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Avaliação da Colapsibilidade do Solo de um Trecho do Projeto de

Integração do Rio São Francisco por meio de Ensaios de


Laboratório e de Campo.
João Barbosa de Souza Neto
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro-BA, Brasil, joao.barbosa@univasf.edu.br

Petrucio Antunes Martins


Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro-BA, Brasil, petrucio.martins@univasf.edu.br

Eduardo Nina Pinheiro Perez


Ministério da Integração Nacional, Brasília-DF, Brasil, eduardo.nina@ig.com.br

Marcus Vinícius Furtado dos Santos


Consórcio Logos-Concremat, Brasília-DF, Brasil, marcus.vinicius@logos-concremat.com.br

RESUMO: Este trabalho apresenta e discute resultados de um estudo envolvendo ensaios de


laboratório e campo para avaliar a colapsibilidade do solo de um trecho do canal do Eixo Leste do
Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional
(PISF), no município de Floresta-PE. O estudo foi elaborado em parceria da UNIVASF com o
consórcio LOGOS-CONCREMAT e do Ministério da Integração Nacional - MI. Cerca de dez
amostras indeformadas foram coletadas no trecho com vistas a obter o potencial de colapso no
laboratório por meio de edômetros. O colapso foi determinado nas tensões de inundação de 50 kPa e
100 kPa. Nessas tensões foram, também, realizados ensaios de colapso no campo nos locais de
coleta das amostras indeformadas, utilizando uma versão do Expansocolapsômetro construída,
especificamente, para este estudo. Os resultados dos ensaios edométricos foram utilizados para
auxiliar na interpretação dos ensaios de campo, de forma a permitir a sua aplicação em outros
trechos. Os ensaios de campo foram realizados seguindo metodologia previamente elaborada. O
ensaio consiste em carregar o solo e inundá-lo, medindo o colapso do solo por meio de
extensômetro acoplado ao equipamento. Os potenciais de colapso no laboratório foram elevados,
variando entre 5% e 13%, sendo os solos classificados de “Colapsíveis” pelo critério de Vargas
(1978) e “Problemático” segundo Jennings e Knight (1975). Os colapsos de campo foram
correlacionados com os de laboratório, seguindo procedimento adotado por Ferreira (1995) e Souza
Neto (2004). Os resultados do estudo permitiram uma avaliação quantitativa da colapsibilidade do
solo por meio de um ensaio simples e eficaz num tempo reduzido, subsidiando a definição das
camadas a serem tratadas, conforme critério estabelecido no projeto executivo.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Colapsíveis, Ensaios de Campo, Ensaios de Laboratório.

1 INTRODUÇÃO a construção de dois canais (eixo norte e eixo


leste), que levarão água ao sertão e agreste dos
A região nordeste vem sendo submetida a Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte
grandes investimentos em obras de e Pernambuco. No traçado dos canais envolve
infraestrutura. Dentre as principais obras uma grande variedade de solos e rochas, dentre
destaca-se o “Projeto de Integração do Rio São os quais alguns depósitos de “solos colapsíveis”
Francisco com as Bacias Hidrográficas do e “solos expansivos”. Este trabalho apresenta e
Nordeste Setentrional - PISF”. O projeto prevê discute resultados de um estudo envolvendo
ensaios de laboratório e campo para avaliar a pela deficiência de umidade que se
colapsibilidade do solo de um trecho do canal desenvolvem em regiões áridas e semiáridas.
do Eixo Leste, no município de Floresta-PE. O Neste contexto não é rara a ocorrência de solos
estudo foi elaborado em parceria da UNIVASF colapsíveis no sertão nordestino, destacando-se
com o consórcio LOGOS-CONCREMAT e do o Estado de Pernambuco, cujo problema passou
Ministério da Integração Nacional – MI. O a ter relevância após a construção da barragem
estudo foi motivado em função da necessidade de Itaparica, onde se verificou vários danos em
de identificar as camadas de solos colapsíveis edificações recém-construídas nos novos
com vistas à estabilização mecânica do solo em conglomerados urbanos, com destaque à cidade
diferentes trechos, conforme previsto no projeto de Petrolândia-PE, conforme relatam Ferreira e
executivo. O foco principal foi a elaboração de Teixeira (1989); Souza et al. (1995) e Souza
uma metodologia simples baseada em ensaios Neto (2004).
de campo, dispensando a necessidade de uma
excessiva coleta de amostras indeformadas para 2.2 Fatores que influenciam no colapso do solo
medir o potencial de colapso do solo no
laboratório. Para tanto, foi utilizada uma versão A avaliação da colapsibilidade do solo é,
do equipamento de campo denominado normalmente, feita no laboratório por meio de
Expansocolapsômetro, onde foi elaborada uma ensaios edométricos envolvendo o
metodologia baseada em Ferreira (1995) e carregamento do solo, seguido de inundação. A
Souza Neto (2004). Será apresetada uma sintese deformação decorrente da inundação é definida
sobre o conceito de solos colapsíveis, a por Jennings e Knight (1975) de potencial de
metologia empregada no estudo e os resultados colapso. Este tipo de ensaio tem sido referido
com as principais conclusões. por Ferreira (1995) de “edométrico simples”.
Outro procedimento envolve a realização de um
2 CONSIDERAÇÃO TEÓRICA ensaio de compressão edométrica com o solo no
estado natural e outro no solo previamente
O colapso é o termo utilizado para os recalques inundado. A diferença das deformações entre os
adicionais de uma fundação devido ao dois ensaios, numa dada tensão, corresponderá
umedecimento de um solo não saturado, ao potencial de colapso. Este tipo de
normalmente sem aumento nas tensões procedimento é denominado de “ensaios
aplicadas (Jennings e Knight, 1975). Os solos edométricos duplos”.
não saturados sujeitos a este fenômeno são, Com base nos resultados dos ensaios de
normalmente, denominados de “Solos colapso no laboratório tem-se observado alguns
Colapsíveis”. fatores característicos dos solos que podem
influenciar na sua colapsibilidade.
2.1 Ocorrência de solos colapsíveis
2.2.1 Umidade inicial do solo
Geralmente a ocorrência de solos colapsíveis
está relacionada a locais com deficiência O colapso do solo tende a aumentar de forma
hídrica, em regiões de baixos níveis de inversa com a sua umidade inicial (antes do
precipitações pluviométricas, embora tenha umedecimento). Este fato é esperado, pois
havido a constatação desses tipos de solos em quanto menor a umidade (maior sucção), mais
outras regiões de maior pluviosidade. Neste rígido estará o solo e menor será a parcela do
contexto incluem-se os ambientes tropicais, os recalque antes do umedecimento, resultando em
quais, segundo VILAR et al. (1981), maior deformação de colapso. Valores de
apresentam condições propícias para o sucções da ordem de 10 MPa são comuns nos
desenvolvimento de solos colapsíveis, seja pela solos do semiárido nordestino, conforme
lixiviação de finos dos horizontes superficiais mostrou Ferreira (1995) e Souza Neto (2004).
nas regiões onde se alternam estações de Por esta razão, os ensaios que conduzirão ao
relativa seca e de precipitações intensas, seja maior potencial de colapso serão aqueles
realizados quando o solo estiver com umidade valor máximo varia com o tipo de solo e
correspondente ao período seco da região, condições iniciais. Souza Neto (2004) chama a
considerado o período mais crítico, caso atenção de que este comportamento tem sido
contrário, o potencial de colapso calculado verificado sob condição de carregamento em
poderá ser pequeno, dando uma falsa indicação ensaios edométricos, o que raramente
de “não colapsibilidade do solo”. corresponderá às condições no campo. É
Para que o colapso seja deflagrado, duas possível que no campo o comportamento do
condições básicas devem ser satisfeitas: a colapso seja sempre crescente com a tensão,
elevação do teor de umidade até certo valor pois não há restrições ao deslocamento lateral,
limite e a atuação de um estado de tensões como ocorre nos ensaios edométricos. Portanto,
crítico. ao se comparar os potenciais de colapso obtidos
Dependendo do teor de umidade do solo, o de ensaios de laboratórios com os de ensaios de
que corresponde a um determinado grau de campo, é aconselhável que os níveis de tensões
saturação (Sr), o solo não apresentará colapso adotados estejam na faixa ascendente do
sob inundação, uma vez que praticamente toda colapso de laboratório.
deformação ocorrerá na etapa de carregamento, Outra consideração com base no descrito no
passando a ser desprezível ou inexistente as parágrafo acima é a de que, nem sempre os
deformações decorrentes da inundação. níveis de tensão do campo estarão no trecho
O grau de saturação a partir do qual não se ascendente da curva, resultando em colapsos
verifica o colapso do solo é definido por menores, podendo vir a identificar o solo como
Jennings e Knight (1975) de grau de saturação não colapsível. Há casos onde a tensão de
crítico e varia de solo para solo. Esses autores ruptura do solo após a saturação é menor do que
apresentam as seguintes faixas de grau de a tensão admissível considerada no projeto,
saturação crítico: 6 < Sr < 10% para podendo vir a resultar na ruptura do sistema.
pedregulhos finos; 50 < Sr < 60% para areias Além dos fatores intervenientes abordados
siltosas finas; 90 < Sr < 95% para siltes acima, vale registrar que, em alguns solos, o
argilosos. potencial de colapso pode ser intensificado,
Na realidade, existem dois graus de dependendo do liquido permeante, em virtude,
saturação críticos, um inferior, que corresponde por exemplo, da dispersão da fração argila,
ao grau de saturação necessário para deflagrar o conforme apresentado por Reginatto e Ferreiro
processo e outro superior, que corresponde (1973). É sempre recomendável que os ensaios
àquele supracitado. A implicação prática é que, de colapso sejam realizados com o permeante
ao se avaliar o colapso no campo, fora da previsto no campo.
estação seca, não se devem desprezar as
deformações (ou recalques) que venham a 2.3 Identificação de Solos Colapsíveis
ocorrer antes da saturação do solo.
Ferreira (1995) classifica os métodos de
2.2.2 Nível de tensão identificação de solos colapsíveis de “indiretos”
e “diretos”. Os indiretos são aqueles que
O potencial de colapso do solo não depende utilizam resultados de ensaios de caracterização
apenas da sua umidade inicial, mas também do do solo, de simples obtenção em laboratórios.
nível de tensão em que ocorre o seu Partindo-se de resultados de caracterização,
umedecimento. Vários autores (e.g. Yudhbir, vários autores têm proposto índices e critérios
1982; Lutenegger e Saber, 1988; Phien-Wej et de identificação, porém restritos às regiões onde
al, 1992; Ferreira, 1995; Futai, 1997; Vilar e foram elaborados, o que tem sido a maior crítica
Machado, 1997, Souza Neto, 2004) têm a este procedimento. Ferreira (1995) e Souza
mostrado que o potencial de colapso tende a Neto (2004) reforçam esta crítica ao aplicar
aumentar com a tensão de inundação, até vários critérios de identificação no solo
alcançar um valor máximo, a partir do qual colapsível de Petrolândia-PE.
tende a diminuir. A tensão onde ocorre este
Os métodos diretos são aqueles que se ensaios no laboratório, decidiu-se adotar
baseiam na medida do potencial de colapso do procedimentos baseados em ensaios de campo.
solo por meio de ensaios de laboratório do tipo Para isso, foi utilizada uma versão do
edométrico ou por meio de ensaios de campo, “Expansocolapsômetro” construída
tal como o expansocolapsômetro. Com base no exclusivamente para este estudo.
valor do potencial de colapso vários autores têm O Expansocolapsômetro consiste de um
apresentado propostas de identificação de solos ensaio de placa em miniatura realizado em um
colapsíveis. Ferreira (1995) e Souza Neto furo aberto a trado e sua base devidamente
(2004) apresentam uma revisão sobre as nivelada com um trado especial, denominado
diferentes propostas, ressaltando vantagens e “trado nivelador”. Sua composição básica
limitações. No Brasil destaca-se o critério de consiste de um tripé, por meio do qual desliza
Vargas (1978) que considera colapsível todo o uma haste conectada a uma sapata na sua parte
solo que apresente um potencial de colapso inferior. Sobre a haste são aplicados pesos que
maior que 2%, independente do nível de tensão, transferirão a carga à sapata circular rígida de
sendo muito adotado pelos projetistas 10 cm de diâmetro. Os recalques são medidos
brasileiros. por meio de extensômetro fixado numa base
rígida e apoiados sobre um suporte fixado à
3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA haste, que se desloca verticalmente. Após a
DE ESTUDO estabilização dos recalques sob tensão, o solo é
inundado, sendo os recalques devidos à
A área de estudo está localizada no Lote 09 do inundação medidos e denominados de colapso.
canal Leste do PISF, no município de Floresta- A Figura 1 ilustra a versão do equipamento
PE, numa extensão da ordem de 40 km. Visto utilizada, baseada na proposta de Souza Neto
que estudos preliminares indicaram a evidência (2004).
de solos colapsíveis ao longo do traçado do
canal, decidiu-se intensificar o estudo. Uma vez
identificado o colapso, o projeto executivo
prever a escavação e reaterro do solo
compactado na umidade ótima, eliminando
assim sua colapsibilidade.
O solo pertence à formação Tacaratu,
caracterizada por arenitos grosseiros a médios,
ocasionalmente conglomeráticos e mal
selecionados. O solo é caracterizado por uma
areia fina siltosa amarelada, com espessura que
pode chegar a 6,0 m. O clima da região é do
tipo semiárido, com precipitações médias da
ordem de 450 mm anuais e evaporação que
podem variar de 1600 mm a 1800 mm.

4 METODOLOGIA

Dada a real suscetibilidade ao colapso do solo


na região do Lote 09 das Obras do Eixo Leste
Figura 1. Esquema ilustrativo do Espansocolapsômetro.
do PISF, houve a necessidade da determinação
do potencial de colapso do solo ao longo do
Um ponto relevante neste tipo de ensaio é
eixo do canal e em diferentes profundidades. garantir um umedecimento adequado do solo,
Visto que a extensão do trecho tornaria preferencialmente, que toda região envolvida pelo
excessivamente onerosa a coleta de amostras, bulbo de tensões esteja com grau de saturação
além do tempo despedido para realização dos acima do crítico superior. Neste trabalho, além da
estabilização dos recalques durante a inundação, Nessas mesmas tensões (50 kPa e 100 kPa)
água foi adicionada de forma a garantir que todo foram realizados os ensaios edométricos simples.
o solo sob a placa envolvido pelo bulbo de Para fins de avaliar a variação do potencial de
tensões, equivalente a 0,20 m, tenha sido colapso com a tensão vertical, foram realizados
suficientemente umedecido. Essa verificação era ensaios edométricos duplos, de forma a garantir
feita determinando o teor de umidade no término que os níveis de tensões adotados estejam no
do ensaio. Em ensaios preliminares, constatou-se trecho ascendente da curva tensão versus
um tempo de 60 minutos como suficiente para potencial de colapso. Os ensaios edométricos
umedecer todo o solo e garantir a estabilização foram realizados numa prensa tipo Bishop com
dos recalques, sendo adotado como padrão para célula de anel fixo e dispondo de sistema
os demais ensaios. Vale ainda ressaltar que foram automático de aquisição de dados. A inundação
feitos furos independente para cada ensaio, de foi feita sem controle da vazão e mantida por um
forma a evitar a influência da água adicionada no período mínimo de 24 horas, de forma a garantir a
ensaio anterior. saturação do solo.
A determinação do potencial de colapso no
campo não é simples, devido às dificuldades no 5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
cálculo das deformações. Sendo assim, optou-se RESULTADOS
em fazer um ajuste dos colapsos de campo com os
de laboratório, determinados por meio de ensaios A Figura 3 apresenta um resultado típico de
edométricos simples. Foram coletadas cinco ensaio edométrico duplo. A partir da Figura 3,
amostras indeformadas na profundidade de 0,50 obteve-se a variação do potencial de colapso
m e cinco nas profundidades de 1,0 m com o nível de tensão, apresentado na Figura 4.
paralelamente ao eixo o canal. Nessas
Observa-se que o potencial de colapso (εc)
profundidades e nos mesmos locais de
aumenta com a tensão, atingindo um máximo
amostragem foram realizados ensaios de colapso
em torno de 400 kPa (Fig. 4), mantendo-se
com o Expansocolapsômetro nas tensões de 50
kPa e 100 kPa, de forma a obter os recalques de constante para níveis de tensão até 640 kPa.
colapso no campo (Fig. 2). Este resultado mostra que as tensões de 50 kPa
e 100 kPa adotadas nos ensaios de campo, bem
como para os ensaios edométricos simples,
estiveram sempre no trecho ascendente da curva
potencial de colapso versus tensão vertical.

Figura 3. Ensaio edométrico duplo do solo coletado na


estaca 2021, a um metro de profundidade.

Figura 2. Ensaio de campo sendo realizado com o


expansocolapsômetro.
Pelos critérios apresentados, os solos foram
classificados como colapsíveis (εc > 2%) pelo
critério de Vargas (1978) e de problemático (5%
< εc > 10%) a problema grave (10% < εc > 20%)
pelo critério de Jennings e Knight (1975).
Verifica-se, invariavelmente, para as demais
estacas do trecho estudado, maiores valores para
os potenciais de colapso dos ensaios na tensão
de 100 kPa, reforçando que os níveis de tensões
adotados estavam dentro do trecho ascendente
da curva de variação do potencial de colapso
com a tensão vertical.
Figura 4. Potencial de colapso versus tensão vertical para Na Figura 6 apresentam-se resultados típicos
o solo da estaca 2016. de ensaios realizados com o
Expansocolapsômetro, representados pela curva
A Figura 5 apresenta resultados típicos de tempo x recalque.
ensaios edométricos simples. A Tabela 1 As curvas mostradas na Figura 6 são
apresenta um resumo dos potenciais de colapso caracterizadas por um trecho de baixo recalque,
obtidos em laboratório, bem como a antes da inundação, e um trecho correspondente
classificação da colapsibilidade de acordo com ao colapso. Os recalques antes da inundação
os critérios de Vargas (1978) e Jennings e variaram entre 0,8 mm (50 kPa) e 1,5 mm (100
Knight (1975). kPa). Para os recalques de colapso, estes
variaram entre 1,1 mm (50 kPa) e 3,6 mm (100
kPa). Valores de colapso bem superiores aos
mencionados acima foram obtidos para outras
estacas, chegando a 18 mm de recalque devido à
inundação do solo. Os tempos totais dos ensaios
com o expansocolapsômetro foram em torno de
1,5 h, sendo 30 min antes da inundação e 1 h
após a inundação, tempo este suficiente para
ocorrer a estabilização dos recalques e garantir a
inundação do solo.

Figura 5. Ensaio de edométrico simples para o solo da


estaca 2380.

Tabela 1. Potencial de colapso, obtidos em laboratório,


para o solo do lote 09 do PISF.
σv εc Colapsibilidade
Estaca
(kPa) (%) [1] [2]
100 11,57 Colapsível Grave
2061
50 8,74 Colapsível Problemático
100 8,46 Colapsível Problemático
2230
50 7,86 Colapsível Problemático
100 7,52 Colapsível Problemático
2275
50 6,49 Colapsível Problemático
100 12,97 Colapsível Grave
2315
50 8,67 Colapsível Problemático
100 10,09 Colapsível Grave
2380 Figura 6. Ensaio de colapso no expansocolapsômetro, na
50 9,64 Colapsível Problemático
[1] Vargas (1978); [2] Jennings e Knight (1975). estaca 2380, a meio metro de profundidade.
Os resultados obtidos com o uso do É importante ressaltar que as condições de
equipamento expansocolapsômetro em várias contorno dos ensaios edométricos, com
estacas do lote 09 do PISF, a um e meio metro deformação lateral nula, não corresponde à
de profundidade foram comparados com os mesma do ensaio de campo envolvendo
potenciais de colapso obtidos a partir dos carregamento de uma placa circular rígida. Nos
ensaios edométricos simples. A Figura 7 ensaios edométricos, todas as deformações
apresenta um gráfico de dispersão dos serão resultantes da redução dos vazios, pois
resultados para os ensaios executados com a não haverá ruptura do solo. No campo é
finalidade de ajuste do equipamento construído. possível que o colapso obtido a partir do
expansocolapsômetro seja superior, uma vez
que além da redução dos vazios poderá também
haver ruptura do solo resultante das tensões
cisalhantes. Por esta razão é possível que o
colapso obtido pela correlação venha a ser
muito elevado, o que não implica em erro de
interpretação e sim uma conseqüência da
elevada redução na resistência ao cisalhamento
que esses solos podem apresentar.
A Figura 8 apresenta o potencial de colapso
com a profundidade, obtido a partir dos
resultados de campo e da correlação com os
ensaios de laboratório (Fig. 7). Observa-se, em
geral, uma tendência de aumento do potencial
Figura 7. Gráfico de dispersão dos valores de colapso de colapso com a profundidade, alcançando um
obtidos nos ensaios de campo e laboratório. máximo em função da espessura do perfil de
solo da estaca, vindo, a partir de então, a
Na Figura 7, tem-se na abscissa o colapso de
diminuir para valores mínimos. Este
campo e na ordenada, o potencial de colapso de
comportamento tem sido observado por Ferreira
laboratório. Tomando-se como referência a reta
(1995) e Souza Neto (2004) para solos
1:1 observa-se que a maioria dos pontos se
colapsíveis de Petrolândia/PE, também
dispersa na parte superior da reta, indicando que
pertencentes à formação Tacaratu, o que parece
os colapsos obtidos em campo com o
caracterizar um padrão típico desta formação.
equipamento expansocolapsômetro foram, em
90% dos casos, inferiores aos obtidos a partir
dos ensaios de laboratório.
A nuvem de pontos não se configurou numa
tendência bem definida, entretanto não se
observou grandes variações dos solos, em geral
caracterizado por uma areia siltosa. Dessa
forma, partindo-se dos resultados, estabeleceu-
se um ajuste médio nos resultados de campo
considerando a reta passando pelo ponto médio
e interceptando a origem, ou seja, adotou-se
uma regressão linear dos pontos,
desconsiderando os extremos. Em virtude da
quantidade de dados de campo e considerando o
conceito físico de que sem tensão (0 kPa) não
há colapso, deve-se considerar que a reta de
regressão dos dados necessariamente deve partir
da origem. Figura 8. Potencial de colapso de campo com a
profundidade.
5 CONCLUSÃO Lutenneger, A.J. & Saber, R. T. (1988). “Determination
of Collapse Potential of Soils”. Geotechnical Testing
Journal, ASTM, Vol. 11, no 3, September, pp. 173-
O solo em estudo apresenta elevada 178.
susceptibilidade ao colapso, vindo a ser Phien-Wej, N.; Pientong, T. e Balasubramanian, A.S.
identificados como colapsíveis e problemático (1992). “Collapse and Strength Characteristics of
pelos critérios de Vargas (1978) e Jennings e Loess in Thailand”. Engineering Geology, Vol. 32,
Knight (1975), requerendo tratamento Elsevier Science, Amsterdam, pp.59-72.
Reginatto, A.R. & Ferrero (1973). “Collapse Potential of
específico para sua estabilização. Soils and Water Chemistry”. Proceedings of the VIII
O uso do expansocolapsômetro mostrou ser International Conference on Soil Mechanics and
um meio simples e econômico para avaliar a Foundation Engineering, Moscow, vol. 2, p.177-183.
colapsibilidade do solo para as obras do PISF, a Souza Neto, 2004. Comportamento de um solo colapsível
despeito das incertezas envolvidas no cálculo avaliado a partir de ensaios de laboratório e campo, e
previsão de recalques devidos à inundação (colapso).
das deformações de colapso. Cabe ressaltar que Tese de Doutorado. COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro.
em virtude da grande extensão da área do PISF, 432 p.
ensaios edométricos foram necessários para Souza, R.J.B., Cavalcanti, A.J.C.T., Vasconcelos, A.A.,
auxiliar na interpretação dos resultados. et al. (1995) “Unsaturated Soil Problems on the
Os resultados do estudo permitiram uma Itaparica Dan Reservoir Área – Brazil”. Proc. Of the
First International Conference on Unsaturated Soils.
avaliação quantitativa da colapsibilidade do Paris, France. Balkema, Vol. 2, pp. 1011-1016.
solo por meio de um ensaio simples e eficaz Vargas, M. (1978). “Introdução à Mecânica dos Solos”.
num tempo reduzido, subsidiando a definição McGRAW-HILL do Brasil. São Paulo. Vol.1, p.509.
das camadas a serem tratadas, conforme critério Vilar, O.M. & Machado, S.L. (1997) “The Influence of
Suction on Lateral Stress and on Collapse of a Non-
estabelecido no projeto executivo.
Saturated”. Soil and Pavement Mechanics. Almeida
eds., Balkema, Rotterdam, pp.309-314.
AGRADECIMENTOS Vilar, O.M., Rodrigues, J.E. & Nogueira, J.B. (1981)
“Solos Colapsíveis: Um Problema para a Engenharia
Os autores agradecem o apoio do consórcio dos Solos Tropicais”. Simpósio Brasileiro de Solos
Tropicais em Engenharia. Rio de Janeiro, vol. 1,
Logos-Concremat e do Ministério da Integração
p.209-224, Setembro.
Nacional na disponibilidade dos recursos Yudhbir, (1982). “Collapsing Behavior of Residual
necessários à realização dos ensaios de campo e Soils”. Proceedings of the 7 th Southeast Asian
laboratório e a UNIVASF pelo apoio ao Grupo Geotechnical Conference, Hong Kong, Vol. 1, pp.
de Pesquisa Geotecnia do Semiárido. 915-930.

REFERÊNCIAS

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“Collapsible Soil - A Practical Case in Construction
(Pernambuco - Brazil)”. Proc. XII Inter. Conference
on Soil Mechanics and Foundation Engineering. Rio
de Janeiro. Vol.1, pp.603-606.
Ferreira, S.R.M. (1995). “Colapso e Expansão de Solos
Naturais Não Saturados Devido à Inundação”. Tese
de Doutorado. COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro, Março,
379 p.
Futai, M.M. (1997). “Análise de Ensaios Edométricos
com Sucção Controlada em Solos Colapsíveis”.
Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de
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Jennings, J. E. & Knight, K. (1975). “A Guide to
Construction on or with Materials Exhibiting
Additional Settlement Due to a Collapse of Grain
Structure”. Proced. IV Regional Conference for
Africa on Soil Mechanics and Foundation
Engineering. Durban, p. 99-105.

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