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MECÂNICA DOS SOLOS E GEOTÉCNICA

GEOTECNIA: TEORIA ALIADA À


PRÁTICA
Autor: Esp. João Vitor Rodrigues de Souza
Revisor: Suely Medeiros Gama

INICIAR
introdução
Introdução
Nesta unidade, apresentaremos uma visão geral das propriedades físicas dos
solos, assim como sua importância na mobilidade da água e nutrientes e no
desenvolvimento de uma cobertura vegetal.

Além disso, destacamos alguns exemplos do uso de resíduos agrícolas que


podem afetar positivamente as propriedades físicas do solo. Abordaremos a
importância de análises laboratoriais para identificar propriedades físicas,
mecânicas e químicas da água dos solos, identificando os conceitos e técnicas
envolvidas, bem como os princípios e fundamentos de métodos de sondagem
em campo.

E, por fim, estudaremos sobre o conceito de tensão em solo, de que forma é


distribuído na superfície e quais métodos investigativos podem ser aplicados
para analisá-lo antes de um possível rompimento.
Geotecnia: Teoria Aliada à Prática

Física II
As propriedades físicas do solo são muito importantes para definir um uso e
manejo adequado, isto é, que sua aplicação seja condizente às características
naturais que apresenta. Por exemplo: a quantidade e a taxa de absorção de
água, oxigênio e nutrientes pelas plantas dependem da capacidade das raízes
absorverem a solução do solo, bem como da capacidade do solo de fornecê-
las às raízes. Assim, um solo com elevado potencial de infiltração pode ser
altamente recomendado a determinados cultivos. Por outro lado, quando se
trata de construção civil, um solo com essas características poderia limitar a
obra, dada a facilidade natural de desagregação dos minerais que eles
apresentam. Assim, abordaremos na sequência algumas propriedades físicas
do solo e sua importância geotécnica.

Compactação
A compactação é um processo de densificação e distorção do solo, no qual a
porosidade e permeabilidade são reduzidas, a força é aumentada, a estrutura
do solo é parcialmente destruída, promovendo, assim, diversas alterações em
suas propriedades.

Geralmente, quatro indicadores quantificam a compactação do solo:


porosidade total, distribuição do tamanho dos poros, densidade aparente e a
consistência.

Na prática, compactar um solo significa pressionar as partículas próximas


umas das outras por métodos mecânicos. O ar é expelido da massa do solo e
a densidade da massa é aumentada. Na Engenharia, esse processo é feito
para melhorar as propriedades do solo, como resistência ao cisalhamento,
estabilidade, reduzindo a compressibilidade e a permeabilidade do solo.

Figura 2.1 - Máquina por vibração, comum na construção civil, usado para
compactar o solo
Fonte: Dmytro Bilyk / 123RF.

Condutividade Hidráulica
Uma das propriedades mais diretamente relacionadas à estrutura e ao
movimento da água no solo é a condutividade hidráulica.

O movimento da água no solo varia conforme a sua umidade, ou seja,


conforme seu grau de saturação. Quando o solo está seco, com baixa
umidade, os poros se encontram preenchidos pelo ar. Assim, o fluxo da água
é vertical, tendo a gravidade como principal mecanismo atuante.
A medida que este solo começa a saturar, o movimento da água começa a se
direcionar horizontalmente, favorecendo a formação dos rios subterrâneos.

A capacidade do solo de transmitir ou reter água depende da presença de


poros interligados e seu tamanho é geométrico. As condições ambientais,
como chuva, temperatura e isolamento, unem-se às propriedades da matéria
orgânica, textura e estrutura do solo e determinam a capacidade de um solo
reter ou transmitir água.

Umas das formas de mensurar a capacidade de retenção/transmissão hídrica


é por meio da taxa de infiltração.

A taxa de infiltração é a velocidade com a qual a água entra no solo, que


geralmente é medida pela profundidade (em mm) da camada de água, que
pode entrar no solo, em uma hora. Sendo assim, uma taxa de infiltração de 15
mm /hora significa que uma camada de água de 15 mm, na superfície do solo,
levará uma hora para se infiltrar.
reflita
Reflita
O Rio Ramza

Cientistas brasileiros descobriram um novo rio na bacia amazônica - cerca de 4 km


abaixo do rio Amazonas. Trata-se de um fluxo das águas subterrâneas, com vazão
suficiente para se equiparar a um rio “tradicional”. O rio subterrâneo, batizado como
Ramza, começa na região do Acre sob os Andes e corre pelas bacias do Solimões,
Amazonas e Marajó antes de se abrir diretamente nas profundezas do Oceano
Atlântico.

Essa descoberta nos fez pensar sobre a importância das ações antrópicas sobre o meio
ambiente. As atividades terrestres, naturalmente, são dinâmicas e completamente
interligadas. Qualquer impacto ou perturbação que o homem proporciona, mesmo que
em microescala, poderá gerar consequências graves em outras regiões, atingindo uma
expansão sem precedentes.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Por consequência, a velocidade de infiltração, expressa normalmente em taxa


básica de infiltração (mm/h), irá variar conforme a composição granulométrica
que o solo apresenta. Quanto mais argiloso se caracterizar uma determinada
amostra de solo, mais naturalmente compacto ele será, apresentando um
menor índice de porosidade. Logo, menor tende a ser a velocidade de
infiltração do mesmo.
Taxa básica de infiltração média (mm
Tipo de Solo
/ hora)

Arenoso > 30

Silte-Arenoso 20 - 30

Siltoso 10 - 20

Argilo-siltoso 5 - 10

Argiloso 1-5
Quadro 2.1 - Relação da velocidade básica de infiltração em função do tipo de solo
Fonte: Adaptado de FAO (2001).

Em solo seco, a água se infiltra rapidamente (baixa saturação) e à medida que


mais água substitui o ar nos poros, mais lentamente a água da superfície se
infiltra no solo e, eventualmente, atinge uma taxa constante. O método mais
comum para medir a taxa de infiltração é por meio de um teste de campo,
usando um infiltrômetro de cilindro ou anel.

Figura 2.2 -Teste de infiltração feito com anel simples e duplo


Fonte: Soil Physics / Wikimedia Commons.

praticar
Vamos Praticar
Em aterros sanitários é uma das principais formas de destinação adequada de
resíduos sólidos, quando já esgotadas todas as outras formas de reutilização,
contudo, para que se minimizem os impactos ambientais, é necessário que se
atendam a todas as normas e procedimentos técnicos e legais, como espalhar o lixo
uniformemente em camadas sobre o aterro e compactar o lixo para reduzir seu
volume e ajudar a estabilizar o aterro. Em relação à compactação do solo, assinale a
alternativa correta:

a) Deve-se evitar a utilização de água no processo, uma vez que seu emprego
retarda a compactação.
b) O ensaio de infiltração de anéis é um bom indicador da compactação do
solo. Quanto maior a taxa de infiltração, mais argiloso o solo e, por
consequência, mais compacto se encontra.
c) Em geral, é empregada na construção civil para evitar que parte da obra
venha a rebaixar mais do que outra, evitando, assim, trincas e rachaduras.
d) Independe do tipo do solo.
e) Tem como objetivo aumentar a resistência ao rompimento, reduzindo,
assim, sua capacidade de deformação e aumentando sua capacidade de
absorver água.
Consistência

Os solos apresentam diferentes estados de estabilidade, dependendo do teor


de água. Essa propriedade é descrita como consistência, caracterizando o solo
em:

ESTADOS DE
ESTABILIDADE DO SOLO
Nesse contexto, destacamos que solos diferentes contêm uma quantidade
específica de água nesses diferentes estados de estabilidade. No início dos
anos 1900, o químico sueco Albert Atterberg desenvolveu um sistema e
método de classificação com os quais esses estados de consistência podiam
ser determinados. O método baseia-se na determinação do teor de água em
transições distintas entre diferentes estados de consistência do solo, que são
transições, definidas como: limite de consistência (LC), limite de plasticidade
(LP) e limite de liquidez (LL), são chamadas de limites de Atterberg.

Os valores para esses limites dependem de vários parâmetros do solo. Por


exemplo: tamanho das partículas, área superficial específica das partículas
capazes de atrair moléculas de água etc. (PINTO, 2000). Esses limites são
usados para derivar índices, como o índice de plasticidade, índice de
consistência, sendo frequentemente usados para a caracterização mecânica
de solos, como mostra a Figura 2.3.

Figura 2.3 - Variação dos limites LC, LP e LL em função da umidade W


presente na amostra
Fonte: Adaptada de Pinto (2000).
Em campo, um dos métodos normalmente aplicados para avaliar esse
parâmetro é o da penetração de um objeto, em que algum objeto pontiagudo
(caneta, lápis etc.), penetra o solo: se ele não penetrar muito, significa que o
solo é firme, isto é, apresenta elevada consistência (LEPSCH, 2011). Somando
a isso, a classificação do solo quanto a seus limites LC, LP e LL pode também
ser em função das forças de coesão e adesão atuantes entre as partículas
constituintes do solo. A Figura 2.4 ilustra tal classificação, bem como as
observações que podem ser feitas em campo.

Figura 2.4 - Diferentes graus de consistência do solo e sua relação com o teor
de água, coesão e adesão da amostra
Fonte: Lepsch (2011, p. 232).
Existem, ainda, análises laboratoriais que podem ser realizadas com intuito de
identificar os limites para determinada amostra. Para determinar os LL e LP, a
amostra do solo deve primeiro ser peneirada com uma peneira de 0,425 mm
(malha nº 40).

Normalmente, recomenda-se que, inicialmente, o teste LL, pois em solos de


textura grossa (elevado teor de argila), geralmente, é difícil controlar o teor de
água em testes LL, além disso, esses solos podem até mesmo não apresentar
LP. O LL pode ser determinado usando o copo Casagrande da seguinte forma
(MACHADO; MACHADO, s/a.):

Parte da amostra é colocada na concha do copo Casagrande, de


forma bem distribuída, deixando a superfície lisa (espessura máxima
da camada: 10mm e largura= 2/3 do diâmetro da concha) (a);
Faz-se uma ranhura na pasta com um cinzel padronizado, dividindo a
pasta em um sistema de massa aproximadamente igual (b);
Com a concha presa no sistema de fixação, gira-se a manivela a uma
velocidade de dois golpes por segundo. A manivela, ligada a um
excêntrico, faz com que a concha caia de uma altura padrão de 1cm;
Assim, conta-se o número de golpes necessário para que a ranhura
se feche em uma extensão de 1cm ©;
No local onde as bordas se uniram, retira-se uma amostra de solo
(15g) para determinação do teor de umidade.
A Figura 2.5 ilustra o copo de Casagrande, bem como a sequência descrita
acima.

Figura 2.5 - Equipamento Casagrande. A direita, as três fases em que a


amostra se desenvolve ao longo do ensaio
Fonte: Adaptada de Pinto (2000).
O solo restante deverá ser homogeneizado novamente (umedecer
novamente, caso seja necessário);
Refazer o procedimento, ao menos, outras quatro vezes, obtendo-se,
assim, um conjunto mínimo de cinco pares de valores (nº de golpes x
teor de umidade);
Obtido o conjunto de dados, traça-se um gráfico, através do ajuste de
reta, obtém-se o LL, a amostra, correspondente a 25 golpes.

Observação: recomenda-se que, na tomada de dados, o número de golpes


esteja na faixa entre 15 a 35, ou seja, o conjunto mínimo de dados deve
contemplar valores nessa faixa. Para exemplificar o teste, vejamos a Tabela
2.1, com o seguinte conjunto de dados:
Número de Golpes Umidade (%)

53 70,10%

35 75,22%

28 75,89%

22 81,02%

18 82,25%

12 86,31%
Tabela 2.1 - Conjunto de dados obtidos através de um ensaio de LL - Casagrande
Fonte: Elaborada pelo autor.

Após a obtenção do conjunto de dados, plotou-se o gráfico, conforme mostra


a Figura 2.6. Em seguida, determinou-se a equação da reta (linha de tendência
logarítmica), então, pode-se, finalmente, encontrar a umidade relativa a um
número de golpes igual a 25.

Figura 2.6 - Gráfico obtido em função do conjunto de dados. Em função da


equação da reta logarítmica fornecida, sendo x=25 (número de golpes),
encontra-se LL (y) = 78,68%
Fonte: Elaborada pelo autor.
Já a obtenção do LP acontece de forma mais simples, dispensando o uso de
equipamentos próprios para tal, como o caso do LL. Sendo assim, um dos
métodos utilizados para isso é (MACHADO; MACHADO, s/a.):
Usando, aproximadamente, 10g da amostra levemente umedecida,
em que se enrola com a mão em um formato de bola e, em seguida,
colocá-la sobre uma placa de vidro esmerilhada fazendo-a rolar, com
intuito de formar pequenos rolos cilíndricos com um diâmetro
próximo a 3mm;
Em seguida, determina-se o teor de umidade do cilindro;
Assim como o teste LL, deve-se repetir a sequência acima até se
obter um conjunto de 5 dados.

Os passos descritos acima são ilustrados pela Figura 2.7

➔ Se o diâmetro do rolinho > 3mm e ocorrer fissuras: estado semissólido


(acrescentar água);

➔ Se o diâmetro do rolinho < 3mm sem fissurar, estado plástico (refazer o


ponto)

Figura 2.7 - Procedimento de amassar e formar cilindros com 10g de amostra


Fonte: Machado e Machado (s./d.).
Correlacionado ao LP, existe o índice de plasticidade (IP) , frequentemente
usado na classificação de solos, que relaciona a variação de umidade do solo
a partir da diferença entre os LL e LP. De acordo com o valor obtido, tem-se
que (MARAGON, 2017):

IP > 15: Solos altamente plástico;


7 < IP < 15: Solos medianamente plásticos;
1 < IP < 7:  Solos pouco plásticos;
IP = 0: Não Plástico.

Por fim, o LC pode ser obtido através da razão entre a diferença entre o LL e a
umidade do solo (W) e o IP obtido para aquela amostra [ (LL - W) / IP],
podendo ser classificado em (MARAGON, 2017):

LC >1,0:  argilas duras;


0,75 < LC < 1,00: argilas rijas;
0,5 < LC < 0,75: argilas médias;
0< LC < 0,5: argilas moles;
Ic = 0: argilas muito moles.

Em campo, o índice pode ser observado pelo tato, da seguinte forma:

➔ Muito mole: quando apertadas nas mãos, as argilas escorrem facilmente


entre os dedos;

➔ Mole: podem ser facilmente moldadas com os dedos;

➔ Média:   podem ser moldadas com os dedos, mas com uma menor
facilidade que a anterior;

➔ Rijas: são aquelas que requerem um certo esforço para ser moduladas;

➔ Duras: são aquelas que não conseguem ser moduladas com os dedos e,
quando submetidas a algum esforço, desagregam facilmente.

praticar
Vamos Praticar
Os limites de Atterberg são uma medida básica do conteúdo crítico de água de
solos, esses testes incluem limite de consistência, limite de plasticidade e o limite de
liquidez. Admitindo que uma determinada amostra de solo apresentou LL=42%,
LP=19% e um teor de umidade natural W=25%, assinale a alternativa que caracteriza
o solo de acordo com os índices apresentados.
a) Consistência rija e pouco plástico.
b) Consistência rija e altamente plástico.
c) Consistência dura e pouco plástico
d) Consistência média e pouco plástico
e) Consistência muito mole e não plástico
Investigação Geológica-
Geotécnica

Fundações são os elementos estruturais, cuja função é transmitir as cargas da


estrutura ao terreno, em que se apoia (AZEREDO, 1988). Assim, o papel dos
engenheiros durante a elaboração de fundações é determinar a melhor
maneira de transferir as cargas das estruturas (por exemplo, edifícios, pontes,
muros de contenção etc.) para o solo.

Por consequência, essa etapa do planejamento é essencial e pode impactar


diretamente os custos envolvidos na execução do projeto. Nesse contexto,
fundações bem projetadas correspondem entre 3% a 10% do custo total do
edifício, porém, se forem mal concebidas e mal projetadas, podem atingir 5 a
10 vezes o custo da fundação mais apropriada para o caso (BRITO, 1987).

A quantidade de dados necessária à determinação das fundações é relativa a


cada situação. Por exemplo: pode variar em função do tipo de solo, do tipo de
obra que se deseja construir (pontes, edifícios etc.), do porte da estrutura,
dentre outros.

Nesse contexto, umas das formas de caracterizar um local quanto aos seus
aspectos físicos é por meio de investigações geotécnicas, processo no qual as
qualidades físicas de um local são avaliadas para determinar se é adequado e
seguro para a finalidade proposta. As principais técnicas utilizadas no Brasil
são apresentadas no Quadro 2.2:

Tipo de Solo
Principais parâmetros
Ensaio
Não determinados
Aplicável
Aplicável

Padronizado Estado de compacidade e


--------------
de Penetração Granular consistência; estratigrafia
---
(SPT) do subsolo.

Avaliação da
compacidade e
Penetração de Granular -------------- resistência de solos
Cone (CPT) e Argiloso --- granulares; Avaliação da
resistência não drenada
de solos argilosos.

Coeficiente de empuxo,
-------------- compressibilidade e
Pressiométrico Granular
--- resistência ao
cisalhamento.

Resistência não drenada


Palheta Coesivo Granular
de solos argilosos.
Quadro 2.2 - Principais técnicas de investigação de subsolo empregado
Fonte: Marangon (2017, p. 2).

Sendo assim, abordaremos as investigações geotécnicas SPT e CPT, discutindo


as metodologias aplicadas, os resultados esperados, como e quando é
recomendada sua utilização.
Sondagem SPT
Também conhecida como sondagem à percussão ou sondagem de simples
reconheciment o, é o método de investigação geotécnica mais comum e
utilizado. Segundo a NBR 6484 (ABNT 2001), o método baseia-se na cravação
de um cilindro, verticalmente no solo, através de golpes de um martelo com
massa padronizada de 65 kg, solto em queda livre de uma altura de 0,75m.

Para isso, são anotados os números de golpes necessários à cravação do


amostrador em três trechos consecutivos de 15 cm, totalizando 75 cm de
penetração. O valor da resistência à penetração (Nº.SPT) consiste na soma do
número de golpes necessários para cravar o amostrador nos últimos 30cm.
Após a realização de cada ensaio, o amostrador é retirado do furo e a amostra
é coletada.

Sendo assim, o resultado de um ensaio SPT, normalmente, é apresentado


através de uma ficha técnica, contendo as informações sobre o teste e o perfil
geotécnico encontrado.

Este perfil é acompanhado da planta de situação dos furos para uma melhor
interpretação, além de conter, dentre outros itens, os seguintes:

Identificação da sondagem;
Planta de situação dos furos;
Perfil de cada sondagem com as cotas de onde foram retiradas as
amostras;
Níveis dos terrenos e dos diversos lençóis d’água, com a indicação
das respectivas pressões.

A partir dos resultados obtidos pelo teste, é possível realizar a classificação


em função do índice de resistência. A figura seguinte exemplifica um relatório
de sondagem feito a partir do método SPT.
Figura 2.8 - Exemplo de uma ficha técnica de SPT
Fonte: Adaptada de Thiesen (2016).
A partir dos resultados obtidos na análise SPT, é possível classificar o solo
quanto ao seu índice de resistência à penetração, definido pela NBR 6484
(ABNT, 2001).
Índice de
Solo Designação
Resistência

<4 Fofo

5-8 Pouco compacto

Medianamente
Areia e siltes arenoso 9 - 18
compacto

19 - 40 Compacto

> 40 Muito compacto

<2 Muito mole

3-5 Mole
Argila e siltes
6 - 10 Medianamente mole
argilosos
11 - 19 Rijo

> 19 Duro
Quadro 2.3 - Classificação do solo em função do teste SPT
Fonte: ABNT (2001, on-line ).

Sondagem CPT
O teste de penetração de cone (CPT) é um teste in situ usado para
identificar o tipo de solo. Neste teste, regulamentado pela NBR 12069 (ABNT,
1991), um penetrômetro de cone é empurrado para o solo a uma taxa padrão
e os dados são registrados em intervalos regulares durante a penetração. A
figura seguinte ilustra um relatório de sondagem obtido a partir do método
CPT.

Figura 2.9 - Exemplo de uma ficha técnica de CPT


Fonte: ILI Sondamir (2020, on-line ).
O penetrômetro de cone é instrumentado para medir a resistência à
penetração na ponta e o atrito no eixo (luva de atrito) durante a penetração.
Os resultados desses ensaios permitem identificar estratigraficamente os
perfis de solos existentes e determinação de propriedades mecânicas do
mesmo, estimadas com base em correlações empíricas e semiempíricas.

Além das diferenças observadas no Quadro 2.3, os custos envolvidos em


sondagens SPT são, na grande maioria, economicamente mais viáveis,
enquanto o CPT tem o custo mais alto.

saiba mais
Saiba mais
Existe uma imensa variedade de sondagens aplicadas em solo, sendo cada uma
indicada para determinado tipo de terreno. Os métodos SPT e CPT são os mais
comuns e usuais, enquanto outros são pouco utilizados. O Canal Engenharia TV,
no YouTube, elaborou uma sequência de vídeos que explica, resumidamente,
outros processos de sondagem aplicado ao solo. Disponível em:

ASSISTIR

De forma gelta, ambos testes têm vantagens e desvantagens relativas entre si


nas aplicações de campo que justificam o uso de um ou outro,
independentemente das pequenas diferenças de custo associadas à
investigação de subsuperfície. Assim como qualquer assunto relacionado à
engenharia, não existe uma regra única de aplicação de um ou outro tipo de
sondagem, necessitando, assim, de estudos e conhecimento específico de
onde, como e porque se deseja realizar determinada sondagem para, assim,
aplicar a tecnologia mais viável.

praticar
Vamos Praticar
O teste de penetração padrão (SPT) é um teste projetado para fornecer informações
sobre as propriedades de engenharia geotécnica do solo. Para um determinado
solo arenoso que apresentou um SPT = 3, significa que se trata de um solo:

a) Muito mole.
b) Mole.
c) Pouco compacto.
d) Fortemente compacto.
e) Fofo.
Tensões

Para muitos problemas de interesse prático, é necessário estimar qual o


comportamento que um objeto se comporta sob condições nas quais um
estresse é aplicado. Na análise de um solo, isso não é diferente. Esse estresse
ou tensão é analisado, geralmente, envolvendo estimativas dos estados
iniciais da tensão no solo e das mudanças nessas tensões durante sua
transição e quando se aproximam novamente do equilíbrio.

Figura 2.10 - Distribuição de tensão no solo


Fonte: Adaptada de Barnes (2016).
As tensões em um ponto da camada do solo podem ser causadas pelo
próprio peso das camadas deste solo ou, então, devido a alguma carga
adicionada (como edifícios, pontes, barragens etc.). No primeiro caso, podem
ainda ser divididas em duas grandes categorias: geostáticas e induzidas.
Sendo assim, apresentaremos o conceito de tensões, a realização dos cálculos
das tensões nos solos e também seus padrões de distribuição.

Tensões Geostáticas
As tensões que ocorrem devido ao peso do solo, acima do ponto em que nos
encontramos são conhecidas como geostáticas.

Esse tipo de tensão está presente no solo e pode ser alterado naturalmente
ou através de atividades humanas, por exemplo, pela escavação e colocação
de um aterro.

Como é causada pela gravidade que atua no solo ou na rocha, o resultado


direto desta tensão é a normal vertical, que tem um papel vital no
comportamento de engenharia do solo.

Portanto, essa tensão normal vertical produz indiretamente tensões


horizontais normais e de cisalhamento, que também são muito importantes.

Como já vimos, o solo é um sistema constituído de fases sólidas, líquidas e


gasosa. Ao contrário de outros objetos comuns, seu estado multifásico faz
com que as distribuições das tensões atuantes sejam distintas em cada ponto
do solo, portanto, é necessário compreender o solo como unidades
heterogêneas e, depois, determinar a distribuição tensional total.

Assim, em um primeiro momento, pode-se determinar a tensão efetiva e


σv  = σ  + um um determinado ponto do solo, expresso por (BARNES,

2016):

σ  =  γ ⋅ z Eq. 1

Em que

“σ’” corresponde a tensão efetiva;

“γ”  peso específico do solo;


“z” profundidade do ponto analisado.

Caso existam mais de uma camada de solo, deve-se realizar a somatória dos
respectivos produtos entre peso específico e profundidade de cada estrato.

Para se determinar a distribuição de tensão quanto à presença de água, o


cálculo da pressão suportada pela água é feito simplesmente considerando o
peso da coluna líquida localizada acima do ponto analisado, expresso por
(BARNES, 2016):

u  =  γw  ⋅  hw  Eq.2

Em que

“u” corresponde a pressão resistida pela coluna d’água (poropressão);

“γw” ao peso específico da água;

“hw” a altura da coluna d’água.

Assim, a tensão total (σv) atuante consiste na soma da parcela suportada pela
água nos espaços vazios com tensão total suportada pelos sólidos em seus
pontos de contato, expresso por (BARNES, 2016):

  σv  = σ  + u  Eq. 3

A Figura 2.11 ilustra as distribuições de tensão que atuam em um perfil de


solo.

Figura 2.11 - Distribuição de tensão no solo


Fonte: Adaptada de Barnes (2016).
Todas as vezes que um solo é submetido a um esforço, ocorrerá uma variação
da distribuição tensional existente, provocando variação volumétrica. Como
vimos, essa variação pode se dar pelo aumento ou redução de porosidade,
umidade, nível do lençol freático, ou ainda, fruto de perturbações antrópicas.

Vale ressaltar também que para calcular a tensão efetiva de solos submersos,
mesmo que sejam do mesmo material da camada superior ao nível d’água,
deve-se utilizar seu próprio peso, de forma que um acréscimo na pressão
neutra sobre uma camada não tenha efeito nas propriedades mecânicas do
solo.

praticar
Vamos Praticar
Em relação à distribuição de pressões no solo, analise as afirmativas a seguir:

i. O solo apresenta característica de homogeneidade e de isotropia.


ii. À medida que ocorre uma mudança de profundidade do solo, altera-se a
distribuição tensional aplicada.
iii. Um dos principais parâmetros que influencia na distribuição do solo é a
umidade existente

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) III, apenas.
e) I e III, apenas.
indicações
Material Complementar

LIVRO

Limites de consistência e características de


compactação de solos argilosos contendo
resíduos de borracha.
Amin Soltani, An Deng, Abbas Taheri e Asuri Sridharan
Editora: ICE Virtual Livraria.
ISBN: 1353-2618.
Comentário: O objetivo do estudo relatado neste
artigo foi desenvolver modelos correlativos práticos
capazes de prever as características de compactação de
solos argilosos misturados com borracha de pneus de
veículos usados, modelos propostos fornecem um
procedimento prático para prever as características de
compactação das misturas de borracha-argila moídas
sem os obstáculos da realização de testes de
compactação em laboratório e, portanto, podem ser
implementados na prática para avaliações preliminares.

FILME

Horizonte Profundo.
Ano: 2016.
Comentário: O filme narra a história do
derramamento de óleo do Golfo do México,
considerado o maior derramamento de óleo na história
mundial, causado por uma explosão em abril de 2010,
na Plataforma de petróleo Deepwater Horizon e seu
afundamento subsequente. Apesar de abordar
perfuração de poço, a narração é interessante pois,
além de baseada em fatos reais, reforça a importância
dos métodos de sondagem e perfuração, bem como as
consequências graves relacionadas à má condução de
um projeto como esse.
Para conhecer mais sobre o filme, acesse o trailer
disponível em:

TRAILER
conclusão
Conclusão

Manusear um solo e adequá-lo às nossas necessidades é uma tarefa que


envolve estudos prévios, conhecimentos teóricos para, só depois, executar o
melhor procedimento conforme suas características.

Portanto, nesta unidade, vimos que o solo apresenta uma diversidade de


parâmetros físicos que, além de suas propriedades individuais, relacionam-se,
interferem e são interferidos um pelos outros.

Isso se dá, principalmente, pelo complexo multifásico que um solo é formado.


Por consequência, quando se analisa seu comportamento frente a um
distúrbio tensional, essa consideração deve ser levada em conta, ao contrário
de um objeto comum que, naturalmente, é formado por uma única fase.

Todo esse conhecimento teórico é fundamental para o entendimento dos


processos ocorrentes em determinado lugar para que, somente depois disso,
se possa definir os procedimentos, métodos e tecnologias mais adequadas
para o uso e manejo do solo.

referências
Referências Bibliográficas
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484 : Solo
Sondagens de simples reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de
Janeiro, 2001. Disponível em: https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?
ID=2446 . Acesso em: 24 jan. 2020.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12069 : Solo -


Ensaio de penetração de cone in situ (CPT) - Método de ensaio. Rio de Janeiro,
1991. Disponível em: https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=5690 .
Acesso em: 24 jan. 2020.

AZEREDO, H, A. O Edifício Até sua Cobertura . São Paulo: Ed. Edgar Blucher
Ltda.,1988.

BARNES, G. Mecânica dos solos : princípios e práticas. 3. ed. Rio de Janeiro:


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