ= = = 0,256
As1 625

h 600
0,8.ε cu . 0,8.0,0035.
μf 1 − 2 = d − μ .(1 − μ ) = 550 − 0,061(1 − 0,256 )
s
ε cu + ε fd + ε o 0,0035 + 0,0048 + 0,0002

μf 1−2 = 0,3140

μf = 0,0217 ≤ μf 1−2 = 0,314 → a ruptura se dá na região 1

Na condição da região 1 temos:


Considerando x = 0,20 h = 0,20.600 = 120 mm vem:

x
ε c = (ε fd + ε o ) ≤ε (para o concreto em compressão)
(h − x ) cu

120
ε c = (0,0048 + 0,0002 ) = 0,0013 ≤ ε cu = 0,0035
(600 − 120 )

x − d2
ε s2 = ( ε fd + ε o ) (para o aço em compressão)
(h − x )

151
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

d−x
ε s1 = ( ε fd + ε o ) ( para o aço em tração )
(h − x )

120 − 40
ε s2 = (0,0048 + 0,0002 ) = 0,0008
(600 − 120 )
550 − 120
ε s1 = (0,0048 + 0,0002 ) = 0,0045
( − 120 )
600

Hf = Hfd = 0,0048

kgf kgf
fs1 = 2100000.0,0045 = 9406 adotado fs1 = 4350
cm 2 cm 2

kgf
fs2 = 2100000.0,0008 = 1680
cm 2

1
MRd = ⎡ψ .b.x.fcd (d − λ .x ) + As2 .σ s2 (d − d1 ) + Af .σ f .d1 ⎤ (3 )
γ Rd ⎣ ⎦

JRd coe¿ciente parcial considerado com valor 1,0.

kgf
Ec = 0,85.5600. fck = 0,85.5600. 27 ≅ 247336
cm 2
kgf kgf
fc = 247336.0,0013 ≅ 321 >> 169
cm 2 cm 2

MRd = ⎡⎣0,8.30.12.169 (55 − 4,8 ) + 1,60.1680 (55 − 4 ) + Af .10944.5 ⎤⎦

MRd = [2580422 + Af .54720 ]

Mrd − 2580422
Af =
54720

2677500 − 2580422
Af = = 1,774cm 2
54720

Af 1,774 54
bf = = = 53,758 ≅ 54cm → n = =2
tf 0,033 27

Se arbitrássemos, por exemplo (x = 10 cm) teríamos:


Hs2 = 0,0006
kgf
fs2 = 1260
cm 2

MRd = ⎡⎣0,8.30.10.169 (55 − 4 ) + 1,60.1260 (55 − 4 ) + Af .10944.5 ⎤⎦

2677500 − 2171376
Af = = 9,25cm 2
54720

152
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Adotando (x = 11 cm) teríamos:


Hs2 = 0,0007

kgf
fs2 = 1500
cm 2

MRd = ⎡⎣0,8.30.10.169 (55 − 4,4 ) + 1,60.1500 (55 − 4 ) + Af .10944.5 ⎤⎦

2677500 − 2379969
Af = = 5,25cm 2
54720

Observa-se que a determinação da área de FRP necessária é um processo iterativo. Arbi-


tra-se a profundidade da linha neutra até, por tentativas, chegar-se ao menor consumo de
sistema FRP.

4.7 OBSERVAÇÕES SOBRE A PROFUNDIDADE DA LINHA NEUTRA


O dimensionamento do reforço à Àexão de uma estrutura de concreto armado deve ser fei-
to de modo a que seja evitada uma ruptura frágil do concreto. A ruptura dúctil do concreto
sempre é desejável, pois nessa condição a estrutura emite sinais prévios de deformação,
permitindo que sejam feitas intervenções de recuperação em tempo.
Para que se de¿na a profundidade da linha neutra, é necessário o conhecimento das reco-
mendações e limitações da ABNT NBR-6118:2014.
(17.2.2) – a distribuição de tensões no concreto é feita de acordo com o diagrama parábo-
la-retângulo de¿nido em 8.2.10.1, com tensão de pico igual a 0,85 fcd, com fcd de¿nido em
12.3.3. Esse diagrama pode ser substituído pelo retângulo de profundidade (y = O.x), onde
o valor do parâmetro (O) pode ser tomado igual a:
– A = 0,8, para fck ” 50 MPa, ou
– A = 0,8 – (fck – 50)/400, para fck > 50 MPa.

onde a tensão constante atuante até a profundidade (y) pode ser tomada igual a:
– Dc.fcd, no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha neutra, não dimi-
nuir a partir desta para a borda comprimida.
– 0,9.Dc.fcd, no caso contrário.

sendo (Dc ) de¿nido como:


– para concretos de classe até C50, Dc = 0,85.
– para concretos de classes C50 até C90, Dc = 0,85.[1,0 – (fck – 50)/200].
(14.6.4.3) – para proporcionar adequado comportamento dúctil em vigas e lajes, a posição
da linha neutra no ELU deve obedecer aos seguintes limites:
x/d ” 0,45, para concretos com fck ” 50 MPa.
x/d ” 0,35, para concretos com 50 MPa < fck ” 90 MPa.

153
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

4.8 DEFORMAÇÃO MÁXIMA ADMITIDA EM UM REFORÇO À FLEXÃO COM


FRP EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE CAMADAS
Durante o período de vigência das recomendações da ACI 440.2R-02, em seu item 9.2.1
– Failure Modes (Modos de Ruptura) eram feitas as seguintes recomendações: “a delami-
nação do cobrimento ou o descolamento do sistema FRP pode ocorrer se os esforços que
estiverem ocorrendo nas ¿bras não puderem ser absorvidos pelo substrato do concreto.
Com o objetivo de que seja prevenido o descolamento do laminado de FRP uma limitação
deve ser introduzida ao nível de deformação desenvolvida no laminado”.
As equações (4a) e (4b)6 forneciam as expressões que determinavam o coe¿ciente (km),
estabelecido em função da cola:

1 ⎛ n.Efc .tfc ⎞
km = ⎜⎝1 − ⎟ ≤ 0,90 para n.Efc .tfc ≤ 180000 ( 4a )
60.ε fcu 360000 ⎠

1 ⎛ 90000 ⎞
km = ≤ 0,90 para n.Efc .tfc > 180000 ( 4b )
60.ε fcu ⎜⎝ n. Efc .tfc ⎟⎠

onde,
n número de camadas do reforço com FRP.
Efc módulo de elasticidade do FRP (MPa).
tfc espessura de uma camada do sistema FRP (mm).
Hfcu deformação de ruptura do reforço com FRP (mm/mm).
O coe¿ciente (km) de¿nido acima tinha um valor inferior a (0,90) e deveria ser multiplicado
pela deformação de ruptura do laminado de FRP para fosse de¿nida uma limitação de de-
formação que prevenisse o descolamento.
O número (n) utilizado nas expressões (4a) e (4b) era o número de camadas do refor-
ço com FRP à Àexão na posição, ao longo do desenvolvimento longitudinal do sistema,
onde a resistência ao momento Àetor esteja sendo considerado. A expressão reconhecia
que laminados com maiores espessuras seriam mais predispostos à delaminação. Dessa
forma, à medida que a espessura do laminado crescia as limitações de deformação má-
xima admissível iam se tornando mais rigorosas. Para laminados com espessura unitária
(n.Efc.tfc) maior do que 180.000 N/mm o coe¿ciente (km) limita a força a ser desenvolvida no
laminado em oposição ao nível de deformação.
Esse coe¿ciente efetivamente estabelecia um limite superior para a força total que poderia
ser desenvolvida em um laminado de FRP, levando em consideração o número de cama-
das utilizadas.
O coe¿ciente (km) foi baseado exclusivamente numa tendência observada da experiência
daqueles que elaboravam projetos com sistemas compostos aderidos externamente. En-
quanto isso não ocorre, a ACI recomenda que sejam utilizadas as expressões (4a) e (4b).

6 - ACI CommiƩee 440 – 9.2.1 – 26 October 2001.

154
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

A Figura 4.11 representa, para um sistema composto especí¿co7 à época, o grá¿co do


coe¿ciente (km).

Figura 4.11 - Valor do coeĮciente (km) para o Sistema MBrace.

Com base nas expressões apresentadas por aquela versão da norma, criou-se um consen-
so, disseminado entre todos os projetistas e aplicadores de sistemas FRP, de que o núme-
ro máximo de camadas de laminados não deveria exceder a quatro (ou até cinco em casos
especiais), uma vez que, a partir da quinta camada, o coe¿ciente de e¿ciência do sistema
¿caria inferior a 50% e a capacidade de sustentação de carga se tornaria assintótica.
A norma ACI 440.2R-08 não revalidou as recomendações da ACI 440.2R-02, normatizando
este assunto através do seu item 10.1.1 – Failure Modes (Modos de Ruptura) complemen-
tado pelas recomendações do item 13.1 – Bond and Delamination (Colagem e Delamina-
ção), com particular atenção dada ao item 13.1.2 – FRP end Peeling. Essas recomenda-
ções já foram apresentadas neste Capítulo.

4.9 DETERMINAÇÃO DAS TENSÕES DE CISALHAMENTO NA RESINA


Um questionamento muito comum quando do dimensionamento dos reforços dos elemen-
tos de concreto armado é o valor da tensão tangencial de cisalhamento que se origina na
interface do concreto existente com a matriz epoxídica do sistema FRP.
Essa tensão é a que solicita a resina que faz a impregnação da ¿bra e que podemos sim-
plesmente de¿nir como a tensão que atua na “cola” do sistema.
A Figura 4.12 mostra os esforços que se desenvolvem em um elemento qualquer de com-
primento (dx) do elemento de concreto a ser reforçado.

7 - Sistema composto MBrace, hoje MasterBrace, da BASF.

155
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 4.12 – Tensões que solicitam um elemento de comprimento (dx).

Seja uma viga de concreto armado, cuja seção transversal é mostrada na Figura 4.13.

Figura 4.13 – Seção transversal da viga.

Determinação do valor de (W0):


A tensão máxima de cisalhamento ocorre no eixo neutro da seção e tem o seguinte valor:

∑H LN =0

C + τ 0 .bw .d x = C + dC

C + dC − C dC
τ0 = =
bw .dx bw dx

sabemos que (M = C.z), onde,

T .zt + S.zs
z=
T +S

dM dC dC dC Q
= .z → Q = z → = ou seja,
dx dx dx dx z
dC Q
= (1) assim,
dx z

156
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

1 Q Q
τ0 = . =
bw z bw .z

determinação do valor de (Ws)

∑H = 0 → C − T + τ s .bw .dx = C + dC − (T + dT ) = C + dC − T − dT

τ s .bw .dx = dC − dT
1 1 dC dT
τs = (dC − dT ) = ⎛⎜⎝ − ⎞⎟⎠
bw .dx bw dx dx

1 ⎛ dC dT ⎞
τs = ⎜ − ⎟ (2 )
bw ⎝ dx dx ⎠

para (¦Ms) teremos,


Ms = C.zs- T(zs - zt)

dM dC dT
= .zs − ( zs − zt )
dx dx dx

dM
=Q
dx

dC Q
=
dx z
Q
dT .zs − Q
= z
dx ( zs − zt )

⎛z ⎞
Q ⎜ s − 1⎟
dT ⎝ z ⎠
= (3 )
dx ( zs − zt )

Substituindo (1) e (3) em (2) tem-se:

⎛ ⎛ zs ⎞⎞
1 ⎜ Q Q ⎜⎝ z − 1⎟⎠ ⎟
τs = ⎜ − ⎟
bw ⎜z ( zs − zt ) ⎟
⎜⎝ ⎟⎠

⎛ Q ⎞
1 ⎜ Q z ( zs − z ) ⎟
τs = −
bw ⎜ z ( zs − zt ) ⎟
⎜⎝ ⎟⎠

Q ⎛ (z − z) ⎞
τs = 1− s
bw .z ⎝ ( zs − zt ) ⎠⎟

157
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

T .zt + S.zs
z=
T +S

por aproximação pode-se utilizar para o valor de ( τ s ) a seguinte expressão:

⎛ S ⎞
τs = τ0 ⎜
⎝ S + T ⎟⎠

Exemplo 4.3: Como exemplo de como pode ser determinado o nível de tensão de cisa-
lhamento na interface entre o substrato de concreto e a matriz epoxídica de um sistema de
FRP analisemos a viga mostrada na Figura 4.14, para a qual temos:
Mref. = 20,592tf.m = 2059200 kgf.cm
Vref. = 9,153 tf = 9153 kgf

20cm
A's =1,60cm 2
d = 2,5cm 2,5 cm

9,2 cm
C'= 6.960 kgf.
C = 44.528 kgf.
69cm

As = 9,45cm 2
d'' = 4,0cm T = 41.107 kgf.

Af = 0,588cm 2 S = 9.072 kgf.

Figura 4.14 – Esforços atuantes na seção em estudo.

Determinemos o centro de gravidade dos esforços C e C’ em relação à face superior da


viga e de T e S em relação à face inferior da viga:

6960.2,5 + 44528.9,2
= 8,294cm
6960 + 44528

41107.4 + 9107.0
= 3,277cm ou seja
41107 + 9072

z = 69 - 8,249- 3,277 = 57,474 cm


As resultantes dos esforços de compressão e de tração atuantes na seção da viga são
apresentadas na Figura 4.15.

158
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

8,249cm

C + C' = 51.488 kgf.

z = 57,474cm

T+ S = 50.179 kgf.
3,277cm

Figura 4.15 – Resultante dos esforços atuantes na seção em estudo.

Tem-se, então:

9153
τo = = 7,963kgf / cm 2
20.57,474

¿nalmente, a tensão na “cola” do sistema é dada por:

⎛ 9072 ⎞
τ s = 7,963. ⎜ = 1,44kgf / cm 2
⎝ 50179 ⎟⎠

4.10 RECOMENDAÇÕES PARA A ANCORAGEM DE EXTREMIDADES PELAS


NORMAS ACI 440.2R-08 E CNR-DT 200/2004

4.10.1 DESCOLAMENTO DO FINAL DO FRP - ACI 440.2R-08

Apesar de já ter sido apresentado no capítulo 3, Modos de Ruptura, julga-se impor-


tante sua repetição para permitir que seja feita uma comparação com o conceito da
CNR – DT 200/2004 para o mesmo assunto.
Essa ocorrência, também conhecida como delaminação do cobrimento, pode ser o resulta-
do da tensão normal desenvolvida nas extremidades do reforço com FRP.
Nesse tipo de delaminação a armadura de aço existente essencialmente funciona como
um “freio” para a colagem no plano horizontal, e o cobrimento do concreto pode se desta-
car do resto do substrato. Essa manifestação de destacamento do cobrimento do concreto
por tração é controlada, em parte, pelo nível de tensões existentes no ponto ¿nal (extremi-
dade) do sistema FRP aplicado.
O destacamento da extremidade pode ser minimizado pelo uso de ancoragem de extremi-
dade, conformado por estribos em forma de “U”, que permitem a diminuição das tensões
por encurtamento do FRP e mantém esse encurtamento o mais próximo possível do ponto
de momento nulo.
Quando a força majorada de corte no ponto correspondente ao término do FRP for maior
do que (2/3) do valor da resistência da peça ao corte, (Vu > 0,67Vc) o laminado de FRP deve

159
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

ser ancorado por meio do reforço transversal para prevenir o destacamento do cobrimento
do concreto.
A área desse “grampo” transversal, conformado por FRP em forma de “U”, (Af,ancor.) pode
ser determinada com a utilização da seguinte expressão:

( Af .ffu )longit .
Af ,ancor . =
(Ef .kν .ε fu )ancor .

k1 .k2 .Le
kν = ≤ 0,75
11900.ε fu

Para vigas simplesmente apoiadas, uma única camada do laminado FRP deve terminar
pelo menos a uma distância igual a (ldf), além do ponto correspondente ao momento de
¿ssuração da peça (Mcr ).

Figura 4.16 – Defasagem das camadas de FRP.

Para múltiplas camadas de laminados, os pontos de terminação dos mesmos deverão ser
defasados, sendo que a terminação mais interna não pode distar menos do que (ldf) do
ponto do momento de ¿ssuração, e os demais defasados pelo menos 15cm um do outro,
como mostrado na Figura 4.16.
A expressão que determina o comprimento crítico (ldf), necessário para promover a comple-
ta adesão do FRP no concreto, é mais uma vez apresentada:

n.Ef .tf
l df =
fc'

4.10.2 TENSÃO INTERFACIAL PARA O ESTADO LIMITE DE UTILIZAÇÃO - CNR-DT 200/2004

Segundo o CNR-DT 200/2004, nas vigas reforçadas com sistemas FRP ocorre concentra-
ção de tensões normais e de corte no concreto nas extremidades do reforço FRP. Essa
concentração de tensões pode induzir ¿ssuras na interface concreto/sistema FRP, confor-
me mostrado na Figura 4.17.

160
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Figura 4.17 – Delaminação na extremidade do sistema FRP.

Em condições de serviço essas ¿ssuras precisam ser evitadas, especialmente se o ele-


mento reforçado estiver sujeito a ciclos de fadiga ou de congelamento/descongelamento.
Quando da análise dessa ocorrência deve ser admitido um comportamento linear tanto
para o aço como para o concreto.
Para os carregamentos freqüentes e raros a tensão de corte na interface do concreto com
o sistema FRP aplicado sobre ele pode ser considerada como uma tensão equivalente de
corte (Wbe ), que necessariamente deve ser inferior à tensão admissível de projeto da cola (fbd).
A Figura 4.18 ajuda na determinação dos parâmetros geométricos da viga.
Wbe ” fbd
Wbe = kid . Wm sendo,

kid - coe¿ciente que leva em consideração as tensões normais e de corte próximas às ex-
tremidades da ancoragem.
2

(
k id = kσ1,5 + 1,15.kτ1,5 ) 3 onde,

kV = kW . ȕ.tf (1)

M( z = a )
kτ = 1 + α .a.
V( z = a ) .a
1
⎛ b .2.30.k1 ⎞ 4
β=⎜ f
⎝ 4.E .I ⎟⎠ f f

k1
α=
Ef .tf

If - momento de inércia do reforço com FRP em relação ao seu eixo central, paralelo ao
eixo neutro da viga.

161
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 4.18 – Parâmetros geométricos da viga.

1
k1 =
ta t
+ c
Ga Gc

ta - espessura nominal do adesivo.


Ga - módulo de cisalhamento do adesivo.
tc - espessura efetiva do cobrimento do concreto.
Gc - módulo de cisalhamento do concreto.
Wm - tensão média de corte de acordo com a teoria de Jourawski.

V(z = a) .tf .( h − xe )
τm =
Ic
nf

xe - distância da ¿bra extrema mais comprimida até a linha neutra.


Ic - momento de inércia da seção transformada.
Ef
nf =
Ec

Ef - módulo de elasticidade do sistema FRP.


Ec - módulo de elasticidade do concreto correspondente à combinação de carregamentos
considerado.
Se for utilizada ancoragem em “U” na extremidade do sistema FRP o efeito da tensão nor-
mal pode ser desprezado e o coe¿ciente (kV), na equação (1) pode ser desprezado.
A resistência de colagem de projeto (fbd) é função da resistência característica de tração do
concreto (fctk) como mostrado na sequência:

fctk
fbd = k b .
γb

162
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

bf
2−
kb = b ≥ 1 (medidas em mm)
bf
1+
400

Onde ⎛⎜ bf ≥ 0,33 ⎞⎟ . Se ⎛⎜ bf < 0,33 ⎞⎟ será adotado o valor correspondente a


⎝b ⎠ ⎝b ⎠

⎛ bf ⎞
⎜⎝ = 0,33 ⎟⎠ para (kb).
b

Jb = 1,0 - para combinações raras de carregamento.


Jb = 1,2 - para combinações frequentes de carregamento.

4.11 CONSIDERAÇÕES SOBRE FLUÊNCIA E FADIGA


Segundo o ACI 440.2R-08, para evitar a perda por Àuência nos sistemas compostos FRP
submetidos a cargas de longa duração ou ruptura por tensões cíclicas e fadiga do reforço
aplicado, o nível de tensões no reforço composto deve ser veri¿cado. Pelo fato de que
essas tensões estarão dentro do intervalo de resposta elástica do membro reforçado, elas
poderão ser avaliadas através da análise elástica.
Os compostos FRP submetidos a um carregamento constante por um longo período de
tempo podem vir a falhar após um período de tempo conhecido como tempo de resistên-
cia. Esse tempo é conhecido como ruptura por Àuência. À medida que a relação da tensão
de longa duração e a resistência de curto tempo do elemento do sistema FRP aumenta, o
tempo de resistência diminui, ou seja, quanto maior o nível de tensão sustentada menor o
tempo de resistência.
Esse tempo de resistência também é inÀuenciado pela agressão do meio ambiente, tais
como temperaturas elevadas, exposição a radiações ultravioleta, alta alcalinidade, alter-
nância entre umidade e secura e ciclos de congelamento e descongelamento. As ¿bras de
carbono são as menos susceptíveis à ruptura por Àuência, seguidas das ¿bras de aramida
e por ¿m das ¿bras de vidro.
Pesquisas efetuadas mostram que existe uma relação linear entre a ruptura por Àuência e
o logaritmo do tempo para todos os níveis. Dessa forma, a relação do nível de tensões na
ruptura por Àuência após 500.000 horas (ou cerca de 50 anos em termos práticos) para a
resistência última inicial dos diversos plásticos utilizados forneceram valores aproximados de
0,30 para ¿bras de vidro, 0,50 para as ¿bras de aramida e 0,90 para as ¿bras de carbono.
Com relação à fadiga, existe um substancial acervo de dados. A maioria desses dados foi
produzida pela indústria aeroespacial. Não obstante à diferença entre os materiais utili-
zados naquela atividade industrial e àqueles utilizados na construção civil, algumas con-
clusões convergentes podem ser consideradas, desde que considerados compostos com
materiais unidirecionais, com fração de ¿bra/volume da ordem de 60% e submetidas a
carregamentos cíclicos (tração-tração sinusoidal) observadas as seguintes limitações:

163
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– frequência su¿cientemente baixa para não produzir autoaquecimento;


– meio ambiente reproduzido em laboratório;
– relação de tensão (relação entre a tensão mínima e a máxima aplicadas) de 0,10;
– direção paralela ao alinhamento principal das ¿bras.

De todas as ¿bras utilizadas em sistemas FRP, a ¿bra de carbono é a menos predisposta à


ruptura por fadiga. Um limite de resistência entre 60% e 70% da resistência estática inicial
última é típico. Veri¿ca-se experimentalmente que a 106 ciclos a resistência à fadiga se
encontra entre os valores relacionados e que o material é relativamente não afetado pela
exposição à umidade e variação de temperatura no concreto, a menos que a resina ou a
interface ¿bra-resina estejam substancialmente degradadas pelo meio ambiente.
A publicação CNR-DT 200/2014, em seu item 3.5.2 – “Fatores de conversão para efeitos
de longa duração Ș1” apresenta as seguintes considerações sobre a fadiga nos sistemas
FRP:
Efeitos da Fadiga: O desempenho dos sistemas FRP sob condições de fadiga deve cer-
tamente ser levado em consideração. Esse desempenho depende da composição da ma-
triz e, moderadamente, do tipo da ¿bra. Nos compostos unidirecionais, as ¿bras possuem
usualmente poucos defeitos. Dessa forma elas podem, efetivamente, atrasar a formação de
¿ssuras. A propagação das ¿ssuras também é prevenida pela atuação das ¿bras adjacentes.
Para evitar a ruptura de elementos reforçados com FRP submetidos a tensões contínuas
ou carregamentos cíclicos, valores de correção do fator K1 para efeitos de longa duração
são sugeridos na Tabela 4.5. No caso de combinações de carregamentos contínuos ou
cíclicos, o fator de conversão total pode ser obtido como o produto dos relativos fatores de
conversão.

Modo de Carregamento Tipo da Fibra/Resina K1


Permanentes (Àuência e relaxação) Vidro/Epóxi 0,30
Aramida/Epóxi 0,50
Carbono/Epóxi 0,80
Cíclicos (fadiga) Todos 0,50

Tabela 4.4 – Fatores de conversão para efeitos de longa duração ɻ1 para diversos sistemas FRP no ELU.

4.12 ESTRUTURAS DE CONCRETO PROTENDIDO


A análise de uma seção de concreto protendido reforçada para a Àexão por um sistema
composto estruturado com ¿bras é análoga à análise de uma viga parcialmente protendida.
O dimensionamento à ruptura por Àexão no concreto protendido tem o mesmo enfoque e
segue os mesmos princípios básicos do dimensionamento à Àexão simples no concreto
armado, conforme mostrado na Figura 4.19.

164
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

As hipóteses básicas são as seguintes:


1 – até a ruptura as seções transversais permanecem planas, isso signi¿ca que o
diagrama de deformação (H) é uma reta.
2 – o encurtamento de ruptura do concreto nas seções Àetidas é de (3,5‰) sen-
do, contudo, atingido o valor de cálculo da tensão limite de compressão (isto é,
0,85fcd) para a deformação a partir de (2‰). Abaixo desse valor as tensões de
compressão no concreto caem até zero na linha neutra, segundo uma parábola
do segundo grau.

Figura 4.19 - Representação geral da seção protendida.

3 – o alongamento permitido no cálculo para a armadura convencional de tração


(armadura frouxa) será de (10‰), visando prevenir deformações plásticas exces-
sivas para a peça.
4 – o alongamento máximo permitido no cálculo para a armadura protendida (aço
duro) será de (15‰), desde a aplicação da protensão.
5 – a favor da segurança é totalmente desprezada a resistência à tração do concreto.
6 – o valor de cálculo da tensão a ser considerada nas armaduras de tração (conven-
cional) e de protensão (dura) é aquela correspondente às deformações (Hs) e (Hpt).
7 – é adotado o diagrama reduzido para a região comprimida, com (x’= 0,8x).

– o equilíbrio da seção deve ser considerado da seguinte maneira:


a) por ocasião da aplicação da protensão
b) quando da descompressão do aço protendido pela atuação de parte do carre-
gamento.
c) quando da aplicação do restante do carregamento (carregamento último).

Essas três situações que conduzem ao equilíbrio da seção estão mostradas na


Figura 4.20. A primeira parte desta ¿gura mostra a deformação dos cabos protendidos
devido à aplicação da força inicial de protensão minorada das perdas subsequentes. A
segunda parte se refere à descompressão do concreto ao nível dos cabos protendidos

165
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

quando é considerada a aplicação de parte dos carregamentos solicitantes. Finalmente a


última parte da Figura 4.20 mostra o alongamento da armadura de protensão quando são
aplicados os carregamentos totais.

Figura 4.20 – Equilíbrio da seção.

4.13 DEFORMAÇÃO DA PEÇA E ALONGAMENTO DA ARMADURA DE


PROTENSÃO
O alongamento total (Hpt) da armadura de protensão é constituído por 3 parcelas:
Hpt = Hpo + Hcpo + Hp

σ po
ε po = é o alongamento devido à força de protensão após as perdas imediatas.
Ep

σ cpo + σ cg
ε cpo = é o alongamento devido ao encurtamento do concreto junto
Ec
ao centro de gravidade dos cabos por ocasião da protensão, equivalente à deformação
da ¿bra desde o instante da protensão, após a qual é feita a solidarização (cabo/seção)
através da injeção até a ¿bra atingir a posição neutra pelo acréscimo de parte das cargas.
Normalmente essa deformação é muito pequena.
Hpo = Hpt - (Hpo + Hcpo) – alongamento que a armadura de protensão sofre a partir da posição
neutra da seção até a ruptura. Como vimos, (Hp ” 10‰) e (Hpt ” 15‰).
Considerando-se sempre o concreto com encurtamento de ruptura, conforme hipótese 2,
e as armaduras com os alongamentos de acordo com as hipóteses 3 e 4 podemos deter-
minar a posição da linha neutra, que será feita através de duas determinações distintas:

- Primeira veri¿cação:
Hp = Hpt - (Hcpo + Hpo ) < Hs = 10‰, ou seja, (Hp) terá valor tal que levará (Hs < 10‰).
Nesse caso determina-se (x) em função de (Hp) através da semelhança de triângulos, con-
forme demonstrado na Figura 4.21:

166
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Figura 4.21 – Determinação da linha neutra.

0,0035 εp
=
x dp − x

Hp.x = 0,0035.dp - 0,0035.x

0,0035.d p
x=
ε p + 0,0035

- Segunda veri¿cação: quando ocorre (Hp > Hs = 10‰)


Ou seja, (ȟp) tem valor tal que levará a (Hs > 10‰).
Nesse caso deve-se determinar o valor de (x) em função de (İs = 10‰), da seguinte maneira:

0,0035 εs εs
= =
x h − d' − x (
h − d' − x)
0,0035( h − d ' ) 0,0035( h − d ' )
x= =
ε s + 0,0035 0,01 + 0,0035

x = 0,259 hd’
Conhecido o valor de (x) podemos determinar as equações de equilíbrio da seção agora
considerando a contribuição do sistema composto.
Convém lembrar que a deformação que ainda pode ser mobilizada na armadura de proten-
são existente não poderá exceder a:
Hp = 0,015 - (Hpo + Hcpo) onde,
(Hpo + Hcpo) expressão denominada de pré-alongamento da armadura de protensão.
As considerações acima se referem exclusivamente à situação em que temos os cabos
protendidos aderidos à estrutura, ou seja, imersos na massa de concreto seja pelo sistema
de pré-tração ou pós-tração com bainhas injetadas, quando é razoável admitir-se que as
deformações nos cabos de protensão no estágio ¿nal de carregamento é o mesmo que a
do concreto que os envolve.
Se os cabos não são aderentes, como no caso de pós tensão com cabos de bainhas lu-
bri¿cadas, os cabos estão livres para escorregar relativamente ao concreto envolvente. A

167
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

deformação nos cabos pode, portanto, não corresponder à deformação do concreto envol-
vente e a compatibilidade de deformações pode não ocorrer.
Nesses casos, devem ser providenciadas equações que avaliem separadamente as ten-
sões e deformações nos cabos não aderidos. De modo geral, as equações possíveis de
serem utilizadas só são aplicáveis no modo tradicional de ruptura por esmagamento do
concreto.
Quando for considerada um elemento protendido com armaduras não aderentes reforçada
com sistemas compostos, a ruptura deverá ser determinada pela ruptura do composto.
Um dos métodos mais convenientes para se tratar com cabos protendidos não aderentes é
o de se proceder como se as deformações estejam compatíveis e então aplicar-se um fator
redutor da colagem para se levar em consideração o escorregamento dos cabos.
Uma formulação aceitável para se determinar o fator de redução da colagem está disponí-
vel no artigo “Stress at Ultimate in Unbonded Post-tensioning Tendons – Part 2 – Proposed
Methodology”8 dos autores Namaan, A e Aljhairi, F., em 1991.
Segundo essa indicação teríamos para esse fator de redução a seguinte equação:

3.l1
Ωu =
ln
d p .l 2

l1 – o comprimento de todos os vãos carregados cobertos pelo cabo protendido.


l2 – comprimento entre as ancoragens do cabo.
ln – vão da viga no trecho considerado.
dp – profundidade do centróide da armadura protendida.

Convêm destacar que a adição de reforço com composto em um elemento protendido sub-
metido à Àexão não afeta dramaticamente a sua ductilidade. Recomenda-se que um fator
de redução da resistência de (0,90) seja mantido em todas as seções protendidas.

4.14 REFORÇO À FLEXÃO COM A UTILIZAÇÃO DE LAMINADOS DE FIBRAS


DE CARBONO ADERIDOS EXTERNAMENTE À SUPERFÍCIE DO CONCRETO
Um dos elementos mais utilizados para estruturar os sistemas compostos FRP são os la-
minados de ¿bras de carbono.
Os laminados são os produtos pré-fabricados dos sistemas FRP e são produzidos através
de processos de pultrusão, ou seja, de prensagem à quente. Através de um processo contí-
nuo as ¿bras de carbono são desenroladas, alinhadas e esticadas, para em seguida serem
imersas em resinas epoxídicas e enrijecidas por meio do calor e da prensagem.

8 - ACI Structural Journal, Vol. 88, nº 2, November-December, pp 683-692.

168
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Devido a razões técnicas o processo de pultrusão tem a incorporação das ¿bras de car-
bono limitado entre 55% a 70% do volume do plástico conformado, valor semelhante ao
conseguido para as barras de ¿bras de carbono.
Uma vez que o módulo de elasticidade e a tensão de tração da matriz polimérica podem
ser considerados desprezíveis para o cálculo das propriedades dos laminados os valores
considerados são de aproximadamente 70% daqueles valores para a ¿bra de carbono.
Os laminados são produzidos em escala industrial, utilizando uma grande variedade de
¿bras de carbono com características diferidas, existe, portanto, uma gama variada de
produtos laminados com características mecânicas diferentes, uma vez que podem ser
variados o módulo de elasticidade e o valor da deformação de ruptura, o volume de ¿bra
de carbono no plástico, parâmetros que de¿nem a sua resistência, assim como as dimen-
sões ¿nais dos produtos acabados. Existem laminados que utilizam ¿bras de carbono de
alta resistência e de menor resistência em proporções adequadas constituindo o que se
denomina de um produto híbrido nos quais o módulo de elasticidade não possui uma pro-
gressão linear.
Alguns laminados são produzidos utilizando procedimentos adicionais àqueles utilizados
para os produtos híbridos e que conduz a produtos melhor caracterizados. Considerando o
fato de que existem ¿bras de carbono com elevado módulo de elasticidade e baixo alonga-
mento de deformação, que romperão antes daquelas que possuem um menor módulo de
elasticidade, mas em contrapartida um grande alongamento de deformação, foram criados
procedimentos que mesclam as ¿bras de carbono com elevada resistência com ¿bras de
carbono com baixo módulo de elasticidade, mas que sofrem um processo adicional de
protensão (estiramento) durante o processo produtivo. Esse procedimento permite que se
tenha um produto híbrido em que o módulo de elasticidade tem uma progressão linear. A
vantagem que se obtém nesse procedimento, segundo os fabricantes, é que podem ser
utilizadas ¿bras de baixa resistência e conseqüentemente de menor custo que incorporam
ao produto ¿nal uma relação custo/benefício que torna o produto comercialmente mais
competitivo.
Tipicamente, é utilizado um adesivo, aplicado após a utilização dos imprimadores e da
massa de regularização da preparação do substrato do concreto, para a adesão dos lami-
nados à superfície do concreto. O fornecedor do sistema deve ser consultado com relação
aos procedimentos de instalação recomendados.
Os três tipos mais comuns de sistemas pré-curados são:
– laminados unidirecionais, normalmente fornecidos em bobinas com 50m (ou mais)
de comprimento, ou em amarrados de barras;
– grelhas pré-curadas multidirecionais, normalmente embaladas em forma de bobinas;
– cascas ou placas pré-curadas geralmente fornecidas sob a forma de segmentos
de casca cortados longitudinalmente de tal forma a poderem ser abertos e ajusta-
dos ao redor de colunas ou outros elementos.

169
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

De modo geral os laminados não podem sofrer curvaturas acentuadas, função de sua rigi-
dez. Essa de¿ciência deve ser suprida pela utilização de tecidos de ¿bras de carbono, que
também podem ser empregados para a melhoria das condições de ¿xação dos laminados,
particularmente suas extremidades. Também quando ocorrer a necessidade de mudança
de direção nas ¿bras de carbono os tecidos terão que ser utilizados.
A diferença que existe entre o dimensionamento de um reforço com a utilização de siste-
mas compostos onde o material e colocado em posição para a moldagem da matriz polimé-
rica via úmida no local de aplicação e o do laminado pré-fabricado é a seguinte:
– ambos os sistemas carregados no sentido de alinhamento das ¿bras são linear-
mente elásticos e de ruptura frágil. Se o volume de ¿bra por volume de plástico
é conhecido as propriedades dos dois sistemas FRP podem ser estimadas. Na
prática a baixa contribuição da resistência da matriz pode ser desprezada;
– no caso do sistema moldado “in situ” para projeto são consideradas a seção trans-
versal e as características mecânicas apenas da ¿bra de carbono;
– no caso do sistema laminado, para o projeto, são consideradas a seção transver-
sal do laminado e as características mecânicas do composto.

Essa última consideração pode ser resumida através da Figura 4.22 onde são indicadas as
características mecânicas e geométricas necessárias para a caracterização do laminado
de ¿bra de carbono a ser utilizado.

Figura 4.22 – Informações para dimensionamento com laminados.

4.14.1 APLICAÇÃO DOS SISTEMAS LAMINADOS

Os sistemas laminados, assim como os tecidos de ¿bra de carbono, são aplicados direta-
mente ao substrato de concreto previamente recuperado e imprimado.
A primeira etapa de execução consiste no desdobramento e corte do laminado que será
aplicado.
O adesivo utilizado é, então, aplicado diretamente no dorso do laminado que será posicio-
nado na peça que irá reforçar. Pode-se observar que, a menos das características peculia-
res de rigidez, os processos de aplicação das lâminas e dos laminados de ¿bra de carbono
são muito semelhantes.

170
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

4.14.2 DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO COM LAMINADOS DE FRP

O dimensionamento à Àexão utilizando-se os laminados de ¿bra de carbono é exatamente


igual ao dimensionamento utilizando-se tecidos de ¿bra de carbono. Apesar dos laminados
possuírem uma espessura sensível, normalmente 1,2 a 1,4 mm, ou seja, de 7,27 a 8,27 ve-
zes maior do que a espessura dos tecidos, na prática despreza-se o acréscimo de altura do
braço de alavanca de 0,6 a 0,7 mm em relação ao braço de alavanca da lâmina (ou tecido).
As fórmulas utilizadas são as mesmas vistas no início deste Capítulo para os tecidos, ou seja:

d' A's εc α1f c f s' A's


α1fc Ac
c εs β1c
linha neutra
=h

h d
df ~

As f s As
εs f f Af

Af εf

Figura 4.23 – Equilíbrio (Deformações x Forças Resultantes) na seção.

A capacidade resistente ao momento Àetor de um elemento reforçado com FRP pode ser
expressa da seguinte maneira:

⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = As .fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Af .ffe ⎜ df − 1 ⎟ + As' .fs' ⎜ 1 − d ' ⎟ sendo,
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

fs = Es . Hs < fy
fs’ = Es . Hs’ < fy
f fe = Ef . Hc,f ” Ef . İfe

\f - coe¿ciente adicional de redução com valor 0,85.

Fs = As . fs
Fs’ = As’ . fs
Ff = Af . f fe
Fc = D1 . fc’ . ȕ1.c

A expressão, então, pode ser assim reescrita:

⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = Fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Ff ⎜ df − 1 ⎟ + Fs' ⎜ 1 − d ' ⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

171
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Admitindo-se que não exista armadura de aço para compressão a expressão do momento
resistente pode ser simpli¿cada para:
⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = As .fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Af .ffe ⎜ df − 1 ⎟ ou ainda,
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

⎛ β .c ⎞ ⎛ β1 .c ⎞
Mn = Fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Ff ⎜⎝ df − ⎟
⎝ 2 ⎠ 2 ⎠

Considerando que
Ff = Af . f fe
f fe = Ef.Hf = (Hb - Hbi)Ef

⎛ h − c⎞
εf = εc ⎜
⎝ c ⎟⎠

⎡ ⎛ h − c⎞ ⎤
ffe = ⎢ε c ⎜ ⎟ − ε bi ⎥ Ef
⎣ ⎝ c ⎠ ⎦

⎡ ⎛ h − c⎞ ⎤
Ff = Af .Ef ⎢ε c ⎜ ⎟ − ε bi ⎥ (5a )
⎣ ⎝ c ⎠ ⎦

O equilíbrio das forças é calculado através da determinação do nível de tensões dos ma-
teriais constituintes. Assim, o equilíbrio interno das forças é satisfeito se, e somente se, for
obedecida a seguinte expressão:
Fs + Ff
c= (5b), ou seja
Fc + Fs'

a profundidade da linha neutra é encontrada ao se satisfazer simultaneamente à equação


(5a) através da equação (5b), estabelecendo-se assim o equilíbrio interno das forças e a
compatibilidade das deformações.

4.15 EXEMPLOS DE DIMENSIONAMENTO COM LAMINADOS


Exemplo 4.3: Dimensionar o reforço da viga de concreto armado cujas características
geométricas e armações estão indicadas na Figura XX com a utilização de laminados com
módulo de elasticidade Ef = 150 GPa e tensão de tração na ruptura f f = 2500 N/mm2. O
momento Àetor máximo da viga reforçada será Mref = 21,10 tf.m. A viga foi originalmente pro-
jetada para resistir a um momento Mviga = Mg + Mp = 6,020 +10,930 =16,950 tf.m. Por oca-
sião da aplicação do laminado considerar o momento devido às cargas de longa duração
atuantes de valor Mg = 6,020 tf.m. Considerar fck = 25 MPa e aço CA-50, com fy = 500 MPa.
- Veri¿cação da viabilidade do reforço
Na viga antes do reforço, temos:
M(g + p) = 6,020 + 10,930 = 16,950 tf.m
Md(g + p) = 1,4.16,950 = 23,730 tf.m

172
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Na viga, após o reforço, teremos:


Mg = 6,020 tf.m
Mp = 15,080 tf.m
Mref = 1,2.6,02 + 0,85.15,080 = 20,042 tf.m assim,
Mdg+p = 23,730 tf.m > Mref = 20,04 2tf.m ĺ atende às recomendações da ACI 440.
25
A's=1,60cm
d'=3 εc f 'c
f 'c Ac f s' A's
x εs 0,8x
linha neutra
d f =70,07
h=70

d=64

As=9,45cm
f s As
εs f f Af

Af εf

Figura 4.24 – Seção transversal do exemplo.

Considerando-se fck = 25 MPa, temos:

Ec = 0,85.5600 25 = 23752,3 ≈ 23750MPa

Es = 210000 MPa

210000
n= = 8,842
23750

0,5.250.700 2 + (8,842 − 1) .945.640


cb,crit = = 361,782mm
250.700 + (8,842 − 1) .945

que é a profundidade da linha neutra para o momento limite da seção não ¿ssurada de
concreto.

250.700 3
+ (8,842 − 1) .945.(361,782 − 640 ) = 7719459686mm 4
2
Ig =
12

0,62. 25 .7719459686
Mcrit . = = 70754143N.mm ≅ 7,075tf .m
700 − 361,782

M_(crit.)=7,075tf.m>M_g=6,020tf.m → a seção não é fissurada.

1,4
df = 700 + = 700,7mm
2

60200000.(700,7 − 361,782 )
ε bi = = 0,111.10 −3 mm / mm
7719459886

173
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Para o laminado adotado, temos:


Hfu = 0,95.12.10 -3 = 11,40.10 -3 mm/mm
Hfe = km .Hfu = 0,90.11,4.10 -3 = 10,26.10 -3 mm/mm
Hcf = Hfe + Hbi = 10,26.10 -3 + 0,111.10 -3 = 10,371.10 -3 mm/mm

A's ε c =0,3%
x=15,723cm εs

As
εs
ε f =1,0371%
Af

Figura 4.25 – Diagrama das deformações.

Conhecidos os valores das deformações limites tanto para o concreto armado como
para o laminado FRP podemos, através das relações de triângulos entre as deformações
apresentadas na Figura 4.25, determinar a profundidade limite da linha neutra da seção,
onde veri¿ca-se que, para as deformações limites do concreto (Hc = 0,3%) e do laminado
(Hf = 1,0371%), a profundidade da linha neutra é de (x = 15,273cm).
Somente para efeito de ilustração, consideremos a profundidade da linha neutra bastante
acima do valor que conduz às deformações limites:
Admitamos (x = 19,5 cm):

A's εc 7,8cm 3,0cm


ε s =0,254%
x=19,5cm
Fc=59280kgf F's=6960kgf
56,2cm

As Fs=41107kgf
ε s =0,685% Ff=?
ε f =0,778% 6,07cm
Af

Figura 4.26 – Diagrama com profundidade da LN = 19,5 cm.

Da Figura 4.26 podemos determinar:


250
fc' = 0,85. = 152kgf / cm 2
1,4

174
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Fs’ = 1,60.4350 = 6960kgf


Fs = 9,45.4350 = 41107kgf
Fc = 152.(0,8.19,5).25 = 59280kgf

Mdref. = 1,4.2110000 = 2954000 kgf.cm


Ms ĺ 59280.56,2 + 6960.61 + 6,07.Ff • 2954000kgf.cm

Ff = -69131kgf ĺ a profundidade da linha neutra é excessiva.


Mc ĺ 41107.56,2 + 6960.4,8 + 62,27.Ff • 2954000
Ff • 9803 kgf
analisemos agora uma posição da linha neutra bastante inferior àquela das condições
limites:
Seja (x = 14 cm):
0,8.x y
0,8.x = y = 11,20cm → = = 5,6cm tem − se,então,
2 2

Hc = 0,300% e İs’ = 0,236%


Hs = 1,071% ĺ valor que excede a deformação máxima permitida ao aço.
Hf = 1,202% ĺ valor que excede a deformação máxima da ¿bra de carbono.

Este estado de deformação é mostrado na Figura 4.27 aseguir:

A's ε c =0,3%
ε s =0,236%
x=14,0cm

As
ε s =1,071%
ε f =1,202%
Af

Figura 4.27 – Diagrama com profundidade da LN = 14 cm.

Seja (x = 16,0 cm):


y = 12,8 cm ĺ y/2 = 6,40 cm
Fc = 152.12,8.25 = 48640 kgf

175
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Hs = 0,244% e Hs = 0,900%
Hf = 1,014% ĺ quase no valor limite para o laminado.
Ms ĺ 48640.57,6 + 6960.61 + 6,07 . Ff • 2954000 kgf.cm
Ff = -44847kgf ĺ a profundidade da linha neutra ainda está alta.
Mc ĺ 41107.57,60 + 6960.3,40 + 63,67Ff • 2954000
Ff • 8835 kgf.

Seja (x = 15,8 cm):


y = 12,64cm ĺ y/2 = 6,32 cm
Fc =152.12,64.25 = 48032 kgf.
Hs’ = 0,243%
Hs = 0,915%
Hf = 1,030% quase no valor limite para o laminado.
Ms ĺ 48032.57,68 + 6960.61+6,07.Ff • 2954000 kgf.cm
Ff =-39710 kgf ĺ valor ainda excessivo.
Mc ĺ 41107.57,68 + 6960.3,32 + 63,75.Ff • 2954000
F f • 8781 kgf.

Seja (x = 15,721 cm) como uma última veri¿cação:


y = 12,577 cm ĺ y/2 = 6,288 cm.
Fc = 152.12,577.25 = 47792 kgf.
Hs’ = 0,243%
Hs = 0,921%
Hf = 1,037% quase no valor limite para o laminado.
Ms ĺ 47792.57,60 + 6960.61 + 6,07.Ff • 2954000 kgf.cm
Ff = - 37682 kgf ĺ valor ainda alto.
Mc ĺ 41107.57,60 + 6960.3,288 + 63,782.Ff • 2954000 kgf.cm.
Ff • 8760 kgf.
Ou seja, pelas tentativas realizadas, a solução está viabilizada a partir de (x = 15,72 cm). À
medida que se aprofunda a linha neutra maior é o consumo de ¿bras de carbono. Conside-
remos, como uma solução conservadora, (x = 16 cm).
Admitamos como o valor necessário ao cálculo:
Ff • 8835 kgf.

176
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

ε f = (10,140 − 0,111) .10 −3 = 10,029.10 −3 mm / mm

ff = ε f .Ef = 10,029.10 −3 .1500000 = 15043 kgf / cm 2

Considerando o coe¿ciente (\f = 0,85) temos:


8835
Af ≥ = 0,691 cm 2 = 69,1 mm 2
0,85.15043

69,1
bf = = 57,58 mm ĺ poderemos adotar laminado de 50.,4 mm = 70 mm2, ou, com um
1,2
pouco de excesso, laminado 80.1,2 mm = 96 mm2.

4.16 REFORÇO À FLEXÃO COM A UTILIZAÇÃO DE BARRAS E PERFIS DE


FIBRAS DE CARBONO EM MONTAGEM NSM (NEAR SURFACE MOUNTED).
Outra maneira bastante e¿ciente de se proceder ao reforço à Àexão, ao corte e de preven-
ção antissísmica de estruturas de concreto armado é a utilização de barras ou E-glass na
con¿guração de montagem super¿cial denominada NSM (Near Surface Mounted). Neste
capítulo somente será considerado o reforço à Àexão em montagem NSM.
A montagem NSM com FRP foi proposta inicialmente por De Lorenzis e Nanni9.
Esse procedimento, convém lembrar mais uma vez, não prescinde da condição de que o
substrato de concreto esteja em condições de receber o reforço das barras de carbono em
montagem super¿cial, ou seja, tem que obrigatoriamente serem atendidas as seguintes
condições básicas:
– que o substrato de concreto esteja são, sem fendilhamentos, esfoliações, delami-
nações, degradações e outras anomalias que comprometam a sua resistência,
“chocos”, inclusive e fundamentalmente na região correspondente ao cobrimento
da armadura existente e que terá que ser su¿cientemente resistente para a trans-
ferência dos esforços gerados com a inclusão das barras de reforço de ¿bras de
carbono em montagem NSM;
– que não existam oxidações nas barras da armadura de aço existente e que o co-
brimento de concreto não esteja contaminado por ela.

Caso alguma dessas pré-condições não estejam atendidas “a priori”, deverão ser imple-
mentados trabalhos de recuperação e de reabilitação de tal forma a que o substrato de
concreto (incluído aí o cobrimento) atinja as condições de suporte, necessárias e recomen-
dáveis para a aplicação das barras de ¿bras de carbono (ver capitulo 12).
Muitas vezes, as necessidades de recuperação do substrato podem exigir a retirada de
todo o cobrimento do concreto para permitir a limpeza e a passivação das barras de arma-
dura existentes, descaracterizando a aplicação por montagem super¿cial em que as barras

9 - De Lorenzis, L. e Nanni, A. -“Strengthening of Reinforced Concrete Beams With Near Surface Mounted Fiber Reinfor-
ced Polymer Bars”- ACI Structural Journal – 2001.

177
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

de reforço são aplicadas em rasgos escavados no concreto. Nessa situação, as barras de


reforço serão posicionadas diretamente sobre os estribos existentes e posteriormente en-
volvidas por nova camada de cobrimento, sendo então necessário que sejam obedecidas
as recomendações relativas ao efeito das cargas térmicas no novo cobrimento estabelecido.

O procedimento de aplicação das barras é simples, podendo ser assim resumido:


– um rasgo é produzido com a inclinação desejada na superfície do concreto;
– preenche-se 50% da seção transversal do rasgo com pasta epoxídica;
– a barra é introduzida no rasgo e ¿xada por meio de leve pressão, su¿ciente para
propiciar o seu envolvimento completo pela pasta, que também deve preencher
completamente o rasgo;
– se esse preenchimento não tiver sido total durante a operação anterior, um volume
adicional de pasta epoxídica deverá ser utilizado para completar o preenchimento
do rasgo.

As situações de exposição de longo prazo às condições ambientais devem ser considera-


das como propriedades iniciais.
Os coe¿cientes decorrentes das condições de exposição ao meio ambiente são fornecidos
através da Tabela 4.6, indicada pelo ACI-440.

O coe¿ciente de redução ambiental CE


Coe¿ciente de
Condição de exposição Tipo da Fibra
Redução Ambiental CE
Carbono 0,95
Exposição ao interior Vidro 0,75
Aramida 0,85
Carbono 0,85
Exposição ao exterior (pontes, cais
Vidro 0,75
e garagens desprotegidas)
Aramida 0,65
Ambientes agressivos (fábricas quí- Carbono 0,85
micas, estações de tratamento Vidro 0,50
de água) Aramida 0,70

Tabela 4.6 – Fator de Redução Ambiental CE (ACI-440).

O dimensionamento à Àexão deve levar em consideração as seguintes recomendações de


projeto:
f fu = CE . f*fu
Hfu = CE . H*fu

178
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

ffu
Ef = onde:
ε fu

f fu tensão de tração máxima de projeto da ¿bra de carbono.


f*fu tensão de tração máxima da ¿bra de carbono (fornecida pelo fabricante).
Hfu deformação máxima de projeto da ¿bra de carbono.
H*fu deformação máxima da ¿bra de carbono (fornecida pelo fabricante).
CE coe¿ciente de exposição ambiental.

d' A's εc α1f c f s' A's


α1fc Ac
c εs β1c
linha neutra

h df d

As f s As
εs f f Af

Af εf

Figura 4.28 – Diagrama de forças para o sistema de montagem superĮcial.

As recomendações para o cálculo do reforço estrutural à Àexão decorrente da utilização


de barras de FRP em montagem NSM são decorrentes das situações de deformação e
tensões mostradas na Figura 4.28.
São admitidas as seguintes condições de projeto:
– as seções permanecem planas após os carregamentos (Hipótese de Bernoulli);
– a deformação máxima admissível no concreto é de 3‰ (0,003);
– a tensão de tração admissível no concreto é negligenciada (desprezada);
– o composto de FRP tem um comportamento tensão/deformação linear até a ruptura;
– existe uma perfeita ligação entre o reforço de FRP com o concreto que o envolve.

A redução da resistência é feita de acordo com a abordagem de¿nida pela ACI-318, onde
um elemento estrutural com baixa ductilidade deve ser compensado com uma maior re-
serva de resistência. A maior reserva de resistência é obtida pela aplicação do fator (0,70)
nos membros frágeis, oposto ao recomendado para os membros dúcteis, onde se aplica o
fator (0,90).

179
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Os fatores de redução da resistência (‡), são os seguintes:


‡ = 0,90 para İf • 0,005

0,25( ε f − ε sy )
∅ = 0,65 + para Hsy < Hf < 0,005
0,005 − ε sy

‡= 0,65 para Hf ” Hsy


Hsy - deformação de escoamento do aço.

Os procedimentos de dimensionamento propostos para se chegar à resistência última deve


considerar o modo de dimensionamento à ruptura.
Utilizando um processo iterativo, por aproximação sucessiva, arbitra-se a profundidade da
linha neutra e o modo de ruptura escolhido (Hc = Hcu ou Hf = Hfe ), calculando o nível de defor-
mação de cada material, utilizando para isso a linearidade na variação das deformações. A
partir do estabelecimento das relações de deformações calculam-se as tensões nos diver-
sos materiais e veri¿ca-se o equilíbrio interno das forças. Se o equilíbrio não se veri¿ca, é
proposta uma nova profundidade para a linha neutra, procedimento que se repete até que
se alcance o equilíbrio desejado.
Quando a ruptura for controlada pelo esmagamento do concreto o bloco de tensões pro-
posto por Whitney pode ser utilizado sem modi¿cações.
Se o controle da ruptura for determinado pela ruptura do FRP ou pela delaminação do co-
brimento do concreto o bloco de tensões de compressão determinado por Whitney fornece
resultados mais acurados se utilizarmos o valor de (D1) fornecido pela equação abaixo do
que se tomar simplesmente o valor de (0,85).

4.ε 'c − ε c
β1 =
6.ε 'c − 2.ε c

3.ε 'c .ε c − ε c2 onde,


α1 =
3 β1 .ε 'c 2

fc'
ε 'c = 1,71.
Ec

Hc’ máxima deformação do concreto não con¿nado, podendo ser considerado com o valor
aproximado (0,002).
Ec módulo de elasticidade do concreto.
Se o controle da ruptura for determinado pela ruptura do FRP ou pela delaminação do co-
brimento do concreto o bloco de tensões de compressão determinado por Whitney fornece
resultados mais acurados.

180
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

O valor efetivo último da deformação (Hfe ) que deve ser utilizado para o reforço com FRP
é fornecido por:
Hfe = knsm . Hfu onde,
km – coe¿ciente determinado em função do tipo da colagem, com o objetivo de limitar a
deformação no FRP para prevenir o descolamento ou a delaminação do concreto do cobri-
mento das barras10. O valor de (knsm) é fortemente afetado pelas propriedades super¿ciais da
barra de FRP utilizada11, como por exemplo deformada ou jateada com areia, pelas dimen-
sões do rasgo, pelas propriedades da pasta epoxídica e pela tensão de tração do concreto.
Resultante de dados experimentais, o valor de (knsm) varia entre 0,64 e 0,80. Um valor con-
servativo de (knsm = 0,70) pode ser adotado consistentemente com resultados experimentais
de De Lorenzis e Nanni e de conformidade com a posição adotada pelo ACI-440.
A deformação nominal devida à tração no concreto que envelopa as barras de FRP pode
ser expressa por:

df − c
ε c ,f = .ε cu ≤ ε fe + ε bi onde,
c
df – profundidade do reforço com FRP.
Hbi – deformação inicial do elemento.

O valor da deformação inicial (Hbi) pode ser determinado com a utilização da análise elástica
do membro considerando todos os carregamentos atuantes por ocasião da instalação das
barras de FRP. O primeiro trecho da equação, ((dfc-c)/c . Hcu) deve ser utilizado quando o
esmagamento do concreto for determinante na ruptura e o segundo termo (Hfe + Hbi) quando
o FRP determinar o modo de ruptura.
A deformação (Hbi) é determinada da seguinte maneira:

Mg
ε bi = ( df -cb,crit. ) onde,
I.Ec

0,5.b.h2 + (n − 1) .As .d
cb,crit . =
b.h. + (n − 1) .As

O momento que produz o ¿ssuramento da seção é obtido da seguinte expressão:


0,62. fc' .Ig
Mcr =
h-cb,crit.

b.h3
Ig = + (n-1) .As .(cb,crit. -d)2 é o momento de inércia da seção não ¿ssurada.
12

10 - O coeĮciente está sendo denominado (knsm) no lugar do valor original (km) para não causar confusão com o coeĮ-
ciente (km) adotado para a limitação do número de camadas.
11 - De Lorenzis e Nanni – 2002.

181
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Se o momento devido às cargas de longa duração existentes na seção quando da aplica-


ção do reforço produzirem momento Àetor maior que o momento Àetor de ¿ssuramento de-
verá ser utilizado na expressão de (Hbi) o valor do momento de inércia da seção ¿ssurada,
ou seja:
Se (Mg < Mcr) ĺ utilizar o momento de inércia da seção não ¿ssurada.
Se (Mg > Mcr) ĺ utilizar o momento de inércia da seção ¿ssurada.

Segundo as recomendações do ACI 318, critério adotado também pelo ACI 440, o momen-
to de inércia da seção ¿ssurada pode ser assim determinado:

b.d 3 3 onde,
Icr = .k + ns .As .d 2 (1 − k )2
3

As E
k = 2.ρs .ns + ( ρs .ns )2 − ρs .ns sendo ρs = e ns = s
b.d Ec

Esta expressão é adotada nas estruturas de concreto armado e a sua adaptação para a
utilização de sistemas FRP é dada pela seguinte expressão:

⎛M ⎞ ⎡ ⎛ M ⎞3 ⎤
Ie = ⎜ cr ⎟⎠ g d ⎢1 - ⎜⎝ M ⎟⎠ ⎥ .Icr ≤ Ig
.I .β + cr
onde,
⎝ Mac ⎢⎣ ac ⎥⎦

⎛ Es ⎞
βd = α b ⎜ +1 = α b (ns +1)
⎝ Ec ⎟⎠

Para as aplicações de FRP o ACI 440 recomenda considerar (Db = 0,50)


A capacidade resistente ao momento Àetor de um elemento reforçado com FRP pode ser
expressa da seguinte maneira:

⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = As .fs ⎜ d − 1 ⎟ + ø f .Af .ffe ⎜ df − 1 ⎟ + As' .fs' ⎜ 1 − d ' ⎟ sendo,
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

fs = Es . İs < fy
fs’ = Es . İs’ < fy
f fe = Ef . İc,f ” Ef . İfe
\f - coe¿ciente adicional de redução com valor 0,85.

O valor do coe¿ciente (ȕ1) é obtido através do item (10.2.7.3) do ACI 318, podendo ser
assim considerado:
ȕ1 = 0,85 para valores de (fc’ ” 28 MPa).
para valores de (fc’ > 28 MPa) o valor de (ȕ1) deverá ser reduzido de (0,05) para cada acrés-
cimo de (7 MPa) na resistência do concreto.

182
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Podemos escrever que:


Fs = As. fs
Fs’ = As’.fs’
Ff = Af . f fe
Fc = D1 . fc’. ȕ1.c
A expressão acima pode ser assim reescrita:

⎛ β .c ⎞ ⎛ β1 .c ⎞ ' ⎛ β1 .c ⎞
Mn = Fs . ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Ff ⎜⎝ df − ⎟ + Fs ⎜⎝ − d' ⎟
⎝ 2 ⎠ 2 ⎠ 2 ⎠

admitindo-se que não exista armadura de aço para compressão a expressão do momento
resistente pode ser simpli¿cada para:
⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = As .fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Af .ffe ⎜ df − 1 ⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

ou, ainda,

⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
M n = Fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .F f ⎜ d f − 1 ⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

Considerando que

Ff = Af . f fe
f fe = İf . Ef = (İb - İbi ).Ef

⎛ h - c⎞
εf = εc ⎜
⎝ c ⎟⎠

⎡ ⎛h −c ⎞ ⎤
ffe = ⎢ε c ⎜ ⎟⎠ − ε bi ⎥ Ef
⎣ ⎝ c ⎦

⎡ ⎛h −c ⎞ ⎤
Ff = Af .Ef ⎢ε c ⎜ ⎟ − ε bi ⎥ (4a)
⎣ ⎝ c ⎠ ⎦

O equilíbrio das forças é calculado através da determinação do nível de tensões dos ma-
teriais constituintes. Assim, o equilíbrio interno das forças é satisfeito se, e somente se, for
obedecida a seguinte expressão:

Fs + Ff (4b) ou seja,
c=
Fc + Fs'

183
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A profundidade da linha neutra é encontrada ao se satisfazer simultaneamente a equação


(4a) através da equação (4b), estabelecendo-se assim o equilíbrio interno das forças e a
compatibilidade das deformações.
As barras de FRP são a¿xadas em rasgos (ranhuras) abertos no concreto com a utilização
de pasta epoxídica apropriada.

Figura 4.29 – Dimensões mínimas das ranhuras.

As dimensões devem ser ajustadas em função da facilidade construtiva. Nesse caso, po-
dem ser utilizadas as dimensões mínimas (3a x 1,5.b), conforme mostrado na Figura 4.29
seguinte.
A disposição geométrica das ranhuras em um sistema de montagem super¿cial foi objetivo
de trabalho apresentado no “7th International Simposium – Fiber Reinforced Polymer (FRP)
Reinforcement for Concrete Estructures12”, do qual transcreve-se, também, a Figura 4.30
que apresenta a relação comparativa da carga máxima por ranhura em função de sua re-
lação profundidade versus espaçamento.
Especialmente, decorrente deste estudo paramétrico, algumas particularidades construti-
vas podem ser constatadas e con¿rmadas, tais como:
– existe um espaçamento mínimo recomendável entre duas barras (ou laminados)
adjacentes de ¿bra de carbono de forma que seja assegurado a não interferência
e/ou inÀuência entre os mesmos;
– existe uma distância mínima recomendável entre um laminado (ou barra) de ¿bra
de carbono e a lateral da peça para evitar a inÀuência do cobrimento do concre-
to nas proximidades da borda. Foi constatado que essa distância deve exceder
40mm para que seja garantido que cada laminado (ou barra) de ¿bra de carbono
atue independentemente.

A Figura 4.31 indica a disposição que devem assumir as ranhuras de tal forma a que seja
assegurado um comportamento independente dos reforços com elementos de ¿bras de
carbono.

12 - AnalyƟcal EvaluaƟon of RC Beams Strengthened with Near Surface Mounted CFRP Laminates – J.-Y.Kang, Y.-H. Park,
Y.-J. You and W.-T. Jung – SP-230-45.

184
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Figura 4.30 – Comparação da carga úlƟma para a relação profundidade da ranhura versus seu espaçamento.

Figura 4.31 – Disposição para garanƟr comportamento independente dos reforços com barras e laminados de Įbras
de carbono.

Os resultados dessa análise paramétrica tornaram possível se conhecer que a e¿ciência


do reforço depende da profundidade da ranhura, da quantidade de reforços em função da
profundidade da ranhura e da disposição dos reforços. A possibilidade de se delinearem
diversas alternativas para o esquema de reforço relativamente à capacidade de acréscimo
de carregamento requerido para um elemento de concreto a ser reforçado pela técnica de
montagem super¿cial (subsuper¿cial) também foram destacadas neste estudo. Ficou bem
estabelecido que, para uma quantidade de reforço prescrita, uma maior e¿ciência poderia
ser obtida pela disposição de muitas ranhuras dispostas segundo um espaçamento regular
junto à superfície ao invés de dispor o reforço em uma única ranhura. Entretanto, dado que

185
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

é racional procurar reduzir os procedimentos necessários à implantação dos reforços, tais


como a abertura das ranhuras ou o preenchimento com epóxi, é aconselhável decidir a
disposição a ser adotada para o reforço após considerações sobre o montante de trabalho
a ser utilizado no processo e a sua e¿ciência econômica.
Os autores do trabalho recomendam a sequência de veri¿cações para a determinação da
melhor disposição do reforço super¿cial da Figura 31.

Figura 4.32 – Comprimento desenvolvido (ld).

A condição de equilíbrio de uma barra de FRP com comprimento embutido igual ao seu
comprimento desenvolvido (ld) é fornecida através da Figura 4.32, admitida uma distribui-
ção triangular de tensões13, onde a tensão média de cisalhamento pode ser adotada como
(Wb = 0,5.Wmax), conforme mostrado naquela ¿gura.
Da condição de equilíbrio acima temos as seguintes expressões para o cálculo do compri-
mento (ld) necessário:

db
ld = .ffe (para barras circulares)
4.0,5τ max

a.b
ld = .ffe (para barras retangulares)
2( a + b ).0,5τ max

Para o caso do modo de ruptura ser controlado pelo esmagamento do concreto o valor de
(Wmax) deve ser previamente calculado14.

13 - Ibell e Valerio – 2002.


14 - Existe uma proposição para o cálculo da tensão máxima de cisalhamento proposta por Hassan e Riskala – 2002.

186
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Quando o modo de ruptura não for conhecido, sugere-se um valor conservador de


(Wmax= 3,5 MPa) .
As montagens super¿ciais (ou subsuper¿ciais) utilizando laminados e barras de ¿bras de
carbono tem demonstrado serem mais e¿cientes do que as montagens com colagem ex-
terna com os mesmos elementos, como pode ser visto nas ¿guras seguintes:
A Figura 4.33 mostra a comparação entre os dois procedimentos, considerando-se inicial-
mente vigas mais largas do que altas (con¿gurações A1 e A2) e depois vigas em que a
altura prevalece sobre a largura (con¿gurações B1 e B2).

Figura 4.33 – ConĮgurações para os testes comparaƟvos entre a montagem NSM e a colagem externa.

Os resultados dos ensaios comparativos realizados podem ser vistos nas Figuras 4.34 e
4.35. A Figura 4.34 mostra o grá¿co (momento Àetor vs. deÀexão) para os espécimes das
con¿gurações A1 (laminado colado externamente) e A2 (laminado em montagem NSM).

187
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 4.34 – Escolha da melhor disposição das ranhuras.

Figura 4.35 – Diagrama (momento vs. deŇexão) para vigas com largura predominando sobre a altura.

188
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

A Figura 4.36 mostra o grá¿co (momento Àetor vs. deÀexão) para os espécimes das con¿-
gurações B1 (laminado colado externamente) e B2 (laminado em montagem subsuper¿cial).

Figura 4.36 – Diagrama (momento vs. deŇexão) para vigas com altura predominando sobre a largura.

Exemplo 4.5: Reforçar o painel de lajes armadas em uma única dimensão, indicado na
¿gura abaixo, com a utilização de barras de ¿bras de carbono em montagem subsuper¿cial
para atendimento dom momentos Àetores do quadro abaixo, sabendo-se que:
Concreto (fs’ = 20 MPa); Aço CA-50 com (fyk = 500 MPa)

As armaduras existentes são as seguintes: para os momentos negativos As = 6,58 cm2 /m


(ĭ12,5 c/19 cm) e para os momentos positivos A’s = 4,21 cm2 /m (ĭ10,0 c/19 cm).

Quadro dos momentos atuantes


Momentos Mg (kN.m) Mexist. (kN.m) Mmax. (kN.m)
Positivos 5,695 11,932 18,805
Negativos 10,125 21,212 33,430

Mg – momento Àetor devido à carga permanente por ocasião da instalação do reforço com
FRP.
Mexist. – momento Àetor de projeto da estrutura existente.
Mmax. – momento Àetor máximo da estrutura após receber o reforço.
A Figura 4.37 mostra esquematicamente os momentos Àetores existentes para as três con-
dições e a distribuição da armadura na laje.

189
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 4.37 – Momentos Ňetores e armação atuantes e existentes na laje.

Para o reforço da estrutura das lajes, adotar barras de ¿bra de carbono com as seguintes
características mecânicas:
Barra 6, com ø = 6 mm (#2); Af = 32,7 mm2; Ef = 125 GPa; f* fu = 130 MPa e İ* fu = 0,0118.
Aço CA-50 ĺ fy = 500 MPa ĺ fs = 434,8 MPa.
Concreto ĺ fc’= 20 MPa.

Ec = 0,85.5600 20 ≅ 21242 MPa

Es = 210000 MPa

210000
n= = 9,886
21242

Determinação do reforço para o momento negativo


h = 160 mm ; d = 140 mm
considerando que as barras da armadura existentes estão espaçadas cada 19 cm vamos
imaginar, para o reforço, uma faixa de viga com dimensões (190 x 160)mm.

∅12,5mm c.19cm → As( − ) = 6,58cm 2 / m

0,5.b.h2 + (n − 1) As .d
cb,crit . =
b.h + ( n − 1)As

0,5.190.160 2 + (9,886 − 1) .125.140


cb,crit . = = 82,115 mm
190.160 + 99,886 − 1).125

190
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

b.h
Ig = + (n − 1) As ( cb,crit . )
12

190.160 3
Ig = + (9,886 − 1) .125.(82,115 − 140 )2 = 68575094mm 4
12

0,62. fc' .Ig 0,62. 20.68575094


Mcr = = = 2441289 ≈ 2,441kN.m
h − cb,crit . 160 − 82,115

Mg = 10,125kN.m → Mg(19cm ) = 10,125.0,19 = 1,924kN.m < Mcr = 2,441kN.m

ou seja, a seção não está ¿ssurada.

Temos, então:

Mg 1924000
ε bi =
Ig .Ec
(d f − cb,crit . ) =
68575094.21242
(153 − 82,115 )

Hbi = 9,363.10 -5 mm/mm


Hfe = km . Hfu = 0,7.9,5.103 = 6,650.103 mm/mm
arbitremos, como primeira tentativa, c = 0,18.h = 0,18.160 = 28,8 mm.
df − c
ε cf = .ε cu ≤ ε fe + ε bi
c

Hc,f = 6,65. 10 -3 + 9,363.10 -5 = 6,744.10 -3 mm/mm


c 28,8
εc = .ε c ,f = .6,744.10 −3 = 1,564.10 −3 mm / mm
df − c 153 − 28,8

d −c 140 − 28,8
εs = .ε cf = .6,744.10 −3 = 6,038.10 −3 mm / mm
df − c 153 − 28,8

Hs = 6,038.10 -3 mm/mm > Hy = 2,00.10 -3 mm/mmĺ fs = fy = 434,8 MPa


Tf = Af . Ef . Hfe onde, Af = 32,7mm2

⎛ 1 ⎞
Tf = 32,7.1,38.10 5 .6,65.10 3 ⎜ 6 ⎟ ≅ 30008 N
⎝10 ⎠

Ts = As . fy , onde, As = 125 mm2


Ts = 125.434,8 ≅ 54350 N

fc' 20
ε 'c = 1,71. = 1,71. = 1,610.10 −3 mm / mm
Ec 21242

4.ε 'c − ε c 4.1,61.10 −3 − 1,564.10 −3


γ1 = = = 0,746
6.ε c − 2.ε c 6.1,61.10 −3 − 2.1,564.10 −3
'

191
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

3.ε 'c .ε c − ( ε c )2 3.1,61.10 −3 .1,564.10 −3 − (1,564.10 −3 )2


α1 = = = 0,881
3.( ε c )2 .γ 1 3.(1,61.10 −3 )2 .0,746

Ts + Tf = Cc = D1 . fc’ . ȕ1 . c .b

Ts + Tf 54350 + 30008
c= = = 29,645 mm
α1 .fc' .β1 .b 0,881.20.0,85.190

29,645 mm > 28,80 mm ĺ adotaremos como novo valor de (c) a média dos dois valores
28,80 + 29,645
anteriores: c = = 29,223 mm .
2

29,223
εc = .6,774.10 −3 = 1,599.10 −3 mm
153 − 29,223

140 − 29,223
εs = .6,774.10 −3 = 6,063.10 −3 mm
153 − 29,223

4.1,61.10 −3 − 1,599.10 −3
γ1 = = 0,749
6.1,61.10 −3 − 2.1,599.10 −3

3.1,61.10 −3 .1,599.10 −3 − (1,599.10 −3 )2


α1 = = 0,887
3.1,61.10 −3 .0,749

54350 + 30008
c= = 29,440mm ≈ 29,223mm
0,887.20.0,85.190

melhoremos o resultado com uma última iteração, com c = 29,444 mm.


Hc = 1,614.10 -3 mm
J1 = 0,750
D1 = 0,890
dessa forma,
c = 29,345mm ĺ 29,345 ≅ 29,444 mm ĺOK!

adotaremos c = 29,345 mm.


ε cu
c < cb = .df
ε cu + ε cf

0,003
cb = .153 = 47,125mm
0,003 + 0,00674

29,345 mm < 47,125 mm ĺ OK!

192
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

A capacidade resistente à Àexão da viga reforçada é obtida a partir da seguinte expressão:

⎛ β .c ⎞ ⎛ β .c ⎞
Mn = As .fs ⎜ d − 1 ⎟ + ψ f .Af .ffe ⎜ df − 1 ⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

fs = Hs . Es < fy = 434,8 MPa


f fe = Hfe . Ef = 6,650. 10 -3 .1,38.10 -5 = 917,70 MPa

⎛ 0,85.29,345 ⎞ ⎛ 0,85.29,345 ⎞
Mn = 125.434,8. ⎜140 − ⎟⎠ + 0,85.32,7.917,7. ⎜⎝153 − ⎟⎠
⎝ 2 2

M = 6931167,181 + 3584523,520 ≅ 10515690 kN.m


como Hs > 0,005 ĺ ∅ =0,90
∅.Mn = 0,90.10515690 = 9464121 kN.m
Mref. = 33430000 . 0,19 = 6351700 kN.m
Mref. = 1,4.6351700 = 8892380 kN.m
∅.Mn = 9464121 kN.m > Mdref. = 8892380 kN.m ĺ OK!

Determinação do reforço para o momento positivo


h = 160 mm e d =140 mm
As+ = 4,21 cm2 /m ĺ ∅ 10.0 mm c/19

Considerando que as barras da armadura existentes estão espaçadas cada 19 cm, vamos
imaginar, para o reforço, uma faixa de viga com dimensões (190 x 160) mm.

0,5.b.h2 + (n − 1) As .d
cb,crit . =
b.h + (n − 1) As

0,5.190.160 2 + (9,886 − 1) .80.140


cb,crit . = = 81,371mm
190.160 + (9,886 − 1)

b.h3
Ig = + (n − 1) As ( cb,crit . − d )2
12

190.160 3
Ig = + (9,886 − 1) .80.(81,371 − 140 )2 ≅ 67296884mm 4
12

0,62 fc' .Ig 0,62. 20.67296884


Mcr = = ≅ 2373115 ≅ 2,373 kN.m
h − cb,crit 160 − 81,371

Mg = 10,125 kN.m ĺ Mg(19cm) =1 0,125.0,19 = 1,924kN.m < Mcr = 2,373 kN.m


ou seja, a seção não está ¿ssurada.

193
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Temos, então:
Mg 1924000
ε bi =
Ig .Ec
(d f − cb,crit . ) =
67296884.21242
(153 − 81,371) = 9,641.10 −5 mm / mm

ѣfe = km.ѣfu = 0,7(9,5.10-3) = 6,650.10-3 mm/mm


Arbitrando o valor c = 0,18.h = 28,8 mm, temos:
ε cf = 6,55.10 −3 + 9,641.10 5 = 6,746.10 −3 mm / mm
28,8
εc = .6,746.10 −3 = 1,511.10 −3 mm / mm
153 − 28,8
140 − 28,8
εs = .6,746.10 −3 = 6,040.10 −3 mm / mm
153 − 28,8

Hs > Hy ĺ fs = fy = 434,8 MPa

Adotando a mesma barra ĭ6 mm (#2), teremos:


⎛ 1 ⎞
Tf = 32,7.1,38.10 5 .6,65.10 3 ⎜ 6 ⎟ = 30008 N
⎝10 ⎠

Para a barra de aço ĭ10,0 mm teremos:


Ts = 80.434,8 = 34784 N
Hc’ = 1,610.10 -3 mm/mm
4.1,61.10 −3 − 1,511.10 −3
γ1 = = 0,743
6.1,61.10 −3 − 2.1,511.10 −3

3.1,61.10 −3 .1,511.10 −3 − (1,511.10 −3 )2


α1 = = 0,868
3.(1,61.10 −3 )2 .0,743

34784 + 30008
c= = 23,111mm ≠ 28,8mm
0,868.20.0,85.190

arbitremos c = 23,11 + 28,8 = 25,955mm


2
Hc = 1,378. 10 -3 mm/mm
J1 = 0,735
D1 = 0,839

c = 23,910 mm  25,955 mm
Seja c = 24,932 mm.
Hc = 1,313. 10 -3 mm/mm
J1 = 0,729
D1 = 0,815
c = 24,631 mm § 24,932 mm podemos considerar a iteração completa.

194
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Adotando c = 24,63 mm vem:


c < cb = 47,125 mm ,ou seja,24,63 mm < 47,125 mm OK!
⎛ 0,85.24,63 ⎞ ⎛ 0,85.24,63 ⎞
Mn = 80434,8 ⎜140 − ⎟ + 0,85.32,7.917,7 ⎜153 − ⎟⎠ ≅ 8141287kN.m
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2

∅.Mn = 7327158 kN.m


Mref. = 18805000.0,19 = 3572950 kN.m
Mref = 5002130 kN.m
∅ .Mn = 7327158 kM.m > Mdref =5002130 kM.m OK!

⎛ ∅.Mn ⎞
Como temos uma relação ⎜ = 1,465 ⎟ muito alta, podemos procurar uma solução mais
⎝ Md ref . ⎠
econômica aumentando o espaçamento das barras de ¿bra de carbono.
Somente para exempli¿car o procedimento, admitamos que o espaçamento seja (e = 30cm).
37,2
Af = .19 = 23,56 mm 2
30

Dessa forma, Tf = 21621 N


Ts + Tf = 56405 N

Seja, numa primeira aproximação (c = 26 mm)


Hc = 1,381.10 -3 mm/mm
J1 = 0,733
D1 = 0,836
c = 20,889 mm  26,00 mm

Experimentando com c = 22,86 mm

Hc = 1,185.10 -3 mm/mm
J1 = 0,721
D1 = 0,770
c = 22,679 mm ≅ 22,860 mm
⎛ 0,85.22,679 ⎞ ⎛ 0,85.22,679 ⎞
Mn = 80434,8 ⎜140 − ⎟⎠ + 0,85.23,56.917,7 ⎜⎝153 − ⎟⎠ ≅ 7169168kN.m
⎝ 2 2

∅.Mn = 6452251 kM.


∅.Mn = 6452251 kM.m > Mdref. = 5002130 kM.m OK!

195
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Como pode ser observado, o espaçamento das barras de ¿bra de carbono ainda pode ser
aumentado. Deixa-se a critério do leitor o re¿namento do reforço.
A ¿gura 4.38 mostra como seria a disposição do reforço das lajes.

Figura 4.38 – Disposição do reforço das lajes.

4.17 SISTEMAS FRP AFIXADOS MECANICAMENTE AO SUBSTRATO DE


CONCRETO
O sistema SAFSTRIP® (Strongwell) consiste em uma lâmina de composto pultrudado que
recompõe a resistência de dado membro estrutural quando ¿xado mecanicamente à estru-
tura. O produto tem elevadas propriedades de tração e corte e foi projetado para reforçar a
capacidade da face tracionada de elementos de concreto armado.

FotograĮa 4.1 – Sistema MF-FRP SAFSTRIP® da Strongwell.

O sistema é projetado para ser instalado utilizando um sistema de ¿xação mecânico conheci-
do como MF-FRP (mechanically-fastened ¿ber reinforced polymer) que consiste de pinos de
aço igualmente espaçados, ¿xados por meio de aplicadores com pólvora ou equipamentos
equivalentes. Trata-se, em resumo, de uma alternativa para o sistema FRP colado externa-
mente, com a diferença que a ¿xação é feita por meio de pinos e não da aderência da cola.

196
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

Evidentemente, esse tipo de aplicação depende fundamentalmente da qualidade do subs-


trato de concreto sobre o qual vai ser aplicado. Em função dessa qualidade se determina a
quantidade de lâminas SAFSTRIP® e o espaçamento dos pinos de ¿xação.
Sua geometria é mostrada através do esquema reproduzido do seu catálogo, conforme
Figura 4.39.

Figura 4.39 – MF-FRP SAFSTRIP®, preso por ancoragem mecânica.

As características mecânicas do sistema são as indicadas na Tabela 4.6.

Valor Médio Valor de Projeto Método de Teste


(MPa) (MPa) ASTM
Resistência à Tração 852 640 D-638
Módulo de Elasticidade(*) 62190 62190 D-638
Resistência de corte com grampos 351 279 D-5961
Resistência de corte sem grampos 214 180 D-5961
Resistência dos furos abertos 652 543 D-5766
(*) – módulo de elasƟcidade de projeto não reduzido de acordo com a ACI 440.2R-02

Tabela 4.6 – CaracterísƟcas mecânicas do sistema MF-FRP SAFSTRIP®.

FotograĮa 4.2 – Laminado de FRP preso por ancoragem mecânica.

197
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

O produto não exige mão de obra especialmente quali¿cada e exige apenas uma prepara-
ção super¿cial mínima para a sua instalação, permitindo o uso imediato da estrutura após
a sua aplicação, permitindo a sua utilização em caráter emergencial.
Em função dessas características de instalação, uma de suas melhores aplicações é no
reforço de pontes, onde o sistema pode ser aplicado sem que ocorra a interrupção do trá-
fego. A Figura 4.3 mostra um reforço de ponte com o sistema.

FotograĮa 4.3 – Reforço de ponte de concreto com o sistema MF-FRP.

Uma das características mais interessantes desse sistema é que muitas vezes pode ser
aplicado sobre estruturas bastante degradadas, como a mostrada na Fotogra¿a 4.4, permi-
tindo uma sobrevida aos sistemas até que sejam feitas as recuperações de¿nitivas.
Ancoragens por meios mecânicos têm sido estudadas por vários pesquisadores, tais como
Bank e Arora (2007) e Lee (2009). Esses procedimentos mecânicos utilizam ancoragens
de aço expansíveis ou pinos acionados por pólvora, ou ambas. A transferência de corte
entre a superfície do concreto armado e o sistema FRP ocorre pela superfície de apoio da
ancoragem. Entretanto, a desvantagem dessas ancoragens, segundo a hipótese de Lee
(2009), é que novas ¿ssuras se iniciam no ponto de aplicação das mesmas, mesmo se a
viga já estiver pré-¿ssurada antes dessa operação.

198
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

FotograĮa 4.4 – Reforço com o sistema MF-FRP em substrato degradado.

Adicionalmente, também, pode ocorrer a rotação do furo do laminado junto às novas ¿s-
suras, permitindo o escorregamento do FRP com consequente redução da resistência do
reforço. Complementando essa hipótese, Elsayed (2009) observou que a utilização de an-
coragens inseridas por tiro de pólvora produz ¿ssuras, enfraquecendo o concreto ao redor
do pino. Já as ancoragens expansivas não enfraquecem o concreto e não são arrancadas.
Em 2009 Bank e Arora realizaram testes com uma viga de controle e três vigas reforçadas
com FRP a¿xado por meio de ancoragens ¿xadas por meio de tiros de pólvora. A viga com
o maior reforço de FRP apresentou a maior resistência, com um acréscimo de 58,1%, e se
rompeu por excesso de tensão de corte na ancoragem. Outra viga, com menor reforço de
FRP, rompeu devido ao arrancamento da ancoragem mecânica.
Essas informações são repassadas objetivando alertar o projetista sobre as limitações
passíveis de ocorrerem nesse tipo de aplicação.

4.18 ANCORAGENS CONFORMADAS POR CFRP


Além das ancoragens constituídas por placas metálicas existe em desenvolvimento an-
coragens executadas inteiramente com ¿bras de carbono. Apresenta-se um dispositivo
desenvolvido na McMaster University que consiste em uma placa com dois cabos, como
mostrado na Fotogra¿a 4.5.

199
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 4.5 – Ancoragem construída com CFRP.

Essa ancoragem ainda está sendo submetida a novas avaliações para determinar a sua
real e¿ciência para ser utilizada com ancoragem adicional de sistemas FRP. Até o momen-
to a referência à sua existência tem objetivo apenas informativo, uma vez que pode vir a
ser, em futuro próximo, uma alternativa viável e segura para ancoragens de sistemas FRP.

FotograĮa 4.6 – Ancoragem com os conectores de FRP.

Figura 4.40 – Funcionamento do conector de FRP.

Mais informações podem ser obtidas da tese “Strengthening of RC Beams With Externally
Bonded and Anchored FRP Laminate” – Cameron, Rine – McMaster University.

200
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

FotograĮa 4.7 – Ancoragem construída com CFRP.

4.19 OBRAS DE REFORÇO À FLEXÃO E AO CORTE REALIZADAS COM


SISTEMAS FRP

4.19.1 VIADUTO DE SANTA TERESA15- REFORÇO À FLEXÃO E AO CORTE. PRIMEIRA


APLICAÇÃO DO SISTEMA NA AMÉRICA LATINA

FotograĮa 4.8 – Reforço de lajes e vigas à Ňexão e das transversinas ao corte.

15 - Viaduto de Santa Teresa – Belo Horizonte/MG – Projeto do Autor.

201
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

4.19.2 VIADUTO FERROVIÁRIO SOBRE O RIO QUATI16 - REFORÇO À FLEXÃO


TRANSVERSAL

FotograĮa 4.9 – Reforço à Ňexão transversal no tabuleiro.

4.19.3 GRANDE HOTEL DE ARAXÁ17- MG – REFORÇO DE 272 VIGAS AO CORTE E À FLEXÃO

FotograĮa 4.10 – Reforço à Ňexão e ao corte em furos para a passagem de dutos de ar-condicionado e bandejas elétricas.

16 - Viaduto Sobre o Rio QuaƟ – Aymorés/MG – Projeto do autor.


17 - Grande Hotel de Araxá – Araxá /MG – Projeto do autor.

202
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

4.19.4 REFORÇO DE VIGAS NO AEROPORTO DE GUAYAQUIL18 - REFORÇO PARA


RECEBER CARGA DE EQUIPAMENTOS NÃO PREVISTOS ORIGINALMENTE

FotograĮa 4.11 – Reforço à Ňexão e ao corte em diversas vigas. Observar que o reforço está sendo aplicado sem a
remoção das uƟlidades já instaladas, tais como bandejas elétricas e dutos diversos.

4.19.5 APLICAÇÕES DIVERSAS DOS SISTEMAS FRP

FotograĮa 4.12 – Reforço à Ňexão de laje no sistema NSM.

18 - Novo terminal do Aeroporto de Guayaquil/Equador – consultoria do autor.

203
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 4.13 – Reforço à Ňexão de viga com o sistema MF-FRP.

FotograĮa 4.14 – Reforço à Ňexão de viga com uƟlização de laminados FRP19.

19 - Externally Bonded FRP Basics-Fibre Composites – FS 14 – Masoud Motavally.

204
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

4.19.6 EDIFICAÇÃO INDUSTRIAL DE UMA FÁBRICA DE CIMENTOS20 - REFORÇO


ESTRUTURAL PARA A MUDANÇA DE LAYOUT E IMPLANTAÇÃO DE NOVOS
EQUIPAMENTOS

Esse é um exemplo emblemático, onde todo o reforço estrutural destinado a adaptar as es-
truturas existentes (indicados através das setas) a um novo layout e novos equipamentos
foi feito previamente, com a unidade operando normalmente, limitando o tempo de parada
apenas ao necessário à troca dos equipamentos.

FotograĮa 4.15 – Reforço à Ňexão e ao corte em toda a instalação industrial.

20 - Cimenteira localizada na região da Grande Belo Horizonte/MG – Projeto do autor.

205
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

4.19.7 REFORÇO DE VIGAS E LAJES NO SISTEMA NSM

FotograĮa 4.16 – Reforço à Ňexão de nervura de viga com sistema NSM.

FotograĮa 4.17 – Reforço à Ňexão de piso de estacionamento com sistema NSM.

206
Capítulo 4 - Reforço à Flexão com a Utilização de Lâminas de Fibras de Carbono Aderidas
Externamente à Superfície do Concreto

FotograĮa 4.18 – Ranhuras na viga para montagem NSM.

207
CAPÍTULO 5

DIMENSIONAMENTO AO CORTE SEGUNDO A NORMA


ACI 440.2R-08

Os sistemas compostos têm se revelado e¿cientes para aumentar a capacidade resistente


de peças de concreto armado ao corte. Esse incremento é conseguido através do envelo-
pamento total ou parcial dos elementos. As ¿bras do sistema composto podem ser orien-
tadas quer transversalmente ao eixo das peças como também perpendiculares (ou com
inclinações diversas) às potenciais ¿ssuras de corte quando utilizadas em tais reforços.
O reforço que pode ser incorporado pelos sistemas compostos é condicionado por diversos
fatores, entre os quais a geometria da peça, o sistema de envolvimento das mesmas, as
características mecânicas do seu concreto, tudo isso limitado, naturalmente, pelas reco-
mendações das normas técnicas utilizadas para o seu dimensionamento estrutural. Os
reforços externos para o corte podem ser necessários nas localizações esperadas das ró-
tulas plásticas ou de inversão de tensões ou no reforço para situações de comportamento
pós escoamento em pórticos para momentos Àetores alternantes devido a cargas sísmicas.
Da mesma maneira com que dimensionamos estribos de aço para resistir ao corte nas
estruturas de concreto armado, o reforço ao corte introduzido pelas lâminas de composto,
que funcionarão como estribos adicionais, também tem a sua geometria e seu espaçamen-
to regulamentados pelas normas aplicáveis.

5.0 ESQUEMAS DE ENVOLVIMENTO DAS PEÇAS


Os sistemas compostos quando utilizados no reforço ao corte podem ser aplicados nas es-
truturas segundo três esquemas distintos de envolvimento, conforme mostrado na Figura 5.1.

Figura 5.1 – Esquemas de envolvimento com FRP para corte.

209
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A con¿guração indicada na Figura 5.1(a) corresponde ao envolvimento total da seção


transversal com as lâminas de ¿bra de carbono. Em vigas que não possuem lajes em sua
parte superior ou inferior é a con¿guração mais empregada. Entretanto, caso exista a laje,
superior ou inferior, essa solução nem sempre é economicamente viável de ser executada
devido à necessidade de demolições e recomposições localizadas na laje que está incor-
porada à viga, para permitir a criação de “rasgos” que permitam a passagem da ¿bra pela
laje para se completar o envolvimento da peça. Entretanto, muitas vezes, condições extre-
mas ou incontornáveis de dimensionamento obrigam à execução desses rasgos, tornando
esse tipo de envolvimento a única solução possível.
A disposição indicada na Figura 5.1(b) corresponde ao envolvimento denominado de “U”
e que abrange apenas três lados do elemento (duas laterais e o fundo) de concreto. Essa
disposição geralmente é imposta pela existência de laje na parte superior da viga e pela
não conveniência ou impossibilidade da abertura de rasgos na mesma para permitir a pas-
sagem da ¿bra. Essa é uma solução de fácil execução e que permite razoável incremento
na resistência nominal de corte da peça. Essa solução é mais e¿ciente quando utilizada
nas regiões em que ocorrem momentos positivos do que nas regiões em que ocorrem
momentos negativo, devido ao fato de que nessas últimas as ¿ssuras de tração se iniciam
no topo das seções, nas proximidades da face inferior das lajes, fato que pode interferir na
condição de controle do início da formação da ¿ssura.
A con¿guração da Figura 5.1(c) ocorrerá sempre que não se puder envolver totalmente a
seção transversal e nem o fundo das peças, limitando a aplicação das lâminas de ¿bra de
carbono às duas laterais da viga. Embora de todas as con¿gurações seja a menos e¿cien-
te, ainda assim é possível a sua aplicação mesmo com as limitações de ancoragem carac-
terísticas dessa solução. Em termos de e¿ciência essa alternativa ocupa a última posição,
devendo ser evitada sempre que algum dos outros dois esquemas de envolvimento possa
ser utilizado.

5.1 RESISTÊNCIA NOMINAL AO CORTE


Obviamente, a resistência do reforço ao corte produzido pelo sistema composto deve exceder
a resistência requerida pelas coações. Segundo as recomendações da ACI 440.2R-08, com
base nos requerimentos da ACI 318-05, a resistência do reforço deve ser calculada multipli-
cando a resistência nominal por um fator de redução, como indicado na expressão seguinte:
∅ Vn ≥ Vu
A capacidade nominal resistente de uma peça de concreto reforçada com sistema FRP é
determinada pela soma de três parcelas resistentes distintas:
Vc resistência do concreto ao corte.
Vs resistência da armadura transversal (estribos, barras inclinadas, tirantes e espiras) ao corte.
Vf resistência ao corte do sistema FRP
A parcela resistente ao corte devida ao sistema FRP deve ser considerada multiplicada por um
coe¿ciente de redução (wf) que é função do esquema de envolvimento da seção (Tabela 5.1).

210
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

Fator de Redução Adicional para o Reforço ao Corte com FRP


Esquema de Envolvimento wf
Completamente envolvido 0,95
Com três ou dois lados envolvidos 0,85
Obs. - Tabela 11.1 – ACI 440.2R-08

Tabela 5.1 – Fatores de Redução ao Corte.

A expressão geral do reforço ao corte com a utilização de sistemas compostos FRP é a seguinte:
∅Vn = ∅ (Vc + Vs + w f .Vf )

Na expressão acima, Vc e Vs são calculados utilizando, respectivamente, as expressões


11.3 e 11.5.7.2 da norma ACI 318, reproduzidas na sequência:
Vc = 0,17. fc' .bw .d (11.3)

As.fyt .d
Vs = (11.5.7.2)
s

5.2 CONTRIBUIÇÃO DO SISTEMA FRP AO CORTE


Para o dimensionamento da parcela de corte correspondente ao reforço com FRP são con-
sideradas as seguintes variáveis dimensionais, apresentadas na Figura 5.2.

Figura 5.2 – Esquemas de posicionamento com FRP para corte.

A resistência ao corte devida ao sistema FRP pode ser calculada pela determinação da força
resultante das tensões de tração no sistema aplicado sobre a ¿ssura presumida de corte.
A .f ( senα + cosα )dfv
Vf = fv fe onde,
s f

Afv = 2.n.tf .w f
ffe = ε fe .Efe
É importante destacar que a tensão de tração no reforço de FRP na resistência nominal é
diretamente proporcional ao nível de deformação que pode ser desenvolvido no reforço ao
corte pelo FRP na resistência nominal.

211
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

5.2.1 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS DE DEFORMAÇÃO

Deve-se observar que a deformação máxima efetiva que pode ser desenvolvida pelo siste-
ma FRP na resistência nominal é de¿nida pelo modo de ruptura do sistema e do elemento
de concreto armado reforçado.
Para os elementos completamente envolvidos pelo sistema FRP foi observado que a per-
da de coesão interna dos agregados ocorre antes que a deformação das ¿bras atinja sua
deformação máxima admissível. Assim, para se prevenir essa ocorrência, foi determinado
um limite máximo de deformação que pode ser utilizado.
ε fe = 0,004 ≤ 0,75 ε fu
Para o caso em que o envolvimento se limita a dois ou três lados, ou seja, quando o sistema FRP
não envolve toda a seção, observou-se que o sistema FRP se delamina do substrato de concreto
antes da perda de coesão interna dos agregados. Dessa forma foi preciso que se analisassem
as tensões de cola para determinar-se o limite de utilização e o nível de deformação efetiva que
pode ser considerado. Assim a deformação efetiva, para esse caso, ¿ca assim expressa:
ε fe = kν .ε fu ≤ 0,004

O coe¿ciente de redução (kȞ) é de¿nido em função da resistência do concreto, do esquema


de envolvimento da seção (2 ou 3 lados) e da espessura do tecido ou laminado utilizado.
k1 .k2 .Le
kν =
11.900 ε fu

O comprimento colado ativo (Le) é aquele sobre o qual é mantida a maior parte das tensões
da cola, expresso por:
23.300
L =
e ( n .t .E )0,58
f f f

Os outros dois coe¿cientes (k1) e (k2) levam em consideração, respectivamente, a resistên-


cia do concreto e o sistema de envolvimento da seção, e são assim expressos:
2

⎛ f ⎞
' 3

k =⎜ ⎟ c
1
⎝ 27 ⎠
d fv − Le
k2 = ĺ para envolvimento em três lados (ver Figura 5.1.b).
d fv

d − 2L ĺ para FRP colado em apenas dois lados (ver Figura 5.1.c).


k = fv e

d
2
fv

5.2.2 ESPAÇAMENTO DAS LÂMINAS (ESTRIBOS) DE FRP

Os espaçamentos máximos dos estribos devem se submeter às recomendações das nor-


mas estruturais aplicáveis (ACI 318-05 ou ABNT NBR 6118-2014). Esse espaçamento é
de¿nido como sendo a distância de centro a centro de duas lâminas (sf). A ACI 440.2R-08
em seu item 11.1 estabelece que esse espaçamento não deve exceder a:
d
sf ≤ + wf
4

212
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

5.2.3 LIMITES DOS REFORÇOS

A resistência total ao corte introduzida pelo reforço com FRP deve ser considerada como a
soma das contribuições do reforço com as armaduras de aço transversais (estribos) e do
sistema FRP, e deve obedecer aos seguintes limites:
Vs +Vf ≤ 0,66. fc' .bw .d

Exemplo 5.1: Uma viga de concreto armado com as dimensões indicadas na Figura 5.3
tem uma capacidade resistente de cálculo ao corte Vc + Vs = 123,16 kN. Deseja-se aumen-
tar a sua capacidade resistente para ∅Vu = 176,40 kN. A viga foi executada com concreto
fck = 20 MPa e utilizado aço CA-50.

Figura 5.3 – Seção transversal da viga.

∅.V = ∅ (V + V + w .V )
n c s f f

Vc + Vs = 123,16 kN

Em se tratando de uma viga seção “T”, os estribos terão que ser em seção “U”, o que sig-
ni¿ca que wf = 0,85, assim,

Vu = ∅.V n

176,40 = 0,9 (123,16 + 0,85.Vf )

176,40 = 110,844 + 0,765.V f

176,40 − 110,844
Vf = = 85,694 ≅ 86,70 kN
0,765

Para o sistema FRP escolhido são conhecidos:

espessura por camada t f = 0,165 mm


tensão última de tração ffu* = 3800 MPa = 3,80 kN / mm 2
deformação de ruptura ε fu* = 0,017 mm / mm
módulo de elasticidade Ef = 228000 MPa

213
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Com base nas propriedades mostradas acima, temos os seguintes valores de projeto para
o sistema FRP:
ffu = CE .ffu* = 0,95.3,8 = 3,610 kN/mm2

εfu = CE .ε*fu = 0,95.0,017 = 0,0162 mm/mm

23300 23300
Le = = = 51,715 mm
(nf .tf .Ef ) 0,58
(1.0,165.228000 )0,58
2/ 3 2/ 3
⎛ f' ⎞ ⎛ 20 ⎞
k1 = ⎜ c ⎟ =⎜ ⎟ = 0,819
⎝ 27 ⎠ ⎝ 27 ⎠

dfv − Le 560 − 51,715


k2 = = = 0,908
dfv 560
k1 .k2 .Le 0,819.0,908.51,715
k = = = 0,202 ≤ 0,75
11900. fu 11900.0,016

ε fe = k ν .ε fu = 0,202.0,016 = 0,0032 ≤ 0,004 OK !

Se considerarmos a largura da lâmina de ¿bra de carbono w f = 150 mm , vem:


Afv = 2.n.tf .w f = 2.1.0,165.150 = 49,50 mm 2

ffe = εfe .Ef = 0,0032.228 = 0,730 kN / mm 2

Afv .ffe ( senα + cosα )dfv 49,50.0,730.560 20235,60


Vf = = =
sf sf sf

20235,60
sf = = 233,40 mm
86,70

Se considerada a largura da lâmina de ¿bra de carbono w f = 200 mm , vem:


Afv = 2.n.tf .w f = 2.1.0,165.200 = 66,00 mm2
Afv .ffe ( senα + cosα )dfv 66,00.0,730.560 26980,80
Vf = = =
sf sf sf

26980,80
sf = = 311,20 mm
86,70
d 690
sf ≤ + wf = + 200 = 372,50 mm
4 4

Se considerarmos w f = 200 mm e sf = 300 mm vem:


66,00.0,730.560
Vf = = 89,94 kN > 86,70 kN OK !
300
∅.Vn = (Vc + Vf + w f .Vf ) = (123,16 + 0,85.89,94 ) = 199,60 kN

∅.Vn = 199,60 kN < 176,40 kN OK !

214
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

5.2.4 RESISTÊNCIA DO CONCRETO E DA ARMADURA TRANSVERSAL AO CORTE

Segundo as recomendações da norma ABNT NBR 6118:2014, as parcelas de contribuição


do concreto e da armadura transversal (estribos e barras inclinadas) para a resistência ao
corte de uma seção podem ser assim avaliadas:
17.4.1.1.3 - A armadura transversal (Asw) pode ser constituída por estribos (fechados na re-
gião de apoio das diagonais, envolvendo a armadura longitudinal) ou pela composição de
estribos e barras dobradas; entretanto, quando forem utilizadas barras dobradas, estas não
podem suportar mais do que 60% do esforço total resistido pela armadura.
17.4.2.1 – Cálculo da resistência
A resistência do elemento estrutural, em uma determinada seção transversal, deve ser con-
siderada satisfatória, quando veri¿cadas simultaneamente as seguintes condições:

VSd ≤VRd 2

VSd ≤VRd 3 = Vc + Vsw


onde,

VSd é a força cortante solicitante de cálculo, na seção;


VRd 2 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das diagonais comprimidas de
concreto, de acordo com os modelos indicados em 17.4.2.2 ou 17.4.2.3.
VRd 3 =Vc + Vsw é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por tração da diago-
nal, onde Vc é a parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares ao
da treliça e Vsw a parcela resistida pela armadura transversal, de acordo com os modelos
indicados em 17.4.2.2 ou 17.4.2.3.
17.4.2.2 - Modelo de cálculo ǿ
O modelo ǿ admite diagonais de compressão inclinadas de ș = 45° em relação ao eixo lon-
gitudinal do elemento estrutural e admite ainda que a parcela complementar Vc tenha valor
constante, independentemente de Vsd.
a) veri¿cação da compressão diagonal do concreto:
VRd 2 = 0,27 αv 2 .fcd .bw .d

onde,
fck
(1 − e fck ) expresso em megapascal (MPa);
250

b) cálculo da armadura transversal


VRd3 = Vc + Vsw
onde,

⎛A ⎞
Vsw = ⎜ sw ⎟ .0,9.d.fwd ( senα + cosα )
⎝ s ⎠

215
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Vc = 0 nos elementos tracionados quando a linha neutra se encontra fora da seção;


Vc = Vc0 na Àexão simples e na Àexotração com a linha neutra cortando a seção;
⎛ Mo ⎞
Vc =Vc0 ⎜1 + ⎟ ≤ 2Vc0 na Àexocompressão;
⎝ Msd ,max ⎠

Vc0 = 0,6.fctd.bw.d
fctk ,inf
fctd =
γc
fywd é a tensão na armadura transversal passiva, limitada ao valor de f yd no caso de estribos
e a 70% desse valor no caso de barras dobradas, não se tomando, para ambos os casos,
valores superiores a 435 MPa;
Msd,max é o momento Àetor de cálculo máximo no trecho em análise, que pode ser tomado
como o de maior valor no semitramo considerado (para esse cálculo não se consideram os
momentos isostáticos de protensão, apenas os hiperestáticos).

c) decalagem do diagrama de força no banzo tracionado;


Quando a armadura longitudinal de tração for determinada através do equilíbrio dos esfor-
ços na seção normal ao eixo do elemento estrutural, os efeitos provocados pela ¿ssuração
oblíqua podem ser substituídos nos cálculos pela decalagem do diagrama de força no ban-
zo tracionado, dado pela expressão:
⎡ VSd ,max ⎤
al = d ⎢ (1 + cotg α ) − cotg α ⎥ ≤ d
⎢⎣ 2 (VSd ,max − Vc ) ⎥⎦

Onde:
al = d, para |VSd,max|”|Vc|
al • 0,5d, no caso geral;
al • 0,2d, para estribos inclinados a 45°.

Essa decalagem pode ser substituída, aproximadamente, pela correspondente decalagem


do diagrama dos momentos Àetores (ver 17.4.2.3)
A decalagem do diagrama de força no banzo tracionado pode também ser obtida simples-
mente empregando-se a força de tração em cada seção, dada pela expressão:

⎡M 1⎤ M
FSd ,cor = ⎢ sd + VSd ( cotg θ − cotg α ) ⎥ ≤ Sd ,max
⎣ z 2⎦ z

onde,

MSd,max é o momento Àetor de cálculo máximo no trecho em análise.

216
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

17.4.2.3 Modelo de cálculo ǿǿ


c) deslocamento do diagrama dos momentos Àetores:
Se forem mantidas as condições estabelecidas em 17.4.2.2 c), o deslocamento do diagra-
ma de momentos Àetores, aplicando o processo descrito nesta Seção, deve ser:
al = 0,5 (cotgș - cotgα )
onde,
al = 0,5d no caso geral;
al = 0,2d para estribos inclinados a 45°.
α é a inclinação dos estribos em relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural;
ș é o ângulo de inclinação das bielas de compressão consideradas no dimensionamento à
força cortante.

5.3 REFORÇO AO CORTE SEGUNDO A RECOMENDAÇÃO CNR-DT 200/2004


Segundo a CNR-DT 200/2004, o reforço ao corte se faz necessário quando a aplicação
de uma força de corte majorada for maior do que a correspondente capacidade resistente
da seção. A capacidade resistente da seção ao corte é determinada considerando-se as
contribuições do concreto e da armadura transversal do elemento.
Esta recomendação dispõe que a resistência ao corte deve ser veri¿cada no estado limite
último e admite outras con¿gurações de aplicação dos sistemas FRP, além dos apresen-
tados na sequência, desde que a sua e¿ciência seja comprovada e quanti¿cada a sua
contribuição.

5.3.1 CONFIGURAÇÕES DOS REFORÇOS AO CORTE

O reforço ao corte é realizado mediante a aplicação de uma ou mais camadas de composto


FRP colado externamente à superfície do elemento a ser reforçado. Essa aplicação pode
ser contínua, descontínua com as lâminas de FRP espaçadas, ortogonais ou inclinadas em
relação ao eixo longitudinal da peça, conforme mostrado na Figura 5.4.

Figura 5.4 – Vista lateral dos esquemas com FRP para corte.

217
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

O reforço ao corte com sistemas FRP dependem da geometria do sistema, tais como es-
pessura da lâmina, largura e espaçamento bem como do ângulo (inclinação) da ¿bra com
relação ao eixo longitudinal da peça de concreto.

Figura 5.5 – Vista lateral dos esquemas com FRP para corte.

Existem três con¿gurações consagradas no reforço ao corte com FRP: a colocação das
lâminas coladas lateralmente à peça de concreto; envolvimento em três lado da peça, la-
terais e fundo, con¿guração esta denominada em “U”; envolvimento completo da seção,
mesmo que isso implique em demolições localizadas na seção de concreto. Essas con¿-
gurações estão apresentadas na Figura 5.5.
A CNR-DT 200/2004 aceita que na con¿guração em “U” de seções retangulares ou em “T”
a delaminação da extremidade da lâmina de reforço de FRP pode ser evitada com a utiliza-
ção de lâminas, laminados ou barras posicionadas segundo a direção do eixo longitudinal
da peça. Nesse caso, o comportamento do envolvimento “U” na con¿guração exposta pode
ser considerada equivalente daquela do elemento totalmente con¿nado, desde que prova-
da a e¿ciência desse artifício conforme apresentado na Figura 5.6.

Figura 5.6 – Vista lateral dos esquemas com FRP para corte.

Também é permitido o reforço ao corte com a utilização de barras e slides de FRP inseridas
em ranhuras, montagem conhecida como NSM, mas a CNR-DT 200/2014 não aborda este
tipo de reforço.

218
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

5.3.2 CAPACIDADE RESISTENTE AO CORTE DE ELEMENTOS REFORÇADOS COM FRP

5.3.2.1 Capacidade ao corte

A capacidade resistente ao corte de elementos de concreto armado reforçados com siste-


mas FRP pode ser assim avaliada:

{
Vrd = min VRd ,ct + VRd ,s + VRd ,f ,VRd ,max }
VRd,ct contribuição do concreto ao corte.
VRd,s contribuição da armadura ao corte.
Vrd,f contribuição do reforço de FRP ao corte.
O reforço ao corte não pode ser tomado maior do que (VRd,max), que representa o valor últi-
mo da resistência ao corte da estrutura.

5.3.2.2 Seção retangular com reforço lateral (2 lados)


1 sen β w f
VRd ,f = .min {0,9.d,hw } .ffed .2.tf . . (A)
γ Rd senθ pf
onde,
d altura efetiva da seção.
hw altura da alma da viga (abaixo da laje).
f fed resistência efetiva de projeto do FRP.
tf espessura do sistema FRP.
ȕ inclinação da ¿bra em relação ao eixo longitudinal da peça.
ș ângulo das ¿ssuras de corte (assumido como sendo de 45°).
wf largura do FRP (medido ortogonalmente ao eixo das ¿bras).
pf espaçamento entre as ¿bras (medido ortogonalmente ao eixo das ¿bras).
Se o envolvimento for contínuo, ( w f = 1,00 ) .
pf

Esses valores podem ser conferidos nas Figuras 5.7 e 5.8 a seguir:

Figura 5.7 – Notação para dimensionamento ao corte.

219
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 5.8 – Notação para dimensionamento ao corte.

O valor de (JRD) deve ser considerado a partir da Tabela 5.2. No caso considerado (JRD = 1.20).

FATORES PARCIAIS (Jrd)


Modelo de resistência
Flexão/Combinação de Àexão e carga axial 1,00
Corte/Torção 1,20
Con¿namento 1,10

Tabela 5.2 – Fator parcial (Jrd).

5.3.2.3 Seção retangular com reforço em 3 lados ou completamente envolvida

A formulação seguinte se aplica às seções com envolvimento em “U” ou totalmente envol-


vidas nos quatro lados. A contribuição do reforço de FRP deverá ser calculada através da
“Treliça de Moersch”.
1 wf
VRd ,f = .0,9.d.ffed .2.tf . (cotθ + cot β ) . (B)
γ Rd pf

Seção circular completamente envolvida:


Para uma seção circular com diâmetro (D), com as ¿bras posicionadas ortogonalmente ao
eixo longitudinal da peça (ȕ=90°) a contribuição do reforço FRP será:
1 π
VRd ,f = .D.ffed . .tf .cotθ (C)
γ Rd 2
Observação: nas equações (A), (B) e (C) é permitido substituir (pf) pelo termo ( pf ) mensu-
rado ao longo do eixo longitudinal do elemento, onde pf = pf .sen β . ( )

220
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

5.3.3 RESISTÊNCIA EFETIVA DE PROJETO DO FRP

O descolamento do FRP pode ser causado pela concentração de tensões ao longo da


interface (concreto-FRP) próxima às ¿ssuras de corte. Um procedimento simpli¿cado para
levar em consideração essa ocorrência pode ser adotado, como se mostra a seguir:
Para FRP colado nas laterais da seção retangular temos:
2

zrid ,eq l eq ⎞
ffed = ffdd . . ⎜1 − 0,6. ⎟ (D)
min {0,9.d.hw } ⎝ zrid ,eq ⎠

d altura efetiva da seção.


hw altura da alma da viga (abaixo da laje).
f fdd resistência última de projeto dada pela expressão:

1 2.Ef .Γ fk
ffdd = .
γ f ,d . γ c tf

zrid,eq = zrid + leq


zrid = min{0,9.d,hw}-le.senȕ
ȕ inclinação da ¿bra relativamente ao eixo longitudinal da peça.
le comprimento efetivo de colagem.

Ef .tf
le = (comprimento em mm.)
2.fctm

sf
l eq =
ffdd
Ef
sf é o deslizamento de colagem último.

Figura 5.9 – Relação bilinear ( τ b – s)(fck = 20 MPa; kb = 1).

221
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Resistência máxima da cola:


fb = 0,064.kb . fck .fctm (força em N e comprimento em mm).

bf
2−
kb = b
bf
1+
400

b e bf são, respectivamente, a largura da viga e do FRP.

bf ⎛b
A equação anterior é válida para ⎛⎜ ⎞ ⎞
≥ 0,33 ⎟ ; para ⎜ f < 0,33 ⎟ deve ser adotado para a de-
⎝b ⎠ ⎝b ⎠
b
¿nição de (kb) o valor ⎛⎜ f = 0,33 ⎞⎟ . O escorregamento na interface sf correspondente ao
⎝b ⎠
descolamento total deverá ser considerado (sf = 0,2 mm).

Para con¿guração em “U” (três lados) aplicado às seções retangulares, a resistência efeti-
va de projeto do FRP deverá ser calculada como segue:
⎡ 1 l e .sen β ⎤ (E)
ffed = ffdd ⎢1 − . ⎥
⎣ 3 min {0,9.d,hw } ⎦

Para con¿guração com envolvimento completo aplicado às seções retangulares, a resis-


tência efetiva de projeto do FRP deverá ser calculada como segue:
⎡ 1 l e .sen β ⎤ 1 ⎡ l e .sen β ⎤
ffed = ffdd ⎢1 − . ⎥ + . (∅r .ffd − ffdd ) . ⎢1 − ⎥ (F)
⎣ 6 min {0,9.d,hw } ⎦ 2 ⎣ min {0,9.d,hw } ⎦
ffd resistência de projeto do FRP.
rc rc
∅R = 0,2 + 1,6. → 0≤ ≤ 0,5
bw bw

rc é o raio do arredondamento da quina (canto) da peça.

Considerações importantes:

– o segundo termo da equação (F) somente deverá ser considerado quando for
maior que zero;
– quando se calcular (ffdd), o coe¿ciente kb deve ser considerado da seguinte maneira:
– para aplicações de FRP em lâminas discretas (bf = wf ) e (b = pf );
– para sistemas FRP instalados de forma contínua ao longo do comprimento do
sen( θ + β )
tramo, será permitido considerar-se ( bf = b = min {0,9.d,hw } . , onde
senθ
(hw) é a altura da alma da viga.
– quando peças especiais forem utilizadas para ancorar as extremidades das
lâminas em “U” do sistema FRP e foram comprovadamente efetivas como con-
formando um sistema com envolvimento total, a resistência de projeto do siste-

222
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

ma FRP pode ser considerada a da equação (F). Se não for o caso, a resistên-
cia efetiva deverá ser a indicada na equação (E);
– para elementos de seção circular com diâmetro (D), completamente envolvi-
dos pelo sistema FRP, quando as ¿bras forem posicionadas ortogonalmente ao
eixo longitudinal da peça (ȕ = 90°), a resistência efetiva de projeto do sistema
FRP deverá ser assim calculada:
– f fed = Ef.Hf,max onde (Ef ) é o módulo de elasticidade do sistema FRP e (Hf,max)
representa a máxima deformação admissível, a ser considerada (Hf,max = 0,005)1,
a menos que cálculos mais detalhados sejam feitos.

5.4 COMPARATIVO ENTRE DIFERENTES NORMAS TÉCNICAS


Para que se tenha em conta a diversidade das normas estruturais no dimensionamento
dos sistemas FRP, apresentam-se alguns comparativos entre as normas ACI 440.2R-08,
Technical Report 55 (TR 55) e CEB-FIP Bulletin14 (FIB 14).

CONTRIBUIÇÃO DO FRP PARA A RESISTÊNCIA AO CORTE


ACI 440.2R - 08 TR 55 FIB 14
Envolvimento em “U” ou dois lados: 2.bf .tf ⎛ n ⎞
df − s .l t ,max .cos β ⎟ Efd .ε f .( sen β + cos β ) ⎛ 2t ⎞ ⎛ b ⎞
sf ⎝⎜ 3 ⎠ 0,9.ε f .Ef ⎜ f ⎟ ⎜ f ⎟⎠ .bf .d.cotgα .senα
d ⎝ bf ⎠ ⎝ sf
0,75.0,85 (2.bf .tf ) ε f .Ef ( sen β + cos β ) f
sf
ns = 0 para o envolvimento completo
Envolvimento completo
n1 = 0 para o envolvimento em “U” ou
df
0,75.0,95 (2.bf .tf ) ε f .Ef ( sen β + cos β )
sf dois lados

Diferenças observadas:
- as normas ACI e FIB 14 acrescentam um fator adicional de redução.
- as normas ACI e TR 55 levam em consideração a profundidade (altura) do FRP e a sua redução em consequência
do comprimento de ancoragem.
- o procedimento do FIB 14 pode resultar inseguro no caso de vigas “T” com baixa altura de Àange, uma vez que consi-
dera a altura efetiva do elemento (d) ao invés de usar a altura estática do FRP, (df)e também o comprimento adicional
de ancoragem não é levado em conta

REFORÇO AO CORTE – DEFORMAÇÃO DE PROJETO DO FRP


ACI 440.2R - 08 TR 55 FIB 14
Envolvimento em “U” ou dois lados: ε fd Envolvimento em “U” ou dois lados:
kν .ε fu 2 0,8 ⎛ 2/ 3
fcm ⎞
0,56

.0,65. ⎜ ⎟ .10 −3
1.30 ⎝ 0,001.Ef .ρf ⎠
0,4% 0,4%
Envolvimento completo
fctk Envolvimento completo
0,75.İ fu 0,5. 0,30
Efd .td 0,8 ⎛ 2/ 3
fcm ⎞
0,40% .0,17. ⎜ ⎟ .ε fu
1.35 ⎝ 0,001.Ef .ρf ⎠

Os três métodos conduzem a resultados muito próximos


- entre 0,2% e 0,3% para envolvimento em “U” ou dois lados.
- entre 0,3% e 0,4% para envolvimento completo.

1 - Observar que as recomendações do ACI 440.2R-08 limitam esta deformação a 0,004.

223
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Para a identi¿cação da simbologia adotada ver a Figura 5.10.

Figura 5.10 – Simbologia considerada nos quadros comparaƟvos.

5.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE TENSÕES E DEFORMAÇÕES NA FIBRA DE


CARBONO
Na Figura 5.11 são apresentados os diagramas (tensão x deformação) das ¿bras de carbo-
no e a consideração das deformações e tensões admissíveis para projeto de acordo com
as normas ACI 440.2R-08, FIB Bulletin 14 e TR-55.

Figura 5.11 – Diagramas (tensão x deformação) segundo diferentes normas.

Tanto a norma ACI quanto o FIB 14 consideram o limite de segurança de utilização da ¿bra
em relação à deformação última do FRP. Os fatores de segurança do ACI são considera-
dos em relação ao tipo de ¿bra utilizado e as condições de exposição ambientais, enquanto
que na FIB 14 esses fatores são considerados em relação ao tipo de ¿bra utilizado e o seu
método de aplicação (lado esquerdo da Figura 5.11).
Na TR-55, os limites de segurança de utilização da ¿bra são considerados em relação ao
módulo de elasticidade reduzido do FRP, enquanto que os fatores de segurança são consi-
derados em relação ao tipo de ¿bras utilizado e o seu método de aplicação.

224
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

5.6 CAPACIDADE RESISTENTE À TORÇÃO DE ELEMENTOS REFORÇADOS


COM SISTEMAS FRP

5.6.1 CAPACIDADE TORSIONAL

A capacidade torsional de elementos de concreto armado reforçados por sistemas FRP


podem ser assim avaliada:

TRd = min {TRd,s + TRd,f, TRd,max} (1)


onde,
TRd,s contribuição do aço existente para a capacidade torsional.
TRd,f contribuição do sistema FRP para a capacidade torsional.
A resistência torsional não pode ser considerada maior que TRd,max, valor que determina a
resistência última da estrutura de concreto.

A contribuição das armaduras de aço existentes para a capacidade torsional TRd,s pode ser
calculada da seguinte maneira:
⎧A A ⎫
TRd ,s = min ⎨ sw .2.Be .fywd .cotθ , 1 .2.Be .fyd .tgθ ⎬ (2)
⎩ p μe ⎭

onde,
Asw seção transversal de uma perna do estribo.
P espaçamento entre os estribos.
Be área delimitada pelo polígono cujas bordas são os centros de gravidade das barras de
aço longitudinais.
fywd tensão de escoamento do aço das armaduras transversais.
A1 seção transversal total das barras da armadura longitudinal.
μe perímetro do polígono mencionado.
fyd tensão de escoamento do aço das armaduras longitudinais.
ș ângulo da biela de compressão relativamente ao eixo longitudinal do elemento. Esse va-
lor pode ser assumido como (ș = 45º) à falta de uma determinação mais acurada.

TRd,max é calculado da seguinte maneira:

TRd,max = 0,50.fcd.Be.hs (3) sendo,


fcd resistência de compressão de projeto do concreto.
hs é ¿xado como sendo igual a (1/6) do diâmetro do círculo máximo inscrito no polígo-
no cujas bordas são os centros de gravidade das barras de aço longitudinais.

225
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A equação (2) mostra que a capacidade torsional mínima é devida à existência da armadura trans-
versal existente (estribos). A contribuição do sistema FRP pode ser calculada da seguinte forma:
1 wf
TRd ,f = .2.ffed .tf .b.h. .cotθ (4), sendo,
γ rd pf

JRd fator de redução que deve ser considerado igual a 1,20.


ffed resistência efetiva de projeto do FRP.
tf espessura do laminado ou do tecido de FRP.
b,h respectivamente largura e altura da seção.
ș ângulo da biela de compressão relativamente ao eixo longitudinal do elemento.
wf largura do FRP (tecido ou laminado).
pf espaçamento (centro a centro) dos elementos de FRP. Para elementos colocados
justapostos, adotar w f = 1 .
pf

Se a equação (2) demonstrar que a capacidade torsional mínima for devida a barras de aço
dispostas longitudinalmente, o reforço com FRP não deve ser utilizado.

Finalmente, no caso de torção combinada com corte (Tsd e Vsd) deve ser obedecida a se-
guinte limitação:

Tsd Vsd
+ ≤1 (5)
TRd ,max VRd ,max

Apresenta-se um procedimento expedito para a avaliação da distribuição do momento de


torção em seções abertas, comum em casos de reforço com sistemas FRP. O procedimen-
to foi extraído do livro “Drillung Schub Und Scheren Im Stahlbetonbau” de Ernst Rausch e
apresentado no livro “Concrete Bridge Design” de R.E.Rowe.

Na distribuição da torção, cada retângulo elementar absorverá uma parcela de (MT) de tal
forma que (ver Figura 5.12):

MT = Σ Mi = M1 + M2 + M3 , onde,

226
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

Figura 5.12 – Distribuição da torção em seções abertas.

β 2 .β 3
M1 =
B
β1 .β 3
M2 =
B
β1 .2
M3 =
B
1
βi =
G.Fi .η3 .bi2
Fi = bi.hi
G = 0385Ec
B = ȕ1.ȕ2 + ȕ1.ȕ3 + ȕ2.ȕ3

η3 Coe¿ciente a ser extraído da Tabela 5.3.


Determinação do Coe¿ciente (Ș3)
h/b 1,00 1,20 1,50 1,75 2,00 2,25 2,50 3,00 4,00 5,00 10,00 ’
Ș3 0,141 0,166 0,196 0,213 0,229 0,240 0,249 0,263 0,281 0,291 0,312 0,333

Tabela 5.3 – Determinação do CoeĮciente (ɻ3).

Cálculo das tensões tangenciais ( τ i ) O cálculo das tensões será feito considerando cada
retângulo elementar submetido ao momento (Mi).

2,6
ψ =3+
b
0,45 +
a
Mi .ψ
τi =
a2 .b

227
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Exemplo 5.2: Aplicação da formulação de distribuição da torção. Seja a seção da Figura


5.13 submetida a um momento de torção (MT).

Figura 5.13 – Seção do exemplo de torção.

Cálculo dos (Mi)


h 94
β1 = = 8,545 → η3 = 0,306
b 11
1000 1
1000 β1 = 2
= 0,026.
G.11.94.0,306.11 G
1
β1 = β 2 = 26.10 −6 .
G

h 60
β3 = = 5,454 → η3 = 0,293
b 11
1000 1
1000 β 3 = = 0,042.
G.11.60.0,293.112 G
1
β 3 = 42.10 −6 .
G

Para efeito de proporcionalidade podemos dizer que:


ȕ1 = ȕ2 = 26
ȕ3 = 42
ȕ1.ȕ2 = 26 x 26 = 676
ȕ1.ȕ3 = 26 x 42 = 1092
ȕ2.ȕ3 = 26 x 42 = 1092 o B = 2860

β 2 .β 3 .MT
1092.MT
M1 = =
= 0,3818.MT
B 2860
β .β .M 1092.MT
M2 = 1 3 T = = 0,3818.MT
B 2860
β .β .M 676.MT
M3 = 1 2 T = = 0,2364.MT
B 2860

228
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

5.7 REFORÇO PARA O CORTANTE COM BARRAS E PERFIS DE FIBRA DE


CARBONO EM MONTAGEM NSM (NEAR SURFACE MOUNTED)
Uma alternativa para reforço ao corte com sistemas compostos estruturados com ¿bras
de carbono é a utilização de barras redondas ou per¿s retangulares de ¿bras de carbono
aplicados segundo o processo de montagem super¿cial2.
Comparativamente aos sistemas em que as lâminas de ¿bra de carbono são aderidas ex-
ternamente aos elementos de concreto armado a serem reforçados, o sistema que utiliza
barras de ¿bra de carbono aderidas junto à superfície do concreto possui uma vantagem
adicional que é a possibilidade da ancoragem das barras em elementos adjacentes de
concreto armado, demandando um trabalho de preparação das superfícies e de aplicação
do sistema signi¿cativamente menores.
As barras que foram utilizadas no estudo realizado são de produção e uso comercial cor-
rente nos Estados Unidos, fabricadas através de processos híbridos de pultrusão, tendo
sido previamente efetuados testes de tração e de colagem nas barras e na cola.
Para se conhecer a resistência ao corte de uma barra ou per¿l em montagem super¿cial pode
ser utilizado o seguinte procedimento desenvolvido por Renato Parreti e Antonio Nanni3:
A resistência ao corte proporcionado por barras (ou per¿s) de FRP em montagem super¿cial é obti-
da calculando-se a força resultante das tensões de tração nas armaduras que atravessam a ¿ssura
de corte assumida. Esse valor, para barras circulares e retangulares, é fornecido pelas expressões:
Vf = 2.π .d b .τ b .Ltot (para barras circulares)

Vf = 4 (a + b )τ b Ltot (para barras retangulares)

sendo,
db - diâmetro nominal das barras
a,b - dimensões dos lados das barras retangulares (a < b).
τ b - tensão média de cisalhamento nas barras que atravessam a ¿ssura de cisalhamento4.
Ltot = ∑ l i , onde,
i
Li - comprimento de cada barra que atravessa uma ¿ssura de cisalhamento inclinada a 45º.
O valor de Li deve ser adotado como:
⎛ s.i ⎞ ⎛ n⎞
– valor mínimo entre ⎜ l0,004 ; ⎟ para ⎜ i = 1..... ⎟
⎝ senα ⎠ ⎝ 2 ⎠

⎛ s.i ⎞ ⎛ n ⎞
– valor mínimo entre ⎜ l0,004 ; d net − ⎟ ≥ 0 para ⎜⎝ i = + 1.......n ⎟⎠
⎝ senα ⎠ 2
α - inclinação da barra de FRP relativamente ao eixo horizontal do elemento.
s - espaçamento das barras de FRP.

2 - Near surface mounted FRP composites.


3 - Guide to Flexural and Shear Strengthening of RC Members Using Near-Surface Mounted FRP Composites.
4 - Dados experimentais obƟdos em barras com diâmetro 10 mm demonstram que, uƟlizando uma resina com base em
epóxi em rasgos com largura pelo menos 1,5 vezes o diâmetro da barra, um valor conservaƟvo de 6,89 MPa pode ser
adotado para a tensão média de cisalhamento ( De Lorenzis e Nanni – 2001).

229
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A Figura 5.14 mostra como são determinados esses valores:

Figura 5.14 – Determinação dos valores de Li.

O primeiro limite leva em consideração a integridade ao corte do concreto pela limitação


em 4‰ a deformação da armadura de FRP.
Da condição de equilíbrio dada pela expressão ⎡⎣ Ab (0,004.Ef ) = π .d b .l0,004 .τ b ⎤⎦ o valor de
(l0,004) pode ser determinado da seguinte maneira:
d b .Ef
l0,004 = 0,001 (para barras circulares)
τb
a.b.Ef
l0,004 = 0,002 (para barras retangulares)
a + b.τ b

onde,
Ab - área da seção transversal da barra.
Ef - módulo de elasticidade da barra de FRP.
O segundo limite leva em consideração a resistência da cola controlando o modo de ruptu-
ra e representa o comprimento mínimo de uma barra que atravessa uma ¿ssura de corte.
s.i ⎞ ⎛ s.i ⎞
Sua expressão é ⎛⎜ ou ⎜⎝ d net − ⎟⎠ , dependendo do valor assumido pela expressão:
⎝ senα ⎟⎠ senα

d net
n= onde,
s
n - valor arredondado para baixo da expressão.
O valor efetivo reduzido de uma barra de FRP, (dnet), é sugerido de forma a levar em consi-
deração a formação de ¿ssuras verticais de Àexão nas regiões de corte, que podem com-
prometer a colagem entre a barra de FRP e o concreto envolvente.
2.cc
d net = d r − onde,
senα
dr - comprimento real da barra de FRP.
cc - cobrimento da armadura longitudinal interna do elemento de concreto.

230
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

A Figura 5.15 mostra os comprimentos considerados acima.

Figura 5.15 – Comprimentos para o cálculo de Li.

⎛ d net ⎞
O espaçamento entre as barras da armadura não deve exceder a ⎜⎝ 2 ⎟⎠ ou 60 cm. Normal-
mente são utilizadas nas montagens super¿ciais barras de seções circulares ou retangulares.
Conforme já mostrado, essas barras são a¿xadas em rasgos (ranhuras) no concreto nas
laterais das vigas e ¿xadas com a utilização de pasta epoxídica.
As dimensões dos rasgos devem ser no mínimo 1,5 vezes o diâmetro (db) das barras cir-
culares. No caso de barras com seção retangular as dimensões devem ser ajustadas em
função da facilidade construtiva. Nesse caso, podem ser utilizadas as dimensões mínimas
(3,0a x 1,5b), conforme mostrado na Figura 5.16.

Figura 5.16 – Dimensões das ranhuras para inserção das barras.

A condição de equilíbrio de uma barra de FRP com comprimento embutido igual ao


seu comprimento desenvolvido (ld) é fornecida através da figura 5.17, admitida uma
distribuição triangular de tensões 5, onde a tensão média de cisalhamento pode ser
adotada como (τ b = 0,5.τ max ) .

5 - Ibell e Valerio – 2002.

231
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 5.17 – Critério para a determinação de (ld).

Da condição de equilíbrio acima temos as seguintes expressões para o cálculo do compri-


mento (ld) necessário:
db
ld = .ffe (para barras circulares)
4.0,5τ max
a.b
ld = .ffe (para barras retangulares).
2( a + b ).0,5τ max

Para o caso do modo de ruptura ser controlado pelo esmagamento do concreto o valor de
deve ser previamente calculado6.
Quando o modo de ruptura não for conhecido, sugere-se um valor conservador de
(τ max = 3,5 MPa ) .
Para facilitar a compreensão da maneira de se calcular os valores de (l0,004) e (li) apre-
senta-se um exemplo numérico onde serão utilizadas barras #2, com (Ef = 138 GPa) e
(ξfu = 0,012 ) .
Será adotado para o concreto utilizado na seção transversal apresentada na Figura 5.18,
apenas como valor de referência, (τ b = 5,00 MPa ) .

Figura 5.18 – Seção transversal do exemplo.

6 - Existe uma proposição para o cálculo da tensão máxima de cisalhamento proposta por Hassan e Riskala – 2002.

232
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

Cálculo dos valores auxiliares:

2xcc 8
d net = d r − = 69 − = 57,68 cm
senα 0,707
d 57,68
n = net = = 4,80 ⇒ n = 4
s 12
d .E 6,35.138000
l0,004 = 0,001. b f = 0,001. = 175,16 mm ⇒ 17,52 cm
τb 5,00
n 4
= = 2,00 ⇒ n = 2
2 2

Os valores de Li são assim calculados:


( )
L1 – menor valor entre l0,004 = 17,52 cm e (s.1 = 12 cm ) ⇒ adotar 12 cm.
L2 – menor valor entre (l0,004 = 17,52 cm ) e (12.2 = 24 cm ) ⇒ adotar 17,52 cm.
L3 – menor valor entre (l0,004 = 17,52 cm ) e (57,68 − 12.3 = 21,68 cm ) ⇒ adotar 17,52 cm
L4 – menor valor entre (l0,004 = 17,52 cm ) e (57,68 − 12.4 = 9,68 cm ) ⇒ adotar 9,68 cm.

Ltot = L1 + L2 + L3 + L4 = 12,00 + 17,52 + 17,52 + 9,68 = 56,72 cm ⇒ 567,2 mm

Figura 5.19 – Cálculo do valor de Ltot.

Finalmente,
Vf = 2.π.d b .τ b .Ltot = 2.3,1416.(6,35 mm ) .(5,00 MPa) .(567,2 mm ) = 113151,64 N

Vf = 113,15 kN

233
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

5.8 EXEMPLOS DE REFORÇO DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO À


FLEXÃO E CORTE COM SISTEMAS COMPOSTOS REFORÇADOS COM FRP
EM MONTAGEM NSM.
Exemplo 5.3: Para a viga de concreto armado, cujo diagrama de esforços cortantes é
apresentado abaixo, pede-se veri¿car a necessidade de reforço ao corte com a aplicação
de barras de ¿bras de carbono em montagem super¿cial.
Os detalhes da armação da viga são apresentados na seção transversal da viga, sabendo-
se que foi utilizado o aço CA-50, os estribos são de diâmetro 8,0 mm espaçados de 20 cm
e que a resistência à compressão do concreto é fck = 20 MPa.
Veri¿cação da capacidade resistente ao corte:

Vref . = 25.200 kgf

1,00 cm2
Asw =
20 cm
Asapoio = 9,45 cm2
0,85 fck 0,25 x0,85 x200
τwd ≤ 0,25 x ≤ = 30,36 kgf / cm2
1,4 1,4
Vd max . = 30(73 − 4,3 ).30,36 ≅ 62572kgf

62572
Vmax . = ≅ 44694 kgf > Vref . = 25200 kgf ⇒ OK !
1,4

Figura 5.20 – Diagrama de esforços cortantes.

234
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

Figura 5.21 – Detalhes da armação da viga.

9,45
Asapoio = 9,45 cm2 ⇒ ρ1 = = 0,0045
30.70
0,0010 < ρ1 = 0,0045 < 0,0015 ⇒ ψ1 = 0,088
τc = 0,088 20 = 0,394 MPa ⇒ τc = 3,94 kgf / cm2
As90 .fyd 1,00.4350
+ τc + 3,94
s .b
τwd = 90 w = 20.30 = 9,73 kgf / cm2
1,15 1,15
Vd res 20053,53
Vd res. = τwd .bw .d = 9,73.30.68,70 = 20053,53 kgf ⇒ Vres = = ≅ 14324 kgf
1,4 1,4
Vres. ≅ 14324 kgf << Vref . = 25200 kgf

É necessário o reforço ao corte da viga.


ΔV = 25200 − 14324 = 10876kgf .

Parcela do cortante a ser absorvido pelo reforço com FRP = 10876 kgf.
Serão adotadas barras #3( ϕ = 9,53 mm )
Considere as barras espaçadas de 15 cm:
d b = 9,53 mm
Ef = 121GPa = 121000MPa
τ b = 4,50MPa
2xcc
d net. = d r −
senα
2x3,3
d net. = 70 − = 60,67cm
0,707
d 60,67
n = net. = = 4,045 ⇒ n = 4
s 15
d .E 9,53.121000
l0,004 = 0,001. b f = 0,001. = 256,251mm
τb 4,50
l0,004 ≅ 25,6cm
4
n= =2
2

235
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

L1 – menor valor entre 25,6 cm e 15 cm ⇒ adotado 15 cm.


L2 – menor valor entre 25,6 cm e 30 cm ⇒ adotado 25,6 cm.
L3 – menor valor entre 25,6 cm e 15,67 cm ⇒ adotado 15,67 cm.
L4 – menor valor entre 25,6 cm e 0,67 cm ⇒ adotado 0,67 cm.

4
Ltotal = ∑ Li = 15 + 25,6 + 15,67 + 0,67 =56,940 cm
1
Ltotal = 569,4mm
Vdf = 2.π.d b .τ b .Ltotal = 2x πx9,53x4,5 x569,4 = 153.427,34N ≅ 15342 kgf .
Vdf
Vf = = 10951kgf
1,4

Vf = 10951' kgf > ΔV = 10876 kgf ⇒ OK !

Figura 5.22 – Determinação de Li.

Agora, se for considerado o espaçamento entre as barras de FRP de 20 cm, tem-se:

60,67
n= = 3,034 ⇒ n = 3
20
n 3
= = 1,5 ⇒ n = 1
2 2

236
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

Figura 5.23 – Determinação de Li.

L1 – menor valor entre 25,6 cm e 20 cm ⇒ adotado 20 cm.


L2 – menor valor entre 25,6 cm e 20,676 cm ⇒ adotado 20,676 cm.
L3 – menor valor entre 25,6 cm e 0,67 cm ⇒ adotado 0,67 cm.

3
Ltotal = ∑ Li = 20 + 20,676 + 0,67 =41,346 cm
1

Ltotal = 413 mm
Vdf = 2.π.d b .τ b .Ltotal = 2x πx9,53x4,5 x413 = 111.284,67N ≅ 11.128 kgf .
Vdf 11.128
Vf = = = 7948 kgf
1,4 1,4
Vf = 7948 kgf

Apresenta-se, na sequência, uma sugestão de como pode ser detalhado o reforço ao corte
com a utilização de barras #3 colocadas em ambas as laterais da viga com espaçamentos
variando entre 15 cm e 20 cm. As barras tem um comprimento total de 64 cm, não sendo
necessário que as mesmas tenham comprimento igual a altura da viga, uma vez que os
esforços são referidos ao centro de gravidade da armadura longitudinal da viga.

Figura 5.24 – Seção transversal do reforço sugerido.

237
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 5.25 – Distribuição sugerida do reforço.

5.9 SISTEMA DE ANCORAGEM “U-ANCHOR”


O sistema “U-Anchor” consiste de um rasgo aberto no concreto, paralelamente ao eixo
longitudinal da peça (perpendicularmente ao eixo longitudinal da ¿bra) e localizado no ¿nal
da lâmina de carbono. A sequência de sua execução é mostrada na Figura 5.26.

O rasgo no concreto é executado com a utilização de equipamento de serra com duas lâminas,
produzindo cortes paralelos com a profundidade desejada no substrato de concreto. Uma das
quinas do rasgo é arredondada com um raio mínimo de curvatura de 1,50 cm com o objetivo
de reduzir a concentração de tensões na mesma e assim evitar um rompimento prematuro da
lâmina de ¿bra de carbono, conforme indicado em (a), lado esquerdo da Figura 5.26.

Antes da instalação da ancoragem, esse rasgo é limpo, utilizando-se ar-comprimido para a


retirada de resto de materiais ainda aderidos, poeira e pó.

238
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

Figura 5.26 – Diferentes aplicações da ancoragem “U–Anchor”.

A lâmina de ¿bra de carbono é então aderida à superfície do concreto e às paredes laterais


do rasgo, conforme mostrado em (b), centro da Figura XX.
Após essa aderência preenche-se metade do volume do rasgo com pasta epoxídica, in-
sere-se a barra de ¿bra de carbono com comprimento pelo menos igual ao da largura
da lâmina, pressionando-a suavemente de modo a permitir que a pasta Àua ao longo da
mesma e cubra as laterais do rasgo. Finalmente, o volume ainda remanescente do rasgo é
completamente preenchido com pasta epoxídica para completar o mecanismo de aderên-
cia, conforme mostrado em (c), lado direito da Figura 5.26.
Na Figura 5.27 é mostrado o detalhe “A”, região de ancoragem da lâmina de FRP por meio
da barra de FRP e da resina epoxídica. Várias experiências foram realizadas para se de-
terminar a viabilidade de utilização desses procedimentos de ancoragem de extremidade.
Pode ser citado o trabalho de Khalifa7, de 1999, que demonstrou que o sistema aumenta
substancialmente a capacidade resistente ao cisalhamento de vigas de concreto armado.
Observou-se um aumento de até 145% em vigas sem armadura ao cisalhamento e 45%
para vigas reforçadas com lâminas de ¿bra de carbono não ancoradas nas extremidades.

Figura 5.27 – Detalhe “A” das ancoragens “U – Anchor”.

7 - Khalifa, A.; Alkhradaji, T.; Nanni, A. e Lansburg, S. – “Anchorage of Surface Mounted FRP Reinforcement”.

239
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

No trabalho da Universidade Missouri-Rolla foram avaliadas variáveis importantes na qua-


li¿cação da e¿ciência dos sistemas tais como: localização da ancoragem, dimensões dos
rasgos no concreto e diâmetro das barras de FRP. Todas essas experiências foram feitas
utilizando-se tão somente carregamentos estáticos.
A ancoragem “U-Anchor” pode ser assim avaliada:
- o sistema de ancoragem aumenta a capacidade do sistema compósito ao cisalhamento.
- a locação das ancoragens tem um impacto signi¿cativo na capacidade resistente,
demonstrando maior e¿ciência a ancoragem colocada antes do canto ao contrário
da colocada após o canto.
- os resultados demonstraram que há um aumento de resistência com o aumento do ta-
manho do recorte, entretanto aumenta-se o risco de dani¿car as armaduras existentes.
- um aumento ligeiramente signi¿cativo é conseguido quando se aumenta tanto as
dimensões do recorte quanto o diâmetro das barras, mesmo com a manutenção
da mesma relação geométrica.
- utilizando-se a barra se obtêm um resultado mais expressivo do que somente
preenchendo o recorte com a pasta epoxídica, uma vez que a barra distribui as
tensões dos pontos localizados ao longo de todo o seu comprimento, que nor-
malmente é maior do que a largura da lâmina de ¿bra de carbono, diminuindo as
tensões e aumentando a capacidade resistente do sistema.
- para o caso de ¿ssuras de cisalhamento com origem na parte inferior da laje (encontro da
viga com a laje) o sistema pode ter sensivelmente diminuída a sua e¿ciência, devendo
ser objeto de estudos mais minuciosos antes de ser empregado. Devido a essa limita-
ção a sua utilização para reforços apara efeitos sísmicos ainda não é recomendado.

5.10 PRECAUÇÕES COM RELAÇÃO À APLICAÇÃO DE TECIDOS DE FRP


Como as aplicações dos tecidos de FRP trabalham segundo o princípio da colagem crítica,
ou seja, tem que estar completamente aderidos ao substrato sobre o qual são aplicados,
alguns cuidados devem ser tomados para que, em situações consideradas críticas, o refor-
ço FRP não se destaque (descole) parcialmente.
No caso em que se necessita utilizar uma dobra interna em relação aos cantos de estrutura
há que se considerar a possibilidade da ocorrência de um empuxo em vazio.

Figura 5.28 – Tendência de reƟĮcação do tecido de FRP em cantos internos.

240
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

Na Figura 5.28 são apresentados, à esquerda, uma con¿guração de dobra interna em que o
tecido de FRP ainda não está carregado. Na parte central da mesma ¿gura, se não for feita uma
veri¿cação de tensões adequada, pode ocorre o que se denomina de “empuxo ao vazio”, em que
o tecido, em sua tendência de reti¿cação, se destaca do canto interno do membro. Na parte à
direita da Figura 5.28 se mostra uma das alternativas possíveis para se evitar esse destacamen-
to, quando o ângulo reto é reti¿cado e passa a ter um perímetro poligonal, com a criação de um
chanfro, geralmente reto, com comprimento su¿ciente para absorver as tensões existentes.
A Figura 5.29 mostra outra situação em que é possível que ocorra o mesmo fenômeno
de destacamento por tendência de reti¿cação da lâmina de tecido de FRP em aplicação
de corte. A parte esquerda da Figura 5.29 mostra a tendência de reti¿cação em uma viga
pré-moldada. Diferentemente do caso anterior, existe a opção de se criar um reforço trans-
versal ao reforço de corte, aplicado perpendicularmente ao eixo longitudinal da viga, como
mostrado no detalhe dentro do círculo na parte central da Figura. Esse reforço, aplicado
paralelamente ao eixo longitudinal, é aplicado de forma a aderir aos dois lados da inÀexão
do talão da viga é mostrado em vista na parte direita da Figura 5.29. A largura necessária
da lâmina de reforço transversal ao corte é objeto de veri¿cação especí¿ca por meio de
procedimentos já mostrados em outros capítulos do livro.

Figura 5.29 – Reforço ao corte com estribos em “U” reforçados transversalmente.

A Fotogra¿a 5.1 mostra uma viga protendida ensaiada em laboratório com a con¿guração
de reforço mostrada nas ¿guras anteriores.

FotograĮa 5.1 – Reforço ao corte com reforço transversal.

241
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

5.11 FOTOGRAFIAS COM REFORÇO AO CORTE COM SISTEMAS FRP

FotograĮa 5.2 – Reforço ao corte com estribos em “U”.

FotograĮa 5.3 – Reforço ao corte com estribos em “U”.

242
Capítulo 5 - Dimensionamento ao Corte Segundo a Norma ACI 440.2R-08

FotograĮa 5.4 – Reforço ao corte com estribos a 45o (2 lados).

FotograĮa 5.5 – Reforço ao corte com envolvimento total.

243
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 5.6 – Reforço ao corte com montagem NSM.

FotograĮa 5.7 – Reforço ao corte em viga variável8.

8 - FotograĮa G & P Intech – Itália.

244
CAPÍTULO 6

REFORÇO DE ELEMENTOS SUBMETIDOS À


COMPRESSÃO AXIAL

O con¿namento de colunas (pilares) de concreto armado é possível com a utilização de


sistemas compostos aplicados na con¿guração de envolvimento total (jaquetas), com o
objetivo de aumentar a sua resistência à compressão axial e a sua ductilidade. O aumento
da capacidade resistente a cargas axiais é imediato com o aumento signi¿cativo do valor
do seu carregamento de pico. Já o aumento da ductilidade requer cálculos mais complexos
para que seja determinada a capacidade dos elementos em manter sua capacidade de
rotação e desvio sem que ocorra uma substancial perda de resistência.

6.0 COMPRESSÃO AXIAL PURA SEGUNDO O ACI 440.2R-08


Os sistemas compostos (FRP) podem ser utilizados para aumentar a resistência à com-
pressão do concreto através do con¿namento produzido por uma jaqueta de FRP. Esse
con¿namento é conseguido pela orientação das ¿bras transversalmente ao eixo longitu-
dinal do elemento. Com essa orientação, as ¿bras passam a atuar como se fossem os
estribos em espiral utilizados para o con¿namento do concreto armado. As jaquetas de
FRP produzem um con¿namento passivo para o elemento comprimido, permanecendo
sem tensão até que a dilatação transversal e o fendilhamento do elemento envolvido pelo
composto ocorram. Devido a esse fato é necessário que exista um contato íntimo entre a
jaqueta de FRP e o substrato de concreto.

Figura 6.1 – Comportamento tensão-deformação de colunas de concreto (não conĮnadas e conĮnadas), segundo
(Rocca et al – 2006).

245
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Dependendo do nível do con¿namento, a curva (tensão-deformação) axial de uma coluna


(ou pilar) de concreto armado pode ser retratada por uma das curvas da Figura 6.11, onde
(f’c) e (f’cc) representam o valor de pico da resistência do concreto para as situações, res-
pectivamente, concreto não con¿nado e concreto con¿nado.
Estas tensões são calculadas como as do carregamento máximo menos a contribuição das
armaduras de aço, valores divididos pela área da seção transversal do concreto. Segundo
o ACI, a deformação máxima (İcu) de um elemento não con¿nado corresponde a (0,85.f’c),
conforme curva (a).
A deformação (İccu) corresponde a um dos seguintes casos: a) (0,85.f’cc) no caso de um
elemento com con¿namento leve, conforme curva (b); b) a deformação de ruptura em
ambos os casos, con¿namento pesado com afrouxamento (amolecimento), onde a defor-
mação de ruptura é maior que (0,85.f’c), conforme a curva (c) ou con¿namento pesado com
enrijecimento (endurecimento), conforme curva (d).
A de¿nição de (İccu ” 0,85.f’cc) é arbitrária, mas foi baseada em resultados extraídos da
modelagem de concretos convencionais.
A resistência à compressão de uma peça de concreto com peso especí¿co normal, não
delgada e con¿nada por uma jaqueta de FRP deve ser calculada utilizando a resistência
do concreto con¿nado:
a - ‫כ‬Pn = 0,85‫[ כ‬0,85f’cc (Ag - Ast) + fy Ast], para concreto não protendido com estribos
em espiral.
b - ‫כ‬Pn = 0,80‫[ כ‬0,85f’cc (Ag - Ast) + fy Ast], para concreto não protendido com estribos
convencionais.

O ACI Committee 440 adotou, para o concreto con¿nado por FRP, o modelo de (tensão-
deformação) de Lam e Teng2, mostrado na Figura 6.2.
Para calcular os valores necessários ao cálculo das seções con¿nadas, são utilizadas as
seguintes expressões:

( Ec − E2 )2
fc = Ec .ε c − ε c2 ĺ para (0 ” İc ” İ’t)
4.fc'

fc = f’c + E2 . İc ĺ para (İ’t ” İc ” İccu), onde,

f −f
' '

E = cc c
2
ε ccu

2.fc'
ε 't =
Ec − E2

1 - Figura 12.1 da norma ACI. 440.2R-08.


2 - Modelo para concreto conĮnado por FRP de Lam e Teng – 2003.

246
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Figura 6.2 – Modelo de tensão-deformação de Lam e Teng para concreto conĮnado por sistema FRP.

A máxima resistência à compressão no concreto con¿nado (f’cc) e a máxima pressão de


con¿namento (fl) serão calculadas com a utilização das seguintes expressões:
f = f = ψ .3,3.k .f
'
cc
'
c f a l
(1)

onde, para ( ψ = 0 ,95 ) a expressão ¿ca:


f

f’cc = f’c = 3,135 . ka. fl, sendo

2.Ef .n.tf .ε fe
fl =
D

Na expressão (1), (f’c) é a resistência de compressão cilíndrica do concreto não con¿nado,


e o fator de e¿ciência (ka) leva em consideração a geometria da seção circular ou não cir-
cular, conforme será indicado na sequência.
Nessa consideração, o nível efetivo da deformação no FRP na ruptura ( ε fe ) é dado por:

ε = k .ε
fe ε fu

O fator de e¿ciência (kİ) considera a falha prematura do sistema FRP, possibilidade decor-
rente do estado múltiplo de tensões a que é submetida a peça, gerada pela tensão axial
pura utilizada na caracterização do material. Esse valor foi encontrado experimentalmente
variando entre (0,58) ate (0,61), e foi estabelecido adotar-se um valor conservador:
kİ = 0,55
⎛f ⎞
Valor válido desde que seja utilizada uma relação de con¿namento mínima ⎜ l' = 0,08 ⎟ , ou seja,
⎝ fc ⎠
ffu .n.tf
≥ 0,073
fc' .D

247
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A deformação máxima por compressão que pode ser mobilizada nas seções con¿nadas
por FRP é a fornecida pela expressão (2) e sua limitação (3):

⎛ fl ⎛ ε fe ⎞ ⎞
0 ,45

ε ccu = ε ⎜1,50 + 12k b . ' ⎜ ' ⎟ ⎟


'
c
(2)
⎝ fc ⎝ ε c ⎠ ⎠

İccu ” 0,01 (3)

6.1 SEÇÕES TRANSVERSAIS CIRCULARES


O con¿namento de seções circulares de peças de concreto armado é mais e¿ciente do que nos
outros tipos de seção. O sistema FRP, quando as ¿bras estiverem alinhadas no sentido transver-
sal ao eixo longitudinal do elemento, garante uma pressão de con¿namento circunferencial uni-
forme, que impede a expansão lateral da peça comprimida, conforme apresentado na Figura 6.3.
Nessa orientação, as ¿bras con¿nantes se comportam similarmente a estribos em espiral
ou mesmo a estribos convencionais. Nenhuma contribuição de ¿bras alinhadas longitudi-
nalmente (segundo o eixo axial da peça) deve ser considerada para efeito de con¿namento.
Para valores críticos da tensão longitudinal normalmente situados entre 75% a 80% de (f’c)
as ¿ssuras que são formadas na pasta de concreto situada entre os agregados graúdos
produzem um grande aumento na deformação transversal para acréscimos relativamente
pequenos da tensão longitudinal de compressão.
Esse incremento rápido da deformação resulta em uma igualmente rápida expansão volu-
métrica do concreto, conforme mostrado na Figura 6.4.
O efeito da pressão de con¿namento é o de induzir um estado triaxial de tensões no concreto.
Está bem estabelecido que o concreto submetido a um estado triaxial de tensões de compres-
são demonstra um comportamento bastante superior tanto na resistência quanto na ductilidade
quando comparado a outro concreto submetido tão somente a uma compressão uniaxial.

P P

P P

Figura 6.3 – Tensões e deformações de sistemas não conĮnados e conĮnados.

248
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Tensão
εt Concreto
f'c
desconfinado

fc ~0.70f’c

εt
εc

Deformação

εt,cr εc,cr ε'c Compressão


Tração

Figura 6.4 – Relação ơpica para um concreto não conĮnado carregado uniaxialmente mostrando a tensão versus a
deformação longitudinal, transversal e volumétrica.

Conforme já mencionado, o con¿namento de seções circulares é efetuado por meio de


uma “jaqueta” de ¿bras de sistemas FRP que produz um con¿namento passivo para o
elemento comprimido, permanecendo a mesma sem tensões até que a expansão e o ¿s-
suramento do elemento envolvido ocorram. Por essa razão, a exigência de uma ligação
(contato) íntima entre o elemento de concreto e a “jaqueta” con¿nante é fundamental.

Figura 6.5 – Representação esquemáƟca de coluna conĮnada por FRP.

249
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A Fotogra¿a 6.1 mostra, esquematicamente, como é feito o con¿namento com a utilização


de ¿bras de carbono aplicada ortogonalmente ao eixo longitudinal da coluna.
A Fotogra¿a 6.2 mostra o con¿namento de uma coluna com a aplicação do sistema FRP
em forma de espiral (esse tipo de dimensionamento deve contemplar os fatores particula-
res de redução exigidos pela ACI 318).

FotograĮa 6.1 – ConĮnamento com sistema FRP ortogonal ao eixo.

No caso de con¿namento de seções circulares o fator de forma (ka) e (kb) são considerados
unitários (ka = kb = 1).

f = f = ψ .3,3.f
'
cc c
'
f l

⎛ fl ⎛ ε fe ⎞ ⎞
0 ,45

ε ccu = ε ⎜1,50 + 12. ' ⎜ ' ⎟ ⎟ (4)


'
c
⎝ fc ⎝ ε c ⎠ ⎠

FotograĮa 6.2 – ConĮnamento com sistema FRP em espiral.

250
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

6.1.1 CÁLCULO DA PRESSÃO DE CONFINAMENTO NAS SEÇÕES CIRCULARES

Considere a coluna de seção circular apresentada na Figura 6.6. Existem duas contribui-
ções distintas para o estabelecimento da pressão de con¿namento quando do reforço com
a utilização de sistemas CFC:
– componente da pressão de con¿namento devido ao sistema CFC utilizado;
– componente da pressão de con¿namento devido aos estribos existentes na seção.

Figura 6.6 – Seção transversal ơpica de colunas circulares.

Para efeitos meramente didáticos separaremos e estudaremos individualmente cada uma


dessas contribuições.

6.1.1.1 Contribuição do sistema CFC

A pressão lateral de con¿namento (fl) pode ser expressa da seguinte maneira:


fl = 2.F = 2.ffe.n.tf.ka onde,
fl – pressão lateral de con¿namento.
f fe – tensão de tração na ¿bra de carbono.
n – número de camadas de ¿bras de carbono.
tf – espessura de uma camada de ¿bra de carbono.
ka – coe¿ciente de redução da e¿ciência da ¿bra de carbono.
2.n.tf .ffe .ka
fl =
h

nas seções circulares (ka = 1), substituindo (h) por (D) e o que resulta:
2.n.tf .ffe
fl =
D

251
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

como f fe = İfe.Ef, vem, ¿nalmente,

2.Ef .n.tf .ε fe , que é a expressão da pressão lateral indicada atrás.


fl =
D

6.1.1.2 Contribuição do estribo no con¿namento da seção circular

A norma brasileira NBR 6118, em versões anteriores3, apresentava as seguintes recomen-


dações relativas às colunas cintadas (con¿nadas por estribos):
No item 4.1.1.4 da norma ¿cava estabelecido que:
“Somente serão calculadas como cintadas as peças que obedecerem ao disposto no item
6.4.1, tiverem ( λ ≤ 40 ) referido ao núcleo, e excentricidade, já incluída a acidental, inferior
a (di/8). O cálculo será feito de acordo com o item 4.1.1.3, aumentando-se (fck) de:

At e
Δ.fck = 2. .fyk .(1 − 8 ) ≥ 0 , onde,
Aci di

At - área da seção ¿ctícia da armadura de cintamento (volume da armadura de cintamento


por unidade de comprimento da peça).
Aci – área da seção transversal do núcleo de uma peça cintada encerrado pela superfície
que contém o eixo do cintamento.
e – excentricidade da força normal.
di – diâmetro do núcleo de uma peça cintada, medido no eixo da barra de cintamento.

π .Aes .d i e,
At =
s

π .d i2 , onde (d = h - 2c - ‫) כ‬
Aci = i estr.
4

Não se considerará o concreto exterior ao núcleo. A resistência total de cálculo da peça cintada
não deverá, porém, ultrapassar (1,7) vezes a calculada como se não houvesse cintamento.”
Já em seu item 6.4.1 a norma dispunha do seguinte:
“A armadura de cintamento será constituída por barras em hélice ou estribos, de projeção
circular sobre a seção transversal da peça, obedecendo as seguintes condições:
l
a) a relação entre o comprimento da peça e o diâmetro do núcleo será: d ≤ 10
i

b) as extremidades das barras ou dos estribos serão bem ancoradas no núcleo do concreto;
c) as barras helicoidais ou estribos não serão de bitola inferior a 5 mm;
d) o espaçamento entre 2 espiras ou 2 estribos será
di
φt + 3cm ≤ s ≤ ou 8cm
5

3 - Versões anteriores à ABNT NBR 6118:2014.

252
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Onde (‫כ‬t) é o diâmetro da espiral ou dos estribos.


e) a seção ¿ctícia At do cintamento será:
0,005 . Aci ” At ” 3.As’
f) a armadura longitudinal deverá constar de no mínimo 6 barras dispostas uniforme-
mente no contorno do núcleo e a área da sua seção transversal não deverá ultra-
passar (0,008.Aci), inclusive no trecho de emenda por traspasse; a bitola barras
longitudinais não será inferior a 10 mm.”

Para os estribos a norma ACI 318 recomenda:


“7.10.4.2 – para construções moldadas “in-situ” o diâmetro da barra da espiral não pode ser
inferior a 3/8” (10 mm.).
7.10.4.3 – o espaço livre entre as espirais não pode ser superior a 3” (7,50 cm.) e nem in-
ferior a 1”(2,54 cm.)”

Como pode ser observado, as recomendações, tanto da norma brasileira NBR 6118 como
da norma ACI 318 relativamente ao con¿namento de colunas são bastante restritivas, di¿-
cultando muito a possível utilização das armaduras de estribos usualmente adotadas em
nosso meio.
Tanto as normas brasileiras como as normas americanas não fazem referência, para efeito
de dimensionamento, do con¿namento de seções retangulares ou quadradas.
Porém, em se tratando de reforço estrutural, pode ser que ocorra a conveniência, ou mes-
mo, a necessidade de se lançar mão desse recurso adicional para aumentar a resistência
à compressão do elemento. Recomenda-se, entretanto, trabalhar com muita segurança e
cautela quando for necessária a utilização desse recurso extremo.
Admitindo-se que aquelas recomendações normativas estejam sendo atendidas, a partici-
pação dos estribos na composição da pressão de con¿namento pode ser assim avaliada,
conforme indicado na Figura 6.7.

Para as seções transversais circulares temos:


ka .ρestr . .fs ,estr .
fl ,estr . =
2

Aestr .
fl . (1cm ) .d i = 2F = 2.fs ,estr . . .ka onde,
s
ka = 1
di – diâmetro correspondente ao baricentro do estribo.
s – espaçamento dos estribos.

253
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 6.7 – Pressão de conĮnamento dos estribos.

2.Aestr . .fs ,estr .


fl = sendo,
s.d i

fs,estr. = 0,002.Es, ou seja, para o aço CA-50 temos: fs,estr. = 42 kN/cm2.


di = h – 2.d’ = h – 2.c - ݊estr.

6.2 SEÇÕES TRANSVERSAIS NÃO CIRCULARES


Também as seções não circulares, como as quadradas e as retangulares, con¿nadas por
sistemas FRP, podem apresentar acréscimos marginais à resistência máxima axial de
compressão (f’fcc) do elemento. A ACI 440.2R-08 não recomenda que seja executado o
con¿namento de peças que descumpram as seguintes recomendações:

h
– relação ⎛⎜ ⎞⎟ > 2,0 ;
⎝b⎠

– dimensões dos lados (h ou b) que excedam 900 mm, a não ser que a efetividade
do con¿namento seja demonstrado através de testes.

Figura 6.8 – Seção equivalente circular à seção retangular.

254
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Na expressão (4), no caso das seções não circulares, (fl) corresponde à máxima pressão
de con¿namento de uma seção equivalente circular de diâmetro D igual ao comprimento da
diagonal da seção transversal retangular, conforme mostrado na Figura 6.84.

Dessa forma ĺ D = a2 + b2

Os fatores de forma (ka) e (kb) que aparecem nas equações seguintes dependem de dois
parâmetros distintos, o primeiro é (Ae), a área da seção transversal efetivamente con¿-
nada do concreto. O conceito atualmente aceito para se de¿nir (Ae) consiste em admitir
internamente à área da seção transversal não circular um perímetro delimitado por quatro
parábolas, dentro da qual está o concreto totalmente con¿nado, e fora desta área o con¿-
⎛h⎞
namento é considerado desprezível. O segundo parâmetro é a relação ⎜ ⎟ do concreto.
⎝b⎠
Os valores desses coe¿cientes são fornecidos pelas expressões seguintes.
2
Ae ⎛b⎞
ka = ⎜⎝ ⎟⎠
Ac h
2
Ae ⎛ h ⎞
kb = ⎜ ⎟
Ac ⎝ b ⎠

A forma das parábolas e a área resultante efetivamente con¿nada é função das dimensões
(h e b) da coluna, do raio de curvatura dos encontros dos lados (rc), assim como da relação
geométrica da armadura longitudinal da peça (ȡg).

⎡⎛ b ⎞ ⎛ h⎞ ⎤
⎢⎜⎝ h ⎟⎠ ( h − 2.r ) + ⎜⎝ b ⎟⎠ ( b − 2.r ) ⎥
2 2
c c

1− ⎣ ⎦−ρ
A 3.A g

=
e g

A c
1−ρ g

Exemplo 1: A coluna representada na Figura 6.9 foi originalmente calculada para um car-
regamento axial máximo Ҁ.Pn = 698.000,00 kgf. Deseja-se ampliar a sua capacidade de
resistência axial em 30%, passando para Ҁ.Pn,req. = 907.400,00 kgf. A coluna foi veri¿cada
e não apresenta problemas de Àambagem.
São conhecidos, para o concreto e o aço da armadura:
f’c = 25 MPa
f’y = 500 MPa

Para o sistema FRP escolhido são conhecidos:


espessura por camada tf = 0,33 mm
tensão última de tração f* fu = 3800 MPa
deformação de ruptura İ*fu = 0,017 mm/mm
módulo de elasticidade Ef = 228000 MPa

4 - Lam e Teng – 2003.

255
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 6.9 – Seção transversal da coluna.

Com base nas propriedades mostradas acima, temos os seguintes valores de projeto para
o sistema FRP:
f = C .f = 0,95.3800 = 3610 MPa
fu E fu
*

ε = C .ε = 0,95.0,017 = 0,016 mm/mm;


fu E
*
fu

Onde CE = coe¿ciente de redução ambiental

Da seção transversal da coluna extraímos os seguintes dados:


π .D 2
π .55 2

A = = = 2376 cm 2
g
4 4
Ast = 16 ‡ 16 mm = 32 cm2
Ag - Ast = 2376 - 32 = 2344 cm2

Da equação:
∅Pn = 0,8 ∅ ⎡⎣0,85.f '
cc (Ag
− A ) + f .A ⎤⎦
st y st
tem-se:

f = ψ .3,3.k .f
cc
'
f a l

para ψ = 0,95 f e ka = 1 (para seções circulares), temos


f’cc = 3,135.fl

2.E .n.t .ε
f = f f fe
l
D
İfe = kİ.İfu onde kİ = 0,55
İfe = 0,55.0,016 = 0,009
2.2280000.0,33.0,009
fl = .n = 246,240.n kgf / cm 2
55

256
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

f’cc = 3,135.fl = 3,135.246,240.n = 771,962.n kgf/cm2


‡Pn = 0,8.0,9 [0,85.771,962.2344.n + 32.5000] = (1107401.n + 115200) kgf

907400 − 115200 ĺ n = numero de camadas de ¿bra


n= = 0,715 = 1,00
1107401

Considerando-se um tecido com (tf = 0,165 mm) temos:

2.2280000.0,165.0,009
fl = .n = 123,120.n kgf / cm 2
55

f’cc = 3,135.fl = 3,135.123,120.n = 385,981.n kgf/cm2


‡Pn = 0,8.0,9 [0,85.385,981.2344.n + 32.5000] = (553700.n + 115200) kgf
907400 − 115200
n= = 1,43 = 2,00 valor idêntico ao anterior, não justi¿cando a troca.
553700

Exemplo 2: A coluna representada na Figura 6.10 foi originalmente calculada para um


carregamento axial máximo ‡.Pn = 698000 kgf. Deseja-se ampliar a sua capacidade de
resistência axial em 30%, passando para ‡.Pn,req. = 907400 kgf. A coluna foi veri¿cada e
não apresenta problemas de Àambagem.

Figura 6.10 – Seção transversal da coluna.

São conhecidos, para o concreto e o aço da armadura:


fc’= 25 MPa
fy’ = 500 MPa
rc = 2 cm
Para o sistema FRP escolhido são conhecidos:
espessura por camada tf = 0,33 mm
tensão última de tração f*fu = 3800 MPa
deformação de ruptura İ*fu = 0,017 mm/mm
módulo de elasticidade Ef = 228000 MPa

257
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Com base nas propriedades mostradas acima, temos os seguintes valores de projeto para
o sistema FRP:
f fu = CE.f*fu = 0,95.3800 = 3610 MPa
İfu = CE.İ*fu = 0,95.0,017 = 0,016 mm/mm

Da seção transversal da coluna extraímos os seguintes dados:


Ag = 400.600 = 240000 mm2
Ast = 16‡16 mm = 3200 mm2
Ag - Ast = 240000-3200 = 236800 mm2

Da equação:
‡Pn = 0,8‡[0,85.f’cc(Ag - Ast) + fy.Ast] tem-se
f = ψ .3,3.k .f
cc
'
f a l
para ψ = 0,95 vem f’cc = 3,135.ka.fl
f

2.E .n.t .ε
f = f f fe
l
D

Para seções não circulares, D = h2 + b2 donde,


2.E .n.t .ε
f = f f fe

h +b
l 2 2

İfe = kİ.İfu onde kİ = 0,55


⎡ ⎛h⎞ 2⎤
⎢(h − 2rc ) + ⎜⎝ b ⎟⎠ (b − 2.rc ) ⎥
2

Ae ⎛ b ⎞
2 1− ⎣ ⎦
ka = ⎜ ⎟ sendo Ae
=
3.Ag e ρg = Ast assim,
Ac ⎝ h ⎠ Ac 1 − ρg Ag

3200
ρg = = 0,013
240000
⎡ ⎛ 600 ⎞ 2⎤
⎢(600 − 40 ) + ⎝⎜ 400 ⎠⎟ (400 − 40 ) ⎥
2

1− ⎣ ⎦
Ae 3.240000
= = 0,298
Ac 1 − 0,013
2
⎛ 600 ⎞
ka = 0,298 ⎜ = 0,671
⎝ 400 ⎟⎠

Transformando as unidades para [kgf; cm] tem-se:

2.2280000.0,33.0,55.0,016
fl = .n = (183,637.n ) kgf / cm 2
40 2 + 60 2
fcc' = 3,135.ka .fl = 3,135.0,671.183,637.n = 386,296.n kgf / cm 2

258
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Temos, ¿nalmente,

( )
∅Pn = 0,8∅ ⎡⎣0,85.fcc' Ag − Ast + fy .Ast ⎤⎦ para (‫ = כ‬0,90) vem:

∅Pn = 0,8.0,9 ⎣⎡0,85.386,296. (2400 − 32 ) .n + 32.5000 ⎤⎦ = (777537.n + 115200 ) kgf

∅.Pn − 115200
n=
777537

Para ‡.Pn = 907400 kgf vem:

907400 − 115200
n= = 1,019
777537

Adotando-se (n = 2) vem:
∅.Pn = 777537.2 + 115200 = 1670274 kgf > > 907400 OK !

Adotando-se (n = 1) vem:
∅.Pn = 777537 + 115200 = 892737 kgf (1,6% menor que o desejado ) !!!

6.3 CONFINAMENTO SEGUNDO A CNR-DT 200/2004


O National Research Council, com a designação CNR-DT 200/2004, apresenta o “Gui-
de for the Design and Construction of Externally Bonded FRP Systems for Strengthening
Existing Structures”5, o qual estabelece que um apropriado con¿namento de elementos
de concreto pode incrementar seu desempenho estrutural, permitindo, particularmente, os
seguintes implementos:
– capacidade última e deformação de elementos submetidos a cargas axiais centra-
das ou com muito pequena (baixa) excentricidade;
– ductilidade e capacidade resistente sob combinações de carregamentos axiais e
de Àexão, quando o reforço com FRP está instalado com as ¿bras se desenvol-
vendo ao longo do eixo longitudinal do elemento.

O con¿namento dos elementos de concreto armado pode ser realizado com as lâminas do
sistema FRP dispostas ao longo do perímetro (transversalmente ao eixo longitudinal) em
con¿gurações contínuas ou descontínuas de envolvimento, sendo que o aumento da ca-
pacidade resistente à compressão axial dependerá da pressão de con¿namento aplicada,
que por sua vez é função da seção transversal do elemento e da sua espessura.
A redistribuição das cargas verticais não poderá exceder a ductilidade dos elementos para
cargas axiais concêntricas ou com muito pequena (baixa) excentricidade.

5 - “Guia para o Projeto e a Construção de Sistemas FRP Colados Externamente para o Reforço de Estruturas Existentes”
NaƟonal Research Council – Rome -2004.

259
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 6.11 – Relação Tensão-Deformação para concreto conĮnado por sistema FRP.

Os elementos con¿nados com sistemas FRP permanecem linearmente elásticos até a sua
ruptura, exercendo uma pressão lateral que aumenta com a expansão transversal do ele-
mento con¿nado. A Figura 6.11 mostra um típico diagrama tensão-deformação para testes
de compressão executados em elementos con¿nados por FRP.
Para deformações axiais com valores até (İc = 0,2%), a tensão no concreto con¿nado é
apenas um pouco maior do que aquela veri¿cada no concreto descon¿nado. Para defor-
mações axiais maiores que (İc > 0,2%), o diagrama tensão-deformação é não linear e a
declividade do diagrama tende gradualmente a atingir um valor constante. À medida que
aumenta a deformação o concreto tende a ter uma perda de coesão interna devido ao sur-
gimento de ¿ssuras bastante difundidas. Finalmente, a ruptura do elemento con¿nado por
FRP é atingido pelo colapso da ¿bra. Para que isso não ocorra, o limite de con¿namento é
considerado atingido quando a deformação do FRP atingir (0,4%).

6.3.1 CAPACIDADE RESISTENTE AXIAL DE ELEMENTOS CONFINADOS POR FRP

Esse tópico pressupõe a condição de que a carga axial seja centrada ou muito pouco
excêntrica. Neste caso, o con¿namento se justi¿ca quando se quer aplicar cargas axiais
maiores que aquelas para as quais o elemento foi projetado originalmente. A CNR-DT
200/2004 também considera que um adequando con¿namento só é conseguido através da
aplicação de ¿bras no sentido ortogonal ao eixo longitudinal da peça. Quando o con¿na-
mento for implantado por meio de reforço de FRP colocado em arranjo espiral ao longo do
perímetro da peça a sua efetividade deverá ser adequadamente apropriada.
Quando o sistema a ser reforçado não foi inicialmente protendido, o reforço de FRP exer-
ce um con¿namento passivo no elemento comprimido. A ação de con¿namento se torna
signi¿cativa apenas após o ¿ssuramento do concreto e o escoamento do aço devido ao
aumento da expansão lateral exibida pelo elemento de concreto. Antes do ¿ssuramento do
concreto o sistema FRP ¿ca praticamente descarregado.

260
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

O projeto de elementos con¿nados no estado limite último exige que, para a carga majo-
rada (Nsd) e a capacidade majorada de resistência axial (NRcc,d), seja atendida a seguinte
inequação:
NSd ” NRcc,d

Para elementos con¿nados não delgados, a capacidade de carga majorada pode ser cal-
culada a partir da seguinte expressão:
1
N = .A .f + A .f
Rcc ,d
γ rd
c ccd s yd

Ac área da seção transversal do elemento.


As área da seção transversal de armadura.
fccd resistência de projeto do concreto con¿nado.
fyd resistência no escoamento do aço utilizado
onde (Jrd) pode ser determinado na tabela 6.1 seguinte:

Fatores Parciais (Jrd)


Modelo de resistência Jrd
Flexão/Combinação de Àexão e carga axial 1,00
Corte/Torção 1,20
Con¿namento 1,10

Tabela 6.1 – Fator parcial (Jrd).

A resistência de projeto (fccd) do concreto con¿nado pode ser avaliada a partir da seguinte
equação:

2
fccd ⎛f ⎞ 3
onde,
= 1 + 2,6. ⎜ l ,eff ⎟
fcd ⎝ fcd ⎠

(fcd) é a resistência de projeto do concreto descon¿nado.


(fl,eff) a pressão efetiva lateral de con¿namento.

O con¿namento pode ser considerado efetivo se:

⎛ fl ,eff ⎞
⎜⎝ f ⎟⎠ > 0,05
cd

261
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

6.3.2 PRESSÃO LATERAL DO CONFINAMENTO

A e¿ciência dos membros con¿nados por FRP depende parcialmente da pressão de con-
¿namento lateral, (fl), introduzida pelo sistema e denominada de pressão lateral efetiva
de con¿namento (fl,eff). Essa pressão efetiva é função da seção transversal da peça a ser
con¿nada e da con¿guração do FRP, sendo de¿nida pela expressão seguinte:
fl,eff = keff.fl

o coe¿ciente de e¿ciência (keff) é expresso por:


keff = kH.kV.kĮ

kH coe¿ciente de e¿ciência horizontal, que depende da forma da seção;


kV coe¿ciente de e¿ciência vertical, que depende da con¿guração do FRP;

ĺ para seção de concreto com envolvimento completo tem-se (kV =1,0).


ĺ para seção de concreto com envolvimento descontínuo, tais como faixas de FRP ins-
taladas igualmente espaçadas, o coe¿ciente (kV) é assim de¿nido.

Não obstante qual seja a seção, o coe¿ciente (kV) deve ser calculado da seguinte maneira:
2
⎛ pf' ⎞
kv = ⎜1 − onde (dmin) é a menor seção transversal do elemento.
⎝ 2.d min ⎟⎠

Da mesma forma, qualquer que seja a seção, o coe¿ciente (kĮ), a ser utilizado quando as
¿bras forem instaladas com con¿guração espiral com o ângulo ( α f ) relativamente à seção
transversal da peça, é assim calculado:
1
kα =
1 + ( tgα f )2

Figura 6.12 – Corte de elemento circular conĮnado por FRP.

262
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

No caso de envolvimento descontínuo, a distância livre entre as lâminas deve atender à


seguinte limitação:
d min
pf ≤
2

A deformação reduzida do FRP, (İfd,rid) deve ser calculada da seguinte maneira:


⎧ ε fk ⎫
ε fd ,rid = min ⎨ηa . ; 0,004 ⎬ onde
⎩ γf ⎭

(Șa) e (Jf) representam fatores de conversão ambiental conforme tabela 6.1 (já apresenta-
da) e Tabela 6.26.

Fator de Conversão Para Diferentes Exposições Ambientais (Șa)


Condições de Exposição Tipo de Fibra/Resina Șa
Interna Vidro/Epoxi 0,75
Aramida/Epoxi 0,85
Carbono/Epoxi 0,95
Externa Vidro/Epoxi 0,65
Aramida/Epoxi 0,75
Carbono/Epoxi 0,85
Ambiente Agressivo Vidro/Epoxi 0,50
Aramida/Epoxi 0,70
Carbono/Epoxi 0,85
Tabela 6.2 – Fator parcial(ɻa).

6.3.3 DETERMINAÇÃO DA PRESSÃO LATERAL DE CONFINAMENTO


fl pressão lateral de con¿namento
1
fl = .ρf .Ef .ε fd ,rid
2
ȡf relação geométrica do reforço que é função da forma da seção, retangular ou circular e
da con¿guração do FRP, envolvimento contínuo ou descontínuo, conforme de¿nido à seguir.
Ef módulo de elasticidade do FRP segundo a direção das ¿bras.
İfd,rid deformação reduzida de projeto7.

6 - Observar que os valores apresentados são os mesmos da Tabela 9.1 da ACI 440.2R-08.
7 - Ver a deĮnição no item 9 da CNR-DT 200/2004 – “Appendix D (ConĮned Concrete)”.

263
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

6.3.3.1 Con¿namento de seções circulares

O con¿namento de seções circulares é bastante e¿ciente para seções transversais circu-


lares submetidas a cargas axiais centradas ou de pequena excentricidade. As ¿bras, insta-
ladas transversalmente ao eixo longitudinal do elemento produzem uma pressão uniforme
que se opõe à expansão radial do elemento carregado.
A relação geométrica do reforço (ȡf), utilizada para a determinação da pressão efetiva de
con¿namento é assim determinada:

4.tf .bf
ρf = onde,
D.pf

tf , bf e pf são respectivamente a espessura, a largura e o espaçamento do sistema FRP.


D - diâmetro da peça circular de concreto.
4.t
– no caso de envolvimento contínuo da seção: ( ρ = f
)
f
D
– para seções transversais circulares adota-se: (kh = 1,0)
– para as seções circulares adotar para o valor de (dmin) o diâmetro D da seção.

6.3.3.2 Con¿namento de seções quadradas e retangulares

O con¿namento das seções quadradas e retangulares não é tão e¿ciente quanto o das
seções circulares, e segundo, a CNR-DT 200/2004, este con¿namento deve ser consi-
derado apenas marginal e as aplicações devem ser cuidadosamente analisadas para a
sua validação.
Como condição de aplicação do con¿namento torna-se necessário o arredondamento dos
cantos (quinas) das seções para se evitar a concentração de tensões que podem conduzir
a uma falha prematura do sistema. Recomenda-se que o raio de curvatura dos cantos não
seja inferior a 20 mm.
rc • 20 mm

A relação geométrica do reforço (ȡf), utilizada para a determinação da pressão efetiva de


con¿namento nesse tipo de seções é assim determinada:
2.tf . (b + d ) .bf
ρf =
b.d.pf

tf , bf e pf são respectivamente a espessura, a largura e o espaçamento do sistema FRP.


b, d são as dimensões dos lados da seção transversal.
– no caso de envolvimento contínuo da seção por FRP o valor de (ȡf) será o deter-
minado abaixo:
2.tf .( b + d )
ρf =
(b − d )

264
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Para seções retangulares ou quadradas, a área efetivamente con¿nada de concreto deve


ser considerada como sendo apenas uma fração da seção bruta de concreto armado, con-
forme mostrado na Figura 6.12. A razão para este comportamento se deve ao chamado
“efeito arco” que é formado dentro da seção transversal do elemento. Esse efeito depende
do valor do raio de arredondamento das quinas (rc).

Figura 6.13 – ConĮnamento de seções quadradas e retangulares.

Para as seções quadradas e retangulares do coe¿ciente horizontal de e¿ciência (kH), que


leva em consideração, o “efeito arco” é assim determinado:
b´ 2 +d´ 2
kH = 1 −
3.Ag

b’,d’ são as dimensões indicadas na Figura 6.12.


Ag é a área da seção transversal de concreto.

O efeito de con¿namento por FRP não deve ser considerado para seções retangulares
b
onde ocorre ⎛⎜ > 2,0 ⎞⎟ ou max {b,d} > 900 mm , a menos que testes experimentais con¿á-
⎝d ⎠
veis sejam realizados.

6.4 DETERMINAÇÃO DA ÁREA NÃO CONFINADA DAS COLUNAS


A pressão máxima transversal devida ao con¿namento pelo aço do elemento de concreto
somente poderá ser considerada efetiva na parte do núcleo do concreto onde as tensões
de con¿namento se desenvolveram em sua totalidade em função do efeito de arqueamento.
Para a determinação da área crítica do núcleo que pode ser considerada mobilizada (con-
¿nada) a maioria dos pesquisadores admite que a ação de um arco produz uma separação
de con¿guração parabólica entre a parte do concreto admitido con¿nado e a parte não
con¿nada, como mostrado nas ¿guras anteriores.

265
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

As propriedades geométricas básicas da região não con¿nada com o arqueamento se de-


senvolvendo segundo um comprimento (c) e começando e terminando segundo um ângulo
(ș) em relação ao eixo (x) são propostas pelo pesquisador Yung-Chih Wang8, e podem
servir como ajuda para o cálculo do núcleo con¿nado da coluna.

Figura 6.14 – Propriedades geométricas da parábola.

6.4.1 CONTRIBUIÇÃO DO ESTRIBO NO CONFINAMENTO DA SEÇÃO RETANGULAR

Como pode ser observado no exposto até agora, as normativas técnicas mostradas não
são otimistas com relação às possibilidades de con¿namento com FRP de seções retan-
gulares e quadradas, em função do seu baixo desempenho estrutural. Da mesma maneira
como foi apresentada a contribuição dos estribos existentes em uma seção circular quando
do con¿namento por FRP, serão apresentados alguns recursos pouco convencionais para
o aproveitamento, nem que seja em condições extremas, adequada e cautelosamente
avaliadas e usadas, principalmente, como reserva de resistência (ductilidade) nas seções.

O estudo transcrito é parte de um processo de quali¿cação do sistema composto estrutural


MasterBrace™ junto ao “Departament of Transportation” – CALTRANS9 do Estado da Ca-
lifórnia, nos EUA, em 1997. Apesar de o teste ter sido especi¿camente direcionado para a
avaliação do sistema FRP aplicado em colunas de concreto submetidas a efeitos sísmicos,
alguns aspectos, tais como o comportamento da jaqueta de ¿bra de carbono em seções
diferentes da circular (retangular e quadrada), podem ser avaliados e transpostos para a
prática. Deixa-se a critério do leitor a avaliação do exposto para se vislumbrar as possibili-
dades de sua aplicação em projetos, envolvidos evidentemente pelas cautelas e restrições
impostas por um procedimento experimental.

8 - RetroĮt of Reinforced Concrete Members Using Advanced Composite Materials – Yung-Chih Wang – Research Report
2000-3, Department of Civil Engineering, Unuversity of Cantebury – New Zealand.
9 - MasterBrace© Composite Strengthening System – CALTRANS QualiĮcaƟon Package.

266
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Figura 6.15 – Relação tensão-deformação para seções transversais de colunas.

A Figura 6.15 mostra a e¿ciência do con¿namento por sistemas compostos FRP em diver-
sas seções transversais de colunas.
Especi¿camente para essa apresentação adotaremos algumas simbologias diferenciadas
da que foram utilizadas atrás para não descaracterizar o estudo transcrito.
Sejam:
tfc = espessura da jaqueta de ¿bra de carbono na região da rótula plástica
nfc = número de camadas de ¿bra de carbono
efc = espessura de uma camada de ¿bra de carbono
Efc = módulo de elasticidade longitudinal da ¿bra de carbono
Es = módulo de elasticidade do aço da armadura
Asfc = área equivalente em aço da jaqueta de ¿bra de carbono
Ase = área da seção transversal de aço dos estribos
Aφestr. = área da seção transversal da barra utilizada para os estribos
S = espaçamento dos estribos existentes
S’ = espaçamento equivalente aos estribos propiciada pela jaqueta de ¿bra de carbono

São determinadas as seguintes expressões:


tfc = nfc .efc
Efc
Asfc = 2.tfc .
Es

As = 2. estr .
e
s

s' = estr .

As + As
e fc

267
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

6.4.2 PRESSÃO LATERAL DE CONFINAMENTO DEVIDO À AÇÃO CONJUNTA DOS


ESTRIBOS E DA JAQUETA DE FRP

f ' l = fle + flfc

fle(b) + fle(h) flfc (b) + flfc (h)


f 'l = +
2 2
⎛ Ase(b) Ase(h) ⎞ ⎛ 2tfc (b) 2tfc (h) ⎞
ke ⎜ + f + k ⎜ b + h ⎟ ffc
⎝ b h ⎟⎠ yk e
⎝ ⎠
f 'l =
2
Onde,
ke = coe¿ciente de e¿ciência para o con¿namento
ke = 0,75 para estribos retangulares
ke = 0,50 para jaquetas retangulares de ¿bra de carbono
fyk = tensão de escoamento do aço dos estribos
f fc = tensão na ¿bra de carbono da jaqueta correspondente à deformação

ξ = 0,002

6.4.3 TENSÃO DE COMPRESSÃO DO CONCRETO CONFINADO POR JAQUETA DE FRP

⎛ 7,94f ' l 2f ' l ⎞


f ' cc = f ' c ⎜ 2,254 1 + − − 1,254 ⎟
⎝ f 'c f 'c ⎠

onde f’c é a resistência do concreto.


O coe¿ciente de con¿namento do aço é dado por:
Ase( b ) Ase( h )
ρs( bh ) = ρsb + ρs h = +
b h
sendo ȡbe ȡh os coe¿cientes de con¿namento segundo os lados b e h.

O coe¿ciente de con¿namento da jaqueta de ¿bra de carbono é dado por:


2tfc( b ) 2tfc( h )
ρfc( bh ) = +
b h
assim, a deformação última do concreto é dada pela expressão:
1,4 ρs( bh )fyk ξsu 1,25 ρfc( bh )ffcuξfcu
ξcu = 0,004 + +
f ' cc f ' cc

268
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Adaptação da expressão do con¿namento de seções retangulares ou quadrada para se-


ções circulares:
Por analogia, para uma seção circular podemos expressar a equação que determina o
valor de (f’l) da seguinte maneira:

⎛ 2.Aφes ⎞ ⎛ 2.n.tf ⎞
fl' = ⎜ .fyk + ⎜ .f
⎝ s.d ⎠ ⎟ ⎝ d ⎟⎠ cd

2 ⎛ Aφes ⎞
fl' = ⎜⎝ .fyk + n.tf .fcd ⎟
d s ⎠

6.5 COMO EVITAR FLAMBAGEM DAS BARRAS LONGITUDINAIS COM FRP


A Àambagem das barras longitudinais existentes em uma coluna de concreto armado pode
ser evitada pelo con¿namento da seção transversal da peça por meio do sistema FRP.
A espessura do con¿namento necessário com FRP pode ser avaliada conforme sequência:

0,45.n.fy2 .d 10.n.d
tf = ≈
4.Eds .Ef Ef

n = o número de barras longitudinais existentes sujeitas a Àambagem.


fy = resistência do aço ao escoamento longitudinal, dado em MPa.
d = dimensão da seção transversal da peça paralelamente ao plano de Àexão.
Ef = módulo de elasticidade do sistema FRP na direção das barras de aço verticais existentes.
Eds = “módulo reduzido” adequado, de¿nido por:

4.Es .Ei
Eds =
( )
2
Es + E i

Es e Ei são, respectivamente, o módulo inicial de Young e o módulo tangente de elasticida-


de das barras de aço verticais após o seu escoamento.

6.6 CARGA MÁXIMA DE FLAMBAGEM E ESBELTEZ DE COLUNAS


CONFINADAS POR FRP
Um estudo muito interessante em relação à estabilidade de colunas de concreto armado
con¿nadas por meio de CFC foi apresentado por Laura de Lorenzis10 e outros em con-
gresso na Universidade de Lecce11 a partir da constatação de que apesar da resistência
e da durabilidade de colunas de concreto armado con¿nadas por compostos terem sido
objeto de inúmeras investigações, particularmente no caso de colunas circulares, onde se

10 - “Stability of CFRP - ConĮned Columns”- L. de Lorenzis; V. Tamuzs; R. Tepfers; V. Valdmanis e U. Vilks.


11 - First InternaƟonal Conference on InnovaƟve Material and Technologies for ConstrucƟon and RestoraƟon - Universitá
degli Studi di Lecce – Itália – 06 a 09 de junho de 2004.

269
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

constatou que o con¿namento pode garantir notável aumento tanto da resistência como da
ductilidade do elemento reforçado, algumas lacunas de conhecimento permaneceram sem
uma investigação mais minuciosa, tais como o quanto desse aumento de resistência pode
efetivamente ser mobilizado quando problemas de estabilidade devem ser levados em
consideração, tais como a carga crítica de Àambagem e o índice de esbeltez das colunas.
Para avaliar o comportamento de colunas nessas condições, foi elaborado um programa
experimental com colunas com índice de esbeltez variando desde 8 a 66,7, tendo sido
constatado que as previsões teóricas da carga última das colunas coincidiram razoavel-
mente com os resultados experimentais.
Está sendo transcrito, parcialmente, o estudo apresentado e as principais conclusões e
recomendações a que chegaram os autores do trabalho para conhecimento e avaliação
dos leitores.
A carga de Àambagem de uma coluna (PÀ) é dada pela seguinte expressão bastante conhe-
cida da resistência dos materiais, determinada por Euler:

π 2 EI (a) onde,
Pfl =
( l fl )2

E - módulo de elasticidade do material da coluna.


I - momento de inércia mínimo da seção transversal da coluna.
lÀ - comprimento de Àambagem considerado.onde,
K - fator que depende das restrições das extremidades da coluna.
I - comprimento da coluna (distância considerada entre os apoios inferiores e superiores).

Figura 6.16 – Determinação do coeĮciente (k).

O valor de (k) pode ser obtido diretamente da ¿gura 6.15 em função das restrições consi-
deradas nas extremidades da coluna.

270
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

l fl k.l
Seja λ = = onde,
i i

I
i = raio de giração =
A

Se dividida a equação (a) pela área da seção transversal da coluna tem-se:

P assim,

fl

A fl

π 2 .E.I π 2 .E.i 2 π 2 .E
σ fl = = =
A( l fl )2 ( l fl )2 λ2

π 2 .E (b)
σ fl =
λ2

Quando se considera uma coluna con¿nada por FRP o momento de inércia e a área da
seção transversal a serem introduzidas nas fórmulas empregadas deveriam ser os va-
lores da seção homogeneizada, incluindo a contribuição da jaqueta de FRP. Contudo, o
aumento de rigidez produzido pelo composto normalmente é muito pequeno, podendo
até mesmo ser desconsiderado.
Por outro lado, a localização das ¿bras de carbono é, de maneira geral, o mais próximo
possível da circunferência de perímetro da peça, visando otimizar ao máximo a atuação
do con¿namento. Assim, o módulo de elasticidade transversal às ¿bras ou ao tubo de
con¿namento é muito próximo do módulo de elasticidade da matriz resinosa, implican-
do isso, que calcular os valores do momento de inércia e da área da seção transversal
considerando ou não considerando o composto não introduz nenhum erro que seja ao
menos apreciável.
A equação (b) é válida para materiais linearmente elásticos, com módulo de elasticidade
(E) bem de¿nido. Essa equação deve ser adequadamente modi¿cada para atender a um
comportamento (tensão/deformação) elastoplástico.
A sugestão apresentada por Shanley12 para permitir essa modi¿cação, a partir do enfo-
que inicial dado por Engesser já em 1889, consiste em substituir o valor de (E) da equa-
ção (b) pelo módulo de elasticidade tangencial do material, igual à inclinação local (Etg)
da curva (tensão/deformação) considerada, ou seja:

π 2 .Etg .( σ fl ) (c) onde,


σ fl =
λ2

Etg - determinado a partir da curva (tensão/deformação) para o valor de tensão igual à (VÀ).

12 - F. R. Shanley – InelasƟc Column Theory – J. Aero Sci. – 1947.

271
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

O valor de (VÀ) é obtido a partir da curva bilinear de¿nida na Figura 6.16, onde, implicita-
mente se tem:

Figura 6.17 – Relação (ʍ/ɸ) para concreto conĮnado em compressão.

π 2 .E1 ⎛ E1 ⎞
σ fl = se ( σ fl < f ' co ) ou seja, ⎜ λ < λ1 = π f ' ⎟ (d1)
λ2 ⎝ co ⎠

( σ fl = f ' co ) se ( λl 2 < λ < λl1 ) (d2)

π 2 .E2 se ( σ fl > f ' co )


⎛ E1 ⎞
σ fl = ou seja, ⎜ λ < λ2 = π f ' ⎟ (d3)
λ2 ⎝ co ⎠

onde:
f’co - resistência limite do concreto sem con¿namento.
f’cc - resistência limite do concreto con¿nado.

Das equações acima tem-se:


(a) – para ( λ > λ ) a coluna é tão esbelta que a instabilidade da mesma ocorrerá para
1

um valor da tensão axial inferior à resistência do concreto sem con¿namento (f’co).

(b) – para a condição (λ < λ < λ ) a tensão de Àambagem coincide com o da resistên-
l2 l1

cia do concreto sem con¿namento (f’co).

(c) – para ( λ < λ 2 ) a tensão de Àambagem é mais elevada do que a da resistência do


concreto sem con¿namento e o aumento da resistência devida ao con¿namento
com FRP pode ser efetivamente utilizada.
Nos dois limites de esbeltez de¿nidos em (a) e (b) a contribuição ao con¿namento produzi-
do pelo FRP não chega a ser utilizada.

272
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

No caso (c) de¿ne-se particularmente:

E2
λl 3 = π e, também, tem se:
f ' cc

π 2 .E2
f ' co < σ fl = ≤ f ' cc se ( λl 3 ≤ λ < λl 2 )
λ2

π 2 .E2 se ( λ ≤ λl 3 )
σ fl = ≥ f ' cc
λ2

Para ( λl 3 ≤ λ < λl 2 ) o modo de ruptura é de¿nido pela Àambagem.

Somente quando ( λ < λl 3 ) a coluna rompe por compressão antes que ocorra a Àambagem
e o con¿namento com FRP é completamente e¿ciente.
Na Figura 6.17 a relação entre a carga de Àambagem e a carga última de compressão da
coluna é plotada em relação ao coe¿ciente de Àambagem ( λ ).

Figura 6.18 – Carga combinada de Ňambagem como uma função da esbeltez.

Na realidade, a relação (tensão/deformação) acompanha a curva suave não linear


apresentada tracejada na Figura 6.16, enquanto a curva limite de tensões para colu-
nas con¿nadas por CFC será ainda mais suave, conforme mostra a curva tracejada da
Figura 6.17.
Quando se utiliza uma análise prévia para a determinação da carga de Àambagem de
colunas con¿nadas por CFC uma limitação conceitual muito importante nessa conside-
ração deve ser observada.

273
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Esse tipo de consideração somente será rigorosa no caso de colunas constituídas por ma-
teriais homogêneos com comportamento à compressão axial conforme indicado na Figura
6.16. Na realidade este tipo de comportamento em uma coluna con¿nada, particularmente
em uma coluna constituída por dois materiais diferentes, não tem um comportamento go-
vernado pelo material, mas sim pelo comportamento estrutural, ou seja, surgindo da inte-
ração do comportamento do núcleo de concreto juntamente com o efeito de con¿namento
produzido pelo envolvimento externo quando o núcleo se expande lateral e uniformemente
ao longo do perímetro da seção transversal.
No caso geral de Àambagem a seção transversal não se encontra sob compressão axial
e uniformemente con¿nada, consequentemente o comportamento apresentado na Figura
6.16 não é rigorosamente válido. Entretanto, o procedimento apresentado acima pode ser
adotado como uma primeira aproximação, uma vez que essa condição está razoavelmente
con¿rmada por meio dos resultados experimentais.
O comportamento típico (tensão/deformação) no carregamento axial de uma coluna circu-
lar con¿nada com FRP é aproximadamente bilinear, como mostrado na Figura 6.17, e o
ponto de inÀexão da curva praticamente coincide com o valor limite de ( f ' co ). A trabalhabili-
dade das colunas con¿nadas por FRP acima do limite de não linearidade é questionável e
limitada por uma série de restrições.
Uma delas é a redução da estabilidade das colunas devido à signi¿cativa redução do módulo
de elasticidade tangencial para carregamentos ativos. Resultados experimentais mostraram que
quando o coe¿ciente de esbeltez variou de 11 para 36 a resistência caiu rapidamente de aproxi-
madamente 75% da carga equivalente em colunas curtas para menos de 30% desta carga.
É de crucial importância esclarecer como e para quanto o aumento de resistência devido
ao con¿namento pode ser agregado a uma coluna quando problemas de estabilidade te-
nham que ser levados em consideração.
Do exposto acima os autores do estudo concluem que o reforço de colunas através do con-
¿namento com FRP somente será efetivo para valores baixos ou moderados do coe¿ciente
de Àambagem.
Para coe¿cientes de Àambagem acima de 40 a carga de Àambagem é inferior à resistência
à compressão do concreto sem con¿namento.
Finalmente, o valor limite do coe¿ciente de Àambagem pode ser estimado conservadora-
mente através da determinação do valor de ( λl 2 ) nas equações (d1), (d2) e (d3).

6.7 AUMENTO DA DUTIBILIDADE SEGUNDO A ACI 440.2R-08


O aumento da ductibilidade resulta na habilidade de desenvolver maiores deformações
por compressão no concreto antes de sua falha por compressão. A jaqueta de FRP pode,
também, servir para atrasar a Àambagem das barras longitudinais de aço por compressão
e funcionar como “abraçadeiras” nos traspasses daquelas.
Quando utilizadas em aplicações sísmicas as jaquetas de FRP devem ser dimensionadas de
tal forma a provisionar uma tensão de con¿namento de tração su¿ciente para desenvolver
deformações de compressão no concreto associadas com as demandas de deslocamento.

274
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

A deformação máxima de compressão em um elemento con¿nado por FRP é dada pela


expressão:
⎛ f ⎛ε ⎞
0 ,45

ε ccu = ε c' ⎜1,50 + 12k b . l' ⎜ fe' ⎟ ⎟
⎝ fc ⎝ εc ⎠ ⎠

Deverão também ser consideradas as forças cortantes, conforme o ACI 440.2R-08, para
prevenir a possibilidade de uma ruptura frágil da peça.

6.7.1 PEÇAS DE SEÇÃO TRANSVERSAL CIRCULAR


Para as peças de seção transversal circular a máxima deformação de compressão poderá ser
obtida utilizando-se na expressão acima (kb = 1,0). O valor de (f’cc) será obtido da expressão:
fcc' = fc' = 3,135.f

6.7.2 PEÇAS DE SEÇÃO TRANSVERSAL NÃO CIRCULAR (RETANGULAR OU QUADRADA)


Da mesma forma que a seção anterior, a deformação máxima de compressão poderá ser
obtida utilizando-se a expressão:
⎛ fl ⎛ ε fe ⎞ ⎞
0 ,45

ε ccu = ε ⎜1,50 + 12k b . ' ⎜ ' ⎟ ⎟


'
c
⎝ fc ⎝ ε c ⎠ ⎠
2
Ae ⎛ h ⎞
kb = ⎜ ⎟
Ac ⎝ b ⎠

O valor de (fcc’) será obtido da expressão:


fcc' = fc' = 3,135.ka .fl

2
Ae ⎛ b ⎞
ka = ⎜ ⎟
Ac ⎝ h ⎠

O efeito de con¿namento por FRP não deve ser considerado para seções retangulares
⎛b ⎞
onde ocorre ⎜⎝ > 2,0 ⎟⎠ ou max {b,d} > 900 mm, a menos que testes experimentais con¿áveis
d
sejam realizados.

6.8 ESFORÇOS COMBINADOS DE FLEXÃO E CARGA AXIAL SEGUNDO A


ACI 440.2R-08
O envolvimento com a utilização de jaquetas de FRP pode produzir a aumento na resistência
de um elemento de concreto armado submetido às ações combinadas de Àexão e carga axial.
Com o objetivo de avaliar-se o efeito do con¿namento com FRP no aumento da resistência
podem ser utilizadas as seguintes expressões, quando a excentricidade encontrada no
elemento for menor ou igual a (0,1.h):
a - ‫כ‬Pn= 0,85‫[ כ‬0,85f’cc(Ag - Ast) + fy Ast], para concreto não protendido com estribos
em espiral.
b - ‫כ‬Pn = 0,80‫[ כ‬0,85f’cc(Ag - Ast) + fy Ast], para concreto não protendido com estribos
convencionais.

275
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Quando a excentricidade ultrapassar o valor (0,1.h), a metodologia utilizada para a com-


pressão axial pura pode ser utilizada para determinar as propriedades da seção transver-
sal do elemento sob tensões de compressão. Com base nessa premissa pode ser construí-
do um grá¿co relacionando a força de compressão e o momento Àetor.
São as seguintes as limitações de aplicação para elementos submetidos à atuação conjun-
ta de carga axial e Àexão:

– a deformação efetiva na jaqueta de FRP deve ser limitada ao valor fornecido abai-
xo para garantir a integridade ao corte do concreto con¿nado.

İfe = 0,004 ” kİ.‫׻‬fu

Figura 6.19 – Carga combinada de Ňambagem como uma função da esbeltez.

– o aumento da resistência somente pode ser considerado quando a força axial últi-
ma (Pu) e o momento Àetor (Mu) caírem sobre a linha que liga a origem do grá¿co
e o ponto de equilíbrio no diagrama Pu - Mu para o elemento não con¿nado. Esta
limitação é decorrente do fato de que o aumento da resistência só é signi¿cativo
para elementos nos quais a ruptura por compressão é o método de controle. Para
maiores informações ver ACI 440.2R-08 - “12.2 - Combined axial compression and
bending”.

6.9 ESFORÇOS COMBINADOS DE FLEXÃO E CARGA AXIAL SEGUNDO A


CNR-DT 200/2004
A CNR-DT 200/2004 aceita que o con¿namento pode ser implantado em elementos de
concreto submetidos a esforços combinados de Àexão e carga axial. Esse con¿namento
pode resultar no aumento da ductilidade onde a capacidade ao esforço axial pode apenas
ser ligeiramente aumentada.
A menos que análises mais acuradas sejam feitas, a evolução da curvatura última de um
elemento con¿nado de concreto deve ser alcançada assumindo-se um enfoque parabólico-

276
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

-retangular para a relação tensão-deformação do concreto, caracterizado pela resistência


máxima igual a (fcd) e a deformação última (İccu) computados da seguinte maneira:

fl ,eff
ε ccu = 0,0035 + 0,015.
fcd

onde,
(fl,eff) é a pressão efetiva de con¿namento e (fcd) é a resistência de projeto do concreto não
con¿nado.
Na equação de (İccu) a pressão efetiva é considerada adotando-se um fator de redução de
deformação do FRP, como indicado:
ε
ε =η. ≤ 0,6.ε
fk

γ
fd ,rid a fk
f

6.10 PEÇAS SUBMETIDAS À TRAÇÃO AXIAL PURA


Os sistemas compostos FRP também podem ser utilizados para prover uma resistência
adicional de tração para os elementos de concreto armado.
Devido à natureza linearmente elástica dos materiais dos compostos FRP, a contribuição à
tração dos mesmos está diretamente relacionada com o nível de sua deformação, e deve
ser calculada com a utilização da Lei de Hooke, (ı = E.İ).
O nível de tensão provido pelo FRP é limitado pela resistência de projeto do mesmo e da
capacidade de transmitir tensões através da cola para o substrato do concreto.
A deformação efetiva do FRP pode ser calculada com base nos critérios de¿nidos para o
reforço ao corte, conforme as seguintes equações:
ε fe = 0,004 ≤ 0,75ε fu ĺ para o caso de peças completamente envolvidas.
ε fe = kv .ε fu ≤ 0,004 ĺ para peças com envolvimento em “U” ou em 2 faces.

k1 .k2 .Le
kv = ≤ 0,75 ĺ nessa expressão pode ser considerado (k1 = 1,0)
11900.ε fu
23300
Le =
( nf .tf .Ef )0 ,58
2
⎛ f' ⎞ 3
k1 = ⎜ c ⎟
⎝ 27 ⎠
dfv − Le para envolvimento em “U”
k2 =
dfv

dfv − 2Le para lâminas posicionadas em 2 lados.


k2 =
dfv

Recomenda-se um comprimento mínimo de colagem igual a (2. Le), sendo a expressão que
de¿ne (Le) fornecida acima, para poder ser desenvolvido esse nível de deformação.

277
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

6.11 ARTIFÍCIOS PARA O AUMENTO DA SEÇÃO CONFINADA DE COLUNAS


RETANGULARES OU QUADRADAS
O que se apresenta na sequência deve ser considerado com muita cautela, uma vez que
ainda não existem comprovações experimentais con¿áveis de sua e¿cácia. E o que se
pretende por meio das intervenções mostradas abaixo é aumentar-se a seção con¿nada
de uma coluna pela criação de mais células con¿nadas por estribos.
Na Figura 6.19 observa-se a seção transversal de uma coluna retangular na qual, além do
estribo perimetral, foram colocados dois pares de “ganchos” segundo as direções horizon-
tal e vertical. Esse esquema de armação estabelece uma seção con¿nada que tem como
vértices os encontros dos estribos e ganchos com as barras.
Se forem acrescentados mais três ganchos, subdividindo no sentido vertical as células de-
¿nidas originalmente, em teoria poder-se-ia aumentar a seção con¿nada da coluna, como é
mostrado na Figura 6.20. Esses ganchos permitiriam a criação de novos vértices que des-
locariam a área con¿nada, aumentando a sua superfície. Não é de se esperar aumentos
signi¿cativos da seção de con¿namento da coluna, mas se for possível associar-se esse
aumento com a possibilidade de con¿namento da seção o ganho de resistência pode pas-
sar a ser signi¿cativo, uma vez que a contribuição da resistência à compressão do concreto
é mandatória na determinação da sua capacidade resistente.

Figura 6.20 – Seção conĮnada original de uma coluna retangular.

Figura 6.21 – Seção conĮnada com acréscimo de barras transversais.

278
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

Uma das maneiras com que se pode conseguir essa majoração é a utilização de barras
de FRP inseridas através de furos que atravessam a seção transversal e que, além de
injetados com resina dentro do furo, têm as suas extremidades ancoradas por meio de
tecido Àexível de FRP aderido às suas extremidades em uma conformação denominada
de “vassoura”. Após a ¿xação da barra no furo, o tecido é resinado e dobrado para aderir
à superfície externa da coluna. O detalhe A, mostrado na Figura 6.21 demonstra com é
feita essa ancoragem de extremidade.

Figura 6.22 – Detalhe de ancoragem da barra.

O detalhe construtivo dessa “vassoura” é mostrado na Figura 6.3.

FotograĮa 6.3 – Detalhe da “vassoura”.

279
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A Fotogra¿a 6.4 mostra uma “vassoura” sendo inserida em um furo para depois ter as suas
extremidades viradas sobre a lâmina de tecido que deve ¿xar.

FotograĮa 6.4 – Inserção de uma barra no pilar.

6.12 FOTOGRAFIAS DE CONFINAMENTO DE COLUNAS POR SISTEMAS FRP


São apresentadas algumas aplicações de sistemas FRP no reforço por con¿namento de
pilares e colunas.

FotograĮa 6.5 – ConĮnamento de colunas com FRP para efeitos sísmicos.

280
Capítulo 6 - Reforço de Elementos Submetidos à Compressão Axial

FotograĮa 6.6 – ConĮnamento prevenƟvo com FRP para efeitos sísmicos.

FotograĮa 6.7 – ConĮnamento de colunas com a uƟlização do sistema de envelopamento denominado


Filament Winding.

281
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 6.8 – ConĮnamento de colunas de junta com FRP. Observar que onde passa a mão do operário passa o
tecido de FRP, demonstrando a versaƟlidade de aplicação dos sistemas compostos.

FotograĮa 6.9 – ConĮnamento de colunas com FRP, horizontal e espiral.

282
CAPÍTULO 7

DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO E AO CORTE


UTILIZANDO BARRAS DE FIBRA DE CARBONO COMO
ARMADURA DE TRAÇÃO

7.0 FILOSOFIA DE PROJETO


Os princípios de dimensionamento das estruturas de concreto armadas com barras de ¿bra
de carbono são baseados nos princípios de equilíbrio e compatibilidade e das característi-
cas que regem os materiais construtivos das mesmas.
Segundo o ACI Committee 4401, o critério mais recomendado para o dimensionamento é
o da veri¿cação da resistência para permitir a compatibilização do dimensionamento com
os critérios dos outros documentos relacionados a esse tipo de dimensionamento do ACI.
As recomendações de projeto são baseadas nos princípios do estado limite último, no
qual um elemento de concreto reforçado com barras de ¿bras de carbono é calculado
para a resistência requerida e, posteriormente, o seu comportamento é veri¿cado relati-
vamente à fadiga, à deformação lenta e a outros critérios de funcionabilidade. Conside-
radas outras ¿bras que não as de carbono, tais como as aramidas e de vidro, os critérios
de veri¿cação da fadiga e da deformação lenta costumam prevalecer e serem preponde-
rantes no dimensionamento.

7.1 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS UTILIZADOS


Deverão ser consideradas como as propriedades iniciais dos materiais utilizados nas bar-
ras de FRP, e que ainda não consideram incluídos os efeitos de exposição ao longo do
tempo ao meio ambiente, aquelas fornecidas pelos fabricantes, tais como a resistência
garantida de tração. Como a exposição de longa duração aos vários tipos de agressão
ambiental pode reduzir a resistência à tração, o comportamento à Àuência e fadiga dos
materiais FRP, as propriedades mecânicas fornecidas pelos fabricantes ao seu produto
devem ser reduzidas em função do tipo e do nível de exposição ambiental a que a estrutura
estará submetida.
Assim, as tensões de tração das barras de ¿bra de carbono a serem utilizadas no dimen-
sionamento devem ser determinadas através das seguintes expressões:

1 - “Guide For The Design And ConstrucƟon of Structural Concrete Reinforced With Fiber-Reinforced Polymer (FRP) Bars”
- ACI CommiƩee 440.1R-15.

283
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

ffu = CE .ffu*
onde,
ffu tensão de tração de projeto da ¿bra de carbono.
CE fator de redução devido às ações do meio ambiente, fornecidos na Tabela 7.1 para os
vários tipos de condições de exposição.
ffu* tensão de tração garantida das barras de ¿bra de carbono, de¿nida como a tensão mé-
dia de teste menos três vezes o desvio padrão ( ffu* = ffu,médio − 3 σ ).
A deformação de ruptura para dimensionamento deve ser determinada como:
εfu = CE .ε*fu onde,
εfu deformação de ruptura das barras de ¿bra de carbono.
ε*fu deformação garantida das barras de ¿bra de carbono de¿nida como a tensão média de
teste menos três vezes o desvio padrão ( ε*fu = εfu,médio − 3 σ ) .
Deverá ser utilizado o módulo de elasticidade recomendado pelo fabricante do produto.

7.2 FATOR DE REDUÇÃO AMBIENTAL (CE)


Os coe¿cientes de redução ambiental são estimados conservadoramente em função da du-
rabilidade de cada tipo de ¿bra e baseado no consenso dos integrantes do ACI Committee
440, que incluem inclusive os efeitos de temperatura, embora seja recomendado que as bar-
ras de carbono não devam ser utilizadas em condições ambientais com temperatura superior
à temperatura de transição vítrea (TG ) do material empregado, conforme tabela 7.1.

Coe¿ciente de Redução Ambiental (CE)


Condição de Exposição Tipo de Fibra CE
Carbono 1,0
Concreto não exposto à ter-
Vidro 0,8
ra e meio ambiente
Aramida 0,9
Carbono 0,9
Concreto exposto à terra e
Vidro 0,7
ao meio ambiente
Aramida 0,7
Valores conforme Tabela 6.2 da ACI 440.1R-15

Tabela 7.1 – CoeĮcientes de redução ambiental.

7.3 TENSÃO DE TRAÇÃO NAS BARRAS CURVADAS DE FIBRA DE


CARBONO
A tensão de tração a ser considerada nas barras curvadas de ¿bra de carbono é fornecida
pela seguinte expressão:

284
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

⎛ r ⎞
ffb = ⎜ 0,05. b + 0,3 ⎟ ffu ≤ ffu (a) onde,
⎝ db ⎠

f fb tensão de tração na curvatura da barra de ¿bra de carbono.


rb raio de curvatura da barra.
db diâmetro da barra de ¿bra de carbono.
f fu tensão de tração de projeto da ¿bra de carbono.
A expressão (a) é adaptada da recomendação da Japan Society of Civil Engineers de 1997.
Qualquer alternativa para a redução na resistência à tração das barras curvadas deve ser
substanciada por dados obtidos nas metodologias citadas pelo ACI Committee 440.

7.4 CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS CONSTITUINTES DAS BARRAS DE FRP


As características dos materiais que conformam as barras de FRP devem ser levadas em
consideração quando se for determinar onde e quando o reforço com a utilização desses
materiais for necessário ou aplicável.
Apresenta-se, na sequência, algumas considerações particulares sobre as barras confor-
madas por materiais plásticos.

7.4.1 QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE AS BARRAS DE FRP E AS BARRAS DE AÇO?

– as barras de FRP são linearmente elásticas até a sua ruptura (não tem patamar
de escoamento).
– as barras de FRP são anisotrópicas enquanto as de aço são isotrópicas.
– devido ao seu menor módulo de elasticidade nas barras de FRP, o controle é sem-
pre feito no modo de serviço (e não no estado limite último).
– as barras de FRP têm comportamento de ruptura por Àuência menor do que a do aço.
– diferentemente das barras de aço possuem coe¿cientes de dilatação térmica dife-
rentes nas duas direções (radial e transversal).
– o tempo de resistência ao fogo e elevadas temperaturas das barras de FRP é sen-
sivelmente menor do que o das barras de Aço.
– se ocorrer degradação das barras de FRP, o mecanismo de degradação é benigno
ao concreto envolvente, ao contrário das barras de aço que o expande e causa o
desplacamento do elemento.

7.4.2 POR QUE UTILIZAR BARRAS DE FRP?

– por possuírem tensões de tração superiores às dos aços normalmente utilizados.


– por terem grande resistência à fadiga.
– por não necessitarem de aditivos para a redução da corrosão (não são metálicos).

285
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– por possuírem menor peso especí¿co do que o aço (de 1/4 a 1/5 do peso especí¿co
do aço).
– por permitirem um menor cobrimento de concreto.
– por serem transparentes aos campos magnéticos (mas não às frequências de rádio).
– por que são impermeáveis aos íons de clorido e aos ataques químicos.
– por terem vida útil muito maior do que a do aço em ambientes corrosivos.
– por apresentarem uma maior facilidade de manuseio no campo do que as barras de aço.
– por serem de fácil remoção ou demolição quando utilizadas em estruturas provisórias.

7.4.3 ONDE PODEM SER CONSIDERADAS UTILIZAÇÕES DE BARRAS DE FRP?

– em todo elemento de concreto susceptível à corrosão por íons de clorido ou cor-


rosão química.
– em todo elemento de concreto que exija reforço não ferroso em função de consi-
derações eletromagnéticas.
– como alternativa de custos para barras galvanizadas ou revestidas por epóxi.
– como primeira alternativa para o aço inoxidável.
– em aplicações que requeiram não condutividade térmica.
– em concreto massa exposto a cloretos marinhos ou próximo à exposição de clore-
to e em aplicações híbridas com aço.

Pesos Especí¿cos Típicos das Barras Para Armação (*)

Material Aço GFRP CFRP AFRP


(Vidro) (Carbono) (Aramida)
(g/cm3) 7,90 1,25 – 2,10 1,50 – 1,60 1,25 – 1,40
(*) - Valores conforme Tabela 4.1.1 da ACI 440.1R-15

Tabela 7.2 – Pesos especíĮcos das barras.

Coe¿cientes de Expansão Térmica das Barras Para Armação (**)

Coe¿ciente de Expansão Térmica (x10-6 o/C)


Aço GFRP CFRP AFRP Concreto
Longitudinal (ĮL) 11,7 6,0 a 10,0 -9,0 a 0,0 -6,0 a -2,0 7,2 a 10,8
Transversal (ĮT) 11,7 21,0 a 23,0 74,0 a 104,0 60,0 a 80,0 7,2 a 10,8
(**) - Valores conforme Tabela 4.1.2 da ACI 440.1R-15

Tabela 7.3 – CoeĮcientes de expansão térmica para as barras.

286
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

Propriedades Típicas das Barras Para Armação (***)


São apresentadas as propriedades típicas das barras de FRP com fração de ¿bras por
volume entre 0,5 e 0,7 (50% a 70%).

Aço GFRP CFRP AFRP


Tensão Nominal de Escoamento 276 a 517 ------ ------ ------
(MPa)
Resistência à Tração (MPa) 483 a 1600 483 a 690 600 a 3690 1720 a 2540
Módulo de Elasticidade (GPa) 200 35 a 51 120 a 580 41 a 125
Tensão de Escoamento (%) 0,14 a 0,25 ------ ------ ------
Tensão de Ruptura (%) 6,0 a 12,0 1,2 a 3,1 0,5 a 1,7 1,9 a 4,4
(***) - Valores conforme Tabela 4.2.1 da ACI 440.1R-15

Tabela 7.4 – Propriedades das barras.

7.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO


Normalmente as peças de concreto armado são dimensionadas na condição de subarma-
ção. Essa condição se adota objetivando garantir que o escoamento do aço se manifeste
antes do esmagamento do concreto da seção, permitindo a manutenção da ductilidade da
seção e estabelecendo uma garantia de um aviso que preceda o colapso das mesmas.
Dessa maneira, torna-se necessário um novo enfoque se as seções não forem dimensio-
nadas segundo um critério não dúctil, como seria o caso de dimensionamento na condição
de ruptura frágil.
Caso as barras de ¿bra de carbono se rompam o colapso do elemento é repentino e catas-
tró¿co. Entretanto, mesmo assim ocorre um aviso limitado do colapso iminente na forma de
um extenso ¿ssuramento e deformação (deÀexão) decorrentes do alongamento signi¿cati-
vo que as barras de ¿bra de carbono experimentam antes da sua ruptura. De qualquer ma-
neira, entretanto, das peças armadas com barras de ¿bra de carbono não é de se esperar
o comportamento de ductilidade que se observa nas peças de concreto armado.
O modo mais desejável de falência estrutural nas peças armadas com barras de ¿bra de
carbono é aquele decorrente do esmagamento do concreto. Nessa condição, o elemento
submetido à Àexão pode exibir algum comportamento plástico antes da ruptura.
Segundo a ACI, tanto o processo da ruptura das barras de ¿bras de carbono como o do
esmagamento do concreto são hipóteses aceitáveis para o dimensionamento à Àexão de
peças de concreto reforçadas com barras de ¿bras de carbono desde que estejam atendi-
dos os critérios condicionantes da resistência e de serviço recomendados. Para garantir a
de¿ciência de ductilidade, o elemento deve possuir uma reserva extra de resistência, que,
de modo geral, deverá ser superior àquela tradicionalmente utilizada nas estruturas de
concreto armado convencionais.

287
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Resultados experimentais demonstraram que, quando as barras de ¿bras de carbono se


rompem por tração, a ruptura é repentina e anterior ao colapso do elemento estrutural2.
Uma ruptura progressiva, embora menos catastró¿ca e com um alto fator de deformabili-
dade, foi observada quando os elementos colapsam devido ao esmagamento do concreto.
De maneira geral a utilização de concreto com alta resistência favorece uma melhor utiliza-
ção da característica de alta resistência das barras de ¿bra de carbono, e pode aumentar a
esbeltez da seção rompida, mas a fragilidade do concreto de alta resistência, comparativa-
mente ao concreto de resistência normal, pode reduzir de maneira geral a deformabilidade
do elemento estrutural Àexionado.
Para a determinação da resistência da seção transversal das peças devem ser considera-
das as seguintes condições básicas:
– as deformações no concreto e na barra de ¿bra de carbono são proporcionais à
distância da linha neutra, ou seja, a seção se comporta segundo o critério de Ber-
noulli de que as seções permanecem planas depois de seu carregamento.
– deve ser admitida como deformação máxima no concreto o valor normativo de (ѣc = 0,003).
– a resistência à tração do concreto é desconsiderada.
– o comportamento à tração das barras de ¿bra de carbono é elasticamente linear
até a sua ruptura.
– pressupõe-se uma aderência perfeita entre o concreto e as barras de ¿bra de carbono.

O grá¿co 1 apresenta a relação teórica momento-curvatura para seções de concreto ar-


mado utilizando aço e barras de FRP, (fatores ∅ de 0,9, 0,65 e 0,55, e 0,65 para o aço
na condição de controle da tração, GFRP controlado pela tração e compressão e CFRP
controlado pela compressão, respectivamente).

GráĮco 1 – Relação teórica momento-curvatura.

2 - Nanni 1993, Jaeger et al. 1995, GangaRao e Vijay 1997, Theriault e Benmokrane 1998.

288
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

7.6 DEFINIÇÃO DAS DIMENSÕES INICIAIS DOS ELEMENTOS


As deÀexões nos elementos de concreto armado com barras de FRP tendem a ser maiores
do que aquelas veri¿cadas naqueles armados com barras de aço decorrente do menor mó-
dulo de elasticidade das barras de FRP disponíveis. Por essa razão, os elementos armados
com barras de FRP tendem a ser mais altos do que os correspondentes armados com aço.
A expressão que estabelece uma relação inicial entre o vão do elemento e a sua altura foi
desenvolvida por Ospina, Alexander e Cheng3.

l 48.η ⎛ 1 − k ⎞ ⎛ Δ ⎞
= ⎜ ⎟
h 5.k1 ⎜⎝ εf ⎟⎠ ⎝ l ⎠ max.

‫ܭ‬f deformação de tração da armadura no centro do vão.


h altura da seção transversal do elemento.
k é a profundidade desde o eixo neutro até o centroide da armação no centro do vão.
K coe¿ciente que pode ser assumido entre os valores 0,85 e 0,95.
k1 constante que depende do tipo de carregamento e condições de apoio.

k1 = 1,0 para vigas simplesmente apoiadas com carregamento uniforme.


k1 = 0,8 viga com uma extremidade contínua.
k1 = 0,6 viga com as duas extremidades contínuas.
k1 = 2,4 viga em balanço.
Essa expressão pode ser transformada na Tabela 7.5.
Espessura (altura) mínima recomendada para
lajes armadas em uma direção e vigas
Espessura (altura) mínima, h
Apoio Um lado Dois lados Em
simples contínuo contínuos balanço
Laje em uma direção l/13 l/17 l/22 l/5,5
Vigas l/10 l/12 l/16 l/4

Tabela 7.5 – Alturas mínimas recomendadas.

7.7 RESISTÊNCIA À FLEXÃO


O princípio que determina o dimensionamento à Àexão das estruturas de concreto refor-
çadas com barras de ¿bra de carbono estabelece que a capacidade resistente da seção
supere a solicitação de Àexão

3 - “Reinforced Concrete With FRP Bars – Mechanics and Design” – Antonio Nanni; Antonio de Luca e Hany Jawahari Zadeh.

289
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A capacidade resistente da seção corresponde à capacidade resistente nominal multiplica-


da pelos coe¿cientes de majoração das coações e de minoração dos materiais constituin-
tes da mesma.
O ACI Committee 440 recomenda que a necessidade estrutural de um elemento de concre-
to estruturado com barras de ¿bras de carbono deve ser determinada com a utilização dos
fatores de carga recomendados pelo ACI 318:
∅Mn ≥ Mu , para a qual são adotados os seguintes coe¿cientes de majoração,
para cargas permanentes – 1,20
para cargas acidentais e móveis – 1,60
A resistência nominal à Àexão pode ser determinada baseado na compatibilidade das de-
formações, no equilíbrio interno das forças e no controle do modo de ruptura. Podem ocor-
rer, segundo esses critérios, três tipos distintos de ruptura:
1 – ruptura determinada pelo esmagamento do concreto, conforme mostrado na
Figura 7.1.a.
2 – ruptura determinada em função das condições de equilíbrio, conforme mostrado
na Figura 7.1.b.
3 – ruptura determinada em função do colapso das barras de ¿bra de carbono, caso
em que as tensões de compressão no concreto não são lineares, conforme mos-
trado na Figura 7.1.c.
Então, a capacidade resistente à Àexão depende se a ruptura é determinada pelo esmaga-
mento do concreto ou rompimento das barras de ¿bras de carbono.
O modo de ruptura pode ser determinado através da comparação da proporção entre a
taxa geométrica da armação com ¿bras de carbono com a taxa de¿nida quando o esmaga-
mento do concreto ocorre simultaneamente com o rompimento das barras de ¿bras de car-
bono. Uma vez que a ¿bra de carbono não escoa, essa última taxa é de¿nida utilizando-se
a resistência à tração de projeto. A taxa geométrica de armação com a utilização de barras
de ¿bras de carbono pode ser determinada a partir da seguinte equação:
Af
ρf =
b.d

A relação correspondente à simultaneidade de ocorrência do esmagamento do concreto e


do rompimento da ¿bra de carbono é fornecida pela equação:

fc' Ef .εcu
ρfb = 0,85.β1 . .
ffu Ef .εcu + ffu

Se tivermos ( ρf < ρfb ) o modo de ruptura baseado no rompimento das ¿bras de carbono
ocorrerá. Entretanto, se tivermos ( ρf > ρfb ) o modo de ruptura será devido ao esmagamento
do concreto.

290
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

Figura 7.1 – Tipos possíveis de ruptura da seção.

291
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

7.7.1 CAPACIDADE NOMINAL À FLEXÃO

Quando ( ρf > ρfb ) a ruptura do elemento resistente se dá pelo esmagamento do concreto e


a distribuição das tensões de compressão no concreto pode ser considerada como sendo
o bloco retangular de tensões de¿nido pela ACI. Assim, baseado no equilíbrio das forças e
na compatibilidade das deformações temos o seguinte:
⎛ a⎞
Mn = Af .ff ⎜ d − ⎟ (a)
⎝ 2⎠
Af .ff
a= (b)
0,85.fc' .b
β1 .d − a
ff = Ef .εcu . (c)
a

Substituindo “a” da equação (b) na equação (c) e resolvendo para ( ff ), temos:


⎛ ( E .ε )2 0,85.β .f ' ⎞
ff = ⎜ f cu
+ 1 c
− 0,5.Ef . εcu ⎟ ≤ ffu (d)
⎜⎝ 4 ρf ⎟⎠

A resistência nominal à Àexão pode ser determinada a partir das equações (a), (b) e (d). A
armação com as barras de ¿bras de carbono é considerada elasticamente linear no modo de
ruptura baseado no esmagamento do concreto, assim o nível de tensões na ¿bra de carbono
pode ser determinado pela equação (d), desde que ela seja menor que ( ffu ). Alternativa-
mente, a capacidade nominal à Àexão pode ser expressa nos termos da taxa geométrica da
armadura de ¿bra de carbono como dado na equação (e), para substituir a equação (a).

⎛ ρ .f ⎞ (e)
Mn = ρf .ff ⎜1 − 0,59. f ' f ⎟ b.d 2
⎝ fc ⎠
Quando ( ρf < ρfb ) , a ruptura da peça é iniciada pela ruptura das barras de ¿bra de carbono,
e o bloco retangular de tensões de compressão no concreto não é aplicável, porque a de-
formação máxima de 0,003 no concreto pode não ser alcançada. A resistência nominal de
Àexão, neste caso, pode ser calculada através da seguinte expressão:
⎛ β .c ⎞
Mn = Af .ffu ⎜ d − 1 ⎟
⎝ 2 ⎠

Nesse caso, um bloco equivalente de tensões deve ser utilizado para aproximar a distri-
buição das tensões de compressão no concreto ao nível particular de deformação atingi-
do. Essa análise incorpora dois fatores desconhecidos: a deformação por compressão no
concreto na ruptura,ѣc, e a profundidade da linha neutra, c. Adicionalmente, os fatores α1
e ȕ1 do bloco retangular de tensões são desconhecidos. O fator α1 de¿ne a relação entre
a tensão média de compressão do concreto com a resistência do concreto. O fator ȕ1 é a
relação entre a profundidade equivalente do bloco de tensões relativas à profundidade da
linha neutra. A análise envolvendo todos esses fatores é bastante complexa. A capacidade
à Àexão pode ser considerada segundo a equação (f):
⎛ β .c ⎞ (f)
Mn = Af .ffu ⎜ d − 1 b ⎟
⎝ 2 ⎠
⎛ εcu ⎞ (g)
cb = ⎜ d
⎝ εcu + εfu ⎟⎠

292
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

Para uma dada seção, o produto (ȕ1.cb) da equação (f) varia de acordo com as propriedades
dos materiais e da taxa geométrica de armação com as ¿bras de carbono. O valor máximo de
desse produto é igual a (ȕ1.cb) e é atingido quando a deformação do concreto atingir 0,003.
Uma maneira simpli¿cada e conservadora de se calcular a capacidade nominal à Àexão de
um elemento pode ser fornecida pelas equações (b) e (c).

⎛ β .c ⎞ (h),
Mn = 0,8.Af .ffu ⎜ d − 1 b ⎟
⎝ 2 ⎠
utilizando-se para a determinação do valor de (cb) a equação (g).
O valor 0,8 da equação (h), segundo o ACI Committee 440, é um coe¿ciente de redução con-
servador e que não compromete signi¿cativamente o valor aproximado do momento nominal.

7.7.2 FATOR DE REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA À FLEXÃO

Devido ao fato de que os elementos dimensionados com barras de ¿bra de carbono não apre-
sentarem um comportamento dúctil, um fator conservativo de redução da resistência à Àexão
deve ser considerado de modo a se garantir uma adequada reserva de resistência à mesma.
Teoricamente, o processo de ruptura decorrente do esmagamento por compressão do con-
creto é facilmente determinado por meio de cálculos. Contudo, na prática, isso nem sempre
é con¿rmado. Se, por exemplo, a resistência do concreto à compressão for maior do que
aquela especi¿cada em projeto o colapso do elemento pode passara a ser através da rup-
tura da ¿bra de carbono e não mais pelo esmagamento por compressão do concreto.
Baseado nas recomendações da ACI 318, o fator ( ∅ ) para o projeto de uma seção con-
trolada pela compressão tem valor 0,65, objetivando um índice de con¿abilidade entre
3 e 4. Uma análise de con¿abilidade em vigas reforçadas à Àexão com FRP utilizando a
combinação de carregamento 2 da ACI para uma relação (carga acidental / carga perma-
nente) entre 1 e 3 con¿rma índices con¿áveis entre 3,5 e 4 quando o fator ( ∅ ), para uma
seção controlada pela compressão, é assumido como sendo 0,65, e, para uma seção
controlada pela tração é assumido como sendo 0,55.
Por essa razão e de maneira a permitir o estabelecimento de uma transição segura
entre esses eventos de¿nidos por dois valores distintos de ( ∅ ), o controle do modo de
ruptura da seção por esmagamento do concreto à compressão é de¿nido como o de
uma seção para a qual se tem:

ρf ≥ 1,4.ρfb

Para o caso em que o modo de ruptura é controlado pela tração é de¿nido como o de uma
seção para a qual se tem:

( ρf < ρfb )

293
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 7.2 – Fator de redução da resistência como função da relação de armação.

O fator de redução da resistência é calculado pelas seguintes equações4:


∅ = 0,55 para ρf ≤ ρfb ρf
∅ = 0,3 + 0,25. para ρfb < ρf < 1,4 ρfb
ρfb
∅ = 0,65 para ρf ≥ 1,4 ρfb

Essas equações podem ser de¿nidas gra¿camente pela Figura 7.2

7.7.3 ARMAÇÃO MÍNIMA PARA DIMENSIONAMENTO COM BARRAS DE FRP


Se o modo de ruptura de¿nido for o devido ao colapso da ¿bra de carbono temos:
ρf ≤ ρfb
Deve ser prevista uma taxa mínima de armação com barras de ¿bra de carbono para que
a ruptura ocorra após o ¿ssuramento do concreto, ou seja,
∅.Mn ≥ Mcr onde,
Mcr momento Àetor que produz o ¿ssuramento
Segundo as recomendações das normas brasileiras, o momento de ¿ssuração (Mcr) é for-
necido pela expressão:
ftk .b.h2
Mcr =
4
De acordo com as recomendações da ACI 440.1R-15, o momento (Mcr) é fornecido pela
seguinte expressão:
0,62.λ. fc' onde,
Mcr = . Ig
yt
yt – distância entre o centroide da seção bruta, desprezando-se a armadura, até a face tracionada.
λ – fator de modi¿cação que reÀete a redução das propriedades mecânicas do concreto
leve. No caso do concreto convencional assume valor 1,0.

4 - Equação 7.2.3 da ACI 440.1R-15.

294
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

O momento (Mcr) é, portanto, teoricamente, o momento Àetor para o qual deve aparecer a
primeira ¿ssura no concreto.
A taxa mínima de armadura com barras de FRP é obtida a partir da seguinte expressão:

0,41. fc' 2,3


Af ,min. = .bw .d ≥ .bw .d
ffu ffu

7.7.4 FISSURAÇÃO

As barras de ¿bra de carbono não sofrem corrosão. Assim, as veri¿cações que normalmen-
te se fazem para limitar a abertura das ¿ssuras nas estruturas de concreto armadas com
barras de aço são desnecessárias nas estruturas armadas com barras de ¿bra de carbono.
Se, entretanto, armaduras de aço forem utilizadas conjuntamente com barras de ¿bra de
carbono as recomendações e limitações relativamente à ¿ssuração devem ser mantidas. A
abertura das ¿ssuras pode ser calculada de acordo com a seguinte equação5:
2,2 sendo,
w= .β.kb .ff .3 dc .A
Ef

ff e Ef em (MPa)
dc em (mm)
A em (mm2)
O termo (kb) é um coe¿ciente que leva em consideração o grau de aderência entre a bar-
ra de ¿bra de carbono e o concreto circundante. Para as barras de ¿bra de carbono com
comportamento de aderência semelhante ao das barras de aço, esse coe¿ciente pode ser
considerado com valor 1,00.
Para as barras de ¿bra de carbono com aderência inferior ao das barras de aço e para
barras de ¿bra de carbono com aderência superior à do aço o valor de (kb) é inferior a 1,00.
Os valores de¿nitivos ainda não estão perfeitamente estabelecidos para todas as barras
de carbono atualmente com produção comercial. Quando o coe¿ciente não for conhecido
o ACI 440H (8.3.1) recomenda a utilização do valor 1,26.

7.7.5 MOMENTO DE INÉRCIA EFETIVA

Quando a seção não se encontra ¿ssurada o seu momento de inércia é o momento de


inércia da seção total. Para a seção retangular temos:
bw .h3
I=
12

Quando o momento aplicado (Ma) excede o momento de ¿ssuração da seção (Mcr) as ¿s-
suras ocorrem e produzem a redução do momento de inércia da seção, que passa então a
ser calculada a partir do seu momento de inércia ¿ssurado, Icr.

5 - ACI CommiƩee 440H – 8.3.1.


6 - Testes executados com três Ɵpos diferentes de barras de Įbra de carbono apresentaram resultados 0,71;1,00;1,83.

295
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Esse momento de inércia da seção ¿ssurada tem que ser calculado com a utilização de
análise elástica.
Segundo as recomendações da norma brasileira o momento de inércia ¿ssurado é calcu-
lado no Estádio II de solicitações.

Figura 7.3 – Determinação da inércia Įssurada.

Apresenta-se, na sequência, uma sistemática que permite a determinação desse momen-


to, particularmente para o caso de seções retangulares, em “T” e em “L”.
Para ambos os casos foi considerado o caso em que a seção esteja apenas parcialmente
ativa quando submetida à Àexão simples ou composta de grande excentricidade, uma vez
que quando a seção estiver inteiramente comprimida a avaliação do momento de inércia
se faz segundo os conceitos tradicionais da resistência dos materiais.
Para o caso de seções em “T” ou em “L” temos, conforme Figura 7.3.
A equação de equilíbrio da seção é dada por:
⎡ N h2 ⎤
bw .x''2 + ⎢αe .As + α'e .As' − + (bf − bw ) . f ⎥ = 0 (1)
⎣ σc 2 ⎦
Es
onde αe = e α'e = αe -1
Ec

que, resolvida, fornece os seguintes valores:


x'' = − A + A2 + B onde,

1 ⎡ N ⎤
A= ⎢α e .As + α s .As − + ( bf − bw )hf ⎥
' '

bw ⎣ σc ⎦

2 ⎡ ' ' ⎛ bf − bw ⎞ 2⎤
B=
bw ⎢αe .d.As + αe .As + ⎜⎝ 2 ⎟⎠ hf ⎥
⎣ ⎦ que resultam em,

Mn .x''
σc = (2) onde,
In

(
Mn = M + N x'' − d g )
296
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

O momento ¿ssurado em relação à linha neutra da seção é fornecido pela seguinte expressão:
1⎡
( ) (
⎤ + α .A (d − x )2 + α' .A' x − d '
)
3 2
In = bf .x''3 − (bf − bw ) x'' − hf
3 ⎢⎣ ⎥⎦ e s '' e s ''

Se quisermos trabalhar com o momento de inércia ¿ssurada referenciado ao centro de


gravidade da seção a expressão anterior pode ser escrita da seguinte maneira:
In
I0 =
N (3)
1+ (
x − dg
M ''
)
Para o caso da Àexão simples, temos:
I0 = In

Observa-se que (x”) é função de (ıc) e vice-versa. Assim no caso da Àexão normal com-
posta, em que (N  0), o valor do momento de inércia ¿ssurado será obtido por processo
iterativo, da seguinte maneira:
1 – arbitra-se um valor inicial qualquer para (ıc), por exemplo o próprio valor de fck.
2 – calculam-se os valores de (x”) e (I0) com a utilização das fórmulas (1) e (3).
3 – calcula-se o valor de (ıc) por intermédio da equação (2).
4 – se esse valor não for igual ao valor inicialmente arbitrado para (ıc) arbitra-se
um novo valor para o mesmo e volta-se novamente à etapa 2.
5 – quando ocorrer a igualdade entre o valor arbitrado e o encontrado o problema
estará resolvido, ou seja, determinado o valor de (I0).
As fórmulas utilizadas para as seções “T” ou “L” são também válidas para as seções retan-
gulares desde que se faça (bf = bw).
Para se passar à Àexão simples basta que se eliminem os termos que contêm (N), deixando en-
tão de ser necessário o processo iterativo, determinando-se diretamente os valores de (x”) e (I0).
Quando se tem uma seção retangular submetida à Àexão simples, o caso mais comum
encontrado, as expressões ¿cam reduzidas a:
x'' = − A + A2 + B
1
A=
bw
(
αe .As + α's .As' )
B=
2
bw
(
d.αe .As + d ' .α'e .As' )
bw .x''3
( )
2
+ αe .As . (d − x'' ) + α'e .As' . x'' − d '
2
I0 =
3

O ACI7 recomenda para a avaliação do momento de inércia ¿ssurada a equação:


b.d 3 3 onde,
.k + nf .Af .d 2 .(1 − k )
2
Icr =
3

k = 2.ρf .nf + (ρf .nf )


2
sendo,
nf relação entre os módulos de elasticidade das barras de ¿bra de carbono e do concreto utilizado.

7 - ACI 440H – 8.3.2.2.

297
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

As peças submetidas à ¿ssuração, de modo geral em serviço, apresentam momentos de


inércia ¿ssurados que variam entre os valores limites (Ec e Ig) e (Ec e Icr) em função do valor
do momento Àetor a que estão submetidas.
A ACI 318 recomenda a seguinte expressão8 para de¿nir o momento de inércia efetivo de
peças armadas com barras de aço:

⎛ Mcr ⎞
3 ⎡ ⎛ M ⎞3 ⎤
Ie = ⎜ .Ig + ⎢1 − ⎜ cr ⎟ ⎥ Icr ≤ Ig onde (Ma) é o momento aplicado na peça.
⎝ Ma ⎟⎠ ⎢⎣ ⎝ Ma ⎠ ⎥⎦

Como as barras de ¿bras de carbono exibem um comportamento linear tensão/deformação até


a ruptura essa expressão está muito próxima da necessária ao dimensionamento especí¿co
com FRP. Pesquisas, entretanto, demonstraram que para se levar em conta um módulo de
elasticidade inferior ao do aço para as barras de ¿bra de carbono e o comportamento diferen-
ciado de colagem das mesmas seria necessária uma modi¿cação daquela expressão para a
avaliação do momento de inércia efetivo. O ACI 440H recomenda a seguinte expressão:
Icr
Ic = 2
≤ Ig
⎛M ⎞ ⎡ I ⎤
1 − γ . ⎜ cr ⎟ . ⎢1 − cr ⎥
⎝ Ma ⎠ ⎢⎣ Ig ⎥⎦
⎛ Mcr ⎞
γ = 1,72 − 0,72. ⎜
⎝ Ma ⎟⎠

Essa expressão do momento de inércia só poderá ser utilizada para a condição em que se
tenha (Ma > Mcr).

7.8 CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS


Tendo em vista as peculiaridades do dimensionamento de estruturas de concreto com utili-
zação de barras de FRP como armação as considerações seguintes são muito importantes
e devem ser obedecidas à risca.

7.8.1 REFORÇO À COMPRESSÃO COM BARRAS DE FRP


As barras de FRP tem uma resistência signi¿cativamente baixa à compressão, contraria-
mente à sua resistência à tração, sendo a mesma sujeita a uma grande variação em seu
valor. Entretanto, muitas vezes não se pode evitar a colocação de barras de FRP nessas
regiões, como no caso dos apoios das vigas contínuas ou em casos de barras porta-estri-
bos. Nestas situações, o con¿namento deve ser considerado para as barras de FRP em
regiões de compressão para prevenir suas instabilidade e minimizar o efeito da expansão
transversal relativamente elevada de certos tipos de barras de FRP.
O reforço transversal, em forma de tirantes ou estribos, deve ter um espaçamento menor
do que a dimensão da menor seção transversal ou 16 vezes o diâmetro das barras longitu-
dinais ou 48 vezes o diâmetro das barras dos estribos.

8 - Equação de Branson.

298
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

Em seu livro, Antônio Nanni9, apresenta os seguintes comentários com relação a esse as-
sunto: “diferentemente do reforço à Àexão com barras de aço, a contribuição das barras de
FRP em compressão não aumenta a resistência e nem reduz os efeitos da Àuência devido
à sua limitada resistência à compressão e baixo módulo de elasticidade. Por essa razão,
a ACI 440.1R.06 não recomenda con¿ar nas barras de FRP sob compressão nesses ele-
mentos, mas permite o seu uso para montagens das armaduras”.
Mais ainda, em seu Capítulo 5, o autor considera que, no projeto de colunas submetidas
à Àexo-compressão, a metodologia adotada parte da presunção de que as barras de FRP
comprimidas possam ser substituídas por uma área equivalente de concreto, como se as
barras de FRP não estivessem presentes na seção.

7.8.2 REDISTRIBUIÇÃO DOS MOMENTOS


É importante destacar que em estruturas armadas com barras de FRP não são formadas
rótulas plásticas tendo em vista o comportamento (tensão/deformação) linear até a ruptura.
Dessa forma, redistribuição de momentos em vigas contínuas considerando a plasti¿cação
dos nós não deve ser praticada em estruturas de concreto armadas com barras de FRP.

7.8.3 MÚLTIPLAS CAMADAS E COMBINAÇÕES DE DIFERENTES TIPOS DE BARRAS DE FRP


Na seção controlada pela tração, toda a armadura de aço está presumidamente escoada
quando da ruptura, quando se utiliza o método da resistência para o cálculo a resistência
nominal à Àexão do elemento com o aço disposto em múltiplas camadas. Nessa situação,
a força de tração está supostamente localizada no centro de gravidade da armação, com
valor resultante igual à área da seção transversal da armadura multiplicada pela tensão de
escoamento do aço. Como as barras de FRP não têm região plástica, a tensão em cada
camada de barras terá valor diferente, dependendo de sua distância até o eixo neutro da
seção. Dessa forma, a tensão na camada mais distante do eixo neutro deverá ser utilizada
para se determinar se a seção está sendo controlada pela tração ou pela compressão. A
avaliação da capacidade estrutural à Àexão da seção deverá ser obtida a partir da propor-
cionalidade linear entre as diversas deformações das camadas. Se forem utilizados dife-
rentes tipos de barras de FRP no reforço de um mesmo elemento, as variações nos níveis
de tensão nas diferentes camadas dos diferentes materiais deverão ser levadas em conta
para a avaliação da capacidade estrutural de Àexão.

Figura 7.4 – Capacidade à Ňexão com múlƟplas camadas de barras FRP.

9 - Reinforced Concrete With FRP Bars – Mechanics and Design” – Antonio Nanni; Antonio de Luca e Hany Jawaheri Zadeh.

299
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A maneira de se avaliar a capacidade resistente à Àexão de um elemento armado com


barras de FRP é apresentada por Antonio Nanni10.
Considera-se que todas as barras das diferentes camadas sejam feitas do mesmo material
e tenham o mesmo diâmetro, de tal forma que o modo de ruptura do sistema seja controlado
pela barra situada no ponto mais afastado da ¿bra mais comprimida, (Af,1) na Figura 7.4.
Admitindo-se que (c > cb), ou seja, a ¿bra extrema à compressão atingiu a deformação
( εc = εcu ) a deformação na camada (i), onde (cb) é a distância da ¿bra extrema mais compri-
mida até a linha neutra na condição do equilíbrio das deformações, terá o seguinte valor:
di − c
εf ,i = .εcu < εfu
c
C = α1 .fc' .β1 .c.b
Tf = Σ in=1Tf ,1= Σ in=1 Af ,i .ε f ,i .Ef

Admitindo-se que a ruptura do FRP seja controlada pela relação (c > cb) isto signi¿ca que a
¿bra extrema mais comprimida atingiu uma deformação ( εc < εcu ) enquanto as barras da
camada situada à maior distância da ¿bra comprimida alcança a deformação (εf ,i = εfd ) . A
deformação no concreto e em cada camada de armação com FRP será assim determinada:
c
εc = .εfu < εcu
d1 − c
di − c
εf ,i = .εfu ≤ εfd
d1 − c

Tf = Σ in=1Tf ,1= Σ in=1 Af ,i .ε f ,i .Ef

Uma vez atingida a condição de equilíbrio (por iteração, variando-se o valor de c), quando
se tem (Tf - C = 0), a capacidade resistente da seção à Àexão será dada por:
n
⎛ β .c ⎞
Mn = ∑Af ,i .εf ,i .Ef . ⎜ d i − 1 ⎟
i =1
⎝ 2 ⎠

7.9 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO


Quando se utilizam barras de ¿bra de carbono para absorver os esforços de cisalhamento
devem ser levados em consideração os seguintes fatores:
– as barras de ¿bra de carbono têm um módulo de elasticidade de valor relativa-
mente baixo.
– as barras de ¿bra de carbono possuem elevada resistência à tração e não apre-
sentam patamar de escoamento em seu diagrama tensão/deformação.
– a resistência à tração na parte curvada (ou dobrada) de uma barra de ¿bra de car-
bono é signi¿cativamente menor do que a no seu trecho reto.
– as barras de ¿bras de carbono têm uma baixa resistência ao corte puro, não fun-
cionando bem como conectores.

10 - “Reinforced Concrete With FRP Bars – Mechanics and Design” – Antonio Nanni; Antonio de Luca e Hany Jawaheri Zadeh.

300
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

O dimensionamento ao cisalhamento com a utilização de barras de ¿bra de carbono é ba-


seado no método de veri¿cação da resistência. De acordo com a ACI 318 temos:
Vn = Vc + Vs, onde
Vc resistência do concreto ao cisalhamento
Vs resistência dos estribos de aço ao cisalhamento
Comparativamente a uma seção de concreto armado convencional com idêntica capacida-
de à Àexão de uma seção armada com barras de ¿bra de carbono a seção transversal ¿s-
surada dessa última terá sua linha neutra com profundidade menor do que a outra, função
do menor módulo de elasticidade das barras de ¿bra de carbono. A região mais comprimida
da seção transversal é menor e as ¿ssuras possuem maior abertura. Como resultado, a
resistência ¿nal produzida conjuntamente pela coesão interna entre os agregados e a parte
comprimida do concreto Vc é menor do que para a peça convencional de concreto armado.
A ACI 440 recomenda que se considere essa resistência segundo a expressão abaixo:
2 '
Vc = . fc .bw .( kd ) (a), onde o parâmetro (k) pode ser assim avaliado:
5

k = 2.ρf .nf + (ρf .nf ) − ρf .nf


2

A equação (a) pode ser reescrita conforme mostrado em (b). A equação, nessa forma, mostra
que é a mesma equação indicada na ACI 318 para armaduras de aço com o valor de (Vc) alte-
rado pelo fator ⎛⎜ 5 k ⎞⎟ , que leva em consideração a pouca rijeza do reforço com FRP.
⎝2 ⎠

⎛5 ⎞
Vc = ⎜ k ⎟ .2. fc' .bw .d (b) ĺ válida apenas para o sistema americano de unidades.
⎝2 ⎠

A metodologia utilizada pela ACI 318 para o cálculo da contribuição dos estribos de aço
para a resistência ao corte é aplicável quando da utilização de sistemas FRP como resis-
tentes ao corte. A resistência provida pelo sistema FRP é assim avaliada:
A .f .d
Vf = fv fv
s

O nível de tensão no reforço de FRP deve ser limitado para que ocorra o controle de aber-
tura de ¿ssuras e conservar a integridade da seção para evitar-se a ruptura da parte Àexio-
nada da seção. Dessa forma, o valor máximo de (f fv) é assim de¿nido:
ffv = 0,004.Ef ≤ ffb

Quando se estiver utilizando o reforço ao corte perpendicularmente ao eixo longitudinal


do elemento, a área e o espaçamento dos mesmos pode ser de¿nido a partir da seguinte
equação:
Afv (Vu − ∅.Vc )
=
s ∅.ffv .d

Quando se utilizam estribos inclinados para o corte a equação a ser utilizada é a seguinte:
Afv .ffv .d
Vf = (senθ + cosθ )
s

301
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Finalmente, no caso de utilização de estribos desenvolvidos em espiral tem-se:


Afv .ffv .d
Vf = (senθ ) onde,
s
s é o passo da espiral.
‫ ׺‬é o ângulo de inclinação da espiral.

7.9.1 ARMADURA MÍNIMA AO CISALHAMENTO


∅ .Vc
A ACI 318 estabelece uma armadura mínima para o cisalhamento quando o valor (Vu > ).
2
Essa exigência é para se prevenir e restringir a ruptura por cisalhamento em peças onde uma
formação prematura ou repentina pode conduzir a um estado preocupante relativamente à
segurança da peça.
Para se prevenir quanto à possibilidade de uma ruptura frágil por cisalhamento uma re-
serva de resistência deve ser garantida para que se tenha um coe¿ciente de segurança
similar ao recomendado pelo ACI 318 para as peças reforçadas com aço (concreto armado
convencional).
A ACI 440.1R-15 recomenda que seja utilizada a seguinte expressão para a determinação
da armadura mínima ao cisalhamento:
bw .s
Afv ,min. = 0,35.
ffv

Essa quantidade mínima de armação independe da resistência do concreto. Segundo as


recomendações das normas brasileiras a seção transversal dos estribos não deve ser
menor que 0,25% de ( bw .s.senα ) para aços CA-25 e CA-32 ou 0,14% para aços CA-40,
CA-50 e CA-60, não se tomando para (bw) valores maiores que (d).

7.9.2 DETALHAMENTO DOS ESTRIBOS DE BARRAS DE FIBRA DE CARBONO

O espaçamento máximo dos estribos é considerado conforme recomendado na ACI 318,


devendo ser menor que (d/2) ou 60 cm (24”). Esse limite garante que cada ¿ssura de cisa-
lhamento será interceptada por pelo menos um estribo.

Figura 7.5 – Comprimento de aderência do estribo.

302
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

As recomendações usuais de ancoragem e aderência das barras de aço através de gan-


chos ou dobras não podem ser aplicadas diretamente às barras de ¿bra de carbono por
causa de suas diferentes propriedades mecânicas. A força de tração na perna vertical de
um estribo é transferida ao concreto através do trecho reto situado após a dobra do estribo,
como mostrado na Figura 7.5.
A recomendação da ACI 440 é que se considere um comprimento de ancoragem do estribo
de (lthf • 12.db) para que não ocorra deslizamento (escorregamento) signi¿cativo e para que
não seja exercida nenhuma inÀuência na resistência à tração da perna do estribo.

7.9.3 COMPORTAMENTO AO CISALHAMENTO

A maior parte das barras compostas, inclusive as de ¿bra de carbono, é relativamente fraca
quando se considera o cisalhamento interlaminar, onde camadas de resina não reforçada
se alternam com camadas de ¿bras. Devido ao fato de usualmente não existir armação (re-
forço) atravessando as camadas a resistência interlaminar ao cisalhamento é governada
pela matriz polimérica, que geralmente não resiste bem a esse tipo de esforço.
A orientação das ¿bras em direções diferentes da direção axial através das diversas ca-
madas de ¿bras aumenta a resistência ao cortante, dependendo diretamente da distância
entre as camadas inclinadas.
Para as barras de ¿bra de carbono isso pode ser conseguido trançando as ¿bras ou crian-
do uma borda espiralada transversalmente à orientação principal das ¿bras.
Se for necessário o conhecimento das características mecânicas das barras de ¿bra de
carbono especi¿camente ao cisalhamento essas propriedades deverão ser fornecidas pelo
fabricante, que deverá fornecer uma descrição do método utilizado para o teste através do
qual foram estabelecidos os valores recomendados.

7.10 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM DAS BARRAS RETAS


As condições de equilíbrio para uma barra de ¿bra de carbono com um comprimento igual
ao comprimento necessário de ancoragem são indicadas na sequência.

7.10.1 DESENVOLVIMENTO DAS TENSÕES EM UMA BARRA RETA

A Figura 7.6 mostra as condições de equilíbrio de uma barra de FRP com comprimento (lbf)
envolvida por concreto.

Figura 7.6 – Comprimento de ancoragem reto.

303
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A força na barra é resistida por uma tensão média de aderência (ȝ) atuando na superfície
da barra. Dessa forma, a equação de equilíbrio dos esforços pode ser assim escrita:
le .π .d b .μ = Af ,bar .ff onde,
f f é a tensão desenvolvida na barra de FRP no ¿nal do comprimento de ancoragem.

Uma regressão linear da média normatizada dos parâmetros (tensão de aderência vs co-
brimento vs comprimento de aderência) resulta na seguinte correlação:
μ C d
= 4,0 + 0,3. + 100. b onde,
0,083. fc' db le

C é o menor cobrimento em relação ao centro da barra (dc ou dc,lat) ou a metade, conside-


rada de centro a centro, do espaçamento entre as barras analisadas.
A ACI 440.1R-15 recomenda em sua expressão (10.1c) a seguinte expressão para a ten-
são desenvolvida nas barras retas:
0,083. fc' ⎛ l C le ⎞
ffe = ⎜13,6. e + . + 340 ⎟ ≤ ffu
α ⎝ db db db ⎠
C
não deve ser considerado >3,5.
db

α fator que leva em consideração a locação da barra, variando de 1,0 a 1,5 (ver comen-
tário abaixo).
No seu item 10.1.1, a ACI 440.1R-15 diz que de modo geral, o fator de localização das
barras ( α ) deve ser considerado como 1,0. Entretanto, considerando-se a coleta de dados
feita por Wambeke & Shield em 2006, incluindo 15 testes que incluíam barras com compri-
mentos aderidos maiores que (16.db) que resultaram em ruptura por colagem (aderência),
recomenda-se considerar o valor ( α =1,5).

7.10.2 COMPRIMENTO DE ADERÊNCIA PARA BARRA CURVADAS

Existe uma experiência muito limitada em relação ao comportamento de barras curvadas


de FRP envolvidas por concreto. Acresce a essa falta de dados a constatação de que as
considerações da ACI 318 não se aplicam às barras de FRP devido às diferenças das ca-
racterísticas dos materiais.
Dessa forma, as indicações seguintes não devem ser consideradas de¿nitivas e consolida-
das, devendo ser, sempre, objeto de pesquisa sobre as últimas avaliações consideradas.
Para uma barra de FRP curvada a 90o é proposto o seguinte comprimento de aderência (lbhf)11:

db
l bhf = k4 .
fc'

11 - O “h” da expressão se refere a “hooked” (gancho, dobra).

304
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

O fator (k4) depende de uma série de variáveis para ser de¿nido, tais como cobrimento,
variação do nível de tensões das barras, etc. Para levar em consideração a falta de dados
experimentais, a ACI 440 utiliza a seguinte expressão para calcular o comprimento der
aderência das barras curvadas de FRP, sendo as unidades consideradas (mm) e (MPa).
d
l bhf = 165. b para ffu ≤ 520 MPa
fc'
ffu d b
l bhf = . para 520 < ffu < 1040 MPa
3,1 f '
c

db
l bhf = 330. para ffu ≥ 1040 MPa
fc'

Os valores calculados utilizando as expressões acima não podem ser inferiores a (12.db)
ou 230 mm (9”).

7.11 EFEITO DE CARGAS TÉRMICAS NO COBRIMENTO DE CONCRETO DE


ESTRUTURAS REFORÇADAS COM BARRAS DE FRP
Tudo indica que a utilização de barras de FRP como armaduras em elementos estruturais de
concreto possa vir a ser uma solução efetiva para os problemas de durabilidade inerentes às es-
truturas tradicionais de concreto armado com aços, decorrentes fundamentalmente da corrosão
das barras da armadura. Por isso, a substituição das barras de aço por barras de armadura não
metálicas está, cada vez mais, ganhando popularidade junto aos projetistas de todo o mundo.
As barras unidirecionais de ¿bras de carbono utilizadas correntemente como armaduras
para estruturas de concreto têm um comportamento anisotrópico. Como consequência
dessa característica os coe¿cientes de dilatação térmica segundo as direções longitudinais
e transversais são bastante diferentes.
Particularmente, o coe¿ciente de dilatação térmica na direção longitudinal, controlado pe-
las ¿bras de carbono, é baixo, podendo inclusive ser negativo, enquanto que o coe¿ciente
de dilatação térmica na direção transversal, controlado pela resina, é cerca de 3 a 6 vezes
maior do que o do concreto.
Como resultado desse fato um aumento uniforme de temperatura produz tensões devidas
à expansão da barra no concreto que pode produzir ¿ssuras de fendilhamento no cobri-
mento. Esse fenômeno conduz a uma degradação da aderência entre o concreto e a arma-
dura, afetando a resposta estrutural do sistema.
Um recente estudo publicado no ACI Materials Journal sob o título “Effects of Thermal
Loads on Concrete Cover of Fiber Reinforced Polymer Reinforced Elements: Theoretical
and Experimental Analysis”12 apresenta um modelo analítico desse fenômeno onde um
estudo dos efeitos térmicos é avaliado considerando o concreto envolvendo a barra de ¿bra
de carbono como um tubo de parede ¿na. Relações analíticas são determinadas levando-se
em consideração diferentes estados de tensões. Transcrevemos, na sequência, as principais
considerações e conclusões desse trabalho, com o objetivo principal de alertar os projetistas
de estruturas sobre a ocorrência das manifestações estudadas e as formulações propostas
para permitir a absorção desses efeitos quando do dimensionamento das peças.

12 - Maria A. Aiello, Francesco Focacci e Antonio Nanni – ACI Materials Journal/July-August 2001.

305
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

São considerados dois estados distintos de solicitação: o primeiro correspondendo ao con-


creto não ¿ssurado submetido a uma temperatura superior a ( ΔTcr ) que produz a primei-
ra ¿ssura radial e o segundo correspondendo ao concreto ¿ssurado a uma temperatura
superior a ( ΔTsp ) que produz a fragmentação do cobrimento do concreto. Além disso, o
estudo permite a determinação dos carregamentos térmicos ( ΔTcr ) e ( ΔTsp ) para uma dada
propriedade geométrica e características térmicas de¿nidas. Os resultados teóricos foram
comparados aos resultados obtidos na investigação experimental e permitiram o estabe-
lecimento de relações entre a carga térmica atuante e o valor mínimo de cobrimento de
concreto requerido para a absorção do efeito.
O efeito da carga térmica no cobrimento do concreto foi determinado com base nas seguin-
tes suposições:
– as barras de ¿bra de carbono são consideradas independentemente, signi¿can-
do isso que o espaço livre entre duas barras adjacentes é su¿ciente para evitar a
ocorrência de ¿ssuras horizontais de fendilhamento ao nível da barra.
– ausência de restrições envolvendo as extremidades das barras com o objetivo
de focalizar a análise nos efeitos de interação de tensões entre as barras de ¿bra
de carbono e o concreto, decorrentes das ações térmicas.
– os efeitos das armaduras transversais é desprezado para permitir-se avaliar
somente a contribuição do cobrimento de concreto para a absorção das tensões
de arrebentamento por expansão decorrentes das variações de temperatura.
– as barras de ¿bra de carbono e o concreto apresentam um comportamento
elástico linear. Alguma não linearidade pode ocorrer decorrente da presença de
deformações plásticas dentro do concreto ou de um comportamento viscoso entre
o concreto e a matriz polimérica com as barras. Esse fenômeno não linear pode
induzir a uma redistribuição diferente de tensões entre o concreto e a armadura,
sendo, entretanto, no presente momento, essa inÀuência ignorada.

Figura 7.7 – a) área efeƟva de concreto e da barra; b) dimensões consideradas; c) tensões radiais atuando na
interface da barra de Įbra de carbono devido ao aumento de temperatura.

306
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

A investigação analítica foi conduzida considerando barras de ¿bra de carbono envolvidas


por um cilindro de concreto com parede de espessura igual à do comprimento e submetida
a um acréscimo de temperatura ( ΔT ) , conforme indicado na Figura 7.7.
Devido a ( ΔT ) a tensão de compressão ( σ T ) atua na superfície cilíndrica que separa o
concreto e a barra de ¿bra de carbono, de¿nida pela seguinte equação de compatibilidade:
Δrc = Δrb (1) , onde,
Δrc variação do raio dentro do cilindro onde a barra ¿ca alojada.
Δrb variação do raio da barra devido a ( ΔT ) e ( σ T ) , fornecido pela seguinte equação:
σT
Δrb = α b .ro .ΔT − ro . . (1 − υTT ) (2), sendo,
ETb

αb coe¿ciente de dilatação térmica da barra na direção transversal.

ro = rb raio da barra.
ΔT variação de temperatura.

σT tensão na interface barra/concreto.


ETb módulo de elasticidade transversal da barra.
υTT coe¿ciente de Poisson na direção transversal da barra.

7.11.1 COMPORTAMENTO DO CONCRETO


Na superfície interna do cilindro de concreto que envolve a barra a tensão radial de com-
pressão ( σ T ) atua de forma a aumentar o raio do furo do seu valor inicial (ro) de uma certa
quantidade ( Δrc1 ) . Para facilitar a compreensão do texto transcrevemos do artigo a Figura
7.8, com a indicação da nomenclatura utilizada nas fórmulas.

Figura 7.8 – Primeira Įssura no concreto e fragmentação do concreto.

307
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Considerando a simetria axial do sistema no caso da hipótese de elasticidade plana em um


ponto genérico no concreto, distante ( ρ ) da linha de centro da barra de ¿bra de carbono as
seguintes tensões podem ser determinadas:

ro2 ⎛ r22 ⎞ (3)


σ ρ( ρ ) = 1 − σT
r22 − ro2 ⎜⎝ ρ 2 ⎟⎠
ro2 ⎛ r22 ⎞
σθ ( ρ ) = 1 + σT
r22 − ro2 ⎜⎝ ρ 2 ⎟⎠
(4), onde,

σ ρ ( ρ ) tensão na direção radial.


σ θ ( ρ ) tensão na direção circunferencial.
r2 raio externo do cilindro.

Para um certo valor de ( ΔT ), denominado ( ΔTcr ) essa tensão ultrapassa a resistência de tração
do concreto e ¿ssuras de fendilhamento ocorrem. Dois casos devem ser considerados, então,

ΔT ≤ ΔTcr e ΔT > ΔTcr

Os autores do trabalho estudam as duas situações e apresentam os seus resultados como


se segue:

Con¿guração de Equilíbrio Após o Fissuramento Radial


As equações de equilíbrio impõem que a compressão radial em ( ρ = rcr ) seja igual à com-
pressão radial associada à tração circunferencial (fct) na circunferência interna da coroa
circular não ¿ssurada. Fazendo-se:

rcr
β=
r2
σ T .ro
A=
fct r2 (5), onde

fct - tensão de tração no concreto.


r2 = rc raio do cilindro de concreto.
rcr - raio do cilindro de concreto ¿ssurado.

Pode-se escrever:

ȕ3 + Aȕ2 – ȕ + A = 0 (6)
Prova-se que essa equação tem uma solução signi¿cativa para valores situados dentro do
intervalo (0 ” A ”.0,30).
Nenhuma solução é encontrada para (A > 0,30).

308
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

A condição (A > 0,30) signi¿ca um valor muito elevado para a compressão radial ( σ T ) ou
um cobrimento insu¿ciente de concreto (r2) para a coroa circular não ¿ssurada no concreto
existente, signi¿cando que o ¿ssuramento radial não pode ser interrompido, como pode ser
veri¿cado através das duas equações (5) e (6).
A solução correspondente a (A = 0,30) é (ȕ = 0,48). Dessa solução pode-se concluir das
equações (5) que a máxima tensão radial de compressão que o concreto absorve é dada por:
f .r
σ T = 0,30. ct 2 , sendo que o raio externo da coroa circular ¿ssurada tem valor rcr = 0,48r2.
ro

( )
7.11.2 VARIAÇÃO DE TEMPERATURA ΔT QUE PRODUZ A PRIMEIRA FISSURA RADIAL E
COLAPSO NO COBRIMENTO DO CONCRETO

A primeira ¿ssura radial aparece no concreto quando a tensão circunferencial para ( ρ = ro ) ,


dada pela equação (4) determina a tensão de tração do concreto, que é:

r22 − ro2 γ 2 − 1 , onde ( γ = r2 ) .


σ T = fct . = fct .
r22 + ro2 γ 2 +1 ro

A correspondente variação de temperatura ( ΔT ) é obtida através da seguinte expressão:

fct γ 2 − 1 ⎡υc .fct f ⎤


(α b − α c ) ΔTcr = + 2 ⎢
Ec γ + 1 ⎣ Ec
+ ct (1 − υTT )⎥
ETb ⎦
A falha do cobrimento de concreto ocorre quando a tensão radial de compressão ( σ T )
que a relação (ȕ) alcança o valor (0,48). Impondo-se essa condição na equação (6) a ten-
são ( σ T ) é obtida com a seguinte expressão:
σ T = 0,30.fct .γ
O valor de ( ΔT ) correspondente será:

0,30fct γ 0,30fct γ
(α b − α c ) ΔTsp = Ec
⎡ln (0,48γ ) + 1,6 + υc ⎤ +
⎣ ⎦ ETb
(1 − υTT ) , onde,
ΔTsp variação de temperatura que produz a fragmentação do cobrimento de concreto.
αc coe¿ciente de dilatação térmica do concreto.

Como as propriedades mecânicas dos materiais e o valor de ( γ ) são conhecidos é possível


determinar o valor de ( ΔT ) que produz a primeira ¿ssura radial no concreto e que produ-
zirá a falha do cobrimento, desde que seja conhecida a diferença ( α c − α b ) .
As conclusões desse estudo baseado em investigações técnicas e experimentais podem
ser assim alinhavadas:
1 – os resultados teóricos e experimentais demonstram os efeitos das cargas
térmicas nos concretos armados com barras de ¿bras de carbono, que são: a pre-
sença de ¿ssuras de fendilhamento e possível ruptura do cobrimento de concreto
quando a ação con¿nante não é su¿ciente.

309
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 7.9 – Cobrimentos mínimos para evitar a fragmentação do concreto.

310
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

2 – os resultados obtidos con¿rmam a necessidade de uma avaliação acurada do


concreto de cobrimento como uma função da temperatura para a peça em servi-
ço. Contudo, um cobrimento com espessura superior a duas vezes o diâmetro da
barra parece ser su¿ciente para evitar a ocorrência das ¿ssuras de fendilhamento.
3 – as relações analíticas obtidas se demonstraram con¿áveis para projeto. De fato,
tabelas e diagramas podem ser desenvolvidos para uma determinada carga térmi-
ca, variando-se as propriedades do concreto e de sua armação. Uma vez de¿nidas
as propriedades dos materiais e a temperatura de serviço o projetista pode facil-
mente avaliar a espessura mínima exigida para o cobrimento para evitar o fenôme-
no da fragmentação. Os grá¿cos da Figura 7.9 demonstram essa assertiva.
4 – duas formas de seções transversais, circulares e retangulares, foram considera-
das para um concreto com cobrimento (c = 19 mm). Para elementos de barras com
seções transversais diferentes dessas deverão ser realizadas maiores pesquisas.
5 – pressões radiais em barras ancoradas acrescentam tensões adicionais no co-
brimento produzidas pela expansão térmica da barra. Essa suposição de tensões
não deve ser linear, porque o diâmetro da barra diminui sob a ação das cargas de
tração, devido à deformação de Poisson, e a expansão térmica aumenta o diâme-
tro das barras. Essa situação deve ser melhor investigada sob um ponto de vista
teórico e experimental.

7.12 CARACTERÍSTICAS DAS BARRAS DE FIBRA DE CARBONO


São transcritas, a seguir, algumas das propriedades físicas e mecânicas das barras disponíveis
comercialmente nos Estados Unidos e apresentados na publicação da ACI Committee 440H.

Densidade
Aço Fibra de Vidro Fibra de Carbono Fibra de Aramida
7,85-7,90 (g/cm ) 1,25-2,10 (g/cm ) 1,50-1,60 (g/cm3)
3 3
1,25-1,40 (g/cm3)

COEFICIENTE DE EXPANSÃO TÉRMICA


Direção Aço Fibra de Vidro Fibra de Carbono Fibra de Aramida
α
Longitudinal ( L) 11,7x10 /ºC 6 a 10x10-6/ºC
-6
-2 a 0x10-6/ºC -6 a -2x10-6/ºC
Transversal ( α T) 11,7x10-6/ºC 21 a 23x10-6/ºC 23 a 32x10-6/ºC 60 a 80x10-6/ºC

PROPRIEDADES MECÂNICAS
Aço Fibra de Fibra de Fibra de
Vidro Carbono Aramida
Tensão Normal de Escoamento (MPa) 276 a 517 ---- ---- ----
Tensão de Tração (MPa) 483 a 690 483 a 1600 600 a 3690 1720 a 2540
Módulo de Elasticidade (MPa) 200 a 210 35 a 51 120 a 580 41 a 125
Deformação de Escoamento (MPa) 1,4 a 2,5 ---- ---- ----
Def. Ruptura (MPa) 0,6 a 1,2 1,2 a 3,1 0,5 a 1,7 1,9 a 4,4

311
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

BARRAS DISPONÍVEIS NO MERCADO AMERICANO


Padrão Americano Conversão Métrica Diâmetro Nominal (mm) Área (mm2)
Nº 2 Nº 6 6,4 31,6
Nº 3 Nº 10 9,5 71,0
Nº 4 Nº 13 12,7 129,0
Nº 5 Nº 16 15,9 199,0
Nº 6 Nº 19 19,1 284,0
Nº 7 Nº 22 22,2 387,0
Nº 8 Nº 25 25,4 510,0
Nº 9 Nº 29 28,7 645,0
Nº 10 Nº 32 32,3 819,0
Nº 11 Nº 36 35,8 1006,0
Nº 14 Nº 43 43,0 1452,0
Nº 18 Nº 57 57,3 2581,0

FotograĮa 7.1 – Barras de Įbras de carbono disponíveis no mercado.

7.13 EXEMPLOS DE DIMENSIONAMENTO COM BARRAS


Exemplo 7.1: Dimensionar uma viga com largura (b = 300 mm) para suportar um momento
máximo de carga permanente de (80 kN.m) e de carga acidental de (53 kN.m).
A viga será construída para atender às condições ambientais correspondentes ao interior
das edi¿cações.
Deverá ser considerado no dimensionamento:
f’c = 30 MPa
f*fu = 550 MPa
Ef = 45000 MPa
Coe¿ciente ambiental: CE = 0,80
ffu = CE .ffu* = 0,8.550 = 440 MPa

312
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

Uma prática comum para o início do dimensionamento de um elemento de concreto arma-


do com dimensões desconhecidas é a escolha da relação de armação ( ρf ) .
Vamos admitir: ( ρf = 1,6.ρfb )
fc' Ef .ε cu
ρfb = 0,85.β1 . .
fpu Ef .ε cu + ffu
Ef.ѣcu = 45000.0,003 = 135 MPa
30 135
ρfb = 0,85.0,85. . = 0,0116
440 135 + 440
ρf = 1,5.ρfb = 1,5.0,0116 = 0,0173

Pelo fato de que ( ρf ≥ 1,4.ρfb ) a ruptura da seção é controlada pela compressão, dessa
forma ( ∅ = 0,65).
Cálculo do (b.d2) necessário:
Determina-se, em primeiro lugar, o momento Àetor máximo necessário.
∅.Mn, requer . = Mu = 1,2.Mg + 1,6.M p
∅.Mn,requer . = 1,2.80 + 1,6.53 = 180,80 kN.m

Cálculo da tensão de tração na armadura (f f ) no estado limite último, para o valor assumido
de ( ρf ) .

ff =
(Ef .εcu )2 + 0,85.β1 .fc' .E .ε − 0,5.Ef .ε cu
f cu
4 ρf

135 2 0,85.0,85.30
ff = + .135 − 0,5.135 < 440 MPa
4 0,0173

ff = 349,269 MPa
⎛ ρ .f ⎞
Mu = ∅.Mn = ∅.ρf .ff . ⎜1 − 0,59. f ' f ⎟ .b.d 2
⎝ fc ⎠
⎛ 0,0173.349,269 ⎞
180,80.10 6 = 0,65.0,0173.349,296 ⎜1 − 0,59. ⎟⎠ b.d
2
⎝ 30

180,80.10 6 = 3,461.b.d 2 → b.d 2 = 52,242.10 6 mm 3

Determinação das dimensões


(b.d ) 2
nec.
(
≥ b.d 2 ) requer .
, como (b = 300 mm) vem:

52,242.10 6 52,242.10 6
d2 = →d= = 417,301 mm ≅ 418 mm
300 300

Cálculo da armação necessária

Af ,requer . = ρf .b.d = 0,0173.300.418 = 2169,42 ≅ 2170 mm 2

313
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Adotando [ barra # 25 (25,4 mm ) → Af ,1 = 510 mm2 ]


2170
nbarras = = 4,255 → 5 # 25
510

assim, (d • 418 mm)


h ≥ 40 (cobrim.) +12,5 (estribo ) + 0,5.25,4 ( barra) + 418 = 483,2 mm
seja a seção (300 mm x 500 mm).

Determinação do momento resistente da seção


d = 500 − 65,2 = 434,8 ≅ 434 mm
A 5.510
ρf = f = = 0,0196
b.d 300.434
ρf 0,0196
= = 1,6897
ρfb 0,0116

como ρf = 0,0196 ≥ 1,4.ρfb = 1,4.0,0116 = 0,0162 → ∅ = 0,65

ff =
(Ef .εcu )2 + 0,85.β1 .fc' .E .ε − 0,5.Ef .ε cu ≤ ffu
f cu
4 ρf

135 2 0,85.0,85.30
ff = + .135 − 0,5.135 = 324,735 MPa
4 0,0196
ff = 324,735 ≤ ffu = 440 OK !
⎛ ρ .f ⎞
Mn = ρf .ff . ⎜1 − 0,59. f ' f ⎟ .b.d 2
⎝ fc ⎠
⎛ 0,59.0,0196.324,735 ⎞ 2
Mn = 0,0196.324,735. ⎜1 − ⎟⎠ 300.434
⎝ 30
Mn = 314,63.10 6 N.mm = 314,63 kN.m
∅.Mn = 0,65.314,63 = 204,51 kN.m > 180,80 kN.m OK !

Exemplo 7.2: Calcular as deÀexões de uma viga de concreto armado simplesmente apoia-
da (isostática). Pede-se a avaliação das deÀexões veri¿cadas em relação às deformações
admissíveis segundo os critérios do ACI.

314
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

Considerar: fc' = 30 MPa ; l = 7,70m ; Δg = 1,5 kN ; p = 5,0 kN / m


m
Sendo:
¨g - carga permanente complementar.
p - carga acidental (considerar 20% desta carga como carga quase permanente).
tf
g = 0,45 = 4,5 kN / m
m
4,5.7,7 2
Mg = = 33,351 kN.m
8
1,5.7,7 2
M Δg = = 11,17 kN.m
8
5,0.7,7 2
Mp = = 37,056 kN.m
8
Mq.perm. = M( g + Δg ) + 0,20.M p = 44,468 + 7,411 = 51,879 kN.m
Mmax = M( g + Δg ) + M p = 44,408 + 37,056 = 81,464 kN.m

Módulo de Elasticidade do concreto


Ec = 4700. 30 ≅ 25743 MPa

Ef = 45000 MPa
45000
n= = 1,748
25743

Momento de inércia da seção bruta


300.600 3
Ig = = 5,40.10 9 mm4
12
Admitindo-se que a seção esteja armada com (4#25) com ( Af = 4.510 = 2040 mm2 ) vem,
2040
ρf = = 0,0128
300.530

k = 2. ( ρf .n ) + ( ρf .n ) − ρf .n
2

k = 2.(0,0128.1,748 ) + (0,0128.1,748 ) − 0,0128.1,748 = 0,1903


2

300.530 3
.0,1903 3 + 1,748.2040.530 2.(1 − 0,1903 ) = 0,7593.10 9 mm 4
2
Icr =
3
Ig 5,40.10 9
= = 7,112
Icr 0,7593.10 9

Icr
= 0,141
Ig

Momento de Inércia Efetivo:


0,62.λ . fc' .Ig 0,62.1. 30.5,40.10 9
Mcr = = = 61,126 kN.m
γt 0,50.600.10 6

315
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Assumindo que a viga seja carregada com toda a carga permanente antes da atuação de
qualquer carga acidental, o momento de inércia efetivo deve ser considerado apenas com
essa hipótese. Essa presunção permitirá uma estimativa conservadora da deÀexão devida
à carga acidental. Como (M(g+ǻg) < Mcr) a viga permanece numa condição não ¿ssurada,
por isso, o momento de inércia considerado é o (Ig).

Ie,g = Ig = 5,40.10 9.mm4

Determinação do momento de inércia efetivo devido à carga permanente mais carga acidental
Mcr Mcr 61,126
= = = 0,750
Ma M( g + p ) 81,464

Mcr
γ = 1,72 − 0,72. = 1,72 − 0,72.(0,750 ) = 1,180
Ma

Icr 0,7593.10 9
Ie( g + p ) = 2
= = 1,766.10 9.mm4
⎛M ⎞ ⎛ I ⎞ 1 − 1,18.0,75 2 (1 − 0,141)
1 − γ . ⎜ cr ⎟ . ⎜1 − cr ⎟
⎝ Ma ⎠ ⎝ Ig ⎠

Deformações (deÀexões) imediatas.


(k = 1,0 ĺ para vigas isostáticas)

5.k.Mg .l 2 5.1.33,351.7,7 2 .1012


( Δi )g = = = 1,482 mm
48.Ec . (Ie )g 48.25743.5,4.10 9

5.k.Mg .l 2 5.1.81,464.7,7 2 .1012


( Δi )( g + p ) = = = 11,067 mm
48.Ec . (Ie )( g + p ) 48.25743.1,766.10 9

A deÀexão da carga acidental é encontrada pela subtração da deÀexão da deÀexão da


carga permanente da deÀexão total (carga permanente + carga acidental).

( Δi )p = ( Δi )g + p − ( Δi )g = 11,067 − 1,482 = 9,585 mm

Segundo os critérios do ACI, as deÀexões devem ser veri¿cadas segundo os seguintes


critérios:

l 7,7.1000
( Δi )p = 9,585 mm ≤ = = 42,778mm OK !
180 180

l 7,7.1000
( Δi )g + p = 11,067 mm ≤ = = 32,083mm OK !
240 240

316
Capítulo 7 - Dimensionamento à Flexão e ao Corte Utilizando Barras de Fibra de Carbono
como Armadura de Tração

7.14 FOTOGRAFIAS DE OBRAS ARMADAS COM BARRAS DE FRP

FotograĮa 7.2 – Tabuleiro de ponte armado com barras de FRP.

FotograĮa 7.3 – Tabuleiro de ponte armado com barras de FRP.

317
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 7.4 – Tabuleiro de ponte armado com barras de FRP. Vista superior e lateral.

FotograĮa 7.5 – Guarda-rodas e guarda-corpo de pontes armados com barras de FRP.

FotograĮa 7.6 – Gaiola de barras FRP montadas em central de dobra/corte em Angry Itália13.

13 - “Reinforced Concrete With FRP Bars – Mechanics and Design” – Antonio Nanni; Antonio de Luca e Hany Jawahari Zadeh.

318
CAPÍTULO 8

REFORÇO DE ALVENARIAS À FLEXÃO E AO CORTE


COM TECIDOS, LAMINADOS E BARRAS DE FRP

8.0 FLEXÃO NAS ALVENARIAS


Frequentemente torna-se necessário o reforço de alvenarias para atender aos esforços de
Àexão decorrentes de novas solicitações de carga, manifestações sísmicas, atuação de
esforços devidos ao vento ou mesmo, simplesmente, reforço para corrigir falhas ou erros
de dimensionamento.
As solicitações de Àexão nas alvenarias podem ser apresentadas esquematicamente na
Figura 8.1, decorrentes de um esforço aplicado na face externa da mesma.

Figura 8.1 – Atuação de esforços nas alvenarias.

Decorrentes do esforço aplicado na face externa da alvenaria manifestam-se esforços de tra-


ção na sua face interna e de compressão na face externa, conforme mostrado na Figura 8.2.
Finalmente, se o esforço de tração exceder a capacidade resistente dos elementos resis-
tentes da alvenaria (tijolos, blocos, etc.), o reforço necessário está indicado na Figura 8.3.

319
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 8.2 – Esforços de tração e de compressão na alvenaria.

Figura 8.3 – Reforço à Ňexão da alvenaria com Įbras de carbono.

Normalmente, para o dimensionamento das alvenarias, é adotado o método das tensões


admissíveis, que estabelece que as tensões decorrentes das solicitações a que estejam
submetidos os elementos de alvenaria não devem exceder as tensões admissíveis dos
seus materiais constituintes.
As tensões admissíveis são estabelecidas em função das tensões notáveis que ocorrem
durante a manifestação de algum esforço especí¿co e que estabelecem os limites de uti-
lização dos materiais, tais como a tensão crítica de Àambagem, as tensões de ruptura por
tração, compressão ou cisalhamento.
Assim, quando da utilização dos procedimentos de cálculo, são estabelecidos limites para
o nível de atuação das tensões que são frações daquelas tensões limites e que permitem a
utilização dos materiais com uma margem de segurança con¿ável. Essa margem de segu-
rança é de¿nida como coe¿ciente de segurança, que é estabelecido em função da relação
entre a tensão limitante e a tensão admissível.
O método das tensões admissíveis procura estabelecer um intervalo apropriado entre os
valores das tensões atuantes relativamente às tensões que produzem escoamento ou rup-
tura dos materiais estruturais envolvidos.

320
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

A norma brasileira NBR 10.837 – “Cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de


concreto” recomenda a utilização do método das tensões admissíveis para o dimensiona-
mento das alvenarias à Àexão, estabelecendo, para tanto, que os cálculos sejam feitos de
acordo com o Estádio II de solicitações.
Para o dimensionamento das alvenarias à Àexão são consideradas as seguintes hipóteses
básicas:
– as seções planas permanecem planas após as deformações (hipótese de Bernoulli);
– as tensões são proporcionais às deformações, sendo adotada uma variação linear
das mesmas, sendo ambas proporcionais às suas distâncias à linha neutra da seção;
– o módulo de elasticidade do material permanece constante ao longo de toda a sua
seção;
– os elementos constituintes da alvenaria formam um elemento admitido homogê-
neo e isotrópico;
– a seção transversal é uniforme e linear;
– as armaduras de tração estão perfeitamente aderidas à alvenaria, possibilitando
que o sistema trabalhe homogeneamente.

8.1 PARÂMETROS A SEREM CONSIDERADOS PARA AS ALVENARIAS


Um importante parâmetro de projeto para o cálculo das alvenarias é a relação entre as
tensões e as deformações. Apesar da sua reconhecida importância os dados disponíveis
demonstram que existem ainda muitas dúvidas e controvérsias sobre o tema. Para alvena-
rias de blocos de concreto o valor obtido1 a partir de uma série de ensaios para o módulo
de elasticidade é (Ealv = 1.000.fp), sendo sugerido, entretanto, para todos os blocos de
concreto um valor mais conservador de (Ealv = 900.fp), dado que os parâmetros obtidos
são difíceis de serem mensurados e de valores aproximados. Em função da inexistência
de uma base de dados con¿áveis, os valores sugeridos são os indicados na Tabela 8.1.
A estimativa da resistência através dos componentes é o principal método utilizado pela BS
5628, que apresenta a tabela seguinte, para resistência característica à compressão das
paredes em função do tipo da argamassa e da resistência das unidades. A BS 5628 não se
refere a prismas para os valores da tabela 8.2.

Bloco Módulo de Deformação Ealv (MPa) Valor Máximo (MPa)


Longitudinal 800fp 16.000
Concreto
Transversal 400fp 6.000
Longitudinal 600fp 12.000
Cerâmico
Transversal 300fp 4.500

Tabela 8.1 - Módulos de deformação da alvenaria.

1 - Márcio A. Ramalho e Márcio R. S. Corrêa – “Projeto de Ediİcios de Alvenaria Estrutural” – Editora PINI, 2003.

321
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Resistência à compressão dos blocos (N/mm2)


Argamassa
2,8 3,5 5 7 10 15 20 •35
(i) 2,8 3,5 5 5,7 6,1 6,8 7,5 11,4
(ii) 2,8 3,5 5 5,5 5,7 6,1 6,5 9,4
(iii) 2,8 3,5 5 5,4 5,5 5,7 5,9 8,5
(iv) 2,8 3,5 4,4 4,8 4,9 5,1 5,3 7,3

Tabela 8.2 - Resistência da alvenaria – Blocos vazados com altura/largura entre 2,0 e 4,02.

A ACI 530 também não se refere a prismas e menciona a resistência de prisma como alterna-
tiva para a estimativa de resistência à compressão da alvenaria apresentada na Tabela 8.3.
A tensão atuante em um elemento comprimido será sempre determinada pela relação (car-
ga/área). Tanto a norma NBR 10837 como a norma BS 5628 trabalham com a área bruta
da seção, desconhecendo a existência de vazios, o que já não acontece com a norma ACI
530 que considera a área líquida, ou seja, descontada a existência dos vazios.

Resistência à compressão na área líquida Resistência à compres-


das unidades de concreto são da alvenaria na área
Argamassa tipo M ou S Argamassa tipo N líquida
(psi) (MPa) (psi) (MPa) (psi) (MPa)
1250 8,59 1300 8,93 1000 6,87
1900 13,06 2150 14,78 1500 10,31
2800 19,25 3050 20,96 2000 13,75
3750 25,78 4050 27,84 2500 17,18
4800 33,00 5250 36,09 3000 20,62
Tabela 8.3 - Resistência da alvenaria baseada na resistência das unidades e da argamassa3.

A norma BS 5628 considera a atuação de coe¿cientes de segurança parciais a serem


aplicados nas diversas combinações de carregamento, como indicado na Tabela 8.4, dife-
rentemente das normas NBR 10837 e ACI 530, que consideram para veri¿cação o método
das tensões admissíveis, estando o coe¿ciente de segurança já embutido no valor de¿nido
para a tensão admissível.

Carregamentos
Combinação
Permanente Variável Vento Terra/Água
Permanente e variável 0,9 ou 1,4 1,6 - 1,4
Permanente e vento 0,9 ou 1,4 - 1,4 1,4
Permanente variável e vento 1,2 1,2 1,2 1,2
Dano acidental 0,95 ou 1,05 0,35 - 0,35

Tabela 8.4 – Valores dos coeĮcientes parciais de segurança para ações.

2 - Márcio A. Ramalho e Márcio R. S. Corrêa – “Projeto de Ediİcios de Alvenaria Estrutural” – Editora PINI, 2003.
3 - Valores especiĮcados para unidades de concreto pelo ACI 530.1 – SpeciĮcaƟons for Masonry Structures.

322
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

A tabela 8.5 indica os pesos especí¿cos adotados para as alvenarias de blocos vazados e
de blocos cerâmicos mais usuais.

Tipo de Alvenaria Peso Especí¿co (kN/m3)


Blocos vazados de concreto 14
Blocos vazados de concreto preenchidos com graute 24
Blocos cerâmicos 12

Tabela 8.5 – Peso especíĮco das alvenarias.

8.2 FLEXÃO SIMPLES NAS ALVENARIAS NÃO ARMADAS


O dimensionamento à Àexão simples de alvenarias não armadas segue a sistemática ado-
tada na teoria da Àexão para materiais isótropos e homogêneos, sendo adotadas as equa-
ções já conhecidas:

M , onde,
ft =
W

f - tensão de tração na alvenaria considerada.


I 2.I 2.b.t 3 b.t 2 , sendo ( t ) a espessura da alvenaria.
W = = = =
t t 12.t 6
2

Como usualmente (b = 1 m) temos:


t2
W =
6

6.M
ft = ≤ σ adm.
t

Os valores usuais de ( ft ) são obtidos da Tabela 8.6.


Assim, podemos, ¿nalmente, escrever que:

ft .t
M= , sendo
6

( ft ≤ σ adm. )

323
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Construção de blocos vazados Construção de blocos maciços


Tipos de
Tensão admissível (MPa) Tensão admissível (MPa)
solicitação
12,0*” fa ”17,0 5,0 ” fa ”12,0 12,0 ” fa ” 17,0 5,0 ” fa ”12,0
Compressão
0,20fp ou 0,20fp ou 0,20fp ou 0,20fp ou
simples
(0,286fpa)* (0,286fpa)* (0,286fpa)* (0,286fpa)*
na Àexão 0,30fp 0,30fp 0,30fp 0,30fp
Tração na Àexão
normal à ¿ada 0,15 0,10 0,25 0,20
paralela à ¿ada 0,30 0,20 0,55 0,40
Cisalhamento
cisalhamento 0,25 0,15 0,25 0,15

Tabela 8.6 – Tensões admissíveis na alvenaria não armada.

(a) - (*) valor admissível caso venha a ser usada a resistência de parede.
(b) - os limites da resistência média da argamassa (fa) também se aplicam à alvenaria armada, isto é, 5,0 ч fa ч12,0.

O equilíbrio das forças se dá segundo o diagrama da Figura 8.4 abaixo:

c
f alv.f

-
t
2
LN

+
t
f alv.f

Figura 8.4 – Equilíbrio da seção.

324
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

8.3 FLEXÃO SIMPLES NAS ALVENARIAS ARMADAS


A Figura 8.5 apresenta a seção transversal de uma alvenaria armada submetida à Àexão
simples.

Figura 8.5 – Seção transversal de uma alvenaria.

O dimensionamento da alvenaria é feito com a utilização das relações entre as tensões


e as deformações e o equilíbrio entre os esforços atuantes e os esforços resistentes na
seção transversal.

De acordo com a lei de Hooke temos:

fs = ε s .Es e falv = ε alv .Ealv (a)

em função da compatibilidade das deformações podemos escrever:

ε alv x (b)
=
εs x −d

se dividirmos o segundo termo da equação (b) por “d” vem:


x
ε alv d
, chamando-se teremos,
=
εs d x

d d

ε alv kx
=
ε s 1 − k x (c)

do equilíbrio de forças atuantes na seção vem:

x
falv .b. = fs .As (d)
2

325
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

As
chamando-se ρ = à taxa geométrica da armadura na seção podemos reescrever a
b.d
equação (d) da seguinte maneira:

falv 2.As 2.ρ .d 2.ρ


= = = ou seja,
fs b.x x kx

falv 2.ρ (e), chamando-se fs


= = m a equação (e) ¿ca:
fs kx falv

1 2.ρ ou, ainda, m = k x (f)


=
m kx 2.ρ

dividindo-se a equação (a) membro a membro vem:


falv ε alv .Ealv
=
fs ε s .Es
Es
como = n , e com as equações (c) e (e) podemos escrever,
Ealv

2.ρ kx 1
= ou,
kx 1 − kx n

2.n.ρ (1 − k x ) = k x 2 , que pode ser escrita como uma equação do segundo grau
k x 2 + 2.n.ρ .k x − 2.n.ρ = 0 que tem como solução para o dimensionamento

k x = − ρ .n + ( ρ .n )2 + 2.ρ .n (g)

o valor de k x de¿ne a posição da linha neutra, com profundidade ( x = k x .d ) .


Se chamarmos ⎛ z kx ⎞
⎜⎝ k z = = 1 − ⎟⎠ o momento Àetor da seção pode ser escrito da seguinte
maneira: d 3

M = fs .As .z = fs .As .k z .d

⎛ k ⎞ ⎛ x ⎞
M = fs .As ⎜1 − x ⎟ d = fs .As ⎜1 − ⎟d
⎝ 3 ⎠ ⎝ 3.d ⎠

x ⎛ x⎞
M = fs .As .d − fs .As = fs .As ⎜ d − ⎟ ou seja,
3 ⎝ 3⎠

⎛ x⎞ (h)
M = fs .As ⎜ d − ⎟
⎝ 3⎠

dessa equação pode-se escrever:

326
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

M (i) e
As =
⎛ x⎞
fs ⎜ d − ⎟
⎝ 3⎠

M
fs = (j) que é a tensão atuante na armadura de tração
⎛ x⎞
As ⎜ d − ⎟
⎝ 3⎠

Da equação

⎛ b.x ⎞ ⎛ b.x ⎞
M = falv ⎜ z = falv ⎜ k .d
⎝ 2 ⎟⎠ ⎝ 2 ⎟⎠ z
b ⎛ k ⎞ f .b.k x .d 2 falv .b.k x 2 .d 2
M = falv k x .d ⎜1 − x ⎟ d = alv −
2 ⎝ 3 ⎠ 2 6

3.falv .b.k x .d 2 − falv .b.k x 2 .d 2 falv .b.d 2


M=
6
=
6
(3.k x − k x 2 ) , chegamos a

6.M (k) tensão correspondente à ¿bra mais comprimida da seção.


falv =
b.d (3.k x − k x 2 )
2

Para o dimensionamento à Àexão de uma seção normalmente armada um processo iterati-


vo apresentado no livro “Alvenaria Estrutural – Novas Tendências Técnicas e de Mercado4”
nos parece bastante prático e é transcrito a seguir quase na sua íntegra:
Es f
Sendo n = e m = s podemos escrever que
Ealv falv

n (l)
kx =
n+m

kx
a partir de ( ρ = ), substituindo o valor de ( k x ) na equação (l) temos:
2m
1 n
ρ=
2.m (m + n )

Para a situação balanceada, que corresponde ao melhor aproveitamento dos materiais,


( ) ( )
uma vez que são adotados os valores falv = f alv e fs = f s , a posição da linha neutra e da
taxa de armadura balanceada podem ser assim expressas:
n 1 n
kb = e ρb =
(n + mb ) 2.m b ( mb + n)

a altura útil correspondente a esse dimensionamento é obtida por

4 - Emil Sanchez – Editora Interciência – 2002.

327
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

2 M 1 − kb
db = , onde k zb =
k b .k zb b.f alv 3

Para a seção normalmente armada, onde se tem (d ≥ d b ) e não são conhecidas a princípio
( )
as tensões desenvolvidas na alvenaria falv ≤ f alv , deve ser utilizado um processo iterati-
vo para a determinação da linha neutra e da seção de aço necessária.
O processo se inicia com o arbítrio de kz e a sequência de veri¿cação é a indicada na Pla-
nilha 8.1 abaixo.

Passo kz ks As n.ȡ kx kz
1
2
n

Planilha 8.1 – Dimensionamento à Ňexão – seção normalmente armada.

sendo,
1 M A kx
ks = ; As = ks ; n.ρ = n s ; k x = − ρ .n + ( ρ .n )2 + 2.ρ .n e kz = 1 −
f s ,t .k z d b.d 3

A iteração termina quando houver a convergência entre os valores arbitrados e encontra-


( )
dos de k z .

8.4 REFORÇO DE ALVENARIAS COM BARRAS E PERFIS DE FIBRA DE


CARBONO EM MONTAGEM NSM
Muitas pesquisas têm sido realizadas procurando otimizar a utilização de barras e per¿s de
¿bra de carbono em montagens subsuper¿ciais5.
Esta técnica consiste em se escavar sulcos ou ranhuras de pequenas dimensões nas
faces internas ou externas das alvenarias e aplicar nas mesmas barras ou per¿s de ¿bra
de carbono que ¿cam aderidos e incorporados às alvenarias com o auxílio de adesivos
estruturais especí¿cos.
Este procedimento, entretanto, não é somente utilizado para melhorar o comportamento
das estruturas de alvenarias ante a manifestação de efeitos sísmicos, mas também para
prevenir a atuação de ventos de grande intensidade atuando fora do plano das mesmas.
A utilização de per¿s e barras de ¿bras de carbono nas alvenarias apresenta uma vanta-
gem signi¿cativa se comparadas à utilização de lâminas (tecidos) ou laminados de ¿bras
de carbono porque a sua instalação não requer a remoção total do emboço, reboco e
revestimento na área de implantação do reforço. Entretanto, em alvenarias construídas
com blocos cerâmicos ou de concreto, a operação de abertura dos rasgos pode produzir
fraturas indesejadas e mesmo incontroladas.

5 - Do original em inglês: Near Surface Mounted Rods.

328
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

As barras e os per¿s podem ser colocados horizontalmente, verticalmente ou assumir qual-


quer inclinação desejada. É muito comum a colocação dos elementos de reforço na arga-
massa das juntas horizontais das alvenarias.
O resultado de diversas pesquisas demonstra que o mecanismo de controle da ruptura
das alvenarias reforçadas com as barras e per¿s de FRP é o descolamento dos mesmos
do substrato das alvenarias. Desde que essa característica foi constatada, o fato de que
as barras e os per¿s utilizados nas montagens subsuper¿ciais podem ser ancoradas nos
elementos de concreto armado adjacentes, ou seja, nas lajes, nas vigas e nos pilares, tor-
nou a sua utilização bastante atrativa. Está su¿cientemente comprovado e evidente que as
alvenarias ¿cam bastante reforçadas para resistir a carregamentos aplicados tanto no seu
plano (cortantes) como fora do seu plano (Àexão).
Contudo, ainda não está perfeitamente estabelecido qual é a deformação efetiva dos ele-
mentos de ¿bra de carbono como uma função do valor total do reforço.
Para alvenarias reforçadas para resistir a esforços atuando fora do plano a literatura disponí-
vel6 sugere como valor máximo efetivo da deformação, para efeito de projeto, de 4‰ (0,004).
As pesquisas indicam que deve ocorrer uma relação direta entre a porosidade da alvenaria
com o efeito do descolamento dos elementos de FRP. Resultados experimentais mostram
que a absorção do epóxi deve ser limitada em alvenarias executadas com tijolos extruda-
dos (furados) em comparação com os tijolos prensados (maciços), fato esse que pode ser
atribuído à natureza intrínseca de suas superfícies, que conduz a uma redução da resis-
tência da colagem entre a barra ou o per¿l de ¿bra de carbono e a superfície da alvenaria.
A técnica de colocação das barras e per¿s de ¿bra de carbono nas juntas argamassadas
das alvenarias é denominada por Tumialan7, em tradução livre para o português, como “re-
posicionamento estrutural com FRP”8, nome baseado numa técnica tradicional de reforço
utilizado nas alvenarias e que consiste na reposição da argamassa das juntas, comumente
chamada de “reposicionamento”. O termo “estrutural” foi acrescentado por que o método
propõe não somente recuperar, mas também aumentar a capacidade resistente ao cortan-
te da alvenaria.
Nas alvenarias reforçadas segundo a técnica de reposicionamento estrutural com FRP a
deformação desenvolvida nas barras ainda precisa ser mais bem pesquisada em função
dos diversos esquemas de reforço possíveis e, principalmente, em função dos espaçamen-
tos possíveis entre as barras e per¿s de FRP.
Geralmente o reforço das alvenarias em apenas um dos lados das paredes tem sido a
solução mais utilizada na prática, pois a existência de cruzamentos entre as paredes torna
muitas vezes difícil o reforço pelos dois lados. Decorrente dessa con¿guração, as trincas
estruturais são mais frequentes e abertas do lado não reforçado, se comparadas ao lado
reforçado. A trinca produzida quando do descolamento das unidades de alvenaria se de-
senvolvem ao longo da espessura da mesma até o descolamento da pasta epoxídica das

6 - Velásquez, J.G et al. – Out of Plane Cyclic Behavior of UMR Walls RetroĮted With Fiber Reinforced Polymers (2000).
7 - Tumialan, J. G. et al – Strengthening of Masonry Structures With FRP Composites – (2001).
8 - “FRP structural strengthening”.

329
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

unidades em colapso, e, a partir deste ponto, a parede se rompe porque a tensão de tração
atuante não mais é transferida para as barras e os per¿s de FRP.
O que é importante no atual estágio das pesquisas e aplicações práticas é que os sistemas
compostos estruturados com barras e per¿s de FRP comprovaram aumentar consideravel-
mente a capacidade resistente à Àexão e ao cortante das alvenarias não reforçadas. Os
sistemas são de fácil aplicação, mas exigem uma técnica apropriada de construção para
poderem ser realmente e¿cientes.

8.5 DETALHES CONSTRUTIVOS DO REFORÇO DE PAREDES COM BARRAS


E PERFIS DE FIBRAS DE CARBONO EM MONTAGEM NSM
Para permitir uma visualização do procedimento de reforço de paredes de alvenaria com
a utilização das barras e per¿s de FRP em montagem NSM apresentamos uma série de
fotogra¿as mostrando cada etapa do processo construtivo. A Fotogra¿a 8.1 mostra as ra-
nhuras sendo cortadas nas paredes, geralmente para a execução dos sulcos se utiliza ser-
ra circular com duas lâminas de corte ou serras de esmeril. Observar a proteção feita com
¿ta crepe para impedir o “lascamento” da ranhura e posteriormente permitir a retirada do
excesso da pasta epoxídica de colagem utilizada para a ¿xação dos elementos estruturais.
Na Fotogra¿a 8.2 vemos as barras de ¿bras de carbono sendo aplicadas nas ranhuras e
¿xadas ao substrato da alvenaria com o auxílio de pasta epoxídica adequada. O excesso
de pasta é retirado com o auxílio de uma espátula, sendo a etapa ¿nal do processo o ar-
rancamento das ¿tas crepe que serviram de guia para a execução das ranhuras e proteção
contra o excesso de pasta de colagem.

FotograĮa 8.1 – Abertura de sulco na alvenaria.

A Fotogra¿a 8.3 mostra o processo de reforço concluído. Como geralmente as barras e os


per¿s de FRP utilizados neste tipo de reforço são de pequeno diâmetro ou pequenos lados,
o processo pode permitir a superposição das barras de modo a que a resistência seja efe-
tiva nos dois sentidos do plano da parede.

330
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

FotograĮa 8.2 – Inserção das barras de carbono nos sulcos (ranhuras).

FotograĮa 8.3 – Inserção das barras de FRP concluída.

Finalmente a Fotogra¿a 8.4 apresenta um reforço de alvenaria segundo a técnica conhecida


como “reposicionamento estrutural com FRP”. Observar as barras de ¿bra de carbono colo-
cadas nas juntas das ¿adas horizontais da parede, construindo, assim, o sistema resistente.
A Fotogra¿a 8.5, apesar de não se referir especi¿camente a alvenarias, mostra o reforço
de uma parede de silo9 em que as barras de ¿bras de carbono foram aplicadas formando
uma malha ortogonal retangular, permitindo o reforço tanto para esforços atuando no plano
horizontal como para esforços atuando no plano vertical. Essa disposição pode ser utiliza-
da no reforço das alvenarias.

9 - Silo reforçado com NSM em Boston – MA.

331
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 8.4 – Reposicionamento estrutural com FRP.

FotograĮa 8.5 – Parede de silo com ranhuras dispostas ortogonalmente.

8.6 REFORÇO DE ALVENARIAS COM SISTEMAS FRP


Para o reforço à Àexão de alvenarias com a utilização de sistemas compostos em monta-
gem NSM transcrevemos parcialmente o artigo “Flexural Strengthening of Masonry Walls
in a High School Using FRP Bars”10.
Como o próprio nome indica, apresenta-se o reforço com a utilização de compostos estru-
turados com plásticos, na forma de laminados, per¿s ou barras, de paredes submetidas a
tensões adicionais produzidas por carregamentos atuando no seu plano ou fora dele.
Os reforços com a utilização desse tipo de compostos, além das qualidades mecânicas
impostas às alvenarias, geralmente apresentam custos de instalação baixos, praticamente

10 - “Field ApplicaƟons of FRP Reinforcement: Case Studies”- J. G. Tumialan, N. GalaƟ, A. Nanni e D. Tyler - ACI Interna-
Ɵonal SP-215.

332
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

não introduzem nenhuma alteração dimensional após a sua implantação e melhoram sen-
sivelmente a resistência à corrosão. Também um fator muito importante é que a perturba-
ção produzida nos moradores da edi¿cação ¿ca bastante minimizada em relação a outros
procedimentos convencionais, praticamente não ocorrendo nenhuma redução do espaço
útil utilizado pelos mesmos durante a operação de reforço.
Os procedimentos de reforço mais utilizados são os de aplicação de tecidos via úmida ou
da adesão de laminados pré-curados.
Mais recentemente passou a ser adotada a técnica de montagem subsuper¿cial (NSM) nos
reforços, que consiste na ¿xação de barras ou per¿s de compostos em rasgos abertos na
superfície dos elementos a serem reforçados. O sucesso na utilização de compostos em
montagem subsuper¿cial no reforço de elementos de concreto armado foi estendido para
o reforço de alvenarias não estruturadas.

8.6.1 CONSIDERAÇÕES PARA O PROJETO DO REFORÇO

O método utilizado para o reforço das alvenarias não estruturadas é o das tensões admis-
síveis. Basicamente são obedecidas as recomendações da norma ACI 440.1R.0311.
As seguintes recomendações podem ser levadas em consideração na orientação do pro-
jeto de reforço das alvenarias:
– a tensão admissível de compressão devida exclusivamente ao momento Àetor em
uma alvenaria é estimada com o seguinte valor:
1
Fb = .f ' m onde,
3

f’m - resistência à compressão da alvenaria.

– o módulo de elasticidade da alvenaria de blocos de concreto, (Em), é estimado com


o valor:

Em = 800 a 900. f’m


- as propriedades de projeto utilizadas na determinação do reforço introduzido pelo
sistema composto são as seguintes:

ffu = CE .ffu* resistência última de tração para projeto

Ff = kf .ffu tensão admissível de tração, onde,

ffu* tensão mínima de tração garantida pelo fabricante do composto.


CE coe¿ciente de redução em função das condições ambientais.

11 - ACI – CommiƩee 440.1R-03 – “Guide for the Design and ConstrucƟon of Concrete Reinforced with FRP Bars”.

333
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

O fator ( CE ) tem por objetivo levar em consideração a redução potencial da tensão de tração
do composto devido à sua exposição ao longo do tempo às diversas variáveis ambientais.
O coe¿ciente ( kf ) permite a avaliação das tensões admissíveis no composto em função
das limitações das tensões de ruptura em função da Àuência do material. Isso é decorren-
te do fato de que barras de composto submetidas a carregamentos constantes por longo
período de tempo podem vir a falhar para um valor de tensão muito inferior daquele da sua
capacidade nominal, em função do nível de tensão produzido pelo carregamento.
As ¿bras de carbono normalmente são muito menos susceptíveis à ruptura por Àuência do
que as ¿bras de vidro.

São os seguintes os valores de ( kf ) recomendados pela ACI 44012, apresentados através


da Tabela 8.7:

Tipo da Fibra Fibra de Vidro Fibra de Aramida Fibra de Carbono


Tensão limite de ruptura por
0,20.ffu 0,30.ffu 0,55.ffu
Àuência Ff,s

Tabela 8.7 – Tensão limite de ruptura por Ňuência.

A capacidade resistente à Àexão de uma alvenaria (parede) reforçada por sistema com-
posto pode ser calculada a partir de uma seção ¿ssurada, onde o comportamento dos dois
materiais deve ser considerado como elasticamente linear, como é mostrado na Figura 8.6.
Admitindo-se que a linha neutra do sistema esteja situada na casca lateral do bloco de
concreto da alvenaria, as tensões atuantes tanto na alvenaria como no material composto
podem ser obtidas a partir do equilíbrio das forças atuantes.

1
( bm .kdf .fb ) = Af .ff onde,
2

f b = ε m .E m
f f = ε f .E f

Ef sendo,
n=
Em

Af – área da seção transversal de composto.


bm – largura da faixa considerada de parede.
df – profundidade efetiva do reforço de composto.
Ef – módulo de elasticidade do composto.
fb – tensão de compressão calculada na alvenaria devida exclusivamente a Àexão.

12 - ACI 440 .1R-03- Table 8.2 – Creep rupture stress limits in FRP reinforcement.

334
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

f f – tensão de tração calculada no composto.


n – relação entre os módulos de elasticidade do composto e da alvenaria.
Hf – deformação no composto.
Hm – deformação na alvenaria.

Figura 8.6 – Comportamento linearmente elásƟco dos materiais.

O coe¿ciente (k) é obtido da relação apresentada a seguir, onde ( ρf ) é a densidade do re-


forço com composto.

(n.ρf ) + 2 (n.ρf )
2
k = −n.ρf +

Finalmente, o momento Àetor de serviço é estimado por


⎛ k.df ⎞
Ms = Af .ff ⎜ df − ⎟
⎝ 3 ⎠

A partir desta expressão pode-se, também, escrever:


Ms
ff = e
⎛ k.df ⎞
Af ⎜ df − ⎟
⎝ 3 ⎠

2.Af .ff
ff =
k.df .bm

Exemplo 8.1: Determinar o reforço necessário para permitir que a parede de blocos de
concreto apresentada na Figura 8.7 possa resistir ao momento Àetor devido ao vento
Mw = 760 kN.cm. Considerar a parede vinculada em sua base e no seu topo.
Deverão ser utilizadas barras de ¿bra de carbono #2 (com ĭ = 6,35 mm e Af1 = 32,71 mm2)
com resistência garantida à tração (f*fu = 1380 MPa) e (Ef = 125 GPa). A resistência à com-
pressão do bloco de concreto da alvenaria é (fp = 11,0 MPa), sendo a espessura da parede
interna do bloco igual a 2,5 cm.
fp = 11,0MPa , assim, Ealv . = 11,0.850 = 9350MPa = 9,35GPa

335
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Ef 125
Ef = 125GPa ⇒ n = = = 13,369
Ealv . 9,35

ffu = CE .f * fu = 0,85.1380 = 1173MPa

Mw=760kN.cm Mw=760kN.cm
300

Figura 8.7 – Esforços atuantes na alvenaria.

1 1
df = t − (1,5d b ) = 20 − (1,5.0,635 ) = 19,542cm
2 2

Seja a barra #2 espaçada cada 25 cm, ou seja, será considerada uma “fatia” de parede de
largura 25 cm.
Af 32,71
ρf = = = 0,00067
balv . .df 250.195,42

k = −n.ρf + ( n.ρf )2 + 2( n.ρf )


k = −13,369.0,00067 + (13,369.0,00067 )2 + 2(13,369.0,00067 ) = 0,1252

k.df = 0,1252.19,542 = 2,446 < 2,5cm (a profundidade da LN é menor que a espessura


do bloco).
kN.cm kgf .cm
Ms = 760kN.cm / m ⇒ Ms = 0,25.760 = 190 = 19000
25cm 25cm

Ms 19000 kgf
ff = = = 3101,82
d 19,542 cm 2
Af ( df − k. f ) 0,3271(19,542 − 0,1252. )
3 3

kgf
Ff = kf .ffu = 0,55.11730 = 6541,50
cm 2

kgf kgf
ff = 3101,82 2
< Ff = 6541,50 ⇒ OK !
cm cm 2

336
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

2.Af .ff 2.0,3271.3101,82 kgf


fb = = = 33,175
k.df .bm 0,1252.19,542.25 cm 2

f ' m 110 kgf


Fb = = = 36,666
3 3 cm 2

kgf kgf
fb = 33,175 < Fb = 36,666 ⇒ OK !
cm 2 cm 2

Ou seja, a colocação de barras de ¿bras de carbono (#2) a cada 25 cm atende ao momento


Àetor (Mw = Ms = 760kN.cm) uma vez que não são excedidas as tensões admissíveis de
compressão no bloco de concreto e na barra de ¿bra de carbono.
A Figura 8.8 indica como seria uma possível distribuição das barras de ¿bra de carbono
(#2 ) na face interna da parede (lado oposto ao da ação do vento).
BARRAS DE FIBRAS DE
CARBONO #2 EM MON-
TAGEM SUPERFICIAL
FACE EXTERNA
FACE INTERNA

BARRAS #2
CADA 25cm

25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25

Figura 8.8 – Distribuição das barras do reforço.

8.6.2 SUGESTÃO DE DIMENSIONAMENTO PROPOSTO PARA O REFORÇO DE ALVENARIAS

Uma sugestão de procedimento de cálculo do reforço de alvenarias é proposto através da


publicação “Flexural Strengthening of URM Walls Subject to Out-of-Plane Loads”13, desde
que, se trate de paredes simplesmente apoiadas em sua base e topo e não sujeitas a ação
de mecanismos de arco de pressão.
O procedimento de projeto admite como válido o critério de resistência última, no qual a
capacidade resistente à Àexão do elemento reforçado tem necessariamente que exceder o
momento Àetor máximo solicitante, condição que pode ser assim expressa:

Mu = φ M n
(a)
Deverão ser adotadas as seguintes limitações e condicionantes:

13 - J. G. Tumialan, Nestori GalaƟ e Antonio Nanni – Proposed Design Protocol.

337
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– as deformações no reforço com FRP e na alvenaria serão diretamente proporcio-


nais às suas distâncias da linha neutra da seção;
– a deformação máxima na ¿bra extrema mais comprimida será limitada por ( ε mu ),
com valor especí¿co para cada tipo de elemento construtivo da alvenaria;
– a deformação máxima que será admitida para o reforço com compostos FRP será
(km.İfu), sendo o valor de (km) de¿nido a partir do nível de regularização da super-
fície onde será aplicado o sistema estrutural;
– a tensão resistente de tração da alvenaria não será considerada;
– o reforço com o sistema FRP terá um comportamento tensão versus deformação
linear até a ruptura;
– a tensão de compressão de (0,7.f’m) na alvenaria será admitida uniformemente
distribuída sobre uma zona de compressão compreendida entre a face externa da
alvenaria e uma reta paralela à linha neutra a uma distância (D c) da ¿bra com
a máxima deformação de compressão;
– o índice de reforço do composto FRP (Zf) é limitado a 0,70 para evitar a ruptura
por cortante.

São as seguintes as recomendações de projeto:


– a capacidade nominal à Àexão será computada considerando um fator de redução
(φ = 0,70). O conceito do fator de redução é semelhante ao recomendado pelo
ACI – 318, onde uma seção com baixa dutibilidade deve ser compensada por uma
maior reserva de resistência. A maior reserva de resistência é conseguida através
da utilização do coe¿ciente de redução (0,70) às seções passíveis de ocorrência de
uma ruptura frágil ou falhas prematuras, tais como o descolamento do sistema FRP.
– para prevenir as agressões decorrentes do meio ambiente a deformação (İfu )de-
verá ser determinada a partir da deformação garantida pelo fabricante do plástico
(İ*fu) como indicado:

ε fu = CE .ε * fu (b) onde

CE - coe¿ciente de redução ambiental obtido da Tabela 8.8

Condição de Exposição Tipo de Fibra CE


carbono 1,00
Ambientes con¿nados e condicionados vidro 0,80
aramida 0,90
carbono 0,90
Ambientes descon¿nados e não condicionados vidro 0,70
aramida 0,80

Tabela 8.8 – Valores do coeĮciente CE.

338
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

Decorrente da distribuição de tensões em uma seção da alvenaria a equação que permite


determinar a capacidade nominal à Àexão de uma seção não armada, reforçada com FRP,
é a seguinte:
⎛ β .c ⎞
Mn = (γ .f ' m ) . ( β1 .c ) .bm . ⎜ t m − 1 ⎟ (c)
⎝ 2 ⎠

Onde,
J – multiplicador do valor de (f’m) para determinar a intensidade do bloco equivalente de
tensões na alvenaria, considerado com valor (0,70).
f’m – resistência à compressão da alvenaria.
E – relação entre a profundidade do bloco retangular equivalente de tensões e a profundi-
dade da linha neutra, considerado com valor (0,70).
c – distância da ¿bra mais comprimida da seção à linha neutra.
bm – largura da alvenaria considerada na avaliação do reforço com FRP.
tm – espessura nominal da alvenaria.

Para atender ao equilíbrio interno das forças atuantes na seção teremos:

( γ .f ' m ).( β1 .c ).bm = Af .ff (d) onde,

ff = Ef .ε fe (e)

A deformação efetiva no FRP, (İfe), é limitado pela deformação determinada pelo descola-
mento do sistema.

ε fe ≤ km .ε fu (f) sendo,

k m = 0,65 se for utilizada pasta de regularização na superfície da alvenaria.

k m = 0,45 se não for utilizada pasta de regularização na superfície da alvenaria.

Normalmente as alvenarias de blocos de concreto só necessitam de pasta de regulariza-


ção nas juntas horizontais e verticais das ¿adas de assentamento. Alvenarias de elementos
cerâmicos, entretanto, necessitam ter uma superfície regularizada decorrente dos desali-
nhamentos, falta de uniformidade super¿cial, etc, dos seus elementos constituintes.

339
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 8.9 – Deformações na seção da alvenaria.

Os valores de (Af) e (c) são obtidos através das equações (a) a (f). Da distribuição das
deformações na seção da alvenaria, o nível de deformação ( ε m) na mesma pode ser deter-
minado, conforme Figura 8.9, por:
c
ε m = ε fe ≤ ε mu (g)
tm − c

onde,
İmu = 0,0025 mm/mm para alvenarias de blocos de concreto.
İmu = 0,0035 mm/mm para alvenarias com elementos cerâmicos.

Se (İm) exceder (İmu) uma nova deformação deverá ser calculada para o FRP através da
equação (g) considerando-se (İmu = İm).
Em seguida, a área de FRP necessária ao reforço (Af) pode ser determinada com a utiliza-
ção das equações (a) e (e).
O espaçamento máximo entre os elementos de FRP, (Sf), ainda não está devidamente
justi¿cado cienti¿camente para elementos aderidos sobre as superfícies das alvenarias.
O valor máximo do espaçamento (Sf) pode ser considerado como sendo o dobro da espes-
sura (tm) da alvenaria, segundo o critério de distribuição das tensões ao longo da espessura
da alvenaria.
Alternativamente, o valor de (Sf) pode ser considerado igual ao comprimento da unidade
de alvenaria adotado no cálculo.
Dessa forma, o espaçamento máximo entre os elementos de FRP pode ser assim re-
comendado:
(Sf) será o valor mínimo entre {2t m ; L} , sendo:
L = lb – para blocos de concreto
L = 2.lb – para elementos cerâmicos
lb – comprimento da unidade utilizada na alvenaria (blocos, cerâmicos, etc.).

340
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

Exemplo 8.2: A capacidade resistente à Àexão de uma alvenaria de blocos de concreto


não reforçada, uniformemente apoiada nos seus extremos, deverá ser adequada para ab-
sorver um momento solicitante de (10,6 kN.m/m).
A alvenaria foi construída com blocos de concreto com dimensões (200 x 200 x 400 mm),
com paredes de espessura 25 mm.
Utilizar para o reforço sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono.

Características da Alvenaria:

f ' m = 12MPa
ε mu = 0,0025mm / mm

Utilizando-se laminados 400 (50 x 1,4) mm temos:

f * fu = 2400MPa
Ef = 131GPa
ε * fu = 0,0187mm / mm

Capacidade resistente à Àexão:

Mu 10,6
Mn = = = 15,143kN.m / m
ΦҀ 0,7
⎛ β .c ⎞
Mn = ( λ .f ' m )( β1 .c ) bm ⎜ t m − 1 ⎟
⎝ 2 ⎠
⎛ 0,7.c ⎞
Mn = (0,7.12.10 3 )(0,7.c ).1,00 ⎜ 0,20 − ⎟ = 5880c(0,2 − 0,35c )
⎝ 2 ⎠
15,143 = 1176c − 2058c 2 ⇒ 2058c 2 − 1176c + 15,143 = 0

1176 ± 1176 2 − 4.2058.15,143 1176 ± 1121,748


c= ⇒c=
2.2058 4116

c = 0,0132 m = 13,2 mm ĺ c = 13,2 mm < 25 mm = espessura da parede do bloco


Para CE = 0,90 temos:

ε fu = CE .f * fu = 0,90x0,0187 = 0,0168mm / mm

Considerando o descolamento do laminado como determinante, e que, por tratar-se de blo-


cos de concreto, a superfície da alvenaria não será tratada com a pasta de regularização
tem-se:
k m = 0,45
ε fe = km .ε fu = 0,45 x0,0168 = 0,0076mm / mm

341
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Veri¿cando para ver se não ocorre o esmagamento da alvenaria:

c 13,2
ε m = ε fe = 0,0076 = 0,0005mm / mm
tm − c 200 − 13,2
ε m = 0,0005mm / mm < ε mu = 0,0025mm / mm ⇒ OK !

Assim, a tensão no FRP será:


ff = ε f .Ef = 0,0076.131 = 0,996GPa

A área necessária de FRP será obtida de:

Af .ff = (0,7f ' m )(0,7.c )bm


0,7 x12x0,7 x0,0132x1
Af = = 0,000080m 2 / m = 80mm 2 / m
0,996x10 3

A largura (wf) necessária de laminado por metro linear de alvenaria será:

Af 80
wf = = = 57,14mm
tf 1,4

Como o laminado tem dimensões padronizadas de (50 x 1,4 mm) deverá ser utilizado um
laminado cada 87,5 cm.
(Sf) será o valor mínimo entre {2tm; L}
(Sf) será o valor mínimo entre {2 x 200;400}, ou seja o espaçamento máximo será
Sf = 400 mm = 40 cm.

Uma solução seria utilizar laminados de seção (50 x 1,4 mm) cortados na largura
(20 x 1,4 mm) posicionados a cada 35 cm, como mostrado na Figura 8.10.
Se substituíssemos o laminado por tecido, com as seguintes características mecânicas,
teríamos:

f * fu = 3550MPa
Ef = 235GPa
ε * fu = 0,0150mm / mm
tf = 0,165mm

342
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

Figura 8.10 – Solução de reforço com laminados.

ε fu = 0,90x0,0150 = 0,0135mm / mm
ε fe = 0,45 x0,0135 = 0,0061mm / mm
13,2
ε m = 0,0061 = 0,0004mm / mm < 0,0025mm / mm ⇒ OK !
200 − 13,2
ff = 0,0061x235 = 1,434GPa
Af x1,434x10 3 = 0,7 x12x0,7 x0,0132x1
Af = 54,1mm 2 / m
54,1
wf = = 327,8 ≅ 328mm / m
0,165

Ou seja, podem ser utilizadas lâminas de CF-130 com largura de 100 mm (10 cm) espa-
çadas a cada 30,49 cm § 30 cm, como solução alternativa à primeira, como mostrado na
Figura 8.11.

Figura 8.11 – Solução com lâminas de tecido de Įbra de carbono.

343
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

8.6.3 REFORÇO DE PAREDES DE CONCRETO ARMADO SUBMETIDAS A FORÇAS


CORTANTES ATUANDO EM SEU PLANO

O comportamento estrutural das alvenarias submetidas a forças cortantes é muito similar


ao dos elementos de concreto armado.
As con¿gurações mais comuns de ruptura por cisalhamento são as que são mostradas na
Figura 8.12, onde se representam dois dos tipos mais comuns de manifestações.
Na Figura 8.12(a) ocorre uma ¿ssuração diagonal cortando os blocos da alvenaria, uma
vez que a tensão principal (V é maior que a resistência última dos blocos.
Na Figura 8.12(b) a ruptura ocorre ao longo das juntas de argamassa da alvenaria, uma
vez que a tensão principal (V é superior à tensão de aderência argamassa-bloco.

σ
σ

σ σ

Figura 8.12 – Ocorrência de cisalhamento nas alvenarias.

8.6.3.1 Alvenarias sujeitas à força cortante

O colapso das estruturas de alvenaria pode ser causado por fraqueza ou enfraquecimento
estrutural, sobrecarregamentos, vibrações dinâmicas, recalques e deformações diversas
em seu plano ou fora do seu plano.
Alvenarias não estruturadas (não armadas) podem tanto receber carregamentos como
apenas servirem como elementos divisórios e geralmente são construídas com tijolos ma-
ciços ou blocos vazados, cerâmicos ou de concreto.
Devido à sua fraca ancoragem nos elementos adjacentes, tais como vigas, pilares e lajes,
ou mesmo devido à sua absoluta falta da mesma, as alvenarias podem entrar em colapso
sob a ação de cargas atuando fora do seu plano geradas por esforços sísmicos.
Nas alvenarias não estruturadas, o colapso decorrente da ocorrência de esforços Àetores
atuando no plano perpendicular às mesmas tem produzido a maioria dos danos estruturais
e perdas de vidas humanas quando da ocorrência dos sismos.

344
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

A maior parte das pesquisas envolvendo a utilização de sistemas compostos FRP foi diri-
gida para a recuperação e o reforço de estruturas de concreto armado. A literatura técnica
corrente sobre alvenarias tem indicado que cada uma dessas causas de colapso estrutural
pode ser prevenida e minorada com a utilização dos sistemas compostos estruturados com
¿bras de carbono.
Estudos realizados com o uso desses compostos utilizando variáveis como con¿gurações
diversas de carregamentos, mecanismos de transferência, esquemas de reforços e siste-
mas de ancoragem conduziram a avaliações e resultados bastante promissores mas, ape-
sar das técnicas já desenvolvidas e comprovadas, muitos outros estudos ainda deverão
ser feitos para um conhecimento mais completo do problema.
Sem desconsiderar a importância dos reforços convencionais de baixo custo de instala-
ção, a utilização dos sistemas compostos estruturais que utilizam ¿bras de carbono, vidro
e aramida possuem algumas vantagens quando comparadas aos métodos tradicionais de
reforço, tais como uma perturbação mínima aos ocupantes das edi¿cações quando da sua
instalação e pelo fato de praticamente não ocuparem espaço, preservando as dimensões
originais.
Adicionalmente, do ponto de vista estrutural, as propriedades dinâmicas da estrutura per-
manecem inalteradas, porque não há acréscimo sensível de peso ou espessura. A única
alteração nas propriedades mencionadas resultam no acréscimo da resistência aos esfor-
ços sísmicos.
Sistemas compostos estruturados com plásticos (¿bras de carbono e de vidro) podem ser
utilizados para o reforço sísmico tanto de paredes estruturais de concreto armado como
para alvenarias convencionais.
A principal utilização desses sistemas compostos é o enrijecimento estrutural ao esforço
cortante (corte), mas também é possível e bastante utilizado para o reforço à Àexão.
Os compostos reforçados com plásticos são presentemente dos sistemas mais recomen-
dados tanto para o reforço antisísmico ao corte como para o aumento da ductibilidade de
paredes planas de concreto armado, devendo, entretanto, ser destacado que a maioria
dos estudos experimentais já realizados foram procedidos em alvenarias, armadas ou não,
submetidas a carregamentos atuantes no seu plano.
É muito importante que sejam avaliadas tanto a resistência como a rijeza dos diafragmas
dos pisos (lajes de piso) e a sua conexão (ligação) com a parede resistente ao corte a ser
reforçada com os compostos plásticos. Outro ponto crítico é a avaliação das condições de
suporte da parede em estudo.
Antes de se proceder ao reforço da parede com a utilização de compostos reforçados com
plásticos é importante que o engenheiro estrutural satisfaça aos requisitos de ligação e
conexão recomendados para as paredes resistentes ao corte.
À falta de códigos especí¿cos tanto no Brasil como nos Estados Unidos são normalmente
utilizados para essas veri¿cações três diferentes códigos e/ou fontes de referência:
– ACI 318-14 que é a versão mais atualizada do código americano em vigência. A
versão ACI 318-02, que está muito próximo de ser referendado pela próxima re-
visão do IBC, contém diferenças signi¿cativas na utilização do modelo estrutural

345
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

com a utilização de estribos para o dimensionamento inicial das paredes, favore-


cendo bastante a utilização dos sistemas compostos estruturados com plásticos.
– Duas outras fontes de referência utilizadas, embora não podendo serem tecni-
camente consideradas como códigos, são o FEMA (NEHRP) 273/356 e o ICBO
Evaluation Services, Inc. Acceptance Criteria for Concrete and Reinforced and
Unreinforced Masonry System, AC 125 (2001). O primeiro é um guia elaborado
especialmente para reabilitações sísmicas de edifícios, contendo referências e
recomendações para a utilização dos sistemas compostos em diversas situações
e é a única referência especi¿camente elaborada para o reforço de estruturas de
concreto armado. O segundo contém recomendações de projeto para as paredes
de concreto armado submetidas a carregamentos de corte em seu plano.

Portanto, antes de estabelecer os critérios de projeto de uma parede resistente ao corte,


é recomendável ao engenheiro estrutural o conhecimento do disposto na seção 6.4.6 do
documento da FEMA para o atendimento dos requisitos de conexão (ligação) dessas pare-
des. Tanto os conectores metálicos como aqueles conformados com sistemas compostos
podem ser utilizados para a conexão da parede a ser reabilitada com sua fundação. Entre-
tanto, quando forem utilizados conectores metálicos associados com compostos estrutu-
rados com ¿bras de carbono, deve ser utilizada uma camada de ¿bra de vidro na interface
dos dois materiais para que seja impedida a possibilidade da ocorrência de corrosão gal-
vânica em presença do vapor d’água.
Existem dois procedimentos possíveis para o reforço de paredes de concreto armado sub-
metidas a esforços de corte com sistemas compostos estruturados com plásticos:
1 – Prescrições Tradicionais de Projeto, tipicamente discriminadas nos códigos do
ACI. Trata-se do conjunto de exigências para o projeto e o detalhamento que im-
plicitamente incluem os critérios de desempenho mas que não permitem liberdade
ao projetista. Os procedimentos gerais são dirigidos no sentido da veri¿cação da
estrutura para a submissão da mesma aos critérios correntes ou acordados do có-
digo. Se qualquer um desses procedimentos não puder ser atendido torna-se ne-
cessária a substituição ou reparação dos elementos para adequá-los às recomen-
dações correntes dos códigos. A grande vantagem desse tipo de procedimento é
a simplicidade, de modo geral, com indicações mais conservadoras. Entretanto,
nem sempre a solução pode ser avaliada dessa maneira simpli¿cada, exigindo um
aprofundamento maior na solução.
2 – Projeto Baseado no Desempenho - a estrutura é avaliada conforme critérios
pré-determinados de desempenho, que podem ser determinados pelas forças ou
pelos deslocamentos. Quando os critérios determinantes forem as forças, os ele-
mentos são analisados da maneira convencional de projeto. Se os critérios forem
os de deslocamento, os elementos são analisados levando-se em consideração
as características individuais dos diversos componentes da estrutura existente.
Dependendo da capacidade avaliada para os deslocamentos, a estrutura pode
ser reforçada de forma tal que permita que a mesma tenha uma maior capacidade
de deformação. As vantagens decorrentes desse tipo de avaliação permitem uma

346
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

possível redução na quantidade de reforço requerido e um melhor conhecimento


que pode ser obtido do provável desempenho da construção.

Quatro principais métodos analíticos podem ser considerados para a análise e projeto de
paredes resistentes ao corte reforçadas por laminados dos sistemas compostos estrutura-
dos com plásticos:
– métodos lineares estáticos.
– métodos lineares dinâmicos.
– métodos não lineares estáticos.
– métodos não lineares dinâmicos.

De maneira geral, as duas primeiras abordagens são mais frequentemente associadas


com os métodos tradicionais de projeto e as duas últimas são mais associadas aos mé-
todos baseados no desempenho estrutural, e constituem, de modo geral, as alternativas
disponíveis para os projetistas, embora outros fatores possam interferir no processo.
Para os dois primeiros processos de avaliação alguns critérios de projeto necessitam se-
rem estabelecidos considerando os seguintes fatores críticos:
– tensões admissíveis para os materiais componentes dos sistemas compostos es-
truturados com plásticos – deve ser considerado, segundo as recomendações
de diversas normativas, embora futuros fatores de modi¿cação decorrentes das
condições ambientais e redutores de resistência ainda possam ser aplicados, o
seguinte valor de tensão máxima admissível:

f j = 0,004E j = 0,75fui

- estados existentes de tensão/deformação – de modo geral esse não é um fator


importante na maioria dos casos das paredes, que transferem, de modo geral,
cargas insigni¿cantes em condições de serviço. Contudo, no caso de paredes de
concreto armado resistentes ao corte que trans¿ram cargas permanentes e sobre-
cargas e cargas acidentais signi¿cativas, essa veri¿cação deve ser considerada.
– interação entre a armadura, o concreto e o sistema composto – existem dois fato-
res que necessitam serem considerados criteriosamente nesse caso: os compri-
mentos de aderência da armadura e de colagem do sistema composto e o con¿-
namento das zonas de compressão nas regiões extremas das paredes resistentes
ao corte. De certa maneira os comprimentos de aderência e de colagem são re-
comendados nas normativas existentes. A ACI 440.2 recomenda um comprimento
de colagem de apenas 15 cm, que tudo indica ser insu¿ciente e inadequado, par-
ticularmente no que se refere à ocorrência de alternância nos valores de tensões.
Essa ocorrência deve ser levada em consideração uma vez que é particularmente
signi¿cativa em paredes resistentes ao corte com carregamentos de Àexão ex-
pressivos. Deve ser considerada a utilização de ancoragens (conectores) nas re-
giões onde ocorrem tensões de colagem elevadas.

347
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Já para o con¿namento nas zonas de compressão os resultados de testes realizados em


paredes de alvenaria com elementos de concreto armado, reforçadas com diferentes tipos
de laminados de materiais compostos aplicados à seco em ambos os lados e mesmo em
um único lado das paredes indicam a signi¿cância desse con¿namento para a determina-
ção da capacidade última de corte das paredes reforçadas com os sistemas compostos
estruturados com plásticos.
Em testes realizados em paredes em escala verdadeira a resistência última das paredes
reforçadas com os sistemas compostos foi estabelecida pela ruptura localizada na zona
de compressão situada na extremidade das mesmas decorrentes do esmagamento do
concreto seguida da Àambagem localizada das barras da armadura vertical. Essa manifes-
tação é muito comum em paredes de concreto armado resistentes ao corte esbeltas, com
uma relação (altura/comprimento) maior ou igual a 3,0, onde normalmente a resistência é
governada pela Àexão. Essas paredes esbeltas tendem a conformar uma rótula plástica de
Àexão próxima à sua base sob a ação de grandes carregamentos laterais. Dessa maneira,
o engenheiro deve veri¿car a resistência de escoamento da parede utilizando tão somente
a armadura longitudinal existente na parte exterior, situada dentro da espessura de 25% da
seção transversal da parede, com o objetivo de determinar o estado limite de resistência
da parede reforçada com compostos estruturados com plásticos. Um fator de redução da
e¿ciência (Ÿ) deve ser considerado quando da determinação do reforço. Por outro lado,
a resistência das paredes de concreto armado resistentes ao corte com relação (altura/
comprimento) da ordem de 1,50 é normalmente governada pelo cortante, em decorrência
da sua limitada capacidade de deformação no intervalo elástico quando suportando carre-
gamento lateral continuado de origem sísmica.

8.6.3.2 Procedimentos simpli¿cados para o enrijecimento de paredes submetidas a forças


cortantes no seu plano

Um fator de e¿ciência (Ÿ) é utilizado quando do projeto de reforço de paredes submetidas


a forças cortantes no seu plano para levar em consideração a melhor localização do siste-
ma composto na superfície da parede.
São sugeridos os seguintes valores de (Ÿ) para os diversos detalhamentos de reforços
possíveis conforme indicado na ¿gura 8.13.
– (Ÿ = 2,00) quando ocorrer o envolvimento completo do painel de parede.
– (Ÿ = 1,75) quando ocorrer a possibilidade de ancorar o sistema composto aplicado
em uma face na face oposta da parede.
– (Ÿ = 0,75) quando ocorrer a aplicação do sistema composto nas duas faces opos-
tas sem que ocorra a possibilidade de ancoragem por envolvimento.
– (Ÿ = 0,75) quando ocorrer a aplicação do sistema composto em apenas uma face
da parede sem que ocorra a possibilidade de ancoragem por envolvimento.
Os valores de (Ÿ) foram obtidos através de testes em paredes com alvenarias de concreto
armado em verdadeira grandeza.
A Figura a seguir demonstra os valores recomendados para (Ÿ).

348
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

Do exposto, o reforço mais e¿ciente é conseguido quando existe a possibilidade de envol-


vimento completo do painel de parede Essa solução geralmente pode ser aplicada entre
as aberturas das paredes. Se o composto puder ser aplicado em somente uma face da
parede, mas podendo envolver os cantos e obter uma ancoragem na face oposta, essa
será a segunda opção mais e¿ciente.
As aplicações simples em uma ou nas duas faces da parede constituem as soluções me-
nos e¿cientes, mas talvez as mais utilizadas em funções das geometrias disponíveis

Figura 8.13 – Fator de eĮciência (ɏ).

8.6.3.2.1 Reforço nominal do cortante

O reforço nominal do cortante fornecido pelo sistema composto estruturado com plásticos,
(V), é dado pela seguinte expressão:
φV = φ .Ω .f .t.lw .cot α (valor fornecido em kgf), sendo,
f = E g .ξ e onde
φ = 0,85 para a determinação do cortante.
: - coe¿ciente de e¿ciência.
Eg - módulo de elasticidade garantido do plástico do composto (MPa).
[ - deformação máxima permitida, considerada com valor (0,004 = 4‰).
t - espessura da lâmina do composto (cm).
lw - comprimento da seção da parede paralela às forças laterais aplicadas (cm).
D - ângulo da inclinação da ¿bra com a horizontal.

Assim, o objetivo principal do reforço de uma parede submetida a forças cortantes no seu
plano com a utilização de sistemas compostos reforçados com plásticos é o de adicionar
capacidade resistente ao corte.

349
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

De modo geral o reforço de paredes pode assumir con¿gurações bastante diversas, po-
dendo ser utilizados para o reforço plásticos sob a forma de tecidos, sob a forma de lami-
nados e mesmo sob a forma de barras, conforme mostrado na ¿gura seguinte.
As disposições A e D mostram os tecidos aplicados segundo uma direção horizontal, se-
gundo direções ortogonais (horizontal e vertical), segundo uma direção inclinada e segun-
do direções inclinadas ortogonais.
As disposições E e F mostram a aplicação de laminados de plásticos, que além dessas
duas con¿gurações podem assumir disposições tais como B e C.
Disposições idênticas podem ser assumidas com a utilização de barras redondas de plás-
ticos ou mesmo as seções retangulares conhecidas como réguas (ou slides).
Essas con¿gurações podem ser utilizadas em somente uma face da parede ou também
nas duas faces opostas. O fator de redução de e¿ciência a ser adotado está apresen-
tado na Figura 8.13 em função das condições de contorno que puderem ser estabele-
cidas nas paredes.
Por serem mais econômicos, os plásticos mais utilizados para o reforço ao corte das pare-
des são a ¿bra de vidro, que pode ser encontrada na forma de tecidos, laminados e barras
circulares.

Exemplo 8.3: Determinar o acréscimo de resistência ao corte com a utilização de duas


camadas de ¿bras de vidro aderidas por meio de resinas epoxídicas na parede repre-
sentada pela ¿gura abaixo. Considerar para o dimensionamento uma deformação
máxima admissível ([ = 0,004) e o módulo de elasticidade nominal da ¿bra de vidro
(En = 26646985 MPa), fator de redução ambiental (Ce - 0,65) e (t = 0,127 cm).

Eg = CE .En = 0,65.26646,985 = 17320,54MPa = 173205,40kgf / cm 2


f = Eg .ε = 173205,40.0,004 = 692,82kgf / cm 2
t = 2.0,127 = 0,254cm

φV = φ .Ω .f .t.lw .cot α = 0,85.0,75.692,82.0,254.100.1 = 11218,49kgf

φV = 11218kgf / m ⇒ ou seja, considerando uma lâmina de ¿bra de vidro aderida em


cada face de uma parede, o acréscimo de resistência ao cortante para uma largura consi-
derada de 100 cm será de 11218 kgf.

350
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

Figura 8.14 – Alvenaria com reforço de FRP a 450.

Esse reforço, entretanto, não leva em consideração a existência de aberturas tais como
portas e janelas no painel de parede considerado, assim como a ocorrência de outros es-
forços atuantes fora do plano considerado.
A Figura 8.15 mostra as possíveis disposições das lâminas (tecidos) de ¿bra de carbono
quando do reforço de alvenarias. Essas disposições podem também ser adotadas indis-
criminadamente tanto para barras e per¿s de ¿bras de carbono como também para os
laminados de ¿bra de carbono.
São transcritos, na sequência, comentários extraídos do “Task Force on Design of Exter-
nally Bonded FRP Systems for Seismic Strengthening Concrete Structures” que são consi-
derados bastante pertinentes e importantes:
– quando do estudo do aumento da capacidade resistente os modos potenciais de
colapso tais como escorregamento por cisalhamento e rupturas por Àexão ou com-
pressão devem também ser considerados para garantir que o cortante adicional
introduzido na peça possa realmente ser desenvolvido;
– as conexões das paredes com os elementos adjacentes, tais como diafragmas e
fundações devem ser cuidadosamente analisadas pelo engenheiro estrutural;
– os sistemas compostos de reforço devem se desenvolver ao redor das extremida-
des das paredes ou através dos vãos produzidos por portas e janelas sempre que
possível;
– onde o desempenho do material composto depender da colagem, a resistência
da cola do sistema FRP no concreto deverá ter uma resistência mínima de 1,4
MPa. Contudo, se a resistência da cola for baixa, considerações especiais de
projeto deverão ser adotados, inclusive com a utilização de ancoragens mecâni-
cas utilizando ou não compostos. As tensões da cola serão calculadas baseadas

351
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

nas forças de tração no composto que se esperam sejam desenvolvidas sobre a


superfície de colagem;

Figura 8.15 – Disposições dos reforços com plásƟcos nas Alvenarias.

– sugere-se que sejam utilizadas ancoragens nas extremidades de laminados de


FRP junto aos limites das paredes para que seja assegurado o desenvolvimento
das deformações previstas em projeto e para que seja garantida uma vida útil de
longa duração para o composto aplicado;

352
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

– deverão ser tomadas medidas para permitir a migração da pressão de vapor das
paredes, lajes e outros elementos reforçados onde a pressão potencial exceder
a 2,07 kgf/cm2 (3 psi). Essa pressão pode ser facilmente medida “in loco” com a
utilização de equipamentos simples. Se a pressão exceder 2,07 kgf/cm2 deve-se
garantir-se que pelo menos 30% da superfície a ser reforçada ¿que desimpedida
para permitir a transmissão do vapor. Deverão, também, serem consideradas nas
aplicações as condições ambientais (climáticas) e de campo.

8.6.4 CONFINAMENTO DE COLUNAS DE ALVENARIA

O con¿namento de colunas de alvenaria, segundo as recomendações da CNR – DT -


200/200414, permite aumentar tanto a capacidade resistente à compressão como a sua
deformação. O reforço permite uma melhoria no desempenho da coluna no seu estado
último de serviço.
Esse reforço é normalmente aplicado através do envelopamento do elemento, ação que
permite o efeito bené¿co do con¿namento, que impede a deformação lateral da coluna. O
reforço com FRP pode ser utilizado tanto para o caso da reabilitação de estruturas deterio-
radas como para o reforço preventivo contra os efeitos sísmicos.
O con¿namento pode ser implantado com a utilização de tecidos de FRP aplicados como
reforço externo ao longo do perímetro do elemento. Quando da utilização de barras, elas
são inseridas em furos previamente executados, atravessando o elemento a ser reforçado,
conforme mostrado na Figura 8.16.

Figura 8.16 – Camadas de reforço com barras nas Alvenarias.

Da Figura 8.16 se observa que as barras são introduzidas em furos executados em duas
direções ortogonais à seção transversal do elemento. Cada conjunto de (pelo menos) duas
barras constitui o denominado “camada de barras”. Esse tipo de reforço pode, efetivamen-
te, conter a deformação lateral (transversal) da alvenaria. A barra inserida no furo ¿ca en-

14 - NaƟonal Research Council – “Guide for Design and ConstrucƟon of Externally Bonded FRP Systems for Strengthe-
ning ExisƟng Structures” – CNR – Julho, 2004.

353
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

volvida por pasta epoxídica, que promove a sua adesão à alvenaria, ou, alternativamente,
¿xada por meio de dispositivos mecânicos aplicados em suas extremidades.
No caso de aplicação concomitante de barras e tecidos no reforço de um mesmo elemento,
é recomendável que esses materiais de FRP exibam características mecânicas similares
(compatíveis).

8.6.4.1 Projeto de reforço de colunas de alvenaria carregadas axialmente

O projeto de reforço desses elementos de alvenaria con¿nados por FRP é baseado na


consideração de que o sistema FRP passe a ser parte integrante e funcional da geometria
do elemento.
É recomendável instalar-se o reforço com FRP com ¿bras se desenvolvendo segundo a
direção ortogonal ao eixo vertical do elemento. A e¿ciência do reforço aplicado em espiral
deve ser adequadamente provado e justi¿cado.
A capacidade de resistência axial do elemento reforçado com FRP deve exceder a carga
axial de projeto, conforme indicado:

NR,alv. • NSd onde,


NR,alv. capacidade resistente axial do elemento reforçado.
NSd carga axial majorada do elemento.
1
NR ,alv . = .Am .fmed ≥ Am .fmd
γ Rd

Am área da seção transversal do reforço com FRP.


fmed resistência à compressão da alvenaria con¿nada.
fmd resistência à compressão da alvenaria descon¿nada.
O valor de (JRd) é obtido da Tabela 8.7.

Módulo de Resistência JRd


Flexão e Àexo-compressão 1,00
Cortante e torção 1,20
Con¿namento 1,10

Tabela 8.7 – Determinação do coeĮciente JRd.

fmed = fmd + k.fl,ef onde,


k’ coe¿ciente adimensional.
fl,ef pressão efetiva de con¿namento.
k’ = galv./1000

354
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

galv. peso especí¿co da alvenaria.

A pressão efetiva de con¿namento (fl,ef) é função da forma da seção transversal do elemen-


to e do sistema FRP aplicado.
Sendo,
Vm o volume do elemento a ser reforçado.
Vc,ef. a porção do volume efetivamente con¿nado.

O coe¿ciente de e¿ciência (kef.) é de¿nido como sendo


Vc ,ef .
kef . =
Vm

A pressão de con¿namento efetiva pode ser de¿nida em função do coe¿ciente de e¿ciência.


fl,ef. = kef..fl

Ao mesmo tempo, essa pressão pode ser expressa como o produto dos coe¿cientes hori-
zontal (kH) e vertical (kV).
fl,ef. = kH.kV.fl

No caso da utilização de con¿namento em espiral por sistema FRP, a e¿ciência do con¿-


namento ¿ca penalizado (reduzido) pela inclinação da ¿bra. Denominando-se (Įf) o ângulo
da inclinação da ¿bra em relação ao plano horizontal, ¿ca assim de¿nido o coe¿ciente
aplicável.

1
ka = de tal forma que,
1 + tg 2α f

fl,ef. =ka. kef..fl

Com o objetivo de restringir a deformação axial e prevenir danos à funcionabilidade, o au-


mento da capacidade devido ao reforço com FRP não deve exceder 50% da resistência de
compressão de projeto (fmd) do elemento descon¿nado.

8.6.4.2 Con¿namento de colunas circulares

A relação geométrica de elementos con¿nados por FRP onde tanto os tecidos como as
barras são utilizados pode ser de¿nido da seguinte maneira:

4.tf .bf
ρf =
D.ρf

355
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

nb .Ab
ρb =
D.ρb

tf é a espessura do tecido de FRP.


bf é a largura da lâmina de FRP.
D é o diâmetro da seção transversal da alvenaria.
pf é o espaçamento, considerado centro a centro, das lâminas de FRP.
nb o número de barras instaladas em uma camada genérica (supõe-se que seja assumido
que todas as camadas tenham o mesmo número de barras).
Ab área da seção transversal de cada barra de FRP.
pb é a distância considerada centro a centro entre duas camadas de barras dispostas na
mesma direção.
No caso de envolvimento contínuo, a relação (ȡf) se torna igual a:
4.tf
ρf =
D

A pressão de con¿namento (fl) é calculada à partir da seguinte expressão:


1
fl = .( ρ .E + 2.ρb .Eb ) .ε fd ,rid
2 f f
Ef e Eb são os módulos de elasticidade do tecido e da barra de FRP, respectivamente.
İfd,rid é a deformação reduzida de projeto da deformação do FRP considerada na situação
de colapso.
No caso do uso combinado de tecidos e barras de FRP, a deformação reduzida de projeto
para os reforços é assim determinada:

⎪⎧ ε fk( r ) ε fk( b ) ⎪⎫
ε fd ,rid = min ⎨ηa . ; η a . ⎬ onde,
⎩⎪ γ f( r ) γ f( b ) ⎭⎪
Șa é o fator de conversão ambiental, de¿nido conforme Tabela 8.9.

ε fk( r ) e ε fk( b ) deformação limite dos tecidos e das barras de FRP, respectivamente.
γ f( r ) e γ f( b ) fatores parciais de segurança dos tecidos e das barras de FRP, respectivamen-
te, apresentados na Tabela 8.7. É recomendado para as barras de FRP (não incluído na
Tabela 8.7) o valor γ f = 1,50 .
(b)

356
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

Condições de Exposição Tipo de Fibra/Resina Șa


Interna Vidro/Epóxi 0,75
Aramida/Epóxi 0,85
Carbono/Epóxi 0,95
Externa Vidro/Epóxi 0,65
Aramida/Epóxi 0,75
Carbono/Epóxi 0,85
Ambiente Agressivo Vidro/Epóxi 0,50
Aramida/Epóxi 0,70
Carbono/Epóxi 0,85

Tabela 8.9 – Fator parcial (ɻa).

Para as colunas de seção transversal circular, reforçadas com FRP, o coe¿ciente hori-
zontal de e¿ciência pode ser adotado com o valor (kH = 1,00). Para o envolvimento ver-
tical contínuo com FRP o coe¿ciente de e¿ciência vertical pode ser adotado com o valor
(kV = 1,00). Para con¿namento em espiral com FRP a e¿ciência do reforço com FRP deve
ser apropriadamente reduzido por meio do coe¿ciente (ka) já de¿nido nesta seção.

Figura 8.17 – Corte de elemento circular conĮnado.

Quando o con¿namento das colunas circulares for feito por reforço descontínuo de FRP,
tendo as lâminas com largura (bf) e espaçadas centro a centro de (pf) o coe¿ciente vertical
de e¿ciência (kV) ¿ca assim determinado:

2
⎛ ρ ' ⎞ sendo,
kv = ⎜1 − f ⎟
⎝ 2.D ⎠

ȡf ’ distância livre entre as lâminas de FRP.


O con¿namento executado por meio de barras de FRP inserida em furos através da massa
do elemento é menos efetivo que o con¿namento produzido pelo envelopamento externo
por meio de tecido. Esse tipo de aplicação deve ser cuidadosamente analisado. Quando

357
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

barras de FRP são utilizadas para o aumento da resistência das colunas de alvenaria, o es-
calonamento das barras ao longo da direção vertical é necessário. Além disso, a distância
D
centro a centro entre as diferentes camadas de barras não pode exceder a ( ).
5

Similarmente ao con¿namento descontínuo com os tecidos de FRP, a redução da e¿ciên-


cia do reforço das colunas de alvenaria com barras de FRP é atribuída ao fenômeno da
difusão das tensões, que pode ser descrita como uma relação parabólica que se inicia
com uma inclinação de 45° localizada no ponto terminal do reforço FRP. A menos que
uma análise mais detalhada esteja disponível, o coe¿ciente de e¿ciência de¿nida por
2
Vc ,ef . ⎛ ρf' ⎞
( kef . = ) deve ser determinado pela equação k v = 1 −
⎜⎝ 2.D ⎟⎠ onde se substitui o valor
Vm
(ȡf ’) pelo espaçamento centro a centro das barras (ȡb).

2
⎛ ρ ⎞
kv = ⎜1 − b ⎟
⎝ 2.D ⎠

8.6.4.3 Con¿namento de colunas prismáticas

O con¿namento com FRP de seções transversais não circulares conferem apenas um


pequeno aumento na capacidade de carregamento. Essas aplicações devem ser cuidado-
samente analisadas.
Antes de ser feito o con¿namento com FRP de um elemento de alvenaria, deve ser feito o
arredondamento das quinas (cantos) do elemento com um raio mínimo de 20 mm.
A pressão de con¿namento (fl) de um elemento com dimensões em planta (b x d) pode ser
calculada da seguinte maneira:
1
fl =
2
{ }
.min ρf ,x .Ef + 2.ρb ,x .Eb ; ρf ,y .Ef + 2.ρb ,y .Eb .ε fd ,rid

sendo os coe¿cientes não dimensionais de¿nidos da seguinte maneira:


4.tf .bf
ρf ,x =
d.ρt
4.tf .bf
ρf ,y =
b.ρt
nb ,x .Ab
ρb ,x =
ρb .d
nb ,y .Ab
ρb ,y =
ρb .b

sendo:
Ab a área da seção transversal de cada barra de FRP.
nb,x o número de barras na direção x.
nb,y o número de barras na direção y.

358
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

Figura 8.18 – ConĮnamento de colunas prismáƟcas.

Para o caso de envolvimento contínuo com FRP (somente nesse caso), a pressão de con-
¿namento pode ser calculada de acordo com a seguinte equação:
1
fl = ( ρf .Ef + 2.ρb .Eb )ε fd ,rid
2
4.t
Considerando que, ρf = max b,d e ρb = 0
f

{ }

O coe¿ciente de e¿ciência horizontal é dado pela relação entre a área con¿nada e a área
total da seção transversal da coluna de alvenaria (Am).
b' 2 + d ' 2
kH = 1 −
3.Am

(os valores de b’ e d’ estão indicados na ¿gura anterior).


A menos de testes comprobatórios, é desaconselhado o con¿namento com FRP em ele-
mentos de alvenaria com relação ( b > 2 ), ou quando max {b ;d } > 900 mm.
d
O uso combinado de envolvimento externo com lâminas de FRP e barras de FRP inseridas
na seção transversal do elemento pode aumentar a área efetivamente con¿nada para se-
ções quadradas e retangulares (mesmo seções mais complexas), conforme mostrado na
Figura 8.20.

359
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 8.19 – Aumento no conĮnamento de colunas prismáƟcas.

Quando o reforço com FRP for descontínuo, com lâminas de largura (bf) e espaçamento
centro a centro entre as mesmas (pf), é utilizado o coe¿ciente de e¿ciência vertical, dado por:

2
⎛ ρf ⎞
kv = ⎜1 − ⎟
⎝ 2.min {b,d } ⎠

Para envolvimento em espiral a e¿ciência do sistema FRP deve ser reduzida pelo coe¿-
ciente (ka).
1
ka =
1 + tg 2α f

Quando as barras de FRP são utilizadas, o reforço de colunas de alvenariae a colocação


de barras escalonadas na direção vertical se torna necessário. Considerando-se a Figura
8.20, pode ser assumido que a área efetivamente con¿nada da seção transversal do ele-
mento é reduzida em relação à área total da sua seção transversal, devido ao efeito de
arco entre as diferentes camadas de barras de reforço de FRP.

Figura 8.20 – Difusão do conĮnamento em colunas prismáƟcas.

A redução da área efetivamente con¿nada entre as camadas é devido a um fenômeno de


difusão con¿gurado por uma relação parabólica que se desenvolve tangenciando um ân-
gulo de inclinação de 45°.
A menos de uma seja feita uma determinação mais apropriada da porção do volume efe-
tivamente con¿nado, o coe¿ciente de e¿ciência (kef) pode ser considerado como sendo:

360
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

2
⎡ 1 ⎛ n −1 d n −1 b 3 ⎞⎤ ⎛ ρb ⎞
kef = k H .kV = ⎢1 − ⎜ 2. bx 2 . + 2. by 2 . + ⎟ ⎥ . ⎜1 −
⎣⎢ 6 ⎝ nbx b nby d nbx .nby ⎠ ⎦⎥ ⎝ 2.min {b,d } ⎟⎠

No caso de seções transversais quadradas, o coe¿ciente de segurança ¿ca reduzido à


seguinte expressão:

2
⎛ 1 4.n − 1 ⎞ ⎛ ρ ⎞
kef = k H .kV = ⎜1 − . b2 ⎟ . ⎜1 − b ⎟
⎝ 6 nb ⎠ ⎝ 2.b ⎠

Onde (b) é o lado do quadrado e (nbx = nby = nb).


As barras de FRP inseridas em furos executados através da alvenaria devem ser ancora-
das por um comprimento no mínimo igual a 10 vezes o diâmetro da barra. Quando esse
comprimento for maior que (1/5) do comprimento da barra, a força de ancoragem deve ser
adequadamente distribuída às extremidades das barras. Os espaçamentos horizontais e
verticais das barras não devem ser superiores a metade da largura do elemento a ser refor-
çado. Da mesma forma, a distância da extremidade do elemento até a barra mais próxima
ao lado não pode ser superior a (1/4) da largura do elemento.

8.7 DIMENSIONAMENTO DE VERGAS


Devido à existência de cargas verticais atuando sobre as alvenarias, dois efeitos podem
ocorrer nas áreas sobre aberturas: 1) a porção aberta da alvenaria pode não suportar o
seu peso próprio e ter que ser suportada por uma verga, que funciona como uma viga; 2)
quando os paramentos de alvenaria que delimitam a abertura são tão delgados que não
conseguem suportar a carga horizontal decorrente da própria existência da abertura, a
verga deverá ter su¿ciente resistência para absorver as tensões de tração para garantir o
equilíbrio geral da parede.
O dimensionamento das vergas será apresentado com base nas indicações da Figura 8.21.
Assim, as vergas devem ser dimensionadas com a utilização de elementos estruturais que
tenham, ao mesmo tempo, capacidade de resistência axial e à Àexão. Alternativamente as
vergas que tenham apenas resistência axial podem ser eventualmente empregadas.

Figura 8.21 – Dimensionamento das vergas para alvenarias.

361
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

No primeiro caso, as vergas são capazes de funcionar como uma viga e absorverem ten-
sões de tração, garantindo o equilíbrio da parede. No segundo caso, o suporte para a
parede acima da abertura deve ser garantida pela formação de um elemento de alvenaria
localizado exatamente acima da abertura, onde as tensões de tração são conduzidas para
fora pela aplicação de sistema de reforço com FRP. Nesse caso, a condição de equilíbrio
será provavelmente alcançada após uma movimentação signi¿cativa aparecer na alvena-
ria situada acima do elemento reforçado.
O reforço com FRP deve ser colocado na parte inferior da verga, não devendo nunca, a
menos de uma justi¿cativa apropriada, ser instalado nas laterais das paredes de alvenaria.
Para que seja garantido o funcionamento adequado da verga, o sistema FRP deverá ser
apropriadamente ancorado nas paredes de alvenaria adjacentes.
A parte da verga reforçada com FRP deve possuir uma capacidade à Àexão de¿nida por
(Mrd) maior que o momento aplicado (Msd), que terá como valor,

1
Msd = γ G . .g.t.l 3 onde,
24

JG fator parcial para o peso próprio no estado limite último.


g peso próprio da alvenaria (m3).
t espessura da alvenaria.
l vão livre da abertura.

O reforço de FRP também deverá ser capaz de suportar a seguinte força:


qa .l 2
Nsd =
8.hv

qa a carga vertical de projeto que atua na verga, no estado limite último (a soma majorada
das cargas permanentes e acidentais incidentes).
hv o braço interno do binário mostrado na Figura 8.22, que não pode ser tomado maior que
(l) e maior do que a altura (h).

362
Capítulo 8 - Reforço de Alvenarias à Flexão e ao Corte com Tecidos, Laminados e Barras de FRP

8.8 EXEMPLOS DE ALVENARIAS REFORÇADAS COM FRP

FotograĮa 8.6 – Reforço de alvenaria com FRP em escola dos EUA.

FotograĮa 8.7 – Barra inserida em ranhura da alvenaria sendo resinada (esquerda); reforço de alvenaria com lâminas
de FRP aderidas externamente (direita).

363
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 8.8 – Ranhura verƟcal em alvenaria sendo resinada para receber a barra (esquerda); barra de FRP sendo
inserida sob pressão na ranhura já resinada (direita).

FotograĮa 8.9 – Reforço de alvenaria com FRP em instalação industrial.

364
CAPÍTULO 9

REFORÇO DE ELEMENTOS CIRCULARES OU EM


COROA CIRCULAR COM FRP

9.0 PROCEDIMENTO PARA DIMENSIONAMENTO DO REFORÇO


Quando do reforço de elementos de concreto armado circulares ou em coroa circular com
a utilização de lâminas de ¿bras de carbono, o procedimento usual de cálculo considera as
solicitações normais nos domínios de deformação da NBR-6118:2014 conforme ¿gura 9.1.

Figura 9.1 – Domínios das solicitações normais.

Como consideraremos sempre N > 0 (compressão) teremos, também, sempre ( x ≥ 0 ) , o


que remete a solução do dimensionamento para os domínios 2, 3, 4, 4a e 5.
O procedimento de dimensionamento das seções de concreto armado circulares ou em co-
roa circular submetidas à Àexão normal composta usualmente é feito da seguinte maneira,
conforme mostrado na Figura 9.2.
A seção é dividida em áreas elementares ( Aci ) para as quais, para cada posição da linha
( )( )
neutra ( xLN ) calculam-se os valores ε ci , σ ci e (Rci = Aci .σ ci ). A contribuição do con-
creto para cada valor arbitrado para ( xLN ) será:

Ndc = ∑ Aci .σ ci Mdc = ∑ Aci .σ ci .y ci

365
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A si x si
x ci x LN
LN
y si
y ci
h

A ci

Figura 9.2 – Dimensionamento de seção circular.

Para cada valor de ( xLN ) também se determinam os valores de (εsi ) e ( si ) para cada bar-
ra (Asi). A contribuição da armadura será fornecida por:

Nds = ∑ Asi .σ si

Mds = ∑ Asi .σ si .y si

( ) ( )
Se σ si > 0 temos compressão no aço e se σ si < 0 temos tração no aço.
O domínio é de¿nido pela posição da linha neutra na seção. De modo geral são avaliadas
as seguintes localizações da linha neutra ( xLN ) quando se elabora um programa automáti-
co para o cálculo dessas seções:
– xLN < h ⇒ para essa região considerar o maior número possível de iterações para
que se garanta uma maior precisão para os resultados.
– h ≤ xLN ≤ 2h ⇒ considerar um número não tão grande de iterações quanto o caso
anterior pois trata-se de uma ocorrência usualmente bem menos frequente.
– 2h < xLN ≤ 3h ⇒ considerar apenas um pequeno número de iterações por ser
uma solução muito pouco frequente.
– xLN = ∞ ⇒ considerar apenas uma única iteração, por se tratar de um caso parti-
cular com solução única.

Para o caso em que ( xLN = ∞ ), devido à simetria do problema analisado, tem-se:


Nd = Ac .σ c + As .σ s,0,2%

Md = 0
Para o caso em que ( xLN ≤ x2L ) , domínio 2, têm-se as seguintes relações de deforma-
ções, conforme mostrado na ¿gura 9.3:

366
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

c,max.
x ci ou x si
x LN

LN

s =1%

Figura 9.3 – Domínio 2.

ε s,max . = 1,00%

ε c,max . 1% ε ci ε si
= = =
xLN d − xLN xLN − xci xLN − xsi

No domínio 3, onde ( x2L ≤ xLN ≤ x3L ) , temos que, conforme Figura 9.4:

ε c,max . = 0,35%

0,35% ε ci ε si
= =
xLN xLN − xci xLN − xsi

c,max. =0,35%

x LN

LN

Figura 9.4 – Domínio 3.

No domínio 4, onde ( x3L ≤ xLN ≤ x4L ) , temos:

ε c,max . = 0,35%

367
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

No domínio 5, onde ( xLN ≥ h ) vem, conforme indicado na Figura 9.5:

0,20% ε ci ε si
= =
3
xLN − x xLN − xci xLN − xsi
7

Para ( xLN = ∞ ) temos que (ε c = ε s = 0,2%) , (σ c = fc ) e (σ s = Es .0,002 ) , resultando, então:

Nd = Ac,total .fc + As,total .σ s

Md = 0

c,max. f c = 0,85f cd

Diagrama das Tensões de Compressão no Concreto


3 h
7

0,20%
h

si

c,min.
x LN > h

Figura 9.5 – Domínio 5.

9.1 CONTRIBUIÇÃO DA FIBRA DE CARBONO


A contribuição da ¿bra de carbono é também obtida no estado limite último, descontando-se
das suas deformações no Estádio III aquelas obtidas na solicitação de serviço (Estádio II) na
hora da aplicação das mesmas. Ou seja, o valor da deformação da ¿bra calculada para o es-
tado limite último deve ser diminuída da deformação existentes no elemento a ser reforçado
quando da aplicação do sistema.
O cálculo é feito no Estádio II, onde a presença simultânea dos esforços N e M conduz a
um procedimento de cálculo iterativo, variando-se a profundidade da linha neutra até que
sejam encontrados os valores conhecidos de N e M.
Essa determinação é, portanto, iterativa e normalmente é feita de acordo com os procedi-
mentos indicados na sequência, a partir da Figura 9.6.

σ c,max . σ ci α e .σ si
= =
xLNII xLNII − xci xLNII − xsi
onde ( xLNII ) é a profundidade da linha neutra no Estádio II.

368
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

Es
αe = , relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto.
Ec,s
Es x − xci
αe = σ ci = LNII σ c,max .
Ec,s xLNII

xLNII − xsi
σ si = σ c,max .
xLNII

Nserviço = ∑ Aci .σ ci + ∑ Asi .σ si

⎡ x − xci x − xsi ⎤
Nserviço = ⎢ ∑ Aci LNII + ∑ Asi LNII ⎥ σ c,max .
⎣ x LNII x LNII ⎦

Fazendo-se ⎡ xLNII − xci x − xsi ⎤ vem:


⎢ ∑ Aci + ∑ Asi LNII ⎥ = αN
⎣ xLNII xLNII ⎦

Nserviço = α N .σ c,max .

Mserviço = ∑ Aci .σ ci .y ci + ∑ Asi .σ si .y si

⎡ x − xci x − xsi ⎤
Mserviço = ⎢ ∑ Aci LNII y ci + ∑ Asi LNII y si ⎥ σ c,max .
⎣ x LNII x LNII ⎦

Fazendo-se ⎡⎢ ∑ Aci xLNII − xci y ci + ∑ Asi xLNII − xsi y si ⎤⎥ = α M vem


⎣ xLNII xLNII ⎦
Mserviço = α M .σ c,max .

A ci

c,max.

x ci
x LNII
x si LN ci

si, e

A si

Figura 9.6 – Figura para os cálculos iteraƟvos.

369
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Então, σ
Nserviço
c,max . =
αN
Nserviço αM
Mserviço = α M . = N
αN α N serviço
α M Mserviço
=
α N Nserviço

O valor de ( xLNII ) que satisfaz o par (Nserv ) e (Mserv ) é determinado quando se satisfaz
a relação acima.

No Estádio II, que é elástico, uma vez conhecida a profundidade da linha neutra ( xLNII )
( )
tem-se o valor de ε c,max . , obtido da Figura 9.7.

ε c,max . ε ci ε si
= = e, σ c,max . = Ec,s .ε c,max .
xLNII xLNII − xci xLNII − xsi

Como a ¿bra aplicada está perfeitamente aderida à superfície da coroa, a deformação


( )
ε c,i será a mesma da ¿bra em serviço, ou seja, ε cf ,serv . = ε ci .

( )
Adota-se, ¿nalmente, ε cf ,serviço = ε ci como a deformação prévia da ¿bra de carbono.

c,max.
ci
x LNII

LN

si

Figura 9.7 – Deformação no Estádio 2.

( )
Para ε cf ,serviço < 0 a ¿bra de carbono está tracionada.
Para (ε cf ,serviço > 0 ) a ¿bra de carbono está comprimida.

370
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

Conhecida a pré-deformação da ¿bra de carbono decorrente das solicitações em serviço


da peça a contribuição ¿nal das mesmas será dada conforme Figura 9.8:

Figura 9.8 – Contribuição da Įbra de carbono.

Como a ¿bra de carbono só trabalha à tração, para que a aplicação da mesma seja efetiva
deve-se ter a linha neutra no estado limite último dentro da seção, ou seja: (0 ≤ x < h)

( )
Para cada valor de ( xLN ) teremos ε ci = ε fi ,d , estando assim determinados os pares de
( ) ( )
ε fi ,serviço e ε fi ,d .
( ) (
Se ε fi ,d > 0 , ou seja, compressão, dessa forma tem-se σ fi = 0 . )
Se (ε fi ,d < 0 ) , ou seja, tração, duas situações distintas podem ocorrer:
- ε fi ,d < ε fi ,serviço ⇒ ε fi = ε fi ,d − ε fi ,serviço

fi ,d > ε fi ,serviço ⇒ ε fi = 0 ⇒ σ fi = 0

Finalmente, a contribuição devida à ¿bra de carbono será dada por:


Nd ,fi = Afi .σ fi

Md ,fi = Afi .σ fi .y fi ,d

9.2 CRITÉRIOS PARA DIMENSIONAMENTO


Do exposto pode-se concluir que o dimensionamento do reforço de uma seção em coroa
circular, ou mesmo de uma seção circular, envolve procedimentos iterativos e que a sua
determinação por procedimentos apenas manuais seria extremamente trabalhoso.
Entretanto, o desenvolvimento de um procedimento computacional para esse tipo de di-
mensionamento é relativamente simples em função da formulação necessária para se con-
seguir a iteração que conduza ao resultado desejado.
A Figura 9.9 mostra quais são os dados geométricos necessários para de¿nir uma seção
em coroa circular, sendo:

371
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Re – raio externo da coroa circular.


Ri – raio interno da coroa circular
Rs – raio da circunferência onde se supões distribuída a armação da seção.
Normalmente se admite um espaçamento uniforme da armação ao longo da circunferência
quando da determinação das seções circulares e em coroa de círculo.
θ1 e θ2 – ângulos necessários para a determinação do comprimento de uma se-
ção de concreto com espessura (du).
e – excentricidade da linha neutra em relação ao centro geométrico da seção.
Além desses valores geométricos é necessário o conhecimento do par de valores de (N)
e (M) assim como as características mecânicas do concreto e do aço utilizados, o número
e o diâmetro das barras de armadura utilizadas bem como as características da ¿bra de
carbono e o seu número de camadas.

Figura 9.9 – Seção em coroa circular.

Com base na variação da posição da linha neutra são determinados iterativamente, para
cada posição prevista, os valores da força normal e o momento Àetor resistente da seção.
Quando o valor de (N) encontrado se igualar ao valor de (N) introduzido no início do cálcu-
lo ¿ca conhecido o momento resistente da seção devido à contribuição dos três materiais
estruturais envolvidos, o concreto, o aço e a ¿bra de carbono.
A adaptação do procedimento computacional para o cálculo de uma seção circular é bas-
tante simples, bastando fazer o valor de Ri = 0, simpli¿cando-se os procedimentos de cál-
culo, como pode ser visto na Figura 9.10.
Da mesma forma, como mostrado no reforço à Àexão de vigas de seção retangular e seção
“T”, a delaminação do cobrimento ou o descolamento do sistema FRP pode ocorrer se os
esforços que estiverem ocorrendo nas ¿bras não puderem ser absorvidos pelo substrato
do concreto.
Dessa maneira, com o objetivo de nos prevenirmos do descolamento do laminado de FRP
em seções em coroa circular ou circulares submetidas a esforços de Àexão a mesma limi-
tação deve ser introduzida ao nível de deformação de-senvolvida no laminado.
As equações (a) e (b) fornecem as expressões que determinam o coe¿ciente (km), estabe-
lecido em função da cola:

372
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

Figura 9.10 – Seção circular.

1 ⎛ n.Efc .tfc ⎞ para, nEfc tfc ≤ 180.000 (a)


km = 1− ≤ 0,90
60ξfcu ⎜⎝ 360.000 ⎟⎠

1 ⎛ 90.000 ⎞ para, nEfc tfc > 180.000 (b)


km = ≤ 0,90
60ξfcu ⎜⎝ nEfc tfc ⎟⎠

onde,
n número de camadas do reforço com FRP.
Efc módulo de elasticidade do FRP (MPa).
tfc espessura de uma camada do sistema FRP (mm).
ξ fcu deformação de ruptura do reforço com FRP (mm/mm).
O coe¿ciente (km) de¿nido acima tem um valor inferior a (0,90) e deve ser multiplicado pela
deformação de ruptura do laminado de FRP para se de¿nir uma limitação de deformação
que previna o descolamento.
O número (n) utilizado nas expressões (a) e (b) é o número de camadas do reforço com
FRP à Àexão na posição, ao longo do desenvolvimento longitudinal do sistema, onde a
resistência ao momento Àetor esteja sendo considerado. A expressão reconhece que lami-
nados com maiores espessuras são mais predispostos à delaminação. Dessa forma, à me-
dida que a espessura do laminado cresce, as limitações de deformação máxima admissível
vão se tornando mais rigorosas. Para laminados com espessura unitária (n.Efc.tfc) maior do
que 180.000 N/mm o coe¿ciente (km) limita a força a ser desenvolvida no laminado em
oposição ao nível de deformação.
Esse coe¿ciente efetivamente estabelece um limite superior para a força total que pode ser de-
senvolvida em um laminado de FRP, levando em consideração o número de camadas utilizadas.
O coe¿ciente (km) é baseado exclusivamente numa tendência observada da experiência
daqueles que elaboram projetos com sistemas compostos aderidos externamente.
Evidentemente quando se for dimensionar o reforço das seções circulares (e coroas circu-
lares) simultaneamente para Àexão e para o aumento da capacidade axial das peças por
con¿namento esse cuidado não se aplica, uma vez que o con¿namento do concreto suprirá

373
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

a tendência de delaminação do cobrimento ou o descolamento do sistema FRP quando da


atuação dos esforços de Àexão.
Quando da atuação concomitante dos dois tipos de reforços o reforço à Àexão (aplicado
segundo o eixo longitudinal da peça) deverá preceder o reforço por con¿namento (aplicado
ortogonalmente ao eixo longitudinal da peça), que será, portanto, aplicado sobre o primei-
ro, como mostrado na Figura 9.11.

LÂMINAS DE FIBRA
DE CARBONO PARA
CONFINAMENTO

ARMADURA
EXISTENTE

LÂMINAS DE FIBRA
DE CARBONO PARA
REFORÇO À FLEXÃO

Figura 9.11 – Reforço por conĮnamento.

Apenas para demonstrar como essa metodologia pode ser utilizada, apresenta-se um
exemplo de reforço de uma estrutura de concreto armado pré-moldada em coroa circular.
Exemplo 9.1: Um poste de telefonia celular em concreto armado com a seção em coroa
circular, conforme mostrado na Figura 9.12, tem as seguintes características:
– Resistência do concreto, fck = 45 MPa;
– Diâmetro externo da coroa circular De = 60 cm; diâmetro interno da coroa circular
Di = 30 cm;
– Profundidade do centro de gravidade da armadura d’= 4,5 cm;
– A seção está armada com 25 barras de diâmetro 32 mm, aço CA-50.

y
As=25 Ø 32

d'=4,5cm

Di=30cm

De=60cm

Figura 9.12 – Seção para reforço em coroa circular.

374
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

Deseja-se determinar o reforço necessário com lâminas de ¿bra de carbono para que a
seção suporte uma solicitação de Àexão normal composta com Nd = 16,9 tf e Md = 229 tf.m.
Fibra de carbono: Ef = 228 GPa; ε f = 1,7 %; tf = 0,165 mm.
Admitir para o reforço coe¿cientes adicionais de minoração para o aço e para a ¿bra de car-
bono de 0,85. O cálculo será baseado na metodologia apresentada considerando a divisão
da seção da coroa circular para a iteração da seguinte maneira:

xLN < h 200 posições

h ≤ xLN ≤ 2h 50 posições

2h < xLN ≤ 3h 20 posições

xLN = ∞ 1 posição

Inicialmente calculam-se os esforços resistentes da seção sem a contribuição da ¿bra de


carbono, levando em consideração exclusivamente as contribuições da seção de concreto
e da armadura existente que pode ser considerada atuando na sua totalidade ou minorada
de um coe¿ciente que pode variar desde 0 a 1,00. No caso em estudo o coe¿ciente da
armação foi considerado com valor 0,85.
Posteriormente calculam-se os esforços ¿nais resistentes da seção com a atuação reforço
de ¿bras de carbono, considerando as alternativas de reforço desde 1 até “n” camadas.
Foram considerados o coe¿ciente de minoração da ¿bra de carbono de 0,85 e estudadas
até 4 camadas de ¿bras.
Os valores iniciais e os resultados encontrados são reproduzidos abaixo:
- Coroa Circular Submetida a Flexão Normal Composta
Valor da resistência fck do concreto 45 MPa
Valor do diâmetro externo da coroa circular 60,0 cm
Valor do diâmetro interno da coroa circular 30,0 cm
Valor da profundidade do centro da armadura 4,5 cm
Número de barras 25
Diâmetro das barras 32 mm
Valor da força normal de cálculo (+ compressão) 16,9 tf
Valor do momento Àetor de cálculo 207,9 tf.m
Valor do fator redutor do Mrd, aço 0,85
Valor do fator redutor do Mrd, ¿bra 0,85
Número máximo de camadas de ¿bra 4

As colunas dos resultados listados a seguir são assim identi¿cadas:


I – profundidade considerada da seção, no caso considerado variando para ( xLN < h ).

375
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

RNC – força normal resistente devida ao concreto.


RNS – força normal resistente devida ao aço.
RNCS – força normal resistente devida à atuação conjunta do concreto e do aço.
RMC – momento Àetor resistente devido ao concreto.
RMS – momento Àetor resistente devido ao aço.
RMCS – momento Àetor resistente devido à atuação conjunta do concreto e do aço.
RMCSred – momento Àetor resistente devido à atuação conjunta do concreto e do aço
considerado com fator de minoração 0,85.
RNFi – força normal resistente da ¿bra de carbono, com fator de redução de 0,85.
RMFi – momento Àetor resistente devido à ¿bra de carbono com fator de redução de 0,85.
RNTF – força normal resistente do concreto, aço e ¿bra de carbono considerada com fator
de minoração 0,85.
RMT – momento Àetor resistente devido ao concreto, aço com a ¿bra de carbono conside-
rada com fator de minoração 0,85.
RMTred – momento Àetor resistente devido ao concreto, estando o aço e a ¿bra de carbono
considerados com o fator de minoração 0,85.
Esforços resistentes sem a contribuição da ¿bra de carbono:
I RNC RNS RNCS RMC RMS RMCS RMCSred
(tf) (tf) (tf) (tf.m) (tf.m) (tf.m) (tf.m)
75 184,2 -176,7 7,5 35,9 127,6 163,5 144,4
76 186,7 -170,1 16,5 36,2 128,0 164,2 145,0
77 189,1 -162,6 26,5 36,5 128,4 164,8 145,6
78 191,5 -155,2 36,3 36,7 128,7 165,4 146,1

A abertura estimada das ¿ssuras de tração decorrente dos esforços solicitantes atuantes
são apresentadas a seguir:
Abertura estimada de ¿ssura: wk= 0,279 mm

Esforços Finais Resistentes com 1 Camada de Fibra de Carbono:


I RNCS RMCS RMCSred RNFi RMFi RNTF RMT RMTred
(tf) (tf.m) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf.m)
100 240,8 170,3 150,9 -260,3 55,2 -19,4 225,5 206,1
101 250,6 170,1 150,7 -243,9 52,0 6,7 222,1 202,8
102 260,1 169,9 150,6 -228,0 49,0 32,2 218,8 199,5
103 269,4 169,6 150,4 -212,6 45,9 56,8 215,6 196,3

376
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

Esforços Finais Resistentes com 2 Camadas de Fibras de Carbono:


I RNCS RMCS RMCSred RNFi RMFi RNTF RMT RMTred
(tf) (tf.m) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf.m)
105 288,2 169,0 149,8 -322,4 70,6 -34,2 239,6 220,4
106 297,9 168,5 149,5 -298,1 65,7 -0,2 234,2 215,1
107 307,4 168,1 149,1 -274,6 60,9 32,8 229,0 210,0
108 316,8 167,7 148,8 -251,9 56,2 64,9 223,9 205,0

Esforços Finais Resistentes com 3 Camadas de Fibras de Carbono:


I RNCS RMCS RMCSred RNFi RMFi RNTF RMT RMTred
(tf) (tf.m) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf.m)
107 307,4 168,1 149,1 -355,3 78,8 -47,9 246,9 227,9
108 318,8 167,7 148,8 -326,0 72,8 -9,2 240,5 221,6
109 326,9 167,1 148,3 -297,8 66,9 29,1 234,0 215,2
110 336,8 166,5 148,8 -270,7 61,2 66,1 227,8 209,0

Esforços Finais Resistentes com 4 Camadas de Fibras de Carbono:


I RNCS RMCS RMCSred RNFi RMFi RNTF RMT RMTred
(tf) (tf.m) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf.m)
108 316,8 167,7 148,8 -365,5 81,6 -48,7 249,3 230,4
109 326,9 167,1 148,3 -339,5 75,0 -7,0 242,1 223,3
110 336,8 166,5 147,8 -303,5 68,7 33,3 235,2 216,5
111 346,6 165,9 147,3 -274,3 62,5 72,2 228,4 209,8

De acordo com os resultados da primeira tabela veri¿camos que a seção em coroa circular
existente não tem condições de resistir ao momento Àetor recomendado uma vez que o
seu valor máximo está situado entre 145,0 tf.m e 145,6 tf.m (o valor correto deve ser inter-
polado a partir da segunda e terceira linhas da coluna RNCS).
Da análise da segunda tabela veri¿camos que o momento máximo resistente com a ado-
ção de uma camada de ¿bra de carbono varia entre 202,8 tf.m e 199,5 tf.m, conforme indi-
cado na coluna RMTRed (o valor correto deve ser interpolado a partir da segunda e terceira
linhas da coluna RNTF), ambos inferiores ao valor do momento de reforço de 207,9 tf.m.
Da análise da terceira tabela veri¿camos que o momento máximo resistente com a ado-
ção de duas camadas de ¿bra de carbono varia entre 215,1 tf.m e 210,0 tf.m, conforme
indicado na coluna RMTRed (o valor correto deve ser interpolado a partir da segunda e
terceira linhas da coluna RNTF), ambos superiores ao valor do momento Àetor pedido para
o reforço, de 207,9 tf.m.
A solução de reforço seria, portanto, a adoção de 2 camadas de ¿bras de carbono. Se não
existisse a restrição de considerar o aço com o fator de redução de 0,85 a solução poderia
ser com uma camada de ¿bra de carbono, conforme os valores indicados na segunda e

377
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

terceira linhas da coluna RMT(o valor correto deve ser interpolado a partir da segunda e
terceira linhas da coluna RNCS).
Adotando-se 2 camadas de ¿bras de carbono, o momento resistente da seção em coroa
circular estudada seria o seguinte, feitas as necessárias interpolações:

39,3 – 6,4 = 32,9


208,7 – 213,8 = -5,1
16,9 – 6,4 = 10,5

Temos então,
33,0 ĺ -5,1
17,1 ĺ x, donde x = -2,643 tf.m

Assim, o valor do momento resistido pela ¿bra de carbono será:


Mresistente = 215,1 – 2,643 = 212,457 tf.m > Mreforço = 207,90 tf.m ĺ OK!

Deverão ser adotadas 2 camadas de ¿bras de carbono para o reforço considerado para a
seção em coroa circular.
O grá¿co da Figura 9.13 mostra a evolução da resistência do reforço em função do número de
camadas de ¿bra de carbono aplicada considerando-se duas condições distintas de projeto:
– reforço considerando-se o aço trabalhando com toda a sua resistência e a ¿bra de
carbono com fator de minoração de 0,85.
– reforço considerando-se o aço e a ¿bra de carbono trabalhando com fator de mi-
noração de 0,85.

Figura 9.13 – Evolução da resistência em função do no de camadas.

378
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

Pode ser observado que à medida que se aumenta o número de camadas de ¿bras de carbono
o momento resistente do reforço torna-se assintótico em função da e¿ciência da matriz epoxí-
dica, que diminui à medida que a sua espessura é aumentada pelas camadas adicionadas. A
prática indica que após cinco camadas aplicadas de ¿bra de carbono para atender solicitações
de Àexão raramente se consegue aumento na capacidade resistente da peça reforçada.
A Figura 9.14 indica a sugestão de reforço da seção em coroa circular com 2 camadas de
¿bras de carbono.

Figura 9.14 – Solução do reforço com Įbras de carbono.

Analisemos, agora o mesmo poste do exemplo anterior, considerando uma seção circular
em substituição da seção em coroa circular.
Exemplo 9.2: Um poste de telefonia celular, de concreto armado com a seção circular tem
as seguintes características:
– Resistência do concreto, fck = 45 MPa.
– Diâmetro externo da coroa circular De = 60 cm (Di = 0).
– Profundidade do centro de gravidade da armadura d’ = 4,5 cm.
– A seção está armada com 25 barras de diâmetro 32 mm, aço CA-50.
Deseja-se determinar o reforço necessário com lâminas de ¿bra de carbono para que a
seção suporte uma solicitação de Àexão normal composta com N = 16,9 tf e M = 229 tf.m.
Admitir para o reforço coe¿cientes adicionais de minoração para o aço e para a ¿bra de
carbono de 0,85.

Coroa Circular Submetida à Flexão Normal Composta


Valor da resistência fck do concreto 45 MPa
Valor do diâmetro externo da coroa circular 60,0 cm
Valor do diâmetro interno da coroa circular 0 cm

379
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Valor da profundidade do centro da armadura 4,5 cm


Número de barras 25
Diâmetro das barras 32 mm
Valor da força normal de cálculo (+ compressão) 16,9 tf
Valor do momento Àetor de cálculo 207,9 tf.m
Valor do fator redutor do Mrd, aço 0,85
Valor do fator redutor do Mrd, ¿bra 0,85
Número máximo de camadas de ¿bra 4

Esforços Resistentes sem a Contribuição da Fibra de Carbono:


I RNC RNS RNCS RMC RMS RMCS RMCSred
(tf) (tf) (tf) (tf.m) (tf.m) (tf.m) (tf.m)
73 191,8 -190,4 1,5 36,8 126,8 163,6 144,6
74 195,5 -183,4 12,0 37,2 127,2 164,4 145,4
75 199,1 -176,7 22,4 37,7 127,6 165,3 146,1
76 202,8 -170,1 32,7 38,1 128,0 166,1 146,9
Abertura estimada de ¿ssura wk = 0,335 mm

Esforços Finais Resistentes com 1 Camada de Fibras de Carbono:


I RNCS RMCS RMCSred RNFi RMFi RNTF RMT RMTred
(tf) (tf.m) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf.m)
95 238,5 174,6 155,0 -254,5 53,5 -16,0 228,1 208,5
96 249,8 174,7 155,1 -236,0 50,0 13,7 224,6 205,1
97 260,9 174,7 155,2 -218,2 46,5 42,7 221,3 201,7
98 271,9 174,8 155,3 -201,0 42,2 70,9 218,0 198,5
Esforços Finais Resistentes com 2 Camadas de Fibras de Carbono:
I RNCS RMCS RMCSred RNFi RMFi RNTF RMT RMTred
(tf) (tf.m) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf.m)
99 282,7 174,8 155,3 -324,3 70,2 -41,5 245,0 225,6
100 294, 174,7 155,3 -296,2 64,7 -2,2 239,4 220,0
101 305,5 174,6 155,2 -269,2 59,2 36,3 233,8 214,5
102 316,8 174,5 155,1 -243,3 54,0 73,6 228,4 209,1

380
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

Esforços Finais Resistentes com 3 Camadas de Fibras de Carbono:


I RNCS RMCS RMCSred RNFi RMFi RNTF RMT RMTred
(tf) (tf.m) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf.m)
101 305,5 174,6 155,2 -348,3 76,7 -42,9 251,3 231,9
102 316,8 174,5 155,1 -314,38 69,8 2,0 244,3 225,0
103 327,9 174,3 155,0 -282,7 63,2 45,2 237,5 218,2
104 338,8 174,1 154,9 -251,9 56,8 86,8 230,9 211,7

Esforços Finais Resistentes com 4 Camadas de Fibras de Carbono:


I RNCS RMCS RMCSred RNFi RMFi RNTF RMT RMTred
(tf) (tf.m) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf) (tf.m) (tf.m)
102 316,8 174,5 155,1 -353,0 78,3 -36,1 252,8 233,4
103 327,9 174,3 155,0 -316,9 70,9 11,0 245,2 225,9
104 338,8 174,1 154,9 -282,5 63,7 56,3 237,8 218,6
105 350,4 173,8 154,6 -249,6 56,8 100,8 230,5 211,4

Da comparação com o exemplo anterior observa-se que o nível de reforço agregado à


seção mostra que praticamente não faz diferença, no presente caso, a seção ser circular
ou em coroa circular.
A Figura 9.15 mostra a variação dos momentos Àetores devidos aos reforços com ¿bra de
carbono nas duas situações de cálculo.

Figura 9.15 - Evolução da resistência em função do no de camadas.

381
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Deve-se, portanto, ser levado em consideração quando da avaliação das seções em coroa
circular de concreto a inÀuência da espessura do anel relativamente à e¿ciência do reforço.
⎛ Di ⎞
Observa-se que a relação ⎜ ⎟ tem uma inÀuência muito grande na intensidade do reforço
⎝ De ⎠
que pode ser agregado pela ¿bra de carbono.
Apenas para análise comparativa, apresenta-se a mesma seção do problema anterior para
a qual serão determinados os valores agregados pelo reforço com ¿bras de carbono consi-
derando-se para a mesma o diâmetro externo, a seção da armadura transversal e sua pro-
fundidade e as características mecânicas do concreto constantes, variando-se a relação
⎛ Di ⎞
entre os diâmetros interno e externo ⎜ ⎟ .
⎝ De ⎠

Exemplo 9.3: Um poste de telefonia celular de concreto armado, com a seção em coroa
circular tem as seguintes características:
– Resistência do concreto, fck = 45 MPa;
– Diâmetro externo da seção De = 60 cm ; diâmetro interno da seção com valores
variando para as seguintes relações: (Di = 0,4 De), (Di = 0,5 De), (Di = 0,6 De), (Di
= 0,7 De) e (Di = 0,8 De).
Comparar o resultado obtido com uma seção circular de mesmo diâmetro externo e igual-
mente armada.
– Profundidade do centro de gravidade da armadura d’= 4,0 cm.
– A seção está armada com 23 barras de diâmetro 25 mm, aço CA-50.
Deseja-se determinar o reforço necessário com lâminas de ¿bra de carbono para que a seção
suporte uma solicitação de Àexão normal composta com N = 20,0 tf e M = 100,0 tf.m. Admitir o
aço e a ¿bra de carbono trabalhando em sua totalidade (coe¿ciente de minoração 1,00).
Os resultados são apresentados no grá¿co da Figura 9.16, onde pode ser observada a
variação decorrente das veri¿cações indicadas no exemplo.

382
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

Figura 9.16 – Variação da resistência em função da relação (De/Di) e número de camadas.

9.3 FOTOGRAFIAS DO REFORÇO DE SEÇÕES CIRCULARES COM


SISTEMAS FRP

FotograĮa 9.1 – ConĮnamento por FRP de uma seção circular com a uƟlização do equipamento denominado de
“Įlament winding”.

383
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 9.2 – Aplicação de camada de FRP para o conĮnamento da seção circular (projeto dos autores premiado no ICRI).

FotograĮa 9.3 – Aplicação da camada Įnal de resina sobre o FRP de conĮnamento.

384
Capítulo 9 - Reforço de Elementos Circulares ou em Coroa Circular com FRP

FotograĮa 9.4 – Abertura de “rasgo” para permiƟr a saída do vapor intersƟcial interno em aplicação de reforço à
Ňexão em coluna circular (não usar este procedimento no FRP de conĮnamento – ver capítulo 6).

385
CAPÍTULO 10

REFORÇO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO


EXISTENTES COM SISTEMAS FRP PARA A PREVENÇÃO
DOS EFEITOS SÍSMICOS

10.0 CONSIDERAÇÕES INICIAIS


O reforço das estruturas de concreto armado é uma solução frequentemente utilizada para
permitir capacitar uma determinada estrutura que apresente de¿ciências de resistência e
esteja insatisfatoriamente dimensionada para atender às disposições e as recomendações
dos novos códigos sísmicos. Assim, muitas estruturas exigem uma adequação de todos ou
partes dos seus elementos estruturais para que possam atender integralmente as disposi-
ções correntes das normativas antissísmicas atuais.
Para que uma estrutura permaneça elástica quando submetida a esforços sísmicos, garan-
tindo a sua vida útil estimada de modo geral variando de 50(±5) anos, ela deve ser dimen-
sionada para absorver forças laterais com magnitude superiores a 50% do seu peso próprio.
De modo geral essa adequação tem um custo expressivo. Dessa forma, os códigos sís-
micos permitem, como ¿loso¿a de projeto, o desenvolvimento do reforço de tal forma que
a estrutura possa absorver respostas inelásticas signi¿cativas sem que as deformações
consequentes comprometam a integridade individual de seus elementos estruturais indivi-
dualmente e da estrutura como um todo.
Terremotos que se manifestaram recentemente em áreas urbanas demonstraram, repetidas
vezes a extrema vulnerabilidade das estruturas mais antigas para as deformações decorren-
tes dos sismos, não apenas nas edi¿cações em alvenarias, mas também nos edifícios estru-
turados em concreto armado. Essas de¿ciências se manifestaram principalmente na ligação
dos pilares com as vigas, caracterizando uma insu¿ciência de resistência ao corte, baixa
ductilidade Àexional, comprimentos insu¿cientes e incorreto posicionamento dos traspasses
das barras de armadura, caracterizando de modo geral um detalhamento insu¿ciente ou
mesmo inadequado para a atuação das manifestações sísmicas. A bem da verdade, também
foi detectado, em muitos casos, um detalhamento do projeto estrutural com capacidade de
resistência à Àexão insu¿ciente até mesmo para os carregamentos usuais e convencionais.
Para um adequado dimensionamento do reforço de uma estrutura de concreto armado
existente aos efeitos sísmicos, é fundamental que se tenha o entendimento de como se
manifestam as ações sísmicas e os modos típicos de ruptura ocasionados pelas mesmas.
Esse entendimento pode ser alcançado através das observações dos resultados obtidos
a partir dos carregamentos aplicados e da sua correspondente resposta de deformações.

387
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Um dos modos mais característicos e críticos de colapso são aqueles em que se observa a rup-
tura das colunas em decorrência do esforço cortante, sendo produzidas trincas inclinadas, fen-
dilhamento do concreto, escoamento e mesmo a ruptura dos estribos da armadura transversal.
Para que seja prevenida uma ruptura frágil, as colunas têm que possuir uma capacidade
resistente ao cortante garantida em suas extremidades, regiões onde ocorrem potencial-
mente as rótulas plásticas, e onde normalmente o concreto tem a sua capacidade resis-
tente ao cisalhamento degradada com o aumento da demanda de ductilidade. Também na
porção central das colunas, situada entre as rótulas plásticas de extremidade projetadas
ou desenvolvidas, essa manifestação ocorre.
Outro modo de ruptura bastante comum consiste na perda de con¿namento do concreto
na região da rótula plástica, onde subsequentemente à ruptura por Àexão o cobrimento
do concreto se destaca e fendilha, deslocando as armaduras longitudinais e provocando
a ruptura por compressão do concreto, iniciando a deterioração da rótula plástica, normal-
mente limitada a pequenas regiões da coluna, conforme mostrado na Fotogra¿a 10.1.

FotograĮa 10.1 – Ruptura da rótula plásƟca.

Muitas vezes acontece de a ruptura ser decorrente da perda de adesão nos traspasses das
armaduras longitudinais. A degradação da capacidade resistente pode ocorrer rapidamen-
te em elementos com baixa ductilidade à Àexão nos casos onde ocorrem traspasses de
comprimento insu¿ciente e inadequado con¿namento do concreto.
Rupturas por cortante também podem ocorrer nos elementos horizontais (vigas) próximas
às regiões de rótulas plásticas, mas também em elementos verticais (colunas) em decor-
rência de insu¿ciente capacidade resistente à Àexão em ambas as faces das mesmas tanto
na face superior como na face inferior das vigas, conforme mostrado na Fotogra¿a 10.2.

388
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

FotograĮa 10.2 – InsuĮciência de resistência à Ňexão.

Muitos pesquisadores têm demonstrado que um melhor con¿namento do concreto nas


regiões onde potencialmente podem ocorrer rótulas plásticas aumenta signi¿cativamente
a deformação de ruptura das peças e também melhoram a ductilidade geral do sistema.
Os procedimentos usuais de reforço das estruturas de concreto armado aos esforços sís-
micos com a utilização dos sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono con-
sistem exatamente em con¿nar os esforços que ocorrem tanto nas regiões das rótulas
plásticas como também nos elementos verticais (colunas) e horizontais (vigas) dos pórticos
resistentes aos esforços laterais produzidos pelos sismos, como mostra a Figura 10.1.
As pressões de con¿namento exercidas pelo envolvimento com ¿bras de carbono permitem
o aumento da resistência à compressão do concreto, tanto no núcleo como no cobrimento
da peça, melhorando a capacidade resistente às cargas axiais assim como a capacidade
de absorver os esforços laterais.

Figura 10.1 – Locação das regiões preferenciais de reforço sísmico.

389
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Além disso, os con¿namentos produzidos pelos sistemas compostos estruturados com


¿bras de carbono introduzem uma capacidade de suporte maior ao deslizamento das bar-
ras das armaduras longitudinais e horizontais. No início dos anos 90 a maioria dos reforços
de estruturas de concreto armado para a absorção de efeitos de natureza sísmica objetivava
principalmente a melhoria da ductilidade dos pilares.
Especi¿camente para o caso dos reforços a efeitos sísmicos, as ¿bras de carbono são submetidas
a esforços de tração decorrentes do efeito de Poisson, garantindo a necessária resistência aos
esforços alternantes originados pelo fenômeno sem alterar a rijeza original do elemento reforçado.
Alguns estudos desenvolvidos para compreender a atuação de jaquetas de ¿bras de car-
bono utilizadas com o objetivo de aumentar a capacidade de absorção dos esforços de
Àexão e corte, assim como a ampliação da resistência de pilares com detalhes de emendas
e traspasses de¿cientes já foram realizados1.
Nesses últimos anos foram desenvolvidos vários modelos de con¿namento de pilares com
a utilização de sistemas compostos FRP, onde são descritos os comportamentos tensão-
deformação das jaquetas de reforço. Alguns desses trabalhos são abaixo relacionados
conforme descritos na publicação “Task Force on Design of Externally Bonded FRP Sys-
tems for Seismic Strenghthening Concrete Structures” (Oct. 2002).
– Modelo de Mandel (1988)2.
– Modelo de Hoppel (1994).
– Modelo de Samaan (1998).
– Modelo de Hosotani (1998).
– Modelo de Toutanji (1999).
– Modelo de Spoelstra (1999).
– Modelo de Fam-Rizkalla (2001).
Não é objetivo desta publicação entrar em detalhes mais profundos sobre o dimensiona-
mento das estruturas de concreto armado para serem sismo-resistentes. O que se apre-
senta, na sequência, deve ser considerado apenas como uma recapitulação dos conceitos
mais comuns, necessários na avaliação das estruturas sobre a ótica dos efeitos sísmicos
quando dos projetos de reforço estrutural com sistemas compostos.

10.1 AVALIAÇÃO SÍSMICA SEGUNDO AS NORMAS BRASILEIRAS


A NBR 15421:2006 divide o território brasileiro em cinco zonas sísmicas distintas, confor-
me mostrado na Figura 10.2.

1 - Haroun et al. (1999)


Elsanadedy (2002)

2- Desenvolvida para coluna conĮnada com jaqueta de aço.

390
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

Figura 10.2 – Mapa sísmico do Brasil, segundo a NBR 15421.

Para cada uma dessas cinco zonas sísmicas temos os seguintes valores da aceleração
horizontal, para terrenos classe B (rochas), conforme mostrado na tabela 10.1.

Aceleração Horizontal Para Terrenos da Classe B


Zona Sísmica Valores de ag (m/s2)
Zona 0 0,025 g
Zona 1 0,025” ag ” 0,050
Zona 2 0,050” ag ” 0,100
Zona 3 0,100” ag ” 0,150
Zona 4 ag = 0,150
aceleração da gravidade: g = 9,81 m/s2

Tabela 10.1 – Valores de aceleração horizontal.

As coações produzidas pelos movimentos sísmicos em uma estrutura são manifestamente


de natureza dinâmica, que produzem grandes vibrações nos elementos estruturais. No
instante em que ocorre um abalo sísmico (terremoto) as ondas sísmicas geradas naque-
le evento se propagam pela crosta até chegarem ao local onde se encontra a estrutura.
Devido à essa propagação, a superfície do terreno sofre um deslocamento horizontal que
será a soma de dois deslocamentos distintos, o deslocamento horizontal da superfície e

391
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

o deslocamento elástico dos pilares e/ou fundações. Para a avaliação dessas ações nas
estruturas de concreto armado torna-se necessário um adequado estudo da ordem de
grandeza dos deslocamentos produzidos através de análises especí¿cas e adequadas.
A norma NBR-15421 permite que essa análise seja feita a partir de procedimentos que con-
sideram, de maneira simpli¿cada, a atuação de forças horizontais equivalentes às ações
sísmicas e que serão avaliadas de modo muito semelhante aos adotados para a conside-
ração do efeito dos ventos nas estruturas, o que facilita, sobremaneira, essa avaliação.
Ou seja, os efeitos dinâmicos produzidos pelos sismos podem ser transformados em um
procedimento “estático equivalente”.
O objetivo do projeto estrutural visando a adequação das estruturas de concreto armado
às solicitações sísmicas, tendo em vista que nunca se sabe qual é a maior intensidade
possível dos efeitos destruidores desses fenômenos naturais, é procurar se alcançar, pelo
menos, os níveis de segurança indicados abaixo:
– que as estruturas resistam a terremotos de intensidade leve sem quaisquer seque-
las estruturais;
– que as estruturas resistam a terremotos de intensidade moderada com danos es-
truturais não muito signi¿cativos (ou insigni¿cantes), ou com danos não estruturais
dentro de certos limites aceitáveis;
– que as estruturas não entrem em colapso total quando da ocorrência de sismos de
grande intensidade (severos).

De modo geral, a principal preocupação quanto aos danos produzidos pelos sismos se
refere àquelas estruturas consideradas essenciais para a manutenção da ordem e dos
serviços necessários ao bem-estar da população, objetivando que elas permaneçam em
condições de funcionamento. Essas edi¿cações, de modo geral, são os hospitais, centros
de saúde, quartéis do corpo de bombeiros e das forças armadas, aeroportos, escolas, etc.
Dentro dessa prioridade, as edi¿cações são classi¿cadas, segundo sua importância, como
mostrado abaixo:
– Grupo A: edi¿cações importantíssimas (quartéis de bombeiros, hospitais, usinas
elétricas, terminais de transporte, etc.);
– Grupo B: habitações, hotéis, habitações e comércio;
– Grupo C: edi¿cações de baixa importância;

A cada um desses grupos é aplicado um fator multiplicador da intensidade do sismo, com


valor decrescente do Grupo A para o Grupo C.

10.1.1 DEFINIÇÃO DA CLASSE DO TERRENO

O terreno de fundação deve ser caracterizado através dos valores fornecidos na Tabela
10.2, associados aos valores numéricos dos parâmetros geotécnicos médios avaliados
nos 30 metros superiores do terreno. Se a velocidade de propagação da onda (Vs ) não for

392
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

conhecida é permitida a classi¿cação do terreno a partir do número médio de golpes no


ensaio SPT ( N ) , conforme Tabela 10.2.
Cumpre destacar que as classes de rocha A e B não podem ser consideradas se houver
uma camada super¿cial de rocha superior a 3 m.
Para solos estrati¿cados, os valores médios de (Vs ) e ( N ) , são obtidos em função destes
mesmos valores de (υsi ) e ( Ni ) nas diversas camadas (i), através das equações apresen-
tadas abaixo, onde (di) é a espessura de cada uma das camadas de subsolo.

n n

Vs =
∑ i =1di N=
∑ i =1di
n d n d
∑ i =1 V i ∑ i =1 Ni
si i

Sendo,

(Vs ) velocidade média de propagação de ondas de cisalhamento ( N ) número médio de


golpes no ensaio SPT, em ensaio realizado de acordo com a NBR 6484.

CLASSE DO TERRENO
Classe do Designação da Propriedades médias para os 30 m superiores do terreno
Terreno Classe do Terreno Vպ s Nࡄ
A Rocha sã Vպ s • 1500 m/s (não aplicável)
B Rocha 1500 m/s• Vպ s •760 m/s (não aplicável)
Rocha alterada ou
C 760 m/s• Vպ s •370 m/s Nࡄ •50
solo muito rígido
D Solo rígido 370 m/s• Vպ s •180 m/s 50 •Nࡄ •15
Solo mole Vպ s ”180 m/s Nࡄ ”15
E
----- Qualquer per¿l incluindo camada com mais de 3 m de argila mole
Solo exigindo avaliação especí¿ca como:
1 - Solos vulneráveis à ação sísmica, como solos liquefa-
zíveis, argilas muito sensíveis e solos colapsíveis fraca-
F ----- mente cimentados.
2 - Turfa ou argilas muito orgânicas.
3 - Argilas muito plásticas.
4 - Estratos muito espessos (• 35 m) de argila mole ou média.

Tabela 10.2 – Classe do terreno.

10.1.2 ESPECTRO DE RESPOSTA DE PROJETO

O espectro de resposta de projeto, Sa (T ) , para acelerações horizontais, correspondente


à resposta elástica de um sistema de um grau de liberdade com uma fração de amorteci-
mento crítico igual a 5%, é de¿nido a partir da aceleração sísmica horizontal característica
( ag ) e da classe do terreno, utilizando as seguintes grandezas:

393
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

agso = Ca .ag
ags1 = Cv .ag

agso e ags1 - são as acelerações espectrais para os período de 0,0 s e 1,0 s, respectiva-
mente, já considerado o efeito da ampliação sísmica do solo.

Ca e Cv - são os fatores de ampliação sísmica no solo, para os período de 0,0 s e 1,0 s,


respectivamente, conforme Tabela 10.3, em função da aceleração característica de projeto
( ag ) e da classe do terreno.
T - é o período natural (em segundos), associado a cada um dos modos de vibração da
estrutura.
O espectro de resposta de projeto é considerado como aplicado à base da estrutura.
Classe do Ca Cv
Terreno ag ” 0,10g ag = 0,15g ag ” 0,10g ag = 0,15g
A 0,8 0,8 0,8 0,8
B 1,0 1,0 1,0 1,0
C 1,2 1,2 1,7 1,7
D 1,6 1,5 2,4 2,2
E 2,5 2,1 3,5 3,4
1 - para a classe F, deve ser realizado estudo especí¿co para determinar Ca e Cv.
2 - para (0,10g < ag < 0,15g), pode-se interpolar linearmente.

Tabela 10.3 – Fatores de ampliĮcação sísmica.

O espectro de resposta de projeto, Sa(T), é apresentado gra¿camente no Grá¿co 10.1, e é


de¿nido numericamente em três faixas de períodos expressos em segundo:

Ca ⎛ Ca ⎞
Sa (T ) = agso (18,75.T . +1,0 ) para ⎜⎝ 0 ≤ T ≤ 0,08. C ⎟⎠
Cv v

⎛ Ca C ⎞
Sa (T ) = 2,5.agso para ⎜ 0,08. ≤ T ≤ 0,40. a ⎟
⎝ Cv Cv ⎠

ags1
Sa (T ) = para ⎛T ≥ 0,40. Ca ⎞
T ⎜⎝ Cv ⎟⎠

Quando for necessário de¿nir um espectro para acelerações verticais, as acelerações des-
te espectro podem ser tomadas como 50% das acelerações correspondentes de¿nidas nos
espectros para acelerações horizontais.

394
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

GráĮco 10.1 – Variação do espectro de resposta de projeto.

10.1.3 CATEGORIA SÍSMICA

Para cada estrutura é de¿nida uma categoria sísmica, em função de sua zona sísmica,
conforme Tabela 10.4.
Zona sísmica Categoria sísmica
Zonas 0 e 1 A
Zona 2 B
Zonas 3 e 4 C

Tabela 10.4 – Categorias sísmicas.

10.1.3.1 Requisitos de análise para a categoria sísmica

Para as estruturas localizadas na zona sísmica 0 não é exigido nenhum requisito de resis-
tência sísmica. Da análise da ¿gura 10.2 pode-se observar que a maior parte do território
brasileiro se enquadra nessa zona.
As estruturas localizadas na zona sísmica 1 devem apresentar sistemas estruturais resis-
tentes a forças sísmicas horizontais em duas direções ortogonais, inclusive com meca-
nismo de resistência a esforços de torção. Devem resistir a cargas horizontais aplicadas
simultaneamente a todos os pisos e independentemente em cada uma de duas direções
ortogonais, com valor numérico:
Fx = 0,01.w x onde,
Fx é a força sísmica de projeto correspondente ao piso x.

395
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

wx é o peso total da estrutura correspondente ao piso (x), incluindo o peso operacional de


todos os equipamentos ¿xados na estrutura e dos reservatórios de água. Nas áreas de
armazenamento e estacionamento, este peso deve incluir 25% da carga acidental.

10.1.3.2 Requisitos de análise para as categorias sísmicas B e C

As estruturas de categoria sísmica B e C podem ser analisadas pelo método das forças
horizontais equivalentes3, ou por processos mais rigorosos4.

10.1.4 FORÇA HORIZONTAL TOTAL (CONFORME ITEM 9.1 DA NBR 15421:2006)

A força horizontal total na base da estrutura em uma determinada direção é expressa por:
H = Cs .W onde,
Cs coe¿ciente de resposta sísmica.
W peso da estrutura determinado conforme estabelecido em 8.7.2:
“Os pesos a serem considerados nas análises devem considerar as cargas permanentes
atuantes, incluindo o peso operacional de todos os equipamentos ¿xados na estrutura e
dos reservatórios de água. Nas áreas de armazenamento e estacionamento deve-se incluir
25% da carga acidental”.

⎛ agso ⎞
2,5. ⎜ a.
⎝ g ⎟⎠
Cs =
⎛ R⎞
⎜⎝ ⎟⎠
I

agso aceleração espectral para o período 0,0 s (já considerando o efeito da ampli¿cação
sísmica no solo, conforme indicado na de¿nição do espectro de resposta de projeto).
I fator de importância de utilização ( tabela 4, pag. 11 da NBR 15421:2006).
R coe¿ciente de modi¿cação de resposta ( tabela 6, páginas 13 e 14 da NBR 15421:2006).
O coe¿ciente de resposta sísmica não precisa ser maior que:

⎛ ags1 ⎞
2,5. ⎜ a.
⎝ g ⎟⎠
Cs =
⎛ R⎞
⎜⎝ ⎟⎠
I

O valor mínimo de Cs é dado por: Cs=0,01.


O período natural da estrutura (T) deve ser determinado conforme se segue:

3 - Conforme seção 9 da NBR 15421.


4 - Conforme seções 10 e 11 da NBR 15421.

396
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

10.1.4.1 Determinação do período

O período natural (T) da estrutura pode ser obtido por um processo de extração modal, que
leve em conta as características mecânicas e a massa da estrutura.
O período avaliado desta forma não poder ser maior que o produto do coe¿ciente de limita-
ção do período (Cup ), de¿nido na tabela seguinte em função da zona sísmica interessada,
pelo período natural aproximado da estrutura (Ta,).

Ta = CT .hnx

hn é a altura, em metros, da estrutura acima da base.

Coe¿ciente de Limitação do Período


Coe¿ciente de Limitação
Zona sísmica
do período (Cup)
Zona 2 1,70
Zona 3 1,60
Zona 4 1,50

Tabela 10.5 - CoeĮciente do período.

CT = 0,0724 e x = 0,8 ĺ para estruturas em que as forças sísmicas horizontais são


100% resistidas por pórticos de aço momento-resistentes, não sendo estes ligados a siste-
mas mais rígidos que impeçam sua livre deformação quando submetidos à ação sísmica.
CT = 0,0466 e x = 0,9 ĺ para estruturas em que as forças sísmicas horizontais são
100% resistidas por pórticos de concreto, não sendo estes ligados a sistemas mais rígidos
que impeçam sua livre deformação quando submetidos à ação sísmica.
CT = 0,0731 e x = 0,75 ĺ para estruturas em que as forças sísmicas horizontais são
resistidas em parte por pórticos de aço contraventados com treliças.
CT = 0,0488 e x = 0,75 ĺ para todas as outras estruturas

10.1.5 INFORMAÇÕES PRELIMINARES PERTINENTES AO ESTUDO DO REFORÇO

Praticamente não existe na engenharia estrutural um conhecimento generalizado de como


se projetar ou avaliar um reforço de estruturas submetidas a esforços sísmicos.
Esse desconhecimento, inclusive, existe com relação às principais recomendações para
detalhamento estrutural que são encontradas nas normas estruturais de países que con-
vivem diuturnamente com a possibilidade de ocorrência dessas desastrosas manifesta-
ções naturais.
Dessa forma, visando procurar integrar o engenheiro estrutural neó¿to às peculiaridades
existente neste tipo de dimensionamento, considera-se ser conveniente a apresentação de
algumas das recomendações mais importantes e pertinentes ao tema do reforço estrutural
preventivo de estruturas de concreto armado para a eventualidade da manifestação de
efeitos sísmicos.

397
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

10.2 PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES PARA O PROJETO DE ESTRUTURAS


DE CONCRETO ARMADO SUJEITAS A EFEITOS SÍSMICOS
Quando do dimensionamento das estruturas de concreto armado para suportar os efeitos
decorrentes dos movimentos do solo (sismos) algumas recomendações básicas devem
ser atendidas. Quando do projeto de reforço das estruturas existentes de concreto armado
para absorver os efeitos dos terremotos essas recomendações básicas devem ser conferi-
das para que seja avaliado corretamente o nível de reforço a ser introduzido nas estruturas.
Será utilizada, como referência básica, a norma americana ACI-318 para a demonstração
dos cuidados necessários quando do dimensionamento das estruturas para a atenuação
das consequências daquelas manifestações.

10.2.1 ELEMENTOS SUBMETIDOS À FLEXÃO

Para os elementos dos pórticos resistentes aos esforços laterais decorrentes dos sismos
e também aos esforços de Àexão decorrentes dos diversos carregamentos atuantes (ge-
ralmente as vigas horizontais dos pórticos dúcteis destinados a resistir às ações sísmicas)
devem ser satisfeitas as seguintes condições:

– a força axial majorada de compressão no elemento horizontal considerado não

deve exceder ⎛⎜ Ac .f 'c ⎞⎟ . Excedido esse valor o membro deve ser considerado como
⎝ 10 ⎠
uma coluna ou parede estrutural, dependendo essa última classi¿cação das ca-
racterísticas geométricas tanto do elemento considerado como dos elementos a
ele unidos;
– o comprimento (vão livre) do elemento não deve ser inferior a no mínimo quatro
vezes a sua altura efetiva (Hl ≥ 4.h ) . A limitação referente à relação entre a altura
livre e a altura útil é decorrente da evidência experimental de que membros contí-
nuos, pouco esbeltos, têm um comportamento sensivelmente diferente do das vi-
gas esbeltas quando submetidos a deslocamentos alternantes dentro do domínio
não linear, ver Figura 10.3;

Figura 10.3 – Limitações dimensionais.

398
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

⎛b ⎞
– a relação entre a largura e a altura não deve ser inferior a 0,30 ou seja, ⎜⎝ h ≥ 0,30 ⎟⎠ .
A limitação geométrica da largura máxima foi estabelecida para que seja assegurada
uma transferência efetiva dos momentos, ver Figura 10.4. Em lajes tipo cogumelo (sem
vigas) utilizadas muito comumente em pórticos dúcteis, essa disposição tem como ob-
jetivo limitar a região disponível para a transferência dos momentos;

Figura 10.4 – Limitações dimensionais.

– a largura não deve ser menor que 25 cm ou maior que a largura do membro supor-
tante, medida no plano perpendicular ao eixo longitudinal do membro submetido
à Àexão, mais larguras excedentes em cada lado do membro suportante não su-
periores a três quartos da altura do membro Àexionado em cada lado, conforme
Figuras 10.5 e 10.6.
Relativamente ao nível de armação o ACI-318 recomenda, para as armaduras longitudinais:
– em qualquer seção do membro Àexionado, excetuando-se as armaduras dimen-
sionadas para o topo ou para o pé das barras, a seção transversal de armadura
⎛ 200.bw .d ⎞
não deve ser inferior a ⎜ ⎟ e a sua densidade não pode exceder 0,025, ou
⎝ fy ⎠
⎛ ⎞
seja, ⎜ ρ = As ≤ 0,025 ⎟ , sendo obrigatória a existência de pelo menos duas barras
⎝ Ac ⎠
contínuas de armação em cada face do elemento se estendendo desde o seu pé
até o seu topo. Dispor de uma armadura de compressão mesmo quando não indi-
cada pelo cálculo tem por objetivo aumentar a ductibilidade da rotação em todas
as seções ao redor do membro, sendo esse aumento de armação mais desejável
ainda nas seções próximas aos apoios, mais suscetíveis de desenvolverem defor-
mações além da região elástica quando da ocorrência de um sismo. A limitação da
densidade máxima de armação tem como objetivo principal evitar o congestiona-
mento de armaduras mais do que qualquer outra razão, embora seja uma forma
indireta de limitar o valor da força cortante em vigas de proporções normais.

399
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 10.5 – Limitações dimensionais.

Figura 10.6 – Limitações dimensionais.

– a resistência ao momento Àetor positivo na face da união (nó) não deve ser infe-
rior à metade do valor do momento negativo produzido na mesma. A resistência
mínima garantida para o momento Àetor positivo ou negativo em qualquer seção
ao longo da extensão do membro não deve ser inferior à quarta parte do valor do
momento máximo produzido na face de qualquer junta;
– emendas por traspasse da armadura de Àexão somente serão permitidas se os es-
tribos (ou espiras) forem reforçados ao longo da emenda. O espaçamento máximo
da armadura transversal que envolve a região de traspasse das barras longitudi-
⎛d⎞
nais não pode exceder 10 cm ou ⎜ ⎟ . As emendas por traspasse não podem ser
⎝ 4⎠
utilizadas dentro das juntas (nós), a uma distância de duas vezes a altura do elemento
contado a partir da face da junta e em locais onde possa ocorrer o escoamento da
armadura de Àexão em função dos esforços produzidos por deslocamentos laterais
inelásticos do pórtico. Estas recomendações estão mostradas na Figura 10.7.

400
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

Figura 10.7 – Recomendações sobre os esforços atuantes.

Estas recomendações se justi¿cam devido ao fato de que se em uma seção submetida


tão somente à Àexão e carregada monotonicamente até o escoamento do aço por tração a
consideração de equilíbrio dos momentos é possível porque a probabilidade de ruptura de
compressão pode ser con¿avelmente estimada através do modelo de comportamento as-
sumido para a determinação daquele ponto de equilíbrio, o mesmo, entretanto, não ocorre
em membros estruturais Àexionados submetidos a deslocamentos reversíveis dentro do
intervalo inelástico, para o qual o modelo anterior falha por deixar de cumprir as hipóteses
que fundamentam o conceito de deformação equilibrada, ou seja:
– distribuição linear das deformações;
– deformação máxima do concreto limitada a 3‰;
– diagrama bilinear de tensão-deformação do aço;
– os esforços de compressão no cobrimento do concreto.

Consequentemente, não tem sentido em caso de estruturas submetidas a efeitos sísmicos


vincular a capacidade resistente máxima ao conceito de capacidade equilibrada, sendo as-
sim, a consideração do equilíbrio dos momentos não se sustenta quando da consideração
de projeto das estruturas resistentes a terremotos.
As funções das armaduras transversais nos elementos submetidos à Àexão e que formam
parte do sistema resistente aos sismos são mais amplas e importantes do que quando

401
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

estão solicitadas pela ação de cargas gravitacionais. Essas armaduras devem ser capazes
de resistir à força cortante máxima que pode ser produzida na peça quando a mesma for
submetida a deslocamentos não elásticos tendo, além disso, que promover o con¿namento
do concreto naquelas regiões onde são antecipadas ações inelásticas importantes, ob-
jetivando alcançar-se uma maior capacidade de deformação. Estudos experimentais de-
monstram que elementos de concreto armado submetidos a cargas alternadas dentro do
domínio não linear necessitam de uma armadura transversal maior daquela necessária
para cargas monotônicas quando se deseja, para ambos os casos, que o elemento entre
em colapso por Àexão e não por esforço cortante. O aumento de armadura transversal é
bem mais pronunciado caso não exista força axial solicitando o elemento. Esta é uma das
razões pela qual foi suprimida a contribuição do concreto para a resistência ao esforço
cortante nas peças fracamente solicitadas por esforços axiais e onde, além disso, a for-
ça cortante produzida pelo efeito sísmico é igual ou maior que a força cortante isostática
originada pela carga vertical majorada. Chamamos a atenção do leitor que não deve ser
interpretado que o concreto da seção do elemento não seja importante para resistir ao es-
forço cortante. Pelo contrário, o fenômeno resistente poderia ser descrito como se fosse o
concreto do núcleo que resiste à força cortante, sendo a função da armadura transversal
promover o con¿namento desse núcleo de concreto de forma a torná-lo capaz de resistir
ao esforço cortante.

Figura 10.8 – Recomendações construƟvas.

Relativamente às armaduras transversais assim a ACI-318 recomenda que os estribos


devem ser obrigatoriamente utilizados nas seguintes regiões dos membros dos pórticos
resistentes aos efeitos sísmicos:
– em uma extensão igual a duas vezes a altura do membro, medida da face do
membro suportante em direção ao meio do vão, em ambas as extremidades do
membro Àexionado, conforme mostrado na Figura 10.8;
– em uma extensão igual a duas vezes a altura do membro, dos dois lados da seção
onde ocorra a probabilidade de escoamento por Àexão em decorrência de deslo-
camentos laterais do pórtico, como mostrado na Figura 10.9.

402
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

Figura 10.9 – Disposições construƟvas.

Os principais objetivos dessas recomendações são reforçar o que foi dito acima, é o de
con¿nar o núcleo de concreto e manter a condição de suporte lateral para as barras longi-
tudinais da armadura nas regiões onde o escoamento do aço por tração é esperado.
São recomendadas disposições construtivas especiais para os estribos situados nessas
regiões, principalmente a conformação dos ganchos dos mesmos, que devem estar inseri-
dos nos núcleos dos membros, como mostrado na Figura 10.10.

Figura 10.10 - Conformação dos ganchos.

O primeiro estribo não pode estar afastado mais do que 5 cm da face do apoio e o seu espa-
çamento não pode exceder a ⎛⎜ d ⎞⎟ e/ou oito vezes o menor diâmetro das barras longitudinais
⎝ 4⎠
e/ou 24 vezes o diâmetro da barra do estribo e/ou 30 cm, como indicado na Figura 10.11.
Onde os estribos forem necessários as barras longitudinais no perímetro deverão ter su-
porte lateral adequado5, conforme indicado na Figura 10.12.
Os estribos situados nos membros Àexionados podem ser constituídos por duas peças dis-
tintas, a primeira formada por um estribo com ganchos dimensionados para efeitos sísmi-
cos nas duas extremidades, sendo essa peça envolvida por uma segunda barra contínua

5 - ACI-318 – 7.10.5.3.

403
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

que tenha um gancho dimensionado para efeitos sísmicos em uma das suas extremidades
e o outro gancho com pelo menos 90o de curvatura e com pelo menos seis diâmetros da
barra longitudinal de comprimento.

Figura 10.11 – Recomendações construƟvas.

Os ganchos devem ser ¿xados nas barras longitudinais periféricas. Os ganchos a 90o de
dois desses estribos contínuos consecutivos que se ¿xarem em uma mesma barra longitu-
dinal devem ser alternados, conforme as Figuras 10.13 e 10.14.

Figura 10.12 – Recomendações construƟvas.

404
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

Figura 10.13 – Recomendações construƟvas.

No restante do elemento, onde os ganchos não são mais necessários, estribos com gan-
chos sísmicos deverão também ser utilizados, com espaçamento não maior que ⎛⎜ d ⎞⎟ .
⎝ 2⎠
A Figura 10.14 mostra como deve ser a armação transversal do elemento com a utilização
dos ganchos sísmicos. Observar a alternância entre as extremidades dos estribos relativa-
mente aos ganchos da barra suplementar.

Figura 10.14 – Recomendações para estribos.

10.2.2 RECOMENDAÇÕES PARA O CORTANTE

A força cortante de projeto (Ve) deve ser determinada a partir da consideração das forças
estáticas na parte do membro entre as faces das juntas.
Deve ser assumido que momentos de sinais contrários, correspondentes ao provável mo-
mento resistente (Mpr) estarão atuando nas faces das juntas e que os membros estarão
carregados com cargas gravitacionais adicionais ao longo dos seus vãos.
Na determinação da força lateral equivalente, representativa dos esforços sísmicos nos
tipos de pórticos considerados, é assumido que os membros dos pórticos irão dissipar a
energia num intervalo de resposta não linear. A menos que o membro do pórtico possua
uma resistência que seja múltipla de 3 a 4 vezes as forças de projeto deve ser assumido
que ele irá escoar na ocorrência de um terremoto de grande intensidade.

405
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A força cortante de projeto deve ser uma aproximação muito boa do valor máximo do cor-
tante que pode ser desenvolvido em algum membro.
Entretanto, a resistência necessária ao cortante para os membros dos pórticos tem como
referência as resistências à Àexão de projeto do membro mais ainda as forças cortantes
majoradas indicadas pela análise dos carregamentos laterais, conforme indicado nas Figu-
ras 10.15 e 10.16 .
M pr1 + M pr 2 W
Para vigas de pórticos temos: Ve = ±
L 2

Figura 10.15 – Esforços de referência.

M pr1 + M pr 2
Para colunas temos: Ve =
H

Figura 10.16 – Esforços de referência.

É importante lembrar que:


– a direção das forças cortantes (Ve) depende da grandeza relativa das cargas gravitacio-
nais e do cortante produzido pelos momentos das extremidades;
– os momentos de extremidade (Mpr), baseados na tensão de tração do aço (1,25 fy), onde
(fy) é a tensão resistente de escoamento. Os dois momentos extremos devem ser conside-
rados nos dois sentidos (horário e anti-horário);
– o momento de extremidade (Mpr) das colunas não precisa ser maior que os momentos
gerados pelos momentos (Mpr) das vigas aplicadas à junta conformada pela interseção das
vigas com as colunas.
O valor de (Ve) nunca deve ser menor do que aquele necessário devido à análise da estrutura.

406
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

10.2.3 ELEMENTOS DE PÓRTICOS RESISTENTES À FLEXO-COMPRESSÃO

Para elementos estruturais de pórticos submetidos a esforços induzidos por terremotos e


que estejam submetidos a forças majoradas de compressão superiores a ⎛ Ac .f 'c ⎞ as con-
⎜⎝ 10 ⎟⎠
dições a serem observadas são as seguintes:
– a menor dimensão da seção transversal medida relativamente à linha que passa
pelo centróide da mesma não deve ser inferior a 30 cm;
– a relação entre a menor dimensão da seção transversal e a dimensão perpendicu-
lar não deve ser maior que 0,40. O objetivo dessa recomendação é reduzir a pos-
sibilidade de escoamento nas colunas. Se essa condição dimensional não puder
ser satisfeita na junta, qualquer contribuição positiva da coluna (ou das colunas)
envolvida(s) com a resistência lateral e a rijeza da estrutura deve ser ignorada.
Entretanto, não deve ser ignorada qualquer contribuição negativa da presença
dessas colunas no comportamento estrutural da edi¿cação;
– a resistência mínima à Àexão da coluna deve satisfazer à seguinte expressão:

6
∑ Me ≥ 5 ∑ Mg , onde

∑ Me – somatória dos momentos calculados no centro da junta correspondentes à resis-


tência estrutural de projeto da coluna aporticada naquela junta (a resistência à Àexão da
coluna deve ser calculada para as forças axiais majoradas, consistentes com a direção das
forças laterais do terremoto considerado e que resultam na menor resistência à Àexão).

∑ Mg - somatória dos momentos calculados no centro da junta, correspondentes à resis-


tência estrutural de projeto do quadro de reforço naquela junta.
As resistências à Àexão devem ser somadas de forma tal que o momento da coluna te-
nha sinal contrário ao do momento da viga. A equação acima deve ser satisfeita para os
momentos das vigas atuando nas duas direções do plano vertical do pórtico considerado.
Se essa condição não for satisfeita na junta as colunas que suportam as reações dessas
juntas deverão ser providas de armadura transversal em toda a sua altura.
( )
– a densidade de armação para a armadura longitudinal ρg não deve ser inferior a
1% e nem superior a 6%.
– os traspasses da armadura longitudinal somente serão permitidos na parte central
do comprimento do elemento e devem ser dimensionados como traspasses à tra-
ção, conforme indicado na Figura 10.17.
As colunas devem ser providas de armaduras transversais convenientemente posiciona-
das de forma a atender às seguintes recomendações:
– a relação volumétrica dos elementos con¿nantes em espiral ou circulares ( ρs ) não
pode ser inferior à recomendada pelas seguintes equações6:

f' e ⎛ Ag ⎞ f'
ρs = 0,12. c ρs = 0,45 ⎜ − 1⎟ c
fyh ⎝ Ac ⎠ fy

6 - ACI-318 – 21-2 e 10-6.

407
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

onde: fyh a resistência de escoamento especi¿cada do aço da armadura transversal e fy


a mesma resistência limitada ao valor de 4.220 kgf/cm2.

Figura 10.17 – Recomendações para traspasse de armaduras.

– a área da seção transversal total dos estribos de con¿namento não pode ser infe-
rior do que as dadas pelas seguintes equações7:

⎛ sh .f ' ⎞ ⎡⎛ Ag ⎞ ⎤
Ash = 0,3 ⎜ c c ⎟ ⎢⎜ ⎟ − 1⎥
⎝ fyh ⎠ ⎣⎝ Ach ⎠ ⎦

f 'c onde,
Ash = 0,09shc .
fyh

hc - dimensão da seção transversal do núcleo con¿nado medido de centro a centro da ar-


madura de con¿namento.
s - espaçamento da armadura transversal medida ao longo do eixo longitudinal do elemen-
to estrutural.
Ach - área da seção transversal do elemento estrutural medida de fora a fora da armadura
transversal.
– a armadura transversal pode ser formada por estribos simples ou traspassantes. Bar-
ras complementares passantes do mesmo diâmetro que dos estribos e igualmente
espaçadas são de uso permitido. Cada extremidade da barra passante deve envolver
uma barra periférica da armadura longitudinal. As barras passantes consecutivas de-
verão ter as suas extremidades alternadas ao longo da armadura longitudinal.

7 - ACI-318 – 21-3 e 21-4.

408
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

– se a resistência de projeto do núcleo con¿nado do elemento satis¿zer as especi¿-


cações das combinações de carregamentos, incluindo aí o efeito dos terremotos,
as equações 21-3 e 10-6 não precisam ser satisfeitas.
Os objetivos fundamentais dessas recomendações é o de que se tenha garantido o con¿-
namento do concreto e do suporte lateral das barras longitudinais da armação.
– a armadura transversal deve ser espaçada com distâncias que não excedam os
seguintes valores:
a – 0,25 da menor dimensão do elemento
b – 10 cm.

Figura 10.18 – Traspasses de estribos.

– as barras complementares aos estribos ou as pernas dos estribos traspassantes


não podem ser espaçadas mais do que 35 cm no centro na direção perpendicular
ao eixo longitudinal do elemento estrutural, conforme indicado na Figura 10.18;
– as armaduras transversais conforme especi¿cadas nos itens anteriores8 devem
ser providas de um comprimento (l0 ) a partir de cada face da junta e para os dois
lados de qualquer seção onde o escoamento por Àexão é passível de ocorrer em
decorrência do deslocamento lateral inelástico do pórtico resistente aos esforços
sísmicos. O comprimento (l0 ) não deve ser inferior a:
a - a altura do elemento na face do nó (junta) ou da seção onde ocorre a probabi-
lidade do escoamento por Àexão.
b - a sexta parte do vão livre do elemento
c - 45 cm.
Existem ocorrências que podem ser classi¿cadas de excepcionais em termos de avalia-
ção sísmica, quando ocorre, por exemplo, em uma determinada junta a presença de um
vigamento muito robusto sendo então necessário dispor-se de reforço transversal adicional
nas colunas que concorrerem na mesma, com o objetivo de aumentar a sua capacidade
de absorver energia.

8 - ACI-318 – 21.4.4.1 a 21.4.4.3.

409
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Essa situação deve ser entendida sempre como um caso excepcional e é recomendável
que não ocorra mais do que um caso isolado em um mesmo nível.
Consideram-se nesses casos as seguintes recomendações, que devem ser aplicadas em
todas as colunas que estejam abaixo do nível onde foram interrompidos os elementos rígidos
ou onde ocorram relevantes descontinuidades de rijeza, situação que também pode ocorrer
em consequência da interrupção em um determinado nível de elementos estruturais:
– as colunas suportando reações de elementos com descontinuidade de rijeza, como
paredes, devem ser providas com armaduras transversais conforme recomenda-
do nos itens anteriores9 em toda a altura abaixo do nível no qual ocorre a descon-
tinuidade se a carga axial de compressão majorada nesses elementos, relativa-
⎛ Ag .f 'c ⎞
mente aos efeitos sísmicos, exceder ⎜⎝ 10 ⎟⎠ . Os reforços recomendados devem
se estender no elemento com descontinuidade pelo menos com o comprimento
desenvolvido da maior armadura longitudinal da coluna, conforme indicado na
sequência dessas considerações10. Se a extremidade inferior da coluna terminar
em uma parede, armação transversal conforme recomendado na Nota 10 deve se
estender dentro da parede numa extensão pelo menos igual ao comprimento de-
senvolvido da maior armadura longitudinal da coluna no seu ponto de terminação;
– se a coluna terminar em uma sapata ou em um radier armadura transversal com as
mesmas recomendações das anteriores deverão ser estendidas até pelo menos
30 cm dentro daqueles elementos;

Figura 10.19 – Recomendações para arranques e traspasses de colunas.

– na região da coluna onde não for disposta a armadura transversal recomendada


para adequação ao efeito sísmico da coluna deverá ser providenciada uma arma-
ção tipo braçadeira (percinta) ou em espiral, com espaçamento não excedendo o
menor dos seguintes valores:

9 - ACI-318 – 21.4.4.1 a 21.4.4.3.


10 - ACI-318 – 21.5.4.

410
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

a – seis vezes o diâmetro das barras longitudinais da coluna (6φb ).


b – 15 cm.
Essas recomendações foram adicionadas recentemente às normas do ACI após a obser-
vação dos efeitos dos terremotos que mostraram um estrago signi¿cativo nas regiões sem
con¿namento das colunas. A adoção de um mínimo de armação transversal com estribos
ou espiras acrescentam uma rijeza uniforme à coluna ao longo do seu comprimento, de-
senvolvendo razoável proteção e ductilidade na parte central das colunas situadas entre as
extremidades providas da armação transversal recomendada.
A resistência necessária ao cortante é deduzida através da determinação das forças de projeto.
A força cortante de projeto (Ve) deve ser determinada a partir da consideração do valor
máximo das forças que podem ser geradas nas faces das juntas (nós) em cada uma das
extremidades do elemento.
As forças nas juntas devem ser avaliadas através da utilização da máxima resistência pro-
vável ao momento Àetor (Mpr) do elemento associado com a amplitude das cargas axiais
majoradas no elemento considerado. As forças cortantes do elemento não necessitam
obrigatoriamente exceder àquelas determinadas para a resistência da junta com base no
valor de (Mpr) dos membros transversais aporticados na mesma. Em nenhum caso, entre-
tanto, (Ve) deve ser inferior à força cortante majorada determinada na análise da estrutura.
Abaixo do nível do terreno o momento Àetor em um nó deve ser limitado pelas resistências
à Àexão das vigas incidentes no nó. Onde as vigas se aporticarem em lados opostos do nó
a resistência combinada deve ser determinada através da soma da resistência ao momen-
to negativo da viga em um dos lados do nó e a resistência ao momento positivo da viga no
outro lado do nó. Os momentos resistentes devem ser determinados sem a utilização de
coe¿cientes de minoração e o aço da armadura deve suportar uma tensão de tração pelo
(
menos igual a 1,25.fy .)
10.2.4 JUNTAS (NÓS) DOS PÓRTICOS

As prescrições usuais das normas relativamente às juntas estão respaldadas por evidên-
cias experimentais sobre as con¿gurações usuais tanto geometricamente como decorren-
te do posicionamento relativas dos membros concorrentes naquelas. Consequentemente
essas recomendações abrangem os casos mais frequentes, evitando-se uma análise mais
detalhada que somente serão necessários nos casos mais atípicos.
Independentemente do quão reduzidos resultem os esforços cortantes em uma junta que
deve resistir a ações sísmicas, o reforço de con¿namento deve ser disposto em toda a lar-
gura da junta e ao longo do reforço da coluna.
Quando a junta estiver con¿nada pela existência de membros concorrentes em suas qua-
tro faces o reforço transversal pode ser reduzido à metade. No caso de vigas mais largas
que as colunas concorrentes nas juntas, onde parte das barras da armadura longitudinal
das mesmas não passam através do núcleo con¿nado da coluna, torna-se necessário dis-
por de reforço transversal especí¿co.
As eventuais rotações inelásticas que podem ocorrer na face das juntas estão associadas
a deformações muito maiores que aquelas correspondentes às deformações do estado li-

411
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

mite último na armadura de tração das vigas. Decorrente disto, a força cortante gerada por
(
aquelas armaduras deve ser calculada supondo-se um esforço correspondente a 1,25.fy 11 )
na armadura de tração das vigas.
Segundo a ACI-318, a resistência da junta deve ser determinada com a utilização dos se-
guintes coe¿cientes de minoração12:
– Àexão sem carregamento axial – 0,90
Carga axial, e carga axial com Àexão (para carga axial com Àexão ambos os esforços, carga
axial e o momento Àetor, devem ser multiplicados pelo valor individual apropriado de φ ), da
seguinte maneira:
– tração axial e tração axial com Àexão – 0,90
– compressão axial e compressão axial com Àexão, estribo em espira – 0,75
– compressão axial e compressão axial com Àexão, estribo normal – 0,70
Apresentam-se algumas das recomendações gerais para detalhamento da armadura na
junta com vistas a ações sísmicas.
– a armação longitudinal da viga que termina em uma coluna deve ser estendida até
a face oposta do núcleo con¿nado da coluna e ancorada à tração de acordo com
o comprimento desenvolvido de ancoragem à tração de¿nida em 21.5.4 e à com-
pressão de acordo com as recomendações do Capítulo 12 da ACI-318.
– onde a armadura longitudinal de uma viga se estender através da ligação junta/
coluna a dimensão da coluna, paralelamente à armadura da viga, não pode ser
inferior a 20 vezes o maior diâmetro da barra utilizada, para concretos de con-
sistência normal. Para concretos leves essa dimensão passa a ser de 26 vezes
o maior diâmetro de barra utilizado. Essa recomendação procede em função da
observação de vários pesquisadores que barras retilíneas de vigas podem escor-
regar juntamente com a junta formada pela coluna com a viga durante uma série
de momentos Àetores reversos de grande intensidade. Dessa forma, as tensões
de aderência nessas barras retilíneas tem que ser muito grande. Com o objetivo
de reduzir esse deslizamento da barra quando da formação de rótulas plásticas
adjacentes na viga torna-se necessário ter-se uma relação entre a dimensão da
coluna e o diâmetro da barra de aproximadamente ⎛⎜ 1 ⎞⎟ o que resultaria em juntas
⎝ 32 ⎠
muito largas. Decorrente das revisões dos testes efetuados os valores 20 e 26
foram con¿rmados e adotados.
Relativamente à armadura transversal das juntas as recomendações são as seguintes:
– deve ser adotada armadura transversal com ganchos através da junta conforme já
especi¿cada atrás, a menos que a junta esteja con¿nada por elementos estrutu-
rais, conforme de¿nido no próximo item.
– em toda a profundidade de¿nida pelo membro de menor altura do pórtico deve ser
providenciada armadura transversal igual a pelo menos a metade da requerida

11 - ACI-318, 25.5.1.1; COVENIM 1753-87, C18.4.1.


12 - ACI-318 – 9.3.2.

412
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

em 21.4.4.1 através dos quatros lados da junta e aonde cada largura do elemento
⎛ 3⎞
seja pelo menos ⎜⎝ 4 ⎟⎠ da largura da coluna. Nesses locais os espaçamentos espe-
ci¿cados em 21.4.4.2(b) podem ser aumentados até 15 cm.
– armação transversal como a requerida em 21.4.4 deve ser colocada através da
junta para produzir con¿namento para a armação longitudinal da viga fora do nú-
cleo da coluna se o con¿namento não for garantido através do aporticamento da
viga na junta.
O conceito de junta con¿nada está indicado no desenho da Figura 10.20 que reÀete basi-
camente as indicações da Figura C-18.4.2.2 da norma venezuelana COVENIN 1753-87 e
da Figura R21.5.3 da norma ACI-318.

Figura 10.20 – Conceituação de junta conĮnada.

Com relação à resistência ao cortante a norma ACI-318 estabelece:


A resistência nominal de corte da junta não deve ser maior que as forças abaixo especi¿-
cadas, para concretos com agregados normais:

– para juntas con¿nadas em suas quatro faces - 20 f 'c .A j


– para juntas con¿nadas em três faces ou em duas faces opostas - 15 f 'c .A j
– para as demais juntas - 12 f 'c .A j
– para agregados leves a resistência nominal de corte da junta não deve exceder a
⎛ 3⎞
⎜⎝ ⎟⎠ dos valores indicados atrás.
4

413
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Um membro considerado do pórtico em uma face da junta estará colaborando para o con-
⎛ 3⎞
¿namento se pelo menos ⎜⎝ ⎟⎠ da face da junta estiver coberta pelo mesmo.
4

Uma junta deverá ser passível de con¿namento se os elementos con¿nantes conformarem


um pórtico em todas as faces da junta.

A força cortante de projeto atuante em uma junta deve atender à seguinte expressão:

V j ≤ φ .γ .A j . fc ' onde,

Vj - força cortante de projeto da junta supondo que o esforço nas armaduras de tração das
(
vigas seja igual a 1,25.fy . )
φ - coe¿ciente de redução da resistência, tomado igual a 0,85.
γ - fator considerado igual a 5,3 em juntas con¿nadas por vigas em suas quatro faces e
com valor 4,0 para os demais casos.
Aj - área da menor seção transversal da junta em um plano paralelo ao eixo do reforço lon-
gitudinal que transmite o cortante à junta. Quando uma viga concorre em um apoio muito
largo, a largura efetiva da junta não excederá a largura da viga mais a dimensão da coluna
medida paralelamente ao eixo da viga, em (cm2).
fc’- resistência à compressão do concreto, em (kgf/cm2).

A expressão deduzida das Figuras 10.21 e 10.22 pode ser assim escrita:
V j = 1,25.fy . ( As1 + As2 ) − Vcol . (a)

O valor da força cortante na coluna, consistente com os momentos resistentes das seções
das vigas que concorrem na junta pode ser estimado como:

⎛ l l ⎞
2 ⎜ 1 M AC + 2 MBC ⎟ (b) onde,
⎝ l1n l2n ⎠
Vcol =
(l c + l c ' )

414
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

Figura 10.21 – Plano potencial de falha.

Figura 10.22 – Tensões desenvolvidas na junta.

l1, l2 - distâncias entre os centros dos apoios das vigas adjacentes à junta.
l1n, l2n - vãos livres das vigas adjacentes à junta.
M AC ,MBC - momentos Àetores nas extremidades de um membro. Esses momentos são cal-
culados tomando-se ( φ = 1,0 ) e como esforço na armadura de tração da viga o valor de
( )
1,25.fy .
lc ,lc ' - distâncias entre os centros de apoios das colunas adjacentes à junta.

415
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

l ⎛h ⎞ ⎛ ⎞
Para os casos mais comuns, onde são satisfeitas as relações ⎜ c ≥ 0,08 ⎟ e ⎜ 2 ≥ 0,7 ⎟ a
⎝ l1 ⎠ ⎝ l1 ⎠

fórmula seguinte é uma simpli¿cação da expressão (a), permitindo estimar de maneira


conservadora o cortante de projeto no centro da junta.

⎛ 2.h j ⎞
V j = 1,25.fy . ( As1 + As2 ) ⎜1 −
⎝ lc + lc ' ⎟⎠

A Figura 10.23 mostra como é determinado o valor de (Aj).

Figura 10.23 – Determinação do valor de Aj.

10.2.5 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM DAS ARMADURAS À TRAÇÃO

O comprimento de ancoragem à tração de barras de armadura providas de um gancho


padrão é de¿nido como a distância medida paralelamente à barra, desde a seção crítica
a partir da qual a barra deve ter desenvolvida a sua aderência até a tangente marcada na
face externa do gancho e perpendicular ao eixo longitudinal da barra.
Esse comprimento de ancoragem (ldh) para uma barra de armadura com um gancho normal
dobrado a 90o imerso em concreto com agregados com granulometria usual não deve ter
comprimento inferior a qualquer das três condições seguintes:
ldh ≥ 8.d b

ldb ≥ 15cm
fy .d b
ldb =
65 f 'c

Para concretos com agregados leves esses valores passarão a ser:


ldh ≥ 10.d b
ldb ≥ 20cm
1,25.fy .d b
ldb =
65 f 'c

416
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

Também os ganchos inclinados a 90o deverão estar localizados dentro do núcleo con¿nado
da coluna ou de um elemento limitante.
Para barras com diâmetros compreendidos entre 10 mm e 35 mm (no Brasil o diâmetro
comercial máximo mais utilizado é o de 32 mm) o comprimento reto desenvolvido não po-
derá ser inferior a:
– 2,5 vezes o comprimento das barras com ganchos a 90o se a espessura do con-
creto fundido de uma só vez abaixo da barra não exceder 30 cm.
– 3,5 vezes o comprimento das barras com ganchos a 90o se a espessura do concreto
fundido de uma só vez abaixo da barra exceder 30 cm. Devido ao efeito que a concre-
tagem tem sobre a aderência das barras superiores destas se exige um comprimento
1,4 vezes maior que o das barras longitudinais das camadas inferiores, o que equivale
a dizer (2,5 x 1,4 = 3,5).
Barras retas terminadas numa junta devem passar através do núcleo con¿nado da coluna
ou de um elemento fronteiriço. Qualquer porção do comprimento reto de aderência que
estiver fora do núcleo con¿nado deverá ter a sua extensão multiplicada por um fator 1,6.
O menor esforço de aderência que se desenvolve nas regiões adjacentes aos núcleos
con¿nados justi¿ca o maior comprimento de ancoragem para as barras retas que não esti-
verem totalmente contidas nos núcleos con¿nados das juntas. Para esses casos se aplica
a seguinte expressão:
ldm = 1,6 (ld - ldc) + ldc ou,
ldm = 1,6.ld - 0,6.ldc onde,
ldm – comprimento de ancoragem para barras parcialmente contidas em um núcleo con¿nado.
ld – comprimento de ancoragem reto das barras.
ldc – comprimento de ancoragem para as barras com o gancho padrão a 90o.

10.3 METODOLOGIA PARA O PROJETO DE REFORÇO COM FRP

10.3.1 AVALIAÇÃO SÍSMICA DE PILARES EXISTENTES

Os pilares de concreto armado deverão ser analisados a partir da avaliação da sua carac-
terística de ductilidade. Conhecida a sua ductilidade ela deverá ser comparada à demanda
de ductilidade estimada através de análise estrutural avançada, como pelo método dos ele-
mentos ¿nitos, ou das exigências das recomendações normativas correntes de ductilidade.
Se a capacidade de ductilidade calculada para o elemento excede o valor necessário de-
terminado pelo cálculo da demanda ou o valor recomendado pelas normas não haverá
necessidade de reforço. Em caso contrário, deverá ser providenciado o reforço necessário.

10.3.2 PROJETO DA AMPLIAÇÃO DA DUTILIDADE À FLEXÃO

O primeiro passo no projeto de reforço com a utilização de sistemas compostos FRP para a
dutilidade necessária à Àexão é a determinação do valor último de deslocamento da coluna
ou pilar, com a utilização da seguinte equação:

417
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Δu = μdemanda .Δy , onde,


Δy - deslocamento de escoamento ideal para a coluna analisada estimada a partir da aná-
lise da seção transversal com a utilização de um diagrama (momento/curvatura) padrão.
Assim, o deslocamento plástico exigido é calculado através da seguinte equação:

Δp = Δu − Δy

A curvatura última requerida é obtida através da utilização da seguinte equação:


Δp , onde,
Φu = + Φy
LP .Lc
Lc – altura livre da coluna
Φy – curvatura de escoamento de¿nida da análise do diagrama (momento/curvatura)
Lp – comprimento da rótula plástica, obtida através da seguinte equação:

Lp = g + 0,3.fye .d bl , sendo fye fornecido em (ksi), e onde:


g – espaço entre a jaqueta de FRP e o membro suporte.
fye – tensão de escoamento estimada para o aço da armadura principal.
dbl – diâmetro da barra longitudinal da coluna.

A deformação por compressão máxima necessária é dada por:


ε cu = Φu .cu , onde,
cu – profundidade da linha neutra para a condição última, computada através da análise do
diagrama (momento/curvatura) da coluna existente.
A relação volumétrica necessária para a jaqueta de con¿namento, ρj , e a espessura da
mesma para o con¿namento da região plástica extrema, tj(req), são fornecidas pelas seguin-
tes equações, com valores indicados na Figura 10.24.

Figura 10.24 – Dados geométricos para a determinação do valor de (tj(req)).

418
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

– Para Colunas Circulares

4
21,15.f 'ce (ε cu − 0,00383 ) 3
ρj = 2
f ju( des ) .ε ju(3 des )

D.ρj
t j( req ) =
4

– Para Colunas Retangulares


4
28,91f 'ce (ε cu − 0,00340 ) 3
ρj = 2
ffu( des ) .ε ju(3 des )

b.h.ρj
t j( req ) =
2( b + h )
onde,
f’ce – resistência de compressão esperada no concreto.
ε ju (des ) – deformação de projeto na ruptura da jaqueta de FRP.
ffu(des) – resistência à tração da jaqueta de FRP.
b e h – dimensões da seção retangular da coluna.

Finalmente, o número de camadas de ¿bra de carbono necessárias para o reforço é dado por:
tf (req )
n= , onde,
tf

n – número de camadas de FRP.


tf(req) – espessura necessária de FRP.
tf – espessura de uma camada de FRP.

O número de camadas necessário deve ser arredondado para cima e a espessura adota-
da para o reforço com FRP, deve ser revista para que seja determinada a espessura ¿nal
necessária para a majoração da ductilidade à Àexão.
As seções circulares são as mais e¿cientemente reforçadas com a utilização de sistemas
FRP. Alinhado transversalmente ao eixo longitudinal das peças o sistema FRP estabelece
uma pressão uniformemente distribuída ao longo da circunferência da peça con¿nando a
expansão transversal do elemento de concreto. Para o caso de seções con¿nadas não
circulares os testes realizados demonstram que ocorre uma diminuição da e¿ciência dos
sistemas FRP comparativamente às seções circulares. O ACI Committee 440 recomenda.

419
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Testes têm con¿rmado que o con¿namento de seções quadradas com a utilização de jaque-
tas de ¿bra de carbono é cerca de 50% menos e¿ciente do que o de elementos circulares.
O atual fator de e¿ciência deve ser determinado para elementos não circulares baseado
na geometria, na proporcionalidade entre os lados e na con¿guração da armadura de aço.
O fator de e¿ciência deverá ser con¿rmado através de testes. Seções retangulares com
relação entre os lados (B/H) excedendo 1,50 ou dimensões dos lados, B ou H, excedendo
900 mm não devem ser con¿nadas através de jaquetas de ¿bra de carbono até que testes
demonstrem sua efetividade”.

10.3.3 AUMENTO DA DUTILIDADE DE UMA COLUNA CONFINADA POR FRP

O aumento da dutilidade de uma seção tem como resultado a capacidade de desenvolver


maiores deformações devidas aos esforços de compressão no concreto antes que seja
atingida a tensão de compressão que produz a ruína do elemento.
As jaquetas de FRP podem também ser utilizadas para retardar a manifestação da Àam-
bagem da armadura longitudinal de compressão e ainda para fortalecer, grampeando, as
emendas por traspasse daquela armadura.
Para aplicações sísmicas as jaquetas de FRP podem ser projetadas para assegurar uma
tensão de con¿namento su¿ciente para desenvolver deformações devidas à compressão
associadas com as exigências de deslocamentos.
A deformação limite de compressão admissível em uma peça de concreto de seção trans-
versal circular é obtida através da seguinte expressão:

'
ξcc = 1,71.
(5f '
cc − 4fc' ) (a)
Ec

A máxima deformação de compressão admitida em peças circulares con¿nadas por ja-


quetas de FRP é obtida através da equação (c) derivada a partir da equação (b), onde na
determinação do valor de (f’cc) se utiliza (ka = 1,0).

⎡ 7,94f ' l 2f ' l ⎤ (b)


f 'cc = f 'c ⎢2,25 1 + − − 1,25 ⎥
⎣ f 'c f 'c ⎦

ρf .ξfe .Ef (c)


fl =
2

Para elementos não circulares, retangulares ou quadrados, quando não aumentados efeti-
vamente em sua capacidade de carregamento axial é viável o aumento de sua ductilidade.
A deformação máxima de compressão que pode ser utilizada nesses elementos con¿na-
dos por jaquetas de FRP pode ser obtida da equação (e), para valores obtidos nas equa-
ções (b) e (d). Para esses casos temos:

⎛ 6f 'cc ⎞ (d)
ε 'cc = ε 'c ⎜ − 5⎟
⎝ fck ⎠

420
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

2.n.t f (b + h) (e)
ρf =
b.h

O fator de e¿ciência (ka) pode ser determinado através da seguinte expressão:

ka = 1 −
(b − 2.r )2 + (h − 2.r )2 onde,
(
3.b.h 1 − ρg )
A
ρg = s - coe¿ciente relativo à seção transversal da armadura longitudinal pela seção
b.h
transversal da peça comprimida.
b
Essa expressão não deve ser utilizada para peças com relação (> 1,5 ) ou lados com di-
h
mensão maior do que (90 cm), a menos que essas aplicações sejam precedidas de testes
para con¿rmação do valor de (ka).
Exemplo 10.1: Segundo esse critério de dutilidade examinemos a capacidade resistente última
de uma coluna de concreto armado com (fck = 25 MPa ), com seção transversal (50 x 60 cm) e
armada com 22 barras de ( φ = 20 mm) de aço CA-50, con¿nada por seis camadas de lâminas
ε
de ¿bras de carbono (Ef = 228 GPa; max.= 1,7%). Os cantos deverão ser arredondados de um
raio (r = 1,5 cm) e será considerada como tensão limite última de tração para a ¿bra de carbono
ffu = 38.600 kgf/cm2.

As 83,60
ρn = = = 0,028
b.h 50.60
b+h 50 + 60
ρf = n.tf . = 6.0,0165. = 0,004
b.h 50.60

ke = 1 −
(b − 2.r )2 + (h − 2.r )2 =1−
(50 − 2.1,5 )2 + (60 − 2.1,5 )2 = 0,376
(
3.b.h 1 − ρg ) 3.50.60 (1 − 0,028 )

ke .ρf .ffu
p= onde, (ffu = 38.600 kgf/cm2)
2
0,376.0,004.38600
p= = 29,027kgf / cm2
2

⎛ 7,94.29,027 2.29,027 ⎞
fcc = 250 ⎜ 2,25 1 + − − 1,25 ⎟ ≅ 409kgf / cm2
⎝ 250 250 ⎠

φ .Pn = 0,8.0,7 ⎡⎣0,85.409 (50.60 − 83,60 ) + 83,60.4350 ⎤⎦


φ .Pn = 771426kgf .

No exemplo acima o que se procurou estabelecer foi qual seria, em função da dutilidade
agregada com uma jaqueta de FRP composta de 6 camadas de lâminas de ¿bras de car-
bono, a carga de compressão admissível na coluna antes que ela entrasse em colapso
devido à deformação.

421
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

No dimensionamento normal de concreto armado essa coluna admitiria a seguinte carga


de compressão:
φ .Pn = 0,8.0,7 ⎡⎣0,85.250 (50.60 − 83,60 ) + 83,60.4350 ⎦⎤
φ .Pn = 550701kgf .

10.3.4 CRITÉRIOS PARA O AUMENTO DA RESISTÊNCIA AO CORTE

O primeiro passo no projeto de reforço para se aumentar a resistência ao corte e o de se


conseguir determinar a máxima força cortante possível na jaqueta de FRP da coluna, utili-
zando-se para tanto as seguintes equações:

2Mu
Vo = , para colunas com Àexão nas duas direções.
Lc
Mu , para colunas com Àexão em uma única direção.
Vo =
Lc
Onde,
Mu - momento Àetor último da seção reforçada da coluna

Após essa determinação o esforço cortante procurado é determinado com a utilização da


seguinte expressão:
Vo
Vdem =
φs
sendo (φs = 0,85 ) , fator de redução da resistência recomendado pelo ACI-318 para o cál-
culo do esforço cortante.
A capacidade resistente ao corte de uma coluna não reforçada pode ser razoavelmente
avaliada pela equação seguinte, baseada no modelo de resistência ao corte de Kowalski
e Priestley (2000).

(
Vna = ϕ sh Vc + V s +Vp , onde, )
ϕ sh - fator de redução de projeto tomado com o valor de 0,85 (ver Elsanadedy 2002). Esse
valor foi determinado através do estudo estatístico de 65 colunas de concreto armado com
de¿ciência de resistência ao cortante.
A espessura requerida para a jaqueta de FRP para o incremento da resistência ao corte
dentro da região plástica das extremidades é fornecida pelas seguintes equações:
– Para Colunas Circulares

159
t ij( sh ) =
E j( des )
(Vdem − Vna )

422
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

– Para Colunas Retangulares


125
t ij( sh ) =
E j( des ) . (h − cu )
(Vdem − Vna )
onde Ej(des) é o módulo de elasticidade de projeto da jaqueta de FRP.
A espessura da jaqueta de FRP fora das regiões plásticas das extremidades das peças,
t oj( sh ) , é calculada utilizando-se os mesmos procedimentos para o dimensionamento den-
tro das regiões plásticas extremas com exceção que a máxima capacidade resistente do
concreto será apropriada com a utilização de μΔ ≤ 1,00.

10.3.5 DIMENSIONAMENTO FINAL DA JAQUETA

O dimensionamento ¿nal da jaqueta de FRP dentro das regiões plásticas extremas deverá
ser considerado como o mais desfavorável dos valores de tj(conf) e t ij( sh ). Contudo, fora das
o
regiões plásticas extremas, deverá ser usada como espessura da jaqueta t j( sh ) .
A con¿guração ¿nal da jaqueta está ilustrada na Figura 10.25.

Figura 10.25 – ConĮguração geométrica da jaqueta nas regiões plásƟcas.

10.4 REFORÇO SÍSMICO DAS JUNTAS (NÓS) FORMADAS PELO ENCONTRO


DE VIGAS E COLUNAS NAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO
A maioria das edi¿cações de concreto armado possuem ligações entre as vigas e as colu-
nas bastante de¿cientes. Até o início dos anos 70 as normativas estruturais não dedicavam
especial atenção a esse encontro, não prevendo ancoragens especi¿cadas para as vigas
dentro das colunas e nem exigindo dentro dessa região o uso de estribos.

423
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Assumia-se implicitamente que sob o efeito de cargas gravitacionais as vigas estariam su-
jeitas a momentos negativos na junta com as colunas, com a sua face superior tracionada
e consequentemente a sua face inferior submetida a esforços de compressão.
Entretanto, quando as juntas estão submetidas a esforços laterais (forças horizontais trans-
versais) as juntas podem vir a falhar por corte e escorregamento da ancoragem da arma-
dura da face inferior da viga, quando estiverem tracionadas. Decorrente desta de¿ciência,
as juntas podem estar expostas à probabilidade de falhar tanto por cortante como pelo
escorregamento das armaduras. Esses modos típicos de ruptura frágil podem vir a reduzir
signi¿cativamente a dutilidade global da estrutura.
Episódios como o terremoto acontecido na Turquia, em 199913 demonstraram que durante
a manifestação do sismo as rupturas ocorridas nas juntas formadas por colunas e vigas
contribuíram substancialmente na ocorrência de danos e no colapso de muitas estruturas
de concreto armado.
As juntas das colunas exteriores das edi¿cações são signi¿cativamente mais vulneráveis
a danos estruturais que as juntas das colunas internas, pelo fato das últimas estarem nor-
malmente con¿nadas por vigas a¿xadas em suas quatro faces e ainda se bene¿ciarem do
con¿namento do núcleo da estrutura.
Existem algumas diferenças signi¿cativas relativamente ao comportamento das juntas interio-
res e exteriores quando submetidas aos movimentos sísmicos devido exatamente ao con¿na-
mento produzido pelas vigas, apesar de ser similar o seu modo de ruptura por deslizamento.
Para reduzir o risco dessas ocorrências torna-se necessário aplicar técnicas práticas de
reforço que possam promover economicamente o aumento da resistência ao corte e me-
lhoria das condições de ancoragem das armaduras localizadas na face inferior das vigas.
O objetivo do reforço (reabilitação) da junta é o de incrementar o esforço cortante admis-
sível e o de melhorar substancialmente as condições de ancoragem das armaduras inte-
ressadas nas juntas de forma a eliminar os modos descritos de ruptura frágil ao invés de
deixar que a estrutura passe a depender da sua dutilidade Àexural.
Recentes estudos sobre os efeitos da melhoria da resistência ao corte e das condições de
aderência nas juntas dos pórticos de concreto armado mostraram um signi¿cativo aumento
da dutilidade global do sistema, tendo esses procedimentos de reabilitação estrutural re-
cebido bastante atenção do meio técnico de engenharia durante as duas últimas décadas.
Inumeráveis testes foram realizados, como em duas juntas interiores reabilitadas a partir
do existente14. Também placas metálicas foram ancoradas, em ambos os lados de uma
coluna, na face inferior de uma viga e ligadas entre si utilizando barras de aço en¿adas
através da coluna, com o objetivo de repor a inadequada ancoragem das barras da arma-
dura utilizando placas de aço equivalentes.
Também jaquetas de chapas de aço foram utilizadas para melhorar a resistência ao cor-
tante das juntas. Entretanto, testes realizados comprovaram que esse procedimento é ine-

13 - Kocaeli – Turquia.
14 - Estrada 1990.

424
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

¿ciente para o aumento da resistência ao corte da junta da coluna em decorrência do


contato inadequado das chapas de aço com o concreto15.
Placas de aço niveladas foram utilizadas para con¿nar as juntas com o objetivo de prevenir
o desplacamento do concreto e manter a sua integridade, assim como inumeráveis outras
experiências com melhor ou pior desempenho foram tentadas, sempre visando a melhoria
do sistema à absorção de forças laterais de origem sísmicas.
Como seria de se esperar, a utilização dos sistemas compostos estruturados com ¿bras de
carbono constitui uma das alternativas viabilizadas para o reforço das juntas formadas pela
união das vigas com as colunas nas estruturas de concreto armado.
Sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono já estão sendo utilizados para o
reforço ao corte de juntas. A grande vantagem da utilização dos sistemas FRP consiste na
simplicidade da aplicação e da pouca mão de obra necessária para os trabalhos de reforço.

10.4.1 REFORÇO DAS JUNTAS COM SISTEMAS FRP

Os procedimentos apresentados são baseados na utilização dos sistemas FRP, principal-


mente as ¿bras de carbono, para repor a resistência insu¿ciente da armadura de aço da junta
ao corte ou em decorrência de ancoragem inadequada das barras de aço das armaduras.

10.4.2 REFORÇO À FLEXÃO

Os sistemas compostos estruturados com ¿bras de carbono são utilizados para a recom-
posição da ancoragem inadequada das barras de aço das armaduras situadas na face
inferior das vigas que concorrem nas juntas. Nesse procedimento de reforço as lâminas de
¿bras de carbono são incorporadas para desenvolver idêntico momento Àetor de projeto
da seção da viga de concreto armado. O momento limite é imposto no sistema resistente à
Àexão para evitar a criação de uma viga mais resistente que a coluna.
A capacidade de momento Àetor da viga é determinada levando-se em consideração o
sobre esforço incidente no aço. A força de tração no aço é calculada utilizando-se a tensão
atualizada de escoamento, igual à tensão nominal de escoamento do aço majorada em
25%, ou seja,
Ts = 1,25.fy .As onde,

Ts - força de tração nas barras de aço da face inferior da viga.


fy - tensão nominal de escoamento do aço.
As - área da seção transversal das barras da armadura.
A profundidade do bloco de compressão (a) da viga pode ser calculada através da seguinte
expressão que utiliza a força de equilíbrio da seção:

Ts = Cc + Cs = α1 .fc ' .a.b + As .Es .ε s onde,

Cc - força de compressão no concreto.

15 - Incrementos de apenas 4% foram registrados com esse procedimento.

425
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Cs - força de compressão no aço.


α1 - fator de redução do bloco de compressão equivalente.
f’c - tensão de compressão do concreto.
a - profundidade do bloco de compressão.
b - largura da viga.
As - área da seção transversal de aço.
Es - módulo de elasticidade do aço.
ε s ' - deformação na armadura de aço comprimida.
α1 = 0,85 − 0,0015f 'c ≥ 0,67

Da equação (A) temos:

Ts = α1 .fc ' .a.b + As .Es .ε s '


e

Ts − As .Es .ε s '
a=
α1 .fc ' .b

A de¿nição do valor de ( ε c ') depende da relação entre a distribuição da tensão de com-


pressão do concreto e a sua deformação. A forma geral da curva tensão-deformação16 é
uma função da resistência do concreto e con¿gura uma curva ascendente desde o valor
zero até um valor máximo de deformação por compressão situado entre 1,5‰ e 2,0‰, su-
cedido por uma curva descendente até a deformação última (esmagamento do concreto)
que acontece de 3,0‰ até 8,0‰. Considerando-se a compatibilidade entre as deforma-
ções nos pilares entre o aço e o concreto, valores conservadores para ( ε s ' ) podem ser
adotados entre 1,5‰ e 2,0‰.
Conhecida a profundidade do bloco de compressão podemos calcular o momento resisten-
te da seção da viga (Mr), na face da coluna é:

⎛ a⎞
Mr = Cc . ⎜ d − ⎟ + Cs (d − d ' )
⎝ 2⎠ onde,
d – profundidade efetiva da viga.
d’ – cobrimento de concreto da armadura superior da viga.

Determinação do Número de Camadas de Fibras de Carbono:


O número de camadas do sistema FRP utilizado para o reforço à Àexão é determinado a
partir da premissa fundamental de que deve ser alcançada a mesma capacidade à Àexão
da seção de concreto armado adequadamente ancorada.
Para o projeto desse tipo de reforço são assumidas três condicionantes básicas:

16 - ACI 318 – R10.2.6.

426
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

– compatibilidade entre as deformações dos diferentes materiais estruturais envolvidos.


– a deformação última do concreto não poderá ser superior a 3,5‰ (0,0035).
– é desprezada totalmente a contribuição das barras da armadura existente.
A força de tração desenvolvida nas ¿bras de sistema FRP (¿bras de carbono) pode ser
estimada através da expressão:

Tf = ε f .Ef .Af
onde,
εf- deformação desenvolvida na ¿bra de carbono, que deverá ser menor que a deforma-
ção limite do material e deverá ser obtida em função da geometria da peça.
Ef - módulo de elasticidade da ¿bra de carbono.
Af - área da seção transversal da ¿bra de carbono.
A profundidade do bloco de compressão do concreto (a) pode ser calculada através da
equação de equilíbrio dos momentos na seção,
⎛ a⎞
Mr = α1 .f 'c .a.b ⎜ t − ⎟ + As .ε s .Es (t − d ) onde,
⎝ 2⎠

t - altura total da seção de concreto armado


A deformação na ¿bra de carbono pode ser expressa por
t −c
ε f = ε c' . sendo,
c
ε c' - deformação de compressão do concreto.
c - profundidade da linha neutra.

Do equilíbrio de forças vem:


Tf = Cc + Cs

Tf = ε f .Ef .n.tf .b , sendo


n - número necessário de camadas de ¿bras de carbono.
tf - espessura de uma camada de ¿bra de carbono.
Finalmente, o número de camadas necessárias para o reforço é fornecida pela expressão;

Tf
n =
ε f .Ef .tf .b

Exemplo 10.2: Reforçar a junta formada pela ligação de uma viga V1 com o pilar P1, con-
forme ¿gura 10.26.

427
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 10.26 – Geometria da junta a ser reforçada.

Ambos os elementos têm dimensões (25 x 40 cm), apresentando as seguintes armações:


- viga com 4ĭ20 mm como armadura de Àexão em ambas as faces e estribos de ĭ8
mm espaçados cada 15 cm.
- pilar com 4ĭ20 mm em cada face mais 2ĭ12,5 mm nas outras faces, como arma-
duras longitudinais e estribos ĭ10 mm espaçados cada 20 cm.
O concreto tem resistência à compressão de 25 MPa e o aço utilizado foi o CA-40. Utilizar
para o reforço ¿bras de carbono do exemplo anterior.
fck = f’c = 25 MPa
α1 = 0,85 − 0,0015.25 = 0,813 > 0,67
Ts = 1,25.fy .As = 1,25.4000.4.3,15 = 63000kgf

Admitindo para a deformação do concreto da coluna ( ε c ' = 0,0015 ) vem:


ε s ' = ε c ' = 0,0015 assim,
Cs = As .E s .ε s = 4.3,15.2100000.0,0015 = 39690kgf .
Ts − As .Es .ε s ' 63000 − 39690
a= = = 4,587cm
α1 .fc ' .b 0,813.250.25
Cc = α1 .fc ' .a.b = 0,813.250.4,587.25 = 23307,7kgf
⎛ a⎞ 4,587
⎜⎝ d − ⎟⎠ = 37 − = 34,707 cm
2 2

(d − d ' ) = 37 − 3 = 34 cm

428
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

O momento resistente na face da coluna é:


⎛ a⎞
Mr = α1 .fc ' .a.b ⎜ t − ⎟ + As .ε s ' .Es (t − d )
⎝ 2⎠
⎛ a⎞
2158400,3 = 0,813.250.25.a ⎜ 40 − ⎟ + 4.3,15.0,0015.2100000 (40 − 3 )
⎝ 2⎠
⎛ a⎞
2158400,3 = 5081,25a ⎜ 40 − ⎟ + 1468530
⎝ 2⎠
40 ± 36,448
0,5a2 − 40a + 135,768 = 0 ĺ a = ĺ a = 3,552 cm
1
3,552
c= = 4,179 cm
0,85
⎛ t − c⎞ ⎛ 40 − 4,179 ⎞
εf = εc ' ⎜ ⎟ = 0,003 ⎜ = 0,026 > 0,017 = ε fu
⎝ c ⎠ ⎝ 4,179 ⎟⎠

Adotaremos, então, ε c = 0,003 e ε fu = 0,017 , assim,

40.0,003
c= = 6 cm ĺ a = 0,85.c = 5,10 cm
0,017 + 0,003

Cc = 0,813.250.25.5,10 = 25914,4kgf
Cs = 39690 kgf
Tf = Cc + Cs = 25914,4 + 39690 = 65604,4 kgf
65604,4 = 0,017.2280000.0,0165.25.n
65604,4 = 15988,5n
65604,4
n= = 4,10 ⇒ n = 5
15988,5
Deverão ser utilizadas 5 camadas de ¿bra de carbono.

10.4.3 REFORÇO DAS JUNTAS AO ESFORÇO CORTANTE

Para juntas externas as forças cortantes nelas desenvolvidas podem ser obtidas através
das seguintes equações de equilíbrio:
Vj = Tb - Vcol, onde,
Vj - esforço cortante atuando na junta.
Tb - força de tração atuante nas barras da armadura da viga.
Vcol - esforço cortante atuando na coluna.
Devido ao esforço cortante aplicado é criada na junta uma diagonal tracionada e tensões
de compressão no concreto. Se a capacidade última dos membros adjacentes é atingida
uma extensa trinca diagonal ocorrerá. Além disso, carregamentos cíclicos, como os sís-
micos, produzirão repetidas aberturas e fechamentos da mesma que conduzindo à desin-

429
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

tegração do concreto e deterioração da coesão dos agregados e, consequentemente, da


resistência do concreto ao cortante. A força cortante desenvolvida na junta é calculada pela
seguinte expressão17:
Vj = 1,25As.fy-Vcol
Mr
Vcd =
lcol

Figura 10.27 – Força cortante desenvolvida na junta.

Segundo as recomendações do ACI 318 para se determinar o valor máximo do cortante em


uma viga de pórtico é assumido que a sua resistência nominal ao momento (com φ = 1,0)
é desenvolvida simultaneamente nas duas extremidades do seu vão livre, como indicado na
Figura 10.27, o cortante existente associado com as condições dos momentos das extremi-
dades, somados algebricamente com o cortante devido às cargas gravitacionais indicam o
cortante para o qual a viga precisa ser dimensionada.
No caso de determinação do cortante na coluna, o valor da carga axial (Pu) deve ser esco-
lhido de tal forma a produzir o maior momento resistente para a coluna.
A resistência total ao esforço cortante é constituída pela soma da resistência do concreto,
resistência dos estribos e resistência produzida pelo reforço com ¿bras de carbono.
Vj = Vc + Vs + Vf sendo,
Vc - resistência ao cortante devido à seção de concreto armado.
Vs - resistência ao cortante devido aos estribos existentes.
Vf - resistência ao cortante devida à ¿bra de carbono.

17 - Park and Paulay – 1975.

430
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

A resistência do concreto pode ser estimada através da seguinte expressão18:


Vc = 0,3 f 'c (1 + 0,3fcol )b j .d j onde,

fcol - tensão axial aplicada na coluna.


bj - largura da junta.
dj - profundidade efetiva da junta.

O valor de (Vs) pode ser assim avaliado:

Av .fy (senα + cos α ) d


Vs =
s
Se o estribo for perpendicular ao eixo da peça a expressão acima ¿ca:
Av .fy .d onde, s = espaçamento do estribo.
Vs =
s

Para o caso em que não existam estribos na junta o valor de (Vs) deve ser assumido como zero.
A contribuição das ¿bras de carbono para a resistência ao cortante será dada por:
Vf = Af .ξf .Ef
Mr
Vcol =
lcol

Exemplo 10.3: Dando continuidade ao exemplo anterior, reforçar a junta para o cortante
com base nas dimensões da ¿gura abaixo, considerando-se:
Mr = 2.158.400,3 kgf.cm assim,

Mr 2158400,3
Vcol . = = = 7194,67 kgf
hn 300

Tb = 1,25.As.fy = 1,25(4.3,15)4000 = 63.000 kgf


Vj = Tb - Vcol = 63000 - 7194,67 = 55805,33 kgf
Vc = 0,3 fc '(1 + 0,3fcol . .b j .d j

18 - ACI 352(1976).

431
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 10.28 – Reforço da junta ao cortante.

φ Pn
fcol . =
a.b
φ Pn = 0,85φ ⎡⎣0,85.fc '( Ag − As ) + fy .As ⎤⎦

φ Pn = 0,85.0,70 [0,85.250(1000 − 12,6 ) + 4000.12,6 ] = 154832,39 kgf .


154832,39
fcol . = = 154,83kgf / cm2
25.40
Vc = 0,3 250(1 + 0,3.154,83 ).22.37 = 26596,79kgf .
Vj = Vc + Vs + Vf ⇒V f
= Vj + Vc + Vs

Admitindo-se que na junta não existem estribos teremos (Vs = 0) , assim,


Vf = 55805,33 - 26596,79 = 29208,54 kgf
Vf
Vf = Af .ε f .Ef ⇒ Af =
ε f .Ef

Para a ¿bra de carbono AA ser adotada no exemplo serão considerados os seguintes valo-
res: (Ef = 2280000 kgf/cm2) e ( ε fu = 0,017 ).
Será adotado, como a deformação admitida para o reforço da junta, o valor
2 2
εf = ε fu = 0,017 = 0,0113 , ¿cando, então:
3 3

29208,54
Af = = 1,13 cm2 ou seja,
0,0113.2280000

432
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

1,13
lf = = 0,68mfibra / 1,00mcoluna
1,65

Ocorre uma necessidade de reforço da ordem de (0,68 cm) de ¿bra de carbono para cada
(1 cm) de coluna.

10.4.4 REFORÇO PARA O CORTANTE DOS VÃOS DAS VIGAS

A capacidade resistente das peças ao esforço cortante é constituída por duas parcelas:
Vn = Vc + Vs
Caso haja necessidade de reforço ao cisalhamento, o sistema composto estruturado com
¿bras de carbono contribui com uma parcela adicional Vfc de forma a que a resistência ao
esforço cortante da peça passa a ser:
VnR = Vc + Vs + ࢥfVf onde,
VnR - resistência nominal ao cortante da viga após o reforço com ¿bras de carbono.
ࢥf - coe¿ciente de minoração da contribuição da ¿bra de carbono, atualmente sugerido
como de valor 0,85 em função da novidade do método de reforço.
Então, VnR = Vc + Vs +0,85Vf
Após o reforço deverá ser obedecida a seguinte equação:
VnR = ࢥVn onde,
ࢥ coe¿ciente de minoração da capacidade resistente da viga ao cisalhamento.
Teremos, então, que:
VnR = ࢥ(Vc + Vs + 0,85Vf).

433
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

10.5 FOTOGRAFIAS DE EFEITOS SÍSMICOS E PROJETOS SISMO/


PREVENTIVOS COM FRP

FotograĮa 10.3 – Da necessidade de reforço prevenƟvo contra sismos: terremoto de Kobe no Japão – ruína do terço
inferior das colunas do viaduto.

FotograĮa 10.4 – Da necessidade de reforço prevenƟvo contra sismos: formação de rótula plásƟca no terço superior,
devido à perda da coesão interna dos agregados. Observar, na fotograĮa, que é muito pequena a quanƟdade de estribos
uƟlizados na armação da coluna, fato que contribuiu signiĮcaƟvamente na intensidade da ocorrência desta anomalia.

434
Capítulo 10 - Reforço das Estruturas de Concreto Existentes com Sistemas FRP
para a Prevenção dos Efeitos Sísmicos

FotograĮa 10.5 – Da necessidade de reforço prevenƟvo contra sismos: formação de rótula plásƟca no terço inferior,
devido à perda da coesão interna dos agregados. Observar na fotograĮa que não é pequena a quanƟdade dos
estribos uƟlizados na armação da coluna, atestando o grau de intensidade do terremoto a que esteve submeƟdo.

FotograĮa 10.6 – Reforço prevenƟvo a ações sísmicas em colunas de ponte no Estado do Alabama, EUA.

435
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 10.7 – Reforço sísmico de coluna na Torre de Controle do Aeroporto de Lima, no Peru.

436
CAPÍTULO 11

DIMENSIONAMENTO DE VIGAS ISOSTÁTICAS DE


CONCRETO PROTENDIDAS COM A UTILIZAÇÃO DE
COMPOSTOS FRP

11.0 CONSIDERAÇÕES INICIAIS


Os elementos estruturais de ¿bras de carbono apresentam como uma de suas principais
vantagens a possibilidade de poderem ser especi¿camente conformados com o objetivo de
atender características especiais de projeto.
Dessa forma, os compostos de ¿bras de carbono podem se apresentar sob a forma de ¿os,
barras ou cordoalhas. Dentro dessas diversas formas de apresentação a textura super¿cial
das armaduras de FRP pode ser alterada para permitir o aumento ou a diminuição da sua
aderência relativamente ao concreto que envolve o elemento.
Os elementos de FRP utilizados nos sistemas protendidos podem se apresentar construí-
dos com três ¿bras distintas: carbono, vidro e aramida.
A escolha sobre qual tipo de ¿bra deve ser escolhida para utilização recai nas considera-
ções de resistência, rijeza, estabilidade a longo prazo e, evidentemente, custo.
A apresentação dos procedimentos de protensão que se seguem se aplicam fundamental-
mente às utilizações em pré-tensão de elementos de concreto e se baseiam nas considera-
ções da norma ACI 440.4R-041. Algumas informações e aplicações podem evidentemente
ser estendidas ou extrapoladas às estruturas com protensão posteriormente desenvolvidas
(pós-tensão) sempre que possível e/ou con¿ável.
Assim, os procedimentos se aplicam basicamente às vigas de concreto simplesmente
apoiadas, não tendo sido cogitado nessa apresentação o estudo de estruturas protendidas
contínuas.

11.1 DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO


Uma viga de concreto protendida com a utilização de elementos metálicos (sistema con-
vencional) sofrerá deformações elásticas crescentes até a sua ruptura, situação em que
as deÀexões do elemento aumentarão progressivamente à medida em que o aço de pro-
tensão escoa.

1 - “Prestressing Concrete Structures with FRP Tendons” – ACI 440.4R-04 (reaprovada em 2011).

437
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 11.1 – Representação esquemáƟca das respostas momento/deŇexão.

Por sua vez, as vigas protendidas com a utilização de elementos conformados com ¿bras
de carbono deformarão elasticamente até a ruptura, e então continuarão a se deformar de
uma maneira aproximadamente linear sob a ação de carregamentos crescentes até que
o elemento de protensão se rompa ou até que a deformação limite de compressão seja
excedida. Esses dois níveis de comportamento são mostrados na Figura 11.1.
Para a determinação do nível de tensão nas peças podem ser utilizados procedimentos
similares aos do concreto protendido convencional.
As perdas de protensão dos sistemas que utilizam elementos de FRP podem ser decorren-
tes dos seguintes fatores:
– escorregamento do elemento protendido por ocasião da transferência do esforço
de protensão para a peça de concreto;
– retração do concreto;
– deformação por Àuência do concreto;
– encurtamento elástico do concreto;
– relaxação dos elementos protendidos de FRP.

Algumas dessas causas são independentes do tipo do elemento de protensão utilizado,


como o escorregamento quando da ancoragem, a retração e a deformação lenta do con-
creto e podem ser calculadas utilizando-se os procedimentos convencionais de dimensio-
namento de estruturas protendidas com elementos de aço. Para o encurtamento elástico
do concreto a única alteração em relação aos procedimentos de cálculo dessa manifes-
tação com elementos de aço é a substituição do módulo de elasticidade daqueles pelo
módulo de elasticidade do elemento de protensão de FRP.
De modo geral, as perdas de protensão dos sistemas com elementos conformados em
FRP são inferiores àquelas observadas nos sistemas protendidos convencionais em fun-
ção do fato de que os módulos de elasticidade dos elementos de FRP serem menores do
que os dos elementos de aço.

438
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

As perdas por relaxação, entretanto, são mais problemáticas e menos entendidas nos sis-
temas com FRP do que as equivalentes nos sistemas convencionais em aço, em função
da escassa disponibilidade de dados experimentais que determinam as características e
os valores das perdas por relaxação.
As características do efeito de relaxação variam com os tipos de ¿bras existentes e geral-
mente tem valores que situam as mesmas ao longo da vida das estruturas por elas proten-
didas da ordem de 12% do valor da protensão implantada.
A metodologia recomendada pelo ACI para o dimensionamento das vigas de concreto ar-
mado protendidas com FRP é baseada no conceito da relação de fragilidade que é a re-
lação da armação que conduz à condição de ruptura simultânea do elemento protendido
com FRP e do concreto.
O concreto é admitido rompido por compressão quando é atingida a deformação
(İcu = 0,003). Esse limite de deformação é estabelecido para o con¿namento do concreto
por estribos pouco espaçados (bastante próximos) e não se admite que seja ultrapassado.
O bloco de tensões retangular é utilizado na modelagem do comportamento do concreto.
A ruptura do elemento de protensão é admitida como ocorrendo quando a deformação do
mesmo atingir o valor (İpu).
Para a seção transversal da Figura 11.2 estão de¿nidas as condições de tensões e defor-
mações para a condição em que a ruptura do elemento protendido de FRP ocorra simulta-
neamente com a ruptura por compressão do concreto.
Essa demonstração é válida tanto para uma seção retangular como para uma seção em
“T“ com uma única camada de elementos protendidos, onde a profundidade do bloco de
compressão permaneça dentro da mesa da seção, ou seja, na condição (a < hf).
Onde:
İcu – deformação última de compressão do concreto.
İf – deformação admissível de Àexão.
İd – deformação de descompressão.
İpe – deformação inicial devida à protensão do elemento de FRP.
fpu – tensão última admissível no elemento de protensão.

Figura 11.2 – Condições de tensões e deformações.

439
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Se a capacidade total de deformação do elemento protendido for denominada (İpu) então a


quantidade disponível de deformação para Àexão (İcu) é a capacidade total de deformação
menos a deformação utilizada na protensão (İpi), a deformação utilizada para descompri-
mir o concreto (İd) e qualquer perda de capacidade de deformação decorrente das cargas
sustentadas (İpr), ou seja:

ε f = ε pu − ε pe − ε d − ε pr (1)

A compatibilidade das deformações da Figura 11.2 permite a determinação da relação


c
( ) com base nas deformações disponíveis. Com a utilização da semelhança de triângulos
d
vem:
c ε cu
= (2)
d ε cu + ε pu − ε pe − ε d − ε pr

O equilíbrio da seção transversal impõe a condição de que a força de tração se iguale à


força de compressão, dessa maneira:

b.β1 .c.0,85.fc' = ρ.b.d.fpu (3), onde,

ȕ1 - coe¿ciente do bloco de tensão de compressão do concreto, com valor 0,85 para con-
cretos até 27,5 MPa, após o qual é reduzido a uma taxa de 0,05 para cada 6,9 MPa, sendo
o seu valor mínimo 0,65.
Ap
ρ = ρb sendo ρ = (taxa de armação na seção)
b.d

ȡb - coe¿ciente de fragilidade.

b.β1 .c.0,85.fc' f ' .c


ρ = = 0,85.β1 . c
b.d.fpu fpu .d
b

fc' .c
ρb = 0,85.β1 . (4)
fpu .d

c
Substituindo o valor de ( ) da equação (2) na equação (4) temos:
d

fc' ε cu
ρb = 0,85.β1 . . (5)
fpu ε cu + ε pu − ε pe − ε d − ε pr

Algumas simpli¿cações podem ser introduzidas na equação (5). Primeiramente, a perda de


deformação devida aos carregamentos de longa duração é praticamente nula se a deforma-
ção desses carregamentos for menor do que 50% do valor da deformação última de tração.

440
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Essa condição é tipicamente satisfeita devida ao fato de que deformações de protensão


da ordem de 50% da deformação última são utilizadas com o objetivo de deixar alguma
capacidade de deformação por Àexão.
Dessa forma podemos zerar dois dos valores de deformação da equação (5) e simpli¿cá-la
da seguinte maneira:
fc' ε cu (6)
ρb = 0,85.β1 . .
fpu ε cu + ε pu − ε pe

A deformação do elemento protendido (İpu - İpe) é a deformação disponível para a Àexão.


Os elementos protendidos de FRP tem o valor da deformação última variando entre 1,3%
e 1,5%. Comparativamente ao escoamento do aço normal das armaduras ocorre uma
substancial capacidade de deformação para permitir ao membro Àexionado que deforme
e ¿ssure antes do seu colapso. Isso permite que se disponha de um aviso visual quando
nas condições de sobrecarregamento das estruturas, permitindo que se intervenha ainda a
tempo de se evitar danos irreversíveis às estruturas envolvidas.
A deformação (İpe) é conhecida em função dos valores das tensões e deformações forneci-
dos e garantidos pelos fabricantes dos elementos para protensão conformados com FRP,
o que facilita e determina a escolha dos mesmos pelos projetistas.
Em função do coe¿ciente de fragilidade (ȡb) o comportamento das vigas protendidas pode
ser dividido em três grupos distintos:
– se (ȡ > ȡb) a viga irá falhar por compressão do concreto sem que ocorra o colapso
do elemento protendido de FRP.
– se (0,5ȡb < ȡ < ȡb), o elemento protendido de FRP irá se romper e as tensões de com-
pressão no concreto assumirão um comportamento substancialmente não linear.
– se (ȡ < ȡb), a viga estará signi¿cativamente subdimensionada e as tensões de
compressão do concreto se aproximam da condição linear.

Essas três situações distintas conduzem aos seguintes critérios de dimensionamento, os


quais apresentaremos a seguir.

11.1.1 VIGAS NORMALMENTE ARMADAS

Na condição (0,5ȡb < ȡ < ȡb) a viga assume uma condição de normalmente armada. Nessa
situação, a força de tração no elemento protendido é estabelecida em função da dimensão
do mesmo e da sua resistência última à tração.
A escolha do ponto (0,5ȡb) como um ponto delimitante para a equação se baseia no com-
portamento usual do concreto, sendo, entretanto, requeridas maiores pesquisas e resul-
tados experimentais para con¿rmar a validade deste limite. A capacidade nominal para o
momento Àetor de uma viga nestas condições é fornecida pela mostrada a seguir.

441
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

⎛ a⎞ onde (d) é obtido através do aquilíbrio das forças na seção trans-


Mn = ρ .b.d.fpu . ⎜ d − ⎟ (7 )
⎝ 2⎠
versal do elemento.

ρ .d.fpu
a= (8 )
0,85.fc'

Da combinação do valor de (a) na expressão do momento resulta uma fórmula para a pre-
visão da capacidade nominal de resistência da seção para o momento Àetor:
⎛ ρ .fpu ⎞
Mn = ρ .b.d 2 .fpu . ⎜1 − (9 )
⎝ 1,7.fc ⎟⎠
'

Essa equação pressupõe a utilização dos elementos de protensão dispostos em uma única
camada. Uma con¿guração diferente, com mais de uma camada, requer uma avaliação
diferente da apresentada.

11.1.2 VIGAS SUBARMADAS

Nesse caso temos (ȡ • ȡb). Nas vigas superarmadas o concreto irá falhar por compressão
antes da falha do elemento protendido. A compatibilidade das tensões e das deformações
é a mesma apresentada na Figura 11.2.
Contudo, o valor da deformação do elemento protendido não é conhecido. A partir da quan-
tidade de armação na viga o concreto desenvolverá uma relação altamente não linear entre
tensão e deformação de tal forma que se torna apropriada a utilização do bloco retangular
de compressão.
Essa determinação é feita locando-se arbitrariamente a posição do eixo neutro e admitin-
dor-se o elemento protendido trabalhando na fase elástica e um bloco retangular de ten-
sões para o concreto. Isso é feito de¿nindo a deformação no elemento protendido e pelo
equilíbrio das forças horizontais na seção, a partir da locação da linha neutra, resultando
na de¿nição do momento resistente da seção.
A profundidade da linha neutra (c) pode ser feita considerando-se o equilíbrio das forças
axiais na seção transversal do elemento.

ȡ.b.d.fp = 0,85.fc’.b.ȕ1.c (10)

Como os cabos são elasticamente lineares até a ruptura, a tensão (fp) é função apenas do
módulo de elasticidade e da deformação no mesmo.
fp = İp.Ep (11)

por semelhança de triângulos pode ser determinada a deformação de Àexão no cabo:

d −c
ε f = ε cu .
c

442
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

a deformação total no cabo pode ser expressa como a soma da deformação por Àexão e a
efetiva deformação de protensão (İpe).
d −c (12)
ε f = ε pe + ε cu .
c
Substituindo-se as equações (12) e (11) em (10) e de¿nindo-se ( ku = c ) vem:
d
⎛ 1 − ku ⎞
ρ . ⎜ε pe + ε cu . .E p = 0,85.fc' .β1 .ku (13)
⎝ k ⎟⎠
u

De¿nindo-se uma constante do material (λ) tal que:

E p .ε cu
λ= (e) e substitundo essa equação em (d) resulta uma equação do segundo
0,85.fc' .β1

grau que resolvida para (ku) resulta:


2
⎛ ρ .λ ⎛ ε pe ⎞ ⎞ ρ .λ ⎛ ε pe ⎞
ku = ρ .λ + ⎜ . ⎜1 − ⎟ ⎟ − . 1−
⎝ 2 ⎝ ε cu ⎠ ⎠ 2 ⎜⎝ ε cu ⎟⎠

Assim, o momento nominal pode ser determinado somando-se os momentos no centro de


gravidade dos cabos.
⎛ β .k ⎞
Mn = 0,85.fc' .b.β1 .ku .d 2 . ⎜1 − 1 u ⎟
⎝ 2 ⎠

11.1.3 VIGAS SUPERARMADAS

Nesse caso temos (ȡ • ȡb). Nas vigas super armadas o concreto irá falhar por compressão
antes da falha do elemento protendido. A compatibilidade das tensões e das deformações
é a mesma apresentada na Figura 11.2.
Contudo, o valor da deformação do elemento protendido não é conhecida. Essa determi-
nação é feita locando-se arbitrariamente a posição do eixo neutro e admitindo-se o ele-
mento protendido trabalhando na fase elástica. Dessa forma, de¿ne-se a deformação do
elemento protendido, o equilíbrio das forças horizontais na seção em relação à posição da
linha neutra e ¿nalmente, a grandeza dos momentos Àetores relativamente à posição dos
elementos protendidos.
Primeiramente, ¿xa-se a posição da linha neutra a partir da relação (c = k.d).
A deformação no elemento protendido será igual à deformação inicial de protensão (İpi)
mais a deformação de Àexão (İf). Esta última deformação pode ser avaliada pela deforma-
ção proporcional decorrente do conhecimento da deformação última do concreto (İcu).

1 − ku
ε p = ε pi + ε cu . (14)
ku

443
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A tensão no elemento protendido será (fp = İp.Ep) e o equilíbrio da seção transversal exigirá que:

ρ .b.d.fp = 0,85.fc' .b.β1 .ku .d (15)

Substituindo-se os valores para a deformação e o módulo de elasticidade dos elementos


protendidos vem:

⎛ 1 − ku ⎞
ρ . ⎜ε pe + ε cu . .E p = 0,85.fc' .β1 .ku (16)
⎝ ku ⎟⎠

E p .cu
Adotando-se ( λ = ) (17)
0,85.fc' .β1

substituindo-se (17) em (16) resulta uma equação de segunda ordem em função de (k) que
tem a seguinte solução:

2
⎡ ρ .λ ⎛ ε pe ⎞ ⎤ ρ .λ ⎛ ε pe ⎞
k= ρ .λ + ⎢ ⎜1− ⎟ ⎥ − 1− (18)
⎢⎣ 2 ⎝ ε pu ⎠ ⎥⎦ 2 ⎜⎝ ε cu ⎟⎠

A capacidade nominal ao momento Àetor de uma viga superarmada, então, pode ser deter-
minada pela somatória dos momentos relativamente à profundidade do elemento protendido.

⎛ β .k ⎞
Mn = 0,85.fc' .b.β1 .ku .d 2 ⎜1 − 1 ⎟ (19)
⎝ 2 ⎠

11.2 INCREMENTO DA CAPACIDADE À FLEXÃO PARA ELEMENTOS DE


PROTENSÃO POSICIONADOS EM VÁRIAS CAMADAS

Figura 11.3 – Distribuição de tensões e deformações.

444
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Tudo o que foi compilado anteriormente se referia exclusivamente a peças protendidas


com os elementos de protensão dispostos em uma única camada. Caso isso não ocor-
ra e os elementos de protensão se apresentem distribuídos segundo camadas paralelas,
transcreve-se o método recomendado pelo ACI para a determinação do reforço produzido
por esse tipo de protensão. O método se baseia na análise elástica e na distribuição das
deformações da Figura 11.3.
Estudos numéricos indicam uma diferença que pode ser considerada insigni¿cante (da or-
dem de apenas 5%) na capacidade resistente à Àexão quando feitas as comparações entre
a análise elástica e o bloco retangular equivalente de tensões de compressão.
A análise elástica é apresentada para que seja evitada a utilização de fatores de correção
para ajustes da posição da linha neutra e do bloco de compressão.
A análise foi desenvolvida para uma viga de seção “T” com a condição de que a linha neu-
tra esteja passando pela mesa da mesma. As deformações devidas à descompressão são
pequenas e foram desconsideradas na análise. As deformações decorrentes dos encurta-
mentos elásticos e não elásticos da seção também foram desconsiderados uma vez que
essas deformações são recuperadas quando da curvatura máxima da seção. Admite-se
que todos os elementos protendidos estejam submetidos ao mesmo nível de tensões.
O aumento de tensão na ruptura no elemento protendido mais inferior pode ser de¿nido
como:
fm = fpu - fpi

A tensão em cada um dos elementos protendido pode ser de¿nida como a relação da de-
formação em cada um dos níveis em relação à deformação do elemento mais inferior:

d i − kd ou seja,
fi = fpi + fm .
d − kd

⎛ di ⎞
−k
⎜d ⎟ (18)
fi = fpi + fm . ⎜
1−k ⎟
⎜⎝ ⎟⎠

di – a profundidade de cada elemento protendido.


d – a profundidade do elemento protendido mais inferior.
kd – localização da linha neutra na seção ¿ssurada.

⎛ f ⎞
De¿nindo a relação ⎜ξ = pi ⎟ como a deformação inicial de protensão e admitindo-se
⎝ fpu ⎠

que (ȡi) é a densidade de armação em cada nível pode ser demonstrado que:

445
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(n.∑ ρ ) ⎛ d ⎞
2
+ 2 (1 − ξ ) n.∑ i =1ρi ⎜ξ + i . (1 − ξ ) ⎟ − ∑ i =1ρi
m m m
i =1 i ⎝ d ⎠ (19)
k=
1−ξ

sendo (m) o número de camadas de elementos protendidos.

di ⎞
De¿nindo a relação de profundidade dos elementos protendidos como sendo ⎛⎜ ψ i = e
⎝ d ⎟⎠
admitindo-se elementos de protensão igualmente tracionados a capacidade resistente ao
momento Àetor pode ser expressa por:

m ⎛ k⎞
Mn = b.d 2 . ∑ ρi .fi . ⎜ ψ i − ⎟ (20)
i =1 ⎝ 3⎠

Se os elementos de FRP forem protendidos levando em consideração a distribuição verti-


cal das deformações devido à distribuição dos mesmos ao longo da profundidade do ele-
mento, a capacidade resistente nominal à Àexão é fornecida pela expressão:

m ⎪ ⎧ ⎡⎛ ⎛ψi − k ⎞⎞ ⎛ k ⎞ ⎤ ⎪⎫
Mn = b.d 2 . ∑ ⎨ρi ⎢⎜ fpi + fm ⎝⎜ ⎟ ⎟ ⎜ ψ i − ⎟ ⎥⎬ (21)
i =1
⎩⎪ ⎣⎝ 1 − k ⎠⎠ ⎝ 3 ⎠ ⎦ ⎭⎪

As equações (20) e (21) permitem que se calculem vigas com várias camadas de elemen-
tos protendidos.

11.2.1 FATORES DE REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA À FLEXÃO

A Tabela 11.1 apresenta os fatores de redução da resistência à Àexão de vigas subarmadas


e superarmadas protendidas com elementos de carbono e aramida.

Fator de Redução de Capacidade


Tipo de Material Coe¿ciente de Redução (ĭ)
Aramida 0,70
Carbono 0,85

Tabela 11.1 – Fatores de redução de resistência.

11.3 TENSÕES ADMISSÍVEIS NA FLEXÃO


As tensões admissíveis dos elementos protendidos em serviço estão apresentadas na
Tabela 11.2.

446
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Tensões admissíveis na hora da protensão (antes das perdas) (MPa)


a - tensão de compressão na ¿bra extrema 0,60f’ci

b - tensão de tração na ¿bra extrema, exceto para (c) 0,25 fci


'

c - tensões na ¿bra extrema na extremidade dos cabos 0,50 fci'

Tensões admissíveis em serviço (após as perdas) (MPa)


a - tensão de compressão na ¿bra extrema devido à protensão mais cargas gravitacionais 0,45f’c
b - tensão de compressão na ¿bra extrema devido à protensão mais a carga total 0,60f’c

c - tensão na ¿bra extrema na região de tração pré-comprimida 0,50 fc


'

Tabela 11.2 – Tensões admissíveis na Ňexão.

11.4 TENSÕES NA REGIÃO DE ANCORAGEM


As tensões máximas recomendadas na região da ancoragem dos elementos protendidos
de FRP são as indicadas na Tabela 11.3.

Tensão Admissíveis no Macaco de Protensão


Carbono 0,65fpu

Aramida 0,50fpu

Tensões Admissíveis Após as Perdas Imediatas


Carbono 0,60fpu

Aramida 0,40fpu

Tabela 11.3 – Tensões máximas nas regiões de ancoragem.

11.5 RUPTURA POR FLUÊNCIA DOS ELEMENTOS PROTENDIDOS DE FRP


A Àuência é a deformação inelástica do material submetido a cargas de longa duração du-
rante um determinado período de tempo.
A ruptura por Àuência se dá por rompimento por tração de um material submetido a altos
níveis de tensões por longo período de tempo e ocorre quando é alcançada a capacidade
limite de deformação do material.
Podem ser observados três estágios distintos da manifestação da Àuência.:
– o primeiro estágio é caracterizado por um decréscimo continuado da taxa de defor-
mação em um intervalo de tempo curto em relação ao tempo total de manifestação
da Àuência, ocorrendo o mesmo imediatamente após a aplicação dos carrega-
mentos de protensão e é bastante característico para as matrizes epoxídicas dos
sistemas compostos de FRP.

447
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– o segundo estágio é de¿nido como o período de tempo no qual a taxa de deforma-


ção permanece constante sob a ação de tensões solicitantes de valor constante.
Nesse estágio pode ocorrer o rompimento de algumas ¿bras mais fracas do con-
junto dos elementos de FRP, mas o atrito e a aderência da resina entre as ¿bras
permitem a transferência das cargas às ¿bras adjacentes. Se o nível de tensões
for baixo o bastante, os danos às ¿bras ¿cam con¿nados ao segundo estágio de
manifestação da Àuência e o elemento protendido pode ter um período de vida
ilimitado.
– o terceiro estágio se caracteriza por um aumento na taxa de deformação, apresen-
tando um rápido e progressivo colapso das ¿bras até a ruptura ¿nal do elemento.

Figura 11.4 – Estágios de Ňuência nos elementos de FRP.

A Figura 11.4 apresenta a curva das deformações que ocorrem em elementos protendidos
conformados em FRP, onde se pode observar que no segundo estágio a taxa de deforma-
ção ¿ca quase nula, apresentando, contudo, ruptura quase que instantânea quando o nível
de deformação ultrapassar o valor limite da ruptura por Àuência do material.
É fundamental, portanto, que os projetistas conheçam a porcentagem da carga última que
pode ser aplicada ao elemento de protensão de tal forma que nunca seja alcançado o
estágio três da Àuência. Se a Àuência no segundo estágio for pequena uma condição de
equilíbrio será alcançada e o material protendido pode se tornar estabilizado.
A Figura 11.5 representa uma extrapolação dos dados de ruptura por Àuência obtidos por Do-
lan2 para cordoalhas de FRP envolvidas por concreto e imersas em água salgada, submetidas
a carregamento constante. Esta ¿gura indica a evolução da resistência estática de uma cordoa-
lha sob a ação de cargas sustentadas ao longo do tempo decorrente do fenômeno da Àuência.
Nessa avaliação, o nível previsto das tensões ¿nais sustentadas pelo elemento de FRP é
da ordem de 70% do valor da resistência última da cordoalha após (106) horas sob carga,
ou seja, cerca de 114 anos de serviço.

2 - Dolan, C.W. et al – “Design RecommendaƟons for Concrete Structures Prestressed With FRP Tendons”- 2000.

448
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Figura 11.5 – Perda por Ňuência nos elementos de FRP.

11.5.1 CORREÇÃO DAS TENSÕES NOS CABOS DOBRADOS OU CURVADOS

Pode acontecer do desempenho de um cabo FRP protendido ser alterado nos pontos
de inÀexão no meio do vão ou entre os seus pontos de sustentação extrema e o meio
do vão antes da cura total do concreto. Pelo fato dos cabos de FRP apresentarem um
comportamento elástico linear até a sua ruptura, dobrar ou curvar esse elemento resulta
numa perda de sua resistência. Assim, quando um cabo de FRP é Àetido, as tensões de
macaqueamento devem ser reduzidas para levar em consideração o aumento das ten-
sões. O grau do acréscimo dessas tensões é dependente do raio de curvatura do cabo
em seus pontos de dobramento (nos desviadores), do módulo de elasticidade do cabo
e das características da seção transversal do mesmo. Dolan3 propôs que o aumento da
tensão devida ao dobramento nos cabos rígidos e em forma de cordoalha pode ser de¿-
nida pela equação:

Ef .y
fh = (a) onde,
Rc

Ef – módulo de elasticidade do cabo de FRP.


y – distância do centro de gravidade da seção à face tracionada do cabo curvo (raio do cabo).
Rc – raio de curvatura da parte Àetida.

3 - “Design ReccomendaƟons for Concrete Structures Presressed With FRP Tendons – Final Report” – Dolan, C. W.; Ha-
milton, H.R.; Bakis, C. E. e Nanni, A. – 2000.

449
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Pesquisas efetuadas na Universidade de Waterloo recomendam que o valor de (Rc) na


expressão (a) seja substituido pelo valor (Rn) fornecido na equação seguinte:

r2 Ef .π
Rn = . onde,
2 P. (1 − cosθ )

r – raio do cabo de FRP.


P – força no cabo.
ș – ângulo de desvio do cabo no ponto de dobramento.

A e¿ciência dos cabos protendidos pode ser signi¿cativamente reduzida quando esta ten-
são for deduzida da tensão permitida no macaco de protensão. A tensão combinada num
cabo com a área de seção transversal (Ap) na região do dobramento, devido à carga de
macaqueamento (Pj) é dado por:
Pj Ef .y
f = +
Ap Rc

A Figura 11.6, extraída do Tokio Rope Catalog (Santon 1993) mostra o relacionamento entre
a tensão de tração da ¿bra de carbono e o ângulo de curvatura com o qual o cabo é Àetido.

Figura 11.6 – Relação entre a resistência de tração com o ângulo e o raio de curvatura.

Observa-se uma redução na resistência do cabo com o aumento do ângulo de curvatura.


Essa perda pode ser minimizada pela atenuação da curvatura junto ao ponto de dobramen-
to (por exemplo, criando um trecho de transição reto).

11.5.2 PERDAS POR RELAXAÇÃO E ATRITO

Com o tempo, os elementos de protensão de FRP relaxam e as perdas de relaxação (Rrel )


nos elementos de FRP se desenvolvem em função de três manifestações distintas.

450
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

A perda total de relaxação tem como valor:


Rrel = Rp + Rs + Rf onde,

Rp – relaxação do polímero.
Rs – reti¿cação das ¿bras dos elementos de FRP.
Rf – relaxação das ¿bras de carbono.
A relaxação total é obtida avaliando-se o efeito de cada um dos três componentes da perda
separadamente.

a) Perdas (Rp):
Quando o elemento protendido de FRP é inicialmente tensionado, uma parcela da carga
é transferida para a matriz resinosa e, em consequência, a matriz relaxa e perde parte de
sua contribuição para a capacidade de absorver carregamento.
A relaxação inicial da matriz ocorre entre 24 a 96 horas decorridas depois da aplicação do
carregamento de protensão e pode ser acelerada pela cura térmica das vigas de concreto
protendido. Essa relaxação é inÀuenciada por duas características do elemento de pro-
tensão, que são a relação entre os módulos de elasticidade da resina e da ¿bra, (nr), e o
volume de ¿bras no elemento de protensão, (v f).
Er
nr = sendo,
Ef

Er - módulo de elasticidade da resina.

A perda de relaxação é o produto da fração do volume da resina (v f). E a relação (nr), onde,
(Ȟr = 1 - Ȟ f), assim,
Rp = nr . Ȟr
Para as resinas utilizadas nas operações de pultrusão o valor de (nr) varia, podendo ser
admitido como 1,5% para as ¿bras de carbono. A fração do volume da resina é, tipicamen-
te, da ordem de 35% a 40% da área da seção transversal do elemento protendido. Dessa
forma, a relaxação total nessa fase se situa no intervalo de 0,6% a 1,2% da tensão trans-
ferida. Essa relaxação pode ser compensada aplicando-se uma sobretensão no elemento
de protensão, desde que o limite da Tabela 11.3 não seja ultrapassado. Uma sobretensão
que ultrapasse o limite, permitindo-se uma posterior relaxação para a redução das tensões
até o valor limite recomendado na Tabela 11.3 não é aconselhado porque as perdas não
ocorrerão nas ¿bras e, assim, as ¿bras estarão permanentemente sobre tensionadas.

b) Perdas (Rs):
As ¿bras de carbono numa seção fabricada por meio de pultrusão estão muito próximas
de serem paralelas, mas não completamente paralelas. Portanto, ¿bras tensionadas Àuem
através da matriz e se reti¿cam, e esse estiramento aparece como uma perda por relaxação.

451
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

O estiramento das ¿bras é diretamente inÀuenciado pela qualidade do controle no proces-


so de pultrusão. É adequado estimar-se de 1% a 2% o valor da perda de relaxação pelo
estiramento das ¿bras. O valor (Rs = 0,02) é recomendado por Dolan.

c) Perdas (Rf ):
A perda por relaxação da ¿bra é diretamente dependente do tipo da ¿bra utilizado. Nor-
malmente é informado de que as ¿bras de carbono não apresentam relaxação, portanto a
perda (Rf) pode ser assumida como inexistente, ou seja, (Rf = 0).
Em testes de relaxação realizados4, comparando-se elementos protendidos de aço de car-
bono submetidos a idênticas condições de teste revelaram que decorridas 100 horas de
teste as tensões se reduziram cerca de 2% nos elementos de carbono e 8% nos elementos
de aço, indicando que os elementos conformados com ¿bras de carbono possuem uma
melhor resistência à relaxação do que os elementos de aço.
De modo geral pode se considerar que a relaxação dos sistemas protendidos à base de ¿-
bras de carbono apresentam perda por relaxação da ordem de 50% da perda dos sistemas
protendidos com aço.

11.6 RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA PROJETO


A recomendação mais generalizada para a utilização de elementos protendidos com FRP
é o de se utilizar as equações para o comportamento à Àexão expostas atrás de forma a
se estabelecer as características (dimensões) daqueles elementos para se conhecer as
exigências da seção. Um nível de protensão da ordem de 40% a 50% da resistência do
elemento é normalmente selecionado como força inicial de protensão, sendo, então, tes-
tados com ela o nível de tensões em serviço da peça. Se a seção for su¿ciente, o dimen-
sionamento estrutural está terminado, mas se não for adequada, aumenta-se o número de
elementos de protensão até que sejam atingidas as solicitações de serviço, tornando a se
veri¿car, a partir desse ponto, a capacidade resistente da peça.

11.6.1 ARMAÇÃO MÍNIMA

A soma das armaduras protendidas e convencionais deve ser su¿ciente para desenvolver
uma resistência majorada à Àexão (‫כ‬.Mn) com pelo menos 1,2 vezes maior que a resistên-
cia ¿ssurada da peça.

11.6.2 DUTIBILIDADE OU DEFORMABILIDADE

Tanto o concreto como os elementos de FRP protendidos são materiais frágeis, portanto a
ductibilidade clássica, que requer deformações plásticas, di¿cilmente pode ser obtida.
Algumas maneiras possíveis de se obter um comportamento quase dúctil, mesmo com a
utilização de materiais frágeis, podem passar pelo con¿namento do concreto na compres-
são, pela protensão parcial ou permitindo algum escorregamento no sistema.

4 - Zoch, P et al – “Carbon Fiber Composite Cables – A New Class of Prestressing Members” – 1991.

452
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Se a ductibilidade é de¿nida como a energia absorvida então a pequena área abaixo da


curva carga-deÀexão de uma estrutura protendida por elementos de FRP sugere que a
absorção de energia por ductibilidade é muito limitada.
Reciprocamente, a deformabilidade pode ser de¿nida como a relação entre a deformação
de ¿ssuração e a deformação última. Com a utilização dessa última de¿nição, os elemen-
tos protendidos com FRP podem ter uma deformabilidade considerável.
Deformabilidade pode ser considerada a palavra chave para a consideração da segurança
de estruturas protendidas.
Como os elementos protendidos de FRP não exibem ductibilidade quando analisados através
das de¿nições tradicionais, alguns cuidados devem ser tomados para que se tenha a garantia
de que a estrutura possa emitir su¿cientes avisos de seu comportamento estrutural antes da
sua ruptura. Devido à carência de ductibilidade, no conceito de deformabilidade devem ser
previstos métodos e índices que permitam a existência e a mensuração desses avisos.
A utilização da deformação máxima de serviço como a deformação última admissível for-
nece uma indicação segura como aviso da iminência de ruptura para vigas simplesmente
apoiadas. Entretanto essa consideração não é tão simples de ser utilizada em vigas contí-
nuas, onde as combinações dos diversos carregamentos podem levar à exigência de uma
avaliação mais acurada para se estabelecer os valores dos avisos de risco. Dessa forma,
o indicador de deformação é válido mais para orientação do projeto (dimensionamento)
do que indicador prático con¿ável. Essa avaliação de deformação ainda apresenta uma
di¿culdade que é a da determinação das deÀexões sob a ação dos carregamentos últimos,
uma vez que na proximidade da ruptura as deformações ocorrem numa velocidade muito
mais rápida e são muito mais difíceis de serem quanti¿cadas.
Uma abordagem apresentada por Dolan é a utilização da relação das curvaturas produ-
zidas pelas cargas de serviço e últimas. É muito mais fácil de ser executado um procedi-
mento quando se utiliza quantidades já calculadas durante os procedimentos de dimen-
sionamento. Para esse procedimento do índice de deformabilidade proposto por Dolan é
fornecido pela seguinte expressão:
(1 − k )ε pu
DI = (22)
⎛ a ⎞
⎜⎝1 − β1 ⎟⎠ ε ps
d

Se as cargas de serviço forem consideradas como a carga que vai produzir a tensão de
tração no concreto de ( 3 fc psi ), as deformações de descompressão e a deformação que
'

produz ( 3 fc' psi ) são muito pequenas comparadas com as deformações de compressão.
O índice é, efetivamente, função da relação da deformação última com a deformação de
protensão com uma ligeira modi¿cação devida às diferenças entre as posições das linhas
neutras nos comportamentos elástico e inelástico da estrutura.
Deduz-se do exposto atrás, que o método mais e¿ciente de se obter uma deformabilidade
alta é o de se reduzir o valor da protensão inicial. A redução da deformação inicial da pro-
tensão permite uma maior reserva de deformação para os elementos protendidos, maior
capacidade de curvatura ou deÀexão e um maior índice de deformabilidade. A relação entre
a deformação última e a deformação inicial de protensão é mais fácil de ser avaliada que o
índice de deformabilidade é produz resultados similares.

453
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

11.7 MATERIAIS FRP PARA PROTENSÃO

Cabos protendidos em FRP estão disponíveis em uma variedade de formas e tamanhos.


Eles se apresentam sob a forma de barras, cordoalhas, cabos ou mono e multi¿lamentos,
como mostrado na Tabela 11.4.

Propriedades Aço de Cabo Cabo Cabo


Mecânicas Protensão AFRP CFRP GFRP
Tensão nominal de escoamento
1034-1396 N/A N/A N/A
(MPa)
Resistência de tração (MPa) 1379-1862 1200-2068 1650-2410 1379-1724
Módulo de elasticidade (GPa) 186-200 50-74 152-165 48-62
Deformação de escoamento (%) 1,4-2,5 N/A N/A N/A
Deformação de ruptura (%) >4 2,0-2,6 1,0-1,5 3,0-4,5
Densidade (kg/m3) 7900 1250-1400 1500-1600 1250-2400

Tabela 11.4 – Propriedades ơpicas dos cabos unidirecionais para protensão.

11.8 PRODUTOS CFRP (CARBONO) EXISTENTES NO MERCADO

As ¿bras de carbono proporcionam, potencialmente, numerosas vantagens para a sua


aplicação em protensão, tais como, alta resistência e pequena espessura em relação ao
seu peso, excelentes propriedades com relação à fadiga, excelente resistência ao vapor
d’água intersticial, elevada resistência química e condutividade elétrica e térmica. Elas
são designadas por dois graus distintos relativamente aos seus processos de fabricação:

1 – ¿bras sintéticas conhecidas como poliacrilonitril (PAN), que são semelhantes


as ¿bras utilizadas para fabricar têxteis.
2 – ¿bras de carbono baseadas no alcatrão (piche), obtidas da destilação destruti-
va do carvão (PITCH).

As ¿bras PAN são utilizadas para a construção de cabos compostos unidirecionais de ¿bras
de carbono, desenvolvidos pela Tokio Rope Mfg (Japão) e pela Toho Rayon Mfg (Japão).
Os cabos são feitos com ¿os de ¿bra de carbono retorcidos conjuntamente de maneira
muito similar às cordoalhas de 7 ¿os utilizadas nos cabos protendidos de aço. Os cabos
podem ser fabricados como uma barra simples ou combinados para conformar cabos em
conjuntos de sete, dezenove, ou trinta e sete, conforme mostrado na Figura 11.7, com
módulo de elasticidade de 137 GPa.

454
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Figura 11.7 – Cabos compostos de Įbra de carbono (Tokio Rope, 1993).

Cabos FRP derivados do sistema PITCH são utilizados pela Mitsubishi Kasei Chemi-
cal Company (Japão) tanto sob a forma redonda como deformada (indentada). Barras
redondas são produzidas com diâmetros variando entre 3 mm a 17 mm, a as barras
indentadas com diâmetros variando entre 5 mm e 12,5 mm, com módulo de elastici-
dade de 147 GPa e uma tensão limite de tração de 1813 MPa. Esses produtos são
mostrados na Figura 11.8

Figura 11.8 – Cabos compostos de CFRP da Leadline™ (Mitsubishi Kasei CorporaƟon, 1993).

455
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

As propriedades típicas dos diversos cabos uniaxiais para protensão existentes podem ser
vistos na Tabela 11.5.

Diâmetro Área Módulo Carga Deformação


Densidade Coe¿ciente
Cabo Tipo Nominal Seção Elasticidade Última Última
(g/cm3) Poisson
(mm) (mm2) (GPa) (kN) (%)
Arapree f200 000 7,5 44,2 62,5 66,6 2,40 1,25 0,38
Arapree f400 000 10,0 78,5 62,5 115,5 2,40 1,25 0,38
FIBRA FA13 12,7 127,0 68,6 176,4 2,00 1,62 0,60
Carbon
Flat Strip 17,5x1,65 28,9 150,0 54,0 1,60 N/A N/A
Stress
Carbon
Round 5,4 22,9 160,0 49,0 1,60 N/A N/A
Stress
Leadline Indented 7,9 46,1 150,0 104,0 1,30 1,67 N/A
Spiral
Technora 8,0 50,2 54,0 86,2 3,70 1,30 0,35
Wound
CFCC 1x7 12,5 12,5 76,0 137,3 142,0 1,57 3,31 N/A
Lightline Strand 10,5 67,6 51,8 90,8 2,50 N/A N/A
Para¿l Type G 13,5 86,6 120,0 105,0 1,50 1,44 N/Aprop.
Fonte: Nanni et all. 1996 e 1996a.

Tabela 11.5 – Propriedades ơpicas de diversos cabos unidirecionais.

11.9 ANCORAGENS DOS ELEMENTOS DE PROTENSÃO COM FRP


Vários tipos de sistemas de ancoragens têm sido utilizados para os elementos protendidos
construídos com FRP. Boa parte desses sistemas de ancoragem já são produzidos comer-
cialmente e serão sucintamente descritos na sequência.
Um dos sistemas de ancoragem mais utilizados para a ¿xação de extremidade dos ele-
mentos de protensão é o mostrado na Figura 11.9.
O sistema consiste basicamente de duas placas de aço, ranhuradas, que prendem por atri-
to o elemento de protensão do sistema. Por meio de parafusos as duas placas pressionam
o elemento de FRP, muitas vezes posicionado em encaixes especialmente preparados
para os mesmos. A força de protensão é transferida do elemento protendido para a anco-
ragem através do mecanismo de atrito gerado quando do aperto dos parafusos. Apesar de
bastante utilizado este dispositivo não é indicado para o caso em que são usados elemen-
tos de FRP de alta resistência, caso das barras ou cordoalhas. Por outro lado, são bastante
e¿cientes para elementos conformados em ¿bras de vidro.

456
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Figura 11.9 – Ancoragem por meio de placas parafusadas.

Outro tipo de ancoragem que pode ser utilizada nos sistemas protendidos com FRP é o
que está apresentado na Figura 11.10.
Esta ancoragem é constituída por duas peças distintas: um cone fêmea com um vazado ra-
nhurado cônico e o cone ranhurado macho. Nesse sistema os elementos de protensão não
¿cam encapsulados na resina mas sim presos pelas ranhuras coincidentes existentes na face
interna do cone fêmea e na face externa do cone macho. Uma camada protetora que envolve
as superfícies dos cones isola o contato entre as partes de carbono e as partes metálicas. A
prisão dos elementos de FRP se faz, como nos processos similares de protensão com aço,
pela cravação do cone macho após atingidas as tensões de protensão. O deslocamento dos
elementos de FRP é impedido pelo atrito gerado entre eles e os componentes da ancoragem.

Figura 11.10 – Ancoragem macho/fêmea ranhurados.

No tipo de ancoragem mostrado na Figura 11.11 o elemento de FRP é embebido pela re-
sina que preenche a parte cônica interna da peça metálica, geralmente feita com aço ou
com cobre. O material de preenchimento utilizado varia desde um cimento sem retração
com ou sem areia até um cimento expansivo com base em materiais epoxídicos. No caso
de cimento sem retração e materiais poliméricos de enchimento nenhuma pressão lateral
é gerada para aumentar a resistência ao deslizamento do elemento protendido, e o me-
canismo de transferência dos carregamentos dependem exclusivamente da coesão e o
entrosamento entre os elementos da ancoragem. O mecanismo de transferência da carga
é produzido pela aderência entre as interfaces do elemento de FRP e o material de preen-
chimento e entre este último e a ancoragem metálica.

457
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 11.11 – Ancoragem por aderência resina/elemento de FRP.

Para melhorar a qualidade da colagem entre os componentes da ancoragem pode ser en-
¿ada uma luva interna e/ou material duro como areia adicionado à resina. A areia misturada
na resina também serve para reduzir a retração química da resina durante o período de sua
cura. Para melhorar a aderência entre o elemento protendido e o material de enchimento
alterações super¿ciais tais como trançados, torções ou ranhuras podem ser aplicados aos
elementos de FRP.
A ancoragem mostrada na Figura 11.12 é uma ancoragem bastante similar àquelas utili-
zadas nos sistemas protendidos convencionais e é das mais empregadas nos sistemas
protendidos com elementos de FRP devido à sua compacidade, facilidade de embalagem
e transporte, possibilidade de reutilização e con¿abilidade. O sistema de cunhas pode ser
subdividido em duas categorias distintas que são os sistemas com contato direto entre o
elemento protendido de FRP e as cunhas metálicas ou plásticas e os sistemas que utilizam
uma luva entre as cunhas e os elementos de FRP.

Figura 11.12 – Ancoragem por meio de cunhas.

As cunhas de ancoragem, relativamente aos sistemas convencionais de protensão com


aço, devem sofrer modi¿cações para poderem ser utilizadas nos sistemas protendidos com
FRP. Essas modi¿cações passam pelo aumento dos seus comprimentos, com o objetivo
de reduzir as tensões transversais nos elementos de FRP e pela colocação de uma luva
feita com metal macio envolvendo o elemento de protensão de modo a prevenir contra a
possibilidade de entalhamento do mesmo.

458
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

A Figura 11.13 mostra um sistema de ancoragem em que um calço metálico fundido e


estampado é aderido à extremidade do elemento protendido de FRP. Esse dispositivo exi-
ge que o comprimento do elemento protendido seja pré-de¿nido de tal forma que o tubo
metálico possa ser previamente fundido sobre o mesmo em pontos especí¿cos de locação
durante o processo de fabricação do mesmo. Esse sistema sofre limitações em seu uso por
causa das rígidas especi¿cações de comprimento do elemento de FRP.

Figura 11.13 – Ancoragem conformada de fábrica.

A transferência de carga nesse dispositivo é obtido pelas tensões de cisalhamento (atrito) de-
¿nidas a partir da determinação das tensões de compressão atuantes e do coe¿ciente de atri-
to entre as superfícies em contato. A Figura 11.14 mostra, em detalhes, este tipo de ¿xação.

Figura 11.14 – Detalhe da ancoragem conformada de fábrica.

Finalmente, a Figura 11.15 mostra diversos tipos de ancoragens disponíveis no mercado e


que se enquadram nos tipos básicos apresentados esquematicamente.

459
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Figura 11.15 – Vários Ɵpos de ancoragem da Tokio Rope (1993).

11.10 REFORÇO DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO POR MEIO DE


PROTENSÃO SEM ADERÊNCIA OU EXTERNA COM ELEMENTOS DE FRP
Os cabos e as barras de FRP podem também ser utilizados para a protensão externa de
peças de concreto armado.
Esse tipo de protensão utiliza elementos não aderidos ao concreto, ¿xados em dispositivos
de ancoragens ¿xados externamente às peças.
Os dispositivos para a protensão externa são de fácil posicionamento, têm suas perdas
de protensão sensivelmente reduzidas comparativamente aos sistemas de protensão in-
ternos, aderidos ou pós-tensionados sem aderência e permitem fácil substituição de seus
elementos, velhos ou dani¿cados.
Além disso, os sistemas externos permitem fácil inspeção visual, dispensando equipamen-
tos de alto custo para monitoração e avaliação das condições da protensão instalada.
O maior problema para a utilização da protensão externa em reforço de estruturas é o de
se conseguir ancoragens adequadas aos procedimentos de pós-tensão e a manutenção da
estabilidade lateral dos elementos de concreto armado durante a operação de transferên-
cia da força de protensão ao concreto. Os sistemas de protensão externos com elementos
de FRP são muito mais susceptíveis de serem dani¿cados durante os procedimentos de
protensão que os demais tipos de protensão. Apesar das ¿bras de carbono serem extrema-
mente fortes na direção do seu alinhamento elas são muito sensíveis a pressões laterais,
podendo ocorrer danos às mesmas principalmente nos pontos de desvios e inÀexões e
mesmo durante o seu manuseio no canteiro de obras.

460
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Figura 11.16 – Sistema de protensão externo.

As ancoragens, adequadamente posicionadas, são os pontos de concentração de forças e


tensões de contato quando da transferência da força de protensão ao elemento estrutural
a ser reforçado. Por isso, esses elementos de ancoragem exigem cuidados especiais ao
serem projetados, tendo em vista a intensidade dos esforços que ali se manifestam.
Geralmente as ancoragens dos sistemas de protensão externos são posicionadas nas
laterais das vigas, na parte superior das mesmas, imediatamente abaixo das lajes, se as
mesmas existirem, como mostra a Figura 11.16.
As protensões externas podem ser executadas com os elementos de protensão retilíneos,
centrados ou excêntricos, e com os elementos de protensão com desenvolvimento poli-
gonal, como mostrado na Figura 11.16. A Fotogra¿a 11.1 mostra reforço executado com
protensão externa retilínea, com as ancoragens situadas na parte posterior das vigas.

FotograĮa 11.1 – Protensão com cabos reƟlíneos.

Os cabos de protensão posicionados na altura do baricentro das peças produzem apenas


esforços de compressão ao longo da mesma. Já os cabos excêntricos produzem Àexo-
compressão na peça, com o momento Àetor com valor constante no trecho compreendido
entre as ancoragens, como pode ser visto na Figura 11.17.

461
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

11.10.1 PROTENSÃO COM ELEMENTOS (CABOS) NÃO ADERIDOS

Figura 11.17 – Momento Ňetor de protensão reta.

Esse momento Àetor (N.e) somado algebricamente ao momento solicitante produz um mo-
mento Àetor resultante conforme mostrado na Figura 11.18. Como a protensão é uma carga
de longa duração incorporada permanentemente ao sistema resistente, a menos das poste-
riores perdas de protensão, essa será a situação solicitante de dimensionamento do reforço.
Nas protensões onde os cabos assumem forma poligonal são utilizados elementos de
desvio que permitem a inÀexão dos elementos protendidos. Esses elementos de desvio
são constituídos, principalmente, por tubos ou encostos metálicos com raio de curvatura
su¿ciente para não permitir ou produzir concentração de tensões com valores elevados.

Figura 11.18 – Momento Ňetor resultante após a protensão.

462
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

A protensão externa tem uma grande vantagem sobre os demais tipos de protensão por
não estarem limitados à geometria das peças que irão reforçar, podendo estar até fora das
mesmas. Teoricamente, esquecendo a particularidade acima descrita, o dimensionamento
de uma peça reforçada com protensão externa em nada se diferencia de uma protensão
interna sem aderência.
Para se prever o comportamento de uma peça reforçada com protensão externa é neces-
sário o conhecimento das tensões que se desenvolvem no elemento protendido durante
todo o intervalo de carregamento.
A tensão (fp) em elementos de protensão externos pode ser calculada a partir da tensão
efetiva, obtida através da seguinte expressão:

fp = fpe + ¨fp (23) onde,


fpe - tensão de protensão efetiva no elemento de FRP quando a viga suporta apenas as
cargas permanentes após a ocorrência das perdas de protensão.
¨fp - aumento da tensão por sobre o valor (fpe) devido aos carregamentos adicionais aplicados.

Geralmente é preferível de¿nir a tensão efetiva de protensão como sendo a tensão no


elemento de protensão sob a ação das cargas permanentes e da força ¿nal de protensão
após as perdas.
Essa é uma consideração importante, uma vez que quando computamos as perdas de
protensão para conhecer o seu valor ¿nal, consideramos o momento de carga permanente
ativo para a determinação das perdas de Àuência.
Como não existe compatibilidade entre a deformação do elemento de protensão externo e
a do concreto em nenhuma seção considerada da peça, o aumento de tensões decorrente
da aplicação dos carregamentos ao longo do intervalo previsto para os mesmos deve ser
avaliada pela consideração da deformação de todo o elemento, e não somente de uma
seção, como ocorre no caso de protensão interna, onde o elemento de protensão interage
diretamente com o maciço de concreto.
Assim, a análise e o dimensionamento desse tipo de sistema protendido tende a ser mais
complicado do que nos sistemas de protensão convencionais.
Dessa forma, a análise da seção com base na compatibilidade das deformações não é
su¿ciente para promover uma solução completa. Essa di¿culdade se observa quando da
avaliação do estado elástico não ¿ssurado e do estado elástico limite ¿ssurado, o que
exige uma modelagem especial para as deformações conjuntas para os estados elástico,
inelástico e estados limite últimos.
Inúmeros estudos foram feitos para que se pudesse estimar as tensões nos elemen-
tos de protensão sob diferentes condições de carregamento, especialmente para a
resistência nominal à Àexão última das estruturas protendidas por meio de elementos
externos de FRP.

463
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Um dos métodos, baseado na determinação da deformação na seção mais crítica, onde


ocorre o momento Àetor máximo, foi proposto por Naaman5, onde foi admitida a compatibi-
lidade das deformações como se os elementos de protensão fossem aderidos ao concreto
e aplicando um fator de redução das deformações (ȍ) para levar em consideração o fato
dos elementos de protensão serem externos (descolados).
O aumento da deformação na seção crítica é expresso pela seguinte fórmula:
Δε medio = ( Δε p )não aderido = Ω ( Δε p )aderido onde,
ȍ – coe¿ciente de redução da deformação.
( Δε p )não aderido – pode ser calculado usando-se a compatibilidade entre as deformações,
assumindo-se um comportamento elástico linear do cabo.
A mudança de tensão (¨fp) no cabo não aderido é dada por:
⎛ dp ⎞
Δfp = Ωu .E p .ε cu . ⎜ − 1⎟ (25)
⎝ cu ⎠

Onde (İcu) é a deformação na ¿bra extrema mais comprimida no estado último, e (cu) é a
profundidade da linha neutra no estado último.
Dessa forma, a equação (23) pode ser reescrita da seguinte maneira:
⎛ dp ⎞
fp = fpe + Ωu .E p .cu . ⎜ − 1 ⎟ (24)
⎝ cu ⎠

Combinando-se a equação (24) com a equação de equilíbrio para uma seção em “T”, vem:
0,85f’c.bw.ȕ1.cu + 0,85f’c (b - bw) hf = Ap.fp + As.fy - A’s.f’y sendo,

As área da armadura tracionada não protendida.


A's área da armação de compressão não protendida.
Ap área da armadura protendida.
fy resistência de escoamento à tração da armadura não protendida.
f'y resistência de escoamento à compressão da armadura não protendida.
fp tensão na armadura de protensão.
b largura da alma da viga.
bw largura da mesa (Àange) da viga.
hf espessura da mesa (Àange) da viga.

Que resulta numa equação do segundo grau em (cu), que resulta na seguinte raiz:

−B + B 2 − 4.A.C
cu =
2.A

5 - Naaman, A.E. – “External Prestressing for RehabilitaƟon Analysis and Design and ImplicaƟons”.

464
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

A = 0,85.f'c.bw.ȕ1
B = Ap.(Ep.İcu.ȍu - fpe ) + A's.f'y - As.fy + 0,85.fc’ (b - bw).hf
C = -Ap.Ep.İcu.ȍu.dp

O coe¿ciente de redução da deformação limite (ȍu) depende de uma série de variáveis,


como a con¿guração de carga, extensão da ¿ssuração, etc, e varia, teoricamente entre os
valores 0 e 1,0, sendo esse último valor utilizado para o cabo aderido. Os valores seguintes
são sugeridos pela ACI6:
2,6
Ωu =
⎛L ⎞ para carga concentrada em um ponto.
⎜d ⎟
⎝ p⎠
5,4
Ωu =
⎛ L ⎞ para carga concentrada em dois pontos ou para carregamento
⎜ d ⎟ uniformemente distribuído.
⎝ p⎠

Alkhairi, para efeito de projetos, recomenda os seguintes valores recalibrados após resul-
tados experimentais:
1,5
Ωu =
⎛L ⎞ para carga concentrada em um ponto.
⎜d ⎟
⎝ p⎠
3,0
Ωu = para carga concentrada em dois pontos ou para carregamento
⎛L ⎞
⎜d ⎟
⎝ p⎠

O coe¿ciente de redução da deformação representa a alteração no elemento protendido


sem aderência decorrente da alteração do concreto ao nível do elemento de protensão na
seção mais crítica.

11.11 PROTENSÃO EXTERNA COM ELEMENTOS DE FRP


A protensão externa consiste na utilização de cabos (ou laminados) localizados fora da
área de seção transversal do elemento e que são pós tensionados contra mecanismos de
ancoragem e desviadores presos externamente ao elemento existente. Os cabos deverão
estar, necessariamente, externos à seção transversal ou dentro de vazios (ou caixões per-
didos) da estrutura. A protensão externa tem algumas vantagens, como a redução do peso
próprio da estrutura, reduzindo a espessura das almas das vigas uma vez que não são
colocadas ali bainhas para os cabos de protensão, facilidade de inspeção dos elementos
protendidos e/ou a sua eventual substituição e a eliminação das perdas por atrito. A sua
maior de¿ciência consiste em certa di¿culdade na implantação das placas externas de
ancoragem e a manutenção da estabilidade lateral do elemento a ser protendido durante
o ato da protensão. Além disso, os elementos protendidos, por serem externos necessitam
proteção permanente contra as ações do meio ambiente, e, também podem ser alvos fá-
ceis de ações de vandalismo.

6 - Alkhairi, F. M., 1991 – “On the behavior of Concrete Beams Prestressed with Unbonded Internal and External Tendons”.

465
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Uma das maiores diferenças que ocorre entre elementos com protensão interna e com
protensão externa é a diferença de excentricidade que ocorre no caso dos cabos externos
quando da deformação do elemento sob a ação das cargas. Isso ocorre porque os cabos
externos continuam lineares entre os desviadores e as ancoragens de extremidade en-
quanto a viga sofre uma deformação curvilínea. Essa variação de excentricidade ocorre
também quando da variação da intensidade de carregamento. Dessa forma, essas ocor-
rências devem ser analisadas criteriosamente quando da elaboração do projeto de reforço
externo por protensão.

11.11.1 TENSÕES NO ESTADO LIMITE ÚLTIMO NA PROTENSÃO EXTERNA

Foi observado por Aravinthan e Mutsuyoshi7 que a variação de excentricidade pode ter uma
inÀuência signi¿cativa na resistência última das vigas protendidas externamente. Dessa for-
ma, o coe¿ciente de redução de profundidade (Rd) visa a correção do efeito descrito acima.

de = Rd.dp onde,

⎛L ⎞ ⎛S ⎞
Rd = 1,14 − 0,005. ⎜ ⎟ − 0,19. ⎜ d ⎟⎠ ≤ 1,00 ĺ para o primeiro ponto de carregamento.
⎝ dp ⎠ ⎝ L

⎛L ⎞ ⎛S ⎞
Rd = 1,25 − 0,010. ⎜ ⎟ − 0,38. ⎜ d
⎝ L ⎟⎠ ≤ 1,00 ĺ para o terceiro ponto de carregamento.
⎝ dp ⎠

Sd espaçamento entre os desviadores.


L vão da viga.

Aravinthan e Mutsuyoshi propuseram equações alternativas para o coe¿ciente de redução


da deformação (ȍu), utilizadas para a previsão das deformações no estado limite último de
vigas com protensão externa.

0,21 ⎛ Ap int ⎞
Ωu = + 0,04. ⎜ ⎟ + 0,04 ĺ para o primeiro ponto de carregamento.
⎛L ⎞ ⎝ Ap tot ⎠
⎜d ⎟
⎝ p⎠

2,31 ⎛ Ap int ⎞
Ωu = + 0,21. ⎜ ⎟ + 0,06
⎛L ⎞ ⎝ Ap tot ⎠ ĺ para o terceiro ponto de carregamento.
⎜d ⎟
⎝ p⎠

Ap int é a área do reforço interno protendido.


Ap tot é a soma das áreas dos reforços protendidos interno e externo.

Os valores de (ȍu) podem ser incorporados na equação (25), substituindo-se (dp) por (de)
para a determinação da tensão última.

7 - “PredicƟon of the UlƟmate Flexural Strenght of Externally Prestressed PC Beams” – Aravinthan, T. e Mutsuyoshi, H. – 1997.

466
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

11.12 REFORÇO AO CORTE POR PROTENSÃO COM FRP


A utilização de elementos FRP como reforço ao corte em vigas protendidas ainda não foi
adequadamente pesquisada e experimentada. Assim, segundo a ACI 440.4R-04 (reapro-
vada em 2011) é sugerida a utilização expressões das recomendações da ACI 318, levan-
do em consideração as características especiais dos elementos FRP. Maiores detalhes
poderão ser obtidos no Capítulo 5 da ACI 440.4R-04.

11.13 DEFLEXÕES
As deÀexões de um elemento protendido com cabos FRP podem ser divididas em duas
categorias:
– deÀexões de curto prazo.
– deÀexões de longa duração.

11.13.1 DEFLEXÕES DE CURTO PRAZO

Antes do ¿ssuramento, o momento de inércia da seção íntegra pode ser usado para o
cálculo das deÀexões com a utilização das fórmulas clássicas da resistência dos materiais.
Se o cálculo das deÀexões tiver que ser feito considerando a seção ¿ssurada deverão ser
utilizados procedimentos que levem em conta a diminuição de resistência (menor inércia)
que o ¿ssuramento produz.
Essa veri¿cação pode ser feita com a utilização do momento de inércia efetivo modi¿cado
(Ie), assim de¿nido:

⎛ Mcr ⎞
3
⎛ ⎛ M ⎞3 ⎞
Ie = ⎜ .β d .Ig + ⎜1 − ⎜ cr ⎟ ⎟ Icr < Ig onde,
⎝ Ma ⎟⎠ ⎝ ⎝ Ma ⎠ ⎠

ȕd é o fator de abrandamento do momento de inércia efetivo, dado por:

⎡ Ep ⎤
β d = 0,5 ⎢ + 1⎥
⎣ Es ⎦
Ep módulo de elasticidade do cabo de FRP.
Es módulo de elasticidade do aço.
Ig momento de inércia da seção não ¿ssurada (bruta).
Icr momento de inércia da seção ¿ssurada.
Mcr momento que produz a ¿ssuração na seção.
Ma momento máximo atuando na seção na veri¿cação da deÀexão.

467
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

O momento de inércia ¿ssurado para as seções retangulares ou seção em “T” onde


(kd < hf) é assim calculado:
b.( kd )3
Icr = + n.Ap .( d − kd )2
3

o valor de (k) pode ser obtido da expressão (19).


se o reforço for aplicado em uma única camada (i = 1) e (d1 = d).

A expressão acima tem aproximação válida para cargas situadas entre a situação de início
de ¿ssuramento para até cerca de 50% da carga última. Considerando-se que a deÀexão
não é devida exclusivamente na mudança do momento de inércia (Ie), mas também devido à
mudança de excentricidade da força de protensão após a ocorrência do ¿ssuramento, foram
sugeridas modi¿cações8 para levar em consideração essa acumulação de efeitos, conside-
rando a excentricidade relativamente à efetiva localização do eixo neutro (baricentro).

⎛M ⎞
2
⎛ ⎛ M ⎞2 ⎞
y ef = ⎜ cr ⎟ .y g + ⎜1 − ⎜ cr ⎟ ⎟ y cr
⎝ Ma ⎠ ⎝ ⎝ Ma ⎠ ⎠

yef distância entre a ¿bra extrema mais comprimida para a efetiva linha neutra.
yg distância entre a ¿bra extrema mais comprimida para a linha neutra da seção bruta (não
¿ssurada).
ycr distância entre a ¿bra extrema mais comprimida para a linha neutra da seção ¿ssurada.

11.13.2 DEFLEXÕES DE LONGA DURAÇÃO

Para as deformações de longo prazo é feita uma separação entre a curvatura e a deÀexão,
tratados como componentes individuais que são ajustados por um multiplicador e depois
são sobrepostos para a obtenção da deÀexão ¿nal. Os multiplicadores necessários foram
sugeridos por Currier9, baseados em uma série de experimentos realizados, consistindo
em três vigas com cada tipo de cabo nas quais foram observadas as variações das defor-
mações durante o período de 1 ano. Os resultados são mostrados na Tabela 11.6.

Sem cobertura de revestimento


Carbono Aramida
Na implantação DeÀexão de peso próprio 1,85 1,85
Curvatura da protensão 1,80 2,00
Na fase ¿nal DeÀexão de peso próprio 2,70 2,70
Curvatura da protensão 1,00 1,00
DeÀexão das cargas aplicadas 4,10 4,00

Tabela 11.6 – MulƟplicadores sugeridos para os cabos de FRP.

8 - Abdelrahman e Rizkalla – 1998.


9 - “DeformaƟon of Prestressed Concrete Beams With FRP Tendons” – Currier, J. – 1995.

468
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Os multiplicadores da Tabela mostrada anteriormente são para elementos sem cobertura


(cobrimento) de materiais compostos.
O “PCI Design Handbook (PCI 2000)” indica que os multiplicadores relativos às deÀexões
¿nais para os elementos revestidos são menores do que aqueles para os elementos não
revestidos, dessa maneira, os elementos indicados na Tabela 11.6 devem ser considera-
dos conservadores para os elementos revestidos.

11.13.3 INFORMAÇÕES TÉCNICAS COMPLEMENTARES

11.13.3.1 Fator de Redução Recomendado(*)

Tipo do Cabo Fator de Redução


Condição
da Resistência (Ɏ)
Aramida 0,70
comportamento controlado pela tração
Carbono 0,85
Aramida ou Carbono 0,65 comportamento controlado pela compressão
(*) – Conforme Dolan e Burke - 1996

11.13.3.2 Tensões Admissíveis no Concreto

Tensões admissíveis na hora da protensão (sem perdas) (MPa)


a - tensão de compressão na ¿bra extrema 0,60f'ci

b - tensão de tração na ¿bra extrema, exceto para (c)


0,25 fci
'

c - tensões na ¿bra extrema na extremidade dos cabos


0,50 fci
'

Tensões admissíveis em serviço (após as perdas imediatas) (MPa)


a - tensão de compressão na ¿bra extrema devido à protensão mais
0,45f'c
cargas gravitacionais
b - tensão de compressão na ¿bra extrema devido à protensão mais
0,60f'c
a carga total

c - tensão na ¿bra extrema na região de tração pré-comprimida


0,50 fc
'

469
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

11.13.3.3 Propriedades dos Cabos (Cabos) de CFRP

CFRP
Propriedades
Leadline® CFCC
Fibra carbono carbono
Resina epóxi epóxi
Relação Fibra/Volume 0,65 0,65
Densidade (g/cm3) 1,53 1,50
Resistência de Tração Longitudinal (GPa) 2,25 a 2,55 1,80 a 2,10
Resistência de Tração Transversal (MPa) 57 ---
Módulo de Elasticidade Longitudinal (GPa) 142 a 150 137
Módulo de Elasticidade Transversal (GPa) 1,30 ---
Resistência ao corte no plano (MPa) 71 ---
Módulo de elast. de corte no plano (GPa) 7,20 ---
Maior coe¿ciente de Poisson 0,27 ---
Menor Coe¿ciente de Poisson 0,02 ---
Resistência de aderência (MPa) 4 a 20 7 a 11
Deformação Máxima Longitudinal (%) 1,3 a 1,5 1,57
Deformação Máxima Transversal (%) 0,60 ---
Resistência à compressão longitudinal (MPa) 1440 ---
Resistência à compressão transversal (MPa) 228 ---
Coef. de expansão térmica longitudinal (/oC) -0,9 x 10-6 0,5 x 10-6
Coef. de expansão térmica transversal (/oC) 27 x 10-6 21 x 10-6
Perda por relaxação em temperatura ambiente 0,5 a 1,0 em
2a3
(% de perda de tensão no macaco) 102 h

11.13.4 TENSÃO ADMISSÍVEL NOS CABOS NA HORA DA PROTENSÃO

Tensões Admissíveis no Macaco de Protensão


Carbono 0,65fpu
Aramida 0,50fpu
Tensões Admissíveis após as Perdas Imediatas
Carbono 0,60fpu
Aramida 0,40fpu

470
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

11.14 SISTEMAS PROTENDIDOS COM LAMINADOS DE FRP


Atualmente já se encontram disponíveis sistemas de reforço estrutural com laminados de
FRP que são aplicados às estruturas de concreto armado previamente tracionados, con-
formando sistemas protendidos.

A Figura 11.19 mostra esquematicamente como são criadas as forças de protensão nos
laminados de ¿bra de carbono.

Relativamente aos sistemas de reforço estrutural com a utilização de laminados de ¿bras


de carbono aplicados de maneira convencional os sistemas protendidos podem vir a agre-
gar as seguintes vantagens:

– redução de 30% a 50% na quantidade de laminados necessários.


– redução das solicitações de carga permanente, uma vez que os momentos Àetores
arti¿cialmente produzidos pela protensão se incorporam de maneira permanente
ao sistema que está sendo reforçado, produzindo uma redução das tensões pro-
duzidas pelas cargas gravitacionais tanto no concreto com no aço.

Figura 11.19 – Protensão de laminados de FRP.

– devido à redução das tensões atuantes na peça de concreto as correspondentes


deformações e abertura de ¿ssuras também são reduzidas.
– como os laminados são colados em toda a sua extensão os dispositivos de anco-
ragem são de pequenas dimensões.
– nos processos protendidos podem ser utilizados laminados de maior espessura do
que os convencionalmente utilizados, resultando maior mobilização de esforços
do que nos sistemas passivos.

471
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 11.20 – Placa de Įxação da extremidade Įxa do laminado.

Os procedimentos de criação da força de protensão não diferem substancialmente nos


sistemas protendidos convencionais existentes no mercado.
Basicamente o processo é o que está mostrado nas Figuras 11.20 e 11.21, que consta de
três placas metálicas distintas.
A primeira placa prende a extremidade ¿xa do laminado, que será protendido pela outra
extremidade. Esta placa é apresentada esquematicamente na Figura 11.20 e se ¿xa dire-
tamente no substrato de concreto prendendo a extremidade do laminado. Tanto a área de
projeção da placa como do laminado são resinados com epóxi para garantir a prisão do
sistema adequadamente, e é aplicada a força necessária para prender o laminado através
de torque nos conectores, responsável pela ¿xação por atrito, independentemente da con-
tribuição do epóxi. Os conectores podem ser químicos, autoatarraxantes ou convencionais.

472
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Figura 11.21 – Procedimentos para a protensão de laminados.

Na outra extremidade do laminado são posicionados dois outros equipamentos mecânicos


destinados à protensão do laminado. A Figura 11.21 mostra essa situação. Na extremidade
do laminado é colada uma placa metálica (esquerda da ¿gura) sobre o laminado. Essa
placa contém dispositivos que permitem a acoplagem com o macaco hidráulico utilizado
para a protensão. A uma distância compatível com o curso do êmbolo é posicionada a ou-
tra placa metálica com o macaco hidráulico. Essa placa é ¿xada por meio de conectores
afastados do per¿l laminado e é um pouco elevada em relação ao mesmo, permitindo que
este se desloque livremente por baixo do mecanismo. Recorda-se que quando do início
dos procedimentos de protensão, o laminado está totalmente resinado com epóxi ainda
não curado.
Quando o macaco hidráulico é acionado, a placa extrema começa a se deslocar, estirando
o laminado até que se atinja o deslocamento (¨) previsto para que seja criada a força de
protensão necessária.

473
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Após o endurecimento do adesivo epoxídico recomendado para cada sistema de proten-


são, o equipamento de protensão é retirado e a placa de aço que ¿xa a extremidade do
laminado por onde é feita a protensão é retirada para novas utilizações. Finalmente, o
excesso de laminado que não for utilizado diretamente no sistema de protensão é cortado.
Os procedimentos de cálculo para o projeto de reforços com a utilização de sistemas de
laminados protendidos foram apresentados anteriormente neste Capítulo.
A Tabela 11.7 apresenta as principais características mecânicas dos laminados passivos e
para protensão disponíveis no mercado nacional.

Passivos Protendidos
Força de Força de Força de Força de
Laminados LM tração a 0,6% tração a 0,8% tração a 1,0% tração a 1,2%
Seção
de extensão de extensão de extensão de extensão
f* fu>2800 N/mm2 Transversal
(mm2) Resistência à Resistência à Resistência à Resistência à
Ep = 168.000 N/mm 2
tração teórica tração teórica tração teórica tração teórica
para o cálculo para o cálculo para o cálculo para o cálculo
1000 N/mm2 1300 N/mm2 1600 N/mm2 2000 N/mm2
50/1.2(100ml) 60 60,0 kN 78,0 kN 96,0 kN 120,0 kN
50/1.4(100ml) 70 70,0 kN 91,0 kN 112,0 kN 140,0 kN
60/1.4(100ml) 84 84,0 kN 109,2 kN 134,4 kN 168,0 kN
80/1.2(100ml) 96 96,0 kN 124,8 kN 153,6 kN 192,0 kN
80/1.4(100ml) 112 112,0 kN 145,6 kN 179,2 kN 224,0 kN
90/1.4(100ml) 126 126,0 kN 163,8 kN 201,6 kN 252,0 kN
100/1.2(100ml) 120 120,0 kN 156,0 kN 192,0 kN 240,0 kN
100/1.4(100ml) 140 140,0 kN 182,0 kN 224,0 kN 280,0 kN
120/1.2(100ml) 144 144,0 kN 187,2 kN 230,4 kN 288,0 kN
120/1.4(100ml) 168 168,0 kN 218,4 kN 268,8 kN 336,0 kN

Tabela 11.7 - CaracterísƟcas mecânicas dos laminados.

11.15 EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO


Dimensionar à Àexão a viga protendida mostrada na Figura 11.22, de dimensões (30 x 50 cm)
e a ser dimensionada para os seguintes carregamentos:
– carga permanente complementar (¨g = 2,50 N/mm).
– carga acidental (p = 3,5 N/mm).
Adotar para o dimensionamento exposição ambiental não corrosiva.
Considerar:
– concreto (f'c = 45 MPa).
– considerar barra Leadline™ com (ĭb = 10 mm), (ffpu = 2860 MPa) e (Ep = 147000 MPa).

474
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Figura 11.22 – CaracterísƟcas da viga protendida do exemplo.

Características da seção geométrica:


b.h3 300.500 3
Ig = = = 3125.10 6 mm 4
12 12
y s = y i = 250 mm

Carregamento de peso próprio:

0,3.0,5.2,5
g= = 3,75 N / mm
1000

Momento de peso próprio:

3,75.10000 2
Mg = = 46,87.10 6 N.mm
8

Momento de carga permanente complementar:

2,50.10000 2
M Δg = = 31,25.10 6 N.mm
8

Momento de carga acidental:

3,50.10000 2
Mp = = 43,75.10 6 N.mm
8
Mserv = Mg + M Δg + M p = (46,87 + 31,25 + 43,75 ) .10 6 = 121,87.10 6 N.mm

Cargas majoradas:

( )
Mfac = 1,25 Mg + M Δg +1,5. M p

Mfac = 1,25 (78,12.10 6 ) +1,5. (43,75.10 6 ) = 163,275.10 6 N.mm

475
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Força de protensão:
Considerando-se o cabo com diâmetro de 10 mm e (Ap = 78,54 mm2 /tendão)

fpu = 2860 MPa ; E p = 147000 MPa ;φfp = 0,85


Pi = 0,4.fpu .Ap = 0,4.2860. (8.78,54 ) ≅ 718798 N

Características do concreto:
fc' = 45 MPa ;φc = 0,65
Ec = 0,9.5600. 45 ≅ 33810 MPa

Na hora da protensão:

fci' = 33,75 MPa ; Eci = 29280 N

Tensões no concreto na hora da protensão:

Pi 717798
= = 4,785 MPa
Ag 300.500
Pi .e.y 717798.140.250
= = 8,039 MPa
I 3125.10 6
Mg .y 46,87.10 6 .250
= = 3,75 MPa
I 3125.10 6

Tensões na ¿bra superior extrema:


f( s ) = −4,785 + 8,039 − 3,750 = −0,496 MPa ( compressão )
−0,496 < −0,6.fci' = −0,6.33,75 = −20,25 MPa OK !

Tensões na ¿bra inferior extrema:


f( i ) = +4,175 − 8,039 + 3,750 = +0,496 MPa ( tração )
0,496 < +0,25. fci' = +0,5. 33,75 = +1,452 MPa OK !

Na seção do apoio:
Pi 717798
= = 4,785 MPa
Ag 300.500
Pi .e.y 717798.40.250
= = 2,297 MPa
I 3125.10 6

Mg .y
=0
I

f( i ) = −4,785 − 2,297 = −7,082 MPa ( compressão )


−7,082 < −0,6.fci' = −0,6.33,75 = −20,25 MPa OK !
f( s ) = −4,785 + 2,297 = −2,488 MPa ( compressão )

476
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

Perdas de protensão:
Encurtamento elástico
fcir
ES = E p .
Eci

fcir - tensão no concreto na ¿bra correspondente ao centro de gravidade do cabo.


Pi Pi .e2 Mg .e
fcir = + −
Ag Ig Ig
717798 717798.140 2 46,87.10 6.140
fcir = + − = 4,785 + 4,502 − 2,100
300.500 3125.10 6 3125.10 6
fcir = 7,187 MPa
7,187
Es = 147000. = 36,083 MPa
29280

Fluência:
kcr .E p (fcir − fcds )
CR = ⎡⎣1,37 − 0,77 (0,01.RH ) ⎤⎦ .
2

Ec

RH - umidade média relativa do ar.


kcr = 2,0 para elementos protendidos.
fcds – tensão no concreto na ¿bra correspondente ao centro de gravidade dos cabos, positi-
va se de tração, devido às cargas permanentes existentes na hora da protensão.

Msd .e 46,87.10 2 .140


fcds = = = 2,10 MPa
Ig 3125.10 6

Umidade relativa do ar:


Considerando-se a umidade relativa do ar = 60%, vem,
147000. (7,187 − 2,10 )
⎡ 2

CR = ⎣1,37 − 0,77.(0,01.60 ) ⎦ .2,0. = 25,240 MPa
29280

Retração no concreto:
SH = 117 − 1,05.RH = 117 − 1,05.60 = 54,0 MPa

Perda por relaxação:


REL = REL 1 + REL 2 +REL 3
REL 1 = 0,6% da transferência de tensões.
REL 2 = 2,0% da transferência de tensões.
REL 3 = 0 para FRP com ¿bras de carbono.
REL = (0,6% + 2,0% + 0)(0,4.2860) = 29,744 MPa

477
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Admitindo-se que a transferência ocorra com a idade de três (3) dias, vem:
REL 1 = 0,23 + 0,345.log(t) = 0,23 + 0,345.log(3) = 0,395%
REL 1 = 0,00395.0,4.2860 = 4,519 MPa
REL 2 = 2,6 - 0,395 = 2,205%
REL 2 = 0,02205.0,4.2860 = 25,225 MPa
Pe R = ch [0,4.2860 - (25,24 + 54,0 + 25,225)](78,54.8) = 653160 N
Pe 653160
fpe = = = 1039,534 MPa
Ap( tot ) 628,32

Pmacaq. = [0,4.2860 + 36,083 + 4,519].628,32 =744309 N

Tensões devidas à curvatura:


Ângulo de desvio,
100.180
θ= = 0,764 o
7500.π
r2 Efp .π 52 147000.π
Rn = = = 1062 mm
2 P (1 − cosθ ) 2 718797(1 − cos0,764 )
Efp .y 147000.5
fh = = ≅ 692 MPa
Rch 1062

Tensão máxima no cabo na hora da protensão:


Pj Efp .y 744309
fmax = + = + 692 = 1876,6 MPa
Afp Rch 628,32

Tensões em serviço:
seção central
Pe 653160
= = 4,354 MPa
Ag 300.500
Pe .e.y 653160.140.250
= = 7,315 MPa
I 3125.10 6
Mserv .y 121,87.10 6 .250
= = 9,750 MPa
I 3125.10 6
f( s ) = −4,354 + 7,315 − 9,570 = −6,609 MPa
− 6,609 < −0,45.fc' = −0,45.45 = −20,250 MPa
f( i ) = −4,354 − 7,315 + 9,750 = −2,099 MPa
Resistência da seção média:
Pe 653160
fpc = = = 1039,54 MPa
Ap 628,32
fpe 1039,54
ε pe = = = 0,0071
Ep 147000

478
Capítulo 11 - Dimensionamento de Vigas Isostáticas de Concreto Protendidas com a Utilização de Compostos FRP

ffpu 2860
ε fp = = = 0,0195
Ep 147000
α1 = 0,85 − 0,0015.fc' = 0,85 − 0,0015.45 = 0,783
β1 = 0,98 − 0,0025.fc' = 0,97 − 0,0025.45 = 0,858
∅c .fc' ⎛ ε cu ⎞
ρb = α1 .β1 .
∅fp .fpu ⎜⎝ ε cu + ε fp − ε pe ⎟⎠

0,65.45 ⎛ 0,0035 ⎞
ρb = 0,783.0,858. ⎜ ⎟ = 0,018
0,85.2860 ⎝ 0,0035 + 0,0195 − 0,071 ⎠
Ap 628,32
ρ= = = 0,0054
b.d p 300. (250 + 140 )
ρ = 0,0054 > ρb = 0,0018 OK

11.16 FOTOGRAFIAS DE SISTEMAS FRP APLICADOS


Protensão Externa em Vigas por Meio de Cabos FRP

FotograĮa 11.2 – Protensão externa por meio de cabos FRP.

FotograĮa 11.3 – Equipamento para protensão de laminado FRP10.

10 - Sistema de protensão uƟlizado pela S & P Clever Reinforcement.

479
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 11.4 – Sistema de protensão.

FotograĮa 11.5 – Sistema de protensão em viaduto.

480
CAPÍTULO 12

PROCESSO CONSTRUTIVO DOS SISTEMAS FRP

12.0 REPARO DO SUBSTRATO E PREPARAÇÃO SUPERFICIAL


O comportamento dos membros de concreto reforçados com sistemas FRP são altamente
dependentes das características do substrato do concreto onde os mesmos serão aplica-
dos. Para tanto, os concretos poderão ter que ser submetidos à intervenções que melho-
rem a sua capacidade de suporte e tornem as superfícies saudáveis para o recebimento
dos esforços transmitidos pelo sistema FRP. As exigências de um substrato saudável e
uma superfície descontaminada são requisitos fundamentais para a aplicação de qualquer
tipo de reforço, não somente para os sistemas FRP.
Podemos considerar as providências necessárias para a aplicação dos sistemas de reforço
estruturados com FRP segundo dois tipos distintos:
– Reparação do substrato.
– Reparação super¿cial.

12.1 REPARAÇÃO DO SUBSTRATO


Os problemas associados com as condições físicas do concreto original e do substrato do
concreto, particularmente, comprometem a integridade do sistema aplicado diretamente
sobre ele. Dois são os principais problemas relacionados ao substrato: os mecanismos de
corrosão instalados e as ¿ssuras estruturais existentes.

12.1.1 CORROSÃO DAS ARMADURAS

Se o substrato de concreto manifestar corrosão do aço das armaduras existentes, o sis-


tema FRP não poderá ser aplicado até que essa manifestação seja saneada. Como as
forças expansivas do processo de corrosão não são facilmente mensuráveis, a melhor
solução é a extirpação da virulência do fenômeno. O processo deverá ser completamente
interrompido, as armaduras existentes deverão ter a sua seção transversal reconstituída,
passivadas e a seção dani¿cada do concreto no campo interessado totalmente recuperada
e integralmente reconstruída.

481
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

12.1.2 INJEÇÃO DE FISSURAS

As ¿ssuras estruturais com aberturas acima de 0,2 mm podem afetar a resistência da se-
ção de concreto e deverão ser injetadas. As ¿ssuras com aberturas inferiores a 0,2 mm
podem exigir a injeção de resinas para a sua colmatação.

12.2 PREPARAÇÃO DAS SUPERFÍCIES


A preparação das superfícies do concreto deve atender às exigências de aplicação prevista
para o sistema FRP empregado.
As aplicações podem exigir preparação para dois tipos de instalação dos sistemas FRP,
conhecidas como “colagem crítica” e “contato crítico”.
As aplicações que exigem colagem crítica são as dos reforços à Àexão ou ao corte de vi-
gas, lajes, colunas ou paredes, que necessitam de uma colagem e¿ciente entre o elemento
de FRP e o concreto. Nas aplicações que exigem um contato crítico, tais como o con¿na-
mento de colunas, exigem apenas um contato íntimo (próximo) entre o sistema FRP e o
concreto. As aplicações de contato crítico não exigem uma colagem de adesão total entre o
FRP e o concreto, necessária apenas na colagem das extremidades dos elementos do sis-
tema FRP. Entretanto, para facilitar a aplicação dos sistemas FRP nesse tipo de aplicação,
essa colagem deve ser realizada na totalidade da superfície de contato.

12.2.1 APLICAÇÕES DE COLAGEM CRÍTICA

O concreto ou as superfícies às quais o sistema FRP será aplicado deverão ter uma exposição
recente, conseguida através de lixamento ou jateamento abrasivo, e não apresentar vazios
aparentes ou descobertos através do “tap-test” (batida de chocos). Se as ¿bras tiverem que
envolver os cantos (quinas) de seções quadradas ou retangulares (prismáticas) os mesmos
deverão ser arredondados com um raio mínimo de 1,5 cm (§ ½”) para evitar a concentração de
tensões nos cantos e evitar a criação de vazios na dobra, entre o concreto e o FRP.
Os vazios super¿ciais deverão ser preenchidos com massa regularizadora e as marcas de
formas ou rugosidades excessivas deverão ser desbastadas antes da instalação do sistema.
Toda a contaminação super¿cial, tais como pinturas, sujeira, substâncias sólidas aderidas,
poeira e pós, substâncias oleosas e graxas, etc., que possam interferir com a e¿ciência da
colagem, deverá ser removida.
Os cantos internos e superfícies côncavas podem exigir detalhamentos especiais para as apli-
cações de ¿bras de FRP, tendo em vista a tendência de reti¿cação das mesmas sob tensão.
Após o término das operações de preparação das superfícies para a aplicação do sistema
FRP as mesmas deverão ser limpas e protegidas até a instalação do sistema.
Devem ser veri¿cadas, também, as condições de transmissão do vapor de água intersticial,
estabelecendo condições de alívio da mesma para evitar o descolamento do sistema aplicado.

482
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

12.2.2 APLICAÇÕES DE CONTATO CRÍTICO

Nesse tipo de aplicação, que envolve o con¿namento de elementos de concreto armado por
sistemas FRP, a preparação das superfícies deve facilitar o contato contínuo entre o concre-
to e o FRP. A sonoridade do concreto deve ser veri¿cada antes da aplicação do sistema. As
superfícies resultantes devem ser planas ao máximo, ou convexas, para permitir o adequado
carregamento do sistema. Materiais com pouca resistência à compressão e baixos módulos
elásticos, que podem reduzir a e¿ciência dos sistemas FRP, devem ser removidos.

12.3 SISTEMAS EMBUTIDOS NA SUPERFÍCIE (NSM)


Os sistemas embutidos na superfície, NSM, são tipicamente instalados em ranhuras corta-
das na superfície do concreto. As armaduras de aço existentes não podem ser dani¿cadas
quando as ranhuras forem cortadas.
De maneira idêntica aos procedimentos anteriores, a sonoridade do concreto deve ser
testada antes da instalação do sistema FRP nas ranhuras. As faces internas das ranhuras
devem ser limpas para garantir a adequada colagem ao concreto.
Quando da instalação dos elementos de FRP as ranhuras devem ser completamente
preenchidas com o adesivo especi¿cado pelo fornecedor do sistema.

12.4 RECUPERAÇÃO DO SUBSTRATO DE CONCRETO -


APRESENTAÇÃO ILUSTRADA
Para facilitar o entendimento do exposto acima, as etapas de preparação das estruturas de
concreto para o recebimento dos sistemas FRP serão apresentadas, de forma ilustrada,
passo a passo.
Para que seja garantida a instalação do sistema FRP é fundamental que o substrato ao
qual ele será aderido esteja íntegro e são, ou seja, que disponha de su¿ciente resistência
mecânica para que sejam procedidas as transferências de esforços que acontecem na in-
terface concreto armado/sistema FRP. Assim, todas as patologias signi¿cativas existentes
no substrato deverão ser corrigidas.
Uma das ocorrências mais frequentes é a presença de corrosão nas armaduras. Assim,
torna-se necessário a recuperação e a passivação das barras de aço afetadas pelo proces-
so corrosivo e a remoção e posterior recuperação das superfícies de concreto degradadas
em decorrência daquela manifestação.De modo geral torna-se necessário a execução dos
seguintes procedimentos:

12.4.1 PESQUISA E DELIMITAÇÃO DAS ÁREAS AFETADAS

A primeira providência a ser tomada é a correta e completa determinação e delimitação das


áreas contaminadas pela corrosão e/ou desagregação do concreto, por que razão seja.
Embora as áreas mais agredidas normalmente possam ser determinadas imediatamente
pela simples inspeção visual algumas outras, onde o processo se encontra ainda em fase
mais incipiente, exigem uma cuidadosa prospecção para serem descobertas.

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Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Um dos procedimentos mais utilizados para essa avaliação consiste no processo deno-
minado de “tap-test” (ou mais comumente, bater o choco), que consiste basicamente em
aplicar pancadas na superfície do concreto através de um martelo de aço para, através da
resposta sonora às batidas, determinar a compacidade do substrato do concreto. O proce-
dimento é mostrado esquematicamente através da Figura 12.1.

Figura 12.1 – Determinação das áreas agredidas.

Frequentemente quando da aplicação do teste de veri¿cação recomendado é comum que,


determinada a ocorrência de uma fragilidade do substrato, o martelo seja substituído por
marretas mais pesadas que já desplacam os cobrimentos deteriorados e expõem o subs-
trato corroído, conforme mostrado na Figura 12.2.

Figura 12.2 – Exposição das áreas agredidas.

Entretanto, se essa providência não for implementada logo a seguir ao “tap-test” (bater o
choco) recomenda-se que as áreas fragilizadas sejam demarcadas com a utilização de giz
ou mesmo tinta para permitir a sua posterior demolição.

12.4.2 REMOÇÃO DO SUBSTRATO DE CONCRETO CONTAMINADO

O procedimento padrão para a recuperação das áreas contaminadas por corrosão das
armaduras consiste em retirar todo o concreto deteriorado até que se obtenha a exposição

484
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

completa de uma superfície do concreto sã e íntegra. Admita-se uma área imaginária con-
taminada exposta de um pilar (ou viga) conforme mostrado na Figura 12.3.

Figura 12.3 – Preparação de um pilar (ou viga) imaginário.

A primeira providência deve ser o estabelecimento de um contorno geométrico linear bem


de¿nido da área a ser recuperada. Essa delimitação geralmente é feita com a utilização de
um equipamento de serra com disco diamantado que estabelece bordas retas com pelo
menos 5 mm de profundidade, como mostra-do na Figura 12.4.
Uma vez delimitada a área a ser tratada passa-se à remoção do concreto contaminado. Es-
pecial cuidado deve ser tomado para que o processo de remoção não seja muito agressivo
a ponto de introduzir micro¿ssuras na massa de concreto decorrentes da energia empre-
gada. Caso isso aconteça, todas as partículas sólidas aderidas, assim como pós e poeiras,
devem ser completamente retiradas.

Figura 12.4 – Remoção cuidadosa do material contaminado.

Observar que deve ser exposta toda a armadura eventualmente corroída, signi¿cando que
deve ser removido de 1,5 a 2 cm do concreto situado abaixo (por detrás) das barras expos-
tas. Esta providência tem por objetivo garantir um bom acesso que permita a correta lim-
peza das barras da armadura assim como permitir o completo envolvimento e passivação
da mesma quando colocado o material de reparo. Não deve ser permitida, sob qualquer
pretexto, a retirada do material apenas nas laterais das barras da armadura corroída, dei-
xando a sua parte posterior ainda imersa no concreto contaminado. Caso isso aconteça
será inevitável a formação de uma pilha de corrosão eletroquímica, gerada pela diferença

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Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

dos materiais, uma vez que parte inferior do concreto funcionará como ânodo e a parte
nova, recuperada, funcionará como cátodo, originando um processo de corrosão muito
mais acelerado e agressivo que o anteriormente detectado. A conformação ideal para o
desmonte é a mostrada esquematicamente na Figura 12.5.

Figura 12.5 – Exposição correta das armaduras corroídas.

12.4.3 RECOMENDAÇÕES ESPECIAIS

Caso ocorram manifestações de corrosão muito próximas umas das outras é de todo con-
veniente que as áreas de reparos sejam agrupadas em uma única área de geometria bem
de¿nida, conforme pode ser observado na Figura 12.6.

Figura 12.6 – Solução para incorporação para áreas de reparo muito próximas.

12.4.4 LIMPEZA E PASSIVAÇÃO DAS ARMADURAS

O procedimento padrão para a recuperação das armaduras contaminadas por corrosão é


o que se apresenta na sequência.
Se constatada uma redução (perda) de seção transversal da armadura após a operação de
limpeza das mesmas da ordem de 15% a 25% da seção original da barra é recomendável
a colocação de armadura suplementar para que seja recomposta a seção de aço origi-
nalmente recomendada. Essa nova armadura deverá estar convenientemente ancorada,
seguindo rigorosamente as recomendações das normas estruturais. Caso a nova arma-

486
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

dura esteja previamente imprimada o comprimento de ancoragem a ser adotado deve ser
aumentado. Essa substituição é mostrada esquematicamente na Figura 12.7.

Figura 12.7 – Complementação de seção de armadura.

Apesar de permitida pelas normas técnicas estruturais a utilização de solda para diminuir o
comprimento de ancoragem, se possível, deve ser feita com cuidados especiais para que as
altas temperaturas envolvidas no processo não alterem tanto as características do aço como
a qualidade do concreto. Antes desse procedimento é recomendável a constatação de que o
aço existente admite os procedimentos de solda.
A limpeza das armaduras é fator fundamental para o resultado da recuperação proposta. Para
tanto, todo o produto de corrosão aderido às superfícies das barras das armaduras deverá ser
completamente retirado antes que sejam colocados os materiais de reparo. Viabilizam-se os pro-
cedimentos de eliminação da corrosão baseados em limpeza rigorosa utilizando lixas e mesmo
jatos de areia ou limalhas. Se a contaminação for decorrente de cloretos ou se o material a ser
utilizado no reparo for epoxídico ou polimérico a limpeza com a utilização de jato de areia é alta-
mente recomendável, embora atualmente exista uma restrição muito grande à utilização desse
método em função das recomendações de segurança dos operadores do equipamento. No caso
em foco devem ser feitos uma escovação intensa (escova de aço) e lixamento. Em hipótese al-
guma deve ser utilizado zarcão para a pintura das armaduras de concreto armado.

Figura 12.8 – Procedimento de limpeza da armadura.

A Figura 12.8 mostra alguns dos procedimentos mais usuais para a limpeza da corrosão
das barras da armadura tais como escovas de aço, lixas e espátulas.

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Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Após a limpeza das armaduras é feita a “passivação” das mesmas com a utilização de produ-
tos especí¿cos. Os produtos anticorrosivos mais utilizados para a passivação das armaduras
são os primers anticorrosivos com base cimentícia e os primers anticorrosivos com base epóxi.
A Figura 12.9 indica como deve ser feita a passivação da armadura. É fundamental que a parte
inferior das barras da armadura esteja totalmente imprimada para que a passivação tenha êxito.

Figura 12.9 – Passivação das barras de armadura.

12.4.5 CONSTRUÇÃO DA PONTE DE ADERÊNCIA

Sempre é aconselhável a construção de uma ponte de aderência nos reparos de áreas


com manifestação de corrosão das armaduras. A ponte de aderência, além de permitir
uma completa aderência entre o reparo e o substrato de concreto funciona também como
uma barreira de proteção para a região do reparo. A primeira etapa dessa construção é a
limpeza cuidadosa da superfície que vai receber a ponte de aderência, conforme indicado
na Figura 12.10.

Figura 12.10 – Nova limpeza e saturação para execução da ponte de aderência.

Após a limpeza, e imediatamente antes de se aplicar a ponte de aderência, as superfícies


interessadas deverão ser umedecidas. Deve ocorrer saturação da superfície sem que, en-
tretanto, ocorram encharcamentos, conforme mostrado na Figura 12.10. Em faces inferiores
muitas vezes usa-se a aplicação de estopas ou sacos de aniagem molhados para conseguir
o objetivo de saturar a superfície do concreto onde se aplicará a ponte de aderência. Final-
mente deve ser construída a ponte de aderência conforme mostrado na Figura 12.11.

488
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

O ideal é a utilização de uma ponte de aderência cimentícia (de preferência) ou epoxídica


(nesse último caso é muito importante que a aplicação da camada seguinte seja feita den-
tro do período de atividade da resina epóxi).

Figura 12.11 – Construção da ponte de aderência.

12.4.6 RECONSTITUIÇÃO DA SEÇÃO DA PEÇA.

Finalmente, a última etapa de recuperação consistirá na recomposição da seção de modo


a se completar o reparo estrutural. Mais uma vez é recomendado o umedecimento da in-
terface de contato de reparo.
A superfície deverá ser saturada, mas de modo a permanecer super¿cialmente seca, sem
encharcamentos, conforme mostrado na Figura 12.12.

Figura 12.12 – Umedecimento: correto (esquerda), incorreto (direita).

Saturada a interface pode-se passar à recomposição do substrato de concreto na área da


reparação, conforme mostrado na Figura 12.13.
Para a recomposição da seção os produtos utilizados devem atender aos seguintes requi-
sitos básicos:
– capacidade de aderência;
– possuir retração compensada;
– ter módulo de elasticidade compatível com o sistema de reparo;

489
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

– possuir baixa permeabilidade;


– ter resistência mecânica compatível com a do elemento no qual irá atuar;
– ter su¿ciente resistência à agressividade do meio ambiente;
– ter su¿ciente resistência a ataques químicos.

Figura 12.13 – Recomposição da seção.

É muito importante considerar que o reparo em superfícies verticais e em faces inferiores


deve ser feito em camadas, conforme a orientação do fornecedor do produto. Quando a
superfície é horizontal, face superior de lajes ou topos de vigas os produtos indicados ad-
mitem a aplicação em uma só camada, principalmente os grautes.

12.4.7 CURA DA PEÇA ESTRUTURAL RECUPERADA

Após a recomposição da seção é essencial que seja procedida a sua cura, que deve durar
pelo menos 07 dias, se a peça não for revestida ao ¿m de 72 horas. Esse procedimento é
mostrado na Figura 12.14.

Figura 12.14 – Cura Įnal do reparo.

Muitas vezes, pela própria posição da peça de concreto, não será possível a cura pelos
processos mais convencionais como a imersão, o lançamento de água pulverizada conti-
nuamente e/ou o contato com esponja saturada. Neste caso recomenda-se a adoção da

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Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

cura química com produto apto a não criar uma barreira de aderência posterior para os
revestimentos ou outros acabamentos.

12.4.8 RECUPERAÇÃO DE FISSURAS E TRINCAS ESTRUTURAIS

O concreto armado é por natureza um material FRP ¿ssurado. Entretanto, a maioria das
¿ssuras são de abertura muito pequena e, por isso, denominadas micro¿ssuras.
O que causa preocupação são as ¿ssuras que tiveram origem nas deformações por carre-
gamentos das peças. As ¿ssuras, para efeitos práticos, podem ser classi¿cadas em duas
categorias distintas: ¿ssuras com abertura menor que 0,20 mm; ¿ssuras com abertura
maior que 0,20 mm.

Figura 12.15 – Injeção de Įssuras.

Todas as trincas existentes na estrutura a ser reforçada deverão ser recuperadas. Além
delas, as ¿ssuras com aberturas maiores que 0,20 mm também deverão ser tratadas.
Podem ser utilizados para essa recuperação os procedimentos convencionais de injeção
das mesmas com epóxi sob pressão, como mostrado esquematicamente na Figura 12.16.

Figura 12.16 – Injeção de Įssuras.

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Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

12.4.8.1 Para ¿ssuras com abertura menor do que 0,2 mm

Fissuras com abertura menor do que 0,2 mm não conseguem ser injetadas com materiais
epoxídicos.
O procedimento utilizado para a sua selagem passa pela seguinte sequência construtiva:
– limpeza e secagem da seção a ser injetada;
– preparação da solução a ser aplicada na selagem das ¿ssuras;
– primeira aplicação da solução por meio de brocha ou escova;
– segunda aplicação da solução, agora mais concentrada, decorridas 24 horas da
aplicação anterior;
– enxaguar a superfície ainda úmida com água limpa para a remoção do excesso de
cristais da solução aplicada.

12.4.8.2 Fissuras com abertura maior que 0,2 mm

A metodologia padrão empregada para a injeção desse tipo de ¿ssuras é a indicada na


sequência:
– colocação de bicos injetores a cada 30 cm ao longo do desenvolvimento da ¿ssura,
calafetando a mesma com argamassa epoxídica ou de poliéster;
– testar a comunicabilidade do sistema de bicos injetores por meio de injeção de ar
comprimido;
– injetar sob pressão as ¿ssuras com a resina especi¿cada através dos bicos injeto-
res por meio de equipamento apropriado de injeção;

Figura 12.17 – Bombas injetoras mono e bicomponentes.

– o procedimento padrão é o de se começar a injeção pelo bico inferior até que a


resina purgue no bico imediatamente superior.

492
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

Obtura-se o bico em utilização e transfere-se a injeção para o bico onde ocorreu a purga do
material. O processo continua nesta sequência até que se consiga a obturação completa
da ¿ssura.

Figura 12.18 – Sequência de injeção através dos bicos injetores.

De modo geral, é muito difícil a injeção ou selagem de ¿ssuras com aberturas médias in-
feriores a 0,2 mm.

12.4.9 IRREGULARIDADES SUPERFICIAIS

Os sistemas compostos FRP aderidos às estruturas de concreto armado podem acompa-


nhar o contorno da maioria das superfícies desenvolvidas nas peças.
Devido a esse fato, para que não ocorram empuxos em vazio torna-se necessário o preen-
chimento das eventuais cavidades existentes bem como o desbaste das elevações para
conformar uma superfície o mais plana possível.
No caso de uma depressão não corrigida previamente no concreto, a pressão causada
pela curvatura dessa depressão pode criar uma pressão localizada, conforme mostrado na
Figura 12.19.
Para o caso de ocorrer uma elevação localizada na superfície da peça de concreto essa
elevação pode produzir um efeito de “ponte” nas lâminas de FRP coladas que ¿cam pon-
tualmente apoiadas nas mesmas e com trechos elevados em relação à superfície do con-
creto. Nesse caso se produz um cisalhamento localizado, conforme pode ser visto na Fi-
gura 12.20.
Para que a delaminação do sistema FRP seja evitado nesses casos é recomendado que se
faça uma preparação cuidadosa da superfície de concreto antes que seja aplicado o siste-
ma composto. Para a calafetação das depressões recomenda-se a utilização das massas
regularizadoras epoxídicas (“putty ¿llers”).
O desbaste de arestas ou linhas de formas deve ser feito com disco de desbaste ou me-
canicamente.

493
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Figura 12.19 – Delaminação devido ao empuxo em vazio do FRP.

Figura 12.20 – Delaminação devido ao efeito ponte no FRP.

12.4.9.1 Utilização de ancoragens mecânicas

Sempre que possível deve ser evitada a utilização de ancoragens mecânicas para os sis-
temas compostos FRP, tendo em vista o elevado custo das mesmas.
Desde que sejam utilizadas ancoragens mecânicas, tornam-se necessário cuidados rigo-
rosos de projeto e execução devido aos problemas de cisalhamento dos conectores e du-
rabilidade das extremidades das lâminas de ¿bra de carbono depois de serem perfuradas
para a ¿xação dos conectores.

12.4.9.2 Veri¿cação da resistência do substrato de concreto

Para que um sistema FRP possa ser considerado adequadamente aderido ao substrato de
concreto esse último deverá possuir uma resistência de arrancamento de pelo menos 14 MPa.
Para determinar a capacidade do substrato é utilizado o teste denominado “pull- test”, que con-
siste na colagem diretamente sobre o substrato de uma placa metálica quadrada de lado 5 cm,
que, após a cura completa do adesivo, será tracionada por um dispositivo mecânico até que
se produza o seu arrancamento do substrato, determinando assim a resistência do mesmo.
A Figura 12.21 mostra esquematicamente como é realizado o teste. No ¿nal desse capítulo
mais informações sobre o “pull-test” serão fornecidas.

494
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

Figura 12.21 – Teste de resistência do substrato de concreto.

12.5 PREPARAÇÃO DA SUPERFÍCIE PARA O RECEBIMENTO DO SISTEMA FRP


A preparação das superfícies de concreto onde será aplicado o sistema FRP será determi-
nada em função das duas hipóteses possíveis de funcionamento estrutural:
– predominância da condição crítica de colagem do FRP;
– predominância da condição crítica de contato íntimo.
As aplicações com o objetivo de reforço para os esforços de Àexão e de cisalhamento em
vigas, lajes ou pilares de concreto armado exigem que seja estabelecido um sistema de co-
lagem bastante e¿ciente para que seja possível uma adequada transferência de esforços
entre os meios aderidos, caracterizando a condição crítica de colagem. O con¿namento de
colunas, por sua vez, exige mais uma condição de contato e¿ciente entre o concreto e o
sistema FRP, caracterizando a condição de contato íntimo.

Figura 12.22 – Limpeza da superİcie de instalação do sistema.

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Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

12.5.1 PROCEDIMENTOS PARA COLAGEM CRÍTICA

12.5.1.1 Limpeza e preparação da superfície

A limpeza da superfície onde deverá ser aderido o sistema FRP deve ser feita com a utili-
zação de abrasivos ou jatos de areia ou limalhas metálicas. Esta limpeza deve contemplar
a remoção de poeira, pó, substâncias oleosas e graxas, partículas sólidas não totalmente
aderidas, recobrimentos diversos como pinturas, argamassas, etc. Também deverão ¿car
totalmente expostas quaisquer brocas ou imperfeições super¿ciais signi¿cativas.

Figura 12.23 – Arredondamento dos cantos vivos.

No caso em que o sistema FRP exigir o recobrimento de mais de uma superfície lateral da
peça ocorrerá a necessidade de arredondamento das quinas envolvidas nessa aplicação,
visando com isso evitar concentração de tensões na ¿bra de carbono e eliminar eventuais
“vazios” entre o concreto e o sistema por de¿ciência na colagem. Esse arredondamento
é mostrado na Figura 12.23. Os cantos rugosos devem ser suavizados com aplicação de
massa regularizadora apropriada com acabamento lixado.
Para que as demais etapas possam ser implantadas, todas as superfícies sobre as quais
será implantado o sistema FRP deverão estar secas, sem umidade intersticial, uma vez
que a presença de água pode inibir a penetração das resinas e reduzir drasticamente a
e¿ciência da ponte de aderência necessária.
No caso de contato crítico, nas aplicações que envolvam o con¿namento das peças de
concreto armado, a preparação das superfícies deve ser fundamentalmente direcionada
no sentido de que seja estabelecido um contato íntimo e contínuo entre as superfícies
envolvidas. Essas superfícies não podem apresentar concavidades ou convexidades que
impeçam o carregamento correto do sistema FRP. As irregularidades super¿ciais expressi-
vas devem ser corrigidas através do seu preenchimento (caso de brocas) com material de
reparação compatível com as características mecânicas do concreto existente ou através
da sua remoção (caso das juntas de formas).
Uma vez concluída a recuperação do substrato de concreto pode-se partir para a aplicação
propriamente dita do sistema FRP, que se faz segundo as seguintes etapas:

496
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

12.5.1.2 Aplicação do imprimador primário

Os imprimadores primários têm como objetivo penetrar nos poros do concreto, colmatan-
do-os para que, juntamente com a película aderida à superfície do concreto, seja estabe-
lecida uma ponte de aderência e¿ciente, sobre a qual será instalado o sistema, conforme
mostra a Figura 12.24.

Figura 12.24 – Aplicação do imprimador primário.

12.5.1.3 Aplicação do regularizador de superfície

As massas regularizadoras de superfície são utilizadas para a calafetação e/ou regula-


rização das superfícies de concreto onde serão aplicados os sistemas, garantindo o es-
tabelecimento de uma superfície desempenada contínua. Quanto maior a irregularidade
super¿cial maior será o consumo desse material.
Devido à grande Àexibilidade dos sistemas FRPs essas superfícies não necessitam obri-
gatoriamente estarem niveladas com a horizontal, admitindo-se alguma ondulação residual
sem que ocorra risco de diminuição da e¿ciência do sistema. A Figura 12.25 mostra a regu-
larização da superfície de uma estrutura. Observe-se que a aplicação da pasta regulariza-
dora é feita apenas para as regularidades contidas dentro da área imprimada.

Figura 12.25 – Regularização da superİcie com a pasta regularizadora.

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Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

12.5.1.4 Corte e imprimação das ¿bras de carbono

As lâminas de ¿bra de carbono serão previamente cortadas em bancadas especialmente


montadas para o corte. São utilizados para o corte uma régua metálica, tesoura de aço
(para o corte transversal) e faca de corte ou estilete (para o corte longitudinal) como mos-
trado na Figura 12.26.

Figura 12.26 – Corte da Įbra de carbono.

Após o corte, as lâminas de ¿bras de carbono deverão ser aderidas às peças a serem re-
forçadas. Existem duas maneiras distintas para se executar esse procedimento:

12.5.1.5 Saturação via úmida

Nessa alternativa a lâmina de ¿bra de carbono é saturada em bancada própria, sendo depois
transportada para a sua aplicação na peça a ser reforçada, conforme mostra a Fotogra¿a 12.1.

FotograĮa 12.1 – Saturação da Įbra de carbono na bancada.

12.5.1.6 Saturação via seca

Nessa alternativa a saturação é feita diretamente sobre o concreto da peça a ser reforçada
para em seguida ser colada a lâmina de ¿bra de carbono, como mostra a Figura 12.27.

498
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

Existem duas correntes distintas com relação ao procedimento de saturação. A primeira


corrente advoga que a saturação da lâmina na bancada conduz a uma condição de traba-
lhabilidade e economia de resina maior que a corrente que advoga a saturação diretamen-
te na peça de concreto a ser reforçada.

Figura 12.27 – Saturação diretamente sobre o concreto.

Por sua vez, a aplicação via úmida conduz a uma limitação no comprimento da lâmina a
ser transportada, da ordem de 3,5 a 4,0 m. En¿m, cabe ao aplicador de¿nir qual o sistema
a ser adotado uma vez que o resultado ¿nal para ambos os procedimentos não é alterado.

12.5.1.7 Aplicação da lâmina de ¿bra de carbono

O ferramental utilizado para a aplicação dos sistemas FRP é muito simples, como pode ser
observado na Fotogra¿a 12.2. Além dessas ferramentas necessita-se de uma boa tesoura
de aço para o corte das lâminas de FRP.

FotograĮa 12.2 – Ferramental para a aplicação do sistema FRP.

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Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

A colocação da lâmina de ¿bra de carbono, independentemente do tipo de imprimação uti-


lizado, deve ser imediata, uma vez que o tempo de aplicação da resina saturante (pot-life)
é muito curto, no máximo 25 a 30 minutos.
Dentro desse intervalo de tempo ainda é possível se fazer ajustes de alinhamento e prumo
das lâminas de ¿bra de carbono para o seu correto posicionamento. Essa operação está
indicada esquematicamente na Figura 12.28.

Figura 12.28 – Aplicação da lâmina de Įbra de carbono.

12.5.1.8 Redução da resistência em função do desalinhamento da ¿bra

Com relação ao alinhamento das ¿bras de carbono o ACI Committee 440 estabelece quando
da aplicação das lâminas que se observe visualmente a orientação das ¿bras de carbono
de modo a que não se permita a ocorrência de ondulações ou desvios de direção maior que
um desvio máximo de 5º (87 mm/m) da direção especi¿cada no projeto de reforço. Qualquer
desvio maior que esse observado na obra deve ser comunicado ao engenheiro projetista.
Quando as ¿bras de carbono não são aplicadas alinhadas com o eixo longitudinal da peça de
concreto armado (ȕ = 0º) pode ocorrer uma redução na resistência efetiva do sistema CFC, uma
vez que seráo somada à resultante das tensões normais a resultante das tensões tangenciais
geradas no sistema em função do desalinhamento. Essa situação é mostrada na Figura 12.29:

Figura 12.29 - Esforços devidos ao desalinhamento do CFC.

De acordo com a ¿gura acima, a tensão normal resultante na ¿bra de carbono (Vȕ) será
dado pela seguinte expressão: (Vȕ) = Vc . sec2ȕ.

500
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

Como geralmente os sistemas compostos FRP são aplicados manualmente torna-se neces-
sário muito cuidado para que a mesma esteja perfeitamente alinhada com o eixo longitudinal
da peça para que não ocorra nenhuma redução sensível na resistência ¿nal à tração do
sistema. Para que a lâmina de ¿bra de carbono ¿que perfeitamente aderida ao substrato de
concreto é executado imediatamente à colocação da mesma um procedimento para a elimi-
nação das bolhas de ar que tenham ¿cado aprisionadas na interface desses dois elementos.
Esse procedimento é denominado de “rolagem das bolhas de ar” e é feito com a utilização de
pequenos roletes de aço denteados que “empurram” as bolhas de ar até a extremidade das
lâminas, onde ¿nalmente são eliminadas, como mostrado na Fotogra¿a 12.3.

FotograĮa 12.3 – Rolagem das bolhas de ar.

12.5.1.9 Segunda camada de saturação

Terminado o posicionamento da lâmina de ¿bra de carbono é feita a segunda saturação,


por sobre a lâmina instalada, de modo a garantir que a ¿bra de carbono esteja totalmente
imersa (encapsulada). Normalmente se espera cerca de 30 minutos para essa segunda
operação de saturação. Variações de tempo podem ocorrer conforme o sistema FRP ado-
tado. A Figura 12.30 mostra esquematicamente essa operação.

Figura 12.30 – Segunda saturação da lâmina.

501
Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

Estruturalmente, está encerrada a aplicação do sistema FRP. Como podem ser necessá-
rias várias camadas de lâminas de ¿bra de carbono para o reforço estrutural da peça essas
operações são repetidas sucessivamente para cada camada adicional. Convém ressaltar
que cada lâmina exige duas imprimações independentes, não podendo a última camada
de imprimação da lâmina anterior ser utilizada para a colocação da próxima lâmina.

12.5.1.10 Revestimento estético e/ou protetor

Muitas vezes por razões estéticas se quer esconder o sistema FRP aplicado. Para esse
tipo de acabamento alguns sistemas FRP’s disponibilizam revestimentos especiais com
diversas cores e texturas.

Figura 12.31 – Aplicação do revesƟmento protetor.

Frequentemente, entretanto, o revestimento deve ser projetado para atender condições


especí¿cas de agressões físicas, mecânicas e ambientais. Nesse caso o revestimento
deixa de ser meramente estético para passar a ter uma ¿nalidade de proteção mecânica e
química do sistema FRP. A Figura 13.31 mostra a aplicação do sistema protetor por sobre
o sistema instalado.

12.5.2 EMENDA DAS LÂMINAS DE FIBRA DE CARBONO

Geralmente as emendas das lâminas de ¿bra de carbono são necessárias em função da geome-
tria da peça de concreto armado ou em função da facilidade executiva da instalação do sistema.
Apesar das lâminas das ¿bras de carbono serem fornecidas geralmente em forma de rolo
com dezenas de metros de comprimento a prática tem demonstrado que o manuseio de
lâminas com mais de 3 ou 4 metros de comprimento é bastante difícil. Assim torna-se ne-
cessário quando da elaboração do projeto de reforço com os sistemas FRP a previsão das
emendas necessárias em função da trabalhabilidade da aplicação.
Principalmente no caso em que se utiliza o sistema FRP para atender ao cisalhamento, a
necessidade de envolvimento total da seção transversal conduz à exigência de ter-se que
providenciar uma superposição que garanta a continuidade do sistema.

502
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

A melhor emenda é a que é feita por traspasse das lâminas de ¿bra de carbono no sentido
do seu comprimento.
Para sistemas FRP o comprimento de superposição (traspasse) depende da resistência de
tração e da espessura do material utilizado e a resistência de colagem entre duas camadas
adjacentes de laminados. Esse valor deve ser fornecido pelo fabricante do sistema.
Para a maioria dos tecidos, esse comprimento se situa entre 50 mm e 100 mm. Entretanto
a experiência tem demonstrado que um valor maior é recomendado para que se possa
prevenir erros de posicionamento e também compensar a ondulação da superfície de con-
creto onde será aplicado o sistema FRP. Recomenda-se para tanto um traspasse mínimo
de 150 mm .
Já para as emendas no sentido transversal àquele que suporta o esforço de tração (¿bras
colocadas lado a lado) não há necessidade de superposição. Basta que as ¿bras sejam
justapostas uma em relação à outra.
Essa disposição inclusive permite a migração da pressão de vapor do concreto armado,
permitindo que a peça possa “respirar”. Não permitir essa migração pode produzir o empo-
lamento das ¿bras de carbono.
A Figura 12.32 demonstra como devem ser consideradas as emendas longitudinais e late-
rais dos sistemas CFC.

Figura 12.32 - Emenda por traspasse e justaposição lateral.

12.6 INSTALAÇÃO DOS LAMINADOS FRP


Praticamente todos os procedimentos mostrados para a instalação de sistemas FRP’s
estruturados com tecidos (lâminas) servem para a aplicação de laminados de ¿bras de
carbono, que apresentam apenas algumas particularidades relativamente ao exposto an-
teriormente, dos quais destacamos:

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Ari de Paula Machado | Bruno Alberto Machado

FotograĮa 12.4 – Desdobramento, corte do laminado e reƟrada do “peel-ply”.

A primeira etapa de execução consiste no desdobramento e corte do laminado que será


aplicado, seguido da retirada do “peel-ply” (¿lme protetor das superfícies do laminado).
Essas operações são mostradas na Fotogra¿a 12.4.
A etapa seguinte consiste na resinação do laminado. A Fotogra¿a 12.5 mostra detalhes da
imprimação do laminado (esquerda), efetuada a partir de um gabarito que distribui a cola
com espessura constante (direita).

FotograĮa 12.5 – Operação de imprimação do laminado de FRP.

A Fotogra¿a 12.6 mostra o laminado sendo posicionado no elemento de concreto armado.


Finalmente a Fotogra¿a 12.7 mostra o ajuste ¿nal do laminado na peça sob a qual estará
aderida e a remoção do excesso de adesivo.
Pode-se observar que, a menos das características peculiares de rigidez, os processos
de aplicação das lâminas e dos laminados de ¿bra de carbono são muito semelhantes,
ressaltando-se, entretanto, que a preparação super¿cial para a utilização das lâminas de
tecido é menos rigorosa daquela necessária para os laminados em função da sua maior
Àexibilidade.

504
Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

FotograĮa 12.6 – Operação de posicionamento do laminado.

FotograĮa 12.7 – Ajuste Įnal do laminado na peça e remoção do excesso de adesivo.

12.7 INSTALAÇÃO DO SISTEMA NSM


Os procedimentos para a instalação dos sistemas FRP em montagem NSM são os indica-
dos na sequência.
A primeira etapa de instalação consiste na abertura das ranhuras onde serão inseridas as
barras ou os laminados de ¿bra de carbono, como mostrado na Fotogra¿a 12.8.
Para tanto normalmente são utilizados serras de corte com disco, que executam cortes pa-
ralelos com a largura indicada para a ranhura, como mostrado na Fotogra¿a 12.9. Depois
de executados os cortes as partes internas de concreto, com a profundidade do corte, são
retirados com a ajuda de uma ponteira ou um formão a¿ados, deixando prontos os rasgos
nos quais serão inseridos os elementos de FRP.

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FotograĮa 12.8 – Abertura de ranhuras para a inserção do FRP.

FotograĮa 12.9 – Abertura das ranhuras com serra de corte.

A próxima etapa de execução do sistema consiste na colocação da barra ou laminado de


FRP dentro da ranhura já preparada. A última etapa construtiva consiste no preenchimento
do espaço compreendido entre o elemento do sistema FRP e as laterais da ranhura com a
adequada massa epoxídica. Esta operação pode ser visualizada através da Fotogra¿a 12.10.

FotograĮa 12.10 – Inserção do sistema FRP e o resinamento do mesmo na ranhura.

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Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

12.8 INSPEÇÃO, AVALIAÇÃO E ACEITAÇÃO DOS SISTEMAS FRP


Os sistemas compostos e todos os trabalhos paralelos associados às suas instalações devem
ser inspecionados de acordo com os critérios estabelecidos pelas normas técnicas aplicáveis.
Como condição básica se admite que os requisitos de inspeção devem ser conduzidos ou
pelo menos supervisionados por engenheiro projetista ou inspetor de qualidade devida-
mente quali¿cados.
Os inspetores devem ter conhecimento adequado sobre os sistemas compostos FRP e
terem sido previamente treinados na instalação desses sistemas, sendo necessário que os
mesmos tenham habilitação su¿ciente para a compreensão dos desenhos e das especi¿-
cações do projeto de reforço a ser instalado.
Assim, os registros diários das inspeções devem conter os seguintes dados:
- data e hora da instalação do sistema.
- temperatura ambiente, umidade relativa do ar e observações gerais sobre as con-
dições climáticas (tempo).
- temperatura da superfície do concreto.
- condições da umidade da superfície (secagem).
- método de preparação da superfície de aplicação do FRP e o grau do resultado obtido.
- condições de limpeza das superfícies.
- descrição dos recursos auxiliares utilizados para garantir a secagem das superfí-
cies, se ocorrerem.
- abertura das ¿ssuras que não foram injetadas com epóxi.
- anotação dos lotes de fabricação das lâminas ou laminados de ¿bra de carbono
utilizados e a sua localização na estrutura.
- anotação dos lotes de fabricação, proporções e tempos das misturas, coloração
¿nal de todas as resinas misturadas, incluindo os imprimadores, massas regu-
larizadoras, saturantes, adesivos e mesmo os revestimentos de acabamento
utilizados no dia.
- observações relativas ao progresso da cura das resinas.
- veri¿cação da conformidade dos procedimentos de instalação.
- resultados dos testes de arrancamento: resistência da cola, modo de ruptura e a
localização dos mesmos.
- propriedades do sistema FRP dos testemunhos dos quadros de teste, se exigido.
- localização e dimensões das delaminações e bolhas de ar encontradas.
- progresso geral da instalação.
O engenheiro responsável pela inspeção deve conservar os relatórios e os testemunhos
por um período de tempo indeterminado.
O engenheiro responsável pela obra deve armazenar amostras das resinas misturadas e
manter registros sobre a localização de cada um dos diferentes lotes aplicados.

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12.9 AVALIAÇÃO E ACEITAÇÃO


Os sistemas FRP aplicados devem ser avaliados e aceitos ou rejeitados baseados na
conformidade ou desconformidade com os desenhos e especi¿cações do projeto. As pro-
priedades dos materiais do sistema FRP, a orientação das ¿bras conforme especi¿cado,
a presença de delaminações, da cura das resinas, a adesão do sistema ao substrato de
concreto, tudo isso deve ser incluído na avaliação.
Testes de cargas aplicados localmente1 podem inclusive serem recomendados e utilizados
para con¿rmar o comportamento estrutural do elemento a ser reforçado.

12.9.1 AVALIAÇÃO DOS MATERIAIS

Antes mesmo do início do projeto o fornecedor do sistema FRP a ser utilizado deve apre-
sentar a certi¿cação de todos os materiais a serem utilizados.
Testes adicionais de materiais podem ser providenciados ou exigidos com base na comple-
xidade ou responsabilidade do projeto.
A avaliação sobre o recebimento dos materiais constituintes dos sistemas FRP deve in-
cluir testes para a tensão de tração, análise do espectro infravermelho, temperatura de
transição vítrea, vida útil (pot-life) das resinas e resistência do adesivo ao cisalhamento.
Esses testes são normalmente realizados em amostras de materiais enviadas para os la-
boratórios de acordo de acordo com o planejamento de controle dos materiais. Testes para
determinar a vida útil das resinas e da dureza da cura são normalmente realizados “in-situ”.
Materiais que não correspondam às exigências mínimas especi¿cadas pelo engenheiro
projetista da obra devem ser rejeitados.
Durante a instalação dos sistemas FRP painéis (quadros) de teste podem ser produzidos
no local de acordo com um plano de amostragem utilizando os procedimentos de instala-
ção similares àqueles que serão utilizados para a instalação do sistema FRP nas superfí-
cies de concreto.
Os painéis de teste poderão ser preparados para serem entregues a laboratórios aprova-
dos de tal maneira que possam ser realizados os testes de resistência, dureza e de tem-
peratura de transição vítrea.
Assim, se necessário, a con¿rmação da resistência e do módulo de elasticidade dos ma-
teriais podem ser con¿rmados de acordo com as especi¿cações das normas pertinentes2.
Comprimentos de traspasse, resistência à tração e módulo elástico dos materiais do sis-
tema FRP podem também ser determinados utilizando-se testes de ruptura em elementos
cilíndricos. As propriedades a serem avaliadas através de testes devem ser especi¿cadas.
O engenheiro pode abrir mão ou mesmo alterar a frequência dos testes.
Durante a instalação do sistema FRP porções das resinas misturadas devem ser prepa-
radas de acordo com um plano de amostragem e retidos para testes de determinação do
nível da cura.

1 - Rapid Load TesƟng – A. Nanni & Will Gold.


2 - Nos Estados Unidos : ASTM D3039 e ISIS/1998.

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Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

12.9.2 ORIENTAÇÃO DAS FIBRAS

A orientação das ¿bras de carbono ou dos laminados pré-curados devem ser avaliados
através de inspeção visual. Ondulações nas ¿bras, uma aparência localizada de ¿bras que
se desviaram da linha geral de alinhamento sob a forma de pregas ou ondas, devem tam-
bém ser avaliadas para os sistemas aplicados por via úmida.
Desvios de alinhamento nas ¿bras ou nos laminados com mais de 5º do ângulo especi¿ca-
do nos desenhos do projeto (aproximadamente 80 mm/1000 mm) devem ser comunicados
ao engenheiro para avaliação e aceitação.

12.9.3 TESTES DE VERIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE APLICAÇÃO DOS SISTEMAS FRP

Uma vez concluída a aplicação do sistema composto deve ser realizada uma veri¿cação
relativamente às suas condições reais de aplicação.
Esse teste vai desde a inspeção visual, passando por testes expeditos de compacidade,
até testes mecânicos de arrancamento.
Para os sistemas compostos FRP são recomendados os seguintes testes de veri¿cação da
aplicação de seu sistema:
- teste de sonoridade
- teste mecânico de arrancamento
O teste de sonoridade consiste em bater com um martelo de aço em toda a extensão do
sistema aplicado e, através da resposta sonora, identi¿car possíveis pontos onde a cola-
gem não esteja adequada O teste, apesar de simples é um indicativo seguro da qualidade
da aplicação, conforme indicado na Figura 12.33.

Figura 12.33 – Teste de sonoridade dos sistemas FRP.

O teste de arrancamento mecânico consiste em colar uma chapa de aço quadrada com
lado igual a 5 cm sobre o sistema composto aplicado e, através de um dispositivo adequa-
do promover o arrancamento dessa chapa. De acordo com o modo de ruptura ocorrido

509
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avalia-se a e¿ciência da aplicação. Esse teste está esquematicamente apresentado na


Figura 12.34.

Interface com o substrato

Equipamento
Sistema FRP para pull-test

Figura 12.34 – Teste de resistência de colagem no substrato de concreto.

Podem ocorrer três modalidades distintas de ruptura:


1 – o sistema composto descola do substrato de concreto, indicando que a aplicação
não foi correta.
2 – a ruptura ocorre no substrato de concreto, indicando que o sistema está perfeita-
mente aderido. Nesse caso deve ser avaliada a resistência do concreto.
3– ruptura do pino de ligação da placa com o dispositivo de arrancamento, indicando
que tanto o sistema composto quanto o substrato de concreto estão adequados.
A Fotogra¿a 12.11 mostra um teste de arrancamento de um sistema FRP sendo executado.

FotograĮa 12.11 – Teste de arrancamento de sistema FRP.

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Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

Na Fotogra¿a 12.12 é mostrado o resultado mais comum desses testes que é o caso em
que a placa metálica continua com o sistema composto aderido e o rompimento ocorre no
substrato de concreto.

FotograĮa 12.12 – Resultado do teste de arrancamento dos sistemas FRP.

Caso ocorra alguma de¿ciência na aplicação do sistema o mesmo deverá sofrer alguma
recuperação localizada ou, dependendo da extensão desquali¿cada, ser totalmente remo-
vido e refeito.
Essas são as principais etapas de aplicação dos sistemas compósitos estruturados com
¿bras de carbono aderidos externamente às peças de concreto armado. Eventuais diferen-
ças existentes entre os sistemas compósitos atualmente comercializados não descaracte-
rizam o procedimento de instalação descrito.

12.10 RECOMENDAÇÕES COMPLEMENTARES

12.10.1 MISTURA DAS RESINAS

A mistura das resinas deve ser feita de acordo com os procedimentos recomendados pelo
fabricante do sistema FRP. As resinas normalmente são sistemas formados por dois com-
ponentes que apresentam coloração diferenciada.
As resinas deverão ser misturadas, obedecendo a uma relação correta de volumes, na
temperatura apropriada, e misturadas até que se atinja uma coloração uniforme e sem
rajas. Os equipamentos de mistura incluem pequenos misturadores de pás elétricos, e,
eventualmente, algumas resinas podem ser homogeneizadas manualmente.
Essas misturas deverão atender à quantidade necessária para a utilização na etapa previs-
ta, para evitar desperdícios, uma vez que o “pot-life” da mistura é pequeno. As sobras de
resina não poderão ser utilizadas, uma vez que, feita a mistura, a viscosidade continuará a
aumentar e produzirá um efeito adverso na sua capacidade de penetração no substrato de
concreto e de saturação da ¿bra.

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12.10.2 REVESTIMENTOS PROTETORES

Os revestimentos protetores deverão ser compatíveis com o sistema de reforço FRP ado-
tado, e aplicado de acordo com as recomendações dos fabricantes.

FotograĮa 12.13 – Polvilhamento com areia do sistema FRP.

De modo geral, a utilização de solventes para a limpeza do FRP antes da aplicação do re-
vestimento não é indicada, tendo em vista os efeitos deletérios que os solventes produzem
nas resinas poliméricas.
Não existe contra indicação na utilização de recobrimentos cerâmicos ou por meio de ar-
gamassas. Recomenda-se que nesses casos, tão logo se termine a aplicação do sistema,
seja polvilhada areia sobre a resina ainda em processo de cura, permitindo que se tenha
uma superfície aderente para receber o revestimento, como mostrado na Fotogra¿a 12.13.
A cura das resinas é um fenômeno dependente tanto do tempo como da temperatura. Em
temperatura ambiente as resinas podem exigir vários dias para estarem completamente
curadas. Temperaturas altas aceleram o processo de cura, enquanto que temperaturas
baixas retardam ou mesmo inibem o início da cura, portanto deve ser obedecido rigorosa-
mente o intervalo de temperatura indicado pelo fornecedor do sistema FRP.
Na prática, não são recomendadas aplicações com temperatura inferiores a 15oC e nem
superiores a 30oC. Em casos de temperaturas elevadas recomenda-se que a aplicação
seja feita no período da noite. Não é, absolutamente, permitida a alteração química da
resina no local de sua aplicação. Essa operação pode resultar na retirada da garantia do
fornecedor do sistema Proteção Temporária.
Temperaturas adversas, exposição à chuva, poeira ou sujeira, excessiva insolação, ele-
vada umidade e vandalismo podem dani¿car o sistema FRP durante o processo de sua
instalação, produzindo uma inadequada cura das resinas.
Dessa forma pode ser necessária a adoção de proteções temporárias tais como coberturas
e vedações laterais de plástico de modo a garantir um ambiente não contaminado para a
cura das resinas. Caso ocorra alguma anomalia decorrente dos agentes acima relaciona-
dos, o projetista do sistema deverá ser consultado para avaliação e recomendação.

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Capítulo 12 - Processo Construtivos dos Sistemas FRP

12.10.3 ARMAZENAMENTO DO SISTEMA FRP

Para a preservar as propriedades e manter a segurança, os materiais constituintes dos sis-


temas FRP devem ser estocados de acordo com as recomendações dos fabricantes. Des-
sa forma, certos constituintes como agentes reativos de cura, endurecedores, iniciadores,
catalizadores e solventes de limpeza devem ser estocados segundo as recomendações
das normas de segurança pertinentes.
Os catalizadores e os iniciadores de reação (geralmente peróxidos) devem ser estocados
separadamente dos outros materiais.

12.10.4 MANUSEIO

Alguns perigos que podem ser encontrados quando do manuseio das resinas constituintes
dos sistemas FRP:
- irritação da pele, tais como queimaduras, erupções cutâneas e comichão.
- sensibilização da pele, que é uma reação alérgica similar àquela causada pelo ve-
neno da hera, por ambiente fechado ou outros produtos alérgenos.
- respirar vapores orgânicos dos solventes de limpeza, monômeros e diluentes.
- caso atinjam su¿ciente concentração no ar e expostos a calor, chamas, lâmpadas
piloto, faíscas, eletricidade estática, cigarros e outras fontes de ignição, os mate-
riais inÀamáveis podem pegar fogo ou mesmo explodir.
- reações exotérmicas de mistura de materiais podem causar chamas ou danos
pessoais.
- incomôdo causado pela poeira do lixamento do sistema FRP já curado.

FotograĮa 12.14 – Equipamento de proteção para o aplicador de FRP.

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Existem roupas descartáveis e luvas apropriadas para o manuseio das ¿bras e das resinas
dos sistemas FRP. As luvas devem ser resistentes a resinas e solventes. Luvas descar-
táveis de plástico e borracha são recomendadas e devem ser inutilizadas após cada uso.
Óculos de segurança devem ser utilizados quando do manuseio das resinas e dos solven-
tes. Máscaras de proteção para respiração e poeira devem ser utilizadas quando ¿lamen-
tos de ¿bra, poeira ou vapores orgânicos estão presentes no ar.

12.10.5 LIMPEZA E DISPOSIÇÃO

As operações de limpeza podem envolver a utilização de solventes inÀamáveis. Dessa for-


ma, precauções apropriadas deverão ser observadas. Espera-se dos solventes de limpeza
que não tenham as mesmas características de Àamabilidade que as resinas.
Todo o material destinado ao lixo deve ser embalado e descartado de acordo com as reco-
mendações ambientais do local de aplicação.

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