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JUÍZES

E RUTE
Lição 2

O PERÍODO DOS JUÍZES


(Juízes e Rute)

REINO
CONQUISTA JUÍZES
UNIDO

Depreende-se, do estudo do quadro acima, que o período dos juízes


abrange aproximadamente 325 anos. A cronologia escrita dos juízes soma
410 anos, mas 1 Reis 6.1 reconhece 480 anos de intervalo entre o êxodo
dos judeus do Egito e a construção do templo. Tão aparente discrepância
fica esclarecida, ao lembrarmos que havia, às vezes, simultaneidade de
mandato de juízes, e que alguns juízes exerciam sua magistratura sobre
uma área delimitada, e não sobre todas as 12 tribos de Israel.
A palavra juiz, em termos de função, tem dois significados:
1. Livrar o povo de seus opressores;
2. Resolver disputas e manter a justiça.
Durante o período dos juízes, o povo israelita não estava sob o
controle de um rei, e muitas vezes os judeus se rebelavam até contra a
autoridade de Deus. O resultado foi a anarquia, quando cada cidadão
fazia o que bem entendia. Muitos estudiosos chamam o período em
questão de a “Idade das Trevas” da história de Israel.
Surge aqui uma pergunta inevitável: qual o propósito de Deus em
fazer com que um período tão pouco edificante fosse registrado para

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memória na Bíblia? As histórias do Livro de Juízes são, na grande maioria,
deprimentes; algumas delas, cheias de violência e promiscuidade. É óbvio
que Deus quis usar tais casos como exemplos para advertência às gerações
futuras (1Co 10.11). Tais exemplos de pecados e confusão demonstram
claramente ao povo de Deus aquilo que não se deve fazer.
O Livro de Juízes serve também para corrigir o conceito errado de
que se pode adorar a Deus da maneira que quiser, ou achar mais agradável.
Deus é reto, justo e santo, e aqueles que creem Nele precisam adorá-Lo
de maneira reta, justa e santa. Os exemplos dados em Juízes mostram que
não há meio-termo espiritual para o verdadeiro crente. Conforme a lição
aprendida das duras penas sofridas pelo povo de Israel, durante o período
dos juízes, o “meio-termo” espiritual conduz fatalmente à degeneração.

Esboço da Lição

1. Ciclo do Pecado
2. Líderes Fortes na Fé
3. Líderes Vacilantes na Fé
4. Líderes Fracos na Fé
5. Líderes Fracassados na Fé
6. A Primeira História de Belém

Objetivos da Lição

Ao concluir o estudo desta Lição, você deverá ser capaz de:


1. Apontar os cinco passos do ciclo do pecado;
2. Alistar os três juízes considerados mais fortes em sua
demonstração de fé;
3. Resumir o modo como Baraque e Gideão mostraram falta de fé;
4. Indicar uma característica de fraqueza de cada um dos
seguintes juízes: Abimeleque, Jefté e Sansão;
5. Explicar em poucas palavras por que alguns dos juízes se viram
envolvidos em eventos tão ruins, sem aplicações positivas;
6. Citar as três qualificações do resgatador.

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46 TEXTO 1
CICLO DO PECADO

Problemas fundamentais
Livros Históricos

O Livro de Juízes é talvez o mais triste dos livros da Bíblia. Consti-


tui-se da história de uma nação envolvida em pecado. Esta Lição não
somente registra os pecados dos israelitas, como também explica as
causas fundamentais que resultam em pecado e fracasso.
A primeira destas atitudes erradas é identificada pela expressão,
“cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Jz 17.6; 21.25). Este
problema torna-se mais comum no decurso do Livro de Juízes, embora
apareça já no primeiro capítulo. Notamos, na descrição das conquistas
daquele tempo, que os judeus lutavam com uma atitude de autocon-
fiança, em vez de obedecerem às ordens divinas. O epílogo da lista de
vitórias israelitas é uma enumeração dos fracassos e comprometimentos,
introduzidos pelas palavras “mas” ou “porém”.
“... porém não expulsou os moradores do vale...

Porém os filhos de Benjamim não expulsaram os


jebuseus...” (Jz 1.19,21)

As tribos de Israel passaram a ignorar parte das ordens divinas,


deixando de conquistar grandes áreas que, depois, tornar-se-iam verda-
deiro “laço” ou adversário de Israel (Jz 2.3).

CARACTERÍSTICAS DO PERÍODO DOS JUÍZES hebraica cujo significado é “julgar, governar,


regulamentar”). Na Bíblia Hebraica, este livro
O período dos juízes foi marcado por caracte- é classificado entre os Profetas Anteriores.
rísticas peculiares que precisam ser compreen- É preciso que o leitor moderno saiba que a
didas pelo leitor. Embora o livro encerre o perío- função de tais juízes dos tempos bíblicos não
do de cerca de 300 anos, que sucedeu à morte se assemelhava à dos juízes atuais. Eles eram
de Josué, destacando a ação desses líderes cha- comandantes, ou líderes militares, com domí-
mados de juízes, Paulo aponta um período de nio administrativo absoluto, mas não heredi-
400 anos até o ministério de Samuel (At 13.19,20). tário, e não tinham poder para elaborar, ou
O título do livro, que figura nas versões bíbli- alterar, as leis existentes, pois eram simples-
cas modernas como Juízes, seguindo a Septua- mente os responsáveis por cumpri-las.
ginta e a Vulgata, provém do termo hebraico Se, por um lado, o tempo dos juízes é consi-
“sepher shophetiym”, um livro de juízes ou go- derado como de caráter depreciativo para Is-
vernadores, ou somente “shophetiym”, juízes rael (caracterizado pela absoluta ausência de
ou governadores (termo derivado da palavra convicção sobre coisa alguma, e em que cada
A segunda das atitudes erradas era a fraqueza da fé. O israelita 47
comum, àquela altura, era “religioso por obrigação”: temia a opinião
pública e a pressão social dos seus semelhantes, mas não tinha uma
comunhão pessoal sadia com o seu Deus. Vejamos como o povo servia a
Deus, quando chefiado por um líder forte e devotado, mas recaía durante

Lição 2 - O Período dos Juízes


os períodos em que faltava tal liderança.
“Porém sucedia que, falecendo o juiz, reincidiam e
se corrompiam mais do que seus pais...” (Js 2.19)

Tentações

Os povos cananeus mantinham um sistema religioso organizado


e suntuoso, que constituía grande tentação moral e econômica para os
judeus. A religião cananeia estimulava toda sorte de pecado flagrante
e comportamento irresponsável. A relação dos mitos que descrevem as
divindades cananeias explica por que esta foi uma das culturas mais
libertinas de toda a história humana. “A eles [os ídolos] se tornem
semelhantes os que os fazem...” (Sl 115.8).
Toda sorte de imoralidade justificava-se em nome da religião, resul-
tando na desintegração da família e na existência de uma sociedade sem
o amor verdadeiro. Crianças eram rejeitadas, mortas e enterradas no piso
das casas, ou eram oferecidas como sacrifício nos altares dos deuses pagãos.
A vingança, o ódio e o assassinato eram comuns naquela sociedade, sem
dúvida inspirados na mitologia em que ela se baseava. Até mesmo a antro-
pofagia (ato de comer carne humana) era praticada pela religião cananeia!

um fazia o que parecia direito aos seus olhos zes neste livro, Eli e Samuel também fizeram
– Jz 17.6), por outro lado, a escolha destes líde- parte deste grupo.
res não se baseava na tribo a que pertenciam,
Não obstante o autor do livro de Juízes seja
tampouco partia da vontade popular, mas da desconhecido, a descrição dos problemas da
vontade divina. Nem sempre a escolha dos juí- época sugere que foi escrito durante a monar-
zes ocorria de forma natural, sendo, portanto, quia. Na esfera política, havia isolamento das
governos exercidos meramente na condição tribos e desunião entre os seus respectivos líde-
de representantes da nação, em estrutura res, além de constante oposição dos cananeus.
teocrática, ou seja, YAHWEH era o verdadei- No âmbito social, as tribos haviam adotado os
ro rei de Israel. E, nos momentos de crise da costumes e o modo de vida dos cananeus, che-
nação, o Senhor levantava homens ou mulhe- gando a contrair casamento com eles. Por fim,
res extraordinários para libertar Seu povo da no contexto espiritual, haviam aderido ao culto
opressão dos inimigos, nem sempre de forma e à adoração a Baal, fonte de concupiscência e
contínua, mas com intervalos sem liderança. de corrupção, além de considerarem a pureza
Embora não sejam mencionados entre os juí- exigida por Deus como fardo pesado (Jz 2.16-19).
48 Já que os deuses cananeus eram tidos como divindades prote-
toras da fertilidade, incumbidas do sucesso da agricultura, os israelitas
sentiam a forte tentação de adorá-los, por motivos puramente econô-
micos. É fácil imaginar como os judeus, recém-chegados do deserto
do Sinai, tinham muito o que aprender sobre agricultura, e podiam,
Livros Históricos

erradamente, relacionar o sucesso de um experiente agricultor cananeu


com a sua religião.
Segue abaixo uma descrição dos principais deuses cananeus:
El – Chamado pai dos deuses e criador do mundo. Segundo
a mitologia cananeia, ele matou o próprio filho e as filhas.
Baal – Sua função principal era a de mandar a chuva e
garantir a fertilidade. Estava associado à primavera e à
renovação da natureza. Era, excepcionalmente, violento e
imoral.
Anate – Deusa do amor e da guerra. Seus templos
estavam repletos de prostitutas e adúlteros cultuais. A
imoralidade sexual era exigida na adoração desta deusa
e, por vezes, o seu culto requeria sacrifícios humanos,
sobretudo de crianças.
Astarote – Deusa amante de Baal; padroeira do sexo e da
guerra.

O ciclo vicioso do pecado

O capítulo 2 de Juízes termina


com um comentário acerca do
período em que os juízes dirigiam
Israel e resolviam disputas legais.
Os textos revelam que Israel ia
pa ssa ndo por diferentes ciclos
de pecado, opressão e libertação,
ficando mais corrupto e devasso
a cada ciclo. Repete-se seis vezes
a s e quênc i a de R E P OUSO,
RECAÍDA, RUÍNA, ARREPEN-
DIMENTO, RESTAUR AÇÃO e
REPOUSO.
Outro fato a ser notado é o da degeneração dos chefes israelitas e, 49
consequentemente, de todo o povo. Parece que os judeus comuns
eram incapazes de ter uma fé mais forte que a dos seus líderes. A fé do
povo era, na maioria das vezes, mais fraca que a dos chefes. Vejamos

Lição 2 - O Período dos Juízes


os casos dos seguintes juízes, observando o progressivo enfraqueci-
mento de sua fé:

1. Líderes fortes na fé: Otniel, Eúde e Sangar.

2. Líderes vacilantes na fé: Baraque e Gideão.

3. Líderes fracos na fé: Abimeleque e Sansão.

4. Líderes fracassados na fé: os dois levitas.

EXERCÍCIOS
Associe a coluna “A” à coluna “B”.

Coluna “A”

___2.01 Livro da Bíblia que conta a história de uma nação envolvida


em pecado.

___2.02 Conforme o Livro de Juízes, esta foi a segunda atitude errada


dos israelitas.

___2.03 Povo cuja imoralidade era justificada em nome da religião,


afastando do amor verdadeiro.

___2.04 Estava associado à primavera e à renovação da natureza; era


excepcionalmente violento e imoral.

Coluna “B”

A. Fraqueza da fé.
B. Baal.
C. Os cananeus.
D. Juízes.
50 TEXTO 2
LÍDERES FORTES NA FÉ (Jz 3)

Otniel (3.1-11)
Livros Históricos

A principal causa de RECAÍDA de Israel no pecado foi o casamento


daquele povo com pessoas pagãs. Em Juízes 3.4, Deus disse que as nações
vizinhas serviriam de “provação” a Israel. No versículo 6, vemos como
Israel fracassou ao ser provado. Os judeus casavam-se com descrentes e
passavam a servir aos seus deuses.
Deus, na sua graça providencial, deixou que um rei da Mesopo-
tâmia, Cusã-Risataim, invadisse a terra e derrotasse Israel (3.8). Tal
sofrimento físico fez com que o povo se arrependesse e voltasse a Deus,
pedindo restauração (3.9).
Ao ver o arrependimento de Israel, Deus mandou um juiz-liber-
tador, Otniel, sobrinho de Calebe (3.10,11). O nome dele significa
“Espírito de Leão”, o que descreve, acertadamente, as ações deste homem
de Deus. Uma das mais claras indicações de seu talento e firmeza gover-
namental é o breve relato de sua grande batalha. A brevidade do relato,
no contexto do Livro de Juízes, é só de elogio. Em geral, no Livro de
Juízes, quanto mais pecaminoso ou duvidoso o juiz, mais extenso o relato
a ele dedicado, e quanto mais piedoso, mais curta a narrativa da sua vida.
Note-se também que “o Espírito do Senhor” veio sobre Otniel,
continuando sobre ele até que a vitória fosse ganha. Este juiz não falhou
em sua responsabilidade perante Deus.

A IDOLATRIA ENTRE OS ISRAELITAS como sustentáculos da manutenção do propó-


sito messiânico de Deus.
A morte de Josué parece ter significado uma
O panteão dos cananeus era, abertamente,
quebra unilateral dos vínculos que uniam Is-
libidinoso e cruel. A adoração que lhe pres-
rael à teologia do Pentateuco, em especial
tavam os israelitas, embora de forma em-
quanto aos dois pilares que a sustentavam:
brionária, avolumou-se, tornando-se a mola
fé e obediência. A cessação das guerras e das
conquistas desencadearam um sentimento de propulsora que levou Israel ao cativeiro. Este
comodidade que, por sua vez, promoveu duas cenário é visto em todo o livro, conforme o au-
grandes transgressões da aliança com Deus: tor descreve em Juízes 10.6, relacionando cin-
os casamentos com os habitantes da terra e o co nações cujos deuses os hebreus passaram
politeísmo, que formam a espinha dorsal teo- a adorar: “... e aos deuses da Síria, e aos deu-
lógica do livro de Juízes. Por outro lado, dois ses de Sidom, e aos deuses de Moabe, e aos
outros grandes temas teológicos permeiam- deuses dos filhos de Amom, e aos deuses dos
-no: o juízo e o subsequente livramento divino, filisteus...” (ênfase do autor).
Eúde (3.12-30) 51

Não se pode ignorar um indício de degeneração nesta história.


Em contraste com a vitória definitiva conquistada por Otniel, a de
Eúde foi algo suspeito por causa da maneira como foi ganha. Seria

Lição 2 - O Período dos Juízes


fácil indagar como é que Deus pôde ver com agrado as ações de Eúde.
Mas devemos lembrar que, por todo o Livro de Juízes, as ações dos
homens é que são salientadas, e não as de Deus. Neste caso, Deus
responsabilizou-se pela vitória dos israelitas, mas não foi Ele quem
escolheu a tática empregada.
Após 40 anos de repouso, o povo tinha recaído no pecado. Conse-
quentemente, Deus permitiu que o rei Eglom, de Moabe, derrotasse
Israel, trazendo os judeus novamente ao arrependimento e à restauração.
Mais uma vez, Deus atendeu ao clamor do Seu povo, mandando-lhe um
libertador chamado Eúde. Infelizmente, Eúde praticou uma manobra
ardilosa para atingir o fim desejado. Na ocasião em que levou um tributo
ao rei dos moabitas, ao despedir-se deste, disse-lhe que tinha para ele uma
mensagem particular da parte de Deus. Eúde e o rei cananeu passaram
ao palácio para conversar. Josefo, historiador judeu, lembra-nos de que
isto se deu durante o verão, quando, após o meio-dia, os guardas costu-
mavam estar fora de seus postos, no interior do palácio.
É interessante saber que Eúde era canhoto. Tal fato constituía uma
vantagem na guerra (Jz 20.16) e nos planos sinistros de Eúde, pois os
guardas vigiavam sempre a mão direita das pessoas, para ver se desco-
briam nela alguma arma escondida.

Não que Deus fizesse vistas grossas aos de- Em 2 Reis 23.10, somos informados de que Jo-
mais, mas dois desses, que mais contribuíram sias destruiu esta imagem que já havia chegado
para a posterior ruína de Israel e de Judá e seus ao lado externo das portas de Jerusalém, local
consequentes cativeiros, foram, sem dúvida, conhecido como vale do filho de Hinom ou Tofete,
Baal (deus dos filisteus) e Moloque (criado pe- ora significando o ídolo, ora o próprio local. Mas
los amonitas, mas adotado principalmente pe- foi Jeremias, como instrumento de Deus, que, por
los sidônios, ou fenícios). Embora Baal tenha se nada menos que sete vezes, expôs a repulsa de
tornado abominável pelas suas liturgias imorais, Deus por este dito culto (Jr 7.31,32; 19.6,11,12,13,14).
Moloque, o deus dos filhos de Amom e adota- Esta prática acendeu a ira de Deus a tal pon-
do pelos fenícios, foi o mais abominável, pois o to, que este local, conhecido como vale dos
seu culto envolvia o sacrifício de crianças vivas, filhos de Hinom, tornou-se, nos Evangelhos,
queimadas no ventre da estátua que o repre- símbolo do inferno e de condenação eterna,
sentava, como uma grande fornalha, na qual Is- visto que Jesus muitas vezes referiu-se a ele
rael passou a oferecer os seus infantes. Manas- chamando-o pelo nome grego Geena, traduzi-
sés engrossou esta lista, oferecendo o seu filho. do como inferno.
52 Estando a sós com o rei num recinto do palácio, Eúde puxou o
punhal e matou o monarca. Os guardas esperavam fora, pois não queriam
interromper a conversa particular do seu rei. Enquanto isso, Eúde fugiu,
passando por entre os ídolos no corredor. (Note esta segunda referência
aos falsos deuses cananeus, em contraste com o único Deus verdadeiro).
Livros Históricos

Eúde convocou seus homens de guerra e conquistou uma vitória decisiva,


antes que o inimigo pudesse se organizar após a perda do seu chefe.
Eúde, o herói ardiloso, foi um juiz forte. Durante a sua vida, o povo
não pecou (4.1); mesmo assim, ele é qual símbolo de declínio espiri-
tual de Israel. A sua tática para obter a vitória através de uma mentira
acerca de Deus contrasta fortemente com a vitória anterior, alcançada
por Otniel com a unção do Espírito Santo.

Sangar (3.31)
O juiz Sangar mereceu apenas uma simples referência no texto das
maravilhas: o versículo 31. Mas, como já notamos, isto é um sinal favorável,
pois indica um juiz bom e piedoso, que entrou de boa vontade na guerra para a
libertação de Israel. Como Sansão, ele foi um grande herói, que matou centenas
de soldados inimigos. Na vitória ganha por Sansão, Deus usou a queixada de
um jumento; no caso de Sangar, foi utilizada uma aguilhada de bois.
Estudaremos, a seguir, sobre uma estaca de tenda que trouxe grande
vitória a Israel. Estes casos fazem-nos lembrar que as vitórias obtidas por Deus
não dependem de perícia ou recursos humanos, mas do próprio poder divino.

EXERCÍCIOS
Marque “C” para certo e “E” para errado.
___2.05 O povo de Israel, em pecado, sofreu a investida do rei da Mesopo-
tâmia, Cusã-Risataim, que, invadindo a terra, derrotou Israel.
___2.06 O nome Otniel significa “Espírito de Tigre”, o que descreve
acertadamente as ações de tal homem de Deus.
___2.07 Eúde foi um valente libertador, que conduziu o povo à vitória
sobre o rei dos moabitas, Eglom.
___2.08 Apenas Juízes 3.31 menciona Sangar. Foi ele um juiz piedoso
que, de boa vontade, entrou na luta pelo povo israelita,
matando centenas de soldados inimigos.
TEXTO 3 53
LÍDERES VACILANTES NA FÉ (Jz 4–8)

Baraque e Débora (4,5)

Lição 2 - O Período dos Juízes


O ciclo de declínio de Israel
começou após a morte de Eúde. Com
o aumento do pecado nacional, Deus
permitiu que o rei Jabim derrotasse Israel.
A nação padeceu 20 anos de opressão,
antes que Deus levantasse um novo liber-
tador, chamado Baraque (4.6).
Embora fosse comandante do
exército israelita, Baraque não se associa
diretamente à vitória conquistada na
guerra. Isto por causa da sua incrível
dúvida e falta de confiança: Baraque
recusou entrar nas batalhas, a menos que fosse acompanhado pela juíza
Débora. Por isso ele não merece louvor pela vitória de Israel (4.9). O
medo evidenciado por Baraque simboliza o enfraquecimento do governo
de Israel. Baraque foi o mais notável cidadão israelita daquele tempo,
mas negou-se a entrar na luta sem o apoio de uma mulher.
No início, a batalha parecia totalmente perdida para os israelitas.
Além de ser muito mais numeroso, o inimigo possuía 900 carros de
guerra. Esses “tanques” portavam, nos dois lados, fileiras de foices, o que
de fato os tornavam armas formidáveis contra qualquer exército.
Podemos imaginar o espanto de Sísera, chefe das forças cananeias,
ao ver os céus gotejarem água e a terra estremecer sob as rodas dos seus
carros de guerra! Abandonando os carros atolados na lama, Sísera fugiu
com seus soldados em repentina debandada.
O general Sísera deparou com um grupo de queneus, amigos dos
cananeus. Supondo ser o arraial deles lugar seguro onde se esconder
(4.17), Sísera deitou-se para dormir na tenda de Jael. Mas acontece que
Jael, esposa do queneu Héber, simpatizava com os israelitas. Enquanto
Sísera dormia, ela apanhou uma estaca da sua tenda e cravou-a na fronte
de Sísera. Por causa do seu ato corajoso, Jael, e não Baraque, é conside-
rada heroína desta guerra vencida por Israel (4.9).
54 Vale a pena ler com atenção o cântico vitorioso da juíza Débora. Ela
frisa que a vitória foi certa porque “o povo se ofereceu voluntariamente”
(5.2). Frente a uma situação difícil, os israelitas animavam-se com as
palavras de Débora: “Desperta, desperta, entoa um cântico...” (5.12). O
resultado foi uma notável vitória em nome do Senhor.
Livros Históricos

Gideão (6–8)

Durante 40 anos, Israel desfrutou de um período de repouso. Mas,


conforme o ciclo vicioso típico da sua conduta, o povo caiu de novo no
pecado. Desta vez, Deus permitiu que os midianitas nômades afligissem
os israelitas. A cada safra, os midianitas saqueavam a colheita do que fora
plantado e cultivado por Israel. Os israelitas passaram a esconder-se em
grutas rochosas e em esconderijos nas montanhas.
O juiz escolhido por Deus para libertar Israel foi Gideão. Costumamos
pensar nele como um herói inigualável. Caso ele não tivesse alcançado a
vitória que alcançou, seria lembrado apenas como um indivíduo de fé fraca
e de muitas dúvidas. A maior parte do capítulo 6 reflete estas dúvidas.
Os que citam a peleja de Gideão como exemplo de fé ignoram ser
ele a real expressão de profundas dúvidas e medo, mesmo depois que
Deus lhe apareceu, pessoalmente, para garantir-lhe a vitória. Mas Deus
não quis destacar o coração vacilante de Gideão. Antes, viu o seu poten-
cial como homem valoroso e Se empenhou em ajudá-lo a desenvolver a
fé, garantindo-lhe: “O Senhor é contigo, homem valoroso!” (6.12).
Antes de entrar na batalha, Israel precisava de uma limpeza na vida
moral. A própria família de Gideão mantinha um altar dedicado a Baal
e um poste-ídolo consagrado a Aser (v. 25), os quais Gideão derrubou
logo após ouvir a voz de Deus, erigindo, em seu lugar, um altar ao
Deus vivo. Este ato angariou-lhe o nome Jerubaal, que significa “aquele
que combate a Baal” (6.32). Se nos lembrarmos que apenas 300 israe-
litas foram escolhidos por Deus como fiéis verdadeiros para emprego na
batalha, veremos como era baixo o nível de fé em Israel, naquele tempo.
São bem conhecidos os detalhes da vitória obtida por Gideão. Basta
dizer que, mais uma vez, Deus demonstrou não depender de forças
humanas; em Sua onipotência, obtém as maiores vitórias.
Infelizmente, o que foi escrito posteriormente à inesquecível vitória
de Gideão é uma triste manifestação da sua fraqueza como líder espiritual.
Ele tomou os brincos de ouro dos midianitas derrotados e utilizou-os para 55
adornar uma veste sacerdotal. Sem dúvida, pensou que a tal estola simbolizaria
o poder divino e estimularia o povo a adorar o Deus vivo. Talvez fosse louvável
a intenção de Gideão, porém, na prática, falhou miseravelmente. Deus queria
que o Seu povo O adorasse por amor e devoção voluntários. A consequência

Lição 2 - O Período dos Juízes


do ato de Gideão foi que os israelitas abandonaram o tabernáculo de Deus e
passaram a adorar a própria estola sacerdotal desse juiz, em Ofra (8.27).

EXERCÍCIOS
Associe a coluna “A” à coluna “B”.

Coluna “A”
___2.09 Com o aumento do pecado nacional, Deus permitiu que Israel
fosse derrotado por este rei.
___2.10 Israel padeceu vinte anos de opressão, antes que este novo
libertador fosse levantado por Deus.
___2.11 Em plena batalha, abandonou os carros atolados na lama e
fugiu com seus soldados em repentina debandada.
___2.12 Após serem afligidos pelos midianitas nômades, os israelitas
contaram com um novo libertador:
Coluna “B”
A. Sísera.
B. Gideão.
C. Jabim.
D. Baraque.

TEXTO 4
LÍDERES FRACOS NA FÉ (Jz 9–16)

Abimeleque (9)

Tão logo morreu Gideão (Jerubaal), o povo de Israel recaiu em


pecado. Desta vez, Deus aplicou o castigo divino usando elementos da
56 própria nação. Abimeleque, um dos filhos de Gideão, tornou-se um juiz
hostil ao povo de Deus. Ele é lembrado como:
a) o primeiro juiz não disposto a lutar pela liberdade do seu povo;
Livros Históricos

b) o primeiro juiz que realmente oprimiu Israel; daí em diante,


os israelitas não se submeteriam totalmente a nenhum juiz,
até os dias de Samuel.
Abimeleque persuadiu a cidade de Siquém a apoiá-lo como juiz
de Israel. Com o dinheiro adquirido como contribuição dos habitantes
daquela cidade, ele contratou um bando de desordeiros e transformou-os
em seu exército particular. Com a ajuda destes soldados mercenários,
ele matou os próprios irmãos e foi declarado rei em um dos centros
de idolatria (9.6). Abimeleque representa a péssima condição religiosa
de Israel naquele tempo. Veja, no texto que relata a sua carreira, as
abundantes referências a deuses pagãos e a ausência de referências ao
Deus verdadeiro.
Após três anos de opressão, Israel rebelou-se contra Abimeleque.
Num ato de vingança, este atacou a cidade de Siquém, que o fizera
juiz no início de sua carreira. Foi morto por uma pedra de moinho,
lançada por uma mulher pela janela de uma torre, na cidade de Tebes
(Jz 9.50,53). Esta história nos ensina uma valiosa lição: é inútil tentar
liderar o povo sem a ajuda de Deus.

Jefté (10–12)

Mais uma vez, lemos no Livro de Juízes: “Tornaram os filhos


de Israel a fazer o que era mau aos olhos do Senhor... deixaram ao
SENHOR e não o serviram” (10.6). Mais uma vez, por causa do amor
e compaixão por Seu povo, Deus permitiu que se levantasse perseguição
contra Israel. Durante 18 anos, os filisteus e amonitas oprimiram a Israel.
Mais uma vez os israelitas se arrependeram, destruíram seus deuses falsos
e renovaram a aliança com Deus.
Jefté, filho de uma meretriz, foi obrigado a sair de casa, e tornou-se
chefe de um bando de mercenários. Sob a pressão da crescente perse-
guição sofrida pelo povo, os anciãos israelitas escolheram Jefté para
chefiar Israel. Por causa da péssima condição espiritual do povo, mesmo
um mercenário mau e vingativo parecia um chefe capaz e digno dos
eleitos de Deus.
Deve-se salientar, aqui, que Jefté se converteu em um homem 57
piedoso, e sobre ele veio o Espírito de Deus (11.29). Ele costumava orar
antes de entrar nas batalhas e dedicou-se totalmente a Deus.

Sansão (13–16)

Lição 2 - O Período dos Juízes


Ao período de calma após o juizado
de Jefté, seguiu-se uma época de insta-
bilidade nacional em Israel. Entre Jefté
e Sansão, houve três juízes de menor
expressão, que conduziram o povo por
um breve espaço de tempo.
Nos dias de Sansão, Israel estava
sob a influência do pecado e da opressão
dos seus inimigos, os filisteus. Desta vez,
porém, não houve arrependimento nem
descanso. As heroicas proezas de Sansão
são bem conhecidas. Contudo, devemos indagar: como é que o Espírito
de Deus poderia vir sobre um homem tão falho como Sansão?
Primeiramente, lembremo-nos de que, embora os crentes da atual
dispensação desfrutem da plenitude do Espírito Santo, este Espírito
sempre atuou na vida de homens e mulheres piedosos, em todos os
tempos (Sl 51.11).
Notemos que o Espírito de Deus veio sobre Sansão de uma maneira
diferente daquela evidenciada na vida dos demais juízes, como Otniel e
Jefté. A Bíblia diz que o Espírito repousava “sobre” eles (Jz 3.10; 11.29).
Tal expressão sugere certa permanência, não apenas algo momentâneo.
No caso de Gideão, a Bíblia diz que o Espírito “revestia” (6.34), isto
é, cercava-o e protegia. Outra expressão hebraica é empregada com
referência a Sansão, onde se diz que o Espírito “se apossou dele” (14.19).
Isto implica algo repentino, um poder totalmente externo, que se
manifestava inesperadamente nele, em momentos oportunos.
Outra pergunta que nos preocupa é: como pôde Deus usar um
homem de caráter tão fraco como Sansão? O povo de Israel encontra-
va-se no mais baixo nível espiritual, e Sansão simbolizava uma nação
derrotada. Este homem foi usado por Deus naquele momento da história
de Israel, não por seus méritos pessoais, mas por causa da aliança divina
com os seus antepassados.
58 EXERCÍCIOS
Assinale com “x” a alternativa correta.
2.13 Abimeleque, juntamente com os habitantes de Siquém, organizou
seu exército particular, contratando para isto
Livros Históricos

___a) um grupo de homens de bem.


___b) um bando de desordeiros.
___c) fiéis servos de Deus.
___d) Nenhuma das alternativas está correta.

2.14 Após a experiência com Abimeleque, o cap. 10 de Juízes menciona


que os filhos de Israel
___a) já não mais desobedeceram à voz do Senhor.
___b) tornaram a fazer o que era mau perante o Senhor.
___c) entraram em guerra civil.
___d) foram amaldiçoados por Deus.

2.15 Nos dias de Sansão, Israel estava sob a influência do pecado e da


opressão dos seus inimigos,
___a) os filisteus.
___b) os amorreus.
___c) os saduceus.
___d) os jebuseus.

TEXTO 5
LÍDERES FRACASSADOS NA FÉ (Jz 17–21)
Como já notamos na Lição 2, o Livro de Juízes ensina, por meio
de exemplos negativos, a verdade sobre as péssimas consequências do
pecado. Os últimos cinco capítulos retratam os pecados nacionais mais
ultrajantes da época dos juízes de Israel, salientando ainda mais as lições
práticas que o Livro ensina.
Nas últimas narrativas da série, vemos que os líderes israelitas já não
são juízes, mas levitas, membros da tribo sacerdotal de Levi. Os relatos
do governo dos dois levitas descrevem pecados extremos: furto (17.2),
idolatria (17.5), imoralidade (19.1,2), e homossexualismo (19.22).
Sacerdotes à venda (17,18) 59

A primeira história narra o caso de Mica, que roubou dinheiro


da própria mãe, e ela amaldiçoou o ladrão desconhecido. Com medo
da maldição, o filho confessou o pecado. A mãe fez esculpir um ídolo

Lição 2 - O Período dos Juízes


com a prata roubada e devolvida. Com este ídolo, a família inventou
uma religião particular e contratou um sacerdote para prestigiar a nova
seita. O tal “sacerdote” não era fiel a Deus, nem ao seu patrão. Por
isso, quando viu passar uma caravana de danitas, em busca de uma
nova terra de promissão (havendo eles fracassado na ocupação da terra
que lhes fora dada em herança por Deus), o sacerdote uniu-se a eles,
levando consigo o ídolo de prata.
No triste epílogo desta narrativa, lemos que os danitas juraram
fidelidade ao “sacerdote” e passaram a cultuar ao seu ídolo. A facilidade
com que mudavam de uma religião para outra reflete a falta de fé no
Deus verdadeiro.

Um levita inicia uma guerra civil (19–21)

O último e pior incidente narrado em Juízes 19 é o de um levita


e sua concubina. Ela o deixara, tornara-se infiel, e retornara à casa do
pai, em Belém de Judá. O marido foi buscá-la e, ao voltarem para casa,
passaram por uma cidade judaica, pensando que seria menos arriscado
pernoitar lá do que numa das vilas dos gentios. Porém, nesta cidade
de nome Gibeá, estando hospedados em casa de um benjamita, foram
cercados por um grupo de homossexuais que queriam o levita. Diante
da situação, em troca do levita, foi-lhes oferecida a sua concubina. Na
manhã seguinte, ela foi encontrada morta. Os levitas clamaram às
demais tribos por justiça. Ao receberem das outras tribos um ultimato
para entregarem os criminosos nas mãos dos levitas, os benjamitas prefe-
riram, com certa arrogância, defenderem-se com armas. Estourou, pois,
uma guerra civil, na qual morreram milhares de israelitas, e a tribo de
Benjamim quase foi aniquilada.
Ao final desta funesta narrativa, o Livro de Juízes conclui, abrup-
tamente, com o seguinte comentário:
“Naqueles dias não havia rei em Israel; porém
cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos.”
(Jz 21.25)
60 Compare-se esta citação à advertência dada por Moisés, séculos
antes, à geração que conquistaria Canaã:
“Não fareis conforme a tudo o que hoje fazemos
aqui, cada qual tudo o que bem parece aos seus
Livros Históricos

olhos.” (Dt 12.8)

EXERCÍCIOS
Marque “C” para certo e “E” para errado.

___2.16 Os últimos cinco capítulos de Juízes retratam os piores


pecados nacionais e os mais ultrajantes da época dos juízes
de Israel.
___2.17 A mãe de Mica mandou esculpir um ídolo da prata roubada,
e assim a família inventou uma religião particular.
___2.18 O Livro de Juízes termina dizendo: “Naqueles dias não havia rei
em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos”.

TEXTO 6
A PRIMEIRA HISTÓRIA DE BELÉM (Rute)
Esta narrativa do casamento de dois antepassados de Jesus Cristo
teve lugar em Belém. A história constitui uma afirmação animadora do
fato de Deus, mesmo durante a triste época dos juízes, estar operando
constante e fielmente para cumprir a promessa da vinda do Messias
Redentor. No Livro de Rute, vemos como Deus usou um grupo remanes-
cente de fiéis para realizar Seus planos, mesmo quando toda a nação de
Israel tinha abandonado ao seu Senhor.

Noemi – Israel desviado

Noemi e sua família simbolizam a


condição espiritual extremamente enfraque-
cida de Israel naquele tempo. A nação eleita,
que iniciara sua existência com uma herança
tão nobre e completa, já estava em perigo
de perder totalmente essa herança. É interes-
sante que até os nomes dos personagens desta
história encerram o significado da tragédia de se abandonar o Deus 61
Supremo. Elimeleque (Deus é rei) e Noemi (agradável ou ditosa) saíram
de Belém, rumo a um remoto país gentio. Abandonar a terra de Israel
significava abandonar Deus e todas as Suas promessas.

Lição 2 - O Período dos Juízes


Em Moabe, Elimeleque e seus dois filhos, Malom (doente) e
Quiliom (destruição) vieram a morrer. Após a morte dos três, Noemi
fez os preparativos para a sua volta a Israel. Uma das duas noras, Orfa,
resolveu ficar em Moabe. Mas a outra, Rute (amiga), optou por acompa-
nhar Noemi e confessou sua fé no único Deus verdadeiro. Ao chegarem
as duas a Belém, Noemi pediu que seus antigos amigos não mais a
chamassem de Noemi (agradável, ditosa), e sim Mara (amarga), tão
difícil lhe fora a permanência da família em Moabe, alheia à vontade
divina (1.20-21).

A PRIMEIRA HISTÓRIA DE BELÉM e Amom, progenitores de duas nações que re-


ceberam seus nomes, tornando-se, porém, ini-
A teologia do livro de Rute é admirável, deixan- migos irreconciliáveis dos filhos de Israel.
do-nos estupefatos ao contemplarmos os de-
Assim Neemias testemunha sobre estas duas
sígnios de Deus na linha histórica de Israel, para
nações: “Naquele dia leu-se no livro de Moisés,
fazê-lo a nação pela qual viria o Messias. Poucos
aos ouvidos do povo; e achou-se escrito nele
livros do Antigo Testamento nos apresentam de
que os amonitas e os moabitas não entrassem
forma tão real o cabal cumprimento das palavras
jamais na congregação de Deus, porquanto não
de Isaías 55.8,9: “Porque os meus pensamentos
tinham saído ao encontro dos filhos de Israel
não são os vossos pensamentos, nem os vossos
com pão e água; antes contra eles assalariaram a
caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.
Balaão para os amaldiçoar; porém o nosso Deus
Porque assim como os céus são mais altos do que converteu a maldição em bênção” (Ne 13.1,2).
a terra, assim são os meus caminhos mais altos do
A referência deste texto é ao livro de Núme-
que os vossos caminhos, e os meus pensamentos
ros, no retorno de Israel do Egito. Notemos que
mais altos do que os vossos pensamentos”.
Moabe foi mais longe ao fazer os filhos de Is-
Para podermos contemplar a beleza desse rael se prostituírem com suas filhas em Sitim,
livro, é necessário voltarmos ao capítulo de- tornando-se um embaraço maligno e constan-
zenove de Gênesis, onde lemos sobre a saída te para Israel. No próprio livro de Juízes não
de Ló de Sodoma, quando o Senhor a destruiu. foram poucas as vezes em que os moabitas
Após a transformação de sua esposa em uma afligiram a Israel, nos dias de Eude e de Jefté.
estátua de sal, e ao chegar ao local conhecido
como Zoar, Ló teve o dissabor de ser embria- O escritor do livro, possivelmente Samuel,
gado pelas próprias filhas e adormecer, acor- descreve este evento de cerca do ano 1100 a.C.,
dando, porém, com a sensação de uma terrível no qual, paradoxalmente, Deus decide se utili-
tragédia. Durante sua embriaguez e estado de zar de um casamento ilícito de um hebreu com
inconsciência, suas duas filhas, propositalmen- uma moabita, ato condenado por Ele para, atra-
te, tiveram relações com o pai, ato que Deus vés desta jovem, de cujo segundo casamento
abominou. Contudo, dessas relações nasceram descendeu o rei Davi, dar sequência à linhagem
dois meninos. Suas mães os chamaram Moabe da qual viria o Redentor, o Senhor Jesus Cristo.
62 Rute – a nova convertida

Rute é um excelente exemplo da graça de Deus outorgada a um


gentio que demonstra fé Nele. Segundo a Lei, o povo do qual descendia
Rute fora amaldiçoado (Dt 23.3). Mas a maldição da Lei não alcançaria
Livros Históricos

Rute, em virtude da sua confissão de fé: “Aonde quer que tu fores irei
eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo,
o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16).
Observemos que a redenção de Rute foi resultado de uma espécie
de colaboração entre ela e Deus. Ela buscou a face do Senhor e Deus a
conduziu ao seu “redentor”. Note as implicações da orientação divina
nestas palavras, “...e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que
era da família de Elimeleque” (2.3).
É interessante notar, também, que semelhante operação da graça
divina deu-se no caso de Raabe, mãe de Boaz. Como Rute, Raabe estava
condenada a morrer juntamente com seu povo, mas, em virtude da sua fé,
recebeu a salvação física e espiritual. Como milagre, estas duas mulheres
merecem menção nominal na linhagem de Jesus Cristo (Mt 1.5).

Boaz – o redentor (resgatador)

Noemi e Rute estavam em uma situação realmente precária. Sendo


viúvas, careciam de apoio financeiro e material. Por isso, Rute colhia,
em fazenda vizinha, as espigas deixadas pelos segadores. Uma solução ao
dilema destas duas mulheres seria encontrar algum parente rico, disposto
a resgatar ou redimir (comprar de novo) a herança perdida e casar-se
com Rute, mantendo assim a linhagem familiar. Tal parente, chamado
“resgatador”, deveria satisfazer três requisitos para desempenhar seu papel
(Lv 25.23-25; Gn 38.8):
1. Ter direito – ser parente próximo;
2. Ter posses – ser suficientemente rico para comprar a
terra ou libertar, mediante pagamento, a pessoa em
questão. (Boaz significa “homem de posses e poder”);
3. Ter vontade – estar disposto a pagar, voluntariamente,
o preço do resgate.
Boaz satisfazia todos estes requisitos. Além disso, ele achava impres-
sionante a fé de Rute (2.11,12) e amava a jovem viúva. Pago o preço do
resgate, Boaz casou com Rute. Seu filho Obede veio a ser avô de Davi e 63
elemento importante na linhagem de Jesus Cristo (4.17).
Vemos em Noemi um símbolo, ou tipo, de Israel, que quase perdeu
sua herança, mas depois recuperou-a, voltando a gozar de profunda vida

Lição 2 - O Período dos Juízes


espiritual (4.15). Vemos em Rute um símbolo da Igreja, composta de
gentios que participam, pela fé, da herança de Israel (1Pe 1.3,4). Boaz
representa Jesus Cristo, que se tornou o parente próximo de todos nós
(mediante Sua encarnação), e que pôde pagar o resgate (Seu perfeito
sacrifício) em remissão dos nossos pecados, oferecendo de boa vontade
esse preço tão alto, por causa do Seu amor por Israel e por Sua Igreja.
“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como
prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira
de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, mas
com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro
imaculado e incontaminado”. (1Pe 1.18,19)

EXERCÍCIOS
Associe a coluna “A” à coluna “B”.
Coluna “A”
___2.19 Conforme o Livro de Rute, vieram a morrer em Moabe.
___2.20 Chegando em Belém, Noemi (agradável, ditosa) quis que seus
amigos passassem a chamá-la desta forma.
___2.21 A maldição que pesava sobre o seu povo não pesou sobre ela,
devido à sua confissão de fé.
___2.22 Representa Jesus Cristo, nosso parente próximo (mediante Sua
encarnação); pagou o nosso resgate (Seu perfeito sacrifício),
em remissão dos nossos pecados.

Coluna “B”
A. Rute.
B. Elimeleque, Malom e Quiliom.
C. Boaz.
D. Mara (amarga).
64 REVISÃO DA LIÇÃO
Marque “C” para certo e “E” para errado.

___2.23 As tribos de Israel ignoraram parte das ordens divinas,


deixando de conquistar áreas que se tornariam em laço ou
Livros Históricos

adversário de Israel.
___2.24 Eúde foi um juiz forte. Durante a sua vida o povo não pecou;
todavia, ele simboliza declínio espiritual de Israel.
___2.25 Débora, a juíza, frisa que a vitória foi certa porque “o povo
se ofereceu voluntariamente...”.
___2.26 Devido à desobediência, os filhos de Israel foram oprimidos
por dezoito anos pelos filisteus e amonitas.
___2.27 A facilidade com que mudavam de uma religião para outra
reflete a falta de fé dos danitas no Deus verdadeiro.
___2.28 Em Noemi, vemos um tipo de Israel; em Rute, temos o
símbolo da Igreja.

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