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O Relevo Cárstico

A Gênese das Cavernas


1. Definição

• O relevo cárstico é o tipo de relevo que se


desenvolve sobre rochas solúveis,
principalmente carbonáticas.

• Podemos dividir o carste em:

– Exocarste: dolinas, paredões e vales;

– Endocarste: cavernas.
Relevo cárstico na Cordilheira Cantábrica, Espanha
2. As Rochas

• As rochas que compõem o relevo cárstico mais


importantes são o dolomito e o calcário.

• Os calcários possuem muitas variedades, podendo


encontrar materiais diversos encorporados, mas são
constituído por mais de 90% de CaCO3.

• O dolomito (CaMg(CO3)2 é a segunda rocha em


importância, sua formação ocorre devido a introdução
de Mg na Calcita (dolomitização).
3. Pseudocarste
• São paisagens que lembram as do carste, mas que são
resultantes de processos diferentes.

• A ação mecânica da água é o fator modelador das


paisagens, mas ainda existe reações químicas com a
água, embora seja lenta e deixe resíduos.

• O que não acontece com as rochas carbonáticas puras,


onde a reação não deixa resíduos.

• Portanto há a formação de cavernas sem que haja a


dissolução do mineral, ocorrendo a desagregação dos
grãos provocada por lenta penetração da água.
4. A Química do Carste

• A água da chuva absorve CO2 da atmosfera e ao


alcançar o solo se combina com o CO2 existente
neste(ação das plantas), formando o ácido carbônico:

• H2O + CO2 → H2CO3

• Próxima etapa é o ataque à rocha, formando o


bicarbonato de cálcio:

• CaCO3 + H2CO3 → Ca(HCO3)2


• Dissociação dos compostos :

• CaCO3 Ca +2 + CO3-3

• H2CO3 H+ + HCO3 –

• O próton é que efetivamente atacará o carbonato da


reação:

• CO32- + H+ HCO3-

• HCO3- + H+ H2CO3
• As rochas carbonáticas ao sofrerem corrosão química
se dissociam em íons Ca++ ou Mg++ e CO3-, que
podem se combinar em bicarbonatos ou permanecer
dissolvidos na água em forma iônica.
5. Hidrologia Cárstica
• Parâmetros que condicionam o comportamento da água:

– Permeabilidade: é a capacidade da rocha em permitir a passagem da água.

– Porosidade: é a porcentagem do volume ocupada por vazios.

• A porosidade primária, representada por poros entre as moléculas, não


é importante para o carste.

• Já a porosidade secundária, formada por juntas, fraturas e cavernas, é


de origem posterior à formação da rocha e de suma importância no
carste.

• A água ácida, ao infiltrar-se de forma difusa em um maciço de calcário,


terá seu efeito diminuído, ao passo que toda a carga dissolutiva
concentrar-se em zonas de fraqueza como fraturas, a carstificação
será maior.
Permeabilidade por fraturas
Fase inicial da espeleogênese

Fase intermediária

Fase avançada
Zonas Hidrológicas

• Zona Vadosa: onde há livre escoamento de água. A


rocha não esta embebida na água.

• Zona Freática: onde a rocha está permanentemente


embebida na água, limitada superiormente pelo nível
freático.

• Zona Intermediária: influenciada pelavariação do lençol


freático, hora é vadosa hora é freática.
• A principal característica do Carste é a ausência de drenagem
superficial.

• As características da rocha fazem com que toda água da chuva


seja absorvida, infiltrando-se do solo para a rocha com muita
rapidez, sendo que o escoamento sobre o solo ou dentro do solo é
restrito e sem muita importância.

• A água ao atingir a rocha apresenta pH ácido, mas torna-se básica


ao percolar a rocha, por aumentar o teor de Ca pelo processo de
lixiviação (dissolução).

• O pH básico impede que os sedimentos se mantenham em


suspensão, fazendo-o precipitar rapidamente.
• O desaparecimento de um curso dágua é denominado
de sumidouro. A perda pode ser total ou parcial.

• O termo ressurgência designa fontes em terrenos


cársticos, onde reaparece um curso dágua outrora
superficial.

• Vários fatores podem ifluenciar a orientação da


drenagem subterrânea (tectônica, zonas de falhas, etc.)
e muitas vezes a drenagem subterrânea apresenta
padrões complicados.
(1)Fluxo sobre o solo;
(2)Fluxo sob o solo;
(3)Fluxo através da rocha ( geralmente muito lento );
(4)Fluxo em abismo;
(5)Fluxo de infiltração vadosa ;
(6)Fluxo por percolação vadosa .
6. Exocarste
1.Dolinas

São depressões fechadas, afuniladas, de


formato circular ou oval, cujo tamanho é da
ordem de poucos metros a centenas de metros
de profundidade e diâmetro.
1.1) Dolina de dissolução:

É o tipo mais comum do exocarste.

O material dissolvido, assim como restos insolúveis, são carreados através da fratura.
1.2) Dolina de colapso:

É causada pelo desabamento do teto de uma caverna.


1.3) Dolina aluvial:

Ocorre quando há coberturas de solo sendo introduzidas nas fraturas do calcário.

Se diferencia da dolina de dissolução pelo fato de que o rebaixamento

do piso se dá por carreamento do solo e não por dissolução da rocha abaixo.


1.4) Dolina de colapso devido a carste subjacente:

Difere-se da dolina de colapso pelo fato de que a camada de rochas

carbonáticas que entra em colapso se encontra subjacente a uma

camada de outra litologia que também entra em colapso.

Obs: A união de duas ou mais dolinas tem o nome de UVALA.


Úvalas são depressões de contornos irregulares. A sua formação é objecto de
controvérsia, se bem que parecem criar-se pela união de dolinas que crescem
muito próximas e se desenvolvem mais rapidamente em largura do que em
profundidade.

Úvala
2. Formas fluviocársticas
São relictos de antigas drenagens superficiais.
• 2.1) Vale seco:
Vale que anteriormente possuía um curso d’água, hoje
subterrâneo ou inexistente.
2.2) Vale cego:

Marca o ponto onde o rio superficial vê-se bloqueado e


inicia seu percurso subterrâneo.
2.3) Cannyons:

São vales onde o rio corre encaixado. Podem ser


explicados por erosão fluvial , corrosão ou desabamento
de teto de cavernas.
2.4 Poljes
7 . Endocarste

São as formas subterrâneas de carste


(cavernas ou grutas).

Tipos:

• 1) Cavernas primárias:

• São todas aquelas criadas simultaneamente


com a rocha , como as cavernas em tubo de
lava.
2) Cavernas secundárias:

• São todas aquelas criadas posteriormente à formação da


rocha. Podem ser:

• - Cavernas exógenas: Formadas por intemperismo e erosão


agindo na rocha a partir do exterior. Ex.: Cavernas criadas pela
ação do vento (cav. em arenito), cavernas de rio, etc..

- Cavernas endógenas: Formadas por fatores atuantes no


interior da rocha. Incluem as maiores cavernas conhecidas.
São as cavernas tectônicas, criadas por processos tectônicos e
as cavernas cársticas, criadas por dissolução em rochas
carbonáticas.
8. Espeleogênese do Carste

• No passado, numerosas teorias que hoje soam como


absurdas tentaram explicar a gênese das cavernas.
Com o advento da geomorfologia como ciência,
passou-se a acreditar que todas as grutas eram
resultado de escavação por rios subterrâneos.

• No entanto muita coisa não fica satisfatoriamente


explicada. Uma das grandes contribuições no estudo
da espeleogênese no carste foi o trabalho de DAVIS
(1930), que imaginou a evolução em dois ciclos:
• 1.Formação de todos os condutos e galerias por
circulação profunda de água subterrânea na zona
freática;

• 2.Com o soerguimento tectônico da região, as


cavernas são erguidas acima do nível freático,
tornando-se secas ou invadidas por um curso
d’água. Dá-se então o início da formação dos
espeleotemas e ocorrem os desmoronamentos .

• Sabe-se hoje que as cavernas são formadas


tanto na zona freática quanto na zona vadosa ou
mesmo no nível freático .
• De um modo geral pode-se dizer que a zona de
fraqueza na rocha carbonática, no caso as
juntas de estratificação e as fraturas são o ponto
de partida para a criação e conseqüente
evolução de uma gruta. São pontos onde a água
terá mais facilidade em penetrar e atacar
quimicamente a rocha.
• Em juntas de estratificação pouco espaçadas, o
desenvolvimento da gruta é desfavorecido, pois
é comum existir porções insolúveis entre os
estratos.

• Em alguns casos, no entanto, estas mesmas


lentes insolúveis, podem, ao invés de limitar,
incentivar a dissolução, funcionando como
camadas que guiam o fluxo d’água
Espeleotemas
• Espeleotema (Do grego, "depósito de caverna") ou
concreção é o nome genérico de todas as formações
rochosas que ocorrem tipicamente no interior de
cavernas como resultado da sedimentação e cristaliza
ção de minerais dissolvidos na água.

• Os espeleotemas ocorrem comumente em terrenos


constituídos por rochas carbonáticas (calcário,
mármore e rochas dolomíticas) e relevo cárstico e são
resultado da corrosão das rochas por ácidos
dissolvidos na água, principalmente ácido carbônico,
resultante da combinação da água com o CO2 da
atmosfera ou do solo.
• Formações semelhantes a espeleotemas
podem ser formados em paredes e tetos
de concreto, caso haja fraturas e falhas de
impermeabilização
Tipos de Espeleotemas

1) Estalactite:
É o mais conhecido entre os espeleotemas.
É a denominação genérica de todos os
espeleotemas presos no teto das grutas.
Toda estalactite apresenta um conduto central, ou
pelo menos vestígio dele, segundo o qual a estalactite
evolui.
Independente do aspecto externo, todas têm a
mesma origem, desde que se forme uma gota no teto
que tenha alimentação contínua, irá ocorrer a
precipitação de um disco delgado de carbonato de
cálcio, moldando a estalactite de gota a gota.
Gota pingando de uma estalactite.
Gruta de Soreq, Israel
• 2) Cortina:

• São espeleotemas que surgem em tetos


inclinados, podendo prolongar–se pelas
paredes.

• O crescimento das cortinas sempre se dá pela


cristalização radial e linear do carbonato de
cálcio na forma de filetes sobre filetes.
Helictites e cortinas no teto de uma caverna
Um conjunto de cortinas
e escorrimentos no interior
da Gruta da Lapinha,
Minas Gerais, Brasil
• 3) Estalagmites:

• Juntamente com as estalactites, formam o


conjunto mais representativo dos espeleotemas.

• Nascem e crescem normalmente pelo


gotejamento de solução, com cristalização radial,
a partir do piso.

• Formam grandes massas compactas, de


diversos formatos.
Estalagmite com diversos escorrimentos e várias camadas
• 4) Colunas:

• As colunas se originam da evolução das


estalagmites e estalactites, que vêm a se
soldar em uma peça única, quando, então,
o gotejamento cessa e o crescimento do
espeleotema se dá apenas pelo
engrossamento lateral.
Gruta de Soreq, Israel.
Dois espeleotemas
estão em vias de
se fundirem dando
origem a uma coluna.
• 5) Cascatas:

• É o nome genérico das formações originadas


pelo escoamento, por paredes inclinadas ou
verticais, de água emergindo pelo teto ou parede.

• Se o escoamento for volumoso e contínuo, tem-


se uma superfície revestida de micro-travertinos,
se o escoamento for intermitente, pequeno e de
solução saturada, tem-se uma superfície
revestida de micro-monocristais de calcita.
• 6) Travertinos:

• São formações oriundas do represamento


de águas, e seus tamanhos variam desde
aquele cujo volume mal cabe uma gota
d’água, ao que é uma verdadeira piscina
com alguns metros de profundidade e
outros de extensão superficial.
TRAVERTINOS EM CASCATA TRAVERTINOS VOLUMOSOS
- CAVERNA DO ANJO – FORMANDO GRANDES LAGOS
IPORANGA CAVERNA LAGOS SUSPENSOS
IPORANGA

TRAVERTINOS SECOS
-CAVERNA ALAMBARI DE CIMA –
IPORANGA
• 7) Oóides:

• É o nome dado à família de espeleotemas que crescem soltos


em represas de travertino ou em poços d’água sujeitas a
gotejamento contínuo e de alta freqüência, a turbulência do
escoamento faz movimentar as pérolas no ninho que vão se
arredondando.

• O crescimento se dá por camadas cristalinas em direção radial.


Possuem um aspecto cerâmico liso e ocorrem em conjuntos
denominados ninhada.

• O embrião de cada pérola é qualquer cristal ou partícula solta,


existente na poça, que funciona como germe de cristalização.
NINHO DE PÉROLAS - CAVERNA PÉROLAS
CAVERNA DO ANJO
• 8) Vulcões:

• Espeleotema de formato cônico e topo


côncavo, consistência esponjosa.

• É formado exclusivamente submerso e


com altura limitada pelo nível da água do
travertino em que se encontra.
VULCÃO GRANDE VULCÃO
EM FASE INICIAL DE FORMAÇÃO, EM LAGOA DE TRAVERTINO
FASE MAIS AVANÇADA SECA
DE CRESCIMENTO
- CAVERNA TEMIMINA
• 16) Helictite:

• Crescem no piso, teto, paredes, sobre outros espeleotemas,


recobre colunas, etc.

• Tem formas variadas, mas todos brincam com a gravidade,


alguns são filiformes, com aspectos de vermes, com
comprimentos superiores a 1 m e diâmetro inferior a 1 cm,
podem formar conjuntos entrelaçados de cristais retorcidos, se
assemelhando a uma medusa.

• Sua composição é de calcita ou aragonita e normalmente é


branca.
HELICTITES - SALÃO SÃO JORGE
CAVERNA SANTANA - PETAR
• 17) Flores de calcita:

• O carbonato se precipita na forma de


calcita, os cristais são cilíndricos, curvos
e, às vezes, ramificados.
Flores de Calcita
• 20) Agulhas de gipsita:

• O feixe de cristais tem diâmetro da ordem


de mm2, o crescimento é retilíneo,
podendo atingir decímetros de
comprimento, são compostas por várias
agulhas mais delgadas.

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