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As Doze Tribos de

Israel e os 144.000

Stephen N. Haskel

Edições Vida Plena


Itaquaquecetuba, SP, Brasil
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Dados Internacionais de Catalogação na
Publicação (CPI)
(Câmara Brasileira do Livro)

Haskel Stephen Nelson, 1833-1922.


As doze tribos de Israel e os 144.000 / Stephen
N. Haskel; tradução Davi Paes Silva. —
Itaquaquecetuba, SP: Editora Missionária, 1995.
1. Doze tribos de Israel 1. Título.
95-1188 CDD-933

Título do original norte-americano: THE TRIBES OF ISRAEL (Seção IX do livro THE


CROSS AND ITS SHADOW)

Editor e Tradutor: Davi Paes Silva


Diagramador: Júlio César B. Silva
Capa: Emerson S. Freire

1a Edição
2a Tiragem: 2.000 exemplares
julho/07

Edições Vida Plena


Editora Missionária "A Verdade Presente"
Rua Flor de Cactus, 140 — Jd. Qta. da Boa Vista
Cx. Postal 75—CEP 08570-970
Itaquaquecetuba, SP.
(11)2198-1800

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

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Índice

O autor ....................................................................................... 05
Prefácio...................................................................................... 06
Rúben ........................................................................................ 07
Simeão ....................................................................................... 10
Levi............................................................................................ 13
Judá............................................................................................ 16
Naftali ........................................................................................ 19
Gade........................................................................................... 21
Aser ........................................................................................... 23
Issacar ........................................................................................ 25
Zebulom .................................................................................... 27
José ............................................................................................ 29
Benjamim .................................................................................. 32
Manassés ................................................................................... 35
Os 144.000 ................................................................................ 37
As tribos perdidas ...................................................................... 41

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O Autor

Stephen Nelson Haskel (1833-1922), foi evangelista e administrador. Começou


pregando para os Adventistas não guardadores do Sábado na Nova Inglaterra em 1853, e
mais tarde no mesmo ano começou a guardar o Sábado. Em 1850 casou-se com Mary How,
que em 1869 ajudou na organização da primeira Sociedade Missionária Vigilante. Após uma
obra auto-sustentada na Nova Inglaterra, em 1870 ele foi ordenado e tornou-se presidente
da Associação da Nova Inglaterra (1870-1876, 1877-1887). Em 1870 organizou a primeira
Sociedade Missionária e de Publicações e, em seguida, organizou sociedades similares em
vária partes do leste dos Estados Unidos. Foi presidente da Associação da Califórnia (1879-
1887) e também da Associação do Maine (1884-1886) durante este período, e parte desse
tempo esteve fora do país.
Em 1885 esteve a seu cargo um grupo que foi enviado para abrir a obra denominacional
na Austrália. Sua pregação na Nova Zelândia atingiu o clímax com a formação do primeiro
grupo ASD naquele país. Em 1887, com três instrutores bíblicos iniciou a obra ASD cm
Londres, na Inglaterra, e lá organizou uma igreja. Fez uma volta ao mundo a serviço da Obra
Missionária em 1889 a 1890, visitando a Europa Ocidental, o Sul da África, a índia, a China,
o Japão e a Austrália. Uns vinte e oito anos mais tarde, em 1918, num relatório à Conferência
Geral, contou que naquela viagem pelo mundo batizou uma pessoa na China e outra no
Japão, as primeiras nesses países (ver Review and Herald, 99:17, de 14/12/1922). Não
restam outros relatórios desses batismos, nem historiadores posteriores da história
denominacional ASD os mencionam. De novo foi presidente da Associação da Califórnia
de 1891-1894. Sua primeira esposa faleceu em janeiro daquele ano. Novamente na Austrália
(1896- 1899), empenhou-se na obra evangelística e ensinou Bíblia na escola Avondale. En-
quanto ali esteve desposou Hetty Hurd, em fevereiro de 1897. Outro dos atos "primeiros"
de Haskel foi a organização da primeira igreja para pessoas de cor na cidade de Nova Iorque
(1902). Após isso, dirigiu uma série de preparo bíblico e evangelístico no Tennessee e na
Califórnia, e mais uma vez serviu como presidente da obra na Califórnia (1908-1911).
Dirigiu a obra de Temperança no Maine (1911), começou a imprimir livros para Os
cegos (1912), e ajudou a desenvolver o Hospital Memorial White (1916). Até próximo de
sua morte deu assistência a instituições e reuniões campais e promoveu a obra da
denominação em geral. Sua obra escrita inclui The Story of Daniel the Prophet, The Storv
of the Seer of Patmos e The Cross and Its Shadow. Este livro que estamos publicando em
português, As Doze Tribos de Israel e os 144.000 é a última parte do livro The Cross and
Its Shadow.

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Prefácio

A Bíblia é muitas vezes comparada, com muita propriedade, a uma rica mina de ouro
e outros Metais preciosos. Em muitos casos, parte do tesouro é encontrada logo à superfície,
mas sempre a maior e melhor porção está na parte mais profunda da mina.
Muitos pesquisadores superficiais se contentam com as "pepitas" encontradas em uma
procura cômoda, sem se aprofundar na mina. Bem por isso, grande número deixa de lado a
Palavra de Deus e morre espiritualmente à Mingua, quando à sua disposição está um tesouro
incalculavelmente valioso.
Stephen N. Haskel foi um pesquisador incansável e profundo da Palavra de Deus. Este
livro é constituído apenas da IX seção de seu livro THE CROSS AND ITS SHADOW (A
CRUZ E SUA SOMBRA).
Sem dúvida, este opúsculo ajudara o leitor a descobrir profundos veios na mina da
Palavra de Deus.
Muitas ideias equivocadas sobre as doze tribos de Israel e os 144.000 assinalados serão
desfeitas mediante a leitura deste livreto.
Estamos convictos de que o estudo das características das doze tribos do Israel antigo
servirá de conforto e oferecerá preciosas lições às "doze tribos" que compõe o atual Israel
de Deus que cm breve tomará posse da Canaã celestial.

Os Editores

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Rúben

O Senhor dá nomes aos indivíduos de acordo com o caráter que possuem e, desde que
Ele escolheu os nomes dos doze filhos de Jacó – dos quais procederam as doze tribos de
Israel –como nomes das doze divisões dos cento e quarenta e quatro mil, deve haver alguma
coisa no caráter dos filhos de Jacó e das doze tribos de Israel dignas de estudo cuidadoso.
Ha um objetivo no significado dos nomes que o Senhor dá às pessoas. O nome de Jacó
não foi mudado para Israel até que, após longa e exaustiva luta, ele tivesse prevalecido com
Deus e os homens. (Gn. 32:24- 28). Foi depois de José ter entregado todas as suas posses
para suprir as necessidades da causa de Deus que foi chamado de Barnabé ou "filho da
consolação". (At 4:36, 37).
O grupo dos cento e quarenta e quatro mil, que serão redimidos dentre os homens
quando o Salvador vier, e que por toda a eternidade seguirão "o Cordeiro para onde quer
que vá", entrarão na cidade de Deus dispostos em doze companhias, cada uma portando o
nome de uma das doze tribos de Israel (Ap. 14:1-4; 7:4-8). Desses exemplos concluímos
que havia um significado especial nos nomes dados aos doze filhos de Jacó.
Em toda família dos antigos israelitas, o filho mais velho herdava, como direito de
primogenitura, uma porção dobrada das propriedades de seu pai, e a honra de oficiar como
sacerdote na casa de seu pai; e –o que era para todo verdadeiro filho de Abraão de maior
valor que dignidade ou posição terrestre – ele herdava a primogenitura espiritual, que lhe
dava a honra de ser progenitor do Messias prometido.
Mas Rúben, o mais velho dos doze filhos de Jacó, à semelhança de seu tio Esaú, avaliou
levianamente o seu direito à primogenitura e, numa hora de imprudência, cometeu um
pecado que o desqualificou para sempre de todos os direitos temporais e espirituais de
primogênito. Cometeu adultério com a mulher de seu pai, um pecado que Paulo afirma "que
nem mesmo entre os gentios (ou ímpios) se vê" (1 Co 5:1; Gn. 49:4). Por causa desse pecado,
o direito à primogenitura –a porção dobrada da herança terrestre de Jacó – foi dada a José
(1 Cr 5:1). O sacerdócio foi confiado a Levi (Dt. 33:8-11) A Judá, o quarto filho de Jacó,
foi conferida a honra de tornar-se o progenitor de Cristo (1 Cr 5:1, 2).
Jacó, no seu leito de morte, descreveu o caráter que Rúben devia ter possuído como
primogênito: "Rúben, tu és meu primogênito, minha força e as primícias do meu vigor,
preeminente em dignidade e preeminente em poder." Podemos imaginar o tom patético da
voz do velho patriarca quando descrevia o caráter que possuía de fato o seu primogênito,
aquele que podia ter recebido o respeito de todos –"descomedido como a água, não reterás
a preeminência" (Gn. 49:3, 4).
Ha, na história de Rúben, traços da "preeminência cm dignidade" que originalmente
lhe foi conferida como demonstrado por sua amabilidade ao trazer para casa as mandrágoras
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para a sua mãe (Gn. 30:14), e na tentativa de salvar a vida de José, quando seus irmãos
decidiram matá-lo (Gn. 37:21, 22, 29; 42:22).
Rúben era de caráter vacilante, "instável como a água". Seu pai tinha pouca confiança
em suas palavras, pois quando seus irmãos desejaram levar Benjamim ao Egito, Jacó não
levou em consideração o compromisso de Rúben de trazer Benjamim com segurança a seu
pai. Mas quando Judá prometeu ficar por fiador em lugar do rapaz, Jacó aceitou a proposta
(Gn. 42:37, 38; 43:8, 9).
A natureza instável de Rúben parece ter sido transmitida aos seus descendentes. O
mesmo caráter egoísta foi mostrado pela tribo de Rúben ao desejarem tomar posse da
primeira terra conquistada depois de terem saído do Egito. Moisés evidentemente leu os
seus motivos no pedido, embora lhes tenha assegurado suas possessões no "outro lado do
Jordão". Como resultado do seu pedido, eles foram os primeiros a ser levados cativos à
Assíria por Tiglate-Pileser, rei da Assíria, por volta de 740 a. C. (Nm. 32:1-33; 1 Cr 5.26).
As palavras proféticas do patriarca: "Não reterás a preeminência", cumpriram-se na
história da tribo de Rúben. Esta tribo não forneceu nenhum juiz, profeta ou herói a não ser
Aclima e seus trinta homens, que foram reconhecidos entre Os valentes do exército de Davi
(1 Cr 11:42). Sem dúvida, esses homens estavam entre os cento e vinte mil das tribos de
Rúben, Gade e Manassés, que subiram a Hebrom para constituir Davi rei sobre Israel (1 Cr
12:37, 38).
Datã e Abirão, da tribo de Rúben, com o levita Coré, se destacaram na rebelião que
instigaram no acampamento de Israel. Sua destruição foi uma lição objetiva acerca do
destino de todos os que seguirem conduta semelhante (Nm. 16:1; Dt. 11:6).
O território escolhido pelos rubenitas colocou-os bem próximo de Moabe. As cidades
da herança de Rúben – Hesbom, Elcale, Quiriataim, Neho, Baal-Beom, Sibmá, –são-nos
conhecidas como cidades moabitas e não como cidades israelitas.
Não é estranho que Rúben, de tal maneira distante da sede central do governo na nação
e da religião nacional, abandonasse a fé de Jeová. "Eles seguiram após os deuses dos povos
da terra a quem Deus destruíra diante deles", e pouco mais ouvimos da tribo de Rúben até
que Anel, rei da Assíria, tomasse posse de seu território por algum tempo (2 Rs. 10:32, 33).
Quando, como tribo, haviam totalmente deixado de executar a obra que Deus pretendia
fizessem em sua própria terra, o Senhor permitiu que Pul e Tiglate-Pileser os levassem ã
região montanhosa da Mesopotâmia, onde permaneceram até que, ao fim dos setenta anos
de cativeiro, os representantes das doze tribos foram de novo reunidos na terra da promessa
(Ed. 6:17; 8:35; Ne. 7:73).
A história da tribo é um registro de fracassos na execução dos propósitos de Deus.
Como Rúben, o primogênito, tivera a oportunidade de permanecer na liderança, assim a
tribo de Rúben, localizada nas fronteiras de Moabe, podia ter-se provado fiel a Deus, e sido
um farol para guiar Os pagãos ao Deus verdadeiro. Mas eles, à semelhança de Rúben, seu
pai, foram -instáveis como a água".
Embora o patriarca e seus descendentes deixassem de cumprir Os propósitos de Deus,
ainda assim o nome de Rúben seria imortalizado, pois, através de toda a eternidade, os
incontáveis milhões de remidos lerão esse nome em um dos portais de pérola da Nova
Jerusalém. Dote mil dos cento e quarenta e quatro mil serão dessa classe, e entrarão no reino
de Deus sob o nome de Rúben.

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Como pode alguém ser honrado desse modo, quando segundo as aparências foi um
fracasso em vida? Este é o grande mistério da piedade. Como pode um ladrão, cuja vida foi
um verdadeiro naufrágio, estar com o Salvador no paraíso? É pelo poder de Cristo, o
Redentor que perdoa Os pecados.
Quando Moisés pronunciou sua bênção de despedida sobre as tribos de Israel, disse de
Rúben: "Viva Rúben, e não morra; e não sejam poucos os seus homens." (Dt. 33:6).
Podemos admirar-nos de como a um caráter "instável como a água" se possa aplicar "viverá
e não morrerá". Mas o curso seguido por Rúben por ocasião da grande crise de Israel explica
como pode tal pessoa tornar-se vencedora.
Por ocasião da batalha do Megido, que em muitos aspectos é um tipo da batalha final
do Armagedom, afirma-se que "junto aos ribeiros de Rúben, grandes foram as resoluções
do coração." (Jz. 5:16). Eis o segredo de toda a questão.
Há multidões de homens e mulheres no mundo de hoje com caracteres semelhantes ao
de Rúben. São "instáveis como a água", sem força alguma em si mesmos para empreender
qualquer boa coisa. Mas se começarem a esquadrinhar fervorosamente seus corações,
descobrirão sua própria fraqueza. Caso se voltem para Deus, Ele os salvará e pronunciara
sobre eles, como fez a Rúben, na antiguidade, que tal pessoa "viva, e não morra".

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Simeão

Simeão foi o segundo filho de Leia, a esposa não amada de Jacó. Era homem de paixões
fortes. Sua vida e a da tribo que leva o seu nome, contêm algumas das mais negras manchas
da história do antigo Israel. O pecado que mais se destacou na vida de Simeão foi o as-
sassínio dos homens de Siquém, (Gn. 34). Levi estava associado a Simeão nessa obra ímpia,
mas Simeão parece ter sido o mentor do plano, pois o registro sagrado sempre lhe menciona
o nome em primeiro lugar quando se refere àquele pecado.
Há algo de patético naquele acontecimento como um todo. O príncipe de Siquém havia
desonrado Diná, a única filha de Jacó. É fácil imaginar como uma única irmã fosse amada
e estimada por seus irmãos, e especialmente pelos filhos de Leia, que era também a mãe de
Diná. Quando Jacó reprovou Simeão e Levi pelo assassínio, sua única resposta foi: "Devia
ele tratar nossa irmã como a uma prostituta?" (Gn. 34:31).
Evidentemente, o amor por sua irmã impeliu-os ao ato de vingança. Eles também
desejavam resgatá-la, pois Diná fora seduzida à casa do príncipe de Siquém, e, após o
assassínio, Simeão e Levi levaram-na consigo de volta para casa. (Gn. 34:26).
As palavras dirigidas a Simeão por Jacó mostram que Deus não passa por alto o pecado
em quem quer que seja. O fato de que sua única irmã lasse desonrada não era desculpa para
cometerem aquele terrível ato de vingança.
Quando os filhos de Jacó se reuniram ao redor do leito de seu pai para receber sua
bênção de despedida, a visão de Simeão e Levi trouxe de maneira vívida à memória do
moribundo patriarca os detalhes daquela chacina cometida cerca de quarenta anos atrás, e
ele exclamou: "Simeão e Levi são irmãos. As suas espadas são instrumentos de violência.
No seu concílio não entres, ó minha alma." E como se recuasse diante do simples pen-
samento de que seu nome fosse manchado pelo procedimento ímpio deles, continua: "Com
a sua assembleia não te ajuntes, ó minha glória! Porque no seu furor mataram homens, e na
sua teima jarretaram bois. Maldito o seu furor, porque era forte. Maldita a sua ira, porque
era cruel! Dividi-los-ei em Jacó, e os espalharei cm Israel." (Gn. 49:5-7).
Ambas as tribos foram "divididas" e "espalhadas". Mas de quão diferente maneira. Os
levitas ocuparam posições de honra, e foram espalhados pelo país como educadores
religiosos e sacerdotes. A dispersão da tribo de Simeão surgiu de elementos corruptos da
própria tribo, que teve seu número reduzido e finalmente resultou em afastá-los de sua
herança.
Quando a terra foi dividida entre as diferentes tribos, Simeão não recebeu porção
alguma, mas como a porção de Judá era grande demais para aquela tribo, permitiu-se a
Simeão ocupar uma parte da herança de Judá. Posteriormente, alguns dos simeonitas foram
obrigados a procurar novo território e, desse modo, foram separados do restante de seus
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irmãos. (1 Cr 4:27, 39, 42).
Nos escritos dos antigos doutores judeus afirma-se que a tribo de Simeão ficou tão
confinada em suas possessões que um grande número dos simeonitas foi forçado a buscar
subsistência entre as outras tribos no trabalho de ensinar os filhos destas. De fato eles foram
divididos em Jacó e espalhados em Israel.
Quando Israel foi numerado na região do Sinai, Simeão contava com 59.300 homens
de guerra. Apenas duas tribos a superavam em força. Mas quando Israel foi novamente
numerado em Sitim, Simeão era a mais fraca das tribos, contando apenas 22.200. Por que
essa grande mudança? Os homens mais fortes de Simeão não sacrificaram suas vidas no
campo de batalha, guerreando pela honra de Deus: Foram mortos por causa da li-
cenciosidade de seus próprios corações. O vigésimo quinto capítulo de Números relata a
triste história da ruína de Simeão. Depreende-se do registro que os principais homens de
Simeão foram os líderes daquela grande apostasia. Tornaram-se presa das prostitutas de
Midiã. De fato, "ela a muitos tem feito cair feridos; e são muitíssimos os que por ela foram
mortos." (Pv 7.26).
Salomão, o mais sábio dos homens, que por três vezes foi chamado "o amado de Deus",
tornou-se escravo de suas paixões, e desse modo sacrificou a sua integridade ao mesmo
poder enfeitiçam-te. (Ne. 13:26).
As praias da corrente do tempo estão juncadas de naufrágios de caracteres que
encalharam na rocha da condescendência com a sensualidade. Israel tornou-se presa da
licenciosidade antes de serem levados à idolatria. Quando os desejos licenciosos dominam
o coração, outros pecados se seguem rapidamente.
"Bem-aventurados os limpos de coração" (Mt 5:8). "O que domina o seu espírito (é
melhor) do que o que toma uma cidade" (Pv 16:32); mas "como a cidade derribada, que não
tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito." (Pv 25:28).
Alguns supõem que a omissão do nome de Simeão das bênçãos de Moisés, devida à
desaprovação do líder visível de Israel ao comportamento daquela tribo em Sitim.
Pouco se diz da posição tomada por essa tribo quando o reino foi dividido, mas há duas
referências que parecem indicar que sua simpatia ficou com o reino de Israel. (2 Cr 15:9;
34:6).
A mesma disposição destemida e belicosa manifestada nos impetuosos pecados
cometidos por Simeão, foi na vida de Judite usada para a proteção do povo de Deus.
Não se sabe ao certo se o livro apócrifo que traz o nome desta é uma história ou um
romance histórico, mas pelo que se conclui do seu relato, Judite permanecerá sempre como
uma das proeminentes figuras entre os libertadores da sua nação. Ela, à semelhança de Jael,
matou o líder do exército inimigo (Judite 13:6-9). Encorajou-se para a sua formidável
façanha mediante uma oração ao "Senhor Deus de meu pai Simeão." Também em sua oração
ela se referiu ao massacre de Siquém (Judite 9:2).
A história de Judite que, à semelhança de Ester, arriscou a vida em favor do livramento
de seu povo, está em agradável contraste com o registro do ímpio caminho seguido por
Simeão e seus descendentes.
No Targum Pseudo-Jonathan, Simeão e Levi é que planejam secretamente a morte do
jovem José; e Simeão amarrou José antes que este fosse baixado ao poço em Dotai. Isso

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ocorreu apenas cerca de dois anos após os mesmos homens haverem planejado e executado
o assassínio dos homens de Siquém. Devem ter sido trazidos todos esses fatos de maneira
bem vívida à mente de José quando ele se pôs diante de seus irmãos e ordenou que Simeão
fosse amarrado como refém na presença de todos os que o tinham visto amarrar a José com
a intenção de matá-lo. (Gn 42:19-24).
Pode parecer estranho a alguns que o nome de um homem que ficou famoso apenas
por causa do crime e do pecado fosse inscrito em um dos portões da santa Cidade de Deus,
e que um dozeavos dos cento e quarenta e quatro mil que entrarão na cidade de Deus leve o
nome daquele homem. Mas o fato de que alguém haja cometido pecado jamais o excluirá
do reino de Deus. Todos pecaram. É o pecado não confessado que impede a qualquer pessoa
receber a vida eterna.
Jesus é o único Ser sem pecado nascido de mulher. Somente Ele, de toda a família de
Adão, terá por toda a eternidade um registro de vida descoberto. Parte alguma de seu registro
será coberta. Mas o registo de nossa vida, marcado pelo pecado, será coberto pela justiça de
Cristo. O sangue de Cristo pode purificar do pecado mais abjeto, e até assassinos podem
entrar no Céu. Não como assassinos, mas como pecadores perdoados; pois "ainda que
vossos pecados são como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são
vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã." (1s 1:18).
Recolhidos dentre o pecado e impiedade da última geração, haverá doze mil redimidos
que, mediante a virtude do sangue de Cristo, serão enxertados na tribo de Simeão e, através
de toda a eternidade, representarão essa tribo na Terra renovada.

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Levi

Quando Leia deu à luz seu terceiro filho, disse: "Agora esta vez se unirá meu marido a
mim, porque três filhos lhe tenho dado. Portanto lhe chamou Levi" ou "unido". (Gn 29:34)
Pouco compreendeu Leia, em sua ânsia pelo amor de seu marido, como aquele pequeno
bebê cumpriria o significado do seu nome num sentido muito mais amplo que o por ela
antecipado, e ajudou a unir os filhos de Israel ao seu grande Marido, o Criador de todas as
coisas. (Is 54:5).
O nome de Levi parecia uma profecia de trabalho vitalício de toda a tribo. Como
Satanás, através da inveja e do ciúme, apartou Leia da afeição de seu marido, visou também
arruinar Levi persuadindo-o a unir-se a Simeão no vingar o erro cometido contra a sua irmã.
(Gn 34).
As palavras de Jacó em seu leito de morte revelam a magnitude do crime, e como o
Senhor o considerou. O coração do velho pai ficou agitado à lembrança do fato, e ele
exclamou: "No seu concílio não entres, ó minha alma! Com a sua assembleia não te ajuntes,
ó minha glória!... "Maldito o seu furor, porque era forte; maldita a sua ira, porque era cruel!"
E então, como se não suportasse pensar no crescimento deles como forte tribo na qual se
perpetuasse o crime, exclamou: "Dividi-los-ei em Jacó, e os espalharei em Israel." (Gn 49:6,
7). Foi mais parecido com uma maldição do que com uma bênção, contudo, quando um
pecador se arrepende e se volta de seus pecados, nosso Deus inverte mesmo as maldições
em bênçãos, e esse foi o caso de Levi. (Ne 13:2).
Não há nada a indicar que a tribo de Levi tivesse qualquer preeminência sobre as outras
tribos durante a escravidão egípcia. É bem evidente que o plano original de o primogênito
oficiar como sacerdote da família continuou até o acampamento no Sinai.
"Certos mancebos dos filhos de Israel ofereceram holocaustos e sacrifícios ao Senhor"
naquela ocasião. (Ex 24:5). No Targum Pseudo-Jonathan, está expressamente afirmado:
"Ele enviou os primogênitos dos filhos de Israel, pois ainda naquele tempo a adoração era
oficiada pelos primogênitos porque o tabernáculo ainda não estava construído, nem o
sacerdócio havia sido dado a Arão."
O caráter é formado pela maneira como as pessoas reagem aos fatos comuns do dia a
dia; mas é provado pelo modo como elas enfrentam as crises da vida. No Sinai o povo de
Deus atravessou uma das maiores crises na história da Igreja, quando toda a multidão de
Israel adorou o bezerro de ouro. Foi nessa ocasião, quando o próprio Deus estava pronto
para destruir Israel, que a tribo de Levi se apresentou e, mediante sua fidelidade, ajudou a
salvar a causa de Deus.
Quando Moisés desceu do monte e deparou com os filhos de Israel adorando o bezerro
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de ouro, prostrou-se à entrada do acampamento, e proclamou: "Quem está ao lado do
Senhor, venha a mim. Ao que se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi. Então ele lhes
disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a coxa; e
passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu
amigo, c cada um a seu vizinho. E Os filhos de Levi fizerem conforme a palavra de Moisés."
(Ex 32:26-28).
Por ocasião desta crise, a honra de Deus e Sua causa foram mais caras aos levitas que
qualquer conexão humana: irmãos, companheiros ou amigos, ninguém se interpôs entre eles
e seu dever para com Deus. Como recompensa por sua fidelidade, o sacerdócio – uma porção
do direito de primogenitura – foi confiado aos filhos de Levi. O que Rúben perdeu pela
infidelidade no lar de seu pai, Levi ganhou por permanecer fiel a Deus diante de todo o
Israel.
Jacó em seu leito de morte denunciou os pecados de Levi, mas Moisés, em sua bênção
de despedida, exaltou-o acima dos demais. De Levi ele afirmou: "Sejam teu Tumim e o teu
Urim para o teu homem santo, que provaste em Massá, com quem contendeste junto às
águas de Meribá; aquele que disse de seu pai e de sua mãe: Nunca os vi, e não reconheceu
a seus irmãos, e não conheceu a seus filhos; pois esses levitas guardaram a Tua Palavra e
observaram o Teu pacto. Ensinarão os Teus preceitos a Jacó e a Tua lei a Israel; chegarão
incenso ao Teu nariz, e porão holocausto sobre o Teu altar. Abençoa o seu poder, ó Senhor,
e aceita a obra de suas mãos." (Dt 33:8-11).
Desde a queda do homem, cada lar havia celebrado sua adoração com um sacerdote de
seu próprio meio. Quando chegou o tempo para mudar esse método de adoração, Deus o fez
de maneira tal que deu a todo o Israel uma compreensão completa do assunto.
Os primogênitos de todo o Israel foram contados e somaram 22.000. Então a tribo de
Levi foi numerada e havia 22.273. Desse modo os levitas superaram o número de
primogênitos; assim o preço da redenção pelo primogênito – "cinco ciclos por cabeça", foi
pago pelos 273 levitas – o número pelo qual eles superaram os primogênitos. (Nm 3:46-49).
Então todos os levitas foram separados para a sua obra vitalícia.
A soma dos números dada no terceiro capítulo de Números para cada uma das três
divisões da tribo de Levi é 22.300. Compreende-se que esses 300 extras foram os
primogênitos de Levi e, como tais, já haviam sido consagrados, e não podiam tomar o lugar
dos outros.
O tabernáculo era um sinal para os filhos de Israel do seu Rei invisível, e os levitas
eram como que uma guarda real que O escoltava. Quando o povo estava acampado, os
levitas eram os guardiões da tenda sagrada. Quando viajavam, apenas Os levitas conduziam
tudo que pertencesse ao santuário.
Quando Israel entrou na terra prometida, ã tribo de Levi não foi dada herança alguma.
Não se esperava que eles gastassem seu tempo e força no cultivo do solo e na criação de
gado. O bem-estar espiritual de todo o Israel devia estar sob sua responsabilidade e, para
que pudessem de maneira mais fácil realizar esse trabalho, foram dadas aos levitas quarenta
c oito cidades espalhadas entre todas as doze tribos, e o dízimo era utilizado para o seu
sustento. (Nm 18:20, 21). A profecia de Jacó foi cumprida: Eles foram "divididos em Jacó
e espalhados em Israel".
A história do templo e dos seus serviços é uma história dos levitas. Quando Deus foi

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honrado pelo Seu povo, foi dada aos levitas uma obra determinada, mas quando entrou a
apostasia, os levitas foram obrigados a procurar outra ocupação para a sua manutenção.
Levi, à semelhança das outras tribos, teve uma história acidentada. Nem todos foram
fiéis a Deus, mas a tribo continuou a existir em Israel ao tempo de Cristo, e teve um
representante digno entre Os primeiros apóstolos na pessoa de Barnabé. (At 4:36).
Foi por ocasião de uma crise que os levitas obtiveram sua grande vitória. Em uma crise
as decisões são tornadas rapidamente. Muitos fracassam em tais ocasiões por não terem
caráter cristão independente. Estão acostumados a seguir os líderes cm quem confiam, e não
têm 'Orça individual alguma. Aquele que sempre se mostra fiel em tempo de crise, deve ter
uma conexão clara com o Deus do Céu, e temer mais a Deus que ao homem.
Moisés e Arão são os dois mais famosos personagens da tribo de Levi. Havia notável
constraste entre os dois homens. Moisés permaneceu como uma forte rocha contra a qual as
ondas batem continuamente. Arão era mais tolerante e, de vez em quando, deu a impressão
de vacilante. Contudo, Arão era de caráter forte, embora diferente de seu irmão.
A prova máxima de Arão ocorreu quando seus dois filhos foram consumidos no
tabernáculo porque, sob a influência de bebida forte, ofereceram fogo estranho diante do
Senhor. A Arão não foi permitido manifestar qualquer sinal de pesar, ensinando, desse
modo, ao povo que Deus era justo ao punir malfeitores, mesmo que fossem seus próprios
filhos.
Essa não foi uma prova pequena e, depois de estudar Lv 10:1-11, podemos
compreender melhor como, não obstante os crimes cometidos na antiga vida de Levi, o
Senhor podia falar de Arão como "o santo do Senhor". (Sl 106:16). Um dozeavos dos cento
e quarenta e quatro mil estarão enfileirados sob o nome de Levi. Serão pessoas que, devido
ao pecado, mereceram apenas maldição, mas que abandonaram o pecado e, enquanto todos
ao seu redor estavam hesitando e caindo, permaneceram fiéis a Deus e à Sua causa e
receberão uma rica bênção das mãos de um Deus misericordioso.

15
Judá

O nome ou a linhagem, separados do caráter, não tem peso nos registros do Céu. Por
haver Rúben deixado de cultivar um caráter digno de primogênito –o único habilitado ao
direito de nascimento tanto no sentido espiritual como temporal -- suas bênçãos lhe foram
tiradas e dadas a outros que desenvolveram caracteres dignos delas.
A José, que se tornara um famoso administrador, foi dada porção dobrada da herança
de seu pai – o direito temporal; mas requeria mais que simples habilidade de controlar
grande riqueza o ser empossado na primogenitura espiritual e tornar-se o progenitor do Mes-
sias.
Os registros afirmam que Judá, o quarto filho, "foi poderoso entre seus irmãos, e dele
veio o Príncipe" (1 Cr 5:2). Jacó, em seu leito de morte, pronunciou as proféticas palavras:
"O cetro não de arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a Ele
obedecerão Os povos." (Gn 49:10).
Como Judá prevaleceu sobre seus irmãos e deste modo herdou a primogenitura
espiritual? Esse é um assunto digno de cuidadoso estudo de todo aquele que deseja uma
parte na grande primogenitura espiritual pela qual nos podemos tornar hoje herdeiros da
herança eterna. Não temos registro algum de haver Judá prevalecido sobre seus irmãos pela
força das armas. Mas um estudo cuidadoso da vida dos doze filhos de Jacó revela o fato de
que Judá foi um líder. Quando ele se ofereceu para ficar como garantia em lugar de
Benjamim, Jacó permitiu que Benjamim fosse levado ao Egito, embora o oferecimento de
Rúben houvesse sido recusado (Gn 43:8-13; 42:37, 38).
Ao chegarem Jacó e sua família ao Egito, "enviou Judá adiante de si a José para que
soubesse encaminhá-lo a Gósen." (Gn 46.28).
Quando os filhos de Jacó estavam em grande perplexidade porque o governador do
Egito exigiu que Benjamim ficasse como refém, foi Judá quem defendeu sua causa tão
fervorosamente que José removeu o seu disfarce e se deu a conhecer a seus irmãos. (Gn
44:1434; 45:1-3).
Mediante estrita integridade ao princípio, Judá havia conquistado a confiança de seu
pai e de seus irmãos. A história toda está contada na bênção pronunciada sobre Judá por seu
idoso pai justamente antes de sua morte: "Judá, teus irmãos te louvarão; a tua mão estará
sobre a serviz de teus inimigos; os filhos de teu pai se inclinarão a ti." (Gn 49:8).
Seus irmãos se inclinaram diante de José, mas as circunstâncias eram diferentes. A
riqueza e a posição de José, adquiridas em uma terra estrangeira, deram-lhe preeminência.
Mas Judá conquistou o respeito de seus irmãos no contato do dia a dia da vida doméstica.

16
Esta confiança não surgiu num momento, mas dia a dia sua estrita integridade conquistou o
respeito deles até que, de livre e espontânea vontade, não por força de circunstância, eles o
louvaram e se inclinaram diante dele. Uma vida de conflitos e vitórias sobre as tendências
egoísticas de seu coração estão ligadas às palavras: "Judá, teus irmãos te louvarão."
É digno de nota que Judá prevaleceu sob as mesmas circunstâncias em que Rúben
fracassou. Não foram Os pecados cometidos contra o público que excluíram Rúben dos
privilégios de primogênito. Ele mostrou-se infiel na vida doméstica. Não teve consideração
pela honra de sua própria família.
Seu pai e seus irmãos não puderam confiar nele na vida privada deles. No mesmo lar,
rodeado pelas mesmas tentações e pelo mesmo ambiente, "Judá, na verdade, foi poderoso
entre seus irmãos, e dele veio o Príncipe." (1 Cr 5:2).
Doze mil dos cento e quarenta e quatro mil estarão na cidade santa sob o nome de Judá
(Ap 7:5) —pessoas que, em ocasião de perplexidade, foram reconhecidas por seus irmãos
como líderes fiéis.
"Judá é o leãozinho, da presa subiste, filho meu. Encurva-se, e deita-se como leão, e
como leoa; quem o despertará?" (Gn 49:9). Nestas palavras Jacó dá a impressão de que seria
mais fácil conquistar um leão do que vencer alguém com o caráter de Judá; que seria tão
seguro despertar um leão velho como contender com alguém que permanecesse firme em
sua integridade a Deus.
O caráter de Judá é daqueles que podemos anelar —daquela firmeza que não renunciará
a nossa integridade cristã, mas saberá com segurança que o Senhor é conosco quando somos
assaltados por Satanás e todas as suas hostes (Mt 7:24, 25).
Judá é mencionado mais freqüentemente nas Escrituras que qualquer outro dos doze
patriarcas, com exceção de José. Dos cinco Filhos de Judá, dois morreram sem filhos, mas
dos três filhos restantes surgiu a mais forte tribo de Israel.
No Sinai, os filhos de Judá eram em número de 74.600. Evidentemente
desempenharam uma parte muito pequena, se é que lhes coube alguma, na apostasia em
Sitim, onde o número de Simeão foi grandemente reduzido, pois Judá contava 76.500
quando deixaram Sitim para entrar na terra prometida.
A tribo de Judá ocupou, entre as outras tribos, uma posição semelhante à que seu
progenitor ocupara na sua família paterna. Foi-lhes confiado o cuidado do sacerdócio. As
nove cidades ocupadas pelas famílias de Aarão, os sacerdotes, estavam todas dentro do
território de Judá e Simeão. As restantes das 48 cidades ocupadas pelos levitas estavam
espalhadas por toda parte entre as outras tribos.
Judá era uma tribo independente. Após a morte de Saul, não esperaram que as outras
reconhecessem Davi como rei, mas o coroaram rei de Judá, e Davi reinou sobre eles por sete
anos e meio antes que fosse coroado rei sobre todo Israel (2 Sm 2: 4, 11).
Após a morte de Salomão, Judá e Benjamim permaneceram fiéis à descendência de
Davi e formaram o reino de Judá. Esse reino conservou sua própria terra por cerca de 142
anos depois que o reino de Israel foi levado cativo para a Assíria (2 Rs 17:6,- 2 Cr 36:17-
20).
A Zedequias, rei de Judá, foi dada a última oportunidade de salvar a cidade santa de
cair nas mãos dos pagãos, mas ele fracassou, e Judá, a tribo real, foi levada cativa para

17
Babilônia (Jr 38:17-20).
O cetro jamais se apartou de Judá de modo completo até que veio Siló. Herodes, o
último a reinar sobre os judeus, morreu poucos anos após o nascimento de Cristo. Em seu
primeiro testamento, Herodes apontou Antipas como seu sucessor, mas em seu último
testamento nomeou Arquelau para reinar em seu lugar. O povo estava disposto a receber
Arquelau, mas posteriormente se revoltou. Arquelau e Antipas foram a Roma para apresen-
tar suas pretensões diante de César. Este não confirmou nem um nem outro, mas enviou
Arquelau de volta à Judéia como etnarca (Mt 2:19-22), com a promessa da coroa se ele se
provasse digno desta, mas jamais a recebeu. Desse modo a terra foi "desamparada de seus
dois reis" durante a infância de Cristo, conforme fora profetizado por Isaías (Is 7:14-16).
A tribo de Judá forneceu uma galáxia de nomes famosos na história sagrada. Nenhuma
outra tribo supriu o mundo com tal número de homens de Deus. No topo da lista está o
incomparável nome –Jesus de Nazaré, o Leão da tribo de Judá.
A grande fé e desassombrosa coragem de Calebe tem sido uma inspiração para homens
de todas as eras. No vigor de sua vida sua fé era forte. Quando outros homens viram apenas
gigantes de dificuldades na via de acesso à terra, ele afirmou: "Eia, subamos, e possuamos
a terra, porque certamente prevaleceremos contra ela." (Nn 13:30). Com a idade de oitenta
e cinco anos, na força de Deus, desalojou os inimigos da fortaleza de Hebrom. (Js 14:6-15;
15:13-15).
Davi tem sido honrado acima de todos os reis terrestres ao ser considerado como um
tipo de Cristo, e a Inspiração chama o Salvador de "O Filho de Davi" (Mt 21:9). Judá
forneceu vários outros reis que, rodeados por todas as tentações da vida palaciana,
permaneceram fiéis a Deus.
Após o cativeiro, quando por um tempo parecia como se o Israel de Deus estivesse
quase apagado da Terra, quatro jovens de Judá, fiéis ao caráter leonino de sua tribo,
arriscaram suas vidas de preferência a contaminar-se com os manjares da mesa do rei de
Babilônia. (Dn 1:8).
Poucos anos mais tarde, três desses homens permaneceram sem temor diante do rei de
Babilônia, dizendo: "Fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses." (Dn 3:18). Em
cumprimento da promessa feita cerca de cem anos antes, o Senhor caminhou com aqueles
três filhos de Judá na fornalha de fogo, e escaparam ilesos (Diz 3:24-27). E Daniel, fiel à
integridade de sua tribo, enfrentou leões famintos em lugar de fazer qualquer interrupção
em sua comunhão com Deus. (Diz 6:7-10; 16:22).

18
Naftali

Naftali, o sexto filho de Jacó, foi o segundo filho de Bila, serva de Raquel. A Bíblia é
silenciosa em relação à sua história pessoal, excetuando-se a afirmação de que ele foi pai de
quatro filhos dos quais se originou a tribo de Naftali, mas a tradição judaica afirma que
Naftali se destacou como veloz corredor, e foi escolhido por José como um dos cinco
representantes da família perante Faraó.
Na bênção de Jacó, quando este estava para morrer, Judá foi comparado a um leão, Dã
a uma serpente, lssacar, a um jumento forte, Benjamim a um lobo, mas "Naftali é uma gazela
solta; ele profere palavras formosas." (Gn 49.21) A gazela ou corsa é um animal tímido,
pronto a fugir à menor aproximação do perigo. Ninguém tentaria atar um fardo sobre uma
gazela. Naftali demonstra um caráter completamente diferente do de Issacar, deitado entre
dois fardos, ou de Judá com seu poder real. Naftali tem um dom precioso que todos deviam
almejar: "Ele profere palavras formosas." Livre de muitos dos pesados encargos e
responsabilidades assumidos por alguns de seus irmãos, ele tem tempo para procurar os que
estão abatidos, desanimados e, com suas "palavras formosas", encorajar os desesperados e
confortar os tristes.
Naftali não representa a língua desgovernada que é "inflamada pelo fogo do inferno"
(Tg 3:5-8); longe disto, pois ele "profere palavras formosas", e as "palavras suaves são como
favos de mel, doçura para a alma e saúde para o corpo". (Pv 16:24)
Não pense ninguém que Naftali, pelo fato de proferir "palavras formosas", represente
um caráter leviano ou instável, pois na grande batalha típica de Megido, Naftali foi "o povo
que expôs a sua vida à morte ...nas alturas do campo." A tradução literal do original é muito
enfática, "abandonaram sua vida à morte"; (Jz 5 :18); estavam decididos a vencer ou morrer,
e por isso se lançaram à parte mais perigosa da batalha. A causa de Deus lhes era mais
preciosa do que a vida, e não se acovardaram de lutar nos lugares mais altos do campo,
expondo-se aos dardos inflamados dos inimigos, se o êxito da batalha o exigisse.
Haverá doze mil da tribo de Naftali que, através de toda eternidade "seguirão o
Cordeiro aonde quer que vá". Doze mil que durante sua vida de prova sobre a Terra
proferiram "palavras formosas", e em lugares difíceis permaneceram firmes e destemidos
em seu posto de dever, prontos a sacrificar suas vidas de preferência a comprometer a causa
de Deus.
Na sua bênção de despedida, Moisés disse de Naftali: "Naftali goza de favores e, cheio
da bênção do Senhor..." (Dt 33:23). Sem dúvida, esta é uma condição que deve ser desejada
por todo filho de Deus – "gozar de favores". O Senhor favorece grandemente todos cujos
pecados são perdoados. Contudo, quão freqüentemente estamos descontentes e impacientes,
19
e passamos pela vida com o rosto deprimido.
Por não desfrutarmos "de favores", não ficamos "cheios das bênçãos do Senhor".
O filho de Deus que compreende plenamente o que significa estar purificado do pecado
e coberto da justiça de Cristo, desfrutará "de favores", e reconhece as incontáveis bênçãos
que recebe das mãos do Senhor, e as enumera dia após dia. Perceberá que esta vida é "cheia
das bênçãos do Senhor".
Naftali uniu-se com o restante de Israel ao coroar Davi rei em Hebrom, e o registro
afirma que com outras tribos do norte eles trouxeram grande quantidade de provisões a
Hebrom, naquela ocasião (1 Cr 12:40).
Baraque, de Cades-Naftali, é o único grande herói desta tribo mencionado na Bíblia. A
batalha travada por ele, sob a direção da profetisa Débora, foi sob muitos aspectos, a maior
batalha travada pelo antigo povo de Deus, e é um tipo ou lição objetiva da grande batalha
do Armagedom. (Jz 4:6-24).
O território que se limitava com o litoral ocidental do mar da Caldéia e se estendia para
o norte, dado a Naftali. Era uma região fértil, e durante o reinado de Salomão foi um de seus
distritos de aprovisionamento, a cargo de Aimaás, genro do rei (1 R.s. 4:7, 15).
O território de Naftali situava-se no caminho dos invasores sírios e assírios. Foi da boa
terra de Naftali que Ben-Hadade e Tiglate-Pileser prelibaram o despojo dos israelitas. Em
730 a.C., Tiglate-Pileser subverteu todo o norte de Israel, e a tribo de Naftali foi levada em
cativeiro para a Assíria.
No tempo de Cristo, Naftali não possuía mais o litoral do mar da Galiléia, mas este
haveria de se tornar mais célebre do que quando possuído por aquela tribo. Isaías, mais de
setecentos anos antes de Cristo, havia profetizado que a terra de Zebulon e Naftali veria uma
grande luz (Is 9:1,2; Mt 4:15, 16), e em cumprimento dessa profecia, Jesus, a "Luz do
mundo", tinha Seu lar na Galiléia. A terra de Naftali foi o berço da fé cristã, e das praias do
mar da Galiléia os primeiros discípulos foram chamados para a sua obra vitalícia.

20
Gade
Sobre a infância e a vida particular de Gade, o sétimo filho de Jacó, nada foi preservado
de explícito. Ele foi o primeiro filho de Zilpa, a serva de Léia. Mas pelo registro deixado,
parece que Gade e os outros filhos dados a Jacó por Bila e Zilpa estavam longe de se cons-
tituírem personagens exemplares no início de suas vidas. (Gn 37:2).
As palavras proféticas de seu pai moribundo dizem tudo sobre a vida e o caráter desse
filho: "Quanto a Gade, guerrilheiros o acometerão; mas ele, por sua vez, os acometerá." (Gn
49:19). Gade pode ser tomado como um tipo de rebelde que é vencido por um conjunto de
tentações, mas desperta para o seu perigo e, na força que lhe é dada por Deus, vence afinal,
e entra nos portais de pérola da Nova Jerusalém, regozijando-se no Senhor.
O segredo de os gaditas serem vitoriosos sobre seus inimigos é creditado a uma de suas
grandes batalhas: "...porque clamaram a Deus na peleja, e Ele lhes deu ouvidos, porquanto
confiaram nEle." (1 Cr 5:20).
Quando Pedro compreendeu que estava de fato afundando nas ondas sobre as quais
andara, clamou: "Senhor, salva-me! Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o..."(Mt
14:30, 31). De modo semelhante aquele que se reconhece derrotado pelas tentações sobre
as quais foi vitorioso no passado, tem o privilégio, como Gade e Pedro, de clamar por
socorro, e imediatamente o receberá, se puser sua confiança em Deus.
A todo rebelde o Senhor envia esta mensagem: "Voltai, ó filhos pérfidos, diz o Senhor;
porque Eu sou como esposo para vós; e vos tomarei a um de uma cidade, e a dois de uma
família; e vos levarei a Sião" (Jr 3:74). O Senhor utiliza o símbolo do casamento para ilustrar
a união íntima entre Ele e Seu povo. Quando eles apostatam e O desonram – maravilhoso
pensamento! – Ele ainda diz: "Vai... e apregoa estas palavras... porque Eu sou como esposo
para vós", – os apóstatas.
De novo o Senhor pergunta: "Onde está a carta de divórcio de vossa mãe pela qual Eu
a repudiei? Ou quem é o Meu credor, a quem Eu vos tenha vendido?" Ele mesmo responde
à pergunta: "Eis que por vossas maldades fostes vendidos." (Is 50:1).
O Senhor exige apenas uma coisa do apóstata: "Somente reconhece a tua iniqüidade:
que contra o Senhor teu Deus transgrediste." (Jr 3:13). "Se confessarmos os nossos pecados,
Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." (1 Jo 1:9).
A todo apóstata o Senhor diz: "Vinde, pois, e arrazoemos: Ainda que os vossos pecados
são como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como
o carmesim, tornar-se-ão como a lã." (Is 1:18).
Ouça o Senhor arrazoando com os apóstatas: "Voltai, ó filhos infiéis, Eu curarei a vossa
infidelidade."(Jr 3:22). Que maravilhosa promessa! Mas ouça de novo Sua voz, arrazoando:
"Eu sararei a sua apostasia, Eu voluntariamente os amarei; porque a Minha ira se apartou
deles." (Os 14:4). Não é uma porção limitada que o apóstata recebe. O Senhor cura suas
apostasias e o ama voluntariamente.
Quem, que tenha mesmo uma vez provado a paz e o gozo do perdão dos pecados, pode
recusar tais oferecimentos de perdão e amor?

21
Sobre um dos portões da cidade de Deus, o nome de Gade estará escrito – Gade, o que
foi vencido por guerrilheiros, mas por fim se tornou vitorioso.
Doze mil dos cento e quarenta e quatro mil estarão enfileirados sob o nome de Gade
(Ap 7:4, 5) – doze mil que se recuperaram de suas apostasias e derrotas, reconheceram suas
transgressões, reclamaram as promessas de Deus, lavaram suas vestes no sangue do
Cordeiro, c entraram como vitoriosos na cidade de Deus (Ap 7:14).
É muito difícil para o coração humano reintegrar alguém que traiu sua confiança e
desprezou o amor e a amizade; contudo, o infinito Deus não apenas curará as nossas
apostasias e nos amará voluntariamente, mas Ele diz também: "Eu, Eu mesmo, sou O que
apago as tuas transgressões por amor de Mim, e dos teus pecados não Me lembro." (Is
43:25).
Porque eram pastores, os gaditas pediram que sua porção lhes fosse dada na terra que
foi conquistada primeiro "do outro lado do Jordão". Tomaram parte na conquista da terra do
lado ocidental do Jordão, e não retornaram aos seus lares até receberem de Josué um honroso
desencargo à porta do tabernáculo em Siló (Js 22:1-4). Na bênção de despedida Moisés
evidentemente se refere à escolha da terra e à fidelidade deles.
Sua herança ficava entre o território de Rúben, ao sul, e a meia tribo de Manassés, ao
norte. A princípio a herança de Gade incluía a metade de Gilcade. Mais tarde possuíram-na
totalmente. Tornaram-se tão intimamente identificados com Gileade que, em alguns casos,
o nome Gilcade é usado como sinônimo de Gade.
O caráter da tribo, completamente violento e belicoso —"homens valentes adestrados
para a guerra, que sabiam manejar escudo e lança; seus rostos eram como rostos de leões e
eles eram tão ligeiros como corsas sobre os montes." (1 Cr 12:8). Tal é a descrição gráfica
dada dos onze heróis de Gade dos quais "o menor valia por cem, e o maior por mil" (1 Cr
12:14). que, destemidos diante das intumescidas cheias do Jordão, se uniram às forças de
Davi por ocasião do seu maior descrédito e dificuldade.
Gade, embora separado do restante de Israel a oeste do Jordão, manteve ainda alguma
ligação com eles. Das seguintes palavras de Acabe, inferimos que Gade era considerada uma
parte do reino do norte: "Não sabeis vós que Ramote-Gileade é nossa, e nós estamos quietos,
sem a tomar da mão do rei da Assíria?" (1 Rs 22.3).
Tiglate-Pileser levou Gade cativo para a Assíria, e os amonitas habitaram suas cidades
nos dias de Jeremias (1 Cr 5:26). O profeta lamenta a situação nas seguintes palavras:
"Acaso Israel não tem filhos? Não tem herdeiro? Por que, então, possui Milcom (Moloque)
a Gade, seu povo habita nas suas cidades?" (Jr 49:1).
De todas as tribos de Israel somente Gade e Rúben retornaram à terra que seus
antepassados haviam deixado quinhentos anos antes, com suas ocupações inalteradas. A
civilização e a perseguição no Egito alteraram a ocupação da maioria das tribos.
Barzilai, amigo de Davi, era gileadita (2 Sm 19:32- 39), e também o era Jefté, aquele
"homem valoroso". Entre os personagens dignos de Gileade ou Gade, estava "Elias, o
tesbíta", que por sua palavra bloqueou o céu durante três anos e meio. Em resposta à sua
oração as nuvens novamente derramaram água sobre a terra.
Elias foi honrado por Deus como nenhuma outra pessoa jamais fora honrada (Hb 11:5).
E quando se aproximou o tempo de sua transladação, atravessou o Jordão para a terra de sua
infância, onde, mediante a graça de Deus, ganhara aquela força de caráter que o capacitou a
repreender destemidamente a Acabe e a Jezabel. Foi de sua própria terra natal, Gileade, que
os carros o conduziram em triunfo ao Céu. (2 Rs 2:7-14). Uma vez ele retornou à Terra,

22
quando com Moisés "apareceu em glória", no monte da transfiguração, e conversou com
Jesus sobre o grande sacrifício que estava prestes a ser oferecido em Jerusalém (Lc 9:28-
31).

Aser
A semelhança de vários patriarcas, há pouco registro da história pessoal de Aser, o
oitavo filho de Jacó com Zilpa, serva de Léia. Léia se regozijou grandemente com o seu
nascimento, e chamou-o Aser, que em hebraico significa "feliz". (Git 30:13).
Nada sabemos acerca de sua infância e do início de sua varonilidade, a não ser que ele
cresceu com seus irmãos e foi ao Egito com o resto de sua família. Aser foi pai de quatro
filhos e uma filha chamada Sara, dos quais surgiu a tribo que leva seu nome (1 Cr 7: 30).
Quando os livros das Crônicas foram escritos, foi dito dos homens da tribo de Aser que
eram "homens escolhidos e valentes"; e havia vinte e seis mil deles aptos "para o serviço de
guerra". (1 Cr 7:40)
Quando todo o Israel se reuniu em Hebrom para fazer a Davi rei sobre Israel, Aser
reuniu 40 mil "soldados experimentados, preparados para a peleja" (1 Cr 12:36).
Desde que o nome de Aser é dado a uma divisão dos cento e quarenta e quatro mil (Ap
7:6), seu caráter é a questão mais importante a considerar. E como pouco ou nada é
registrado de sua vida, teremos de tomar as palavras de Jacó e de Moisés como guia de
estudo.
A bênção do moribundo patriarca Jacó sobre Aser foi: "De Aser, o seu pão será
abundante, e ele dará delicias reais."(Gn 49:20). Estas palavras denotam prosperidade.
Quando Moisés pronunciou sua bênção de despedida sobre as tribos, disse: "Bendito
entre os filhos é Aser! Agrade a seus irmãos, e banhe o pé em azeite. De ferro bronze são os
teus ferrolhos, e a tua paz durará como os teus dias." (Dt 33:24, 25).
Parece que Aser tinha um temperamento agradável, pois ele era aceitável a seus irmãos.
"E banhe em azeite o seu pé". Algumas pessoas têm a feliz capacidade de sempre sair da
dificuldade como se tudo estivesse azeitado. Aparentemente superam as dificuldades sob as
quais outros fracassaram. Banham o pé no azeite e superam suavemente os aspectos
desagradáveis da vida.
A preciosa promessa: "Como os teus dias, assim seja a tua Força", foi dada a Aser, de
quem Jacó disse: "Ele dará delícias reais", e de quem Moisés disse: "E mergulhe em azeite
o seu pé." Na vida comum, aquele que mergulha o pé no azeite e aparentemente passa pela
vida sem obstáculos recebe pouca simpatia. Esta comumente se estende àquele que não tem
o pé ungido e experimenta toda a rusticidade através do caminho. Mas Deus sabe que a
pessoa que ergue a cabeça e caminha alegremente pela estrada da vida, dando "delicias
reais" nas palavras de ânimo a outros, em realidade experimenta freqüentemente provas
mais pesadas que aquele que suspira e chora por causa das asperezas do caminho. E a eles
Deus diz: "Como os teus dias, assim seja a tua força.
É glorioso banhar o pé no azeite! O azeite é um simbolo do Espírito Santo. Aquele de
quem até os pés são ungidos com o Espírito de Deus, superará as fases difíceis da vida com

23
o coração cheio de louvor e gratidão. Sob os seus pés estará o ferro e o bronze – um firme
fundamento. Não sucumbirá em meio às ciladas da vida, pois Deus lhe assegura: "E a tua
força será como os teus dias."
Os pés daquele que os mergulha no azeite serão calçados com ferro e bronze. Quando
o discípulo amado contemplou em visão o Salvador oficiando como nosso Sumo Sacerdote
no santuário celestial, Seus pés "eram semelhantes a latão reluzente que fora refinado numa
fornalha. (Ap 1:15). O latão ou bronze é preparado somente na fornalha. E os pés do
Salvador, semelhantes "a latão reluzente que fora refinado numa fornalha", lembrariam a
João a fornalha do logo de aflição através da qual o Salvador passara.
Há alguns da família humana que são tão imbuídos do Espírito de Deus, e seguem tão
intimamente Os passos sangrentos do Salvador, que seus pés parecem estar calçados com
latão, à semelhança dos pés de seu Mestre. Outros têm seus pés revestidos de ferro. Eles
também possuem força especial que lhes foi dada, mas não andam em relação tão íntima
com o Mestre como seus irmãos.
Doze mil dos cento e quarenta e quatro mil serão da tribo de Aser –aqueles que banham
seus pés no azeite, estarão tão imbuídos do Espírito de Deus que permitirão ao Senhor,
mediante Seu Espírito, suavizar os lugares ásperos em seu caminho. Como ocorreu com
Zorobabel, as montanhas de dificuldades serão aplainadas diante deles (Zc 4:6, 7).
Produzirão "delicias reais", palavras de ânimo e conforto que encorajarão outros através do
caminho. É bom aprender a mergulhar o pé no aleite, e cultivar o caráter de Aser.
A Bíblia fornece pouca coisa mais da história da tribo de Aser do que é dado dele como
indivíduo. A tribo é mencionada em ligação com outras tribos; mas nenhuma ação
independente é registrada da tribo na história sagrada.
Aser é a única tribo ao ocidente do Jordão, com exceção de Simeão, que não forneceu
herói ou juiz à nação. A obscuridade que oculta os membros da tribo é penetrada por um
único caráter proeminente — Ana, a profetisa, que "serviu a Deus noite e dia com jejuns e
orações" no templo. Ela teve a honra de levar as boas novas do nascimento de Cristo aos
fiéis que aguardavam a redenção de Israel (Lc 2.-36-38).
O território de Aser fazia limites com o grande mar, e incluía o monte Camelo, cenário
da grande vitória de El ias, e continuava para o norte. Os descendentes de Aser não tiveram
as tendências belicosas e bravias de algumas das outras tribos, e não expulsaram Os antigos
habitantes da terra; "porém os aseritas ficaram habitando no meio dos cananeus, os
habitantes da terra." (.1z 1:31, 32). Como resultado da mistura com os pagãos, foram
grandemente enfraquecidos.
Quando Israel foi numerado no Sinai. Aser era uma tribo forte (Nm 1:40, 41); mas nos
dias de Davi eles se tornaram tão reduzidos que seu nome nem é mencionado nas escolhas
dos príncipes. (1 Cr 27:16-22). Embora como tribo se tivessem apartado dos caminhos do
Senhor, havia contudo entre eles corações honestos que temiam a Deus.
Quando Ezequias realizou sua grande festa da Páscoa e convidou todo o Israel para se
unir na celebração da festa em Jerusalém, tribos inteiras riram dos mensageiros e zombaram
deles; "todavia alguns de Aser... se humilharam e vieram a Jerusalém." (2 Cr 30:10, 11).
Exige-se força moral para ser fiel a Deus quando a maioria oscilante por toda parte está
rejeitando a luz da Palavra de Deus. Aquele espírito de fidelidade jamais deixou a tribo, e
quando o Salvador entrou em Seu templo pela primeira vez em forma humana, das duas
pessoas em toda a cidade de Jerusalém que estavam em condições espirituais para

24
reconhecer o "bebê como o Redentor do mundo", uma era a profetisa Ana da tribo de Aser.
(Lc. 2: 36).

Issacar

Issacar foi o nono filho de Jacó e o quinto filho de Leia, a primeira esposa. Acerca de
Issacar como pessoa, a Bíblia é silenciosa após o registro do seu nascimento. Sobre seu
relacionamento com seus irmãos nada sabemos; mas a bênção de despedida de seu velho
pai revela a história da vida de Issacar de sacrifício de si mesmo e de portador de
responsabilidades, e seu espírito manso e quieto.
Jacó o compara ao paciente jumento ou asno, carregando dois fardos tão pesados que
se deita entre eles. O fato de que este não é um animal comum mas "forte", indica a força
do caráter de Issacar. "lssacar é um jumento forte, deitado entre dois fardos." (Gn 49:14). E
então o patriarca revela o segredo da vida de abnegação de lssacar ao dar o motivo que o
levou a carregar fardo dobrado: "Viu ele que o descanso era bom, e que a terra era agradável.
Sujeitou os seus ombros à carga e entregou-se ao serviço forçado de um escravo." (Gn
49:15).
Muitos perdem a bênção ao murmurarem e se queixarem quando são solicitados a
carregarem fardos em dobro. Mas Issacar foi sustido ao pensar na terra agradável e no
descanso que lhe eram reservados. A mesma esperança susterá os portadores de
responsabilidades nos dias atuais.
Na batalha de Megido, encontramos Issacar fiel ao caráter retratado nas bênçãos de
Jacó em seu leito de morte. "Também Os príncipes de Issacar estavam com Débora; e como
Issacar, assim também Baraque." (Jz 5:15). Das palavras de Débora depreende-se que
Issacar suportou os encargos da batalha ainda mais que Baraque.
A mesma característica de Issacar é dada quando todas as tribos se reúnem para coroar
Davi rei de Israel. Issacar teve discernimento claro. O registro sagrado afirma: "Dos filhos
de Issacar... entendidos na ciência dos tempos, para saberem o que Israel devia saber." (1 Cr
12:32). Representavam os homens que levam pesadas responsabilidades, e que são pilares
na causa de Deus. Não eram como Zebulom, guerreiros experientes, prontos a se lançarem
impulsivamente à maior violência da batalha em atenção a um chamado urgente; mas eram
capazes de planejar a batalha, e suportar os fardos da obra.
Exigem-se todas as diferentes fases do caráter cristão para representar o perfeito caráter
de Cristo. O portador de responsabilidades preenche um lugar tão importante na obra de
Deus como o real Judá ou o ensinador levítico.
Haverá doze mil de cada classe naquela maravilhosa companhia — os cento e quarenta
e quatro mil "que seguem o Cordeiro aonde quer que vá." Os filhos de Issacar constituíam
uma tribo laboriosa, valorosa, valente, paciente no trabalho e invencível na guerra. Eles eram
25
"homens valentes" (1 Cr 7:1-5). Possuíam uma das mais ricas partes da Palestina. Limitava-
se a leste com o rio Jordão, ao norte com Zebulom, e ao sul com a meia tribo de Manasses.
Muitos lugares famosos da história sagrada estavam dentro das fronteiras de Issacar.
Ali foi conquistada a grande vitória de Baraque e Débora "em Tanaque junto às águas de
Megido." (.1: 5:19).
Em Suném estava a residência da nobre mulher que, percebendo não ser a sua casa
suficientemente espaçosa para hospedar Eliseu, o "santo homem de Deus", construiu um
cômodo adicional e o mobiliou para que pudesse desfrutar o privilégio de sua companhia
em seu lar (2 Rs 4:8-10).
Pelas ricas bênçãos que sobrevieram à sua vida, ela percebeu a veracidade das palavras:
"Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a
Mim o fizestes." (Mt 25:40).
Foi às portas da cidade de Naim, nos limites de Issacar, que as palavras do Salvador:
"Jovem, Eu te mando: Levanta-te" (Lc 7:14) trouxeram vida e saúde ao corpo inerte do moço
que estava sendo levado pelos amigos à sepultura.
O mesmo território que foi santificado pelas pegadas do Salvador e dos profetas de
Deus, testemunhou também o poder do demônio. Endor, na terra de Issacar, foi onde Saul
cometeu o pecado máximo de sua vida ao consultar a feiticeira, e desse modo retirou-se
inteiramente de sob as mãos de Deus e tornou-se vítima do demônio (1 Sm 28:7-25). Saul
morreu porque "interrogara e consultara uma necromante" (1 Cr 10:13, 14). Os que seguem
hoje o mesmo curso de ação encontrarão, conseqüentemente, o mesmo destino; morrerão
espiritualmente e estarão eternamente separados do Senhor (Is 8:19, 20).
Jezreel, situada na fértil planície de Esdraelon, foi o cenário do ímpio assassínio
perpetrado contra Nabote (I Rs 21:1-19); e nas ruas da mesma cidade os cães devoraram a
carne de Jezabel, (2 Rs 9:30-37). Tola, sob cujo governo de vinte e três anos Israel repousou,
era da tribo de Issacar (Iz 10:1, 2). Baasa, que governou o reino do norte por vinte e quatro
anos, era issacarita. "Fez o que era mau perante o Senhor." Elá, seu filho, seguiu suas
pegadas e foi morto por Zinri, e o poder real foi tirado das mãos da tribo de Issacar (1 Rs
15:27-34; 16: 1-10).
Issacar foi o centro do poder de Jezabel e a adoração a Baal introduzida por ela exerceu
longa influência após sua morte.
Cerca de cinco anos antes que a tribo de Issacar fosse levada cativa à Assíria por
Salmanaser (2 Rs 17:3-6), Ezequias celebrou sua grande Páscoa em Jerusalém. A tribo de
Issacar havia-se apartado de tal modo da verdadeira adoração que se esqueceram de fazer a
devida purificação. Contudo, alguns deles atenderam ao convite e foram à festa, embora
cerimonialmente desqualificados para nela participarem. Ezequias estava em comunhão
com Deus suficientemente íntima para entender que o desejo do coração de servir a Deus
era de maior importância que formas e cerimônias. Permitiu-lhes que comessem da Páscoa
e, à medida que participavam, proferiu a seguinte oração: "O Senhor, que é bom, perdoe a
todo aquele que dispôs o coração para buscar o Senhor Deus, o Deus de seus pais, ainda que
não segundo a purificação exigida pelo santuário." E o Senhor, que "não vê como vê o
homem", porque, "o homem vê o exterior porém o Senhor vê o coração", "ouviu" a oração
do rei e "sarou a alma do povo (2 Cr 30:17-20; 1 Sm 16:7).

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Zebulom

Léia foi a mãe de seis dos doze patriarcas. E digno de nota que, embora Jacó aceitasse
a poligamia sob o que se pode denominar força das circunstâncias, contudo reconhecia Léia,
a primeira esposa, como sua legítima consorte. Ela foi sepultada no cemitério da família.
Antes de (Jacó) falecer, solicitou que fosse sepultado na caverna do campo de Macpela.
"Ali sepultaram a Abraão e a Sara, sua mulher; ali sepultaram a Isaque e a Rebeca, sua
mulher, e ali sepultei a Léia" estão entre as últimas palavras de Jacó. (Gn 49:31). Tem-se a
impressão de que ele desejava que seus descendentes anotassem no epitáfio da sepultura:
"Aqui foram sepultados Jacó e Léia, sua esposa."
Durante sua vida, Jacó permitiu que circunstâncias e seu amor por Raquel o
influenciassem; mas, quando em face da morte, reconheceu o plano original de Deus para o
casamento (Gn 2:24).
Zebulom foi o filho mais novo de Léia. Era mais velho que José, e nasceu enquanto
Jacó servia a Labão. Jacó, em seu leito de morte, estabeleceu profeticamente a herança de
Zebulom, ao afirmar: "Zebulom habitará na praia dos mares e servirá de porto de navios, e
o seu termo se estenderá até Sidom." (Gn 49:13.)
A porção de Zebulom na terra prometida ficava entre os territórios de Naftali e Issacar,
fazendo fronteira na parte meridional do litoral ocidental do mar da Galiléia, e supõe-se que
se tenha estendido também ao litoral do mar grande (Mediterrâneo). Moisés, em sua bênção
de despedida, falou de Zebulom como um povo marítimo (Dt 33:18, 19).
A Bíblia nada relata de Zebulom como pessoa, a não ser seu nascimento. São-lhe
atribuídos três filhos, que se tornaram os fundadores da tribo que leva seu nome (Nm 26:26,
27). Não há registro da tribo tomando qualquer parte nos eventos da peregrinação ou na
conquista da Palestina.
Débora, em seu cântico de triunfo após a batalha de Megido, afirma que em meio à
tribo de Zebulom estavam os que manuseavam "o cajado do escriba", ou como reza a nota
marginal (em inglês), "os que traçavam com a pena do escritor" (Jz 5:14). Isso indica que
era um povo de pendores literários ou artísticos.
Na batalha que foi um tipo da grande batalha do Armagedom, Zebulom "expôs sua
vida à morte... nas alturas do campo", ou, de acordo com a tradução marginal, "expuseram
suas vidas à desgraça" (Jz 5:18). Deus e Sua causa eram-lhes mais preciosos que sua própria
vida ou reputação.
Doze mil dos cento e quarenta e quatro mil entrarão na cidade de Deus sob o nome de
Zebulom — doze mil, que, quando seus inimigos são numerosos e populares, exporão "à
27
desgraça suas vidas até a morte nas alturas do campo". Haverá homens e mulheres em
lugares elevados que, à semelhança dos de Zebulom da antiguidade "manuseiam o cajado
do escriba", e exercem vasta influência; esses homens, quando a causa de Deus enfrentar
uma crise, se levantarão e "exporão suas vidas à morte nas alturas do campo", trazendo desse
modo vitória à causa de Deus.
Foi puro amor que atuou em Zebulom naquela antiga batalha, pois Débora afirma que
"não levaram nenhum despojo de prata". (Jz 5:19) Do registro se depreende que Zebulom e
Naftali se constituíram exceções a esse respeito. O registro sagrado não afirma se eles foram
mais prósperos em bens materiais ou mais capazes que as outras tribos para participarem da
batalha como guerreiros economicamente auto-sustentaveis.
Depois que Israel retornou do cativeiro e a causa de Deus entrou novamente em crise,
Neemias, um obreiro economicamente independente, atuou e fez o que outros não poderiam
fazer. Quando o Salvador pendeu a cabeça na cruz e a ignominia desabou sobre Seus
discípulos, José e Nicodemos, dois homens ricos ocupantes de elevadas posições,
avançaram e realizaram uma obra para o Salvador que aqueles que O amavam, talvez mais
genuinamente, não pudessem realizar.
Conquanto Zebulom e Naftali talvez não tivessem amado a Deus mais que as outras
tribos, do registro deixado por Débora depreende-se que essas duas tribos mudaram o curso
da batalha ao arriscarem suas vidas, e "não levaram nenhum despojo de prata" pelo seu
serviço.
Parece que Zebulom era uma tribo inteligente, abençoada com recursos materiais. Mas
quando surgiu uma crise na causa do Senhor, nós os encontramos arriscando tudo para
manter a honra do nome de Deus.
Mais de duzentos anos depois ocorreu outra crise na causa de Deus. Saul morrera e os
verdadeiros e sinceros de Israel "vieram a Davi a Hebrom, para lhe transferirem o reino de
Saul, segundo a Palavra do Senhor." (1 Cr 12:23). Cada tribo estava representada, mas
nenhuma superava a tribo de Zebulom em número e armamentos. Cinqüenta mil guerreiros
experientes vieram trazendo suas próprias armas. Eram "capazes para sair a guerra" destros
para ordenar uma batalha com animo resoluto" e, o que é de mais valor para a causa de Deus
que números ou habilidade, "não eram de coração dobre" (1 Cr 12:33 — Trad. Brasileira),
mas homens nos quais o Senhor podia confiar em uma crise.
Quem está preparado para aperfeiçoar tal caráter no temor de Deus e ter o selo de Deus
colocado em sua fronte? Quem anelará o caráter de Zebulom tão fervorosamente que estará
disposto a expor sua vida ao opróbrio por amor de Cristo?
A terra de Zebulom teve a elevada honra de ser o lar da infância de Jesus. Nazaré estava
situada dentro dos seus limites. O povo daquele lugar, mais do que de qualquer outro, teve
a oportunidade de ver e ouvir de Cristo.
Isaías profetizou que a terra de Zebulom veria uma grande luz (Is 9:1, 2). Esta profecia
se cumpriu, pois Zebulom teve dentro de seus limites a maior luz que o mundo jamais
presenciara.
Jesus realizou Seu primeiro milagre em Caná, terra de Zebulom. Foi também em Cana
que um nobre veio a Jesus suplicando pela vida de seu filho, e o pedido, como todas as
demais orações de fé, foi atendido pelo grande Médico.

28
José

Nas páginas da história sagrada, José mantém-se proeminente entre os poucos


personagens de quem a Inspiração não registra falta alguma.
José recebeu uma das três porções do direito de primogenitura. É interessante observar
que cada parte desse direito de primogenitura foi imortalizada.
Judá, em sua vida no lar, aperfeiçoou tal caráter que lhe foi concedida a honra de ser o
progenitor de Cristo. E diante do trono de Deus no Céu, seres santos apontam para Cristo e
dizem: "Eis o Leão da tribo de Judá. " (Ap 5:5).
Levi triunfou numa ocasião de grande crise na causa de Deus, e desse modo
aperfeiçoou um caráter que o habilitou ao sacerdócio, cuja obra era uma sombra da obra do
grande Sumo Sacerdote no Céu. (Hb 8:1-5).
José, separado de seus irmãos e rodeado de idólatras numa terra estrangeira, conquistou
a vitória que o habilitou a receber dupla porção da herança. Duas porções da terra prometida
foram dadas à família de José e, através da eternidade, estas duas divisões daquele grupo
especial - os cento e quarenta e quatro mil - levando os nomes, uma de José e outra de
Manassés, filho de José, serão uma lembrança da fidelidade deste. (Ap 7:6, 8) Isso foi
profeticamente anunciado na bênção dada por seu pai: "As bênçãos de teu pai excedera-o as
bênçãos de meus pais até aos cimos dos montes eternos; estejam elas sobre a cabeça de José,
e sobre o alto da cabeça do que foi distinguido entre seus irmãos." (Gn 49:26).
José foi o décimo primeiro filho de Jacó, e o primogênito de Raquel, a esposa amada
(Gn 30:22-24). Os primeiros dezessete anos de sua vida, passou-os no lar de seu pai (Gn
37:2).
Os primeiros pontos registrados nos primeiros anos da vida de José foram: o grande
amor de Jacó pelo moço, o manto de várias cores, os sonhos de José c sua venda para o
Egito.
Havia evidentemente um assinalado significado para aquele manto de várias cores. José
não era criança quando lhe foi dado o manto, mas um jovem de dezessete anos, de caráter
exemplar. O idoso pai sabia que Rúben havia perdido o direito de oficiar como sacerdote do
lar; e como o patriarca observava a vida piedosa de José, nada mais natural que o escolhesse
como a pessoa digna para o sagrado encargo. É possível que em visão lhe tenha sido
permitido contemplar o grande Sacerdote celestial, e que ele tenha confeccionado o manto
como uma pálida representação do traje sacerdotal a ser usado por seus descendentes.
Mas Deus não vê como o homem vê. Daquele grupo de filhos ciumentos e invejosos,
tramando o assassínio em seus corações, o Senhor tomou um, purificou-o e o refinou até
29
que seus descendentes fossem habilitados para o sagrado encargo do sacerdócio.
Os sonhos de José, revelando que a família se prostraria diante dele, eram mais do que
os corações dos dez ciumentos irmãos poderiam suportar. Benjamim, o décimo segundo
filho, era uma simples criança nessa ocasião.
Quando José se dirigiu a seus irmãos no campo, a certa distância de seu pai, parecia
que todos, menos Rúben, tinham desígnios assassinos contra ele. A tradição judaica afirma
que Simeão amarrou José antes de o lançarem no poço com o propósito de que ele ali pere-
cesse. De outro modo poderia ter escalado o poço e escapado.
Quando os sonhos da infância de José se cumpriram e seus irmãos inclinaram o rosto
em terra diante dele, então José se lembrou de seus sonhos. (Gn 42:6-9). Não poderemos
concluir que José, quando ordenou a os oficiais que tomassem Simeão e o amarrassem diante
de seus olhos, se lembrasse de como Simeão o amarrara, insensível aos seus clamores por
misericórdia, enquanto esses mesmos homens o contemplavam sem qualquer sentimento de
piedade por ele? Simeão também deve ter-se lembrado do fato, pois Rúben acabara de
lembrar a seus irmãos a crueldade deles com José. (Gn 42:21-24).
José não tinha ressentimento algum no coração. Ele pôde dizer àqueles homens: "assim
não fostes vós que me enviastes para cá e, sim, Deus." (Gn 45:8). "Vós, na verdade,
intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem." (Gn 50:20). José viu apenas
a mão de Deus em tudo. Quando vendido como escravo a Potifar, compreendeu que estava
nas mãos de Deus. Sua fé segurou-se em Deus; e enquanto servia a Potifar, "foram feitos
ativos os braços de suas mãos pelas mãos do Poderoso de Jacá." (Gn 49:24 - Tradução
Brasileira).
O salmista diz: "A Palavra de Deus o aprovou." (Sl 105:19). Creu na Palavra de Deus
que lhe havia sido ensinada na infância. Foi aquela Palavra que o tornou corajoso na prisão
e humilde quando governava o Egito. Sua força, tanto na adversidade como na prosperidade,
provinha do "Poderoso de Jacó".
Quando consideramos a estrita integridade de José em meio às trevas (morais e
religiosas) dos egípcios, não devemos esquecer que Raquel, sua mãe, viveu até ele contar
aproximadamente dezesseis anos de idade. Depois de Raquel, mediante sua piedosa
instrução, ter fortalecido o filho para a grande obra da vida que tinha diante de si, Deus em
Sua misericórdia a levou ao descanso antes de José ser vendido ao Egito para que ela fosse
poupada àquela grande tristeza. E por toda a eternidade ela verá o fruto do seu trabalho
educacional; pois foi, sem sombra de dúvida, a piedosa instrução de sua mãe que capacitou
José a comungar com Deus tão intimamente que "o seu arco... permaneceu firme, e foram
feitos ativos os braços de suas mãos pelas mãos do Poderoso de Jacó." (Gn 49:25).
A Versão Septuaginta de Gn 49:26 liga o nome da mãe ao nome do pai na bênção: "As
bênçãos de teu pai e de tua mãe prevaleceram sobre a bênção das montanhas eternas." O
moribundo patriarca, ao meditar no caráter de José, lembrou-se dos anos de instrução fiel
que Raquel lhe tinha proporcionado desde seu nascimento até que a morte os separasse. As
mães dos demais filhos não são mencionadas nas bênçãos.
Feliz a mãe que dá, e triplicadamente feliz o filho que recebe tal preparo. Há um poder
na piedosa educação da criança que molda o caráter. Coloca "um diadema de graça" na
fronte daquele que recebe. (Pv, 1:7-9).
José viu a mão de Deus em todos os eventos de sua vida. Jó manifestou o mesmo

30
espírito, pois após Deus ter permitido que Satanás destruísse todas as suas posses terrenas,
deixou o demônio totalmente fora de sua avaliação, e disse: "O Senhor o deu, o Senhor o
tomou; bendito seja o nome do Senhor!" (Jó 1:21). Esse espírito, acariciado hoje no coração,
tornará grande o homem da mesma maneira que nos dias de José e de Jó.
Os primeiros anos da vida de José no Egito foram passados na casa de Potifar, que o
tornou supervisor de todos os seus negócios. (Gn 39:4-6). "Vendo Potifar que o Senhor era
com ele e que tudo o que ele fazia o Senhor prosperava em suas mãos." (Gn 39:3,).
É dito da aparência pessoal de José que ele era "formoso de porte e de aparência". A
esposa de seu senhor tentou seduzi-lo, mas sua resposta: "Como cometeria tamanha
maldade, e pecaria contra Deus?" (Gn 39:9), mostrou sua estrita integridade, porém custou-
lhe a posição. De um lugar de honra foi lançado na prisão. De novo Deus vindicou a José e
ele foi honrado ao ser colocado como responsável pelos prisioneiros. (Sl 105:21, 22).
Aceitou sua posição na prisão como proveniente das mãos do Senhor. Depois de vários anos
de sua vida na prisão, com a idade de trinta anos (Gn 41:46), ele foi levado à presença de
Faraó e interpretou os sonhos do rei, mas foi cuidadoso em atribuir toda a honra a Deus.
Então foi exaltado ao segundo lugar no reino (Gn 41:43), onde transmitiu sabedoria aos
senadores egípcios. (Sl 105:21, 22).
Durante os sete anos de fartura, José arma/efluu grande quantidade de cereal para ser
usada durante os sele anos de fome. Casou-se com uma mulher egípcia, e seus dois filhos,
Manasses e Efraim, nasceram no período dos sete anos de fartura. (Gn 41:45, 50-52).
José foi governador do Egito durante nove anos (Gn 41:46, 47; 45:6) quando seus
irmãos se dirigiram ao Egito para comprar alimento. É interessante observar que quando
José disse a seus irmãos que conservaria Benjamim como refém, teve a satisfação de ouvir
Judá, o único que anos atrás havia sugerido a venda de José aos ismaelitas por vinte moedas
de prata, oferecer-se como servo por toda a vida, em lugar de Benjamim. (Gn 44:33).
José teve o privilégio de sustentar o pai e os irmãos por muitos anos e ver o
cumprimento dos sonhos da sua juventude.
Durante a longa vida de cento e dez anos de José, não encontramos registro algum de,
em qualquer época, ter-se demonstrado infiel a Deus. Morreu com a fé firme na promessa
feita a Abraão, Isaque e Jacó. Suas últimas palavras foram: "Certamente Deus vos visitará,
e fareis transportar os meus Ossos daqui." (Gil 50:25).
Seu corpo foi embalsamado, e quando Moisés guiou Os filhos de Israel para fora do
Egito, eles cumpriram seu pedido do leito de morte.
Quando a voz de Cristo chamar os santos que dormem no seu leito de pó, José saltará
para fora revestido de gloriosa imortalidade para saudar o "Pastor e a Pedra de Israel (Gn
49:24) que, mediante a fé, lhe permitiu alcançar todas as suas vitórias.

31
Benjamin

Benjamim, o décimo segundo filho de Jacó, ficou órfão de mãe por ocasião do seu
nascimento. O único pedido registrado de sua mãe, Raquel, foi que o bebê se chamasse
Benoni, "o filho da minha dor", mas Jacó mudou-lhe o nome para Benjamim, "o filho da
minha destra". (Gn 35:16-18, nota marginal).
O terno amor do pai pelo filho órfão de mãe é mostrado por sua indisposição de
permitir-lhe acompanhar seus irmãos ao Egito (Gn 42:38). Benjamim é muitas vezes
apresentado como um jovem quando foi ao Egito (Gn 43:8), mas o registro afirma que ele
era pai de dez filhos naquela ocasião (Gn 46:21). A forma patriarcal de governo, sem dúvida,
conservou-o mais intimamente sob a direção de seu pai que os filhos casados da atualidade.
Ao passo que pouca coisa consta acerca de Benjamim como indivíduo, a tribo que leva
seu nome desempenhou uma parte proeminente na história dos filhos de Israel.
O caráter da tribo parece estar retratado nas palavras proféticas de Jacó em sua bênção
de despedida: "Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã devora a presa, e à tarde reparte
o despojo (Gn 49:27). Essas palavras não descrevem um caráter desejável, mas, em lugar
disso, de uma criança mimada e de caprichos satisfeitos até se tornar obstinada e petulante
como se pode esperar de um filho caçula de uma grande família sem a mãe para controlá-
lo.
Esse mesmo espírito inflexível foi manifesto pela tribo de Benjamim ao combater até
que fossem quase exterminados, em lugar de entregar os perversos homens de Gibeá para
que fossem punidos. (Jz 20:12-48). Entretanto, nessa ocasião estavam reduzidos em número,
embora no tempo de Davi houvessem novamente se tornado uma tribo numerosa (1 Cr 7:6-
12).
Nos dias dos juízes, os benjamitas foram capazes de arregimentar setecentos homens
que podiam "atirar uma pedra em um fio de cabelo, sem errar". (Jz 20:16).
Cerca de trezentos e cinqüenta anos mais tarde, lemos que os poderosos homens de
Benjamim "usavam tanto da mão direita como da esquerda em arremeter pedras com fundas,
e em atirar flechas com arco."(1 Cr 12:1, 2). Os benjamitas constituíram a única tribo que
parecia ter prosseguido na arte de manejar o arco com algum objetivo, e sua habilidade no
uso do arco era celebrada. (1 Cr 8: 40; 2 Cr 17:17; 2 Sm 1:22).
O território de Benjamim se estendia ao norte de Judá, fazendo fronteira contínua entre
as duas tribos através da cidade de Jerusalém.
Após a grande crise que resultou da infeliz operação em Gibeá (Jz 19:14-39), houve
muitas coisas que teriam a tendência de mudar a natureza obstinada e voluntariosa da tribo.
Por vinte anos a sagrada arca do Senhor permaneceu nos limites de suas fronteiras, em
32
Quiriate-Jearim, com um sacerdote para zelar por ela (1 Sm 7:1, 2).
Ramá, unia cidade de Benjamim, era o lar do profeta Samuel, que havia erigido um
altar ao Senhor naquele lugar e ali oferecia sacrifícios. Samuel "de ano em ano fazia uma
volta passando por Betel, Gilgal e Mizpá; e julgava Israel em todos esses lugares. Porém
voltava a Ramá." (1 Sm 7:16, 17).
Mizpá, o lugar onde se reuniam as grandes assembléias de todo o Israel, (Jz 20:1; 2 Rs
25: 23) estava nos limites de Benjamim. Ali o Senhor operou poderoso livramento em favor
do Seu aterrorizado povo: "Trovejou o Senhor naquele dia com grande estampido sobre os
filisteus, e os aterrou de tal modo que foram derrotados diante dos filhos de Israel." (1 Sm
7:10).
As palavras proféticas de Moisés em sua bênção de despedida às tribos indicam que
ocorreria decidida mudança no caráter descrito por Jacó: "De Benjamim disse: O amado do
Senhor habitará seguro com Ele todo dia e o Senhor o protegerá e ele descansará nos Seus
braços." (Dt 33: 12).
O mesmo caráter destemido que Jacó comparou a um lobo destruindo tudo diante de
si, é transformado pelo convertedor poder do Espírito de Deus; e a força outrora usada para
destruir, é agora empregada para proteger o povo e os interesses do Senhor. "O amado do
Senhor habitará seguro com Ele."
É interessante notar a similaridade entre o caráter da antiga tribo e o do principal
apóstolo dos gentios, que disse a respeito de si: "Eu também sou israelita... da tribo de
Benjamim." (Rm 11:1).
Saulo, posteriormente chamado Paulo, é-nos apresentado primeiramente como
testemunha do apedrejamento de Estêvão; e "consentia na sua morte". (At 7:58; 8:1). Em
seguida ouvimos dele como um lobo voraz, que "assolava a Igreja, entrando pelas casas e,
arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere". (At 8:3). Como um lobo selvagem,
sedento do sangue de sua presa, ele estava ainda "respirando ameaças e morte contra os
discípulos do Senhor". (At 9:1). Não havia segurança para qualquer dos amados do Senhor
perto de tal personagem. Mas a mesma força de caráter que induz alguém a "devorar como
um lobo", e a ferir e destruir o povo de Deus, quando convertido protegerá e conservará a
honra de Deus e Sua causa.
Desde aquela ocasião em que Saulo, o benjamita, teve uma visão de Jesus (At 9:3-9),
sua natureza semelhante à do lobo morreu, e os amados do Senhor viveriam em segurança
junto a ele. Os santos em Damasco não estavam em perigo: aquele que havia planejado
destruí-los era agora seu amigo, pronto a protegê-los em qualquer ocasião (At 9:10-19).
Deus jamais Se esquece de retribuir um ato de bondade (1 Sm 2:30). Quando Saulo
protegeu e escudou "Os amados do Senhor", Deus o guardou por todo o dia; nada poderia
prejudicá-lo. A picada da serpente venenosa foi inócua (At 28:1-6). Não havia água no mar
suficiente para afogá-lo (At 27:23-25). Deus o protegia todo o dia.
A bênção transmitida por Moisés diz: "O amado do Senhor habitará seguro com Ele.
Todo o dia o Senhor o protegerá, e ele descansará nos Seus braços."(Dt 33:12). Alguns
comentaristas acham que isso se refere ao templo sendo construído no monte Moriá, nos
limites de Benjamim. Mas para alguém que tem reminiscências da infância, de ter sido
carregado nos fortes braços de seu pai, em lugares ásperos e acidentados da estrada, as pa-
lavras têm outro significado. "Todo o dia o Senhor o protegerá" de tudo mal e perigo. E

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quando defrontamos com impossibilidades cm nossa senda, naquilo que em nossa própria
força jamais poderíamos superar, nosso Pai celestial nos ergue em Seus poderosos braços e
nos conduz em segurança total sobre aquilo que, sem Sua ajuda, nos seria absolutamente
impossível executar. A semelhança de uma criança descansando em segurança entre os
braços de seu pai, com os braços firmemente entrelaçados cm torno do seu pescoço,
realizaremos aquilo que está além de toda possibilidade humana. Bendito seja tal lugar! Mas
é para alguém por meio de quem os amados de Deus podem habitar em segurança. A voz
de crítica e calúnia deve para sempre silenciar para alguém que espera ocupar esse lugar.
(Tg 1:26).
Eúde, sob cujo comando a terra havia repousado por oitenta anos, era benjamita (Jz
3:15, 30). Era canhoto, e parece que, ao usar a mão esquerda, foi capaz de matar de maneira
mais hábil a Eglon, rei de Moabe, que estava oprimindo a Israel. (Jz 3:21-26).
Saul, o primeiro rei de Israel, era da tribo de Benjamim (1 Sm 9:21). Deus não somente
ungiu a Saul como rei de Israel, mas "lhe mudou o coração" (1 Sm 70:9). Ele havia associado
consigo homens "cujos corações Deus tocara (1 Sm.10:26); e enquanto permaneceu
humilde, Deus esteve com ele. (1 Sm 15:17-23). Quando se tornou exaltado, foi rejeitado
pelo Senhor. Então as propensões semelhantes às do lobo se tornaram claramente visíveis
em seu caráter, pois ele, à semelhança de um lobo devorador, perseguiu a Davi "como quem
persegue uma perdiz nos montes" (1 Sm 26:19, 20). Seu único desejo era matar "o amado
do Senhor" (1 Sm 18:11; 15:28).
Em contraste direto com Saul, que gastou a força de sua varonilidade na conspiração
para matar o "homem segundo o coração de Deus", está Mardoqueu, "benjamita... filho de
Quis." Seus ancestrais levavam o mesmo nome e podem ter sido relacionados mais intima-
mente que numa mera conexão tribal. Toda a história de Mardoqueu é uma série de
livramentos de pessoas em dificuldades. Ele salvou a vida do rei persa (Et 2:21-23).
Posteriormente Satanás e Hamã planejaram destruir todos os que criam no Deus verdadeiro
(Et 3:8-15); e enquanto Mardoqueu clamava ferventemente a Deus por livramento (Et 4:1-
3), Deus usou o benefício que ele tinha manifestado ao rei como um meio de escape (Et
6:111). Mardoqueu foi colocado em uma posição exaltada no reino, e foi usado pelo Senhor
para guardar e proteger o Seu povo (Et 8:7-17).
A verdadeira e duradoura vitória que se prolongará por toda a eternidade não depende
de conexões tribais ou de tendências herdadas, mas de uma humilde confiança em Deus.
"Porque, quanto ao Senhor, Seus olhos passam por toda a Terra, para mostrar-Se forte a
favor daqueles cujo coração é perfeito para com Ele (2 Cr 16:9). Deus pode humilhar reis
quando desrespeitam Sua Palavra (2 Cr 36:1-4, 9, 10) e pode acolher cativos e dar-lhes poder
real. (Dn. 6:1-3; Et. 8:15; 10:3).
O caráter natural de Benjamim é o caráter do coração inconverso em todas as eras do
mundo (Jr 17:9). Feliz aquele que, na atualidade, à semelhança de Mardoqueu, permanecer
fiel ao princípio (Et 3:2) e arriscar tudo para proteger os "amados do Senhor" pois pode
reclamar a promessa dada ao Benjamim da antigüidade: "Todo o dia o Senhor o protegerá,
e ele descansará nos Seus braços."
Doze mil, possuindo esse caráter, levando o nome de Benjamim, servirão ao Senhor
dia e noite em Seu templo através da eternidade. (Ap 7:15.)

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Manassés

A bênção de um patriarca agonizante possuía grande significado nos tempos


primitivos, e quando José soube que seu pai estava enfermo, tomou seus dois filhos,
Manassés e Efraim, e o visitou.
Depois de repetir a José a promessa da terra de Canaã que havia sido feita a Abraão e
renovada a Isaque e Jacó, o idoso patriarca disse: "Teus dois filhos... Efraim e Manassés
serão meus, como Rúben e Simeão." Quando Jacó viu os meninos, disse: "Faze-os chegar a
mim, para que eu os abençoe." (Gn 48:1-9).
José colocou o primogênito à mão direita de Jacó e o mais novo â sua esquerda; mas o
velho patriarca pousou sua mão direita sobre a cabeça do mais novo e sua mão esquerda
sobre a cabeça do mais velho e os abençoou. Quando José percebeu, tentou colocar a mão
direita de Jacó sobre a cabeça de Manasses, o mais velho, dizendo: "Não assim, meu pai,
pois o primogênito é este... Mas seu pai o recusou, e disse: Eu sei, meu filho, eu o sei...
Também ele será grande, contudo seu irmão menor será maior do que ele." (Gn 48: 15-20).
A semelhança de seu grande tio Esaú, Manassés, embora fosse o primogênito, recebeu
o segundo lugar na bênção. Mas as circunstâncias eram inteiramente diferentes. Manassés
nada fizera para perder seus privilégios na bênção da família. Ao passo que ele não possuía
as propensões belicosas de Efraim, que o capacitaram a estabelecer o reino de Israel, o nome
de Manassés duraria mais que o de Efraim.
Havia uma parte da bênção do patriarca que parecia mais amplamente compartilhada
por Manassés do que por seu irmão mais próspero. "O anjo que me livrou de todo o mal,
abençoe estes rapazes." (Gn 48:16).
A bênção do Senhor foi apreciada por Manassés e seus descendentes. Embora vivessem
a certa distância do centro da nação e do templo, e apesar de se terem tornado parte do reino
do norte, ainda assim tinham interesse em todas as reformas instituídas pelos bons reis de
Judá.
Quando o rei Asa destruiu os ídolos e restaurou a adoração do Senhor, vieram a ele
"em grande número" de Manassés, "vendo que o Senhor seu Deus era com ele" (2 Cr 15:8,9).
Quando Ezequias realizou sua grande festa da Páscoa, representantes de Manassés humi-
lharam seus corações e vieram participar da Páscoa (2 Cr 30:1, 10, 11, 18). Também se
uniram na obra de destruir as imagens de escultura em seu próprio território (2 Cr 31:1).
A obra de reforma nos dias de Josias foi também levada a efeito na terra de Manassés
(2 Cr 34:1-6). Não perderam o interesse pelo templo de Jerusalém, mas contribuíram com
seus recursos para restaurá-lo depois de sua profanação durante os reinados de Manassés e
Amon (2 Cr 34:9). É de se supor que o octogésimo salmo foi escrito por algum inspirado
escrevente da casa de José durante uma dessas ocasiões de reforma.
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Pouca coisa consta sobre a tribo de Manassés após seu estabelecimento em Canaã, mas
é gratificante o fato de que, embora escassas e esparsas as passagens que se referem àquela
tribo, todas denotam o desejo da parte de muitos de servirem ao Senhor.
A benção do anjo repousou sobre Manassés, e, conquanto Efraim e Manassés fossem
os nomes das duas porções dadas a José na possessão terrestre, Os nomes dados às duas
divisões dos cento e quarenta e quatro mil no reino de Deus serão Manassés e José. O nome
de Manassés é desse modo imortalizado, ao passo que o de Efraim submerge no
esquecimento.
Gideão, o maior dos juízes, era da tribo de Manassés. Parece ter sido o único grande
guerreiro da metade da tribo do ocidente do Jordão. A parte oriental era mais belicosa.
Quando Davi se uniu com Os filisteus para batalhar contra Saul, guerreiros de Manassés se
uniram a ele. Mas quando os chefes dos filisteus não permitiram que Davi fosse com eles à
batalha, sete guerreiros valentes "chefes de milhares dos de Manassés", se uniram a Davi
em Ziclague. "E estes ajudaram a Davi contra aquela tropa" que havia levado cativa a família
de Davi, "porque todos eles eram heróis valentes (1 Cr 12:19-22).
Após a morte de Saul, dezoito mil da meia tribo de Manassés "foram apontados pelos
seus nomes para vir a fazer rei a Davi" (1Cr 12:31) em Hebrom.
As cinco filhas de Zelofeade, da tribo de Manassés, são as primeiras mulheres
mencionadas na Bíblia possuindo herança em seu próprio nome e direito (Nm 27.:18).
Se Rúben jamais tivesse perdido o seu direito de primogenitura por causa do próprio
pecado, ou se Dã não tivesse formado um caráter tão próximo do de Satanás que seu nome
foi omitido da lista das doze tribos, o nome de Manassés jamais poderia ter sido dado a uma
das divisões dos cento e quarenta e quatro mil. Em todas essas experiências há lições para
todo filho de Deus.
Quando Deus diz: "Eu venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome
a tua coroa (Ap 3: 11), é bom que ouçamos a admoestação. Se não ouvirmos, poderemos
achar, quando for demasiado tarde, que permitimos ao mundo roubar-nos o amor pelo
Mestre, e que nosso juízo se tornou (ao obscurecido pelo pecado e incredulidade que, como
Rúben, deixamos de alcançar o objetivo de fazer a obra que Deus nos mandou realizar.
Alguém que, como José, foi separado dos da mesma fé, sem as oportunidades que
desfrutamos, fará, pela mesma fé e confiança em Deus, a obra que temos deixado de fazer,
e receberá a recompensa que podíamos ter obtido.
A estrada do tempo está juncada de náufragos de caráter — homens que uma vez foram
verdadeiros e fiéis membros do Israel de Deus (Rm 2:28, 29) e que estavam "inscritos entre
os vivos em Jerusalém" ( Is 4:3) mas que permitiram a Satanás encher seus corações de
inveja, ciúme e crítica, até que, como Dã, perderam sua posse das coisas celestiais, e não
mais estão numerados entre o Israel de Deus.
"Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa." (Ap 3:77).

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Os 144.000

Gênesis é o livro dos começos, Apocalipse o livro dos fins. As mais importantes linhas
da verdade transmitidas por todos os escritores do Antigo Testamento se encontram no
Apocalipse. Gênesis nos apresenta as doze tribos de Israel. Apocalipse nos mostra os últimos
representantes daquelas doze tribos em pé no monte Sião, no reino eterno de Deus. Ap 14:1.
Os remidos do Senhor constituem uma hoste inumerável, que homem algum pode
contar; mas entre aquela multidão está uma corporação separada, de pessoas numeradas, e
designada por seu número – cento e quarenta e quatro mil. Essa companhia é composta de
doze divisões diferentes, contendo cada uma doze mil almas remidas; e cada divisão leva o
nome de uma das doze tribos de Israel (Ap 7:4-8). A lista apresentada em Apocalipse difere
um pouco da lista dos doze filhos de Jacó (1 Cr 2:1, 2), pois Dã é omitido, e a divisão extra
recebe o nome de Manassés, o filho mais velho de José. Essa companhia tem privilégios
especiais. Estão de pé no monte Sião com Cristo (Ap 14:1), e "seguem ao Cordeiro para
onde quer que vá" (Ap 14:4). Têm o exaltado privilégio) de servir a Cristo no templo
celestial (Ap 7:15); e, à semelhança de toda a hoste de remidos, estão irrepreensíveis diante
de Deus, e em sua boca não se achou engano (Ap 14.5).
A grande ceifeira —a morte, levou geração após geração dos santos de Deus a tumba
silenciosa; e a fim de que alguns não viessem a temer que a sepultura seja o lugar final dos
fiéis, Deus deu a seguinte garantia através do Seu profeta: "Eu os livrarei do poder da morte.
Eu os resgatarei da morte" (Os 13: 14 — Pe. Matos Soares).
Os cento e quarenta e quatro mil são comprados da Terra — dentre os homens (Ap
14:3, 4). Estarão vivos na Terra quando o Salvador vier, e serão transladados, juntamente
com a grande multidão que sairá de seu leito de pó, revestida de gloriosa imortal idade
quando Cristo vier nas nuvens do céu (1 Ts 4:16, 17).
Os cento e quarenta e quatro mil são distinguidos de todos os outros por terem em suas
testas o selo do Deus vivo. Todos os que têm este selo estão incluídos nesta companhia (Ap
7:2. 4). Esta marca distintiva é chamada "o nome do Pai" (Ap 14:1). A Ezequiel foi mostrada
a mesma obra, e a ela se refere como um "sinal" sobre a testa (Ez 9:4).
Estamos familiarizados com o termo "selo" em conexão com documentos legais. Um
selo contém o nome da pessoa que emite o documento, seu cargo ou autoridade, e a extensão
do seu domínio. O selo colocado nas testas dos cento e quarenta e quatro mil é o selo do
Deus vivo. Os selos estão vinculados a leis e a documentos legais e, por conseguinte,
devemos procurar o selo de Deus em conexão com Sua lei. O profeta Isaías, olhando através
dos séculos, viu um povo que estava aguardando a vinda de Cristo do santuário celestial
para a Terra, e a mensagem de Deus a eles era: "Sela a lei entre os Meus discípulos" (Is 8:
16).
A Bíblia foi dada através dos profetas – homens santos que Deus utilizou como porta-

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vozes para tornar Sua vontade conhecida a Seu povo (2 Pe 1:20, 21); mas a lei de Deus – os
dez mandamentos não foi dada através de qualquer agente humano. Deus, o Pai, Cristo, o
Filho, e miríades de seres celestiais desceram no monte Sinai (SI 68:17) quando Os dez
mandamentos foram proclamados à vasta multidão de Israel – mais de um milhão de pessoas
(Dl 4:10, 13, 32, 33). Então, a fim de que não houvesse erro algum ao escrever a lei que Ele
dera, Deus chamou Moisés à montanha, e lhe deu duas tábuas de pedra nas quais Ele
escreveu com Seu próprio dedo os mesmos dez mandamentos que havia proferido aos ouvi-
dos da multidão (Dt 10:1-5; Ex. 31:78; 32:15, 19). Essa lei será a norma pela qual todo o
filho e filha de Adão serão julgados (Tg 2:10-12; Rm 2:12, 13; Ec 12:13, 14). Vinculou
Deus Seu selo a esta lei, por meio da qual todos possam conhecer as reivindicações que lhe
estão vinculadas? Lembrando que o selo deve conter, primeiro, o nome do originador da lei;
segundo, o cargo e a autoridade de que está investido o legislador; e terceiro, o território
sobre o qual governa, procuremos o selo da lei de Deus.
Os primeiros três mandamentos e também o quinto mencionam o nome de Deus (Ex
20:3-7,12), mas não O distinguem dos outros deuses (1 Co 8:5). Os últimos cinco
mandamentos mostram o nosso dever para com o próximo mas não contém o nome de Deus
(Ex 20.. 13-17).
O quarto mandamento contém, primeiro, o nome, "O Senhor teu Deus"; segundo, a
afirmação de que o Senhor teu Deus é o Criador de todas as coisas e, por conseguinte, tem
poder para promulgar esta lei. Terceiro, a indicação do Seu território que consiste nos "Céus
e a Terra" que Ele criou (Ex 20:8-11).
O quarto mandamento exige de todos Os que habitam no território do Senhor Deus, o
Criador, que santifiquem o sétimo dia da semana, que Ele santificou e abençoou (Gn 2:2, 3)
como memorial de Sua obra criadora.
O mandamento do sábado contém o selo da lei. A palavra "sinal" é algumas vezes
usada como sinônimo de "selo" (Rm 4:11). Acerca do sábado Deus declara: "Entre Mim e
os filhos de Israel é sinal para sempre" (Ex 31:13, 16, 17). "Também lhes dei os Meus
sábados, para servirem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu sou o Senhor
que Os santifica (Ez 20:12).
Deus abençoou e santificou o sábado (Gn 2:2,3); e para aquele que O santifica, é o
sinal, ou selo do poder de Deus para santificá-lo (Is 58:13, 14). Há um conhecimento de
Deus na devida observância do sábado. "Santificai Os Meus sábados, pois servirão de sinal
entre Mim e vós, para que saibais que Eu sou o Senhor vosso Deus" (Ez 20:20).
Durante a Idade Média, quando a Palavra de Deus esteve oculta ao povo, o selo foi
tirado da lei de Deus. O domingo, primeiro dia da semana, um dia em que Deus trabalhou
(Gn 1:1-5), substituiu o sábado do sétimo dia, em que Ele repousou (Giz 2:2, 3). O Senhor
revelou por meio do profeta Daniel que se levantaria um poder que "cuidaria em mudar" a
lei de Deus (Dn 7: 25; 12:7) e que a lei seria entregue nas suas mãos por mil duzentos e
sessenta anos, período este mencionado tanto por Daniel como por João (Ap 11:2; 12:6;
13:5). Após a passagem desse período e a colocação da Bíblia nas mãos do povo novamente,
o verdadeiro sábado do quarto mandamento devia ser restaurado e observado. A brecha feita
na lei seria restaurada (Is 58.12), e a lei selada entre os discípulos do Senhor, os quais
estariam aguardando ansiosamente o Seu retorno (Is 8:16, 17).
Em Ap 7:2 esta mensagem do assinalamento é representada como vinda do Oriente, ou
nascente. Deve-se compreender disto que começaria como o nascer do sol, a princípio uma
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luz ténue, que aumenta constantemente até que ilumine a Terra inteira.
Quatro anjos são comissionados para segurar os quatro ventos até que a obra esteja
concluída. Ventos são símbolos de guerra (Dn 11:40). Em cumprimento disto, esperaríamos
encontrar que, durante algum período da história do mundo, quando os ventos de guerra
foram miraculosamente retidos, a obra de restauração do selo à lei de Deus prosseguia na
Terra.
Sempre tem existido na Terra alguns adeptos do sábado do sétimo dia, mas a obra de
restaurar a brecha que foi feita na lei começou por volta de 1845, pelos que estavam
aguardando a segunda vinda do Senhor. Após a passagem do tempo marcado para o Seu
retorno, no outono de 1844, a atenção daqueles que haviam esperado que Cristo retornasse
à Terra naquele tempo, foi direcionada para o santuário celestial onde, pela fé, con-
templaram a Cristo oficiando como seu Sumo-Sacerdote. Ao acompanharem o Salvador em
Sua obra, "abriu-se no Céu o templo de Deus, e a arca do Seu concerto foi vista no Seu
templo'' (Ap 11:19). Sua atenção foi atraída para a lei contida na arca (Ex 25:16) e alguns
deles reconheceram a obrigatoriedade do sábado do Senhor e o aceitaram como o selo da
lei. Por volta de 1845 -1848 o sábado começou a ser pregado como o selo da lei do Deus
vivo.
Em 1848 ocorreu nos negócios das nações da Europa uma das maiores revoluções
como não ocorria há muitos séculos. Foram feitas mudanças decisivas em algumas das
principais nações. Em um breve período de tempo, muitas das cabeças coroadas da Europa
se submeteram ao povo. Parecia inevitável uma guerra mundial. Em meio ao tumulto e à
contenda adveio repentina trégua. Homem algum podia assinalar qualquer razão para isso,
mas os estudantes da profecia sabiam que os anjos estavam segurando os ventos até que os
servos de Deus pudessem ser selados em suas frontes.
A fronte é a sede do intelecto, e quando os sinceros de coração virem e reconhecerem
os reclamos da lei de Deus, santificarão o sábado. O selo colocado pelo anjo na fronte não
pode ser lido pelo homem, pois somente Deus pode ler o coração. O simples descansar no
sétimo dia de todo trabalho físico não colocará o selo na fronte de pessoa alguma. O
descanso é necessário, mas com o descanso deve estar também a vida santa e santificada
que se harmoniza com o dia santo e santificado (Is 58:13).
Ezequiel viu o anjo colocando um "sinal nas frontes dos que estavam suspirando por
causa das abominações praticadas pelo professo povo de Deus (Ez 9:1-4). Os que estão à
vontade em Sião, carregados pela correnteza, com as afeições do coração centralizadas no
mundo, jamais receberão o selo do Deus vivo.
A reforma do sábado — a obra de selamento de Ap 7:1-4 — surgiu como o sol. Por
alguns anos houve apenas alguns que guardavam o sábado do quarto mandamento, mas
quando indivíduos aqui e ali, em todas as partes do mundo, concluíram que toda a Bíblia,
do Gênesis ao Apocalipse, ensina que o sétimo dia é o sábado, e que Cristo (Lc 4:16; Mt
5:17 e 18) e Os apóstolos o guardavam, então eles o aceitaram (Rm 3:19); e hoje, em todas
as partes da Terra há os que honram a Deus como Criador, mediante a santificação do dia
que Ele santificou e abençoou como o memorial de Sua obra criadora.
Na igreja cristã não há judeu nem gentio: todos são um em Cristo Jesus (Gl 3:28).
Somos todos enxertados na família de Abraão (Rm 11:17-21; Gl 3:29). Os cento e quarenta
e quatro mil não são necessariamente descendentes literais dos judeus (Rm 11:21-23), mas
os que receberam o selo do Deus vivo em suas frontes, cujas vidas estão em harmonia com
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os santos preceitos de Jeová.
Em Ap 14:9-14 fala-se de um poder que se opõe ã lei de Deus e tem o sinal que tentará
impor ao povo através do poder civil (Ap 13:13-18). Desde que o sábado do Senhor é dado
por Jeová como um sinal do Seu poder e Seu direito de governar, o sábado falsificado, ou
domingo, o primeiro dia da semana, será o sinal do poder opositor. A lei de Deus ordena a
todos que santifiquem o sétimo dia da semana, memorial divino da Criação; mas as leis da
Terra ordenarão que todos repousem no domingo, o primeiro dia da semana (Ap 13:16, 17).
Quando vier esta prova, toda pessoa terá de decidir por si mesma. Muitos, à semelhança
de Pedro e João, quando diante de magistrados e prisões, dirão: "Mais importa obedecer a
Deus do que aos homens" (At 5:29). Este conflito continuará, diz João, ao ponto de Satanás
se irar contra a Igreja, de tal modo que fará "guerra ao resto da sua semente, os que guardam
os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo"(Ap 12:17).
Em resultado deste conflito os cento e quarenta e quatro mil serão ajuntados. Sua
experiência será semelhante à dos filhos de Israel ao saírem do Egito. Faraó não lhes
permitiria o descanso no sábado. Ele classificou as instruções de Moisés e Arão de "palavras
de mentira" (Ex. 5:9) ou, no dizer do Dr. Adam Clark, Faraó afirmou: "Deixem a religião, e
pensem no trabalho." No "mesmo dia" (Ex 5:5, 6) em que Faraó lamentou porque Moisés e
Arão estavam instruindo o povo a repousar, o monarca deu a ordem: "Daqui em diante não
torneis a dar palha ao povo para fazer tijolos" (Ex 5:7,8), e as obrigações dos filhos de Israel
foram grandemente aumentadas. Satanás estava determinado a não permitir que os israelitas
honrassem o sábado do Senhor, mas Deus livrou o Seu povo e destruiu Faraó e todas as suas
hostes (Ex 14:19-31).
Na Terra, o sinal que identifica os cento e quarenta e quatro mil é o selo de Deus cm
suas frontes. No Céu, será o maravilhoso cântico que eles entoarão: "E cantavam um como
cântico novo diante do trono, ...e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e
quarenta e quatro mil que foram comprados da Terra."(Ap 14:3.) "E cantavam o cântico de
Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro"(Ap 15:3). E um cântico de experiência –
maravilhosa melodia! Nem mesmo o coral angélico se pode unir nestas maravilhosas
melodias quando ecoam através das arcadas do Céu. Nem mesmo Abraão, o amigo de Deus,
com toda a sua fé, pode se unir naquele cântico. Que coral será este! Cento e quarenta e
quatro mil vozes, todas em perfeita harmonia, cantando "o cântico de Moisés, servo de Deus,
e o cântico do Cordeiro".
Como as doze tribos, depois de atravessarem o Mar Vermelho, se uniram todas no
cântico de vitória, assim os últimos representantes das doze tribos de Israel na Terra, quando
estiverem de pé naquela poderosa falange no mar de vidro diante do trono de Deus no Céu,
cantarão o cântico de Moisés e do Cordeiro.

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As tribos perdidas

Muito se tem dito e escrito acerca das tribos perdidas de Israel, e muitas teorias
fantasiosas têm sido inventadas em relação a elas. Não tentaremos seguir nenhuma dessas
linhas de argumentação, mas falaremos das tribos que estão perdidas de fato.
Nos capítulos anteriores vimos que Rúben, Simeão, Levi, Judá, Naftali, Gade, Aser,
Issacar, Zebulon, José, Benjamim e Manassés não somente tiveram partes na Palestina mas
também tiveram seus nomes imortalizados, e estarão representados no reino de Deus por
toda a eternidade, ao passo que os nomes de Efraim e Dã submergiram no esquecimento.
São eles as tribos perdidas de Israel.
Por que foram o orgulhos Efraim, que era a força do reino de Israel, e Dã, que era
sobrepujado apenas por Judá em número de guerreiros quando entraram na terra prometida,
deixados fora do grande ajuntamento final de Israel como tribos?
Efraim era filho de uma princesa egípcia, idólatra, até onde tenhamos qualquer registro.
É muito provável que a maior parte da vida de Efraim tenha sido passada entre os egípcios,
pois dificilmente podemos supor que com suas ligações orgulhosas ele se tenha associado
com os israelitas em Gósen, até que se levantasse um rei que não conhecera a José (Ex 1:8).
Manassés viveu no mesmo ambiente, mas o fato de Efraim ter recebido primeiro a bênção
do patriarca pode ter enchido o seu coração de orgulho e dado um molde diferente à sua
vida. Efraim tinha cerca de vinte e um anos de idade quando recebeu a bênção de Jacó.
Tivera um piedoso exemplo de seu pai por muitos anos; pois José vivera até ver os filhos de
Efraim da terceira geração (Gn 50:23). Dá-se apenas um relance da vida individual de
Efraim. O registro afirma que seus filhos, em uma sortida, roubaram o rebanho pertencente
aos homens de Gate, e estes, por sua vez, os mataram.
"E Efraim, seu pai, os pranteou por muitos dias, pelo que seus irmãos vieram para o
consolar." (1 Cr 7:22).
Enquanto Efraim estava ainda lamentando a perda de seus filhos, nasceu-lhe outro
filho, que foi chamado Berias, ou "Mal", "porque as coisas iam mal em sua casa" (1 Cr 7:23,
24). Estranho como pareça, de Berias surgiu o mais ilustre de todos os seus descendentes,
—Josué, o grande líder de Israel (1 Cr 7:27). "Oséias, filho de Num" (Nm 13:8, 16) foi
escolhido como um dos doze espias, e após sua fidelidade ter sido provada naquela ocasião,
seu nome foi mudado de Oséias, "salvo", para Josué, "Jeová é a Salvação". Essa mudança
de nomes era comum nos tempos primitivos, pois os nomes indicavam o caráter do portador.
Abrão tornou-se Abraão quando recebeu a promessa, e após a noite de luta, Jacó, o
suplantador, tornou-se Israel, o príncipe de Deus (Gn 17:5; 32:28).
Um outro descendente ilustre de Berias foi sua filha Será, que edificou duas cidades (1
Cr 7:24).
Samuel, o último juiz de Israel, era da tribo de Efraim. Foi em Siló que Ana entregou
Samuel a Eli, o sacerdote (1 Sm 2:24-28). Samuel é um dos mais fortes personagens da
Bíblia. Poucos homens ocuparam tantos cargos durante uma vida útil e longa como o fez

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Samuel. Ele oficiou como sacerdote, mas não era sacerdote (1 Sm 7:9). Julgou Israel todos
os dias de sua vida (1 Sm 7:15). Foi também grande educador, e estabeleceu as escolas dos
profetas. Quando era apenas uma criança, a Samuel foi confiado o Espírito de Profecia (1
Sm 3:1-21), e crê-se que uma parte da Bíblia foi escrita por ele.
Efraim, como tribo, teve muitas vantagens, mas fracassou por não aproveitá-las. Os
efraimitas eram ciumentos e invejosos, sempre sensíveis às supostas desfeitas (Jz 8:1; 2
Sm.19:41-43).
Após a morte de Salomão, o reino foi dividido, e desde aquela ocasião a história de
Efraim é a história do reino de Israel.
Jeroboão, seu primeiro rei, era efraimita. Foi Deus Quem rasgou o reino das mãos de
Roboão e entregou as dez tribos a Jeroboão (1 Rs 11:29-31) Se ele houvesse andado
humildemente com Deus, a história de Efraim teria sido totalmente diferente. Foi o mesmo
espírito de ciúme e suspeita que havia marcado a história de sua tribo, que influenciou
Jeroboão a fazer os bezerros de ouro, e erigi-los em Betel e Dã, estabelecendo desse modo
um sistema de adoração idolátrico (1 Rs 12:26-33). O Senhor enviou uma mensagem de
advertência, e até realizou um milagre na pessoa do rei (1 Rs 13:1-6), mas "Jeroboão não
deixou o seu mau caminho" (1 Rs 13:33).
Há poucas coisas mais tristes que o constante declínio da arrogante e invejosa tribo de
Efraim do pináculo do êxito –seu líder foi o líder da nação inteira, e o centro de adoração
em Siló dentro de suas fronteiras – ao súbito cativeiro e total esquecimento que encerraram
sua carreira.
Algumas das mais comoventes mensagens foram enviadas pelo Senhor à tribo de
Efraim. Quase todos Os testemunhos do profeta Oséias foram súplicas para que Efraim se
arrependesse. "Todavia Eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos Meus braços, mas não
atinaram que Eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, ...mas o
assírio será o seu rei; porque recusaram converter-se." (Os 11:3-5)
Oséias dá os motivos da queda desta tribo: "Efraim se mistura com os povos, é um pão
que não foi virado." (Os 7:8). O reino de Deus e os reinos do mundo são inteiramente
distintos. Ninguém pode servir a Deus e a Mamon. Efraim foi "um pão que não foi virado",
não teve uma experiência profunda nas coisas de Deus. Ninguém pode misturar-se com o
mundo, gastar sua força à procura de fama e riqueza, e ao mesmo tempo ser membro do
verdadeiro Israel de Deus.
O Senhor pleiteou com Efraim, dizendo: "Como te deixaria, ó Efraim? Como te
entregaria, ó Israel?" (Os 11:8). De novo Ele diz: "Embora Eu lhe escreva a Minha lei em
dez mil preceitos, estes seriam tidos como coisa estranha." (Os 8:12).
A idolatria foi o grande pecado de Efraim; deixou de apreciar as coisas sagradas de
Deus. Após as súplicas divinas serem rejeitadas, foram ditas as palavras: "Efraim está
entregue aos ídolos; deixa-o." (Os 4:17). "O meu Deus os rejeitará, porque não o
ouviram"(Os 9:17) nem aceitaram Seu amor.
Há muitos idólatras no mundo de hoje, viajando pela mesma estrada em que Efraim
passou. Não adoram ídolos de metal, madeira ou pedra, pois os deuses populares da
atualidade não são daquela forma: são o dinheiro, riquezas, prazeres e a alta posição. Deus
os convida (os idólatras da atualidade) mas eles, como Efraim, estão apegados aos seus
ídolos. Como o Efraim da antiguidade, são contados como parte da Igreja de Deus. Mas o
teatro e os lugares de diversões têm para eles maiores atrações que a casa de oração, e a
sociedade mundana é-lhes mais agradável que a companhia dos santos. Um dia serão
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levados cativos por um rei maior que os reis da Assíria e de Babilônia.
O grande Rei de todos os reis Se levantará e sacudirá terrivelmente a Terra. "Naquele
dia os homens lançarão às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata, e os seus ídolos
de ouro, que fizeram para ante eles se prostrarem... ante o terror do Senhor, e a glória de Sua
majestade, quando Ele se levantar para espantar a Terra." (IS 2:20, 21)
Dã foi o quinto filho de Jacó, e seus descendentes compunham uma das mais fortes
tribos de Israel. Sessenta e quatro mil e quatrocentos guerreiros marchavam sob a bandeira
de Dã quando entraram na terra prometida (Nm 26:42, 43). Por alguma razão a grande tribo
de Dã recebeu uma das menores porções da herança, e na ocasião quando avançaram para o
norte e pelejaram contra Lesém e a tomaram, feriram-na ao fio da espada, tomaram posse
dela e habitaram-na; e a Lesém chamaram Dã, conforme o nome de Dã, seu pai." (Is 19:40-
48) Jeroboão erigiu seus bezerros de ouro, um em Betel, no território de Efraim, e o outro
na cidade de Dã. E os danitas se entregaram à idolatria. Mesmo antes dos dias de Jeroboão,
deparamos com os danitas adorando imagens de escultura (Jz 18:30).
Quando o tabernáculo foi erigido no deserto, Deus, de maneira especial, dotou Aoliabe,
da tribo de Dã, de sabedoria para inventar obras artísticas, e trabalhar em ouro, em prata e
bronze. (Ex 31:3-6). E também deu-lhe habilidade para ensinar aos outros a mesma arte. (Ex
35:34). Esses dons permaneceram com a tribo de Dã, e foram sem dúvida a razão por que
foram atraídos pelas riquezas da cidade de Tiro, e se uniram através de casamentos com seus
habitantes (1 Rs 7:13, 14).
Anos mais tarde, quando Salomão construiu o templo, Hirão, rei de Tiro, enviou um
descendente de Dã, que ainda possuía o dom outorgado pelo Senhor a seus ancestrais, para
empreender o trabalho artístico em ouro, prata e cobre para o templo (2 Cr 2:13, 14), em
Jerusalém.
A tribo de Dã ainda conservava o seu lugar entre os israelitas no tempo de Davi (1 Cr
27:22); mas depois disso o nome referindo-se à tribo desaparece, e raras vezes é
mencionado, exceto quando se refere à cidade do norte que tinha aquele nome.
Sansão é o único juiz que a tribo de Dá ofereceu a Israel. Ele julgou a Israel por vinte
anos (Jz 13:2; 15:20).
A benção pronunciada por Jacó sobre Dá retrata o caráter deste: "Dã julgará o seu povo,
como uma das tribos de Israel. Dá será a serpente junto ao caminho, uma víbora junto à
vereda, que morde os calcanhares do cavalo, de modo que caia o seu cavaleiro para trás."
(Gn 49:16, 17).
Como a bênção pronunciada sobre Rúben, a primeira parte retrata o caráter que ele
teria possuído, se tivesse aproveitado as oportunidades que Deus colocou em seu caminho.
Que contraste entre um juiz, respeitado e honrado por todos, e uma serpente à beira do
caminho, pronta a cravar suas presas mortíferas na carne de cada viajante!
Dá foi o primeiro filho nascido das concubinas, mas o idoso patriarca deu-lhe um lugar
de honra entre as tribos de Israel.
Certamente ele foi dotado de discernimento rápido, penetrante, que faz um bom juiz.
Mas não exercitou o dom conforme Deus designara; usou-o para descobrir o mal nos outros,
em lugar do bem.
"Uma víbora junto à vereda que morde os calcanhares do cavalo de modo que caia o
seu cavaleiro para trás." Que palavras poderiam descrever melhor a má língua que "é
inflamada pelo inferno" (Tg 3:6-8) e está "cheia de peçonha mortal?" Dã representa o

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difamador, pois a víbora ataca os calcanhares do cavalo. Tais caracteres são odiados por
Deus e pelo homem. A Palavra do Senhor diz: "Aquele que difama o seu próximo às
escondidas, Eu o destruirei." (Sl 101:5). As palavras proféticas de Jacó revelam por que a
tribo de Dã não tem parte na herança eterna: Deus havia decretado, muito antes que selassem
o seu destino por sua conduta ímpia, que nenhum maldizente permaneceria para sempre no
Monte Sião.
O salmista pergunta: "Senhor, quem habitara no Teu tabernáculo? Quem morará no
Teu santo monte?" Em outras palavras: Quem Te servirá dia e noite no Teu templo e
permanecerá contigo no Monte de Sião? "Aquele que não difama com a sua língua, nem faz
mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo," é a resposta de
Jeová (Sl 15:1-3).
Rúben, mediante "intenso esquadrinhar do coração", venceu sua inclinação natural que
era "instável como a água", até que dele pudesse ser dito: "Viva Rúben e não morra". E Levi,
pela graça de Deus, transformou a maldição de seu moribundo pai em bênção. Judá pela
ajuda do Senhor em sua vida diária, "prevaleceu sobre seus irmãos" de tal maneira que o
moribundo pai pudesse dizer: "O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de autoridade
dentre seus pés, até que venha Aquele a Quem pertence, e a Ele obedecerão os povos." Gade,
embora vencido por um turbilhão de tentações, alcançou a vitória, e "venceu, afinal".
Benjamim, de voraz "como um lobo" aprendeu a confiar em Deus de tal modo que dele pôde
ser dito: "O Senhor o cercará o dia todo e ele habitará entre os Seus ombros." Aser aprendeu
a "mergulhar seus pés no azeite" e superou suavemente as provas que, sem o Espírito de
Deus, jamais teria dominado. Efraim e Dã, com as mesmas oportunidades que seus irmãos
tiveram para vencer seus maus traços de caráter, deixaram de alcançar a vitória, e não são
computados com os cento e quarenta e quatro mil que estarão no santo Monte de Deus e
habitarão em Seu tabernáculo.
Nas famílias modernas de toda a Terra a mesma história está sendo repetida. Irmãos,
educados pelos mesmos pais, rodeados pelas mesmas influências ambientais, estão passando
pelas mesmas experiências que estão registradas acerca dos filhos de Jacó. Acerca deles,
como do trigo e do joio, é dada a ordem: "Deixa-os crescer juntos até a ceifa." A mesma luz
solar e temporal que maduram os dourados cachos de trigo para o celeiro, amadurece o joio
para a destruição final. Assim as mesmas bênçãos diárias do Pai das luzes amadurecem uma
pessoa para o reino de Deus, e outra para a destruição final.
Cada um é o arquiteto do seu próprio caráter. A todos é feito o chamado: "Olhai para
Mim, e sereis salvos." Aquele que conservar sua mente firme em Deus será transformado
mediante o contemplar. Dia após dia ocorrerá uma transformação na alma, que levará os
anjos a se maravilharem da obra realizada na humanidade.
O mesmo Cristo que uma vez andou na Terra, em forma humana, mediante Seu Espírito
habitará em cada
ser humano que abrir a porta do coração e convida-lO a entrar. Aquele que meditar em Cristo
e estudar Sua vida sem pecado, pelo contemplar a glória do Senhor será "transformado de
glória em glória na mesma imagem". Cristo está servindo de modelo a cada discípulo. E
possível à pobre e caída humanidade, mediante o poder de Deus, refletir o caráter divino.
Cristo cobre a vida marcada com Os trajes imaculados de Sua própria justiça. Deus e os
anjos contemplam o indivíduo coberto desse modo, e vêem apenas o caráter perfeito do
divino Filho de Deus. Através dos infindáveis séculos da eternidade, os remidos
testemunharão o poder transformador do sangue de Cristo.

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