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Breve estudo bíblico para a 17ª EBJ - IEADALPE (28 de Janeiro de 2022)

Ezequiel, o profeta atalaia

Seu nome significa “DEUS FORTALECE”. Foi um profeta do cativeiro (exílio)


babilônico, de linhagem sacerdotal, embora não tenha tido oportunidade de exercer
o sacerdócio, sendo levado cativo aos 25 anos, antes de completar a idade para tal.
Ele foi levado em 597 c.C., 11 anos antes de Jerusalém ser destruída. E lá ficou até
570 a.C.

Um dos livros de difícil interpretação da Bíblia. Rico em figuras, símbolos, visões e


oráculos. Algumas de suas visões reaparecem no Apocalipse:
● Os querubins (Ez 1; Ap 4);
● Gogue e Magogue (Ez 38; Ap 20);
● Comer o livro (Ez 3; Ap 10);
● A Nova Jerusalém (Ez 40 - 48; Ap 21);
● O rio da água da vida (Ez 47; Ap 22).

A fim de reiterar a inspiração divina de suas mensagens, a expressão “Saberão que


eu sou o Senhor” aparece 62x em 27 dos 48 capítulos do livro (p. ex. 6.7; 11.10;
20.12,20,26,38,42,44; 32.15; 38.16), haja vista que para muitos Ezequiel era um
louco. Diversas vezes emprega as expressões “assim diz o Senhor”, ou “e veio a
mim a palavra do Senhor”, como no capítulo 12 (vv. 8,10,17,19, 21, 23, 25, 26, 28)
Yahweh dirige-se a Ezequiel, chamando-o de “filho do homem” (2.1), um nome que
o Senhor emprega 92 vezes no livro.

No princípio sua mensagem não era bem recebida (3.25), mas depois se tornou
respeitada (8.1; 14.1; 20.1).No entanto, ele viveu o que muitos outros profetas
viveram: rejeição por causa da mensagem pregada. Os textos de Isaías 6.9,10 e
Jeremias 1.17-19, mostram que esses profetas também não teriam boa recepção
para suas respectivas mensagens.

Ezequiel ilustrava suas mensagens de maneira peculiar: fez um modelo de


Jerusalém sitiada (4.1-3), ficou deitado sobre o lado esquerdo por 390 dias e do
lado direito por mais 40 dias(4.4-17), raspou o cabelo e queimou um terço dele,
cortou um terço com uma espada e espalhou outro terço no vento (5.1-4).

Para entendermos melhor o teor de sua mensagem, precisamos relembrar um


pouco da trajetória do povo de Israel, que começou a se rebelar logo após o Êxodo
(Ex 16; 20; 23) e continuou até os dias de Ezequiel, sem guardar o sábado
(20.12,24), praticando adoração nos lugares altos (6.13; 20.28) e profanando o
santuário (23.37). “Para Ezequiel, o julgamento sobre Israel era absolutamente
merecido e com certeza inevitável porque o Deus da história tinha sido negado.
Jerusalém era mais pecaminosa que Samaria ( 16:47 ), Jerusalém era mais corrupta
do que as nações vizinhas ( 5: 6-7 ). Sodoma, em comparação, era menos perverso
do que Jerusalém (16:48). O pecado de Jerusalém tinha impregnado o coração de
Breve estudo bíblico para a 17ª EBJ - IEADALPE (28 de Janeiro de 2022)

seu ser. E a cidade é comparada a um caldeirão cuja ferrugem se espalhou para o


seu núcleo interno (24: 6-14 )”1. Deus revela ao profeta o pecado de idolatria, tanto
pública quanto secreta (5.11; 6.1-7; 7.3-4; 8.1-18; 14.1-11; 20.1-39).

Entretanto, o Senhor é descrito como aquele que concederá vida, restaurará o seu
povo e assumirá o papel de pastor. Ele purificará Israel, restabelecerá suas
fronteiras e trará os judeus de volta do exílio. Textos como 5.3, 10; 6.8; 9.4
demonstram a possibilidade de salvação do remanescente fiel de modo recorrente.
Encontramos Deus como aquele que anseia por perdoar seu povo pecaminoso
(18.21-23, 30-32; 33.10-11).

No capítulo 3 encontraremos o Senhor desenvolvendo ainda a chamada do profeta.


No v.3, ao relatar o encontro com a mensagem divina, afirma que “em minha boca
era doce como o mel”, encontrando eco em outras porções das Escrituras (SI 19.10;
119.103; Jr 15.16).

Mais especificamente entre os vv.16-21, veremos o caráter urgente de sua


mensagem. Assim como Habacuque se pôs na torre de vigia (Hb 2.1), Ezequiel é
posto como atalaia. “Dei-te para ser atalaia”, um ato da graça de Deus para um
povo rebelde que caminhava rumo à morte espiritual.

Esse termo atalaia era comum para verdadeiros profetas: Is 56.10; Jr 6.17; Os 9.8.
Um ofício que carrega uma forte conotação de responsabilidade. Tanto o justo
quanto o ímpio, tanto o santo quanto o pecador precisam do atalaia. Muitos profetas
ecoaram a mensagem de advertência para o justo e para o ímpio: Is 1.16-17; Am
5.14-15; Mq 6.8.

“A responsabilidade do cristão no sentido de avisar uma geração perdida


não é, por certo, menos aterrorizadora” John Taylor.

Em todo este texto, existe um verbo chave que se repete constantemente: é o verbo
“avisar”, que também foi traduzido como “advertir”. Este verbo está praticamente em
todos os versículos. E o significado original dele é “iluminar” ou “brilhar”. Por isso ele
é usado aqui com o sentido de “trazer luz” ou “trazer iluminação”, o que quer dizer,
além de “advertir” e “avisar”, “ensinar”.

O fracasso da parte do profeta em agir como transmissor da mensagem traria um


desastre, pois, se o silêncio profético deriva do profeta, a deserção do dever
compartilhará o destino daqueles que não foram advertidos ( v. 18 ). Isso resulta em
nada menos do que a catástrofe espiritual. O profeta não é responsável pela

1
ALLEN, 1987.
Breve estudo bíblico para a 17ª EBJ - IEADALPE (28 de Janeiro de 2022)

eficácia da mensagem, sua aceitação ou rejeição, apenas proclamação da


mensagem2.

v. 18 - o verbo “falar” aqui significa falar alto, gritar, falar de maneira repetitiva.

v. 20 - tropeço (heb. miksol) : Deus não propõe deliberadamente que o homem caia,
no entanto, se o homem em seu coração está decidido a pecar, Deus o permite
fazê-lo e receber a consequente condenação.

Essa passagem nos revela um equilíbrio - que é um mistério de Deus para a mente
humana - entre a soberania divina e a responsabilidade do homem no plano da
salvação. A morte espiritual de alguém não é culpa de demônios, da economia, da
cultura, dos traumas, das emoções, etc. A responsabilidade não pode ser
terceirizada. Temos como profetas, o dever de anunciar. Temos, como indivíduos, o
dever de crer e confessar.

Devemos ser “Ezequiéis” no meio duma geração que nega a Deus, que nega seus
santos preceitos, que nega sua verdade. Paganismo, misticismo, irracionalismo,
relativismo, materialismo, pragmatismo e muitos outros “ismos” caracterizam a
nossa sociedade contemporânea. Temos uma palavra para os que estão se
perdendo nesses enganos? Estamos proclamando ou estamos distraídos e
fascinados com os mesmos “ismos” característicos de nossa geração?3

Referências

ALLEN, C. J. (Ed.). Comentário Bíblico Broadman. vol. 6. Rio de Janeiro: JUERP, 1987.

BROWN, R. Entendendo o Antigo Testamento. Trad. Hope Gordon. São Paulo: Shedd
Publicações, 2004.

GARDNER, P. (Ed.). Quem é quem na Bíblia Sagrada. Trad. Josué Ribeiro. São Paulo: Editora
Vida, 2005.

HOUSE, P. R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2005.

TAYLOR, J. B. Ezequiel: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2017.

VAZQUES, J. M. A responsabilidade da sentinela. Revista Teologia para vida, v. 1, n. 1, pp. 160 -


174, 2005.

Pr. Renato Torres Moul / IEADALPE

2
ALLEN, 1987.
3
VAZQUES, 2005.

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