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UTILIZAÇÃO DE REJEITO DA EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO

DE PETRÓLEO EM BASE DE PAVIMENTO


Mariluce de Oliveira Ubaldo1, Laura Maria Goretti da Motta 2,
Sandra Oda3 e Luis Alberto Herrmann do Nascimento4

Copyright 2010, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP


Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação no 20° Encontro de Asfalto, realizado no período de 18 a 20 de maio de 2010,
no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Organizador do Evento, seguindo as
informações contidas no trabalho completo submetidos pelo(s) autor(es). Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos
recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, Sócios e
Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais do 20° Encontro de
Asfalto.

Resumo
Este trabalho apresenta o estudo da utilização de cascalho de perfuração, rejeito proveniente da exploração e produção de
petróleo, como material alternativo para pavimentação asfáltica. O objetivo do trabalho é mostrar a viabilidade técnica da
adição do rejeito a um solo para aplicação em camada de base de pavimento. Nesta pesquisa foram estudados dois solos e
um rejeito, o cascalho de perfuração, todos provenientes da Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Bahia
(UN-BA) – Petrobras. Para análise da resistência mecânica da camada foram realizados ensaios de triaxial de cargas
repetidas em amostras de solo puro, solo misturado com rejeito e solo misturado com rejeito e cimento. Do ponto de vista
ambiental, realizaram-se ensaios segundo a norma NBR 10004/2004 para a classificação do resíduo puro e das misturas
solo + rejeito e solo + rejeito + cimento. Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla que estuda outros tipos de
resíduos provenientes da exploração e produção do petróleo e ao final da fase de estudos de laboratório pretende-se
construir um trecho experimental na própria Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Bahia (UN-BA) –
Petrobras como a alternativa mais adequada para o uso deste resíduo.

Abstract
This paper presents a study about the utilization of the gravel – waste proceeding from the exploration and production of
oil – as alternative material to pavement construction. The objective of this study is present the technical viability of
addition of waste in the soil to use as material of the base layer. It was studied two soils and a type of waste, the gravel,
proceeding from the Exploration and Production Unit of Bahia Petrobras (UN-BA). The samples of pure soil, soil mixed
with waste and soil mixed with waste and Portland cement, were analyzed by the test of loading repeated in samples of
pure soil to determine the layer strength. From the environmental view point, the trials were realized according to the NBR
10004/2004 for the classification of waste pure and soil + waste and soil + waste + cement. This work is part of a larger
research project, which studies other kinds of wastes proceeding from the exploration and production of oil. The final
objective of the project is to build an experimental area using the most appropriate alternative.

1. Introdução
A engenharia rodoviária está cada vez mais sendo motivada a utilizar materiais alternativos em pavimentos, não
só para reduzir custos, mas também do ponto de vista ambiental, uma vez que se possa comprovar a viabilidade técnica e
dar um destino mais nobre aos resíduos industriais do que apenas descartá-los em aterros.
A pavimentação é uma forma muito procurada de destino de rejeitos industriais pelo grande volume utilizado na
construção das diversas camadas do pavimento, pela ampla faixa de possibilidades granulométricas que admite a
combinação de materiais e pelo relativo confinamento que se consegue com a estrutura final (Motta et al, 2006). No
entanto, para que o pavimento não seja usado somente como local de “descarte” de resíduos, para resolver apenas questões

______________________________
1
Mestre, Engenheira Civil – COPPE-UFRJ
2
Doutora, Professora – COPPE-UFRJ
3
Doutora, Engenheira Civil – COPPE-UFRJ
4
Mestre, Engenheiro Civil - Petrobras
20° Encontro de Asfalto
ambientais de terceiros, é preciso mostrar quais as vantagens de se usar o resíduo sob o ponto de vista da pavimentação, e
não somente a sua contribuição para a natureza.
Este artigo apresenta o estudo da adição de um resíduo designado de cascalho de perfuração a um solo local, com
o objetivo de se utilizar esta mistura na camada de base de um pavimento. Para o estudo foram realizados ensaios de
caracterização dos materiais, ensaios mecânicos, como curva de compactação e triaxial de cargas repetidas e ensaios
ambientais realizados para classificação do resíduo e das misturas de solo-resíduo.
Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla que estuda a viabilidade de utilização de quatro tipos de
resíduos, todos provenientes da exploração e produção do petróleo, em camadas do pavimento. A pesquisa ainda se
encontra na fase de ensaios de laboratório, mas já está prevista a construção de trechos experimentais utilizando os vários
resíduos avaliados, que serão construídos dentro da própria empresa geradora do resíduo. A escolha das misturas de solo-
resíduo será feita com base nos resultados dos ensaios de laboratório.

2. Materiais
Os materiais usados nesta pesquisa são o rejeito cascalho de perfuração e dois tipos de solos, todos provenientes
da Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Bahia (UN-BA) - Petrobras, localizada no município de São
Sebastião do Passé, BA.
Sempre que se trabalha com algum tipo de rejeito é importante que se conheça um pouco do processo de geração
do mesmo. No caso desta pesquisa, o rejeito cascalho de perfuração é gerado quando as rochas são perfuradas para
exploração do petróleo. A perfuração é feita pela ação da rotação e peso aplicado a uma broca na extremidade de uma
coluna de perfuração. Os fragmentos da rocha são removidos continuamente através de um fluido de perfuração ou lama. O
fluido de perfuração é injetado por bombas para o interior da coluna de perfuração através da cabeça de injeção e retorna à
superfície através do espaço anular formado entre as paredes do poço e a coluna de perfuração.
Este cascalho gerado na perfuração é retido no sistema de separação e controle de sólidos, sendo depois
direcionado ao sistema de secagem por centrifugação onde ocorre a recuperação do fluido de perfuração. Com esse
tratamento obtém-se, ao final do processo, cascalho de perfuração com teor de óleo inferior ou igual a 5%, em massa.
O fluido de perfuração usado neste tipo de processo pode ter como base n-parafina, óleo diesel, água, e outros,
sendo que praticamente todo o percentual de hidrocarboneto total de petróleo no rejeito cascalho de perfuração é
proveniente do tipo de fluido usado.
O fluido de perfuração utilizado para gerar a amostra de cascalho de perfuração usada nesta pesquisa tem como
base n-parafina. O Cloreto de Sódio, cuja finalidade é evitar a hidratação da argila e não fechar a seção do poço, é
adicionado nas fases 2 e 3 de perfuração, que possui três fases, sendo que na fase 1 não é adicionado produto químico.
Outro fator importante que interfere nas características do cascalho de perfuração é a formação rochosa a ser perfurada.
O custo de destinação final deste resíduo é em torno de R$ 350,00 por tonelada de resíduo e o volume gerado no
ano de 2009 na UN-BA foi de aproximadamente 83.500 t ou seja, foram gastos aproximadamente 29 milhões de reais em
2009 para descarte deste rejeito, sendo considerado um custo bastante elevado para a UN-BA Petrobras.
Os solos estudados nesta pesquisa são provenientes de uma jazida localizada dentro da UN-BA, sendo que um
solo foi coletado na base do talude, denominado neste trabalho de solo S1107 e o outro solo foi coletado no horizonte
superior, denominado de solo S1106.

3. Ensaios de Caracterização
A caracterização dos solos foi realizada no laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ e a caracterização da
amostra cascalho de perfuração foi realizada no setor caracterização tecnológica do CETEM-MCT. A análise
granulométrica dos solos foi realizada segundo a ABNT NBR 7181:1984 e a caracterização do cascalho de perfuração foi
realizada pelo ensaio de sedigrafia com o equipamento Sedigraph 5100 com o software da Micromeritic V1.02. Na Tabela
1 estão apresentados os resultados dos ensaios de densidade real dos grãos, limites de Atterberg (LL, LP e IP) e
composição granulométrica do cascalho de perfuração e dos solos S1106 e S1107. Pode-se verificar que, apesar do nome
“cascalho” dado ao rejeito, o mesmo apresenta uma granulometria de solo fino: silte com areia fina e argila.
Para classificar o resíduo cascalho de perfuração sob o ponto de vista ambiental foram realizados algumas análises
na massa bruta do resíduo e os ensaios de lixiviação e solubilização segundo as normas ABNT NBR 10005:2004 e ABNT
NBR 10006:2004, respectivamente. Estes ensaios foram realizados por um laboratório especializado.
No extrato lixiviado foram analisados todos os elementos constantes no anexo F da ABNT NBR 10004:2004,
sendo que nenhum elemento apresentou valor acima do permitido pela norma. No extrato solubilizado também foram
analisados todos os elementos constantes no anexo G da referida norma, sendo que apenas o elemento cloreto ficou acima
do valor permitido pela norma, que é de 250 mg/l. O valor obtido do elemento cloreto pelo cascalho de perfuração foi de
1723 mg/l, bem superior ao valor máximo permitido pela norma. O cascalho de perfuração apresenta elevado valor de
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20° Encontro de Asfalto
cloreto devido ao processo de geração do mesmo, visto que, como informado anteriormente, durante a fase de perfuração
dos poços é adicionado cloreto de sódio, com o objetivo de evitar o fechamento da seção do poço.

Tabela 1 - Composição granulométrica, limites de Atterberg e densidade dos solos e do rejeito.

Composição Granulométrica ( % ) ( Escala ABNT ) Densidade


LL LP IP
Areia real dos
Solo Argila Silte Pedregulho (%) (%) (%)
Fina Média Grossa grãos (G)
S 1106 -
horizonte 29 8 18 35 10 0 50 18 32 2,654
superior

S 1107 -
Base do 8 7 18 32 30 5 NP NP NP 2,662
talude
Cascalho de
35 58 7 0 0 0 − − − 2,402
Perfuração

Se o cascalho de perfuração for classificado levando em consideração somente as análises realizadas nos extratos
lixiviado e solubilizado, o mesmo é classificado como resíduo não inerte.
No entanto, segundo a ABNT NBR 10004:004, além do ensaio de lixiviação existe outros critérios que
classificam o resíduo como perigoso, sendo um destes critérios, possuir uma ou mais substâncias constantes no anexo C da
referida norma e apresentar toxicidade. No anexo C da ABNT NBR 10004:2004 estão listadas centenas de substâncias que
conferem periculosidade ao resíduo, no entanto não existe nenhum valor indicativo de concentração máxima para cada
elemento. Segundo a referida norma um dos critérios para avaliar a toxidade é a concentração do elemento no resíduo.
Como a empresa geradora do resíduo não forneceu a composição química do mesmo, foram escolhidas algumas
substâncias para serem realizadas as análises no resíduo bruto. Os resultados das análises na massa bruta do cascalho de
perfuração estão apresentados na Tabela 2, onde estão assinalados com (x) quais destes elementos estão presentes no anexo
C da referida norma. No entanto, não se sabe se a concentração encontrada no cascalho de perfuração para os elementos:
antimônio, bário, cádmio, chumbo, cromo e níquel, como mostra a Tabela 2, é alta a ponto de classificar o resíduo como
perigoso (Ubaldo et al., 2010).
Vale salientar a inexistência de uma norma que especifique melhor quais processos são válidos para transformar
um resíduo perigoso ou não inerte em resíduo inerte: se somente a adição de solo bastaria para diluir a concentração do
resíduo, tornando a mistura solo + rejeito um material inerte; ou se haveria necessidade de adicionar à mistura outro
produto (como cal, cimento, cinza) que tenha a função de estabilizá-la quimicamente (Ubaldo et al., 2010).

4. Ensaios Mecânicos
Foi realizado o ensaio de compactação segundo a norma ABNT NBR 7182:1986 para determinar o teor de
umidade ótima e a massa específica aparente seca máxima de cada material, em moldes de 10 cm de diâmetro e 20 cm de
altura, compactados na energia modificada.
O ensaio utilizado neste trabalho para avaliar o comportamento mecânico dos materiais é o triaxial de cargas
repetidas, para obtenção do módulo de resiliência e deformação permanente.
O módulo de resiliência (MR) é definido como a relação entre a tensão desvio aplicada em uma amostra de solo e
a correspondente deformação específica vertical resiliente que ela provoca, dado pela expressão seguinte:

σd
MR = (1)
εr

σ d = σ 1 − σ 3 = tensão desvio aplicada repetidamente no eixo axial;


σ 1 = tensão principal maior (MPa);
σ 3 = tensão principal menor ou tensão confinante (MPa);
ε r = deformação específica axial resiliente –recuperável (mm/mm).

Tabela 2 – Análise realizada no resíduo bruto do cascalho de perfuração deste estudo.


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20° Encontro de Asfalto

Limite de Cascalho de NBR 10004:2004


Parâmetro detecção perfuração
(mg/kg) (mg/kg) anexo C

Alumínio 2,33 2080


Antimônio 0,07 1,1 x
Arsênio 1,33 <LQ x
Bário 0,17 295 x
Cadmio 0,07 0,6 x
Cálcio 0,27 3502
Chumbo 0,93 22,7 x
Cobalto 0,07 9,3
Cobre 0,1 31,4
Cromo 0,07 28,1 x
inorgânicos

Ferro 0,07 8794


Manganês 0,07 228
Magnésio 0,07 677
Mercúrio 0,017 <LQ x
Molibidênio 0,07 1,01
Níquel 0,07 19,3 x
Potássio 0,07 8018
Selênio 3 <LQ x
Sódio 1,67 1247
Titânio 0,07 1641
Urânio 1,37 61
Vanádio 0,07 48,2
Zinco 0,2 39,5
Acenafteno 0,01 <LQ
Acenaftileno 0,01 <LQ
Antraceno 0,01 <LQ
Benzo(a)antraceno 0,01 <LQ x
Benzo(a)pireno 0,01 <LQ x
Benzo(b)+(k) fluoranteno 0,01 <LQ x
Benzo(g,h,i) perileno 0,01 <LQ
HPAs

Criseno 0,01 <LQ x


Dibenzo(a,h)antraceno 0,01 <LQ x
Fenantreno 0,01 <LQ
Fluoranteno 0,01 <LQ x
Fluoreno 0,01 <LQ
Ideno(1,2,3-cd) pireno 0,01 <LQ x
2-Metilnaftaleno 0,01 <LQ
Naftaleno 0,01 <LQ x
Pireno 0,01 <LQ
Nota: LQ – limite de detecção do aparelho

Este ensaio seguiu os procedimentos descritos na norma DNIT ME 131/94, sendo executado em duas fases: a
primeira fase é denominada de condicionamento, onde o objetivo é reduzir a influência de deformações plásticas grandes e
acabar com as irregularidades que possam existir no topo do corpo de prova; a segunda fase compreende o ensaio
propriamente dito, onde se aplicam ao material em estudo pares de tensões desvio e de tensões confinantes (total de 18
pares de tensões), medindo suas deformações resilientes.
O resultado deste ensaio são dezoito valores de módulo de resiliência, cada valor de módulo de resiliência
corresponde a um par de tensões. Estes valores podem ser apresentados em forma de gráficos ou equações, como descrito a
seguir:

• Modelo em função somente da tensão desvio:

MR = k1 × σ d
k2
(2)

• Modelo em função somente da tensão confinante:

MR = k1 × σ 3
k2
(3)

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20° Encontro de Asfalto

• Modelo composto em função das tensões confinante e desvio:

MR = k1 × σ 3 2 × σ d
k k3
(4)

A curva de compactação foi definida tanto para os solos puros, quanto para as misturas de solo + cascalho de
perfuração. As curvas de compactação estão apresentadas na Figura 1. Para o solo denominado de S1106 foi estudada a
adição de 10% do resíduo cascalho de perfuração e para o solo denominado de S1107 foram estudadas duas adições de
cascalho de perfuração: 10% e 20% do resíduo.
Na Tabela 3 apresenta-se um resumo dos valores de umidade ótima e massa específica aparente seca máxima de
cada curva de compactação. Observa-se que o valor da umidade ótima reduz em 1% e 1,5% nas misturas de solo +
cascalho de perfuração em relação ao solo puro e a massa específica aparente seca máxima das misturas de solo + rejeito é
ligeiramente maior que nos solos puros.
O ensaio de módulo de resiliência foi realizado em corpos de prova moldados na energia modificada na condição
de umidade ótima para os solos puros e para as três misturas de solo + rejeito mencionadas.

CURVA DE COMPACTAÇÃO SOLO S1106 CURVA DE COMPACTAÇÃO SOLO S1107


2,1 2,2
Massa específica aparente seca

2,0 Massa específica aparente seca 2,1


(g/cm3)

(g/cm3)

1,9 2,0

1,8 1,9

1,7 1,8
8 10 12 14 16 18 2 4 6 8 10 12 14
Umidade (%) Umidade (%)
PURO +10% casc +20% casc
PURO +10% casc

Polinômio (PURO) Polinômio (+10% casc) Polinômio (PURO) Polinômio (+10% casc) Polinômio (+20% casc)

(a) (b)

Figura 1 – Curva de compactação dos solos e das misturas de solo + cascalho: (a) solo S1106 e (b) solo S1107.

Tabela 3 – Valores de umidade ótima e massa específica aparente seca máxima dos solos e mistura de solo e cascalho de
perfuração.

Curva de Compactação

umidade ótima Massa espec. aparente


Solo + rejeito 3
(%) seca máxima (g/cm )

S 1106 + 10% de cascalho de perfuração 11,4 1,972

S 1106 - solo puro 12,5 1,946

S 1107 + 20% de cascalho de perfuração 8,6 2,086

S 1107 + 10% de cascalho de perfuração 8,0 2,074

S 1107 - solo puro 9,5 2,042

Na Tabela 4 são apresentados os valores das constantes K1, K2 e K3 referentes a cada função das equações (2), (3)
e (4), obtidos através dos resultados experimentais dos ensaios de módulo de resiliência. Consta também na referida tabela
os valores de R2, um parâmetro utilizado para avaliar o ajuste dos pontos experimentais do modelo usado, quanto mais
próximo o parâmetro R2 tiver do valor 1 melhor o ajuste da equação.
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20° Encontro de Asfalto
Como pode ser observado na Tabela 4, para todos os ensaios realizados, o modelo que apresentou o melhor ajuste
dos pontos experimentais, ou seja, R2 mais próximo de 1, foi o modelo composto.

Tabela 4 – Resultados dos ensaio de módulo resiliência dos solos puros e das misturas de solo + rejeito

S1106 + 10% S1107 + 10% S1107 + 20%


S1106 puro S1107 puro
casc. perf. casc. perf. casc. perf.

K1 188,1 282,3 459,5 351,4 241,0


Modelo em função
da tensão desvio K2 -0,3071 -0,2507 0,2370 0,0560 -0,0959
2
R 0,5717 0,5758 0,3842 0,0348 0,1532

Modelo em função K1 221,6 310,3 942,5 625,1 320,9


da tensão K2 -0,1855 -0,1652 0,4388 0,2458 0,0242
Confinante 2
R 0,1376 0,1651 0,8685 0,4419 0,0065
K1 334,32 480,6 1012,8 728,4 380,8
Modelo Composto
em função da K2 0,4109 0,2993 0,5452 0,5223 0,3533
tensão Confinante K3 -0,5773 -0,4004 -0,1046 -0,2854 -0,3431
e tensão desvio
2
R 0,8614 0,8116 0,9623 0,8942 0,7873

Na Figura 2 estão apresentados os resultados de módulo de resiliência do solo S1106 puro e com adição de
cascalho de perfuração em função das tensões confinante e desvio e na Figura 3 constam os mesmos resultados em função
do modelo composto. O que pode ser observado nestas figuras foi que a mistura de solo S1106 + 10% de cascalho de
perfuração apresentou o mesmo comportamento do que o solo S1106 puro, porém com maiores valores de módulo, ou seja,
menores valores de deformabilidade. Este resultado mostra que esta mistura é considerada viável para uso como camada de
base de um pavimento.

S 1106 Horizonte Superior S 1106 Horizonte superior

700 800

700 solo puro


600
Módulo Resiliente (MPa)
Módulo Resiliente (MPa)

600 10% cascalho


500
500
400
400
300
300

200 200
solo puro
100 10% cascalho 100

0 0
0,01 0,10 1,00 0,01 0,10 1,00

Tensão Confinante (MPa) Tensão desvio (MPa)

(a) (b)

Figura 2 - Resultados dos ensaios de módulo de resiliência realizados no solo S1106 puro e no solo S1106 misturado com
cascalho de perfuração, na condição de umidade ótima: (a) função da tensão confinante e (b) função da tensão desvio.

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20° Encontro de Asfalto

(a) (b)

Figura 3 - Resultados dos ensaios de módulo de resiliência em função do modelo composto: (a) solo S1106 puro e (b)
S1106 + 10% de cascalho de perfuração

Na Figura 4 estão apresentados os resultados de módulo de resiliência do solo S1107 puro e com adição de 10 e
20% de cascalho de perfuração em função das tensões confinante e desvio e na Figura 5 os mesmos resultados em função
do modelo composto. Observa-se nestas figuras que a adição de 10% de cascalho de perfuração ao solo S1107 fez
aumentar um pouco a resistência mecânica, mas o comportamento do solo é muito próximo ao do solo S1107 puro. Já
quando se adiciona 20% de cascalho de perfuração ocorre uma mudança de comportamento do módulo de resiliência da
mistura em relação ao solo puro: a mistura de S1107+20% de cascalho de perfuração apresenta valor de módulo de
resiliência pouco dependente da tensão confinante aplicada, o que é desejável para camadas de pavimento.

S 1107 Base do Talude S 1107 Base do Talude


400
450

400 350
Módulo Resiliente (MPa)
Módulo Resiliente (MPa)

350 300

300
250
250
200
200
solo puro
150 solo puro
150 20% cascalho
100 10% cascalho 100 20% cascalho

50 50 10% cascalho

0
0
0,01 0,10 1,00
0,01 0,10 1,00
Tensão Confinante (MPa) Tensão desvio (MPa)

(a) (b)

Figura 4 – Resultados dos ensaios de módulo de resiliência realizados no solo S1107 puro e no solo S1107 misturado com
cascalho de perfuração, na condição de umidade ótima: (a) função da tensão confinante e (b) função da tensão desvio.

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20° Encontro de Asfalto

(a) (b)

(c)

Figura 5 - Resultados dos ensaios de módulo de resiliência em função do modelo composto: (a) solo S1107 puro, (b)
S1107 + 10% de cascalho de perfuração e (c) S1107+ 20% de cascalho de perfuração.

Foi estudado também o comportamento das misturas de solo + cascalho de perfuração com adição de uma
pequena porcentagem de cimento. A proporção de cimento usada foi de 1% em peso da mistura, que corresponde a um
solo melhorado com cimento. O objetivo de adicionar cimento nestas misturas é aumentar a resistência mecânica. O
cimento usado nesta pesquisa foi CPII E-32, o mais comum no mercado. Todas as amostras em que foi adicionado cimento
tiveram um tempo de cura de 7 dias antes da realização dos ensaios.
Para as misturas de solo + rejeito + cimento não foi definida uma nova curva de compactação, pois é sabido que
não há alteração dos parâmetros. A umidade ótima foi considerada a mesma da mistura de solo + rejeito correspondente.
As misturas que foram adicionadas 1% de cimento são: solo S1106 + 10% de cascalho de perfuração e solo S1107 + 20%
de cascalho de perfuração.

Tabela 5 - Resultados dos ensaios de módulo resiliência das misturas de solo+ rejeito+cimento.
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S1106 + 10% S1107 + 20%


casc. perf. casc. perf.
+ 1% cimento + 1% cimento

K1 1607,0 2630,2
Modelo em função
da tensão desvio K2 0,4293 0,3894
2
R 0,4388 0,5757

Modelo em função K1 4682,5 6408,1


da tensão K2 0,7137 0,6195
Confinante 2
R 0,7998 0,9611
K1 3261,9 5519,0
Modelo Composto
em função da K2 0,7300 0,5657
tensão Confinante K3 -0,2065 -0,0047
e tensão desvio
2
R 0,8695 0,9821

S 1106 Horizonte Superior S 1106 Horizonte superior

1200 1200

1000 1000
Módulo Resiliente (MPa)

Módulo Resiliente (MPa)

800 800

600 600

400 400

10% casc.
200 200
10% casc.
10%casc+1%cim
10%casc.+1'%cim
0 0
0,01 0,10 1,00 0,01 0,10 1,00
Tensão Confinante (MPa) Tensão desvio (MPa)

(a) (b)

Figura 6 - Resultados dos ensaios de módulo de resiliência realizados no solo S1106 +10% de cascalho de perfuração sem
e com adição de cimento: (a) função da tensão confinante e (b) função da tensão desvio.

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20° Encontro de Asfalto

Figura 7 - Resultados dos ensaios de módulo de resiliência em função do modelo composto em amostras de S1106 + 20%
de cascalho de perfuração + 1% de cimento

S 1107 Base do Talude S 1107 Base do Talude


2000
2000
1800 20% cascalho
1800
1600 20%casc.+1%cim
Módulo Resiliente (MPa)

1600
Módulo Resiliente (MPa)

1400 1400

1200 1200

1000 1000
20% cascalho
800 800
20%casc.+1%cim
600 600
400 400
200 200
0
0
0,01 0,10 1,00
0,01 0,10 1,00
Tensão Confinante (MPa) Tensão desvio (MPa)

(a) (b)

Figura 8 - Resultados dos ensaios de módulo de resiliência realizados no solo S1107 +20% de cascalho de perfuração sem
e com adição de cimento: (a) função da tensão confinante e (b) função da tensão desvio.

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20° Encontro de Asfalto

Figura 9- Resultados dos ensaios de módulo de resiliência em função do modelo composto em amostras de S1107 + 10%
de cascalho de perfuração + 1% de cimento.

De acordo com os resultados apresentados na Figura 6, a mistura de S1106 + 10% de cascalho de perfuração
quando adicionado 1% de cimento apresentou um aumento nos valores de módulo de resiliência e o comportamento da
mistura com adição do cimento é o oposto da mesma mistura sem cimento. Enquanto a mistura de S1106 + 10% de
cascalho de perfuração tem os valores de módulo de resiliência decrescente à medida que se aumenta a tensão confinante,
na mesma mistura com adição de 1% de cimento os valores de módulo de resiliência tende a aumentar quando se aumenta
a tensão confinante. O mesmo comportamento foi observado quando se analisa a tensão desvio. Já na figura 8, pode-se
observar que a adição de apenas 1% de cimento a mistura de S1107 + 20% de cascalho de perfuração teve um aumento
bastante expressivo no módulo de resiliência quando comparado com a mesma mistura sem cimento.

5. Ensaios Ambientais
O objetivo desta pesquisa não é utilizar o rejeito puro e sim adicioná-lo ao solo da região para utilização como
camada de base de um pavimento. Na presente pesquisa também foram realizados ensaios ambientais, segundo a NBR
10004/2004, das misturas de solo + rejeito (na proporção definida pelos ensaios mecânicos) para fazer uma nova
classificação segundo o potencial poluidor das misturas.
O ensaio de lixiviação não foi repetido para as misturas solo + rejeito, uma vez que, na pior das hipóteses que
seria utilizar 100% de rejeito, os valores encontrados ficaram abaixo do permitido pela norma, não se achou necessidade de
se repetir para uma condição mais favorável onde a proporção de rejeito é menor. O ensaio de solubilização foi repetido
para as misturas de solo + rejeito e solo + rejeito + cimento, no entanto, seguindo o mesmo raciocínio de condição mais
favorável, no extrato solubilizado destas misturas só foi feita análise do elemento cloreto, que foi o único elemento que
apresentou valores acima do recomendado pela NBR 10004/2004 na análise do resíduo puro.
Os resultados da análise do elemento cloreto nos extratos solubilizados das misturas (solo + rejeito e solo + rejeito
+ cimento), realizados no setor de química do Laboratório de Geotecnia da COPPE estão apresentados na Tabela 6, assim
como o resultado da análise realizada na amostra do rejeito puro e o limite máximo permitido pela norma NBR 10004/2004
também para o elemento cloreto.
Como pode ser visto nos resultados apresentados na Tabela 6, a adição de 1% de cimento praticamente não
alterou a quantidade de cloreto da amostra S1106+10% de cascalho de perfuração, no entanto, quando adicionado a
mistura de S1107+20% cascalho de perfuração o aumento no valor de cloreto foi significativa.
Quando se adiciona somente 10% de cascalho de perfuração ao solo S1106 o valor do cloreto fica dentro do valor
recomendado pela norma para o referido elemento, isso vale para misturas com e sem adição de cimento.

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20° Encontro de Asfalto
Para a amostra de solo S1107 adicionado 20% de cascalho de perfuração o valor do cloreto fica praticamente
dentro do valor recomenda pela norma quando não adicionado cimento, no entanto, quando adicionado 1% de cimento o
valor de cloreto fica acima do valor recomendado pela norma para o elemento cloreto.

Tabela 6 – Análise do elemento Cloretos no extrato solubilizado.

Resultado do ensaio de solubilização (mg/L)


Parâmetro
Amostra Cloretos pH

Limite máximo permitido pela


− 250 −
NBR 10004/2004 - Anexo G

Cascalho de perfuração única 1723 7,78

S1106 + 10% cascalho de 1 136 7,95


perfuração
2 125 7,90

S1106 + 10% cascalho de 1 151 10,39


perfuração + 1% cimento 2 137 10,52

S1107 + 20% cascalho de 1 259 8,41


perfuração
2 255 8,39

S1107 + 20% cascalho de 1 322 11,04


perfuração +1% cimento
2 322 11,07

6. Dimensionamento:

Como forma de testar a viabilidade técnica do uso do rejeito denominado de cascalho de perfuração em base de
pavimento, foram realizadas algumas simulações de dimensionamento de pavimento pelo método mecanístico-empírico
utilizando o programa SisPav (Franco, 2007). Todas as simulações deste trabalho foram realizadas considerando um
tráfego de 20.000 caminhões de eixo duplo por ano, onde foram consideradas carga padrão de 8.200 kg e pressão de 0,56
MPa, isto equivale a um número N de 1,9 x 106 para uma vida de projeto de 10 anos.
As simulações com o programa SisPav foram realizadas levando em consideração os seguintes critérios: nível de
confiabilidade do programa de 85%; dano relativo à deflexão máxima admissível na superfície do pavimento; dano relativo
à tensão admissível no topo do subleito do pavimento e deformação permanente máxima na superfície do pavimento de
1,25 cm.
As primeiras simulações foram realizadas para calcular a vida útil da estrutura do pavimento apresentada na
Figura 10, onde foram considerados: i) revestimento de CBUQ de 5 cm de espessura; ii) base de 20 cm de espessura, onde
foram testados os dois solos usados neste estudo e as diversas misturas de solo + cascalho de perfuração apresentadas neste
artigo; iii) sub-base também com 20 cm de espessura de um dos solos da região denominado neste estudo de solo S1107
compactado na umidade ótima e iv) subleito onde foi considerado um valor de módulo de resiliência de 80 MPa.
Os resultados das primeiras simulações estão apresentados na Tabela 7. Observa-se nestes resultados que para a
estrutura do pavimento e o tipo de tráfego utilizado nestas simulações o uso dos solos da região não seria adequado quando
utilizados puros, no entanto, para a mistura de solo S1106 + 10% de cascalho de perfuração a vida útil prevista para o
pavimento atinge um valor aceitável e para a mistura de solo S1107 + 20% de cascalho de perfuração + 1% de cimento,
apesar da adição de cimento encarecer a mistura, a vida útil prevista para o pavimento tem um ganho significativo.
Para as misturas S1106 + 10% de cascalho de perfuração e S1107 + 20% de cascalho de perfuração + 1% de
cimento foram realizadas novas simulações variando as espessuras das camadas de base e sub-base, conforme descrito na
Tabela 8. Os demais parâmetros permaneceram os mesmos das simulações anteriores.

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Figura 10 – Estrutura do pavimento utilizada como referência nas simulações do programa SisPav.

Tabela 7. Resultados das simulações do programa SisPav referentes a estrutura do pavimento apresentada na figura 10.

Material usado na camada de base vida útil do pavimento (anos)


S1106 puro 3,9
S1106+10% cascalho de perfuração 9,4
S1106+10% cascalho de perfuração +1% cimento 4,4
S1107 puro 1,2
S1107+20% cascalho de perfuração 2.2
S1107+20% cascalho de perfuração +1% cimento 23,7

Tabela 8 – Resultados das simulações do programa SisPav variando as espessuras das camadas de base e sub-base.

Material de base espessuras das camadas vida útil (anos)


espessura da base - 30cm e sub-base - 20cm 9,8
Material de base - S1106 + 10%
espessura da base - 40cm e sub-base - 20cm 8,9
casc. perf.
espessura da base - 30cm e da sub-base -15 cm 9,9

Material de base - S1107 + 20% espessura da base - 15cm e sub-base - 20cm 17,8
casc. perf. +1%cim espessura da base - 15cm e da sub-base -15 cm 19,1

Para as condições simuladas as melhores soluções avaliadas neste estudo foram:


• Utilização da mistura S1106 + 10% de cascalho de perfuração com 30 cm de espessura e a camada de sub-base
com 20cm de espessura;
• Utilização da mistura S1107 + 20% de cascalho de perfuração + 1% de cimento com 15cm de espessura e sub-
base com espessura de 15 cm.
Para ambos os casos seriam necessários aproximadamente 550 t de cascalho de perfuração por km de estrada
construída, considerando que a estrada tenha 9 m de largura. Levando-se em conta a geração de cascalho de perfuração da
UN-BA no ano de 2009, daria para construir 150 km de estrada por ano para utilização de todo o cascalho de perfuração
gerado na UN-BA.

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7. Considerações Finais
Os resultados apresentados neste artigo mostram a viabilidade técnica de se utilizar o cascalho de perfuração em
base de pavimento em dois diferentes tipos de estrutura. Para a estrutura que utiliza a mistura de solo S1106 + 10%
cascalho de perfuração, a condição ambiental também é satisfatória porque a quantidade do elemento cloreto no extrato
solubilizado desta mistura fica abaixo do valor recomendado pela norma NBR10004/2004. Para a estrutura que utiliza a
mistura S1107 + 20% de cascalho de perfuração + 1% de cimento apesar de ter uma vida útil bem superior, o elemento
cloreto no extrato solubilizado desta mistura fica um pouco acima do valor recomendado pela referida norma.
Como o fato da mistura S1107 + 20% de cascalho de perfuração + 1% de cimento não ser classificada como
resíduo perigoso, e sim como resíduo não inerte, seria viável uma avaliação destes resultados juntamente com o órgão
ambiental responsável pela região onde se pretende construir o pavimento.

7. Agradecimentos
Agradecimentos ao CENPES / Petrobras que financia a presente pesquisa.

8. Referências

ABNT / NBR 7182:1986, Solo – Ensaio de compactação, 10p.


ABNT / NBR 7181:1984, Solo – Análise granulométrica, 13p.
ABNT / NBR 10004:2004, Resíduos sólidos – Classificação, 71p.
ABNT / NBR 10005:2004, Procedimento para obtenção de extrato de lixiviado de resíduos sólidos, 16p.
ABNT / NBR 10006:2004, Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos, 3p.
DNIT ME 131/94, Solos – Determinação do módulo de resiliência.
FRANCO, F. A. C. P. Método de dimensionamento mecanístico-empírico de pavimentos asfálticos – SisPav. Tese de
doutorado apresentado ao programa de engenharia civil da COPPE-UFRJ, 2007.
MOTTA, L. M. G., ALMEIDA, M. S. S., BARBOSA, M. C., FONTES, C. M. A. Parecer Sobre Uso de Escória
Siderúrgica em Pavimentos Sem Cobertura. Relatório interno da Fundação COPPETEC, Rio de Janeiro, 2006
UBALDO, M. O., MOTTA, L. M. G., ODA, S., NASCIMENTO, L. A. H. Implicações ambientais na utilização de rejeitos
da exploração e produção de petróleo em pavimentação – uma discussão. Artigo submetido ao Cobramseg, 2010.

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