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RELATÓRIO REFERENTE A CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA

E QUÍMICA DE ARGILAS

Eng°. Mário Andrean Macedo Castro

SÃO LUÍS
2019
1. INTRODUÇÃO

Os produtos cerâmicos são materiais de construção, obtidos através da secagem


e cozimento de materiais argilosos. Na fabricação, a matéria-prima principal é a argila.
Denomina-se argila ao conjunto de minerais, compostos principalmente de silicatos de
alumínio hidratados, que possuem a propriedade de formarem com a água uma pasta
plástica suscetível de conservar a massa moldada, secar e endurecer sob a ação do calor
[1].
Durante muito tempo se conceituou que argilas são substâncias originadas da
caulinita, constituídas essencialmente de sílica (SiO2), alumina (Al2O3) e água (H2O) e o
resto de impureza amorfa. Hoje se sabe que as argilas constituídas essencialmente de
partículas cristalinas extremamente pequenas, formadas por um número restrito de
substâncias. Essas substâncias são chamadas minerais de argila ou argilominerais [1].
Os argilominerais são silicatos hidratados de alumínio, ferro e magnésio,
contendo normalmente e em caráter subordinado, outros materiais e minerais
associados, tais como quartzo, feldspatos, micas, óxidos e hidróxidos de ferro e
alumínio, hematita, matéria orgânica e outras impurezas [1].
Graças aos argilominerais, as argilas, na presença de água, desenvolvem uma
série de propriedades tais como: plasticidade, porosidade, resistência mecânica a úmido,
retração linear de secagem, compactação e viscosidade de suspensões aquosas que
explicam sua grande variedade de aplicações tecnológicas [2].
As argilas quando aplicadas em cerâmicas vermelhas, podem ser classificadas
quanto à relação Sílica/Alumina (SiO2/Al2O3). Quanto maior essa relação, menor a
plasticidade da argila e portanto menos trabalhável, conhecendo-se esse tipo de argila
como tipo magra. Quanto menor a relação SiO2/Al2O3, mais plástica e trabalhável é a
argila, denominando-a como tipo gorda [3].
Esse relatório teve como objetivo comparar os resultados das caracterizações de
três tipos de argilas (A, B e C), provenientes de SãoLuis/MA, quanto a presença e
porcentagem de fases constituintes e composição química, afim de verificar as melhores
aplicações como cerâmicas vermelhas.
3. EXPERIMENTAL
A Figura 1 mostra as três argilas recebidas, e suas identificações. Após
recebimento, amostras das argilas foram preparadas para caracterizações. Todas as
amostras foram secas em estufa a 100 °C durante 3 horas para eliminação de umidade.
Em seguida, as amostras foram maceradas em almofariz e peneirados a 200 meshs,

Figura 1. Argilas recebidas para as análises.

A identificação das fases presentes nas argilas foram feitas por Difração de
Raios-X (DRX). A composição química foi obtida por Fluorescência de Raios-X
(FRX). A quantificação das fases encontradas foi alcançada por análise racional.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O padrão de DRX das amostras das argilas A, B e C é mostrado na Figura 2.

Figura 2. Resultados de DRX das argilas A, B e C.

Percebe-se pelos gráficos que apenas uma ou duas fases estão presentes, Quartzo
(SiO2) e Caulinita (Al2O3.2.SiO2.2H2O). Devido a predominância dessas fases em
argilas vermelhas, é natural que os resultados de DRX tenham identificado apenas elas,
uma vez que é uma técnica que raramente detecta fases abaixo de 10% em peso num
material, o que inviabiliza qualquer tipo de comparação e discussão de resultados
Devido a isso, fez se necessário a realização da análise química nos materiais
para observar a presença de outros elementos, e as possíveis fases que eles formam. A
tabela 1 discrimina os principais óxidos presentes nas argilas.
Tabela 1. Análise Química das Argilas
Argila A (%) Argila B (%) Argila C (%)
SiO2 70,59 64,75 58,24
Al2O3 19,14 22,34 25,18
Fe2O3 6,64 7,68 9,66
TiO2 2,05 3,12 2,93
K2O 0,47 0,86 1,54
CaO 0,35 0,11 -
ZrO2 0,28 0,1 0,14
SO2 0,24 0,24 0,33
MgO - 0,63 0,75
BaCO3 - - 1,04
Outros 0,24 0,17 0,19

A análise química mostrou que a Argila A é mais rica em sílica e mais pobre em
alumina, o que significa uma alta relação SiO2/Al2O3 (3,68). Além do mais há uma
baixa presença de álcalis (K2O) e uma porcentagem de matéria orgânica (CaO) superior
as das outras duas argilas. Esses resultados mostram que essa argila é do tipo magra,
portanto sendo inapropriada para seu uso como tijolos, que exige uma elevada
plasticidade da argila. Argilas magras são comumente utilizadas na fabricação de telhas
e blocos, pois exigem maior dureza e tenacidade.
A composição química da Argila C confere a sua elevada plasticidade em
relação às outras duas. Por causa da baixa relação SiO2/Al2O3 (2,31), alta presença de
álcalis (1,54%) e baixa porcentagem de matéria orgânica, essa argila é a mais
apropriada para sua aplicação como tijolos em cerâmica estrutural. Ademais, a presença
de carbonato de bário deve-se a uma possível falha durante a análise do material, uma
vez que é incomum a presença desse carbonato em argilas da região.
As análises por difração de raios X e fluorescência de raios X fornecem como
resultados as fases presentes na argila e a relação dos elementos constituintes da argila
com a sua proporção na forma de óxidos, respectivamente. Por meio da combinação da
análise mineralógica qualitativa e da análise química quantitativa, onde os elementos
são todos considerados existindo na forma de óxidos, têm-se informações suficientes
para determinar a composição mineralógica das fases presentes na argila. Essa técnica é
conhecida como análise racional, e tem como fundamento básico a resolução simultânea
de equações lineares montadas para cada fase detectada por difração de raios X [4].
Os cálculos realizados para a análise racional não serão descritos neste relatório,
pois o mesmo ficaria muito extenso, além do que, fugiria do seu objetivo principal, Com
isso, a tabela 2, mostra a composição das fases mineralógicas calculadas pela técnica de
análise racional.

Tabela 2. Composição das fases presentes nas argilas, obtidas por análise racional.

Argila A (%) Argila B (%) Argila C (%)


Caulinita
(Al2O3.2.SiO2.2H2O) 44,53 49,43 51,06

Quartzo (SiO2) 42,75 32,43 23,3


Hematita (Fe2O3) 6,64 7,68 9,66

Muscovita
(K2O.3Al2O3.6SiO2.2H2O) 4,03 7,34 13,04

Rutilo (TiO2) 2,05 3,12 2,94

Além da identificação das fases não-detectadas pelo DRX, e suas composições, a


análise racional também confirmou as observações feitas nos resultados de FRX.
Como citado anteriormente, a presença dos argilominerais desenvolve
propriedades como plasticidade e resistência mecânica nas argilas. O principal
argilomineral das argilas é a caulinita, e quanto maior a sua composição, melhores as
propriedades da cerâmica.
Já a sílica livre, na forma de quartzo, diminui a plasticidade e a refratariedade da
argila e reduz também a resistência mecânica da cerâmica obtida. Mas também reduz a
retração, a deformação e facilita a secagem.
A hematita mistura-se com a caulinita e confere a cor vermelha ou amarela nos
produtos estruturais obtidos. Em alguns casos formam pintas ou manchas. Esse óxido
reduz a refratariedade, mas aumenta a dureza da cerâmica.
A muscovita dá um clareamento às cerâmicas após a queima, e por causa da
presença dos álcalis na sua composição, também diminui a temperatura de queima, o
que representa um ganho econômico na fabricação desses materiais.
Com isso, a Argila C por ser rica em caulinita e muscovita, e possuir baixa
presença de quartzo livre, atesta mais uma vez a melhor opção das argilas analisadas
para seu uso como tijolos maciços ou vazadas em cerâmicas estruturais. A Argila A por
sua vez, por ser mais pobre em caulinita e muscovita e rica em quartzo livre, ratifica seu
uso mais apropriado em telhas e blocos.
5. CONCLUSÕES

Esse relatório teve como objetivo comparar amostras de três argilas (A, B e C) a
partir de caracterização mineralógica por DRX, análise química por FRX, e análise
racional a partir dos resultados de DRX e FRX.
A análise de DRX mostrou apenas a presença de fases majoritárias como
caulinita e quartzo. Os resultados de FRX mostraram a presença de óxidos comuns às
argilas e que não foram observados por DRX. A análise racional quantificou fases como
caulinita, hematita, quartzo e muscovita.
Ao comparar os resultados das argilas, conclui-se que a argila C, é a mais ideal
para aplicações em tijolos maciços ou vazados devido ser mais plástica e resistente pela
maior presença de caulinita e muscovita. A argila A, por ser rica em quartzo livre e
pobre em caulinita, é recomendado seu uso em tijolos e blocos.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] SOUSA SANTOS, P. Ciência e tecnologia das argilas. São Paulo: Editora Edgar
Blucher, 1989.

[2] ABCERAM – Associação Brasileira de Cerâmica. Informações técnicas – definição


e classificação. 2016. Disponível em: http://abceram.org.br/definicao-e-classificacao/.
Acesso em 26 set. 2019.

[3] SALES, J.C.; MORAIS, J.E.V.; SANCHO, E.O.; FERREIRA, A.C.;


NASCIMENTO, J.P.C.; CASTRO, A.J.N.; GUIMARÃES, G.F.; SOMBRA, A.S.B.;
BRAGA, W.A. As Argilas para Fabricar Cerâmica Vermelha no Nordeste Brasileiro.
In: Congresso Brasileiro de Cerâmica, 60, 2016, Águas de Lindóia. Anais... Águas de
Lindóia, 2016.

[4] VARELA, M.L.; DO NASCIMENTO, R.M.; MARTINELLI, A.E.; HOTZA, D.;


MELO, D.M.A.; MELO, M.A.F. Otimização de uma metodologia para análise
mineralógica racional de argilominerais. Cerâmica, v. 51, p. 387-391. 2005.

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