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RESUMO
Para avaliar os efeitos da substituição de areia natural por britada em argamassas de
revestimento, avaliou-se a influência da forma das partículas e do teor de finos
(φ < 0,075 mm) em algumas propriedades. Utilizou-se cimento CP II Z 32, cal virgem,
areia natural e areia britada (calcária) e as argamassas foram preparadas no traço em
volume 1 : 1 : 6. Produziram-se dois pares de areias com mesma granulometria: com
finos e sem finos. Foram moldados corpos de prova cilíndricos de 5x10 cm para ensaios
de compressão e densidade de massa aparente e, também, prismáticos de 4x4x16 cm,
para tração na flexão e absorção de água por capilaridade. As formas das partículas das
areias foram analisadas. Os resultados indicaram que as argamassas com areias naturais
apresentam menor exigência de água, menor retenção de água, menor absorção de água
por capilaridade e menor resistência à compressão, sendo que a presença dos finos
influenciou favoravelmente nos resultados dos ensaios, aumentando as resistências à
compressão e à tração na flexão. Concluiu-se que a forma das partículas e a presença
dos finos influenciaram significativamente no desempenho das argamassas.
ABSTRACT
To evaluate the effect of substitution of natural sand by crushed rock sand in covering
mortars, the influence of particles shape and the filler level (φ < 0,075 mm) had been
evaluated in some properties. It had been used cement CP II Z 32, quick lime, natural
sand and crushed rock sand (calcareous) and the mortars prepared in the trace in volume
1 : 1 : 6. Two pairs of sand with the same grain size distribution were prepared: with
filler and without filler. Cylindrical samples with the dimensions 5x10 cm were
moulded for tests of compression, apparent mass density while prismatic samples of
4x4x16 cm were also prepared, for traction on the press-up and water absorption by
capillarity. The shape of particles of sands was analyzed. The results indicated that
mortars with natural sands have less water requirement, less water retention, less water
absorption by capillarity and less compression resistance. The presence of the filler
influenced favorably the results of the tests, increasing the resistances to the
compression and traction on the press-up. The conclusion was that the particles shape
and the presence of the filler influenced significantly the performance of mortars.
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Palavras-chave: argamassa, areia britada, areia artificial, forma das partículas, teor de
finos
Keywords: mortar, crushed rock sand, artificial sand, form of particles, text of filler.
1. INTRODUÇÃO
A areia britada de rocha, também conhecida por areia artificial, finos de pedreira, pó de
pedra, entre outras terminologias, vem sendo, cada vez mais, uma alternativa para
substituição da areia natural proveniente dos leitos de rios, na medida em que as jazidas
de areia natural ou se esgotam ou sofrem restrição para proteção ambiental.
Recentemente, devido a imposições do Ministério Público, o Instituto Ambiental do
Paraná – IAP suspendeu a liberação de licenças para a exploração de areia nos aluviões
do Rio Iguaçu, pois o Código Florestal considera como áreas de preservação
permanente as florestas e demais vegetações naturais situadas ao longo dos rios.
Segundo dados da MINEROPAR (2004), a Região Metropolitana de Curitiba-PR
possui, oficialmente, 104 empresas mineradoras de rochas calcárias que foram
responsáveis pela produção média anual no período de 1995 a 2000 de 8,6 milhões de
toneladas. Em razão disto, cada vez mais vem sendo utilizada a areia britada de rocha na
produção de argamassas mistas de cimento e cal para assentamento e revestimento de
paredes de alvenaria, porém, pouco se conhece sobre as conseqüências desta
substituição em termos de desempenho. Salienta-se, desta forma, a importância da
realização de estudos que venham a contribuir, tanto na busca de soluções ambientais,
como também no conhecimento das propriedades das argamassas produzidas com areia
britada de rocha.
Este trabalho tem por objetivo avaliar as influências da forma das partículas e do teor de
finos (φ < 0,075 mm, obtido através de lavagem conforme NBR 7219) de areia britada
proveniente de rocha calcária calcítica, com DMC ≤ 2,4 mm, em comparação com a
areia natural nas diversas propriedades das argamassas mistas na proporção de 1 : 1 : 6
de cimento, cal hidratada em pó (obtida através da hidratação da cal virgem moída) e
areia no estado fresco e endurecido.
2. REVISÃO DA LITERATURA
Segundo D’AGOSTINO (2001), grãos apresentando grau de arredondamento desde
angulares até bem arredondados, melhoram o embricamento e mais resistente será a
argamassa. CAMARINI e ISHIKAWA (2004) também chegaram à mesma conclusão
em seus estudos, salientando, ainda, que o teor de material pulverulento não contribui
para aumentar a retenção de água, e que a argamassa produzida com esse agregado
melhora a plasticidade, diminui o teor de ar aprisionado e contribui para o aumento da
massa específica. NAKAKURA (2003) na avaliação do desempenho das argamassas
industrializadas salienta que quanto maior a quantidade de finos, maior a massa
específica. CINCOTTO et al. (1995) menciona que a trabalhabilidade é muito
influenciada pelo teor de finos da mistura seca (cimento, cal e areia). ANGELIM et al.
(2004) constatou que a adição de finos às argamassas diminuiu a permeabilidade e a
resistência mecânica.
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3. MATERIAIS E MÉTODOS
(a) (b)
Figura 1 – Amostras das frações das areias (a) e lupa com câmera digital acoplada (b)
(a) (b)
Figura 2 – Imagens capturadas através da lupa da areia britada (a) e areia natural (b)
passantes pela peneira de 1,2 mm
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(a) (b)
Figura 3 – Imagens obtidas com câmera fotográfica digital da areia britada (a) e areia
natural (b) passantes pela peneira de 2,4 mm
A – muito angulosa
B – angulosa
C – subangulosa
D – subarredondada
E – arredondada
F – bem arredondada
3.2 Materiais
Para a produção das argamassas foram empregados os seguintes materiais: cimento
Portland CP II Z 32, cal virgem moída CV-C, areia natural proveniente da bacia do Rio
Tibagi da cidade de Ponta Grossa-PR e areia britada de rocha calcária calcítica
proveniente de pedreira do município de Rio Branco do Sul-PR. A areia natural foi
preparada por peneiramento com a mesma granulometria da areia britada. A areia
britada sem finos (teor de material pulverulento de 0,7%) foi obtida através de
sucessivas lavagens a partir da areia britada com finos (teor de material pulverulento de
6,0%). As caracterizações dos materiais são apresentadas nas Tabelas 1 a 4.
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Tabela 2 - Caracterização física e química da cal
ANÁLISE FÍSICA DA CAL HIDRATADA EM PÓ
Ensaios realizados Método Resultado médio
Massa unitária no estado solto (g/cm³) NBR 7251 0,689
Massa específica (g/cm³) NBR 6474 2,393
Teor de umidade da pasta de cal (%) - 75,440
ANÁLISE QUÍMICA DA CAL VIRGEM MOÍDA
Perda Resíduo Óxido de Óxido de Óxido Carbonato Anidrido Água
ao fogo insolúvel cálcio magnésio totais residual carbônico Combinada
5,3 6,3 51,0 35,6 91,4 4,6 3,6 1,7
1
Para um volume unitário, a diferença entre a massa específica e a massa unitária corresponde ao volume
de vazios expresso pela massa equivalente da areia. Esse valor dividido pela massa específica determina o
índice percentual de vazios.
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As argamassas mistas foram preparadas fazendo a mistura, em massa, de pasta de cal,
cimento e areia em misturador mecânico de capacidade de 20 litros utilizando
procedimentos da norma NBR 7200/98. Foram preparadas quatro argamassas conforme
descrito na Tabela 5.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Tabela 7 – Grau de esfericidade das partículas das areias
Frações Valores médios de D1 Valores médios de D2 Grau de esfericidade
(mm) Britada natural britada natural britada natural
4,8 0,14 0,08 0,21 0,11 0,67 0,73
2,4 0,27 0,28 0,39 0,35 0,69 0,80
1,2 0,25 0,22 0,39 0,28 0,64 0,79
0,6 0,11 0,15 0,17 0,20 0,65 0,75
0,3 0,20 0,17 0,29 0,22 0,69 0,77
Médias 0,67 0,77
O grau de esfericidade da areia natural é maior que o da areia britada, para todas as
frações, o que confere à areia natural grãos mais esféricos que os grãos da areia britada.
O cálculo do grau de esfericidade citado em ARAÚJO et al. (2003) leva em
consideração os aspectos bidimensionais das partículas, o que levanta a seguinte
discussão: se a partícula é achatada e a projeção aproximar-se de um círculo, neste caso,
a relação entre o diâmetro do círculo com uma área igual à projeção da partícula e o
diâmetro do menor círculo circunscrito à partícula será próximo de 1, o que leva,
erroneamente, à conclusão que a partícula é quase esférica.
Utilizando duzentas partículas de cada tipo de areia retidas na peneira de 4,8 mm foi
determinado o índice de forma pelo método do paquímetro utilizando a norma NBR
7809/83, obtendo-se para areia britada 0,46 e para areia natural 0,60, corroborando os
resultados da Tabela 7.
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Tabela 8 – Resultados do teor de ar aprisionado – NBR 13278/95
Massa específica Massa específica Teor de ar
Arg. Nº
medida (g/cm³) calculada (g/cm³) aprisionado (%)
1 2,114 2,140 1,2
2 2,120 2,137 0,8
3 2,077 2,082 0,2
4 2,053 2,069 0,8
80,00
Porcentagem
61,3
56,7
60,00 51,4
39,3
40,00
20,00
0,00
ARG 1 ARG 2 ARG 3 ARG 4
Argamassa
100,0
98,0
Retenção de água (%)
96,0
94,0
92,0
90,0
88,0
86,0
84,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Tempo de sucção (min)
A argamassa Arg No 1 produzida com areia britada sem finos foi a que melhor
apresentou retenção de água quando da aplicação da sucção no Funil de Buchner e a
Arg No 4 foi a que menos reteve água. Observa-se na Figura 6 que a presença de finos
não favoreceu a retenção de água quando da aplicação da sucção no Funil de Buchner
modificado.
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4.4 Estado endurecido
A Tabela 9 mostra os resultados médios das resistências à compressão executada nos
corpos de prova cilíndrica 5x10 cm segundo a NBR 13279/95 e as resistências à tração
na flexão ensaiados nos corpos de prova prismáticos 4x4x16 cm segundo a EN 1015 –
Part 11.
160,0
Altura da mancha de água (mm)
140,0
120,0
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300
Tempo (min)
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O teor de finos maior da Arg No 2 não favoreceu a absorção de água por capilaridade
comparativamente com a Arg No 1, como pode ser observado na Figura 7. As
argamassas com areia britada mostraram-se mais favoráveis à absorção de água por
capilaridade que as argamassas produzidas com areia natural, na proporção de 1 : 1 : 6,
em volume.
A Tabela 10 mostra os resultados médios da densidade de massa aparente executados
em corpos de prova cilíndricos 5x10 cm aos 28 dias de idade conforme a norma NBR
13280/95.
5. CONCLUSÕES
A areia natural, com partículas subarredondadas e mais esféricas, produziu argamassas
com menor exigência de água, menor retenção de água, maior retenção de consistência,
menor teor de ar aprisionado, menor absorção de água por capilaridade, menor
densidade de massa aparente e menores resistência à compressão e à tração na flexão
que argamassas com areia britada que apresentaram partículas angulosas e menos
esféricas, na proporção de 1 : 1 : 6, em volume.
Argamassas produzidas com areia britada de rocha calcária com presença de 6,0% de
finos apresentaram menor teor de ar aprisionado, menor densidade de massa aparente,
melhorando o empacotamento da mistura agregado/aglomerante, maiores resistências à
compressão e à tração na flexão que argamassas de areia britada com 0,7% de finos, na
proporção 1 : 1 : 6, em volume.
O teor de finos de 6,0% na areia britada, objeto deste estudo, demonstrou que melhora o
desempenho da argamassa em algumas propriedades. Porém, há necessidade de maiores
estudos para se determinar a dosagem ideal de finos para um bom desempenho das
argamassas de revestimentos.
Nas argamassas produzidas para esta pesquisa não foram utilizados aditivos. Há
necessidade, no entanto, de pesquisas de argamassas com areia britada de rocha com
aditivos retentores de água e incorporadores de ar para melhorar as suas propriedades.
A substituição da areia natural pela areia britada de rocha mostrou-se viável na
produção de argamassas de assentamento e revestimento.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANGELIM, Renato R.; ANGELIM, Susane C. M.; CARASEK, Helena. Influência da
adição de finos calcários, silicosos e argilosos nas propriedades das argamassas e dos
revestimentos. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS
ARGAMASSAS, V., 2003, São Paulo. Anais. São Paulo: ANTAC, 2003. p. 383-398.
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Standard specification for mansonry cement. EUA, 1999.
ARAÚJO, Georgia Serafim; BICALHO, Kátia Vanessa; TRISTÃO, Fernando
Avancini. Determinação da forma das areias através da análise de imagens. In:
SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS ARGAMASSAS, V., 2003, São
Paulo. Anais. São Paulo: ANTAC, 2003. p. 121-130.
CAMARINI, Gladis; ISHIKAWA, Paulo hidemitsu. Propriedade de argamassas de
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Paulo. Anais. São Paulo: ENTAC, 2004.
CINCOTTO, M. A.; SILVA, M. A. C.; CASCUDO, H. C. Argamassas de
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Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 1995. Boletim técnico n. 68.
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D’AGOSTINO, Liz Zanchetta; SOARES, Lindolfo. Preparo de argamassas com
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SUSTENTÁVEL E A RECICLAGEM NA CONSTRUÇÃO CIVIL, PRÁTICAS
RECOMENDÁVEIS, IV., 2001, São Paulo. Anais. São Paulo: IBRACON, 2001.
DO Ó, Sávio Wanderley. Análise da retenção de água em argamassas de
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NAKAKURA, Elza Hissae. Análise e classificação das argamassas industrializadas
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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
SUGUIO, K. Rochas sedimentares – propriedades, gênese, importância econômica.
São Paulo: ed. Edgard Blücher Ltda., 1980.
AGRADECIMENTOS
Ao LAMIR – Laboratório de Análise de Minerais e Rochas da Universidade Federal do
Paraná na pessoa do Prof. Dr. Sc. José Manoel dos Reis Neto pela disponibilização dos
equipamentos para análise de imagem, ao LACTEC pela realização dos ensaios, ao
CEFET-PR pela disponibilização de equipamentos para ensaios e à UEPG pela
disponibilização do laboratório.
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