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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

Lição 1

Introdução aos
livros históricos de
Josué, Juízes e Rute
O AT pode ser dividido em cerca de 9 períodos:
a criação, os patriarcas, o êxodo, a conquista, os
juízes, a monarquia, o exílio, o retorno e o silêncio
(ou período inter-bíblico). O Pentateuco (1º, 2º e 3º
períodos) registra o nascimento do povo de Deus. A
continuidade desta nar-
Leitura Diária
rativa inicial é chamada
SEG Josué 1.1-9
de Livros Históricos. Este
TER Josué 13.1-13
conteúdo é importante
QUA Josué 24.14-25
pelo menos por duas ra-
QUI Juízes 2.11-23
zões: primeiro, por conta
SEX Juízes 9.7-21
do registro histórico em
SÁB Rute 1.1-22
si e depois, pelo que en-
DOM Rute 4.1-12
sinam teologicamente.
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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

O conteúdo histórico destes livros cobre um pe-


ríodo de 800 a 1000 anos, desde a chegada de
Josué em Canaã no século XV (ou possivelmente
no séc. XIII a.C.) até Neemias, em meados do séc.
X a.C. ou domínio dos persas (mesma época) onde
viveu Ester.
O conteúdo teológico apresenta preciosas lições:
a) eles traçam a história do Senhor com Sua na-
ção; b) revelam o amor fiel e imutável de Deus por
Seu povo; e c) contam, diferentemente da histó-
ria comum, a História da Salvação, “que são reve-
lações divinas no tempo e no espaço, registradas
nas Escrituras para promover a fé”.1

1. Josué e a fé para ocupar a terra –


4º período do AT
Josué é o grande protagonista de seu livro (o pri-
meiro dos históricos). Seu nome significa “Jeová é
a salvação” ou “Jeová salva” e sua forma grega é
“Jesus”. Ele aparece nas Escrituras como um aju-
dante de Moisés (Ex 33.11), e seu assistente na
guerra contra Amaleque, em Refidim (Ex 17.9). Sua

1 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo


Testamento: uma perspectiva cristã. 1ª ed. trad. de Suzana
Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 160.
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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

fé, firmeza e coragem são evidentes. “Mesmo que


tenha sido um homem de grandes qualidades na-
turais, por preparação ou experiência, sua supre-
ma qualidade consistiu em ser ‘homem que há o
Espírito’ (Nm 27.18), ou seja, um homem investido
do Espírito Santo”. 2

Somente um homem de Deus teria condições de


lidar com os desafios que lidou. Por ainda não ser
uma nação forte, o povo da Palestina formava um
conglomerado de pequenas cidades-estados (pe-
quenos reinos ao redor de suas cidades fortifica-
das). Além de brigarem entre si, estas cidades so-
friam com a invasão de exércitos estrangeiros. Se
não bastasse as demandas bélicas e sociopolíticas,
a demanda religiosa também era desafiadora. Os
cananeus eram politeístas. “Rendiam culto a ‘El’,
criador e principal divindade, e a Aserá, sua espo-
sa. Entre os seus muitos filhos Baal (senhor) era o
mais importante”. Os cultos eram chafurdados de
3

lascívia, uma vez que criam que a fertilidade da ter-


ra e dos animais, as chuvas e o crescimento da ve-

2 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996, p. 23.

3 Id Ibid. p. 27.
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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

getação, dependiam das relações sexuais dos deu-


ses. Assim, os atos cultuais eram eivados de orgias;
a prática da adivinhação e adoração de serpentes
era constante; os pecados contra a natureza eram
comuns (Lv 18 e Dt 12.31), que o Senhor chegou
a mencionar que “a terra vomitou seus moradores”
(Lv 18.25).
Desta forma, o livro apresenta como tema geral
o grande desafio a ser enfrentado por seu protago-
nista, retratando uma terra sui generes e um povo
que precisava ocupar e se estabelecer nela. Os pro-
pósitos significativos da obra:
a) Descrever o domínio de Canaã e o estabeleci-
mento das tribos nela;
b) Revelar que Deus é fiel, afinal, Ele cumpriu a
promessa de inserir seu Povo em Canaã e de en-
tregar em suas mãos a terra;
c) Reafirmar a santidade do Senhor, revelando
as depravações dos cananeus e exigindo dos isra-
elitas o despojamento de coisas proibidas.
Alegoricamente temos algumas questões interes-
santes:
1) Se o livro de Êxodo apresenta a salvação como
a libertação da escravidão no Egito, o livro de Josué
representa a vitória, a tomada e o descanso na ter-
24
Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

ra (Js 1.13; 21.43-44);


2) Esse descanso ou repouso do povo de Deus,
em alguma medida se torna um repouso profético
que nós, povo de Deus, temos em Cristo (Hb 4.1,
8, 9);
3) Josué pode ser visto como um tipo de Cristo,
tendo em vista a obra que realizou. “Assim como
Moisés não pôde introduzir os israelitas na Terra
Prometida, tão pouco a Lei poderia conduzir o cren-
te ao repouso de Deus. Só Jesus, nosso grande
Josué, nos leva a essa terra e nos reparte a heran-
ça”.4

2. Juízes e a fidelidade para


proteger e seguir na terra – 5º
período do AT
O livro de Juízes registra o estado do povo de Israel
depois da conquista. A nação apática às questões
religiosas, foi incapaz de cultivar longos períodos
de obediência e comprometimento com o Senhor.
Os escassos períodos de fidelidade proporciona-
vam paz e descanso, mas sempre eram substituí-
dos por longos períodos de desobediência e peca-

4 Id Ibid. p. 29.
25
Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

do. “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada


um fazia o que achava mais reto” é uma expressão
que se repete no livro (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25) e
sintetiza a condição espiritual em que o povo vivia.
Os “juízes” foram instrumentos do Senhor para
liderar os inúmeros momentos difíceis que o povo
viveu. Não eram uma “autoridade judiciária” como
se pode pensar, mas líderes militares incumbidos
da tarefa de livramento. “O ofício significava gover-
nar em um sentido amplo. Esses doze juízes foram
heróis regionais ou nacionais que se tornaram go-
vernantes militares, recebendo o Espírito de Deus
para liderar a nação em vitórias contra uma deter-
minada nação inimiga”. 5

A tradição judaica atribui a Samuel a autoria do


livro, que tem um lapso temporal de 2 séculos: co-
meçando com Otniel em 1200 e terminando com
Sansão em 1070 (mas há controvérsias quanto a
isso, podendo a estimativa do tempo chegar perto
de 4 séculos). O tema central da obra encontra-se
no ciclo de 2.11-23, onde o autor expõe a razão e a
solução para as catástrofes que assolavam o povo:
1) Israel adorava outros deuses e se esquecia do

5 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Ibid. p. 182.


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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

Senhor (APOSTASIA);
2) O Senhor os entregava nas mãos dos adver-
sários (CASTIGO);
3) Israel clamava a Deus (ARREPENDIMENTO);
4) O Senhor levantava um libertador e enquanto
este governava o povo permanecia fiel (LIBERTAÇÃO).
Saindo o libertador o povo retornava à apostasia.
Os propósitos relevantes para a obra são:
a) Retratar a história do povo escolhido no perío-
do compreendido entre a morte de Josué (Jz 1.1) e
o advento da monarquia (Jz 21.25);
b) Servir de comparativo com o primeiro livro his-
tórico: Josué registra as vitórias do povo, Juízes, as
derrotas; Josué fala da conquista de sete nações
em sete anos, Juízes descreve sete apostasias, sete
opressões e sete libertações;
c) Revelar a santidade do Senhor. “Ele é santo e
castiga o seu povo por seus pecados, mas é miseri-
cordioso também para salvá-lo quando dá mostras
de arrependimento. O livro ensina que a opressão
é um castigo pela infidelidade, e a libertação é o
resultado do retorno a Jeová”.6

6 HOFF, Paul. Ibid. p. 68.


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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

d) Demonstrar a necessidade de se estabelecer


um governo coeso, forte e central, no caso, a mo-
narquia.
Isto posto, aprendemos que é a fidelidade ao
Senhor a condição singular para a continuidade da
vida em paz e segurança. Ouvir e temer a Deus, é
padrão axial para seus servos.

3. Rute e a força para vencer os


desafios da terra – 5º período do
AT
O livro de Rute registra o cuidado soberano de
Deus por seus servos fiéis. É um idílio que contém
tragédia, humor e amor. Muitos o consideram uma
ficção alegórica, justamente por conter um final fe-
liz. Sua história acontece dentro do período dos juí-
zes, mencionando locais e detalhes característicos
da região da época. O NT refere-se à Rute como
personagem histórica (Mt 1.5) e de sua linhagem
ascendeu o grande Rei Davi. O tema central da obra
passa pelo texto de Rt 1.16-17, onde o Senhor re-
compensa a fé da estrangeira Rute.
Assim como em Ester, o livro leva o nome de sua
protagonista. “Tanto em Ester como em Rute se
destacam exemplos pessoais de coragem, decisão
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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

e lealdade; em ambos os livros se observa a provi-


dência de Deus dispondo todos os detalhes na vida
dos fiéis”. 7

O livro faz uma transição entre a época dos gran-


des libertadores para a época de Samuel e surgi-
mento da monarquia. Assim, as intenções princi-
pais da obra são:
a) Registrar que mesmo numa época desenfrea-
da e cruel, a bondade e a fidelidade a Deus podem
ser percebidas na vida de algumas pessoas. A ido-
latria e a maldade não são generalizadas, sempre
há um remanescente que não se entrega às concu-
piscências e nababesca desobediência;
b) Demonstrar a fidelidade do Senhor e Sua provi-
dência, mesmo quando os tempos são maus. Noemi
foi recompensada em sua piedade e Rute em sua
lealdade;
c) Revelar que em Deus não há acepção de pes-
soas. A postura de Noemi, sem que ela percebes-

7 Id Ibid. p. 94.
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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

se, ganhou uma pagã para a fé de Israel.

Conclusão
Em Josué aprendemos da fé fervorosa para con-
quistar e ocupar Canaã. Sob a promessa de Deus,
este líder marchou e dedicou sua vida para o cum-
primento da tarefa que lhe foi outorgada. Ele reafir-
mou sua confiança do Senhor e decidiu, de manei-
ra cabal e inequívoca a quem iria servir (Js 24.15).
Em Juízes aprendemos da fidelidade necessária
para honrar ao Senhor (quer se tenha um líder ou
não). Ainda que libertos pelo sangue de Cristo, não
podemos “fazer o que bem entendemos” (Jz 21.25),
de maneira a comprometer nosso testemunho e o
Evangelho.
E em Rute aprendemos sobre a força que conduz
a escolhas corretas que nos fazem superar tempos
adversos. Somos ensinados que a vida piedosa é
uma benção e que seus frutos produzem paz e des-
canso singular.
Fé, fidelidade e força são os assuntos que nos
acompanharão neste trimestre e que nossas vidas
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Introdução aos livros históricos de Josué, Juízes e Rute – Lição 1

sejam repletas destas evidências.

Para pensar e agir

1. Como a fé de Josué impacta sua vida e o de-

safia a seguir adiante sendo conduzido unicamente

por Deus nesse mundo com tantos desafios?

2. Você já experimentou em sua vida o “ciclo dos

juízes”: apostasia, castigo, arrependimento e liber-

tação?

3. A força de Rute para superar tempos de crise,

preconceitos e demonstrar amor é exemplar. Como

você tem demonstrado sua força em tempos adver-

sos? (Pv 24.10).


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A Fé Resiliente – Lição 2

Lição 2
Texto Base: Josué 1 a 5

A Fé Resiliente
O livro de Josué (4º período da história do AT) dá
continuidade aos eventos do pentateuco. Ele come-
ça com as palavras: “Sucedeu, depois da morte de
Moisés...” (Js 1.1) e continua relatando como Israel
seria agora conduzido por seu novo líder. Esta em-
preitada de batalhas vai até Js 12.24. Daí até ao fi-
nal do livro, a obra relata a divisão da terra. Para im-
plementar uma série de lutas e conquistas, o povo
precisará demonstrar uma
Leitura Diária fé resiliente. Resiliência é
SEG Josué 1.10-18 a capacidade de supor-
TER Josué 2.1-24 tar as adversidades e se
QUA Josué 3.1-13 adaptar a situações difí-
QUI Josué 3.14-17 ceis.
SEX Josué 4.1-13
O objetivo do livro é re-
SÁB Josué 4.14-24
gistrar a história da con-
DOM Josué 5.1-15
quista de Canaã e sua di-
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A Fé Resiliente – Lição 2

visão, revelando o Senhor como o preservador da


aliança (Js 1.2-6). Seguir a liderança teocrática, e
não a humana, é condição axial de sucesso. O tre-
cho dos capítulos 1 ao 5 demonstra de maneira
geral como o Senhor “prepara Josué e o povo para
a tarefa de conquistar Canaã ao restaurar a vitali-
dade espiritual e a unidade da nação”. 1

1. Fé resiliente para obedecer e


liderar (Js 1.1-9)
Josué, o grande personagem do livro, é encoraja-
do e apresentado em uma deliberada comparação
com Moisés, o que o legitima em sua liderança:
a) Ele é exortado para que seja bem-sucedido na
tarefa que o aguarda, dependendo da Lei do Senhor
e que fora transmitida por Moisés (1.1-9);
b) Ele envia espiões para investigar a terra (2.1-
24), da mesma maneira que Moisés tinha feito (Nm
13);
c) Ele tem a experiência de abrir as águas do rio
Jordão, aumentadas pelas chuvas da primavera e
pelo degelo próximo a suas fontes (3.1-4.14), as-

1 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento


no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2002 p. 124.
33
A Fé Resiliente – Lição 2

sim como Moisés teve a experiência da abertura


do Mar Vermelho (Ex 14.15-25);
d) Ele, como Moisés (Ex 19.10), exige que o povo
se consagre (3.5);
e) Ele encontra-se com o Mensageiro Divino na
terra santa (5.13-15), à semelhança de Moisés (Ex
3).
Em plena obediência, Josué assume o compro-
misso de produzir o cumprimento das promessas
feitas a Israel (1.1-9). As ordens expressas no novo
líder (1.10-15) aponta para uma marcha contínua
até à conquista da terra. Em resposta, o povo decla-
ra sua lealdade, assim como haviam feito a Moisés
(1.16-18).

2. Fé resiliente na redenção e
testemunho (Js 2.1 a 4.13)
A salvação de Raabe pode parecer um paradoxo,
mas não é. Embora não possuísse padrões éticos
elevados, esta mulher demonstrou uma fé em Deus.
O NT julga sua atitude como obra de fé (Hb 11.31;
Tg 2.25). “A sua prostituição talvez caracterizasse
o estado moral da cidade e pode antes ter-lhe sido
imposta e não escolhida. A grandeza de sua reden-
ção pode ser vista no fato de que ela veio a tor-
34
A Fé Resiliente – Lição 2

nar-se, do lado materno, uma ancestral de Davi e


o Messias”. O conhecimento prévio de quem era
2

Deus (v. 8-9), revela a existência de pessoas simpá-


ticas às reivindicações de Israel pela terra. Talvez,
por esta razão, a iniciativa em proteger os espias.
O apelo de Raabe nos versos 14 a 21 estimula os
enviados de Josué, que lhe prometem proteção. O
relatório dos espias (2.22-24) registra o pavor dos
moradores de Jericó e fortalece a convicção de que
o Senhor era com seu povo.
Aprendemos que o Senhor é misericordioso e que
sem arrependimento genuíno não há salvação evi-
dente. Mateus 21.31 descreve a redenção prometi-
da a pecadores que buscam ardente e genuinamen-
te ao Senhor. Raabe se humilha. Quer a salvação
para a sua casa e também para si (6.22-25). Ela
confessa, clama, crê, age e aguarda a salvação. Do
outro lado temos a convicção dos israelitas no Deus
que cumpre Suas promessas.
No processo de preparação do povo para a con-
quista da terra temos dois eventos importantes: a)
a travessia do Jordão (3.1-17), b) o memorial que
fora levantado no meio do rio (4.1-13).

2 ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento.


trad. de Emma A. de Souza Lima. São Paulo: Vida, 1995. p. 72.
35
A Fé Resiliente – Lição 2

Por que o Senhor operou grande milagre quando


da passagem pelo Jordão? Pelo menos três razões
são importantes: 1ª) Confirmar a liderança de Josué
(3.7); 2ª) Confirmar que o Senhor era com eles e
que desalojaria os cananeus da terra (3.10); 3ª)
Demonstrar o poder da arca que continha as tábuas
da Lei Deus e representava Sua presença. Até essa
altura, Israel fora guiado por uma nuvem e coluna
de fogo, agora a arca ia na frente do povo (3.10).
“A miraculosa travessia do rio a pé e em seco tem
como testemunho um memorial como lembrança
do grande poder demonstrado por Yahweh em fa-
vor de Seu povo (3.14-4.13)”. 3

Assim, Josué 3 e 4 ilustram dois princípios im-


portantes:
a) Deus as vezes nos leva a caminhos inespera-
dos para manifestar Sua Glória. A terra poderia ter
sido conquistada pelo sul da região, mas não era
esse o plano do Senhor;
b) O memorial no meio do Jordão ensina que de-
vemos transmitir nossa fé às gerações futuras, para

3 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Ibid. p. 125.


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A Fé Resiliente – Lição 2

que vejam o poder de Deus e Sua fidelidade.

3. A fé resilinte para identificação


e libertação (Js 4.14 a 5.15)
A segunda metade do capítulo 4 e o capítulo 5
de Josué são por demais importantes:
Em primeiro lugar porque Gilgal serviu de base
de operações antes da tomada de Jericó. O termo
Gilgal significa “círculo” ou “roda”, provavelmente
se refere a um círculo de pedras que servia para
propósitos religiosos. Outro memorial é erguido ali
(4.20) a fim de testemunhar que Israel atravessou
a seco o rio, assim como havia acontecido no epi-
sódio do Mar Vermelho (4.23).
Em segundo lugar porque dois memoriais farão
referência à aliança com o Senhor: a circuncisão
(5.2-9) e a celebração da Páscoa (5. 10-12). Uma
vez que os israelitas haviam deixado a prática da
circuncisão durante o tempo em que estiveram no
deserto, era evidente que esta segunda geração
não se circuncidara (5.5). “A circuncisão era um
sinal de que o povo estava fazendo um pacto (Gn
17.7-14), e espiritualmente significava a renovação
do coração (Rm 2.29; Cl 2.11). [...] Josué usa um
trocadilho de palavras entre “Gilgal” e “Galal” (ti-
37
A Fé Resiliente – Lição 2

rar ou remover), para expressar que o “opróbrio do


Egito” (5.9) havia sido tirado ao se renovar o sinal
do pacto” . Em seguida o povo de Israel celebra a
4

Páscoa, que comemorava a libertação do Egito. Foi


a primeira celebração da terra prometida, quaren-
ta anos depois do início da peregrinação. O maná,
que antes sustentara Israel durante a jornada, para
de cair e os israelitas começam a se alimentar dos
frutos de Canaã, inaugurando assim um novo era.
Em síntese:
a) “A circuncisão prepara Israel para a conquista
da terra ao identificar a geração do deserto como
herdeira da aliança abraâmica.
b) A celebração da Páscoa e a participação do
fruto da terra ligam a geração do deserto tanto ao
livramento por Moisés quanto às promessas àque-
la terra”. 5

Conclusão
“E fez Josué assim” (Js 5.15).

4 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996, p. 37.

5 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Ibid. p.


38
A Fé Resiliente – Lição 2

No trecho de 5.13-15 Josué tem uma experiên-


cia sobrenatural com um guerreiro que se aproxi-
ma dele. A espada desembainhada indica provavel-
mente que o julgamento divino seria iminente sobre
os cananeus (5.13). Josué lhe pergunta se era da
parte de Israel ou do inimigo que viera. A resposta
indica que veio como aliado (5.14). A aparição do
príncipe do exército do Senhor faz com que Josué
se prostre a adore (5.14). A recomendação foi a
mesma dada a Moisés (Ex 3.5): “Descalça as san-
dálias dos pés, porque o lugar em que estás é san-
to” (Js 5.15).
“As duas lições implícitas no tirar as sandálias são
consagração e separação. Essa é a parte que nos
cabe no preparo para enfrentar o inimigo. Devemos
nos oferecer ao Senhor como escravos movidos pelo
amor, e nos separar de todo o mal conhecido em
nossa vida. Na consagração reconhecemos o ple-
no direito que o Senhor tem sobre nós e sobre tudo
o que possuímos”. 6

“E Josué fez assim”. Espiando a terra e vendo a re-


denção de pessoas (cap. 2); pregando santificação
(3.5) e superando obstáculos (cap. 3); erguendo os

6 MEIRELES, Délcio. Josué e o segredo da vida abundante.


Belo Horizonte: Betânia, 1999. p. 97
39
A Fé Resiliente – Lição 2

memoriais como testemunho das experiências com

o Senhor (4. 9, 20); obedecendo a práticas impor-

tantes na vida do povo (cap. 5); e buscando con-

sagração e separação em santa reverência (5.13-

15). Que façamos assim, como Josué fez.

Para pensar e agir

1. A fé resiliente de Josué te encoraja a ser obe-

diente ao Senhor da mesma forma?

2. A redenção do Senhor é, de fato, uma realidade

em sua vida de maneira que haja em você o desejo

de servir de testemunha ao que Deus tem feito?

3. Você tem a marca da circuncisão em seu co-

ração (Rm 2.29) e celebra a grande libertação que

lhe fora outorgada pelo Senhor?

4. Você tem feito como Josué buscando ser um

referencial de consagração e separação?


40
A Fé Permanente – Lição 3

Lição 3
Texto Base: Josué 6 a 12

A Fé Permanente
A permanência na fé bíblica é um desafio. Muitos
abraçam a fé, mas quando precisam enfrentar obs-
táculos, esperar milagres e seguir firmes, desfale-
cem. Sabemos que Josué e os israelitas conquista-
ram Canaã em pelo menos três guerras. Trinta e um
reis e sete nações foram subjugados. Seus nomes
são registrados no capítulo 12.
A fé permanente é vital para a prática de uma obe-
diência irrestrita. Vemos
Leitura Diária
isso de maneira impres-
SEG Josué 6.1-27
sionante nos capítulos 6
TER Josué 7.1-26
ao 12 de Josué. É fato que
QUA Josué 8.1-35
quando Israel entra em
QUI Josué 9.1-27
Canaã o faz de maneira
SEX Josué 10.1-43
gloriosa tomando a cidade
SÁB Josué 11.1-23
de Jericó. Mas isso não foi
DOM Josué 12.1-24
empecilho para que se ti-
41
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A Fé Permanente – Lição 3

vesse problemas e que ajustes fossem implemen-


tados. Seguem-se outras vitórias, mas em todo o
tempo o povo é desafiado à santificação e exercício
de uma fé permanente.

1. Fé permanente para vencer as


batalhas (Js 6, 7 e 8)
Temos nos capítulos 6 e 7 as mais famosas bata-
lhas que os israelitas precisaram enfrentar: Jericó
e Ai. Em ambas são múltiplos os ensinamentos.

A Queda de Jericó
Jericó é chamada de “a cidade das palmeiras”
(Dt 34.3; Jz 3.13) e é tida como a cidade habitada
mais antiga do mundo. É a primeira cidade a ser
avistada por Moisés do Monte Nebo. Sua conquis-
ta foi milagrosa. Por que a cidade foi entregue de
maneira sobrenatural sem que os israelitas preci-
sassem lutar, mas apenas marchar? Inicialmente,
a) para evitar um cerco prolongado que pudesse
desencorajar Israel e, ao mesmo tempo, encorajar
os habitantes da cidade e as nações circunvizinhas.
Uma vitória rápida e milagrosa, seria a evidência de
que o Senhor presente; b) mostrar para Israel que
42
A Fé Permanente – Lição 3

não seria por suas forças a vitória, mas pelo poder


e fidelidade de Deus; e c) aumentar a fé dos israe-
litas para seguirem confiantes.
O autor de Hebreus registra que “pela fé, caíram
os muros de Jericó, depois de rodeados por sete
dias” (Hb 11.30). As lições práticas são evidentes:
a) A obediência irrestrita como fruto da fé perma-
nente, levou Israel à vitória. “Ter fé é mais que crer
intelectualmente; é também obedecer, por mais es-
tranho que seja o mandamento”.
b) Nossas batalhas são, eminentemente, guerras
espirituais. Não houve emprego de armas de guer-
ra, “as armas de nossa milícia não são carnais” (2
Co 10.4).

A Tomada de Ai eo Pecado de Acã


O nome Ai significa “ruína” e foi ali, na quela pe-
quena cidade, por conta da ação de um homem,
que Israel experimentou sua única derrota quando
ocupava a terra. O pânico inicial do povo de Deus
é plausível (J 7.5): em alguma coisa eles haviam
desagradado ao Senhor. Ao derramar seu coração
diante do Senhor, Josué tem o esclarecimento de
que o pecado no acampamento de Israel viabiliza-
43
A Fé Permanente – Lição 3

ra a derrota (Js 7.7-13). Qual foi o pecado de Acã?


Ele tomou coisas condenadas e tentou utilizar para
uso pessoal (Js 7.11). O ciclo pecaminoso é clara-
mente identificado: “Vi... cobicei-os, e tomei-os” (Js
7.21). Todo Israel sofreu. Eles já eram uma nação
e o pecado individual de Acã se transformou no pe-
cado de todos.
Assim como em Jericó, as lições também são evi-
dentes:
a) Santidade é condição para a vitória. A vida du-
pla sempre cobra um alto preço;
b) Quando falta temor e obediência, coisas insig-
nificantes podem levar a derrota. Ai era uma peque-
na cidade que impôs a Israel uma grande derrota;
c) Ações individuais comprometem o coletivo.
“Nenhum de nós vive para si” (Rm 14.7);
Pecado oculto compromete a oração. “A oração
não anula o castigo quando há pecado no acampa-
mento”.1
Após a vitória em Ai, Israel marcha para o monte
Ebal (8.30-35): ofereceram holocaustos, sacrifica-

1 Ibidem p. 44.
44
A Fé Permanente – Lição 3

ram ofertas de paz e comunhão com Deus. Leram


as bençãos e maldições da Lei (Js 8. 14). Se com-
prometeram a obedecer ao Senhor e tomaram Sua
Lei como regra de fé para a vida.

2. Fé permanente para não


esquecer a aliança com o Senhor
(Js 9)
Na promessa e instrução para a conquista da ter-
ra, uma ordem expressa havida sido dada: Israel não
poderia fazer alianças com os cananeus (Ex 23.32;
34.12; Dt 7.2). As notícias referentes às conquistas
de Jericó e Ai haviam se espalhado (Js 9.1-2) e era
natural que os povos da terra buscassem aproxi-
mação com o povo de Deus. Mas por que os israe-
litas foram enganados pelos gibeonitas? A respos-
ta é simples: eles não consultaram ao Senhor (Js
9.14). Sempre que tiramos o nosso foco do Senhor
e vivemos aquém de Deus, implementamos alian-
ças desastrosas.
A descoberta do estratagema dos gibeonitas, no
entanto, trouxe benefícios:
a) A maldição de Josué contra eles (Js 9.23) trans-
formou-se em benção, pois foram condenados a
45
A Fé Permanente – Lição 3

servirem perpetuamente como escravos na casa


de Deus (Js 9.27).
b) O tabernáculo foi construído em suas terras
(2 Cr 1.3);
c) Séculos mais tarde, face à infidelidade dos
levitas e sacerdotes, Deus os substituiu pelos gibe-
noitas (Ed 2.43; 8.20); e
d) A rendição das quatro cidades gibeonitas (Js
9.17), abriu brecha no centro de Canaã, o que faci-
litou a divisão da terra em duas partes.
Em alguma medida a inconsequência israelita foi
transformada em benefícios para Josué e os gibe-
onitas. Isso, no entanto, não deve ser considerado
como regra, mas como aprendizado para nossas
tomadas de decisões.

3. Fé permanente para ver milagres


e seguir adiante (Js 10, 11 e 12)
O capítulo 10 narra a aliança entre cinco reais
para derrotar Israel (Js 10.3). O controle da região
central por Israel e a traição dos gibeonitas foram
as causas dessa aliança comandada por Adoni-
Zedeque, de Jerusalém. No entanto, Deus interveio
sobrenaturalmente.
46
A Fé Permanente – Lição 3

a) Pedras caem do céu e o sol se detém


Ameaçados pela coligação de reis (v. 5), Gibeão
pede ajuda a Israel (10.5-8). “Depois de uma noite
de marcha subindo uma serra, Israel confrontou a
coalizão dos amorreus no vale de Aijalom, perto de
Gibeão, lutando contra um inimigo já em completa
confusão por causa da soberana intervenção de
Yahweh, que lançou uma chuva de granizo de pro-
porções incomuns (10.9-11), provocando o, muito
debatido, dia longo (10.12-15), por meio do qual os
israelitas tiveram um período adicional de luz solar
para perseguir o inimigo”.2
Algumas explicações são dadas para este even-
to:
1) A citação é uma poesia de Jaser (um antigo li-
vro de canções e louvores), portanto, não deve ser
interpretada literalmente;
2) O sol somente pareceu ter parado, tendo acon-
tecido, na realidade, a refração da luz;
3) A ideia de “parar” não seria no sentido de “dei-
xar de se mover”, mas que deixasse de brilhar for-

2 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento


no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2002 p. 122.
47
A Fé Permanente – Lição 3

temente a fim de aliviar o povo. Por esta razão o


Senhor teria enviado a “chuva de pedra” (10.11).
4) “Deus prolongou a luz do Sol para ajudar Israel
a derrotar a coalizão”. “Não existe razão alguma
3

para se duvidar que o Deus de milagres pode fazer


isto”.4

A captura e a execução dos cinco reis da coali-


zão (10.16-26) e do rei de Maqueda (10.27-28),
fez com que Israel tivesse acesso ao sul de Canaã.
Mais sete reis são derrotados sequencialmente, a
população é dizimada, mas as cidades são preser-
vadas para ocupação futura (10.29-43).
b) As guerras do Norte e o descanso das guer-
ras
Depois de sair vitorioso na primeira campanha
(na região central de Canaã) e na segunda cam-
panha (região Sul de Canaã), Israel marcha para o
Norte, para a sua última campanha. Esta foi lidera-
da por Jabim, rei de Hazor, a maior cidade do norte

3 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo


Testamento: uma perspectiva cristã. 1ª ed. trad. de Suzana
Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 173.

4 HOFF, Paul. Ibid. p. 49.


48
A Fé Permanente – Lição 3

de Canaã. Essa coalizão reuniu representantes de,


praticamente, todos os grupos étnicos e, uma vez
que possuem carros de guerra, representava para
Israel um grande desafio.

Evidenciando uma fé permanente na promessa


de vitória que o Senhor lhe havia afirmado, Josué
marchou com seu povo. “Sua vitória em Merom foi
seguida por operações de rescaldo na região norte
(11.10-15), eliminando a população e preservando
as cidades, com exceção de Hazor, que foi queima-
da e arrasada (11.11). O autor toma cuidado em
fazer uma meticulosa distinção entre cidades que
foram fisicamente destruídas, como Hazor, e as
que foram passadas ao fio da espada, que foram
objeto do poderio militar, ou seja, a eliminação da
população (11.12, 13).” A parte final do capítulo
5

11 e todo o capítulo 12, narram os feitos de Josué.


Diz a Bíblia que “a terra repousou da guerra” (Js

5 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Ibid. p. 123.


49
A Fé Permanente – Lição 3

11.23).

Conclusão
Os primeiros capítulos do livro de Josué que re-
latam a ocupação de Canaã registram preciosas
lições:
No capítulo 6 temos o milagre da queda de Jericó
seguida da redenção de Raabe;
No 7, observamos as consequências dos peca-
dos encobertos: Israel é derrotado e a família de
Acã é morta);
No 8, vemos a vitória que a santificação promove
e a renovação da aliança no monte Ebal;
No 9, somos chamados atenção para as ações in-
consequentes que não buscam o conselho de Deus
(a parte central da terra é conquistada);
No 10, aprendemos com as ações sobrenaturais
do Senhor na vida daqueles que permanecem na
fé (a parte sul da terra é conquistada);
No 11, lemos sobre a continuidade das vitórias
do povo de Deus (a parte norte da terra é conquis-
tada);
No 12, contemplamos o resultado vitorioso (o re-
50
A Fé Permanente – Lição 3

latório) de uma fé que é permanente nas promes-

sas do Senhor.

Para pensar e agir

1. Você tem evidenciado uma fé obediente que

se utiliza de armas espirituais para superar as ad-

versidades?

2. O ciclo da queda de Acã o conduziu à ruína.

Você já caiu nesse ciclo? O que fez para sair dele?

Suas escolhas já implicaram em experiência nega-

tivas às pessoas próximas a você?

3. Pecados ocultos têm impedido você de usu-

fruir do melhor de Deus?

4. Você compreende que, em Sua Soberania, o

Senhor pode realizar sinais que abençoe, protegem

e são vitórias àqueles que cultivam uma fé perma-

nente?
51
A Fé Diligente – Lição 4

Lição 4
Texto Base: Josué 13 a 19

A Fé Diligente
O grande desafio de Josué foi conquistar Canaã,
agora, já idoso (13.1), tem a incumbência de divi-
di-la entre as tribos. Como a região ainda não tinha
sido de todo conquistada (Js 13.2) e seu vigor di-
minuíra, ele encorajou as tribos a finalizarem a ocu-
pação. Importante destacar que os israelitas não
expulsaram todos os habitantes da terra. Havia ci-
dades que os pagãos ainda habitavam (Js 13.2-6)
Leitura Diária
e que precisavam ser ocu-
padas pelo povo de Deus.
SEG Josué 13.1-33
TER Josué 14.1-15 “Esta é de Judá, está é
QUA Josué 15.1-63 de Aser, esta é de Simeão,
QUI Josué 16.1-10 e esta é de Benjamim,
SEX Josué 17.1-18 ouvimos o povo dizer ao
SÁB Josué 18.1-28 abrir-se a cena. Falavam
DOM Josué 19.1-49 assim, mesmo enquanto
52
Voltar para o sumário
A Fé Diligente – Lição 4

os amorreus e os jebuseus e os heteus estão em


plena posse da terra prometida. A partilha da terra
era uma declaração, pela fé, de certas coisas que
eles, pela direção de Deus, se propunham a reali-
zar através da longa luta que se seguiu”. A fim de
1

que a tarefa fosse bem-sucedida, Josué precisaria


ser diligente. Diligência é o interesse ou cuidado
aplicado na execução de uma tarefa; é o zelo.

1. A perseverança de Calebe, um
exemplo de fé diligente (Js 14.6-15)
Quando Judá começou a determinar a porção da
terra que lhe caberia (Js 14.6), Calebe tomou a pa-
lavra e deu início a um belo discurso (14.6-12). Este
homem havia acompanhado Josué 45 anos, quan-
do foram olhar a terra de Canaã (Nm 13 e 14). Dos
que saíram do Egito, apenas estes ingressaram na
terra da promessa. Eles se mantiveram firmes em
suas convicções, crendo, apesar dos obstáculos.
Os dois sobreviventes da geração da incredulidade
estavam agora em Gilgal.

1 MEARS, Henrietta. C. Estudo panorâmico da Bíblia. trad.


de Walter Kaschel. 6ª impres. Deerfield: Vida, 1993. p. 84.
53
A Fé Diligente – Lição 4

Calebe apresenta seu testemunho sobre quando


havia espiado a terra (v. 6-7) e da maneira como se
manteve servindo ao Senhor (v. 8). “Calebre pediu
Hebrom, comprometendo-se a expulsar de lá seus
habitantes se Deus lhe desse vitória (v. 12). E Deus
lhe deu. A vida de Calebe é um exemplo de fideli-
dade para todos os crentes hoje”. Cabe destacar
2

que sua diligência impactou também sua geração


e família. Otniel, o sobrinho valente de Calebe (Jz
3.9-11) que se tornou seu genro como prêmio por
tomar para ele a cidade Quiriate-Sefer (Jz 1.11-13),
foi feito o primeiro juiz de Israel depois da morte de
Josué. Nessa posição ele desempenhou um papel
importante na reforma de Israel ao afugentar um
inimigo opressor e trazer paz ao país por cerca de
40 anos.
O caráter de Calebe (Nm 14.24), sua prontidão
em agir (Nm 13.30), sua honestidade (Js 14.7) e
amor fraternal (Js 14.8) são elementos que corro-
boram para uma vida de firmeza e abnegação no
serviço do Senhor. Ele pôde entrar em Canaã, pos-

2 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo


Testamento: uma perspectiva cristã. 1ª ed. trad. de Suzana
Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 176.
54
A Fé Diligente – Lição 4

suir sua herança e ser tremendamente abençoado


(Js 15.19). Sua diligência é evidenciada no cuida-
do em agir de maneira que Deus seja glorificado.
Sua perseverança em não escolher o caminho fácil,
mas o desafiador, é indiscutível e constitui um bom
exemplo digno de ser imitado.

2. A divisão de Canaã, a
obediência da fé diligente (Js 15 a
19; Nm 26.52-65)
A desigualdade na distribuição da terra chama a
atenção e em síntese, foi dividida assim:
a) Os levitas não receberam um território como
herança, como as demais tribos (Js 13.14), mas
algumas cidades em cada tribo, uma vez que eram
responsáveis pelo serviço no templo e ensino da
Lei (Js 21.2).
b) Israel tinha seis cidades refúgio: três a leste e
três a oeste do Jordão (Js 20.7-8);
c) As tribos de Rúbem, Gade e a metade da tribo
de Manassés já haviam recebido seu quinhão das
mãos de Moisés, ao oriente do rio Jordão (Nm 32).
d) As tribos de Judá (Js 15), Efraim (Js 16) e a
55
A Fé Diligente – Lição 4

outra metade da tribo de Manassés (Js 17) recebe-


ram o território que lhes havia sido concedido por
Jacó como herança, 450 anos antes (Gn 48.22).
e) José não recebeu diretamente um território
com seu nome, mas em seu lugar, herdaram seus
filhos Efraim e Manassés (Js 16.4; Gn 41.51-52).
f) As outras sete tribos: Benjamim (Js 18.11-28),
Simeão (Js 19.1-9), Zebulom (Js 19.10-16); Issacar
(Js 19.17-23), Aser (Js 19. 24-31), Naftali (Js 19.32-
39), e Dã (Js 19.40-48), tiveram, por sorteio, de-
terminada suas porções (Js 18.6, 10).
A dinâmica da distribuição da terra revela algu-
mas questões interessantes:
1ª – A divisão da terra X A benção profética
de Jacó: há o entendimento de que o “sorteio” dos
territórios de alguma forma aparece como resposta
à benção profética de Jacó em Gênesis 49. As des-
crições ali registradas (Gn 49), se coadunam com
as peculiaridades dos territórios designados.
2ª – A reclamação dos filhos de José (Js 17.14-
18): eles reclamaram que a sua herança era pe-
quena, comparada aos demais. Em que pese terem
recebido uma porção fértil e grande, não expulsa-
56
A Fé Diligente – Lição 4

ram os cananeus, permitindo que ficassem e sujei-


tando-os a trabalhos forçados (Js 17.13).
3ª – O Tabernáculo colocado em Siló (Js 18.1-
10): “Siló foi transformada na capital religiosa de
Israel, e a congregação se reunia ali três vezes
ao ano para observar as grandes festividades da
Páscoa, das semanas (Pentecostes) e dos taberná-
culos. Devido a falta de unidade política, a unidade
religiosa das tribos era de grande importância”. 3

4ª – A permanência dos cananeus na terra: “O


texto menciona diversas tribos que não puderam
expulsar ou simplesmente não expulsaram os ou-
tros povos habitantes de seu território (Js 15.63;
16.10; 17.12-13). Os israelitas acabaram aceitan-
do muitas práticas religiosas desses povos e isso
teve um efeito devastador sobre a fé do povo de
Israel”. 4

Aprendemos que a desobediência ao Senhor em


certas circunstâncias (ou porque não queremos ou

3 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 56

4 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Ibid. p. 176.


57
A Fé Diligente – Lição 4

porque simplesmente achamos difícil demais) im-


plica fundamentalmente em nossa fé e vida cristã.
“Esquecer” de obedecer a Deus compromete uma
vida de bênçãos e paz. Quando Moisés orientou o
povo a subjugar a terra e tirar os canaanitas, sa-
biamente advertiu: “Se não fizerdes assim, eis que
pecastes contra o Senhor; e sabei que o vosso pe-
cado vos há de achar” (Nm 32.23).

3. Josué e Calebe: o testemunho da


fé diligente (Js 19.49-51)
“Depois que todo o território havia sido repartido
entre as tribos, os israelitas deram a Josué uma
porção de terra como herança no meio deles, pois o
Senhor tinha dito que ele poderia receber qualquer
cidade que quisesse. Ele escolheu Timnate-Sera,
na região montanhosa de Efraim. Ali reconstruiu a
cidade e habitou nela. Foram esses os territórios
que o sacerdote Eleazar, Josué, filho de Num, e os
chefes das tribos designaram como herança para as
tribos de Israel, por sorteio na presença do Senhor,
à entrada da tenda do encontro em Siló. Assim, con-
58
A Fé Diligente – Lição 4

cluíram a distribuição da terra” (Js 19.49-51).


5

A primeira porção da terra foi dada a Calebe (Js


14.6-15) e a última foi dada a Josué. Esses dois ho-
mens marcaram a vida de todo o povo. Apenas eles,
dos que saíram do Egito, herdaram em Canaã. As
palavras destes espias fiéis ecoam em nossos ou-
vidos ainda hoje: “Dois dos homens que fizeram a
exploração da terra, Josué, filho de Num, e Calebe,
filho de Jefoné, rasgaram suas roupas e disseram
a toda a comunidade de Israel: “A terra da qual fize-
mos o reconhecimento é muito boa! E, se o Senhor
se agradar de nós, ele nos levará em segurança
até ela e a dará a nós. É uma terra que produz leite
e mel com fartura. Não se rebelem contra o Senhor
e não tenham medo dos povos da terra. Diante de
nós, eles estão indefesos! Não têm quem os prote-
ja, mas o Senhor está conosco! Não tenham medo

5 Bíblia on line - Nova Versão Transformadora.


59
A Fé Diligente – Lição 4

deles!” (Nm 14.6-9).


6

Conclusão
Vemos nas atitudes dos líderes de Israel um zelo
extremo naquilo que estavam fazendo. É percep-
tível que todas as ações e tomadas de decisões
carregam o cuidado em obedecer à Lei do Senhor.
Depois de anos de peregrinação, não havia espaço
para mais desobediências ou resistências à vonta-
de divina. Toda diligência deveria ser empregada,
de maneira que todo o processo fosse uma bênção
para o povo de Deus.
Por outro lado, vemos que os israelitas falharam
em sua conquista quando não eliminaram derradei-
ramente os canaanitas de seus territórios. A presen-
ça daquele povo pagão, viabilizou o caminho para a
idolatria e consequente distanciamento do Senhor.
O resultado foi que o pecado dominou suas vidas e
o comprometimento espiritual foi evidente.
Por fim, destaca-se a vida, o testemunho e a abne-
gação de Josué e Calebe. Suas vidas revelam uma

6 Id Ibid.
60
A Fé Diligente – Lição 4

perseverança singular em obedecer ao Senhor e


permanecerem no centro da vontade de Deus. Que
eles nos sirvam de modelo e encorajamento para
seguirmos em nossa peregrinação.

Para pensar e agir


1. “Eu perseverei em seguir ao Senhor meu Deus”,
disse Calebe (Js 14.8). Como a fé desse homem,
sua coragem e diligência impactam sua vida?
2. Quais práticas ou costumes mundanos tem in-
fluenciado sua fé e debilitado seu progresso espiri-
tual?
3. Você reclama, assim como os filhos de José
(Js 17.14-18), daquilo o que o Senhor tem lhe pro-
porcionado?
4. A grandiosidade de um homem espiritual está
na medida de sua submissão ao Senhor. Não se
refere necessariamente a quem se é ou ao que se
tem, mas se Deus controla sua vida. Quando somos
obedientes, não somos “achados pelos nossos pe-
cados” (Nm 32.23).
61
A Fé Dependente – Lição 5

Lição 5
Texto Base: Josué 20 a 21

A Fé Dependente
O processo de repartição da terra de Canaã reve-
la algo singular. Os capítulos 14 e 15 contém a dis-
tribuição das terras do sul para Judá e Calebe; os
16 e 17 explicam a repartição das terras centrais
para os filhos de José; os 18 e19 tratam da divisão
do restante da terra. O capítulo 20 vai localizar as
seis cidades de refúgio dentre as 48 cidades dedi-
cadas aos levitas (capítulo 21).
Leitura Diária O capítulo 20
SEG Josué 20.1-9 do livro de Josué
TER Josué 21.41-45 (o menor do livro),
QUA Números 35.1-15 trata sobre o esta-
QUI Números 35.16-34 belecimento das
SEX Salmos 9.9; 10.12; 46.1 “cidades refúgio”.
SÁB Hebreus 6.18-20 O texto é claro: o
DOM Josué 21.1-45 homicida culposo
62
Voltar para o sumário
A Fé Dependente – Lição 5

deveria ter um local para se abrigar a fim de que o


“vingador do sangue” não o pegasse. Cumprindo-
se o requisito do verso 6, ele poderia voltar para
sua cidade de origem.
Quais lições podem ser aprendidas com o esta-
belecimento e propósito dessas cidades?

1. A fé dependente para usufruir do


cuidado de Deus (Js 20.1-9)
As cidades refúgio aparecem em outros livros da
Bíblia como em Números (35.9-15) e Deuteronômio
(19.1-3). Foram estabelecidas por Deus, três de
cada lado do Jordão, para abrigar as pessoas que
cometessem homicídio involuntário (Nm 35.11). Às
portas delas, o acusado apresentava-se a uma cor-
te de anciãos a fim de justificar-se e provar que não
teve a intenção de matar seu semelhante.
Das 48 cidades recebidas pelos levitas (Nm 35.2-
5,7), seis foram separadas como “cidades de refú-
gio”, para receber tanto israelitas quanto estran-
geiros. Saindo dos limites da cidade, o acusado
poderia ser morto por seu “vingador”. Morrendo o
sumo sacerdote (Js 20.6), no entanto, voltaria para
sua terra o acusado sem quaisquer ônus. No sis-
63
A Fé Dependente – Lição 5

tema judicial da época, vigorava a prática do “olho


por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”.
Passagens como Ex 21.24, Lv 24.20 e Dt 19.21
comprovam isso. No caso do homicídio culposo foi
dada a oportunidade de refúgio, a fim de impedir
uma ação desproporcional da família ofendida e
possibilitando ao acusado a oportunidade de um
justo julgamento (Nm 35.12 e 24).
“Essas cidades de asilo eram uma salvaguarda
contra as vinganças injustas e as resultantes lutas
sangrentas... não havia polícia naquelas cidades, e
cabia ao parente mais próximo agir como vingador
de sangue”.1
As informações das cidades são as seguintes:

a) Do lado do Ocidente:
Quedes tinha sua localização ao norte de Israel,
dentro da área da tribo de Naftali. No original, o ter-
mo “Quedes” significa “santo” ou “santuário”.
Siquém ficava bem no centro de Israel e o signifi-

1 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 59.
64
A Fé Dependente – Lição 5

cado original de seu nome é “ombro”. De um modo


geral, o ombro tem a força para suportar o peso,
além de servir de descanso para aqueles que nele
se apoiam.
Hebrom, localizada no sul de Israel, significa “co-
munhão”.

b) Do lado do Oriente:
Bezer ficava no sul de Israel, mas do outro lado do
Jordão, de frente para o Oriente, na tribo de Ruben.
Seu nome significa “fortaleza”.
Ramote, localizada no centro de Israel do lado
Oriental, significa “exaltação” ou “elevação”.
Golã, ficava ao Norte, do lado oriental, bem perto
das conhecidas Montanhas de Golá. O termo sig-
nifica “levou cativo”, no sentido de que absorveu
toda nossa culpa.
Com a instituição das seis cidades-refúgio Deus
queria proporcionar para o infrator arrependido:
santidade, descanso, comunhão, força, renovo e se-
gurança. Vemos, neste caso, uma clara manifesta-
ção do amor e da graça do Senhor naquele tempo.
De um modo geral, o Antigo Testamento é caracte-
65
A Fé Dependente – Lição 5

rizado pelo tempo de Lei e muitos não conseguem


visualizar a graça de Deus nesse longo período.

Mas desde as páginas iniciais visualizamos esta


realidade. Quando o homem pecou, por exemplo,
Deus manifesta a Sua graça pela promessa do
Salvador, vindo da semente da mulher (Gn 3.15).
A graça foi simbolizada quando Deus vestiu os cul-
pados pelo sacrifício do inocente (Gn 3.22). Caim,
que merecia a morte por matar seu irmão, recebe
uma marca para não ser morto (Gn 4.15). Noé, que
viveu numa época de impiedade singular, “achou
graça aos olhos do Senhor” (Gn 6.5-8). Séculos de-
pois Deus manifestaria Sua graça instituindo as ci-
dades refúgio.

2. A fé dependente para não


negligenciar a adoração (Js 21.1-42)
Na dinâmica da divisão da terra, “era necessá-
rio que os levitas fossem espalhados em toda a
nação para ministrar espiritualmente e ensinar a
66
A Fé Dependente – Lição 5

religião”, além de “arbitrar disputas”. De maneira


2 3

singular eram a voz do povo perante Javé. A eles


cabia ministrar a bênção e os oráculos (Nm 6.22-
27). Mas talvez a maior incumbência dessa tribo
era não permitir que os israelitas abraçassem a
idolatria canaanita.
A previsão para que os levitas herdassem cida-
des e não uma região inteira, havia sido dada por
Moisés em Nm 35.1-8. Levi era filho de Jacó e gerou
três filhos: Gérson, o primogênito, Coate e Merari.
Uma vez que os coatitas descendiam da linhagem
sacerdotal de Arão (que era neto de Coate e filho
de Anrão - Ex 6.18, 20), nesta divisão final prece-
deram ao primogênito (Js 21.4). Deus foi quem es-
colheu a Arão e seus filhos para servirem como sa-
cerdotes (Ex 28.1; Lv 8.1-36).
O capítulo 21 de Josué apresenta as quarenta e
oito cidades dos levitas, que foram, ao final dividi-
das em quatro partes:

2 HOFF, Paul. Ibidem p. 57.

3 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo


Testamento: uma perspectiva cristã. 1ª ed. trad. de Suzana
Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 177.
67
A Fé Dependente – Lição 5

a) os coatitas sacerdotais (v. 4, 8-19);


b) os coatitas não sacerdotais (v. 5, 20-26);
c) os gersonitas (v. 6, 27-33) e
d) os meraritas (v. 7, 34-40).
Importante observar como o Senhor foi condu-
zindo tudo, de maneira que as cidades dadas aos
sacerdotes coatitas estivessem bem próximas de
Jerusalém, onde o templo seria um dia construí-
do (v. 8-19). Os coatitas não-sacerdotais estavam
mais distantes de Jerusalém (v. 20-26). As terras
dadas aos levitas estavam livres para que eles a
usassem para a lavoura e pastagem de seus ani-
mais (provavelmente cordeiros) que eram usados
para os sacrifícios, bem como outros animais, que
eram dados pelas demais tribos como dízimo (Nm
35.1-4).
A similaridade do pedido dos levitas (v. 2) com
o pedido de Calebe (14.6-12), revela a fé nas pro-
messas do Senhor. Em que pese a promessa, esta
tribo também precisou se dedicar e lutar para que
ela se concretizasse. O esforço, em linhas gerais,
era para que a adoração jamais fosse negligencia-
da, esquecida ou preterida no cotidiano do povo de
68
A Fé Dependente – Lição 5

Israel. Cabe ressaltar, no entanto, que a maior he-


rança dos levitas era o Senhor, não as cidades em
si. O próprio Deus afirmara isso: “Disse também o
Senhor a Arão: Na sua terra, herança nenhuma te-
rás e, no meio deles, nenhuma porção terás. Eu sou
a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de
Israel” (Nm 18.20).

3. A fé dependente para confiar na


palavra de Deus (Js 21.43-45)
A parte final do capítulo 21 (v. 43-45) funciona
como uma recapitulação da teologia de todo o livro
de Josué:
a) Versículo 43: Este verso resume aquilo o que
aconteceu dos capítulos 13 ao 21 do livro: o povo
precisava entrar em Canaã e possuí-la;
b) Versículo 44: Este verso retrata boa parte da-
quilo o que foi registrado nos capítulos 1 a 12 do
livro: a paz prometida, bem como a vitória sobre
seus adversários, é dada àqueles que obedecem e
confiam no Senhor;
c) Versículo 45: O último verso sintetiza a ideia
geral do livro, qual seja: Deus é fiel em cumprir de
69
A Fé Dependente – Lição 5

maneira cabal tudo o que prometeu. É a fidelidade


às promessas feitas aos patriarcas e que o após-
tolo descreveu como pré-anúncio do Evangelho ao
Pai da Fé: “em ti, serão abençoados todos os po-
vos” (Gl 3.8).
Por outro lado, temos uma ideia que se repete
nesses versos e que serve de grande encorajamen-
to para os servos de Deus:
Versículo 43: “...deu o Senhor a Israel toda a ter-
ra que jurara dar...”
Versículo 44: “...segundo tudo quanto jurara a
seus pais;
Versículo 45: “Nenhuma promessa falhou de to-
das as boas palavras que o Senhor falara à casa
de Israel;
Tudo o que o Senhor havia jurado, falado e pro-
metido se cumpriu. Ele proporcionou a Seu povo
cada detalhe necessário a uma vida feliz, próspe-
ra e piedosa. Desde o que falara no passado até
a ocupação de Canaã, de maneira cabal tudo se
concretizara. Nas palavras do autor de Hebreus:
“Retenhamos firmes a confissão da nossa esperan-
ça; porque fiel é o que prometeu” (10.23).
70
A Fé Dependente – Lição 5

Deus ingressa Seu Povo na terra que escolheu,


Ele dá paz e vitória sobre seus adversários. Que a fé
dependente dos servos do Senhor, seja a cada dia
maior, crescente e firme, de maneira que sirva de
testemunhos aos povos em redor. “Deus cumpriu
todas as suas promessas para Israel e podemos
estar certos de que Ele fará o mesmo conosco”.4

Conclusão
Assim como Israel precisou cultivar uma fé de-
pendente na pessoa do Nosso Senhor, nós tam-
bém precisamos investir e cultivar essa fé. Mas por
que devemos fazer isso? Primeiro porque temos em
Jesus o perfeito refúgio para o necessitado, oprimi-
do e triste. Ele “foi feito por Deus sabedoria, e justi-
ça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30). Ele é o
nosso escudo. Nele temos paz, descanso, seguran-
ça, alegria e vitória nas lutas em todos os tempos.
Segundo porque é a fidelidade do Senhor para
com Sua Palavra, que sustenta e garante benefícios
infindáveis a seus servos. O livro de Números regis-
tra que “Deus não é homem, para que minta; nem

4 Ibidem.
71
A Fé Dependente – Lição 5

filho de homem, para que se arrependa. Porventura,

tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado,

não o cumprirá?” (23.19). O processo de divisão

da terra de Canaã termina com o autor reafirman-

do a inquestionável fidelidade do Senhor para com

Seus filhos.

Para pensar e agir

1. “Quem” ou “que tipo de coisa” é o seu refúgio

nos tempos de tribulação? Onde você tem buscado

refúgio?

2. A adoração a Deus, em reconhecimento de Sua

obra e cuidado, tem ocupado o devido lugar em sua

vida?

3. Você confia e depende de maneira cabal de que

as promessas do Senhor se cumprirão (Js 21.45)?


72
A Fé Obediente – Lição 6

Lição 6
Texto Base: Josué 22 a 24

A Fé Obediente
Os três últimos capítulos do livro de Josué narram
o fim da liderança deste servo de Deus. Uma pala-
vra que fica evidente neste trecho é OBEDIÊNCIA.
Uma vez que visualizava o fim de sua jornada, Josué
chama os rubenitas, os gaditas e a meia tribo de
Manassés e os abençoa a retornar às suas terras.
A razão: eles haviam sido obedientes, cumprido sua
palavra de pelejar juntamente com os seus irmãos,
pela conquista da terra
Leitura Diária prometida.
SEG Josué 22.1-9
O capítulo 23 é uma
TER Josué 22.10-29
exortação geral para
QUA Josué 22.30-34
que se observe a Lei do
QUI Josué 23.1-16
Senhor. O verso chave
SEX Josué 24.1-13
dessa narrativa é o 11:
SÁB Josué 24.14-25
“Portanto, empenhai-vos
DOM Josué 24.26-33
em guardar a vossa alma,
73
Voltar para o sumário
A Fé Obediente – Lição 6

para amardes o Senhor, vosso Deus”. O substituo


de Moisés jamais esmoreceu no ímpeto de condu-
zir seu povo aos pés de Javé. Foram muitas as ad-
vertências para que Israel permanecesse piedoso
nos caminhos do Deus todo poderoso. Deveria ha-
ver esforço (v. 6), separação (v. 7), apego (v. 8) e
empenho (v. 11).
Finalmente, o último e derradeiro capítulo, culmi-
nará na celebração da renovação da aliança entre
Israel e o Senhor, o que exigirá de Israel uma toma-
da de decisão. Mais uma vez, obedecer será condi-
ção singular para uma trajetória bem-sucedida.

1. A fé obediente como testemunho


de que o Senhor é Deus (Js 22)
As tribos de Gade, Rubem e a meia tribo de
Manassés, herdaram partes da terra de Canaã lo-
calizadas na Transjordânia. A autorização para vol-
tarem para lá, aconteceu em razão da obediência
dessas tribos em pelejar com seu povo (v. 22). A
orientação de obedecer foi novamente reafirmada,
registrando cinco grandes incumbências (v. 5): a)
amar o SENHOR Deus; b) andar em Seus caminhos;
c) guardar Seus mandamentos; d) se apegar a Ele;
e e) servi-Lo com todo coração e alma.
A jornada de retorno foi repleta de bênçãos ma-
74
A Fé Obediente – Lição 6

teriais (v. 8) e de desejo de honrarem ao Senhor


por Sua grandeza e fidelidade. Tão logo chegaram
nos limites do Jordão, estas tribos decidiram por
erguer um altar. “Sua intenção era boa: percebe-
ram a barreira que significava o Jordão e quiseram
expressar sua solidariedade com o resto de Israel,
levantando um memorial ao único Deus... Foi signi-
ficativo que as duas tribos e meia tenham erguido
um altar como símbolo de sua unidade com as ou-
tras tribos de Israel, reconhecendo assim que as
bases da sua unidade estavam assentadas sobre
seu culto e sua fé comum1”.
O altar construído gerou preocupação nas de-
mais tribos, justamente porque o nome do mesmo
é, em hebraico, mizbeach, cujo significado é “ma-
tança”. Estariam as duas tribos e meia inclinadas
a oferecer sacrifícios a outros deuses contrarian-
do a lei de Moisés de que somente no tabernáculo
isso deveria acontecer (Dt 12.1-14) ? Saindo de
2

Siló, as demais tribos partiram para pelejar contra

1 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 60.

2 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo


Testamento: uma perspectiva cristã. 1ª ed. trad. de Suzana
Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 177.
75
A Fé Obediente – Lição 6

eles (v. 12). O líder da empreitada foi Fineias, filho


de Eleazar, o novo sacerdote. Felizmente, a inser-
ção do povo de Israel em Canaã não começou com
uma guerra entre o povo.
O questionamento dos israelitas é registrado nos
versos 16-20. Como fundamento, trazem à memória
a iniquidade de Peor (v. 17) e a infidelidade de Acã
(v. 20). No primeiro caso, a iniquidade de Peor faz
referência a adoração a outros deuses (Nm 25.1-
3), onde a ira do Senhor se acendeu. Na ocasião,
Fineias executou o julgamento do Senhor, transpas-
sando uma lança pelo ventre de um homem israelita
e uma mulher midianita (Nm 25.8). Imediatamente
uma praga que já havia matado 24.000 pessoas
cessou (Nm 25.8-9). No segundo caso (Acã), se re-
fere à derrota em Ai (Js 7). A preocupação era clara:
se vocês forem infiéis e rebeldes todo nosso povo
pode sofrer.
As tribos da Transjordânia rechaçaram quaisquer
intenções escusas. A resposta que deram se encon-
tra nos versos 21-29 e revela que a intenção era a
de manter a unidade entre as tribos e as gerações
futuras (v. 24-28). O altar lembraria aos israelitas
que o povo de ambos os lados do Jordão, serviam
e adoravam ao mesmo Deus. Fineias e os prínci-
pes dos sacerdotes se deram por satisfeitos (v. 30,
76
A Fé Obediente – Lição 6

33). Ao altar deram o nome de Testemunho: “É um


testemunho entre nós de que o Senhor é Deus”
(v. 34b).

2. A fé obediente para assimilar


bons conselhos (Js 23)
O capítulo 23 narra que Josué estava avançado
em dias (v. 1-2) e a terra estava em paz. “Em seu
primeiro discurso (v. 1-6), Josué desafia os líderes
de Israel a se lembrarem das grandes coisas que
eles tinham visto Deus fazer. Ele pediu que eles se
apropriassem das promessas de Deus para o pre-
sente e para o futuro – Deus expulsaria os outros
povos e os estabeleceria na terra prometida. O povo
de Deus deveria demonstrar a sua fé obedecendo
à Lei de Moisés e não se misturando com os povos
ao seu redor ”.
3

A obediência deveria ser ampla, sem restrições (v.


6). A adoração ao Senhor era de caráter exclusivo
(v. 7) e a associação com os deuses dos pagãos era
impensável, uma ordem elementar, já devidamente
registrada no decálogo (Ex 20.3-6). A conexão com
o poder de Deus era inevitável. A empreitada bem-

3 Ibidem.
77
A Fé Obediente – Lição 6

-sucedida em Canaã era fruto dos livramentos, fi-


delidade e ação de Javé. Portanto, apegar-se a Ele
reconhecendo Sua atuação inequívoca, se consti-
tuía condição preponderante para a sobrevivência
de Israel (v. 8-10).
Um conselho do verso 11 é vital: “Portanto, em-
penhai-vos em guardar a vossa alma, para amardes
o Senhor, vosso Deus”. “A gratidão pelas inúmeras
bênçãos recebidas exigia o amor deles ”. Se os de-
4

safios externos eram grandes, os internos também


eram. A dedicação do povo, bem como seu compro-
metimento, exigia um esforço interior e de atenção
sem precedentes. Seria o amor pelo Senhor que
impossibilitaria o desvio e apostasia do povo.
Outros conselhos aparecem nos demais versos,
quais sejam:
a) Não se unir aos pagãos em casamentos mis-
tos (v. 12), para não suceder cair em armadilhas e
perecer na terra (v. 13);
b) Deus é fiel em cumprir suas promessas (v. 14)
como também é fiel em implementar seu juízo (v.
15-16).

4 CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento


Interpretado: versículo por versículo. vol. 2. Deuteronômio-1 Reis.
2 ed. São Paulo: Hagnos, 2011. p. 982.
78
A Fé Obediente – Lição 6

A parte final do verso 16 elenca as práticas que


abririam as portas para o juízo de Deus: violar a
aliança, servir outros deuses e adorá-los. Esse re-
gistro sintetiza de alguma forma o tom do capítulo
23, qual seja: a exortação de um homem de Deus
para que o povo observe a Lei do Senhor.

3. A fé obediente e a renovação da
aliança com o Senhor (Js 24)
Depois de ser bem-sucedido no cumprimento de
sua missão e perto de encerrar sua jornada, este
servo de Deus profere dois discursos distintos:
a) No primeiro (v. 1-13), o líder de Israel se des-
pede da nação e relembra aspectos relativos ao
passado do povo de Deus.
b) No segundo (v. 14-28), celebra a renovação
da aliança de Deus com Seu povo.
Josué reúne todo o povo em Siquém, como no
monte Ebal (Js 8.30-35). Relembra momentos pas-
sados, ressaltando a soberania do Senhor e Sua
promessa na vida de Abraão (v. 2-3). Registra os
feitos de Deus nas vidas de Esaú, Jacó, Moisés e
Arão (v. 4-5) e como Deus conduziu Seu povo do
Egito à Terra Prometida, dando-lhe vitórias sobre os
povos que ali habitavam (v. 6-13). “Josué apoiou-se
79
A Fé Obediente – Lição 6

no importante fato de que toda a história de Israel


devia-se a Jeová” (v. 18).
5

Nos versos 14 a 25, um novo pacto é celebrado.


“Josué exortou o povo a se comprometer totalmen-
te com o Senhor, acrescentando seu testemunho
pessoal: ‘Eu e minha casa serviremos ao Senhor’
(24.15). Quando o povo afirmou que seguiria ao
Senhor, Josué fez uma aliança com eles e ergueu
uma grande pedra como testemunha de suas pala-
vras (v. 26-27).
Em linhas gerais, o pacto de aliança exigia o re-
púdio total ao pecado (v. 14), uma firme decisão
em servir ao Senhor (v. 15), uma profissão de fé
onde o reconhecimento dos feitos de Deus deveria
ser lembrado (v. 17-18). Josué reafirma a santida-
de do Senhor (v. 19) e o perigo da idolatria (v. 20,
22-23). O povo de Israel, unânime, responde a seu
líder: “Ao Senhor, nosso Deus, serviremos e obede-
ceremos à Sua voz” (v. 16, 21, 23).

Conclusão
O livro de Josué encerra com o registro de três
sepultamentos:

5 HOFF, Paul. Ibidem p. 62.


80
A Fé Obediente – Lição 6

a) Josué, com 110 anos (v. 29-30 igual a Jz 2.9-


10). Oportuno observar que Josué aqui é chama-
do de “servo do Senhor”, assim como Moisés (Dt
34.5).
b) José (v. 32), filho de Jacó. Ambos, José e Josué,
morreram com cento e dez anos (Gn 50.26). A as-
sociação aqui é com o registro de Gn 50.24-26 e à
compra do local de sepultamento (Gn 33.18-20).
Isto liga a geração que deixou a terra prometida
àquela que retornou e ali se estabeleceu.
c) Eleazar (v. 32), filho de Arão. Eleazar represen-
tava a liderança religiosa do sacerdócio. Ele era da
geração de Josué. Fineias representava a geração
seguinte (ele vai aparecer em Jz 20.28). Com o se-
pultamento destes dois últimos, uma outra era se
encerrava na história de Israel.
“Ele (Josué) liderou o povo por meio da palavra
e do exemplo, e confiou a mensagem de Deus a
líderes fiéis que deram continuidade a ela depois
que Josué morreu” (v. 31). Isso nos faz lembrar da
6

importante tarefa que temos: somos responsáveis


por colocar a fé cristã firmemente nas mãos da ge-
ração seguinte.

6 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Ibidem p. 178.


81
A Fé Obediente – Lição 6

Esta lição encerra o livro de Josué e aprende-


mos no conteúdo apresentado que a fé necessita
ser: resiliente, permanente, diligente, dependente
e obediente.

Para pensar e agir

1. As tribos que ficaram ao leste do Jordão, jul-


garam equivocadamente a atitude das tribos que
foram para o oeste, quando da construção do altar
do Testemunho. Você já julgou erradamente a ati-
tude de alguém ou já foi julgado de maneira equi-
vocada?

2. Em relação aos bons conselhos bíblicos que


recebe, você os rechaça ou assimila com gratidão
em seu coração?

3. “Escolhei hoje a quem sirvais” (Js 24.15). Esse


foi o grande desafio de Josué ao povo, e este de-
safio se estende a nós de igual forma: ao quê ou a
quem temos servido?
82
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

Lição 7
Texto Base: Juízes 1-3.6

Fidelidade e
Arrependimento
O período dos juízes tem seu início depois da mor-
te de Josué, indo até a ascensão de Saul ao trono
de Israel, cobrindo cerca de trezentos e cinquenta
anos de história. Lemos que “naqueles dias não ha-
via rei em Israel” (Jz 17.6a), então o Senhor levan-
tava juízes para libertar seu povo. Foram doze os ju-
ízes: Otniel, Eúde, Sangar,
Leitura Diária
Débora/Baraque, Gideão,
SEG Juízes 1.1-15
Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom,
TER Juízes 1.16-26
QUA Juízes 1.27-36 Abdom e Sansão. 1

QUI Juízes 2.1-5


SEX Juízes 2.6-10 1 a) Débora e Baraque atu-
SÁB Juízes 2.11-23 aram juntos e normalmente são
contados como um só juiz;
DOM Juízes 3.1-6
b) Abimeleque, governante de
83
Voltar para o sumário
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

Em alguma medida este é um livro de princípios,

no qual vemos uma nova nação formando sua vida

nacional. Ele relata lutas, fracassos e métodos dis-

tintos de Deus para libertar Seu Povo, já que, em

cada juiz levantado, o Senhor operava de maneira

variada e poderosa.

Uma vez que não havia rei em Israel “cada um

fazia o que achava mais reto” (Jz 17.6b). Esta frase

recorrente no conteúdo, revelará que grande par-

te dos fracassos de Israel, estava no fato de que

cada um seguia consoante aos desígnios de seu

menor importância, não foi chamado por Deus para ser juiz. Ele
era mais um opressor do povo do que um libertador justo (Jz 9.1-
6);
c) Eli foi o sumo sacerdote no tempo da juventude do profeta
Samuel. Ele também serviu como um juiz de Israel por quarenta
anos (1 Sm 4.18);
d) Samuel é o último juiz, embora não apareça como um liber-
tador do povo.
84
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

coração, indo à ruína.

1. Fidelidade e arrependimento
para obedecer (Jz 1 e 2.1-5)
O capítulo introdutório dos Juízes complementa
o livro de Josué e detalha eventos concernentes a
conquista. O autor enfatiza a ação de um povo uni-
ficado invadindo e conquistando Canaã. Por outro
lado, também registra o frequente discurso acerca
da necessidade de cada tribo completar individu-
almente sua missão. Assim, o capítulo 1 registra o
sucesso limitado de sua empreitada. Em que pese
a ordem expressa, as tribos não expulsaram os mo-
radores da região (v. 19, 21, 27-33). Eles começa-
ram bem o novo momento consultando ao Senhor
sobre o que deveriam fazer (Jz 1.2), mas essa bus-
ca não durou muito. A obra começou com zelo, mas
terminou em fraqueza.
“As dificuldades de Israel eram devidas direta-
mente à sua desobediência a Deus. Eles não ex-
terminaram os inimigos que habitavam a terra; ao
contrário, adoraram os ídolos do povo e se corrom-
peram moralmente. Os filhos de Israel entravam na
85
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

terra, estabeleciam-se onde queriam e começavam


a cultivar o suficiente para viver. Breve o inimigo sur-
gia, surpreendendo a tribo e levava cativo o povo”. 2

O trecho de Jz 2.1-5 confirma a desobediência


de Israel e denuncia a aliança que os israelitas es-
tabeleceram com os canaanitas. “O anjo repreen-
deu os hebreus por eles terem esquecido dos favo-
res do Senhor. Recordou-lhes as condições sobre
as quais haviam recebido a terra de Canaã; não
deviam formar aliança com os remanescentes dos
cananeus, nem tolerar sua idolatria”. Encontra-se
3

aqui um incisivo contraste entre os livros de Josué


e Juízes: Enquanto em Josué temos alegria, visão
celestial, vitória, progresso, fé e liberdade; em
Juízes temos choro, interesses terrenos, derrota,
declínio, incredulidade e servidão.
Deus entregou seu povo à Sua própria vontade
e eles trouxeram sobre si o próprio julgamento. “O

2 MEARS, Henrietta. C. Estudo panorâmico da Bíblia. trad.


de Walter Kaschel. 6ª impres. Deerfield: Vida, 1993. p. 89.

3 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 70
86
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

povo chorou e ofereceu sacrifício, mas seu arrepen-


dimento era meramente emocional e passageiro”4.
Por diversas vezes Israel esteve muito próximo de
ser executado, mas o Senhor, milagrosa e compas-
sivamente, interveio.
Pode soar estranho o porquê de Deus não exter-
minar os povos de Canaã para depois enviar Israel
para lá. É pertinente destacar que o Senhor tinha
um propósito específico nessa estratégia: provar
Seu Povo (Jz 3.1-6). Por vezes, Deus usa as conse-
quências de nossa falta de fé para mostrar nosso
pecado e fraqueza. Uma vez que não esquece Sua
aliança, Ele usa nossas falibilidades para nos fazer
voltar para Ele mesmo em obediência.
Muitos cristãos hoje experimentam a mesma rea-
lidade. Por vezes começam bem, buscando a Deus
e caminhando em Seus caminhos. Mas no meio da
trajetória cansam das lutas e dão trégua frente ao
adversário. Acabam por viabilizar a vitória do inimi-
go e ao final se aliançam com ele. Ao invés de “ex-

4 HOFF, Paul. Ibidem.


87
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

pulsá-lo”, se acomodam em sua companhia.

2. Fidelidade e arrependimento
para romper ciclos nocivos (Jz 2.6-
23)
O tema central da obra encontra-se no ciclo de
Jz 2.11-19, onde o autor expõe a razão e a solução
para as catástrofes que reiteradamente assolavam
o povo. Eis o ciclo:
1) APOSTASIA. Israel adorava outros deuses e se
esquecia do Senhor (v. 11-13);
2) CASTIGO. O Senhor os entregava nas mãos dos
adversários (v. 14-15);
3) ARREPENDIMENTO. Na dificuldade e angústia
Israel clamava a Deus (v. 16);
4) LIBERTAÇÃO. O Senhor levantava um liberta-
dor e enquanto este governava o povo permanecia
fiel. Saindo o libertador, o povo retornava à aposta-
sia (v. 17-19).
Esta sequência do ciclo dos juízes é normalmen-
te seguida de uma declaração de que a terra ficou
em paz determinados anos, enquanto o juiz estava
vivo. “Apesar do autor usar diversas variações des-
88
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

se ciclo, ele repete esse padrão em seis ocasiões” , 5

como se vê:
No primeiro ciclo, houve apostasia seguida pelo
castigo imposto pelos mesopotâmios. O povo se ar-
rependeu e, então, foi libertado por Otniel. Esse ci-
clo foi marcado por 40 anos de paz.
No segundo ciclo, a apostasia ocorreu novamen-
te, e o castigo veio pelas mãos dos moabitas, amo-
nitas e outros povos. O povo se arrependeu e foi
libertado por Eúde. Dessa vez, o período de paz
durou 80 anos.
No terceiro ciclo, a apostasia se repetiu, resul-
tando no castigo dos cananeus. Após o arrependi-
mento, Débora e Baraque lideraram a libertação
do povo. Não há menção a um tempo específico de
paz nesse ciclo.
No quarto ciclo, a apostasia aconteceu mais uma
vez, seguida pelo castigo imposto pelos midianitas.
Com o arrependimento do povo, Gideão se tornou
o libertador. Após a libertação, o povo desfrutou de

5 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo


Testamento: uma perspectiva cristã. 1ª ed. trad. de Suzana
Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 184.
89
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

40 anos de paz.
No quinto ciclo, a apostasia ocorreu, e os filisteus
foram os responsáveis pelo castigo. O povo se ar-
rependeu, e Jefté foi o líder que os libertou. Não há
informação sobre o tempo de paz nesse ciclo.
No sexto e último ciclo descrito, a apostasia foi
evidente, e mais uma vez os filisteus foram os res-
ponsáveis pelo castigo. Embora o arrependimento
não seja mencionado, a libertação veio por meio
de Sansão. Não há menção a um período de paz
nesse ciclo.
Além desses seis juízes maiores, o autor dá uns
poucos detalhes sobre a carreira de seis juízes me-
nores: Sangar (3.31), Tola (10.1-2), Jair (10.3-5),
Ibisã (12.8-10), Elom (12.11-12) e Abdom (12.13-
15). “De maneira alguma os juízes são retratados
como indivíduos santos e exemplares. Eles eram
líderes temporários levantados por Deus para li-
bertar seu povo. Alguns eram dignos de imitação
(Otniel e Débora). Mas Jefté aparentemente fazia
pouca ideia dos requisitos de Iavé e são bastante
90
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

conhecidas as falhas de Sansão”. 6

Pelo menos duas lições importantes podem ser

aplicadas:

1) É de fundamental importância observar os ci-

clos nocivos a que podemos estar sujeitos. Por ve-

zes achamos que “movimento” é o que precisamos

para embalar a vida cristã, mas isso não é verdade.

“Movimento” não é progresso, nem crescimento ou

avanço. Pode ser que estejamos nos movimentan-

do, mas sem sair do lugar;

2) Por outro lado, estes juízes e ciclos, ilustram

a graça e a misericórdia do Senhor para com Seu

Povo. Em nenhum momento vemos um povo devoto

de maneira cabal ou irrestrita, pelo contrário, Israel

aparece revelando sua imaturidade e indiferença

6 Ibidem.
91
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

para com aquilo o que Deus estava fazendo.

3. Fidelidade e arrependimento nos


tempos de provação (Jz 3.1-6)
No início de Jz 3, vemos que Deus deixou cin-
co nações em Canaã a fim de serem usadas como
instrumento para provar Israel. Diz o texto que se
tratava de cinco príncipes dos filisteus, cananeus,
sidônios e heveus (v. 3). A provação revelou, no en-
tanto, que Israel de maneira fácil e sem quaisquer
resistências, passaram a adorar aos falsos deuses,
se casaram com as filhas dos cananeus e deram
suas próprias filhas aos filhos deles (v. 6). Em ra-
zão disso, tiveram de servir a Cusã-Risataim, rei na
Mesopotâmia, por oito anos (v. 8).
A variedade de povos usados para a provação
chama a atenção e nos ensina preciosas lições. A
primeira delas é a de que aqueles povos deveriam
servir de referência àqueles que não sabiam guer-
rear (v.2). Pertinente o fato de que em múltiplas si-
tuações nas Escrituras o Senhor usa outros povos
para ensinar e até disciplinar Seu Povo.
Por outro lado, aprendemos que os israelitas ve-
92
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

riam a fidelidade do Senhor, tanto no que se refere


à maneira como Ele sustenta Sua nação, como na
maneira que utiliza Sua soberania para controlar
todas as coisas. Na realidade, Deus usa seus mé-
todos de maneira pedagógica para cumprir Seus
propósitos.
Aprendemos que a fidelidade atrelada ao arrepen-
dimento contínuo, viabiliza a vitória sobre as prova-
ções do dia a dia. A vida com vigilância e oração,
nos priva de aceites sucessivos de práticas que in-
sultam ao Senhor, bem como nos priva de quedas
iminentes, que nos tornam escravos e infrutíferos.

Conclusão
A obediência do servo de Deus tem ligação dire-
ta com o arrependimento. A. W. Pink registrou que
“arrependimento é o lançar fora as armas da rebe-
lião contra Ele. O arrependimento não salva, todavia
nenhum pecador jamais foi ou será salvo sem ele.
Nada senão Cristo salva, mas um coração impeni-
tente não pode recebê-Lo. Um pecador não pode
crer verdadeiramente até que ele se arrependa”.
É provável que por esta razão Israel tenha sucum-
93
Fidelidade e Arrependimento – Lição 7

bido inúmeras vezes: não crera, definitivamente que


era o Senhor quem tudo fazia e não se arrepende-
ram genuinamente. Resistentes em seus corações,
os israelitas sofreram por suas escolhas. Em todas
as situações, no entanto, vemos que o Senhor não
se esqueceu deles. Que grande benção saber que
Deus não se esquece ou desiste dos seus.
Demonstremos frutos de sincero arrependimen-
to; estejamos atentos aos mandados e princípios
do Senhor; vigiemos para não firmarmos alianças
pecaminosas, que nos tornam autossuficientes ou
independentes de Deus.

Para pensar e agir


1. Você pode dizer que tem a mesma vitalidade
na sua vida cristã hoje, como tinha no começo de
sua trajetória?
2. Você tem vivido algum ciclo nocivo que tem
atrapalhado seu crescimento espiritual?
3. Você tem negociado com inimigos ao redor
ou tem estabelecido alianças condenadas pelo
Senhor?
94
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

Lição 8
Texto Base: Juízes 3.7-5.31

Fidelidade e
Comprometimento
A história propriamente dita dos juízes começa
com o registro de quem eles foram, contra quem lu-
taram e o que fizeram. De um modo geral são per-
sonagens singulares, com características distintas,
mas que tiveram de lidar, como já vimos, com o ci-
clo que reiteradamente assolava Israel: apostasia,
castigo, arrependimen-
Leitura Diária to e libertação. A lição de
SEG Juízes 3.7-14 hoje alcança os primeiros
TER Juízes 3.15-31 juízes que foram usados
QUA Juízes 4.1-3 pelo Senhor para a liber-
QUI Juízes 4.4-24 tação de Seu povo: Otniel,
SEX Juízes 5.1-9 Eúde e Débora.
SÁB Juízes 5.10-23
A importância da pre-
DOM Juízes 5.24-31
sença do Espírito do
95
Voltar para o sumário
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

Senhor será o ponto alto da narrativa referente a


Otniel, cujo nome significa “Leão de Deus”. Ele ti-
nha ligação familiar com Calebe e sua corajosa atu-
ação proporcionou a Israel quatro décadas de paz.
Sobre a atuação de Eúde (sig. eu agradecerei; eu
serei louvado), vamos ver a atuação nada conven-
cional deste homem, atrelada à sua frieza, estraté-
gia e convicção de que agia consoante a vontade
do Senhor.
Por fim, na batalha de Débora e Baraque contra
os canaanitas, a Bíblia vai nos ensinar sobre o ser-
viço abnegado, a fé em Deus e o coração disposto
a convergir para o Senhor toda honra e glória.

1. Fidelidade e comprometimento: o
espírito do Senhor sobre Otniel (Jz
3.7-11)
A primeira opressão registrada no livro de Juízes
vem do Norte, da Mesopotâmia (v. 8). O pecado foi
a idolatria (v. 7); a punição foi de 8 anos (v. 8); e o
libertador foi Otniel (v. 9).
O capítulo 3 revela que os israelitas que se esta-
beleceram entre as nações sírias, a fim de viverem
em paz, inclinaram seus corações às práticas e cos-
96
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

tumes de seus moradores (v. 7). Eles se casaram


com as mulheres daquelas terras (v. 6), prestaram
culto a seus deuses (v. 7) e negociaram com ou-
tros povos (v. 5). Não levou muito tempo e os me-
sopotâmicos investiram contra os israelitas (v. 8).
Também não levou muito tempo para perceberem
que haviam se afastado de Deus (v. 7), o mesmo
Deus que lhes garantira vitória até ali.
Como instrumento de libertação o Senhor usa a
Otniel, sobrinho (e também genro, Js 15.16-17) de
Calebe (v. 9). “É provável que por suas façanhas co-
rajosas, conhecida pelos hebreus, tenha ganhado a
plena confiança de seus concidadãos e a capacida-
de de chefiá-los como militar supremo. Observamos
que o segredo de sua vitória foi que ‘o Espírito do
Senhor veio sobre ele’, expressão que significa que
ele recebeu o impulso divino e o poder sobrenatural
necessários para realizar sua missão”.1 A ideia de
o Espírito do Senhor “estar sobre” é a mesma que
dizer que foi “revestido”, como se vê em Jz 6.34.
Sob seu comando, o povo de Deus usufruiu de

1 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 72.
97
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

uma paz de quarenta anos (v. 11). O povo de Israel


levantou grande clamor (v. 9) e Otniel “julgou Israel”
(v. 10). Ele “removeu a idolatria do povo e lhes en-
sinou a Lei do Senhor e lembrou-lhes de sua cha-
mada como nação. Não demorou para que expe-
rimentasse o êxito e a vitória... Ele levou Israel a
um alto nível de reverência para com Deus e seus
planos”. De fato, a vitória do servo ou do povo de
2

Deus é improvável quando há práticas escusas ou


pecaminosas em seu meio. O arrependimento dos
israelitas, seu clamor e consequente purificação,
concorreu para que houvesse libertação. “
A narrativa registra que houve “ação”, ou seja, o
povo de Israel saiu à peleja (v. 10). Por vezes os ser-
vos de Deus o buscam em oração, mas na grande
maioria das vezes não implementam ações ou pas-
sos significativos para alcançarem seus objetivos.
Este servo trabalhador, era empenhado em servir
ao Senhor com resiliência e abnegação. “Homem
algum, que não tenha temor de Deus e não ame a
justiça mais do que ao próprio país, poderá pres-

2 MEARS, Henrietta. C. Estudo panorâmico da Bíblia. trad.


de Walter Kaschel. 6ª impres. Deerfield: Vida, 1993. p. 92.
98
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

tar-lhe serviço real”. 3

2. Fidelidade e comprometimento:
a confiança de Eúde (Jz 3.12-31)
A segunda opressão registrada em Juízes veio
dos moabitas (v. 12). O pecado foi, provavelmente,
a imoralidade e a idolatria (v. 7); a punição foi de
18 anos (v. 14); e o libertador foi Eúde (v. 15).
O fato de ser habilidoso com a mão esquerda (v.
15) é uma “característica que lhe permitia levar o
seu punhal do lado direito, onde não era desco-
berto facilmente”. Isso porque, provavelmente, se
4

esperasse que o objeto estivesse do outro lado (v.


16). Fazendo uso dessa peculiaridade, Eúde foi sa-
gaz em seu intento cravando no ventre do moabita
sua adaga. O verso 22 registra que a ação foi “de
tal maneira que entrou também o cabo com a lâmi-
na, e, porque não o retirou do ventre, a gordura se
fechou sobre ele”.

3 MEARS, Henrietta. Ibid. p. 93.

4 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 72.
99
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

O texto não menciona que o Espírito de Deus veio


sobre ele, como no caso de Otniel (v. 10), mas diz
que ele usa do artifício de ter uma “palavra secre-
ta” (v. 19) ou uma “palavra de Deus” (v. 20a), para
dizer ao rei. Foram essas as palavras que fizeram
com que Eglom se levantasse (v. 20b) e proporcio-
nasse à Eúde uma boa oportunidade de ataque (v.
21).
O relato é controverso. Eúde agiu certo ou erra-
do? Para Paul Hoff, “todas as circunstâncias des-
ta façanha atrevida, a morte de Eglom sem grito
nem ruído, o fechar a porta e sair tranquilamente,
sem pressa, de Eúde, mostram o quão forte era
sua confiança de que ele estava fazendo um servi-
ço a Deus”. O relato bíblico parece corroborar com
5

essa ideia, já que afirma que os inimigos foram en-


tregues nas mãos dos israelitas pela vontade do
Senhor (v. 28). O fato de a terra ficar em paz por
80 anos (v. 30) também sustenta a ideia de que a
atitude teria respaldo dos céus.
Champlin faz comentário pertinente, ao registrar
que “o fato de que a justiça tinha de ser feita me-

5 Ibidem.
100
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

diante um ato violento desse tipo indica o baixo es-


tado de espiritualidade dos homens, que transfor-
ma os assassinos em heróis. É possível que certos
heróis sejam homicidas e, nesse caso, isso é um
outro comentário do miserável estado espiritual dos
homens. Seja como for, no conflito armado que se
seguiu, aquela região do território de Israel obteve
oitenta anos de liberdade e paz”. 6

Não há dúvidas de que Eúde foi levantado por


Deus (v. 15) e nem que o Senhor foi com ele nas
ações subsequentes à morte de Eglom (v. 28-30).
Seu caráter resoluto e decidido, atrelado à convic-
ção de que Javé lhe enviara, talvez tenham sido as
grandes virtudes desse juiz para lidar com uma si-
tuação existente há 18 anos (v. 14).

3. Fidelidade e compromentimento:
a sabedoria e a fé de Débora e
Baraque (Jz 4.1-5.31)
A terceira opressão registrada no livro veio dos
canaanitas (4.2). O pecado foi o se desviarem do
Senhor (4.1); a punição foi de 20 anos (4.3); e os

6 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia Teologia


e Filosofia. 8. ed. vol. 2 D-G. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 589.
101
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

libertadores foram Débora e Baraque (4.4, 6).


A história de Débora é repleta de sabedoria e fé.
Antes mesmo de ser um instrumento de libertação
do povo, ela já era consultada pelo povo a respeito
de seus problemas (4.4-5). Diferente dos outros ju-
ízes que exerceram suas atividades após a liberta-
ção da opressão, Débora (abelha), já exercia esta
prática antes da batalha contra os canaanitas (4.2).
“Tinha também o dom de compor poesia; seu cân-
tico guerreiro é uma obra-prima da antiga literatura
hebraica (capítulo 5)”.7

A opressão já durava vinte anos (4.3). A passa-


gem que se encontra em Jz 5.6-11 nos dá uma ideia
das condições em que os israelitas viviam e das ra-
zões, por consequência, que fizeram com que eles
clamassem a Deus. A assolação da terra era tão
forte, que os israelitas não se atreviam a transitar
pelas vias principais, mas viajavam escondidos pe-
los caminhos secundários que a atravessavam os
campos (4.6). Israel clamou a deuses novos (4.8),
até se voltar novamente para o Senhor (4.3).
O exército de Sísera, comandante canaanita, pos-

7 HOFF, Paul. Ibid. p. 74.


102
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

suía 900 carros de ferro (4.3). “Baraque teve medo


de mandar seus 10.000 combatentes contra os ca-
naneus, a menos que a profetisa o acompanhasse.
Ela o acompanhou até Quedes (4.9).” Deus usu-
8

aria a coragem e abnegação de uma mulher para


emplacar grande vitória e honrá-Lo ao final.
Atraído para o Ribeiro de Quisom (4.13), Sísera
conseguiu realizar as manobras que precisavam, até
que o Senhor enviou violento aguaceiro que inun-
dou Quisom, e os carros ficaram atolados, como se
vê em Jz 5.20-21a. O temido comandante canaani-
ta teve de abandonar seu carro e fugir a pé (4.15).
Foi morto Jael, com uma estaca cravada da fonte
(4.21). “E a terra ficou em paz quarenta anos” (Jz
5.31).
Algumas lições pertinentes:
a) A fé, atrelada à coragem de Débora (Jz 4.14),
nos mostra o quanto o Senhor pode nos usar quan-
do vivemos em Sua total dependência;
b) É provável que Jabim, rei de Canaã e Sísera,
comandante do exército, confiassem mais em seus
carros (Jz 4.3), mas, como diz o salmista nossa con-

8 Ibidem.
103
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

fiança deve estar sempre no Senhor (Sl 20.7);


c) O cântico de Débora no capítulo 5, é o registro
do louvor e adoração que devemos dar apenas a
Deus. A Ele toda honra e glória (Rm 11.36).

Conclusão 9

Os capítulos 3 a 5 de Juízes registram os primeiros


embates como fruto da desobediência de Israel. As
tribos tinham tido a terceira lição (se considerarmos
Sangar em Jz 3.31, quatro lições) e deviam, nessa
altura, conhecer o perigo de abandonar a Deus. No
entanto, o período de fidelidade durava alguns anos
e voltavam a cometer os mesmos erros.
Neste sentido, os testemunhos e escolhas de
Israel se constituem um péssimo exemplo para nós,
uma vez que, lições aprendidas devem ser aplica-

9 SANGAR: Juízes 3.31 faz referência a este juiz, registrando


apenas que era filho de Anate; que feriu 600 homens dos filisteus
com uma aguihada de bois; e que também libertou a Israel. “Não
se indica nada a respeito da opressão, nem tampouco existem
detalhes referentes à origem de Sangar, nem ao seu passado.
Provavelmente ele foi um camponês que ganhou uma vitória so-
bre os opressores e começou a governar como juiz” (HOFF, Paul.
Os livros históricos. A poderosa atuação de Deus no meio do seu
povo. São Paulo: Vida, 1996. p. 73).
104
Fidelidade e Comprometimento – Lição 8

das a fim de que não cometamos os mesmos erros


e vivamos os mesmos ciclos.
Por outro lado, temos na atuação dos juízes bons
exemplos de fidelidade, disposição, serviço, adora-
ção, convicção e comunhão com o Senhor. Sejamos
sábios em aprender com todos os exemplos: os er-
rados e os bons, de maneira que nossa peregri-
nação nos caminhos do Senhor seja crescente e
agradável a Ele.

Para pensar e agir


1. O Espírito do Senhor é sobre você quando você
precisa implementar ações e decisões importantes
em seu dia a dia? (Lembre-se da história de Otniel);
2. Nossa coragem e abnegação não pode ser
ocasião para agirmos dissolutamente (Lembre-se
da história de Eúde);
3. Nosso serviço ao Senhor não depende de uma
situação em particular. Débora servia a Deus antes
mesmo de lhe ser confiada uma missão. Você tem
esperado algo acontecer para servir ao Senhor ou
tem servido a Deus pelo que Ele é?
105
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

Lição 9
Texto Base: Juízes 6.1 a 12.15

Fidelidade e
Discernimento
Nas narrativas de Gideão e Jefté em Juízes (ca-
pítulos 6 a 12), vemos a importância de discernir a
vontade de Deus. Gideão testou a vontade divina e
obteve vitória sobre os midianitas com apenas 30
homens. Já Jefté fez um voto fatídico que resultou
na morte de sua filha. Discernir é essencial para
os cristãos, pois nos per-
Leitura Diária mite distinguir o verdadei-
ro do falso e o que edifica
SEG Juízes 6.1-40
do que não edifica. Jotão
TER Juízes 7.1-25
também denunciou a es-
QUA Juízes 8.1-35
colha superficial de líderes
QUI Juízes 9.1-57
pelos israelitas. Discernir
SEX Juízes 10.1-18
envolve percepção clara e
SÁB Juízes 11.1-40
diferenciação adequada.
DOM Juízes 12.1-15
É correto buscar uma res-
106
Voltar para o sumário
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

posta ou direção de Deus por meio dessa prática


ou “experiência”? Ellisen comenta que:
1) “Para Gideão, que repentinamente se tornou
comandante de um exército e defrontou-se com
uma multidão de saqueadores beduínos, o teste
da lã foi importante. Vivendo na idolatria, pouco sa-
bia ele dos ‘princípios bíblicos’, embora tivesse ou-
vido falar dos milagres do êxodo. Tendo recebido
ordens para realizar milagres enfrentando numero-
so inimigo, necessitava daquele sinal da presença
do Senhor.” 2) “Hoje, entretanto, atitudes de fé são
confirmadas não só por manifestações físicas, mas
por princípios bíblicos já confirmados no Antigo e
no Novo Testamento. Podemos traçar um princípio,
baseados na lã de Gideão, de que qualquer medida
que envolva um grande passo de fé numa direção
nova deve ser cuidadosamente conferida ”. 1

Hoff diz que Gideão pediu mais sinais para pros-


seguir sua obra, e Deus os concedeu. Ele era cau-
teloso devido ao exército inimigo numeroso e à falta

1 ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento.


trad. de Emma A. de Souza Lima. São Paulo: Vida, 1995. p. 72.
107
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

de armas e treinamento dos israelitas. ”. 2

1. Fidelidade e discernimento para


confiar no Senhor (Jz 6.1-8.35)
A quarta opressão veio dos midianitas, devido
ao desvio do Senhor. Durou 7 anos e Gideão foi o
libertador. Ele era o menor de sua família e pediu
sinais ao Senhor duas vezes. A controvérsia surge
em relação à prática da “lã de Gideão” como meio
de busca da direção de Deus.
Naquela época, fazia sentido buscar a vontade
de Deus dessa maneira devido à falta de uma Bíblia
completa e à ausência da plenitude do Espírito
Santo. No entanto, com a conclusão da Bíblia e a
vinda do Messias, essa prática não é mais relevan-
te, pois o Novo Testamento não menciona buscar a
vontade do Senhor dessa maneira.
Em suas experiências, Gideão demonstrou uma
obediência absoluta e inquestionável. Mesmo com
um grande exército, ele acatou a ordem de reduzir
o contingente para apenas 300 homens (7.2, 4).

2 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 78.
108
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

Com fé, ele acreditou que essa pequena força se-


ria capaz de vencer os midianitas, os amalequitas
e todos os povos do Oriente, que eram numerosos
como gafanhotos e possuíam camelos em grande
quantidade (7.12).
Após a vitória sobre os midianitas, Israel se li-
berta da opressão. Gideão é convidado a governar
sobre Israel (8.22), mas recusa (8.23a). Ele decla-
ra que é o Senhor quem deve governar sobre eles
(8.23b), mas aparentemente suas palavras não se
concretizam em sua própria vida. Gideão solicita
argolas de ouro ao povo e obtém cerca de 20 kg
(8.27a). Com esse ouro, ele confecciona uma esto-
la sacerdotal, que acaba se tornando um obstáculo
para ele e sua família (8.27b). Assim, vemos que o
homem que confiou em Deus na guerra e defendeu
o domínio do Senhor sobre as vidas também con-
fiou em si mesmo, trazendo dificuldades para sua
família.

2. Fidelidade e discernimento para


fazer boas escolhas (Jz 9.1-57)
Após a morte de Gideão, Israel abandonou o
Senhor e se entregou à adoração de Baal-Berite.
Eles esqueceram o Deus que os havia libertado dos
109
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

inimigos e não demonstraram gratidão pela bonda-


de de Gideão para com eles. (Juízes 8.33-35).
Abimeleque, filho de Gideão, mata seus irmãos
e se autoproclama rei em Israel. Ele não era um
verdadeiro juiz, mas um cruel usurpador. Jotão pre-
vê um desastre em sua coroação e destaca a im-
portância de pessoas corajosas não abandonarem
suas responsabilidades para se dedicarem à vida
de um rei. ”.
3

A fábula de Jotão (Jz 9.7-15) apresenta diferen-


tes árvores recusando a oferta de se tornarem rei.
O espinheiro aceita e promete proteção, mas ques-
tiona-se se espinheiros realmente oferecem som-
bra e refúgio adequados.
Abimeleque foi um líder destrutivo em Siquém.
Gaal revoltou-se contra ele, mas acabou sendo mor-
to por uma mulher. Seu último pedido foi que sua
reputação fosse preservada (9.54). Abimeleque
morreu abraçado ao seu orgulho.
“Vendo, pois, os homens de Israel que Abimeleque
já estava morto, foram-se, cada um para sua casa.
Assim, Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que
fizera a seu pai, por ter aquele matado os seus se-

3 Ibid. p. 80.
110
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

tenta irmãos. De igual modo, todo o mal dos ho-


mens de Siquém Deus fez cair sobre a cabeça de-
les. Assim, veio sobre eles a maldição de Jotão, filho
de Jerubaal” (9.55-57).
Na falta de opção, Israel fez uma péssima esco-
lha (as árvores acabaram escolhendo o espinhei-
ro). Escolhas erradas ocasionam consequências
desastrosas. Israel olhou para a aparência, a elo-
quência e as promessas enganosas. Sofreram de-
vido à falta de discernimento e temor. O prejuízo
foi grande, assim como o distanciamento de Deus.
Por que os homens são facilmente enganados por
falsas promessas de liberdade? Por que se esque-
cem do Senhor e se enredam em caminhos tortuo-
sos?
Felizmente, Deus levantou novos líderes (Tola e
Jair ) que, por cerca de 45 anos, contribuíram para
4

4 TOLA E JAIR: Esta foi a quinta opressão sofrida. O pecado


foi que os israelitas de desviaram de Deus o que ocasionou uma
guerra civil. Tola e Jair, juntos, julgaram durante 45 anos (10.2-3).
“Encontram-se poucos dados acerca da reputação de Tola e Jair
(10.1-5). Uma nota na Bíblia de Jerusalém comenta: Estes Juízes
‘menores’ parecem ter sido chefes de clãs que tomaram o coman-
do para expulsar o inimigo. É provável que a função de Jair fosse
puramente judicial” (HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa
atuação de Deus no meio do seu povo. São Paulo: Vida, 1996. p.
81).
111
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

que Israel vivesse em paz (10.1-5).

3. Fidelidade e discernimento para


firmar compromissos (Js 10.6-12.15)
A sexta opressão registrada veio dos filisteus e
amonitas (Juízes 10.7). O pecado foi o aumento da
idolatria (10.6), e a punição durou 18 anos (10.8).
O libertador foi Jefté (11.6).
Os amonitas atacaram Gileade e as margens do
Jordão. Israel clamou por ajuda e o Senhor lembrou
seu passado. Inicialmente, Ele se recusou a ajudar,
mas quando o povo se arrependeu, Sua compaixão
se manifestou. A misericórdia de Deus acompanha
um coração arrependido.
A intenção dos amonitas era tomar todo o territó-
rio da Transjordânia (11.13). Nessa crise, foi convo-
cada uma assembleia geral das tribos de Israel em
Mispa (11.11), localizada em Manassés Oriental.
Eles buscavam um líder para enfrentar e liderar
contra os amonitas, e o escolhido foi Jefté (11.11).
Jefté era filho de uma prostituta que fora expul-
so de sua casa por seus irmãos legítimos e rejeita-
do por seu povo (11.1-2). “Viu-se obrigado a viver
na região semicivilizada da Gileade setentrional. Ali
reuniu uma tropa de homens também desprezados
112
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

pela sociedade e arruinados. Seguiam-no como um


chefe militar. Ele tinha uma vida de bandoleiro fa-
zendo correrias contra as tribos do deserto, com
as quais se tornou famoso. Não obstante sua vida
de salteador, ele temia ao Senhor e ensinou à sua
filha o temor de Deus5”.
O início de sua liderança revela um caráter nobre:
ele tenta resolver a questão através de uma conver-
sa (11.12-28), “mas o rei dos filhos de Amom não
deu ouvidos à mensagem que Jefté lhe enviara”
(11.28), apesar de todos os argumentos usados
por ele. Não fazia sentido, quase 300 anos depois,
os amonitas reivindicarem a terra. Sendo a guerra
inevitável, as Escrituras afirmam que “o Espírito do
Senhor veio sobre Jefté” (11.19), e Israel foi con-
duzido à vitória.
Sobre o voto feito por Jefté e suas consequências
(Juízes 11.30-40), muito se tem discutido. Algumas
questões são pertinentes:
a) Foi realmente um voto para sacrificar um ser
humano?
b) É possível conquistar o favor do Senhor ofere-
cendo sacrifícios proibidos?

5 HOFF, Paul. Ibid. p. 82.


113
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

c) A filha de Jefté foi morta ou consagrada ao ser-


viço do templo?
Deve-se lembrar que Jefté era um homem rústi-
co e provavelmente ignorante em relação à Lei de
Deus (Deuteronômio 2.31) e a algumas práticas
cananéias. É relevante ressaltar, no entanto, que o
Senhor concedeu a ele a vitória não por causa de
seu voto, mas por causa de sua fé. De modo geral,
os estudiosos concordam que sua filha não foi sa-
crificada no sentido literal da palavra, mas consa-
grada a uma vida de solteirice (11.37-38). “Como
Jefté não tinha outros filhos para continuar o nome
da família, seu gestou representou um grande sa-
crifício ”.
6

Em Israel, ter filhos era considerado a maior hon-


ra para uma mulher, enquanto morrer solteira e sem
filhos era motivo de grande lamentação. Essa reali-
dade fazia com que a mulher fosse lembrada como
uma das esquecidas da nação. A angústia do pai e
a coragem da filha destacam-se nessa narrativa de

6 ELLISEN, Stanley A. Ibid. p. 82.


114
Fidelidade e Discernimento – Lição 9

maneira surpreendente e comovente.

Conclusão 7

O discernimento é crucial na vida dos servos


de Deus. Porém, foi escasso em Gideão, Israel e
Jefté, resultando em consequências complicadas.
Quando nosso coração nos engana, devemos bus-
car a direção e vontade de Deus, pois Ele conhece
a verdadeira natureza do coração.

Para pensar e agir


1. À luz do Novo Testamento, como devemos bus-
car a vontade de Deus para nossas vidas? Como
você tem procurado buscar a vontade do Senhor?
2. Escolhas erradas ou precipitadas já lhe cau-
saram dificuldades, desgastes ou prejuízos?
3. Compromissos assumidos de maneira impen-
sada já lhe trouxeram desgostos ao longo da vida?

7 IBSÃ, ELOM E ABDOM (Jz 12.8-15): A Bíblia não dá muitos


detalhes sobres eles, senão o fato de que: tinham muitos filhos
(12.9, 14), o que pode indicar que tinham boa posição social; jul-
garam por 7, 10 e 8 anos, sucessivamente; e foram sepultados
em Belém, Aijalom e Piratom (12.10, 12 e 15), respectivamente.
Como eram das tribos de Judá (Sul), Zebulom (Norte) e Efraim
(região central), temos que na época desses juízes houve paz em
todo o Israel.
115
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

Lição 10
Texto Base: Juízes 13.1 a 16.31

Fidelidade e
Quebrantamento
Sansão foi o juiz mais singularmente dota-
do e o único nazireu (13.5) identificado no Antigo
Testamento. Teve seu nascimento predito por um
anjo (13.3), assim como aconteceu com Isaque,
Samuel, João Batista e Jesus. “Foi-lhe dada a gran-
de dádiva da força especificamente para livrar Israel
dos filisteus, que tinham
Leitura Diária devastado a nação isra-
SEG Juízes 13.1-25 elita. Possuidor da maior
TER Juízes 14.1-9 força pessoal, foi o úni-
QUA Juízes 14.10-19 co juiz que falhou na sua
QUI Juízes 15.1-8 missão e teve um fim trá-
SEX Juízes 15.9-20 gico1”.
SÁB Juízes 16.1-22
DOM Juízes 16.23-31
1 ELLISEN, Stanley A.
116
Voltar para o sumário
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

De um modo geral, o fracasso desse homem acon-


teceu por duas razões:
A primeira, porque Sansão era impulsionado por
suas paixões e desejos. Nos capítulos que contam
a sua história, encontramos pelo menos três mu-
lheres filisteias que o seduziram: a mulher de Timna
(14.2), uma prostituta (16.2) e Dalila (16.4). Ao não
se deixar conduzir pelos princípios do nazireado, foi
conduzido pelos enganos de seu coração. A segun-
da, porque perdeu de vista seu chamado ou missão
dada pelo Senhor. Embora tenha fechado a boca
de um leão (14.5-6; Hb 11.32-33), ele só tomou a
iniciativa de rechaçar os filisteus quando foi inco-
modado em suas aventuras libidinosas.

1. Fidelidade e quebrantamento
para honrar os votos feitos (Jz 13 e
14)
A sétima opressão registrada no livro veio dos
filisteus (13.1). O pecado foi o desvio do Senhor
(13.1); a punição foi de 40 anos (13.1); o liberta-
dor foi Sansão (13.5; 16.23-31).

Conheça melhor o Antigo Testamento. trad. de Emma A. de Souza


Lima. São Paulo: Vida, 1995. p. 82.
117
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

Para um povo que vivia em opressão, a neces-


sidade de uma fonte de luz era imprescindível. O
nome Sansão significa “sol” e de alguma forma ele
se tornou uma luz para o povo que vivia em opres-
são por cerca de quatro décadas. Ele nasceu por
intervenção divina, à semelhança de João Batista,
Isaque e Samuel, cujas mães eram estéreis (13.2-
3).
“Levantado por Deus para lutar pela libertação
do seu povo, Sansão viveu toda a sua vida em es-
tado de consagração legal chamado nazireado ” 2

(13.5 ). O voto do nazireu tem sua previsão legal


3

em Números 6.1-6 e, de um modo geral, exigia a


abstenção de três coisas:
Os desígnios do Senhor para Israel e para Sansão
eram iguais. Ambos deveriam ser santos porque
Deus é santo (Lc 11.45). No entanto, esse liberta-

2 NAZIREU: “a palavra provém do hebraico (nazar) “separar”,


“consagrar”, “abster-se”. O voto do nazireado envolve a consagra-
ção especial de pessoas ou coisas a Deus (Gn 49.26; Dt 33.16)”
(CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia Teologia e
Filosofia. 8. ed. vol. 4 M-O. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 466.

3 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 86.
118
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

dor sempre andou muito próximo do pecado, culmi-


nando na quebra do voto feito ao Senhor. Se não
bebeu vinho, ao menos esteve muito próximo de
fazê-lo, indo às vinhas e dando banquetes (Jz 14.5,
10), tocou em cadáver (Jz 14.5-9) e cortou o cabe-
lo (Jz 16.17-19). Esse personagem retrata bem a
imagem do seu povo: escolhido para a santidade,
mas constantemente corrompido por seu pecado.
A história do filho de Manoá (Jz 13.2) revela não
apenas a quebra do voto do nazireado. O capítu-
lo 14 retrata a história de seu conturbado primei-
ro casamento. Sansão se apaixonou por uma das
filhas dos filisteus (Jz 14.2). Foi questionado por
seus pais: “Não há, porventura, mulher entre os fi-
lhos de teus irmãos ou entre todo o meu povo, para
que tomes esposa dos filisteus, daqueles incircun-
cisos?” (Jz 14.3a). Sansão revela seu obstinado
coração quando afirma: “Somente desta me agra-
do” (Jz 14.3b), insistindo em fazer alianças com um
povo distinto do seu. Tantos conflitos fizeram com
que sua esposa fosse dada ao seu “companheiro
de honra” (Jz 14.20).
A autossuficiência de Sansão, resultou em esco-
lhas e frutos amargos. Quando negligenciamos o
viver quebrantado, nos enveredamos por caminhos
119
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

estranhos aos caminhos do Senhor. O preceito bí-


blico acerca dos compromissos que assumimos é
claro: “É melhor que não faças votos do que faças
e não cumpras” (Ec 5.5). Sansão assumia compro-
missos com a mesma facilidade que os desfazia.
Fica a advertência para agirmos com a mesma se-
riedade.

2. Fidelidade e quebrantamento
para resistir aos impulsos do
coração (Jz 15)
O capítulo 15 de Juízes descreve a vingança de
Sansão (15.7) após as drásticas consequências e
seu primeiro casamento. Após perder sua esposa
para o seu companheiro (Jz 14.20), para vingar-se
dos filisteus, Sansão capturou 300 raposas4. Ele
amarrou a cauda delas duas a duas, colocou fogo
(15.4) e soltou nas plantações dos filisteus, que fo-
ram completamente destruídas (15.5).

4 “As “raposas” provavelmente eram chacais, pois a em-


pregada mesma palavra, shuhal, para designar esses animais
(Salmos 63.10). Os chacais andam em manadas e são caçados
mais facilmente que a raposa, animal solitário. Acredita-se que
os companheiros danitas de Sansão tenham-no ajudado em sua
atrevida empresa” (HOFF, Paul. p. 86).
120
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

Como represália, os filisteus queimaram vivos sua


mulher e o pai dela (5.6). Os homens de Judá en-
tão, queriam entregá-lo aos seus inimigos (15.12).
Ele se deixou amarrar e quando estava entre seus
adversários, rompeu as cordas e matou mil deles
usando uma queixada de jumento. Após sua vitória,
ele teve uma grande sede e clamou ao Senhor por
água. Em sua graça, Deus matou sua sede abrin-
do uma cavidade na rocha, fazendo brotar água. A
Bíblia diz que Sansão reviveu (Jz 15.19) e parece
que havia implementado mudanças significativas
em sua vida, pois veio a julgar Israel por 20 anos e,
aparentemente, em paz (Jz 15.20).
Duas palavras em especial revelam que Sansão
era conduzido pelos impulsos de seu coração:
1) “Não desistirei enquanto não me vingar” (v.
7).
Nas Escrituras, fica claro que não cabe a nós a
vingança: “Não vos vingueis a vós mesmos, ama-
dos, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim
me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o
Senhor” (Rm 12.19). Nossos parâmetros e critérios
podem estar equivocados ou motivados por razões
escusas. Por vezes pensamos em implementar nos-
sa justiça, consoante às feridas marcadas em nos-
121
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

so coração. Desejamos nos vingar. Mas sabemos


que é um erro.
2) “Assim como me fizeram a mim, eu lhes fiz
a eles” (v. 11).
O senso de justiça de Sansão era aguçado. Alguns
poderiam invocar a Lei do Talião (Lv 24.20; Dt
5

19.21), alegando que naquela época esse preceito


estava em vigor. Dessa forma, sua vingança respal-
dada poderia ser vista como um gesto justificável.
No entanto, não podemos esquecer que o conflito
assumiu proporções maiores devido à própria cul-
pa de Sansão e do povo de Israel, que sofria nas
mãos dos filisteus por causa de sua desobediência.
No Novo Testamento, o preceito para a resolução
de conflitos é diferente: “ A qualquer que te ferir na
face direita, volta-lhe também a outra; amai os vos-
sos inimigos e orai pelos que vos perseguem; não
te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o

5 LEI DO TALIÃO: o termo significa “tal qual”. Referia-se a


qualquer vingança em proporção igual ou considerada equivalen-
te ao mal sofrido; retaliação. Os primeiros vestígios desta lei fo-
ram achados no código de Hamurabi, escrito cinco séculos antes
de Moisés.
122
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

bem” (Mt 5.39, 44; Rm 12.21).

3. Fidelidade e quebrantamento
para reconhecer erros cometidos
(Jz 16)
O último capítulo da história de Sansão começa
com mais um desvio desse homem. Após 20 anos,
esse juiz novamente se deixa levar pelos enganos
do seu coração e se envolve com uma prostituta na
cidade de Gaza (16.1-3).
Finalmente, a Bíblia relata a história mais conhe-
cida desse homem, resultado do seu segundo ca-
samento. A sensualidade de Sansão finalmente o
leva à sua queda. Ele se apaixona por uma mulher
chamada Dalila, que provavelmente era filisteia. Os
príncipes filisteus oferecem a ela uma grande quan-
tia em dinheiro para que ela descubra o segredo
da sua força. O relato desse episódio é uma obra-
-prima de astúcia. “Com astúcia diabólica, Dalila
o dominou pouco a pouco até que ele revelou seu
segredo6”.
O relato é bem conhecido nos versículos de 16.1-

6 HOFF, Paul. Ibid. p. 87.


123
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

19. Os resultados da insensatez de Sansão, aliados


à perspicácia de Dalila, resultaram em três conse-
quências lamentáveis na vida dele:
a) O Senhor se retirou dele (16.20).
O ponto culminante da tragédia na vida de Sansão
é quando o Senhor se retira dele. É um grande equí-
voco pensar que sua força estava em seu cabelo.
O cabelo era apenas uma evidência externa de sua
consagração. A consagração, sim, era o verdadei-
ro segredo de seu poder e autoridade. A desobedi-
ência crescente na vida deste homem é evidente:
a) se relaciona com uma mulher pagã (14.1); b)
toca no corpo de um leão morto (14.9); c) abraça
a imoralidade (16.1); d) corta seu cabelo (16.19).
Inevitavelmente, o Senhor o abandona. Está escri-
to: “Não tentarás o Senhor, teu Deus” (Dt 6.16; Mt
4.7).
b) Tornou-se um prisioneiro deplorável (16.21).
O tratamento que Sansão recebeu nas mãos dos
filisteus mostra as consequências que transgredir
ideais espirituais e morais e ceder à carne costu-
mam trazer. As palavras sintetizam a situação: cego,
preso e virando um moinho. Um servo desobediente
pode, por vezes, viver em circunstância semelhan-
124
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

tes: ele perde a visão, fica preso a uma situação e


em movimento, mas sem progresso. Rodar o moi-
nho gera energia e movimento, mas não proporcio-
na avanço.
c) Matou a si e aos filisteus (16.30).
Os versos finais da biografia de Sansão mantêm
o aspecto dramático de sua história. Duas tragé-
dias são narradas:
1) A adoração dos filisteus à Dagom (16.23-
25).
A ausência de quebrantamento do “juiz de Deus”,
resultou em opróbrio ao Senhor. Os inimigos cele-
bravam a aparente vitória, honrando a Dagom, um
deus fenício, pela empreitada supostamente bem-
-sucedida. A infidelidade dos servos do Senhor sem-
pre compromete o testemunho e envergonha ao Pai.
2) A morte de Sansão (16.26-31)
Em meio a zombaria dos filisteus, Sansão clama
ao Senhor: “Peço-te que te lembres de mim, e dá-
-me força só esta vez, ó Deus, para que me vingue
dos filisteus, ao menos por um dos meus olhos”.
Cremos que o “salário do pecado é a morte” (Rm
6.23), como cremos que “todo homem piedoso fará
súplicas em tempo de poder encontrar ao Senhor
125
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

(Sl 32.6).

Conclusão
Sansão é distinto dos demais juízes. Ele não con-
duz o povo nem o leva para a guerra, mas se conduz
e luta sozinho. Não havia, na realidade, uma dispo-
sição de Israel em lutar (15.9-13). O grande proble-
ma estava no fato de que os interesses desse per-
sonagem se sobrepunham ao interesse maior da
nação. O que estamos dispostos a fazer para que
nossos interesses prevaleçam?
O “espírito” de Sansão é violador: viola princípios,
valores, missão e votos. Como resposta ele se vin-
ga e morre implementando seu próprio juízo cabal
e definitivo: “E foram mais os que matou na sua
morte do que os que matara na sua vida” (16.30).
“Por que Deus usou um homem tão indigno? Talvez
seja porque naqueles dias, perto do fim da época
dos juízes, Sansão era o melhor que havia. Pelo
menos estava disposto a render-se ao Espírito, de
modo que Deus podia usar. Jeová não o usou pelo
bom que ele era, e sim porque queria demonstrar
sua própria fidelidade as suas promessas. Sansão,
apesar de sua conduta reprovável, não deixou de
126
Fidelidade e Quebrantamento – Lição 10

ser um testemunho vivo de que Jeová defenderia


os seus enquanto eles permanecessem fiéis”. 7

Para pensar e agir


1. Você tem honrado seus votos: de casamento,
de batismo, de promover a unidade do Corpo de
Cristo e de dar um bom testemunho de sua fé? Ou
tem sido autossuficiente e inconsequente em suas
alianças?
2. Sansão buscou vingança e retribuiu de acordo
com aquilo que tinha recebido: como e sob quais
parâmetros você resolve seus conflitos?
3. Seu distanciamento do Senhor já lhe ocasio-
nou graves consequências?
4. No que se refere à sua vida com Deus, você
tem avançado ou sente-se estagnado?
5. A ausência de quebrantamento em sua vida
tem comprometido seu testemunho e envergonha-
do o evangelho?

7 Ibidem. p. 88.
127
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

Lição 11
Texto Base: Juízes 17.1 a 21.25

Fidelidade e
Entendimento
Os últimos cinco capítulos do livro dos Juízes fun-
cionam como apêndices. Eles narram “alguns dos
aspectos mais tristes dessa época obscura da his-
tória hebraica, que representa a moralidade mais
baixa e o caos mais completo da Bíblia. Fala-se de
enganos e roubos, de uma ignorância espiritual em
que se fabricam ídolos pensando que representa-
va Jeová, de uma cor-
Leitura Diária
rupção espantosa e de
SEG Juízes 17.1-13
guerra entre as tribos de
TER Juízes 18.1-13 Israe”. 1

QUA Juízes 18.14-31


QUI Juízes 19.1-30
SEX Juízes 20.1-28
1 HOFF, Paul. Os livros
SÁB Juízes 20.29-48 históricos. A poderosa atuação
DOM Juízes 21.1-25 de Deus no meio do seu povo.
trad. de Jefferson M. Costa. São
128
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Fidelidade e Entendimento – Lição 11

Um período de confusão e desregramento havia


se estabelecido. A realidade que abre a parte final
do livro de Juízes é mesma que vai terminar todo o
conteúdo: “Naqueles dias, não havia rei em Israel;
cada qual fazia o que achava mais reto” (Jz 17.6 e
Jz 21.25). A vida religiosa (Jz 17-18), a moral (Jz
19) e a política (Jz 20-21) estavam em confusão.
Sendo assim, aprendemos que buscar no Senhor
entendimento para lidar com tempos obscuros é o
caminho certo a seguir.

1. Fidelidade e entendimento para


não abraçar a idolatria (Jz 17 e 18)
Os capítulos 17 e 18 de Juízes registram a histó-
ria de Mica, um homem da “região montanhosa de
Efraim” (17.1). Ele havia roubado 1.100 moedas de
prata de sua mãe, devolveu-as (17.3), no entanto,
apenas depois de ouvir as maldições que ela jogou
contra o ladrão. A devolução do valor se deu não
por conta de arrependimento, mas por temor das
maldições proferidas por sua genitora. Mica é dú-
bio porque é forte o bastante para furtar, mas fraco
para admitir seus erros genuinamente.

Paulo: Vida, 1996. p. 88.


129
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

Sua mãe, por outro lado, é dúbia porque tem a


prontidão em amaldiçoar o infrator, mas quando
sabe que se trata de seu filho, abençoa (17.2). É
rápida em amaldiçoar, perdoar e proclamar restau-
ração. Ela não se preocupa com o genuíno arre-
pendimento, não profere uma palavra de instrução,
não desencoraja a atitude delituosa e nem sonda
o coração de seu filho. Se pais severos, grossos e
punidores afetam negativamente a vida dos filhos,
pais condescendentes fazem o mesmo papel.
O ponto alto do relato acontece quando a mãe
de Mica pega parte do valor devolvido e contra-
ta um ourives para fazer uma imagem, um ídolo
(17.4). Assim como um jardim começa com a pri-
meira flor plantada, a casa de deuses de Mica tem
início quando ele produz seu primeiro deus (17.5).
Desrespeitosamente, afronta ao Senhor e lança fora
o preceito de Ex 20.4-5 e Dt 4.15-17: Deus não é
adorado em forma ou imagem criada por homens.
Imagens não revelam a justiça, a ira, a benignida-
de, o amor ou qualquer outro atributo divino. Esta
família efraimita quer adorar a Deus por suas pró-
prias obras. Como não havia rei em Israel e cada
um fazia o que achava mais reto (17.6), Mica unge
a um de seus filhos sacerdote, fazendo-lhe uma es-
tola sacerdotal (17.5).
130
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

O declínio espiritual desta casa avança com a che-


gada de um levita (17.7-13), que quer se instalar
onde melhor lhe parecer (17.8-9). Sai de Belém de
Judá e fica na primeira cidade que encontra (17.8,
12). O coração ganancioso de Mica vê uma grande
oportunidade: a de ter um sacerdote de origem levi-
ta dando-lhe um salário (17.10). Em suas palavras:
“Sei, agora, que o Senhor me fará bem, porquanto
tenho um levita por sacerdote” (17.13). “Em tudo
isso, Mica e sua mãe creram que assim estavam
servindo ao Senhor, ignorando que Siló (Js 18.1)
devia ser o único santuário designado por Deus ”.2

O capítulo 18 registra como o ídolo e o sacerdote


de Mica foram roubados. Os danitas ainda não ti-
nha se estabelecido em sua herança (18.1-2), che-
garam até a casa de Mica (18.2) e viram tudo o que
tinha. Depois de seguirem viagem para Laís, identi-
ficaram que era uma cidade segura e em paz (18.7).
Decidiram voltar à casa de Mica e pegaram para si
o que não era deles (18.14-18). O sacerdote levita
de Mica novamente se vende, sob a promessa que
será o líder espiritual de uma tribo e não apenas de

2 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 89.
131
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

uma família (18.19-20). Os danitas destroem Laís


(18.27-29) e se estabelecem naquela terra com a
imagem de escultura feita por Mica (18.31).
Vemos nestes capítulos o que um coração des-
governado é capaz:
a) Mica pecou porque fez um ídolo e estabeleceu
seu próprio santuário em sua casa, contrariando a
Deus;
b) O levita pecou não ficando na cidade onde ha-
via de servir, atuando ilegalmente como sacerdote
e se corrompendo de maneira intermitente;
c) Os danitas pecaram porque abandonaram seu
território, apossaram-se do que não era deles, des-
truíram uma cidade que vivia em paz e adotaram
como seu deus a imagem fabricada por Mica.
Constituímo-nos idólatras sempre que, em nosso
coração, preterimos a Deus e abraçamos valores,
princípios e coisas que desonram ao Senhor.

2. Fidelidade e entendimento para


ponderar, considerar e falar (Jz 19,
20 e 21)
O capítulo 19 de Juízes é, provavelmente, o texto
que mais revela a perversidade do homem: a dege-
neração sexual, moral e espiritual do povo. Ele narra
132
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

a história de um levita que se hospeda numa casa


em Gibeá (19.15-16) com sua concubina, depois
que um homem velho que vinha do campo lhe ofe-
rece ajuda (19.17-21). Tudo ia bem naquela casa,
até que os moradores daquela cidade cercaram o
local pleiteando que o homem velho entregasse o
levita para que abusassem dele (19.22). A sequên-
cia do texto é dramática:
“O senhor da casa saiu a ter com eles e lhes dis-
se: Não, irmãos meus, não façais semelhante mal;
já que o homem está em minha casa, não façais
tal loucura. Minha filha virgem e a concubina dele
trarei para fora; humilhai-as e fazei delas o que me-
lhor vos agrade; porém a este homem não façais
semelhante loucura. Porém, aqueles homens não
o quiseram ouvir; então, ele pegou da concubina
do levita e entregou a eles do lado de fora, e eles
a forçaram e abusaram dela toda a noite até pela
manhã; e, subindo a alva, a deixaram. Ao romper
da manhã, vindo a mulher, caiu à porta da casa do
homem, onde estava o seu senhor, e ali ficou até
que se fez dia claro. Levantando-se pela manhã o
seu senhor, abriu as portas da casa e, saindo a
seguir o seu caminho, eis que a mulher, sua con-
cubina, jazia à porta da casa, com as mãos sobre
o limiar. Ele lhe disse: Levanta-te, e vamos; porém
133
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

ela não respondeu; então, o homem a pôs sobre o


jumento, dispôs-se e foi para sua casa. Chegando
à casa, tomou de um cutelo e, pegando a concubi-
na, a despedaçou por seus ossos em doze partes;
e as enviou por todos os limites de Israel. Cada um
que a isso presenciava aos outros dizia: Nunca tal
se fez, nem se viu desde o dia em que os filhos de
Israel subiram da terra do Egito até ao dia de hoje;
ponderai nisso, considerai e falai” (19.23-30).
“O pecado dos ‘homens perversos’ de Gibeá as-
semelhou-se aos dos habitantes de Sodoma (Gn
19.5), e provocou a indignação de toda a Israel ”.
3

Também se assemelha ao texto de 1 Sm 11.7, em


que Saul cortou dois bois em doze partes e as dis-
tribuiu entre as tribos. Houve uma convocação ge-
ral para que Israel respondesse ao terrível ultraje
(Jz 20). Curiosamente, os benjaminitas ficaram ao
lado dos habitantes de Gibeá (20.14). Como não
quiseram remediar o grande mal, foram dizimados
na guerra (20.35-48).
“Para que Benjamim não desaparecesse e pudes-
se renascer, as outras tribos lhes entregaram 400
virgens perdoadas no massacre de Jabes-Gilead

3 Ibidem.
134
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

aos benjaminitas sobreviventes. Além do mais,4

os israelitas não querendo violar seu voto contra


Benjamin, empregaram um ardil para proporcionar
duzentas esposas aos benjaminitas restantes que
5

ficaram sem companheiras ”.


6

À luz da parte final de Jz 19.30, devemos a tudo


isso ponderar, considerar e falar:
a) Ponderar que a guerra de Israel, sob a lide-
rança de Judá, contra os benjaminitas, seus com-
patriotas, tem seu lado legítimo e ilegítimo. Legítimo
porque buscava combater a injustiça feita àquela
mulher; ilegítimo, porque o Senhor os levara a Canaã
para combater as nações estrangeiras, e não a pe-
lejarem entre si.
b) Considerar que foi o distanciamento do povo
das leis do Senhor, que culminou numa guerra civil
sem precedentes e com inúmeros “irmãos” mortos
(benjaminitas e os demais de Israel).
c) Falar que enquanto nosso coração for impuro

4 A referência às 400 virgens está em Jz 21.11-14.

5 É importante lembrar que foram 600 benjaminitas que fu-


giram para o deserto (20.47), como 400 já haviam recebido suas
esposas, mais 200 mulheres lhes foram entregues (21.23)

6 HOFF, Paul. Ibid. p. 89.


135
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

e sujo, nossas maldades estarão incumbidas de


fazer o resto.

Conclusão
As últimas palavras do livro revelam uma situação
recorrente na obra: o povo de Israel havia perdido
o caminho para a Casa do Pai e permanecia afun-
dado em pecados. De alguma forma, sempre que
o homem faz o que lhe parece bem aos olhos, faz o
que é errado. Em que pese a infidelidade e fracas-
so, temos que o Senhor permanece fiel e amando
aos seus.
“A história da igreja através dos tempos tem sido
assim, com Lutero, Knox e Wesley como liberta-
dores. A biografia de muitos cristãos segue essa
mesma sequência. Deus abre a porta e nos dá sua
graça para realizar grandes tarefas. Então nos es-
quecemos dele e começamos a interessar-nos pelo
mundo. Isso nos traz perda e derrota. Mas Deus
ouve nosso clamor de arrependimento e de novo
nos restaura ao seu favor7”.
Quando não há um rei, cada qual faz o que acha

7 MEARS, Henrietta. C. Estudo panorâmico da Bíblia. trad.


de Walter Kaschel. 6ª impres. Deerfield: Vida, 1993. p. 96.
136
Fidelidade e Entendimento – Lição 11

certo (Jz 17.6; 21.25). Fracassos reiterados só des-


tacam a necessidade que temos de uma liderança.
Eis a razão do porquê precisamos do Rei Jesus: en-
tregues a nós mesmos, sucumbimos; sob Seus con-
selhos e direção, avançamos em vitória. Entenda
isso.

Para pensar e agir

1. Tomando por parâmetro a história de Mica,


você pode dizer que tem praticado um cristianismo
que agrada ao Senhor, em que Ele é o centro de
sua vida?

2. O levita que chegou na casa de Mica quis ficar


“onde melhor lhe parecesse”. Você tem agido de
maneira a sempre buscar aquilo que mais lhe con-
vém?

3. A sua ausência de posicionamento com Deus


tem lhe levado a atos nocivos?
137
Força Para Não Transigir – Lição 12

Lição 12
Texto Base: Rute 1 e 2

Força Para Não


Transigir
Dentro do período dos juízes (Rt 1.1) temos a his-
tória de Rute, uma jovem moabita, cujo nome signi-
fica “amizade”. Os moabitas eram um povo pagão,
descendentes de Ló, e será através dessa linha-
gem que nascerá Jesus, cerca de mil anos após
essa história.

Leitura Diária Ao contrário


SEG Rute1.1-15 dos outros livros
TER Rute 1.16-22 do AT, este livro
QUA Rute 2.1-7 tem seu foco na
QUI Rute 2.8-17 história de uma
SEX Rute 2.18-23 família, não de
SÁB Levítico 25.25-28; 47-48
um povo. “É uma
DOM Mateus 1.5
das narrativas
138
Voltar para o sumário
Força Para Não Transigir – Lição 12

mais encantadoras da história hebraica. Foi escrita


em um estilo literário cheio de interesse humano,
tragédia, humor e amor”.1
Ao lado de Ester, é outro livro da Bíblia que tem
uma protagonista feminina. Rute tem sua história
no início da história de Israel em Canaã, e Ester
tem a sua no final da trajetória dos israelitas no AT.
Ambas se destacam pela coragem, resiliência e le-
aldade. Em ambas as obras se observa a providên-
cia de Deus na vida dos que lhes são fiéis.

1. Força para superar tempos


desafiadores (Rt 1.1-6)
O início do livro de Rute é intenso e revela ao me-
nos três circunstâncias desafiadoras na vida de to-
dos nós.
A primeira situação é a da escassez (1.1). Belém
significa “Casa do Pão” e houve um dia que faltou
pão lá, e foi necessário a implementação de mu-

1 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 94.

139
Força Para Não Transigir – Lição 12

danças para superar os tempos de necessidade.


A fome é, provavelmente, a experiência mais nega-
tiva na vida de uma pessoa. Suas consequências
podem ser irreparáveis. Se a falta do pão físico é
nociva à vida do homem, a falta do espiritual é ain-
da mais. A advertência bíblica em Amós 8.11 é per-
tinente, e fala de algo que ainda não vislumbramos
na atualidade. Ter fome (sede) de Deus equivale a
não se contentar com farelo ou palha, mas a bus-
car a porção dobrada do Espírito Santo para vida e
fé resilientes.
A segunda situação desafiadora é a da necessi-
dade de mudança de caminho (1.1-2). Na busca
pela manutenção da vida, Elimeleque optou rapi-
damente por conduzir sua família para outro lugar.
Aprendemos que há decisões na vida que precisam
ser tomadas imediatamente, sem postergações. Os
passos para a implementação de mudanças sig-
nificativas, sobretudo na vida espiritual e familiar,
devem ser dados prontamente, sem desculpas ou
escusas. Se estamos num caminho que leva à mor-
te, é imperativo que haja intrepidez e firmeza para
seguir pelo caminho que leva à vida.
140
Força Para Não Transigir – Lição 12

A terceira e última situação na introdução do livro


de Rute é a da morte (1.3-6). Se não bastasse a es-
cassez e a mudança, Noemi padeceu de uma dor
terrível: morreram seu marido e filhos. “A fome, en-
viada por Yahweh como disciplina contra Seu povo,
é o elemento de tragédia que Ele utiliza para abrir
as comportas de Sua graça. Igualmente, as mor-
tes do marido e filhos são instrumentos para que
Noemi venha a conhecer o verdadeiro significado
da plenitude (1.20, 21)”.2 Nos momentos desafia-
dores é imperativo manter a resistência cultivando
uma fé firme e segura. A força vinda do Senhor nos
torna capaz de experimentar que n’Ele “tudo pode-
mos” (Fp 4.13).
O paralelo com a pessoa de Cristo é notório e
pertinente: aos desafios de escassez, mudança de
caminho e morte, temos que Jesus é o pão da vida,
o caminho, a vida e a ressurreição.
Encorajados pelo testemunho dessa família, os
servos de Deus neste tempo também podem se so-

2 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento


no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2002 p. 137.
141
Força Para Não Transigir – Lição 12

brepor às adversidades, olhando eficazmente para


Cristo e usufruindo de uma fé resoluta.

2. Força para demonstrar


compaixão (Rt 1.7-22)
Noemi precisava voltar a Belém, pois havia per-
dido sua segurança e conforto. Como o casamento
era a única fonte de estabilidade para uma mulher,
retornar às origens viúva e sem filhos era solitário e
desesperador. Ela sabia que seria um grande sacri-
fício para suas noras moabitas viverem em Belém
sem maridos. Sua atitude em tentar persuadia-las
a que ficassem onde estavam é plausível (1.11-13),
porém Rute permaneceu.
“O amor insuperável de Rute e seu comprome-
timento com Noemi a levaram a recusar. [...] Até
mesmo na morte, ela jamais abandonaria Noemi”. 3

Rute “opta pelo árduo caminho da pobreza, da viu-


vez e da solidão (1.8-9) que a sogra lhe apresenta.
Seu compromisso para com Noemi revela a profun-

3 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo


Testamento: uma perspectiva cristã. 1ª ed. trad. de Suzana
Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 188.
142
Força Para Não Transigir – Lição 12

didade de seu compromisso para com o Deus de


Noemi (1.16-18)”.4

Sua declaração de fé é, provavelmente, uma das


mais importantes e significativas das Escrituras
(1.16). “Embora não seja a primeira conversão de
gentios registrada no Antigo Testamento, a conver-
são de Rute é a mais detalhada e famosa. Apresenta
também um contraste interessante com a conver-
são de sua segunda sogra, Raabe. Enquanto a de
Raabe é apresentada como uma reação ao medo
do julgamento que viria, a de Rute é uma reação ao
amor (Js 2.9-13; Rt 1.16)”. 5

O amor altruísta, atrelado a abnegação e reso-


lução de Rute, deixaram sua sogra sem palavras
(1.18). A situação de ambas era deprimente, a
ponto de a cidade não mais “reconhecer” Noemi
(1.19). Afetada pela perda, por um retorno fracas-
sado, por uma autoestima debilitada e com uma
visão de Deus deturpada (1.21), Noemi (que signi-

4 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Ibid. p. 138.

5 ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento.


trad. de Emma A. de Souza Lima. São Paulo: Vida, 1995. p. 86.
143
Força Para Não Transigir – Lição 12

fica Agradável) muda nome para Mara (Amargura)


(1.20).
Em meio a tanta desgraça, graciosamente Rute
demonstra compaixão e solidariedade com o so-
frimento de sua sogra. Ela é compassiva quando
revela a vontade de ajudar Noemi a superar seus
problemas, consolando e suportando em amor. Ela
“padece” junto, não porque vai receber retorno ou
reconhecimento, mas porque é forte e resistente
para lidar com as adversidades que possam surgir.
“Quando o crente vive e fala de tal maneira que faz
com que as pessoas desejem experimentar sua re-
ligião, a influência que ele exerce está sendo muito
positiva”. 6

3. Força para buscar restauração


(Rt 2.1-23)
Noemi tinha um cunhado chamado Boaz, que era
um homem de posse e respeitado na comunida-
de. Rute se oferece para rebuscar espigas em seu
campo, a fim de prover para ela e sua sogra (2.2-

6 HOFF, Paul. Ibid. p. 95.


144
Força Para Não Transigir – Lição 12

3a). Era um trabalho pesado e humilhante, mas o


relato bíblico vai revelando os traços do caráter de
Rute, sua resiliência e coragem são evidentes.
“A presença e diligência de Rute entre os respiga-
dores no campo de Boaz é notada pelo fazendeiro
(2.3b-7). Boaz encoraja Rute a participar dos privi-
légios de serva enquanto ela aproveita dos bene-
fícios da colheita fundamentada em seu amor leal
por sua sogra (2.8-11)”.7 Em Rt 2.12-16 vems que
a atitude de Rute provoca maior gentileza em Boaz.
Boaz, cujo nome significa “aquele que provoca ri-
sos” beneficia Rute de muitas formas:
a) Ela poderia tomar água das vasilhas dos tra-
balhadores (2.9);
b) Foi ordenado que ninguém mexesse com ela
(2.9);
c) Foi ordenado que se deixasse cair espigas para
ela pegar (2.16);
d) Ela poderia respigar com seus trabalhadores
até o fim da colheita (2.21).

7 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Ibid. p. 141.


145
Força Para Não Transigir – Lição 12

A mudança de cenário na vida daquelas mulhe-


res, como fruto da provisão do Senhor, fez com que
Noemi voltasse a crer na bondade e soberania de
Deus (2.20). “A condição de Boaz, como possível
resgatador, desperta em Noemi a esperança de
uma saída para sua presente situação de angús-
tia”. Rute se junta às servas do fazendeiro, mas
8

mantém sua palavra e lealdade permanecendo com


Noemi, mesmo que as coisas estivessem melho-
rando para ela (2.22-23).
Boaz era um parente (2.20) próximo (em hebrai-
co goel). “A palavra goel significa literalmente “res-
gatador” ou “redentor”. Segundo a Lei, o parente
próximo tinha quatro deveres: estava obrigado a
resgatar o parente que havia sido vendido como
escravo (Lv 25.47-48), e comprar o campo ou he-
rança que ele perdera (Lv 25.25-28), ou vingar o
sangue (Nm 35.19), e casar-se com a viúva de seu
parente a fim de lhe dar uma descendência que le-
varia o nome do falecido (Dt 25.5-10). O primogê-
nito desse novo casamento era considerado legal-

8 Ibidem.
146
Força Para Não Transigir – Lição 12

mente o filho do esposo falecido e herdeiro de sua


propriedade.”. 9

Porém, Boaz não age como goel desde o início


por que havia um parente mais próximo ao que lhe
correspondia o dever de resgatador (3.12). Assim
como Rute, seu resgatador revela um caráter iliba-
do, íntegro e fiel.

Conclusão
Os capítulos 1 e 2 de Rute revelam a disposição
singular de três personagens que não transigem.
Transigir é fazer uma transação; é chegar a um acor-
do por meio de concessões; é conciliar. Noemi, Rute
e Boaz revelam uma fé resoluta quando experimen-
tam situações adversas na vida.
Noemi não transige quando dá liberdade às suas
noras de fazer suas opções (1.12-13). Não há viti-
mismo, manipulação ou imposição. A situação que
experimenta com a perda de seu esposo e filhos
não se torna empecilho para que as coisas fluam
ao seu redor. Rute, por outro lado, não transige

9 HOFF, Paul. Ibid. p. 97.


147
Força Para Não Transigir – Lição 12

nas situações antagônicas que vivencia. Quando


as coisas vão mau, permanece fiel em sua palavra
(1.16); quando começa a melhorar, permanece fiel
da mesma forma (2.23). Ela não é dúbia, não de-
monstra fraqueza ou maleabilidade. Boaz, por fim,
não transige no cumprimento da Lei e costumes.
Embora fosse um “resgatador” (2.20; 3.9), sabia
que alguém o precedia (3.12). Ele não ultrapassa
seus limites e nem se beneficia de alguma forma.
É preciso força para não transigir, para não nego-
ciar a fé e para não renunciar a valores e princípios.

Para pensar e agir


1. Como as adversidades podem fazer de você
uma pessoa mais forte e dependente do Senhor?
2. A prática da vida cristã tem cooperado para
que seu coração seja mais compassivo ou você tem
se tornado insensível ou endurecido em relação a
seu próximo?
3. Você é alguém que costuma transigir, negociar
ou agir conforme as circunstâncias?
148
Força Para Prosseguir – Lição 13

Lição 13
Texto Base: Rute 3 e 4

Força Para
Prosseguir
Os capítulos finais de Rute revelam suspense à
medida que o texto bíblico avança. “Até então a his-
tória havia sido de pessoas comuns e seus altos e
baixos ao longo da complexidade de suas vidas e a
maneira exemplar com que encaram os fatos. [...]
Mas. o capítulo 3 está cheio de suspense. A per-
gunta é: Será que os
Leitura Diária
três continuariam a
SEG Rute 3.1-5
TER Rute 3.6-18
agir de maneira reta
QUA Rute 4.1-8 mesmo em meio a
QUI Rute 4.9-12 circunstâncias ques-
SEX Rute 4.13-22 tionáveis?”1
SÁB Gn 29.16-30; Rt 4.11
DOM Dt 25.5-6; Rt 4.12
1 ARNOLD, Bill T. e
149
Voltar para o sumário
Força Para Prosseguir – Lição 13

O que ficará evidente nestes personagens é a


força que carregam para prosseguir em suas vidas,
na mesma medida em que agem legal, genuína e
responsavelmente. Revelam como buscaram saí-
das para as encruzilhadas que a vida lhes legou,
deixando exemplo de fé e perseverança: eles pros-
seguiram.

1. A busca por redenção (Rt 3.1-4.8)


Esse capítulo contém um antigo costume (3.9) 2

que pode parecer estranho para nós e seu signi-


ficado mais completo, desconhecido. O que está
implícito é que Boaz compreendeu a atitude admi-
rável de Rute como uma proposta de casamento
honrosa e nada ilícita, e que se tornar marido de
Rute era uma das funções de seu papel de resga-

BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento: uma perspec-


tiva cristã. 1ª ed. trad. de Suzana Klassen. São Paulo: Cultura
Cristã, 2001. p. 189.

2 “LEVIRATO” é o costume, observado entre alguns povos,


que obriga um homem a casar-se com a viúva de seu irmão quan-
do este não deixa descendência masculina, sendo que o filho des-
te casamento é considerado descendente do morto (Dt 25.5-6;
Gn 38.8).
150
Força Para Prosseguir – Lição 13

tador (3.10-13). Fica claro, no entanto, que ela se


coloca numa situação comprometedora e vulnerá-
vel. Afinal, o encontro com Boaz acontece perto da
meia-noite (3.8).
Boaz revela uma postura inquestionável. Primeiro,
porque se sente honrado com a proposta de casa-
mento de Rute (3.9), por imaginar que a jovem fosse
preferir ou buscar alguém bem mais novo que ele,
independente de ser pobre ou rico (3.10); segun-
do, por que informa que há outro resgatador que
o antecede (3.12). Muito longe de demonstrar um
caráter duvidoso e ambíguo, o fazendeiro não assu-
me quaisquer compromissos sem antes consultar
o resgatador de direito. Suas palavras em Rt 3.13
retratam sua honestidade.
“Boaz não perdeu tempo algum em cumprir sua
promessa. Na manhã seguinte se dirigiu à porta do
povoado de Belém, local próprio para tratar publica-
mente assuntos legais, e onde os anciãos serviam
como testemunha. Ele apresentou integralmente o
assunto ao parente mais próximo de Elimeleque,
seu direito e privilégio de comprar (redimir) o terre-
no que havia pertencido ao falecido. Ao que parece,
151
Força Para Prosseguir – Lição 13

o parente próximo não havia percebido ainda que


competia a ele redimir a terra. Ele respondeu que a
redimiria. Mas quando soube que também teria que
se casar com Rute, e que o terreno seria herança
do filho que resultaria dessa união, ele mudou de
ideia. Não quis prejudicar a herança dos filhos que
levariam seu nome (4.1-7)”. O homem tira seu cal-
3

çado (3.8), Boaz redimi a propriedade do marido


4

de Noemi e recebe Rute como esposa.


Em linhas gerais, a busca por redenção é o tema
que sintetiza esse trecho das Escrituras. Em Rute,
temos o esforço de uma jovem viúva para exercer
o seu direito, mas sobretudo para dar novo signifi-
cado à sua vida. Ela luta, persiste e avança para
alcançar sua redenção. Do outro lado temos Boaz,
que na mesma medida não mede esforços e meca-
nismos para servir de redentor.

3 HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa atuação de


Deus no meio do seu povo. trad. de Jefferson M. Costa. São Paulo:
Vida, 1996. p. 98.

4 TIRAR O CALÇADO: O sapato simbolizava a tomada da pos-


se do terreno (Js 1.3), e tirá-lo era renunciar a todo o direito de
colocar o pé no terreno.
152
Força Para Prosseguir – Lição 13

É impossível não olhar para o relato e não traçar-


mos uma conexão com o pecador e o Cristo. O pri-
meiro, busca sua redenção porque está entregue
ao mundo sem perspectivas e solução. O segundo,
Jesus, não mede esforços para redimir e salvar. Dá
a vida para que, aquele que O busca, possa encon-
trá-Lo e ser salvo.

2. A redenção (Rute 4.8-17)


A narrativa da redenção de Rute, e consequente-
mente a de sua família, apresenta aspectos impor-
tantes:
a) A disposição de Boaz (4.9-10);
b) A benção proferida pelas testemunhas men-
cionando Raquel e Lia (4.11);
c) A menção à Perez, filho de Tamar (4.12);
d) A volta de Noemi ao centro da história (4.13-
17).
Naquilo que se refere a Boaz, temos a sua preo-
cupação em não deixar dúvidas acerca do seu pro-
ceder (4.9). Ele resgata tudo o que é da família de
Elimeleque e de seus dois filhos. Não é responsá-
153
Força Para Prosseguir – Lição 13

vel parcialmente por algo, mas integralmente as-


sume o que lhe é devido. Outro detalhe importante
está no fato de que registra que toma por “mulher
Rute, a moabita, que foi esposa de Malon” (4.10).
Ao afirmar a origem de Rute, está demonstrando
que a mulher abraçara sua religião, não havendo
óbices para o casamento, com bem preceituava a
Lei (Dt 7.3-4).
O segundo aspecto importante no processo de
redenção está na benção e menção que as teste-
munhas fazem sobre Raquel e Lia (4.11), e o fize-
ram por pelo menos por duas razões: a) “estavam
aceitando Rute na família de Israel. Desse modo,
aquela gentia foi incorporada oficialmente ao povo
de Deus”5 e b) era um tipo de benção usada em ca-
samentos. “Eles fizeram Boaz lembrar que as duas
matriarcas Raquel e Lia, tinham edificado a casa de
Israel; e então exortaram-no a agir de modo digno
em seu próprio lugar, em Belém. A cidade não era a
nação inteira de Israel, mas a representava; e era
ali que Boaz havia de constituir família. [..] O que

5 HOFF, Paul. Ibid. p. 98.


154
Força Para Prosseguir – Lição 13

ele fizesse ali seria importante para a nação como


um todo”. 6

A menção à casa de Perez é de simbologia singu-


lar (4.12). Tamar coabitara com Judá, seu sogro (Gn
38.27-30), e gerou filhos. “Foi por meio dele que a
linhagem de Judá continuou. Portanto as testemu-
nhas diziam agora a Boaz: Sê um vencedor, como
Perez ; sobressai-te em todas as coisas; honra a li-
7

nhagem de Judá. Naturalmente, conforme veremos


logo adiante, o filho de Boaz deu continuidade a li-
nhagem de Perez; e dessa linhagem foi que vieram
tanto Davi quanto Jesus”.8
Finalmente, o último aspecto a ser destacado é o
do retorno de Noemi ao centro da narrativa após o
nascimento da criança (4.13). “Ela toma em seus

6 CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento


Interpretado: versículo por versículo. vol. 2. de Dt a 1 Rs. 2 ed.
São Paulo: Hagnos, 2001. p. 1111.

7 Assim como Perez (ascendente de Boaz) havia “passado a


frente” de Zera, seu irmão, quando de seu nascimento, Boaz ha-
via “passado a frente” do primeiro resgatador, quando da decisão
pelo resgate (Rt 3.12; 4.6).

8 CHAMPLIN, Russell Norman. Ibid. p. 1111.


155
Força Para Prosseguir – Lição 13

braços o pequeno menino, como se fosse sua mãe.


O autor nos leva ao ponto em que Noemi estava de-
sesperada por causa de seus dois filhos e nos leva
até ao ponto em que ela segura o recém-nascido,
o filho de Rute e Boaz. Todos os problemas do ca-
pítulo 1 foram solucionados e chegamos a um final
feliz”.9
Oportuno observar como o Senhor foi tratando e
intervindo em cada momento da vida daquela fa-
mília. Ao final, temos que nossa confiança em Deus
deve ser permanente. Ele vai conduzindo nossa his-
tória, não perde o controle e não deixa de derramar
Suas bênçãos sobre os que O temem e amam.

3) O Supremo Redentor (Rt 4.18-22)


A genealogia contida na parte final do livro de
Rute é sui generis. Ela traça o histórico da família
desde Perez (filho de Judá, Rt 4.12) até o grande Rei
Davi. Ela faz a conexão entre Moabe, Davi e Jesus.
“Embora os moabitas fossem descendentes de Ló
e sua filha (por incesto) e fossem, portanto, primos

9 ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Ibid. p. 192.


156
Força Para Prosseguir – Lição 13

de Israel, foi-lhes negada entrada na congregação


israelita “até a décima geração” [...] Evidentemente
aquela lei aplicava-se aos homens moabitas e não
às mulheres, de modo semelhante ao regulamento
registrado em Dt 21.10-13 acerca da mulher pri-
sioneira recebida como esposa. Essa conexão mo-
abita enfatiza que, embora a linhagem de Davi e
do Messias fosse formada apenas de hebreus pelo
lado paterno, ela incluiu muitas mulheres gentias.
Tamar e Raabe eram cananeias, Rute moabita e
Naamá, mãe de Roboão, amonita. O Messias re-
almente veio de extensa gama de nacionalidades
pela sua linhagem materna”. 10

Em alguma medida, o livro mostra que os benefí-


cios de uma aliança com Deus não têm limites na-
cionais, raciais ou pelo fato de ser homem ou mu-
lher. Em nenhuma parte da obra a origem de Rute é
preterida, pelo contrário, reiteradamente é chama-
da de moabita. Isso nos mostra que, independente
de origem, situação, formação, etc., todos podem,

10 ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento.


trad. de Emma A. de Souza Lima. São Paulo: Vida, 1995. p. 88.
157
Força Para Prosseguir – Lição 13

mediante a fé, ingressar na família do Senhor.


Sendo assim, é pertinente registrar que o livro
apresenta ao menos duas referências básicas re-
lativas à pessoa de Jesus:
1) Deduz-se que Boaz seja um tipo de Cristo como
um parente redentor, qualificado e disposto a redi-
mir o seu povo. E esse é um aspecto da obra de
Cristo, ilustrado aqui e em nenhum outro lugar da
Bíblia [...] A expressão “resgatar” é usada seis vezes
em Rute. Como Redentor do crente, Cristo torna-se
o seu Redentor para pagar todas as suas dívidas,
seu Vingador para defendê-lo de todos os adversá-
rios, seu Mediador para conseguir reconciliação, e
seu Noivo para união e comunhão perpétua.
2) O nome de Boaz está registrado em todas as
genealogias de Jesus, mas somente em Mateus 1.5
Rute também é mencionada, assim como o nome
de três outras mulheres estrangeiras. O ponto cris-
tológico parece ter o objetivo de enfatizar a ampla
genealogia internacional do Messias que viria tra-
zer salvação para todas as nações”.11

11 Ibidem. 89.
158
Força Para Prosseguir – Lição 13

Assim, temos que Jesus é o Supremo Redentor:


a) Ele se fez membro da raça humana como um
qualificado parente;
b) Ele proporcionou plena redenção pagando a
dívida do pecador, dando-lhe felicidade;
c) Ele é o genuíno e adequado Mediador de cada
pessoa;
d) Ele é o típico Noivo, tomando a Noiva gentia a
quem calorosamente dá acolhida e sustento. 12

Conclusão
A força para prosseguir é evidente nas páginas
de Rute. Ela perseguiu sua redenção (o seu resga-
te), não desistiu até que isso se concretizasse.
Uma vez que temos as promessas da Palavra de
Deus, devemos fazer o mesmo. Em primeiro lugar
porque também fomos resgatados (Cl 1.13). Assim
como Rute, éramos estrangeiros distantes das leis
e preceitos do Senhor. Fomos encontrados e abra-
çados pela família de Deus. Por outro lado, deve-

12 Ibidem. 87.
159
Força Para Prosseguir – Lição 13

mos prosseguir porque não somos do povo que vol-


ta atrás (Hb 10.39). Quando as coisas começaram
a dar errado, Rute poderia ter retrocedido em sua
fé. Mas, ela avançou resoluta e dignamente na pre-
sença do Senhor.

Sejamos nós, servos do Senhor neste tempo, pes-


soas que vivem agradecidas pelo resgate e firmes,
sem retroceder (Tg 5.11a).

Para pensar e agir


1. À luz dos exemplos de Noemi, Rute e Boaz,
você tem agido e respondido adequadamente às
experiências desafiadoras da vida?

2. Dentro daquilo que lhe corresponde ou lhe


cabe, você tem procedido corretamente?

3. Tomando por base o exemplo de Rute, onde


você tem buscado redenção? Para quais direções
e/ou pessoas têm olhado? Você pode dizer que já
escolheu a Jesus como redentor de sua vida?
160

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