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HIDRÁULICA AGRÍCOLA

UNIDADE I – RELAÇÃO SOLO – ÁGUA – PLANTA – ATMOSFERA (2ª parte)

1.1 O SOLO

1.1.2 Textura

A textura do solo refere-se à proporção entre os diferentes tamanhos de partículas.


Refere-se, especificamente, às proporções relativas das partículas ou frações de areia, silte e
argila na terra (ou solo) seca ao ar.

< 0,002 mm

2 - 0,2 mm

0,2 – 0,02 mm
0,02 - 0,002 mm

Fig. 1 – Partículas de areia, silte e argila.

É a propriedade física do solo que menos sofre alteração ao longo do tempo. É muito
importante na irrigação porque tem influência direta na taxa de infiltração de água, na
aeração, na capacidade de retenção de água, na nutrição, como também na aderência ou força
de coesão nas partículas do solo.

Os teores de areia, silte e argila no solo influem diretamente no ponto de aderência aos
implementos de preparo do solo e plantio, facilitando ou dificultando o trabalho das
máquinas. Influi também, na escolha do método de irrigação a ser utilizado.

Para simplificar as análises, principalmente quanto às práticas de manejo, os solos são


agrupados em três classes de textura:

 Solos de Textura Arenosa (Solos Leves): Possuem teores de areia superiores a 70% e
o de argila inferior a 15%; são permeáveis, leves, de baixa capacidade de retenção de
água e de baixo teor de matéria orgânica. Altamente susceptíveis à erosão,
necessitando de cuidados especiais na reposição de matéria orgânica e no preparo do
solo. São limitantes ao método de irrigação por sulcos, devido à baixa capacidade de
retenção de água o que ocasiona uma alta taxa de infiltração de água no solo e
conseqüentemente elevadas perdas por percolação.
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Fig. 2 – Solo de Textura Arenosa.

 Solos de Textura Média (Solos Médios): São solos que apresentam certo equilíbrio
entre os teores de areia, silte e argila. Normalmente, apresenta boa drenagem, boa
capacidade de retenção de água e índice médio de erodibilidade. Portanto, não
necessitam de cuidados especiais, adequando-se a todos os métodos de irrigação.

Fig. 3 – Solo de Textura Média.

 Solos de Textura Argilosa (Solos Pesados): São solos com teores de argila superiores a
35%. Possuem baixa permeabilidade e alta capacidade de retenção de água. Esses
solos apresentam maior força de coesão entre as partículas, o que além de dificultar a
penetração, facilita a aderência do solo aos implementos, dificultando os trabalhos de
mecanização. Embora sejam mais resistentes à erosão, são altamente susceptíveis à
compactação, o que merece cuidados especiais no seu preparo, principalmente no que
diz respeito ao teor de umidade, no qual o solo deve estar com consistência friável.
Apresentam restrições para o uso da irrigação por aspersão quando a velocidade de
infiltração básica for muito baixa.
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Fig. 4 – Solo de Textura Argilosa.

Solos com textura argilosa apresentam uma maior estruturação favorecendo a


formação de uma maior quantidade de microporos em relação a macroporos, e por isso sua
CAD vai ser maior que a de solos arenosos. Porém se a densidade global deste mesmo solo
for muito alta, mesmo sendo mais argiloso, pode apresentar uma CAD menor, o que mostra
que todas as propriedades estão relacionadas.

A textura influencia diretamente as seguintes propriedades do solo:

 Velocidade de infiltração da água no solo;


 Aderência do solo aos implementos agrícolas;
 Aeração do solo e penetração das raízes;
 Retenção de água;
 Nutrição vegetal (areia é mais pobre e argila mais rica em minerais);

A determinação da Textura do solo é feita pelo Método de Vettori no qual se baseia no


princípio de que o material em suspensão comunica determinada densidade ao liquido. Com a
ajuda de um densímetro, podemos relacionar as densidades, com o tempo de leitura e a
temperatura da solução, calculando com esses dados a porcentagem de partículas e seus
diâmetros. O método segue as seguintes etapas:

1. Preparo das Amostras: as amostras deformadas chegam ao laboratório em sacos


plásticos e são secas naturalmente por 48 hs. Após as amostras são trituradas e
colocadas em caixas de papelão.

2. 1ª Fase: 20g de solo são colocadas em potes de vidro com 10 ml de NaOH 6%


(hidróxido de sódio na concentração de 6%) e água destilada para completar São
colocadas também estruturas metálicas em seu interior e os potes são tampados e
levados ao agitador por 2 hs.
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Fig. 5 – Recipientes de vidro contendo solo, dispostos no agitador.

3. 2ª Fase: Após sair do agitador, a solução passa por uma peneira para separa as
partículas maiores (areia) do restante. O material que fica na peneira (areia) é seco em
estufa a 105 ºC por 48 hs e posteriormente são pesados identificando assim a
quantidade de areia total na amostra. Ainda pode ser feita a separação da areia fina e
grossa utilizando peneiras com malha de 0,210mm.

Fig. 6 – Lavagem para a separação da areia.

4. 3ª Fase: o que passa pela peneira (argila e silte) cae em pipetas que são preenchidas
com água destilada, homogeneizadas e deixadas para descansar por 1:30 hs. A cada
meia hora é medida a temperatura da solução. Após é retirada uma amostra de 250 ml.
É feita a leitura real da densidade da solução com o auxílio de um hidrômetro.

Fig. 7 – Homogeneização e transferência da solução para copos plásticos.


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5. 4ª Fase: As leituras são lançadas em um programa que contém as fórmulas adequadas


e calculam diretamente a proporção de argila, silte e areia.

Fig. 8 – Textura do solo conforme o teor de argila.

Fig. 9 – Triângulo para determinação das classes texturais do solo conforme os teores de argila, silte e areia.

1.1.3 Estrutura

Como vimos anteriormente, o solo é composto por partículas de Areia, Silte e Argila.
Estas partículas se mantém unidas pela ação de agentes cimentantes, sendo os mais
importantes o ferro, a sílica e a matéria orgânica. Contudo a argila também é responsável por
esta união.

Fig. 10 Agregados do solo.


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Assim são formados os agregados estáveis do solo. A estrutura do solo consiste na


disposição geométrica destes agregados que contám as partículas primárias e secundárias. As
primárias são isoladas e as secundárias são um conjunto de primárias dentro de um agregado
mantido por agentes cimentantes.

Um solo com melhor estrutura suporta melhor a precipitação e a ação de máquinas e


implementos agrícolas e também permite uma melhor produção das culturas.

A estrutura interfere diretamente em certos aspectos do solo, como:


 Aeração (densidade é o fator mais importante);
 Resistência mecânica à penetração;
 Infiltração de água e selamento superficial;
 Densidade do solo (porosidade);
o A entrada de ar e água no solo (nutrição vegetal);
o A água se movimente através do solo sendo disponível para as culturas, assim
como permita uma boa drenagem do solo;
o O crescimento das culturas após a germinação das sementes, permitindo que as
raízes explorem um maior volume de solo em busca de ar, umidade e nutrientes.

A estrutura pode ser mantida ou melhorada com práticas agrícolas adequadas, tais
como a rotação de culturas, cultivo apropriado e incorporação de matéria orgânica.

1.1.4 Densidade

Densidade de Partículas:

A densidade de partículas depende da constituição mineralógica do solo e tem


pouca variação de solo para solo. Em solos com maiores teores de matéria orgânica,
a densidade de partículas é menor do que em solos mais pobres. A importância desta
densidade para a irrigação é praticamente mínima sendo, entretanto, utilizada para
calcular a porosidade total do solo.

É a relação entre a massa de sólidos de um solo seco e o volume das partículas


do solo.

ms
Dp 
Vs

A densidade de partículas varia para solos minerais de 2,60 a 2,7 g/cm 3 .

A determinação da Densidade de Partículas é feita pelo método do Balão


Volumétrico que consiste nas seguintes etapas:

1) Preparo das Amostras: as amostras deformadas chegam ao laboratório em sacos


plásticos e são secas naturalmente por 4 dias. Elas são identificadas as amostras
deformadas chegam ao laboratório em sacos plásticos e são secas naturalmente por 48
hs. Elas são identificadas quanto ao local da coleta e profundidade. As amostras são
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trituradas e após são colocadas 80g de solo em um almofariz de porcelana e com o


auxílio de uma mão de gral recoberta com borracha maceramos essa amostra.
2) 1ª Fase: As amostras são secas em estufa. São coletadas e pesadas 20g de solo. Esta
quantidade é colocada em balões volumétricos.
3) 2ª Fase: Uma bureta é preenchida com 50ml de álcool. O mesmo é transferido
para o balão volumétrico até a marca aferia.

Fig. 11 – Pipetagem do álcool para o interior do balão.


4) 3ª Fase: A densidade de partículas é obtida conforme a fórmula abaixo:

peso.do.solo( g )
Dp 
volume.de.álcool.res tan te.na.bureta(cm3 )

Densidade do Solo (Densidade Aparente):

A densidade do solo é uma medida de avaliação da qualidade física do solo,


sendo uma relação entre a massa de uma determinada porção de solo e o seu volume
ocupado.

Ela não é uma constante, pois varia conforme a textura, estrutura e a


porosidade do solo. Quanto maior o valor da porosidade menor o valor da densidade.

É um fator importante para a irrigação pois possibilita conhecer o grau de


compactação do solo e conseqüentemente a velocidade de infiltração e capacidade de
retenção da água.
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Os sistemas de manejo do solo para a produtividade agrícola podem alterar a


qualidade do solo, desta forma, torna-se oportuno avaliar a qualidade do solo por
meio da sua densidade.

A densidade de partículas varia para solos minerais de 1,50 a 1,60 g/cm 3 .

A determinação da Densidade do Solo é feita pelo método do Anel


Volumétrico que consiste nas seguintes etapas:

1) Preparo das Amostras: as amostras indeformadas chegam ao laboratório em anéis


volumétricos onde vão para a estufa a uma temperatura de 105ºC por 24 hs.
2) 1ª Fase: Os anéis contendo solo são retirados da estufa e o conjunto é pesado
em uma balança de precisão. Após o solo é descartado para que o peso do anel
seja anotado e posteriormente descontado do peso do conjunto ficando assim
apenas o peso do solo

Fig. 12 – Anéis de Kopeck e solo após descarte.

3) 2ª Fase: O volume do anel é medido com o auxílio de um paquímetro.

Fig. 13 – Medição do Anel Volumétrico.

3 ª Fase: Tendo o conhecimento do peso do solo utilizado e do volume que este ocupou dentro
do anel volumétrico, aplicamos diretamente a seguinte fórmula:

peso.do.solo.sec o( g )
Da 
volume.do.anel(cm3 )
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1.1.5 Porosidade

De uma maneira geral, porosidade é a característica ou propriedade de um elemento


poder armazenar fluidos em seus espaços interiores, chamados poros. A matéria e os
agregados do solo são descontínuos. Isso quer dizer que existem espaços (poros) entre as
partículas que formam qualquer tipo de matéria. Esses espaços podem ser maiores ou
menores, tornando a matéria mais ou menos densa.

O arranjo, distribuição e orientação das partículas do solo ocasiona a formação de


espaços vazios ou poros que facilitam a penetração das raízes e o movimento da água e dos
gases no interior dos solos.

Entre as partículas de solo e mesmo entre os agregados existem espaços porosos


capazes de armazenar água e ar necessários para o desenvolvimento normal do sistema
radicular da maioria dos vegetais e dos microorganismos presentes no solo.

Porosidade pode ser contrastada com permeabilidade: A permeabilidade do solo é a


propriedade do sistema poroso do solo que permite o fluxo de líquidos. Normalmente, o
tamanho dos poros e sua conectividade determinam se o solo possui alta ou baixa
permeabilidade. A água irá fluir facilmente através de um solo de poros grandes com boa
conectividade entre eles. Poros menores com o mesmo grau de conectividade teriam baixa
permeabilidade, já que a água fluiria através do solo mais lentamente. É possível termos
permeabilidade zero (ausência de fluxo) em um solo de alta porosidade caso os poros estejam
isolados (não conectados). Também é possível haver permeabilidade zero se os poros forem
muito pequenos, como no caso da argila.

Fig.14 – Baixa permeabilidade de áreas urbanas.

O volume total de poros de um solo é denominado Porosidade Total do Solo. Pode ser
também denominada porção de solo não ocupada por partículas sólidas e é dividida em
Macroporosidade (macroporos) e Microporosidade (microporos). Este espaço poroso é
determinado principalmente pela Textura e Estrutura.
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Fig. 15 – Porosidade do solo.

Os macroporos são espaços maiores que possibilitam a entrada livre da água e do ar e


conseqüentemente uma maior drenagem pela ação da força da gravidade. Solo arenosos
possuem uma movimentação rápida da água e do ar devido a alta concentração de
macroporos. Contudo isso não indica um valor alto de porosidade total. O ideal é um solo
com 25% de macroporos.

Fig. 16 – Água preenchendo os Macroporos do solo.

Os microporos são espaços reduzidos responsáveis pela entrada da água devido ao


fenômeno e capilaridade. A entrada do ar é dificultada e considerada nula. Os microporos são
os últimos a liberarem a água e parte desta não é liberada por estar fortemente adsorvida às
partículas. Solos de textura mais fina tem movimentação de água e ar mais lenta, sendo
restrita a entrada de ar. Contudo o valor de porosidade total é mais alta se compararmos com
um solo de textura mais grossa (areia). O ideal é um solo com 75% de microporos.
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Fig. 17 – Água retida pelos Microporos do solo.

Fig. 18 – Água adsorvida e fortemente retida pelos Microporos do solo.

A quantidade (número de poros ou porosidade total) e a maneira como os poros estão


distribuídos no solo afetam a velocidade de infiltração (VI) água no solo de forma direta.
Contudo, a capacidade de armazenamento não é influenciada pela porosidade total, mas sim
pelo tamanho dos poros e distribuição dos mesmos.

A determinação da Porosidade do Solo é feita pelo método do Anel


Volumétrico em Mesa de Tensão, que consiste nas seguintes etapas:

1) Preparo das Amostras: as amostras indeformadas chegam ao laboratório em anéis


volumétricos onde são dispostos em bandejas contendo água para saturarem por 48 hs.
2) 1ª Fase: Os anéis contendo solo saturado são pesados e posteriormente
dispostos em uma Mesa de Tensão que exerce uma pressão negativa de 10 cm
de coluna de água por 24 hs. Após este período eles são pesados.
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Fig. 19 – Vista superior da Mesa de Tensão com amostras.

3) 2ª Fase: Após, os anéis são colocados novamente na Mesa de Tensão e submetidos a


uma tensão de 60 cm de coluna de água por 24 hs e pesados novamente. Após os anéis
são levados a estufa por 24 hs a 105ºC e pesados novamente.
4) 3ª Fase: Calculamos o volume do anel volumétrico (já descrito anteriormente). Os
valores de são calculados segundo as fórmulas abaixo:

peso.da.amostra.60cm( g )  peso.da.amostra.sec a.em.estufa( g )


Microporosidade(%)   100
volume.do.cilindro(cm3 )

Densidade.de. partículas.real ( g / cm3 )  Densidade.do.solo( g / cm3 )


Porosidade.Total (%)   100
Densidade.de. partículas.real ( g / cm3 )

Macroporosidade(%)  Porosidade.Total (%)  Microporosidade(%)

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