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VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão

Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 1


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ENSAIO INDERBITZEN MODIFICADO: UM NOVO MODELO PARA


AVALIAÇÃO DO GRAU DE ERODIBILIDADE DO SOLO.

FREIRE, E.P., Pontifícia Universidade Católica (PUC-MINAS - Poços de Caldas);


Universidade de Alfenas, Alfenas – MG; ericlis.freire@unifenas.br .

RESUMO
O tema “Erodibilidade do Solo” é discutido, inicialmente a partir da fenomenologia do
processo (desagregação e carreamento) e, posteriormente, considerando estudos clássicos e
experiências de campo e laboratório. Um novo modelo de ensaio (Inderbitzen Modificado) é
apresentado e os resultados obtidos em amostras indeformadas de solo residual e argila laterítica
são comentados. Ensaios de caracterização física e mecânica foram realizados e os resultados
obtidos não apresentaram relação direta com a erodibilidade.
Palavras-chave: solo, erodibilidade, Inderbitzen, desagregação, laboratório.

ABSTRACT
INDERBIDIZEN MODIFIED TEST: A NEW MODEL TO EVALUATION OF THE SOIL
ERODIBILITY.
In the current work the “Soil Erodibility” subject is discussed. It begins in the fenomology
of the process (desagregation and transport) than classic studies and laboratory experiences are
considered. A new model to evaluation of the soil erodibility (Inderbitzen Modified Test) is
presented. The results obtained from undeformed samples of residual soil and lateric clay are
comented. Tests of the phisical and mechanical caractherization were done and the results
showed no direct relation of than with the erodibility.
Key words: soil; erodibility; Inderbitzen, desagregation; laboratory.

I – INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta estudos sobre a “Erodibilidade” em amostras de solo
residual e lateríticos da cidade de Alfenas, MG. Ênfase foi dada à proposta de um equipamento
de laboratório que representasse fielmente as condições do solo no campo, nas ocasiões das
precipitações atmosféricas (Novo Ensaio “GES” – Grau de Erodibilidade do solo). O item (II)
relaciona os principais objetivos do presente estudo. Considerações teóricas sobre “Erosão” e
“Erodibilidade” estão descritas no item Metodologia (III), além da proposição de um novo ensaio
“GES”.
No item IV os resultados obtidos são apresentados e discutidos, e o item V apresenta as
conclusões observadas. Os resultados mostraram a eficiência do equipamento. Ensaios de
cisalhamento diretos indicaram a independência entre “Erodibilidade” e os parâmetros de
resistência “coesão e ângulo de atrito”, pois não houveram diferenças significativas destes
parâmetros em amostras de alto e baixo grau de erodibilidade.

II – OBJETIVOS

O modelo de Ensaio “GES” (Grau de Erodibilidade do Solo) proposto no presente


trabalho tem como objetivo principal um ensaio de laboratório que reproduza, em amostras
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indeformadas de solo, as condições que o material é submetido no campo nos períodos de


precipitação atmosférica, ou seja, exposição aos fenômenos de “desagregação seguido de
escoamento superficial”.
Ensaios de caracterização física e mecânica também foram realizados com o objetivo de
relacionar os resultados obtidos.

III – METODOLOGIA

III.1. Considerações Teóricas


III.1.1. Erosão do Solo
A análise deste fenômeno deve-se iniciar na consideração da “Dinâmica Natural
do Relevo” e consequentemente dos tipos de “Movimentos de Massa”: a ação da água em uma
vertente pode ocorrer de uma maneira brusca, concentrada no tempo, movimentando grandes
quantidades de material ou de forma lenta mas persistente designada de “Erosão”. Este processo
consiste de duas etapas distintas, uma primeira de desagregação de partículas através do impacto
direto e dos salpicos da água e uma segunda de carreamento pelo escoamento superficial. A
mv 2
energia desprendida neste trabalho pode ser fisicamente entendida como onde m é a massa
2
de uma gota de água e v a velocidade de queda. Grande parte desta energia é mobilizada para
desagregar a estrutura do solo levantando pequenas partículas, sobretudo se o solo não apresenta
cobertura vegetal (Lencastre e Franco, 1992).
Nas situações de intensidade de chuva superiores a capacidade de infiltração, gera-se
então um escoamento superficial que, além de arrastar os materiais desagregados pelo impacto
das gotas, tem também um certo poder erosivo. Esta capacidade do escoamento superficial
aumenta com a altura do escoamento e com a inclinação da encosta. A intervenção antrópica
pode acelerar significativamente os mecanismos citados (Lencastre e Franco, 1992).
Guerra (1995) apresenta de forma muito clara os mecanismos que envolvem estes
processos erosivos básicos. Inicialmente separa-os também em duas fases: remoção de partículas
e transporte do material pelos agentes erosivos. Posteriormente salienta entretanto que quando há
energia suficiente, uma terceira fase acontece que é a deposição do material transportado. Cita
ainda as observações de Thornes, segundo este autor “a erosão ocorre a partir do momento em
que as forças que removem e transportam materiais excedem aquelas que tendem a resistir à
remoção”. A espessura do solo pode estar relacionada ao controle das taxas de produção
(intemperismo) e remoção (erosão) de materiais. Nas áreas onde os efeitos desses dois grupos de
processos são iguais, há uma tendência de a espessura do solo permanecer constante ao longo do
tempo”.
Especificamente sobre a fase de remoção de partículas (desagregação), também conhecida
por “erosão por splash”, ou ainda como “por salpicamento”, o fenômeno ocorre basicamente
como um resultado das forças causadas pelo impacto das gotas de chuva: uma gota quando bate
em um solo molhado, remove partículas que estão envolvidas por uma película de água. A gota
descreve uma curva parabólica, que se move lentamente, mais ou menos quatro vezes a altura do
deslocamento. Além das partículas serem transportadas pelo impacto das gotas de chuva,
algumas são deslocadas pelo choque proporcionado por sedimentos que se batem uns contra os
outros. “Numa forte tempestade tropical, o equivalente a um peso de 350 ton de água/ha podem
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ser precipitados em um período de apenas meia hora. Essa energia é suficiente para quebrar a
estrutura do solo, formando crostas na superfície, dificultando a infiltração” (Guerra, 1995).
A formação de crostas, mencionadas pelos autores geomorfólogos, pode ser interpretada
geotecnicamente como um rearranjo de partículas conferindo ao solo uma nova estrutura com
menor índice de vazios, e portanto, com menor valor de permeabilidade. Esta diminuição da
capacidade de possibilitar o fluxo (K) gera o escoamento superficial, responsável pela segunda
etapa do processo erosivo.

III.1.2. Erodibilidade do Solo.

Entendida como a suscetibilidade do solo aos processos erosivos, a erodibilidade é


um fator que vem sendo pesquisado nas diversas áreas das ciências naturais. As primeiras
experiências utilizaram medidas diretas obtidas em áreas demarcadas, com sistemas de coleta de
material e sua posterior quantificação. A figura 1 ilustra este sistema, conforme Lencastre e
Franco (1992).
Este autores apresentam valores de erodibilidade para diferentes situações de utilização do
solo, conforme resumo do quadro seguinte (quadro 1).

PERDAS POR EROSÃO


UTILIZAÇÃO DO SOLO
(ton./ha.ano)
Floresta intacta 0,004 – 0,2
Pastagens cultivadas 0,022 – 0,450
Locais de construção 300 - 500

Dentre as experiências teóricas, destaca-se a “Equação Universal de Erosão do Solo” A =


R K L S C P onde A é a perda de solo em toneladas métricas por hectare, R = fator energético da
chuva, K = fator de erodibilidade do solo, L = fator de comprimento, S = fator de inclinação, C =
fator de técnica cultural e P = fator de práticas de conservação; deduzida empiricamente pelo “
U.S. Soil Conservation Service”, a partir de 10.000 medições (Lencastre e Franco 1992).
Correlações com as propriedades físicas e mecânicas dos solos também tem sido
estudadas e, mais recentemente, estudos considerando os parâmetros de resistência do solo
(coesão e ângulo de atrito ), colapsividade e sucção relacionados ao grau de erodibilidade tem
sido apresentados. Especificamente para solos tropicais Nogami e Villibor desenvolveram a
Metodologia MCT (Miniatura, Compactado, Tropical), na expectativa de uma avaliação
qualitativa da erodibilidade (Bastos et al, 1998).

III.2. Novo Ensaio “GES” (Grau de Erodiblidade do Solo).


O ensaio de “Inderbitzen” tem sido aplicado por vários pesquisadores (Ferreira, 1981;
Facio, 1991; Bastos et al 1998) e consiste basicamente em uma rampa de inclinação variável, na
qual é disposta uma amostra indeformada de solo ( = 10 cm ), sujeita a um fluxo uniforme de
vazão pré-determinada. Os resultados obtidos neste ensaio representam de forma eficiente os
efeitos erosivos do escoamento superficial. Porém, não simula o fenômeno da desagregação de
partículas provocado pelo impacto da água em uma precipitação.
O novo ensaio “GES”, proposto no presente trabalho, é uma tentativa de representar em
laboratório as duas etapas do processo erosivo provocado na superfície do solo, nas ocasiões de
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precipitação. O equipamento (fig 2 e 3) consiste de uma estrutura tubular na qual está disposta
uma rampa para apoio de amostra indeformada, e de duas linha de “chuveiramento” obtida
através de tubos perfurados, a uma altura média de 0,20 m. Sob a rampa de apoio, tem-se um
primeiro recipiente para coleta da água e dos sedimentos carreados, que posteriormente, é
escoado para um segundo recipiente para decantação e, por fim, para um conjunto de peneiras. A
pressão de chuveiramento é controlada manometricamente, e a massa de sedimentos é obtida por
pesagem do material das bandejas, após 24 h de permanência em estufa a 110 C. Imagens do
equipamento podem ser verificadas nas figuras 2 e 3.
Nos ensaios realizados para estudo do grau de erodibilidade do solo utilizou-se amostras
indeformadas de solo residual jovem (saprolítico) e solo residual maduro (laterítico) –
provenientes da Vila Teixeira, Alfenas – MG, e argila laterítica, obtidas por escavação no
Campus da Unifenas.

IV – RESULTADOS
Realizou-se ensaio de “Grau de Erodibilidade do Solo – GES” em quatro amostras
indeformadas, e os resultados obtidos constam da figura 4.
Os resultados indicam que a amostra de “Solo Residual Jovem – Saprolítico” apresentou
em 10 horas de chuveiramento menos de 1,5 % de material desagregado e transportado, ao passo
que as amostras de “Solo Residual Maduro – Laterítico” e as duas amostras de “Argilas
Lateríticas” foram totalmente desestruturadas com 1,5 horas de ensaio.
A figura 5 apresenta separadamente os resultados obtidos no ensaio com a amostra de
“Solo Residual Jovem” em uma escala que permite a observação do formato da curva “perda de
material X tempo”.
Esta curva demonstra que durante a primeira hora de ensaio a amostra apresentou perda
de material significativa, e que, no tempo restante do ensaio, a curva apresentou tendência de
estabilização da porcentagem acumulada de material erodido. A figura 6 apresenta duas curvas
granulométrica realizadas com os resíduos deste mesmo ensaio, porém uma primeira com o
material desagregado nos trinta minutos iniciais de ensaio e a segunda após 1,5 horas de
chuveiramento.
Esta figura demonstra que a perda de material no ensaio ocorreu de forma equivalente
para os diferentes tamanhos de grãos, ou seja, as duas curvas apresentam-se com relativo
paralelismo.
Após os ensaios de “GES” realizou-se nas amostras de “Solo Residual Jovem” e “Argila
Laterítica”, ensaios de cisalhamento direto, nas tensões normais de 50, 100 e 150 kPa, conforme
envoltórias de resistência apresentadas na figura 7.
As duas envoltórias demonstram que os valores de coesão e ângulo de atrito dos dois
materiais não apresentam diferenças significativas, e que, portanto, os resultados obtidos no
ensaio “GES” para estes dois materiais não estão relacionados a estes parâmetros de resistência.

V – CONCLUSÕES
O presente trabalho possibilitou as seguintes observações com relação ao estudo do “Grau
de Erodibilidade do Solo”:
- o novo ensaio “GES” se mostrou como um recurso eficiente no estudo do “Grau de
Erodibilidade do Solo” em laboratório, por simular fielmente a realidade de campo, ou
seja, impacto e posteriormente fluxo superficial na amostra;
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- as amostras ensaiadas demonstraram o fenômeno de reestruturação da camada


superficial do solo: diminuição do índice de vazios e consequentemente da
permeabilidade (K), a partir do fenômeno “splash” ou “erosão por salpicamento”,
observado na diminuição de material carreado a partir da primeira hora de ensaio;
- os ensaios de cisalhamento direto realizados em amostras de diferentes graus de
erodibilidade, demonstraram que os parâmetros “coesão e ângulo de atrito” não
podem ser relacionados diretamente a esta propriedade;
- os ensaios realizados apresentaram resultados que demonstram a eficiência do
equipamento quanto a determinação do “Grau de Erodiblidade”, a simplicidade na
execução dos ensaios e o baixo custo para construção do modelo.

VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

Bastos, C.A.B.; Gehling, W.Y.Y. & Militisky, J.; Dias, R.D. (1998). Avaliação da Erodibilidade
de Perfis de Solos Residuais da Grande Porto Alegre. XI COBRAMSEG (Congresso Brasileiro
de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), vol 1, Brasília, 1998; 557-563.
Guerra, A.T. & Cunha, S.B (1995). Geomorfologia, Uma Atualização de Bases e Conceitos. Ed.
Bertrand Brasil, Rio de Janeiro – RJ. 443 p.
Lencastre, A. & Franco, F.M. (1992). Lições de Hidrologia. Universidade Nova de Lisboa.
Lisboa, Portugal. 453 p.
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Precipitação

calha

Tanque de sedimentação
Figura 1: Medidas Diretas Obtidas em Áreas Demarcadas (modificado Lencastre e Franco, 1992).

Figura 2 Figura 3

Figuras 2 e 3: vistas panorâmica e parcial do equipamento “INDERBITZEN MODIFICADO”


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RESULTADOS DE ENSAIO "GES"


(GRAU DE ERODIBILIDADE DO SOLO).
% ACUMULADA100
DE MATERIAL LEGENDA
CARREADO 90 SOLO RESIDUAL JOVEM (Vila Teixeira).
ARGILA LATERÍTICA (Campus Unifenas)
80 SOLO RESIDUAL MADURO - Vila Teixeira
ARGILA LATERÍTICA. Campus Unifenas
70
60
50
40
30
20
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
TEMPO DE ENSAIO
(chuveiramento) em horas.

Figura 4: Resultados dos Ensaios “Grau de Erodibilidade do Solo” realizados em quatro


amostras indeformadas.

RESULTADOS DE ENSAIO "GES"


(GRAU DE ERODIBILIDADE DO SOLO).
% ACUMULADA 3
DE MATERIAL
ERODIDO LEGENDA
SOLO RESIDUAL (Vila Teixeira).
2.5

1.5

0.5

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
TEMPO DE ENSAIO
(chuveiramento) em horas.

Figura 5: Ensaio com amostra de “Solo Residual Jovem”.


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CURVA GRANULOMÉTRICA
Solo Saprólitico-Residual Jovem
0
Porcentagem
que passa 10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0.001 0.01 0.1 1 10
argila silte areia fina areia grossa pedregulho

LEGENDA Diâmetro dos Grãos (mm)


APÓS ENSAIO DE1 HORA
ANTES DO ENSAIO

Figura 6: Curvas Granulométricas obtidas por peneiramento dos resíduos do ensaio de “Grau de
Erodibilidade do Solo”.

ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO

TENSÃO 130
CISALHANTE 120
(kPa)
110
100
90
80
70
60
50
40 LEGENDA
SOLO RESIDUAL
30 SOLO LATERÍTICO
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
TENSÃO NORMAL (kPa)

Figura 7: Envoltórias de Resistência obtidas pelo ensaio de “Cisalhamento Direto”.

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