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INFLUÊNCIA DA DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DO

AGREGADO MIÚDO E DO TEOR DE FÍLER NAS PROPRIEDADES


DE ARGAMASSAS COM AREIA DE BRITAGEM

Daiana Cristina Metz Arnold , Claudio de Souza Kazmierczak

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-graduação

em Engenharia Civil

Avenida Unisinos, 950, São Leopoldo(RS), daianacm@unisinos.br

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de avaliar as propriedades de argamassas com


areia de britagem, confeccionadas com agregados com diferentes distribuições
granulométricas e teores de filer. Produziu-se seis misturas de argamassas com
areia de britagem, no traço em volume de cimento, cal e areia, 1:1:6, com índice de
consistência fixado em 240 mm + 10 mm na mesa de consistência. Utilizou-se
cimento CP IV – 32 e cal CH-I. Observou-se que à medida que o módulo de finura
do agregado aumenta há acréscimos na resistência à compressão, na densidade de
massa aparente no estado fresco e no módulo de elasticidade dinâmico da
argamassa, e diminuição do teor de ar incorporado e do coeficiente de capilaridade.
O aumento no teor de fíler aumentou o valor de todas as propriedades das
argamassas, exceto o teor de ar incorporado, que diminui.

Palavras-chave: areia de britagem; distribuição granulométrica; fíler, argamassa,


reciclagem.
2

ABSTRACT

This study has the objective to evaluate the properties of mortars with crushing
sand made with aggregates with different grain sized distributions and filler content. It
was produced six mixtures of mortars with sand crushing in the proportion in volume
of cement, lime and sand, 1:1:6, and consistence of 240+10mm. It was used cement
CP IV-32 and CH-I lime. It was observed that increasing the modulus of fineness of
the aggregate the resistance of compression, the density of apparent mass in the
fresh state and the dynamic modulus of elasticity of the mortar increases and the air
incorporated and the coefficient of capillarity decreases. The increase of filler content
increased the value of all the properties of mortars except the air incorporated.

Keywords: crushed sand; grain sized distributions; filler; mortars; recycling.

INTRODUÇÃO

A crescente busca por sustentabilidade na construção civil tem resultado na


pesquisa de alternativas que possam minimizar o consumo de recursos naturais,
como a reciclagem de resíduos transformando-os em co-produtos para a construção
civil. A areia de britagem, proveniente do beneficiamento do pó de pedra, é um
resíduo do processo de britagem de rocha para a produção de agregado graúdo cujo
uso, na forma de agregados miúdos para argamassas e concretos, está em
crescimento. O volume de pó de pedra gerado em uma pedreira varia de 10 a 42%
do total de material britado, dependendo das características geológicas da rocha e
do sistema de britagem empregado (CUCHIERATO e SANT’AGOSTINO, 2000).
Em função da escassez de jazidas de areia natural, do incremento da
fiscalização pelos órgãos ambientais e dos custos crescentes de transporte
associados à sua exploração (SBRIGHI NETO, 2005), a fração fina da areia de
britagem, denominada pedrisco, associada a determinados teores de fíler, tem sido
utilizada como substituto parcial ou total da areia natural. Nos últimos anos, diversos
estudos têm sido realizados sobe o uso da areia de britagem, como os de Pandolfo
e Masuero (2005), Gonçalves et al. (2007), Klein, Carbonari e Guizilini (2008).
Entretanto, a maioria das empresas que vem explorando o resíduo é desprovida de
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um estudo científico que embase sua aplicação, o que resulta em grande quantidade
de manifestações patológicas nas obras onde são utilizadas.
Dentre as características que mais diferenciam as areias naturais das
provenientes do processo de britagem, destacam-se a diferença morfológica entre
os grãos de areia e os do pedrisco, assim como a maior quantidade de fíler inerente
aos grãos de pedrisco. A menor esfericidade dos grãos de pedrisco proporciona à
argamassa maior demanda de água e altera a sua reologia, comparativamente às
argamassas com areia natural, resultando em modificações substanciais nas demais
propriedades das argamassas. A morfologia dos grãos do pedrisco, entretanto, vem
sendo alterada nos últimos anos, em função da adoção de equipamentos de
britagem mais eficientes, tais como os britadores do tipo VSI (Vertical Shaft Impact),
que permitem a produção de grãos mais esféricos, o que exige uma contínua
readequação dos resultados das pesquisas já realizadas.
O objetivo deste trabalho é avaliar as propriedades de argamassas com areia
de britagem proveniente de rocha basáltica da região de Campo Bom – RS, com o
uso de britadores do tipo VSI, confeccionadas com agregados com diferentes
distribuições granulométricas e teores de fíler.

MATERIAIS E MÉTODOS

As argamassas utilizadas foram confeccionadas com cimento Portland CP IV-


32, por ser comumente utilizado para argamassas de revestimento, ser facilmente
encontrado e de ampla utilização em argamassas no estado do Rio Grande do Sul, e
cal hidratada classe CH I. A caracterização destes aglomerantes consta na tabela 1.

Tabela 1 – Resultados dos ensaios para caracterização do cimento e da cal.


Ensaios Cimento CP IV-32 Cal – CH I
Massa unitária - NBR NM 23 (ABNT, 2001) 0,87 g/cm³ 0,74 g/cm³
Massa específica - NBR 7251 (ABNT, 1987) 2,78 g/cm³ 2,40 g/cm³
Área Específica Blaine - NBR NM 76 (ABNT, 1998) 3975 cm²/g 13508 cm²/g
Finura - Resíduo na Peneira de 0,075 mm (#200) – NBR 0,6 % -
11579 (ABNT, 1991)
Resistência à compressão aos 28 d - NBR 7215 (ABNT, 1996) 39,2 MPa -
Início de pega - NBR NM 65 (ABNT, 2003) 03h 58min -
Fim de pega - NBR NM 65 (ABNT, 2003) 05h 09min -
Como agregado miúdo, foi utilizada uma areia de britagem basáltica, obtida
por britador VSI, produzida em uma unidade de britagem instalada na localidade de
Quatro Colônias, no município de Campo Bom-RS. A distribuição granulométrica e a
4

relação comprimento/largura da areia de britagem utilizada constam na tabela 2. A


forma do grão foi determinada com o auxílio de lupa, a partir de uma amostragem de
40 grãos em cada faixa granulométrica.

Tabela 2 – Distribuição granulométrica e relação comprimento/largura da areia de britagem, no estado original.

Peneira # % Retido acumulado Forma do grão ( c / l )


4,8 1 1,30
2,4 21 1,39
1,2 43 1,52
0,6 62 1,52
0,3 74 1,37
0,15 83 1,38
0,075 100 1,37

Na tabela 3 estão descritos os resultados dos ensaios de caracterização do


agregado.

Tabela 3 – Caracterização do agregado utilizado.


Ensaio Areia de Britagem
Massa unitária no estado solto - NM 45 (ABNT, 2006) 1,63 g/cm³
Massa unitária no estado compactado - NM 45 (ABNT, 2006) 1,72 g/cm³
Massa específica - NBR NM 52 (ABNT, 2003). 2,60 g/cm³
Dimensão máxima - NBR NM 248 (ABNT, 2003). 4,8 mm
Módulo de finura - NBR NM 248 (ABNT, 2003). 3,84
Teor de fíler - Adaptado da NBR NM 46 (ABNT, 2003) 6,92

Foram elaborados seis tipos de agregado miúdo, alterando-se a distribuição


granulométrica e o teor de fíler da areia de britagem. As distribuições
granulométricas foram elaboradas de modo a simular misturas de pedriscos grossos,
médios e finos (a primeira foi composta pelos agregados passantes na peneira 4,8
mm e retidos na peneira 0,075 mm, a segunda a partir dos agregados passantes na
peneira 2,4 mm e retidos na peneira 0,075 mm e a terceira foi formada pelos
agregados passantes na peneira 1,2 mm e retidos na peneira 0,075 mm); e também
o teor de fíler, com o intuito de se estudar o comportamento de uma argamassa com
baixo teor de fíler e outra com um teor elevado de fíler. Estes agregados foram
utilizados para a confecção de seis argamassas, no traço em volume de cimento, cal
e areia, 1: 1: 6. A areia utilizada, foi submetida a peneiramento na malha # 0,075
5

mm, retirando-se o excesso de fíler, o que resultou numa areia com 6,92% de fíler,
denominada “F0”. Nas demais composições de areia de britagem, além dos 6,92%
existentes, adicionaram-se mais 10% de fíler, o que resultou numa argamassa com
um elevado teor de fíler, denominada “F10”.
A granulometria das areias utilizadas nas argamassas está detalhada na
tabela 4.

Tabela 4 – Granulometria das areias utilizadas nas argamassas estudadas


Designação do agregado Granulometria Módulo de finura Teor de fíler (%)
4,8 F0 4,8 mm - 0,075 mm 3,83 6,92
2,4 F0 2,4 mm - 0,075 mm 3,62 6,92
1,2 F0 1,2 mm - 0,075 mm 3,19 6,92
4,8 F10 4,8 mm - 0,075mm 3,83 16,92
2,4 F10 2,4mm – 0,075 mm 3,62 16,92
1,2 F10 1,2 mm - 0,075 mm 3,19 16,92

Na figura 1 podem-se visualizar as curvas de distribuição granulométrica das


areias obtidas a partir do fracionamento da areia original.

CURVA GRANULOMÉTRICA DA AREIA - NBR 7211/2005


100
ZONA UTILIZÁVEL

90 ZONA ÓTIMA
MF= 3,83
80 MF= 3,62
Porcentagem Acumulada em Peso

MF= 3,19
70

60

50

40

30

20

10

0
0,1 0,15 0,3 0,6 1,2 2,4 4,8 6,3 9,5
Abertura das Peneiras em mm

Figura 1 – Curvas de distribuição granulométria das areias.

As argamassas foram produzidas em uma argamassadeira de eixo horizontal.


Visto que são fatores determinantes nas propriedades das argamassas, a seqüência
e o tempo de mistura dos materiais foram definidos e mantidos em todas as
6

dosagens. Para garantir a melhor seqüência de mistura, foi utilizada a metodologia


proposta de Antunes (2005): Coloca-se todo o agregado miúdo na argamassadeira,
misturando-o por trinta segundos, adiciona-se o cimento e a cal, prosseguindo a
mistura por mais trinta segundos; acrescenta-se um terço da água e mistura-se por
mais trinta segundos; adiciona-se mais um terço da água e mistura-se por trinta
segundos; desliga-se a argamassadeira por sessenta segundos enquanto as
paredes e as pás são limpas, de maneira a desgrudar o material aderido.
Acrescenta-se o último terço de água, homogeneíza-se por sessenta segundos e
mede-se a consistência. Acrescenta-se mais água, se necessário, até chegar ao
índice de consistência especificado.
A quantidade de água de todas as argamassas foi ajustada com o objetivo de
se obter um índice de consistência de 240 ± 10 mm (segundo a NBR 13276 (ABNT,
2005)) logo após a mistura. Imediatamente após a mistura das argamassas, foi
determinado seu comportamento reológico com o uso de Squeeze-flow, método que
consiste na compressão de uma amostra cilíndrica de argamassa entre duas placas
paralelas (CARDOSO, et al. 2005). Os testes foram realizados em uma máquina
universal de ensaios EMIC (modelo PCE 100) com controle de deslocamento, e
utilizando célula de carga de 2000 N. As amostras de argamassa foram moldadas na
forma cilíndrica, com 100mm de diâmetro e 10mm de altura, e submetidas a uma
compressão máxima de 2,5 mm, com taxa de deslocamento de 0,1 mm/s. Também
foram determinados o teor de ar incorporado (seguindo a especificação da NBR NM
47 (ABNT, 2002)), a retenção de água (moldagem segundo a NBR 13277 (ABNT,
2005)), e a densidade de massa aparente no estado fresco (NBR 13278 (ABNT,
2005)). Os trabalhos foram realizados em sala climatizada com temperatura de 23ºC
± 2ºC e umidade de 70% ± 10%.
Para cada traço, foram moldados nove corpos-de-prova com dimensões de
40mm x 40mm x 160mm. Após 28 dias de cura submersa, seis foram submetidos ao
ensaio de resistência à compressão e três ao de resistência à tração, de acordo com
os padrões estabelecidos pela NBR 13279 (ABNT, 2005). Determinou-se, para
todos os traços, o módulo de elasticidade dinâmico, segundo os procedimentos do
projeto de norma NBR15630 (ABNT, 2008), à exceção da forma dos corpos-de-
prova. Para cada traço, foram utilizados seis corpos-de-prova de argamassa, obtidos
a partir do corte de corpos-de-prova com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura em
cilindros com dimensão de 10 cm de diâmetro e 3 cm de espessura.
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A figura 2 ilustra o ensaio de squeeze-flow e o ensaio para determinação da


velocidade da onda ultra-sônica, utilizando-se o equipamento “Pundit”, a partir do
qual é calculado o módulo de elasticidade dinâmico.

Figura 2 – Equipamentos e execução dos ensaios de squeeze-flow (a) e de módulo de elasticidade dinâmico (b).

A absorção de água das argamassas e o coeficiente de capilaridade foram


determinados seguindo a norma NBR 15259 (ABNT, 2005). Para cada traço foram
ensaiados três corpos-de-prova.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização das argamassas no estado fresco

Todas as argamassas foram produzidas com índice de consistência


estipulado em 240 + 10 mm, sendo que a quantidade de água de cada traço foi
ajustada com este objetivo. Na tabela 5 é relacionada a quantidade de água
utilizada em cada traço, e o deslocamento observado no ensaios de squeeze-flow.

Tabela 5 – Quantidade de água necessária para obter a consistência de 240 ± 10 mm e deslocamento


observado nos ensaios de squeeze-flow, nas argamassas estudadas
Relação água/cimento Teor de água (%) Deslocamento no
Designação do traço
squeeze-flow (mm)
4,8 F0 2,55 20,0 1,1
2,4 F0 2,53 20,6 1,2
1,2 F0 2,72 22,5 1,8
4,8 F10 2,34 17,8 1,2
2,4 F10 2,40 18,7 1,8
1,2 F10 2,53 20,4 2,1
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Observa-se que o diâmetro máximo do agregado exerce forte influência no


teor de água da argamassa, e que as argamassas com maior teor de fíler exigem
cerca de 10% a menos de água que os traços equivalentes, sem fíler. A
caracterização reológica com o uso de Squeeze-flow identificou diferenças na
plasticidade das argamassas, em função da alteração da distribuição granulométrica
do agregado. Os ensaios foram realizados com um carregamento variando entre
1504 e 1508 N, sendo observadas diferenças significativas no deslocamento dos
pratos do equipamento.

Na figura 3 é visualizada a inter-relação entre o teor de água da mistura e o


resultado de deslocamento no squeeze-flow.

2,5
deslocamento no squeeze-flow

F 10
2
F 10 F0

1,5

F 10 F0
F0
1

0,5
17 18 19 20 21 22 23
teor de água (%)

Figura 3 – Relação entre a quantidade de água e o deslocamento observado no Squeeze-flow.

Observando-se os dados da tabela 5 e a figura 3, pode-se constatar que o


comportamento reológico da argamassa é fortemente influenciado pela distribuição
granulométrica do agregado. As argamassas com maior diâmetro máximo são mais
resistentes ao esmagamento, para um mesmo nível de carregamento, o que indica
que possuem menor plasticidade. Esta propriedade é fortemente influenciada pela
distribuição granulométrica e pela forma dos grãos do agregado, e pelas alterações
do teor de água da mistura para a obtenção de uma mesma consistência. Observa-
se também que a maior quantidade de fíler diminui o teor de água necessário para
atingir o abatimento padronizado para as argamassas, mas aumenta o
deslocamento do squeeze-flow, indicando pequeno aumento na plasticidade destas
argamassas.
9

Na tabela 6 são listados os resultados dos ensaios de teor de ar incorporado,


densidade de massa aparente no estado fresco e retenção de água das
argamassas.

Tabela 6 – Teor de ar incorporado, densidade de massa aparente no estado fresco e retenção de água das
argamassas.
Designação da Teor de ar incorporado Densidade de massa aparente Retenção de água
argamassa (%) no estado fresco (kg/m3) (%)
4,8 F0 1,1 2,13 90
2,4 F0 1,4 2,05 90
1,2 F0 1,7 2,00 89
4,8 F10 1,0 2,18 91
2,4 F10 1,3 2,12 93
1,2 F10 1,6 2,07 93

Os teores de ar incorporado foram considerados adequados para argamassas


com cal, e aumentam em função do teor de água utilizado na argamassa. Em todas
as argamassas analisadas, quanto menor o diâmetro máximo do agregado utilizado,
maior o teor de ar incorporado. A incorporação de ar à argamassa ocorre durante as
operações de mistura dos materiais, e durante a moldagem das argamassas para a
realização dos ensaios. Como os procedimentos de mistura e moldagem foram
mantidos constantes para todas as argamassas, a maior retenção de ar se deve,
provavelmente, às diferenças na força de arraste das partículas dos agregados
miúdos, decorrentes da dimensão do agregado e da quantidade de água
incorporada à pasta. As argamassas com maior teor de fíler, por sua vez,
apresentaram uma pequena diminuição no teor de ar incorporado.
Observa-se uma forte influência do módulo de finura do agregado na
densidade de massa aparente da argamassa no estado fresco: quanto maior o
módulo de finura, maior a densidade de massa aparente no estado fresco da
argamassa. O aumento do teor de fíler, por sua vez, também aumenta a densidade
de massa aparente no estado fresco. O acréscimo da densidade de massa
aparente no estado fresco pode ser explicado, em parte, pelo teor de ar incorporado
nas argamassas. Quando se correlacionam o teor de ar incorporado com a
densidade de massa aparente no estado fresco das argamassas, observa-se que
quanto maior o teor de ar incorporado, menor a densidade de massa aparente no
estado fresco das argamassas analisadas, conforme visualizado na figura 4.
10

1,8

1,6

teor de ar incorporado (%)


1,4

1,2

0,8
1,95 2 2,05 2,1 2,15 2,2
densidade de m assa aparente (kg/dm 3)

Figura 4 – Relação entre o teor de ar incorporado e a densidade de massa aparente das argamassas.

As argamassas que possuem maior quantidade de fíler tendem a apresentar


maior retenção de água, uma vez que possuem maior superfície de contato com a
água. Observa-se, entretanto, que os valores de retenção de água das argamassas
confeccionadas são baixos, indicando possíveis problemas para sua utilização,
especialmente em argamassas de revestimento.

Caracterização das argamassas no estado endurecido

Os ensaios do estado endurecido foram realizados aos 28 dias de idade, após


cura submersa. Na tabela 7 estão sumarizados os seus resultados.

Tabela 7 – Caracterização das argamassas no estado endurecido.


Módulo de Coeficiente
Designação Resistência a Resistência a tração na elasticidade de
da argamassa compressão (MPa) flexão (MPa) dinâmico capilaridade
(MPa)
4,8 F0 2,4 0,7 2514 17
2,4 F0 2,4 0,9 1448 18
1,2 F0 1,9 0,7 1330 18
4,8 F10 3,1 1,2 2465 19
2,4 F10 3,2 1,2 2177 21
1,2 F10 2,5 1,3 1775 21

A figura 5 apresenta os valores de resistência à compressão e de resistência


a tração na flexão de corpos-de-prova prismáticos das argamassas.
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3,5 Rc
Rc
3,0
Rc Rc
Rc
Resistência (MPa)

2,5
Rc
2,0

1,5 Rf
Rf Rf
Rf
1,0 Rf Rf
0,5

0,0
4,8F0 2,4F0 1,2F0 4,8F10 2,4F10 1,2F10

Figura 5 – Resistência a compressão (Rc) e Resistência a tração na flexão (Rf).

Pode-se observar que a resistência a compressão das argamassas é


influenciada pela distribuição granulométrica do agregado, que por sua vez exerce
forte influência no teor de água da argamassa. As argamassas com agregados de
maior diâmetro máximo desenvolvem maior resistência a compressão. As
argamassas com maior quantidade de fíler possuem resistência mecânica
sensivelmente superior às com pequeno teor. Os resultados de resistência a
compressão são coerentes com os obtidos na determinação da quantidade de água
e do teor de ar incorporado nas argamassas no estado fresco (figura 4 e tabela 5),
sendo que aquelas que apresentaram menor teor de ar incorporado desenvolveram
as maiores resistências a compressão. O mesmo comportamento não pode ser
observado na determinação da resistência à tração na flexão das argamassas,
sendo que para os traços com mesmo teor de fíler não houve diferença significativa
entre os valores de resistência a tração na flexão. O aumento do teor de fíler, por
sua vez, aumenta o valor da resistência à tração na flexão da argamassa,
apresentando comportamento similar ao da resistência a compressão. A relação
entre o teor de ar incorporado, a resistência a compressão e o módulo de
elasticidade dinâmico das argamassas é visualizada na figura 6.

2 2
teor de ar incorporado (%)
teor de ar incorporado (%)

1,8 1,8
1,2 F0 1,2 F0
1,6 1,2 F10 1,6 1,2 F10

1,4 2,4 F0 1,4 2,4 F0


2,4 F10 2,4 F10
1,2 1,2
4,8 F0 4,8 F0
1 4,8 F10 1 4,8 F10

0,8 0,8
1,5 2 2,5 3 3,5 1000 1500 2000 2500 3000
resistência a compressão (MPa) módulo de elasticidade dinâmico (MPa)
12

Figura 6 – Relação entre o teor de ar incorporado, a resistência a compressão (a) e o módulo de elasticidade
dinâmico das argamassas (b).

O módulo de elasticidade dinâmico das argamassas foi determinado com as


argamassas no estado seco. Observa-se que o módulo de finura das areias
utilizadas exerce grande influência no módulo de elasticidade das argamassas.
Areias com maior módulo de finura apresentaram maiores módulos de elasticidade.
O aumento da quantidade de fíler da areia de britagem, igualmente, aumenta o
módulo de elasticidade. O acréscimo do módulo de elasticidade dinâmico é
proporcional à diminuição do teor de ar incorporado, e também à densidade de
massa aparente da argamassa. Há uma grande aderência com os valores de
densidade de massa aparente no estado fresco, assim como os valores obtidos na
determinação do teor de ar incorporado. Este comportamento foi observado por
Monte et al (2007) num trabalho que procurou identificar a influência do teor de ar no
módulo de elasticidade de argamassas, utilizando-se como agregado areia normal
brasileira. Nas argamassas sem fíler, não houve influência do módulo de finura do
agregado no coeficiente de capilaridade.
Na tabela 8 estão sumarizadas as tendências de comportamento das
argamassas com areia de britagem testadas, em função das alterações da
granulometria e da quantidade de fíler, ajustando-se a quantidade de água de modo
a manter o índice de consistência constante (240 + 10 mm).
Tabela 8 – Tendências de comportamento observadas nas argamassas com pedrisco.
Propriedade da argamassa Efeito do aumento Efeito do
do módulo de aumento do
finura teor de fíler
Teor de água no traço, mantendo-se a Diminui diminui
consistência
Plasticidade via Squeeze-flow Diminui aumenta
Teor de ar incorporado diminui diminui
Densidade de massa aparente no estado aumenta aumenta
fresco
Retenção de água Indefinido aumenta
Resistência à compressão Aumenta aumenta
Resistência à tração na flexão Indefinido aumenta
Módulo de elasticidade dinâmico aumenta aumenta
Coeficiente de capilaridade diminui aumenta
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CONCLUSÕES

Observou-se que o módulo de finura e o teor de fíler da areia de britagem


influenciam a maioria das propriedades das argamassas. Considerando-se uma
determinada consistência, na medida em que o módulo de finura do agregado
aumenta, a plasticidade da argamassa, medida por Squeeze-flow, diminui, há
acréscimo na resistência à compressão, na densidade de massa aparente no estado
fresco e no módulo de elasticidade dinâmico da argamassa, e diminuição do teor de
ar incorporado e do coeficiente de capilaridade. O aumento no teor de fíler propicia
aumento no valor de todas as propriedades das argamassas, exceto o teor de ar
incorporado, que diminui.
Devido a pouca oferta da areia natural, cuja tendência é desaparecer do
mercado, e, conseqüentemente, a elevação do custo deste insumo, há necessidade
de viabilizar a utilização da areia de britagem de rocha na confecção de argamassas
para suprir a grande demanda, de modo a obter revestimentos de boa qualidade e
durabilidade.
Com as análises realizadas têm-se boas perspectivas para utilização da areia
de britagem em substituição a areia natural, mas para ter-se certeza de sua
eficiência ainda será necessário fazer ensaios de desempenho com a argamassa
sobre diferentes bases.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao auxílio oferecido pela FINEP, na forma de verba


para fomento e pela FAPERGS e CNPq, na forma de bolsas de iniciação científica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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14

_____. NBR 13277: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos –


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_____. NBR 13278: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos –
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_____. NBR 13279: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos –
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