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1. REVELAÇÃO E AUTORIDADE
2. TEMA UNIFICADOR
3.DEUS DE ALIANÇA
4.DEUS DE RELACIONAMENTO
1. REVELAÇÃO E AUTORIDADE
• A revelação
[...] pois não cessará o ensino da lei pelo sacerdote nem o conselho do sábio
nem a mensagem do profeta. (Jr 18.18)
Nos tempos do Antigo Testamento, esses três grupos eram aceitos como
mediadores da vontade de Deus para a comunidade dos crentes. Eram agentes
da comunicação da verdade divina. Isso é mais óbvio no caso dos profetas.
Todo o conjunto do vocabulário de comunicação é usado para designar o
testemunho deles, resumido na descrição de que Deus falou “muitas vezes e de
várias maneiras[...] por meio dos profetas” (Hb 1.1). em Jeremias 1.9 há uma
garantia divina ao profeta: O Senhor estendeu a mão, tocou a minha boca e
disse-me: "Agora ponho em sua boca as minhas palavras.” Isaías 40 – 48 é
especialmente rico em referencias à revelação oral de Deus aos exilados: por
meio dos profetas, Deus relata, declara às pessoas de modo que elas possam
saber; proclama de modo que possam ouvir; anuncia e fala.
O ministério dos profetas não era o único meio de revelação divina. Existe um
testemunho nesses termos a favor da Torá ou Lei, em Deuteronômio 29.29: “As
coisas encobertas pertencem ao Senhor, ao nosso Deus, mas as reveladas
pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as
palavras desta lei”. De modo semelhante, Salmos 147.19 celebra o privilégio
singular de Israel como receptor da Torá: “Ele revela a sua palavra a Jacó, os
seus decretos e ordenanças a Israel.” A tradição da sabedoria também tinha a
função de revelação, de acordo com provérbios 2.6: “Pois o Senhor é quem dá
sabedoria; de sua boca procedem o conhecimento e o discernimento.” O
movimento da sabedoria, por toda sua ênfase em discussão e reflexão,
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“Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta
dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua
satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite” (Salmos 1.1,2).
• A inspiração
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção e para a instrução na justiça” (2Timóteo 3.16).
Em 2Timóteo 3.16 diz que o Antigo Testamento, sobre o qual Timóteo tinha sido
ensinado, é “inspirado por Deus”. O significado disso pode ser traduzido de uma
declaração paralela acerca do estágio oral da seção profética do Antigo
Testamento: “Pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas
homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2Pedro 1.21).
A palavra de 2Timóteo 3.16 traduzida por “Inspirada por Deus” pode ser
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literalmente traduzida por “insuflada por Deus”: alude a obra do Espírito Santo
como agente da inspiração.
O Israel antigo não defendia a existência de Deus nem tentava prová-la; o povo
simplesmente aceitava que Deus existe e se revela aos homens. Deus é
pressuposto no Antigo Testamento. Jamais ocorreu a qualquer profeta ou
escritor do Antigo Testamento provar a existência de Deus. Deus é à base de
todas as coisas, e tudo o que existe só existe por sua vontade. Além disso, a
existência de Deus jamais é questionada.
O Antigo Testamento não só pressupõe que Deus pode ser conhecido; também
afirma claramente que ele se faz conhecido:
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“Ele manifestou os seus caminhos a Moisés, os seus feitos aos israelitas” (Sl
103.7).
E diga a eles: ‘Assim diz o Soberano Senhor: No dia em que escolhi Israel, jurei
com mão erguida aos descendentes da família de Jacó e me revelei a eles no
Egito. Com mão erguida eu lhes disse: "Eu sou o Senhor, o seu Deus" (Ez 20.5).
“Conhecer a Deus” é ser obediente a ele, ter um compromisso com ele. "Não
conhecer a Deus" significava "se rebelar contra Ele", "negar o compromisso com
Ele". Em Oséias, o significado do termo "conhecimento de Deus" é ampliado
para incluir a moralidade do israelita como indivíduo. O conhecimento de Deus
pode ser identificado como a prática da moralidade hebraica tradicional.
Conforme Oséias 4. 1-2:
A expressão hebraica "o conhecimento de Deus" traz assim pelo menos três
conotações:
• Sentido intelectual.
• Sentido emocional.
• Sentido volitivo.
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O hebraico não possui uma palavra que signifique "cérebro". A palavra mais
comum usada em lugar de "mente" em hebraico é "coração", (lebb) (1Sm 24.
5,6; Is 46.8; Gn 6.6; Dt 29.4,3). O coração é considerado sede do intelecto, bem
como da vontade e das emoções. O hebraico antigo não supunha que as
pessoas pensavam com a mente, sentiam com as emoções e tomavam decisões
com a vontade. Todas essas atividades eram desempenhadas pela pessoa como
um todo.
“Você acha que acumular cedro faz de você um rei? O seu pai não teve comida
e bebida? Ele fez o que era justo e certo, e tudo ia bem com ele. Ele defendeu a
causa do pobre e do necessitado, e, assim, tudo corria bem. Não é isso que
significa conhecer-me?, declara o Senhor.”
2. TEMA UNIFICADOR
• Aliança – W. Eichrodt
• Promessa – Walter Kaiser
• A Soberania de Deus - Eugene H. Merrill
• Santidade de Deus – E. Sellin
• Eleição de Israel como povo de Deus – H. Wildberger
• Governo de Deus – Horst Seebass
• Reino de Deus – Günther Klein
• Deus como Guerreiro – T. Longman
Embora todos devam ser considerados temas centrais, ainda é difícil provar que
qualquer um deles tenha sido abordado conscientemente por todos os autores
do Antigo Testamento. Livros como Ester, Jó, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos,
Naum e Obadias apresentam desafios enormes a quem procura defender um
programa central.
Kaiser é criticado por alguns autores, o qual propõem que Kaiser praticamente
não tem nada a dizer sobre a “teologia da criação”, além disto, a adoção de um
tema como “a promessa” levou outros temas a se tornarem marginais em sua
teologia, tais como o tema do culto. Finalizam dizendo: “a proposta por Kaiser
por meio do tema ou centro da ‘bênção-promessa’ não parece reunir a riqueza
dos temas e materiais do Antigo Testamento” (HASEL, 2015).
Em sua obra Theologie des Alten Testaments, de 1933, com reedição em 2004
para o português, sob o título de Teologia do Antigo Testamento, Walther
Eichrodt indica um “centro” estrutural e tendência básica teológica do Antigo
Testamento sustentando a relação do povo com Yahweh, e vice-versa, pelo
tema da “Aliança” ou “Pacto de Yahweh para com Israel” como unidade bíblica
e compreensão de sua estrutura.
Essa escolha é logo identificada pelo índice de sua obra, arrolando quase todos
os títulos e subtítulos à palavra “Aliança”, apontando ainda, para uma
continuidade que termina no Novo Testamento. Walther afirma:
Essa escolha de Merrill se deu na percepção que o autor teve na forma como
Yahweh se revela a partir da narrativa da criação no livro de Gênesis e que se
processa em todo o Cânon do Antigo Testamento, como governante de tudo
que Ele criou e fez. Essa ponderação temática de Merrill se relaciona numa
plataforma de operação de Javé na história com seus propósitos inevitáveis
com a participação humana em gerenciar a Sua obra e representá-Lo a indicar
uma redenção e reconciliação.
Até que mais desafios sejam transpostos na descoberta de centro derivado por
indução do estudo cuidadoso do texto, é preferível contentar-se com a
integração coerente encontrada pela identificação dos principais temas
recorrentes mesmo que alguns livros não se refiram a eles.
Com isso em mente, em nosso curso abordaremos a análise proposta pelo autor
e professor Carlos Osvaldo Pinto sobre o Antigo Testamento.
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1. A permissão do mal
2. O juízo conta o mal
3. Libertação do juízo para os eleitos (as vezes os eleitos são objetos desse
livramento e em outros momentos eles são instrumentos desse
livramento)
4. Benção dos eleitos
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3. DEUS DE ALIANÇA
O Senhor confia os seus segredos aos que o temem, e os leva a conhecer a sua
aliança. Salmos 25.14
Não se pode negar que a ideia de pacto traga consigo, no seu sentido mais
natural, a bilateralidade, ou seja, duas partes são envolvidas em um pacto.
Vários pactos acontecem entre duas pessoas, nações ou grupos na narrativa
bíblica (ver Js 9.15; 1 Sm 20.16; 2 Sm 3.12-21; 5.1-3; 1 Rs 5.12); em certos casos um
pacto é feito para resolver uma disputa entre partes (Gn 21.22-32;26.26-33;
31.43-54).
Esse tipo de pacto não é algo sem referência na história. Ele é ilustrado pelos
pactos do antigo Oriente Próximo entre conquistadores e conquistados, reis e
vassalos. Nesses casos, os conquistados, quando entravam em pacto com os
conquistadores, não tinham o direito de propor qualquer coisa nos termos do
pacto.
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Este tipo de pacto pressupõe afigura de uma parte "soberana". Um dos lados
tem a vantagem do domínio e se propõe a cumprir um determinado papel; o
outro, tendo também um papel a cumprir, se submete às exigências pactuais.
No pacto divino-humano encontramos a relação criador-criatura, rei soberano-
servo.
Todas as promessas são feitas por Deus a Abrão, do Rei soberano para o
vassalo, do criador para a criatura. O ritual apresentado no versículo 17, em que
Deus passa por entre os pedaços dos animais, é uma característica da forma
como os pactos do Oriente Próximo, entre soberanos e vassalos, eram selados.
Mas o que torna Abraão tão importante não é o respeito e a reverência que lhe
devotam. A importância de Abraão em Gênesis é que por meio desse homem
Deus revela seu propósito e seu plano em relação ao universo.
Quando a aliança foi tratada em Gn 15, seus termos foram revelados a Abraão
em um sonho. Ele ficou preocupado com sua falta de descendência, uma vez
que a promessa era que a semente dele abençoaria todas as nações. Por isso, o
Senhor lhe mostrou incontáveis estrelas e disse que os descendentes de Abraão
também seriam incontáveis. Além disso, ele possuiria a terra de Canaã como
herança permanente. A seguir, o Senhor ordenou que Abraão matasse animais
de sacrifício e dividisse a carcaça deles em duas filas. Depois disso, o Senhor,
simbolizado por uma tocha acesa, andou entre as pilhas de carcaça. A ousadia
dessa metáfora é quase incompreensível, mas ela transmite a firmeza do
compromisso de Deus que não mente
Quando Deus fez a sua promessa a Abraão, por não haver ninguém
superior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: "Esteja certo de
que o abençoarei e farei seus descendentes numerosos" [...] Os homens
juram por alguém superior a si mesmos, e o juramento confirma o que foi
dito, pondo fim a toda discussão. Querendo mostrar de forma bem clara
a natureza imutável do seu propósito para com os herdeiros da
promessa, Deus o confirmou com juramento, para que, por meio de duas
coisas imutáveis nas quais é impossível que Deus minta, sejamos
firmemente encorajados, nós, que nos refugiamos nele para tomar posse
da esperança a nós proposta (Hb 6.13,14,16-18).
pai de mais de uma nação – “muitas nações” (Gn 17.4,6) – de modo que seu
nome foi mudado para se adaptar à realidade prometida (Gn 17.5). Na verdade,
o próprio livro de Gênesis mostra essa promessa se cumprindo, por exemplo, na
própria nação de Israel, ao lado da nação de Edom (Gn 25.23-26), e dos
ismaelitas (Gn 25.12).
Abraão, além de receber orientação de “andar com Deus e ser íntegro” (Gn 17.1),
tinha o dever de manter o sinal da aliança que Deus fez com ele: a circuncisão
de todos os homens da linhagem de Abraão, incluindo os escravos que
habitassem entre eles (Gn 17.9-14). As duas ordens – procedimento e circuncisão
– existem, aqui, em consequência da aliança e não como cláusula condicionante
dos seus termos.
• Uma grande nação surgiria de Abraão: Israel (12.2; 13.16; 15.5; 17.1-27; 22.17).
• Ele recebeu a promessa de uma terra específica: a terra de Canaã (12.1,5-7;
13.14-15,17; 15.18-21; 17.8).
• O próprio Abraão seria abençoado (12.2; 15.6; 22.15-17).
• O nome de Abraão seria grande (12.2).
• Abraão seria uma benção para os outros (12.2).
• Os que o abençoassem seriam abençoados (12.3).
• Os que o amaldiçoassem seriam amaldiçoados (12.3).
• Em Abraão todos os habitantes da terra seriam abençoados já que era
uma promessa que se estenderia a todos os povos (12.3; 22.18).
• Abraão teria um filho com sua esposa, Sara (15.1 -4; 17.1 ó-21).
• Seus descendentes seriam escravos no Egito (15.13-14).
• Assim como Israel, outras nações surgiriam de Abraão (17.3-4,6).
• Seu nome seria mudado de Abrão para Abraão (17.5).
• O nome de Sarai seria mudado para Sara (17.15).
• Haveria um sinal da aliança – a circuncisão (17.9-14). De acordo com a
Aliança Abraâmica, a circuncisão era uma identificação do que é ser judeu.
O conceito dessa aliança, a ideia de que Deus escolheu Israel e lhe fez
promessas eternas, são predominantes no Antigo Testamento. E porque os
propósitos de Deus são expressos nas promessas, são imutáveis. Devemos
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“livro da lei de Deus” (Js 24.26), “livro da lei do Senhor" (2Cr 17.9), “livro
da lei do Senhor seu Deus” (Ne 9.3) e “lei de Moisés servo de Deus” (Dn
9.11). O Novo Testamento reconhece tal característica nomeando-o como
“livro da lei” (G1 3.10), “lei” (Mt 12.5), “lei de Moisés” (Lc 2.22) e “lei do
Senhor” (Lc 2.23,24) (SANTOS, 2014).
Três meses após saírem do Egito, os israelitas chegaram ao monte Sinai (Ex
19.1). Ali, Deus entrou em aliança com Israel. O Senhor se apresenta como o
Deus poderoso que os tirou do Egito (Êx 19.4). Com isso, ele recorda a
preservação milagrosa por meio do mar, já que somente ele poderia promover
algo assim, comparando-a a ação de uma águia que leva seus filhotes onde eles
não poderiam ir sozinhos. Ao dizer “os trouxe para junto de mim”, percebe-se a
disposição do Senhor de nutrir um relacionamento amoroso e bondoso com a
nação de Israel.
Com esse acordo prévio, a aliança foi formulada. Imediatamente, foi acordado
entre Deus e Israel o que pode ser chamado de “aliança sinaítica” (Êx 20; Nm
10), visto que foi celebrada no Sinai; essa é a primeira parte da aliança mosaica.
A segunda parte foi acordada quatro décadas depois com a segunda geração
de israelitas, pois a primeira se rebelou (Nm 14) e morreu no deserto; ficou
conhecida como “aliança palestiniana” (Deuteronômio), já que foi celebrada na
Palestina, mais precisamente em Moabe, na Transjordânia.
O formato utilizado para fazer essa aliança era conhecido das pessoas do antigo
Oriente Médio. Assim como Deus usou um modo contratual corrente nos dias de
Abraão para entrar em aliança com ele, fez o mesmo no caso dos israelitas
lançando mão da estrutura de um “tratado de suserania”.
Esse tipo de tratado era utilizado entre nações, no caso de uma nação mais
forte exigir obediência de outra mais fraca. O mais forte era o “suserano”, e o
mais fraco, o “vassalo”. Os termos contratuais visavam fazer o forte não destruir
o fraco, mas a subjugá-lo. Dadas as circunstâncias, o tratado beneficiava os dois
lados: o suserano garantia a supremacia, e o vassalo, além de não ser destruído,
tinha benefícios, como ser protegido de inimigos externos.
1. Preâmbulo
2. Prólogo histórico
3. Estipulações
4. Garantia
5. Leitura
6. Testemunhos
7. Maldições
8. Bênçãos
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O livro da aliança (Êx 20—23) e suas adições podem ser vistos da seguinte
maneira:
1. Título/preâmbulo (20.1)
2. Prólogo histórico (20.2)
3. Estipulações (20.3-17,22-26; 21-23; 25-31)
4. Texto de garantia (25.16)
5. Leitura (24.7)
6. Testemunhos (Êx 24.1-4)
7. Bênçãos (não em Êx; cf. Lv 26.3-13)
8. Maldições (Lv 26.14-43)
Deuteronômio:
1. Título/preâmbulo (1.1-5)
2. Prólogo histórico (1.6—3.29)
3. Estipulações (6-11,12-26)
4. Texto de garantia (31.9,24-26)
5. Leitura (31.9-13)
6. Testemunhos (31.19-22,26; 32)
7. Bênçãos (28.1-14)
8. Maldições (28.15-68)
Os Dez Mandamentos
A unidade central da seção Estipulações gerais da aliança do Sinai (Êx 20.3- 17)
consiste de dez estatutos ou mandamentos (hebraico, “dez palavras”; Dt 10.4)
que compreendem o fundamento legal, moral e espiritual da vida da nação.
Tudo o mais da lei é a interpretação e a aplicação desses princípios básicos. E
até mesmo estes são revistos na versão deuteronômica a apenas uma confissão
e estipulação central: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor.
Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de
todas as suas forças” (Dt 6.4,5). Jesus, citando Levítico 19.18, acrescentou a esta
a ordem com dimensões horizontais: “Ame o seu próximo como a si mesmo”
(Mc 12.31). Ele continuou e observou: “Não existe mandamento maior do que
estes”; ou conforme Mateus apresenta: “Destes dois mandamentos dependem
toda a Lei e os profetas” (Mt 22.40).
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• Lugar sagrado
• Sacerdotes
• Tempos e períodos sagrados
• Atos sagrados.
4.DEUS DE RELACIONAMENTO
Ainda mais importante, a geração adulta para a qual a aliança do Sinai fora
concedida saíra de cena impedida de entrar na terra por causa de seu pecado
(Nm 14.32; cf. Dt 2.14,15). Uma nova geração surgiu, uma que não fazia parte do
concerto da aliança do Sinai. Essa geração também teve de prometer ao Senhor
fidelidade à aliança quando ele concordou em os trazer para a mesma
comunhão e responsabilidade da aliança como fizera com os pais deles.
O Senhor prometera a Abraão que a nação da qual seria pai seria um povo
servo do Senhor para sempre, promessa que para ser efetiva precisava ser
aplicada a cada geração por vir dessa nação.
seja, as estipulações da aliança) e que façam isso “de todo o seu coração e de
toda a sua alma” (v. 16), declaração que lembra o Shemá, a soma total de tudo
que Deus ordena.
A seguir, Moisés assegurou ao povo que o Senhor declarou naquele dia que eles
eram seu povo, uma afirmação não de algo novo, mas de seu compromisso
renovado com eles de ser seu Deus e de, à medida que fossem obedientes,
torná-los a nação mais exaltada da terra.
No futuro, o texto da aliança devia ser lido em público a cada sete anos como
parte da celebração da festa das cabanas. Isso devia ser feito na presença do
“Senhor, o seu Deus, no local que ele escolher” (Dt 31.11), sugerindo, assim, que a
nação devia renovar seu compromisso com a aliança, pelo menos, com essa
frequência.
Quando a sua vida chegar ao fim e você descansar com os seus antepassados,
escolherei um dos seus filhos para sucedê-lo, um fruto do seu próprio corpo, e
eu estabelecerei o reino dele. Será ele quem construirá um templo em honra do
meu nome, e eu firmarei o trono dele para sempre. Eu serei seu pai, e ele será
meu filho. Quando ele cometer algum erro, eu o punirei com o castigo dos
homens, com açoites aplicados por homens. Mas nunca retirarei dele o meu
amor, como retirei de Saul, a quem tirei do seu caminho. Quanto a você, sua
dinastia e seu reino permanecerão para sempre diante de mim; o seu trono será
estabelecido para sempre".2 Sm 7.12-16
• O reino de Davi seria estabelecido para sempre (SI 18.50; 89.3- 4, 35-37; Is
55.3)
• Jerusalém ou Sião seria morada de Deus para sempre (1Rs 8.12-13; SI
78.68-69; 132.13-14).
A aliança davídica também não substitui a abraâmica, mas se soma a ela no que
se refere à liderança política de Israel. Se a aliança abraâmica previu reis vindos
da tribo de Judá (Gn 17.6,16; 49.10), a aliança do Senhor com Davi identificou a
linhagem davídica como a dinastia específica pela qual o reino israelita seria
dirigido. O que há de marcante nessa promessa é a duração desse reinado:
“perpétuo”, assim como a posse da terra prometida a Abraão.
A parte menos importante desse trecho é a que mais chama atenção: “Será ele
quem construirá um templo em honra do meu nome”. Entretanto, esse não é o
centro dessa aliança. Deus mesmo frisou a verdade de que ele nunca habitou
em uma casa entre os israelitas, mas sempre andou entre eles no tabernáculo
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(2Sm 7.6). Apesar disso, o filho de Davi realizaria esse empreendimento que
Davi desejou. Se o templo não era o centro da aliança, qual era?
A resposta tem a ver com a descendência real de Davi. Deus garantiu ao rei que
levantaria seu descendente e “estabeleceria o seu reino”. Diferente do que
ocorreu a Saul, o reinado de Israel não passaria a outra dinastia. E mais: Deus
estabeleceria “para sempre o trono do seu reino”. Essa é a garantia
incondicional de um trono “perpétuo” da linhagem davídica.
“Mas nunca retirarei dele o meu amor, como retirei de Saul, a quem tirei do seu
caminho. Quanto a você, sua dinastia e seu reino permanecerão para sempre
diante de mim; o seu trono será estabelecido para sempre” (2Samuel 7.15,16).
Mas não afastarei dele o meu amor; jamais desistirei da minha fidelidade.
Não violarei a minha aliança nem modificarei as promessas dos meus
lábios. De uma vez para sempre jurei pela minha santidade, e não
mentirei a Davi, que a sua linhagem permanecerá para sempre, e o seu
trono durará como o sol; e será estabelecido para sempre como a lua, a
fiel testemunha no céu (Salmos 89.33-37).
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Estão chegando os dias, declara o Senhor, quando farei uma nova aliança com a
comunidade de Israel e com a comunidade de Judá. Não será como a aliança
que fiz com os seus antepassados quando os tomei pela mão para tirá-los do
Egito; porque quebraram a minha aliança, apesar de eu ser o Senhor deles, diz o
Senhor. Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles
dias, declara o Senhor: Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus
corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo. Ninguém mais ensinará
ao seu próximo nem ao seu irmão, dizendo: Conheça ao Senhor, porque todos
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eles me conhecerão, desde o menor até o maior, diz o Senhor. Porque eu lhes
perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados (Jr 31.31-34).
Porém, as condições de Israel nos dias de Isaías não condizem com a realidade
da promessa futura, pois o povo é injusto e idólatra (Is 2.6-8). Por isso, o juízo
do Senhor também punirá os israelitas incrédulos e pecadores, cheios de
orgulho e de malícia (Is 2.9-22). Por essa razão, o estabelecimento pleno sempre
é anunciado na forma de livramento e restauração. Pela aliança mosaica, o
pecado de Israel produz inevitável juízo.
Por que “nova”? Se essa é a nova, qual é a velha?”. O contexto responde: “Não
será como a aliança que fiz com os seus antepassados quando os tomei pela
mão para tirá-los do Egito; porque quebraram a minha aliança, apesar de eu ser
o Senhor deles", diz o Senhor” (Jr 31.32). A nova aliança é diferente da aliança
mosaica e uma contraposição a esta, envelhecida pelo surgimento da nova.
“Chamando "nova" esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se
torna antiquado e envelhecido, está a ponto de desaparecer” (Hb 8.13).
A lei mosaica foi gravada em tábuas de pedra (Êx 32.15-16), que continham um
código legal justo que o povo não guardou, trazendo sobre si condenação. Por
fim, o efeito prático da velha aliança foi trazer conhecimento do pecado (Rm
3.20; 7.7), produz a ira (Rm 4.15), aumentar a ofensa (Rm 5.20) e produzir morte
(Rm 7.10), também foi chamada de “ministério da morte gravado com letras em
pedras” (2Co 3.7).
Seria a lei ruim? Não, mas o pecado torna a lei inútil para salvar quem quer que
seja (Rm 7.13-14). Ela não produz justiça, mas condenação. A utilidade da lei na
salvação do perdido é mostrar ao pecador a necessidade que ele tem de Cristo.
Mas o resultado será não apenas conversão de alguns israelitas, mas de todo o
povo a Deus, de modo que não haverá mais um “remanescente fiel”, mas uma
nação fiel (Jr 31.34). No cumprimento dessa promessa há também a restauração
da nação como tal a ponto de reverter os efeitos da desobediência na forma das
maldições previstas na lei. Sendo assim, se tivéssemos que resumir o centro da
promessa da nova aliança, esta seria: “a conversão e restauração nacional de
Israel”.
Por fim, Ezequiel une o cumprimento das três alianças ao prometer conversão,
posse da terra em um reino unificado sob o rei davídico — a quem Ezequiel
chama Davi —, apontando, assim, para a restauração da dinastia davídica (Ez
37.21-26).
• Nome engrandecido.
• Semente numerosa.
• Benção para todas as nações pela Semente.
• Terra em possessão perpétua.
• Reis descenderiam dele
• Incondicional.
• Celebrada no Sinai.
• Regulamentava a vida do povo da aliança.
• Dava as condições para o desfrute da benção da presença de Deus.
• Deveria ser renovada regularmente.
• Condicional.
BIBLIOGRAFIA
BÍBLIA. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
KAISER, JR. O Plano da Promessa de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2011.
1. A TEOLOGIA DE GÊNESIS
2.1 A QUEDA
2.2 DILÚVIO E BABEL
3. A HISTÓRIA PATRIARCAL
1. A TEOLOGIA DE GÊNESIS
A mensagem de Gênesis
A Bíblia Hebraica, por sua vez, usa como título a primeira palavra do livro, “no
princípio”. A autoria de Gênesis é atribuída a Moisés, provavelmente durante a
jornada do Egito para Canaã.
• Deus é poderoso
Em contraste com isso, vê-se o poder devastador da ira de Deus no juízo contra
Sodoma e Gomorra (cap. 19). As palavras de José para seus irmãos em Gênesis
50.19-21 demonstram o ponto de vista mosaico sobre o poder de Deus à luz da
história da nação. O que o homem pecador tenciona para o mal, Javé promove
para Seus propósitos de bênção e bem-estar para o povo de Sua aliança de
maneira soberana.
• Deus é Justo
A justiça de Javé reflete-se não tanto em declarações sobre Seu caráter quanto
nos meios simples e diretos pelos quais Ele julga a falta de conformidade do
homem com o padrão de conduta prescrito pelo Criador. Tal é o caso com Seu
padrão de avaliar o relacionamento do homem com Ele no jardim (2.16), no
julgamento imediato contra a rebelião do homem (3.8-19), em seu trato com o
crime de Caim e as justificativas pessoais apresentadas por este (4.1-16), no juízo
do Dilúvio contra um mundo cuja inclinação e ações estavam em flagrante
violação de seu caráter (6.1-7), na destruição de Sodoma e Gomorra por sua
3
• Deus é gracioso
A graça de Deus lança uma luz brilhante sobre algumas das páginas mais
sombrias da história humana. Quando Sua bondade original foi desprezada no
jardim do Éden em troca da independência que as criaturas queriam dEle, foi
Deus quem tomou a iniciativa de buscar o homem (3.8,9), de prometer a vitória
definitiva sobre a serpente pela semente da mulher (3.15) e de remediar a nudez
e a vergonha do primeiro casal (3.21).
Quando a corrupção engolfou a humanidade, Noé [...] achou graça aos olhos do
Senhor (6.8), e quando as águas do Dilúvio ameaçavam destruir os
sobreviventes, Deus lembrou-se de Noé (8.1).
• Deus é singular
“No princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia; trevas
cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das
águas” Gn 1.1 ,2
A palavra no hebraico utilizada para criação é ברא, transliterado como bãrã. Este
termo é um verbo quase universalmente traduzido por criado. Há apenas cerca
de cinquenta ocorrências do verbo com esse sentido e sempre tendo Deus
como sujeito. Por conseguinte, a evidência léxica sugere que apenas Deus pode
criar e cria, o esforço criativo dos seres humanos é expresso por meio de outros
verbos, alguns dos quais, na verdade, aparecem em paralelismo sinônimo com
bãrã.
O Senhor cria noite e dia, terra e água, animais e pessoas. Gênesis 1.1—2.3
apresenta a ordem criada como o resultado de atividade intencional da parte do
Deus único.
Dias da Criação
Do 1º ao 3º dia Obras de Deus Do 4º ao 6º dia Obras de Deus
A terra estava Deus organiza A terra estava Deus povoa
“sem forma” “vazia”
1º Luz e trevas/ dia 4º Sol. Lua e estrelas
e noite (1.3) (1.14)
2º Céu e mares (1.7) 5º Pássaros e peixes
5
(1.21)
3º Terra seca (1.9) 6º Animais terrestres
Vegetação (1.11) (1. 24)
Homem e Mulher
(1.27)
Os seres humanos ocupam um lugar único entre as criaturas (1.26). Então disse
Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.
Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais
grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente
ao chão".
Têm sido propostas outras interpretações para “imagem de Deus”, a maioria das
quais pode-se basear em Gênesis 1 e 2. Por exemplo, a imagem de Deus pode
incluir a capacidade de se relacionar com o Senhor (1.28- 30; 2.15-25). Em
passagem alguma das Escrituras está implícito que Deus tem esse tipo de
relacionamento com animais ou plantas. Só pessoas conversam com Deus; só
pessoas são consideradas responsáveis aos olhos de Deus pelas ações
praticadas; só pessoas recebem padrões pelos quais devem escolher viver. Cada
um desses elementos deixa implícito o relacionamento entre personalidades
reflexivas, responsáveis e comunicativas. A menos que exista tal
relacionamento, é impossível que as pessoas ajam como representantes ou
mordomos de Deus na terra.
6
Em sua ocupação o homem recebe de Deus liberdade total, com uma exceção:
ele não pode comer “da árvore do conhecimento do bem e do mal”. E a morte
é-lhe prometida, caso quebre esse mandamento (2.17). Fica, então, claro que o
favor divino não é incondicional no sentido de que Adão pode fazer o que bem
entende e continuar desfrutando as bênçãos divinas. Pelo contrário, deve
observar esse código simples da lei para continuar da maneira como começou.
Para fazê-lo, deve confiar na palavra de Deus e acreditar em sua advertência. Fé
é exigida.
A esta altura em Gênesis, não há qualquer motivo para esperar algo que não
seja um domínio sábio. De modo mais simples, os seres humanos são
representantes de Deus na terra. Ao formar a mulher a partir do corpo do
homem (2.21,22), Deus completa a raça humana.
Adão reconhece sua íntima conexão com Eva, e Moisés acrescenta o comentário
de que essa união é a base para o ser humano abandonar todos os
relacionamentos familiares prévios e dedicar lealdade exclusiva à esposa.
“Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se
tornarão uma só carne. O homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam
vergonha.” Gn 2. 23,24
O Deus Criador terminou sua tarefa: Terra, seres humanos e vida vegetal e
animal são todos bons, apropriados para suas funções. Os seres humanos
expressam a “imagem” de Deus ao se relacionar com o Criador e dominar os
animais e a terra de acordo com o mandamento do Senhor. Impecável no
projeto, perfeita no propósito, a criação reflete a genialidade e unidade do
Criador. O tempo e a história humana começaram com a decisão espontânea de
Deus de criá-los pela sua simples palavra.
7
Nos Profetas
• Isaías afirma que o fato de Yahweh criar os céus e a terra significa que ele
nunca se cansa e está sempre pronto a consolar o povo que sofre e se
cansou da opressão assíria (Is 40.12-31). Além disso, Isaías estabelece
vínculos entre a noção de que Deus sozinho fez a terra e a soberania e
redenção de Yahweh em relação a Israel (Is 44.24). Isaías também declara
que a terra, outrora boa, pode fazer jorrar salvação e retidão (Is 45.8).
• Amós, contudo, utiliza três hinos sobre a criação para intercalar denúncias
e ameaças de castigo certo para o pecado (Am 4.13; 5.8,9; 9.5,6). Com
certeza o Senhor que criou a terra e seu povo pode avaliar os
acontecimentos da história humana. Arrepender-se e voltar-se para o
Criador é a única maneira de evitar a devastação vindoura (Am 5.8,9).
Nos Salmos
Essa ênfase conclui o quadro bíblico de Deus que inclui imagens dele como
Criador, juiz, Senhor e sábio. Essas ideias implicam que o Senhor possui
capacidades de criação, decisão, supervisão e pensamento que nenhum outro
ser possui.
9
jubiloso da vida, lembrar-se de seu fracasso. Por mais duro que seja esse
castigo, afeta menos do que o segundo. O pecado da mulher também traz
o castigo de frustração no relacionamento com o marido (3.16).
• Adão não se sai melhor. Além dos problemas que enfrentará devido ao
castigo dado à serpente e à mulher, ele aprende que nem sempre será
bem-sucedido no trabalho. Ele suará e trabalhará arduamente, contudo
enfrentará lutas e revezes em seu esforço por fazer a terra produzir. O
trabalho não é o castigo, pois em Gênesis 1.28 Deus diz aos seres humanos
para trabalhar. De maneira que o pecado não torna as coisas mais fáceis
para Adão, pois ele tem de lutar com a serpente, lidar com as frustrações
que ele e sua família criam e também encarar a certeza de que jamais
haverá certeza de sucesso no trabalho.
Deus advertiu as pessoas a não comer do fruto de uma árvore, mas a Adão e
Eva faltou a fé necessária para crer no Senhor em vez de na serpente.
Quando têm de crer em Deus o bastante para obedecer uma única lei, os seres
humanos fracassam. Esse fracasso é, no entanto, responsabilidade exclusiva
deles, visto que foram advertidos e a serpente não possuía poder algum de
coerção física.
12
Novamente sem dizer exatamente o porquê, o texto conta que o Senhor aceita
o sacrifício de Abel, mas não o de Caim. Deus o alerta sobre o pecado, mas
Caim ignora o alerta do Senhor e mata seu irmão (4.5-8). Aqui o pecado se
revela como violência, assassinato cruel e a sangue frio, como injustiça.
Obviamente também um dos resultados do pecado é a possibilidade de
sofrimento da parte inocente por causa dos pecados de outros.
Num sentido bem real, o restante das Escrituras trata da solução para o
problema do pecado.
Assim, o pecado nunca poupa — seja uma geração, seja um único indivíduo. É
possível que essas histórias específicas sejam recontadas não com o objetivo de
explicar o motivo do implacável pecado humano, mas a partir desta passagem o
cânon certamente se debate com os resultados desses relatos.
“Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais
aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça
reinarão em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo.
Consequentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação
de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação
que traz vida a todos os homens.”
A queda de Adão e Eva, exposta pelo pecado de seu filho mais velho, no fim,
alcançou proporções tão universais que Moisés menciona desalentado que “o
senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a
inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal”
(Gn 6.5). As coisas chegaram a tal ponto que o Senhor decidiu destruir a terra e
toda coisa viva que existisse nela a fim de empreender uma obra de recriação.
Depois de ver (6.5), Deus agora sente tristeza e dor diante do que as pessoas
estão a fazer. O poder de Deus e a capacidade que ele tem de ver todas as
coisas conduz à emoção apropriada, não à insensibilidade, ou pessimismo ou
brutalidade. O Senhor percebendo a ação má do homem, decide, não de
maneira reativa, mas soberana, intervir na raça humana decretando seu juízo
sobre ela.
Deus, portanto, decide castigar os perversos, mas poupar Noé, homem que age
de modo diferente dos demais e, por isso mesmo, evita o castigo que lhes é
destinado (6.8).
O relato dos descendentes de Noé revela como mais uma vez a humanidade
passou de uma posição de aliança sob autoridade de Deus para um estado de
degradação, rebelião e maldição (9.18; 11.26).
A despeito de tudo o que o Senhor fez para criar, suster, corrigir e renovar a
terra e a raça humana, o pecado avança. Imaginam-se novas maneiras de pecar.
À medida em que o povo se multiplica e se espalha, eles concentram a
população na “planície em Sinear” (11.1). Ali, utilizam suas habilidades
tecnológicas para construir uma cidade e uma torre com o objetivo expresso de
honrar a si mesmos e furtar ao mandamento divino de encher e dominar a terra
(11.24; v. 1.28; 9.7). Babel foi o local onde Deus reduziu o orgulho humano a mero
barulho, e a unidade humana, à dispersão.
15
3. A HISTÓRIA PATRIARCAL
Estes capítulos assinalam o início de textos canônicos que se pode datar com
alguma precisão histórica e esclarecer com dados provenientes de fontes
extrabíblicas. A maioria dos estudiosos concorda que os patriarcas (Abraão,
Isaque e Jacó) viveram em aproximadamente 2100- 1700 a.C. Essa capacidade
de vincular texto e história não apenas amplia o conhecimento dos intérpretes
sobre o pano de fundo bíblico, mas também mostra como a teologia se forjou
tanto na vida cotidiana quanto em acontecimentos de enorme impacto.
A teologia deixou suas marcas na vida das pessoas daquela época tanto quanto
deixa nas de hoje.
• Abrão será abençoado com uma grande reputação (12.2), proteção (12.3);
ele abençoará todas as nações (12.3).
• A bênção de uma pátria, implícita em 12.1, torna-se explícita em 12.7, onde
Deus conta a Abrão que Canaã pertencerá à sua semente ou
“descendência”.
O Senhor escolhe Abrão da mesma maneira como decide criar os céus e a terra,
ou seja, a partir da liberdade absoluta resultante de ele ser o Deus único, todo-
suficiente e independente. O Senhor também escolhe o que é bom e benéfico
para a criação. Aqui a eleição não exclui nem condena ninguém. Pelo contrário,
ela opera exclusivamente em benefício do mundo que não tem intenção alguma
de fazer o que é certo. Neste caso a eleição demonstra a misericordiosa
bondade de Deus com o mundo e não apenas com Abrão.
Anos após a formalização dessa aliança baseada na fé, Abrão, agora chamado
Abraão (“pai de nações”), se depara com o “teste” (22.1) mais importante de sua
fé em Deus. Tendo adotado a circuncisão como sinal da aliança (17) e tendo
recebido o herdeiro depois de 25 anos de espera (21.1-8), Abraão é provado
quando Deus lhe ordena sacrificar Isaque, o filho da promessa (22.1-2). Sem
hesitar, Abraão leva o menino para um lugar de sacrifício e então prepara-se
para sacrificá-lo (22.3-10). Deus interrompe-o, declarando que aquela ação
prova que Abraão “teme” a Deus, outra maneira de dizer que ele baseia sua vida
em Deus. Aqui “fé” e “temor” equivalem à mesma coisa: obediência.
1. Em cada uma das narrativas patriarcais é sempre um único Deus que lida
e fala com as pessoas, de modo que o Senhor que cria, sustém, julga e
renova também elege, chama, sustém, promete, testa e abençoa.
2. Este Deus único relaciona-se pessoalmente com indivíduos, comunicando
ordens, fazendo promessas e dando orientação contínua.
3. As promessas de herdeiro, terra, nação e bênção internacional exigem fé
da parte de Abraão, o qual deve fundamentar sua segurança em Deus e
não em circunstâncias flutuantes.
4. As promessas de Deus a Abraão fornecem um arcabouço para o restante
do Antigo Testamento, de fato, para o restante da Bíblia.
Abraão amou, mas recusando-se a amá-lo mais do que a Deus (22.1-11). Isaque
testemunhou e experimentou, o teste maior de fé de seu pai e, por isso, sabia
que fé exige obediência. Ele também sabia que Deus provê para o fiel (22.13,14).
O estilo de vida de Isaque demonstra que ele age com fé nas promessas de
Deus. Ele sabe que as garantias divinas fornecem o necessário vínculo teológico
entre ele próprio e Abraão.
Como seu pai, Isaque está longe de ser perfeito e, no entanto, como seu pai, ele
se recusa a fugir do processo trabalhoso de viver numa Terra Prometida não
possuída. Sua paciência e resistência são testemunho da presença divina com
ele em cada área de sua vida (26.28,29).
De igual modo, como seu pai, Isaque experimenta dor dentro da família; em seu
caso específico a dor deve-se à rivalidade entre os filhos gêmeos (25.19-34; 27.1-
40). Em sua dor maior, Isaque tenta abençoar com a aliança do Senhor o filho
mais velho e favorito, Esaú (27.1-4). Sua tentativa enfrenta a predição divina,
feita quando do nascimento dos gêmeos (25.23), e no fim fracassa devido ao
engano perpetrado por Jacó e a mãe (27.5-31).
O apóstolo Paulo alega que na vida de Abraão a fé produziu justiça que levou o
patriarca a aceitar a circuncisão, o que significa que a salvação ocorre sem
obras de justiça (Rm 4.1-15). Portanto, a única maneira de as promessas de Deus
tornarem-se realidade é o exercício da fé, não a prática de obras (Rm 4.16-25).
Tanto Paulo quanto Tiago deram prioridade à fé, pois sabiam qual texto aparece
primeiro no cânon (Rm 4.10; Tg 2.23). Ambos reconheceram que a fé funciona
como alicerce. Ambos perceberam ter brotado dessa fé uma obediência lógica,
essencial, histórica e prática.
Lenta, perceptível, até mesmo infalivelmente, o Senhor torna Jacó uma pessoa
de fé, mas a empreitada não é nem rápida nem fácil. Deus começa a obra da
mesma maneira como fez com Abraão e Isaque. Cada promessa feita a Abraão e
Isaque é oferecida a Jacó:
20
O plano de Deus na história inclui Seu decreto de permitir o mal, Sua ação de
julgar o mal, o livramento do mal por meio de uma semente escolhida e o
decreto de abençoar os eleitos a quem libertou. O livro de Gênesis é a
sementeira de todas essas ideias nas Escrituras, elas encontram expressão
genuína nesse livro em que grandes divisões da humanidade estão
estabelecidas de acordo com seu relacionamento para o Deus que Se
autorrevela.
“Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o
ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo". Gênesis 4.7
É preciso admitir que embora Deus jamais aceite responsabilidade pela prática
do mal, Ele é implicitamente afirma ser o autor da possibilidade de pecado pelo
simples fato de ter oferecido ao homem uma condição de obediência (2.8,9, 15-
17) pela qual a santidade de que o homem era dotado como criatura pudesse
ser exercida e desenvolvida. A presença e um animal que se rebela contra sua
posição na Criação e permite tornar-se um agente de uma vontade oposta à de
Deus é indicação de que o mal espreitava à porta da perfeita criação divina, mas
não fora de Seu conhecimento ou autoridade (cap. 3).
Assim, um conflito se estabelece. Caim e Abel e, depois, Caim e Sete são parte
desse conflito, que se alarga e aprofunda a ponto de incluir toda a humanidade
em Gênesis 6. Depois do Dilúvio, o conflito irrompe uma vez mais originando a
maldição dos cananeus.
O fator de desapontamento, que Moisés sem dúvida queria que seus leitores
percebessem para levá-los a depender de Javé, demonstra-se na maneira pela
qual o mal se insinua na linhagem escolhida:
Por meio de todas essas circunstâncias, Javé apontava para Si mesmo como a
única esperança de vitória sobre o mal, pois os patriarcas, na tarefa de dominar
o mal, haviam sido tão falhos quanto Adão, Caim e Noé (4.7).
Gênesis 12.2
A chamada de Abraão (11. 27-12.3) oferece uma nova fase no plano redentor de
Javé. Plano que é desenvolvido é desenvolvido por meio de Isaque e Jacó, cuja
descendência é salva da miscigenação corruptora com os cananeus pagãos por
meio do agente final de libertação em Gênesis, José.
Uma vez que o livro termina com o registro da morte de José e de seu
sepultamento no Egito, Moisés tencionava que seus leitores percebessem que a
saga da Semente da mulher ainda não acabara e que a tarefa de libertar o
mundo do mal seria passada a outros instrumentos, até que a verdadeira
Semente surgisse na História.
Então o Senhor disse a Abrão: "Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e
da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. "Farei de você um
grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma
bênção. Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o
amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados"
Gênesis 12.1-3
Gênesis começa com uma progressão do caos (Gn 1.2) à benção, à medida que
toda criação divina é pronunciada boa, e o homem, como governante
mediatório de Deus, é abençoado com vitalidade e fertilidade com as quais deve
encher a terra e desfrutar Deus e sua criação (1.28-31).
linhagem é escolhida para receber e mediar a bênção. Essa linhagem passa por
Héber a Terá, e desde a Abraão (11.20-26).
• Ele é a única divindade que atua nesses relatos. Só Deus cria, de maneira
que só ele julga o pecado, chama, dirige e abençoa Abraão e seus
descendentes. Protege e livra em todas as circunstâncias o povo agora
chamado Israel.
• Esse Deus comunica-se com o povo, alternadamente emanando ordens,
fazendo promessas e dando orientação, e ele trabalha para tirar o pecado
que atribula toda a raça humana.
• Esse Deus não tem qualquer começo, rival, limites de tempo ou espaço,
falha moral, ou interesses ocultos.
• As pessoas são feitas à imagem de Deus, mas assim mesmo não estão
satisfeitas com essa posição exaltada.
• Querem ser Deus no sentido de que desobedecem à palavra de Deus,
desse modo tentando apoderar-se da autoridade divina.
• Contudo também possuem a capacidade de ouvir as promessas divinas e
de agir com fé, e, por mais vacilante e míope que ela seja, ainda assim é fé,
não em imagens que se pode roubar e enterrar, mas no único Deus que
cria, comunica-se e redime.
25
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
2. O ÊXODO
3. O POVO NO DESERTO
1. TEOLOGIA DE ÊXODO
O título do livro é uma palavra grega ἔξοδος, éxodos que significa “partida”,
“saída”. Deriva de ek, “para fora de”, e hodos, “entrada”. O título em hebraico
corresponde às primeiras palavras do texto original ִמצ ְָריְמָה, ַה ָב ִאיםe significa “estes
são os nomes de” (BÍBLIA PALAVRAS CHAVE).
• Data e autoria
O texto indica que o autor estava muito bem familiarizado com os eventos e os
lugares mencionados no livro. Detalhes como a forma, a cor e o sabor do maná
(16.31), o fato de que os filisteus ocupavam a faixa litorânea entre o Egito e
Canaã (13.17) e a menção de animais e plantas encontrados na península do
2
Sinai e próximo a ela (25.5) sugerem que o autor de Êxodo foi contemporâneo
dos eventos que descreveu.
• Características Literárias
• Deus é soberano
• Deus é Santo
• Deus é justo
A justiça de Deus é, assim, relacionada a Seu zelo (25.4; 34.14). O caráter santo
de Deus e Sua reputação perante o mundo não podem ser tratados
levianamente.
• Deus é apaziguável
Mesmo Faraó, o gentio e idólatra, reconhece que o Deus dos hebreus pode ser
abordado em busca de misericórdia (10.16,17). Quando Israel pecou gravemente
em idolatria e imoralidade, o furor da ira de Javé (32.9,10) teria consumido toda
a nação, a não ser pela humilde intercessão de Moisés (32. 11-14). Mais adiante, o
livro de Levítico apresentará em detalhes a maneira precisa pela qual um
israelita crente se aproxima de Javé para obter propiciação. Este ato de tornar
Deus favorável nunca foi um simples suborno em Israel; Deus impunha as
condições e oferecia os meios; Israel tinha apenas de responder em fé.
• Deus é autoexistente
Disse Deus a Moisés: "Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu
Sou me enviou a vocês.” Êxodo 3.14
Para o autor Carlos Osvaldo, a expressão “Eu Sou” não introduziu um nome
novo, pelo menos no que diz respeito ao sentido denotativo da palavra. A
novidade estava no sentido conotativo, pois Javé, o Deus que sempre era e
seria, entrava na História para demonstrar que “se lembrava” de Seus
compromissos passados.
2. O ÊXODO
Ouviu Deus o lamento deles e lembrou-se da aliança que fizera com Abraão,
Isaque e Jacó. Deus olhou para os israelitas e viu qual era a situação deles.
Êxodo 2.24,25
Mesmo em meio a dias terríveis, o povo não é abandonado por Deus. Como nas
narrativas de José, aqui o sofrimento é real e ameaçador, contudo isso não
significa que o Criador, o Deus que promete, dirige e livra, tenha perdido poder
ou se deparado com um adversário indestrutível, seja ele natural, humano ou
divino. Entretanto, o sofrimento tem seu papel aqui, conforme demonstrado em
relatos subsequentes. Não dissuadido, o faraó ordena que cada menino israelita
seja atirado no rio Nilo (1.22).
Apesar da aparente falta de solução para esta situação terrível, o cânon já deu
dicas de que este dilema será resolvido. De acordo com Gênesis 15.13-16, depois
de Abrão crer em Deus e de essa crença ter sido considerada justiça (15.6) e
depois de Abrão perguntar como poderá saber que Canaã será dada a seus
descendentes (15.8), Deus revela o futuro para Abrão, contando-lhe que seus
descendentes viverão quatrocentos anos num país estrangeiro, sofrendo
durante parte desse tempo (15.13). Mas, depois disso sairão daquela terra (15.14).
Com base nessa informação, a dor do povo não é sem propósito. O sofrimento é
definitivamente terrível, contudo funciona como as dores de parto de uma
nação.
Em seu uso mais simples a palavra santo significa “separado para um propósito
específico”, “diferente” ou “singular”. Aqui aplicam-se essas definições básicas,
visto que o próprio lugar é “singular” ou “separado” pela própria existência do
arbusto extraordinário. Outros lugares, especialmente os “separados” para ser
locais de adoração, serão chamados santos mais tarde no livro (25 -31;35-40).
Contudo, o que realmente torna santo o lugar é o fato de Deus estar ali, falando
com Moisés, afirmando ser o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Assim como Deus
“esteve com” essas pessoas, agora Deus “está com” Moisés, tornando a
presença divina conhecida e sentida por meios visuais e auditivos (3.6).
É claro que o chamado divino surpreende Moisés. Este faz duas perguntas que,
na prática, são motivos pelos quais Deus não deveria tê-lo escolhido.
Por exemplo, Deuteronômio 32.39 cita Deus dizendo: “Vejam agora que eu sou
o único, eu mesmo. Não há Deus além de mim”. Essa declaração separa o
Senhor dos chamados deuses, que não possuem qualquer poder para salvar
seus adoradores (Dt 32.39). Essas afirmações monoteístas aparecem no final da
carreira de Moisés e desse modo funcionam, junto com seu chamado, como
parênteses que demarcam a teologia mosaica.
Autores posteriores não têm dúvida alguma de que Yahweh é o único Deus que
Moisés tem em mente em qualquer de seus ensinos.
9
• Oséias 13.4 e Joel 2.27 afirmam que Yahweh é o Deus de Israel porque
Yahweh libertou o povo e, na verdade, não existe nenhum outro deus para
libertar ou livrar quem quer que seja.
• Isaías, forja as conexões mais próximas com os textos mosaicos. Algumas
passagens dessa profecia apresentam atributos específicos de Yahweh na
primeira pessoa, num linguajar semelhante ao de Êxodo 3.14. Duas dessas
declarações incluem a expressão literal: “Eu sou Yahweh [...] eu sou ele
mesmo” (Is 41.4; 43.11-13), ao passo que a outra traz “Eu sou Yahweh”
(45.18). Os outros cinco textos (43.25; 46.4; 48.12,13; 51.12; 52.6)
apresentam o Senhor dizendo, numa tradução também literal, “eu sou ele
mesmo”, embora o fato de que esses versículos citem Yahweh signifique
que a identidade divina está subentendida.
Quando os egípcios se aproximam, Moisés pede ao povo que creia, que tenha fé
de que Deus livrará uma última vez (14.13,14). De forma conclusiva Deus
pretende demonstrar sua identidade (14.18) e atinge esse objetivo ao dividir o
mar, permitindo assim que Israel atravesse intacto e então afogando no mar os
egípcios em perseguição (14.19-30). Este milagre derradeiro inspira temor, fé e
obediência no povo (14.31).
3. O POVO NO DESERTO
Com base no que vem ocorrendo desde a época dos patriarcas Javé explica, no
Sinai, o futuro de Israel. Deus escolheu Israel, toda a casa de Jacó, sustentou-os
e ajudou-os a se multiplicar num grande povo, agora libertou-os do Egito e
trouxe-os para perto de si (19.4). Em outras palavras, a graça de Deus criou um
relacionamento especial entre Israel e Javé que permite aos israelitas conhecer
e experimentar o poder e a presença do Senhor. Fica claro que a ação de Deus e
o relacionamento divino-humano são intencionais e inseparáveis.
Anteriormente Deus fizera aliança com Noé (v. Gn 9.8-11) e Abraão (v. Gn 12.1-9;
Êx 2.23-25). Agora, sem tirar nada das promessas feitas a Abraão, Javé esforça-
se por ter uma amizade especial não apenas com uma só pessoa ou com um
único clã, mas com toda uma nação constituída de descendentes de Abraão.
A aliança vem com certas obrigações, da mesma forma como exigiu-se fé, ação
e dedicação quando Abraão abraçou a aliança com Yahweh (v. Gn 12.1-9; 15.6;
22.1-11). Por isso, a aliança de agora tem grande semelhança com alianças
anteriores baseadas na fé e voltadas para a obediência.
13
2. Deus declara que a função da aliança é separar Israel como uma nação
que pode mediar a identidade divina para todas as famílias da Terra.
Pelo fato de toda a terra pertencer a Javé Israel será “um reino de sacerdotes e
uma nação santa” (19.6). Todas as três expressões “tesouro pessoal”, “reino de
sacerdotes” e “nação santa” referem-se a promessas prévias de Deus a Abraão.
Os israelitas são escolhidos em Abraão (“tesouro pessoal”; Gn 12.1-9).
Dentre toda a terra Abraão foi chamado para participar da redenção humana; o
mesmo ocorre com Israel. Os israelitas aceitam essa oportunidade de
desempenhar sua função ministerial redentora ao extrair forças de seu
relacionamento singular com o Javé (19.7,8).
Dos dez, os dois primeiros, os que têm a ver com a singularidade de Deus, são
os mais importantes, pois a menos que eles sejam observados e até que o
sejam, todos os outros não têm verdadeira relevância.
1. Jesus resume a lei, citando Levítico 19.18 e Deuteronômio 6.4-9 (Mc 12.29-
31; Mt 22.34-40). Aliás, ele afirma que “destes dois mandamentos
dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.40).
2. Paulo enfatiza que a lei põe à mostra o pecado humano, assim revelando a
necessidade que cada um tem de salvação divina (Rm 7.7-25; G1 3 e 4).
Sem dúvida alguma, Paulo em particular capta o uso que os profetas
fazem da aliança.
3. Vários salmos, mas mais ostensivamente o salmo 119, comemoram a lei
como uma dádiva em vez de queixosamente considerarem-na um peso.
Para o escritor do salmo 119 a lei oferece direção, força, pureza e
confiança. Ela corrige, mas também dá alegria e oferece provas da
compaixão de Javé (SI 119-156).
Não há dúvida de que a lei se torna um peso quando alguém não a guarda no
coração (Dt 6.4-9; Mq 6.6-8) ou substitui a fé pela lei como o fundamento do
relacionamento com Deus (Rm 9.31,32). Mas, corretamente compreendida, a lei
é a graça de Deus para uma raça humana aflita por um já milenar problema do
pecado, o qual ela não consegue resolver. A própria gênese da lei é a graça,
pois é instituída por Javé, que tirou Israel do Egito com base não no mérito
intrínseco de Israel, mas antes com base nas promessas de Javé a Abraão (Êx
2.23-25). Os que tentam tornar a aliança apenas uma obrigação não entendem o
que o cânon fez a esta altura do relato.
Deus ordena que Moisés levante uma oferta para construir um tabernáculo, cujo
propósito será o de ser um símbolo visível de que Deus habita no meio deles
(25.1-8). Esse tabernáculo deve ser exatamente com o modelo revelado por
Deus (25.9), de maneira que se compreenda e se experimente verdadeiramente
a presença de Deus.
Sempre que o povo via essa área de adoração, era lembrado de que Deus mora
no meio do povo escolhido. Israel viu o suficiente do poder de Deus no Sinai
para saber que Javé não habita nem precisa habitar no santuário. É impossível
limitar Deus a um lugar. Deus pode escolher morar num lugar por causa de um
desejo misericordioso de relacionar-se com pessoas, mas é prerrogativa Dele
fazê-lo ou não. Assim, este local da presença tinha o propósito de assegurar a
Israel do compromisso contínuo e voluntário que Deus tem com eles.
Por que Deus chama sacerdotes? Por que Deus capacita homens para construir
o centro de adoração e fabricar seus utensílios (31.1-11)?
• Deus separa sacerdotes para que Israel conheça seu Deus e tenha certeza
de que Yahweh não os deixou sozinhos (29.44,45).
• Deus quer que o povo escolhido saiba ter sido escolhido, resgatado do
Egito e trazido até este momento de sua história a fim de que Javé, o Eu
Sou, veio “habitar no meio deles” (29.46).
• O Criador, sustentador e redentor de todas as pessoas e coisas criadas,
sustentadas e redimidas deseja ter comunhão e amizade com Israel.
• Tudo o que ocorreu de Gênesis 12 a Êxodo 31 foi feito para restaurar a
interação entre Deus e os homens, perdida em Gênesis 3.
Israel interpreta que os quarenta dias de ausência de Moisés, período em que ele
esteve no monte (Êx 24.18), indicam que ele talvez não volte (32.1). Assim
pressionam Arão a fazer deuses “de verdade”, deuses que eles podem ver, que
eles podem adorar (32.1). É interessante ver que aqui há um pedido do povo de
que fosse feito um bezerro, mas eles remetiam ao próprio Deus que havia tirado
o povo do Egito. Não se trata de uma substituição, mas de uma contaminação.
Obviamente, está conectado aos deuses egípcios. Arão cede (32.2-4), anuncia
que o ídolo resultante é o deus que fez Israel sair do Egito (32.4) e anuncia uma
festa que se transforma em total decadência (32.5,6). O povo escolhido
esqueceu-se de quem o resgatara e voltou atrás em sua promessa de cumprir a
aliança. Eles quebraram pelo menos os três primeiros dos Dez Mandamentos.
18
Por isso, qualquer medida que Javé tome para ajudar os israelitas ou quem quer
que seja a adorar o Deus descrito no cânon equivale à misericórdia. Adorar
ídolos é, na melhor das hipóteses, perda de tempo. Na pior delas é um insulto ao
único Deus verdadeiro e constitui uma forma de maltratar-se intelectual e
espiritualmente. O ciúme de Javé opera claramente a favor de Israel, não sendo
fruto de irascibilidade.
Êxodo tem várias circunstâncias nas quais Deus permite que o mal tenha livre
curso até que Seus propósitos sejam alcançados. O livro começa com a família
que virou nação sendo oprimida, um mal que Deus permite para finalmente
fazê-los voltar a Ele como seu Deus pactual, de acordo com a promessa feita a
Abraão.
Na ocasião em que a Lei está sendo outorgada, Israel chafurda no culto imoral
que absorvera durante sua permanência no Egito, mas mesmo este incidente é
permitido por Deus para purificar Israel e melhor prepará-lo para ser o Seu povo
pactual.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
1. A TEOLOGIA DE LEVÍTICO
4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
1. TEOLOGIA DE LEVÍTICO
Diga o seguinte a toda comunidade de Israel: sejam santos porque eu, o senhor,
o Deus de vocês, sou santo. Levítico 19.2
Uma simples reflexão sobre Levítico demonstra rapidamente que esse é um dos
livros de maior inclinação teológica nas Escrituras. O livro trata detalhadamente
como Deus define o pecado, perdoa o pecado e ajuda as pessoas a evitar o
pecado. Analisa como a vontade de Deus se revela e como se pode assegurar a
presença de Deus. Levítico também descreve como o povo de Deus pode ser
declarado santo, o que Deus imaginou para eles desde o começo (Ex 19.6).
O Título
O Autor
Data
Mensagem
À luz do contexto histórico em que o livro foi escrito, o autor Carlos Osvaldo
Pinto atribui o seguinte propósito ao livro de Levítico:
meio de Israel. Assim, parece correto concluir que as cerimônias de Levítico têm
o propósito de fomentar a comunhão entre Deus e Israel e que essa comunhão
se baseia em quão bem o compromisso de Israel com a santidade está à altura
da santidade inerente de Yahweh.
Deus é Santo
Assim, a comunhão desejada (ou melhor, ordenada) por Deus com Seu povo
dependia da assimilação de Seu conceito de santidade pelos israelitas. Esse
conceito era radicalmente oposto ao uso da “santidade” pelos cananeus, para
quem ser “santo” significava envolver-se com as formas mais degradantes de
imoralidade, como ser prostituto ou prostituta cultual.
Deus é Imanente
O propósito de Deus, expresso nas palavras de Êxodo 25.8, era viver entre o Seu
povo. As instruções detalhadas concernentes ao lugar de Sua manifestação,
5
Deus é Gracioso
Uma vez que Seu propósito não era simplesmente libertar Israel do caos e da
desordem da escravidão corporal no Egito, mas também do caos e da
desordem de uma vida dominada pelo pecado, pela doença e pela morte, o
sistema sacrificial transmitido à nação por Moisés englobava cada aspecto da
vida e fazia provisão para impurezas morais e cerimoniais por meio do princípio
de expiação vicária (substitutiva).
O perdão de Yahweh sempre foi gratuito, mas nunca barato, já que sempre
envolveu a entrega de uma vida em lugar de outra, com o benefício sendo
apropriado mediante a fé. A gravidade do pecado era revelada na gravidade da
sentença. O preço do pecado era a morte, por isso somente haveria expiação
com a morte.
É importante lembrar que Êxodo 32—34 claramente indica que seres humanos
pecam e que um Deus justo e santo não pode tolerar pecado. Desse modo,
parece lógico para a narrativa revelar como o pecado pode ser perdoado.
• A santidade de Deus
• A depravação humana
• O altíssimo preço do pecado
• A natureza pessoal do pecado
• A disposição divina de perdoar
Oferta pelo pecado Lv 4.1—5.13; 6.24- Novilho: pelo sumo Expiação obrigatória
30;8.14-17;16.3-22 sacerdote e pela por pecado específico
congregação. não intencional;
confissão de pecado;
Bode: por um líder purificação da
Cabra ou cordeiro: por impureza
uma pessoa comum
Rolinha ou pombinho:
pelos pobres.
Um jarro da melhor
9
Ofertas pelos pecados devem ser trazidos por indivíduos (4.1,2), sacerdotes
(4.3-12), toda a comunidade (4.13-21) e líderes (4.22-26). Qualquer um desses
10
Ofertas pela culpa também fazem propiciação por pecado consciente contra
padrões revelados por Deus. A diferença é que eles tratam de pecados que são
contra Deus e o próximo e que exigem restituição (5.16; 6.5). O perdão não é
sem preço em quaisquer desses cinco sacrifícios, mas a oferta pela culpa implica
o mais custoso de todos.
• O Princípio da Propiciação
Nos tempos antigos as pessoas ofereciam sacrifícios aos deuses pagãos para se
tornarem favoráveis a eles. Por exemplo se quisessem fertilidade ofereciam
sacrifícios de propiciação para tornar os deuses da fertilidade propícios a eles e
terem seus desejos atendidos. Se fossem viajar pelo mar, faziam sacrifício de
propiciação para tornar os deuses dos mares favoráveis a eles durante a viajem,
afastando assim sua ira e ganhando seu favor. Se havia um deus qualquer
11
furioso, deveriam sacrificar algo em propiciação para afastar sua ira e ganhar
seu favor.
2. Quem faz a propiciação? Num contexto pagão é sempre seres humanos que
procuram desviar a ira divina mediante a realização meticulosa de rituais, ou
através da recitação de fórmulas mágicas, ou por meio de oferecimento de
sacrifícios (vegetais, animais e até mesmo humanos). Pensam que tais práticas
aplaquem a divindade ofendida. Mas a Bíblia deixa claro que nada do que
possamos fazer, dizer, oferecer ou até mesmo dar pode compensar os nossos
pecados nem afastar a ira divina. Não há possibilidade alguma de bajularmos,
subornarmos ou persuadirmos Deus a nos perdoar, pois nada merecemos das
suas mãos a não ser o julgamento. Foi o próprio Deus que, em sua misericórdia
e graça, tomou a iniciativa de nos perdoar. Pois todos pecaram e estão
destituídos da glória de Deus (Rm 3.23).
Esse fato já estava claro no Antigo Testamento, pois nele os sacrifícios eram
reconhecidos não como obras humanas, mas como dádivas divinas. Eles não
tornavam a Deus gracioso; eram providos por um gracioso Deus a fim de que
pudesse agir graciosamente para com o seu povo pecaminoso. “Pois a vida da
carne está no sangue, e eu o dei a vocês para fazerem propiciação por si
mesmos no altar; é o sangue que faz propiciação pela vida (Lv 17.11). E o
Novo Testamento reconhece essa verdade com mais clareza. O próprio Deus
12
"ofereceu" a Jesus Cristo como sacrifício propiciatório (Rm 3.25). Nisto consiste
o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou
e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. (1Jo 4.10).
3. Qual foi o sacrifício propiciatório? Não foi animal, vegetal nem mineral. Não
foi uma coisa, mas uma pessoa. E a pessoa que Deus ofereceu não foi alguém
mais, uma pessoa humana ou um anjo, nem mesmo o seu Filho considerado
como alguém distinto dele ou exterior a si mesmo. Não, ele ofereceu-se a si
mesmo. Ao dar o seu Filho, ele estava dando a si mesmo. Por exemplo, o fato de
que foi o Filho de Deus, de que foi o próprio Deus, quem tomou o nosso lugar
no Gólgota e, através desse ato, nos libertou da ira e do juízo divino, revela
primeiro a implicação total da ira de Deus e a sua justiça condenadora e
punitiva. Conforme Stott afirma,
o próprio Deus que, na pessoa do seu Filho, morreu pela propiciação dos nossos
pecados. Assim, Deus tomou a sua própria iniciativa amorosa de apaziguar sua
própria ira justa levando-a em seu próprio Ser no Seu próprio Filho ao tomar o
nosso lugar e morrer por nós.
autorizadas, o que por sua vez conduziu à idolatria e até mesmo a sacrifícios
humanos (2Rs 17.7-23).
Isaías 1.10-17, Jeremias 7.21-26 e Malaquias 1.6-9 relatam que o povo não é
sincero ao trazer suas ofertas, não há arrependimento, pois, o comportamento
deles nunca muda. Sacrifícios feitos sem fé, arrependimento e humildade não
são sacrifícios feitos com obediência.
da propiciação num único ato, enquanto o sistema antigo exige atos constantes
de sacrifício.
Vocês têm que fazer separação entre o santo e o profano, entre o puro e o
impuro, e ensinar aos israelitas todos os decretos que o Senhor lhes deu por
meio de Moisés" Levítico 10.10,11
O texto não especifica qual é a ofensa cometida pelos dois jovens sacerdotes;
simplesmente declara que trouxeram uma oferta que não foi especificamente
ordenada. Essa é de fato a questão. Os sacerdotes desobedeceram à palavra de
Deus e, desse modo, cometeram o pecado básico da raça humana.
Os levitas são todos os pertencentes à tribo de Levi, uma das doze tribos de
Israel. Deus poupou os primogênitos de Israel na última praga contra o Egito (Ex
11.4—12.13), todos os filhos primogênitos e todos os animais primogênitos
pertenciam a Deus. Os levitas foram nomeados por Deus para tomarem o lugar
dos primogênitos no serviço a Ele. Uma família ou clã de levitas, a família de
Arão, foi separada para o sacerdócio. O restante dos levitas daria assistência
aos sacerdotes. Entre seus deveres estavam o cuidado do Tabernáculo e
posteriormente o cuidado do Templo, bem como as funções de mestre, escriba,
músicos, oficiais e juízes (1Cr.23).
Por que vocês não comeram a carne da oferta pelo pecado no Lugar Santo?
É santíssima; foi-lhes dada para retirar a culpa da comunidade e fazer
propiciação por ela perante o Senhor. Levítico 10.17
O autor Paul R. House assinala seis possíveis resposta para essa questão:
Sobre a primeira opção, é certo que Deus está interessado na saúde de Israel,
mas, por mais válida que seja essa afirmação, ela não explica o suficiente, pois
não deixa claro como tais leis torna Israel santo no sentido que Êxodo 19.5,6
espera.
problemas com essa proposta, mas o mais gritante é que no texto em si não há
qualquer menção explícita ou implícita a forças demoníacas. Não se emprega
rito mágico algum para afastar enfermidades. Não se faz tentativa alguma de
implorar que Yahweh expulse espíritos malévolos. O tempo e o sacrifício usual
curam a impureza porque o Senhor assim o declara.
Além disso, Levítico 12.4 afirma que a mulher que recentemente deu à luz deve
esperar alguns dias antes de entrar no santuário. Outra maneira de expressar a
regra é que ela não tem de retomar seus deveres regulares até que ela e a
criança tenham se recuperado do parto. Separar nascimento e santuário
também evita que Israel vincule ritos de fertilidade à sua prática religiosa, um
traço particularmente comum em religiões cananeias.
Resumindo, essas instruções separam Israel como uma nação que possui leis
especiais de pureza, leis que ligam o povo intimamente a Deus. Esses princípios
trazem muitos benefícios, mas o benefício maior é a presença de Deus no meio
deles, uma realidade que por sua vez os coloca à parte de outras nações.
O “Dia da Propiciação” nos dias de hoje é chamado de Yom Kipur. O Yom Kipur
ou Kippur ( )יום כיפורé um dos dias mais importantes do judaísmo. No calendário
judaico começa no entardecer que inicia o décimo dia do mês judaico de Tishrei
(que coincide com setembro ou outubro), continuando até ao seguinte pôr do
sol. Os judeus tradicionalmente observam esse feriado com um período de jejum
de 24 horas, leituras bíblicas e oração intensa. Na ausência do Templo e do
sacerdote os judeus vão à sinagoga e realizam suas orações para obter a
expiação e o perdão para o Povo Judeu.
• O sumo sacerdote deve aprender que não pode entrar na sala mais
sagrada do santuário quando bem entender (16.1,2). Aventurar-se a isso
conduzirá à morte, pois a presença de Deus paira acima da arca da aliança
de uma forma especialmente poderosa.
• O sumo sacerdote tem de usar roupas diferentes das que ele
normalmente usa (16.3-5). Perante Deus, nesse dia especial o sumo
sacerdote se coloca como um pecador ministrando a pecadores, despido
de orgulho ou privilégio.
• O sacerdote tem de “fazer propiciação por si mesmo e por sua família”
(16.6). Uma vez mais o fato é que mesmo sacerdotes (ou talvez
22
Dessa forma, os pecados do povo são removidos, qualquer que seja a natureza
deles (16.22).
só até a morte de Cristo fazer propiciação por todos os pecados cometidos pelo
povo de Deus (Hb 9.10-12).
4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Israel só pode ser santo à medida que obedece à palavra do Santo que os
escolheu e livrou. A santidade deles deriva do relacionamento com Yahweh e se
estende às atividades e relacionamentos com outros seres humanos.
Não haveria razão para Deus livrar Israel a fim de que o povo escolhido se
envolvesse nas mesmas práticas que levam o mundo a afundar numa
depravação cada vez maior. Mais uma nação como todas as outras dificilmente
contribui para melhorar o clima moral da terra. Desse modo os mandamentos de
Levítico 17—19 destacam o fato de que Israel deve ser diferente das nações que
conquistará, deve ser mais santo do que elas. Sua adoração (17.1-16) e práticas
sexuais (18.1-30) devem ser de qualidade superior à dos cananeus. Em vez de
tomar nações corrompidas como modelo, Israel deve igualar o caráter e
consequente comportamento de seu Deus (19.1-37).
25
1. Levítico 18.6 afirma que os israelitas não devem ter relações sexuais com
“uma parenta próxima”; os versículos 7-19 definem essa proibição e
também quem são familiares próximos e familiares distantes, definição
que, por sua vez, permitirá que Israel mantenha a posse da Terra
Prometida (v. 18.24-28). Essas proibições contra atividades sexuais
incestuosas demonstram que Deus se opõe a abusos sexuais, ao uso
errado da autoridade para tirar vantagem sexual, à quebra da confiança
relacional nas famílias e ao uso de qualquer pessoa, não importa o sexo,
como objeto de satisfação de quaisquer desejos desenfreados de alguém.
Outras nações talvez encarem a sexualidade como uma sede que se pode saciar
da maneira como os seres humanos bem entenderem, mas o povo de Deus deve
ter uma abordagem diferente, santa, frente a essas questões. Sexo não é uma
arma a ser empregada para obter vantagens na família ou na sociedade.
Tomar parte nessas cinco práticas sexuais proibidas põe em risco o futuro de
Israel na Terra Prometida. De fato, Deus decide remover os cananeus por causa
da teologia e ética corrompidas que tinham (18.24-28). Os israelitas que
preferem atos abomináveis à santidade devem ser eliminados da nação
escolhida, para que o pecado não se espalhe (18.29,30).
A chave para a posição de Israel como nação santa é o desejo de guardar as leis
e decretos divinos porque Yahweh é seu Deus (19.37). Dessa forma
relacionamento e fidelidade se unem para criar santidade. Entre o alicerce da
santidade (19.2) e sua expectativa (19.2,37) encontram-se desafios que
27
O povo de Israel, como nação santa, também tinha de entender que santidade
envolvia um compromisso com os dias santos declarados de convocação à
presença do Senhor. Os dias separados para as celebrações eram o sábado
semanal (Lv 23.3), a Páscoa e a Festa dos Pães sem fermento (4-8), a Festa das
Primícias (9-14), a Festa das Semanas (15-22), a Festa das Trombetas (23-25), o
Dia da Expiação (w. 26-32) e a Festa dos Tabernáculos (33-44). O propósito
destas ocasiões era múltiplo, mas na estrutura da santidade era para lembrar o
28
povo de Deus de que não só pessoas, lugares e ações são santos, mas o tempo
também é santo.
Além do significado para Israel, cada Festa apontava também para algo que
aconteceria no futuro, como um sinal profético do que haveria de vir.
O Sábado
A Páscoa
O Dia da Expiação
Levítico não contém muitos elementos narrativos por meio dos quais seja
possível estabelecer como se dá a atividade de Deus na História. O decreto de
permitir o mal fica implícito nas descrições dos sacrifícios e das deficiências
espirituais que os motivavam, bem como nas longas listas de alimentos e
práticas proibidos, que revelam tanto a alienação da criatura de seu Criador
quanto a alienação entre criatura e criatura.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
1. A TEOLOGIA DE NÚMEROS
4. OS DISCURSOS DE MOISÉS
1. A TEOLOGIA DE NÚMEROS
Se o Senhor se agradar de nós, ele nos fará entrar nessa terra, onde manam
leite e mel, e a dará a nós. Somente não sejam rebeldes contra o Senhor. E não
tenham medo do povo da terra, porque nós os devoraremos como se fossem
pão. A proteção deles se foi, mas o Senhor está conosco. Não tenham medo
deles! Números 14.8,9
O título hebraico desse livro é bemiḏbar (“no deserto de”), uma alusão à
localização da maior parte dos acontecimentos nele registrados. O título grego,
Ἄριθ μοί, que sobrevive no título em português, enfatiza os dois recenseamentos
nele registrados (que estão longe de ser o elemento mais importante do livro).
O texto assinala que um ano se passou desde que os israelitas saíram do Egito
(1.2). A jornada entre o Sinai e Cades-Barneia, passando pelo golfo de Ácaba,
levaria normalmente apenas onze dias (Dt 1.2). A rota direta consumiria poucos
dias a menos e, passando por Edom e Moabe, dificilmente mais de duas
semanas. A narrativa deixa claro que o período de 40 anos foi uma punição pela
falta de fé: ninguém da geração incrédula teve permissão para entrar na terra
(Nm 14.20-45).
2
De outro lado, Números indica-nos como Deus usou o deserto para preparar
uma geração disposta a confiar Nele e cumprir a Sua vontade em plena
dependência. O breve, mas eloquente, discurso de Josué e Calebe, em 14.7-9,
resume bem o conteúdo do livro. Yahweh agradou-se de um povo que não se
agradou Dele, e que, por essa razão, perdeu o privilégio de ver cumprida a
promessa em sua geração.
Data e autoria
A Mensagem de Números
Apesar de sua forma ser ainda mais fluída que a dos livros que o precederam na
coleção mosaica, o livro de Números tem uma mensagem específica. Tomando
por base uma divisão tríplice do livro:
Cades: Israel acampou vinte vezes antes de chegar a Cades (Nm 33.16-36).
Quase sete capítulos (Nm 13 -20) narram o que se passou quando o povo estava
3
Vales de Moabe: Os textos referentes a este local são Nm 21; 33. 36-48.
• Deus é imanente
Balaão, vidente pagão e teólogo involuntário, afirmou que o Senhor seu Deus é
com ele, no meio dele se ouve a aclamação de um rei (23.21). Igualmente, os
cananeus reconhecem o fato (14.14), mas Israel constantemente desprezava
essa realidade tão preciosa. Vale também lembrar que essa presença se
manifestava em graça (Arca, Dia de Expiação), mas também em ira e disciplina
(11.25; 16.19, 42; 20.6).
• Deus é poderoso
4
Com esta expressão, quer-se dizer que Yahweh se levanta em ira santa contra
violações e violadores de Seus justos padrões morais e pactuais.
Uma das questões principais levantadas pelo livro de Números gira em torno
deste atributo. “Podemos nós, como nação, sobreviver à ira de Yahweh, uma
vez que tantos e tão grandes sucumbiram diante dela? ”. Balaão traz a resposta,
às vezes crítica, às vezes cômica, mas correta na predição de que a promessa
patriarcal ainda era válida e ainda seria cumprida (23.20 e 24.9).
• Deus é misericordioso
• Deus é fiel
Alguns estudiosos tentam apresentar uma explicação natural para a nuvem, mas
a própria existência de uma nuvem em todas as estações e o momento exato de
ela erguer-se e mover-se numa direção específica indicam sua natureza
miraculosa. A nuvem simboliza a presença de Deus no meio do povo.
Especificamente Deus está presente para liderar, guiar e inspirar reverência.
Uma vez mais a presença de Yahweh se manifesta entre o povo de uma maneira
tal que indica que Deus ama Israel o suficiente para guiá-los, que mostra que
Deus se move entre seres humanos, que demonstra que Israel depende
totalmente da presença divina e que ilustra como Deus, embora presente, não é
como os seres humanos. Yahweh possui a capacidade de estar presente, mas,
ao mesmo tempo, separado. Pode-se simultaneamente sentir e ver tanto
proximidade quanto distância.
Enquanto a nação continua parada no monte Sinai, o povo parece bem capaz
de obedecer ao Senhor. Contudo, três dias depois de iniciada a viagem rumo a
Canaã eles se veem queixando-se das circunstâncias.
Fica claro que Israel duvida de Deus, Moisés duvida de Deus, Josué duvida de
Deus, e Miriã e Arão duvidam de Deus. Resta ver se a dúvida vai descambar em
descrença ou se é possível restaurar a fé.
E o Senhor disse a Moisés: "até quando este povo me tratará com pouco caso?
Até quando se recusará a crer em mim, apesar de todos os sinais que realizei
entre eles? Números 14.11
Estacionado nas imediações de Canaã, por ordem de Deus Israel envia espiões
para examinar a Terra Prometida (13.1-16). Doze líderes tribais, dos quais Josué é
o mais conhecido, são escolhidos para a tarefa. Recebem instruções para
apresentar um relatório completo sobre Canaã (13.17-20) e fazem-no conforme
determinado (13.21-27). Nenhum deles tem qualquer palavra negativa sobre a
frutuosidade da terra. A palavra primeira, com que Deus se comprometera com
Moisés, de dar a Israel “uma terra boa e vasta” parece estar na iminência de se
concretizar (Êx 3.7-10). Yahweh tem sido fiel.
Devido à falta de fé, Moisés não poderá partilhar da bênção da Terra Prometida.
A questão não é se ele guardou a lei ou não. O problema é que ele não confiou
em Deus nessa ocasião, a causa básica de sua desobediência. Contudo, apesar
desse castigo a longo prazo, o Senhor ainda espera que Moisés lidere Israel até
que seu sucessor ocupe seu lugar. Ao desempenhar esse papel, Moisés
demonstra uma vontade de servir sem receber recompensas tão desejadas e,
desse modo, distancia-se do israelita mediano, que vivia se queixando e se
revoltando praticamente em cada oportunidade.
A História nos mostra que, na época de Moisés, havia bastante contato entre a
Mesopotâmia e o Egito, de modo que não é de estranhar a aparente
11
Para os mais determinados, que consideram Balaão um “crente que perdeu sua
salvação”, vale observar que ele jamais é designado como um ( נָבִיאnābî ʾ,
profeta), mas como um ( קֹסֵםqōsēm, “adivinho”), uma pessoa a quem os israelitas
deviam rejeitar totalmente (Dt 18.10). O fato de Deus ter-se revelado a ele em
sonhos não o torna um profeta legítimo, pois o mesmo aconteceu a reis pagãos
como Abimeleque (Gn 20.3) e Nabucodonosor (Dn 4), em relação aos quais não
há, nem pode haver, qualquer reivindicação profética.
Balaão, embora advertido por Yahweh contra a atividade proposta por Balaque,
cede à ganância e insiste em ir. Yahweh o adverte contra seus motivos nefastos,
mas permite que Balaão acompanhe os dignitários moabitas, pois em Sua
soberania os usaria para revelar Seu imutável desígnio quanto a Israel, naquela
que é uma das profecias mais abrangentes do Antigo Testamento.
Para eliminar o surto idólatra e a praga que Yahweh envia para castigá-lo,
Finéias, filho de Eleazar, executa o israelita e a midianita (25.7-9,14,15).
Estes dois incidentes, como registrados por Moisés, deveriam ter servido de
advertência às gerações futuras, que evidentemente não a levaram a sério.
Números também indica que há uma relação entre a extensão da ira de Deus e a
intercessão de Seus servos. Isto não equivale a dizer que a oração, por si só,
altera as decisões divinas ou encurta a disciplina de Yahweh; significa,
outrossim, que soberania, misericórdia e santidade se combinam no exercício da
punição e nos meios pelos quais ela exaure seu curso rapidamente na vida de
alguns e se estende por 38 anos na vida da grande maioria.
Números também indica que o perdão não significa isenção das consequências
do pecado, que são parte do juízo geral contra o pecado. Dois exemplos
15
De uma perspectiva pactual, esta linha de atividade divina limita-se mais aos
oráculos de Balaão. Isso significa que Números, em suas divisões, narrativas e
legais, não acrescenta novas promessas ao estoque já em poder de Israel. No
entanto, tão gritantes haviam sido os fracassos das gerações passada e
presente que foi necessário reafirmar as promessas passadas à medida que
Canaã se aproximava.
Estas são as palavras ditas por Moisés a todo o Israel no deserto, a leste do
Jordão, na Arabá, defronte de Sufe, entre Parã e Tofel, Labã, Hazerote e Di-
zaabe.
Deuteronômio 1.1
Título
O título hebraico deste livro é ֶאלֵה הַדְּ ב ִָרים, (ʾellēh haḏdeḇārîm) (“estas são as
palavras”) e aponta para a revelação final recebida pelo grande legislador de
Israel quando a nação se aproximava de seu objetivo de entrar na Terra
Prometida. O título em português é uma transliteração do título grego, dado
pelos tradutores da Septuaginta, Δεύτερος νόμος (deuteros nomos), que significa
“segunda lei”.
Autoria e data
17
O livro foi escrito no último ano de Israel no deserto, antes da entrada na Terra
Prometida, aproximadamente em 1410 a.C.
Características literárias
Mensagem de Deuteronômio
Eugene Merrill indicou que Deus utilizou, como principal instrumento para Sua
autorrevelação, Seus atos poderosos, eventos históricos que a comunidade da
fé pôde reconhecer como divinos. Ele afirma: “Enquanto que em Gênesis o ato
fundamental de Deus é a própria criação, aqui o assunto é menos cósmico; o
foco de Deuteronômio não são as preocupações universais de Deus, mas Seus
propósitos especiais para Seu povo”.
Yahweh é singular
O famoso dito hebreu שמַע יִש ְָּראֵל יהוה אֱֹלהֵינּו יהוה ֶאחָד
ְּ (šema ʿyiśrāʾēl ʾăḏōnāy ʾĕlôhênû
ʾăḏōnāy ʾeḥāḏ, “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”), o credo
compacto de Israel (6.4), tem sido de há muito objeto de grande debate. Alguns
entendem o versículo como uma afirmação da unidade de Deus (que Ele é um),
enquanto outros falam de sua unicidade (que Ele é um só).
singular e nenhuma confusão se deveria fazer entre Ele e os falsos deuses das
nações que circundavam Israel.
Yahweh é ciumento
Yahweh é amoroso
Este relacionamento exigia uma resposta volitiva que podia, como tal, ser
ordenada (6.5; 10.12; 11.1, 13), um amor que se expressava em obediência aos
mandamentos de Yahweh (6.1, 17; 7.11; 8.1) e envolvia a pessoa como um todo
(6.5) e toda a comunidade (29.17[18]; cf. Hb 12.15). A mesma reação foi exigida
pelo Senhor Jesus Cristo. “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos”
(Jo 14.15).
22
4. OS DISCURSOS DE MOISÉS
Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu
Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que
todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as
com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em
casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se
levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as
nos batentes das portas de sua casa e em seus portões. Deuteronômio 6. 4-9
Moisés fala acerca dos mandamentos revelados por Deus (1.3). Em vez de
entregar quaisquer novas leis, explica que a lei já foi revelada (1.5). Moisés
apresenta um comentário sobre a vontade de Deus, uma exposição que tem o
propósito de tornar claro o que Yahweh já disse.
Destaques do discurso:
Essas palavras confessam que Yahweh é único e possui um caráter uno. Israel
aprendeu no êxodo que não existe deus como Yahweh (Êx 15.11), pois nenhum
outro deus além de Yahweh agiu ou falou naquela situação histórica crucial.
Uma vez que nenhum outro deus o fez, Israel também aprende que não existe
qualquer outro deus além de Yahweh.
Pelo fato de Deus possuir um caráter constante, o povo pode estar seguro de
que Yahweh é coerente, verídico, revelador e digno de adoração. Algum dia
Israel talvez vá atrás de outros deuses (v. Dt 6.13-15), mas, aprenderão que
“amar outros deuses é ir atrás de nada. Eles não existem. Ele é o primeiro e
único Senhor”. Lido contextualmente junto com os dois primeiros
mandamentos, com 4.39 e com 10.17, este versículo é definitivamente
monoteísta.
A esta altura o cânon já não deixa dúvida de que Yahweh ama Israel com um
amor terno, imerecido, mas assim mesmo decidido, quase impetuoso, amor este
25
Cada novo membro da comunidade santa deve receber o ensino dos caminhos
de Deus. A fé não acontece automaticamente. Deve ser entendida e possuída
(6.6), de maneira que cada pai ou mãe deve ensinar sua criança, da mesma
maneira como Moisés vem ensinando-os. A instrução deve ser ministrada com
propósito, incluindo a ponto de tornar-se pública (6.9).
Os padrões de Deus estão agora explicados, mas a obra de Moisés não está
terminada. Ele associou o Sinai a Moabe, a primeira geração à segunda, e a
graça de Deus à vida de Israel (29.1). Agora, em sua terceira mensagem ele deve
convocar os israelitas a receber de braços abertos a aliança que determina o
futuro deles. Moisés entende que esse chamado, por meio da palavra revelada
de Deus, intermedeia a vida para Israel (30.15). É também um chamado
26
Destaques do discurso:
Continuidade da aliança
A permissão do pecado
Yahweh, ao fazer a promessa da posse da terra a Abraão (Gn 15), afirmou que
ainda não se enchera a medida da iniquidade dos moradores de Canaã. Mais de
cinco séculos depois, em Deuteronômio 7 a hora do ajuste de contas chegou
para os cananeus e seus vizinhos. O juízo severo seria administrado pelos
israelitas invasores sob a forma de um ( ח ֶֶרםḥerem, “anátema” ou “edito de
aniquilamento”), a destruição completa de algo ou alguém como um ato de
adoração a Yahweh (cf. 7.2).
Deuteronômio apresenta Yahweh como o Deus Redentor (5.6; 6.21-23; 7.8; 8.14;
13.5-10), que abençoa Seu povo com a libertação, e como o Deus Guerreiro (1.4,
30, 42; 2.15, 21, 22; 3.2, 3, 21, 22; 5.15; 7.1, 2; 9.3-5), que sai à frente de Seu povo e
em benefício deste realiza poderosos feitos, especialmente a conquista de
Canaã (ainda fato futuro, ao tempo em que o livro foi escrito).
Esse livro foi escrito, porque Deus não tem interesse em nos dar apenas a
vitória, mas em nos tornar vitoriosos. Deus estava ensinando o povo os
princípios não apenas de conquista, mas de permanência no ambiente da
conquista.
29
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
1. A TEOLOGIA DE JOSUÉ
2. DISCIPLINA E LIBERTAÇÃO
3. O CICLO DE JUÍZES
4. A TEOLOGIA DE RUTE
1. A TEOLOGIA DE JOSUÉ
Em Josué, Juízes e Rute, os princípios básicos da relação humana com Deus são
trabalhados à medida que a história de Israel vai se desdobrando.
Como prometi a Moisés, todo lugar onde puserem os pés eu darei a vocês. Seu
território se estenderá do deserto ao Líbano, e do grande rio, o Eufrates, toda a
terra dos hititas, até o mar Grande, no Oeste. Ninguém conseguirá resistir a
você, todos os dias da sua vida. Assim como estive com Moisés, estarei com
você; nunca o deixarei, nunca o abandonarei. Josué 1.3-5
A tradição talmúdica sustenta que Josué foi o autor do livro, e a nota de sua
morte foi registrada por Eleazar, filho de Arão. O último versículo teria sido
acrescentado por um editor mais recente. O conteúdo do livro sustenta tal
tradição.
O livro oferece uma base teológica, histórica e canônica para fazer uma revisão
dos ensinos do Pentateuco e preparar os leitores para as convicções que
dominarão os livros que vêm logo em seguida no Antigo Testamento.
Josué acredita que a força de Israel não é maior do que a consagração do povo
à aliança descrita por Moisés nas falas finais a Israel. A postura na guerra deve
conformar-se aos padrões encontrados em Deuteronômio 7 e Deuteronômio 20.
Deve- se distribuir a terra conforme Moisés anunciou em Números 32, 34 e 35.
Deve-se observar os cultos de Páscoa e de renovação da aliança. Devido a essa
obediência, pode-se esperar que Deus lute por Israel de uma maneira
semelhante a dos milagres do êxodo (Dt 27 e 28).
O cânon não trata da morte dos cananeus de forma arbitrária ou com pouco
caso. Pelo contrário, a partir de Gênesis 15-16 prepara o leitor para esse material
difícil. Ali o texto dá a Israel quatrocentos anos no Egito para que os amorreus
mudem seu estilo de vida. Levítico 18.24-30 dá-se ao trabalho de dizer que o
povo de Canaã está envolvido em práticas imorais e repulsivas, as quais
obrigam Yahweh a julgá-lo. O que acontece não é uma missão odiosa mandada
3
por Deus. É, sim, juízo divino para o pecado que Deus relutantemente tem
castigado desde o Jardim do Éden.
Deuteronômio 27—28 deixou mais do que claro que, se Israel pecar de forma
parecida, também sentirá os efeitos da ira do Senhor. Nesses relatos Israel não
possui qualquer carta branca moral. É apenas o instrumento humano de
intervenção divina nos negócios humanos e está nessa missão com base numa
revelação acontecida na história, da parte de Deus por intermédio de Moisés.
Josué 13—21 descreve a divisão da terra. Aqui Deus é visto como o Deus que dá
ao povo um lugar de descanso. Ironicamente Israel tem de lutar para possuir as
regiões mais distantes e remotas da terra de descanso, o que indica que não
mudou a expectativa divina de fidelidade e obediência.
Ainda assim, cometem-se erros. O povo é tão humano quanto seus pais. Mas, ao
contrário de seus genitores, confessa seus erros e aprende a evitar os castigos
severos que são resultado de ignorar a palavra explícita de Deus. Pelo fato do
povo assim proceder, o livro de Josué descreve, na prática, o maior triunfo
teológico e histórico já experimentado pela nação.
Estando Josué já perto de Jericó, olhou para cima e viu um homem de pé,
empunhando uma espada. Aproximou-se dele e perguntou-lhe: "Você é por nós,
ou por nossos inimigos? Josué 5.13
Yahweh é poderoso
Três incidentes específicos são usados pelo autor do livro para destacar o poder
de Yahweh como a causa fundamental do sucesso de Israel:
• A travessia do Jordão
• A queda das muralhas de Jericó
• O prolongamento do dia durante a batalha de Gibeão.
Yahweh é fiel
O livro abre com a garantia divina de que Sua fidelidade capacitaria Josué para
a tarefa de substituir Moisés e conquistar a terra. Os memoriais erguidos no
Jordão e as suas margens demonstravam que Israel percebia a fidelidade de
Yahweh como a razão de sua chegada à Terra Prometida (4.3-9, 18).
O resumo deste tema em Josué encontra-se nos capítulos 11.15, 16 e 23.14, 15, em
que se enfatiza não apenas a fidelidade de Deus em realizar as bênçãos, mas
também o castigo pela infidelidade da nação.
A prova de que tal tratamento não era cruel, arbitrário e caprichoso é que o
pecado de Israel foi punido com igual severidade (Js 7), de modo que a
santidade de Deus ficasse evidente a todos, israelitas e cananeus. Outra prova é
que a misericórdia divina podia se estender a não-israelitas, desde que, pela fé,
se colocassem sob a mão de Yahweh .
1. A permissão do pecado
Outro episódio que ressalta esse aspecto do propósito de Deus é a trama dos
gibeonitas, levianamente aceita por Josué e pelos anciãos de Israel (9.1-27). Este
foi o primeiro de vários enclaves cananitas que restariam entre os israelitas, e
que Deus usaria para pôr à prova o coração de Seu povo (Jz 1.19-36; 2.1-3, 20-
23).
Mais uma vez, é o incidente de Acã que fornece o principal exemplo da ação
divina contra o pecado. A verdade é que, se levarmos em conta Gênesis 15.16,
todo o livro é um exemplo dessa ação.
Em meio aos predestinados à destruição, em Canaã, uns poucos viveram por ter
lançado Sua sorte com o povo de Deus.
2. DISCIPLINA E LIBERTAÇÃO
Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo.
Juízes 17.6
Lido a partir de certa perspectiva, Juízes é um livro bem direto. Sua teologia
espelha as advertências de Deuteronômio 28.15-68, pois o povo comete
idolatria, sofre as consequências do seu pecado, arrepende-se e clama a
Yahweh por ajuda, recebe auxílio e então volta-se de novo para a idolatria (Jz
2.6—3.6).
A idolatria envolvida soa parecida com a de Êxodo 32—34 e Números 25, como
também soa parecida a resposta do Senhor à transgressão. Ademais, Israel tem
uma sequência de líderes que aparentemente ocupam o lugar de Moisés e
Josué, mas que não alcançam os mesmos padrões estabelecidos por aqueles
dois homens ou por Deuteronômio.
Finalmente, Israel depara-se com novos e difíceis adversários, os quais não têm
qualquer intenção de entregar Canaã a seus inimigos hebreus.
Título
Esse livro recebe seu título dos homens (e da mulher) que, sob a direção
espiritual e capacitação militar de Yahweh, mediaram a teocracia durante o
período entre a morte de Josué e a coroação de Saul como o primeiro rei de
Israel. O nome hebraico do livro é שפטִים
ְ (́šōp̄eṭîm), e o nome grego é κριταῖ
(kritai), ambos significando “juízes”.
9
Data
O livro oferece pelo menos uma indicação clara de sua data de composição, a
frase várias vezes repetida, naqueles dias não havia rei em Israel (18.1; 19.1),
indica uma data entre a inauguração da monarquia (c. 1050 a.C.) e a divisão do
reino ao tempo de Roboão (c. 930 a.C.), já que apenas Israel é mencionado.
Autoria
A determinação da autoria do livro é uma questão bem mais difícil que a de sua
data. O Talmude afirma que Samuel foi seu autor, mas isto é muito difícil de
provar. Quem quer que tenha sido o autor de Juízes fez uso de diversas fontes
originadas nas várias tribos de Israel.
Mensagem
Yahweh é justo
Embora Juízes pinte um quadro sombrio da vida de uma nação que se afastou
dos preceitos de vida exigidos por seu Deus, tal quadro serve para realçar a
justiça de Yahweh em fazer cumprir as maldições de Sua aliança. Pode-se
afirmar, fundamentado em Juízes, que Yahweh prefere manter Sua reputação a
permitir a ideia de que Seu caráter santo seja violado sem consequências.
Yahweh é soberano
10
O autor de Juízes menciona diversas causas pelas quais Israel não foi capaz de
efetivamente possuir toda a terra de Canaã (armamento superior dos cananeus
[1.19]; determinação dos cananeus [1.27]; e pura apostasia [2.2, 11-13]). A razão
principal, todavia, parece ser a determinação soberana de Yahweh em utilizar o
remanescente cananita para provar (e reprovar) as gerações subsequentes à
conquista (3.1-4). Essa perspectiva dupla é típica da mentalidade teocêntrica de
Israel, embora pareça contraditória a nossos olhos ocidentais.
Yahweh é misericordioso
A morte de Josué inicia uma nova era de quebra da aliança, o que os esforços
de renovação da aliança em Josué 23 e 24 procuraram adiar. A cena histórica
11
Então o Senhor levantou juízes, que os libertaram das mãos daqueles que os
atacavam. Mesmo assim eles não quiseram ouvir os juízes, antes se prostituíram
com outros deuses e os adoraram. Ao contrário dos seus antepassados, logo se
desviaram do caminho pelo qual os seus antepassados tinham andado, o
caminho da obediência aos mandamentos do Senhor. Sempre que o Senhor lhes
levantava um juiz, ele estava com o juiz e os salvava das mãos de seus inimigos
enquanto o juiz vivia; pois o Senhor tinha misericórdia por causa dos gemidos
deles diante daqueles que os oprimiam e os afligiam. Juízes 2.16-18
quais são o verdadeiro centro do que Deus começou a fazer quando chamou
Abraão a sair de Ur.
O povo não percebe que o objetivo de Yahweh não era apenas dar ao povo
escolhido um pedaço de terra, por mais significativo que fosse tal dádiva, mas
solucionar o problema do pecado mediante a criação de um sistema de perdão
dentro de uma nação que poderia agir como reino de sacerdotes para todo o
mundo. O fato de os juízes não conseguirem motivar o povo a obedecer à
aliança também cria um dilema de liderança, o qual marcará o restante do
Antigo Testamento.
Essa passagem também levanta a questão de quando, por que e como Deus
testa pessoas da aliança. Em Gênesis 22 o texto declara sem rodeios que
Yahweh decide testar Abraão para ver quem é mais importante para o patriarca:
Yahweh ou Isaque. Esse teste mostra que a fé deve ter precedência sobre
bênçãos fisicamente observáveis que Deus dá aos fiéis. O mesmo é válido em
Juízes. Os israelitas agem como se viver em Canaã fosse tudo o que desejam
considerar a respeito da aliança. Deus não permite que se deem a esse luxo. O
Senhor, sem quaisquer reservas, comprometeu-se com Israel (2.1) e espera o
mesmo do parceiro da aliança.
3. O CICLO DE JUÍZES
O que vem a seguir não será uma história de sucesso teológico, nessa parte do
texto temos a vida e a carreira dos juízes. Há juízes que cometem muitos dos
mesmos erros do povo e, às vezes, fazem coisas piores que o povo. Nesses
capítulos a decadência do povo equipara-se ao declínio moral dos juízes.
Assim mesmo os juízes são o meio de o Senhor ajudar a nação escolhida e são
os instrumentos humanos mediante os quais Deus permanece fiel ao próprio
caráter e aos israelitas. Isso ressalta talvez a época dificílima e o baixo nível do
caráter da nação.
manto para revoltar-se contra Deus (8.27). Gideão precisou ter fé para livrar
Israel, mas essa fé não remove a idolatria do futuro imediato, seja do próprio
Gideão, seja de Israel.
Sansão é uma personagem ainda mais instável do que Jefté. O anjo de Deus
anuncia o nascimento de Sansão, o que o coloca em marcante destaque, algo
que não se via desde a experiência de chamado de Gideão (13.1- 23). Sem
dúvida esse juiz é, como o próprio Israel, escolhido por Deus para propósitos
especiais. A singularidade de Sansão é ressaltada pelo fato de ele ser nazireu
desde o nascimento, chamado que, de acordo com Números 6.1-21, significa que
ele não deve tomar bebida forte, não deve tocar em cadáveres e não deve
cortar o cabelo. Ele deve ser santo para o Senhor. Deus abençoa-o, enchendo-o
com o Espírito do Senhor (13.24,25). Dessa maneira ele consegue operar
grandes atos de força e bravura porque Yahweh deseja usá-lo para castigar os
inimigos de Israel (Jz 15.4). A reação divina diante da dor do povo escolhido é
dar-lhe um líder incrivelmente capacitado.
Sansão tem uma forte inclinação por mulheres filisteias, apesar do que a lei diz a
respeito de casamento com quem não adora Yahweh (v. Dt 7.3) e apesar das
objeções de seus pais contra essa quebra de tradição. As suas inclinações,
atraem-no a uma esposa (14.5-20), a uma prostituta (16.1) e a uma amante (16.4-
17), todas elas filisteias. Muito depois de quebrar os demais votos de nazireu, sua
15
Como o povo de sua época, Sansão termina a vida sem liberdade, fazendo tudo
ao seu alcance para lançar um golpe em seus adversários. Fez tudo que se
esperava dele, quer dizer, exceto consagrar-se sem ressalvas ao Deus que
reagiu com misericórdia a cada uma das súplicas sinceras de livramento feitas
pelo povo.
Em nenhum momento de Juízes 17—21 o texto declara que o senhor traz uma
nação estrangeira para punir Israel, mas descreve o povo escolhido como
pessoas entregues aos resultados da própria iniquidade. O principal resultado é
uma guerra civil causada pela impiedade sem freios do povo. Até esse momento
do livro Deus vem reagindo com justiça e misericórdia. Agora o senhor reage,
deixando que a nação se entregue às suas tendências violentas e destrutivas, as
quais são a consequência natural de sua fé dividida em Yahweh e de seu amor
ostensivo por outros deuses.
Um homem chamado Mica rouba prata da mãe e então confessa o roubo para
ela. Alegre e satisfeita por ter a prata de volta, ela consagra o metal para a
confecção de um ídolo, após o que, o filho contrata um levita de Belém para ser
sacerdote desse ídolo e da família (17.1-13). Entendendo a aliança mosaica de
forma totalmente errada, Mica acha que Deus irá abençoá-lo porque conseguiu
um levita para dirigir a adoração do ídolo (17.13). No episódio seguinte, alguns
danitas planejam conquistar uma cidade calma e tranquila e pedem ao levita
que consulte Yahweh se devem atacar a cidade. O sacerdote do ídolo diz que o
Senhor está com eles (18.1-6). Quando conquistam a cidade, ficam tão satisfeitos
com o levita, que o levam como seu sacerdote, prometendo-lhe o tempo todo
maior salário e reconhecimento. Ameaçam matar Mica, que quer seu sacerdote
de volta (18.7-30). Assim que se instalam, adoram o ídolo feito pela mãe de Mica
(18.31).
16
Talvez, dentre os relatos que encontramos nas Escrituras, nenhum outro seja
moralmente mais repugnante do que o de Juízes 19. A degeneração moral e
social de Israel é ilustrada pelos episódios de atrocidade em Gibeá e pela guerra
nacional contra Benjamim (19.1–21.25).
Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo.
Juízes 21.25
A permissão do mal
Esses ciclos (3.6–16.31) sempre iniciam com uma volta ao pecado. Esse pecado,
principalmente de natureza religiosa, possivelmente causado pelo apelo ao
baalismo em uma sociedade agropastoril e pelo constante problema de
casamentos mistos entre os israelitas e os povos vizinhos (3.6, 7). O pecado
trouxe a desintegração da sociedade e a opressão dos inimigos, que somente o
arrependimento e a busca a Deus pela obediência poderiam superar.
Exemplos:
O primeiro ciclo registrado é o da invasão dos arameus (3.6-11), que foi causada
pelo conhecido binômio esposas estrangeiras – deuses estranhos (3.6, 7). Oito
anos de opressão, sob o jugo dos arameus (3.8), colocaram Israel de joelhos
(3.9), e Yahweh supriu livramento por intermédio de Otniel (3.9, 10). A soberania
de Yahweh sobre as nações é enfatizada como a causa da vitória de Otniel e do
período de repouso que se seguiu (3.10, 11).
Nos dois casos, todavia, a narrativa deixa claro que as possibilidades inerentes
aos propósitos divinos foram, de alguma forma, tolhidas pela inadequação dos
escolhidos em relação à plenitude das funções que lhes foram dadas.
Sansão, por seu turno, desperdiçou a capacitação sobrenatural que lhe fora
concedida pelo Espírito, violando cada uma das imposições de seu voto de
nazireu e vivendo uma vida de sincretismo moral, que refletia o sincretismo
religioso de seu povo.
Isso não significa que Deus pactua com o mal, pois o preço de tal negligência
para com o privilégio recebido foi a completa ruína da família, no caso de
Gideão, e a humilhação e morte inglória, no caso de Sansão.
4. A TEOLOGIA DE RUTE
Em Josué e Juízes, o foco da revelação está na terra que Deus prometeu aos
descendentes de Abraão. Em Rute, o foco passa para a semente que Ele
prometeu. Em particular, a semente em vista é a que viria da tribo de Judá para
dominar o povo de Deus (Gn 49.10).
O título desse breve livro é o nome de seu personagem principal, uma mulher
moabita chamada Rute. A etimologia desse nome é incerta, embora esteja
frequentemente ligado à palavra hebraica ́( ְרעּותreʿûṯ), que significa “amizade,
companheirismo”.
Contexto histórico
A narrativa tem como pano de fundo o período dos juízes (1.1), um tempo de
apostasia e, consequentemente, caos moral e social em Israel. Em consonância
com as maldições da aliança, uma fome assolou a terra, forçando uma família
efratita a migrar para a terra vizinha de Moabe.
Mensagem de Rute
21
O Senhor lhe retribua o que você tem feito! Que você seja ricamente
recompensada pelo Senhor, o Deus de Israel, sob cujas asas você veio buscar
refúgio! Rute 2.12
Em Rute, a soberania de Yahweh é ressaltada por sua presença nas duas breves
orações contidas no capítulo 2, nas quais Boaz expressa o desfecho do livro em
relação a Rute, reivindicando-o de Yahweh (2.12), e Noemi o faz em relação a
Boaz (2.20).
Outros episódios que sugerem a soberania de Yahweh são a morte dos filhos de
Noemi, que fornecem a Rute a oportunidade de conhecer pessoalmente Yahweh
como o seu Deus, a menção da casualidade humana do encontro de Rute e
Boaz, um notável artifício literário do autor, destinado a produzir no leitor a
sensação inversa, causalidade divina, e, a reversão da sorte de Noemi e Rute, da
viuvez e esterilidade em Moabe para a vida em família e a concepção (1.4, 5 e
4.13-15).
O livro de Rute atesta que o plano de Deus não pode ser frustrado nem mesmo
pela anarquia egoísta do seu povo que dominou o período dos juízes. Deus está
no governo de toda história!
Rute, porém, respondeu: não insistas comigo que te deixe e não mais a
acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e
o teu Deus será o meu Deus!
Rute 1.16
O livro de Rute revela muito sobre o plano de Deus. Mas também faz importante
contribuição para compreendermos como Deus trata as pessoas.
plano de levar bênção para o mundo inteiro. A chave era a fé no Senhor. Pode
ser que ela tivesse mais fé que muitas outras mulheres dos seus dias. A
confiança no Senhor venceu todas as outras limitações e qualificou-a para o uso
de Deus.
Rute teria sido vista com desaprovação pelos outros israelitas, porque ela era
mulher moabita, mas também porque era necessitada e viúva. Boaz viu além da
necessidade exterior e posição social inferior, contemplando-lhe o caráter
excelente e íntegro que foi purificado, podemos presumir, pela fé no Senhor.
Semelhante a Deus, Boaz estava disposto a colocar Rute em seus planos por
causa da fé dela e pelo que tinha acontecido na sua vida. Boaz e Deus não só
anularam a lei mosaica, mas também a tradição e as convenções sociais por
causa da fé de Rute. A graça de Deus superabundou no caso de Rute.
A última seção do livro de Rute refere-se a Perez (4.18). Perez era filho de Judá
que nasceu de uma mulher cananeia. A referência a Perez relaciona Davi à
linhagem de Judá da família de Abraão. A referência a Perez também exalta
ainda mais a graça de Deus, lembrando ao leitor que Deus, na história antiga, foi
gracioso com outra estrangeira e a incorporou na família de Israel, inclusive na
linhagem especial de bênçãos da mesma maneira que ele fez com Rute.
A permissão do mal
A fome, enviada por Yahweh como disciplina contra Seu povo, é o elemento de
tragédia que Ele utiliza para abrir as comportas de Sua graça. Igualmente, as
mortes do marido e filhos são instrumentos para que Noemi venha a conhecer o
verdadeiro significado da plenitude (1.20, 21). Em escala menor, a falta de
compromisso do resgatador mais próximo é um mal que culmina com a perfeita
solução para os problemas de Noemi e Rute, o descanso verdadeiro na provisão
de Yahweh.
Esta linha de ação não se apresenta no livro de Rute, exceto talvez na disciplina
nacional mencionada em 1.1. Alguns expositores preferem estender essa
disciplina às mortes de Elimeleque e seus filhos, mas o texto não oferece
sustento a essa tese. É fato que a tradição judaica considera a morte dos
24
rapazes uma punição por ter deixado Judá, mas tal razão não encontra eco na
teologia mosaica. Uma ligeira possibilidade de significado judicial na morte de
Malom e Quiliom acha-se em Deuteronômio 4.27.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
1. A TEOLOGIA DE SAMUEL
2. A TEOLOGIA DE REIS
1. A TEOLOGIA DE SAMUEL
1 Samuel 15.22
O livro de Samuel está situado numa posição central e estratégica no que se
refere às questões históricas, teológicas, canônicas e críticas. Esses relatos
fazem ligação entre a era de incerteza experimentada por Israel com a liderança
dos juízes, o surgimento da monarquia com Saul e o relativo desenvolvimento
da monarquia com Davi. Esses relatos também registram a luta de Israel para
subjugar os inimigos que ainda não haviam sido dominados desde a conquista
(Jz 2.1-5).
Título
A mensagem de Samuel
• A soberania de Deus
É quase impossível deixar de perceber este tema nos livros de Samuel, e seus
exemplos mais luminosos ocorrem no primeiro volume. A intervenção em favor
de Ana e sua contínua fertilidade, depois de Samuel ter sido efetivamente
dedicado a Yahweh, são o primeiro exemplo da capacidade divina de controlar
a vitalidade do indivíduo em resposta à fé humilde.
E Samuel disse a toda a nação de Israel: "Se vocês querem voltar-se para o
Senhor de todo o coração, livrem-se então dos deuses estrangeiros e dos
postes sagrados, consagrem-se ao Senhor e prestem culto somente a ele, e
ele os libertará das mãos dos filisteus". 1 Samuel 7.3
E o Senhor lhe respondeu: "Atenda a tudo o que o povo está lhe pedindo;
não foi a você que rejeitaram; foi a mim que rejeitaram como rei. 1 Samuel
8.7
• A lealdade pactual
exemplos principais são Eli e seus filhos, os moradores de Bete-Semes, Saul (do
meio para o fim do reinado) e Nabal.
Esse conceito da lealdade pactual de Deus tem por referencial não apenas a
aliança deuteronômica, mas também a abraâmica, que subjaz o propósito
aparente do autor em descrever o funcionamento da aliança deuteronômica na
história da nação.
• A imutabilidade de Deus
• O incidente de En-Dor
5
Voltarei o meu rosto contra aquele que procurar médiuns e espíritas para segui-
los, prostituindo-se com eles. Eu o eliminarei do meio do seu povo. Lv 20.6
Os homens ou mulheres que, entre vocês, forem médiuns ou espíritas, terão que
ser executados. Serão apedrejados, pois merecem a morte. Lv20.27
Quando entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, não procurem
imitar as coisas repugnantes que as nações de lá praticam. Não permitam que
se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha;
que pratique adivinhação, ou dedique-se à magia, ou faça presságios, ou
pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium ou espírita ou que
consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas, e
é por causa dessas abominações que o Senhor, o seu Deus, vai expulsar aquelas
nações da presença de vocês. Dt 18.9-12
Corrigindo a má interpretação
Outros têm sugerido que a feiticeira não fez realmente que subisse Samuel, mas
simplesmente forjou ter feito isso. Sustentam essa afirmação referindo-se a
demônios que enganam pessoas que procuram contato com os mortos (Lv
19.31; Dt 18.11; 1Cr 10.13), e também usando o argumento de que os demônios
algumas vezes declaram a verdade (At 16.17). As objeções a essa visão incluem
o fato de que a passagem parece dizer que Samuel retornou de entre os mortos,
que ele entregou uma profecia como sendo Samuel e que esta se cumpriu, e
que não seria comum que demônios tivessem declarado a verdade de Deus,
uma vez que o diabo é o pai da mentira (Jo 8.44).
Um outro ponto de vista é que a feiticeira não teria trazido Samuel de entre os
mortos, porém o próprio Deus teria intervindo para reprender Saul por seus
pecados:
• Samuel parecia ter realmente voltado (14,20), mas nem humanos nem
demônios possuem o poder de trazer alguém de volta de entre os mortos
(Lc 16.24-31; Hb 9.27).
• A própria feiticeira pareceu ter ficado surpresa com a aparição de Samuel
de entre os mortos (v.12).
• Há uma condenação direta à feitiçaria no verso 9.
• Deus algumas vezes fala em lugares inesperados, através de meios não
usuais, como foi com a jumenta de Balaão (Num 22).
A Palavra de Deus deixa bem claro que o verdadeiro profeta seria medido pela
veracidade. Não há motivos para crer que o suposto “Samuel” fosse o profeta e
que teria retornado dentre os mortos, visto que sua profecia não se cumpriu
quando:
• Disse a Saul que ele e seus filhos estariam mortos. Nem todos os filhos
morreram no combate (2Sm 2.10).
7
• Disse que seriam entregues nas mãos dos filisteus. Saul não foi capturado
vivo pelos filisteus, mas suicidou-se (1Sm31.4).
Dessa forma, percebe-se pala profecia do suposto “Samuel” que ele não falou a
verdade, sendo, portanto, um demônio, e não o espírito do profeta.
Além do mais, a Bíblia não diz que Saul viu o “profeta”, e sim que a feiticeira o
viu. Satanás, e não o profeta, falou através da feiticeira.
Quanto a você, sua dinastia e seu reino permanecerão para sempre diante
de mim; o seu trono será estabelecido para sempre". 2 Samuel 7.16
• Yahweh é gracioso
No primeiro evento (7.1–17), a graça fica evidenciada na maneira pela qual Deus
assume o cuidado de Davi (e, por meio dele, de toda a nação). Em vez de
permitir que Davi Lhe construa uma casa (que O tornaria, de alguma forma,
devedor ao rei), Yahweh promete abençoar Davi de tal forma que tudo que seus
descendentes pudessem oferecer a Ele seria apenas uma ínfima resposta àquela
demonstração inicial do amor divino. O amor leal de Yahweh não é o fruto do
amor leal do homem, mas a causa.
Sempre estive com você por onde você andou, e eliminei todos os seus
inimigos. Agora eu o farei tão famoso quanto os homens mais importantes
da terra. 2 Samuel 7.9
E, como se isso não bastasse para ti, ó Soberano Senhor, também falaste
sobre o futuro da família deste teu servo. É assim que procedes com os
homens, ó Soberano Senhor? 2 Samuel 7.19
8
A graça de Deus também brilha em perdão, pelo fato de que o hediondo crime
de Davi, embora jamais tolerado, é perdoado. Adultério e homicídio
premeditado são tratados não conforme a Lei Mosaica, que prescrevia a pena
capital para ambos (Lv 20.10; Êx 21.14), mas de acordo com a graça que detecta
o arrependimento e a confiança no caráter misericordioso de Yahweh.
• Yahweh é severo
Então, Davi encheu-se de ira contra o homem e disse a Natã: "Juro pelo
nome do Senhor que o homem que fez isso merece a morte! Deverá pagar
quatro vezes o preço da cordeira, porquanto agiu sem misericórdia". 2
Samuel 12.5,6
A vida de Davi é prova clara de que o perdão espiritual não garante isenção da
vergonha, do sofrimento e da tristeza, que invariavelmente acompanham o
9
pecado em suas muitas formas. Yahweh escolheu perdoar a culpa sem poupar-
lhe as consequências.
Yahweh é soberano
Passado algum tempo, Davi perguntou ao Senhor: "Devo ir para uma das
cidades de Judá? " O Senhor respondeu que sim, e Davi perguntou para
qual delas. "Para Hebrom", respondeu o Senhor. 2 Samuel 2.1
Depois Davi consolou sua mulher Bate-Seba e deitou-se com ela, e ela teve
um menino, a quem Davi deu o nome de Salomão. E o Senhor o amou. 2
Samuel 12.24
• A permissão do mal
Esta linha de ação divina tem seu primeiro exemplo na narrativa do nascimento
de Samuel e em sua gradativa capacitação para servir como o agente divino de
libertação (caps. 1–3, 7). Saul desperdiça sua oportunidade de tornar-se o
instrumento escolhido por Deus, a despeito de agir assim por algum tempo
(caps. 11, 14–15 [em que, todavia, Jônatas desempenha o papel mais positivo]).
Davi torna-se a semente escolhida, e, após poucos parágrafos, o autor
demonstra a disposição do jovem pastor em cumprir tal papel como também
sua capacidade de agir como libertador (17; 18.7, 14). A despeito de falhas éticas,
que o autor não faz qualquer questão de esconder, Davi permanece como o
principal libertador de Israel, à medida que Saul vai desaparecendo de cena
devido à sua conduta autodestrutiva. Quando o livro termina, com a família de
Saul dizimada, Davi aparece como a única alternativa para que Israel sobreviva
como nação livre.
Esta quarta linha de ação divina não é muito proeminente em 1 Samuel, pois sua
aparição aguarda a plena manifestação de Davi como o regente escolhido de
Yahweh, o rei cuja casa Ele promete estabelecer para sempre. Apesar disso, há
indícios presentes em 2.9, 10, quando Ana antevê a bênção de Yahweh sobre os
humildes e a escolha de um ַשיח
ִׁ ( ָמmās̆îah, “Ungido”), como também na promessa
do profeta anônimo a Eli (2.35), em que Yahweh promete abençoar e
estabelecer a casa de Seu sacerdote fiel (promessa cumprida em Zadoque).
12
2. A TEOLOGIA DE REIS
Os dois livros de Reis compreendem, na verdade, uma única obra literária, que a
tradição judia preservou como uma unidade chamada ( ְׁמ ָלכִׁיםmelāḵîm, “reis”).
Essa obra foi dividida em duas partes pelos tradutores da Septuaginta, uma
tradição continuada pela Vulgata e outras traduções.
O livro de Reis defende, talvez mais do que qualquer outra obra canônica, um
compromisso de todo o coração com o único Deus que existe, cria, faz aliança e
dá a terra.
Mensagem
Yahweh é santo
Yahweh é gracioso
Ele demonstra Seu amor leal a Seus servos (1 Rs 8.22), derrama copiosamente
riqueza e sabedoria (3.12-14), restringe o julgamento à vista do arrependimento
do mais vil pecador (21.28,29), cura estrangeiros e revela-lhes Seu caráter (2 Rs
5.1-19a), como também não abre mão de Seus propósitos graciosos mesmo
quando Seu profeta sugere que um Israel crivado de pecados chegou “ao fim da
picada” pactual (1 Rs 19.9-18).
Yahweh é fiel
No livro de Reis o mal aparece na luta espiritual pelo coração dos reis,
primariamente os da linhagem de Davi, que são confrontados com a escolha de
seguir os passos de seu ilustre antepassado ou os caminhos tortuosos da
idolatria, quer em sua versão conforme Jeroboão, quer na versão balística.
Essa atividade assumiu formas diversas em Reis. O mal em Israel e Judá foi
muitas vezes purgado por meio de invasão e opressão estrangeira (Yahweh
usou egípcios, sírios, moabitas, filisteus, assírios e babilônios para isso). No plano
interno, o juízo foi mediado por profetas (Elias e Eliseu) e reis (Jeú, que
16
Essa linha de ação divina está presa à aliança davídica, que, no livro, é mais
notável pelo fracasso de seus representantes; isso mantém acesa na mente do
leitor a questão de quando viria o Filho de Davi, tão esperado.
O culto
Uma aparente tensão, que existiu desde o começo da habitação em Canaã, foi a
centralização do culto exigida em Deuteronômio 12, 14 e 16 e a existência dos
17
Quando o templo foi construído, Israel partiu de uma premissa básica, a de que
o templo não poderia conter ou limitar Yahweh, que era universal e onipresente
(1 Rs 8.27). O templo era o local de Sua manifestação em glória, beleza,
santidade e justiça, onde o desfavorecido e explorado podia buscar ajuda (8.21).
A universalidade de Yahweh era vista no fato do estrangeiro poder orar a Ele,
caso tivesse se identificado com Seu povo (8.41-43), e no fato de que a oração
de Israel no Exílio seria ouvida se dirigida ao templo (8.46-51). Certamente essa
passagem é a base da ação de Daniel quando confrontado com o edito de Dario
(Dn 6) e com o fato dos 70 anos de cativeiro preditos por Jeremias estarem se
cumprindo (Dn 9). Essa prática permanece na mentalidade islâmica.
Infelizmente, com o passar dos séculos, a confiança foi desviada Daquele que
habitava no templo para o Templo em si, o mesmo erro que Israel praticou em
relação à arca (1 Sm 4).
A profecia
Elias e Eliseu são dois casos peculiares no movimento profético em Reis, pois
cumprem uma função sócio-político-religiosa singular, a de ministrar a graça
pactual de Yahweh na resistência ao baalismo e no desmantelamento do
aparato religioso criado para sustentar essa falsa religião.
18
• O Profeta Elias
O nome Elias significa “Jeová é meu Deus.” Um nome relevante numa época em
que o culto a Baal ameaçava extinguir o culto a Yahweh em Israel. Seu
ministério se desenvolveu principalmente no período do reinado de Acabe.
Acabe, rei de Israel, casou com a princesa de Sidom, Jezabel. Seu reinado foi
marcado pelas loucuras de sua esposa e pela adoração a Baal. Surgindo
inesperadamente do deserto e pondo-se diante do rei corrupto, o profeta lhe
falou ousadamente: “Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel em cuja
presença estou, nem orvalho nem chuva haverá nestes anos, segundo a minha
palavra” (1Rs 17.1). Deus lhe deu poder para fechar os céus de tal modo que não
chovesse durante três anos e meio.
Ele também pediu que descesse fogo do céu diante dos profetas de Baal no
monte Carmelo. Elias foi um grande profeta do seu tempo, trazendo duras
advertências ao povo idólatra. Segundo a pregação de Elias, apenas por
intermédio de Deus viria a fertilidade da terra. Em tempos de seca e flagelos
agrários, o povo era tentado a olhar para Baal, o deus da fertilidade cananita, e
buscar socorro. Elias é enfático em sua mensagem contra essa ilusão do povo,
mostrando que só Deus pode socorrer.
Além de sua mensagem principal, os textos sobre Elias relatam uma batalha
entre eles e os profetas de Baal (1Rs 18), a predição da seca (1Rs 17.1), as ações
milagrosas de provisão e ressurreição (1Rs 17.2-24), sua fuga para a região de
19
Berseba (1Rs 19). Também pregou contra a apropriação indevida de terras pelo
rei Acabe (1Rs 21).
• O profeta Eliseu
Ele foi o sucessor de Elias, seu ministério durou cinquenta anos. Atuou na
política bem mais que seu mestre Elias. Foi Eliseu que ungiu Jeú, e mandou que
ele exterminasse a família de Acabe. Eliseu, assim como Elias, se mostrou zeloso
pela adoração a Yahweh e foi contra o sincretismo religioso. Como Elias
também realizou milagres, inclusive ressurreição (2Rs 4.32-36). O ministério
desse profeta foi marcado por uma série de milagres que revelavam sabedoria e
poder, operados em nome do Senhor. O efeito de tais milagres tinha por fim,
provar que Yahweh era o único Deus.
Elias
Eliseu
Desde os dias dos nossos antepassados até agora, a nossa culpa tem sido
grande. Por causa dos nossos pecados, nós, os nossos reis e os nossos
sacerdotes temos sido entregues à espada e ao cativeiro, ao despojo e à
humilhação nas mãos de reis estrangeiros, como acontece hoje. Mas agora,
por um breve momento, o Senhor nosso Deus foi misericordioso, deixando-
nos um remanescente e dando-nos um lugar seguro em seu santuário, e
dessa maneira o nosso Deus ilumina os nossos olhos e nos dá um pequeno
alívio em nossa escravidão. Esdras 9.7,8
Sem entrar na discussão da identidade do autor (ou autores) dessas obras, esse
fato singelo sugere que há uma continuidade temática entre as duas obras, além
da óbvia continuidade histórica. Há também uma preocupação com a visão que
os exilados que voltaram a Judá para reconstruir a comunidade da aliança
tinham de seu Deus e do processo histórico em que estavam envolvidos.
Mensagem
Esdras
Neemias
Yahweh é gracioso
As quatro linhas de ação de Deus, na história, por meio das quais ele opera para
restabelecer Sua soberania mediada sobre o universo, estão claramente
presentes em Esdras e Neemias.
A permissão do mal
Ambos os autores ressaltam que o mal que sobreveio ao povo de Israel fora
predito e permitido por Deus. Na verdade, em uma típica expressão da
cosmovisão judaica, o castigo que sobreveio à nação foi atribuído diretamente a
Deus (Ne 9.27; Ed 5.12), ainda que agentes humanos o tivessem executado. A
tolerância divina para com o pecado em Seu povo (Ne 9.16-18, 26) nunca
poderia ser interpretada como indiferença ou ignorância.
Esdras via a punição do mal em Israel como algo frequente que vinha desde os
antepassados e era, na verdade, a marca registrada da nação (Ed 9.7), pois o
alívio era temporário (9.8) e a punição menor que a merecida (9.13).
Esdras reconhecia que a intervenção era divina, e que era apenas o prenúncio
de coisas maiores. A própria continuação do versículo indica que ele via a volta
da comunidade pós-exílica e seu estabelecimento em Jerusalém e arredores
como um renascer. Além do mais, as intervenções soberanas de Deus na história
persa recente (Ed 5.5) demonstravam que Seu povo podia continuar contando
com Sua graça libertadora em seu favor.
Conclusão
Pois, se você ficar calada nesta hora, socorro e livramento surgirão de outra
parte para os judeus, mas você e a família de seu pai morrerão. Quem sabe
se não foi para um momento como este que você chegou à posição de
rainha? Ester 4.14
Mensagem
Yahweh é soberano
Esta, sem dúvida, é a faceta que mais se percebe em Ester. Naturalmente, não
há declarações explícitas a respeito, mas os olhos da fé podem perceber no
cuidado providencial de que os personagens principais do livro − Ester e
Mardoqueu − são alvo.
Yahweh é fiel
É de se notar que embora o decreto para extermínio dos judeus visasse todo o
império, a ênfase recai sobre os moradores de Susã, judeus que não haviam se
comprometido com o retorno a Jerusalém e com a reconstrução da
comunidade judia pós-exílica. Yahweh, mesmo diante da indiferença de grande
parte de Seu povo, se manteve fiel à preservação de Israel, Seu povo pactual.
Os atos de Deus
Ester demonstra como Deus trabalha por meio das circunstâncias e detalhes
aparentemente acidentais para cumprir Sua antiga promessa de proteção,
recompensa, e castigo, dependendo de como o indivíduo ou a nação tratasse
Israel (Gn 12.1-3). No entanto, o principal propósito do livro é demonstrar como
Deus provou ser fiel, mesmo quando Israel, quase em sua totalidade, se manteve
alheio a Sua intervenção na História. A Festa de Purim é um meio de Israel
relembrar tal fidelidade e regozijar-se por sua manifestação histórica nos dias de
Mardoqueu.
O capítulo 2 contém a ideia do livro na qual apresenta Ester, uma judia, sendo
trazida ao harém real como uma entre muitas “candidatas”, conforme a
recomendação dos conselheiros (2.1-10). No palácio real, Ester conquista a
29
O autor deixa claro que esse decreto, levado a todas as 127 províncias, era uma
monstruosidade, que nem mesmo os persas pagãos conseguiam entender (3.12-
15). Para os judeus isso foi como um toque fúnebre, já que o império persa
ocupava possivelmente todo o Oriente Médio e toda a Ásia Menor, incluindo
ainda o Egito, Sudão, e parte da Índia. Escapar, seria impossível!
Ester, violando o protocolo da corte, aparece diante do rei sem ser convocada;
essa quebra de protocolo poderia ter lhe custado a vida, mas outra vez a
soberania de Deus prevalece e sua petição é reconhecida (5.1-3). Enquanto o
plano de Ester para interceder pelos judeus incluía banquetes para o rei e Hamã
(5.4-8), Deus usaria tais planos para concretizar os Seus. Ester, ao adiar sua
30
O restante do livro trata da reversão dos efeitos do edito genocida que ainda
vigorava devido à natureza da lei persa. O rei deixa o assunto na mão de
Mardoqueu (8.1-8), que redige um edito autorizando os judeus a se armar e
defender suas vidas e propriedades contra seus inimigos (8.9-17). A data seria a
mesma, o 14º dia do mês de adar, a mesma data que o sorteio (Purim) havia
apontado para o genocídio planejado por Hamã.
Sem dúvida, o presente capítulo atribui uma atuação divina maior do que alguns
comentaristas poderiam aceitar. Afinal de contas, não foi dito que o Senhor
realizou qualquer coisa em Ester, ao menos não explicitamente. A teologia de
Ester é sutil e está encoberta numa aproximação inicial. Contudo, como parte
do cânon, o livro participa de uma apresentação contínua das obras de Deus e
de seus ensinamentos na história. Sua presença no cânon assinala Ester como a
parte de um todo teológico, e essa parte testemunha que os planos de Deus
para Israel não podem ser contrariados pelos que odeiam os judeus. Na
realidade, Ester indica que os planos de Deus para todas as pessoas,
independente de raça ou status pactual, não podem ser contrariados. Deus é
soberano sobre judeus e gentios em Ester, da mesma forma como ocorre no
resto do cânon.
Como a Bíblia explica o nome dessa festa deriva da palavra Pur, que significa
“sortes” (9.24), era um costume persa de lançar sortes por meio de dados no
início do ano para estabelecer datas para eventos importantes. Os dias 14 a 15
de adar (9.21) teriam sido uma dessas datas, apropriadas por Hamã para
executar o terrível plano de exterminar os judeus. Tal costume era fruto de uma
profunda crença em um destino premeditado pelos persas, de forma que a
transformação de um dia de luto e sofrimento em dia de festa e alegria foi mais
do que libertação do povo de Deus: foi uma comprovação e afirmação da
soberania de Deus acima de qualquer crença generalizada em um destino
predeterminado.
Essa festividade sempre foi popular entre os judeus, desde seu início. Além de
leitura do livro de Ester, e dos gritos de vaias toda vez que o nome de Hamã é
lido, o leitor do relato pronuncia todos os nomes dos filhos de Hamã de um só
fôlego, indicando que foram enforcados juntos. No segundo dia de celebração
há um culto religioso formal, são entoados hinos, há encenação teatral e são
apresentadas recitações. Alimentos e presentes são distribuídos entre os pobres
como um gesto de generosidade, em memória da generosidade de Deus para
com seu povo (9.19).
A Festa do Purim revela que uma situação nunca é tão desesperadora que não
exista uma brecha para Deus agir e revertê-la para o bem de quem O busca.
O Purim é uma lembrança antiga para os povos modernos que se não houver
perspectiva para o futuro nada poderá libertar alguém preso aos medos e
lamentos do passado.
Aplicação
No passado, Jesus morreu numa cruz por nossos pecados e deixou o memorial
da Santa Ceia para olharmos para trás com perspectiva positiva e cheios de
esperança para o futuro (Mateus 26.26-29).
No presente, devemos reconhecer que Jesus morreu para que sejamos libertos
do pecado, livres dos decretos de condenação e morte e, alegres pelo fato dEle
ter revertido a situação terrível do pecador (Efésios 2.1-7).
BIBLIOGRAFIA
BÍBLIA. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2013.
1.TEOLOGIA DE JÓ
1. TEOLOGIA DE JÓ
Na terra de Uz vivia um homem chamado Jó. Era homem íntegro e justo; temia
a Deus e evitava o mal.
Jó 1.1
Mensagem do livro
Discursos
Jó estava sofrendo tanto por causa de um Deus estava sendo duro demais com ele,
pecado não confessado (provavelmente um castigando demasiadamente um homem justo
pecado terrível), pelo qual Deus o estava e temente ao Senhor
castigando.
Todos pecaram. Não há ser humano justo Sou pecador, sim. Mas sou justo e inocente
sobre a terra (15.14-16;25.4). diante de Deus (9.2-3,20-22;19.4;31.4-37).
Você está louco ou vaidoso demais para dizer Não sei por que Deus me castiga assim, mas sei
que é inocente e que não merece o castigo que não fiz nada (tão grave) para merecer
divino (8.2-7,20-22). tanto sofrimento. Minha consciência está limpa
(10.2-3;13.14-24;27.2-6).
O justo recebe bênçãos de Deus; já o Deus permite, sim, que perversos prosperem e
perverso é punido por Deus com sofrimento sejam felizes, bem como que justos tenham
(4.8-9;5.3-16;11.10-20;15.20-35;18.5-21;20.4-8). dificuldades e não experimentem alegria na
vida (9.22;21.7-13,19-25).
Você se rebelou contra Deus e o acusa de Deus é todo poderoso e faz o que quer. Isto é
injustiça (34.5,7,36-37). parte do plano dele, que estou achando difícil
de aceitar (9.4-12;10.12-13;23.13-14).
Uma teologia incompleta tem colocado a reputação de Deus em risco. Sem uma
avaliação do fato de que Yahweh permite o sofrimento como meio de mostrar
que ele merece ser servido sob todas as condições, os amigos decidem que
aquele homem aparentemente íntegro é de fato um terrível pecador. Não
completamente ciente de todos os fatos, Jó cogita com seriedade sobre a
noção de que Deus talvez não seja amoroso e justo. Sem esse conhecimento,
seus amigos consideram Deus insensível e categórico, enquanto Jó vê Yahweh
como muito rigoroso e quase insuportável. De qualquer modo, tal retrato de
Deus pouco se assemelha ao do contexto integral da Lei, dos Profetas e dos
Salmos.
Os quatro amigos não acreditam que Jó seja fiel a Yahweh, nem pensam que
Deus o responderia se ele fosse íntegro. Para eles, o Senhor é indiferente,
contentando-se em falar aos seres humanos por visões misteriosas (v.4.12-21),
5
Jó não sabe como tais coisas são feitas e mantidas, assim, ele confessa a
necessidade de calar-se perante Deus (40.3-5).
perseguir demandas sem fim que acabam apenas com a morte. Seu defensor/
redentor de fato vive e se comunica com ele.
Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te
viram. Jó 42.5
Essa parte do livro de Jó repercute em vários textos canônicos nos quais Deus
ouve os clamores dos aflitos e age a seu favor:
Tudo, exceto os filhos perdidos, retorna ao sofredor. Seus amigos são forçados
a admitir que estavam errados sobre o que disseram. A retomada da amizade
depende da intercessão de quem eles haviam acusado. A disposição de Jó em
fazê-lo demonstra sua honradez e generosidade.
8
Nos Salmos, mais do que em qualquer outro lugar da Bíblia, pode-se ouvir bater
o coração dos santos. Neles encontramos as expressões mais exaltadas da
grandeza de Deus; os gemidos mais amargos dos pecadores e dos aflitos. Nos
Salmos, encontramos algo para qualquer pessoa, seja qual for seu estado de
espírito”.
9
Assim, encontramos nos Salmos a revelação feita por Deus, mediada pelas
orações e hinos dos fiéis, de Sua soberania, afirmada e ansiada em meio aos
desafios da vida. O autor Carlos Osvaldo propõe que a mensagem global de
Salmos seja a seguinte:
Yahweh é o Criador
Yahweh, por fim, é apresentado como o criador do homem, Sua obra-prima (8.5,
6 [4, 5]). Devemos observar que o salmo 8 não é uma mera expressão de alegria
11
Quando sopras o teu fôlego, eles são criados, e renovas a face da terra.
Salmos 104.30
Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim
foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir. Salmos 139.16
Ainda que, como ocorre em nossos hinos pátrios, a nação seja idealizada e
descrita em termos que superam em muito a realidade, o fato de Israel dever
seu surgimento e existência como nação a Yahweh não é mera poesia, mas um
fato que fica evidente em várias passagens, algumas das quais se reportam,
como o evento histórico marcante, aos patriarcas, outras ao êxodo e outras à
aliança davídica.
No Salmo 95, que combina salmo de louvor descritivo com exortação profética,
o termo ( ע ֹשֶהʿōśeh, “Criador”) tem referência específica a Israel como nação de
adoradores e rebanho do qual Yahweh é o pastor (v. 6). O mesmo termo é
empregado em 100.3. O Salmo 149.2 é ainda mais enfático, retratando a dívida
de gratidão que Israel tinha para com Yahweh como seu עֹשֶהe dívida de lealdade
para com Yahweh como seu Rei.
Alegre-se Israel no seu criador, exulte o povo de Sião no seu rei! Salmos
149.2
O Salmo 105 exorta a nação a ser grata a Yahweh, divulgar Sua grandeza e
confiar nEle. Os versículos 6 a 11 destacam o evento-chave nesse
relacionamento, a fidelíssima promessa a Abraão, Isaque e Jacó – Sua aliança
perpétua e Seu juramento ligado à preservação do povo e à posse da terra. O
êxodo do Egito (com os eventos relacionados, a doação da lei e instituição do
culto), que foi o estabelecimento formal de Israel como nação, é celebrado nos
versículos 23 a 43 do mesmo salmo, que termina sua resenha histórica com a
conquista de Canaã e o cumprimento inicial da promessa feita aos patriarcas
pelo Criador da nação.
O Salmo 74, lamento da nação, dedica uma de suas seções (74.12–17) a recordar
o fato de que a criação de Israel foi também um ato de redenção no qual o Rei
eterno trouxe “salvação sobre a terra” (ָָארץ
ֶ י ְשּועֹות ְבק ֶֶרב ה, yešûʿôṯ beqereḇ hāʾāreṣ,
lit. “salvação no meio da terra”).
Mas tu, ó Deus, és o meu rei desde a antiguidade; trazes salvação sobre a
terra. Salmos 74.12
Por fim, o Salmo 114 apresenta Israel como o santuário em que a presença santa
e gloriosa de Yahweh se faria sentir na terra (1,2). Este salmo ecoa as palavras
de Moisés em Êxodo 15.17,18. Ali, a ênfase se acha na terra de Canaã como o
local escolhido por Yahweh para Sua habitação entre os homens. Ambas
13
Yahweh, que é Rei sobre as nações, aparece como alguém que ama a justiça e a
retidão em 33.5 e 99.4. Essas duas qualidades formam a base para Seu exercício
de autoridade (97.2).
Ele exerce Sua justiça em favor dos oprimidos e desvalidos (113.7, 9; 146.7-9), no
tempo e no espaço, embora a realidade muitas vezes contrarie tal promessa.
O rei ideal em Israel era retratado como um pastor, talvez derivado da imagem
do grande rei Davi (Sl 78.70-72). Desde a mais remota antiguidade, governantes
foram legitimados por sua alegada capacidade de pastorear seu povo. Hamurábi
e muitos outros governantes do Oriente Médio antigo foram chamados de
“pastores” ou foram descritos, oral e pictoriamente, como “pastoreando” seus
súditos. No Antigo Testamento, no entanto, é Yahweh quem cuida de Seu povo
e o sustenta. A primeira referência surge em Gênesis 48.15, ao passo que Isaías
(40.11) representa os profetas que descrevem Yahweh como o pastor que reúne,
cura e alimenta Seu rebanho, Israel.
Uma das atividades mais importante do rei no contexto do Oriente Médio antigo
era a de guerreiro, o líder da nação em suas batalhas − fossem elas de conquista
ou de sobrevivência.
Deus, como forte Rei-Guerreiro, protege Seu povo e particularmente o rei como
Seu ungido. Davi, na empolgante teofania do Salmo 18, descreve a resposta de
Yahweh ao seu grito de angústia.
O salmo 35 (v. 1-3) é uma cápsula poética dessa visão de Deus em Salmos.
Diante dos mais temíveis adversários e dos constantes conflitos que uma vida
de retidão e identificação com os propósitos de Yahweh pode trazer, a certeza
e confiança dos salmistas era de que havia um guerreiro – armado para a defesa
e o ataque. Yahweh, além de Ele mesmo lutar pelos fiéis, capacita Seus servos
para a batalha (Sl 144.1,2). Por outro lado, a nação se sentia abandonada por seu
maior herói quando, devido a sua infidelidade pactual, Yahweh não empreendia
a guerra santa em favor dos exércitos israelitas (Sl 44.10,11[9,10]).
Javé separou Abraão e seu clã dentre as nações para fazer deles Seu povo
pactual (95.6; 100.3; 149.2). Em cumprimento às promessas da aliança, fez
crescer o povo no Egito (105.24) e de lá os libertou milagrosamente (105.26-38),
moldando-os em uma nação por meio da lei e do culto e cumpriu Suas
promessas pactuais dando-lhes a terra de Canaã (105.42-45). O salmo 136
resume essa visão com o refrão ( ּכִי לְעֹולָם ַחסְּדֹוḵî leʿ ôlām ḥasdô, “porque a sua
benignidade dura para sempre”).
Duas outras palavras em Salmos refletem essa relação especial de Israel com
Yahweh. A nação era a “herança” (נַ ֲחלָה, naḥălâ) de Yahweh (33.12; 106.5-40) e
Seu “tesouro pessoal” ( ְסגֻלָה, seḡullâ; 135.4). As duas palavras são termos técnicos
17
utilizados em Deuteronômio (4.20; 7.6; 9.26; 26.18) para designar Israel como
vassalo pactual de Yahweh, o suserano da aliança. Israel, devido a essa relação,
podia clamar por socorro em suas dificuldades, mas em contrapartida devia
lealdade exclusiva a Yahweh. A ausência de socorro presumia infidelidade
pactual.
Breve menção deve ser feita aos mediadores da aliança. Moisés aparece em
alguns salmos como o instrumento da libertação (77.20; 105.26), e ainda como
preservador da aliança no momento crítico de incredulidade e apostasia no
deserto (106.23). A lei (תֹורה,
ָ tôrâ) era, para o israelita fiel, a revelação da vontade
de Yahweh e obedecê-la significava prazer e realização (cf. Sl 19.7-13; 119).
Assim, era um instrumento mediatório no cumprimento da vontade do suserano
na vida do vassalo. Israel, como nação vassala do Grande Rei, recebera a lei
como doação real (147.19) e, em obediência a ela (103.18), deveria mostrar
absoluta lealdade a Yahweh, confiando Nele como seu Deus e Protetor (115.9-11)
e rejeitando todos os outros deuses (40.4; 115.2-11).
Yahweh havia estabelecido com Davi uma aliança especial (2Sm 7). Davi e seus
descendentes desfrutavam a posição de “filho de Deus” (Sl 2.7) e “primogênito”
(89.26,27).
A questão central do salmo refere-se a como Deus, à luz de sua pessoa e das
obras exaltadas, pode prestar atenção na reles humanidade. A imensidão da
criação e a intrincada relação de suas partes quando comparadas com a finitude
da humanidade fazem o salmista perguntar em espanto: “Que é o homem, para
que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?”
(v. 4). Mas não é só a criação do homem que o deixa atônito, mas também o
papel exaltado reservado a ele. O homem foi designado para ser um pouco
menor que ‘êlõhim, coroado de glória e de honra (v. 5).
Em que sentido o homem pode ser apenas um pouco (mê‘at) diferente de Deus
e ainda manter a necessária distância ontológica dele?
19
Salmos 115.16 acrescenta uma nota a essa afirmação declarando que “os mais
altos céus pertencem ao Senhor, mas a terra ele a confiou ao homem”. As
20
O Salmo 2
Um salmo real (de coroação) atribuído a Davi pelo Novo Testamento (At 4.25),
vê as nações da terra como implacavelmente hostis ao Senhor e “contra o seu
ungido” (v. 2; hebraico, mêsihô). Esse ungido, no contexto do Salmo, é o próprio
Davi ou um rei davídico, conforme a menção do versículo 6 ao “rei em Sião”
deixa claro.
A ligação das palavras ungido, rei e filho conduz claramente à ideia, apropriada
pelo Novo Testamento (At 13.33; Hb 1.5; 5.5), de um governante davídico que
tem mais que a mera capacidade e a natureza do homem. No próprio salmo, a
justaposição de “o Senhor” e “ungido” (v. 2) e “Senhor” e “filho” (11,12) aponta
firmemente nessa direção. O rei por vir não se assentará só no trono de Davi,
mas no trono do Senhor mesmo, condição que a revelação do Novo Testamento
deixa fora de qualquer dúvida (cf. Mt 19.28; Fp 2.11; Hb 8.1; 12.2; Ap 19.16;22.3).
Salmos 132.1-12.
O poeta apela ao Senhor para que honre Davi por seu desejo de construir um
templo no qual o Senhor possa habitar entre seu povo (1-5), pedido que,
conforme se verifica, foi negado (2Sm 7.5-11). Mas havia algo maior à espera de
Davi e seu povo, pois o Senhor jurou que nunca faltaria um descendente de Davi
para se sentar em seu trono (v.11). A eternidade da promessa argumenta
claramente por um rei por vir cujo reinado, como o do Senhor, duraria para
sempre.
22
Nem muitas águas conseguem apagar o amor; os rios não conseguem levá-
lo na correnteza. Se alguém oferecesse todas as riquezas da sua casa para
adquirir o amor, seria totalmente desprezado. Cânticos 8.7
Sem o desejo de estar junto, a união amorosa não pode durar. Nenhuma falta de
afeto existe nesse casal! A alegria surge tanto na possibilidade de reencontro
(2.8,9), quanto no tempo que passam juntos (2.10-13). Nenhuma das vezes em
que um deles busca pelo outro é tratada como inconveniente (3.1-4). Eles
acreditam que a vida é cheia de plenitude quando estão na presença um do
outro ou até mesmo quando se imaginam juntos.
As primeiras duas seções do livro possuem uma utilidade ímpar aos leitores do
Antigo Testamento, pois nenhuma outra passagem da Bíblia faz referência à
paixão que precede o casamento. Talvez a determinação de Boaz em se casar
com Rute sugira a mesma emoção (Rt 3.1—4.12), contudo o tom do relato é
imensamente moderado em comparação a Cântico dos Cânticos 1.2—3.5.
A seção começa com Salomão vindo se casar com sua amada (3.6-11)7, um dia
caracterizado como um tempo de alegria no coração (3.11). Muito em breve, seu
desejo será unido à intimidade sexual, mas somente depois que uma declaração
pública de compromisso selar a união com sua pretendida.
perfeita harmonia matrimonial como nudez sem remorsos, outro modo de dizer
que o primeiro casal era físico, sexual, emocional e espiritualmente uno. Cântico
dos Cânticos 1.2— 5.1 não repete exatamente essa unidade original, mas fica
muito perto de fazê-lo.
Até mesmo o mais ardente e estimado cônjuge pode tornar-se vítima do ciúme
e da insegurança. Assim, é importante que o voto de constância seja feito entre
os parceiros no casamento. O amor deve significar um selo no coração, ser tão
forte quanto a morte, tão inextinguível quanto uma chama perpétua e mais
apreciado do que a riqueza (8.6,7).
Quando um homem ama uma mulher desse modo, a resposta dela deve ser
desejá-lo ao seu lado (8.14). A sabedoria exige que o amor crie a certeza sobre a
26
natureza duradoura das relações matrimoniais. Tal garantia somente virá por
palavras que complementem a paixão física.
De maneira paradoxal, o livro Cântico dos Cânticos pode ser, por isso mesmo,
uma obra até mais importante do que seria se o rei fosse um modelo de marido.
O cânon apresenta o melhor de Salomão nesse caso, enquanto da mesma forma
contrapõe essa representação com os relatos em 1 e 2Reis. Cântico dos Cânticos
oferece a sabedoria centrada em Deus a todos que a quiserem atender, e o fato
de que o próprio Salomão nem sempre atendeu a seus ensinamentos não
silencia seu valor nem os tornam inválidos.
28
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
Ainda há vários grupos menores que podem ser considerados subdivisões, por
exemplo:
Fica claro que a função teológica do livro é fornecer orientação para o cidadão
do Reino de como ordenar sua vida diante de Deus, o rei, e seus irmãos seres
humanos. A sabedoria em vista não é essencialmente de natureza meditativa e
filosófica, mas, antes, fundamentada na Torá, na observação do cosmo com
todos seus mistérios e lições, na experiência humana e na interação intuitiva de
tudo que podia, e pode ser conhecido de Deus, em todas as formas que ele
escolhe se manifestar e se relacionar a tudo isso.
Essas não são meras reflexões dos homens, mas a sabedoria de Deus mesmo
mediada por meio de instrumentos inspirados que, por isso, não repetem a
sabedoria acumulada dos sábios da Antiguidade, mas falam sempre a palavra
atual e relevante de Deus.
Os Destinatários
Tema Provérbios
Adultério 5.1-4;6.20-35;29.3
Alimento 10.3;12.11;23.20-21;25.16;30.8
Amor 8.17;10.12;15.17;27.5
Caminhos 2.8;13.15;14.12;16.7,25;20.24;22.6
Disciplina 1.2-3;3.11-
12;5.23;10.17;12.1;13.18,24;19.18;23.13
Embriaguez 20.1;23.31-35;31.4
Empréstimos 6.1-5;20.16;22.7,26-27
Esposa 12.4;14.1;18.22;21.9,19;27.15;31.10-31
3
Família 5.15-19;6.20;13.1;14.1;22.6;23.24-25
Fofoca 16.28;20.19;26.20
Inimizade 16.7;24.17;25.21;27.6
Insensatez 10.18;12.15;14.16;15.5;26.3-5
Ira 14.29;15.1;22.24;29.22;30.33
Morte 5.5;7.27;8.36;9.18;17;14.32;15.11,24
Orgulho 6.17;11.2;16.5,18;21.4
Pecado 14.9;16.4;20.9;24.9,20;28.13
Pobreza 14.31;19.1,17;22.2;30.8
Preguiça 6.6-11;12.27;22.13;24.30-34;26.13-16
Repreensão 3.11-12;12.1;15.5;25.12
Riquezas 10.15;11.4;18.11;23.5;28.20
Sono 1.20-23;3.13-20;8;9.1-6
Suborno 17.8,2318.16;21.14;28.21
Temor 1.7;9.10;14.16;15.16;29.25
O autor fez uso de vários tipos de relações para guiar o leitor à compreensão
dos princípios expostos no livro e a ligação desses princípios com a vida.
Vejamos alguns tipos de relação encontrados no livro que promovem maior
entendimento e aplicação do ensino de Provérbios.
A vida também brota da sabedoria e é enriquecida por ela. Ela declara que
aqueles que a encontram acham a vida e o favor divinos, mas os que não a
encontram estão destinados à morte (Pv 8.35,36). Claro que isso é porque a
sabedoria procede de Deus e é a única fonte da vida aqui e agora e para
sempre.
7
monarquia davídica e cuja ênfase no rei escolhido de forma divina e cuja vice-
regência do governo do Senhor, claro, são consistentes com os grandes temas
teológicos do Antigo Testamento.
Uma vez que isso é verdade, o cidadão do Reino deve temer ao Senhor e ao rei,
pois eles trabalham em harmonia (24.21,22). Não obstante, os reis devem admitir
suas limitações e reconhecer que reinam sob o comando do Senhor. Eles devem
demonstrar “bondade” (hesed) e “fidelidade” ('emet) se quiserem ter esperança
de manter seu trono; isto é, eles devem ser sensíveis aos termos da aliança que
lhes permite esse grande privilégio de, antes de tudo, servir a Deus (20.28).
• Tolo
• insensato
9
• estulto
• néscio
• louco
Essas palavras às vezes são usadas para traduzir o mesmo termo em hebraico.
Por isso é necessário conferir o termo original para fazer um estudo de
vocábulos mais exato.
• O simples (peti)
• Escarnecedor (lets)
Uma palavra ainda mais forte é lets, muitas vezes traduzida “escarnecedor”. O
insensato ‘ewil não é somente um tolo kesil por causa de suas escolhas, mas
porque ele é também insolente.
O simples (peti)
Peti em Provérbios
• Ingênuo (crédulo)
Venham todos os inexperientes! " aos que não têm bom senso ela diz: "a água
roubada é doce, e o pão que se come escondido é saboroso! " (9.16,17)
E vi entre os inexperientes, no meio dos jovens, um rapaz sem juízo. Ele vinha
pela rua, próximo à esquina de certa mulher, andando em direção à casa dela.
(7.7,8)
• Ingênuos
• Facilmente induzidos ao erro e enganados
• Seduzidos pela própria cobiça
• Correm grande risco de se tornarem insensatos e escarnecedores.
O tolo (kesil)
• Odeia conhecimento
Mantenha-se longe do tolo, pois você não achará conhecimento no que ele falar.
(14:7)
• Falta-lhe autocontrole
O filho sábio dá alegria a seu pai, mas o tolo despreza a sua mãe. (15.20)
De que serve o dinheiro na mão do tolo, já que ele não quer obter sabedoria?
(17.16)
• Contamina a outros
Resumo:
• Sua conversa o revela, pois ele fala sem parar, seu monólogo é inútil e
muitas vezes perigoso.
• Traz vergonha para si mesmo e para sua família, especialmente seus pais.
• Cria situações desagradáveis e perigosas para todos que se associam a
ele.
• Não tem interesse em ser mais do que já é.
• Sua capacidade de concentração é praticamente zero, e é facilmente
distraído.
• Falta-lhe autocontrole, sua ira explode com facilidade.
• Não é de confiança.
• Seu estilo de vida leva à vergonha, tristeza, dor e destruição para ele e
seus amigos.
O insensato (‘ewil)
O ‘ewil parece um pouco pior que o kesil, pois enfatiza deficiência espiritual e
moral, até mesmo insolência moral mais que estupidez. Esta distinção, porém, é
mais uma questão de ênfase do que diferença principal, pois ambos os termos
possuem estes atributos.
• É um péssimo mordomo
Quem causa problemas à sua família herdará somente vento; o insensato será
servo do sábio. (11.29)
13
• Ruína e destruição
A mulher sábia edifica a sua casa, mas com as próprias mãos a insensata
derruba a sua. (14.1)
Resumo:
• Inapropriado
Três coisas fazem tremer a terra, e quatro ela não pode suportar: O escravo que
se torna rei, o insensato farto de comida. (30.21,22)
14
Resumo:
Aplicações Práticas
O escarnecedor (lets)
A palavra descreve alguém que despreza, trata com menosprezo, aqueles que
são menos privilegiados, ou aqueles a quem o escarnecedor deve ser submisso.
• Orgulhoso e arrogante
O zombador não gosta de quem o corrige, nem procura a ajuda do sábio. (15.12)
Resumo:
• O escarnecedor é pior que o nabal (arrogante, ateu), pois ele solta sua
personalidade venenosa sobre todos que chegam perto dele.
• Está cheio de si mesmo, orgulhoso, arrogante, não ensinável, ele é a única
autoridade que conhece.
• Nega seu pecado, despreza e zomba da confissão.
• Por onde passa surgem dificuldades.
16
Aplicações Práticas
Eles declararam que o respeito por Deus começa no processo de sabedoria (Pv
1.7) e que a sabedoria divina é encontrada somente por meio da busca diligente,
facilitada pela revelação divina (Jó 28; Pv 8). Tanto Jó quanto Provérbios
concluem que Deus cria e distribui o conhecimento que torna a vida suportável
e até mesmo agradável (Jó 38.1— 42.6; Pv 2.1-15; 8.22-36).
Nenhum dos livros alega que o mundo é sempre um lugar amistoso para os
justos ou para os pecadores. Antes, eles examinam o poder e a sabedoria
inerentes na criação e, dessa forma, investigam os limites da revelação e tentam
explicar as complexas questões da vida. E dentro de tal estrutura canônica que
Eclesiastes deve ser interpretado; por estar dentro do mesmo contexto literário
e histórico, o livro aproxima-se da comunidade da fé.
Embora a sabedoria transmitida por Salomão em Eclesiastes seja para todo ser
humano, aplicável em todos os aspectos da vida, o autor destaca um grupo
seleto de leitores a quem todas as potencialidades avaliadas no livro são
latentes e reais: os jovens.
Alegre-se, jovem, na sua mocidade! Seja feliz o seu coração nos dias da sua
juventude! Siga por onde seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar;
mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento. (11.9)
visto como parte de um “pacote” vindo de Deus, ele pode ser desfrutado (3.22;
8.15; 9.9).
Diante de uma vida curta que não pode controlar, o homem deve, acima de
tudo:
16). O Mestre afirma que as obras de Deus são planejadas para ajudar as
pessoas a temerem ao Senhor (3.14), objetivo maior da adoração (5.7).
Sua análise dos afazeres do homem levou-o a concluir que o esforço humano,
por mais nobre que seja, não pode dar ao indivíduo realização na vida, que é
inapelavelmente deformada pelas muitas “astúcias” do homem (7.29). Portanto,
seu propósito parece ter sido:
ḥoḵmâ, 1.13). Ele afirma que a vida se apresenta como uma série de paradoxos
desprovidos de sentido (1.14,15) que mesmo a sabedoria humana sem paralelo
não conseguiu resolver. Em última análise, sua capacidade de discernir e
entender ideias e situações serviu apenas para torná-lo mais agudamente ciente
dos problemas insolúveis da vida.
Tudo isso se mostrou inútil ( ֵאין י ִתְ רֹון, ʾên yiṯrôn, em 2.11) como fundamento para
trazer significado à vida.
Ambição e tragédias são outros dois fatores que o mestre acrescenta a sua lista
de razões pelas quais o trabalho não garante realização na vida (5.10-17). Tudo
isso produz seu refrão e sua conclusão: a vida – com suas incoerências – deve
ser desfrutada como uma dádiva divina, não como um enigma a ser entendido e
resolvido (5.18-20).
Como confirmação final de sua tese de que a vida não oferece proveito além de
seu próprio desfrute, o mestre levanta a questão da prosperidade desperdiçada,
de riquezas e fama que não podem ser desfrutadas por causa de alguma
tragédia ou de excessiva ganância. A morte nivela ricos e pobres, sábios e
insensatos, de modo que o indivíduo fique satisfeito com o que tem nesta vida
enigmática (6.1-9).
parte dela) presa em suas garras e assim o homem desperdiça o dom divino da
justiça e da retidão (7.15-29).
Essa divisão termina com a indicação de que a sabedoria não tem explicação
adequada para o enigma da retribuição divina. A sabedoria pode levar o
indivíduo à obediência civil (conformidade social), mas isso não garante que ele
esteja a salvo do uso errado que outros façam da autoridade (8.1-9). Mesmo a
sabedoria não pode explicar adequadamente a natureza aparentemente
aleatória da retribuição divina (8.10-17). O versículo 17 é a mais clara admissão
encontrada nas Escrituras de que a sabedoria em si mesmo fracassa como
instrumento de encontrar propósito na vida.
Então percebi tudo o que Deus tem feito. Ninguém é capaz de entender o
que se faz debaixo do sol. Por mais que se esforce para descobrir o sentido
das coisas, o homem não o encontrará. O sábio pode até afirmar que
entende, mas, na realidade não o consegue encontrar (8.17).
A despeito de nossa ignorância quanto ao futuro, a vida deve ser encarada com
entusiasmo (11.1-6), como indicam as repetidas exortações, nesta seção, para
que se desfrute a vida (8.15; 9.7-10).
Por tudo o que o mestre afirmou até agora, é apropriado que conclua seus
comentários com observações sobre a juventude, a velhice e a morte. O papel
de Deus nos três é o núcleo de suas declarações. De fato, ele recomenda aos
jovens para aproveitar a vida, pois em breve eles serão velhos e incapazes de
assim o fazer. Porém, eles deveriam fazê-lo sabendo que o Criador da vida (12.1)
é também o juiz de cada um (11.9; 12.). Tal consciência deve ser sóbria, porém,
na verdade, não tão sóbria a ponto de desaparecer toda a alegria.
26
Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os
dias difíceis e antes que se aproximem os anos em que você dirá: "Não
tenho satisfação neles” (12.1).
O mestre aconselha aos leitores que se “lembrem” (12.1) de Deus antes que o
transcurso do tempo os leve ao encontro da morte. Quando a morte chegar, o
corpo retorna ao pó, o espírito retorna a Deus e todos os julgamentos finais
serão feitos (12.7; v. 11.9). Toda a vida vem de Deus, e toda a vida deve retornar
a Deus. No entanto, apesar do seu retorno a Deus, o espírito humano não é
divino. Ao contrário, ele permanece sob o poder do Criador. Desse modo, a
morte é um meio pelo qual as pessoas se tornam mais próximas de Deus.
O parágrafo final do livro exige dos leitores a atitude apropriada que tornará
possível o verdadeiro desfrute da vida, isto é, o temor a Deus, manifesto em
obediência aos Seus mandamentos, à luz de Seu juízo que abrangerá a tudo e a
todos.
Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os
seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a
julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja
bom, seja mal (12.13-14).
Por exemplo, essa literatura, como o Pentateuco, dá ênfase ao Deus uno que
criou a terra, os seres humanos e todo o conhecimento útil à raça humana. Ela
também equipara o pecado com a insensatez e o temor com a obediência,
semelhante à aliança do Sinai. Os seres humanos são totalmente incapazes de
conhecer a Deus, ou os caminhos de Deus, sem a ajuda divina tanto na Lei
quanto na literatura sapiencial. Somente Deus é a fonte de conhecimento para a
vida justa. As matérias de sabedoria compartilham certas preocupações
encontradas também nos Profetas.
que concede a sabedoria aos tolos pecadores não aceita facilmente a rejeição
da vida baseada na instrução. Deus também não assiste passivamente a
ocorrência da maldade. Jó e Eclesiastes questionam o ritmo e o motivo por trás
do julgamento divino, contudo eles afirmam que isso acontece segundo os
critérios de Deus. Nenhuma menção ao castigo universal no dia do Senhor
aparece, mas o julgamento de indivíduos tem um lugar proeminente. As sanções
se aplicam a cada um a seu tempo.
As Escrituras, como um todo, discutem a luta para servir a Deus num mundo
marcado pela dor e pelo desastre. Muitos salmos lamentam as lutas da vida,
como em Jó e Eclesiastes. Lamentações, Ester, Daniel, Esdras e Neemias se dão
em tempos e lugares que testam a fibra espiritual do povo de Deus. Provérbios,
Cântico dos Cânticos e Crônicas provam que a vida pode ser normal, até mesmo
alegre; assim, o quadro quase nunca será completamente sombrio. Talvez
Eclesiastes melhor sintetize a luta humana para agir em meio a uma realidade
perturbadora para alcançar a alegria e plenitude.
• Jó questiona Deus.
• Provérbios assegura que somente um Deus é o criador da sabedoria.
• Cântico dos Cânticos conclui que o amor acontece como um presente de
Deus, e em nenhuma parte o livro idolatra a paixão.
• Eclesiastes investiga a atividade do Criador.
28
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
1. A TEOLOGIA DE ISAÍAS
2. O RENOVO DO SENHOR
3. A TEOLOGIA DE JEREMIAS
1. A TEOLOGIA DE ISAÍAS
Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre
os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso,
Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim
sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e
retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso.
Isaías 9.6,7
Por muito tempo, os estudiosos, afirmaram Isaías, o profeta, como único autor do
livro que leva seu nome. No final do século XVIII, os estudos críticos propuseram
que, na verdade, Isaías era escrito por dois autores diferentes: Isaías de Jerusalém,
o profeta propriamente dito: e Isaías da Babilônia. Contudo, tanto a tradição
judaica como a cristã referem-se a Isaías, filho de Amoz, morador de Jerusalém,
como único responsável pelo livro. Este ponto de vista crê na inspiração plena
das Escrituras e considera perfeitamente possível que Deus tenha dado
evidências muito detalhadas a respeito do futuro para seu profeta.
ou “O Senhor é Salvação”, nome que se encaixa muito bem com sua mensagem
profética.
Isaías teve um ministério de sessenta anos. Estima-se que ele profetizou de 740
até 680 a.C. Seu ministério começou no ano da morte do rei Uzias (2Rs 15.1-7) e
terminou, segundo a tradição judaica, no reinado de Manassés (2 Rs 21.1-18).
Para entender o propósito de Isaías temos que dividir o livro em duas partes. Na
primeira (caps. 1 — 39), Isaías anuncia o juízo do Senhor, pois o Deus Santo iria
disciplinar os israelitas por andarem em pecado, sem arrependimento, longe de
sua aliança com o Senhor. Na segunda parte (caps. 40 — 66), Isaías consola seus
leitores afirmando que o mesmo Deus que vai castigá-los tirando da Terra
Prometida e do templo, também vai restaurar os que se arrependerem, para que
desfrutem de uma nova e melhor relação com Deus, assim voltarão à Terra
Prometida e adorarão no templo.
Mesmo antes de falar sobre seu chamado para o ministério (Is 6), o profeta tratou
da iniquidade do Reino do Sul, seu próprio povo. “Abandonaram o Senhor,
desprezaram o Santo de Israel e o rejeitaram” (Is 1.4b). Essa linguagem,
claramente, refere-se à infidelidade da aliança, similar à comparação de Israel à
esposa adúltera, feita por seu contemporâneo Oséias. O Senhor, ao se referir ao
povo dessa nação como pagão (Sodoma e Gomorra, 1.10), citou a adoração
hipócrita deles como algo que ele odeia porque não passava de representação
(1.11-14). Esse povo não compreendeu todo o espírito da aliança que clama por
justiça social (1.17) e lealdade exclusiva ao Senhor (1.29). O remédio seria o
arrependimento, e o Senhor responderia a isso com o perdão (1.18,19) e
restauração (1. 24-28).
Em outra passagem, o Senhor chama seu povo de “filhos obstinados” (Is 30.1)
que, em vez de confiar Nele, buscavam o Egito por ajuda, formando alianças com
o povo do qual Ele os libertara para que fizessem aliança exclusivamente com Ele
3
(Is 30.1-5). Embora eles fossem o povo servo do Senhor, tornaram-se surdos e
cegos à vontade de Deus. “Pois eles não quiseram seguir os seus caminhos; não
obedeceram à sua lei”, disse o profeta (Is 42.24).
Além disso, a deserção deles não era uma escolha recente. O Senhor, ao se dirigir
a Israel, disse: “Seu primeiro pai [isto é, Jacó] pecou; seus porta-vozes [os
profetas] se rebelaram contra mim” (Is 43.27), estabelecendo uma história de
deslealdade. Em outro trecho, ele descreve seu povo como “traiçoeiro”, “desde o
nascimento [...] rebelde” (48.8). Por fim, o Senhor, usando o mais ousado dos
termos, chamou-os de “filhos de adivinhas” e “prole de adúlteros e de
prostitutas”, uma alusão à idolatria deles (57.3), e repetiu mais uma vez o epíteto
“ninhada de rebeldes”, acrescentando ainda “prole de mentirosos” (v. 4).
Certamente, essas atitudes e ações pedem uma resposta severa, e esta não
demorou a chegar.
A rebelião de Judá contra o Senhor foi estimulada pelos deuses das nações e suas
práticas religiosas perversas e resultou em anseio por isso tudo. Isaías enumerou
uma série desses comportamentos no início de seu livro (Is 2.6-8) e anunciou que
o Senhor dos Exércitos tinha “um dia reservado” em que os altivos e os
orgulhosos de Judá, junto com seus ídolos, seriam humilhados e apenas Deus
seria exaltado (2.12-18).
Nesse dia haveria seca, anarquia política e espiritual e desintegração social (3.1-
7), resultando no julgamento de Deus (13,14). A tragédia é que o Senhor havia
plantado seu povo como uma vinha em um pedaço de terra escolhido, esperando
que eles produzissem bom fruto. Quando chegou a hora da colheita, entretanto,
ele apenas encontrou uvas azedas (Is 5.1-4). A única solução seria tirar a cerca
protetora da vinha para que pudesse ser pisoteada pelos que passassem por ali
(5,6). Pior que isso, o povo de Judá iria para o exílio, deixando a terra aberta para
estrangeiros para que a explorassem. A razão para essa triste perspectiva era que
o povo de Deus havia rejeitado a instrução do Senhor dos Exércitos e desprezado
“a palavra do Santo de Israel.”
Por isso, assim como a palha é consumida pelo fogo e o restolho é devorado
pelas chamas, assim também as suas raízes apodrecerão e as suas flores,
4
como pó, serão levadas pelo vento; pois rejeitaram a lei do Senhor dos
Exércitos, desprezaram a palavra do Santo de Israel. Is 5.24
O Senhor, ao comandar os exércitos que não podem ser contados, virá contra sua
nação escolhida com “trovões e terremoto e estrondoso ruído, com tempestade
e furacão e chamas de um fogo devorador” (29.5,6). Aqueles que sobreviverem
serão perseguidos até que nada reste na terra, exceto o remanescente que será
deixado “como um mastro no alto de um monte, como uma bandeira numa colina”
(29.17).
do caos que existiu na criação, antes que o Senhor trouxesse ordem e estrutura a
tudo. Naquele dia, em vez de criação, ele “vai arrasar a terra e devastá-la” (Is 24.1)
até que seja totalmente arruinada. A razão é que a humanidade quebrou “a aliança
eterna” (v. 5), os princípios do mandato da criação por meio do qual a raça
humana tinha de exercitar sua autoridade como a imagem de Deus. A história da
raça humana, a começar com Adão e Eva, sempre foi de resistência incessante à
soberania de Deus e ao desígnio de seu reino (v. 4). Essa insubordinação não
pode ficar sem ser desafiada para sempre. Há de vir o dia em que a ira terrível do
Senhor será desencadeada e a criação, por assim dizer, reverterá ao estado em
que as coisas podem e devem começar novamente.
Isaías descreve isso da seguinte maneira: “Abertas estão as comportas dos céus;
tremem os alicerces da terra. A terra foi despedaçada, está destruída, totalmente
abalada! ” (24.18b, 19).
No entanto, apenas a terra e seus habitantes não são os únicos a ser culpados e
a merecer a retaliação divina. O profeta mencionou a questão subjacente, aquela
dos poderes conflitantes — quer nos céus quer na terra (v. 21). Desde o início, os
exércitos demoníacos liderados pelo maligno, junto com seus servos terrenos —
os governantes malignos das nações — que conspiraram contra o domínio do
Senhor. Chegará o dia deles, o tempo de sua derrota e confinamento, na verdade,
“como prisioneiros numa masmorra” (v. 22). A seguir, “o Senhor dos Exércitos
reinará no monte Sião e em Jerusalém, glorioso na presença dos seus líderes!” (v.
23). E finalmente, o Reino de Deus irromperá, e seus santos assumirão suas
posições, como sujeitos e vice-reis desse reino.
Judá pecara gravemente contra o Senhor, mas ainda havia esperança de evitar o
julgamento dele e, além disso, de haver dias melhores no futuro imediato e no
remoto. Isaías, logo no início de seu ministério, registrou o apelo do Senhor para
que seu povo “refletisse” com Ele, pois poderia haver perdão e purificação para
eles (Is 1.18,19). Uma vez que isso acontecesse, Jerusalém poderia ostentar o
maravilhoso título de “cidade de retidão, cidade fiel.”
No contexto de Isaías 10, esse retorno, físico e espiritual, tem de ser entendido
como o retorno do exílio assírio, do qual não há evidência histórica. Por essa
razão, a força propulsora da passagem é escatológica com a Assíria
representando todas as forças hostis ao Senhor e ao seu povo (10. 24-34).
Várias passagens deixam claro que se pretende que esse retorno seja entendido
como o retorno real para uma terra real. Isaías 14.1 declara que “o Senhor terá
compaixão de Jacó; tornará a escolher Israel e os estabelecerá em sua própria
terra”; e os capítulos 26 e 27 terminam com a nota triunfante de que “naquele dia
o Senhor debulhará as suas espigas desde as margens do Eufrates até o ribeiro
do Egito, e vocês, israelitas, serão ajuntados um a um”. A seguir, os exilados que
ficaram confinados na Assíria e no Egito (isto é, em todos os lugares) “virão e
adorarão o Senhor no monte santo, em Jerusalém” (Is 27.12,13).
Eles retornarão para uma terra quase paradisíaca em produtividade, uma terra
tão abençoada pelo Senhor que o profeta é obrigado a usar linguagem
hiperbólica para fazer justiça a ela. “Regatos de água fluirão sobre todo monte
elevado e sobre toda colina altaneira”, diz ele, “a luz da lua brilhará como o sol, e
a luz do sol será sete vezes mais brilhante, como a luz de sete dias completos” (Is
30.25,26). A libertação deles da escravidão e sua restauração pelo Senhor será
tão magnífica que a própria terra parecerá um verdadeiro jardim do Éden.
propósitos Dele, agora, não poderiam ser frustrados apesar de Israel caminhar
para julgamento. Do contrário, o Senhor consolará Sião e “tornará seus desertos
como o Éden” (v. 3). A alusão ao Éden estende a promessa para muito além de
Abraão, voltando à própria criação e ao que todos os eventos da criação
representam para a teologia que explica a existência de Israel. A menos que a
nação de Israel voltasse para a terra e assumisse seu ministério de serva, o grande
desígnio para a redenção humana fracassaria totalmente, pelo menos, da forma
como o Senhor a pretendia. Eles tinham de voltar a Sião para que lá, no lugar de
habitação do Senhor, pudesse ser dito a Israel: “O seu Deus reina! ” (Is 52.7).
Depois, e só então, “todos os confins da terra verão a salvação de nosso Deus”
(v. 10).
8
2. O RENOVO DO SENHOR
Isaías 11.1
Até esse ponto, a figura em vista era um descendente real de Davi sobre o qual
pouco é dito em relação a serviço e salvação. Amós não tem nada a dizer a
respeito de um messias nem Oséias, a não ser por uma passagem deste que
Mateus interpreta de forma messiânica (Os 11.1; cf. Mt 2.15). Todavia, o relato de
Isaías é rico em alusões e predições messiânicas.
Isaías 11.1-5 deixa clara a combinação da identidade dele como Renovo com sua
identidade davídica. Aqui, a descendência de Davi é chamada o “ramo” (hõter, só
aqui) do tronco de Jessé sobre o qual:
Claramente, o texto como um todo tem nuanças escatológicas (11.6-9), Jesus, não
obstante, citou essa passagem como o anúncio de seu ministério público histórico
(Lc 4.18).
Muitos estudiosos discordam dessa avaliação. Além dessa opção, pelo menos
sete possibilidades (se não houver mais) foram propostas. Essas ideias incluem a
de que o servo é:
• Israel.
• Um profeta.
• Um servo real.
• Uma personagem histórica específica.
• Um segundo Moisés para o segundo êxodo.
• Uma personalidade corporativa.
• Um indivíduo simbólico que personifique uma combinação dos melhores
traços de servo encontrados nas Escrituras.
Cada ponto de vista possui pontos fortes e fracos, mas o próprio texto aponta
para um servo que renova o servo de Deus Israel mediante ensino, liderança,
morte e distribuição de recompensas. Assim, essa pessoa deverá alcançar no
futuro ainda mais do que Abraão, Moisés e Davi alcançaram no passado. Nessa
pessoa as alianças assumirão forma concreta, e o Deus único que se revela será
glorificado.
O servo de Deus é chamado por Deus, é cheio do Espírito de Deus, está disposto
a sofrer e é incapaz de fracassar (42.1-4)
é que a salvação, que à luz de Isaías 40— 48 deve ser definida como adoração ao
único Deus, se estenda “até os confins da terra” (49.6).
Só por meio desse segundo servo é que o remanescente terá coragem suficiente
para cumprir Êxodo 19.5,6.
Então reis darão honra ao Santo de Israel (49.7), seu Criador e Senhor. Quando
Yahweh trouxer o povo de volta do exílio (49.8-13), este aprenderá que Deus não
o abandonou (49.14-23) e saberá que o Senhor é capaz de livrá-los do déspota
(49.24—50.3). O objetivo é também ensinar aos israelitas a ter fé em Yahweh
(49.23), e que o Senhor é seu redentor (49.26).
Vejam, o meu servo agirá com sabedoria; será levantado e erguido e muitíssimo
exaltado. Is 52.13
Essa passagem amplia o papel do servo sofredor, papel este inicialmente descrito
em 50.4-9, pois Deus declara que o servo prosperará e será exaltado só depois
de suportar uma dor terrível (52.13-15). As nações ficarão pasmas com as
experiências do servo (52.13), como também ficarão os israelitas (53.1). Os dois
grupos têm de ser incluídos porque ambos receberam a promessa de redenção
(v. 9.2-7; 49.6; 50.10,11). O que surpreende os gentios e faz os israelitas duvidarem
se desdobra em quatro partes específicas.
A salvação de Yahweh
Talvez seja possível ampliar a lista, mas a questão está clara. Os escritores dos
Evangelhos e o apóstolo Paulo acreditavam que as passagens sobre o servo os
ajudaram a identificar Jesus como o Rei davídico prometido.
15
3. A TEOLOGIA DE JEREMIAS
Jeremias viveu e profetizou durante os dias finais de Judá. Foi chamado para ser
profeta quando ainda era jovem, denunciou os pecados do povo e advertiu que
em breve o julgamento acometeria a terra. Hostilidade intensa e oposição
ferrenha de reis, sacerdotes e profetas o levaram a clamar pelo Senhor
desesperadamente e às vezes com grande angústia. Contudo, permaneceu fiel à
missão profética e continuou exortando o povo de Deus mesmo depois da queda
de Jerusalém. Foi levado ao Egito contra a sua vontade por um grupo de
refugiados de Judá. Jeremias advertiu os exilados a viverem lá e a não colocar a
confiança na ajuda de outros países.
Mensagem
A quebra do concerto tomou muitas formas, mas o pecado mais odioso da nação
de Judá foi ter rejeitado o Senhor a favor de outros deuses. Apesar da bondade
de Deus com Israel, o povo se voltou aos ídolos de madeira e metal inúteis,
inanimados e feitos pelos homens (1.16; 2.5,8-12; 10.3-5,8,9,14,15; 16.18-20).
O culto à deusa Ishtar (deusa Astarote dos filisteus) envolvia o ritual de assar
bolos à sua imagem, queimar incenso e derramar ofertas de bebida. Logo após à
destruição de Jerusalém, os exilados no Egito retomaram esta prática, afirmando
17
Para enfatizar como era repulsivo aos olhos de Deus o comportamento idólatra
do povo, Jeremias o comparou à infidelidade conjugal. A adoração a Baal debaixo
de árvores sagradas dos lugares altos era comparável a uma adúltera que se
entrega aos amantes (3.1).
Os falsos profetas seriam objeto especial da ira divina. O motivo principal para
pronunciarem profecias de salvação era a ganância, porque eles eram ricamente
recompensados quando falavam palavras tranquilizadoras ao povo (6.13; 8.10). As
mensagens dos falsos profetas eram uma ilusão, pois eram derivadas de métodos
próprios de adivinhação e visões (14.14; 23.16,26-38; 29.8).
Em contraste com estes falsos profetas, Jeremias foi escolhido por Deus antes do
nascimento e recebera a comissão especial de proclamar a palavra de julgamento
de Deus (1.4-19). Diferente dos falsos profetas, que não tinham revelação divina
genuína, Jeremias devorava, por assim dizer, a palavra de Deus (15.16) e estava
tomado pelo forte desejo de anunciá-la (20.9). Ele era um dos “atalaias” de Deus
(6.17), enviados para avisar ao povo do concerto que se convertesse dos seus
maus caminhos (7.25; 25.4).
Por meio deste invasor, a quem Deus se referiu por seu “servo” (25.9), seriam
realizadas as antigas maldições do concerto (Lv 26; Dt 28). Como advertira
Moisés há muito tempo (Dt 28.49), uma nação distante, cujo idioma o povo não
entenderia, conquistaria o povo do Senhor (5.15).
Para ilustrar o julgamento vindouro, o Senhor deu ao povo lições práticas e muito
claras (16.1-9). Orientou que Jeremias se abstivesse:
• De se casar
• Lamentar os mortos
• Participar de banquetes (16.1-9).
Lições práticas:
Em outra ocasião, Jeremias levou uma botija à entrada da Porta do Sol, perto do
vale do filho de Hinom (também chamado Tofete), que servia de entulho para
restos de cerâmica quebrada, e a quebrou diante de vários observadores (19.1-
15). Da mesma maneira que o profeta quebrou a botija, assim o Senhor “dissiparia
o conselho de Judá e de Jerusalém” e o faria em pedaços.
O vale do filho de Hinom era um local de adoração pagã, onde o povo sacrificava
aos deuses estrangeiros e até oferecia os próprios filhos em holocausto (7.31). No
futuro, os cadáveres das pessoas encheriam este vale e Jerusalém se tomaria,
como Tofete, um lugar contaminado.
A visão de Jeremias sobre o futuro de Judá não era totalmente sombria e triste.
Ele previu o tempo em que o povo voltaria do exílio e reconstruiria Jerusalém. Os
reinos do Norte e do Sul seriam reunidos sob a liderança de um rei davídico ideal
e um sacerdócio purificado. O Senhor estabeleceria um novo concerto com o
povo, capacitando-o a permanecer leal a Ele.
A Volta do Exílio
Esse poderoso ato de libertação faria a nação se esquecer do antigo êxodo sob
a liderança de Moisés. Já não se juraria: “Juro pelo nome do Senhor, que trouxe
os israelitas do Egito”. Antes, dirão: “Juro pelo nome do Senhor, que trouxe os
israelitas do Norte e de todos os países para onde ele os havia expulsado”
(16.14,15; cf. 23.7,8).
Como prova de que a terra voltaria a ser habitada, o Senhor deu outra lição
prática por intermédio do profeta (32.1-44). Enquanto o exército babilônico
sitiava Jerusalém, o Senhor mandou que Jeremias comprasse um campo do primo
Hananel. Jeremias colocou a escritura de compra em um jarro de barro para que
fosse conservado, e anunciou: Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de
Israel: Casas, campos e vinhas tornarão a ser comprados nesta terra” (v. 15).
O Senhor explicou que, depois do tempo do julgamento, ele juntaria o seu povo,
lhe daria a capacidade de obedecer lealmente aos seus mandamentos e faria um
novo e eterno concerto com ele (32.37-41). O povo de Deus ocuparia a terra
novamente e compraria e venderia propriedades (32.42-44). A compra simbólica
de Jeremias previa este dia de restauração além do julgamento.
As Bênçãos Restabelecidas
O povo de Deus teria cura espiritual e desfrutaria das bênçãos divinas de paz e
prosperidade. Os israelitas do Norte e do Sul voltariam à terra (30.10; 31.27; 33.7)
e se alegrariam com colheitas frutíferas, rebanhos e manadas abundantes
(31.4,5,24; 33.10-13). As tribos do Norte iriam de boa vontade a Jerusalém (31.6)
para celebrar as bênçãos do Senhor (31.12-14). Tendo recebido perdão (33.6,8),
as pessoas já não lamentariam que estavam sendo forçadas a sofrer pelos
pecados dos seus pais, mas reconheceriam que Deus trata com justiça os homens
individualmente (31.29,30; Ez 18.1-32).
A Cidade de Jerusalém
A Nova Liderança
davídico não duraria para sempre. O Senhor levantaria um novo rei davídico, o
Messias, para reinar sobre o povo.
Em contraste com os reis injustos dos dias de Jeremias, este rei promoveria a
justiça na terra (23.5; 33.15). Como protetor do povo de Deus, Ele seria chamado
“o Senhor é a nossa Justiça [ou melhor, “Libertação”, ou “Defesa”] (23.6). Por
meio deste rei, o juramento eterno e indestrutível de Deus a Davi se cumpria
(33.17,20,21,26; cf. 2 Sm 7.16; SI 89.36). Através deste rei davídico se cumpriam
também as promessas de Deus aos descendentes de Abraão (33.26).
nas tábuas de pedra (Dt 6.6). Essa futura geração leal estava em nítido contraste
com as pessoas do tempo de Jeremias, em cujo coração estava gravado o pecado
(17.1) e cuja capacidade para o mal era desesperadamente inerente.
O novo concerto também contém a promessa que Deus nunca mais rejeitaria o
povo e o extinguiria como nação. Essa promessa seria tão digna de confiança
quanto às leis da natureza divinamente decretadas imutáveis e o fato de que o
universo infinitamente vasto não pode ser medido ou vasculhado pelo homem
finito (31.35-37).
Nova Aliança
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
1. TEOLOGIA DE EZEQUIEL
2. A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL
3. TEOLOGIA DE DANIEL
1. TEOLOGIA DE EZEQUIEL
"Filho do homem", disse ele, "eu o fiz sentinela para a nação de Israel; por isso
ouça a palavra que digo e leve-lhes a minha advertência. Ez 3.17
O nome ―Ezequiel aparece apenas duas vezes no Livro (1.3; 24.24) e em nenhum
outro lugar do Antigo Testamento. Significa no hebraico (יחזקאל- Y’echezqe’l) Deus
fortalece, Deus fortalecerá ou Deus prevalecerá, um nome apropriado, já que
Ezequiel enfrentou duras consequências em função de ser um profeta do Senhor.
Embora saiba-se menos de Ezequiel do que de Jeremias, alguns fatos sobre ele
são revelados no texto e ajudam a esclarecer sua teologia. Além de ser um
exilado, Ezequiel era um sacerdote (1.2,3), o que talvez explique sua preocupação
com o templo, ritual e santidade. Era casado (24.16) e desfrutou mais prestígio na
comunidade do que Jeremias (3.1; 20.1). Acima de tudo, Ezequiel era um profeta
que às vezes perdia a consciência ao receber suas visões. Ele realizou atos
simbólicos para explicar suas visões e tinha uma boa compreensão da palavra
escrita de Deus. Por esse motivo, ao transmitir a palavra de Deus, ele pregava o
cânon, contava suas visões e encenava mensagens. Fica clara sua preocupação
com seu público, com a palavra de Deus, com a santidade e com a fidelidade à
mensagem.
Por meio de suas visões e sinais, Ezequiel busca transmitir aos judeus exiliados a
mensagem de que a glória do Senhor permanecia intacta diante da destruição de
2
seu povo. Para isso, o profeta afirma o compromisso de Deus em fazer com que
todas as nações conheçam seu nome, certificando que o que aconteceu ao povo
era parte do plano divino de julgar o pecado de Israel e revelar sua glória a todo
o mundo. O autor Carlos Osvaldo, resume a mensagem do livro da seguinte
maneira:
1. Ezequiel 1—3 ele encontra um Deus que está presente para chamar. Esse
Deus é capaz de ver todas as coisas e estar em todos os lugares ao mesmo
tempo e está sempre presente para abençoar os fiéis. Ezequiel descobre-
se cheio desse Espírito, ou presença, do Senhor.
2. Ezequiel 4—24 o profeta descreve um Deus que está presente para julgar.
Esse trecho apresenta Yahweh retirando-se do templo para o monte das
Oliveiras, onde permanece a observar o povo, talvez à procura de
arrependimento, mas certamente a preparar o juízo.
3. Ezequiel 25—32 concentra-se no juízo de Yahweh sobre as nações, uma
ênfase que o associa a profetas que o antecederam.
4. Ezequiel 33—48 o texto declara que Yahweh está presente também para
renovar. O mesmo espírito que enche Ezequiel enche também a nação
3
morta, de maneira que a presença de Deus traz cura. O livro conclui sua
ênfase na presença, vislumbrando uma Jerusalém futura onde a adoração
é pura e o relacionamento do povo com seu Senhor é imediato e não
mediado. A nação está, afinal, pronta para se colocar diante do Deus santo.
Ezequiel não é fácil de se ler. O livro contém muitas imagens estranhas e pode ser
repetitivo. Ainda assim, o livro faz uma contribuição importante para a teologia
com sua descrição de Yahweh como o Deus, diferente dos seres humanos, está
acima e além da esfera humana, mas ao mesmo tempo, sem alterar seu caráter,
fica ao lado das pessoas e habita com elas. Esse tipo de presença consola, mas
também cria um respeito saudável pelo Deus da aliança.
Na presença de Deus o profeta se prostra com o rosto no chão, uma reação que
tem paralelo na relutância de Moisés em servir, no sentimento de pecaminosidade
de Isaías e na baixa autoestima e temor de Jeremias. Deus aparece a Ezequiel, e
essa presença o afeta profundamente. Ele aprende que a glória de Deus não se
manifesta apenas na Terra Prometida, o que significa que Yahweh é “o Senhor,
livre de todas as limitações terrenas, e capaz de governar o universo todo”
(HOUSE, 2005).
O Deus que está presente para chamar também está presente para comissionar.
A tarefa de Ezequiel não será mais fácil do que a de Isaías ou a de Jeremias.
Yahweh dirige-se a Ezequiel, chamando-o de “filho do homem” (2.1), um nome
que o Senhor emprega 92 vezes no livro. A expressão distingue Ezequiel dos
seres divinos na visão e também realça a dependência que o profeta tem do
Espírito de Deus para capacitá-lo.
4
O Espírito de Deus entra nele, ajuda-o a ficar firme e torna possível ao profeta
ouvir e, mais tarde, partilhar a palavra (2.2). Ele é um verdadeiro profeta, pois está
na presença de Deus e recebe a palavra de Yahweh. Sua posição de mensageiro
autentica seu ministério. A obra direta de Deus em sua vida assegura o sucesso
no que deve fazer.
Seu público não será receptivo, de maneira que Ezequiel deve seguir plenamente
as instruções de Deus. Israel é rebelde e obstinado, mas Ezequiel não deve temer
(2.3-7). Esses versículos fazem paralelo com Isaías 6.9,10, passagem onde Isaías
ouve acerca da relutância do povo em ouvir, e Jeremias 1.17-19, onde Jeremias
recebe a advertência de não temer seus inimigos. O plano de Deus é que, mesmo
que Israel desobedeça, terá tido, no seu meio, um profeta para adverti-lo (2.5; 2Rs
17.13,14).
O juízo pode não ser a palavra final de Yahweh, mas é algo necessário para que
o exílio crie um remanescente que crê.
O povo da época de Ezequiel acreditava que não tinha feito nada de errado para
merecer aquele destino. Todo pecado tem consequências corporativas, e é
possível sofrer pelos pecados de outros, mas essas não são as únicas
possibilidades. O povo se recusa a considerar que os pecados enumerados em
Ezequiel 8—19 podem trazer disciplina divina.
Ezequiel 21—24 conclui a seção sobre a avaliação que Deus faz de Judá com um
enfoque já bem conhecido. O profeta diz que a espada da Babilônia destruirá
Jerusalém (21.1-32). Ele afirma que o castigo sobrevirá por causa da idolatria,
opressão e derramamento de sangue (22.1-31). Para ilustrar os terríveis efeitos do
cerco à Jerusalém, o Senhor pede a Ezequiel que realize seu mais difícil ato
simbólico. Sua esposa, seu prazer (24.16), morrerá, mas apesar disso ele não deve
prantear (24.16-18). Esse ato acontece para mostrar ao povo que perderá seu
prazer, Jerusalém, e não haverá pranto exceto pelo pecado (24.19-24).
Outras nações também recebem profecias de julgamento por seus atos contra
Israel e toda sua rebelião e insubordinação.
Não há dúvidas que o capítulo 28 de Ezequiel seja uma profecia contra a cidade
de Tiro. Entretanto, a descrição do governante (28.2) dessa cidade levanta uma
questão: tal personagem diz respeito apenas a um monarca fenício histórico ou
tem um significado simbólico e espiritual, identificando em tal figura o próprio
Satanás?
Tal descrição se adequa a qualquer criatura que, por seu orgulho e soberba,
usurpa em seu coração o lugar de Deus, de forma que o governante de Tiro
também pode ser interpretado como uma representação de Satanás, um anjo
destacado por Deus em todos os sentidos (28. 12-14), mas que perdeu sua glória
por conta da iniquidade (28.19), ao tentar assumir o lugar de Deus (28.2).
2. A RESTAURAÇÃO
Darei a eles um coração não dividido e porei um novo espírito dentro deles;
retirarei deles o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Então
agirão segundo os meus decretos e serão cuidadosos em obedecer às minhas
leis. Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Ezequiel 11.19,20
A ação divina específica de restaurar começa com uma troca de líderes. Os líderes
(“pastores”) da nação estão corrompidos, de maneira que Yahweh se incumbirá
de reunir as ovelhas e trazê-las do cativeiro (34.11-16) e separá-las dos bodes
(34.17-19). Criar um remanescente é, portanto, uma tarefa que o Senhor tem de
realizar. Uma vez reunido, o rebanho ou remanescente será colocado debaixo de
liderança davídica e receberá uma aliança de paz que propicie proteção
permanente (34.20-31).
Uma vez restaurado na terra, Israel jamais será tirado dali. Derrotas como aquelas
infligidas pela Assíria e pela Babilônia não serão mais possíveis. Grandes nações
poderão invadir a terra, mas serão repelidas pelo Senhor (38.1—39-16). Essas
vitórias não acontecerão apenas por causa de Israel. Pelo contrário, elas têm o
propósito de mostrar a santidade de Deus às nações e de ajudá-las a confessar a
grandeza do Senhor (38.23; 39.21-29).
O conceito que Ezequiel tem de um Israel restaurado não para num povo
renovado. Em Ezequiel 40—48 ele continua com seu propósito, vislumbrando um
templo reconstruído e com adoração revitalizada. Essa parte da profecia
contrapõe-se a Ezequiel 8—11, texto em que os espaços sagrados se tornam tão
profanados que Yahweh recusa-se a habitar ali. Agora o Senhor constrói um local
onde interagirá com adoradores que respeitam e honram o Deus verdadeiro.
Yahweh habitará para sempre com os fiéis.
Além dessas questões, o livro de Ezequiel como um todo concorda com cinco
elementos-chave encontrados em Isaías e Jeremias.
12
Conclusão
Enquanto o Senhor está presente, existe esperança para o futuro. Para Ezequiel,
tal esperança era mais real do que o exílio, mais destruidora do que a perda
pessoal, mais irrefutável do que o desespero egoísta do povo. O Deus único que
está presente era, para ele, o Deus que podia sustentar os fiéis no exílio.
14
3. A TEOLOGIA DE DANIEL
Daniel, contudo, decidiu não se tornar impuro com a comida e com o vinho do
rei, e pediu ao chefe dos oficiais permissão para se abster deles. Daniel 1.8
O título desse livro, em hebraico, grego e nas línguas ocidentais é o mesmo, Daniel
(em hebraico דָּ נִיִאֵל, dāniyyēʾl, “Deus é meu juiz”), o personagem principal do livro.
Daniel deve ter nascido durante o reinado de Josias (640-609 a.C.), uma vez que
provavelmente era um adolescente quando foi capturado e exilado em Babilônia
(Dn 1.3). Ele testemunhou a rápida ascensão da Babilônia sob a liderança de
Nabopolassar e o declínio igualmente rápido da Assíria no derradeiro quarto do
século 7 a.C.
O declínio de Judá, por sua vez, foi igualmente brutal depois da morte de Josias
na batalha em Megido (609 a.C.), quando o jovem rei tentou impedir que os
exércitos egípcios levassem ajuda aos assírios cercados em Harã. A suserania
egípcia sobre Jeoiaquim, rei de Judá (609-597 a.C.), foi breve e terminou com a
vitória de Nabucodonosor em Carquêmis (605 a.C.). Pouco depois da batalha, o
príncipe caldeu foi até Judá e impôs vassalagem a Jeoiaquim, levando como
reféns algumas pessoas da nobreza e levando consigo objetos do templo como
prova de conquista (Dn 1.1).
O livro de Daniel cobre o período que vai de 605 a 536 a.C., 70 anos dramáticos
que testemunharam a ascensão e a queda do império babilônico e a ascensão da
Medo-Pérsia como o poder dominante no Oriente Médio.
A própria ascensão de Daniel à fama e ao poder foi rápida, uma vez que seu
contemporâneo Ezequiel o menciona como modelo de sabedoria e virtude (Ez
14.14,20). Ezequiel começou seu ministério em 593 a.C. (Ez 1.1, 2), isso indica que
foram necessários pouco mais de quinze anos para que a reputação de Daniel
atingisse grandes proporções.
À luz de tais observações, parece melhor dividir o livro em três seções principais,
como se segue:
nações (5.1-4). Sua festa blasfema foi interrompida por um sinal divino, a célebre
escrita na parede (5.5-9), que é interpretada e aplicada à arrogância e idolatria
de Belsazar (5.13-28).
Sobre os falsos deuses (Dn 3) Nem o maior deus de ouro (nem outro
qualquer) é como o Senhor, que livra
do fogo e da morte quem Ele desejar.
Sobre a vida do rei Nabucodonosor Nem o maior rei da terra pode fazer
(Dn 4) algo contra os propósitos do Senhor,
que dá poder a quem Ele escolhe, e tira
quando e como desejar.
Enquanto Daniel 1—6 enfoca os eventos sobre a terra que são afetados pela
soberania divina, os capítulos de 7 a 12 destacam as visões futuras que Daniel
recebe do Senhor. Assim, se a ação na primeira metade do livro opera da terra ao
céu, então a segunda se move do céu para terra. Cada capítulo apresenta Deus
como o único que conhece, revela e governa a história.
A resposta divina está alinhada com o número setenta. O ponto de partida das
70 semanas de anos é o decreto de Artaxerxes autorizando a reconstrução das
muralhas de Jerusalém, promulgado em Nisã de 444 a.C. A data limite das
primeiras 69 semanas é a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém no dia 9 de Nisã
de 33d.C. A última semana, ainda futura, guarda o tempo de perseguição dos
santos descrita no capítulo 7, que servirá de preparativo para o estabelecimento
do reino descrito nos capítulos 2 e 7.
Quatro reis persas se seguiriam a Ciro antes que a supremacia persa fosse
quebrada pelos gregos (11.2). A isso se seguiria a conquista do império persa pelos
macedônios (11.3) e a divisão do vasto império de Alexandre (11.4). Dessa divisão
surgiram as guerras siro-egípcias entre as dinastias dos Selêucidas e dos
Ptolomeus, respectivamente, que duraram mais de cem anos (11.5-20). Daniel deu
particular atenção ao papel de Antíoco IV Epífanes, que representou a mais séria
ameaça à cultura, fé e raça judias (11.21-35).
A parte final da visão trata da realidade última da qual Antíoco era uma
manifestação histórica em escala menor (11.36–12.3). Essa passagem está ligada
com a septuagésima semana do capítulo 9 e com o pequeno chifre do capítulo 7.
Nações de toda a bacia mediterrânea se envolverão em um conflito final, em que
o rei de semblante feroz encontrará seu fim e castigo (11.40-45).
22
Daniel promete que o remanescente fiel de Israel será preservado em meio aos
sofrimentos da septuagésima semana (12.1, 5-11), ao passo que os que morreram
na justiça têm a promessa da ressurreição física (12.2,3), de modo a desfrutar a
bênção definitiva do reino milenar (12.12, 13).
Dn 2.24-35,44-45: a pedra que foi cortada sem auxílio de mãos e fere a estátua,
estabelecendo o reino de Deus, ela se refere à segunda vinda e ao
estabelecimento do reino de Cristo na terra.
Ao serem levados para a Babilônia, Daniel e seus três amigos receberam nomes
babilônicos como uma afirmação de domínio. É curioso ver como o significado
de seus nomes hebraicos exaltavam ao Senhor e como seus novos nomes
remetiam a deuses babilônicos. Mesmo tendo o próprio nome trocado, não
abandonaram suas origens nem sua identidade espiritual. Juntos demonstraram
fidelidade inabalável Deus, fortalecida por uma amizade profunda que tinha
Yahweh como elo fundamental.
A firmeza espiritual de Daniel já fica evidente nos primeiros dias no exílio, quando
decidiu permanecer fiel aos valores que aprendeu em sua terra.
Estudioso das Escrituras e grande homem de oração, Daniel foi escolhido por
Deus para receber sonhos e visões proféticas referentes até à segunda vinda de
Cristo.
• Daniel escolheu a integridade como estilo e vida. Desde muito jovem, com
sua decisão de não se tornar impuro com a comida do rei, já evidenciava
convicção e total confiança em Deus (Dn 1).
• Deus valoriza a firmeza da fé, do caráter e do coração.
• O conhecimento e a cultura não estão dissociados de Deus. Daniel se
dedicou a cultura dos caldeus e aprendeu o máximo possível, destacando-
se por fazer um trabalho excelente. Se ao mesmo tempo em que estudamos
mantivermos nosso coração fiel e submisso a Deus e à sua Palavra, o nosso
conhecimento pode ser usado por Deus para cumprir seus propósitos (Dn
1).
24
• O Senhor usa seus fiéis onde quer que estejam. Daniel foi usado no governo
de reis incrédulos; não há ambiente em que Deus não possa manifestar sua
presença.
• Deus pode fazer o impossível por meio de seus servos. Era humanamente
impossível saber o que o rei sonhou e dar uma interpretação fiel ao sonho
dele. Mas, Deus fez o impossível por meio de Daniel, revelando-lhe o sonho
e a sua interpretação. (Dn 2)
• Os filhos de Deus serão perseguidos. Jesus nos advertiu sobre isso (Mt 5.
10-12). Apesar de ter sido perseguido injustamente, Daniel não se abalou,
mas permaneceu firme ao lado do Senhor, mostrando disposição para
morrer por sua fé (Dn 6).
• Uma vida de oração constante fortalece o espírito frente às adversidades
da vida.
• O Senhor não despreza o coração contrito e nem a oração daquele que se
humilha e reconhece o pecado. Em sua oração Daniel não apenas se
humilhou diante de Deus e confessou seus pecados, como também os
pecados de toda a nação (Dn 9).
• Por meio da oração constante e do estudo dedicado a Palavra de Deus, o
Senhor nos releva verdades preciosas que podem tanto abençoar a nós
como a muitos outros.
25
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.
A coleção dos Profetas Menores é formada pelos seguintes livros: Oseias, Joel,
Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias. Essa estrutura vem da Bíblia Hebraica e, posteriormente, da Vulgata
Latina. A Septuaginta (antiga versão grega do Antigo Testamento) apresenta nos
seis primeiros livros uma disposição diferente da Hebraica, dispondo os livros
assim: Oseias, Amos, Miqueias, Joel, Obadias e Jonas.
Possivelmente nenhum outro profeta paga um preço mais elevado por sua
chamada do que Oseias. Como outros profetas, ele prega as verdades sobre a
aliança já afirmadas no cânon. Diferentemente de outros profetas, ele passa por
uma profunda angústia pessoal devido à traição de sua esposa. Ao amar essa
mulher, apesar do fracasso dela em permanecer fiel ao marido, Oseias demonstra
a Israel o amor perseverante de Deus a um Israel que constantemente se desvia.
Desse modo, a vida de Oseias encontra paralelo no chamado a Isaías para que
estivesse nu e descalço durante três anos (Is 20.1-6), ou na ordem a Jeremias para
que evitasse funerais e esquecesse casamento (Jr 16.1-9) ou na responsabilidade
de Ezequiel em evitar derramar lágrimas quando sua amada esposa morresse (Ez
24.15-27). Todos esses atos também rompem com importantes convenções
sociais, de modo que não é impossível que o Senhor exija um sacrifício
semelhante da parte de Oseias, embora o sacrifício exigido de Oséias pareça ser
o mais pesado.
É possível que seu casamento com uma mulher desonrada se encaixe na história
de Israel. Afinal, Ezequiel 20 considera que Israel era idólatra antes mesmo do
êxodo, um ponto de vista refletido em Josué 24.2 e Amós 2.4, que diz que Judá
segue mentiras que seus antepassados seguiram, muito provavelmente referência
à adoração de ídolos no passado remoto da nação. O incidente do bezerro de
ouro deixa pelo menos implícito que o povo tinha algum conhecimento prévio de
idolatria antes de sair do Egito. Com base nessas passagens, certamente é
plausível que Gômer (esposa de Oseias), tendo tido anteriormente algum tipo de
desvio sexual, exemplifique o ponto de vista da profecia sobre as práticas de
adoração que Israel teve antes do estabelecimento da aliança sinaítica.
O amor de Deus por Israel é simbolizado mais uma vez, quando Oseias compra
sua esposa da escravidão que ela havia aceitado (3.1-5). Essa atitude serviria para
exemplificar como o Senhor agiria com Israel: resgataria seu povo com
misericórdia e se reconciliaria com ele por amor. Por isso, até os filhos de Oseias
tiveram seus nomes mudados (2.1,23):
Israel foi infiel ao Senhor e adorou outros deuses, por isso se tornou merecedor
do castigo divino; contudo, o Senhor continuaria amando e cuidando do seu povo
(4—14).
O livro trata da ameaça de julgamento de Deus contra Judá, que Ele ilustra com
a recente e devastadora praga de gafanhotos. A esperança de Judá repousa no
arrependimento e na misericórdia divina, que trará, com os julgamentos do Dia
do Senhor, Sua abundante misericórdia ao restaurar a nação à glória e fartura.
Assim, segundo o autor Carlos Osvaldo, o propósito do livro pode ser assim
enunciado:
Joel atinge seu propósito desenvolvendo-o nas três partes que compõem sua
profecia.
exige arrependimento nacional (1.14) e aponta para o iminente Dia do Senhor (1.15-
20).
Israel recebe depois a promessa de um futuro glorioso que inclui sua renovação
espiritual (2.28-32), vingança dos seus inimigos (3.1-8), livramento sobrenatural
do ataque estrangeiro escatológico (3.9-17) e paz e prosperidade sob a presença
do próprio Deus com o Seu povo, que cumprirá, portanto, seu papel na aliança
como o canal de bênçãos de Yahweh para o mundo (3.18-21).
O Dia do Senhor é um dos principais temas nos livros proféticos, sendo recorrente
nos Profetas Menores. Há 19 menções explícitas ao Dia do Senhor no Antigo
Testamento, sendo que cinco se encontram no livro do profeta Joel. Segundo ele,
o Dia do Senhor é seguido pelo arrependimento do povo (2.12-17) e traz
livramento e bênçãos por parte de Deus (2.18-27) ao apontar para um futuro
glorioso de reconciliação, em que haverá renovação espiritual (2.28-32),
julgamento de outras nações (3.1-17) e um período de paz sobre o povo de Deus
(3.18-21).
Profeta Significado
Zacarias Dia de intensa defesa de Jerusalém pelo Senhor, quando todas as nações estarão
reunidas contra ela.
Malaquias Dia em que o Senhor destruirá os cruéis. Será precedido pelo mistério de Elias.
Amós era natural de Tecoa, aldeia ao sul de Jerusalém e exerceu o seu ministério
durante os reinados de Uzias, rei de Judá, e de Jeroboão II, filho de Joás, rei de
Israel (1.1; 7.10). Foi, de acordo com a tradição judaico-cristã, contemporâneo de
Oseias, Jonas, Isaías e Miqueias, no período assírio. Apesar de ser apenas um
camponês de Judá, “boieiro e cultivador de figos silvestres” (7.14) e de não fazer
parte da escola dos profetas, foi enviado por Deus a profetizar em Betel, centro
religioso do Reino do Norte (4.4) e enfrentou forte oposição em seu ministério.
O livro se divide em duas partes principais. A primeira consiste nos oráculos que
vieram pela palavra (1-6) e a segunda, nas visões (7-9). O discurso de Amós é um
ataque direto às instituições de Israel, confrontando os males que assolavam os
fundamentos sociais, morais e espirituais da nação. O assunto do livro é a justiça
de Deus. O discurso fundamenta-se em denúncias e ameaças de castigo,
terminando com a restauração futura de Israel (9.11-15).
Mensagem
que exigem que o Deus justo as julgue. A lista a seguir mostra os problemas
listados no texto.
4. Edom manifestou contra outros uma ira que não tem fim. Essa ira não
demonstra nenhuma compaixão (1.11,12). Despedaça suas vítimas como se
fosse algum tipo de animal selvagem.
6. Moabe profanou sepulturas (2.1-3). Seu desejo de vingança não acaba nem
mesmo quando o inimigo morre.
A capacidade que Deus tem de julgar essas terras demonstra sua soberania sobre
toda a terra. Deus sabe e vê o que fazem, o que revela a onipresença e a
onisciência do Senhor. Yahweh considera esses países responsáveis por suas
ações.
O julgamento de Israel
O livro termina com uma mensagem positiva e de esperança. “Dias virão”, que
certamente se refere ao dia depois do dia do Senhor, Deus restaurará a dinastia
de Davi e a nação (9.11,12). Israel possuirá a Terra Prometida, e a fertilidade da
terra ultrapassará em muito a que estavam vendo (9.13-15). Então o povo de Deus
habitará para sempre na terra (9.15).
10
Obadias profetizou a punição de Edom por sua arrogância conta o Senhor e pelas
maldades praticadas contra Israel. Além disso, o livro é uma afirmação da aliança
de Deus com Jacó e seus descendentes diante da perturbação e do sofrimento
que Edom causou ao povo de Deus.
Os edomitas eram descendentes de Esaú. Por causa do guisado que Jacó usou
para comprar de Esaú a sua primogenitura, o nome da tribo passou a ser “Edom”
que, em hebraico, significa “vermelho” (Gn 25.30). Eles povoaram o monte Seir
(Gn 33.16; 36.8,9,21) e, rapidamente, transformaram-se em uma poderosa nação
(Gn 36.1-43; Êx 15.15; Nm 20.14). Seu rei negou passagem a Israel por seu território,
quando os filhos de Jacó saíram do Egito e peregrinavam no deserto a caminho
da Terra Prometida. Mesmo assim, Deus ordenou aos israelitas que tratassem os
edomitas como a irmãos (Dt 23.7). Contudo, o ódio de Edom contra Israel cresceu
e atravessou séculos.
Na primeira parte, o profeta descreve tal ruína como certa e completa. Nações
serão reunidas por Deus para a batalha e os inacessíveis palácios de Edom serão
pilhados, enquanto seus motivos de orgulho, seus valentes guerreiros e sábios
veneráveis, serão destruídos. Mesmo que outras nações sejam poupadas da total
destruição, Edom será saqueada pelas próprias nações em quem ela confiava
como aliadas.
O orgulho leva à ruína. Por viverem nas cavernas montanhosas de Seir (v.3), os
edomitas confiavam na segurança que lhes proporcionava a topografia de seu
território — uma fortaleza naturalmente inconquistável. Edom não sabia que
aquilo que é inacessível ao homem é acessível a Deus (v.4). A arrogância humana
é insuportável, mas a soberba espiritual é repugnante; os que assim agem estão
destinados ao fracasso (Pv 16.18; 1Pe 5.5).
A mensagem final relaciona a ruína de Edom com a restauração final de Israel (v.
17-21). Os ingredientes básicos de tais passagens são:
Sem sombra de dúvida, Obadias ressalta ainda mais a ênfase que os profetas dão
aos pecados dos gentios e ao direito que Yahweh tem de julgar a terra. As
atividades de Edom demonstram que somente a intervenção direta do Senhor
poderá salvar os gentios. Não há nenhum arrependimento à vista. Por isso, o dia
de Yahweh deverá vir como um agente purificador para todas as pessoas e não
apenas para Israel. É justamente essa intervenção direta que fornece o cenário de
Jonas.
Jonas ajuda a afastar quaisquer temores que talvez tenham surgido devido a
certas afirmações em Joel, Amós e Obadias. São temores de que o Senhor não se
importaria com nações não judias. Jonas prova que, na verdade, Deus ama até os
12
assírios e se importa com esses que são os mais cruéis e poderosos dentre os
antigos inimigos de Israel.
Mensagem
• Quarto, 4.1-11 revela a ira de Jonas com a misericórdia de Yahweh. Uma vez
mais o que se quer ensinar é o amor do Senhor por todas as pessoas. Em
contraste, o profeta se queixa da bondade de Deus, apesar do fato de que
ele mesmo havia se beneficiado do livramento divino. É perceptível a ironia
existente em todo o relato.
• Humilham-se (3.5-8).
É difícil imaginar uma reação mais total ou inesperada diante de uma mensagem
profética. Até este momento no cânon os profetas ainda não experimentaram
uma semelhante reação positiva à sua pregação. O povo de Nínive tem esperança
de que o Senhor seja misericordioso, e suas esperanças se concretizam. O senhor
se compadece de todo aquele que se arrepende.
O título do livro indica que Miquéias profetizou durante os reinos de Jotão, Acaz
e Ezequias. Isto abrange um período de uns quarenta anos, aproximadamente
entre 740 e 700 a.C (1.1). Como alguns outros profetas, Miquéias é praticamente
desconhecido, exceto por pequenos detalhes dados pela própria profecia. Seu
nome hebraico מִיכָהmîḵî é uma versão abreviada de מִי ָכי ְהּוmîḵāyehû), “Quem é
como Yahweh?”
Mensagem
O juízo divino contra a opressão e a idolatria nutridas por falsos líderes será
contrabalançado pela manifestação do Messias como Líder e Pastor de Israel,
bem como Juiz e Benfeitor das nações (PINTO, 2006).
A segunda parte da primeira mensagem (2.1-5) dá uma lista dos muitos motivos
pelos quais o reino de Judá seria punido. Havia claras violações das estipulações
da aliança mosaica. Os primeiros cinco versículos denunciam ganância nacional,
um espírito de perverso materialismo que levou os poucos que possuíam terras a
usar de astúcia e dolo para acrescentar ainda mais à riqueza mal adquirida. A
punição para isso seria a divisão de seu patrimônio entre invasores estrangeiros
zombadores.
Aos líderes hipócritas que pervertiam a justiça na esperança de que o templo faria
Sião invencível (3.9-11), Miqueias prometeu a total destruição tanto da cidade
quanto do templo (3.12), assim como Jeremias faria um século depois.
O último fio, que amarra toda a profecia, é novamente o fio de livramento, que
aqui descreve como Israel será reunido dos seus lugares de exílio (7.11-13).
Arrebatado pela visão, o profeta ora pela intervenção pastoral de Deus (7.14) e
prevê o papel glorioso do Israel perdoado e restaurado sob o governo de seu
Deus perdoador e gracioso, que fará valer Suas promessas verdadeiras aos
patriarcas (7.15-20).
17
Quando Naum anunciou a sua profecia contra Nínive, já fazia um século e meio
que Deus havia dispensado a sua misericórdia à grande, poderosa e perversa
cidade. No tempo de Jonas, o Senhor se compadeceu dos ninivitas, poupando-os
de iminente destruição. Infelizmente, o tempo passou e eles vieram a se esquecer
do perdão divino, voltando a pecar contra Deus. Por isso, o profeta Naum
proclama a ruína inevitável de Nínive. Agora, o juízo divino é irreversível!
Mensagem
perfeitamente associados com a Sua longanimidade ([ א ֶֶרְך ַא ַפי ִםʾereḵ ʾan̄payim])
e seu poder, de modo a demonstrar sua natureza complementar, em vez de
contraditória (1.2,3).
O texto diz que a Assíria receberá a ira irreversível de Deus, e seu pesado jugo de
impostos e opressão militar contra Judá será removido de uma vez por todas (1.9-
14). Portanto, a profecia de Naum é de boas novas para Judá (1.15) e faz eco à
promessa de libertação descrita em Isaías (Is 40.9; 52.7). Judá seria liberta e
depois deveria renovar seu compromisso com Yahweh.
O capítulo 3 revela algumas das causas para a destruição final de Nínive. Violência
indiscriminada (v. 1) e devassidão espiritual e política (v. 4) haviam marcado a
história da Assíria desde o início (Gn 10.8-12). A mais absoluta vergonha da
destruição é descrita em termos de nudez e desdém público (3.5-7).
( ֵא ַלי ְִךhinnî ʾēlayiḵ) “Eis que estou contra ti” (2.13; 3.5), não há escape possível.
Uma figueira com frutos maduros anuncia que a hora do julgamento divino se
aproxima (3.12).
A mensagem
O clamor de Habacuque.
A descrição do pecado.
20
Assim, o profeta resume o quadro desolador do seu povo: Por que me fazes ver
a injustiça, e contemplar a maldade? A destruição e a violência estão diante
de mim; há luta e conflito por todo lado (1.3).
• injustiça e maldade;
• destruição e violência;
A espera de Habacuque.
Sabedor de que Deus lhe responderá, o profeta prepara-se para ser arguido por
Deus. Ele se posiciona como uma sentinela (2.1) — figura comumente empregada
para descrever os profetas bíblicos. Sua função era ficar alerta para escutar a
palavra de Deus e transmiti-la ao povo (Is 21.8; Jr 6.17; Ez 3.17).
A visão.
A resposta divina veio ao profeta através de uma visão transmitida com agilidade
e nitidez, dispensando a necessidade de que alguém lesse e a interpretasse (2.2),
pois se tratava de uma mensagem que, apesar de futurística, era claríssima: A
Babilônia desaparecerá da terra para sempre! No entanto, Judá, apesar do
castigo, sobreviverá (Jr 30.11). O desafio era crer na mensagem! Ainda que seu
cumprimento tardasse, Deus é fiel para cumprir a sua palavra (2.3; Jr 1.12).
21
Oração de Habacuque
Habacuque conclui com uma oração (ou salmo) de confiança. O fato de terminar
com louvor e confiança faz da profecia uma espécie de mini saltério moldado por
um jeito e ênfase típicos dos profetas. O julgamento do mal e a confiança em
Deus em épocas de dificuldade continuam sendo os temas centrais, mas agora a
ênfase é a misericórdia do Senhor em meio a disciplina. (3.1-19).
A oração expressa o anseio de que Deus redima os fiéis mediante a remoção dos
perversos. Esse ato significaria misericórdia para os oprimidos. É essa
misericórdia que o profeta anseia ver, e Habacuque sabe que só Deus é capaz de
operar essa obra. O profeta concentra sua atenção exclusivamente no que Deus
pode fazer. Habacuque pede a Deus que se revele, tal como fizera durante o
período do êxodo, quando Yahweh livrou Israel ao esmagar seus opressores (3.3-
15). Isso seria uma renovação da obra divina e revelatória; isso seria misericórdia
para os justos, que vivem pela fé. Por esse tipo de obra o profeta se satisfaz em
esperar (3.16). Pela fé ele aguardará, embora tudo pareça deprimente ao redor
dele (3.17-19). A palavra de Deus é suficiente para alimentar essa fé.
Sofonias tem mais referências ao Dia do Senhor do que qualquer outro profeta.
Seu tema predominante é julgamento, manifesto tanto na versão histórica
iminente do Dia do Senhor quanto em sua plenitude escatológica. Sua percepção
da proximidade do ( יֹום יהוהyôm yhwh, “Dia do Senhor”) é um bom resumo do
livro. “Calem-se diante do Soberano Senhor, pois o dia do Senhor está próximo.
O Senhor preparou um sacrifício; consagrou os seus convidados” (1.7). Esta ênfase
22
Mensagem
O profeta, descreve como o julgamento cairá sobre Judá por sua idolatria e
complacência espiritual (1.4–2.3). Juízo alcançará todas as camadas da sociedade
contaminadas pelo pecado (1.4-13). Apesar dos esforços reais, o culto a baal
sobreviveu e encontrou refúgio na própria Jerusalém (1.4). Um misto de idolatria
e astrologia (também denunciado em Jeremias [19.13]) revela influência da
Mesopotâmia, enquanto a influência amonita é denunciada na adoração de
Milcom, com seus bárbaros sacrifícios humanos. O sincretismo religioso se tornou
normal em Judá.
O parágrafo final desse texto é uma exortação ao remanescente fiel para separá-
lo da nação (2.1-3). Aqueles que haviam humildemente buscado Sua justiça,
receberiam uma promessa especial de preservação do violento ataque
provocado pela ira divina (2.3).
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Depois do juízo das nações, Sofonias volta sua atenção uma vez mais para Judá.
A mesma técnica empregada por Amós é encontrada em Sofonias. Jerusalém é
acusada de rebelião e deslealdade pactual (3.1,2), um pecado que permeia todas
as camadas da sociedade. Autoridades civis se aproveitam do povo que deveriam
proteger (3.3), profetas e sacerdotes pervertem os padrões espirituais e morais
que eles deveriam promover entre o povo.
Israel será o recipiente das bênçãos pactuais: a nação será purificada e reunida
(3.11), à medida que o remanescente buscar ao Senhor e nEle achar refúgio do
pecado e de suas temíveis consequências (3.12,13). Jerusalém se regozijará no
perdão divino (3.14,15) e na presença do Senhor em seu meio (3.16,17). Finalmente,
24
De Joel até Ageu passaram-se mais de 300 anos. A hegemonia política e militar,
nessa fase da história mundial, estava com os persas, pois os assírios e babilônios
não existiam mais como impérios. Quanto ao pecado de Judá, este não era a
idolatria, pois o cativeiro erradicara de vez essa prática. O problema agora,
igualmente grave, era a indiferença, a mornidão e o comodismo espiritual dos
judeus em relação à obra de Deus.
Mensagem
Judá ainda estava sob os princípios de bênção e maldição da aliança mosaica (cf.
Lv 26 e Dt 28). Sua negligência produzira completo fracasso de seu sistema
econômico. Quanto mais eles retinham do Senhor devido a suas condições
precárias, mais perdiam em sua economia agrícola. Era uma situação de perda
26
A causa dessa reação se acha em 1.14, “o Senhor suscitou o espírito [...] de todo
o resto do povo” ARA. Na verdade, este versículo apresenta um impressionante
contraste com 1.2, em que os judeus foram chamados de “este povo”. Quando
obedecessem ao Senhor, sob Sua capacitação, os ouvintes de Ageu se
posicionariam para receber o título de ׁשא ִֵרית
ְ (šeʾēr’ṯ, “remanescente”), aquele
grupo de pessoas especialmente caras ao coração de Deus, frequentemente
mencionado nos profetas. A eles se aplicava a promessa, “Eu estou com vocês,
declara o Senhor” (1.13). O trabalho da reconstrução do templo foi retomado
(1.14,15)
Três promessas são feitas ao povo para ajudá-lo a crer em que seu pequeno
templo será mais glorioso que o anterior.
• Yahweh promete estar com Israel de modo parecido como esteve durante
o êxodo (2.4,5). Deus não se esqueceu da aliança sinaítica.
• O Deus que governa a terra encherá o templo com os tesouros das nações
(2.6-8). A presença permanente de Deus e o conhecimento universal de
Yahweh embelezarão esse templo.
Davi não desapareceu, o que significa que também não desapareceu a esperança
futura de Israel.
Embora atue à mesma época de Ageu, ministrando ao mesmo povo por muitas
das mesmas razões, a personalidade e o estilo de Zacarias são bem diferentes de
Ageu.
Mensagem
2. Uma série de oito visões descreve Deus como “zeloso [ou ciumento] com
Jerusalém e Sião” (1.7—6.15; v. 1.14). Cada visão estende o domínio de
29
As visões de Zacarias
Indica que apesar das esperanças de uma divina reorganização dos reinos ainda
não ter se materializado (cf. Ag 2.6,7), Yahweh continuava no controle e cuidava
de Jerusalém com tal zelo que garantiria a reconstrução da cidade e do templo.
Encorajava o povo, ao prometer que o próprio Yahweh habitará com Seu povo
em uma Jerusalém renovada e repovoada após Seu julgamento contra os
inimigos de Israel.
Foi dada como lembrete de que o mal estava ligado à Babilônia e para
desencorajar qualquer esperança política ou econômica que Israel pudesse ter
com respeito ao lugar que eles haviam sido instruídos a abandonar (2.7).
destacar que Zacarias apresenta o Messias na figura de um rei pastor que é ferido
(13.7), mas também governa as nações 912.8-9).
Obediência e submissão
Essa relação entre Deus e seu povo não deve ser vista de modo pejorativo. A
motivação à obediência não é o medo pelo qual a desobediência pode trazer, mas
a resposta adequada à misericórdia de Deus. O Senhor sempre leva em conta o
bem do seu povo e espera que os seus pratiquem o bem e obedeçam a Ele,
segundo os estatutos e mandamentos que lhes foram entregues (8.14-17).
Malaquias, em claro contraste com os outros profetas, não fala a Israel em uma
proclamação profética aberta, mas emprega um estilo de dialética ou debate, no
qual traz acusações divinas contra Israel, apresenta a recusa da nação em aceitar
tais acusações e apresenta prova de sua condição de culpada.
Mensagem
O livro começa com a afirmação de uma doutrina muito cara a todos os profetas,
ou seja, o amor incondicional de Yahweh por Israel (1.1-5), um tema cuja origem
remonta a Deuteronômio 7. Esse amor incondicional se manifestou na eleição de
Jacó em vez de Esaú, e também na dispersão irreversível dos edomitas, em
contraste com a obra soberana de Deus que trouxe os israelitas de volta de seu
exílio na Babilônia. Apesar das persistentes dúvidas quanto à fidelidade de Deus,
tudo que Israel devia fazer era olhar a sua volta para ver a diferença com que
Yahweh os tratava, quando comparados às outras nações.
O sexto e último debate (3.13-15), mais uma vez, trata da abordagem cínica de
Israel para com a vida, questionando desta vez a necessidade ou proveito da
religião, da adoração a Yahweh. Essa passagem é um quadro sombrio da vida
quando a confiança em Deus é trocada pela dúvida na existência e valor da
religião verdadeira, obediência e esperança em uma recompensa justa da parte
de Deus. Depois, o materialismo decadente se instala. O futuro ainda provaria que
há valor em servir a Yahweh e manter uma religião verdadeira. Mesmo aqueles da
geração de Malaquias que não haviam se curvado ao ceticismo cínico da época
seriam recompensados com um relacionamento íntimo com Yahweh (3.17) e
escapariam ao julgamento abrasador que varreria a maioria incrédula (4.1-3).
A exortação para que se lembrassem “da lei” parece indicar que Israel deveria
voltar à lealdade à aliança enquanto, como comunidade verdadeiramente
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Conclusão
BIBLIOGRAFIA
BÌBLIA. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2013.