Você está na página 1de 12

You are free: to copy, distribute and transmit the work; to adapt the work.

You must attribute the work in the manner specified by the author or licensor

CONTROLE DE PERDAS EM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA: O


CASO DO MUNICÍPIO DE POÇOS DE CALDAS (MG)1.

Flávia Gonçalves Rocha de Oliveira2; Fábio Augusto Gomes Vieira Reis3;


Lucilia do Carmo Giordano4; Gerson Araujo de Medeiros5

RESUMO

O abastecimento de água da cidade de Poços de Caldas foi estruturado em uma série de reservatórios e estações
elevatórias, o que tornou o sistema mais suscetível às perdas. Após a construção do Sistema Produtor Cipó –
ETA V (Estação de tratamento de água V), os problemas com falta de água foram resolvidos, entretanto as
perdas no sistema aumentaram consideravelmente, evidenciando a necessidade de um modo de supervisão mais
abrangente. Nesse contexto, o DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto) resolveu implantar uma
Central de Controle e Operações (CCO). Para tanto, foram instalados macromedidores em diversos pontos da
rede e por telemetria todos os valores lidos por estes equipamentos chegam à CCO e por comparação com a
micromedição obtêm-se índices de perdas que determinam quais os setores devem ser reestruturados para que as
perdas sejam minimizadas. O presente estudo tem com o objetivo apresentar a descrição do sistema instalado,
como também os resultados obtidos no primeiro ano de sua operação. Com a implantação do CCO pode-se obter
uma redução do índice de perdas em 2,68%.
Palavras-chave: controle de perdas, distribuição de água, macromedição.

CONTROL OF LOSSES IN WATER DISTRIBUTION SYSTEM: THE CASE OF THE


MUNICIPALITY OF THE POÇOS DE CALDAS (MG).

ABSTRACT
In order for the water distribution system at county of Poços de Caldas to become efficient, it was necessary an
installation of many reservoirs and water pump stations, turning the system more susceptible to losses. After the
construction of the Produtor Cipó System – ETA V (Station of Water Treatment V), the problems with the lack
of water were solved; however the losses in the system increased evidencing the need of a broader supervision
system. Due the circumstances, DMAE (Municipal Department of Water and Sewer) decided to implement a
Headquarters of Control and Operations (HCO). Macro meters were installed in several points of the net, and
consequently, through telemetry, all the readings arrive at the HCO and by comparison with the micro readings,
loss indexes are obtained determining which sections should be worked on so that the losses are minimized. In
the first year after the installation of the HCO, the losses indexes were reduced in 2.68%.
Keywords: control of losses, water distribution and macro meter.

Trabalho recebido em 10/02/2009 e aceito para publicação em 14/03/2009.

1
Parte da Monografia de Especialização do primeiro autor defendida junto ao Centro Universitário da Fundação de Ensino
Octávio Bastos (UNIFEOB);
2
Engenheira do DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto);
3
Geólogo, Doutor, Prof. Unifeob/Unimep/Unisal/Unesp – Diretor da Ecogeologia Consultoria Ambiental, Rua 8-B, n. 842,
Vila Indaiá, Rio Claro – SP, CEP 13506-743. e-mail: fabio@ecogeologia.com.br;
4
Ecóloga, Doutora, Docente da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro (FMPFM), Diretora da Ecogeologia
Consultoria Ambiental, Rua 8-B, n. 842, Vila Indaiá, Rio Claro – SP, CEP 13506-743 e-mail: lcg@ecogeologia.com.br;
5
Doutor; Faculdade de Tecnologia de Indaiatuba (FATEC-ID), Rua Dom Pedro I, n. 65 , Bairro Cidade Nova, Indaiatuba –
SP, CEP 13334-100. e-mail: gerson@fatecindaiatuba.edu.br.

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 310

1. INTRODUÇÃO Os estados brasileiros que


A escassez da água tem levado a uma apresentam as maiores perdas no sistema
série de mudanças em todos os setores da de abastecimento de água são o Acre e o
sociedade envolvidos priorizando-se, cada Amapá, as quais são superiores a 70%,
vez mais, um aumento na eficiência de seu enquanto nos estados do Rio Grande do
uso. Nesse aspecto, inclui-se o setor de Norte e do Paraná, além do Distrito
abastecimento de água, o qual apresenta Federal, se observam as maiores
uma série de perdas desde o tratamento até eficiências de distribuição, as quais são
o consumidor final. Tais perdas podem ser refletidas por índices de perdas inferiores a
classificadas como reais, ou físicas, e 30%. No estado de Minas Gerais tais
aparentes, ou não físicas (PNCDA, 1999). índices se situam na faixa de 30 a 40%
(PMSS, 2007). Esse quadro de baixa
As perdas reais consideram as águas
eficiência deve-se, entre outros fatores, a
que não chegam ao consumidor em função
pouca preocupação, por parte das
de vazamentos nos ramais prediais e no
Empresas de Saneamento Básico, de
sistema público de abastecimento. Já as
conhecer e controlar o nível de perdas
perdas aparentes relacionam-se a erros de
existentes nos sistemas de abastecimento
medição nos hidrômetros, fraudes, ligações
de água.
clandestinas e falhas no sistema de
cadastramento das companhias Em decorrência, quando ocorriam
fornecedoras. Nesses casos a água é crises de abastecimento, procuravam
consumida, mas não é medida, acarretando ampliar a oferta de água para sanar a
em perdas de faturamento (PNCDA, 1999). situação. Este procedimento conduziu,
invariavelmente, a soluções que não
No Brasil, o índice médio de perdas
representavam a melhor alternativa sob o
de água atingiu 39,8% em 2006, segundo
ponto de vista custo-benefício; pois se
dados compilados e divulgados pelo
ignorava o aspecto econômico, e as
Programa de Modernização do Setor de
decisões se baseavam apenas nos aspectos
Saneamento (PMSS, 2007). Essas perdas
técnicos da questão (COELHO, 1983).
são variáveis entre as diferentes regiões
brasileiras, destacando-se negativamente a O controle de perdas converteu-se
região Norte, com perdas na ordem de em tema da atualidade e exige que sejam
58,1%, e a região Sul, a qual apresenta o levados em conta três aspectos básicos:
menor índice de perdas de 29,7% (PMSS, técnicos, econômicos e o de
2007). desenvolvimento de recursos humanos.

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 311

Está comprovado também que a melhor Na prática estas atividades promovem uma
forma de racionalizar o consumo é a melhoria de qualidade dos produtos
medição, que permite um equilíbrio entre a componentes de um sistema de
oferta e a demanda. abastecimento de água.
Acompanhando essa tendência, o O município de Poços de Caldas, no
mercado de telemetria vem crescendo estado de Minas Gerais, apresenta uma
gradativamente devido à mobilidade de topografia muito problemática do ponto de
banda larga oferecida por empresas de vista de abastecimento de água, o que
telecomunicações. levou à necessidade da construção de
Muitas empresas estão investindo em vários reservatórios, à época da
sistemas de controle remoto em algum implantação da Central de Controle e
ponto do seu processo produtivo, isto Operações (CCO). Eram 44 reservatórios e
ocorre devido à distância existente entre os 24 estações elevatórias de água, para
seus diferentes setores ou mesmo pela atender a demanda do município.
praticidade dos sistemas existentes A falta de água era freqüente pela
atualmente no mercado. ausência de um novo sistema produtor e
O uso da automação em sistemas de também pela própria dificuldade de se
controle, em vários estágios da distribuição supervisionar o sistema existente. Os
de água, permite uma redução de custos de manobristas eram divididos em três turnos,
operação e das perdas, além de possibilitar para que todas as elevatórias fossem
o acompanhamento real e instantâneo percorridas, para ligar e desligar as bombas
(NASCIMENTO; HELLER, 2005). e verificar o nível dos reservatórios, os
Todavia, para que se obtenha efetivo quais muitas vezes extravasavam por horas
sucesso no enfrentamento das perdas, é devido à distância.
necessário o comprometimento de todos os Com a construção do Sistema
órgãos que compõem uma companhia de Produtor Cipó (ETA V – Estação de
saneamento básico nas ações a serem Tratamento de Água 5), tal problema da
desenvolvidas. falta de água foi solucionado, mas
Esse enfrentamento terá reflexos não agravou-se a dificuldade de supervisão do
somente internos, mas também será sistema. Com a injeção de mais pressão na
extrapolado para fora da empresa, pela rede, muitas tubulações romperam e
exigência do mercado de produtos de apenas os vazamentos visíveis eram
qualidade técnica cada vez mais apurada. consertados.

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 312

Nessa época, verificou-se que o objetos a Contratação de Serviços para a


volume de água tratada era muito superior Implantação de Macromedição no sistema
ao consumo estimado pelo número de de abastecimento de água do município de
ligações de água surgindo, Poços de Caldas e Instalação da Central de
consequentemente, a necessidade de se Controle e Operações do DMAE
implantar um sistema capaz de (Departamento Municipal de Água e
supervisionar os processos de produção e Esgoto).
distribuição de água, para se controlar e Descreveram-se os tipos de
reduzir as perdas do sistema de medidores de vazão que foram instalados.
abastecimento de água de Poços de Caldas. Nesse aspecto, foram adotados os
Nesse contexto, o presente trabalho medidores velocimétricos, os magnéticos e
tem como objetivo descrever a implantação os ultrasônicos. Nesta fase foram descritas
da Central de Controle e Operações do as suas principais características e a
Departamento Municipal de Água e Esgoto justificativa da escolha de cada um para
(DMAE) do município de Poços de Caldas determinado local. Além disso, detalhou-se
e analisar os resultados alcançados no o processo de medição de vazão em
primeiro ano de operação. condutos forçados, o qual utiliza o método
do Tubo Pitot (AZEVEDO NETO et al.,
1998). Essa medição é feita para
2. MATERIAL E MÉTODOS
levantamento da curva de velocidade ou
2.1. Localização
Traverse do ponto escolhido para a futura
Poços de Caldas localiza-se no
instalação do macromedidor. Se a curva
estado de Minas Gerais nas coordenadas
não estiver adequada, tal ponto não será o
geográficas 21º 50’ 55” S e 46º 39’ 56” W.
melhor local para a instalação do
Sua população estimada é de 150.095
macromedidor, pois seu funcionamento
habitantes, segundo IBGE (2009),
estará comprometido.
correspondendo a uma densidade
demográfica de 272,52 hab km-², sendo o
2.3. Coleta de Dados
município mais populoso do sul desse
estado. Realizou-se uma entrevista com o
Supervisor do setor responsável pela
implantação da Macromedição, visando o
2.2. Levantamento Bibliográfico
conhecimento das causas que levaram o
Realizou-se uma consulta aos Editais
DMAE a adotar tais medidas. Essa
de Tomada de Preços que têm como

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 313

entrevista foi informal, sem a utilização de Operação e Controle do sistema de


questionários. A partir desse levantamento, abastecimento de água do município de
foi descrito como se realizou a setorização Poços de Caldas, assim como os
da cidade, a qual definiu as diferentes levantamentos necessários para a
zonas de pressão e abastecimento. quantificação do índice de perdas antes e
Estabelecidas essas áreas, o controle de após a implantação da COC.
perdas se torna mais eficiente já que é
possível isolar as regiões mais críticas. 3.1. Implantação da Macromedição
A setorização foi realizada O sistema proposto permite a
concomitantemente à instalação dos supervisão, em tempo real, dos fluxos de
macromedidores. Nessa etapa do trabalho água por meio da instalação de 43
descreve-se a instalação da Central de medidores de vazão, sendo previstos
Controle e Operações cujo objetivo era a inicialmente: 5 medidores ultrasônicos, 14
telemetria, telecomando e supervisão das eletromagnéticos e 24 velocimétricos
Estações de Tratamento de Água (ETAs) e (DMAE, 1998).
dos reservatórios, para um efetivo controle
Os medidores ultrasônicos, devido à
da produção e distribuição de água,
sua precisão, foram adotados para as
evitando-se desabastecimento, perdas
medições de vazão nas calhas Parshall das
físicas, quebras de redes, contaminações,
ETAs.
etc. Descreve-se, ainda, os métodos
Nas saídas dos reservatórios, onde a
utilizados para a detecção de vazamentos e
amplitude da variação de vazão é
outras perdas no sistema de distribuição de
relativamente bem mais elevada,
água.
empregaram-se medidores velocimétricos.
Em contrapartida, os medidores
2.4. Análise dos resultados eletromagnéticos, embora sejam mais
A análise foi feita de forma precisos, possuem um faixa de medição
qualitativa e quantitativa, comparando menor e, por esse motivo, foram instalados
dados obtidos antes e após a instalação da nas tubulações de recalque, nas quais as
Central de Controle e Operações. variações de vazões são bem mais
reduzidas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os fluxímetros ultrasônicos e
Descrevem-se, a seguir, todas as eletromagnéticos e, inicialmente, dezesseis
etapas de implantação da Central de medidores velocimétricos, tiveram seus

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 314

sinais enviados a um controlador lógico Para a instalação dos


programável (CLP), através de um macromedidores, após a tubulação ser
conversor acoplado no próprio sensor. Os localizada pelo DMAE, a contratada
CLPs estavam a uma distância média de 30 levantou a curva de velocidade ou Traverse
metros dos conversores. do ponto de medição escolhido, visando o
Os demais medidores velocimétricos perfeito funcionamento do medidor a ser
têm a indicação de vazão instantânea e instalado. O medidor deveria ser instalado
totalizada no próprio sensor (medição somente nos pontos onde essa curva se
local) e dispõem de saídas de sinal apresentasse normal.
analógico e digital visando num futuro Para a obtenção dessas curvas de
próximo sua interligação a um CLP, para velocidade utilizou-se o tubo Pitot,
fins de automação. Estes medidores foram instrumento usado na medição de vazão
instalados em locais ermos e desprovidos, em condutos forçados (AZEVEDO NETO
à época, de energia elétrica e, por isso, et al., 1998).
definidos como locais distantes de
unidades operacionais. 3.2. Setorização
Os medidores ultrasônicos foram Em função do relevo bastante
instalados nas calhas Parshall das estações irregular do município, foi necessária a
de tratamento de água (ETAs) e os construção de diversos reservatórios para
eletromagnéticos anexos às estações que a cidade fosse abastecida
elevatórias de água tratada (EEATs), locais adequadamente. Tal medida gerou muitos
denominados como unidades operacionais setores de abastecimento ou zonas de
do DMAE. pressão.
Nas unidades operacionais do Com a implantação dos
DMAE há um sistema local de indicação macromedidores nas adutoras e recalques,
(SLI), composto por uma fonte de era imprescindível que a área de
alimentação e um CLP, os quais permitem abastecimento de cada reservatório
a ligação de diversos sensores diferentes também fosse bem definida, para que fosse
armazenando todos os valores por eles obtido um índice de perdas confiável por
enviados, por um longo período de tempo. meio da comparação entre a macromedição
Todo o sistema está protegido contra e a micromedição.
descargas atmosféricas e elevações de
Dessa forma, criou-se uma equipe de
tensão.
controle de perdas que deveria fazer um

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 315

diagnóstico da situação atual de variáveis envolvidas no processo de


abastecimento. Para definir a área de produção e distribuição de água, podendo
alguns reservatórios, muitas vezes foi ser subdividido em quatro etapas,
necessário o fechamento das saídas dos apresentadas a seguir.
mesmos e a observação de quais casas
ficava sem água. 3.3.1. Instrumentação de campo
Outra medida menos drástica, Formada por equipamentos de
adotada pela equipe, foi a de utilizar medição de grandezas físicas, a
manômetros para a medição da pressão da instrumentação de campo realiza o trabalho
água nos padrões residenciais. Nesse de converter os valores analógicos medidos
sentido a topografia contribuía bastante, já para sinais eletrônicos que podem ser lidos
que a diferença de pressão entre duas casas por equipamentos microprocessados.
era muito elevada e, de posse das cotas de
Para atender as necessidades de
nível de cada reservatório, foi possível
supervisão, à época, as grandezas ou
definir qual abastecia cada residência.
variáveis medidas foram do tipo vazão,
Para se ter uma idéia do quanto a nível, corrente, térmico, falta de fase,
topografia interfere na setorização, uma condição das bóias, temperatura,
mesma rua apresentou cinco setores de acionamento remoto e estado
abastecimento diferentes. (ligado/desligado) de conjuntos moto-
A partir das informações trazidas bomba. Os sensores de corrente, térmico,
pela equipe de controle de perdas, gerou-se falta de fase, condição das bóias,
um banco de dados, em conjunto com o temperatura, estado das bombas e
setor comercial, o qual atribuía a cada acionamento das mesmas foram
residência um código de setorização. Tal acondicionados em um painel de interface,
procedimento permitiu definir o índice de entre os painéis de IHM e do CLP nas
perdas em cada setor e, assim, saber os EATs (elevatórias de água tratada) e/ou
locais nos quais era necessário se ETAs, enquanto que nos reservatórios
reduzirem as perdas. isolados os sensores de nível e vazão estão
diretamente ligados ao painel do CLP.
3.3. Implantação da Central de Controle e Encontram-se disponíveis, no painel
Operações. de interface, instrumentos que possibilitem
O sistema implantado permite a a atuação do sistema de supervisão, de
supervisão em tempo real das principais forma manual ou automática, sobre os

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 316

grupos moto-bomba para comandar a sua algumas ERTs têm, no painel do CLP, uma
partida ou parada. IHM local permitindo a visualização dos
valores armazenados em sua memória,
facilitando a operação da unidade e a
3.3.2. Estação Remota de Telemetria
manutenção dos equipamentos.
(ERT)
A ERT funciona como uma ponte
entre a instrumentação de campo e a 3.3.3. Central de Supervisão e Controle
central de supervisão e controle (CSC), (CSC)
recebendo os sinais eletrônicos dos Centro operacional de toda a rede de
sensores de campo e convertendo-os em controle, a CSC recebe as informações
um valor a ser enviado para a Central. armazenadas nas ERTs e as disponibiliza
Além disso, é capaz de realizar cálculos e para a realização de cálculos e lógicas,
lógicas sobre os valores recebidos e atuar determinação de alarmes, visualização em
sobre o processo localmente, de forma telas, sinalização em painéis, geração de
automática ou manual (telecomandada) históricos e tendências. Além disso, a CSC
(DMAE, 1998). também permite que o operador atue sobre
A ERT é formada, basicamente, por o processo através do envio de
um CLP, um sistema de alimentação telecomandos. Todas essas funções são
ininterrupta, uma fonte de alimentação realizadas automaticamente, a partir de
para todos os equipamentos (inclusive a configuração previamente feita, podendo
instrumentação de campo) e sistemas de ser alterada a qualquer instante por pessoal
proteção contra descargas atmosféricas e habilitado do DMAE.
surtos de tensão, tudo acondicionado em A CSC, formada por dois
um painel metálico, denominado painel do microcomputadores interligados em rede,
CLP. Tais painéis estão instalados nas interroga ciclicamente as ERTs a fim de ler
EATs, ETAs ou em abrigos de alvenaria, os valores nelas armazenados em um
quando localizados em reservatórios. processo denominado varredura contínua.
O painel do CLP está ligado aos Uma vez lidos, esses valores são
diversos sensores, devendo armazenar armazenados em uma base de dados
todos os valores enviados, por um longo interna, permitindo a sua manipulação e a
período de tempo, para transmitir à CSC criação de novas informações, por meio de
quando esta necessitar e tão logo seja re- funções matemáticas e booleanas.
configurada sua lógica. Além disso,

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 317

Outros recursos oferecidos são a pela concessionária telefônica local


detecção de alarmes devido a (DMAE, 1998).
ultrapassagem de limites previamente Atualmente, a transmissão de dados é
configurados ou do ligamento / feita via rádio, essa mudança trouxe uma
desligamento de algum equipamento; a economia de R$ 7.800,00 mensais ao
colocação de valores manuais para pontos DMAE, os quais eram gastos com os
de processo que estejam em manutenção; a aluguéis das linhas privativas. Para a
impressão de todas as ocorrências no instalação de uma nova remota foram
sistema; a visualização de qualquer valor gastos R$ 5.000,00 com equipamentos de
na forma numérica ou gráfica, por meio de transmissão de dados, hoje são gastos R$
barras, objetos que se movimentam ou 1.300,00.
mudam de tamanho, de cor etc. Foram instaladas inicialmente 22
Também é possível o remotas e, atualmente, o sistema conta com
armazenamento desses valores em 26 remotas.
instantes de tempo configuráveis para a
realização de gráficos históricos e a
3.4. Detecção de vazamentos e demais
exportação desses valores para uso em
perdas
utilitários como Excel e Access e a geração
Procedeu-se a troca de 20 mil
e impressão de relatórios.
hidrômetros, instalados a mais de 15 anos,
Localizada no DMAE, a CSC
para se reduzir as perdas não físicas
engloba, além dos microcomputadores e
ocasionadas, principalmente, por erro na
impressoras, todo o software e supervisório
micromedição. Para esse fim o DMAE
necessários à realização das funções
adquiriu uma bancada semi-automática
descritas acima.
para aferição dos hidrômetros.
Foram trocadas as redes mais antigas
3.3.4. Sistema de Comunicação de ferro e fibroamianto para se reduzir as
O sistema de comunicação provém perdas físicas na rede de distribuição de
os mecanismos necessários à interligação água. Tais redes eram as grandes
para a troca de mensagens entre as ERTs e responsáveis por vazamentos não visíveis,
a CSC, sendo, nesse caso, composto de contribuindo consideravelmente para o alto
unidades de derivação de linha (UDDs) e índice de perdas no sistema.
modems, utilizando linhas privativas de Além dessas trocas, foi criada uma
comunicação de dados (LPCDs) fornecidas equipe responsável por localizar

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 318

vazamentos por meio de geofones, foi possível avaliar e corrigir algumas


correlacionador de ruídos e de outras situações freqüentes, geradoras de perdas
técnicas, como a de fechar registros de um no sistema.
determinado setor. Em geral esse serviço Os extravazamentos de reservatórios
era feito de madrugada, quando a pressão deixaram de existir e o nível dos mesmos
na rede é estática, se a rede perdesse carga pode ser acompanhado mais
era uma indicação de possíveis vazamentos frequentemente, operando-os de maneira
naquela região. correta.
Os geofones, que podem ser Nos períodos de maior consumo e
mecânicos ou eletrônicos, são antes dos horários de pico, quando as
equipamentos que possuem sensores que, bombas devem ser desligadas, os
em contato com o solo, detectam quaisquer reservatórios são mantidos cheios para
ruídos. O som de um vazamento é bastante atender a essa demanda.
característico e, portanto, de fácil Em períodos de consumo normal e
identificação. Normalmente, é utilizado baixo, o nível de água oscila bastante, já
quando o tráfego nas ruas é pouco intenso, que as bombas somente são ligadas quando
isto é, de 22 h às 6 h do dia seguinte. se atinge um limite mínimo pré-
A pesquisa de vazamentos iniciou-se determinado. Esse comportamento reflete
a partir do conhecimento da localização da diretamente no tratamento de água, pois a
rede. Em seguida, percorreu-se toda a sua ETA I, a segunda maior estação do
extensão, auscultando-a em trechos bem DMAE, responsável por grande parte do
definidos. abastecimento do centro e zona leste,
O correlacionador de ruído é um tratava 210 L s-1, 24 horas por dia.
equipamento que, como o próprio nome Com o CCO acompanhando o nível
diz, correlaciona ruídos compreendidos no dos reservatórios, durante a noite, quando
intervalo de rede onde foram instalados os o consumo é menor, a estação chegou a
sensores nos padrões de água. Informando tratar 120 L s-1. Dessa forma, pode-se
o diâmetro da rede, o tipo de material da evitar o desperdício do recursos hídrico, já
tubulação e a distância entre um sensor e que muitas vezes era preciso abrir a
outro, o correlacionador indica o local descarga de água bruta por não se ter
exato do vazamento. capacidade para reservar o volume que
Quando a Central de Controle e seria tratado.
Operações iniciou o seu funcionamento,

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 319

Os rompimentos de adutora também perda era de 44,58%. No ano seguinte, este


ficaram mais perceptíveis, por meio da índice já havia reduzido para 41,90%. Esse
queda brusca dos reservatórios e pela índice é inferior aquele registrado em
diminuição da pressão na rede, mesmo outras cidades brasileiras, como Campo
quando em tubulações de diâmetros Grande, no Mato Grasso do Sul (SOARES
menores, como nas redes secundárias, os et al., 2004), todavia é superior a média
quais variam de 60 mm a 100 mm. Tal fato nacional e mesmo a faixa esperada para o
foi observado através do declive acentuado estado de Minas Gerais, a qual varia de 30
dos gráficos, pois, mesmo aumentando a a 40% (PMSS, 2007).
vazão de distribuição o nível do O custo total para a implantação do
reservatório não estabiliza e não aumenta. sistema foi de aproximadamente R$
Antes da automação, este fato só era 577.000,00. Este recurso foi conseguido
conhecido se alguém observasse o junto à Caixa Econômica Federal com o
vazamento e informasse ao plantão. Programa Pró Saneamento/
Dessa forma, podem-se solucionar os Desenvolvimento Institucional.
problemas com maior agilidade, Considerando-se um valor médio de
minimizando os custos com energia R$ 1,30 por m³ de água tratada e o volume
elétrica (captação e distribuição), produtos faturado no ano anterior à implantação da
químicos, perdas com água tratada, além CCO, e multiplicando-se pela diferença
de evitar a falta de pressão ou de água em entre os índices de perdas de 2,68%,
determinados locais. obteve-se uma economia de R$
Com base em dados obtidos junto ao 306.033,29. Portanto em dois anos foi
setor comercial (Tabela 1), no ano anterior possível pagar o empréstimo para a
à implantação da CCO, observa-se que a implantação de todo o sistema.

Tabela 1. Volume tratado, volume faturado e índice de perda de água em Poços de Caldas,
Minas Gerais, antes e após a implantação da Central de Controle e Operações
(CCO).

Volume tratado Volume faturado Índice de perdas


---------- m3 ------------ %
Ano anterior à CCO 15.851.786 8.783.964 44,58
Ano posterior à CCO 15.001.236 8.715.209 41,90
Fonte: relatório anual DMAE 1999-2001.

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9
Oliveira, F.G.R.; Reis, F.A.G.V.; Giordano, L.C. et al. / Controle de perdas em sistema de abastecimento de água 320

4. CONCLUSÃO IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística. Estimativas das
Com a implantação da Central de populações residentes, em 1º de
Controle e Operações, pelo sistema de julho de 2008, segundo os
municípios. Disponível em:
automação (integração de dados e <http://www.ibge.gov.br/home/esta
telemetria), tornou-se possível a análise tistica/populacao/estimativa2008/P
OP_2008_TCU.pdf> Acesso em:
imediata do comportamento das diversas 28 fev 2009.
variáveis do processo de tratamento e NASCIMENTO, N. O.; HELLER, L.
Ciência, tecnologia e inovação na
distribuição de água no município de
interface entre as áreas de recursos
Poços de Caldas. Tal fato permitiu uma hídricos e saneamento. Engenharia
Sanitária e Ambiental, Rio de
melhoria no desempenho dos serviços,
Janeiro, v. 10, n.1, p. 36-48, jan-
otimização do trabalho dos operadores, mar 2005.
redução de custos e, conseqüentemente, PMSS – Programa de Modernização do
Setor de Saneamento. Sistema
redução de perdas no sistema. Nacional de Informações sobre
Saneamento: diagnóstico dos
O índice de perdas, que era de
serviços de água e esgoto – 2006.
44,58%, foi reduzido para 41,80%, já no Brasília: MCIDADES.SNSA, 2007.
232 p. Disponível em:
primeiro ano após a instalação da CCO.
<http;//www.snis.gov.br>. Acesso
Essa redução propiciou o pagamento do em: 28 fev 2009.
investimento num intervalo de dois anos. PNCA – Programa Nacional de Combate
ao Desperdício de Água.
Recomendações gerais e normas
de referências para controle de
REFERÊNCIAS perdas nos sistemas públicos de
abastecimento do programa.
AZEVEDO NETTO, J.M., FERNANDEZ,
Brasília: SEPURB/SEDU/PR,
M.F., ARAUJO, R., ITO, A.E.
1999. 30 p.
Manual de Hidráulica. São Paulo:
Ed. Edgard Blucher, 1998. 669 p. SOARES, A. K.; CHEUNG, P. B.; REIS,
L. F. R.; SANDIM, M. P.
COELHO, A. C. Medição de água e
Avaliação das perdas físicas de um
controle de perdas. Rio de
setor da rede de abastecimento de
Janeiro: Associação Brasileira de
água de Campo Grande-MS via
Engenharia Sanitária e Ambiental:
modelo inverso. Engenharia
BNH, 1983.
Sanitária e Ambiental, Rio de
DMAE, Departamento Municipal de Água Janeiro, v.9, n.4, p. 36-48, out-dez
e Esgoto. Edital da TP 006/98. 2004.
Poços de Caldas, 1998.
DMAE, Departamento Municipal de Água
e Esgoto. Relatório Anual. Poços
de Caldas, 1999 e 2001.

En genh aria Amb ien tal - Esp írito San to do Pin hal, v. 6, n. 1, p. 309 -320 , jan/ab r 200 9

Você também pode gostar