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Estudo Bíblico I – Hermenêutica

Orientações Básicas para a Interpretação da Passagem

Aluno: Willian Azevedo Vita


Turma: TM1
Texto: Juízes 13 a 16

1. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
a. Autoria e contexto da vida do autor:
Segundo o Talmude a autoria é de Samuel, apesar de ser difícil de provar, há
várias evidências internas que apontam para ele: como a intencionalidade
profética e a propaganda anti-Saul (COP). Samuel foi o último juiz, aquele que
antecedeu o período monárquico de Israel. O povo que vivia em total apostasia
num clico de desobediência, sofrimento, clamor e libertação; sempre iniciado
novamente em declínio constante e gradativo. Possivelmente Samuel queria
alertar o povo, como profeta de Deus, sobre a necessidade de uma liderança
unificada que auxiliasse o povo a ser fiel à aliança.
b. Data:
Devido à importante frase “naqueles dias não havia rei em Israel”, o período
entre a inauguração da monarquia (1050 a.C.) e a divisão do reino (930 a.C.) é a
indicação mais clara para a data do livro de Juízes. Porém devido a
acontecimentos relacionados à cidade de Gezer é comum a sugestão de 990 a
970 a.C. (COP), pois é uma grande evidência interna. Com relação ao juizado de
Sansão, parece ter ocorrido em 1088-1048 a.C. durante a opressão dos filisteus.
c. Local:
Diversos territórios de Israel (Palestina), naquele tempo sob jugo dos filisteus.
Especificamente ao contexto de Sansão, alguns locais são citados: Zorá (da
tribo de Dã), Estaol, Timna, Etã, Leí, Gaza, Hebrom e Soreque.
d. Divisões principais do livro:
Parte I – O contexto do fracasso da teocracia de Israel (1.1 – 3.5)
1. A vida de conquista e descanso que Israel conhecera até aquele momento
foi perdida, porque a nação deixou de confiar em Deus para o término das
conquistas individuais das tribos (1.1 – 2.9).
2. A vida de conquista e descanso que Israel conhecera até aquele momento
foi perdida, porque a nação abandonou sua lealdade ao Deus da aliança
e mergulhou na idolatria das nações que Deus usou como provas para a
lealdade espiritual de Israel (2.6 – 3.6).
Parte II – Os ciclos do fracasso da teocracia de Israel (3.6 – 16.31)
1. A opressão sob os arameus trouxe 8 anos de disciplina, a libertação por
Otniel e um descanso de 40 anos (3.7 – 11).
2. A opressão dos moabitas trouxe 18 anos de disciplina, a libertação por
Eúde e um descanso de 80 anos (3.12-30).
3. O assédio temporário por bandos de migrantes filisteus foi mitigado
pelos atos de bravura de Sangar (3.31).
4. A opressão dos cananeus trouxe 20 anos de disciplina, a libertação por
Débora e Baraque e um descanso de 40 anos (4.1 – 5.31).
5. A opressão dos midianitas trouxe 7 anos de severa disciplina, a
libertação por Gideão e um descanso de 40 anos (6.1 – 8.32).
6. A usurpação de Abimeleque, em Siquém, foi o castigo doméstico de Deus
pelo retorno de Israel à idolatria (8.33 – 10.5).
7. A opressão dos amonitas trouxe 18 anos de disciplina, a libertação por
meio de Jefté, sem trazer qualquer descanso (10.6 – 12.7).
8. A opressão dos filisteus trouxe cerca de 40 anos de severa disciplina, a
libertação parcial por Sansão, sem trazer qualquer descanso (12.8 –
16.31).
Parte III – Cenas do fracasso da teocracia de Israel (17.1 – 21.31)
1. A apostasia espiritual de Israel e sua adoração paganizada a Deus são
ilustradas pelos episódios de Mica, seu ídolo e os danitas (17.1 – 18.31).
2. A degeneração moral e social de Israel é ilustrada pelos episódios de
atrocidade em Gibeá e pela guerra nacional contra Benjamim (19.1 –
21.25).
e. Destinatários imediatos e situação de vida:
Israelitas. Muito provavelmente na dinastia de Davi. Era muito importante manter
a consciência do povo ávida por uma liderança unificada que auxiliasse o povo
a ser fiel a Deus, não caindo assim nos erros passados.
f. Contexto histórico:
O povo de Israel não terminou de conquistar todo o território que Deus havia
prometido. Então, com o tempo, os povos antigos acabavam por ainda habitar
naquela região. O povo de Deus se misturou com esses povos, trazendo muito
sincretismo e idolatria. Eles também muito provavelmente se organizavam
como cidades-estado, de modo parecido com os filisteus (COP).
g. Propósito do livro:
A forma literária e conteúdo do livro parecem sugerir que seu propósito
principal é demonstrar a Israel sua necessidade de uma liderança espiritual e
política unificada que o mantenha fiel à aliança e apto a desfrutar as bençãos
nela prometidas (COP).

2. O CONTEXTO
a. Anterior:
Já referente à história de Sansão, o contexto anterior é da história de Jefté. Este
não conhecia ao Senhor, a ponto de oferecer-lhe sacrifício como aqueles
exigidos por deuses pagãos. Porém, através dele, o Senhor livrou o povo de
Israel do amonitas.
b. Posterior:
O contexto posterior é a história de Mica e sua idolatria sincretista, revelando a
confusão espiritual de Israel e a degeneração de sua liderança religiosa.
3. O TEXTO
a. Assunto do texto:
A história de Sansão, o relapso herói de Israel diante dos filisteus, nazireu que
não honrou seu compromisso em diversos aspectos, viveu insensatamente e
pagou caro por sua falta de sabedoria, mas no fim lembrou do Senhor e
honrando-o morreu de forma trágica.
b. Personagens, suas origens e participação:
Mãe de Sansão, terra de Zorá, recebeu a visita do Anjo do Senhor e recebeu a
promessa de ter um filho que deveria consagrar a Ele. Manoá (pai de Sansão)
da terra de Zorá, creu na palavra do Anjo do Senhor após encontrar-se com ele.
Os pais de Sansão também tiveram importante participação na instrução deste,
bem como o repreenderam em diversos momentos quando ele não se
comportava adequadamente. O Anjo do Senhor, mensageiro misterioso da parte
de Deus, ao qual entregou a promessa de Sansão a seus pais e conduziu Manoá
em ato de adoração a Deus. Esposa de Sansão e seu pai, de Timna, que
participaram de uma história horrível de traição e morte. Prostituta em Gaza, que
participou indiretamente de mais uma tentativa de assassinato a Sansão por
parte dos filisteus. Dalila de Soreque, que de fato foi a maior armadilha da vida
de Sansão, através dela Ele teve seus olhos furados e virou prisioneiro dos
filisteus em Gaza. Irmãos de Sansão, de Zorá e Estaol, para onde o levaram para
ser sepultado.
c. Locais mencionados (informações, distâncias, clima):
Especificamente ao contexto de Sansão, alguns locais são citados. Zorá (da
tribo de Dã) e Estaol é a terra de seus pais, onde foi enterrado por seus irmãos,
onde encontrou o leão e posteriormente o mel. Timna é o local onde Sansão se
casou e onde começou sua ação vingativa contra os filisteus. Etã é o local para
onde Sansão fugiu após ferir os filisteus e estes o procurarem mata. Leí foi onde
os homens de Judá levaram Sansão para encontrar com os filisteis, ali ele matou
mil homens com uma queixada de jumento, também foi onde orou pedindo água
ao Senhor que lhe deu fendendo uma rocha. Gaza é a grande cidade filisteia,
onde Sansão conheceu uma prostituta, também onde foi humilhado ao
finalmente ser pego pelos filisteus após ser enganado por Dalila. Hebrom é
citada apenas para mencionar o local nas proximidades até onde Sansão
arrastou o portão da cidade de Gaza pela madrugada (quando filisteus
procuravam emboscá-lo pela manhã). Soreque é onde Sansão viveu seu
romance com Dalila, mas ela o enganou por dinheiro oferecido por seu próprio
povo, os filisteus.
d. Questões culturais da passagem:
A cultura era muito sincrética, pois o povo de Israel havia abandonado ao
Senhor. Inclusive era por isso que os filisteus os subjugavam, pois Deus estava
disciplinando o seu povo através dessa opressão. Com relação aos costumes
culturais do povo de Israel, também relacionado ao pacto de nazireu, o que
vemos na história é uma completa negligência a diversos mandamentos da
parte do Senhor. Sansão casou com mulheres de outros povos, tocou em
animais impuros, bebeu bebidas fermentadas, prostitui-se; enfim, é uma
completa descaracterização do povo de Deus.
e. Gramática (verbos, sujeito, repetições, figuras de linguagem):
Um verbo muito importante é o verbo “ver”. Em diversos momentos o texto
relata que Sansão viu algo que lhe chamou a atenção, em geral, mulheres. E
sempre a sua cobiça dos olhos (1Jo 2.16) o levou a agir insensatamente e isso
foi a sua ruína.
f. Palavras importantes:
As palavras mais importantes da passagem são: “então o Espírito do Senhor
tomou conta de Sansão”. Sempre que Sansão fez algo relevante para o povo de
Israel foram momentos em que a sua força sobrenatural se revelou para ferir
aos filisteus, evidenciado em alguns momentos pela capacitação vinda
diretamente de Deus.
g. Questões e fatos interessantes e/ou importantes:
O povo filisteu é do chamado povo do mar, oriundos da ilha de Creta, dominaram
o mediterrâneo e buscavam se estabelecer em litorais. Acabaram por se
estabelecer na Palestina com muito sucesso e durante décadas representaram
um grande problema para Israel. Somente a partir do reinado de Davi deixaram
de representar um problema devido às conquistas militares.
h. Intenção do autor com a passagem:
Mostrar dentro de uma conjuntura de fatos e histórias como era importante a
presença de uma liderança unificada em Israel que conduzisse o povo à
fidelidade a Deus. O rei Saul falhou nesse processo e cometeu erros grosseiros
assim como alguns dos juízes. A história de Sansão em muito remete à Saul em
sua inconstância, narcisismo e infidelidade. Tudo aqui contribui para um reforço
da liderança de Davi e um alerta profético que exorta o povo à vigilância com
relação ao Senhor.
i. Contribuição da passagem com o propósito do livro e fluxo argumentativo:
Dentro do propósito do livro de Juízes o texto mostra o pior estágio de liderança
fragmentada e de degradação moral no povo de Deus. Sansão foi um péssimo
exemplo como líder, havia nele um grande potencial. O seu nascimento,
inclusive, se assemelha em alguns aspectos ao nascimento do próprio Jesus e
de João Batista. Mas em vez de ser um homem de Deus, Sansão serviu apenas
aos seus próprios interesses. Apenas no fim de sua vida confiou tudo a Deus
com humildade.

4. O TEXTO E O RESTANTE DA BÍBLIA


a. Citações e referências (diretas e indiretas) da passagem:
“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do
Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça
dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. O
mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus
permanece para sempre.” (1Jo 2.15-17 NVI)
“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’. Mas eu digo: Qualquer que
olhar para uma mulher e desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração.
Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder
uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E, se a sua mão
direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu
corpo do que ir todo ele para o inferno.” (Mt 5.27-30 NVI)
“Que mais direi? Não tenho tempo para falar de Gideão, Baraque, Sansão, Jefté,
Davi, Samuel e os profetas, os quais pela fé conquistaram reinos, praticaram a
justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões,
apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram
força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos
estrangeiros.” (Hb 11.32-34 NVI)
b. Harmonia da passagem com a Bíblia:
A história de Sansão nos mostra a soberania de Deus e o cuidado dele com seu
povo, mesmo num contexto de apostasia. Mesmo nas atitudes intempestivas de
Sansão, Deus estava conduzindo suas ações para ferir os filisteus, os que
oprimiam o povo de Israel. Pensando em um contexto macroscópico a história
de Sansão também é uma história de redenção de um homem orgulhoso que
aprende a depositar sua total confiança em Deus.

5. O TEXTO E OS NOSSOS DIAS


a. O que tudo isto significa?
Deus possui o controle de toda a história, mesmo quando as atitudes humanas
parecem não corroborar com sua vontade, Ele ainda está no controle de toda e
qualquer situação. Mesmo o seu povo estando distante dele, o propósito de
restauração nunca esteve depositado no homem, mas no próprio Cristo.
b. Quais as possíveis pontes da passagem com os nossos dias (Rm 15.4)? Quais as
aplicações legítimas do texto?
Mesmo nas piores situações da vida, mesmo que erremos com o Senhor,
podemos buscá-lo e confiar na sua provisão. Ele sempre faz valer as suas
promessas. A sabedoria que vem de Deus pode nos livrar de diversas situações.
Notoriamente, Sansão preferiu escolher seus próprios caminhos e se deixar
guiar por sua corrupção carnal, sofrendo muitíssimo por isso.
“Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear
isso também colherá. Quem semeia para a sua carne da carne colherá
destruição; mas quem semeia para o Espírito do Espírito colherá a vida eterna.”
(Gl 6.7-8 NVI)
“Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom
procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da
sabedoria. Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição
egoísta, não se gloriem disso nem neguem a verdade. Esse tipo de ‘sabedoria’
não vem dos céus, mas é terrena; não é espiritual, mas é demoníaca. Pois onde
há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males.”
(Tg 3.13-16 NVI)

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