Você está na página 1de 192

CURSO DE BIBLIOLOGIA Autor: Eguinaldo Hélio de Souza

Copyright 2019 Autor da Fé Editora Idealizador: Tarles Elias


Categoria: Vida cristã
Diagramação: Cainã Meucci
Primeira edição – 2019 Capa: Daniel Gonçalves
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução total ou Coordenação editorial: Filipe Mouzinho
parcial sem a permissão
escrita dos editores.

As citações bíblicas foram extraídas


da edição Almeida Revista e Corrigida

A Editora Autor da Fé informa que o conteúdo dos textos,


incluindo as ideias, opiniões e conceitos publicados, é
de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo
necessariamente a opinião dos editores.
SUMÁRIO

LIÇÃO 1
O QUE É A BÍBLIA?.................................................................................9

LIÇÃO 2
A ESTRUTURA DA BÍBLIA..................................................................... 23

LIÇÃO 3
CONTEXTOS HISTÓRICOS DAS ESCRITURAS...................................... 43

LIÇÃO 4
CONTEXTOS GEOGRÁFICO DAS ESCRITURAS.................................... 63

LIÇÃO 5
O ASPECTO LITERÁRIO DAS ESCRITURAS........................................... 71

LIÇÃO 6
FORMAÇÃO DA COLEÇÃO DE LIVROS................................................ 83

LIÇÃO 7
CANONICIDADE DAS ESCRITURAS...................................................... 91

LIÇÃO 8
REVELAÇÃO, INSPIRAÇÃO E ILUMINAÇÃO...................................... 117

LIÇÃO 9
INFALIBILIDADE E INERRÂNCIA BÍBLICA.......................................... 123

LIÇÃO 10
DEFESA E INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS........................................ 131
LIÇÃO 11
SÍMBOLOS DA PALAVRA DE DEUS.................................................... 141

LIÇÃO 12
O CRISTÃO E O ESTUDO DAS ESCRITURAS....................................... 149

LIÇÃO 13
MANUSCRITOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO.............................. 165

LIÇÃO 14
MANUSCRITOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO................................. 177

LIÇÃO 15
TRADUÇÕES DAS ESCRITURAS.......................................................... 183
TEXTO INTRODUTÓRIO

O MAIOR MONUMENTO SOBRE A TERRA


Por Eguinaldo Hélio de Souza

Península do Sinai. Aproximadamente 1.500 a.C. Um ancião solitário


dentro de sua humilde cabana de peles de animais escreve em uma lin-
guagem antiquíssima. O sol escaldante não pode esmorecer seu corpo
octogenário, já acostumado com as intempéries do deserto. Ao redor
da humilde habitação, uma multidão inquieta teme pelo seu destino e
pelo futuro de seus filhos. A sua frente ergue-se altaneiro e imponente o
Horebe, olhado agora com ainda mais reverencia e espanto.
Se outrora lhes pesava o jugo da opressão, agora é a solicitude pela
vida quem lhes aperta o coração. Se antes lhes doía a carne, agora lhes
aflige a alma. Se antes eram meros estrangeiros em terra alheia, então são
simples peregrinos tendo a esperança por destino. Nem casas fixas de tijo-
los cozidos, nem plantações borbulhantes de melões, alho e cebolas, nem
poços nem rios, nem carne. Tudo e pedra, terra e sol. Tudo é expectativa.
Tudo é indagação. O pão comido com lagrimas já ficara para trás e o mel
bebido com alegria ainda não viera. O inimigo conhecido já se fora e o
oculto ainda não chegara. O passado já não era e o futuro ainda seria. Fora
arrancada a velha arvore, mas a nova ainda não estava plantada.

5
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Neste ambiente inóspito e incerto, começava a ser erigido o maior mo-


numento sobre a terra, monumento que a mente humana jamais haveria
de igualar. Sem mover uma única pedra ou polir qualquer rocha, ele seria
sólida e paulatinamente erguido em um período de 16 séculos. Neste
tempo, outros monumentos se elevariam para a gloria humana, para
depois sucumbirem com e como a mesma, deixando nada mais que mera
lembrança, sem nada imprimir, moldar ou mudar no espírito humano.
As mãos e a mente do ancião, entretanto, eram movidas por um Espí-
rito superior, mal sabendo ele, que aquele Livro que ora entrava para a
história, haveria de prever, guiar, alterar e definir o destino e os caminhos
de milhões de indivíduos, de nações e do mundo.
Aquele livro seria o grande paradoxo da humanidade, edificando
nações e derrubando-as, plantando-as e arrancando-as, exaltando-as e
humilhando-as. Seria tão amado que por ele muitos morreriam e tão
odiado que por ele muitos outros matariam. Seria criticado e defendi-
do, desprezado e analisado, terminantemente proibido por uns e lar-
gamente divulgado por outros. Entraria na mais humilde cabana e no
mais belo palácio. Viajaria de Norte a Sul e do Oriente até o Ocidente.
Seria escarnecido e louvado. Olhado com a mais dura incredulidade e
com a mais pura fé.
Aquele velho, que oitenta anos antes havia sido salvo nas águas do
Nilo, que havia bebido das glórias de um poderoso império e se farta-
do com a poeira, o sol e o céu do deserto, começava agora a escrever.
Embora soubesse que do alto vinham as suas palavras, ainda era cedo
demais para que ele tivesse ideia da força existente naqueles escritos.
Sobre a pedra angular por ele lançada, um edifício mais sólido que os
alicerces da própria terra e do universo seria construído. Um Livro, cujo
conteúdo fora concebido antes da fundação do mundo e cujo as verda-
des continuariam após o seu fim.
Outros viriam, sim, outros movidos pelo mesmo Espírito seriam
instrumentos na edificação deste monumento. Homens distintos e
distantes uns dos outros. Na Ásia, na África, na Europa. Em palácios,

6
INSTITUTO TEOLOGAR

em cabanas ou num templo. Possuindo a sabedoria dos reis ou a


simplicidade dos pescadores, tendo a transcendência dos visionários
e profetas ou a objetividade do médico, a ação dos governantes, ou
meditação dos sacerdotes, esses homens escreveriam. E como cons-
trutores de grandes catedrais, colocariam pedra sobre pedra. Até um
boiadeiro e um general haveria entre eles. Homens das mentes mais
variadas, muitas vezes desconhecendo o porquê de suas arrebatadoras
palavras, iriam, letra a letra, palavra por palavra, levantando o inigua-
lável edifício.
Hoje, mais de três milênios se passaram desde que o velho hebreu foi
movido a escrever. A história do Livro em si, é impressionante.
Fantástica, porém, são suas marcas na história. Marcas feitas muitas ve-
zes contra a vontade dos marcados, pois mais do que palavras, este Livro
trouxe determinações; Determinações estas que suplantaram a vontade,
os planos e os feitos de reis e de reinos, mostrando sobre a terra um poder
mais forte que a espada e a força bruta, mais rápido que a flecha e o arco,
mais sólido que catapultas: o poder da profecia divina encontrada nas
Escrituras Sagradas.
Jorrando através dos lábios de pessoas simples, membros de um povo
desprovido de grandeza militar ou política, vivendo mais como domina-
dos que como dominantes, a palavra profética era o martelo de Deus,
lançando abaixo os muros de Babilônia e Nínive, arrasando Tiro e Sidon,
extinguindo Moabe e Edom.
“Assim diz Yawé”, era o grito do profeta e com certeza suas palavras
invadiriam o ar, penetrariam no tempo e se transformaria em história.
Inumeráveis vezes, a profecia se transformou em fato histórico, contra to-
das as probabilidades. Não uma ou outra vez, como tênue pressuposição
originária da opinião humana, mas sempre, como firme determinação,
nascida na mente e coração de Deus.
Ao estudante é impossível não pasmar. Se de um lado tivéssemos
as Escrituras e do outro, livros de história, certamente ficaríamos
impressionados. A profundidade de pensamento grego modelou o

7
CURSO DE BIBLIOLOGIA

pensamento universal e a sociedade romana enraizou-se em nossa


cultura, mas a profecia hebraica fez mais do que ambos. Ela como que
nos tirou dos limites geográficos e históricos e nos fez ver do alto de
uma montanha os caminhos da existência humana. Ela transforma o
passado e o futuro em tempo presente reunindo tudo em uma única
perspectiva- a perspectiva divina.
Quando nos tornamos cônscios do estreitíssimo vínculo entre a profe-
cia bíblica e a história humana, seremos capazes de ver os caminhos e a
mão de Deus por entre os caminhos dos homens e reconhecer que a nossa
história, é em grande parte o seu eterno desígnio.
Essa é a força, e o poder e a sabedoria das Sagradas Escrituras, a eterna
Palavra de Deus.

8
LIÇÃO 1
O QUE É A BÍBLIA?

A
s Escrituras são descritas como sendo: pura, perfeita, eterna,
certa, verdadeira, para sempre estabelecida nos céus; ela san-
tifica, provoca crescimento espiritual, é inspirada por Deus,
autoritativa; ela dá sabedoria para a salvação, torna sábio o simples, é viva e
ativa, é um guia, um fogo, um martelo, uma semente, a espada do Espírito,
ela dá conhecimento de Deus, é uma lâmpada para nossos pés, uma luz
para nossos passos, produz reverência por Deus, cura, torna livre, ilumina,
produz fé, regenera, converte a alma, traz convicção de pecado, refreia o
pecado, é alimento espiritual, é infalível, inerrante, irrevogável, sonda cora-
ção e mente, produz vida, derrota satanás, prova verdade, refuta o erro, é
santa, equipa para as boas obras, é o julgamento final para toda tradição, é a
palavra de Deus (Hb 4.12; Sl 119.9-11, 38, 105, 130, 133, 160; 111.7-8; Is 40.8;
Ef 5.26; 2 Tm 3.15-17; Jr 5.14; 23.29; Mt 13.18-23; Ef 6.17; Sl 107.20; Tt 2.5; 1
Pd 1.23; 2.2; At 20.32; Jo 8.32; 10.35; 17.17; Mt 15.2-9)
Existem muitos livros bons. Muitos escritores evangélicos têm produ-
zido literatura sadia, verdadeira e esclarecedora. Também temos ouvido
pregações baseadas na Bíblia que enriquecem nossa vida e trazem muito
crescimento espiritual. Isso sem dúvida. Todavia, nada disso pode substi-
tuir o papel da Bíblia em nossa vida. Ela deve ter um lugar central. Não
ter tempo para a Bíblia é não ter tempo para Deus. Esforçar-se por ler e
meditar nela trará enorme recompensa. Como já disse alguém:

9
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Creia na Bíblia para ser salvo.


Estude-a para ser sábio.
Pratique-a para ser santo.

A Bíblia é o livro sagrado do Cristianismo. Ela é o livro mais famoso e


mais produzido no mundo. Seus 66 livros foram escritos por mais de 40
pessoas, das mais diferentes profissões, culturas e nacionalidades, durante
um período de cerca de 1.500 anos. Nela se encontram os mais variados
gêneros literários, como histórias, biografias, leis, poesias, hinos, canções,
provérbios, cartas, sermões, profecias e visões, que mostram como Deus
se relaciona com a humanidade. Sua incrível uniformidade faz da Bíblia
um livro singular, que só poderia ter sido escrito sob inspiração divina. De
fato, ela mesma reivindica uma inspiração especial de Deus: a expressão
"e Deus disse", ou equivalente, ocorre mais de 2.600 vezes.
Que é a Bíblia? Um simples olhar lançado sobre o índice basta para
ver que ela é uma "biblioteca", uma coleção de livros muito diversos.
Quando se consultam as introduções a esses livros, a primeira impressão
se confirma: distribuindo-se por mais de dez séculos, os livros provêm de
dezenas de autores diferentes; uns estão escritos em hebraico (com certas
passagens em aramaico), outros em grego; apresentam gêneros literários
tão diversos quanto à narrativa histórica, o código de leis, a pregação, a
oração, a poesia, a carta, o romance.
"Nascida no Oriente e vestida de formas e imagens orientais, a Bíblia per-
corre as estradas do mundo inteiro, familiarizada com os caminhos por aon-
de vai; penetra nos países, um após outro, para em toda parte sentir-se bem,
como em seu próprio ambiente. Aprendeu a falar ao coração do homem
em centenas de línguas. As crianças ouvem suas histórias com admiração
e prazer, e os sábios ponderam-nas como parábolas de vida. Os maus e os
soberbos estremecem com os seus avisos, mas aos ouvidos dos que sofrem
e dos penitentes sua voz tem timbre maternal. A Bíblia está entretecida nos
nossos sonhos mais queridos, de sorte que o amor, a amizade, a simpatia, o
devotamento, a saudade, a esperança, cingem-se com as belas vestimentas
de sua linguagem preciosa. Tendo como seu esse tesouro, ninguém é pobre
nem desolado. Quando a paisagem escurece, e o peregrino, trêmulo, chega
ao vale da sombra, não teme nele entrar: empunha a vara e o cajado da
Escritura: diz ao amigo e companheiro - Adeus, até breve. Munido desse
apoio, avança pela passagem solitária como quem anda pelo meio de trevas
em demanda da Luz". Henry Van Dyke

10
INSTITUTO TEOLOGAR

1. INFORMAÇÕES ELEMENTARES
Algumas informações sobre a Bíblia são indispensáveis. Sabemos que
para conhecê-la a fundo é necessário o esforço de uma vida inteira.
Mesmo assim não será suficiente. Como todo conhecimento, precisamos
conhecer de baixo, na base. Ninguém é capaz de aprender tudo de uma
vez e cada pessoa tem sua própria capacidade de aprendizado. Aqui vamos
ver algumas perguntas que geralmente ocorrem.
A Bíblia também é chamada de “Escritura” palavra derivada do latim
“scriptura” (Marcos 12.10; 15.28; Lucas 4.21; João 2.22; 7.38; 10.35; Ro-
manos 4.3; Gálatas 4.30; 2 Pedro 1.20) e de “Escrituras” (Mateus 22.29;
Marcos 12.24; Lucas 24.27; João 5.39; Atos 17.11; Romanos 1.2; 1 Corín-
tios 15.3-4; 2; 2 Pedro 3.16). Esses termos significam “escritos sagrados”.
O apóstolo Paulo usou “Sagradas Escrituras” (Romanos 1.2), “sagradas
letras” (2 Timóteo 3.15) e “oráculos de Deus” (Romanos 3.2). Um dos
nomes mais descritivos e satisfatórios é “Palavra de Deus” (Marcos 7.13;
Romanos 10.17; 2 Coríntios 2.17; 1 Tessalonicenses 2.13; Hebreus 4.12).

DE ONDE VEM A PALAVRA BÍBLIA?


Na verdade a palavra “Bíblia” não poderá ser encontrada no texto das
Sagradas Escrituras. Consta apenas na capa. - Donde, pois, nos vem? - Vem
do grego, a língua original do Novo Testamento. É derivado do nome que
os gregos davam à folha de papiro preparada para a escrita - "biblos". Um
rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado "biblion" e vários destes
eram uma "bíblia". Portanto, literalmente, a palavra bíblia quer dizer "cole-
ção de livros pequenos". Com a invenção do papel, desapareceram os rolos,
e a palavra biblos. A latina líber deu origem a palavra “livro”. Os estudiosos
geralmente afirmam que a primeira pessoa que usou a palavra Bíblia foi um
pregador chamado João Crisóstomo. Ele era da cidade de Constantinopla
(hoje Istambul, na Turquia) e viveu ali no Século IV depois de Cristo.
E porque as Escrituras formam uma unidade perfeita, a palavra Bíblia,
sendo um plural, como acabamos de ver, passou a ser singular, significando o
LIVRO, isto é, o Livro dos livros; O Livro por excelência. Como Livro divino,
a definição canônica da Bíblia é "A revelação de Deus à humanidade".

COMO A BÍBLIA ESTÁ ORGANIZADA?


Quando olhamos a Bíblia também percebemos que ela é composta por
diversos livros diferentes. Alguns dos nomes desses livros são nomes dife-

11
CURSO DE BIBLIOLOGIA

rentes daqueles que ouvimos todos os dias. No início geralmente ficamos


confusos com a grande quantidade de informações que ela nos oferece.
Todavia, dividindo as Escrituras Sagradas em várias partes e estudando
seus livros separadamente, vamos entendendo melhor o porquê dessa
diversidade. À medida que vamos conhecendo, as coisas ficam mais fáceis.
Estudaremos agora a estrutura ou composição da Bíblia, isto é, a sua
divisão em partes principais e seus livros quanto à classificação por assuntos,
divisão em capítulos e versículos e, certas particularidades indispensáveis.
A Bíblia divide-se em duas partes principais: ANTIGO e NOVO TES-
TAMENTO, tendo ao todo 66 livros: sendo 39 no AT e 27 no NT. Estes 66
livros foram escritos num período de 16 séculos e tiveram cerca de 40 es-
critores. Aqui está um dos milagres da Bíblia. Esses escritores pertenceram
às mais variadas profissões e atividades, viveram e escreveram em países,
regiões e continentes distantes uns dos outros, em épocas e condições
diversas, entretanto, seus escritos formam uma harmonia perfeita. Isto
prova que um só os dirigia no registro da revelação divina: Deus.

A palavra Testamento vem do termo grego "diatheke", e significa:

a ) Aliança ou Concerto. Esta é a palavra empregada no Novo Testa-


mento, como por exemplo em Lucas 22.20. No Antigo Testamento, a
palavra usada é "berith" que significa apenas concerto.

b) Testamento. Isto é, um documento contendo a última vontade de
alguém quanto à distribuição de seus bens, após sua morte.

O duplo sentido do termo grego nos mostra que a morte do tes-tador


(Cristo) ratificou ou selou a Nova Aliança, garantin-do-nos toda a herança
com Cristo (Rm 8.17; Hb 9.15-17).
O título Antigo Testamento foi primeiramente aplicado aos 39 livros
das Escrituras hebraicas, por Tertuliano, e Orígenes.
Na primeira divisão principal da Bíblia, temos o Antigo Concerto
(também chamado pacto, aliança), que veio pela Lei, feito no Sinai e,
selado com sangue de animais (Êx 24.3-8; Hb 9.19,20). Na segunda divisão
principal (o NT), temos o Novo Concerto, que veio pelo Senhor Jesus
Cristo, feito no Calvário e selado com o seu próprio sangue (Lc 22.20; Hb
9.11-15). É, pois, um concerto superior.

12
INSTITUTO TEOLOGAR

Nas Bíblias de edição da Igreja Romana, o total de livros é 73. Os 7 livros


a mais, são chamados apócrifos. Além dos livros apócrifos, as referidas
Bíblias têm mais 4 acréscimos a livros canônicos. Trataremos disto no
capítulo que estudará o cânon das Escrituras.

2. O QUE CREMOS COM RESPEITO ÀS


ESCRITURAS
As Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e Novo Testamentos,
são inteiramente inspiradas por Deus, infalíveis na sua composição
original e completamente dignas de confiança em quaisquer áreas
que venham a se expressar, sendo também a autoridade final, única e
suprema de fé e conduta.
Esta definição abreviada resume o significado das Escrituras dentro do
contexto protestante. Esse significado é abrangente e único, determinante e
definido. Podemos pontuar as afirmações acima da seguinte forma:
As Sagradas Escrituras são compostas pelo Antigo e pelo Novo Testa-
mento. Apesar do Novo Testamento nos trazer a plena revelação divina,
isso não significa que tudo aquilo que foi revelado no Antigo Testamento
era apenas uma mera preparação a ser dispensada posteriormente. As ver-
dades ali apresentadas continuam sendo verdade e, com exceção daquilo
que obrigatoriamente se realiza e consuma em Cristo, tanto quanto o que
foi revelado no Novo Testamento.
Inteiramente inspiradas por Deus. A Bíblia não é um livro comum, escrito pela
sabedoria e pela vontade humana (1 Co 2.13; 2 Pd 1.21). A inspiração, ou o “sopro”
que produziu seu conteúdo veio de Deus. E isso não se refere a apenas algumas
das afirmações das Escrituras, mas a todas elas. Tudo o que nela está comunicado
trás o selo da autenticação, da sabedoria e da vontade divina.
Infalíveis em sua composição original. A infalibilidade significa que a
Bíblia não contém erros, isto é, é inerrante. Se Deus é perfeito, Sua Pala-
vra obrigatoriamente é perfeita (Sl 19.7). No entanto, precisamos levar em
conta que o que temos são apenas cópias de uma longa cadeia de cópias.
As limitações dos copistas não pode garantir a infalibilidade das cópias.
Logo, a inerrância diz respeito somente aos originais.
Digna de confiança em qualquer área que se pronuncie. Verdades
sobre os planos e promessas divinas não são as únicas áreas protegidas

13
CURSO DE BIBLIOLOGIA

pela infalibilidade. Ainda que seja um livro divino, toda revelação vem em
um contexto humano, com lugares, eventos e datas dentro da história,
envolvendo inúmeros personagens em inúmeros momentos. Os registros
desses fatos são definitivamente tão infalíveis quanto quaisquer outras
verdades reveladas. Os fatos históricos, os lugares onde ocorreram, os
eventos e pessoas correspondem à plena verdade.
Autoridade final, única e suprema de fé e conduta. A Bíblia e só a
Bíblia define de forma última e indiscutível aquilo que devemos crer e
como devemos agir. A autoridade suprema das Escrituras se antepõe
a qualquer outra. Devidamente interpretada e entendida, temos na
Bíblia a última palavra.
Apesar de uma definição concisa do significado das Escrituras ela
consegue apresentar a importância e o valor que encontramos na Bíblia.
Se olharmos outras tradições cristãs como o catolicismo romano ou a
ortodoxia grega, onde outros elementos competem com a autoridade da
Bíblia, vemos que as Escrituras não exercem função tão determinante.
Para nós a Bíblia é única, suprema, infalível.

3. SOLA SCRIPTURA
Foi no dia 31 de outubro de 1517, ao meio dia, que Martinho Lutero,
monge agostiniano, fixou na porta do Castelo de Wittemberg suas 95
teses contra a venda de indulgências (perdão). Ele não imaginava estar
dando início a um poderoso movimento que haveria de chamar os cristãos
em todo mundo para um retorno ao cristianismo bíblico. Na verdade, ele
não era o primeiro, nem seria o último e o único a defender a ideia que
revolucionaria a igreja e o mundo: toda crença e prática cristã, para ser
válida, precisa ser sancionada pela Palavra de Deus.
De fato, dentro de suas 95 teses, ele só mencionou a Bíblia em três delas
(18, 53, 54). Entretanto, em toda a sua obra, bem como na de seus anteces-
sores e sucessores, a ideia de Sola Scriptura (somente as Escrituras) como
fonte de autoridade divina estava presente. Só era possível avaliar como
correta ou incorreta qualquer ação ou pregação da Igreja, se houvesse
uma base divina e infalível para isso.

14
INSTITUTO TEOLOGAR

Em 1378 dois papas foram nomeados simultaneamente. Ambos se


excomungaram mutuamente e aos seus seguidores. Um Concílio em
Pisa (1409) excomungou a ambos e elegeu um terceiro Papa. Os dois
anteriores não reconheceram a autoridade do Concílio e excomun-
garam seus membros. Então havia três papas ao mesmo tempo, os
três reivindicando sua legitimidade e condenando os demais com seus
seguidores. A questão só foi resolvida definitivamente no Concílio de
Constança (1414 – 1418) quando os três papas foram levados a abdicar
e um novo papa foi eleito.
Todas essas questões levavam os pré-reformadores e reformadores a
perceber que a verdadeira autoridade para as questões de salvação não se
encontrava nem em papas e nem em concílios. Confiar a salvação eterna
a homens e estruturas tão falíveis era um risco grande demais que muitos
já não estavam dispostos a correr.

AS ESCRITURAS E A SOLA SCRIPTURA


A leitura das Escrituras cada vez mais demonstrava as diferenças entre
as crenças e práticas nelas expostas e as crenças e práticas ensinadas pela
Igreja. A crença das Escrituras como único padrão da verdade nunca foi
negada oficialmente, mas foi sendo gradativamente submersa ao longo
dos séculos. Estava agora sendo desenterrada. A autoridade das Escri-
turas antecedia qualquer outra autoridade, quer da Igreja, quer de seus
representantes. Podiam ser intérpretes e expositores da Palavra, mas em
circunstância alguma estava acima dela.
Na própria Bíblia o conceito era claro. Porventura Jesus já não havia
dito aos fariseus “Bem invalidais o mandamento de Deus para guardar-
des a vossa tradição (Mc 7.9)?”. A eles a Palavra foi confiada (Rm 3.2). O
que não lhes dava o direito de antepor qualquer outra autoridade a ela.
Não dissera o apóstolo Paulo “Seja Deus verdadeiro e todo homem
mentiroso (Rm 3.4)?”. Não foi sua pregação analisada à luz das Escri-
turas? Não foi essa atitude considerada nobre? (At 17.11). Em seu dis-
curso aos líderes de Éfeso e Mileto, mostrou ciente da corrupção que
os homens haveriam de introduzir no rebanho de Deus (At 20.29, 20).
Como solução, os encomendou à Deus e “à palavra de sua graça” (At

15
CURSO DE BIBLIOLOGIA

20.32). Mais tarde, em sua epístola pastoral a Timóteo, colocou a igreja


como “coluna e apoio” da verdade (1 Tm 3.15). Ou seja, a ela, a Igreja,
cabia sustentar a verdade revelada nas Escrituras e aplicá-la a todos os
aspectos da vida (2 Tm 3.14-17). Nem os judeus e nem a Igreja foram
colocados como produtores da verdade. Essa se encontrava na Bíblia.
Eles deveriam ser apenas os seus guardadores.

 . UMA VISÃO GERAL DO PANO DE FUNDO


4
DAS ESCRITURAS
A Bíblia apresenta um quadro geral, uma perspectiva específica sobre o
universo e a existência. Esse quadro geral corresponde a exatamente como
o mundo é. E embora diversas religiões, filosofias e culturas apresentem
igualmente planos para descrever a realidade do cosmo, nenhuma delas é
digna de segurança. Carl Henri apresenta alguns pontos que delineiam a
visão geral que as Escrituras apresentam:

• O universo é uma criação divina com propósitos


• Toda vida humana é sagrada e os seres humanos têm igual dignidade
• A história é linear e se move rumo ao objetivo final
• A natureza é um sistema ordenado e o homem é o seu mordomo
responsável
• A justiça triunfará contra o mal na conquista decisiva final
• A vida terrena não exaure a existência; apenas olha para a frente,
para a ressurreição dos mortos e para o juízo final e completo da
humanidade e das nações

Essas verdades bíblicas que formam o pano de fundo de toda a revelação


bíblica foi a visão de mundo do Ocidente em toda a sua formação, até que
a negação das Escrituras obrigou pensadores a criar outras concepções
que colidem com as Escrituras. Mas a verdade permanece: as Escrituras
são a grande formadora do pensamento Ocidental.

16
INSTITUTO TEOLOGAR

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

RESPONDA
1. Número de livros da Bíblia
2. Tempo que demorou para ser escrita
3. Número aproximado de autores inspirados
4. Vezes em que aparece a expressão “Deus disse” ou equivalente
5. Gêneros literários que estão representados na Bíblia

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] Não só os originais são infalíveis. As cópias também são.
[ ] Antigo e Novo Testamento são as principais divisões das Escrituras
[ ] A Bíblia ensina que a justiça triunfará sobre o mal
[ ] A palavra Bíblia é de origem hebraica
[ ] “Bíblia” significa “coleção de pequenos livros”

17
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Lição 1 – Apêndice A
Algumas frases significativas sobre as Escrituras

A Bíblia é entre os livros aquilo que Cristo é entre os homens.


Anônimo

 a mesma forma como Deus é a única pessoa santa, a Escritura é o único


D
livro santo.
William Gurnall

 uanto a esse grande livro, preciso dizer que ele é a melhor dádiva de Deus ao
Q
homem. Tudo o que o bom Salvador deu ao mundo foi comunicado por meio
desse livro.
Abraham Lincoln

 uitos livros em minha biblioteca estão agora desatualizados. Foram bons


M
enquanto eram novos, à semelhança das roupas que usei quando tinha dez anos
de idade; mas eu cresci e as deixei para trás. Ninguém jamais deixa para trás
as Escrituras por ter crescido; esse livro se amplia e é mais conhecido à medida
que passam nossos anos.
C. H. Spurgeon

 inda que eu tivesse a língua dos anjos, mesmo assim não poderia expressar a
A
excelência da Bíblia.
Thomas Watson

A Bíblia é tão completa quanto qualquer outro dom de Deus.


Anônimo

 Bíblia é uma fonte inesgotável de todas as verdades. A existência da Bíblia é


A
a maior bênção que a humanidade jamais experimentou.
Immanuel Kant

F iz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos nem mesmo anjos.
Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e
tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para a que há de vir.
Martinho Lutero

18
INSTITUTO TEOLOGAR

Nas Escrituras, cada florzinha é uma campina.


Martinho Lutero

Uma pedra preciosa daquele oceano vale todos os pedregulhos dos regatos da terra.
Robert Murray M'Cheyne

 as Escrituras divinas, há vaus e profundezas; vaus onde o cordeiro pode


N
passar, e profundezas onde o elefante pode nadar.
John Owen

S e quando eu chegar ao céu o Senhor me disser: "Spurgeon, quero que você


pregue por toda a eternidade", responderei: "Senhor, dá-me uma Bíblia - é tudo
de que preciso".
C. H. Spurgeon

 ão esperamos nenhum novo mundo em nossa astronomia nem nenhuma nova


N
Bíblia em nossa teologia.
Augustus H. Strong

 Bíblia é uma mina de diamantes, um colar de pérolas, a espada do espírito; um


A
mapa pelo qual o cristão navega para a eternidade; o roteiro pelo qual anda todos
os dias; o relógio pelo qual acerta sua vida; a balança com a qual pesa suas ações.
Thomas Watson

Todo o conhecimento que você deseja ter está em um único livro: a Bíblia.
John Wesley

19
CURSO DE BIBLIOLOGIA

REFERÊNCIAS

 RCHER JR, Gleason. Merece confiança o Antigo Testamento. São


A
Paulo: Editora Vida, 2000.

 ANCROFT, E.H. Teologia elementar. São Paulo: Editora Batista


B
Regular, 1995.

 ERGSTÉN, Eurico. Introdução à teologia sistemática. Rio de Janeiro:


B
CPAD, 1999.

 OICE, James Montgomery. O alicerce da autoridade bíblica. São Pau-


B
lo: Sociedade Religiosa Vida Nova, 1997.

 HAMPLIN, R. N e BENTES, J.M. Enciclopédia de Bíblia, teologia e


C
filosofia., vol. 1, São Paulo: Candeia, 1995, p. 527.

COMFORT, Philip Wesley. A origem da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.

 OCKERY, David S. Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Edições


D
Vida Nova, 2001.

 RANE, John. A Bíblia: fato ou fantasia? São Paulo: Bom Pastor


D
Editora, 1994.

 EE, Gordon D. e STUART, Douglas. Entendes o que lês?, São Paulo:


F
Editora Vida Nova, 2000.

 EISLER, Norman e NIX, William. Introdução bíblica. São Paulo:


G
Editora Vida, 1997.

GEISLER, Norman. A inerrância da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2003.


GILBERTO, Antonio. A Bíblia através dos séculos. Rio de Janeiro:
CPAD, 1995.

20
INSTITUTO TEOLOGAR

 RUNDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática. São Paulo: Edi-


G
tora Vida, 2001.

HORTON, Stanley M. Teologia sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.

KELLY, J.N.D. Doutrinas centrais da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 1994.

 ENZIES, William W. e HORTON, Stanley M. Doutrinas bíblicas. Rio


M
de Janeiro: CPAD, 1999.

 YER, Pearlman. Através da Bíblia livro por livro. São Paulo: Editora
M
Vida, 1996.

________. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 1999.

 NKERBERG. John e WELDON, John. Os fatos sobre a Bíblia. Porto


A
Alegre: Actual, 2011

 NKERBERG. John e WELDON, John. Os fatos sobre as razões para


A
crer na Bíblia. Porto Alegre: Actual,

21
LIÇÃO 2
A ESTRUTURA DA BÍBLIA

Q
uando olhamos a Bíblia também percebemos que ela é com-
posta por diversos livros diferentes. Alguns dos nomes desses
livros são nomes diferentes daqueles que ouvimos todos os
dias. No início geralmente ficamos confusos com a grande quantidade
de informações que ela nos oferece. Todavia, dividindo as Escrituras
Sagradas em várias partes e estudando seus livros separadamente, vamos
entendendo melhor o porquê dessa diversidade. À medida que vamos
conhecendo, as coisas ficam mais fáceis.
Estudaremos agora a estrutura ou composição da Bíblia, isto é, a sua di-
visão em partes principais e seus livros quanto à classificação por assuntos,
divisão em capítulos e versículos e, certas particularidades indispensáveis.
A Bíblia divide-se em duas partes principais: ANTIGO e NOVO TES-
TAMENTO, tendo ao todo 66 livros: sendo 39 no AT e 27 no NT. Estes 66
livros foram escritos num período de 16 séculos e tiveram cerca de 40 es-
critores. Aqui está um dos milagres da Bíblia. Esses escritores pertenceram
às mais variadas profissões e atividades, viveram e escreveram em países,
regiões e continentes distantes uns dos outros, em épocas e condições
diversas, entretanto, seus escritos formam uma harmonia perfeita. Isto
prova que um só os dirigia no registro da revelação divina: Deus.
A palavra Testamento vem do termo grego "diatheke", e significa:

23
CURSO DE BIBLIOLOGIA

a ) Aliança ou Concerto. Esta é a palavra empregada no Novo Testa-


mento, como por exemplo em Lucas 22.20. No Antigo Testamento, a
palavra usada é "berith" que significa apenas concerto.

b) Testamento. Isto é, um documento contendo a última vontade de


alguém quanto à distribuição de seus bens, após sua morte.

O duplo sentido do termo grego nos mostra que a morte do testador


(Cristo) ratificou ou selou a Nova Aliança, garantindo-nos toda a herança
com Cristo (Rm 8.17; Hb 9.15-17).

O título Antigo Testamento foi primeiramente aplicado aos 39 livros


das Escrituras hebraicas, por Tertuliano, e Orígenes, autores cristãos do
século II e III que foram grandes mestres em seu tempo.
Na primeira divisão principal da Bíblia, temos o Antigo Concerto
(também chamado pacto, aliança), que veio pela Lei, feito no Sinai e,
selado com sangue de animais (Êx 24.3-8; Hb 9.19,20). Na segunda divisão
principal (o NT), temos o Novo Concerto, que veio pelo Senhor Jesus
Cristo, feito no Calvário e selado com o seu próprio sangue (Lc 22.20; Hb
9.11-15). É, pois um concerto superior.
Nas Bíblias de edição da Igreja Romana, o total de livros é 73. Os 7 livros
a mais, são chamados apócrifos. Além dos livros apócrifos, as referidas
Bíblias têm mais 4 acréscimos a livros canônicos. Trataremos disto no
capítulo que estudará o cânon das Escrituras.

ESTRUTURA GERAL
Jesus Cristo é o tema central de toda a Bíblia. Ele mesmo declara em
Lucas 22.27-42 e João 5.39, e assim sendo cada livro da Bíblia apresenta
a Cristo de uma forma diferente e direcionada a sua natureza humana e
divina, resumindo em cinco palavras, todos referentes a Ele.

1. Preparação – Todo o Antigo Testamento trata da preparação do
mundo para o Advento de Cristo;

2. Manifestação – Os evangelhos tratam da manifestação de Cristo ao


mundo como Redentor;

24
INSTITUTO TEOLOGAR

3. Propagação – Os Atos dos Apóstolos tratam da propagação de Cristo


por meio da Igreja;

4. Explanação – As epístolas tratam da explanação de Cristo, são os


detalhes da doutrina;

5. Consumação – O Apocalipse trata de Cristo consumando todas
as coisas.

1. O ANTIGO TESTAMENTO
Tem 39 livros, e foi escrito originalmente em hebraico, com exceção de
pequenos trechos que o foram em aramaico. O aramaico foi a língua que
Israel trouxe do seu exílio babilônico. Há também algumas palavras per-
sas. Seus 39 livros estão classificados em 4 grupos, conforme os assuntos
a que pertencem: LEI, HISTÓRICOS, POÉTICOS, PROFÉTICOS. Este
último grupo se divide em Profetas Maiores e Profetas Menores.
Vale a pena lembrar que essa divisão é sistemática e tem a finalidade de
facilitar a abordagem dos livros. Não expressa uma ordem cronológica,
ainda que exista alguma cronologia específica de Gênesis a Ester.
Vejamos algumas informações a respeito de cada um dos grupos e seus
respectivos livros:

A. LEI. São 5 livros: de Gênesis a Deuteronômio. São comumente


chamados de Pentateuco (palavra que significa cinco instru-
mentos). Esses livros tratam da origem de todas as coisas, da
Lei, e do estabelecimento da nação israelita. Foram escritos por
Moisés, o grande líder da nação israelita. Os judeus se referem
a esse grupo como Torá (Lei). Podemos dizer que esses cinco
livros constituem a base para toda revelação divina. Todos os
demais livros do Antigo Testamento são lidos à luz da revelação
feita na Lei Mosaica. E mesmo no Novo Testamento temos
diversas referências a esses cinco livros.

GÊNESIS – É uma palavra que significa “origem”. Tem esse nome porque
fala sobre a origem do céu e da terra, a origem da família, a origem do pecado
e da morte, a origem dos diversos idiomas, a origem da nação israelita, etc.

25
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Em seus cinquenta capítulos temos, além das diversas origens, a história dos
patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó, terminando com a belíssima história de José
que explica como os hebreus foram parar no Egito.

ÊXODO – É uma palavra que significa “saída”. Conta sobre a saída do


povo de Israel da terra do Egito, onde viveram muito tempo como escra-
vos. É esse livro que conta sobre a abertura do Mar Vermelho, quando
Deus abriu o mar para que o povo israelita passasse. Também esse livro
fala dos dez mandamentos (decálogo) que Deus deu para o povo judeu.
Fala ainda de uma grande tenda, chamada tabernáculo, que Ele, o Senhor,
orientou o povo a construir para que pudessem adorá-lo naquele deserto.

LEVÍTICO – O nome vem de “Levi”, um dos doze filhos de Jacó. Cada


um dos filhos formou uma tribo dentro da nação israelita. Levi recebeu
uma missão especial. Sua descendência cuidaria das coisas espirituais. Esse
livro de Levítico é na verdade um manual para explicar como essa tribo
deveria fazer suas tarefas. O grande número de sacrifícios de animais pode
deixar o leitor moderno um pouco confuso. Todavia, este livro mostra a
necessidade do pecador de lidar com seu pecado no relacionamento com
Deus. É graças a esses sacrifícios que a grande frase de João Batista sobre
Jesus, faz sentido ( João 1.29).

NÚMEROS – Números começa falando a respeito da contagem do povo


enquanto estava no deserto e por isso tem esse nome. Uma boa parte do
livro conta coisas que aconteceram durante o tempo em que os israelitas
saíram do Egito e estiveram no deserto antes de chegar em Canaã, a terra
que Deus prometeu dar a Abraão, Isaque e Jacó. É o livro das peregrinações,
repleto de acontecimentos e imagens usados como exemplos figurativos
pelos autores do Novo Testamento (Ver 1 Coríntios 10).

DEUTERONÔMIO – Essa palavra difícil significa “segunda lei”. Tem


esse nome porque nele Moisés repete as leis para os filhos dos israelitas
que saíram do Egito. Uma nova geração que cresceu e nasceu no deserto,
agora precisava aprender as leis que Deus havia dado ao povo israelita e
por isso Moisés as repetiu. É composto por uma série de sermões que

26
INSTITUTO TEOLOGAR

tanto relembravam o povo dos feitos de Deus como também repetiam a


lei e exortava à obediência.

B. HISTÓRICOS. São 12 livros: de Josué a Ester. Ocupam-se da


história de Israel nos seus vários períodos: a) Período dos Juízes,
b) Monarquia, sob Saul, Davi e Salomão, c) Divisão do reino
e cativeiro, contendo o relato dos reinos de Judá e Israel, este
(Israel) levado em cativeiro para a Assíria, e aquele ( Judá) para
Babilônia, d) Pós-cativeiro, sob Zorobabel, Esdras e Neemias,
em conjunto com os profetas seus contemporâneos. A história
hebraica contada nesses livros é muito rica e é contada sob a
perspectiva divina. O levantamento e a queda do reino e de
seus governantes aconteciam de acordo com sua obediência ou
desobediência a Deus.

JOSUÉ – Josué foi o sucessor de Moisés. Quando este morreu, Josué


liderou o povo na conquista de Canaã, a terra prometida. Esse livro nos
conta a respeito das batalhas travadas nessa conquista. O livro começa
na preparação da travessia do Jordão e vai até a morte de Josué. Além
de diversas listas das conquistas e das divisões das terras, também narra
episódios marcantes na história do povo de Deus.

JUÍZES – Juízes eram homens que foram levantados por Deus para
administrar a vida política de Israel, pois eles não tinham um rei. Os juízes
mais conhecidos foram Sansão, Gideão e Débora. Esse é um período
bastante caótico da história de Israel, conforme mostra Juízes 21.25. Um
resumo do período já é apresentado no capítulo 2 e a narrativa tem por
finalidade demonstrar essa situação na prática.

RUTH – Era uma mulher do país vizinho a Israel, Moabe e, portanto,


não pertencia ao povo israelita. Mas casou-se com um israelita e quanto
ele morreu, emigrou com sua sogra para Israel. Ali casou-se com um
israelita chamado Boaz e tornou-se bisavó do rei Davi. O livro apresenta
um grupo de judeus que aparentemente são obedientes à Lei. Como a his-
tória aconteceu no período do livro de Juízes apresenta o que é chamado

27
CURSO DE BIBLIOLOGIA

de “remanescente fiel”, israelitas que sempre estiveram presentes mesmo


nos momentos de maior apostasia.

1 SAMUEL – Samuel foi o último dos juízes. É um dos grandes nomes


da história do povo judeu. Este livro conta a história de Samuel, a história
de Saul, que foi o primeiro rei de Israel e o começo da história de Davi.
Davi foi um dos homens mais importantes da Bíblia, a ponto de Jesus ser
chamado Filho de Davi. A história começa contanto a respeito do nasci-
mento de Samuel e termina com a morte do rei Saul. Samuel, Saul e Davi
são os principais personagens do livro.

2 SAMUEL – Esse segundo livro de Samuel continua contanto a história do


reinado de Davi. Fala da aliança que Deus fez com ele, das batalhas e vitórias
que teve, dos pecados que cometeu e as consequências desses pecados. Inicia
com a narrativa do estabelecimento de Davi como rei em Hebron, o conflito
com a casa de Saul e termina com o restabelecimento do reino após a tentativa
frustrada de Absalão de reinar no lugar de seu pai Davi.

1 REIS – O primeiro livro de Reis começa contando o fim do reinado


de Davi e depois a história do reinado de seu filho de sucessor – Salomão.
Depois de Salomão, o reino é dividido em duas partes. A parte do sul,
formada por duas tribos, Judá e Benjamim, fica se chamando Judá (de
onde vem o nome de judeus). A capital de Judá ficou sendo Jerusalém. A
parte do norte foi composta com as dez tribos restantes e teve a cidade de
Samaria como capital.

2 REIS – O segundo livro continua contando a história tanto do reino


do sul, Judá, quanto do reino do norte, Israel. Narram a história dos reis
de ambas as nações até que foram levadas para o cativeiro. Israel pelos
assírios e Judá pelos babilônios. É nesse período, contando a história dos
reis de Israel e de Judá, que surgem a maioria dos profetas que deixaram
suas obras escritas.

1 CRÔNICAS – Essa palavra era usada para descrever a narrativa diária


feita pelos escribas dos reis antigos dos acontecimentos durante a vida
desses reis. Esse livro da Bíblia começa fazendo a genealogia de Adão e

28
INSTITUTO TEOLOGAR

vai até o final da vida de Davi. Conta apenas a história de Judá. Escrito
provavelmente após o cativeiro babilônico e provavelmente por alguém
da linhagem sacerdotal, concentra-se na história de Judá porque esta
representa a dinastia escolhida.

2 CRÔNICAS – Esse livro continua a narrativa do primeira. Inicia com


o governo de Salomão e vai até o cativeiro de Judá por Nabucodonosor, o
rei do Império Babilônico. Sempre escrito em uma perspectiva sacerdotal,
dando destaque para o templo e com uma linguagem bem mais devota.

ESDRAS – Esdras era um escriba, isto é, um estudioso da Lei. O livro


que leva seu nome conta a história dos primeiros judeus que retornaram
para Jerusalém sob a liderança de Zorobabel. Depois prossegue falando
do trabalho de reconstrução do Templo e do trabalho de reavivamento
feito por Esdras. Dentro da história de Israel ele tem uma importância
ímpar, pois a partir dele a história do judaísmo e dos judeus se define em
muitos pontos.

NEEMIAS – Neemias era um funcionário do imperador dos Persas


que se sentiu chamado por Deus para reedificar a cidade de Jerusalém
que até aquele momento estava destruída. Ele conseguiu reunir o povo
e reedificar a cidade. Também é muito grande sua importância histórica,
uma vez que foi graças a ele que o povo judeu readquiriu estabilidade em
meio ao governo Persa.

ESTER – Ester foi uma jovem judia escolhida para ser esposa do rei da
Pérsia. Em seu tempo houve uma tentativa de um dos príncipes persas
de exterminar todo o povo judeu. Graças a intervenção de Ester e seu
parente Mordecai isso não aconteceu. O livro serve para explicar a origem
da Festa do Purim. Sua característica marcante é não ter qualquer menção
a Deus, embora sua Providência seja inquestionável.

C. POESIA. São 5 livros: de Jó a Cantares de Salomão. São chamados


poéticos, não porque sejam cheios de imaginação e fantasia, mas
devido ao gênero literário do seu conteúdo. São também chamados

29
CURSO DE BIBLIOLOGIA

devocionais. Nesses livros temos a poesia hebraica em toda a sua


intensidade. São orações, cânticos, máximas. Contém boa parte
daquilo que é chamado de literatura sapiencial, pois está ligado a
ensinos de sabedoria.

JÓ – A história de Jó é muito grandiosa. Ele foi um homem justo que


foi provado por Deus até o limite, perdendo tudo quanto possuía. Sua
fidelidade fez com que tudo lhe fosse restituído em dobro posterior-
mente. Alguns acreditam que foi o primeiro livro escrito. A história se
passa em um lugar remoto, fora de Israel e provavelmente próximo ao
período dos patriarcas.

SALMOS – Esse é o hinário de Israel. São 150 salmos sendo quase a me-
tade deles escrito por Davi, mas também existe a contribuição de muitos
outros. É um livro muito rico em ensinos de sabedoria, vida espiritual e
profecias. Uma simples leitura do Novo Testamento nos leva a perceber a
importância que os Salmos tinham para o pensamento e a fé judaica.

PROVÉRBIOS – Provérbios são máximas de sabedoria. Diferente das


máximas de outros povos, o livro bíblico de provérbios tem como tema
central o temor a Deus. As suas instruções são expostas a partir desse
ponto. É repleto de orientações para a vida prática. Não tem a marca da
sabedoria especulativa dos gregos.

ECLESIASTES – É um livro que muito se assemelha a um tratado


filosófico a respeito do valor da vida. Apesar do tom pessimista, ainda
assim mantém forte a ideia de amor e fidelidade a Deus. Pelo título do
livro lembra alguém que falava nas assembleias, ou seja, um pregador.

CANTARES – É um cântico de amor. Descreve o amor do rei Salomão


pela sulamita de forma forte e ardente. É utilizado pelos judeus para des-
crever o amor de Deus por seu povo e pelo cristianismo para exemplificar
o amor de Cristo pela Igreja.

D. PROFECIA. O profetismo é um elemento que se destaca na história


e na cultura de Israel. Não se restringem àqueles nomes que deixa-
ram algum livro escrito, como Isaías ou Amós. Na verdade, a ideia
de pessoas através das quais Deus revelava sua vontade está presente

30
INSTITUTO TEOLOGAR

desde o livro de Gênesis. Por toda a Bíblia vemos a presença dos pro-
fetas. Quando classificamos esse grupo das Escrituras de “profetas”,
estamos nos referindo àqueles que deixaram livros escritos. São 17
livros: de Isaías a Malaquias. Estão subdivididos em:

• Profetas Maiores: de Isaías a Daniel (5 livros). Tem este nome


somente por causa da extensão de seus escritos, e da extensão dos
seus períodos de profetismo, que são relativamente maiores que o
segundo grupo, chamados de profetas menores.

ISAÍAS – Foi um dos maiores profetas. De todos foi o mais citado no


Novo Testamento. Ele escreveu muitas profecias acerca do Messias de
Israel e por isso é chamado de profeta messiânico.

JEREMIAS – Profetizou no período em que Nabucodonosor atacou


Judá, destruiu Jerusalém e o Templo. Foi chamado de profeta chorão, pois
constantemente lamentou a situação pecaminosa de seu povo.

LAMENTAÇÕES – Foi escrita por Jeremias depois que o Templo foi


destruído. Manifestava a sua imensa tristeza pelo ocorrido e expressava a
profunda dor que o profeta e mesmo Deus sentiram por tal fato. Funciona
como uma espécie de apêndice ao livro de Jeremias.

EZEQUIEL – Estava entre aqueles que foram levados cativos para


Babilônia. Provavelmente era um sacerdote. Suas visões e profecias apre-
sentam um caráter bem parecido com as visões apocalípticas.

DANIEL – Viveu na corte babilônica durante o período de domínio


desse império. E também durante um período do império posterior, o
medo-persa. Teve enorme influência e suas visões e revelações constituem
verdadeiros tesouros da revelação profética.

• Profetas Menores: de Oséias a Malaquias (12 livros). Os nomes maio-


res e menores não se referem ao mérito ou notoriedade do profeta
mais ao tamanho dos livros e à extensão do respectivo ministério
profético. Logo, não há diferença de graus de inspiração entre eles e
nem variação de importância.

31
CURSO DE BIBLIOLOGIA

OSÉIAS – Esse profeta entregou a sua mensagem para o reino do


norte, Israel. O tema de sua profecia era o amor de Deus pelos israelitas
e a infidelidade dos israelitas para com Deus. Eles eram infiéis porque
adoravam outros deuses ao invés de adorar somente o Deus verdadeiro.

JOEL – Pouca coisa se sabe a respeito desse profeta. Ele chamou o povo
para o arrependimento. Foi ele quem falou a respeito do derramamento
do Espírito Santo, que se cumpriu no Dia de Pentecostes, conforme está
descrito em Atos 2.

AMÓS – Ele também profetizou para o reino de Israel, alertando para


que eles se arrependessem da sua idolatria. Amós era apenas um criador
de gado e agricultor, a quem Deus ordenou que profetizasse.

OBADIAS – Este é o menor livro do Antigo Testamento. Sua profecia


tem apenas um capítulo. Ele falou para os edomitas, descendentes de
Esaú, irmão de Jacó. Porque este povo festejou quando os judeus foram
levados por Nabucodonosor e ainda matou alguns dos israelitas, Deus
disse que eles deixariam de existir como nação.

JONAS – É um dos mais lidos e comentados profetas menores. Conta a


história do profeta Jonas, que ao invés de obedecer a Deus e pregar na cidade
de Nínive, capital do Império Assírio, fugiu em um navio. Só que Deus enviou
uma tempestade e Jonas terminou no ventre de um grande peixe. Por fim ele
resolve pregar em Nínive, a cidade se arrepende e Deus poupa os ninivitas.

MIQUÉIAS – Viveu no mesmo tempo que o profeta Isaías. Existem muitas


passagens no seu livro que são iguais as do livro de Isaías. Sua mensagem foi
dirigida tanto para o reino do Norte, Israel, quanto para o reino do Sul, Judá.

NAUM – A profecia de Naum se dirige a uma única cidade, Nínive. Ha-


via passado cem anos desde que Jonas profetizou e o povo se arrependeu.
E essa cidade se esqueceu do Deus verdadeiro e agora Naum entregou a
mensagem de que ela seria definitivamente destruída. E aconteceu con-
forme ele profetizou.

32
INSTITUTO TEOLOGAR

HABACUQUE – Ele profetizou em Judá e falou do ataque dos babilô-


nios no reino do sul. Sua expressão “o justo pela sua fé viverá” foi utilizada
frequentemente no Novo Testamento.

SOFONIAS – Ele era descendente do rei Ezequias, um famoso rei de


Judá. O principal assunto de sua profecia é “O dia do Senhor”, um tempo
em que Deus julgará os pecados do povo.

AGEU – Junto com o profeta Zacarias, teve uma importância muito grande
na história dos judeus quando eles retornaram da Babilônia. O povo já estava
desanimado e a construção Templo em Jerusalém havia parado quando esses
dois profetas animaram o líder Zorobabel a continuar a obra.

ZACARIAS – Seu ministério de profeta foi com o profeta Ageu. O livro


que ele escreveu apresenta muitas visões. Muitas dessas profecias estavam
relacionadas com a vida do Messias.

MALAQUIAS – Foi o último dos profetas que escreveu seu livro sob
a inspiração do Espírito Santo de Deus. Ele falou não somente sobre o
Messias, mas até mesmo sobre o ministério de João Batista.

A classificação dos livros do AT, por assunto, vem da versão Septuagin-


ta, que foi uma tradução do Antigo Testamento, feita três séculos antes
de Cristo, no tempo em que os gregos reinavam sobre os judeus. Essa
tradução do hebraico para o grego não leva em conta a ordem cronoló-
gica dos livros, o que, para o leitor menos avisado, dá lugar a não pouca
confusão, quando procura agrupar os assuntos cronologicamente. Na
Bíblia hebraica (que é o nosso AT), a divisão dos livros é bem diferente.
Nas Bíblias de edição católico-romana, os livros de 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis
são chamados 1,2,3 e 4 Reis, respectivamente. 1 e 2 Crônicas são chamados 1
e 2 Paralipômenos. Esdras e Neemias são chamados 1 e 2 Esdras. Também,
nas edições católicas de Matos Soares e Figueiredo, o Salmo 9 corresponde em
Almeida aos Salmos 9 e 10. O de número 10 é o nosso 11. Isso vai assim até os
Salmos 146 a 147, que nas nossas Bíblias são o de número 147. Deste modo, os
três salmos finais são idênticos em qualquer das versões acima mencionadas.

33
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Essas diferenças de numeração em nada afetam o texto em si, e não poderia


ser doutra forma, sendo a Bíblia o Livro do Senhor.
Vale lembrar também que as Bíblia católicas possuem 7 livros a mais
que as protestantes. Esses livros são chamados de apócrifos (espúrios).
Eles só foram definitivamente incluídos nas Bíblias católicas no século
XVI, quando ocorreu a Reforma Protestante.

2. O NOVO TESTAMENTO
Tem 27 livros. Foi escrito em grego; não no grego clássico dos eru-
ditos, mas no do povo comum, chamado Koiné. Seus 27 livros também
estão classificados em 4 grupos, conforme o assunto a que pertencem:
BIOGRAFIA, HISTÓRIA, EPÍSTOLAS, PROFECIA. O terceiro grupo é
também chamado DOUTRINA.

A. BIOGRAFIA. São os 4 Evangelhos. Descrevem a vida terrena


do Senhor Jesus e seu glorioso ministério. Os três primeiros são
chamados Sinópticos, devido a certo paralelismo que têm en-
tre si. Os Evangelhos são os livros mais importantes da Bíblia.
Todos os que os precedem tratam da preparação para a mani-
festação de Jesus Cristo, e os que se lhes seguem são explicações
da doutrina de Cristo.

MATEUS – Mateus foi um dos doze apóstolos e também era chamado


de Levi. Escreveu seu livro para os judeus para mostrar que Jesus era o
Messias de Israel, previsto pelos profetas. Por isso em seu livro aparece
muito a expressão: “Para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta”.

MARCOS – Ele não fazia parte do grupo dos doze apóstolos, mas foi
companheiro e auxiliar de Pedro. Provavelmente escreveu seu livro com
as informações que Pedro narrou. Registrou mais dos seus milagres do
que seus ensinos, pois queria mostrar aos romanos o quanto Jesus era
poderoso e ainda assim, um servo.

LUCAS – Lucas era um médico e foi companheiro do apóstolo Paulo


a partir de sua segunda viagem missionária. Ele fez muitas pesquisas para
escrever esse livro. Mostra Jesus como o homem perfeito. O livro foi diri-

34
INSTITUTO TEOLOGAR

gido para pessoas de cultura grega e por isso ele apresenta Jesus como o
homem perfeito, pois era isso que os gregos buscavam.

JOÃO – Este foi o discípulo amado, irmão de Tiago. O Evangelho de


João é o mais diferente de todos e foi escrito por último. Neste livro João
destaca o fato de que Jesus é Deus. A maior parte das coisas que ele escre-
veu não podem ser encontradas nos outros evangelhos.

B. HISTÓRIA. É o livro de Atos dos Apóstolos. Registra a história


da igreja primitiva, seu viver, a propagação do Evangelho; tudo
através do Espírito Santo, conforme Jesus prometera. Embora
tenha esse nome, o livro se concentra mais na história de Pedro
e João no início e depois se estende na narrativa do apóstolo
Paulo e suas viagens missionárias.

ATOS DOS APÓSTOLOS – Quem escreveu este livro foi Lucas, o mes-
mo que escreveu o Evangelho que leva seu nome. Conta o início da igreja,
as dificuldades que os primeiros cristãos enfrentaram e como a pregação
do Evangelho se espalhou. Narra principalmente as viagens do apóstolo
Paulo pelo Império Romano. Sem este livro histórico fazendo ponte com
as epístolas paulinas ficaríamos com uma grande e misteriosa lacuna.

C. EPÍSTOLAS. São 21 as epístolas ou cartas. Vão de Romanos a Ju-


das. Contêm a doutrina da Igreja. Esse tipo de comunicação já era
comum no Império Romano. A epístola difere da carta comum por
ser bem mais abrangente e ter finalidade instrutiva e doutrinária.
Boa parte da literatura do Novo Testamento está neste formato.

PAULINAS: O apóstolo Paulo escreveu pelo menos 13 das 21 cartas do


Novo Testamento. Além de missionário ele era um mestre e através desses
escritos explicou profundamente o plano de Deus para a humanidade.
Não somente sua obra evangelística, pastoral e missionária foi importan-
te. Também seu trabalho como teólogo e polemista, expresso em suas
epístolas, foi de vital importância. Graças a seus escritos o cristianismo
não foi visto apenas como mais uma seita judaica, mas pode ser entendida
como a salvação divina para toda a humanidade.

35
CURSO DE BIBLIOLOGIA

As epístolas se dividem em:


Eclesiásticas: ROMANOS, 1 CORÍNTIOS, 2 CORÍNTIOS, GÁLATAS,
EFÉSIOS, FILIPENSES, COLOSSENSES, 1 TESSALONISSENSES, 2 TES-
SALONISSENSES. Eram direcionadas às igrejas fundadas diretamente ou
indiretamente por ele. Nessas cartas ele respondia dúvidas dos irmãos
dessas igrejas, explicava o plano de salvação e exortava-os à fidelidade. As
epístolas foram escritas para esclarecer, resolver e corrigir necessidades
pontuais surgidas no começo da Igreja.
Pastorais: 1 TIMÓTEO, 2 TIMÓTEO, TITO E FILEMON – Foram
direcionadas para indivíduos e não para grupos. Tratava principalmente
da administração da igreja e de como um líder deveria se portar. É fácil
perceber o tom diferenciado nessas epístolas, porque além de terem sido
escritas por último, elas tratam de questões diferentes e de forma diferen-
te, uma vez que foca no procedimento dos líderes com relação à Igreja e
não no comportamento da Igreja de modo geral.

HEBREUS – Existe muito dúvida sobre quem foi o autor desta carta.
Ela é dirigida aos judeus que haviam reconhecido em Jesus o Messias.
O principal assunto é o trabalho de Jesus como Sumo-sacerdote. É uma
exortação para que esses judeus, que haviam reconhecido em Jesus o seu
Messias, não retrocedessem diante das perseguições.

EPÍSTOLAS GERAIS: As últimas sete são também chamadas univer-


sais, católicas ou gerais, apesar de duas delas (2 e 3 João) serem dirigidas
a pessoas. São sete: Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João e Judas.
Não se dirigem a um grupo específico ou a alguma pessoa específica (com
exceção de 2 e 3 João). No geral o alvo eram todos os cristãos. Muitos dos
assuntos tratados nessas epístolas complementam os ensinos paulinos ou
aborda-os com outro foco. Devido aos diferentes autores (pelo menos 4) a
variação de estilo é predominante.

D. PROFECIA. Trata da volta pessoal do Senhor Jesus à Terra e


das coisas que precederão esse glorioso evento. Embora exis-
tam trechos proféticos tanto nos Evangelhos, em Atos e nas
epístolas, ainda há um livro no Novo Testamento onde predo-
mina o caráter escatológico (ensino sobre as últimas coisas).

36
INSTITUTO TEOLOGAR

APOCALIPSE – Foi escrito pelo discípulo João, o mesmo que escreveu


o Evangelho. O imperador Diocleciano o havia colocado em uma Ilha
Chamada de Patmos para que morresse. Nesse livro vemos o Senhor Jesus
vindo com seus santos para: a) destruir o poder gentílico mundial sob o
reinado da Besta; b) livrar Israel, que estará no centro da Grande Tribula-
ção; c) julgar as nações; e d) estabelecer o seu reino milenar.

37
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. As quatro divisões do Antigo Testamento


2. As quatro divisões do Novo Testamento
3. Divisão do grupo Profetas
4. Relacione os livros dos 12 profetas menores
5. Relacione as epístolas Paulinas

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] Gênesis fala dos começos
[ ] O apóstolo Paulo escreveu 21 epístolas
[ ] Atos dos apóstolos é o único livro histórico do Antigo Testamento
[ ] Os Salmos podem ser considerados o hinário do povo judeu
[ ] Talvez o livro de Jó tenha sido o primeiro a ser escrito.

Lição 2 – Apêndice A
Veja abaixo algumas curiosidades bíblicas

RESUMO NUMÉRICO DA BÍBLIA

38
INSTITUTO TEOLOGAR

 ivisão em capítulo – Foi feita em 1250 pelo cardeal Hugo de Saint


D
Cher Abade, dominicano.
Divisão em versículos – Foi feita duas vezes. O Antigo Testamento
em 1445, pelo Rabi Nathan; e o Novo Testamento em 1551, por Robert
Stevens, um impressor de Paris, que publicou a primeira Bíblia, dividida
em capítulos e versículos em 1555, uma nova edição da Vulgata Latina.

O CONTEÚDO DA BÍBLIA
- 3.566.480 letras;
- 810.697 palavras;
- 31.173 versículos;
- 1.189 capítulos;
- 66 livros de inspiração divina;
- 370 classes de pecados praticados pelo homem;
- 3.294 perguntas;
- 1.260 promessas;
- 6.468 ordens ou mandamentos.

CURIOSIDADES
- O Texto Áureo de toda Bíblia é João 3.16
- O meio da Bíblia – Salmo 118.8;
- O Antigo Testamento é três vezes mais volumoso que o Novo;
- O maior livro é o de Salmos;
- O menor é II João;
- O maior versículo – Ester 8.9;
- O menor versículo – ARA ( Jó 3.2); ARC (Lucas 20.30); outras
( João 11.35, Êxodo 20.13).
- Aparece 117 vezes a palavra diabo e seus vários nomes;
- A expressão “Assim diz o Senhor” e equivalentes encontra-se cerca de
3.800 vezes na Bíblia;
- Sua vinda é referida 1.845 vezes, sendo 1.527 no Antigo Testamento e
318 no Novo Testamento;
- A palavra Senhor é encontrada 1.853 vezes;
-A expressão “Não temas” ocorre 366 vezes na Bíblia, que equivale um
para cada dia do ano; os números 3 e 7 predominam na numerologia
da Bíblia;

39
CURSO DE BIBLIOLOGIA

- O Salmo 119 tem 22 seções de 8 versículos, cada uma das seções inicia
com uma letra do alfabeto hebraico, que tem 22 letras;
- O capítulo 19 de II Reis é igual ao 37 de Isaías;
- No Salmo 107 há quatro versículos iguais: 5, 8, 21 e 31;
- Todos os versículos do Salmo 136 terminaram da mesma maneira;
- O Antigo Testamento encerra citando a palavra Maldição; o Novo Testa-
mento encerra citando a palavra “A Graça do nosso Senhor Jesus Cristo”.

 IVISÃO TESTAMENTÁRIA: O VELHO TESTAMENTO CONTÉM


D
39 LIVROS
- O maior capítulo é o Salmo 119 com 176 versículos;
- O menor capítulo é o Salmo 117, com 2 versículos;
- O maior versículo é Ester 8.9, com mais de 50 palavras;
- O menor versículo: ARA ( Jó 3.2); outras (Êxodo 20.13);
- Ester e Cantares são os únicos livros que não contém a palavra Deus;
- O livro central é Provérbios;
- O maior livro é o livro de Salmos com 150 capítulos;
- O menor livro é Obadias com 1 capítulo;
- O capítulo central é Jó 2;
- O versículo central é II Crônicas 20.8;
- O Velho Testamento contém 929 capítulos;
- O Velho Testamento contém 23.214.

O NOVO TESTAMENTO FOI ESCRITO EM GREGO


- O Novo Testamento contém 27 livros;
- O livro central – II Tessalonicenses;
- O maior livro é Mateus com 28 capítulos;
- O menor capítulo é o II João com 1 capítulo;
- O capítulo central é Romanos 13;
- O maior capítulo é Lucas 1 com 80 versículos;
- O menor capítulo é II João com 13 versículos;
- O versículo central é Atos 17.17;
- O maior versículo é Apocalipse 20.4;
- O menor versículo é João 11.35 com 11 letras;
- O Novo Testamento contém 260 capítulos;
- O Novo Testamento contém cerca de 7.959 versículos.

40
INSTITUTO TEOLOGAR

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA – LITERATURA COMENTADA


PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia livro por livro. São Paulo: Vida, 1990.

Este clássico do autor judeu cristão Myer Pearlman leva o leitor a uma
viagem através de cada um dos 66 livros das Escrituras. Com uma abor-
dagem simples, porém relevante, você terá uma exposição direta e clara
do conteúdo das Escrituras. É um livro essencial para todos aqueles que
desejam começar uma leitura completa da Bíblia, mas se sentem confusas
com respeito às informações básicas sobre os livros. Leitura essencial.

41
LIÇÃO 3
CONTEXTOS HISTÓRICOS DAS
ESCRITURAS

 – CONTEXTO HISTÓRICO VETEREO


1
TESTAMENTÁRIO

E
ste período se refere à História de Israel registrada no Velho Tes-
tamento. Israel e a figura central em todos os 39 livros, mesmo
quando estes livros façam referência a outros povos, fazem-no
em sua relação com a nação eleita. A porção histórica do Velho Testamen-
to vai desde o Livro de Gênesis ate o Livro de Ester. Os Livros Poéticos
( Jó, Salmo, Provérbios, Eclesiastes e Cantares) e os Livros Proféticos,
embora possam conter alguma porção histórica, foram escritos dentro
do período abrangido de Gênesis a Ester. Durou aproximadamente 1500
anos. A região onde o contexto histórico se desenvolve é primeiramente
chamada Oriente Próximo e mais tarde, com a expansão do cristianismo,
na região do Mar Mediterrâneo.
Podemos dividir a história nos seguintes períodos:

43
CURSO DE BIBLIOLOGIA

1. PERÍODO PRÉ-NACIONAL (GN 12.1 – EX 19)


Este período vai desde a chamada de Abraão em 2002 a.C. até seu estabe-
lecimento na terra de Canaã por volta de 1500 a.C.. Durante este período não
podemos dizer que havia uma nação no sentido exato do termo. Para que haja
uma nação são necessários pelo menos três elementos: Um povo com uma
cultura única, leis que o regulamentem e um território próprio. Estes elementos
foram se unindo no decorrer deste período até completar-se.
O povo só foi se multiplicar e surgir de forma mais numerosa, no Egito,
a maior potência da época. Ali sua cultura e costumes foram se definindo.
Ao final de quatrocentos anos eram um povo numeroso, mas não uma
nação. Por outro lado, essa longa estadia no Egito tornou possível sua
multiplicação, que nunca poderia ter acontecido na estreita terra de Canaã
com suas inúmeras cidades estados.
O segundo passo só seria dado após sua libertação por Moisés. No Sinai
começava uma nova fase para este povo. Eles receberam a Lei. Não apenas
o decálogo, que se tornou padrão mundial. Receberam também toda uma
legislação que detalhava o decálogo, bem como outras instruções que
regulamentavam a vida religiosa e civil. Mesmo que o período no deserto
pareça uma perda de tempo, foi ele quem possibilitou a existência de um
código que garantiria para sempre a existência de Israel como nação. Esta
Lei, de certa forma, tornou-se sua pátria.
Josué, sucessor de Moisés, ajudou a consolidar Israel. Liderou a tomada
da terra, guerreando e conquistando boa parte dela. Agora era um povo
com cultura própria, leis próprias e em sua própria terra. Embora não
tenha destruído completamente as inúmeras cidades-estados de Canaã,
subjugou a maioria das que permaneceram.

2. PERÍODO TEOCRÁTICO (EX 20.1 – 1 SM 10.1)


Corresponde ao período que vai desde a tomada da terra por Josué até
o estabelecimento da Monarquia com Saul. É o período descrito princi-
palmente no Livro de Juízes, embora durante o tempo de Moisés e Josué,
possamos dizer que eles exerceram um governo teocrático. Chamamos
de teocrático porque não havia um governo definido. Não havia um ho-

44
INSTITUTO TEOLOGAR

mem específico que poderia ser chamado de líder. O governo de Moisés


também foi teocrático, todavia, como vimos, não havia uma nação.
Os juízes foram homens e mulheres ungidos em ocasiões especiais e
que serviam como autoridade a quem o povo recorria nas dificuldades.
Este período durou cerca de 430 anos. O número de profetas apontados
no livro de Juízes foram 12: Otniel de Judá, que livrou Israel dos reis da
Mesopotâmia, Eúde, que expulsou os moabitas e os amonitas; Sangar, que
matou 600 filisteus; Débora contra os cananeus; Gideão que expulsou os
midianitas; Tola e Jadir; Jefté que subjugou os amonitas; Abesã, Aijalon e
Abdon; Sansão grande perseguidor dos filisteus.
Este período foi caracterizado pelo caos ( Jz 21.25). A falta de um governo
central, forte e definido, fez com que as transgressões se multiplicassem.
A vida moral e religiosa da nação era uma derrocada só. O culto a baal e a
astarte eram muito atrativos pela sua sensualidade. Os juízes tinham um
campo de atuação muito restrito, tanto na geografia como na política. Os
capítulos finais do Livro de Juízes contam a história de um crime hediondo
e da consequente guerra civil, que serviu para ilustrar o período.

3. PERÍODO MONÁRQUICO UNIFICADO (1 SM 10.1 – 1 RS 11.42)


Não demoraria muito e o povo estaria reivindicando um rei para si.
Samuel, o último e maior de todos os juízes é levado por Deus a ungir a
Saul, benjamita, como monarca de Israel. Abrange o período de três reis:
Saul, Davi e Salomão, desde o ano 1040 a.C. até 920 a.C. Foi o Período
Áureo de Israel. Durante este tempo, Israel ainda era uma única nação e
não duas como aconteceu após a morte de Salomão.
Este foi um período de consolidação, que trouxe para Israel o status de
nação. As conquistas anteriores ganharam agora uma forma definida e
os limites geográficos foram expandidos até onde Deus havia prometido.
Apesar da desobediência de Saul e do declínio de Salomão nos seus últi-
mos anos, o culto ao único Deus foi totalmente restabelecido e a situação
religiosa caótica do tempo dos Juízes terminou.

Saul (1 Sm 10.1 – 1 Sm 31) – Foi ele o primeiro rei de Israel. Começou a


organizar e solidificar a nação. Ele e seu filho Jônatas guerrearam contra os

45
CURSO DE BIBLIOLOGIA

diversos povos que ainda não haviam sido dominados e os derrotaram. Mas
Saul cometeu dois erros decisivos. O primeiro foi na guerra contra os Ama-
lequitas. A ordem de Deus era para exterminá-los completamente sem nada
deixar. Todavia Saul desobedeceu e não matou a Agague, bem como muitos
animais. Por isto foi repreendido por Samuel. Na segunda vez, como Samuel
demorasse, ele tomou para si o ofício sacerdotal, que não era permitido ao
rei e fez o sacrifício. Desta feita a repreensão de Samuel foi mais dura e ele
proferiu a sentença sobre Saul de que Deus já o havia rejeitado e escolhido
outro rei em seu lugar. Sua história está narrada no Livro de 1º Samuel.

Davi (2 Sm 1 – 1 Reis 1) – Sucedeu a Saul após sua morte. Havia já con-


quistado grande respeito após ter derrotado Golias e se destacado como chefe
militar. Mas o ciúme de Saul obrigou-o a fugir para o deserto de Nobe, até a
morte deste, quando então foi ungido rei pelo povo de Judá e depois por todo
Israel. Davi então sitiou e tomou Jerusalém, baluarte dos jebuseus, amplian-
do-a e fazendo dela a capital. Subjugou as nações ao redor, estendendo seus
domínios nos limites prometidos à Abraão (Gn 15.18). Trouxe o Tabernáculo
para a cidade, juntamente com a Arca da Aliança e os demais utensílios. Após
ter cometido adultério com a mulher de Urias, teve de enfrentar a sedição de
seu filho Absalão. Morreu aos 71 anos de idade, após reinar 40 anos e meio,
sendo sete e meio em Hebrom e 33 em Jerusalém. Como era cantor, deixou
muitos salmos inspirados, que vieram a ser uma das mais amadas literaturas
do mundo. Sucedeu-o seu filho Salomão, que tiver com Bete-Seba.

Salomão (1 Rs 1 – 1 Rs 11.43) – Este foi o ponto culminante do período.


Salomão foi dotado por Deus de imensa sabedoria. Através de alianças de ca-
samento com filhas dos reinos ao derredor, tornou Israel um reino próspero
e respeitado. Construiu o Templo de Jerusalém que pode ser apontado como
uma das maravilhas do mundo antigo. Teve muita fama e muita riqueza. Dei-
xou-nos um grande número de provérbios, encontrados Livro de Provérbios,
bem como o Livro de Eclesiastes e Cantares de Salomão. No final de seus
dias, porém, as mulheres lhe perverteram o coração e ele construiu templos
idólatras e colocou imagens de escultura bem em frente ao Templo. A conse-
quência deste pecado foi a divisão do reino

46
INSTITUTO TEOLOGAR

4. PERÍODO MONÁRQUICO DIVIDIDO (1 RS 12 – 2 RS 25.30)


Após a morte de Salomão o reino foi dividido. Dez tribos do norte
separaram-se das duas tribos do sul. O norte, com dez tribos. Chamou-se
Israel, tendo como capital a cidade de Samaria e seu primeiro rei foi Jero-
boão. O sul ficou conhecido como Judá, tendo como capital Jerusalém e
teve como governante Roboão, filho de Salomão.
Como veremos, o reino de Israel muito cedo apostatou do Senhor,
passando a servir a Baal e outros deuses, sendo completamente do-
minado pela idolatria. Sob o governo de Acabe, o culto a Yaweh foi
praticamente abolido do país, principalmente devido as instigações de
sua mulher Jezabel. Foi neste período que surgiu o profeta Elias, o qual
também fundou escolas de profetas e deixou Eliseu como seu sucessor.
Mas Israel nunca se emendou de seus maus caminhos e no ano de 722
a.C. a Assíria cercou Samaria e retirou o povo da terra levando-os para
o exílio. (2 Reis 17)
Judá, embora algumas vezes tenha falhado e desviado da Lei devido a
impiedade de algum rei, permaneceu fiel por mais tempo. Por ocasião do
ataque de Senaqueribe sobre a capital Jerusalém, Judá foi poupado devido
a fidelidade e fé do rei Ezequias (2 Reis 18). Mesmo assim não tardaria
haver novas apostasias dentro do próprio reino de Judá, como foi o caso
do rei Manasses. Por fim então, Judá sofre ataques do rei da Babilônia,
Nabucodonosor, em 607 a.C., e em 586 a.C. Jerusalém é atacada pelo mes-
mo, a cidade é queimada e o Templo e destruído. Os objetos sagrados do
templo são levados para Jerusalém e o povo vai para o exílio na Babilônia,
onde permanecera durante 70 anos.

5. PERÍODO DO CATIVEIRO BABILÔNICO


Embora tenha sido um período de apenas 70 anos (de 607 a 538 a.C.
aproximadamente) foi determinante para a História e o caráter de Israel.
Por volta do ano 607 a.C., Nabucodonosor, rei do Império Babilônico,
ataca Jerusalém e leva cativo alguns de Judá para a cidade de Babilônia,
entre eles, Daniel e seus amigo. Em 587 a.C., ele torna atacar Judá, sitian-
do Jerusalém, destruindo o Templo e levando embora os vasos sagrados,
juntamente com a população da terra. Neste período de exílio surgem

47
CURSO DE BIBLIOLOGIA

profetas como Daniel e Ezequiel, enquanto em Jerusalém, Jeremias conti-


nua também exercendo seu ministério profético.
O Cativeiro está baseado na lei do descanso da terra, conforme demons-
trou Jeremias. Pela lei, os judeus deveriam deixar a terra em descanso a
cada 7 anos. Todavia, passaram-se 490 anos e eles não obedeceram. Como
consequência, os 70 anos foram uma forma de impor esse descanso. Este
fora o tempo predito por Jeremias (25.1,11,12)
Em 539 a.C. Daniel compreendeu pelo Livro de Jeremias que o tempo
do cativeiro estava chegando ao fim e começou a orar para restauração
do povo (Dan 9.2). Em Daniel 5 temos narrada a queda da cidade de Babi-
lônia. Belsazar, na verdade, era o vice-rei da Babilônia, pois governava no
lugar de Nabonido. Conta o historiador Herodoto que eles estavam em
grande festa, seguros, pois os muros da cidade eram inexpugnáveis. Ciro,
rei dos persas, usa então de um artifício e desvia as águas do Rio Eufrates
para um lago artificial. Com isto foi possível entrar na cidade por baixo
dos muros, com água pelos joelhos. Os persas já se encontravam dentro
de Babilônia e Belsazar nem sequer tinha recebido a notícia. Ciro então
deixa Dario em seu lugar.
Em torno do ano de 538 a.C., Ciro, rei da Pérsia e novo soberano do
Oriente Próximo, autoriza o retorno de Zorobabel para a reconstrução do
Templo. Sua política religiosa, diferente dos Babilônios e Assírios, era mais
pacifica, permitindo a cada povo continuar adorando os seus deuses, pelo que
ele mesmo ajudou a financiar a reconstrução do Templo de Jerusalém.
O livro de Ester representa um parêntese na História de Israel. Não ocorre
dentro dos limites geográficos da nação, mas no exílio, a partir da capital do
Império Persa, Susa. O rei Assuero, conhecido na História como Xerxes, rei-
nou de 485 a 465 a.C., é dentro deste período que se insere Ester. Foi escrito
para contar a origem da Festa do Purim e mostra como os judeus foram
salvos nesta época, de serem completamente destruídos pelas maquinações
de Hama. Foi a primeira tentativa de genocídio judaico.

6. PERÍODO DE RESTAURAÇÃO
Este período é abrangido pelos livros de Esdras, Neemias e Ester, em-
bora a história de Ester tenha se passado fora da Palestina.

48
INSTITUTO TEOLOGAR

Sob o domínio de Zorobabel, 42.000 judeus retornam a Jerusalém no


ano de 536 a.C. para reconstruir o Templo. A política religiosa de Ciro
era bastante branda, permitindo que cada povo adorasse seus próprios
deuses. Ele mesmo incentivou e financiou o retorno do povo para Israel e
a reconstrução do Templo.
Todavia, devida a oposições, o trabalho é interrompido e a obra só volta
a ser realizada 17 anos depois, em 520 a.C., quando os profetas Ageu e
Zacarias começam a animar o povo.
Em 458 a.C. chega à Jerusalém o sacerdote Esdras com mais 1.755
judeus. Este sacerdote zeloso e instruído terá enorme papel na His-
tória Judaica. Ele está diante de uma nação quebrantada, que viu os
efeitos terríveis de sua idolatria e, portanto, estão prontos para receber
forte instrução das Escrituras. No ano de 445 a.C., Jerusalém recebe
novo reforço espiritual com a chegada de Neemias, que reconstruirá
os muros da cidade e restaurará suas portas. O muro é reedificado e
começa um grande avivamento no meio do povo. Provavelmente o
ministério do profeta Malaquias deu-se nesses dias, durante uma saída
de Neemias para a Pérsia. Mais tarde, em 432 a.C., Neemias retorna à
Pérsia definitivamente.

 . PERÍODO INTER-TESTAMENTÁRIO - (420 A.C. AO NASCI-


7
MENTO DE JESUS)
Embora este período histórico não se relacione diretamente ao texto
bíblico, ele fornece o contexto no qual a narrativa bíblica do Antigo Tes-
tamento se desenvolveu posteriormente. E, além disso, preenche a lacuna
entre o fim do Antigo Testamento e o começo do Novo, de forma que
podemos entender melhor o contexto dos Evangelhos e das epístolas à
partir do que aconteceu nesse período.
Durante este período Israel esteve primeiramente sob o domínio Persa,
depois Grego e por fim sob o jugo Romano. Após Malaquias não houve
mais manifestações proféticas ou livros inspirados. Livros como os de I
e II Macabeus, por exemplo, que tratam deste período, embora lidos e
reverenciados jamais foram aceitos como canônicos, quer pelos judeus
quer posteriormente pela Igreja.

49
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Podemos subdividir este período assim:

PERÍODO PERSA
Vai de 539 a.C. até cerca de 333 a.C., quando Alexandre o Grande entra
em Jerusalém e é recebido pelo sumo-sacerdote Jadua.
A política religiosa Persa era de respeitar os deuses dos povos conquis-
tados. Por isso, Ciro, após conquistar Babilônia, permitiu aos judeus re-
tornarem a Jerusalém e reconstruir seu Templo, bom como levar de volta
os vasos sagrados que haviam sido levados por Nabucodonosor. Como
resultados disto, há uma grande consolidação do Judaísmo por essa época.
O cativeiro curou os judeus da idolatria, definitivamente. Sob a liderança
de Esdras, o estudo da Lei e dos profetas foi instituído, dentro de lugares
específicos chamados de sinagogas.
No geral foi um período calmo para os judeus, exceto por certas brigas
internas pelo cargo de sumo-sacerdote. Por causa disto o governo Persa
teve de intervir. Devastaram a cidade, impuseram pesada multa e perse-
guiram os judeus por algum tempo.
Também foi no final deste período que surge o culto rival dos samarita-
nos, povo misto que foi ali colocado pelos reis da Assíria.

PERÍODO GREGO
Começa com a entrada de Alexandre, o Grande, em Jerusalém, o
ano de 333 a.C. e vai até a sua morte prematura em 323 a.C. Como
líder Alexandre foi formidável. Durante suas conquistas ele não apenas
dominou politicamente os povos, mas os colonizou também cultural-
mente, de modo que a língua grega e a cultura helênica transforma-
ram-se nas bases intelectuais de todo o mundo mediterrâneo. Mesmo
quando conquistado pelo próximo império, o Império Romano, a
cultura grega não foi sobreposta, antes se sobrepôs. Essa foi a razão
pela qual o Novo Testamento foi escrito na língua grega, apesar do
domínio político romano naquele período.
Mas com a morte de Alexandre em 323 a.C., o Império Grego, que
então abrangia a Grécia, o Egito e todo o Oriente próximo, foi divido
entre 04 de seus principais generais. A Ptolomeu coube o Egito, fundando

50
INSTITUTO TEOLOGAR

assim a dinastia Ptolemaida. A região da Síria, que abrangia Israel, ficou


sob o Domínio de Seleuco, iniciando a dinastia dos Seleucidas.
Ptolomeus e Seleucidas vão realizar inúmeras guerras, com efeitos
devastadores sobre os judeus.

Poderíamos subdividir ainda este período em 3 partes:


Período Egípcio (323 a 204 a.C.) - Foi o período mais longo desta época.
Através de severa luta, o Egito e a Judéia caíram nas mãos de Ptolo-
meu. O conquistador foi chamado de Ptolomeu Soter, isto é, Salvador,
o primeiro da dinastia. Embora os judeus recusassem fidelidade a ele,
atacou Jerusalém e levou cem mil judeus presos. Embora tenha sido
severo com a nação judaica, tornou-se depois amigável. Seu sucessor,
Ptolomeu Filadelfo, foi mais amigável ainda. Em seu tempo os judeus fo-
ram solicitados a traduzir suas Escrituras para o grego, dando ao mundo
a famosa versão Septuaginta, escrita por 72 sábios judeus. Esta tornou
conhecida a Palavra entre os não-judeus e foi a versão conhecida pelos
crentes do Novo Testamento.
O terceiro rei da dinastia ptolemaica também foi favorável e por isto
os judeus prosperaram como nunca nesse Império. Cidades como Ale-
xandria, tornaram grandes centros de cultura judaica e eles constituíam
cerca de um terço da cidade. O quarto rei, Ptolomeu Filopatro, porem,
devido as guerras contra Antioco o Grande da Síria, foi hostil aos judeus.
Seu principal agravo foi tentar entrar no Santo dos Santos. Ele perdeu a
disputa e o rei da Síria apossou-se da Palestina.

Período Sírio (204-165 a.C.) - A administração dos Seleucidas foi na maio-


ria das vezes, nociva para os judeus e em alguns casos houve sangrenta
perseguição a eles. Foi por esta época que a Palestina foi dividida em 5
províncias: Judéia, Samaria, Galiléia, Peréia, Traconites.
Tanto Antioco, o Grande, quanto seu sucessor, Seleuco Filopatro,
foram muito cruéis, embora os judeus tenham permanecido com certas
liberdades em administrar suas próprias leis. Todavia, com ascensão de
Antioco Epifânio (175-164 a.C.), um reinado de terror caiu sobre eles. Ele
ficou conhecido como o anti-cristo do Velho Testamento.

51
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Por este tempo surgiram os helenistas, grupo que queriam implantar a


cultura grega entre os judeus, os nacionalistas ortodoxos se opuseram, ini-
ciando-se contendas e assassinatos. Por fim Antioco utilizou esta disputa
para descarregar o seu furor sobre eles, fazendo uma grande devastação
na terra, em 170 a.C. Jerusalém foi saqueada, os muros derrubados, o
Templo profanado e o povo submetido as mais terríveis crueldades. Hou-
ve massacres e escravidões. A religião judaica foi proibida. O paganismo
foi imposto a força. Uma pessoa foi encarregada de profanar o Templo
de Jerusalém, dedicando-o a Júpiter Olímpio. Todas as cópias da Lei que
foram encontradas foram queimadas ou desfiguradas com figuras idóla-
tras. Seus proprietários foram assassinados. Muitos judeus apostataram
e perseguiram seus compatriotas. Em 168 a.C. Antioco ordenou que um
porco fosse oferecido sobre o altar de sacrifícios e a seguir, mandou erguer
uma estatua a Júpiter no lugar do altar. Neste período ocorre o famoso
martírio dos sete irmãos juntamente com sua mãe, por recusarem-se a
comer carne de porco.

Período Macabeu - O movimento de resistência teve origem com um sacer-


dote idoso, de nome Matatias e desenvolveu-se com seu filho Judas, mais
tarde chamado Judas Macabeu, derivado do termo hebraico que significa
Martelo. Este foi um poderoso movimento de resistência sem paralelo
dentro do povo judeu. A bravura e a fé destes homens os fizeram lutar até
a morte contra o extermínio de sua crença. Refugiados nas montanhas,
iniciaram seus ataques contra as tropas do exército seleucida.
Judas desenvolveu uma poderosa estratégia de guerrilhas e seu exér-
cito cresceu muito. Combateu os exércitos invasores os derrotou em
acirrada batalha. Várias tentativas do inimigo de vence-los foi frustrada.
Num dia 25 de dezembro Jerusalém foi retomada e o Templo “rededica-
do” (esta e a origem da Festa de Dedicação - João 10.22). Embora Antío-
co tenha planejado vingar-se, os reveses pelos quais passou deixaram-no
extremamente doente. Conta-se que morreu num estado de completa
loucura. Para os judeus, ele é a abominação da desolação descrita pelo
profeta Daniel. Poderíamos chamá-lo sem dúvida alguma de o anticristo
do Velho Testamento.

52
INSTITUTO TEOLOGAR

Com sua morte seu filho Lisias voltou com um exército de 120.000
homens. Judas e seu exército foram sitiados em Jerusalém e tiveram que
render-se. Quando tudo parecia perdido, uma revolta nas regiões da Síria
obrigou Lisias a fazer paz com os judeus e restabelecer sua religião.
Com todos os altos e baixos do governo Macabeu sobre a Judéia, o
poder permaneceu em suas mãos até o ano de 63 a.C., quando a região
passou a ser uma província Romana.

PERÍODO ROMANO
No ano de 63 a.C. Pompeu entra em Jerusalém, após um cerco
de três meses, fazendo da Palestina uma das províncias romanas.
Morreram cerca de 12.000 judeus quando da tomada da cidade, que
foi facilitada pelo fato dos judeus se recusarem a guerrear em dia de
Sábado, e nem mesmo a entrada dos exércitos romanos os impedi-
ram de continuar sacrificando.
Após apossar-se do trono de Roma, Júlio César nomeia Antípater, pro-
curador da Judéia. (47 a.C.).
Em 37 a.C. Herodes toma Jerusalém, mata Antígono Macabeu, que
havia sido colocado no lugar de Antipater pelos partas, e apodera-se do
trono. No ano de 19 a.C., após haver construídos enormes obras na Judéia,
Herodes resolve fazer uma grande reforma no Templo de Jerusalém. Este
foi o Templo que Jesus conheceu e no qual ele entrou, e sobre o qual ele
lançou sua profecia de destruição.

TRANSFORMAÇÕES RELIGIOSAS
Como já vimos, o cânon das Escrituras foi concluído e os judeus se
achavam agora em posse de uma coleção de livros sagrados, os quais lhes
permitiriam criar uma identidade nacional indestrutível. A Lei passou a
ser estudadas e guardadas zelosamente. Agora sim eles agiam como um
povo separado, que se guardava da corrupção ao seu redor. O pesado jugo
do exílio fez com que valorizassem suas tradições e sua religião.
Foi neste período que a sinagoga local ganhou enorme importância.
Nela as Santas Escrituras eram lidas e expostas, de acordo com a interpre-
tação e tradução dos escribas, que foram tornando-se mais e mais impor-

53
CURSO DE BIBLIOLOGIA

tantes. É neste período que surge a Lei Oral, tão criticada por Jesus como
um sistema de mandamentos e regras que por muitas vezes suplantavam
até mesmo os mandamentos de Deus (Mt 15).
Outro movimento que neste período cresceu e tornou-se excessivamen-
te forte foi a fé na vinda do Messias. Mais uma vez sob o jugo estrangeiro,
Israel olhava para o horizonte aguardando a vinda do Prometido. Inúme-
ras interpretações sobre ele foram desenvolvidas com base nas Escrituras.
Ele era a esperança de Israel.
Além dos escribas, surgem outros dois grupos neste período: os fariseus
e os saduceus. O primeiro era um grupo extremamente rígido na observa-
ção da Lei. Seu nome significa separatistas, provavelmente dado pelos seus
inimigos. Buscavam obedecer a letra da lei. Provavelmente seu nascimento
se deu como uma reação contra a politização do sacerdócio judaico, que se
tornara um cargo cobiçado, vítima dos jogos de interesse com os governantes
romanos. Cresceram a ponto de tornar-se uma das mais poderosas seitas da
época, como prova sua influência quanto a crucificação de Jesus.
Os saduceus, por sua vez, têm seu título provavelmente dos filhos de Za-
doque, que retiveram o sumo sacerdócio a partir de Davi (2 Sm 8.17) ou de
um Zadoque que viveu cerca de 250 anos a.C. ou ainda da palavra hebraica
que significa justo, não sendo fácil de determinar com exatidão. Também
eram zelosos na guarda da lei, porem tinham uma visão bastante diferente
da dos fariseus. Só consideravam os cinco primeiros livros como regra e eram
cépticos quanto a certas idéias como anjos e espírito. Tinham bastante proe-
minência no Sinédrio e tornaram-se forte opositores de Jesus.
Também é por este tempo que surge a Mishna, ou Lei Oral. Tratava-se
de uma interpretação das leis e que era obedecida paralelamente a Lei
Escrita. Que depois passou a ser considerada mais importante do que a
última. Era dividida em Halachoth (exegese legal ou determinações) e sua
Haggadoth (expansões morais, práticas e extravagante). Após ser trans-
mitida oralmente durante muitos anos, foi colocada em forma escrita no
final do segundo século d.C. (pelo rabino Jehuda no chamado Talmude e
dividido em duas partes principais: a Mishna, ou lei oral; e a Gemara que
eram comentário sobre a Mishna. Era um tipo de Enciclopédia Judaica.

54
INSTITUTO TEOLOGAR

2 – CONTEXTO HISTÓRICO NEO-TESTAMENTÁRIO

Este período foi bastante agitado. Sob o governo de Roma, a Palestina


tornou-se palco de diversas revoltas e movimentos messiânicos que alme-
javam a libertação. A Judéia foi, por causa disto, anexada a província da
Síria e governada por um procurador romano, enquanto as demais tetrar-
quias permaneceram na mão dos Herodes. Diversos massacres tiveram
lugar e inúmeros grupos instigaram o povo a pegar armas contra Roma,
até que por fim, estourou a guerra que culminaria com a destruição de
Jerusalém e do Templo.
Este período nos foi minuciosamente descrito por um historiador
judeu de nome Flavius Josefus, que lutou na Guerra de 66 d.C., e sen-
do capturado pelo exército romano foi levado a Roma onde escreve
sobre a história dos judeus e sobre esta guerra que ele presenciou
pessoalmente. Em seus escritos temos um amplo panorama que nos
dá o pano de fundo no Novo Testamento.

A dinastia Herodiana - Herodes o Grande era Idumeu, povo do sul


da Judéia que fora convertido ao judaísmo no tempo de Macabeus e que
seguia o judaísmo apenas nominalmente. Em 37 a.C. Herodes, com a ajuda
dos romanos, derruba a Antigono, aliados dos partos, e passa a governar a
Palestina, dando inicio a uma dinastia que governara a região ate a queda
de Jerusalém, isto é, por mais de cem anos. O seu governo foi marcado por
inúmeras intrigas familiares, por instigação de sua irmã Salome. Não foram
poucas às vezes em que ele teve a sua vida ameaçada pelos próprios filhos,
Alexandre e Aristobulo, sendo que por fim mandou matá-los, bem como a
própria mulher, Mariana, a quem amava muito, mas que se viu acusada de
tentar envenená-lo. Mandou também matar Aristóbulo, irmão de Mariana,
que tinha dezessete anos quando ele colocou na posição de sumo-sacerdo-
te, bem como o avô de Marina, que tinha na época oitenta anos.
Fez grandes obras públicas entre elas, um anfiteatro e embelezou o
Templo de Jerusalém, construiu a cidade de Cesárea em honra a Augusto.
Todavia a maioria das suas obras destinava-se ao beneficio dos gregos,

55
CURSO DE BIBLIOLOGIA

visto que os judeus abominavam os jogos desportivos e outros costumes


helênicos. Estas obras também geraram enorme crise econômica.
No final de sua vida, o remorso de Herodes pelos crimes perpetrados
contra a própria família levou-o quase a loucura. O medo de ser envene-
nado e perder a coroa o afligiam dia e noite. Foi esta loucura que o levou
a assassinar as crianças de Belém e ao redor, quando ouviu falar de um rei
que havia nascido para reinar sobre os judeus. Após tantas crueldades, sua
morte foi de um sofrimento atroz.
Morreu Herodes no ano 4 ou 5 a.C. e seu filho Arquelau, passa a gover-
nar em seu lugar no governo da Judéia, Herodes Antipas se torna gover-
nador da Tetrarquia da Galiléia e da Pereia e Filipe fica como Tetrarca da
Ituréia e de Traconites.
Arquelau só reinou dez anos como etnarca da Judéia. Sua crueldade
levou os judeus a protestarem diante de Augusto (Mt 2.22). Então ele foi
destituído e a Judéia foi incorporada a Síria e governada por procuradores,
dentre os quais, Poncio Pilatos, que torna-se procurador no ano de 26
d.C., sob quem foi morto Jesus.
Herodes Antipas que governou a Galileia e a Pereia. Divorciou-se de
sua legítima esposa, que era filha do rei Aretas, rei dos árabes nabateanos,
para casar-se com Herodias, mulher do seu irmão Felipe. Este pecado
pesou-lhe imensamente, pois foi por isto repreendido por João Batista.
Sua mulher era um verdadeiro “demônio”, que o induziu a diversos erros,
inclusive ao de mandar matar João. É a este Herodes que Jesus chama da
raposa (Mc 8.15).
Entre os anos de 41 e 44 d.C. a Judéia volta a ser governada por um
dos Herodes. Por ser amigo de Calígula, quando este se torna imperador,
eleva Herodes Agripa, neto de Herodes o Grande, ao cargo de Rei da Ju-
déia. Foi ele quem mandou matar Tiago, irmão do apostolo João e quem
mandou prender a Pedro, o qual foi milagrosamente liberto (Atos 12).
Por fim, devido a sua soberba, foi ferido por um anjo do Senhor e morreu
comido de bichos.
Revoltas Judaicas - Não faltaram movimentos internos que viam no
jugo romano uma opressão que precisava ser destruída. Pelo menos três
destes estão descritos no Novo Testamento e a eles refere-se também

56
INSTITUTO TEOLOGAR

Josefo, Teudas e Judas (Atos 5.36,37) e ainda há referencia a um egípcio


(Atos 21.38) que agitaram este período.
Conforme Josefo, este Judas era da cidade de Gamala e ajudado por um
fariseu de nome Sadoque incitou o povo a se rebelar, dizendo que o censo
que estava sendo feito pelo Império Romano, tinha por finalidade escra-
vizá-los. O povo, impressionado, rebelou-se e houve latrocínio, saques e
assassinatos por todos os lados.
Teudas foi um mago, que persuadiu o povo a segui-lo ate o Jordão,
dizendo que era profeta e que deteria o curso do rio com apenas uma
palavra. Através disto levou o povo a rebelião, mas por fim o povo foi
disperso e Teudas teve sua cabeça cortada e levada a Jerusalém.
Quanto ao Egípcio referido em Atos tratava-se de outro que se dizia
profeta e que levando o povo ao monte das Oliveiras disse que depois de
ter proferido algumas palavras, os muros de Jerusalém cairiam por terra.
Mas o procurador Felix soube disso e foi atacá-lo com grande número des-
ses soldados; uns 400 foram mortos e duzentos foram feitos prisioneiros
mas o egípcio escapou.
Em outra ocasião também, Pôncio Pilatos introduziu na cidade, legiões
romanas que traziam em suas bandeiras a imagem do imperador. Os
judeus protestaram tanto, que Pilatos enviou um pelotão de soldados,
ameaçando matá-los se eles não parassem de incomodá-lo. Mas os judeus
dobraram os seus joelhos e expuseram suas gargantas, mostrando que
morreriam de bom grado pela sua fé. Mediante isto, o governador admi-
rou-se e mandou retirar os estandartes.
Também durante o reinado do louco imperador Calígula, foi ordenado
que dentro do Templo de Jerusalém se colocasse uma estátua do impe-
rador, que agora se dizia um deus e queria que todos o adorassem. Os
judeus mandaram uma delegação a Roma, chefiado pelo celebre judeu
Filo, de Alexandria, mas Calígula nem se quer os recebeu e ordenou ao co-
mandante Petrônio que colocasse a imagem no Templo nem que para isso
tivesse que massacrar aos judeus. Muitos deles morreram, mas fizeram de
seus corpos uma barreira humana, pelo que Petrônio desistiu diante de
tal firmeza. Ao saber disto, Calígula mandou que ele se matasse. Todavia,
antes da carta chegar, Calígula já estava morto e Petrônio foi salvo.

57
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Neste clima de revolta surgem os sicarios ou zelotes, homens cruéis que


usavam espadas curtas como as dos persas e recurvas como punhais, a que
os romanos davam o nome de siques. Matavam impunemente, misturan-
do-se no meio da multidão, cravando-lhes nas costas sua arma. E sob sua
liderança que se iniciara a terrível Guerra Judaica.
Houve também, por ocasião de uma doença de Herodes, alguns judeus
que subiram no portal do Templo e arrancaram e destruíram uma águia
de ouro, símbolo do poder romano, que o rei Herodes havia mandado
colocar. (Conforme uma nota do historiador inglês, Edward Gibbon, Tácito
chamava-a de Bellorum Deos. Era adorada pelos soldados juntamente com
outros deuses). Por causa disto foram presos uns quatrocentos judeus e os
responsáveis foram mortos.
Como vemos, o período no qual o Novo Testamento é desenvolvido foi
um período de bastante turbulência. Por outro lado, a organização políti-
ca e estrutural do Império garantia certa estabilidade para a propagação
do Evangelho. E a predominância da língua e da cultura grega facilitava
a comunicação do Evangelho por todo o Mediterrâneo. Igualmente,
a dispersão dos judeus pelas cidades do Império, juntamente com suas
sinagogas, será um fator de preparação para a propagação do cristianismo
claramente constatado no livro de Atos dos Apóstolos.

58
INSTITUTO TEOLOGAR

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Livros que narram o período pré-nacional de Israel


2. Livros que narram o período teocrático de Israel
3. Livros que narram o período monárquico de Israel
4. Livros relacionados ao período da restauração
5. Império que serve de contexto histórico para o Novo Testamento

VERDADEIRO OU FALSO

[ ] O período de escravidão no Egito não trouxe nenhum benefício


para Israel
[ ] Não há proveito em estudar a história de Israel no período interbíblico
[ ] O Novo Testamento tem o Império Grego como contexto histórico
[ ] A relação dos judeus com o Império Romano foi pacífica
[ ] Os zelotes eram colaboradores do Império Romano

59
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Lição 3 – Apêndice A
Alexandre e os Judeus

Após destruir a cidade de Tiro, o General Macedônico marchou contra


Jerusalém, mas foi recebido com flores pelos sacerdotes. Assim nos conta
o historiador judeu Flavio Josefo:

“Quando este ilustre conquistador (Alexandre) tomou esta última cida-


de (Gaza), ele avançou para Jerusalém e o sumo-sacerdote Jado, que bem
conhecia a sua cólera contra ele, vendo-se com todo o povo em tão grande
perigo, recorreu a Deus, ordenou orações públicas para implorar o seu
auxilio e ofereceu-lhe sacrifícios. Deus apareceu-lhes em sonhos na noite
seguinte e disse-lhes que fizessem espalhar flores pela cidade, mandar
abrir todas as portas e ir revestido de seus hábitos pontificiais, com todos
os santificadores, também assim revestidos e todos os demais, vestidos de
branco, ao encontro de Alexandre, sem nada temer do soberano, porque
ele os protegeria...Os fenícios e os caldeus que estavam no exército de
Alexandre, não duvidavam que na cólera em que ele se achava contra os
judeus ele lhes permitiria saquear Jerusalém. Mas aconteceu justamente o
contrário, pois o soberano apenas viu aquela grande multidão de homens
vestidos de homens vestidos de branco, os sacrificadores revestidos de
seus paramentos de linho e o sumo sacerdote, com seu éfode, de cor azul
adornado de ouro e a tiara sobre a cabeça, com uma lamina de ouro na
qual estava escrito o nome de Deus, aproximou-se sozinho dele, adorou
aquele augusto nome e saudou o sumo-sacerdote, a quem ninguém havia
saudado. Então os judeus se reuniram ao redor de Alexandre e elevaram
a voz, para desejar-lhe toda sorte de felicidade e de prosperidade. Mas os
reis da Síria e os outros grandes que o acompanhavam, ficaram surpresos,
de tal espanto que julgaram que ele havia perdido o juízo. Parmenio, que
gozava de grande prestigio, perguntou-lhe como ele, que era adorado
em todo o mundo, adorava o sumo-sacerdote dos judeus. Não é a ele,
respondeu Alexandre, que eu adoro, mas é ao Deus a quem ele serve,

60
INSTITUTO TEOLOGAR

pois quando eu ainda estava na Macedônia e imaginava como poderia


conquistar a Ásia, Ele me apareceu em sonho com estas mesmas roupas e
me exortou a nada temer, disse-me que passasse corajosamente o estreito
do Helesponto e garantiu-me que ele estaria a frente do meu exército e
me faria conquistar o império dos persas. Eis porque jamais tendo visto al-
guém revestido com trajes semelhantes aos com que ele me apareceu em
sonho, não posso duvidar de que não tenha sido por ordem de Deus que
empreendi esta guerra e assim vencerei Dario, destruirei o império dos
Persas e todas as coisas suceder-se-ão conforme o meu desejo. Alexandre,
depois de assim Ter respondido a Parmênio, abraçou o sumo-sacerdote e
os outros sacrificadores, caminhou depois no meio deles até Jerusalém,
subiu ao Templo, ofereceu sacrifícios a Deus da maneira como o sumo-
-sacerdote lhe dissera devia fazer. O soberano pontífice mostrou-lhe em
seguida o livro de Daniel no qual estava escrito que um príncipe grego
destruiria o império dos persas e disse-lhe que não duvidava de que era
ele de quem a profecia fazia menção. Alexandre ficou muito contente.”
(Antiguidades Judaicas Livro XI, 8.452)

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA – LITERATURA COMENTADA


1. SOUZA, Eguinaldo Hélio de. Israel povo escolhido. São Paulo:
Missão Atenas, 2007.

Este livro tem como foco principal apresentar o importante papel da


nação de Israel em todo o plano divino. Embora seu foco seja analisar as
verdades relacionadas à importância de Israel, o desenvolvimento histó-
rico é apresentado como o contexto onde o plano divino se desenvolve.

2. JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1992

Flávio Josefo foi um historiador judeu cuja obra adquiriu enorme


importância para o conhecimento da história dos judeus na antiguida-
de. Ele viveu no período do Império Romano e além de contar a his-

61
CURSO DE BIBLIOLOGIA

tória bíblica em uma perspectiva judaica, também nos deixou muitas


informações sobre a situação dos judeus no período do Império Grego
e do Império Romano.

OUTRAS INDICAÇÕES
1. EBAN. Abba. A História do Povo de Israel. Rio de Janeiro: Bloch, 1982

2. JOHNSON, Paul. História dos judeus. Rio de Janeiro: Imago, 1989

3 . KELLER, Werner. Diáspora, The post-Biblical history of the Jews.


London: Pitman Publishing, 1971

4 . MESQUITA, Antônio Neves de. Povos e nações do mundo antigo.


Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1973.

62
LIÇÃO 4
CONTEXTOS GEOGRÁFICO DAS
ESCRITURAS

DEFINIÇÃO

C
iência que trata da descrição da Terra e do estudo dos fe-
nômenos físicos, biológicos e humanos que nela ocorrem,
suas causas e relações.
Tanto a história quanto a geografia constituem itens de enorme impor-
tância no estudo das Escrituras. Por quê? As ações de Deus na história não
aconteceram apenas no interior dos indivíduos e grupos. Elas ocorreram
em tempos e espaços determinados. A abundância de lugares, cidades, aci-
dentes geográficos, povos, reinos e culturas mencionados nas Escrituras
são infindos. E todos estão relacionados com a revelação que Deus fez de
si mesmo.
Portanto, ao conhecer a respeito desses lugares e povos mencionados
nas Escrituras, estaremos constatando que não está baseado em ideias,
mas em fatos. Esses fatos se realizaram em lugares bem definidos. Isso
nos ajuda a entender que estamos lidando com coisas concretas, com um
Deus que fala e age neste mundo.

63
CURSO DE BIBLIOLOGIA

1 – CONTEXTO GEOGRÁFICO VETEREO TESTAMENTÁRIO


As primeiras referências geográficas do livro de Gênesis não são muito
fáceis de acompanhar. Provavelmente, o cataclisma do dilúvio e o tempo
de modo geral, modificou bastante a geografia daquele mundo antigo e
misterioso. Portanto, as referências ao Éden, aos rios que dali saem, da ter-
ra de Node onde peregrinou Caim, não podem ser detectadas facilmente.
A partir do dilúvio é mais fácil entender os aspectos geográficos.

A TÁBUA DAS NAÇÕES


Apesar da obscuridade desses primitivos tempos bíblicos (Da queda até
Abraão), alguns pontos notáveis nos são apresentados. Talvez, em termos
de geografia humana, o maior deles seja a chamada Tábua das Nações em
Gênesis 10. Ela nos oferece importantes informações sobre a composição
dos povos oriundos dos filhos de Noé.
A “Tabela das Nações”, de Gênesis 10, é um relato histórico surpreen-
dentemente exato. De acordo com Albright; "é algo absolutamente único
na literatura antiga, sem qualquer paralelo mesmo entre os gregos... 'A
Tabela das Nações' permanece sendo um documento surpreendente-
mente exato... Revela, apesar de toda a complexidade, uma compreensão
tão notavelmente 'moderna' da situação étnica e lingüística do mundo
moderno, que os estudiosos jamais deixam de ficar impressionados com
o conhecimento do autor sobre o assunto (Citado por Josh McDowell –
Evidência que exige um veredicto)

a) JAFÉ – Gn 10.2-5
• Gômer: Celtas e Cimbros (franceses / ingleses/ alemães / dinamarqueses)
• Magogue: Russos e Citas (Antigos países da URSS)
• Medal: Medos e Persas (iraniano)
• Javã: Gregos
• Tubal: Russos (Proximidades do Azerbaijão)
• Meseque: Russos
• Tiras: Trácios (bulgaros)

64
INSTITUTO TEOLOGAR

b) CÃO (Cã ou Cam) – Gn 10.6-20


• Cuxe: Etíopes (Sudaneses)
• Mizraim: Egípcios
• Pute: Líbios
• Canaã: Cananeus

c) SEM – Gn 10.21-31
• Elão: Elamitas (Iranianos)
• Assur: Assírios (Iraquianos)
• Arfaxade: Caldeus (Iraquianos e kwaitianos)
• Lude: Lídia (Turcos)
• Arã: Sírios ou arameus (Sírios)

À PARTIR DE ABRAÃO
No entanto, ao começar a história de Abraão as referências a lugares,
acidentes geográficos e povos, se tornam abundantes e exatos, fornecendo
uma clara moldura espacial dentro da qual o quadro das ações divinas e
humanas vai sendo passo a passo formado. Muitos povos acima mencio-
nados estarão em seus respectivos espaços geográficos e serão constante-
mente citados ao longo dos livros bíblicos.
A história de Abraão começa na cidade de Ur, cidade do povo caldeu,
localizada na região que ficou conhecida como Mesopotâmia (significa
“terra entre rios”, pois ficava entre os rios Tigre e Eufrates). Nessa região
hoje é o Iraque. Antes de ir para Canaã, Abraão vai com seu pai, Tera, e
seu sobrinho, Ló, para a cidade de Harã, na região onde hoje é a Turquia.
Somente depois migrou para Canaã, pequena faixa de terra entre o Mar
Mediterrâneo e o Vale do Jordão. Essa região era habitada por diversos
povos e governada por muitas cidades-estados.
Foi nessa pequena faixa de terra que Abraão, Isaque e Jacó peregrinaram,
com breves incursões ao Egito. Até que, após uma grande fome todo o clã
mudou-se para o Egito durante o governo de José e ali permaneceu por qua-

65
CURSO DE BIBLIOLOGIA

trocentos anos. Até que por fim, escravizados, foram libertados por Moisés e
conduzidos à Canaã, terra que Deus prometera à descendência de Abraão.
Como podemos ver a história bíblica do Antigo Testamento se desen-
rola na região que foi descrita como “crescente fértil”, pois, abrangendo
os lugares férteis regados pelos rios Nilo, Tigre e Eufrates, formam o
desenho de uma meia-lua.
Essa região, por sua fertilidade, serviu de berço para grandes civilizações
ao longo da história. Egípcios, Sumérios, Sírios, Hititas, Caldeus, Medos e
Persas, ergueram imensos impérios à partir de cidades-estados que foram
dominando outras. Outras civilizações menos poderosas foram surgindo
na região e constituíram um pano de fundo étnico para a história de Israel.
Moabitas, Amonitas, Filisteus, Fenícios, Edomitas e diversos outros.
Sendo assim, o contexto geográfico das Escrituras, considerando o An-
tigo Testamento, pode ser descrito como uma moldura que vai do Egito
até o Irã, região conhecida como Oriente Próximo. Os últimos livros do
Antigo Testamento a serem escritos, Esdras, Neemias, Ester e Malaquias,
estão inseridos no Império Medo-Persa. Este império dominou desde a
Índia até o Egito (Ester 1.1, 2).
Foi nesse ambiente geográfico, histórico, étnico e cultural que os livros
bíblicos do Antigo Testamento foram escritos e neles encontramos um
retrato fiel de todos esses aspectos, como a arqueologia tem atestado.

2 – CONTEXTO GEOGRÁFICO NEO-TESTAMENTÁRIO


Embora em alguns aspectos o contexto geográfico do Novo Testamento
possa convergir com o do Antigo, na maioria dos aspectos ele vai divergir.
Até porque o mundo do primeiro é principalmente o Oriente Médio. O
do segundo é o mundo Mediterrâneo. Quando a história dos Evangelhos
se inicia, Roma está no controle, e, geograficamente falando, o Império
Romano se estabeleceu principalmente ao redor Mar Mediterrâneo. O
norte do continente africano, o sul da Europa e parte daquilo que era cha-
mado Ásia menor, foi o território onde a narrativa do Novo Testamento
se estabeleceu.

66
INSTITUTO TEOLOGAR

Os romanos estabeleceram não apenas a estrutura política, mas tam-


bém os transportes e a comunicação. “Todos os caminhos levam à Roma”
era uma máxima que descrevia muito bem a rede de estradas que ligava as
diversas partes do Império à sua capital. As viagens, por terra ou por mar,
contavam com a unidade político-administrativa que o gênio romano
conseguiu construir. Os diversos povos que compunham esse que foi um
dos mais poderosos e duradouros impérios da história viviam em relativa
paz uns com os outros. Era a chamada “Pax Romana”.
A narrativa dos Evangelhos é restrita às pequenas províncias do leste
do Mediterrâneo, Judéia, Samaria e Galileia. Jesus poucas vezes se afastou
desses limites. Muitas cidades que eram conhecidas do Antigo Testamen-
to, também fizeram parte da narrativa do Novo, como Belém, Jerusalém e
Jericó. Acidentes geográficos e mesmo alguns povos continuaram fazendo
parte do contexto geográfico. A mudança desse contexto só aconteceria
na continuação da história.
O livro de Atos escancara as portas do mundo romano e o mostra com
precisão. Lucas é um historiador extraordinário e registra de forma abun-
dante a organização política, a administração, os acidentes geográficos e
as diversas províncias do Império. Enquanto conta a respeito das viagens
missionárias do apóstolo Paulo, vamos vendo a moldura geográfica que
envolve a narrativa e a localiza em um tempo bem específico.
Todos os lugares mencionados nas epístolas, tanto nas de Paulo com
nas demais, têm como referência geográfica a área do Império Romano.
Mesmo o livro do Apocalipse faz referências geográficas ao mesmo, quan-
do menciona Patmos, uma ilha do Mar Egeu, bem como as sete igrejas da
Ásia, localizadas da Ásia Menor. O contexto geográfico neotestamentário
é claramente o Império Romano.

O INTERVALO GREGO
A cultura do mundo na época do Novo Testamento, embora esteja sob
o domínio romano, é predominantemente grega. É fácil perceber isso
pela própria língua em que os autores escreveram. Isso foi o resultado da
situação que antecedeu o Império Romano.

67
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Quando o Antigo Testamento se encerra é o Império Persa que domina


sob a região, inclusive sobre os judeus. Quanto o Novo Testamento reco-
meça são os romanos no poder. Mas entre um e outro temos o Império
Grego, que foi estabelecido por Alexandre o Grande em um período de 10
anos. Partindo da Grécia, ele atravessou o pequeno estreito que separa a
Europa da Ásia, destruiu o Império Persa chegando até a Índia.
Todavia, Alexandre não apenas queria dominar politicamente, mas
culturalmente. Por esse motivo levou sábios gregos consigo, realizando
intencionalmente uma colonização cultural que deixaria sua marca para
sempre na região. Os romanos dominaram posteriormente os gregos,
mas foram dominados por essa cultura, chamada de helênica, e que vai
determinar o quadro neotestamentário.

CONCLUSÃO
Como podemos ver, aquela estreita faixa de terra no leste do Mediterrâ-
neo teve sobre o mundo uma influência maior do que aquela dos grandes
impérios. Reis e impérios desapareceram na história, muitas vezes sem
deixar rastro, muitas vezes depois de ter dominado grandes porções de
terra. O pequeno reino de Israel, contudo, tem sua marca em todo o
mundo através do domínio do Espírito.
Podemos encerrar com uma declaração do historiador Will Durant, em
sua monumental história das civilizações
Um Buckle ou um Monstesquieu, ansioso por interpretar a história
em termos geográficos, muito se desapontaria com a Palestina. Cento e
cinquenta milhas de Dan ao norte até Beersheba ao sul, e vinte e cinco a
oitenta milhas dos filisteus ao oeste até os sírios, arameanos, amonitas,
moabitas e edomitas ao leste: quem esperaria que tão exíguo território
desempenhasse tamanho papel na história ou deixasse atrás de si uma
influência muito maior do que a da Babilônia, Assíria, da Pérsia, talvez
mesmo maior que a do Egito ou da Grécia? (Will Durant, História da
Civilização, Vol I)

68
INSTITUTO TEOLOGAR

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Texto do Gênesis que descreve a genealogia dos povos


2. Cidade de onde Abraão saiu
3. Cidade onde ele primeiramente se estabeleceu
4. Lugar onde a descendência de Abraão ficou escravizada 400 anos
5. Império do tempo de Neemias

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] Mesopotâmia significa “terra entre rios”
[ ] Edomitas, moabitas, amonitas e filisteus eram povos ligados à
terra de Israel
[ ] Os rios Nilo, Tigre e Eufrates estavam dentro do limite do assim
chamado “crescente fértil”
[ ] Na época de Jesus, Judeia, Galileia e Samaria eram provincias romanas
[ ] O Império Romano se estabeleceu ao redor do Mar Mediterrâneo.

OUTRAS INDICAÇÕES:
1. ATLAS VIDA NOVA. São Paulo: Vida Nova, 2010
2. MESQUITA, Antônio Neves de. Povos e nações do mundo antigo.
Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1973.

69
LIÇÃO 5
O ASPECTO LITERÁRIO DAS
ESCRITURAS

G
eralmente olhamos para a Bíblia como um único livro. E se
considerarmos sua unidade e coerência com certeza ela é.
Todavia, ela é bem mais do que isso. Na verdade ela é uma
biblioteca, pois é composta por 66 obras literárias distintas. São autores
distintos, com estilos distintos, abordando temas e assuntos diversos,
em épocas diferentes e lugares diferentes. Toda essa variabilidade se une
sob o selo da inspiração e revelação divina. Todavia, não perdem suas
características literárias.
Deus falou por um livro e esse livro é rico nos seus elementos literários.
Pois a inspiração divina não era mecânica, não anulava a personalidade e
as capacidades de cada um de seus autores. Não foi produzida à parte da
cultura circundante que a gerou. Falou a linguagem das pessoas a quem se
dirigia. Usou dos artifícios culturais e estilísticos do seu público alvo. Ao
invés de empobrecer, as Escrituras falam através das belezas da linguagem
de seus autores. Expressam a riqueza literária do contexto onde surgiram.
Isso é muito precioso e torna a Bíblia não apenas a revelação divina, mas
uma obra capaz de influenciar a cultura e moldá-la.

71
CURSO DE BIBLIOLOGIA

PROSA E POESIA

Poesia é a forma de escrita que apresenta as seguintes características:


• Escrita em versos
• Apresenta certo ritmo
• Usa diversos recursos sonoros, como rimas, aliterações, onomatopéias, etc.
• Profundidade sintetizada
• Pode se apresentar com rimas ou métricas, mas não obrigatoriamente.

Prosa é a forma de escrita linear que se expressa como a forma natural


de falar, diferente da poesia que se destina a sempre criar um efeito mais
dramático. É utilizada para narrar, descrever e dissertar.
Nas Escrituras nós temos as duas formas de literatura – em prosa e
em verso.
Alguns textos são estritamente narrativos, como o livro de Atos, por exem-
plo. Outros estritamente poéticos, como Cantares de Salomão e Salmos.
No entanto, na maioria da Bíblia os gêneros se misturam. Os textos nar-
rativos apresentam poesias, como vemos no Pentateuco, por exemplo. E
os textos poéticos, como Jó, contem narrativas. Os livros dos profetas são
muito ricos em misturar as formas de texto. Temos narrativas e poesias
nos textos proféticos. Muitas vezes a prosa é intercalada com os oráculos,
geralmente em versos.
Muitas edições modernas da Bíblia permitem distinguir os textos poé-
ticos dos textos não poéticos pela própria estrutura de impressão. Basta
uma olhada sobre a página e percebemos o texto justificado da prosa e o
texto centralizado e distribuído da poesia.

A POESIA HEBRAICA

Cabe aqui um pequeno comentário sobre a poesia hebraica.


A poesia hebraica não se utilizava da rima, mas de um recurso deno-
minado paralelelismo, que significa algum tipo de alinhamento entre a
afirmação dos versos. O paralelismo pode ser:

72
INSTITUTO TEOLOGAR

SINOMÍNICO

Quando a ideia contida no primeiro verso, é repetida no segundo com


outras palavras, transformando o segundo verso um sinônimo do segundo:

“Porque a sua casa se inclina para a morte; E suas veredas para os espíritos
dos mortos”
Provérbio 2.18

ANTITÉTICO

Quando a ideia contida no segundo verso, é contrastada com a idéia


apresentada no primeiro verso:

“Porque o Senhor conhece o caminho dos justos. Mas o caminho dos ímpios perecerá”
Salmo 1.6

SINTÉTICO
Quando duas ideias são apresentadas nos dois primeiros versos e o
terceiro realiza uma conclusão:

Nós nos alegraremos em tua vitória. E em nome do nosso Deus arvoraremos


pendões. Satisfaça o Senhor todas as suas petições
Salmo 20.5

FORMAS LITERÁRIAS DOS LIVROS DA BÍBLIA

A Bíblia é uma verdadeira biblioteca de formas literárias, o que a torna


imensamente rica em termos culturais. É preciso conhecer essas formas
literárias para distinguirmos a forma de comunicação por trás dos textos.
Isto nos ajuda não somente a perceber a riqueza da literatura bíblica, bem
como nos ajudar na interpretação de seu conteúdo.

73
CURSO DE BIBLIOLOGIA

HISTÓRIA

Podemos definir história como sendo a ciência que estuda o homem e sua
ação no tempo e no espaço, e paralelamente, analisa os processos e eventos
ocorridos no passado. Heródoto de Helicarnasso (Século V a.C.) é apontado
como sendo “o pai da história” por ter sido o primeiro a produzir uma história
abrangente sobre os povos e impérios de seu tempo. Isso, todavia, não anula o
fato de que a historiografia judaica já era bastante significativa.
The Cambridge Ancient History (A História Antiga, de Cambridge; v.
1, p. 222) afirma: “Certamente o povo israelita manifesta uma capacidade
excepcional para a interpretação da história, e o Antigo Testamento repre-
senta a descrição da história mais antiga que existe”.
Não é difícil perceber que a narrativa histórica abrange boa parte das
Escrituras e não se restringe somente aos chamados livros históricos. Na
verdade, temos narrativa histórica em toda a Bíblia. O conjunto dos cinco
primeiros livros que os judeus chamam de Torá (Lei), contém longas
narrativas históricas. Os livros históricos narram em detalhes desde a
tomada de Canaã ( Josué) até o tempo do Império Persa (Ester). Os livros
proféticos estão repletos de referências históricas. E o Novo Testamento
narra a história de Jesus e depois a história da Igreja Primitiva. É em meio
a essas narrativas históricas que Deus se revela – no tempo e no espaço.

LEGISLAÇÃO

Não é novidade que temos em boa parte do Pentateuco um código legal,


com uma linguagem bem semelhante aos códigos legais de ontem e de hoje,
principalmente nos livros de Êxodo a Deuteronômio. Esses textos normati-
vos foram dados a um povo refugiado no Egito que estava se preparando para
conquistar seu território e tornar-se definitivamente uma nação.
A linguagem legal normalmente é bastante repetitiva, redundante,
solene e permeada de construções incomuns em outros tipos de litera-
tura. Todavia, é possível encontrar grande semelhança entre o Código de
Hamurabi e o Código Mosaico.

74
INSTITUTO TEOLOGAR

Podemos incluir nesse tipo de literatura não apenas os mandamentos


civis, mas também os mandamentos rituais desses livros. Da mesma for-
ma, as orientações levíticas para os serviços do templo se assemelham a
um manual normativo referente às obrigações sacerdotais e religiosas.

LITERATURA SAPIENCIAL

A assim chamada “literatura de sabedoria” era extensivamente cultivada


entre todos os povos antigos do Oriente Próximo. São inúmeros os exem-
plos desse tipo de literatura de textos egípcios, acadianos e aramaicos. Era
um gênero largamente comum entre os povos vizinhos a Israel.
Diferente da sabedoria grega que tinha caráter bastante especulativo,
a sabedoria hebraica, na maioria das vezes era prática e se relacionava
com assuntos imediatos da vida cotidiana. Além do mais, as pessoas eram
vistas como sábias ou tolas de acordo com seu relacionamento com o
Deus. O temor do Senhor como princípio da sabedoria (Pv 1.7) segue o
pensamento israelita predominante onde o relacionamento com Deus é o
centro de toda a vida.
Vamos encontrar essa literatura de sabedoria principalmente nos livros
de Provérbios e Eclesiastes, embora também esteja presente em Jó e mes-
mo em alguns Salmos que são chamados de sapienciais. Essa sabedoria
geralmente é expressa em versos. Podemos ver na epístola de Tiago traços
dessa literatura sapiencial.
O tipo mais comum de literatura, onde sem dúvida Provérbios perma-
nece como o exemplo mais eloquente, é a máxima.
Máximas são declarações curtas que resumem um pensamento sobre
determinado assunto, geralmente apresentando de forma simples uma
verdade profunda. Os provérbios populares, um fenômeno cultural mun-
dial, são máximas. Ainda que seja mais comum no livro de Provérbios,
vamos encontrar máximas em diversos lugares nas Escrituras. Algumas
delas se tornaram parte da cultura como; “Nem só de pão viverá o ho-
mem...”; “Quem com o ferro fere, com o ferro será ferido”; “Quem não
quiser trabalhar também não coma”, etc.

75
CURSO DE BIBLIOLOGIA

BIOGRAFIA
Biografia é um gênero literário onde a história de uma pessoa é con-
tada. Geralmente conta-se a história de pessoas eminentes, sejam eles
políticos, artistas, cientistas ou alguém destacado em determinada área.
Isso não significa que alguém com um papel histórico menos significativo
não possa ter também sua história narrada.
Quando a própria pessoa conta sua história então temos uma autobio-
grafia, como é o caso de Confissões, de Agostinho. Geralmente a narrativa
se inicia em algum ponto da infância e vai até a vida adulta.
Ainda que alguns não classifiquem os Evangelhos como biografia
devido a aspectos distintos, trata-se de biografia no sentido de contar a
vida de Jesus. Claro que os autores dos quatro Evangelhos não tinham
em mente escrever uma biografia conforme os conceitos modernos desse
gênero. Eles tinham finalidades específicas e por isso selecionaram aquilo
que seria adequado. De qualquer forma, o que temos nesses livros é a vida
de Jesus Cristo, destacando somente os aspectos principais.

GÊNERO EPISTOLAR
O gênero epistolar é produto da cultura helênica (greco-romana) e
exemplos diversos podem ser encontrados nos escritores latinos, como
Horácio, Plínio, Ovídio e Sêneca.
Essa forma de escrita apresenta todas as características de uma carta,
com remetente, destinatário e saudações. Também não falta a interação
pessoal e os sentimentos inerentes a uma carta. Todavia, os assuntos vão
muito além dos assuntos individuais e procuram argumentar, convencer,
explicar e discorrer sobre assuntos de natureza diversa.
O apóstolo Paulo fez amplo uso desse gênero, não só em sua orientação
à igrejas como também a indivíduos como Timóteo, Tito e Filemon. Boa
parte do plano divino foi explicado através de suas epístolas. E não somen-
te ele. Também Pedro, João, Tiago e Judas usaram desse gênero literário
para exortar e ensinar seus destinatários.

76
INSTITUTO TEOLOGAR

LITERATURA APOCALÍPTICA
O gênero apocalíptico é produto da cultura judaica, principalmente
entre o segundo século antes de Cristo e o segundo século depois de
Cristo. É um tipo de literatura com suas características próprias. Entre as
principais características nós temos:

Escatologia: Nem toda literatura escatológica é apocalíptica, mas toda


literatura apocalíptica é escatológica. Seu conteúdo sempre será relacio-
nado ao final dos tempos e ao mundo futuro.

Mundo espiritual: Anjos, demônios e seres espirituais estão presentes


de forma marcante nesse tipo literatura. O conflito espiritual é inerente.
Luz e trevas são continuamente apresentados.

Sonhos e visões: Mais do que mensagens proféticas diretas, o gênero


apocalíptico comunica sua mensagem através de sonhos e revelações,
quando o mundo espiritual é descortinado e o futuro é revelado por meio
dessas ferramentas.

Símbolos: Ainda esse gênero se utiliza larga e abundantemente do


elemento simbólico. Muitos desses símbolos são auto-explicativos ou
explicados no próprio contexto. Esse fator muitas vezes inibe a apreciação
dos textos apocalípticos.
Vemos essas características em alguns livros do Antigo Testamento,
como Daniel e também em trechos dos livros de Ezequiel e Zacarias, em-
bora o gênero só tenha se desenvolvido com todas as suas características
próprias a partir do século II a. C. no Novo Testamento, o maior exemplo
é o livro do Apocalipse, que apesar de misturar também o gênero epistolar
possui todas as características apontadas acima.

SERMÕES OU DISCURSOS
Um sermão é um discurso oral feito por um líder religioso sobre
temas bíblicos, teológicos, religiosos ou morais, normalmente sus-

77
CURSO DE BIBLIOLOGIA

tentando uma crença, lei ou comportamento humano num contexto


presente. Os elementos da pregação incluem exposição, exortação e
aplicação prática. O sermão é por muitos considerado como sinônimo
da homilia.
Em contextos não religiosos, o sermão é um discurso de chamada de
atenção ou repreensão, de um superior hierárquico (ex.: pais, patrões).
Em toda a Bíblia vamos encontrar também discursos ou sermões como
é o caso dos discursos. No Antigo Testamento temos diversos discursos
feitos por Moisés no livro de Deuteronômio principalmente. No Novo
Testamente temos discursos feitos por Jesus, Paulo e Pedro. Também
algumas epístolas como a epístola aos Hebreus e mesmo a epístola de
Tiago são entendidas como sermões que foram escritos.
Discursos escritos sempre foram comuns, tanto no ambiente político quan-
to religioso. Nas Escrituras temos os mais belos exemplos de sermões e tal
forma de comunicação oral tornou-se o elemento principal de nossa liturgia.

PARÁBOLAS
Forma de literatura que usa fatos do cotidiano para ilustrar verdades
espirituais. Muito comum no oriente antigo. É preciso distinguir parábola
de fábula. A fábula contem elementos fantasiosos, como é o caso das ár-
vores falando no discurso de Jotão ( Juízes 9). Embora algumas edições da
Bíblia descrevam como a parábola de Jotão, na verdade o que temos é uma
fábula. É fácil perceber como as parábolas lidam apenas com elementos
naturais sem apelar para o fantasioso.
Embora as parábolas não sejam exclusivas a Jesus, sem dúvida ele as
usou abundantemente em seus ensinos. Essas parábolas tornaram-se
verdadeiras pérolas da literatura ocidental devido a sua capacidade de
encantar crianças pela sua simplicidade e de encantar adultos pela sua pro-
fundidade. O filho pródigo, o bom samaritano, o semeador, as dez virgens
e muitas outras foram incorporadas de modo absoluto em nossa cultura.
O fato é que as parábolas não precisam ser analisadas em seus detalhes.
Há uma lição central apresentada que deve ser compreendida, indepen-

78
INSTITUTO TEOLOGAR

dente dos detalhes que foram apresentadas com a intenção de deixar a


história mais viva.
Baseado em Mateus 13.34 e Marcos 4.33 provavelmente as parábolas
de Jesus que temos nos Evangelhos sejam apenas uma amostra de muitas
que ele deve ter proferido.

LITERATURA PROFÉTICA
Não é muito fácil falarmos em um gênero literário “profético”, pois
os profetas bíblicos trabalharam com estilos e recursos literários diversi-
ficados. Todavia, podemos perceber na literatura por eles produzida um
tom solene, misterioso, hermético que era característica dominante. Sem
dúvida as figuras de linguagem abundam, a escrita é feita em verso, mas
há um tom diferenciado de outras literaturas, embora possamos falar em
“literatura oracular” onde a palavra é apresentada como divina.
Talvez a pessoa que mais nos faça enxergar o estilo profético como um gênero
literário seja alguém muito improvável. Friederich Nietzsche (1844 – 1900), o
filósofo da morte de Deus, escreveu um livro intitulado Assim falou Zaratustra.
Nesse livro, seu profeta, Zaratustra, fala imitando o estilo dos profetas.

POESIA DRAMÁTICA OU ÉPICA


Um dos gêneros poéticos mais antigos e destacados é a poesia épica ou
epopeia. Ilíada, Odisseia, Os Lusíadas, Paraíso Perdido são alguns exem-
plos desse tipo de literatura. Geralmente trata de um tema grandioso em
versos, com uma linguagem eloquente e majestosa.
Embora o livro de Jó possa fugir em muitos aspectos desse tipo de lite-
ratura, todavia, em alguns aspectos apresenta grande semelhante. O livro
trata do problema do sofrimento do justo, um tema sem dúvida grandioso
e narra uma história igualmente notória. E o trata, em sua maior parte,
por meio da poesia. Se não pudermos inserir o livro de Jó nesse gênero
completamente, temos de admitir que a aproximação é muito grande.

FILOSOFIA
Ainda que, como vimos, a sabedoria hebraica possa não apresentar um
caráter tão especulativo como aquele encontrado na filosofia grega, temos

79
CURSO DE BIBLIOLOGIA

no livro de Eclesiastes um estilo mais próximo desse gênero. Novamente,


mesmo que a identificação não seja plena, o livro vai especular sobre a razão
da vida e o sentido de tudo, retendo os limites da cultura sapiencial hebraica.
Outro ponto diferenciado é que a filosofia grega é sempre uma busca
e uma incógnita, uma vez que não possui a revelação das Escrituras. No
Eclesiastes toda reflexão filosófica se relaciona com Deus e sua vontade.

POESIA LÍRICA
Poesia lírica é a poesia que tem o amor romântico como seu tema
central. E sem dúvida o livro de Cântico dos Cânticos ou Cantares de Sa-
lomão preenchem essa definição. Nele temos o amor romântico descrito
de forma bela e envolvente. Independente de sua abordagem como uma
alegoria do amor de Deus por Israel ou do amor de Cristo pela Igreja, sem
dúvida, em seus versos, o amor romântico é apresentado.
Evidentemente que não podemos encaixar os livros da Bíblia em to-
das as definições estabelecidas. De qualquer forma, esses exemplos são
suficientes para mostrar que lidamos com um livro riquíssimo como
literatura, um aspecto que nem sempre foi devidamente utilizado.

CONCLUSÃO

Essa diversidade de gêneros literários nos leva a admirar e enxergar as


Escrituras sob nova perspectiva. Ao mesmo tempo em que explica boa
parte das dificuldades para entender seu conteúdo, também permite que
certas passagens sejam melhor entendida à luz da seu estilo literário.
Embora seja positivo olhar a Bíblia dessa perspectiva literária, precisamos evitar
o risco de vê-la apenas como obra literária. Ela é a Palavra de Deus por excelência.
Ainda que esta mensagem divina nos seja dada em roupagens humanas e culturais
bem estabelecidas, nada disso diminui seu aspecto sobrenatural. Podemos fazer
uma analogia com o próprio Cristo, que apesar de suas plenas características
humanas, não deixou de manter sua natureza divina.
Esse paradoxo divino-humano das Escrituras permite que ela possa ser
entendida em termos de aspectos literários e ainda assim seja a infalível
Palavra de Deus.

80
INSTITUTO TEOLOGAR

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Geralmente escrita em versos


2. A escrita é linear
3. Livro poético da Bíblia
4. Recurso poético das Escrituras diferente da rima
5. Literatura bíblica que expressa a sabedoria da vida

VERDADEIRO OU FALSO

[ ] Heródoto de Helicarnasso é conhecido como o “pai da história”.


[ ] Sermão é considerado sinônimo de homília por muitos estudiosos
[ ] Parábola e fábula são sinônimos
[ ] A filosofia hebraica é exatamenti igual à filosofia grega
[ ] Os livros da Bíblia não misturam prosa e poesia

81
CURSO DE BIBLIOLOGIA

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA – LITERATURA COMENTADA


PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia livro por livro. São Paulo: Vida, 1990.

“Entendes o que lês?” Essa pergunta foi feita por Filipe, há muito anos,
a um eunuco, alto oficial da rainha da Etiópia, que estava lendo o livro de
Isaías sem nada compreender. Lucas narra em Atos a resposta desafiante
do eunuco: “Como posso entender se não há ninguém para me explicar?”.
O tempo passou, mas o desafio continua, pois hoje não são poucos
que, a exemplo do eunuco, admitem não conseguir entender a Bíblia. Foi
pensando nessas pessoas que Gordon Fee e Douglas Stuart escreveram
este livro
A hermenêutica aqui proposta procura entender também o aspecto
literários dos livros bíblicos. Além dos demais contextos, o gênero do livro
a ser analisado também importa e muito. Sem dúvida um instrumento de
interpretação bastante precioso.

82
LIÇÃO 6
FORMAÇÃO DA COLEÇÃO DE LIVROS

1 – ANTIGO TESTAMENTO

O
s livros do Antigo Testamento foram sendo escritos num espaço
de mais de mil anos (+ - 1046 anos) de Moisés a Esdras. Moisés
escreveu as primeiras palavras do Pentateuco por volta de 1491
a.C. Esdras entrou em cena em 445 a.C. Esdras não foi o último escritor
na formação do cânon do Antigo Testamento; os últimos foram Neemias e
Malaquias, porém, de acordo com os escritos históricos, foi ele que, na qua-
lidade de escriba e sacerdote, reuniu os rolos canônicos, ficando também o
cânon encerrado em seu tempo. Dentro da tradição judaica o papel de Esdras
foi fundamental para a consolidação da coleção dos livros inspirados. Suas
habilidades como escriba o levaram a reunir esses rolos e mais tarde fechar o
cânon, que é o conjunto dos livros sagrados. Devido ao movimento chamado
Alta Crítica, as datas e autorias dos diversos livros das Escrituras foram sendo
contestados. Todavia, após mais de dois séculos esses críticos não chegaram
a nenhum acordo e suas teorias permanecem confusas e contestáveis, apesar
da grande erudição envolvida.
Por outro lado, eruditos conservadores têm trabalhado no sentido de
defender as datas e as autorias tradicionais. Portanto, é mais seguro nos ater-
mos ao posicionamento conservador, uma vez que as muitas teorias sobre

83
CURSO DE BIBLIOLOGIA

datas e autores continuam repletas de controvérsias, além de se basear em


preconceitos filosóficos.
A formação desse conjunto de livros foi gradual e lento, visto não haverem
os mesmos recursos que temos hoje. Houve, originalmente, a transmissão
oral, como se vê em Jó 15.18. Jó é tido como o livro mais antigo da Bíblia que
segundo a tradição foi escrito por Moisés quando este se encontrava entre
os midianitas. Nossa cultura duvida da capacidade de transmissão de infor-
mações por meio da oralidade. Todavia, na antiguidade, era dessa forma que
os bardos transmitiam o conhecimento através das gerações e isso não só na
cultura judaica. Era prática geral. A escrita em versos é destinada justamente
à memorização. Percebemos que é bem mais fácil decorar um conteúdo em
forma de versos do que em prosa.
Convém ter em mente aqui que toda cronologia bíblica é apenas aproxima-
da. Já no Novo Testamento, há precisão de muitos casos. Essa cronologia vai
sendo atualizada à medida que os estudos avançam e a Arqueologia fornece
informes oficiais:

1. Moisés, cerca de 1491 a.C, começou a escrever o Pentateuco, concluindo-o


por volta de 1451 a.C. (Números 33.2). Mais textos relacionados com Moisés e
sua escrita do Pentateuco: Êxodo 17.14; 24.4,7; 34.27. As partes do Pentateuco
anteriores a Moisés, como o relato da Criação, todo o livro de Gênesis e parte de
Êxodo, ele escreveu, ou lançando mão de fontes existentes (ver 2.4; 5.1), ou por
revelação divina. Gênesis 26.5 dá a entender que nesse tempo já havia "manda-
mentos, preceitos e estatutos" escritos. O que aponta para um uso corrente de
escrita e de registros. Há, é certo, passagens do Pentateuco que foram acrescenta-
das posteriormente, como: Êxodo 11.3; 16.35; Deuteronômio 34.1-12. Esse fato
não nega a autoria mosaica, apenas reconhece que em alguns pontos houve o
trabalho de um editor.

2. Josué, sucessor de Moisés (1443 a.C), escreveu uma obra que colocou
perante o Senhor ( Js 24.26).

3. Samuel (1095 a.C), o último juiz e também profeta do Senhor, escreveu,


pondo seus escritos perante o Senhor (1 Sm 10.25). Certamente "perante o Se-
nhor" significa que seus escritos foram depositados na Arca do Concerto com os
demais escritos sagrados lá depositados (Êx 25.21; Hb 9.4).

84
INSTITUTO TEOLOGAR

4. Isaías (770 a.C.) fala do "livro do Senhor" (Is 34.16), e "palavras do livro"
(Is 29.18). São referências às Escrituras na sua formação.

5. Em 726 a.C, os Salmos já eram cantados (2 Cr 29.30). O fato aí registra-


do teve lugar nesse tempo.

6. Jeremias, cuja chamada deu-se em 626 a.C, registrou a revelação divina


( Jr 30.1,2). Tal livro foi queimado pelo mau rei Jeoaquim, em 607 a.C, porém
Deus ordenou que Jeremias preparasse novo rolo, o que foi feito mediante
seu amanuense Baruque ( Jr 36.1,2,28,32; 45.1).

7. No tempo do rei Josias (621 a.C), Hilquias achou o "Livro da Lei" (2 Rs


22.8-10).

8. Daniel (553 a.C.) refere-se aos "livros" (Dn 9.2). Eram os rolos sagra-
dos das Escrituras de então. Ele cita especificamente o livro de Jeremias e o
cumprimento de sua profecia. Logo percebemos que os livros bíblicos eram
conhecidos.

9. Zacarias (520 a.C.) declara que os profetas que o precederam falaram


da parte do Espírito Santo (7.12). Não há aqui referência direta a escritos, mas
há inferência. Zacarias foi o penúltimo profeta do Antigo Testamento, isto é,
profeta literário.

10. Neemias, nos seus dias (445 a.C), achou o livro das genealogias dos judeus
que já haviam regressado do exílio (7.5); certamente havia outros livros.

11. Nos dias de Ester, o Livro Sagrado estava sendo escrito (Et 9.32).

12. Esdras, contemporâneo de Neemias, foi hábil escriba da lei de Moisés, e


leu o livro do Senhor para os judeus já estabelecidos na Palestina, de regresso
do cativeiro babilônico (Ne 8.1-5). Conforme 2 Macabeus e outros escritos
judaicos, Esdras presidiu a chamada Grande Sinagoga, que selecionou e
preservou os rolos sagrados, determinando, dessa maneira, o cânon das Es-
crituras do Antigo Testamento. (Ver Esdras 7.10,14.) Essa Grande Sinagoga
era um conselho composto de 120 membros que se diz ter sido organizado
por Neemias, cerca de 410 a.C, sob a presidência de Esdras. Foi essa entidade
que reorganizou a vida religiosa nacional dos repatriados e, mais tarde, deu

85
CURSO DE BIBLIOLOGIA

origem ao Sinédrio, cerca de 275 a.C. A Esdras é atribuída a tríplice divisão


do cânon (ver Apêndice). Foi nesse tempo, isto é, no tempo de Esdras, que os
samaritanos foram expulsos da comunidade judaica (Ne 13) levando consigo
o Pentateuco, que é até hoje a Bíblia dos samaritanos. Isto prova que o Penta-
teuco era escrito canônico.

13. Encontramos profeta citando outro profeta, do que se infere haver


mensagem escrita. (Comparar Miquéias 4.1-3 com Isaías 2.2-4.)

14. Filo, escritor de Alexandria (30 a.C. - 50 d.C) possuía todo o conjunto
dos livros do Antigo Testamento. Em seus escritos ele cita quase todo o An-
tigo Testamento.

15. Josefo, o historiador judeu (37-100 d.C), contemporâneo de Paulo,


diz, escrevendo aos judeus, no livro "Contra Appion": "Nós temos apenas
22 livros, contando a história de todo o tempo; livros em que nós cremos,
ou segundo geralmente se diz, livros aceitos como divinos. Desde os dias de
Artaxerxes ninguém se aventurou a acrescentar, tirar ou alterar uma única
sílaba. Faz parte de cada judeu, desde que nasce, considerar estas Escrituras
como ensinos de Deus". Josefo foi homem culto e judeu ortodoxo de linha-
gem sacerdotal. Foi governador da Galileia e comandante militar nas guerras
contra Roma. Presenciou a queda de Jerusalém. Foi levado a Roma onde
se dedicou a escritos literários. Josefo conta os livros do Antigo Testamento
como 22 porque considera Juízes e Rute como 1 (um) livro; Jeremias e La-
mentações também. Isto, para coincidir com o número de letras do alfabeto
hebraico: 22.
16. Essa coleção de livros era a que Jesus e os apóstolos se referiam como
“Escrituras” ou “Palavra de Deus” (Mt 26.54; Lc 24.27,45; Jo 5.39; Mc 7.13)

2 – NOVO TESTAMENTO
Como no Antigo Testamento, homens inspirados por Deus escreveram
aos poucos os livros que compõem o cânon do Novo Testamento, embora
nesse caso o intervalo de tempo tenha sido muito menor. Sua formação levou
apenas duas gerações: quase 100 anos. Em 100 d.C. todos os livros do Novo
Testamento estavam escritos. A ordem dos 27 livros do Novo Testamento

86
INSTITUTO TEOLOGAR

como temos atualmente em nossas Bíblias, vem da Vulgata, e não leva em


conta a sequência cronológica. Os primeiros escritos provavelmente foram
as epístolas paulinas, embora alguns atribuam uma data bastante antiga para
a epístola de Tiago. De qualquer forma esta seria uma possível ordem de
composição para os livros do Novo Testamento.

1. As Epístolas de Paulo. Foram os primeiros escritos do Novo Testamento.


São 13: de Romanos a Filemom. Foram escritas entre 52 e 67 d.C. Pela ordem
cronológica, o primeiro livro do Novo Testamento é 1 Tessalonicenses, escri-
to em 52 d.C. Já 2 Timóteo foi escrita em 67 d.C, pouco antes do martírio do
apóstolo Paulo em Roma. Esses livros foram também os primeiros aceitos
como canônicos. Pedro chama os escritos de Paulo de "Escrituras" - título
aplicado somente à Palavra inspirada de Deus! (2 Pe 3.15,16).

2. Os Atos dos Apóstolos. Escrito em 63 d.C, no fim dos dois anos da pri-
meira prisão de Paulo em Roma (At 28.30). Foi escrito por Lucas, o médico
amado que o acompanhou.

3. Os Evangelhos. Estes, a princípio, foram propagados oralmente. Não havia


perigo de enganos e esquecimento porque era o Espírito Santo quem lembrava
tudo e Ele é infalível (Jo 14.26). Os Sinóticos foram escritos entre 60 a 65 d.C.
Marcos, em 65. Em 1 Timóteo 5.18, Paulo, escrevendo em 65 d.C, cita Mateus
10.10. João foi escrito em 85. Entre Lucas e João foram escritas quase todas as
epístolas. Note-se que Paulo chama Mateus e Lucas de “Escrituras” ao citá-los
em 1 Timóteo 5.18; o original dessa citação está em Mateus 10.10 e Lucas 10.7.

4. As Epístolas, de Hebreus a Judas, foram escritas entre 68 e 90 d.C. Quan-


to à autoria de Hebreus, só Deus sabe de fato. Agostinho (354-430 d.C), bispo
de Hipona, África do Norte, afirma que seu autor é Paulo. As igrejas orientais
atribuíram-na a Paulo, mas as ocidentais, até o IV século recusaram-se a
admitir isto. A opinião ainda hoje é a favor de Paulo. Orígenes (185-254) o
homem mais ilustre da igreja antiga, e, anterior a Agostinho afirma: “Quem
a escreveu só Deus sabe com certeza”.

5. O Apocalipse. Escrito em 96 d.C, durante o reinado do imperador Do-


miciano. Foi o último livro a ser escrito e seu teor é o mais adequado para
fechar esse conjunto de livros sagrados. Faz um paralelo muito especial com
o livro de Gênesis.

87
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. O primeiro livro da Bíblia a ser escrito


2. O primeiro autor humanamente falando
3. Movimento que nega datas e autores tradicionais das Escrituras
4. Segundo a tradição judaica, reuniu os livros escritos
5. Últimos livros do Antigo Testamento a serem escritos

VERDADEIRO OU FALSO

[ ] Os primeiros escritos do Novo Testamento foram as epístolas de Paulo


[ ] Atos foi escrito durante a prisão de Paulo em Roma
[ ] Entre Lucas e João foram escritas quase todas as epístolas.
[ ] Quanto à autoria de Hebreus, só Deus sabe de fato
[ ] Apocalipse foi o penúltimo livro do Novo Testamento a ser escrito.

88
INSTITUTO TEOLOGAR

Lição 6 – Apêndice A
A ORDEM DA BÍBLIA HEBRAICA

Na Bíblia hebraica, os livros estão dispostos de maneira diferente das Bíblias


cristãs. Eles foram repartidos em três divisões: lei, profetas e os escritos. Ao
todo, somam 24 livros, sendo que esses livros correspondem exatamente
ao nosso cômputo comum de 39, visto que os judeus contam como sendo
um único livro os doze profetas, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas e
Esdras-Neemias.
Escrito originalmente em hebraico, com exceção de pequenos trechos
em aramaico, esse vernáculo, ou seja, o Antigo Testamento, foi trazido
por Israel em sua bagagem quando regressou da Babilônia. Há, também,
algumas palavras persas. O historiador judeu Flávio Josefo contou 22
livros porque reuniu Rute a Juízes e Lamentações a Jeremias.

Vejamos cada divisão:


A lei (torá): comumente chamada de Pentateuco, essa parte é composta
por cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

 s profetas (nebhiim): desdobram-se em duas subdivisões: os “pri-


O
meiros profetas”, compreendendo Josué, Juízes, Samuel e Reis; e os
“últimos profetas”, formados por Isaías, Jeremias, Ezequiel e “ Livro
dos doze profetas”.

 s Escritos (kethbhim): contêm o restante dos livros; a saber: Salmos,


O
Provérbios, Jó. Há, ainda, os “cinco rolos” (megilloth): Cântico dos Cân-
ticos, Rute, Lamentações de Jeremias, Eclesiastes e Ester. E, finalmente,
os livros históricos: Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas.

Esta divisão em três partes da Bíblia hebraica está de acordo com as


palavras de Jesus, que disse: “São estas as palavras que vos disse, estando ainda
convosco: convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de
Moises, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc 24.44).

89
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Mais comumente, o Novo Testamento refere-se “à Lei e aos Profetas”


(Mt 7.12) ou “a Moisés e aos Profetas” (Lc 16.29).
No hebraico, a junção das primeiras sílabas dos nomes dessas três
divisões formarão a palavra “Tanach”, que é a forma como eles desig-
nam as Escrituras.
Para os judeus cada um desses três conjuntos de livros tinham graus
diferentes de inspiração. A inspiração superior seria da Lei, seguida pelos
profetas e por fim os escritos. Essa forma de considerar os livros canônicos
do Antigo Testamento, nunca foi abraçada pela igreja, que não faz qual-
quer distinção dos graus de inspiração.

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
ARCHER JR, Gleason L. Merece Confiança o Antigo Testamento. São
Paulo: Vida Nova, 2004
BRUCE, F.F. Merece confiança o Novo Testamento? São Paulo, 1965

90
LIÇÃO 7
CANONICIDADE DAS ESCRITURAS

O
que vem a ser “canonicidade”. A palavra vem de “cânon”,
que literalmente é uma vara, uma cana de medir. Quando
aplicada às Escrituras, a palavra refere-se ao conjunto de
livros que são aceitos como inspirados por Deus.
Que ideia está por trás de chamar esses livros de “vara de medir”?
Tem a ver com aquilo que chamamos de “padrão”. Assim como havia
medidas e pesos padronizados, há também “verdades padronizadas”. A
revelação divina, contida no conjunto de livros inspirados, é o padrão,
a vara de medir com a qual as afirmações com respeito às coisas divinas
devem ser medidas.
Os critérios e os processos pelo qual os livros vieram a fazer parte do
Cânon das Escrituras Sagradas constituem a canonicidade.
Como vimos, a formação das Escrituras foi um processo bastante
longo, pois Deus foi se revelando dentro do espaço e do tempo de modo
gradativo. Sua vontade, seus planos e propósitos foram sendo mani-
festados ao longo dos séculos. E essa revelação foi registrada de modo
inspirado em diversos livros, através de pessoas diferentes, com formações
diferentes e em ocasiões diferentes. Em algum momento da história esses

91
CURSO DE BIBLIOLOGIA

registros inspirados foram reunidos formando aquilo que nós chamamos


de “cânon”, um conjunto definido e definitivo de livros aceitos como
divinamente inspirados.
Os autores sagrados receberam suas revelações e/ou visões da parte
de Deus e as comunicaram verbalmente, foram contudo orientados
a registrarem de forma escrita aquelas mensagens para a posteridade.
(Ex 17:14; 24:04,7 ; 34:27-28; Nm 33:02; Dt 3:22,24 ; Js 1:08; I Rs 4:1-3; I Cr
29:29; Is 30:08; Jr 30:02; 36:2-4; At 7:38).
O Cânon não é o produto de uma reunião conciliar, num determinado
momento histórico, mais foi um gradual reconhecimento de autoridade
divina pelos judeus e então esta coleção de livros foi agrupada e fixada
pela Igreja.
Importante! Nenhum concílio tinha por finalidade definir quais os livros
eram inspirados e quais não eram. Sua finalidade era reconhecer por meio
de critérios objetivos e subjetivos quais eram esses livros. O fechamento
do cânon era acima de tudo o fechamento de um processo que já vinha
acontecendo ao longo dos anos. A aceitação ou rejeição já era fato. Apenas
houve uma sanção oficial sobre um fato concretizado.

1. CANONICIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO


Alguns fatores facilitaram e outros dificultaram a canonicidade dos
livros do Antigo Testamento.
Entre os fatores que facilitaram podemos citar o fato de que esses livros
foram dirigidos a um único povo e constituíam propriedade intelectual e
espiritual apenas do povo judeu. Isso tornou mais fácil reunir e reconhecer
aqueles livros que desde o princípio gozaram de autoridade entre eles.
De igual modo, essa limitação étnica está ligada à limitação geográfica.
Esses livros foram escritos, com raras exceções, dentro do território de
Israel. Isso tornou o acesso a eles muito mais fácil.
Entre os fatores que dificultaram a canonização podemos citar o
longo tempo da composição dos livros. Como vimos, eles foram pro-

92
INSTITUTO TEOLOGAR

duzidos no espaço de pelo menos mil anos. Ao lado deles outros livros
surgiram, mas que não gozaram desde o princípio da respeitabilidade
e reconhecimento necessários.
Devemos levar em conta que o processo de definição do cânon sempre
foi bastante controverso e demorado. Esse fato não é um argumento
negativo, mas a favor do cânon. Os critérios sempre foram muito rígidos e
tinha intenção de evitar que algum livro ganhasse um status imerecido de
autenticidade e autoridade.
Dentre os critérios adotados podemos citar:

• O livro tem autoridade divina? É um “assim diz o Senhor”?


• Foi escrito por um homem de Deus? É autêntico?
• Tem poder para transformar vidas?
• Foi aceito pelo povo de Deus, lido e usado como regra de vida e fé?
• Tem o testemunho do próprio Deus?
• Está em conformidade doutrinária com a Lei?
• É fiel historicamente?
• Foi escrito até Malaquias?

Como vimos, os critérios adotados não eram apenas subjetivos, muitos


deles lidavam com questões de historicidade e legitimidade.
Os primeiros livros reconhecidos como sagrados são os que compõem a
Lei, sendo eles os únicos livros que compõe o cânon Samaritano. Os próximos
livros a serem canonizados foram as profecias, que registradas, provaram ser
divinas ao se cumprirem (Jr 36:06; Zc 1:4-6;7:7). Na época do silêncio profético
(após 400 anos AC), muitos livros históricos e poéticos circulavam entre os ju-
deus. Alguns reconhecidamente sagrados, outros reconhecidamente espúrios
e pouco duvidosos. Essa aceitação seguiu como vimos critérios rigorosos que
adiou a recepção de alguns livros no cânon.
Para perceber o quanto esses critérios eram rigorosos, basta olhar al-
guns critérios que não foram necessariamente levados em conta, demons-
trando um caráter imparcial no reconhecimento dos livros.

93
CURSO DE BIBLIOLOGIA

1. O idioma do livro não era determinante. Claro que os livros foram


escritos em hebraico, pelo fato dessa ser a língua do povo judeu. No entan-
to, muitos outros livros escritos em hebraico foram rejeitados. Além do
mais, nos livros canônicos temos trechos escritos em aramaico e esse fato
não representou nenhuma dificuldade de canonização.

2. A antiguidade dos livros também não determinou sua inclusão


ou exclusão do cânon. Livros antigos mencionados (Ex. Livro dos Justos
e Livro das Guerras do Senhor – Js 10.13 e Nm 21.14) permaneceram de
fora e livros de confecção recente foram logo aceitos como inspirados
como foi o caso do livro de Jeremias (Ver Daniel 9.2)

3. O critério de concordância com a Lei (Torá). Embora esse


tenha sido um critério, não funcionou da maneira como muitos
imaginam. Na verdade, como esse foi o primeiro conjunto de livros
aceitos como inspirados, a aceitação de qualquer outro livro deveria
seguir o mesmo critério. Por isso, não bastava estar de acordo com
a Lei para que um livro fosse aceito. Livros que não foram aceitos,
muitas vezes refletiam os pensamentos da Torá. Todavia, foram re-
jeitados porque não preencheram outros critérios que serviram para
validar os livros do Pentateuco.

4. A popularidade do livro. Claro que os livros canônicos eram populares.


No entanto, outros livros, como o Eclesiástico, eram muito populares, com
uma grande rede de leitores, mas foram rejeitados por não preencher outros
quesitos, inclusive de autenticidade e historicidade. Sendo assim, os livros não
foram aceitos somente porque muitos apreciavam os seus conteúdos.

O CONCÍLIO DE JAMNIA
Jâmnia, depois da destruição de Jerusalém (no ano 70 d.C.), tornou-
-se a sede do Sinédrio – o Supremo Tribunal dos judeus. Em 90 d.C.,

94
INSTITUTO TEOLOGAR

nessa cidade, perto da moderna Jope, em Israel, os rabinos, num Con-


cílio sob a presidência de Yohanan Ben Zakai, reconheceram e fixaram
o cânon do Antigo Testamento. À época, houve muitos debates acerca
da aprovação de certos livros, especialmente dos Escritos. Note-se,
porém, que o trabalho desse Concílio foi apenas ratificar aquilo que já
era aceito por todos os judeus através de séculos. Alguns inclusive se
recusam a considerá-lo um concílio que definiu o conjunto de livros
sagrados para os judeus. Essa reunião seria mais o meio pelo qual o
que já estava estabelecido foi reconhecido.
É bom lembrar que esse era um momento vital para os judeus e
o judaísmo. Sem a presença do Templo e um serviço sacerdotal
estabelecido, a Bíblia (AT) tornou-se a pátria dos judeus. O estudo
das Escrituras tomou o lugar dos sacrifícios e o rabino substituiu o
sacerdote. Era de máxima importância que os livros de fato inspirados
fossem definidos. Era dessa forma que a unidade do povo judeu seria
mantida – através de um consenso sobre que livros eram sagrados e
quais não eram.
Livros como Eclesiastes, Cantares de Salomão, Provérbios e Ezequiel
entraram para o cânon somente após grande debate. Também o livro de
Ester foi alvo de muitas discussões, talvez pelo fato do nome de Deus não
ser mencionado.
O cânon do Antigo Testamento aprovado pelos judeus é o mesmo
que se encontra nas Bíblias Protestantes. Os livros apócrifos nas Bíblias
católicas (que eles chamam de deutero-canônicos – segundo cânon),
não constam na Bíblia judaica. Embora tivessem grande estima entre
os judeus esses livros foram entendidos como distintos dos demais que
compunham o cânon.
É preciso compreender que muito antes e independente de um reco-
nhecimento oficial, Jesus e os discípulos tinham esse conjunto de livros
como “Escrituras”. Fizeram inúmeras citações diretas e indiretas desse
conjunto de livros. E foram considerados por eles como a regra para
medir qualquer afirmação referente às verdades divinas.

95
CURSO DE BIBLIOLOGIA

2. CANONICIDADE DO NOVO TESTAMENTO


A história do cânon do Novo Testamento difere da do Antigo em vários
aspectos. Em primeiro lugar, visto que o cristianismo foi desde o começo
direcionado a todos os povos, não havia uma única comunidade fechada,
como no caso dos judeus, que recebesse os livros inspirados e os coligisse
em determinado lugar. Faziam-se coleções aqui e ali, que se iam comple-
tando, logo no início da igreja; não há notícia, todavia, da existência oficial
de uma entidade que controlasse os escritos inspirados. Por isso, o processo
mediante o qual todos os escritos apostólicos se tornassem universalmente
aceitos levou muitos séculos. Era muito mais difícil oficializar o conjunto de
livros reconhecidos. Chegar a um consenso era de fato um grande desafio.
Também por causa desse fator, a área geográfica na qual os livros es-
critos estavam espalhados era muito maior. Lembrando que os meios de
locomoção e comunicação em geral nem se comparavam aos atuais. Ao
desafio étnico somava-se o desafio geográfico.
Por outro lado, havia um fator que facilitava muito o trabalho de iden-
tificação dos livros. Felizmente, dada a disponibilidade de textos, há mais
manuscritos do cânon do Novo Testamento que do Antigo.
Ainda há outra diferença entre a história do cânon do Antigo Testamen-
to, em comparação com a do Novo. É que a partir do momento em que
as discussões resultaram no reconhecimento dos 27 livros canônicos do
Novo Testamento, não mais houve movimentos dentro do cristianismo
no sentido de acrescentar ou eliminar livros.
O cânon do Novo Testamento encontrou acordo geral no seio da igreja
universal. Mesmo a separação da Igreja Oriental em 1054 e a posterior di-
visão resultante da Reforma Protestante não produziram um novo cânon.
A lista de livros é unânime.

 ATORES QUE IMPULSIONARAM A DEFINIÇÃO


F
DO CÂNON
Pelo menos três fatores diferentes levaram a Igreja a definir seu cânon.
Lembrando que esse processo não era muito simples diante das inúmeras
cópias espalhadas por muitos lugares do império.

96
INSTITUTO TEOLOGAR

1. MOTIVOS ECLESIÁSTICOS
Conforme instrução paulina em 1 Tessalonissenses 5.27 as epístolas
deveriam ser lidas nas igrejas. Por esse motivo a Igreja precisava saber
quais documentos eram verdadeiramente apostólicos e inspirados, bem
como distingui-los das inúmeras falsificações que iam surgindo (2 Ts
2.2). Essas falsificações foram comuns por todo o período. Evangelhos,
epístolas e mesmo apocalipses foram escritos usando o nome de algum
apóstolo. Esses escritos foram chamados de pseudo-epígrafe, que significa
algo como “falsa identificação”.

2. ESTÍMULO TEOLÓGICO
Indivíduos que não comungavam com a verdadeira doutrina da Igreja
estavam fazendo a sua própria lista de livros canônicos, geralmente usando
critérios nada coerentes. Um dos mais famosos foi Marcião, do segundo
século d.C. Ele era um gnóstico, uma corrente herética que quase destruiu
o cristianismo ortodoxo no segundo e terceiro século. Entre as distorções
surgidas dentro desse movimento, um deles foi o antissemitismo. A rejei-
ção de Marcião aos judeus o levou a formar um cânon que servisse para
seus propósitos antijudaicos.

3. RAZÕES POLÍTICAS
À partir do Imperador Marco Aurélio (161 d.C.) a perseguição aos
cristãos assumiu um caráter universal e oficial, quando até então havia
sido local e espontâneo. Como estratégia, pessoas que fossem encontra-
das com os livros sagrados dos cristãos podiam morrer por isso. Então,
tornou-se essencial saber quais livros eram ou não inspirados.

A FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO


TESTAMENTO
Alguns trechos dos Escritos do Novo Testamento mostram que uma
coleção de livros estava sendo formada, fosse por narrativas da vida de
Jesus (Lucas 1.2), fosse pela continuidade dessa narrativa ou fosse ain-

97
CURSO DE BIBLIOLOGIA

da pela coleção de epístolas paulinas (2 Pedro 3.15). Era uma literatura


que deveria ser lida na assembléia devido ao seu caráter autoritativo (1
Ts 5.27; Cl 4.16).
Depois da morte dos apóstolos surgiu um grupo de líderes e escritores
que fizeram a defesa e consolidação das verdades do Evangelho. Foram
chamados de pais da Igreja e a literatura resultante é conhecida como pa-
trística. Esses autores fizeram inúmeras referências às Escrituras demons-
trando que estavam cientes de uma espécie de cânon ainda não oficial.
Assim, logo após a primeira geração, passada a era apostólica, todos os
livros do Novo Testamento haviam sido citados como dotados de autori-
dade por algum pai da igreja. Por sinal, dentro de duzentos anos depois
do século I, quase todos os versículos do Novo Testamento haviam sido
citados em um ou mais das mais de 36 mil citações dos pais da igreja.
Clemente de Roma, na sua carta aos Coríntios, em 95 d.C. cita vários
livros do Novo Testamento.
Policarpo, na sua carta aos Filipenses, cerca de 110 d.C., cita diversas
epístolas de Paulo.
Inácio, por volta de 110, cita grande número de livros em seus escritos.
Justino Mártir, nascido no ano da morte de João, escrevendo em 140
d.C, cita diversos livros do Novo Testamento.
Irineu (130-200 d.C) cita a maioria dos livros do Novo Testamento,
chamando-os "Escrituras".
Orígenes (185-254 d.C), homem erudito, piedoso e viajado, dedicou
sua vida ao estudo das Escrituras. Em seu tempo, os 27 livros já estavam
completos; ele os aceitou, embora com dúvida sobre alguns (Hebreus,
Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João).
Outras confirmações do cânon do século I encontram-se nas traduções
e nas listas canônicas dos séculos II e III. Não se poderiam fazer a menos
que houvesse primeiro o reconhecimento dos livros que deveriam ser
incluídos na tradução.
Muitos livros antes de serem finalmente reconhecidos como canônicos
foram duramente debatidos. Houve muita relutância quanto às epísto-

98
INSTITUTO TEOLOGAR

las de Pedro, João e Judas bem como quanto ao Apocalipse. Tudo isto
tão-somente revela o cuidado da Igreja e também a responsabilidade que
envolvia a canonização. Antes do ano 400 d.C., todos os livros estavam
aceitos. Em 367, Atanásio, patriarca de Alexandria, publicou uma lista dos
27 livros canônicos, os mesmos que hoje possuímos; essa lista foi aceita
pelo Concilio de Hipona (África) em 393.
Contudo, o fechamento definitivo do cânon vai acontecer pouco tempo
depois. Isso ocorreu no III Concilio de Cartago, em 397 d.C. Nessa ocasião,
foi definitivamente reconhecido e fixado o cânon do Novo Testamento.
Como se vê, houve um amadurecimento de 400 anos.
Isso não significa que até essa data a Igreja não dispunha de literatura sagra-
da para guiar suas atitudes. Muito pelo contrário. Os livros já estavam escritos
e circulavam nas Igrejas. Como vimos, muitas vezes a lista completa já era
conhecida e utilizada. A diferença era atuar dentro de um consenso.

TESTES DE CANONICIDADE
Também os livros do Novo Testamento, como os do Antigo, foram
adicionados ao cânon seguindo critérios definidos. E preencheram
esses requisitos, pois do contrário não teriam sido escolhidos com
relativa unanimidade.

APOSTOLICIDADE
Ou seja, o livro foi escrito por um apóstolo ou por alguém associado, de
perto, com os apóstolos?
Essa questão tinha especial importância com respeito aos evan-
gelhos de Marcos e de Lucas e dos livros de Atos e Hebreus, já que
Marcos e Lucas não se encontravam entre os doze e a autoria de
Hebreus era desconhecida.

CONTEÚDO ESPIRITUAL
O livro estava sendo lido nas igrejas e o seu conteúdo era um meio de
edificação espiritual? Esse era um teste muito prático.

99
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXATIDÃO DOUTRINÁRIA
O conteúdo do livro era doutrinariamente correto? Qualquer
livro contendo heresia ou fosse contrário aos livros canônicos já
aceitos era rejeitado.

USO
O livro foi universalmente reconhecido nas igrejas, sendo amplamente
citado pelos Pais da Igreja?

INSPIRAÇÃO DIVINA
O livro apresentava verdadeira evidência de inspiração divina?

LIVROS APÓCRIFOS
Embora a Igreja Católica Romana goste de denominar estes livros
como deuterocanônicos, tal designação apenas mascara o fato de que
não foram aceitos como sendo da mesma natureza que os demais das
Escrituras. Por isso os denominamos apócrifos, ou espúrios, devido sua
natureza não inspirada. O que temos abaixo é uma exposição desses livros
e sua rejeição como canônico.

1º MACABEUS

TÍTULO
O nome do livro vem dos Macabeus, designação dada a Judas e depois
a seus irmãos. Essa palavra deriva do vocábulo makabah, que quer dizer,
martelo. O livro trata do primeiro Macabeu, Judas, e do governo dos seus
dois irmãos, Jônatan e Simão. Este último teria dado origem ao que foi
chamado de dinastia dos hasmoneus.

AUTORIA E DATA
O autor é desconhecido, provavelmente um judeu palestino que imitou
o estilo dos demais livros históricos do Antigo Testamento. Provavelmen-

100
INSTITUTO TEOLOGAR

te escrito em hebraico e depois traduzido para o grego. A data provável de


sua publicação varia entre 134 e 100 a.C.

ASSUNTO
Trata-se de um livro com teor histórico, abrangendo um período de
cerca de quarenta anos, que vai desde o reinado de Antíoco Epifânio (175
a.C.) até o advento de João Hircano (134 a.C.). A história está relacionada
ao período helenístico (grego) dos judeus, mais precisamente durante ao
domínio selêucida. Seleuco foi um dos quatro generais de Alexandre, o
Grande, entre os quais ele dividiu o seu Império. A Judéia era vassala do
reino da Síria, sob domínio selêucida que reinava desde Antioquia.

REJEIÇÃO
O livro foi considerado apócrifo (espúrio) e nunca foi aceito como parte
das Escrituras pelos judeus, que não o incluíram no seu cânon. O mesmo
fez Jerônimo em sua Vulgata.
Apesar de não ser canônico, seu valor para defender certos aspectos da
fé cristã não podem ser ignorado.
Embora os eventos estejam no que algumas vezes é denominado
“período de silêncio” quando nenhum livro inspirado surgiu, muitos dos
acontecimentos nele narrados confirmam profecias do livro de Daniel.
Primeiramente vemos a ascensão do reino Greco-macedônico de Ale-
xandre, o Grande, que guerreando contra o Império o derrotou e venceu.
A visão de Daniel 8.1-7 é descrita em 1 Macabeus 1.1-5.
A morte prematura de Alexandre é prevista em Daniel 8.8 e cumprida
em 1 Macabeus 1.6-8.
Em seguida temos a descrição do governo de Antíoco Epifânio em
Daniel 8.9-12 que tem sua realização descrita em 1 Macabeus 1.11-57 com
grandes detalhes. A persuasão de alguns judeus pelas ações de Epifânio
que pretendia helenizar os judeus é descrita em Daniel 11.32, sendo
atestada em 1 Macabeus 1.12. E a purificação do Templo narrada em 1
Macabeus 4.41-44 foi o cumprimento de Daniel 8.14

101
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Essas são apenas algumas das inúmeras profecias que tem seu re-
gistro histórico no livro do Macabeus e confirmam a inspiração das
Sagradas Escrituras.

2º MACABEUS

TÍTULO
Ao contrário do que se poderia pensar, este livro não é uma continuação
do primeiro. Na verdade equivale a uma espécie de história paralela, onde os
mesmos eventos são narrados com outros enfoques. Logo, não se trata de
uma segunda parte, mas uma segunda pretensa narrativa sobre os Macabeus.

AUTORIA E DATA
É descrito como sendo o resumo da obra de certo João de Cirene, com-
posta em cinco volumes. Ele teria escrito sua narrativa pouco depois dos
acontecimentos de 160 a.C. Seu alvo é despertar sentimentos fraternos
nos judeus de Alexandria (Egito) por seus irmãos da Palestina.

ASSUNTO
Sua abrangência cronológica é bem menor do que o primeiro livro,
aproximadamente quinze anos, o que equivaleria aos capítulos 1 ao 7 de
1º Macabeus.
Além da diferença cronológica temos a diferente literária. Este livro foi
escrito originalmente em grego. Seu estilo é menos de um historiador
do que de um pregador, apesar de demonstrar grande conhecimento das
instituições helenísticas.
Além dessas diferenças, o próprio sistema cronológico adotado por
ambos era diferente, causando certas dificuldades de harmonização.

REJEIÇÃO
De forma alguma podemos colocar o livro no mesmo patamar que os
livros canônicos e isso fica bem patente já na identificação do autor e da

102
INSTITUTO TEOLOGAR

natureza do livro. É descrito como não sendo mais do que um simples


resumo de uma obra maior, escrita com muito esforço e com objetivo de
agradar (1 Mc 2.19-32).
Também o valor histórico de 2 Macabeus é facilmente questionado. O
compendiador incorporou as narrativas apócrifas contidas nas cartas 1.1-2
e 2.1-18 e reproduziu as histórias fantasiosas de Heliodoro, do martírio de
Eleazar e do martírio dos sete irmãos que encontrou em Jasão. Sem falar
nas muitas discrepâncias cronológicas.
O livro se torna importante pelas afirmações que contém sobre a res-
surreição dos mortos (Capítulo 7). Ainda que a historicidade do evento
tenha sido contestada por alguns, a mera inclusão da ideia de ressurreição
sanciona a confiança no conteúdo dos livros canônicos sobre o assunto
(Isaías 26.19; Daniel 12.2).
Por outro lado, alguns conceitos só se encontram nesses livros. Como o
mérito dos mártires (6.18-7.41), a intercessão feita pelos mortos (15.12-16)
e a oração à favor dos mortos(12.45). Estes ensinamentos, referentes a
pontos ausentes em outros escritos do Antigo Testamento, explicam sua
aceitação pela a Igreja Católica. Se olharmos por esse ângulo, esse fato
demonstra o contraste entre apócrifos e canônicos. Em 2 Macabeus te-
mos conceitos e práticas ausentes nos livros canônicos, confirmando sua
inferioridade.
O protestantismo, juntamente com o judaísmo consideram tais doutri-
nas apresentadas no livro como heréticas.
A narrativa de 14.46 é por demais fantasiosa para ser aceita como ve-
rossímil. Não que o elemento milagroso não esteja presente em todas as
Escrituras, mas não foi o caso aqui. O fato é descrito como devendo ser
aceito como normalidade
É importante notar que Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro sé-
culo da Era Cristã, embora tenha estruturado sua história do período dos
Macabeus acompanhando a estrutura do primeiro livro, parece ignorar
completamente o segundo.

103
CURSO DE BIBLIOLOGIA

JUDITE

TÍTULO
Judite, a protagonista da história que deu nome a este livro, foi
uma judia que usando de um estratagema salvou a pequena cidade de
Betúlia de um cerco feito por Holofernes, comandante de um exército
de Nabucodonosor.

AUTORIA E DATA
Trata-se de uma história fictícia composta para encorajar o povo a
resistir e lutar, escrita provavelmente em meados do séc. II AC, durante
a resistência dos Macabeus ou logo após. Alguns colocam a data dessa
narrativa para o século I A.C.

ASSUNTO
O livro relata a história de uma piedosa viúva sai da cidade cercada e
dirige-se ao acampamento do exército inimigo, com sua beleza envolve
o comandante Holofernes, que se embriaga durante um banquete e tem
sua cabeça cortada pela heroína desta história.
Estudiosos sustentam que o livro teria sido escrito no final do século II
AC, ou mais tarde, e que se baseia em fatos reais que teriam ocorrido du-
rante a Dominação Persa. Seria o que os judeus chamam de Midrash, uma
tradição oral que usa um núcleo histórico e o amplifica para apresentar
uma lição moral, utilizando-se de elementos fictícios.

REJEIÇÃO
A falta de historicidade do livro já é um elemento suficientemente
forte para deixá-lo fora do cânon. De acordo com a Enciclopédia Ju-
daica, o autor do livro demonstra farto conhecimento da geografia
mundial e mesmo das Escrituras. Entretanto, ele comete o erro crasso
de iniciar a história dizendo que ela se passa no décimo-segundo ano
de Nabucodonosor, rei dos assírios em Nínive, e em uma época depois
do retorno dos judeus do exílio; isto seria uma forma de dizer ao leitor
que o livro é ficção, e não história.

104
INSTITUTO TEOLOGAR

A própria Bíblia de Jerusalém reconhece que o livro de Judite, manifesta


uma soberba indiferença pela história e pela geografia. Situa a história no
tempo de Nabucodonosor e ao mesmo tempo fala do retorno do cativeiro
babilônico (605 a 535 a.C.) como algo que já se realizou ( Judite 4.3 e 5.19).
A própria cidade de Betúlia, onde a história se desenrola, é desconhecida.
A falta de harmonia com os livros canônicos é visível a qualquer um
que faça uma simples leitura da história.
A inerrância bíblica também inclui questões relacionadas à história e
geografia. Se o livro não fornece informações seguras nesses assuntos,
torna-se suspeito em quaisquer outros. Somente esse fato pertinente ao
livro de Judite já é suficiente para invalidá-lo.
O contraste entre a falta de historicidade das narrativas históricas dos
apócrifos e a fidelidade geográfica e histórica dos livros canônicos, contri-
bui para nossa confiança na coleção de livros que temos como inspirados.
A fé judaico-cristã é uma fé histórica, apoiada em eventos que se reali-
zaram em tempo e espaço definidos, definíveis e verificáveis. Constatar
tal exatidão nos 39 livros do Antigo Testamento solidificam nossa fé nele
como livro divinamente inspirado e inerrante.
Mesmo em termos morais o livro deixa muito a desejar. A vitória foi
ganha por meio da sedução e do engano. Longe de apresentar qualquer
glória a Deus, o livro demonstra o artifício sedutor de uma mulher como
meio para vencer o inimigo.
Esse livro apócrifo destoa ainda mais do que os outros de espírito das
Escrituras.

TOBIAS

TÍTULO
Tobias ou Tobit é o personagem principal do livro. O significado do seu
nome é “meu Deus”.

AUTORIA E DATA
Alguns acreditam que essa história teria sido escrita por volta do ano
200 a.C., ou seja, muito tempo depois do período no qual os eventos
teriam ocorrido.

105
CURSO DE BIBLIOLOGIA

ASSUNTO
O livro conta a história de duas famílias judaicas aparentadas deportadas
em Nínive, na Mesopotâmia e em Ecbátana na Pérsia. O chefe da família de
Nínive fica cego e envia seu filho Tobias para buscar certa importância em
dinheiro, guardada em casa de um amigo em uma cidade distante. Nessa
viagem, protegido pelo Arcanjo Rafael, Tobias encontra e casa com Sara,
sua prima em Ecbátana, que era atormentada por um demônio chamado
Asmodeu, que anteriormente matara sete maridos na noite de núpcias, antes
mesmo que tivessem relações sexuais. No retorno o chefe da família é curado.
O protagonista é um judeu justo e fiel a Deus, mostrando que a verda-
deira sabedoria, o caminho para a fidelidade, consiste em amar a Deus e
obedecer aos seus mandamentos, independentemente das circunstâncias.
O livro foi escrito na época da dominação decorrente das conquistas de
Alexandre que tentava impor a cultura, a religião e costumes helenistas,
ameaçando a identidade do povo judeu, logo o livro busca reafirmar esta
identidade ameaçada. Logo, sua finalidade é a mesma dos livros sapien-
ciais de Sabedoria e Eclesiástico.

REJEIÇÃO
Os estudiosos em geral assumem que não se trata de uma história real,
uma vez que os acontecimentos aí descritos, dificilmente se encaixam
com o contexto no qual ela é contada. Seria uma espécie de novela ou
romance com propósitos didáticos.
Os comentaristas da tradução ecumênica reconhecem que se trata de um
romance popular inspirado na tradição do mundo pagão circundante. Isso
põe em cheque qualquer valor canônico que se queria atribuir ao livro.
Um dos argumentos contra a fidelidade desse escrito é o fato de que
o Anjo Rafael mente acerca de sua identidade: Rafael apresenta-se como
"Azarias, filho do grande Ananias" (Cap. 5, ver. 18 de Tobias); revelando
sua verdadeira origem somente depois. O problema nesse texto é que
um verdadeiro anjo de Deus nunca utilizaria a mentira, que, segundo o
contexto geral da Bíblia, é uma característica diabólica, e não divina.
Além disso, o Anjo Rafael ensina a Tobias práticas de magia/feitiço
como forma de exorcismo, quando diz que, queimando o coração de um

106
INSTITUTO TEOLOGAR

peixe sobre brasas, a fumaça expulsará todo mau espírito (Cap. 6, ver. 8 de
Tobias). O demônio Asmoneu mencionado está mais para lendas judaicas
do que para revelação bíblica.
Outra ênfase do livro são as boas obras como meio de se conseguir
perdão e mérito. Mesmo que o Antigo Testamento não tenha a doutrina
da graça plenamente desenvolvida, o pecado só era perdoado mediante
arrependimento e apresentação do respectivo sacrifício. O livro só foi ado-
tado pelo catolicismo por causa dessa ênfase. Como ocorre com outros
escritos apócrifos, ele foi adotado para justificar doutrinas espúrias, ainda
que apresente ensinos comprometedores.
Todos esses fatores somados mostram a inconsistência em manter no
cânon um livro que entra em conflito com ensinos bíblicos e que se aceito
negaria até mesmo a inerrância bíblica, uma vez que sequer se sustenta
diante de seu contexto histórico.

ECLESIÁSTICO

TÍTULO
Também chamado de Sabedoria de Jesus Ben Sirac. O título do livro vem
do latim Ecclesiasticus, utilizado por Cipriano que queria destacar seu uso na
Igreja, embora ele nunca tenha sido usado pelos judeus na sinagoga.

AUTORIA E DATA
Jesus ben Sirac, ou Sirácide, teria vivido em Jerusalém (50.27) no início
do séc. II a.C., como se pode deduzir do louvor que faz a Simão, Sumo
Sacerdote (50.1-21). Para a identificação de tal Simão com Simão II é de-
cisiva a notícia que nos é dada pelo tradutor grego da obra, que foi neto
ou descendente mais tardio do autor. Ele escreve por volta de 132 a.C.,
correspondente ao ano 38 de Ptolomeu VII Evergetes. Apesar de valorizar
a religião judaica, nada indica que ele pertencesse à classe sacerdotal.
O livro deve ter sido escrito por volta de 180 a.C. e antes da trágica
situação que começa com a destituição de Onias III, filho de Simão, em
174 a.C., a quando da violenta perseguição de Antíoco Epifânio (175 a.C.)
e da consequente sublevação dos Macabeus (167 a.C.). O próprio ECLESI-

107
CURSO DE BIBLIOLOGIA

ÁSTICO nos fornece alguns dados sobre a sua identidade e o seu trabalho.
Em 51.23 fala da própria escola e convida os ignorantes a inscreverem-se
para poderem adquirir gratuitamente a sabedoria (51.25).

ASSUNTO
O livro se encaixa nos moldes da literatura sapiencial judaica, com suas
máximas de sabedoria à semelhança de Provérbios e Eclesiastes. Seme-
lhante ao que fizera o autor de Livra de Sabedoria, Ben Sirac deseja forta-
lecer seus correligionários, agora vivendo no Egito sob o domínio grego.
De modo geral exalta os valores da religião judaica, como o sacerdócio e
o Templo.

REJEIÇÃO
Não podemos ignorar o grande valor do livro em termos de conselhos
sábios e mesmo de confirmação de verdades bíblicas. O autor com certeza
foi um judeu fiel e temente a Deus cujo propósito foi exaltar a herança
espiritual judaica.
As afirmações a respeito de sua tradução, juntamente com o fato de ter
sido rejeitado no cânon hebraico são fatores suficientes para perceber que
não atende as características de um escrito canônico.
Se considerarmos que o livro praticamente ficou esquecido por décadas
até ser traduzido, demonstra que seu próprio autor não atribuía a ele a
mesma importância das Escrituras canônicas.
De igual modo, a forma como o autor se refere às dificuldades em lidar
com o escrito, não manifestam de forma alguma o modo dos autores ins-
pirados. Ele fala da dificuldade que é criar máximas (13.26), demonstrando
um esforço humano para isso e não uma inspiração divina.
Algumas ideias não refletem de forma alguma os conceitos bíblicos,
como a crença de que o bem feito a um pai perdoa pecados (3.14, 15);
a recusa em ajudar um pecador (12.4, 5. 7); o nascimento de uma filha
visto como algo vergonhoso (22.3) ou mesmo um conceito à respeito da
tristeza (30.23) que se choca com as Escrituras (Ec 7.1- 4).
Um pouco chocante é a sanção que o livro dá ao episódio da necro-
mante de Endor (1 Sm 28). O autor assume que Samuel teria voltado e

108
INSTITUTO TEOLOGAR

profetizado (46.20). Isso seria endossar a mensagem de um suposto mor-


to, enquanto é mostrado claramente que Deus não quis falar com Saul
através de profetas vivos (1 Sm 28.6).
O livro ganhou algum espaço dentro da comunidade cristã primitiva
pelos bons conselhos e práticas bíblicas que endossa. Quando, porém, sob
o crivo da canonicidade ele se mostra muito longe dos escritos divinamen-
te inspirados e inerrantes.

SABEDORIA

TÍTULO
O título completo do livro é Sabedoria de Salomão, pois os capítulos
7 a 9 atribuem a ele seu conteúdo, ainda que não nominalmente. Ainda
assim é possível compreender que é uma referência clara ao rei Salomão,
escolhido por sua proverbial sabedoria.

AUTORIA E DATA
Apesar do nome, tudo indica que esse livro não foi escrito por Salomão
e sim por um judeu de Alexandria, por volta do século I antes de Cristo.
Isso era comum na época. Apoiar-se em uma personalidade conceituada
para conferir credibilidade ao escrito. Todavia, o nome do autor real per-
manece no anonimato. Alguns veem uma proximidade com as obras de
Fílon, judeu de Alexandria que tentou fazer uma síntese entre o Antigo
Testamento e a filosofia grega.

ASSUNTO
Alexandria era um importante centro político e cultural grego, e contava
com cerca de 200.000 judeus entre seus habitantes. A cultura grega, com suas
filosofias, costumes e cultos religiosos, além da hostilidade que, às vezes,
incluía perseguição aberta, constituíam uma ameaça constante à fé e à cultura
do povo judaico que habitava no Egito. Para não serem marginalizados da so-
ciedade, muitos deixavam os costumes e até mesmo a fé, perdendo a própria
identidade para se conformar a uma sociedade idólatra e injusta. A intenção
do autor era fortalecer a fé judaica dentro desse contexto.

109
CURSO DE BIBLIOLOGIA

REJEIÇÃO
Como nos demais apócrifos, o contraste com os livros canônicos é
visível, a começar pelo forte tom helenístico nele presente e pela ausência
de autoridade divina. É fácil perceber a mistura de ideias das Escrituras
canônicas e ideias da filosofia e religião gregas.
Da mesma forma, aqui surgem doutrinas completamente ausentes nos
livros canônicos. Uma pré-existência da alma (8.19, 20) e também um
aparente conceito de castigo do justo após a morte (purgatório) parece
transparecer (3.1-3).
Um contraste com a fé bíblica é apresentada em 9.15, onde o corpo é
mencionado como uma prisão para a alma. Essa ideia é platônica, exposta
principalmente em seu diálogo Fédon. A Bíblia, no entanto, entende o corpo
como parte do ser do homem e esta incluído no processo de redenção. Embo-
ra o autor lute para sancionar as crenças judaicas, ele constantemente tropeça
em noções gregas. Alguns especialistas chegam a ver contradições de ideias
entre a primeira e segunda partes (Capítulos 1 a 6 e 6 a 9), com a terceira parte
que parece tentar se aproximar mais das crenças judaicas (Capítulos 10 a 19).
Esse conflito entre a fé judaica e a filosofia grega se faz sentir não apenas no
vocabulário e estilo, mas ainda nas próprias crenças.
Mesmo comentaristas católicos reconhecem que o autor não faz refe-
rências à ressurreição física, o que é muito estranho para alguém que pre-
tende fortalecer a fé judaica. Parece haver mais base para uma ressurreição
espiritualizada, ao gosto da visão grega que atribui mal inerente à matéria.
Logo, sua inclusão no cânon pelo Concílio de Trento em 1546 cria
dificuldades para o próprio catolicismo. Para alegar alguma base na defesa
do purgatório, acolhe doutrinas que são espúrias para si, como doutrina
da pré-existência da alma e uma ressurreição que é espiritual e não física.

BARUC
TÍTULO
Diferente de outros personagens, Baruc ou Baruque é um personagem
bíblico bem conhecido, a quem é atribuído este livro apócrifo. Alguns enten-
dem que ele era mais do que um simples amanuense de Jeremias. Ele seria na
verdade um alto funcionário da administração babilônica na Judeia.

110
INSTITUTO TEOLOGAR

Baruc teria sido um homem erudito e de família nobre, que foi secretário
de Jeremias durante o Exílio na Babilônia do povo israelita na Babilônia. É
chamado de filho de Nerias, irmão de Seraías, amigo e secretário do profeta
Jeremias (Jr 36.4). Era homem erudito, de nobre família (Jr 51.59), tendo
servido fielmente ao profeta. Pelas instruções de Jeremias, escreveu Baruc as
profecias daquele profeta, comunicando-as aos príncipes e governadores. E
um destes foi acusar de traição o escrevente e o profeta Jeremias, mostrando
ao rei, como prova das suas afirmações, os escritos, de que tinham conse-
guido lançar mão. Quando o rei leu os documentos, foi grande o seu furor.
Mandou que fossem presos os dois, mas eles escaparam. Depois da conquista
de Jerusalém pelos babilônios (586 a.C.), foi Jeremias bem tratado pelo rei
Nabucodonosor. Mais tarde, Baruc foi acusado de exercer influência sobre
Jeremias a fim de não fugirem para o Egito (Jr 43.3). Mas, por fim, foram
ambos compelidos a ir para ali com a parte remanescente de Judá (Jr 43.6).

AUTORIA E DATA
Sua datação é semelhante à dos demais apócrifos: ano 100 a.C., apro-
ximadamente. Segundo a visão católica, o proveito desse livro estaria na
qualidade de testemunho que apresenta, como se fosse uma rememora-
ção do profeta.

ASSUNTO
A obra tem por objetivo mostrar como era a vida religiosa daquele
povo, seus cultos e tem o mérito de conservar a fé dos judeus dispersos
pelo mundo após a ruína de Jerusalém e a perda de quase todas as suas
instituições. Mostra como eles conservaram viva a consciência de ser
um povo adorador do verdadeiro Deus. Ao mesmo tempo, mostra a
consciência que tinham do desastre nacional: reconhecem sua culpa,
reconhecem que os males se originaram por culpa deles próprios. Mas,
ao lado dessa consciência de seus pecados, conservam uma viva espe-
rança, pois acreditam que Deus não abandona o seu povo e continua
fiel às promessas. Se houver arrependimento e conversão, poderão
confiar no perdão divino: serão reunidos de novo em Jerusalém, que é
para sempre a cidade de Deus.

111
CURSO DE BIBLIOLOGIA

REJEIÇÃO
Embora alguns trechos do livro possam de fato ter saído da pena de
Baruc, o livro em sua íntegra não é obra dele. Isso compromete sua histo-
ricidade e logo, seu valor como livro canônico.
O livro é curto e não apresenta discrepâncias históricas ou doutrinárias
com os canônicos. Contudo, nunca foi aceito como inspirado pelos judeus
e não faz parte de se cânon.
Por outro lado, ainda que o catolicismo insista em colocá-lo entre os
livros inspirados, ela deveria reconhecer que na verdade ele atesta contra
suas práticas, principalmente no que diz respeito à idolatria.
Esses deuses de madeira prateada ou dourada parecem pedras tiradas
do morro: quem se ocupa deles só vai passar vergonha. Como, então,
pensar ou dizer que são deuses?" (Baruc 6.35-39)

CONCLUSÃO
O caminho para reunir e autenticar a literatura inspirada, tanto do An-
tigo quanto do Novo Testamento, não foi um caminho rápido e simples.
E também não deveríamos esperar menos, visto se tratar da coleção de
livros mais importante da história da humanidade. Deus falou por um
livro, utilizando homens comuns como intermediários. A preservação
desse livro também foi resultado de processos comuns.
De qualquer forma podemos ter segurança de que não foram escolhas alea-
tórias isentas de critérios arbitrários que nos trouxeram até nós essa biblioteca
sagrada. Afirmações de que a Igreja selecionou determinados livros no intuito
de confirmar seu poder patriarcal não passa de delírio ingênuo de pessoas que
não desejam sobre si nenhuma autoridade divina. Na verdade, o cânon das
Escrituras constituem um critério moral e espiritual diante do qual nenhum
indivíduo ou instituição podem julgar aprovados.

112
INSTITUTO TEOLOGAR

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Conjunto de livros sagrados


2. Significado literal da palavra “cânon”
3. Processo pelo qual os livros vieram a fazer parte do cânon
4. A etnia para quem primeiro foi confiado o conjunto de livros canônicos
5. Primeiro conjunto de livros a ser aceito como inspirados

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] Marcião foi um judeu que detestava cristãos
[ ] O Imperador Marco Aurélio foi um grande simpatizante dos cristãos
[ ] Pais da Igreja foram auxiliares dos apóstolos.
[ ] Atanásio, bispo de Antioquia, foi um grande líder gnóstico
[ ] Um dos critérios para aceitar um livro era sua apostolicidade

113
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Lição 7 – Apêndice A

Livros citados no Antigo Testamento que desapareceram e cujos conte-


údos podem ter sido inseridos ao menos parcialmente nos livros canônicos
do Antigo Testamento

LIVROS PSEUDO-EPÍGRAFOS
Estes livros foram escritos em nome dos apóstolos ou personagens de
destaque no início da Igreja. Apresentam os conteúdos mais absurdos e
são facilmente identificados como espúrios
O número exato desses livros é difícil de apurar. Por volta do século
XIX, Fótio havia relacionado cerca de 280 obras. A partir de então muitas
outras apareceram. Relacionamos abaixo alguns dos pseudepígrafos mais
importantes e das tradições a eles relacionadas:

EVANGELHOS
1. O Evangelho de Tomé (século I) é uma visão gnóstica dos supostos
milagres da infância de Jesus.
2. O Evangelho dos ebionitas (século II) é uma tentativa gnóstico-cristã
de perpetuar as práticas do Antigo Testamento.
3. O Evangelho de Pedro (século II) é uma falsificação docética e gnóstica.
4. O Proto-Evangelho de Tiago (século II) é uma narração que Maria
faz do massacre dos meninos pelo rei Herodes.
5. O Evangelho dos egípcios (século II) é um ensino ascético contra o
casamento, contra a carne e contra o vinho.
6. O Evangelho arábico da infância (?) registra os milagres que Jesus
teria praticado na infância, no Egito, e a visita dos magos de Zoroastro.
7. O Evangelho de Nicodemos (séculos II ou V) contém os Atos de
Pilatos e a Descida de Jesus.
8. O Evangelho do carpinteiro José (século IV) é o escrito de uma seita
monofisista que glorificava a José.

114
INSTITUTO TEOLOGAR

9. A História do carpinteiro José (século V) é a versão monofisista da


vida de José.
10. O passamento de Maria (século IV) relata a assunção corporal de
Maria e mostra os estágios progressivos da adoração de Maria.
11. O Evangelho da natividade de Maria (século VI) promove a adora-
ção de Maria e forma a base da Lenda de ouro, livro popular do século XIII
sobre a vida dos santos.
12. O Evangelho de um Pseudo-Mateus (século V) contém uma narra-
tiva sobre a visita que Jesus fez ao Egito e sobre alguns dos milagres do
final de sua infância.
13-21. Evangelho dos doze, de Barnabé, de Bartolomeu, dos hebreus (v.
“Apócrifos”), de Marcião, de André, de Matias, de Pedro, de Filipe.

ATOS
1. Os Atos de Pedro (século II) contêm a lenda segundo a qual Pedro
teria sido crucificado de cabeça para baixo.
2. Os Atos de João (século II) mostram a influência dos ensinos gnósti-
cos e docéticos.
3. Os Atos de André (?) são uma história gnóstica da prisão e da morte
de André.
4. Os Atos de Tome (?) apresentam a missão e o martírio de Tome na índia.
5. Os Atos de Paulo apresentam um Paulo de pequena estatura, de
nariz grande, de pernas arqueadas e calvo.
6-8. Atos de Matias, de Filipe, de Tadeu.

EPÍSTOLAS
1. A Carta atribuída a nosso Senhor é um suposto registro da resposta
dada por Jesus ao pedido de cura de alguém, apresentado pelo rei da
Mesopotâmia. Diz o texto que o Senhor enviaria alguém depois de sua
ressurreição.
2. A Carta perdida aos coríntios (séculos II, III) é falsificação baseada em
1Coríntios 5.9, que se encontrou numa Bíblia armênia do século V.

115
CURSO DE BIBLIOLOGIA

3. As (Seis) Cartas de Paulo a Sêneca (século IV) é falsificação que reco-


menda o cristianismo para os discípulos de Sêneca.
4. A Carta de Paulo aos laodicenses é falsificação baseada em Colossenses
4.16 (Também relacionamos essa carta sob o título "Apócrifos", p. 120-1)

APOCALIPSES
1. Apocalipse de Pedro (também relacionado em "Apócrifos").
2. Apocalipse de Paulo.
3. Apocalipse de Tome.
4. Apocalipse de Estêvão.
5. Segundo apocalipse de Tiago.
6. Apocalipse de Messos.
7. Apocalipse de Dositeu.

Os três últimos são obras coptas do século III de cunho gnóstico, desco-
bertas em 1946, em Nag-Hammadi, no Egito.*

OUTRAS OBRAS
1. Livro secreto de João
2. Tradições de Matias
3. Diálogo do Salvador

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
BRUCE F.F. O cânon das Escrituras. São Paulo: Hagnos, 2011
GEISLER, Norman e NIX, William. Introdução Bíblica. São Paulo:
Vida, 1997

116
LIÇÃO 8
REVELAÇÃO, INSPIRAÇÃO E
ILUMINAÇÃO

E
mbora essas três palavras estejam relacionadas com as Escritu-
ras, elas se distinguem. Deus é um Deus que se comunica e o
faz de modo que o homem possa compreender. Dentre todas as
formas de comunicação, a escrita é a mais abrangente e duradoura. Por
causa disso Deus comunicou-se conosco através de um livro.
REVELAÇÃO é o ato de Deus mediante o qual comunica diretamente
a verdade antes desconhecida para a mente humana — verdade que não
poderia ser conhecida de qualquer outra maneira. Através da revelação
Deus se faz conhecer ao homem e faz com que o homem conheça seu
plano e sua vontade.
INSPIRAÇÃO está ligada ao registro inspirado da revelação divina. Nem
todo conteúdo da Bíblia foi diretamente revelado aos homens. A Bíblia
contém registros históricos e muitas observações pessoais. Mas, estamos
seguros de que esses registros são verdadeiros porque foram feitos sob a
supervisão do Espírito Santo de Deus.
ILUMINAÇÃO é quando o Espírito Santo nos auxilia em compreender
o conteúdo do texto bíblico de modo a tornar a verdade revelada em
experiência compreendida e vivida.

117
CURSO DE BIBLIOLOGIA

1 – REVELAÇÃO

Dizemos que Deus se revelou por meios naturais e sobrenaturais, na


criação, na natureza do homem, na história de Israel e da Igreja, nas pá-
ginas das Santas Escrituras, na sua encarnação em Cristo, e, através do
evangelho, no coração daquele que crê.
Deus se fez conhecer de muitas maneiras (Hebreus 1.1). Dessa forma
Ele revelou a Si mesmo, seu caráter e seus propósitos. Esse processo in-
clui seu agir na história, sua intervenção milagrosa, suas palavras através
de pessoas que Ele escolheu exatamente para isso. Esse processo levou
séculos. Aconteceu dentro do tempo e do espaço, na maioria das vezes de
modo tangível e concreto.
A Bíblia é o registro inspirado dessa revelação, ou seja, o registro do agir
de Deus na história humana. Dessa forma, embora revelação e inspiração
muitas vezes se confundam, elas são duas etapas distintas da comunicação
de Deus com o homem.

2 – INSPIRAÇÃO

Inspiração é a operação divina que influenciou os escritores bíblicos, ca-


pacitando-os a receber a mensagem divina, e que os moveu a transcrevê-la
com exatidão, impedindo-os de cometerem erros e omissões, de modo
que ela recebeu autoridade divina e infalível, garantindo a exata transfe-
rência da verdade revelada de Deus para a linguagem humana inteligível
(ICo.10:13; IITm.3:16; IIPe.1:20-21).
A forma como a mente humana e a mente divina operaram para que
a Bíblia seja tida como Palavra de Deus é um grande mistério. Fala-se de
“autoria dual” o fato de ambos, autor humano e autor divino interagirem
nesse milagre que é a inspiração divina da vida.

Autoria Dual: Com este termo indicamos dois fatos:

1) Autoria Divina: Do lado divino as Escrituras são a Palavra de Deus


no sentido de que se originaram nEle e são a expressão de Sua mente.
Em IITm.3:16 encontramos a referência a Deus: "Toda Escritura é divi-

118
INSTITUTO TEOLOGAR

namente inspirada" (theopneustos = soprada ou expirada por Deus) . A


referência aqui é ao escrito.

2) Autoria Humana: Do lado humano certos homens foram escolhidos


por Deus para a responsabilidade de receber a Palavra e passá-la para a for-
ma escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a referência aos homens: "Homens
santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" (pherô = movidos
ou conduzidos). A referência aqui é ao escritor.

TEORIAS SOBRE A INSPIRAÇÃO BÍBLICA


Quanto à inspiração da Bíblia, há várias teorias falsas que o estudante
não deve ignorar. Algumas são muito antigas. Outras têm surgido re-
centemente. E ainda outras hão de aparecer. Na sua maioria, a verdade
vem junto com o erro, e muitos têm-se deixado enganar. Apresentaremos
algumas das falsas teorias sobre a inspiração da Bíblia e, por fim, a teoria
aceita pelos cristãos genuínos. Vejamos:

TEORIA DA INSPIRAÇÃO NATURAL HUMANA


Essa teoria ensina que a Bíblia foi escrita por homens dotados de força
intelectual especial, como, por exemplo, Sócrates, Platão, Milton e inúmeros
outros. Os escritores da Bíblia afirmam que era o Senhor Deus quem falava
por intermédio deles (2Sm 23.2; At 1.16; Jr 1.9; Ed 1.1; Ez 3.16,17; At 28.25).

TEORIA DA INSPIRAÇÃO DIVINA COMUM


Essa teoria ensina que a inspiração dos escritores da Bíblia é a mes-
ma inspiração que hoje nos vem quando oramos, pregamos, cantamos
e ensinamos.

TEORIA DA INSPIRAÇÃO PARCIAL


Essa teoria ensina que algumas partes da Bíblia são inspiradas e outras,
não. Que a Bíblia não é a Palavra de Deus, apenas contém a Palavra de
Deus. O perigo deste ponto de vista é colocar nas mãos do homem finito,
frágil e falível o poder de determinar o quê e quando Deus está falando.
Desse modo, outorga-se ao homem poder sobre a Verdade infinita, em
vez de sujeitar-se a ela.

119
CURSO DE BIBLIOLOGIA

TEORIA DA INSPIRAÇÃO DE IDEIAS


Essa teoria ensina que Deus inspirou as ideias da Bíblia, mas não as
suas palavras, que ficaram a cargo dos escritores. Ora, essa teoria é falha,
porque a expressão do pensamento é por meio da palavra e não dá para
separar a palavra da ideia.

A TEORIA CORRETA DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA


É chamada de “teoria da inspiração plenária ou verbal” e ensina que
todas as palavras da Bíblia foram inspiradas nos seus autógrafos originais;
que os escritores não funcionaram como máquinas inconscientes, mas
houve uma cooperação vital entre eles e o Espírito de Deus que os ca-
pacitava. Assim, aqueles homens escreveram a Bíblia com as palavras de
seu vocabulário, porém sob uma influência (inspiração) tão poderosa do
Espírito Santo que o que eles escreveram foi, de fato, a Palavra de Deus.
A inspiração plenária cessou ao ser escrito o último livro do Novo Tes-
tamento. Depois disso, nenhum escritor ou qualquer servo de Deus pode
ser considerado inspirado no mesmo sentido.
Aceitar a Bíblia como sendo parcialmente inspirada não é adequado para
uma interpretação correta. Devemos aceitar a Bíblia como sendo a fiel reve-
lação de Deus e isso abrange sua totalidade, palavra por palavra. Devemos
reconhecer que a Bíblia não contém nenhum erro nos registros dos fatos da
história, da ciência e das questões relacionadas à fé ou à conduta cristã.
Podemos descrever o nível da inspiração das Escrituras usando quatro
palavras: verbal, plenária, infalível e inerrante.
• Verbal: todas as palavras são inspiradas.
• Plenária: todas as partes são igualmente inspiradas.
• Infalível: todas as questões de fé e da moral são certas.
• Inerrante: todas as questões da ciência e da história são certas.

3 – ILUMINAÇÃO

É a influência ou ministério do Espirito Santo que capacita todos os que


estão num relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras
(I Cor.2:12; Lc.24:32,45; IJo.2:27).

120
INSTITUTO TEOLOGAR

A iluminação não inclui a responsabilidade de acrescentar algo às Escri-


turas (revelação) e nem inclui uma transmissão infalível na linguagem (ins-
piração) daquele que o Espírito Santo ensina. A iluminação é diferenciada
da revelação e da inspiração no fato de ser prometida a todos os crentes,
pois não depende de escolha soberana, mas de ajustamento pessoal ao
Espírito Santo. Além disso, a iluminação admite graus podendo aumentar
ou diminuir (Ef.1:16-18; 4:23; Cl.1:9). A iluminação não se limita a questões
comuns, mas pode atingir as coisas profundas de Deus (ICo.2:10) porque
o Mestre Divino está no coração do crente e, portanto, ele não houve
uma voz falando de fora e em determinados momentos, mas a mente e
o coração são sobrenaturalmente despertados de dentro (ICo.2:16). Este
despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é dito
que o cristão que é espiritual discerne todas as coisas (ICo.2:15), ao passo
que aquele que é carnal não pode receber as verdades mais profundas de
Deus que são comparadas ao alimento sólido (ICo.2:15;3:1-3; Hb.5:12-14).
A iluminação, a inspiração e a revelação estão estritamente ligadas, po-
rém podem ser independentes, pois há inspiração sem revelação (Lc.1:1-3;
IJo.1:1-4); inspiração com revelação (Ap.1:1-11); inspiração sem ilumina-
ção (IPe.1:10-12); iluminação sem inspiração (Ef.1:18) e sem revelação
(ICo.2:12; Jd.3); revelação sem iluminação (IPe.1:10-12) e sem inspiração
(Ap.10:3,4; Ex.20:1-22). É digno de nota que encontramos estes três minis-
térios do Espírito Santo mencionados em uma só passagem (ICo.2:9-13);
a revelação no versículo 10; a iluminação no versículo 12 e a inspiração no
versículo 13.

121
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Três aspectos da comunicação divina


2. Ato de Deus dando a conhecer a si mesmo e seus propósitos
3. Supervisão divina sobre o conteúdo das Escrituras
4. Ajuda do Espírito Santo para compreensão do texto bíblico
5. Livro que registra a revelação divina na história

VERDADEIRO OU FALSO

[ ] Revelação, inspiração e iluminação das Escrituras significam a


mesma coisa
[ ] Pode haver revelação sem inspiração
[ ] Na inspiração das Escrituras a personalidade dos autores humanos
foi anulada
[ ] Theopneustos significa soprada ou expirada por Deus
[ ] Deus inspirou as ideias, não as palavras das Escrituras

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
BRUCE F.F. O cânon das Escrituras. São Paulo: Hagnos, 2011
GEISLER, Norman e NIX, William. Introdução Bíblica. São Paulo:
Vida, 1997

122
LIÇÃO 9
INFALIBILIDADE E INERRÂNCIA
BÍBLICA

P
or diversas vezes vemos Deus ordenando aos seus profetas que
escrevam a Palavra (Ap 1.11, 21.5). Neste registro das Palavras
Divinas dois elementos estão ausentes: a sabedoria humana e a
vontade humana.

a) A vontade humana

“Pois a profecia nunca foi produzida pela vontade dos homens...”(2 Ped 1.21)

Isto significa que quando os profetas profetizavam ou escreviam a Pala-


vra, não estavam expressando sua vontade. Pelo menos três fatos dentro
das Escrituras comprovam este fato:

• A palavra muitas e muitas vezes condenava o procedimento do


povo de Deus e mesmo assim eles amavam esta Palavra. Mesmo
elas anunciando juízos divinos sobre o povo, eles a reverenciavam.
Jamais alguém escreveria um livro contra si mesmo. Se fosse escrever
sobre si escreveria coisas boas. Mas na Bíblia há muitas maldições
contra o povo de Israel e mesmo assim eles a amam. Tanto que o
rei Salomão foi usado para escrever;

123
CURSO DE BIBLIOLOGIA

• Diversos livros das Sagradas Escrituras foram escritos por Salomão


(Provérbios, Cantares Eclesiastes), mas no final de sua vida desviou-
-se (1 Reis 11.1-9). O que escreveu não era de sua própria vontade,
mas da vontade do Senhor e embora ele tenha se afastado daquelas
palavras a vontade do Senhor permanece;

• A Bíblia fala dos pecados dos seus grandes heróis, não esconde
de maneira alguma. Mostra o pecado de Abrão, Jacó, Saul, Davi,
Salomão, Moisés, Pedro, Paulo, etc.

• Os próprios escritores, muitas vezes não sabiam do que estavam


falando (1 Ped 1.10,11);

b) A sabedoria humana

“Disto também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as
que o Espírito ensina...”
(1 Cor 2.13)

A Bíblia não é um livro escrito pela sabedoria humana, pois embora


seus escritores sejam sábios, aquilo que nela está exposto, tem sua origem
na sabedoria de Deus. Na verdade, está escrito que a Palavra da cruz, é
loucura para aqueles que perecem (1 Cor 1.18-27)
Tais fatos garantem que a Bíblia seja um livro isento do erro humano,
mesmo que em certa instância seus autores sejam humanos. A inspiração
divina garante que as palavras ali expressadas sejam livres de qualquer tipo
de erro.
Este conceito tão essencial à fé cristã sempre esteve presente na história da
Igreja, mesmo antes da Reforma Protestante. A Bíblia, como Palavra de Deus,
era eterna e todo o seu conteúdo verdadeiro. Ao dizer que “A palavra de Deus
é perfeita” (Sl 19.7) o salmista estava expressando um conceito teológico que
sempre foi aceito por judeus e cristãos – A Bíblia não contém erros.
Foi o advento do Iluminismo, com seu racionalismo exacerbado,
que questionou essa importante base da fé cristã. Infelizmente, uma

124
INSTITUTO TEOLOGAR

quantidade de eruditos, teólogos, professores e líderes aceitaram os


pressupostos enganosos da teologia liberal, largando o sólido barco da
inerrância bíblica.

QUE SIGNIFICA INERRÂNCIA BÍBLICA?

Conforme Wayne Grudem, a inerrância da Escritura significa que a Es-


critura, nos seus manuscritos originais, não afirma nada que seja contrário
ao fato. Dessa definição nós entendemos:
Que a inerrância é atribuída aos manuscritos originais. Embora os erros
dos copistas não sejam significativos, temos consciência de que uma vez
que não dispomos dos textos escritos pelas mãos dos próprios autores,
podem ter ocorrido modificações nas cópias apesar de todo cuidado. Al-
guém pode alegar que sendo assim, não podemos declarar a infalibilidade
e inerrância, uma vez que não possuímos os originais. De modo algum.
Pois a doutrina da inerrância nasce da necessidade da natureza do texto
inspirado e não é resultado da verificação.
Que todos os fatos declarados nas Escrituras são verdadeiros. Isso
abrange:

a) Declarações de natureza superior: “No princípio criou Deus os céus e a


terra” (Gn 1.1).

b) Declarações de natureza moral: “O Senhor odeia o divórcio” (Ml 2.16).

c) Declarações de natureza histórica e geográfica: “O Deus da glória apa-


receu a nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã”
(At 7.3). Os acontecimentos e lugares envolvidos são reais;

d) Declarações de natureza biológica: “Árvores que dão fruto segundo a


sua espécie” (Gn 1.11);
e) Declarações de natureza espiritual: “Um espírito não tem carne e nem
osso” (Lc 24.39);

125
CURSO DE BIBLIOLOGIA

f ) Declarações de natureza teológica: “Aquele que invocar o nome do Se-


nhor será salvo” (Rm 10.13).

Estes são apenas exemplos da amplitude das declarações bíblicas e da


veracidade dessas afirmações. A verdade das Escrituras está presente em
qualquer declaração que ela faça, independente da natureza da declaração.
A palavra de Deus é o padrão supremo da verdade. Em João 17.17
Jesus identifica a verdade com a própria Palavra de Deus. Ela é a fon-
te suprema da revelação não apenas das coisas divinas, mas de toda
realidade. Não a ciência. Por exemplo, mesmo que a ciência negue a
existência de uma realidade espiritual além das percepções do sentido,
isso será falso, pois as Escrituras falam de um mundo invisível que foi
criado (Cl 1.16).
Não queremos dizer com isso que a ciência e a Bíblia são antagônicas,
apenas que uma vez que a ciência seja coerente e as Escrituras devidamen-
te interpretadas, não haverá conflito entre ambas. A ciência às vezes tende
a não aceitar seus limites, todavia, eles existem.
Nenhum fato novo pode anular as Escrituras. O fato de ela ter sido escrita
há tanto tempo atrás não significa que suas afirmações devam ser descartadas.

 ONTRADIÇÕES APARENTES E PASSAGENS


C
DIFÍCEIS

A própria Bíblia reconhece a existência de passagens difíceis de entender


(2 Pd 3.15). Como qualquer comunicação, podem surgir ruídos por uma
série de motivos. Mesmo assim, as Escrituras são eficazes em transmitir
o que se propõe a transmitir. As dificuldades apenas expressam o que
se pode esperar de um livro escrito há tantos anos e em um contexto
diferente do nosso.
De qualquer forma, diante das dificuldades que podem surgir na defesa
da inerrância bíblica, abaixo alguns pensamentos de Norman Geisler e
Thomas Howe que nos ajudam a relacionar tal inerrância com uma com-
preensão coerente das Escrituras.

126
INSTITUTO TEOLOGAR

Hoje temos todo um exército de prontidão procurando os menores


vestígios de contradição e que assumem posturas incoerentes tentando
provar que a Bíblia errou. Entre essas posturas podemos citar:

1) Assumir que o que não foi explicado seja inexplicável. Se fôssemos


adotar esse padrão para a ciência, então ela não seria nada confiável. O
tempo com certeza esclarece muita coisa.

2) Presumir que a Bíblia é culpada, até prova em contrário. Essa atitude


não é justa. A arqueologia e mesmo a história, que em algum momento
condenaram as Escrituras, muitas vezes reconheceu seu erro quando as
pesquisas levaram à novas conclusões.

3) Confundir as nossas falíveis interpretações com a infalível revelação


de Deus. Muitos dos aparentes erros, não são erros das afirmações e sim
das interpretações sobre esses erros.

4) Falhar na compreensão do contexto da passagem. Muitos críticos


fazem interpretações verdadeiramente esdrúxulas dos textos bíblicos e
sem levar em conta sua péssima compreensão do mesmo.

5) Deixar de interpretar passagens difíceis à luz das que são claras. Às


vezes a única coisa necessária e procurar passagens paralelas ou similares
que serão suficientes para esclarecer todo mal entendido.

6) Basear um ensino numa passagem obscura. Em sua grande maioria


as passagens bíblicas são claras, narram os acontecimentos e as percep-
ções de modo direto e simples. Quando surgem textos mais difíceis eles
precisam ser analisados e manuseados com cuidado. Evidenciá-los como
se constituísse a natureza geral das Escrituras é fraude

7) Esquecer-se de que a Bíblia é um livro humano, com características


humanas. A inspiração é divina, mas os instrumentos eram homens que
narravam de sua perspectiva. Dizer que o sol e a lua pararam é apenas

127
CURSO DE BIBLIOLOGIA

seres humanos se expressando de modo natural. É o mesmo que um


cientista usar a expressão “pôr-do-sol”.

8) Assumir que um relato parcial seja um relato falso. Se uma passagem diz
que Jesus curou um cego e na passagem paralela dizer que eram dois cegos,
não se trata de um relato falso do primeiro. É apenas um relato paralelo.

9) Exigir que as citações do Antigo Testamento feitas no Novo Tes-


tamento sejam sempre exatas. As razões para que isso aconteça podem
variar. Todavia, exigir citações exatas ou alegar conflito é injusto

10) Assumir que diferentes narrações sejam falsas. As diferenças entre


Gênesis 1 e 2 são complementares e não contraditórias.

11) Presumir que a Bíblia aprova tudo o que ela registra. Textos histó-
ricos são narrativos, não normativos. Defender a monogamia e narrar a
poligamia e mesmo o concubinato não fere a inerrância bíblica, porque
não pressupõe aprovação.

12) Esquecer-se de que a Bíblia faz uso de uma linguagem comum,


não-técnica. Classificar o morcego como ave em Levítico 11 não atenta
contra a inerrância. Apenas usa o linguajar comum da época. Ou alguém
esperava que fosse usada uma nomenclatura da era moderna?

13) Considerar que números arredondados sejam errados. Nada mais


natural do que arredondar números. Isso é completamente normal em
qualquer narrativa sem que sua veracidade seja ferida

14) Não observar que a Bíblia faz uso de diferentes recursos literários.
As licenças poéticas precisam ser levadas em conta. Do contrário, nenhu-
ma narrativa pode escapar desse escrutínio.

15) Esquecer-se de que somente o texto original é isento de erros, e não


qualquer cópia das Escrituras. Mesmo com toda busca para obter o texto
mais confiável, não significa que possamos ignorar esse fator.

128
INSTITUTO TEOLOGAR

16) Fazer de declarações gerais, princípios universais e inflexíveis. Dizer


que o Senhor protege os seus não se contradiz com as possibilidades de
perseguição e morte para aqueles que o servem. Apenas faz uma afirma-
ção genérica sobre a realidade da proteção divina.

17) Esquecer que em alguns casos uma revelação posterior se sobrepõe


a uma anterior. A revelação progressiva justamente ensina que a revelação
completa se encontra na Bíblia completa.

Esses posicionamentos servem para demonstrar que muitos dos ata-


ques às Escrituras, seja por parte de incrédulos, seja pela teologia liberal,
são contornáveis em sua grande maioria. A inerrância bíblica permanece
como pedra fundamental da doutrina das Escrituras e se coloca como um
dos alicerces do cristianismo bíblico.

CONCLUSÃO

Claro que o mundo mudou muito desde que o cânon das Escrituras
foi concluído e dificuldades em harmonizar ambos os tempos definitiva-
mente vão existir. Todavia, isso também não significa que só porque um
conceito é novo ele seja a verdade definitiva e verdadeira, seja qual for o
ambiente que lhe dá o suporte. Plutão foi planeta durante muito tempo
até que deixou de sê-lo. Não sabemos se tal status voltará no futuro.
Aqueles que se apressam em negar os fundamentos das Escrituras
deveriam pensar duas vezes, pois a rejeição de algumas de declarações fo-
ram depois revistas. Não devemos nos deixar abalar por qualquer ataque
gratuito do qual elas tenham sido vítimas.

129
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Elementos ausentes no registro da revelação divina


2. A utores do Novo Testamento que falaram da inspiração divina das
Escrituras
3. Autor de livros bíblicos que em sua velhice desobedeceu seus pró-
prios princípios
4. Alguns dos personagens bíblicos cujos pecados são narrados
5. Movimento intelectual que exaltou a razão e questionou a infalibili-
dade da revelação bíblicas

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] Nós não possuímos os originais dos livros bíblicos
[ ] A vontade e a sabedoria humana determinam o texto bíblico
[ ] Números redondos são erros
[ ] Se as narrativas são diferentes então são falsas, não complementares
[ ] A Bíblia usa linguagem comum e não científica

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
GEISLER, Norman e HOWE, Thomas. Manual popular de dúvidas
enigmas e “contradições” da Bíblia. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.

ARCHER, Gleason. Enciclopédia das dificuldades bíblicas. São Paulo:


Vida, 1997.

ORR-EWING, Amy. Por que confiar na Bíblia? Viçosa: Ultimato, 2011.

FLUHRER, Gabriel N.E. (editor). Firme fundamento. Rio de Janeiro:


Anno Domini, 2013.

130
LIÇÃO 10
DEFESA E INSPIRAÇÃO DAS
ESCRITURAS

C
omo sei que a Bíblia é a Palavra de Deus? Há diversos pontos
através dos quais podemos perceber a singularidade, a confia-
bilidade e os aspectos sobrenaturais da Bíblia Sagrada. Cada
verdadeiro cristão tem experimentado nele o poder da Palavra. Mas essa
experiência só é possível devido ao fato de que o que temos na Bíblia é a
revelação e o registro inspirado da verdade divina.

A) ELA SE DIZ INSPIRADA

Porque ela mesma se diz inspirada por Deus (2 Timóteo 3.16); não escrita
pela vontade humana (2 Pd 1.20,21), nem pela sabedoria humana (1 Cor 2.12),
mas pelo Espírito Santo (Zacarias 7.12). Por 2.500 vezes aparece a expressão
"Assim diz o Senhor", ou outras expressões semelhantes. Quando uma pessoa
faz uma declaração a cerca de si mesmo não podemos duvidar. Precisamos
investigar porque ela diz isso e se o que ela está dizendo está de acordo com a
verdade. Se a pessoa é confiável, isto já desperta em nós convicção.
Por diversas vezes ela se expressa reivindicando autoridade. Ne-
nhum outro livro ousa fazê-lo. Encontramos essa reivindicação nas

131
CURSO DE BIBLIOLOGIA

seguintes expressões: “Disse o Senhor a Moisés” (Ex.14:1,15,26;16:4;25:1;


Lv.1:1;4:1;11:1; Nm.4:1;13:1; Dt.32:48) “O Senhor é quem fala” (Is.1:2);
“Disse o Senhor a Isaías” (Is.7:3); “Assim diz o Senhor” (Is.43:1). Outras
expressões semelhantes são encontradas: "Palavra que veio a Jeremias da
parte do Senhor" ( Jr.11:1); “Veio expressamente a Palavra do Senhor a
Ezequiel” (Ez.1:3); “Palavra do Senhor que foi dirigida a Oséias” (Os.1:1);
“Palavra do Senhor que foi dirigida a Joel” ( Jl.1:1), etc. Expressões como
estas são encontradas mais de 3.800 vezes no Velho Testamento. Portanto
o A.T. afirma ser a revelação de Deus, e essa mesma reivindicação faz o
Novo Testamento (ICo.14:37; ITs.2:13; IJo.5:10; IIPe.3:2).

B) SEU PODER TRANSFORMADOR

Porque ela apresenta um poder transformador, que tem falado ao mais pro-
fundo do coração humano por toda a Terra e em todo o decorrer da História.
Pessoas dos mais variados graus intelectuais, culturais e econômicos tem
lido, amado e obedecido suas palavras como a nenhum outro livro. Ela não
é o livro mais vendido e amado do mundo à toa. Muitas pessoas na história
aceitaram até mesmo morrer por acreditar no seu conteúdo.

C) SUA COMPOSIÇÃO FOI SOBRENATURAL

Apesar de ter sido escrita em um espaço de tempo tão grande (1600


anos), de ter sido escrita por pessoas de formações diversas (reis, profetas,
legisladores, generais, governadores, sacerdotes, pescadores, cobradores
de impostos, médicos, etc), e em circunstâncias diferentes (no deserto, em
palácios, no meio de guerras, em prisões,etc), ela apresenta uma unidade
impressionante, que podemos lê-la como um único livro escrito por um
único autor.

D) SUAS PROFECIAS SE CUMPRIRAM

Ela contém centenas de profecias que tem se cumprido ao longo da


História. Só a respeito da vida de Jesus foram proferidas e cumpridas

132
INSTITUTO TEOLOGAR

cerca de 100 profecias, fora as profecias a respeito do povo de Israel e


outras nações.

E) A BÍBLIA É UM LIVRO ÚNICO, SEM IGUAL

Podemos mostrar para as pessoas que eles não devem ignorar o conteú-
do da Bíblia, pois ela é um livro único, sem igual na face da terra. Algumas
características que temos nela não teremos em nenhum outro livro.

ÚNICA EM CIRCULAÇÃO
A Bíblia é o maior best-seller de todos os tempos. Sem dúvida nenhuma
é o livro mais lido, pelo maior número de pessoas, durante mais tempo.
O famoso livro “A História da Bíblia”, escrito em Cambridge afirma que
"Nenhum outro livro tem experimentado uma circulação constante que
se aproxime da circulação da Bíblia".
Em certo período a Sociedade Bíblica Britânica tinha que imprimir uma
Bíblia a cada três segundos do dia ou da noite para atender a demanda.
Eram 32.876 cópias diariamente durante o ano todo. E isto somente uma
das muitas sociedades bíblicas existentes.

ÚNICA EM TRADUÇÃO
A Bíblia é também o livro mais traduzido, retraduzido e parafraseado do
mundo. Até 1966 a Bíblia havia sido traduzida para mais de 1.260 línguas. Hoje
esse número mais do que dobrou. Nenhuma outra literatura, dos tempos an-
tigos ou modernos, chegou a uma quantidade sequer aproximada como esta.

ÚNICA EM COERÊNCIA
É um livro harmonioso: Pois embora tenha sido escrito por uns qua-
renta autores diferentes, por um período de 1.600 anos, ela revela ser um
livro único que expressa um só sistema doutrinário e um só padrão moral,
coerentes e sem contradições.
Seria impossível nos dias de hoje reunir homens em condições, distân-
cias e épocas tão diversas, e com seus escritos formar um único volume
cujas ideias se harmonizassem umas com as outras.

133
CURSO DE BIBLIOLOGIA

ÚNICA EM INFLUÊNCIA
Nenhum livro influenciou as pessoas mais do que a Bíblia. Nós escu-
tamos falar de suas histórias em livros, revistas e filmes. Muitas obras
de arte foram feitas baseando-se nela. Direta e indiretamente as pessoas
aprenderam dela.

ÚNICA EM SOBREVIVÊNCIA
Nunca nenhum livro sofreu tantos ataques como a Bíblia Sagrada. Os
ataques têm surgido quer de dentro quer de fora da igreja.
Durante os três primeiros séculos, alguns imperadores romanos pensa-
ram cortar a raiz do cristianismo, destruindo a Bíblia. Por exemplo, no dia
23 de Fevereiro de 303 D.C., o imperador Diocleciano decretou que, cada
cópia da Bíblia devia ser entregue à polícia romana para ser destruída. Mi-
lhares de manuscritos bíblicos valiosíssimos foram destruídos em praças
públicas. Muitos cristãos perderam as suas vidas ao recusarem-se entregar
as suas Bíblias. O objetivo era eliminar a presença do cristianismo através
de uma autoridade normativa supressiva.
Com o surgimento do Islamismo no século sétimo, a Bíblia tem sido
proibida em países muçulmanos. Até este preciso momento, a distribuição
de Bíblias em países muçulmanos é expressamente proibida. Inúmeros cris-
tãos perderam as suas vidas, ao tentarem partilhar as verdades da palavra de
Deus. O sucesso do impiedoso governo muçulmano, em cortar a Bíblia e o
cristianismo, é evidente em países por ele conquistados. Por exemplo, bem
antes da conquista deste no século sétimo, os países norte africanos da Líbia,
Tunísia, Marrocos, Argélia, eram florescentes nações cristãs, que produziram
grandes lideres da igreja como Agostinho e Tertuliano. Hoje em dia, a Bíblia
e o cristianismo são praticamente inexistentes nestes países.
Historicamente, a igreja católica, sempre se opôs à tradução da Bíblia, na
língua comum do povo e sua respectiva circulação. Por exemplo, o sínodo
de Toulouse, no ano de 1229 D.C., proibia os leigos de possuírem cópias da
Bíblia. O direito de escrever e ensinar a Bíblia eram reservados aos monásticos.
Surpreendentemente, até os governantes protestantes e seus líderes de
igreja, tentaram impedir a transação e circulação da Bíblia. Por exemplo,

134
INSTITUTO TEOLOGAR

Cuthbert Tunstall, bispo de Londres, fortemente se opôs aos esforços de


William Tyndale (1494-1536), de traduzir e publicar a Bíblia em inglês.
Nos últimos 100 anos, governos comunistas têm tentado desacreditar a
Bíblia e impedir a sua propagação nos seus países. Eles têm usado não só
os meios educacionais, mas também os legais. Nos meios educacionais, as
pessoas têm sido ensinadas que a Bíblia é um livro de fadas supersticioso,
que deve ser rejeitado por mentes comunistas iluminadas. Legalmente,
muitas pessoas têm sido presas, por contrabandear Bíblias para países
comunistas. Poderes autocráticos e poderes religiosos têm-se sentido
ameaçados pela Bíblia, porque a sua mensagem ensina a dar prioridade a
Deus nos seus pensamentos e vidas.
Todavia ela permanece o livro mais lido e amado durante todo esse tempo.

ÚNICA EM EFEITOS
Quantos milhões de pessoas que viviam à margem da sociedade, quantos
criminosos incorrigíveis, quantas pessoas escravizadas nos mais terríveis vícios
não foram transformadas após seu contato com a Bíblia Sagrada.
Basta ler um livro como Estação Carandiru, do Dr. Dráuzio Varela para
perceber o impacto que a Bíblia teve e tem no seio da sociedade. Pois os
casos ali narrados são apenas uma ínfima parte dos seus efeitos.
Na verdade, não só criminosos, mas pessoas de todas as classes sociais, de
todos os níveis intelectuais e de toda raça ou profissão já foram impactados
com a Bíblia. Os bilhões no mundo que acreditam na Bíblia como Palavra de
Deus acreditam porque esta operou mudanças significativas em suas vidas

F) A BÍBLIA É UM LIVRO CONFIÁVEL

HONESTIDADE
A Bíblia não esconde de forma alguma o pecado de seus maiores heróis.
Ela mostra a mentira de seu grande patriarca Abraão; a impaciência de
seu grande legislador Moisés; o adultério e homicídio de seu grande rei
Davi; a apostasia do sábio Salomão; a depressão e desejo suicida do profe-

135
CURSO DE BIBLIOLOGIA

ta Elias; a negação do apóstolo Pedro. Enfim, ela está disposta a revelar a


fraqueza desses homens de forma sincera e honesta.
Embora seja o livro sagrado dos judeus, jamais esconde suas derrotas e
fracassos. Nem mesmo sua desobediência ao seu Deus único é ocultada. Eles
mesmos são por ela severamente repreendidos. Mesmo a Igreja se vê discipli-
nada com palavras duras. Isto é uma garantia que seus registros são fiéis.

VALOR HISTÓRICO
A Bíblia possui integridade topográfica e geográfica: As descobertas
arqueológicas provam que os povos, línguas, os lugares e os eventos men-
cionados nas Escrituras são encontrados justamente onde as Escrituras
os localizam, no local exato e sob as circunstâncias geográficas exatas
descritas na Bíblia.
A Bíblia possui integridade etnológica ou racial: Todas as afirmações
bíblicas sobre raças têm sido demonstradas como corretas com os fatos
etnológicos revelados pela arqueologia.
A Bíblia possui integridade cronológica: A identificação bíblica de povos,
lugares e acontecimentos com o período de sua ocorrência é corroborada
pela cronologia síria e pelos fatos revelados pela arqueologia.
Logo ela possui plena integridade histórica, pois o registro dos nomes
e títulos dos reis está em harmonia perfeita com os registros seculares,
conforme demonstrados por descobertas arqueológicas.

VALOR ARQUEOLÓGICO

Quando os arqueólogos foram escavar nas terras bíblicas eles descobri-


ram que tudo o que estava escrito era verdade e podia ser provado através
dos objetos encontrados nessas escavações. Muitas cidades que foram des-
cobertas por eles, como Nínive e Babilônia só puderam ser encontradas
por causa daquilo que estava narrado nas Escrituras Sagradas.
Isso demonstra que nela nós temos fatos reais e não histórias fictícias.
Suas narrativas estão de acordo com o que aconteceu naquelas terras e de
modo algum foi invenção de algum escritor.

136
INSTITUTO TEOLOGAR

QUANTIDADE DE MANUSCRITOS
O que são manuscritos? São textos escritos à mão. Os livros antigos che-
garam até nós escritos dessa forma, tanto a Bíblia como os livros clássicos.
Quantos manuscritos existem dos livros clássicos? Muito poucos. Mesmo
assim as pessoas os leem e jamais discutem a sua credibilidade.
Todavia, se formos fazer uma comparação com os manuscritos do
Novo Testamento e os manuscritos da Ilíada, o grande poema épico da
Grécia, ficaremos impressionados com a diferença.
Existem cerca de 643 cópias antigas da Ilíada, enquanto existem apro-
ximadamente 24.000 cópias antigas do Novo Testamento. Uma diferença
percentual de mais de 3700%. Qual dos textos oferece maior confiabilida-
de? Será que essa diferença gritante não significa nada?
Sem contar o fato que a ilíada foi escrita em 900 a.C. e o manuscrito
mais antigo é de 400 a.C., uma diferença de 500 anos nos quais pode ter
havido muitas alterações. No caso dos livros que compõe o Novo Testa-
mento, suas composições ocorreram entre o ano 40 d.C. e 100 d.C. O
manuscrito mais antigo é do ano de 125 d.C. uma diferença de apenas
algumas décadas. Não é preciso ser um especialista para perceber que o
texto que temos é muito mais confiável do que qualquer outro.

CONFIABILIDADE DE MANUSCRITOS
Exemplares do A.T. e do N.T. impressos em 1.488 e 1.516 d.C.,
concordam com os exemplares atuais. Portanto, a Bíblia, como a pos-
suímos hoje, já existia há 400 anos atrás. Quando essas Bíblias foram
impressas, certo erudito tinha em seu poder mais de 2.000 manuscritos.
Esse número é sem dúvida suficiente para estabelecer a genuinidade e
credibilidade do texto sagrado, e tem servido para restaurar ao texto
sua pureza original, e fornecem proteção contra corrupções futuras
(Ap.22:18-19; Dt.4:2;12:32).
Enquanto a integridade e confiabilidade da Bíblia se baseiam em mais
de 2.000 manuscritos, os escritos seculares, que geralmente são aceitos
sem contestação, baseiam-se em apenas uma ou duas dezenas de exem-
plares. As quatro Bíblias mais antigas do mundo, datadas entre 300 e 400
d.C., correspondem exatamente a Bíblia como a possuímos atualmente.

137
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Expressão da Bíblia que afirma a inspiração divina das Escrituras


2. Mais ou menos quantas vezes temos a expressão "Assim diz o Se-
nhor" nas Escrituras
3. Período de tempo que levou para a Bíblia ficar completa
4. Estimativa sobre quantidade de profecias cumpridas na vida de Jesus
5. Número de traduções da Bíblia até 1966

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] A Bíblia não demonstra poder transformador
[ ] As profecias cumpridas são prova da inspiração divina das Escrituras
[ ] Nenhum livro foi atacado como as Escrituras
[ ] Os meios educacionais tem favorecido a confiabilidade na Bíblia
[ ] A arqueologia tem mostrado a Bíblia é um livro confiável

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
ANKERBERG, WELDON E BURROUGHS, John, John e Dillon. Os
fatos sobre A Bíblia. Porto Alegre, Actual Edições, 2011

AZEVEDO, Juarez de. A Bíblia falou, TÁ FALADO! Rio de Janeiro,


Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1984

CRAIG, William. Em Guarda. São Paulo: Vida Nova, 2011

FLUHRER, Gabriel N. E. (Editor). Firme Fundamento. Rio de Janeiro:


Anno Domini, 2013

GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não Tenho Fé Suficiente para Ser


Ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006

138
INSTITUTO TEOLOGAR

HUTCHINSON, Robert J. Uma História Politicamente Incorreta da


Bíblia. Rio de Janeiro: Agir, 2012

MANGAWADI, Vishal. O Livro Que Fez o Seu Mundo. São Paulo:


Editora Vida, 2012

McDOWELL, Josh. Evidência que exige um Veredito. São Paulo: Edi-


tora Candeia, 1996

139
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Lição 10 – Apêndice A
Profecias e probabilidade

Os cálculos de probabilidade apresentados a seguir foram extraídos


do livro de Peter Stoner, Science Speaks (A Ciência Fala) para mostrar
que os estudos científicos de probabilidade eliminam a possibilidade de
coincidência. Stoner afirma que, ao empregarmos as modernas técnicas
de cálculos de probabilidade em relação a oito profecias "... calculamos
que a chance de algum homem ter vivido até o presente e ter cumprido
todas as oito profecias é de 1 em 1017." Isso é em cem quatrilhões.
A fim de ajudar a compreender o que significa uma chance em 1017, Sto-
ner ilustra da seguinte maneira: Apanhemos 1017 moedas de prata de um
dólar e as coloquemos sobre o estado do Texas. Elas serão uma camada
de 60 centímetros de espessura cobrindo todo o estado. Agora faça uma
marca numa dessas moedas e misture bem com todas as demais moedas
que estão sobre o estado. Ponha uma venda nos olhos de um homem e
diga-lhe que ele pode ir até onde quiser, mas que deve apanhar uma certa
moeda, aquela que está marcada. Que chance teria de apanhar a moeda
certa? Apenas a mesma chance que os profetas teriam tido de escrever
essas oito profecias e vê-las cumpridas em algum homem qualquer, desde
a época deles até o presente, contanto que tivessem escrito com base em
sua própria sabedoria“.

140
LIÇÃO 11
SÍMBOLOS DA PALAVRA DE DEUS

A
s Escrituras são simbolizadas por diversos elementos diferen-
tes. Um símbolo nas Escrituras, não é uma afirmação sem
sentido. É uma forma de mostrar de uma maneira simples,
uma realidade profunda, que não seria entendida de outro modo. Eles
demonstram o que a Palavra de Deus significa para sua vida.
O uso de metáforas na Bíblia não tem intenção de esconder sua revelação,
mas de torná-la mais compreensível ao nosso entendimento. É importante
que no processo de interpretação do símbolo utilizado para descrever o papel
da Palavra de Deus, compreendamos a intenção por trás do uso de determi-
nado símbolo. Do contrário, deixaremos de extrair a revelação pretendida.
Mesmo que abordemos somente os símbolos principais e deixemos
os secundários de lado, a exposição desses símbolos é suficiente para
demonstrar a riqueza por trás do uso de metáforas e símbolos.

ALIMENTO
A Palavra de Deus é realmente, alimento para o espírito. O que quero
dizer é que não é como se fosse, mas é de fato um elemento que faz com
que o espírito do homem regenerado se fortifique e cresça, tal qual o
alimento comum faz com o corpo. Da mesma forma que você precisa

141
CURSO DE BIBLIOLOGIA

comer para crescer fisicamente e ter força, precisa da Palavra de Deus para
crescer e adquirir forças espiritualmente (Mateus 4.4; 1 Pedro 2.2; 1 Cor
1.2,3; He 5.12; Jer 15.10)
Logo, podemos pensar em três efeitos reais e concretos da absorção da
Palavra pelo indivíduo crente:

• Sustento
• Força
• Sabor

ESPADA
Há um inimigo e este não pode ser vencido com armas humanas. E isto não
é apenas uma figuração bonita. De fato a Palavra de Deus, quando aplicada
com fé e utilizada com fé, tem poder para atuar sobre o mundo espiritual e
sobre o coração humano de forma eficaz (Efésios 6.17; Heb 4.12)
É importante perceber que nas duas passagens onde a metáfora é apre-
sentada, duas ações diferentes estão em vigor. Na primeira a espada se
volta contra as forças opositoras, contra as ações deste mundo tenebroso.
Na segunda passagem, todavia, a Palavra se volta para o próprio crente.
Sua função é agir na vida interior do cristão e separar aquilo que é huma-
no daquilo que é divino, produzindo discernimento.

Nesse sentido duplo o uso da Bíblia produz:

NO CRISTÃO

• Exposição
• Dor
• Autoconhecimento
• Discernimento

PARA A LUTA DO CRISTÃO


• Arma de ataque
• Proteção contra as forças espirituais
• Instrumento de transformação sobre as vidas ministradas

142
INSTITUTO TEOLOGAR

LUZ
A luz possibilita ver e distinguir a realidade. Sem luz o homem tropeça
e se engana continuamente. Com a Palavra o homem é capaz de ver a
realidade das coisas e se orientar neste mundo (Salmo 119.105, 130; 2
Pedro 1.19).
Dentre os efeitos da luz que se harmonizam com os efeitos da Palavra
podemos citar:

• Compreensão
• Direção
• Sabedoria
• Perspectiva correta

SEMENTE

Outra metáfora utilizada para descrever a Palavra de Deus e seus efeitos


é a semente. Em parábolas de Jesus e em textos apostólicos nós presencia-
mos a utilização desse símbolo e também ele tem muito a nos dizer sobre
a natureza das Escrituras. (Lucas 8.11; 1 Pedro 1.23)
Podemos tentar resumir as verdades espirituais contidas na metáfora da
semente como segue:

• Pequena, mas cheia de potencial


• Destinada a frutificação
• Produz vida e transformação

Essa pequena amostra da riqueza metafórica aplicada à Palavra é su-


ficiente para mostrar seu rico papel no desenvolvimento do Reino e na
vida dos cristãos individuais. O que de fato precisamos é meditar sobre
cada um desses símbolos, ministrar e escrever sobre esses assuntos com
profundidade para que toda a riqueza da linguagem seja conhecida para
a edificação.

143
CURSO DE BIBLIOLOGIA

USANDO A BÍBLIA

A Bíblia, como revelação de Deus, não tem a intenção de nos dar todas as
informações que pudéssemos desejar nem de resolver todas as questões
com as quais a alma humana vive perplexa, mas a de transmitir o suficien-
te para ser um guia seguro para o porto do descanso eterno.
Albert Barnes

Precisamos estudar e conhecer a Bíblia. Para muitas coisas em nosso


viver nós precisaremos do conteúdo dela, nos ensinando, orientando e
guiando. Tanto para aplicar em nossa vida, como para instruir outras
pessoas, temos que aprender cada dia um pouco mais para nosso bem e
de outros.
É preciso entender quais as funções das Escrituras, para quê, de fato,
elas foram dadas ao homem.

 . REVELAR DEUS E SEU PLANO PARA A HUMANIDADE


1
(JOÃO 5.39; EFÉSIOS 3.4,5)
Só nas Escrituras conhecemos o Deus Verdadeiro, o Messias Verdadei-
ro, a nossa verdadeira natureza, a natureza da salvação, a verdade sobre o
mundo físico e o mundo espiritual ao nosso redor.
Em nenhum outro lugar encontraremos essas verdades reveladas.
Deus tem um plano para a humanidade. Aqueles que estudam as Escri-
turas aprendem que em meio a esse mundo confuso, há um lindo plano
de redenção preparado por Deus desde a eternidade. Quando entendemos
esse plano então nossa vida começa a fazer sentido.

2. INSTRUIR O HOMEM QUANTO AO CERTO E AO ERRADO


(MT 22.29; 2 TM 3.16,17)

As pessoas hoje não sabem mais o que é certo e o que é errado. Praticam
muitas coisas condenadas por Deus. Às vezes fazem certas coisas, como

144
INSTITUTO TEOLOGAR

adorar ídolos, por exemplo, pensando que estão agindo corretamente


quando na verdade estão fazendo algo abominável. O conhecimento das
Escrituras livra os homens de cometerem erros como esse.
Erramos como seres humanos, erramos como servos de Deus, erra-
mos como pais, como filhos, como membros de igrejas, como crentes,
erramos como cidadãos. Precisamos ser corrigidos continuamente
pelo padrão da Palavra.
A salvação de Deus não se resume em escapara da condenação do in-
ferno. A salvação de Deus consiste em viver neste mundo em obediência
plena a Deus.
Nossa vida como cristãos consiste em procurar viver nossa salvação no
centro da vontade de Deus em todas as áreas: familiar, econômica, moral,
cívica, espiritual, eclesiástica.

3. PRODUZIR FÉ NO OUVINTE DA PALAVRA (ROM 10.17; ROM 15.4)

À medida que vamos lendo e conhecendo as promessas de Deus, vamos


adquirindo fé em nossos corações. A fé vem por ouvir a Palavra de Deus.
É dessa maneira que vamos nos tornando cada vez mais confiantes em
que Ele cumprirá em nossa vida todas as suas promessas.
Caminhar com Cristo é crescer. Se estamos nos alimentando estamos
nos tornando maiores em Deus e mais fortes. Nosso espírito, nossa mente,
nosso ser está se fortalecendo no Senhor. E esse crescimento é visível aos
olhos dos que nos contemplam.
Este mundo será sempre imperfeito. A dor sempre fará parte dele. Deus
não promete uma vida sem sofrimento, mas promete sua presença consola-
dora. Aqui choraremos, sim. Contudo, Deus nos consolará com sua palavra.
Claramente esses pontos podem ser desdobrados em muitos outros e as
funções da Palavra na vida do cristão podem ser esmiuçadas e detalhadas
indefinidamente. Todavia, é importante entender que revelar Deus e seu
plano, corrigir o que está errado em nós e ao nosso redor, bem como edi-
ficar nossa fé são papéis que a Bíblia exerce e tem exercido neste mundo.

145
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Comparações usadas nas Escrituras para tornar mais clara uma verdade
2. Quatro elementos usados como símbolo da Palavra
3. Símbolo da Palavra de Deus que exprime a ideia de suprimento
4. Símbolo da Palavra de Deus que exprime produção de autoconhecimento
5. Uma das ideias presentes no uso da semente como símbolo

VERDADEIRO OU FALSO

[ ] Só nas Escrituras temos revelado o verdadeiro Deus


[ ] Deus tem um plano para a humanidade
[ ] As pessoas cometem erros muitas vezes por desconhecerem a Palavra
[ ] Depois de ouvir o que a Palavra diz sobre salvação, não precisamos
mais dela
[ ] As promessas de Deus produzem fé em nossos corações

146
INSTITUTO TEOLOGAR

Lição 11 – Apêndice A
BÍBLIA - Influência e Poder

A Palavra gera fé e também regenera.


Joseph Alleine

Nossa fé é alimentada pelo que está claro nas Escrituras e testada pelo que é obscuro.
Agostinho

 Senhor não brilha sobre nós, exceto quando tomamos Sua Palavra como
O
nossa luz.
João Calvino

 não ser que a Palavra de Deus ilumine o caminho, toda a vida dos homens estará
A
envolta em trevas e nevoeiro, de forma que eles inevitavelmente irão perder-se.
João Calvino

 alicerce de qualquer reforma realizada pelo Espírito Santo é o esclarecimento


O
da Palavra de Deus ao povo.
Frank Cooke

Que importa não ter resposta em nenhuma voz ouvida?


Teus oráculos, a Palavra escrita,
Ainda transmitem conselho e orientação,
Compreensíveis para o reto coração.
Josiah Condor

A única reforma verdadeira é a que emana da Palavra de Deus.


J. H. Merle D'Aubigné

 s Escrituras ensinam-nos a melhor maneira de viver, a mais nobre forma de


A
sofrer e o modo mais confortável de morrer.
John Flavel

147
CURSO DE BIBLIOLOGIA

 ão há diabo nos dois primeiros capítulos da Bíblia nem nos dois últimos.
N
Graças a Deus por um livro que elimina o diabo!
Vance Havner

A Palavra de Deus é o instrumento pelo qual o Espírito de Deus transforma o cristão.


Robert Horn

S e metade dos esforços empregados em atacar ou defender a Bíblia fossem gastos


em explicá-la, como seria elevado o nível da vida comum!
Will H. Houghton

 lei divina, da maneira como é vista pelo cristão, exibe liberdade, propicia
A
liberdade e é liberdade.
Robert Johnstone

Não fiz nada: a Palavra fez e realizou tudo.


Martinho Lutero

Enquanto outros livros informam e poucos reformam, só este livro transforma.


A. T. Pierson

A Escritura não é apenas pura, é também purificadora.


William S. Plumer

 ma multidão de leigos que leia a Bíblia é a defesa mais eficiente de uma nação
U
contra o erro.
J. C. Ryle

 síntese de todos os conselhos que lhes posso oferecer, necessários para reger o
A
comportamento de vocês para com Deus e o homem, em qualquer circunstância,
lugar ou condição da vida, encontra-se na bendita Palavra de Deus.
Isaac Watts, Senr

148
LIÇÃO 12
O CRISTÃO E O ESTUDO DAS
ESCRITURAS

C
hegamos agora a outra prática que deve ser considerada im-
prescindível para o bom viver cristão - o relacionamento com
a Palavra de Deus.

Com relação à Palavra o crente deve:

1. Escutá-la, lê-la e meditar nela diária e continuamente ( Js 1.8; Sl 1.2,3)


2. Orar pedindo a Deus compreensão do que está escrito (Sl 119.18; Lc 24.45)
3. Buscar obedecer enquanto aprende (Ap 1.3; Js 1.7)
4. Crer cada vez mais nas promessas das Escrituras (Lc 24.25; Rm 10.17)
5. Proclamá-la em todos os lugares e ocasiões (Mt 28.19; Mc 16.15; 2 Tm 4.2)

 OMO ESTUDAR A SUA BÍBLIA: MÉTODOS


C
DE ESTUDO BÍBLICO

Muitos perguntam Qual o melhor método para se estudar a Bíblia?


Como essa fome de conhecimento poderá ser saciada? O melhor método
para você estudar a bíblia é aquele que efetivamente você vai usar.

149
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Temos hoje uma infinidade de "Bíblias de Estudo" e isto de forma


alguma significa que temos mais estudo bíblico. Acumulamos livros que
não usamos, mensagens que não escutamos, Bíblias que não lemos. Não
conhecemos nem o conteúdo e queremos ter comentários sobre o conte-
údo. Fazemos inúmeros cursos que em nada modificam o curso de nossas
vidas. Nós nos transformamos em consumidores de produtos evangélicos
e quanto disto tudo tem feito algum efeito real em nossa vida cristã é
difícil de determinar. Não sei se seria apropriado dizer, mas acho que nós
temos "fontes em excesso" enquanto nossas vasilhas permanecem vazias.
Qualquer método de estudo é válido, desde que seja verdadeiramente
utilizado. Pode ser que com o passar do tempo sintamos necessidade de algo
diferente. Até que isto aconteça teremos aprendido muita coisa e, portanto
será mais fácil discernir qual método deverá ser utilizado. Ficar mudando
indiscriminadamente de método vai tornar o aprendizado confuso e lento.

O QUE É MÉTODO?

Dentre as definições existentes podemos utilizar duas:

1. Sequência lógica de procedimentos ou operações para se realizar


determinada tarefa ou atingir determinado objetivo.

2. Derivado do grego methodos, formado por meta, "para", e hodos,


"caminho". Poder-se-ia, então, traduzir a palavra por "caminho para" ou,
então, "prosseguimento", "pesquisa".

Resumindo, método é o caminho a ser seguido para se atingir um


determinado objetivo. Esta definição será de grande serventia quando
respondemos a nossa pergunta: "Qual é o nosso objetivo?" Podemos
responder simplesmente: "Estudar as Escrituras".
Todavia, podemos dar um passo além e responder a pergunta: "O que
nós queremos estudar nas Escrituras?" Uma doutrina teológica, um ponto

150
INSTITUTO TEOLOGAR

prático da vida cristã, uma mensagem para alguma pessoa ou grupo? Estas
especificações são muito importantes, pois a meta determina o método.
Onde quero chegar determina o caminho que eu quero seguir.
Quanto mais específico nós formos, mais fácil será nossa definição do
método a ser aplicado e maior também será o nosso progresso.
Embora nossa pretensão não seja esgotar os métodos existentes, seria
interessante que cada um fosse capaz de desenvolver seu próprio método,
muitas vezes mesclando vários diferentes.

FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO


Toda obra exige ferramentas. O estudo da Bíblia também exige. São
ferramentas de naturezas diversas: espirituais, intelectuais, funcionais.
Cada uma delas tem seu próprio valor.
Não devemos nem subestimar e nem superestimar o valor das ferra-
mentas. Dizer que não precisa delas pode ser uma manifestação de sober-
ba. Depender delas somente pode ser falta de espiritualidade. Devemos
utilizá-la sempre conscientes de que o valor não está nelas e sim no que
com elas podemos conquistas. Por exemplo, você pode ter excelentes
ferramentas de marcenaria. Mas é a qualidade da estante que importa,
não a qualidade do serrote, do martelo, dos pregos ou mesmo sua perícia
em trabalhar com madeira. A pessoa que manuseia também é uma ferra-
menta. Todavia, o que vai contar é o resultado - uma bela estante.
Cabe também discernir o que é ferramenta, o que é método e qual é o
objetivo. Conhecer à cerca dos livros bíblicos é só ferramenta, não é nosso
objetivo. Nosso objetivo é conhecer o próprio livro bíblico. Se você lê mais a
cerca da Bíblia do que a própria Bíblia então algo precisa mudar.

FERRAMENTAS ESPIRITUAIS

TOME UMA RESOLUÇÃO FIRME


Faça sua mente dispor diariamente de tempo para estudar a Palavra de
Deus. É uma das mais frutíferas resoluções que um cristão pode fazer. Uma

151
CURSO DE BIBLIOLOGIA

resolução séria e a fidelidade a ela, tem sido uma bênção em muitas vidas.
Muitas vidas que eram estéreis e insatisfatórias têm sido tornadas ricas e úteis,
através de iniciar um estudo diário, regular e perseverante da Bíblia.
Este estudo pode não ser muito interessante no início, e os resultados
podem não ser muitos encorajadores; mas, se você perseverar verá que a
longo prazo estes estudos iram mostrar seu valor no desenvolvimento do
caráter e no enriquecimento da vida toda.
Você não deve deixar nada interferir no seu estudo Bíblico diário,
pois o inimigo tentará colocar empecilhos. Muitos crentes, mesmo
muitos ocupados, tem deixado diariamente, pelos menos uma hora
para o estudo bíblico.
Quinze minutos é o mínimo possível, para um breve estudo bíblico.
Mesmo que comece com pouco, sempre será melhor que nada. Um
pouco com continuidade é melhor que um tempo muito longo que
acontecerá raramente.
Portanto, este estudo é possível para qualquer pessoa. Sendo a melhor
ocasião nas primeiras horas da manhã, você sozinho e Deus. Esse horário
é apenas sugestão.

ESTUDE A BÍBLIA COMO PALAVRA DE DEUS - (I Ts 2:13)

• Embora devamos usar princípios de hermenêutica [regras de inter-


pretação];
• Embora, devamos usar princípios de Gramática;
• Embora, devamos estudar os vocábulos nas línguas originais;
• Devemos lembrar que estamos lidando com a Palavra Deus;
• Não devemos inventar uma interpretação, quando não conseguir-
mos entender bem um texto;
• Devemos lembrar que Deus não revelou tudo sobre si e o Universo.
Revelou apenas o bastante para que o amassemos e servíssemos.
(Dt 29:29).

152
INSTITUTO TEOLOGAR

PRINCÍPIOS INDISPENSÁVEIS A UM ESTUDO PIEDOSO


DA BÍBLIA

• Buscar entender a mente de Deus, através do estudo Bíblico (Is 55:8,9)


• Pronta aceitação e inquestionável submissão aos ensinos aprendi-
dos (Tg 1:21)
• Ter absoluta confiança nas promessas Divinas (Tt 1:2; Fp 4:19)
• Ler a Bíblia como se estivesse ouvindo a voz de Deus (I Ts 2:13)
• Não estude a Bíblia, para orgulhar-se que é bom em teologia bíblica
(I Co 8:1)

ESTUDO A BÍBLIA COM ATITUDE PLENA DE ORAÇÃO

• A oração cria o clima para uma melhor compreensão e transmissão


do evangelho (Ef 6:18,19)
• O espírito de oração ajuda-nos a melhor cultivar a presença de Deis

Observar "as coisas relacionando-as a Cristo"

• Toda a Bíblia esta relacionada a Cristo, e tem a Cristo como o seu


centro (Lc 24:27)
• Todas as coisas do Velho Testamento pré-anunciavam a Cristo e a
sua obra.
• Todas as coisas do Novo Testamento anuncia a Cristo, Sua Obra e
os resultados da mesma.

FERRAMENTAS INTELECTUAIS

PREPARE SUA MENTE PARA O ESTUDO BÍBLICO

• Tenha prazer (Sl 1:2,3)


• Devore a palavra com avidez ( Jr 15:16)

153
CURSO DE BIBLIOLOGIA

• Procure aproveitar bem os momentos vagos para estudo bíblico


• Ande com um Novo Testamento de bolso
• Ouça a Bíblia enquanto dirige ou faz outras coisas
• Escreva ou comente posteriormente com alguém o que você estudou
• Tente memorizar a Bíblia
• Memorize textos relacionados com assuntos que está precisando logo
• Memorize capítulo e versículos que você está estudando

FERRAMENTAS FUNCIONAIS

• Diferentes versões da Bíblia


• Bíblias de Estudo
• Dicionário comum
• Dicionário Bíblico
• Concordâncias Bíblicas
• Referências Bíblicas
• Introduções aos livros bíblicos
• Noções de Hermenêutica bíblica
• Comentários Bíblicos
• Livros sobre os assuntos a serem estudados
• Teologias sistemáticas
• Obras gerais de referência

O QUE VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?


Antes de começarmos aplicação de algum método, seria interessante
determinar pelo menos três áreas para a qual pode estar voltado nosso
objetivo ao estudar as Escrituras. Não há necessidade de trabalharmos
com um único objetivo, mas é mais fácil sempre estudar com um único
objetivo em mente.
Podemos separar os objetivos de nossos estudos em:

1) Teológicos - Quando o nosso principal alvo é conhecer as doutrinas


teológicas das Escrituras à cerca de algum assunto. A Teologia Sistemática

154
INSTITUTO TEOLOGAR

é basicamente este objetivo, pois procura saber o que a Bíblia diz sobre
cada assunto.
O que a Bíblia diz sobre o pecado, sobre Deus, sobre a Trindade, sobre
Jesus Cristo, sobre o fim do mundo. Dentro de cada um desses temas
podemos pesquisar alguns temas ainda mais específicos. A divindade
de Cristo, o nascimento virginal, os milagres, sua morte expiatória, sua
ressurreição, etc.
Há vantagens em procurar conhecer um pouco do que já foi escrito
antes sobre estas doutrinas. Assim não corremos o risco de "inventar a
roda". Alguém já disse que somos "anões nos ombros de gigantes". Isto
é verdade também em teologia. Homens muito experientes e versados
nas Escrituras deixaram estudos aprofundados sobre diversos temas. Vale
muito conhecer o que eles escreveram.
A desvantagem em utilizar trabalhos anteriores é que muitas vezes nos
limitamos a aceitar tudo passivamente, sem refletir se é assim mesmo.
Muitas vezes somos “anti-bereanos”, ou seja, não vamos às Escrituras para
ver se as coisas são realmente assim. Confiamos apenas na autoridade de
quem escreveu como se ele não fosse passível de erro.
A solução é conhecer o ensino e analisar criticamente, aceitando so-
mente algo que nos convença totalmente.

2) Devocionais - Talvez essa seja a razão mais comum que nos leva a
estudar as Escrituras. Ter respostas para aspectos práticos da nossa vida,
norteando nossa conduta por princípios bíblicos.
É bom distinguir esse objetivo da simples leitura. Temos que ter
um plano de leitura bíblica, independente de algum método de estudo
que estejamos utilizando. A leitura pode seguir uma ordem própria,
mas os assuntos não estão dispostos em forma sistemática. Qualquer
assunto implica em analisar diversos lugares das Escrituras e, portanto
é algo diferente.
Podemos por exemplo querer estudar sobre humildade. Teremos
que utilizar diversas ferramentas para levar a cabo nosso estudo e

155
CURSO DE BIBLIOLOGIA

provavelmente procuraremos o assunto em diversos lugares. Se nosso


assunto é oração nossa pesquisa nos levará por toda a Bíblia, em vários
livros diferentes.

3) Homiléticos - Aqueles que tem o ministério da Pregação e do Ensino


terão que garimpar continuamente em busca de assuntos e de bases para
suas afirmações. Confiar no Espírito não significar desconhecer o que as
Escrituras dizem a respeito. Significar colocar à disposição do Espírito o
material que Ele estará utilizando para falar à congregação.
Não significa que você só vá à Bíblia quando tiver alguma ministração
para fazer. Você pode e deve estar continuamente se preparando e quando
chegar o momento você há de utilizar aquilo que foi pesquisado e estudo
para entregar ao povo. Muitas vezes encaixará apenas algum ponto estu-
dado em sua mensagem e não a mensagem inteira.

CONCLUSÃO
Cada um desses objetivos pode se utilizar de um método específico, o que
não significa que não possa estar se utilizando vários métodos diferentes.
Não devemos esquecer também que o objetivo homilético pode servir
para propósitos devocionais ou teológicos. Nós somos os primeiros minis-
trados pela mensagem, qualquer pregador sabe disso.
Estabelecidos os objetivos avancemos para a efetivação do Estudo. Que
seja o estudo das Escrituras nosso maior prazer.

OBJETIVOS TEOLÓGICOS

MÉTODO SISTEMÁTICO
Já falamos um pouco sobre Teologia Sistemática. Como o próprio nome
diz é os ensinos da Bíblia dentro de um Sistema. Dentre as definições de
"sistema" podemos tomar esta:

156
INSTITUTO TEOLOGAR

1. Um sistema é uma junção de elementos inter-relacionados formando


um todo único. Vindo do grego o termo "sistema" significa "combinar",
"ajustar", "formar um conjunto". Um subsistema é um sistema que faz
parte de outro sistema.

A teologia sistemática busca relacionar o conteúdo das Escrituras em


todo coerente, coeso e compreensível. Levando em conta que a Bíblia é a
inerrante Palavra de Deus, busca-se descobrir seus ensinos de modo que
não haja contradição.
Para este objetivo o melhor método é buscar todas as passagens
referentes a um determinado assunto. Isto pode ser conseguido através
do uso de:

• Bíblia online
• Concordância
• Referências
• Bíblias de estudo específicas

A busca pode se dar por meio de palavras chaves ou de ideias afins. Tam-
bém a memória pode ser de grande valia neste método, pois nos possibilitará
buscar fundamentos em passagens onde a doutrina está subentendida.
Quem se propuser a estudar as doutrinas da Bíblia deve estar sempre
atento na hora das leituras livres para anotar e registrar algum assunto
que considere pertinente ao estudo de doutrinas em andamento.

MÉTODO POR AUTOR/LIVRO

Este método também é chamado de Teologia Bíblica. Isto não quer


dizer que a Teologia Sistemática não seja bíblica. Mas este último método
não se preocupa primeiramente em relacionar as diversas passagens sobre
um determinado assunto. Sua primeira preocupação é ver o que cada

157
CURSO DE BIBLIOLOGIA

autor diz sobre uma determinada doutrina. Ou indo mais além, o que
cada autor diz, em determinado livro sobre alguma doutrina específica.
Tomemos um assunto das Escrituras - o anticristo. O que cada autor/livro
fala sobre o assunto? Ao pesquisarmos vamos encontrar coisas interessantes.

Paulo não usa o termo anticristo. Usa o termo "homem da iniquidade,


filho da perdição".
Paulo só o cita em uma única carta (2 Ts 2).
Paulo tira sua citação do livro de Isaías (capítulo 11) o que significa que
a ideia já constava no Antigo Testamento.
João só usa o termo nas epístolas (1ª e 2ª ) enquanto em Apocalipse utiliza
o termo "besta", (animal, fera) pois era utilizado na linguagem profética para
representar os reinos da Terra, conforme vemos em Daniel 7, 8.
Quando comparamos Paulo com João vemos que embora os mesmos
utilizem nomes diferentes ambos afirmam que embora o anticristo/
iníquo ainda não esteja presente seu poder já estava agindo no mundo.
Leituras diversas de um mesmo livro são a melhor forma de realizar
este tipo de estudo. Cada autor acrescentou seu significado especial a cada
termo ou doutrina bíblica e portanto o modo como cada um foi utilizado
pelo Espírito para revelar determinada verdade, é muito importante.
Somente para estimularmos este método de estudo, procure saber, por
exemplo, o que cada autor falou sobre "Reino de Deus". Será algo muito
enriquecedor.

OBJETIVOS DEVOCIONAIS

MÉTODO TEMÁTICO
Temático vem de tema. Este talvez seja o mais simples de se utilizar.
Qual assunto eu estou procurando? Que perguntas preciso fazer sobre
este assunto?

Onde a Bíblia mostra a origem da família?


Qual o papel do homem e da mulher?

158
INSTITUTO TEOLOGAR

Qual deve ser a atitude do marido em relação à esposa?


Da esposa em relação ao marido?
Do pai em relação ao filho? Do filho para o pai?
Quais as falhas mais frequentes de ambos?

Utilizando-se as perguntas sobre um determinado tema é possível iniciar


uma caminhada profunda. Cada passagem conduzirá a novas perguntas,
a novas respostas, a novas abordagens. Um tema pode ser desenvolvido
exaustivamente.
É muito importante neste tipo de estudo não fugir do objetivo propos-
to. Seria errado, por exemplo, começar com o papel da mulher na família
e fugir para o papel da mulher no ministério. Isto já seria um subtema
de mulher. Ou já fugir para o tema oração ou perdão, ou outro que não
esteja relacionado.
Os exemplos também podem ser um forte auxílio no estudo de um
tema. Se analisarmos, por exemplo, o procedimento de Abigail para com
seu esposo Nabal, teremos uma grande ilustração de uma mulher que
intercede por um mau marido.
As ferramentas funcionais para este método podem ser as mesmas
utilizadas para sistemático.
Ao invés de temas doutrinários e teológicos, nossa maior preocupação
neste caso será a prática cristã, a vida com Deus.
Vale a pena também nos posicionarmos diante desse nosso método,
pois muitas vezes fugimos para um espírito de julgamento que nos faz
utilizar o texto bíblico para julgar o procedimento de outros cristãos ao
invés de aplicá-lo ao nosso próprio caráter.

MÉTODO LIVRO POR LIVRO


É possível e proveitoso dedicarmos um tempo para estudarmos só
um livro específico ou um conjunto de livros. Algumas pessoas gos-
tam de passar anos estudando um único autor das Escrituras e são
grandemente abençoados.

159
CURSO DE BIBLIOLOGIA

A vantagem desse método é que ao invés de uma leitura superficial


ou conhecimento de algumas partes de um determinado livro, nós
passamos a dominar seu conteúdo inteiro. Isto pode parecer prejudi-
cial uma vez que todos os 66 livros são inspirados por Deus e possuem
o mesmo valor espiritual.
Todavia, se não temos pressa em terminar a leitura e se queremos Ter
certeza de que o conteúdo daquele livro realmente entrou em nossos
corações, deter-se por longo tempo nele vai ser a melhor forma de realizar
este objetivo.
Além das ferramentas normais (utilizadas no método sistemático) po-
demos aplicar ainda as seguintes ferramentas:

• Leituras geral, diversas vezes


• Utilizar recursos mnemônicos para decorar seu conteúdo
• Utilizar de livro de introduções
• Utilizar-se de comentários de autores consagrados

Pode-se estudar o livro também extraindo elementos doutrinários e ho-


miléticos, pois como dissemos, eles interagem. O mais importante é ficar
conhecendo de modo o mais completo possível a mensagem daquele livro.
Não importa o tamanho de um livro, ele contém inúmeros pontos
para o crescimento espiritual. Se uma determinada passagem é pregada
centenas de vezes por pregadores diversos e cada uma das mensagens traz
algo novo, o que não podemos dizer de um livro todo?
Quem vai determinar quando parar de estudar um determinado livro é
unicamente você. Não haverá um momento em que não haja mais nada
para se aprender nele.

OBJETIVOS HOMILÉTICOS

MÉTODO TEMÁTICO
Como o próprio nome diz, este método para objetivos homiléticos está
ligado a um tema, um assunto, mais do que a um texto. Muitas vezes nossa

160
INSTITUTO TEOLOGAR

pregação não se baseará em um texto específico. Imagine que você orou


a Deus e ele orientou-o a pregar sobre a humildade ou você percebeu que
há muito orgulho que precisa ser cobrado. Você não recebeu nenhuma
passagem específica das Escrituras, mas sabe sobre qual tema deverá falar.
Tenha consciência que neste caso você poderá pregar sobre um ou vá-
rios versículos diferentes, dependendo da maneira como vai desenvolver
seu sermão. A partir daí você precisa:

- Procurar sobre o tema humildade e seu oposto (orgulho/soberba)


- Procurar nas Escrituras com uma Chave Bíblica textos ligados ao assunto
- Escolher o versículo ou versículos ligados ao tema

Um exemplo desse método pode ser visto abaixo


TEMA: As cinco bênçãos do humilde

Texto-base: Tiago 4.6

O humilde receberá graça (Tg 4.6)


O humilde será exaltado (Lc 14.11)
O humilde é semelhante a Jesus (Mt 11.18)
O humilde é sábio
Como vemos, no objetivo homilético é difícil esgotar o assunto e por
isso temos que nos contentar em explorar um subtema ou parte dele.

MÉTODO TEXTUAL
Como o próprio nome diz, o método textual se atém a um texto, mais
do que a um tema ou assunto e geralmente a um texto curto. No Temáti-
co você tem um tema e sai a procura de um texto. No Textual, você tem
um texto e dele extrai seu tema.
Neste caso o que temos em mãos é uma determinada passagem
bíblica, (um versículo ou dois no máximo), que será a matéria prima
de nossa mensagem.

161
CURSO DE BIBLIOLOGIA

Alguns conselhos com respeito a este tipo de sermão:

• Leia com atenção o seu texto e relacione tudo o que pode ser
extraído a respeito dele. No Sermão Textual, cada palavra é
importante.
• Procure nas referências textos paralelos que podem ajudá-lo em sua
compreensão. Estes, porém não precisam ser citados.
• Forme o esboço sem sair do texto. Muito cuidado, pois é justamen-
te aqui que alguns pregadores citam o texto, saem do texto e não
voltam nunca mais para ele. O texto vira pretexto.

O PRÓPRIO TEXTO FORNECE DIVISÕES


É valioso saber que muitos versículos já vêm quase prontos para o
Sermão Textual. O número de afirmações são a própria divisão da mensa-
gem. Lendo Romanos 12.12 temos automaticamente uma divisão:

Alegrai-vos na esperança
Sede pacientes na tribulação
Perseverai na oração

CADA PALAVRA SER UM TÓPICO


Tomando uma passagem conhecida como Filipenses 4.13, cada palavra
pode tornar-se a divisão do sermão.

Eu posso - Não transfiro responsabilidades


Todas as coisas - Não há limites quando não há desculpas
Em Cristo - A garantia é sua presença
Me Fortalece - Não na minha força mas na dele

Em um caso como este a ordem deve sempre seguir a ordem das pala-
vras, ou seja, o tópico quatro dever ser o último porque é a ultima frase.

162
INSTITUTO TEOLOGAR

MÉTODO EXPOSITIVO
O método expositivo, embora contenha semelhanças com o textual,
geralmente abrange uma porção mais longa da Palavra. Todo um acon-
tecimento é utilizado na exposição da mensagem ou mesmo todo um
capítulo ou ainda todo um livro.
Para iniciar seu estudo utilizando este método, dê os seguintes passos:

• Escolha a passagem que será pregada


• Faça as perguntas: 1. Sobre quem ela fala? 2. Sobre o que ela fala
(mais de um assunto)?
• Transforme cada assunto em um tópico
• Veja como aplicá-la aos seus ouvintes
• Preste bastante atenção em palavras que se repetem

O cristão pode alternar os métodos que estará utilizando para estudar


a Bíblia ou poderá até mesmo usar métodos diferentes simultaneamente.
O mais importante é que ao longo de certo tempo perceba que está cres-
cendo, que está aprendendo verdadeiramente a Palavra. Este crescimento
não significa que necessariamente ele vá decorar a Bíblia ou que obrigato-
riamente deva se tornar um ministro. Todavia, se o estudo das Escrituras
não é negligenciado, você se tornará apto para instruir a outros.
Sobre isso temos muito que dizer, mas de difícil interpretação, por-
quanto vos tornastes tardios em ouvir. Porque, pelo tempo devíeis ser
mestres, entretanto necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios
elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de
leite, e não de alimento sólido. Ora, qualquer que se alimenta de leite é
inexperiente na palavra da justiça, pois é criança; mas o alimento sólido é
para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para
discernir tanto o bem como o mal. (Hebreus 5.11 - 13).

163
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Sequência lógica de procedimentos e operações


2. Sentido grego da palavra methodos
3. Regras de interpretação de um texto
4. Duas ferramentas funcionais para o estudo da Bíblia
5. Três objetivos possíveis em um estudo bíblico

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] Método é o caminho a ser seguido para se atingir determinado objetivo
[ ] Os objetivos para o estudo bíblico podem ser devocionais, teológicos
ou homiléticos
[ ] Só algumas partes da Bíblia estão relacionadas a Cristo
[ ] Usar diferente versões das Escrituras é uma atitude adequada
[ ] Um subsistema é uma sistema que faz parte de outro sistema

164
LIÇÃO 13
MANUSCRITOLOGIA DO
ANTIGO TESTAMENTO

O
s primeiros livros da Bíblia foram escritos por Moisés, mais
ou menos 1.500 anos antes de Cristo. Os demais livros que
formaram o Antigo Testamento foram escritos em um
longo período que durou até mais ou menos 400 antes de Cristo. Depois
esse conjunto de livros foi reunido e era usado no culto, nos estudos e na
meditação do povo israelita. Essa era a Bíblia que Jesus lia.
À partir da vinda de Jesus começam a ser escritos os livros do Novo Tes-
tamento. Até aproximadamente o ano 90 depois de Cristo todos os livros
já estavam escritos e mais tarde foram reunidos. Assim, tanto o Antigo
quanto o Novo Testamento passaram a se constituir Escrituras Sagradas
para a Igreja, enquanto os judeus de um modo geral, por não haverem
reconhecido em Jesus o seu Messias, têm como Escrituras Sagradas so-
mente os livros daquilo que chamamos Antigo Testamento.
Esses livros foram escritos e conservados até os nossos dias, utilizando-
-se materiais diversos. Alguns desses materiais foram:

165
CURSO DE BIBLIOLOGIA

PAPIRO ( Cyperus papyrus )


Era feito de folhas de uma planta, a cyperus papyrus, cujo talo cilíndrico
alcança dois metros ou mais. E esse talo era descascado e estendido em
sentido cruzado, prensado, raspado e polido.
Foi justamente esse material que o apóstolo João usou para escrever o
livro de Apocalipse (Ap 5.1) e suas cartas (2Jo 12). E, até hoje, esse material
continua sendo usado largamente no Egito.

VELINO (vellum)
Era uma pele fina de antílope ou bezerro, grafada dos dois lados.

PERGAMINHO
Era de pele de ovelha ou de cabra, preparado para a escrita. Foi usado
pela primeira vez na cidade de Pérgamo, na Ásia Menor, no tempo do rei
Eumenes II (197-158 a.C.). Devido à falta de papiro, que recebia do Egito,
para formar sua biblioteca, foi-lhe necessário obter um novo material de
escrita. O resultado é conhecido como velino ou pergaminho.

Os instrumentos de escrita usados na época eram os seguintes:

ESTILETE (estilo) – feito de metal ou madeira, também denominado


pena, usado para escrever em papiro, couro, velino e pergaminho.

CINZEL – normalmente de ferro, era usado para grafar pedras.

TINTA – era o material que acompanhava a pena e ficava no tinteiro;


geralmente preta, era feita de fuligem ou fumaça de lâmpada e goma,
tudo diluído em água.

Tudo isso nos dá uma visão da grande dificuldade que os escritores da


Bíblia tiveram para registrar seus livros e a facilidade com o advento da
imprensa, invenção de Gutenberg.

166
INSTITUTO TEOLOGAR

Esses livros foram escritos em pelo menos duas línguas, que depois
foram traduzidas para os diversos idiomas conforme a Palavra de Deus ia
se espalhando:

Hebraica – é a língua principal do AT, especialmente adequada para


se criar uma relação entre o povo e o Senhor, por ser uma língua que
usa muitas metáforas (comparações), dramatizando a narrativa dos acon-
tecimentos. Também é uma língua “pessoal”, apelando diretamente ao
coração e às emoções, fazendo que as mensagens sejam sentidas e não
pensadas. Quase todo o AT foi escrito em hebraico e do NT, o Evangelho
de Mateus.

Aramaico - era a língua dos sírios, tendo sido usada em todo o período
do AT. Na Babilônia falava-se o aramaico, motivo de que partes dos livros de
Daniel e Esdras estão nesse idioma, por causa do cativeiro babilônico, que du-
raram 70 anos. O hebraico permaneceu como língua dos sacerdotes, eruditos
e da literatura religiosa. Jesus e seus apóstolos falavam aramaico.

MANUSCRITOS
Esse termo vem de duas raízes latinas: manus (“mão”) e scriptus (“es-
crita”), cuja tradução, em português, fica assim: um “documento escrito
à mão”. Conforme usada hoje, essa expressão é restrita às cópias da Bíblia
feitas no mesmo idioma em que foram originalmente escritas.
Os originais autênticos escritos pelas mãos de um profeta ou após-
tolo, ou de um amanuense, sempre sob a direção do homem de Deus,
eram chamados de “autógrafos”, os quais não existem mais e, por essa
razão, precisaram ser reconstituídos a partir de manuscritos antigos
das Escrituras.
Na ocasião em que a Bíblia foi impressa (em 1455 a.D.), havia mais de
dois mil manuscritos nas mãos de alguns letrados, todavia, todos incom-
pletos. Atualmente, há cerca de quatro mil manuscritos das Escrituras.

167
CURSO DE BIBLIOLOGIA

O professor Antônio Gilberto, com a maestria que lhe é peculiar, infor-


ma algumas causas do desaparecimento dos manuscritos. Vejamos:

1) O costume dos judeus de enterrar todos os manuscritos estragados


pelo uso ou qualquer outra coisa; isto para evitar mutilação ou interpola-
ção espúria.

2) Os reis idólatras e ímpios de Israel podem ter destruído muitos deles


ou contribuído para isso (ver o episódio de Jeremias 36.20-26).

3) O terrível Antíoco Epifânio, rei da Síria (175-164 a.C.), dominou


sobre a Palestina durante o seu reinado. Foi extremamente cruel, sádico.
Sentia prazer em aplicar torturas. Decidiu exterminar a religião judaica.
Assolou Jerusalém em 168. Profanou o templo e destruiu todas as cópias
que achou das Sagradas Escrituras.

 TESTE BIBLIOGRÁFICO E A CREDIBILIDADE


O
DA BÍBLIA
O teste bibliográfico é um exame da transmissão textual pela qual
os documentos chegam até nós. Em outras palavras, uma vez que não
dispomos dos documentos originais, qual a credibilidade das cópias que
temos em relação ao número de manuscritos e ao intervalo de tempo
transcorrido entre o original e a cópia existente?

OS COPISTAS DO ANTIGO TESTAMENTO


Os textos bíblicos foram preservados por copistas muito meticulosos.
Pouco depois da escrita dos originais, começou a produção de cópias à
mão. Aliás, o copista das Escrituras era uma profissão em Israel (Ed 7:6 e
Salmo 45:1).
Os escribas eram profissionais muito dedicados. Na verdade, eles
reverenciavam profundamente as palavras que copiavam, sendo extrema-
mente meticulosos. Bem sabiam que não podiam acrescentar ou retirar

168
INSTITUTO TEOLOGAR

qualquer pontuação ou letra ao texto sagrado, porque isso seria a negação


da sua própria vida dedicada.

(1) o rolo de uma sinagoga deve ser escrito em peles de animais puros,

(2) preparados por um judeu para o uso específico da sinagoga.

(3) Essas peles devem ser presas por meio de barbantes feitos de ani-
mais puros.

(4) Cada pele deve conter um certo número de colunas, o qual deve
se manter igual por todo o códice.

(5) O comprimento de cada coluna não deve ser inferior a 48 nem


superior a 60 linhas e a largura deve ser de trinta letras.

(6)  Deve-se primeiramente traçar as linhas de toda a cópia, e se três


palavras forem escritas sem linha, a cópia fica inutilizada.

(7) A tinta deve ser preta, e não vermelha, verde, nem qualquer outra
cor, e deve ser preparada de acordo com uma fórmula específica.

(8)  eve-se fazer a cópia a partir de uma cópia autêntica, da qual o


D
transcritor não deve se desviar de modo algum.

(9)  ão se deve escrever nenhuma palavra ou letra, nem mesmo um


N
“iode”, de memória, isto é, sem o escriba tê-lo visto no códice
diante de si...

(10) E
 ntre cada consoante deve haver o espaço de um fio de cabelo ou
de uma linha;

(11) E
 ntre cada novo parashah, ou capítulo, deve haver a largura de
nove consoantes;

169
CURSO DE BIBLIOLOGIA

(12) Entre um livro e outro deve haver três linhas.

(13) O quinto livro de Moisés deve terminar exatamente no final de


uma linha; mas com os demais isso não é preciso.

(14) Além disso, o copista deve estar vestido com trajes judaicos a rigor.

(15) Lavar o corpo todo.

(16) não começar a escrever o nome de Deus com uma pena recém-
-mergulhada na tinta,

(17) E, caso um rei se dirija a ele enquanto está escrevendo o nome de
Deus, não deve dar atenção ao rei.

Os rolos que não eram feitos segundo essas especificações estão conde-
nados a ser enterrados ou queimados, ou ser banidos para as escolas para
serem usados como livros de literatura.
Isso demonstra que ao lidarmos, mesmo com cópias dos originais,
estamos lidando com materiais que eram copiados com cuidado extremo.
Esses profissionais eram possuídos de um temor que impedia que seu
trabalho fosse feito com desleixo. Era mais que um trabalho. Era uma
atividade sagrada que influenciava totalmente sua atividade.

PRINCIPAIS MANUSCRITOS DO ANTIGO


TESTAMENTO

Podemos falar de manuscritos pós-cristãos e manuscritos pré-cris-


tãos. Entre os pós-cristãos mais importantes, escritos em hebraico,
podemos citar:
1. Manuscrito conhecido como Museu Britânico Oriental 4445 – Cópia
do Pentateuco escrito por volta do ano 850 d.C.

2. O manuscrito de Leningrado que contém os Profetas Posteriores


(que nós chamamos de profetas maiores e menores) e que datam do ano
de 916 d.C. conforme a maioria dos peritos.

170
INSTITUTO TEOLOGAR

3. O Manuscrito de Leningrado B-19ª – é um texto do Antigo Testa-


mento inteiro. A data é atribuída é 1010 d.C e seria uma cópia fiel de um
manuscrito de 980 d.C.

4. Pode-se ainda citar o Pentateuco Samaritano. Os samaritanos, ape-


sar de se considerarem verdadeiro povo de Deus são tidos pelos judeus
como ilegítimos e rejeitaram sua participação no verdadeiro Israel. Os
samaritanos constituíram um grupo religioso à parte. O manuscrito do
Pentateuco que possuem se encontra na cidade de Nablus e eles proí-
bem sua publicação. Uma forma do Pentateuco Samaritano foi desco-
berta em 1616. Embora seja fiel em muitos aspectos, foram introduzidas
interpolações tendenciosas procurando demonstrar que Deus escolheu
Gerizim e não Sião.

Entre os manuscritos pré-cristãos podemos falar dos famosos Ma-


nuscritos do Mar Morto, encontrados em cavernas no ano de 1947.
Pertenciam à comunidade de Qunram, um grupo judaico ascético
conhecido como essênios.
Dos cerca de 800 manuscritos encontrados em Qumran, cerca de
220 são referentes ao Antigo Testamento. Cada livro do Antigo Tes-
tamento está representado entre os Pergaminhos do Mar Morto com
exceção do livro de Ester, embora a maior parte seja fragmentária. No-
tavelmente foram encontradas em Qumran dois rolos de pergaminho
contendo o livro de Isaías, um completo (1QIsa) e outro contendo 75%
deste(1QIsb). Esses manuscritos são geralmente datados entre 150 a.C.
e 70 d.C.
A precisão com que o conteúdo dos livros foi mantido sem erros du-
rante mais de 1000 anos foi fruto de técnicas desenvolvidas pelos antigos
escribas judeus. O resultado destas técnicas é que erros significativos
surgem apenas na taxa de uma consoante em cada 1500, em média.
Além dos textos em hebraico, existem versões gregas, aramaicas e lati-
nas do Antigo Testamento, além de versões siríacas e coptas.

171
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Material para escrita feito com folhas de uma planta


2. Pele fina de antílope. Era escrita dos dois lados
3. Material para escrita produzido na cidade de Pérgamo
4. Instrumento de ferro usado para escrever em pedras
5. Instrumento feito de metal ou madeira, também denominado “pena”

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] Havia excessivo cuidado na confecção de cópias das Escrituras
[ ] O Pentateuco Samaritano é plenamente confiável
[ ] Os textos do Mar Morto estão relacionados à comunidade essênia
[ ] O principal livro encontrado em Qunram foi uma cópia do livro
de Ester
[ ] Além do texto hebraico do AT, existem versões gregas, latinas
e siríacas

172
INSTITUTO TEOLOGAR

Lição 13 – Apêndice A
Os manuscritos do mar morto

Uma das grandes dificuldades com os quais os estudiosos das Escrituras


tem de lidar é a quantidade, qualidade e confiabilidade dos manuscritos
bíblicos. Os textos mais antigos do Velho Testamento eram do século X
aproximadamente. Como saber se eram confiáveis? Até que ponto não
sofreram alterações significativas desde o tempo em que fora escrito por
seus autores?
Essa grande descoberta ocorreu em março de 1947, quando um jo-
venzinho árabe (Muhammad adh-Dhib) estava perseguindo uma cabra
perdida nas grutas, a doze quilômetros ao sul de Jerico e um e meio quilô-
metro a oeste do mar Morto. Numa das grutas ele descobriu umas jarras
que continham vários rolos de couro. Entre esse dia e fevereiro de 1956,
onze grutas que continham rolos e fragmentos de rolos foram escavadas
próximo a Qumran. Nessas grutas, os essênios, seita religiosa judaica
que existiu por volta da época de Cristo, haviam guardado sua biblioteca.
Somando tudo, os milhares de fragmentos de manuscritos constituíam os
restos de seiscentos manuscritos.
Os manuscritos que trazem o texto do Antigo Testamento são os de
maior interesse para nós. A Gruta 1 é a que havia sido descoberta pelo
jovem árabe, a qual continha sete rolos mais ou menos completos e alguns
fragmentos, dentre os quais o mais antigo livro que se conhece da Bíblia
(Isaías Á), um Manual de disciplina, um Comentário de Habacuque, um
Apócrifo de Gênesis, um texto incompleto de Isaías {Isaías B), a Regra da
guerra e cerca de trinta Hinos de ação de graça. Na Gruta 2 foram encon-
trados outros manuscritos; essa gruta havia sido descoberta por beduínos
que roubaram alguns artigos, Descobriram-se ali fragmentos de cerca
de cem manuscritos; nenhum desses achados, porém, foi tio espetacular
como o que se descobriu nas demais grutas.
Na Gruta 3 foram achadas duas metades de um rolo de cobre que dava
instruções sobre como achar sessenta ou mais lugares que continham
tesouros escondidos, a maior parte dos quais em Jerusalém ou em seus

173
CURSO DE BIBLIOLOGIA

arredores. A Gruta 4 (a Gruta da Perdiz) também havia sido pilhada por


beduínos, antes de ser escavada em setembro de 1952. No entanto, ve-
rificou-se que haveria de ser a gruta mais produtiva de todas, visto que
literalmente milhares de fragmentos foram recuperados e reconstituídos,
quer mediante compra dos beduínos, quer em decorrência da peneiração
arqueológica da poeira do solo da gruta. Um fragmento de Samuel que
se encontrou aqui é tido como o mais antigo trecho de hebraico bíblico
conhecido, pois data do século IV a.C.
Na Gruta 5 acharam-se alguns livros bíblicos e outros apócrifos em
avançado estado de deterioração. A Gruta 6 revelou a existência de mais
fragmentos de papiro que de couro.
As Grutas de 7 a 10 forneceram dados de interesse para o arqueólogo
profissional, nada, porém, de interesse relevante ao estudo que estamos
empreendendo. A Gruta 11 foi a última a ser escavada e explorada, em
começos de 1956. Ali se encontrou uma cópia do texto de alguns salmos,
incluindo-se o salmo apócrifo 151, que até essa data só era conhecido
em textos gregos. Encontrou-se, ainda, um rolo muito fino que continha
parte de Levítico e um Targum (paráfrase) aramaico de Jó. Estimulados
por essas descobertas originais, os beduínos insistiram nas buscas e desco-
briram outras grutas a sudoeste de Belém.
Aqui, em Murabba'at, descobriram alguns manuscritos que traziam a
data e alguns documentos da segunda revolta judaica (132-135 d.C). Esses
documentos ajudaram a confirmar a antiguidade dos rolos do mar Morto.
Descobriu-se também outro rolo dos profetas menores (de Joel a Ageu),
cujo texto se aproxima muito do texto massorético. Além disso, desco-
briu-se ali um palimpsesto, o papiro semítico (o primeiro texto havia sido
raspado) mais antigo de que se tem notícia.
O segundo texto nele gravado era em hebraico antigo, dos séculos VII
e VIII a.C.
Vários tipos de evidências tendem a dar apoio às datas dos rolos do mar
Morto. Em primeiro lugar está o processo do carbono 14, que dá a esses
documentos a idade de 1917 anos, com margem de variação de 200 anos
(10%). Isso significa que tais documentos datam de 168 a.C. a 233 d.C. A
paleografia (estudo da escrita antiga e de seus materiais) e a ortografia (re-

174
INSTITUTO TEOLOGAR

dação correta das palavras) marcam a data de alguns desses manuscritos


anterior a 100 a.C. A arqueologia trouxe mais algumas evidências parale-
las, mediante o estudo da cerâmica encontrada nas grutas: descobriu-se
que era da baixa Era Helenística (150-163 a.C.) e da alta Era Romana
(63 a.C-100 d.C). For fim, as descobertas de Murabba'at corroboraram
as descobertas de Qumran. A natureza e o número dessas descobertas
do mar Morto produziram as seguintes conclusões gerais a respeito da
integridade do texto massorético. Os rolos fornecem espantosa confirma-
ção da fidelidade do texto massorético. Millar Burrows, em sua obra The
Dead Sea scrolls [Os rolos do mar Morto], mostra que existiram pouquís-
simas alterações do texto, num período aproximado de mil anos. R. Laird
Harris, em sua obra Inspiration and canonicity ofthe Bible [A inspiração
e a canonicidade da Bíblia], sustenta que existem menos diferenças nessas
duas tradições, em mil anos, do que em duas famílias de manuscritos do
Novo Testamento.
Gleason Archer, autor de A survey of Old Testament introduction [Pesquisa
para introdução ao Antigo Testamento] apóia a integridade do texto massoré-
tico ao declarar que tal texto concorda com o manuscrito de Isaías encontrado
na Gruta 1 em 95% de seu conteúdo. Os restantes 5% compreendem lapsos
óbvios da pena e variações de grafia que ocorreram naquele ínterim.
Somente em 1949 foi dada licença para os arqueólogs entrarem na
região e iniciar suas pesquisas e escavações. Com o tempo foi identificada
como uma comunidade essênia, um grupo de judeus ascéticos que viveu
naquela região denominada Qunram. Havia algumas menções dos mes-
mos nos escritos do historiados Flávio Josefo. Abaixo, transcrevemos duas
passagens nos quais ele faz descrição dessa seita judaica:
Havia então entre nós três seitas, divergentes nas questões relativas às
ações humanas. A primeira era a dos fariseus; a segunda, a dos saduceus;
a terceira, a dos essênios. Os fariseus atribuem certas coisas ao destino,
porém nem todas, e crêem que as outras dependem de nossa liberdade,
de sorte que podemos realizá-las ou não. Os essênios afirmam que tudo
geralmente depende do destino e que nada nos acontece que ele não
determine. Os saduceus, ao contrário, negam absolutamente o poder do
destino, dizendo que ele é uma quimera e que as nossas ações dependem

175
CURSO DE BIBLIOLOGIA

tão absolutamente de nós que somos os únicos autores de todos os bens


e males que nos acontecem, conforme seguimos um bom ou um mau
conselho. (História dos Hebreus 520)
Os essênios, a terceira seita, atribuem e entregam todas as coisas, sem
exceção, à providência de Deus. Crêem que as almas são imortais, acham
que se deve fazer todo o possível para praticar a justiça e se contentam em
enviar as suas ofertas ao Templo, sem oferecer lá os sacrifícios, porque o
fazem em particular, com cerimônias ainda maiores. Os seus costumes
são irreprocháveis, e a sua única ocupação é cultivar a terra. Sua virtude
é tão admirável que supera em muito a dos gregos e de outras nações,
porque eles fazem disso todo o seu empenho e preocupação e a ela se
aplicam continuamente. Possuem todos os bens em comum, sem que
os ricos tenham maior parte que os pobres. O seu número é superior a
quatro mil. Não têm mulheres nem criados, porque estão convencidos
de que as mulheres não contribuem para o descanso da vida. Quanto aos
criados, consideram uma ofensa à natureza, que fez todos os homens
iguais, querer sujeitá-los. Assim, eles se servem uns dos outros e escolhem
homens de bem da ordem dos sacerdotes, que recebem tudo o que eles
recolhem de seu trabalho e têm o cuidado de fornecer alimento a todos.
Essa maneira de viver é quase igual à dos que chamamos plistes e vivem
entre os dácios.
Além de muitos escritos peculiares à seita dos essênios, foram descober-
tos em Qunram cópias de todos os livros do Antigo Testamento, exceto o
livro de Ester. Embora a princípio alguns estudiosos céticos creditassem
que a descoberta dessa comunidade abalaria os alicerceres do cristianismo,
na verdade forneceu amplo apoio para a bibliografia sagrada do Antigo
Testamento sem sequer provocar um arranhão às bases de nossa historia-
grafia cristã. Foi sem dúvida uma dos maiores achados arqueológicos do
Século XX. Mais uma prova que jamais a Bíbia terá o que temer a medida
que mais sítios forem escavados. Cada vez mais a veracidade bíblica será
trazida à tona.
Texto extraído do CURSO INTERMEDIÁRIO DE TEOLOGIA – FTB
(Arqueologia Bíblica)

176
LIÇÃO 14
MANUSCRITOLOGIA DO
NOVO TESTAMENTO

LÍNGUA E MANUSCRITOS DO NOVO


TESTAMENTO

A
língua utilizada na escrita do Novo Testamento é conhecida
como grego koiné, ou grego comum. Essa língua tinha duas
peculiaridades que a tornaram estrategicamente ideal para a
expressão da revelação cristã.
Primeiro era o grego comum e não o grego clássico ou erudito. Isso
facilitou bastante a receptividade dos textos. Vale lembrar que boa parte
dos convertidos vinha das classes baixas, ainda que houvessem eruditos
e senhores de escravos envolvidos. Uma linguagem mais usual facilita
bastante a comunicação.
Em segundo lugar, o grego era a língua universal do Império Romano.
Possibilitava o entendimento entre a diversidade étnica e linguística ali
existente. O grego naquele período era o equivalendo do Latim na Europa
medieval ou do inglês no mundo moderno.
Tal condição do grego e mesmo da cultura helênica que o acompanhou,
trazendo certa uniformidade intelectual ao Império, foi resultado da visão

177
CURSO DE BIBLIOLOGIA

de Alexandre, o Grande, para o qual não bastava a conquista bélica. Era


também necessária a colonização cultural.
Era um idioma cheio de recursos linguísticos e de grande precisão
técnica. O grego chegou a ser considerado pela igreja católica como “a
língua do Espírito Santo”.

PRINCIPAIS MANUSCRITOS
O Novo Testamento tem como característica principal uma imensa
quantidade de manuscritos e evidências externas. Alguns manuscritos,
entretanto, merecem destaque. São eles:

OS PAPIROS
Produzidos quando o movimento iniciado pelos discípulos de Jesus
ainda era ilegal. Os mais antigos datam dos séculos II e III d.C. e
constituem valioso testemunho da veracidade do Novo Testamento,
pois surgiram depois de uma geração dos autógrafos originais. Há,
também, manuscritos escritos em papiro dos séculos I ao VII, embora
na maior parte do mundo o papiro já tivesse sido substituído pelo per-
gaminho. Possuímos “cerca de” 76 papiros ao todo, que contém mais
de 75% do texto do Novo Testamento.
Dentre os mais antigos, cuja importância para a manuscritologia do
Novo Testamento é imensa, os mais importantes são:

1. p52 ou fragmento de John Rylands (117 - 118 d.C.) - encontrado no


Egito, contendo parte do Evangelho de João;

2. p45, p46 e p47 ou Papiros Chester Beaty (250 d.C.) - contendo quase todo
o Novo Testamento (o p45 contém os Evangelhos e o livro de Atos dos Após-
tolos; o p46, a maior parte das cartas de Paulo; e o p47, parte do Apocalipse);

3. p66, p72 e p75 ou Papiros de Bodmer (175 - 225 d.C.) - igualmente


importantes, incluindo-se entre eles Unciais cuidadosamente impressos e
com muita clareza (o p66 contém parte do Evangelho de João e data do

178
INSTITUTO TEOLOGAR

ano 200); o fragmento p72 contém cópias de Judas e de I e II Pedro; e o p75


contém a mais antiga cópia do Evangelho de Lucas (175 d.C.).

OS UNCIAIS
Os manuscritos unciais, isto é, escritos com caracteres maiúsculos, em
velino e pergaminho. Constituem os escritos mais importantes do Novo
Testamento, dos séculos III a V. Existem “cerca de” 297 Unciais escritos
entre os séculos IV a IX, entre eles:

1. Códice Vaticano - é o mais antigo dos Unciais (325 - 350 d.C.) e


foi desconhecido dos estudiosos bíblicos até 1475, quando foi catalogado
na biblioteca do Vaticano; contém a maior parte do Antigo Testamento
(versão dos LXX) com os apócrifos e o Novo Testamento em grego;

2. Códice Sinaítico (Álefe) - data do século IV e possui poucas omissões;

3. Códice Efraimita - originou-se em Alexandria, no Egito, em cerca


de 345 d.C.;

4. Códice Alexandrino - data do século V;

5. Códice Beza ou Cambridge - cerca de 500 d.C.; é o manuscrito


bilíngüe mais antigo do Novo Testamento. Foi escrito em grego e latim;

OS MINÚSCULOS
Documentos escritos em caracteres minúsculos que datam dos séculos
IX ao XV, somando mais de 4000 documentos, entre manuscritos e lecio-
nários (livros muito utilizados nos cultos da Igreja, que continham textos
selecionados da Bíblia para leitura, incluindo o Novo Testamento).

OS LECIONÁRIOS
Eram escritos em pergaminho, preparados a fim de serem lidos nas
Igrejas. Trazem o texto do Novo Testamento em passagens selecionadas

179
CURSO DE BIBLIOLOGIA

para esse propósito. Existem cerca de 2000 desses manuscritos. Foram


escritos paralelamente aos unciais e aos minúsculos mencionados acima
e nas mesmas datas. Vale lembrar que não era possível que cada cristão
possuísse sua própria Bíblia e maioria não sabia ler.

FONTES CURIOSAS
Ainda existem pelo menos três fontes muito curiosas pelas quais os tex-
tos do Novo Testamento foram conservados e que merecem pelo menos
uma menção:

a) As ostracas
São pedaços quebrados de cerâmicas que contém trechos do Novo
Testamento. Eram utilizados pelas pessoas mais pobres que usavam a
argila como material de escrita. São fontes arqueológicas importantes,
pois diversas passagens foram conservadas por esse método, ainda que
não sejam necessariamente utilizadas para definições dos textos. Existem
pelo menos 25 delas que contém breves porções dos Evangelhos.

b) Os amuletos
Sim, textos do Novo Testamento foram usados como amuletos de boa
sorte. Isso aconteceu principalmente entre os séculos IV e XIII. Eram es-
critos em pergaminho, papiro, louça de barro e madeira. A finalidade era
espantar espíritos e a má sorte ou outra finalidade supersticiosa. Embora
o texto mais comum era a oração do Pai Nosso, diversas porções do Novo
Testamento eram utilizadas dessa forma.
De qualquer forma, independente de seu uso indevido, a conservação
de diversos textos pode ser feita desse modo.

c) Citações dos pais da Igreja


Pais da Igreja é uma expressão usada para se referir aqueles que de
alguma forma foram os sucessores dos apóstolos na proteção da doutrina
cristã. Eram em sua maioria líderes, pensadores, apologistas, escritores,
intelectuais que se colocaram em defesa do cristianismo. Eles escreveram

180
INSTITUTO TEOLOGAR

livros, cartas, discursos e nesse material fizeram inúmeras citações exatas


dos livros do Novo Testamento.
Foram tantas as citações que alguns chegam a afirmar que só com elas
seria possível reproduzir quase todo o Novo Testamento. Orígenes (254
d.C.), por exemplo, citou quase todo o Novo Testamento. Nem sempre
essas citações eram exatas, pois eram feitas de memória. Mesmo assim
constituem importante fonte de pesquisa sobre a natureza dos textos.

CONCLUSÃO
Como vemos, há abundantes fontes dos escritos neotestamentários. Na
verdade, é que nenhum outro livro da antiguidade possui tantos manus-
critos quanto o Novo Testamento. Sem considerarmos as traduções, te-
mos cerca de 5.000 manuscritos gregos que podem fornecer informações
altamente confiáveis do conteúdo dos textos originais.
As alegações de que a Bíblia foi modifica, usada tanto por alguns grupos
religiosos como mórmons e islâmicos, não tem qualquer fundamento.
Não passa de estratégia para desacreditar as Escrituras e exaltar seus livros
sagrados. Essa mesma alegação é usada também por pessoas que nada
sabem sobre esses assuntos e que se investigassem saberiam que têm às
mãos um livro mais confiável do que qualquer outro.

181
CURSO DE BIBLIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Tipo de grego utilizado no Novo Testamento


2. Conquistador responsável pela divulgação da cultura grega
3. Como a Igreja Católica considerou a língua grega
4. Cerca de 75% dos manuscritos do NT estão escritos neste material
5. Material concorrente com os papiros

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] As ostracas eram fragmentos de cerâmicas contendo trechos do NT
[ ] Os cristãos usaram amuletos com trechos do NT para se proteger
[ ] Os pais da Igreja frequentemente citavam o Novo Testamento
[ ] Orígenes foi um pai da Igreja que nunca citou o Novo Testamento
[ ] Os escritos do Novo Testamento nunca eram lidos nas igrejas

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA – LITERATURA COMENTADA


ANGLADA, Paulo. Manuscritologia do Novo Testamento. Ananindeua:
Knox Publicações, 2014.

Este tema se torna indiscutivelmente necessário, uma vez que o fundamen-


to da nossa fé está nas Escrituras Sagradas. Compreender como a mensagem
do Novo Testamento chegou até nós através de suas muitas traduções, com
certeza é um assunto indispensável. Conhecer os detalhes que envolvem o
Novo Testamento e suas traduções é a função desta obra. Para todos aqueles
que desejam se aprofundar em seu conhecimento das Escrituras.

182
LIÇÃO 15
TRADUÇÕES DAS ESCRITURAS

A
Bíblia é sem sombra de dúvida o livro mais traduzido do
mundo. Poucas são as línguas nas quais não encontraremos
ao menos uma pequena porção das Escrituras traduzidas.
A ordem de fazer discípulos de todas as nações sem dúvida é responsá-
vel por essa situação.
No entanto, nesta questão da tradução podemos fazer uma distinção
entre o Antigo e o Novo Testamento.
O primeiro, escrito em hebraico com trechos em aramaico, só passou
a ser largamente traduzido após o surgimento do Novo. Trata-se de um
livro produzido primeiramente dentro da comunidade judaica e para essa
comunidade não havia objetivo de divulgá-lo.

A SEPTUAGINTA
O significado dessa palavra é “setenta”. A abreviação dessa versão é
(LXX), sendo, às vezes, chamada de “Versão Alexandrina”, por ter sido
traduzida no reinado de Ptolomeu II Filadelfo, na cidade de Alexandria,
Egito (284 – 247 a.C.). Conta-se que setenta e dois eruditos, procedentes
da Palestina (seis de cada uma das doze tribos de Israel), que viajaram para

183
CURSO DE BIBLIOLOGIA

a Alexandria, traduziram o Pentateuco do Antigo Testamento hebraico


para o grego em setenta e dois dias.
Faz necessário salientar que, com o tempo, essa palavra viria denotar a
tradução para o grego de todo o Antigo Testamento hebraico.
Essa, talvez, seja a mais importante das versões, por sua data antiga e
influência sobre outras traduções. Além dos 39 livros do Antigo Testa-
mento, ela contém os livros conhecidos como apócrifos.

TRADUÇÕES DO NOVO TESTAMENTO


Fala-se de pelo menos dez traduções antigas do Novo Testamento para
outras línguas. Só isso já é uma demonstração do peso que os escritos
neotestamentários adquiriram nos primórdios da era cristã.

LATIM
Mesmo antes da Vulgata, que foi a versão oficial da Igreja Católica du-
rante muitos séculos, já havia traduções para o latim, língua falada pelos
soldados romanos. As primeiras traduções datam de 150 d.C. É possível
encontrar pelo menos 10 mil manuscritos em latim, o dobro dos manus-
critos em grego.

SIRÍACO
Há apenas dois manuscritos nesse idioma, mas são de grande importân-
cia. Foram datados dos séculos IV e V.

COPTA
O copta é uma língua que floresceu por volta do século III no Egito
Antigo. O alfabeto é uma versão modificada do alfabeto grego. Como lín-
gua cotidiana teve seu apogeu entre o século III e o século VI. Ainda hoje
permanece como língua litúrgica da Igreja Ortodoxa Copta e da Igreja
Católica Copta (Igreja Cristã no Egito e Etiópia). Existem duas variações
do texto do Novo Testamento nessa língua e constituem manuscritos
muito preciosos.

184
INSTITUTO TEOLOGAR

ARMÊNIO
A Armênia foi o primeiro país a tornar o cristianismo sua religião oficial
no início do século IV. Com exceção do latim, há mais manuscritos na
língua armênia do que em qualquer outra língua.

GEORGIANO
A Geórgia caucásica fica entre os mares Cáspio e Negro. Embora os
manuscritos existentes sejam do século IX é provável que as primeiras tra-
duções sejam bem mais antigas, pois receberam o Evangelho na primeira
metade do século IX.

ETÍOPE
Embora essa tradição de manuscritas seja tardia, do século XIII, há
cerca de mil manuscritos nessa língua.

GÓTICO
Ulfilas foi o missionário que traduziu a Bíblia na língua dos godos,
bárbaros que habitavam ao norte da Europa, no século IV. Ele traduziu
a Bíblia inteira, com exceção dos livros de Reis e Crônicas, pois falam
de muitas guerras e Ufilas não queria estimular ainda mais um povo
tão belicoso.

ESLAVÔNICO
São traduções do século IX em diante. É o búlgaro antigo chamado de
eslavônico antigo.

ÁRABE E PERSA
Restam poucos manuscritos nesses idiomas e têm pouca importância
para a crítica textual. Os missiólogos, que analisam o surgimento do isla-
mismo, gostam de frisar que não havia tradução viável na língua árabe nos
tempos de Maomé, abrindo espaço para literatura apócrifa e toda sorte de
distorções da doutrina cristã.

185
CURSO DE BIBLIOLOGIA

A TRADUÇÃO LATINA (VULGATA LATINA)


Por mais de mil anos, predominou, no cristianismo ocidental, uma
grandiosa tradução da Bíblia, a Vulgata Latina. Vários estudiosos haviam
traduzido as Escrituras para o latim, entretanto, foi na pessoa de Sofrônio
Eusébio Jerônimo que a versão latina se firmou.
Por volta do século III d.C., o latim começou a substituir o grego como
língua de ensino no vasto mundo romano. Um texto uniforme e confiável
era extremamente necessário para uso teológico e litúrgico. Havia muita
confusão a respeito dos textos latinos da Bíblia, considerados heréticos e
controversos. É dessa época os Concílios de Nicéia (em 325), Constantino-
pla I (em 381) e Éfeso (em 431).

AS TRADUÇÕES PARA O PORTUGUÊS (*)


A história registra que o primeiro texto bíblico traduzido para a língua
portuguesa foi produzido por Dom Diniz (1279-1325), rei de Portugal.
Exímio conhecedor do latim clássico e estudioso da Vulgata, d. Diniz
deliberou enriquecer sua língua materna traduzindo as Sagradas Escritu-
ras para o nosso idioma baseado na Vulgata Latina.
Embora lhe faltasse perseverança, traduziu do latim, do próprio punho,
vinte capítulos do livro de Gênesis, antes mesmo da tradução inglesa de
João Wycliffe, que somente em 1380 traduziu as Escrituras para o inglês.
Fernão Lopes afirmou, em seu curioso estilo de cronista do século 15,
que d. João (1385-1433), um dos sucessores de d. Diniz ao trono português,
fez grandes letrados em linguagem dos evangelhos, dos Atos dos Apósto-
los e das epístolas de Paulo, para que aqueles que ouvissem fossem mais
devotados a Deus. Esses “grandes letrados” eram padres que também se
utilizaram da Vulgata Latina em seu trabalho de tradução.
Enquanto esses padres trabalhavam, d. João I, também conhecedor
do latim, traduziu o livro de Salmos, que foi reunido aos livros do Novo
Testamento traduzidos pelos padres. Seu sucessor, d. João II, outro grande
defensor das traduções bíblicas, mandou gravar, no seu cetro, a parte final
do versículo 31 de Romanos 8: “Se Deus é por nós, quem será contra

186
INSTITUTO TEOLOGAR

nós?”, atestando, assim, o quanto os soberanos portugueses reverencia-


vam a Bíblia.
Como nessa época a imprensa ainda não havia sido inventada, os livros
eram produzidos em forma “manuscrita” fazendo-se uso de folhas de per-
gaminho. Isso tornava sua circulação extremamente reduzida. Por ser um
trabalho lento e caro, era necessário que ou a Igreja Romana ou alguém
muito rico assumisse os custos do projeto. Ninguém mais indicado para
isso que os nobres e os reis.
Outras figuras da monarquia de Portugal também realizaram tradu-
ções parciais das Escrituras. A neta do rei d. João I e filha do infante d.
Pedro, a infanta d. Filipa, traduziu do francês os evangelhos. No século
15, surgiram, publicados em Lisboa, o evangelho de Mateus e trechos dos
demais evangelhos, trabalho realizado pelo frei Bernardo de Alcobaça,
que pertenceu à grande escola de tradutores portugueses da Real Abadia
de Alcobaça. Ele baseou suas traduções na Vulgata Latina.
A primeira harmonia dos evangelhos em língua portuguesa, preparada
em 1495 pelo cronista Valentim Fernandes e intitulada De Vita Christi,
teve os seus custos de publicação pagos pela rainha Leonora, esposa de
d. João II. Cinco anos após o descobrimento do Brasil, a rainha Leonora
mandou imprimir também o livro de Atos dos Apóstolos e as epístolas
universais de Tiago, Pedro, João e Judas, que haviam sido traduzidos do
latim vários anos antes por frei Bernardo de Brinega.
Em 1566, foi publicada, em Lisboa, uma gramática hebraica para estu-
dantes portugueses. Ela trazia, em português, como texto básico, o livro
de Obadias.
No início do século 19, o padre Antônio Ribeiro dos Santos traduziu os
evangelhos de Mateus e de Marcos, ainda hoje inéditos.
É fundamental salientar que todas essas obras sofreram, ao longo dos
séculos, implacável perseguição da Igreja Romana, e de muitas delas só
escaparam um ou dois exemplares, hoje raríssimos. A Igreja Romana tam-
bém amaldiçoou a todos os que conservassem consigo essas “traduções
da Bíblia em idioma vulgar”, conforme as denominava.

187
CURSO DE BIBLIOLOGIA

João Ferreira de Almeida


Aprouve a João Ferreira de Almeida a grandiosa tarefa de traduzir, pela
primeira vez para o português, o Antigo e o Novo Testamento. Nascido
em 1628, em Torre de Tavares, nas proximidades de Lisboa, João Ferreira
de Almeida, quando tinha doze anos de idade, mudou-se para o sudeste da
Ásia. Após viver dois anos na Batávia (atual Jacarta), na ilha de Java, Indonésia,
Almeida partiu para Malaca, na Malásia, e, por meio da leitura de um folheto
em espanhol acerca das diferenças da cristandade, converteu-se do catolicismo
à fé evangélica. No ano seguinte, começou a pregar o evangelho no Ceilão
(atual Sri Lanka) e em muitos pontos da costa de Malabar.
Antes dos dezessete anos de idade, iniciou o trabalho de tradução da
Bíblia para o português, mas, lamentavelmente, perdeu o seu manuscrito
e teve de reiniciar a tradução em 1648.
Por conhecer o hebraico e o grego, Almeida pôde utilizar-se dos manus-
critos dessas línguas, calcando sua tradução no chamado Textus Receptus,
do grupo bizantino. Durante esse exaustivo e criterioso trabalho, ele
também se serviu das traduções holandesa, francesa (tradução de Beza),
italiana, espanhola e latina (Vulgata).
Em 1676, João Ferreira de Almeida concluiu a tradução do Novo Testa-
mento e, naquele mesmo ano, remeteu o manuscrito para ser impresso na
Batávia; todavia, o lento trabalho de revisão a que a tradução foi submetida
levou Almeida a retomá-lo e enviá-lo para ser impressa em Amsterdã, Holan-
da. Finalmente, em 1681, surgiu o primeiro Novo Testamento em Português.
O Novo Testamento, isto é, Todos os Sacros Sanctos Livros e Escritos
Evangélicos e Apostólicos do Novo Concerto de Nosso Fiel Salvador e
Redentor Jesus Cristo, agora traduzido em português por João Ferreira de
Almeida, ministro pregador do Sancto Evangelho. Com todas as licenças
necessárias. Em Amsterdã, por Viúva de J. V. Someren. Anno 1681.

Tradução de Figueiredo
Nascido em 1725, em Tomar, nas proximidades de Lisboa, o padre An-
tônio Pereira de Figueiredo, partindo da Vulgata Latina, traduziu integral-
mente o Novo Testamento, gastando dezoito anos nessa laboriosa tarefa.
A primeira edição do Novo Testamento saiu em 1778 em seis volumes.

188
INSTITUTO TEOLOGAR

Quanto ao Antigo Testamento, os dezessete volumes de sua primeira


edição foram publicados de 1783 a 1790.
Em 1819, veio à luz a Bíblia completa de Figueiredo, em sete volumes,
e, em 1821, ela foi publicada pela primeira vez em um só volume
Esta tradução foi aprovada pela rainha D. Maria em 1842, e pela Igreja
Católica que além de aprovar, também usou-a. Teve sua entrada em Por-
tugal, através da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira.

Matos Soares
Publicou uma tradução em 1930, baseada na Vulgata Latina, e incluiu
os apócrifos. Sua tradução contou também com comentários a favor dos
dogmas da Igreja Católica. Por isso, recebeu o apoio papal sendo a sua
tradução a mais popular da Igreja Católica.

Nova Versão Internacional


A Nova Versão Internacional faz parte de uma linha de traduções que
trabalho com aquilo que foi chamado de “equivalente dinâmico”. Levan-
do em conta as inúmeras alterações que uma língua sofre, essas traduções
têm por finalidade tornar a linguagem bíblica mais próxima da linguagem
coloquial. Embora sejam fieis ao sentido original, procuram uma proximi-
dade maior com o linguajar de seu público.

Paráfrase
As paráfrases bíblicas mais conhecidas são Bíblia na Linguagem de
Hoje, Bíblia Viva e A mensagem. Elas não podem ser encaradas como
versões bíblicas modernas, pois elas não são traduções e sim uma apre-
sentação das ideias contidas nas Escrituras. Não estão preocupadas
com a precisão da tradução e sim em comunicar o pensamento pro-
posto. Ainda que não sejam adequadas para o uso litúrgico ou mesmo
teológico, podem ser usadas em leituras pessoais e devocionais, para
esclarecer ou fornecer algum sentido para as passagens difíceis nas
traduções clássicas.

189
CURSO DE BIBLIOLOGIA

CONCLUSÃO
A Bíblia não somente é de longe o livro mais vendido e lido do
mundo, como também é o mais traduzido da história. Todos os que
entram em contato com o seu conteúdo compreendem sua linguagem
universal e a necessidade de todos os povos da terra de conhecerem
sua mensagem.
Nas últimas décadas o trabalho de tradução da Bíblia cresceu exponen-
cialmente. Não apenas pelo fato da Igreja ter enxergado quão vital é dar
aos povos a Bíblia em sua própria língua. Também pelo fato de que novas
ferramentas de tradução foram desenvolvidas.
Podemos dizer que hoje, poucos são os povos que não dispõe das Escri-
turas em sua própria língua.

190
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RESPONDA

1. Cidade onde foi produzida a Septuaginta


2. Governante grego que solicitou a tradução do AT para o grego
3. Número de traduções da Bíblia em línguas antigas
4. Número de manuscritos em latim
5. Língua dos povos que habitavam entre o Mar Negro e o Cáspio

VERDADEIRO OU FALSO
[ ] A Septuaginta foi traduzida por setecentos sábios
[ ] O latim nunca foi usado para traduzir as escrituras
[ ] A Septuaginta não continha os apócrifos
[ ] A tradução de Figueiredo é a tradução católica mais popular
[ ] A NVI é uma paráfrase
Compartilhe suas
impressões de leitura escrevendo para:
contato@autordafe.com.br

www.autordafe.com.br

Você também pode gostar