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PANORAMA BÍBLICO
NOVO TESTAMENTO
1
Direitos autorais: essas apostilas foram compiladas por mim a partir de material pesquisado em livros, apostilas e sites da internet, e
a maioria está com as notas de rodapé apontando seus autores.
Erros: caso perceba algum erro ou tenha alguma sugestão, eu ficarei agradecido se entrar em contato.
DIREITOS AUTORAIS:
Esta apostila é uma compilação de vários materiais e cada um tem suas fontes citadas nas notas de rodapé. O leitor deve
preservar estas fontes citadas.
Israel: Escolhido Para Servir - Toda história de Israel está relacionada com a chamada de
Abraão e a constituição de uma família de filhos de Deus. O objetivo da escolha do povo de Israel não
é caprichoso. A razão da escolha de Israel é o serviço. Israel foi escolhido para servir. Foi escolhido
não para ter uma grandeza própria, nacional, mas para ser a luz dos gentios, para levar-lhes a
mensagem de um Deus que supera as nações e as domina, e para mostrar que, acima dos reinos
terrenos, está um reino espiritual. Se a grande vocação dos romanos foi o direito, se a grande vocação
dos gregos foi a filosofia ou a arte, a dessa pequenina nação foi dar ao mundo a religião monoteísta e,
mais que isso, a religião de Cristo.
As expectativas messiânicas do povo de Israel foram se acentuando cada vez mais, sendo
especificadas em linhas que se concentravam, de modo que o povo aguardava a chegada do grande
homem de Deus. O Messias prometido poderia levar, até às últimas consequências, todas as
implicações do pacto que Deus fizera com Abraão e com sua descendência.
A essa altura, verificamos que se constituía, dentro da própria vida do povo de Israel, um
remanescente, uma relíquia, um resíduo. Este aguardava, esperançoso e solícito, a visita de Deus ao
mundo. Com isso chegamos ao final do Antigo Testamento.
A VISÃO GLOBAL DA BÍBLIA - A Bíblia é mais que um livro maravilhoso. É o único que
principia no começo de todas as coisas, no princípio da criação de Deus e vai até o fim de todas as
coisas, na transformação final da presente ordem das coisas criadas.
2
Série CONHEÇA SUA BÍBLIA, Editora Cultura Cristã
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 3
Será a parousia3, o fim do mundo. A Bíblia, que começa com raízes de eternidade do passado e
que termina com essas flechas que apontam para a eternidade no futuro, mostra-nos a ação de Deus
através de indivíduos, família, povo, até sua completa identificação com a humanidade na pessoa do
Messias-redentor.
Por esta razão é que, inicialmente, quando apresentamos o mapa do mundo bíblico, além da
apresentação do Velho Testamento numa linha que vai da Palestina para o ocidente, poderíamos
pensar em algumas retas perpendiculares: a do início, a do meio e a do fim. Essa história da ação de
Deus dentro do quadro cronológico espacial é a história da intervenção da eternidade no tempo, de
Éden a Éden. É a história da ação divina, passando pelo centro da própria história, Jesus Cristo,
identificação de Deus com os homens.
Eis, em rápidas pinceladas, o sentido geral da Escritura, nessa altura em que fazemos
importante transição de Testamentos. Como que chegamos ao âmago da história sagrada, ao próprio
centro da Escritura: O estudo dos Evangelhos.
O BATISMO DE JOÃO5
1. Tinha um caráter já não ritual, mas moral; «Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está
próximo» (Mat 3.2). O batismo de João era praticamente um sinal exterior do arrependimento do
pecado confessado pela pessoa batizada (Mat 3.6,8,11; Luc 3.10-14).
2. Não se repetia, o que lhe dava o caráter de iniciação. O batismo de João era um rito
inteiramente preparatório e simbólico, que tinha o intuito de despertar os homens para a necessidade
de arrependimento, a fim de que viessem a receber corretamente ao Messias e ao seu Reino.
3. Tinha caráter escatológico, introduzindo o batizado no grupo dos que professavam uma
esfera diligente do Messias, que estava para vir, e que constituíam, por antecipação, a Sua comunidade
(Mat 3.2,11; João 1.19-34). O movimento de João Batista não era apenas o rompimento com um
antigo sistema, também era um palco onde teria início um novo sistema, fundamentado sobre Jesus
Cristo. Sem dúvida, João tinha consciência de que algo de extraordinário estava acontecendo, e que
um povo precisava ser preparado para isso.
3
Parousia = O Novo Testamento usa o termo em um sentido escatológico para se referir ao glorioso retorno de Jesus
Cristo (ver 1Co 15:23; “Vinda”). O termo grego significa “estar presente”
4
http://www.waltermcarvalho.pro.br/5._Joao_Batista.htm
5
http://www.doutrinasbiblicas.com/batismodejoao_t/batismodejoao.htm
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 4
da Judéia. Sabemos, porém, que, quando Jesus se apresentou para o batismo, João sentiu
imediatamente a presença dAquele que não tinha quaisquer pecados a confessar. Como João recusasse
a batizá-lo, Jesus assim aquietou seus protestos: «Deixa por enquanto, porque convém cumprir toda a
justiça» (Mateus 3.13-15).
Consideremos as seguintes razões para o batismo de Jesus:
1) Para cumprir toda a justiça (v.15). Tendo João a princípio se recusado a batizá-lo, Jesus teve
que explicar que era necessário «cumprir toda a justiça», pois, como Messias, viera sob a Lei (Gál
4.4). Portanto, teria de dar exemplo de plena obediência à Lei diante da nação israelita. Certamente
este é o significado dessas palavras. Na verdade, o maior cumprimento desta justiça tem em vista a
sua impecabilidade. Ainda temos muitas coisas a aprender acerca de toda a justiça.
2) Para se identificar com os pecadores. Embora Jesus não precisasse do arrependimento de
pecado (1 Ped 2.24), no entanto, foi batizado como nosso representante, assim também como nosso
representante foi crucificado. Há uma delicada sugestão no fato de Jesus ter-se identificado com a
humanidade pecadora: «E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus» (Luc
3.21). «Aquele que não conheceu pecado ele o fez pecado por nós; para que fôssemos feitos justiça de
Deus» (2 Cor 5.21).
3) Para publicamente confirmar e anunciar Seu Ministério. Ao ser batizado, Jesus ingressa em
nova época; dá início ao Seu Ministério Público. Não há registro algum, de que Ele tivesse curado ou
pregado antes desse período. Estava em Nazaré, esperando a hora marcada. Assim como o batismo
que Ele mesmo instituiria, marca a separação entre a velha e nova vida (o batismo cristão), o batismo
que lhe ministrou João, assinalou o término da vida particular e o início do Seu Ministério Público.
6
http://www.monergismo.com/textos/pentecostalismo/batismo_espiritosanto.htm
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 5
AULA 2 – A LITERATURA DO NOVO TESTAMENTO
A ORIGEM DOS ESCRITOS NEOTESTAMENTÁRIOS: 7
As Atividades de Jesus: Apesar de Jesus ter realizado muitas curas de enfermos, sua principal
atividade era de ensinar seus discípulos. Seus milagres provaram que ele possuía o poder de Deus; portanto,
deram a evidência de que o Reino estava próximo. Seus ensinos enfatizaram o novo conceito de que a vitória
no Reino se manifesta mediante o sofrimento e a morte do Rei. E apresentou suas exigências aos cidadãos do
Reino e qualidade de serviços que seus discípulos teriam que prestar. Seus ensinos eram profundamente
significativos e foram consideravelmente entesourados por seus discípulos depois de sua morte.
A Incompreensão dos Discípulos: Os discípulos de Jesus tinham dificuldades em entender os novos
conceitos de Jesus sobre o Reino. Eram homens de sua época e que esperavam um Messias político, vitorioso.
A incompreensão de Pedro se revelou em ter rejeitado a declaração de Jesus sobre sua Paixão, depois da grande
confissão em Cesaréia de Filipe (Mateus l6.22), por sua inveja de João e Tiago, que pediram posições especiais
no Reino (Marcos 24), por ter negado Jesus quando no tribunal (Mateus 26.69 e ss.) e por seu inquérito sobre a
restauração do Reino, exatamente pouco antes da ascensão de Jesus (Atos 1.6). Pedro provavelmente
representou o pensamento de todos os discípulos na maioria dessas ocasiões.
O Período de Transmissão Oral: A ênfase primitiva dos apóstolos era pregar o evangelho, e não
registrá-lo (Atos 2.14 e ss.; 6.4). Utilizaram duas fontes para provar os judeus que Jesus era o Messias: 1. Seu
testemunho de experiências pessoais, inclusive o que eles tinham visto Jesus fazer. 2. As escrituras do Velho
Testamento, em primeiro lugar Isaías 40 e versos que seguem, que prediziam o sofrimento e a morte do Servo
escolhido de Deus. A Igreja Primitiva mostrou relutância em escrever seus ensinos, por várias razões: 1. Os
cristãos primitivos esperavam um retorno de Cristo; portanto, despendiam seu tempo na proclamação do
evangelho. 2. Preferiam falar pessoalmente, a escrever (2 João 12). 3. Os discípulos de Jesus foram escolhidos
entre um grupo não literário da sociedade. 4. Os rabinos preservaram seus ensinos oralmente e Jesus nada
escreveu. 5. Os apóstolos que tinham sido testemunhas oculares de Jesus estavam disponíveis enquanto o
evangelho não se espalhasse além da Judéia.
Parece que se passaram aproximadamente 30 anos depois da morte e ressurreição de Jesus, e então, os
primeiros Evangelhos foram registrados, pelo menos na forma em que os temos agora. Este é o período que os
eruditos classificam de Período Oral. Sugerem que as narrativas dos ensinos e atividades de Jesus se revestiram
de características que se tornaram mais fáceis de serem transmitidas oralmente. A escola da crítica-da-forma
procurou identificar pequenas unidades, que foram transmitidas oralmente e foram mais tarde registradas nos
Evangelhos. Indicam declarações tais como - "E sucedeu que..." no Evangelho de Marcos para fundamentar seu
ponto de vista, afirmando que o autor de Marcos empregou estas frases para unir as unidades orais menores. Os
críticos da forma procuraram também definir a situação na vida da comunidade, que causava o
desenvolvimento de uma certa forma de unidade. Por exemplo, Mateus 28.19 está identificado como urna
fórmula batismal, isto é, as palavras particulares foram mencionadas nos serviços batismais. Guthrie observa
que a escola da crítica-da-forma erra, por dar ênfase a comunidade criada pelo evangelho, em vez de ao
evangelho que cria a comunidade.
A Origem dos Escritos: Dois eventos enfatizaram a necessidade de narrativas escritas sobre a vida e
os ensinos de Jesus: 1. A morte dos apóstolos ameaçava destruir a fonte dos ensinos autênticos. 2. A difusão do
evangelho aos gentios, que não tinham um conhecimento profundo do Velho Testamento, exigiu um ensino
permanente e autorizado.
RELIGIÃO: Todo o império romano foi fortemente influenciado pela mitologia grega. As divindades
dos romanos estavam associadas diretamente à mitologia grega (Júpiter com Zeus, Vênus com Afrodite, etc).
Superstições e misticismos, como oráculos e presságios, eram muito fortes na época. O culto ao imperador era
7
http://jadai.sites.uol.com.br/teologiaeclesiologiant1.htm
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 6
obrigatório em todo o domínio do império romano. Os judeus eram um dos poucos povos com autorização de
praticar a própria religião em lugar do culto estatal ao Imperador.
CONTEÚDO: O NT é composto por um conjunto de livros inspirados por Deus, cuja ênfase é a
revelação do plano divinal. Essa revelação não se limita ao ministério terreno de Jesus Cristo, mas compreende
o período posterior à sua ressurreição e ascensão aos céus: dede a era da igreja, inaugurada com a descida do
Espírito Santo, ETA a consumação de todas as coisas. O NT é formado por vinte e sete obras escritas por cerca
de nove autores (o número depende da conclusão sobre a autoria de Hebreus). Esses documentos foram escritos
num espaço de tempo de cerca de meio século, provavelmente de meados de 45 d.C. até cerca de 90 d.C.
Pergunta: "Como e quando foi compilado o cânone da Bíblia?" 9 Resposta: O termo “cânone” (ou
“cânon”) é usado para descrever os livros que foram divinamente inspirados e, por isso, pertencentes à Bíblia.
O aspecto difícil em determinar o cânone bíblico é que a Bíblia não nos dá uma lista dos livros que a ela
pertencem. Determinar o cânone foi um processo, primeiro por rabinos judeus e eruditos, e depois, mais tarde,
por cristãos primitivos. Certamente foi Deus quem decidiu que livros pertenciam ao cânone bíblico. Um livro
ou Escritura pertenceu ao cânone a partir do momento que Deus inspirou sua autoria. É simplesmente uma
questão de Deus convencer Seus seguidores humanos de que livros deveriam ser incluídos na Bíblia.
8
http://www.pibci.org.br/2014/conteudo.asp?codigo=1311, copiado em julho/2017.
9
https://www.gotquestions.org/Portugues/Biblia-canone.html, copiado em julho/2017.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 7
A definição final do Cânon Hebraico10 – O Concílio Judaico de Jamnia e os Massoretas
Em 90 d.C., um concílio de líderes judeus, conhecido como Concílio de Jamnia. O trabalho do Concílio
de Jamnia foi confirmado e completado na Idade Média pelo trabalho dos Massoretas (590 a 950 d.C.). Quanto
aos escritos Apócrifos (chamados de deuterocanônicos pela Igreja Católica Romana) foram cuidadosamente
selecionados durante o Concílio de Trento (1545 – 1563), para serem acrescentados à Bíblia Católica.
*Para saber mais sobre a formação do Cânon Bíblico = www.filadelfiafranca.com.br/o-canon-biblico-
2/
EVANGELHOS - Um evangelho não é uma biografia, embora guarde algumas semelhanças com as
histórias de heróis, humanos ou divinos, do mundo greco-romano. O evangelho é uma série de resenhas
individuais de fatos e palavras, organizados com o objetivo de criar um efeito cumulativo. Aparentemente, os
autores dos evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas e João - tiveram algum interesse em ressaltar a ordem
cronológica, embora esta não tenha sido uma das maiores prioridades. Em maior medida, o que influenciou a
organização do material foram os temas teológicos e as necessidades dos leitores.
O Evangelho de João é o único diferente. Nele, Jesus aparece como divindade onisciente, onipotente e
superior. Os outros três denominam-se Evangelhos Sinópticos (vistos juntos) porque apresentam variadas e
numerosas coincidências.
A palavra Evangelho significa: BOAS NOVAS. Portando, não temos quatro evangelhos, mas quatro
evangelistas que escreveram, cada um, conforme sua visão, as boas-novas de salvação, acerca do Senhor Jesus
Cristo. Os evangelhos têm por meta apresentar o único Senhor e salvador do mundo aos quatro grupos de povos
em que se dividia a humanidade:
1. Judeu (religiosos); 2. Gregos (intelectuais); 3. Romanos (dominadores). 4. Gentios (nações pagãs)
10
http://www.doutrinasessenciais.com/2010/08/28/56/, copiado em julho/2017.
11
https://igrejaemcontagem.wordpress.com/2009/10/29/a-vida-de-cristo-2/, copiado em julho/2017.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 8
HISTÓRIA - Encontra-se no Livro dos Atos dos Apóstolos, atribuído a Lucas, a melhor representação
da narrativa histórica no Novo Testamento. Estes dois livros (o Evangelho e Atos) relatam a história de Jesus e
da Igreja nascida em seu nome como uma narrativa contínua, centrada na história de Israel e do Império
romano. A história se apresenta do ponto de vista teológico, isto é, interpreta o procedimento de Deus num
acontecimento ou em relação à uma pessoa. Atos se destaca no Novo Testamento por recorrer à narrativa
histórica para veicular a fé cristã.
ESCRITOS APOCALÍPTICOS - Uma classe inteira de literatura deve seu nome à primeira palavra
do texto grego do último livro de nossa Bíblia. A palavra é (apokálupsis). Este substantivo provém do verbo
(apokalúptein), que significa "desvendar", daí "revelar". O adjetivo "apo-calíptico" é usado para qualificar
escritos que têm certas afinidades com o Apocalipse do Novo Testamento. Foram feitas associações entre o
Apoca-lipse e outras porções e livros da Bíblia, tais como Daniel e Ezequiel e estes são ditos conterem material
apocalíptico em sua natureza.
Muitos estudiosos a incluem nos "tratados para tempos difíceis". Esta literatura surgiu no período da
história de Israel depois que a voz profética fora silenciada. Durante tempos de severa perseguição, livros
apocalípticos surgiram na ausência de um profeta para responder à pergunta: "Porque o justo sofre?"
12
http://www.vivos.com.br/442.htm
13
http://numinosumteologia.blogspot.com.br/2009/08/qual-diferenca-entre-zelotas-e-sicarios.html
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 10
Samaritanos: Pessoas nascidas em Samaria, região que ficava entre a Judéia e a Galiléia. Os judeus e
os samaritanos n ao se davam por causa de diferenças de raça, religião e costumes (Mt 10.5; Lc 9.52,53; 17.15-
18; Jo 4.7-9,20; 8.48).
CRISTIANISMO 14
“E em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (At 11.26).
A palavra “cristianismo” é oriunda do vocábulo “Cristo”, cujo significado é “Messias”, “pessoa
consagrada”, “ungida”. Do hebraico mashiyach, foi traduzida para o grego como Christos e para o latim como
Christus. É uma religião exclusivista. Jesus disse que Ele é o único caminho para o Pai (Jo 14.6). E ainda: que
Ele é o único que revelou o Pai (Mt 11.27; Lc 10.22). Assim, pregamos a proeminência e exclusividade do
cristianismo porque cremos naquilo que Jesus disse. Ou seja, Ele é Deus, (Jo 8.58; Êx 3.14), perdoou (e perdoa)
pecados (Lc 5.20; 7.40) e ressuscitou da morte (Lc 24.24-29). O cristianismo envolve mais que uma simples
religião: é um relacionamento íntimo com Deus. É uma confiança em Jesus e naquilo que Ele fez na cruz (1Co
15.1-4) e não naquilo que possamos fazer por nós mesmos (Ef 2.8-9). Os traços mais significativos e
distintivos do cristianismo são a ressurreição de Cristo e o cumprimento das profecias relacionadas à sua vida.
A fé cristã prega a transitoriedade da vida terrestre, que nada mais é do que apenas uma passagem para a vida
eterna.
Na sua origem, o cristianismo foi apontado como uma seita surgida do judaísmo e terrivelmente
perseguida (At 24.5). Quando Jesus Cristo nasceu, por volta do ano 4 a.C, 15 na pequena cidade de Belém,
próxima a Jerusalém, os judeus viviam sob a administração de governadores romanos e, por isso, aspiravam
pela chegada do Messias que, conforme acreditavam, seria um homem de guerra e governaria politicamente.
Até os 30 anos, Jesus viveu anônimo em Nazaré, cidade situada ao Norte do atual Israel. Em pouco tempo,
aproximadamente três anos, reuniu seus doze apóstolos e percorreu a região pregando sua doutrina e operando
incontáveis milagres, o que o levou a ser conhecido de todos e seguido por grandes multidões.
Rapidamente, a doutrina cristã se espalhou pela região do Mediterrâneo e chegou ao coração do
império romano. A difusão do cristianismo pela Grécia e Ásia Menor foi obra especialmente do apóstolo Paulo,
que não era um dos doze, mas foi chamado para essa missão pelo próprio Jesus (At 9.1-19). Em Roma, muitos
cristãos foram transformados em mártires, comidos por leões em espetáculos no Coliseu, como alvos da ira de
imperadores atacados por corrupção e devassidão.
14
http://www.icp.com.br/74materia4.asp
15
Esse modo de marcar os anos a partir do nascimento de Cristo começou a ser praticado no século V, graças ao monge
Dionísio o Pequeno. Hoje em dia sabemos que os cálculos de Dionísio não foram exatos. Por isso, apesar de ser quase
incrível, é bastante segura a tese segunda a qual Jesus teria nascido cerca de 5 anos antes do ano 1, ou seja Jesus nasceu no
ano 5 antes de Cristo. (http://www.abiblia.org/ver.php?id=687)
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 11
ALGUMAS PROFECIAS CUMPRIDAS 16
Uma abordagem que se pode usar com um incrédulo é abrir no Salmo 22 e ler os versículos 12 a 18.
Esta é uma descrição detalhada da crucificação -- 1000 anos antes de Jesus ter nascido. Depois de ler a seção,
pergunte a ele sobre o que esta passagem está falando. Ele dirá: "A crucificação de Jesus." Então, responda algo
como: "Você está certo. Esta passagem fala acerca da crucificação. Mas, foi escrita 1000 anos antes de Jesus
nascer. E acima de tudo, a morte por crucificação ainda não havia sido inventada. Como você acha que uma
coisa assim poderia ter acontecido?" Depois de uma breve conversa, você pode mostrar a ele (ou ela) algumas
outras profecias como: onde o lugar do nascimento de Jesus foi indicado muito tempo antes (Mq 5:2), que Ele
nasceria de uma virgem (Is 7:14), que o seu lado seria perfurado (Zc 12:10), etc.
O ANJO DO SENHOR17
As referências a "o Anjo do Senhor" (note o artigo definido "o", e não o indefinido "um"; e note a
inicial maiúscula em "Anjo") ou a "O Anjo de Deus" (idem), no Velho Testamento, são convenções de grafia
para indicar teofanias (aparições de Deus em forma humana) ou, mais técnica e precisamente falando, para
indicar cristofanias (aparição do Verbo eterno, a segunda pessoa da Trindade, em forma humana, antes de Sua
encarnação). A prova disso é que, nesses contextos, tal "Anjo" é diretamente dito ser Deus, ou é dito ter os
atributos (ou exercer as ações) prerrogativas, exclusivas, identificatórias de Deus.
Gênesis 18. 3 E disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos Teus olhos, rogo-Te que não passes de
Teu servo.
16
Para ver a relação completa (312 profecias), acesse http://solascriptura-tt.org/Cristologia/ProfMessianicasCumpridas-
Biblicist.htm
17
http://solascriptura-tt.org/Cristologia/AnjoDoSenhor-RelacaoCompletaVersosCristofanias-Helio.htm
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 12
Gênesis 32: 28 Então o Varão disse: Teu nome não mais será chamado Jacó, mas Israel; pois como
príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste.
Êxodo 3: 2 E apareceu-lhe o Anjo do SENHOR em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis
que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
JESUS CRISTO
Embora somente Deus determine o destino humano escolhendo salvar alguns e condenar todos
os outros, ele salva seus eleitos produzindo dentro deles fé em Cristo. Isso significa que o destino de uma
pessoa é revelado pela forma como ele pensa sobre Cristo. Dependendo do grau e maneira de desvio da
revelação bíblica, sustentar uma falsa visão de Cristo pode resultar em condenação eterna. Portanto,
devemos estudar a doutrina bíblica de Cristo com cuidado e reverência, rejeitando toda posição que
compromete ou distorce o que a Escritura ensina sobre ele. 18
SUA ENCARNAÇÃO 19
- Significa: Estar em carne.
- Seu Meio: O nascimento virginal. 1) Predito (Is 7.14); 2) Provado - O pronome feminino empregado em Mt
1.16 indica que o nascimento de Jesus veio por Maria apenas, sem participação de José.
- Suas Razões:
1) Revelar Deus aos homens (Jo 1.18)
2) Prover um exemplo de vida (1Pe 2.21).
3) Prover um sacrifício pelo pecado (Hb 10.1-10).
4) Destruir as obras do diabo (1Jo 3.8).
5) Ser um sumo sacerdote misericordioso (Hb 5.1,2).
6) Cumprir a aliança davídica (Lc 1.31-33).
7) Ser sobremaneira exaltado (Fp 2.9).
SUA HUMANIDADE
- Ele Possuía um Corpo Humano:
1) Nascido de mulher (Gl 4.4). 2) Sujeito a crescimento (Lc 2.52).
3) Visto e tocado por homens (1Jo 1.1; Mt 26.12). 4) Sem pecado (Hb 4.15).
- Ele Foi sujeito às Limitações da Humanidade:
1) Ele sentiu fome (Mt 4.2). 2) Ele sentiu sede (Jo 19.28). 3) Ele se cansou (Jo 4.6).
4) Ele chorou (Jo 11.35). 5) Ele foi tentado (Hb 4.15).
SUA DIVINDADE
1) Onipotência (Mt 28.18). 2) Onisciência (Jo 1.48). 3) Onipresença (Mt 18.20).
4) Vida (Jo 1.4; 5.26); 5) Verdade (Jo 14.6). 6) Imutabilidade (Hb 13.8)
SUAS OBRAS:
1) Criação (Jo 1.3). 2) Sustentação (Cl 1.17). 3) Perdão de pecados (Lc 7.48).
4) Ressurreição dos mortos (Jo 5.25). 5) Julgamento (Jo 5.27). 6) Envio do Espírito Santo (Jo 15.26).
SUA IMPECABILIDADE
- Significado: Cristo era incapaz de pecar. Isso não significa que Cristo era apenas capaz de não pecar.
- Objeção: Se Cristo era incapaz de pecar, não poderia ter sido genuinamente tentado e, portanto, não poderia
ser um sumo sacerdote compassivo (Hb 4.15).
- Resposta: A realidade da tentação não está na natureza moral da pessoa tentada e nem depende dela, e a
possibilidade de compaixão não depende de uma correspondência específica entre os problemas enfrentados.
SUA MORTE
1) Um resgate - A morte de Cristo pagou o preço da penalidade pelo pecado (Mt 20.28; 1Tm 2.6).
2) Uma reconciliação - A posição do mundo em relação a Deus foi modificada pela morte de Cristo, de tal
18
www.monergismo.com/textos/cristologia/cristologia_ts_cheung.pdf
19
http://www.vivos.com.br/44.htm - Extraído de: “A Bíblia Anotada”
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modo que todos os homens agora podem ser salvos (2Co 5.18,19).
3) Uma propiciação - A justiça de Deus foi satisfeita com a morte de Cristo (1Jo 2.2).
4) Uma substituição - Cristo morreu no lugar dos pecadores (2Co 5.21).
5) Uma prova do amor de Deus - (Rm 5.8)
SUA RESSURREIÇÃO
A) O fato da Ressurreição:
1) O túmulo vazio.
2) As aparições:
A Maria Madalena (Jo 20.11-17).
Às outras mulheres ( Mt 28.9,10).
A Pedro (1Co 15.5).
Aos discípulos no caminho de Emaús (Lc 24.13-35).
Aos dez discípulos (Lc 24.36-43).
Aos onze discípulos (Jo 20.26-29).
A sete discípulos junto ao mar da Galiléia (Jo 21.1-23).
A mais de 500 pessoas ( 1Co 15.6).
Aos onze em Sua ascensão (Mt 28.16-20).
A Paulo (1Co 15.8).
Definições Acerca do Reino de Deus. Segundo Anthony Hoekema, O Reino de Deus deve ser
entendido como o Reinado dinamicamente ativo de Deus na história humana através de Jesus Cristo, cujo
propósito é a redenção do povo de Deus do pecado e de poderes demoníacos, e o estabelecimento final dos
novos céus e nova terra. Isto significa que o grande drama da história da salvação foi inaugurado e que a nova
era foi instaurada. O Reino não deve ser entendido como apenas a salvação de certos indivíduos ou mesmo
como o Reino de Deus no coração de seu povo; não significa nada menos que o Reino de Deus sobre todo o
seu universo criado. “O Reino de Deus significa que Deus é Rei e age na história para trazer a história a um
alvo divinamente determinado”.21
Geerhardus Vos22, define o Reino como a supremacia de Deus através de várias óticas: o Reino como
esfera da prática da justiça nesta vida, o Reino como um estado de benção onde se destacam os conceitos de
filiação e vida, o Reino como critério para se definir e descrever o caráter da Igreja e a entrada no Reino
marcada pelo arrependimento e fé.
Segundo William Hendriksen23, o Reino de Deus é:
a) A realeza, o governo ou a soberania reconhecida de Deus. Esse poderia ser o significado em Lc
17:21: “O reino de Deus está dentro de vós”, e é o significado em Mt. 6:10: “Venha o teu reino, seja feita a tua
vontade...”
b) A completa salvação, isto é, todas as bênçãos espirituais e materiais – ou seja, bênçãos para a alma e
para o corpo – que resultam quando Deus é Rei em nosso coração, reconhecido como tal. Em consonância com
o contexto, esse é o significado em Mc. 10:25,26: “É mais fácil... do que entrar um rico no reino de Deus. E
eles... diziam: : Quem, pois, pode ser salvo?”.
c) A igreja; a comunidade de homens em cujos corações Deus é reconhecido como Rei. “Reino de
Deus; e “igreja”, quando usados neste sentido, são quase equivalentes entre si. Este é o significado em Mt.
16:18,19: “... e sobre esta rocha edificarei minha igreja... Eu te darei as chaves do reino dos céus”.
d) O universo redimido, o novo céu e a nova terra com toda a sua glória; algo ainda futuro: a realização
final do poder salvífico de Deus. Assim em Mt. 25:34: “... herdai o reino preparado par vós...”.
Esses quatro significados não são separados e sem relação entre si. Todos eles procedem da ideia
central do reino de Deus, da supremacia de Deus na esfera do poder salvífico.
20
René Padilha e Carlos Del Pino, Reino, Igreja e Missão, (1º 1998) p. 12,13.
21
Antony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, (São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 1989), p. 63,64.
22
René Padilha e Carlos Del Pino, Reino, Igreja e Missão, p. 15.
23
William Hendriksen, Comentário do NT Mateus V I, (São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2001), p. 348,349.
24
Lothan Coenen e Colin Brown, Dicionário Internacional de Teologia V II, p. 2049 a 2043.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 15
a) Dinâmico / Teocêntrico. Primariamente, basiléia é um conceito dinâmico, é a ação de Deus, o
exercício da Sua soberania sobre os homens. Na Oração Dominical, Jesus ensinou os discípulos a orarem pela
vinda do reino e pela execução da vontade do Pai, e essas duas petições estão em paralelismo, e ambas foram
colocadas no contexto do dualismo céus-terra. Pedir pela vinda do Reino é pedir a Deus que faça Sua vontade,
tanto na esfera celestial (Céu) como na Terra; é pedir que Deus venha e intervenha finalmente na história,
consumando Sua salvação já nos ofertada (Mt. 6:10).
b) Salvífico/Gracioso. Ao examinar brevemente o conteúdo da atividade real de Deus, vislumbramos
que é uma atividade salvífica e graciosa (charis). “O Reino de Deus, portanto, não é somente o poder dinâmico
de Deus revelando-se na história; é também uma nova esfera de bênçãos, prevista pelos profetas. Mesmo assim,
seu cumprimento ocorreu historicamente de uma forma inesperada ou pelos profetas ou pelo judaísmo
contemporâneo a Jesus. Quando nós perguntamos pelo conteúdo deste novo âmbito de benção, descobrimos
que basiléia significa o reinar dinâmico de Deus e a esfera da salvação. Aqui está outro elemento original no
ensino de Jesus. O Reino de Deus é um termo abrangente para tudo que se pode incluir na salvação messiânica.
As bem-aventuranças, dirigidas por Jesus aos seus discípulos, afirmam que “é vosso o reino de Deus
(céus)”. Isto é graça, o Reino vem como dádiva de Deus aos que podem compra-lo – vem agora – e virá,
“porque grande é o vosso galardão no céu”(Mt. 5:12; Lc. 6:23). No episódio da cura do servo do centurião (Mt.
8:5-13; Lc. 7:1-10), motivado pela fé do gentio, Jesus exclamou que os não judeus (não filhos do reino) iriam,
no fim dos tempos, participar do grande banquete escatológico da salvação, ficando isentos da condenação.
Para participar do Reino só é preciso fé. Lucas desloca esse dito da ocasião do milagre e o coloca no contexto
de um discurso parabólico de Jesus (Lc. 13:22-30), mas a idéia permanece a mesma. O Reino é para os homens
de fé, judeus ou gentios,e não para pecadores.
c) Discipulado/Sofrimento. Nossa digressão acima nos traz para o terceiro aspecto da natureza do reino.
A basiléia exige discipulado e esse discipulado implica em sofrimento. O ensino de Jesus sobre o Reino indica
que Deus está agindo, em sua soberania, para estabelecer seu reino na terra entre os homens, com vistas à
salvação de pecadores para formarem o povo do Reino.
O sermão da Montanha estabeleceu os princípios éticos do discipulado do Reino. O discipulado,
membro do Reino, deve (mediante a graça de Deus), ser justo (5:19-20), perfeito (5:48), humilde (6:24),
dependente de Deus (6:25), e obediente a Jesus (7:24-27).
Jesus ensinou diversas vezes aos discípulos que ser grande é ser servo (Mt. 20:20-28; Mc. 10:35-45;
Mc. 9:33-48), que participar do Reino envolve a auto-renuncia (Lc. 9:23), a pobreza por amor a Cristo (Lc.
18:24-30), a perseguição (Mt. 5:10-12; Lc. 6:20-23). Ou, na linguagem de Jesus em João, “não é o servo maior
do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguição a vós”(Jô. 15:20), ou ainda, com Paulo,
“mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus”(At. 14:22).
ASPECTOS DO REINO.
a) PRESENTE25. Jesus ensinou claramente que o reino de Deus já estava presente em seu ministério.
Mateus 12:18 foi citado anteriormente: “Se, porem, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certamente
é chegado o reino de Deus sobre vós”. O verbo grego usado aqui, ephthasen, significa chegou ou veio, e não
está para vir. Outra passagem que ensina claramente a presença do Reino nos dias de Jesus é a de Lc. 17:20-21.
Os fariseus tinham acabado de perguntar a Jesus sobre quando viria o Reino de Deus. Jesus responde como
segue: “Não vem o reino de Deus com visível aparência, nem dirão: ei-lo aqui! Ou: lá está! Porque o reino de
Deus está no meio de vós. O que Jesus está dizendo é que ao invés de aguardar sinais espetaculares exteriores
da presença de um Reino, primeiramente político, os fariseus devem perceber que o Reino de Deus está no
meio deles agora, na pessoa do próprio Cristo, e que a fé nele é necessária para entrar nesse Reino”.
a 1) A Inauguração do Reino26.
João Batista veio pregando no deserto da Judéia, dizendo: “Arrependei-vos, porque está próximo o
reino dos céus” (Mt. 3:2). João exortava seus ouvintes, preparando para a vinda deste Reino, que seria
inaugurado pelo Messias, designado apenas como “O que Haveria de Vir”.
Jesus também anunciou a vinda do Reino, em palavras que soavam semelhantemente àquelas de João
Batista: “O tempo está cumprido”. Enquanto João tinha dito que o Reino estava par vir na pessoa dAquele que
Haveria de Vir, Jesus disse que o tempo predito pelos profetas agora estava cumprido (Lc. 4:21), e que o Reino
agora estava presente na sua própria pessoa. Dessa forma, por exemplo, Jesus podia dizer o que João Batista
nunca falou: O reino de Deus é chegado sobre vós”.
25
Antony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 67,68.
26
Antony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 59,60 e 61.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 16
João tinha anunciado uma visitação iminente de Deus, o que significaria o cumprimento da esperança
escatológica e a vinda da era messiânica. Jesus proclamou que essa promessa estava de fato sendo cumprida.
Ele anunciou, corajosamente, que o Reino de Deus tinha vindo a eles... A promessa foi cumprida na ação de
Jesus; em sua proclamação das boas novas para os pobres, liberdade para os cativos, visão restaurada para o
cego, libertando aqueles que eram oprimidos. Isso não era uma teologia nova ou nova idéia ou nova promessa;
era um novo evento na história. Podemos dizer, portanto, que Jesus mesmo inaugurou o Reino de Deus cuja
vinda tinha sido predita pelos profetas do Velho Testamento. Por causa disso, nós devemos ver o Reino de
Deus sempre como indissoluvelmente ligado à pessoa de Jesus Cristo.
a 2) Sinais da Presença de Deus27.
Expulsão de demônios: O próprio Jesus salientou isto, quando disse aos fariseus que argumentavam
que ele estava expulsando demônios por Belzebu, o príncipe dos demônios: “Se, porem, eu expulso os
demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós”. (Mt. 12:28).
Queda de Satanás: “Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago”(Lc. 10:18). Não há duvida de
que estas palavras devem ser interpretadas figuradamente, não literalmente. Elas significam que “a vitória
sobre Satanás, que o pensamento judaico situava conjuntamente no fim da era, aconteceu na história, em certo
sentido, na missão de Jesus.
A Realização de Milagres por Jesus e seus Discípulos: O próprio Jesus indicou isto em sua resposta a
João Batista, na qual ele instruiu seus discípulos como segue: “Ide, e anunciai a João o que estais ouvindo e
vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são
ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho”(Mt. 11:4-5).
A Pregação do Evangelho: Quando Jesus disse aos setenta: “Não obstante, alegrai-vos, não porque os
espíritos se vos submetem e, sim, porque os vossos nomes estão arrolados nos céus” (Lc. 10:20), ele estava
restaurando o sendo de prioridade deles. É significativo, portanto, que na resposta de Jesus a João Batista,
citada acima, o sinal último e culminante, que mostra que Cristo verdadeiramente é o Messias e que o Reino
verdadeiramente veio, é este: “aos pobres está sendo pregado o evangelho”(Mt. 11:5).
A Dádiva do Perdão de Pecados: Nos profetas do Velho Testamento, o perdão dos pecados tinha sido
predito como uma das bênçãos da era messiânica vindoura (Is. 33:24). Quando Jesus veio, ele não somente
pregou acerca do perdão de pecados ma, realmente, o concedeu. A presença do Reino de Deus não era um novo
ensino de Deus; era uma nova atividade de Deus na pessoa de Jesus, trazendo aos homens, como uma
experiência presente, o que os profetas prometeram no Reino escatológico, contudo a vinda do Reino não
significou um fim para o conflito entre bem e mal.
b) FUTURO. A esperança cristã tem a ver com o futuro reconhecimento universal de Jesus Cristo
como Senhor de todo o universo (Fp. 2:5-11; Ef. 1:10). Não há base para se eliminar a escatologia “futurista”
do Novo Testamento a pretexto de que a mesma representa um esforço por “rejudaizar”o cristianismo. O
desenlace final da história está incluído no plano de Deus, a história tem sentido e está vinculada a parousia e à
libertação de toda a criação (Rm. 8:18-27; 2 Pe. 3:3-13). Vários textos em Apocalipse apontam na mesma
direção e destacam o estabelecimento final do Reino de Deus e de seu Filho. 28
Deus chama os homens para entrarem no Seu próprio reino e gloria (1 tS. 2:12). Nesta era, os filhos do
reino passarão por sofrimentos (2 Ts. 1:5) e tribulações (At. 14:22), mas Deus os libertará de todo o mal e os
levará salvos para o Seu reino celestial (2 Tm. 4:18). Os homens devem tomar o cuidado de assegurarem a sua
entrada no reino de Jesus Cristo ( 2 Pe. 1:11). Paulo freqüentemente fala do reino como uma herança futura (1
Co. 6:9-10; 15:50; Gl. 5:21; Ef. 5:5). Nos evangelhos, a salvação escatológica é descrita como uma entrada no
reino de Deus (Mc. 9:47; 10:24), na era por vir (Mc. 10:30) e na vida eterna (Mc. 9:45; 10:17,30; Mt. 25:46).
Essas três expressões idiomáticas são intercambiais.
b 1) Consumação. A consumação29 do reino requer a vinda do Filho do homem em gloria. Satanás será
destruído (Mt. 25:41), os mortos em Cristo serão ressuscitados em corpos incorruptíveis (1 Co. 15:42-50), que
já não são mais passíveis de morte (Lc. 20:35-36), para herdarem o reino de Deus (1 Co. 15:50; Mt. 25:34).
Antes da Sua morte, Jesus prometeu aos Seus discípulos uma comunhão renovada na nova ordem (Mt. 26:29),
em que compartilharão o Seu convívio e a Sua autoridade para governar (Lc. 22:29-30).
27
Antony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 65 e 66.
28
René Padilha e Carlos Del Pino, p. 58.
29
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, V III, (São Paulo: Ed. Vida Nova, 1998),
Tradução: Gordon Chown, p. 265 e 266.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 17
A parábola do trigo e do joio mostra a necessidade de termos paciência para esperar essa separação,
pois enquanto as ervas não se tornarem maduras elas não poderão ser arrancadas ou separadas, para que o trigo
não se perca junto com o joio. Daí vemos que, por sermos humanos, não temos condições de fazer essa
separação, além de sabermos pelo texto que o momento reservado para tal consumação é futuro e determinado
pelo próprio Pai.30 Os evangelhos retratam apenas um único evento redentor na volta de Cristo, com a
ressurreição (Lc. 20:34-36) e o julgamento (Mt. 25:31-46). O apocalipse retrata uma consumação mais
detalhada.
c) Positivo ou Negativo31. O Reino de Deus inclui tanto um aspecto positivo como um negativo. Ele
significa redenção para aqueles que o aceitam e nele ingressam pela fé, e juízo para aqueles que o rejeitam.
Jesus deixa isto muito claro em seus ensinos, especialmente em suas parábolas. Aquele que ouve as palavras de
Jesus, e as pratica, é como um homem que constrói sua casa sobre a areia e grande dói a sua queda (Mt. 7: 24-
27). Aqueles que aceitam o convite para as bodas, se regozijam e estão felizes, enquanto que aqueles que
rejeitam o convite são entregues à morte, e o homem sem as vestes nupciais é lançado fora nas trevas (Mt.22:1-
14).
O propósito primeiro do Reino de Deus é a salvação, no sentido integral da palavra, daqueles que nele
ingressam – porque “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para salvar o mundo
através dele”(Jô. 3:14). Mas aqueles que rejeitam e desprezam o Reino receberam o maior julgamento: Todo o
que cair sobre esta pedra (a pedra angular, que é Jesus Cristo) ficará em pecados; e aquele sobre quem ela cair,
ficará reduzido a pó” (Lc. 20:18).
IMPLICAÇÕES DO REINO. Nossa salvação tem início no céu e deve redundar em gloria para o Pai
que está no céu32. Por isso, ao usar esse termo Cristo defendia a verdade, tão preciosa para todos os crentes, de
que tudo esta subordinado à gloria de Deus.
Somente Deus pode nos colocar no Reino. Deus nos chama para o seu Reino (1 Ts. 2:12), dá-nos o
reino (Lc. 12:32), traz-nos para o Reino do seu Filho (Cl. 1:13). Pertencer ao Reino de Deus não é uma
conquista humana, mas um privilégio que nos é concedido por Deus.
O Reino de Deus implica redenção cósmica. O Reino de Deus, como já vimos, não significa apenas a
salvação de certos indivíduos, nem mesmo a salvação de um grupo escolhido de pessoas. Significa nada menos
do que a renovação completa de todo o cosmos, culminando nos novos céus e nova terra. 33
O Reino envolve a unidade histórica da obra de Cristo com a obra de Deus no Antigo Testamento.
O Reino de Deus é uma expressão clara do princípio que tanto na esfera da realidade objetiva como da
consciência humana, todas as coisas são subservientes à gloria de Deus.
O conceito de Reino mostra que a religião Cristã não é meramente idéias ou experiências subjetivas,
mas a renovação do mundo concreto pela introdução de forças sobrenaturais.
A mensagem do Reino anunciada por Jesus professa o caráter de uma religião de salvação e não de uma
salvação que vem primeiramente do esforço próprio do ser humano, mas pelo poder e graça de Deus.
O ensino de Jesus sobre o Reino é tanto de um Reino interior quanto exterior, vindo inicialmente ao
coração do homem e atingindo imediatamente após o seu mundo exterior.
A ideia do Reino implica na sujeição de toda a vida humana em todas as suas formas e esferas à
verdadeira religião de Deus.34
IGREJA
Análise Semântica. O termo igreja, que vem do eclésia, este é derivado do termo calein, chamar,
chamar para fora, e portanto constitui um corpo separado; termo este usado para expressar a vocação eficaz
provinda do Espírito Santo, pela qual ele traz as almas mortas à vida, na obra de regeneração. Rm. 8:28-30; 1
30
René Padilha e Carlos Del Pino, p. 28.
31
Antony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 54 e 65.
32
Willian Hendriksen, Comentário do NT Mateus, V I, p. 349.
33
Antony Hoekema, A Bíblia e o Futuro,p. 72 e 73.
34
René Padilha e Carlos Del Pino, p. 15 e 16.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 18
Pe. 2:9; 5:10. o termo “igreja”, portanto é um termo coletivo incluindo todo o corpo dos “chamados” ou
“eleitos” ou “crentes”. Ap. 17:14; 1 Co. 1:2,24.35
Origem da Igreja. A igreja é a comunidade de todos os cristãos de todos os tempos. Essa definição
compreende que a igreja é feita de todos os verdadeiramente salvos. Paulo afirma: “Cristo amou a igreja e
entregou-se a si mesmo por ela” (Ef. 5:25). Aqui o termo igreja” é usado para referir-se a todos aqueles pelos
quais Cristo morreu para redimir, todos os salvos pela morte de Cristo. Isso, porém, inclui todos os verdadeiros
cristãos de todos os tempos, tanto os salvos do Novo como os do Antigo Testamento.
Quando Moisés diz ao povo que o Senhor havia-lhe dito: “Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas
palavras, a fim de que aprenda a temer-me todos os dias que na terra viver...” (Dt. 4:10), a Septuaginta traduz a
palavra “reúne” (heb. Qahal) pelo termo grego ekklesiazo, “convocar uma assembléia” verbo cognato do
substantivo do Novo Testamento ekklesia, “igreja”.
Portanto, não é surpreendente que os autores do Novo Testamento possam falar do povo de Israel do
Antigo Testamento como uma “igreja” (ekklesia) no deserto (At. 7:38). Aqui Estevão refere-se a Moisés como
estando “na igreja no deserto” (v.38). e assim os filhos de Israel eram uma igreja, um ajuntamento, uma
assembléia do povo de Deus. Era a ekklesia, a igreja do Velho Testamento. Esse é o significado fundamental da
palavra “igreja”.36
Assim, o autor de Hebreus entende que os cristãos de hoje, que constituem a igreja na terra, estão
rodeados de uma grande “nuvem de testemunhas” (Hb. 12:1) que retrocede até aos primeiros períodos do
Antigo Testamento e inclui Abel, Enoque, Noé, Abraão, etc, (Hb. 11:4-32). Todas essas “testemunhas” rodeiam
o povo de Deus de hoje, e nada mais adequado do que vê-las como a grande “assembléia” ou “igreja”espiritual
juntamente com o povo de Deus do Novo Testamento. Além disso, mais tarde no capitulo 12, o autor de
Hebreus afirma que quando nós, cristãos do Novo Testamento, adoramos a Deus, entramos na presença da
“assembléia dos primogênitos arrolados nos céus”. Essa ênfase não é surpreendente à luz do fato de que os
autores do Novo Testamento vêem tanto os cristãos judeus como gentios unidos agora na igreja. Juntos eles
foram feitos “um”(Ef. 2:14), são “um novo homem”(v.15) e “concidadãos”(v.19) e membros “da família de
Deus”(v.19).37
O Novo Testamento exibe consciência deste princípio quando fala do “enxerto” dos gentios (Rm.
11:17,19). Pessoas de todas as nações podem tornar-se aspecto vital do ramo do povo de Deus pela fé. Pelo
processo de “enxertar, o gentio torna-se “israelita”no sentido mais completo possível (Gl. 3:29). Em virtude da
característica do enxerto, sua semente subseqüente torna-se herdeira das promessas feitas a Abraão. Não se
pode identificar “Israel” meramente como descendentes étnicos de Abraão, porque “não são israelitas todos os
que descenderam de Israel (Rm. 9:6). São aqueles que, em acréscimo ao fato de serem relacionados com
Abraão por descendência natural, são também relacionados com ele pela fé, mais aqueles gentios que são
enxertados pela fé, que constituem o verdadeiro Israel de Deus. 38
REINO E IGREJA.
Como vimos, o reino sempre se relacionou com a história da redenção dos “eleitos” e do “cosmo”.
Agora passaremos a analisar duas perspectivas entre Igreja e Reino:
35
A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster,(1ª Edição, Ed. Os Puritanos, 1999), tradução: Valter Graciano Martins, p.
422.
36
Martyn Lloyd Jones, A Igreja e as últimas Coisas (São Paulo: Ed. PES, 1999), trad. Valter Graciano Martins, p.13.
37
Wayne Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo: Ed. Vida Nova, 1999), p. 715 e 716.
38
Palmer Robertson, Cristo dos Pactos (São Paulo: Ed. Luz Para o Caminho, 1997), p. 38.
39
Martyn Lloyd Jones, A Igreja e as últimas Coisas, p.13.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 19
A Igreja é o instrumento do reino, é o seu agente. Compara-se com o antigo Israel, que também não era
o reino, mas somente o seu agente representante. Deus usa a Igreja como o instrumento para a propagação do
seu reino em todas as esferas deste mundo. Através da Igreja o reino se expande (grão de mostarda) e torna
eficaz a sua influencia no mundo (fermento).
A Igreja é a expressão visível do reino de Deus, isto é, quando esta estiver vitalmente ligada a Cristo
pelo Espírito Santo.
A Igreja é a única entidade humana que está capacitada para anunciar as boas novas do Reino, ser
corpo de Cristo e promover os valores do reino. Se o reino de Deus é universal, o testemunho do reino precisa
estender-se a todas as áreas da vida: pessoal, comunitária, privada e publica. Se a Igreja está no reino, à ela lhe
compete promover os valores do reino tais como a verdade, o amor, a justiça, a liberdade e a paz na
sociedade.40
A Igreja recebe sua constituição41 do reino, por todos os lados ela é limitada e orientada pela revelação
do reino de Deus, pelo seu progresso, pela sua futura vinda, sem que em qualquer ocasião ela se transforme no
próprio reino, ou ao menos seja identificada com ele.
CONCLUSÃO
O reino foi inaugurado na vinda do Messias “Jesus Cristo” e será consumado na sua volta. Num certo
sentido vivemos no Já e no Ainda Não do reino. Em resumo, o reino de Deus é a atividade soberana de Deus
em trazer a redenção aos eleitos e ao cosmo.
Sobre a igreja, ela nunca deixou de existir, isto é, desde Sete, o Senhor tem de uma maneira graciosa e
misericordiosa separado um povo. Cujo objetivo é glorificar a Deus e anunciar as suas grandezas “boas novas
do reino”.
E por último, mostrar que o reino e a Igreja estão em ativo entrosamento, sendo que o reino é a
atividade remidora de Deus, em Cristo, neste mundo, e a Igreja é a assembléia daqueles que pertencem a Jesus,
que aceitaram o evangelho do reino mediante a fé.
A importância em desenvolver a idéia de Reino está no fato da maior preocupação dos crentes parecer
repousar em atender algumas exigências para se manterem membros de uma Igreja, esforçam-se para fortalecer
a estrutura local, mas quase nada fazem a favor do Reino. É preciso lembrar que a Igreja não é um fim em si
mesma; o discípulo não trabalha, em primeira mão para o crescimento da Igreja e sim para o crescimento do
Reino. Embora o Reino crescendo, cresce também a Igreja e sua estrutura. Uma Igreja deve cuidar bem de sua
estrutura e de sua organização, visando melhor trabalhar a favor do Reino dos céus.
A visão do Reino tira o crente dos limites das quatro paredes do templo, eleva os seus olhos além da
estrutura orgânica da igreja para uma obra muito mais ampla e para desafios muito maiores. Antes de ser
membro de Igreja, o cristão é um servo do reino; servir a Igreja e não servir o Reino é estar fora dos propósitos
do Rei Jesus.
40
René Padilha e Carlos Del Pino, p. 35, 62-66.
41
O Novo Dicionário da Bíblia, J. D. Douglas (São Paulo: Ed. Vida Nova, 1999), Trad. João Bentes, p.1386.
42
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, V III, p. 267.
43
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p. 724
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 20
AULA 5 - A IGREJA EM JERUSALÉM (Atos 1.1-8.1)44
O Curso da Expansão da Igreja. No mapa apresentado, aparecem círculos concêntricos,
correspondentes a várias fases do desenvolvimento da Igreja apostólica. O texto de Atos 1.8 diz: "...e
sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da
terra". Ele sugere o mapa da expansão da Igreja, a qual partindo de Jerusalém se estendeu à Judéia,
logo à Samaria, e finalmente alcançou a Europa, ainda nos tempos do Novo Testamento.
Um contraste é oportuno, entre Atos 1.8 e Atos 8.1. Se no primeiro texto temos a indicação do
rumo expansionista que Jesus programou, no segundo temos a transição de uma para outra fase. Há
menção à grande perseguição contra a Igreja que estava em Jerusalém. Foi este o motivo da dispersão.
Até aqui, a Igreja não saíra de Jerusalém. Daqui por diante a Igreja fica dispersa. Por isto é que
indicamos o verso 8.1 como o ponto de transição. Em virtude desta perseguição iniciava-se a nova
fase.
Dizem que a águia, a certa altura, desmancha o ninho em que os filhos estão. Desmancha-o de
propósito porque o ficar no ninho, embora agradável, é perigoso. A águia, porém, muito sabiamente,
quando vê que o filhote está em condições, trata de fazê-lo aprender a voar. Por isso desmancha o
44
Série Conheça sua Bíblia, LPC Publicações
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 21
ninho. A aguiazinha vai sobre o abismo, e começa a bater-se em aflição, mas a águia-mãe vai por
baixo, garantindo-a. Foi o que Deus fez. Jesus Cristo programara: "Vós sereis minhas testemunhas não
só em Jerusalém..." A Igreja estava no ninho. Sair de Jerusalém parecia difícil. Deus permitiu que
fosse dispersa. Deus a obrigou a caminhar pela Judéia e Samaria. Só desta maneira a Igreja começou a
levar a efeito a grande missão: "Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura." Tal é o que
se repete em Atos 1.8, chave do livro inteiro de Atos dos Apóstolos. "Recebereis poder, ao descer
sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até os confins da terra."
Eis alguns aspectos da vida da igreja Cristã em Jerusalém: Os Apóstolos - O Pentecoste - O
Ensino - Os Bens - Os Oficiais. Artificial talvez a divisão, mas inclui os aspectos essenciais.
OS APÓSTOLOS. A palavra apóstolo quer dizer enviado, neste caso se refere àqueles a quem
Jesus chamou e enviou (Lc 6.13). Eram doze, mas com a traição de Judas, logo no início da
experiência da Igreja Cristã, cuidaram da eleição de alguém que o substituísse (At 1.12-26). No
capítulo 1.° de Atos, em pequeno discurso, Pedro nos dá interessante caracterização do apóstolo. Ele
disse: "É necessário, pois, que, dos homens que nos acampanharam todo o tempo que o Senhor Jesus
andou entre nós, começando com o batismo de João, até o dia em que dentre nós foi elevado às
alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição." (vv. 21,22). O alto privilégio de
conviver com Jesus Cristo durante o Seu ministério deu ao apóstolo preparação excepcional, que, no
entanto, não foi tudo. Conforme Atos 1.2, foram-lhe dadas instruções especiais pelo Espírito Santo.
Assim, havendo escolhido a dois candidatos que possuíam as condições exigidas, Justo e Matias, a
eleição final recaiu sobre o último, o qual desde então "foi contado com os onze apóstolos" (v. 26).
A função dos apóstolos é inconfundível pelo fato de terem sido testemunhas da ressurreição.
Ora, a ressurreição é o grande fato sobre o qual se assenta a Igreja. Em Atos 3.25 se diz que "Deus
ressuscitou a Seu Filho Jesus"; no capítulo 4.2 fala-se em "anunciar em Jesus a ressurreição dentre os
mortos". Esta é a mensagem dos apóstolos. Nota-se da parte deles a preocupação de testemunharem a
ressurreição. Há mesmo um texto em que se diz que Jesus ressuscitado não apareceu a todo o povo,
mas àqueles que escolhera (At 1.1-3).
Não era qualquer pessoa que estava capacitada a testemunhar a ressurreição, mas sim os que
para isso Jesus previamente preparara. A Igreja é um conjunto de pessoas que crêem em Jesus Cristo.
Mas a Igreja está colocada, diz a Escritura, sobre um fundamento dos apóstolos (Ef 2.20). O
fundamento dos apóstolos é a fé na ressurreição. A fé num Deus que vence a morte, e nos dá o penhor
dessa vitória. Onde não houver a crença na ressurreição não há Igreja. Igreja é um conjunto de pessoas
que chegam a ter a convicção que os apóstolos tiveram, isto é, a convicção de que há vitória sobre a
morte.
Deus não apenas nos dá a realidade da ressurreição de Jesus Cristo, mas também a grande realidade da
unção do Espírito no interior do coração. E é pela unção do Espírito Santo que nós podemos crer que
Deus vence a morte. Fora deste contexto da fé, a morte é um desespero.
OS BENS. A Igreja é, pois, o conjunto de pessoas que têm convicção especial da bênção de
Deus: a unção do Espírito, uma missão a cumprir, uma mensagem a anunciar – a mensagem da
ressurreição. Mas, além deste aspecto, que é espiritual, há uma realidade sociológica, que é temporal.
Igreja não é um clube, mas também não vive no ar, distraída. Como sociedade, como grupo social,
tem ela as características de um grupo social. Deus não comunica Sua verdade senão por meio de
comunidades cristãs, que se organizam e se manifestam através das propriedades. A estrutura material,
por assim dizer, exterioriza a realidade social do grupo e, indiretamente, as suas convicções.
Não podemos imaginar Igreja Cristã sem que haja reuniões, sem que haja sede, sem que haja
culto. Os apóstolos, e mais as mulheres, e mais aqueles três mil não ficaram amorfos, largados daqui e
dali, mas passaram a constituir o que chamamos de instituição (2.41). E isto implica na existência de
bens materiais. Ao aparecerem os bens, surgiram, com eles, as complicações.
O final do capítulo 4 e o capítulo 5 lembram que os cristãos "levavam uma vida em comum".
"[Todos] que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes, e
depositavam aos pés dos apóstolos..." (vv. 32-35). O belo gesto de José, chamado Barnabé, que
vendeu uma propriedade na ilha de Chipre, trazendo o preço aos pés dos apóstolos (vv. 36,37),
produziu um gesto infeliz de Ananias e Safira (5.1-11). Queriam gozar dos privilégios da consagração
e do prestígio que cercava Barnabé, mas não estavam dispostos a pagar o preço. E é impressionante
que Pedro lhes diz que estavam mentindo contra o Espírito Santo (vv. 4,9). Todos sabem o final desta
história: os dois morreram instantaneamente.
Foi uma lição espiritual grave, é que, em se tratando de Igreja, bens materiais têm um sentido
espiritual, porque servem ao propósito dominante da Igreja. Alguns versículos mais adiante se relata a
prisão dos apóstolos (v. 18). É a segunda ocasião em que foram presos. Encontrando-se prisioneiros,
são libertos por um anjo (v. 19). No dia seguinte são levados novamente perante o Sinédrio, porém,
desta vez, com mais consideração (v. 2). Ali Gamaliel, vulto simpático, defende perante o Sinédrio a
liberdade de consciência (vv. 34-39).
Segue-se a apresentação dos capítulos que registram a dispersão. Para dar unidade à
apresentação, conservando a idéia fundamental, apresentamos a dispersão através de diferentes
caminhos. Se saíram de Jerusalém foi por algum caminho. O capítulo 8 nos fala do caminho de
Samaria. Felipe foi pregar lá e encontrou um mago, Simão. Ainda no capítulo 8 encontramos o
caminho de Gaza. Felipe é ainda o pregador, mas agora seu interlocutor é o eunuco da rainha de
Candace. No capítulo 9 vemos o caminho de Damasco: Saulo e Ananias; e uns versículos adiante, um
caminho mais, o de Lida: Pedro ressuscita Dorcas. Capítulo 10: caminho de Cesaréia. Pedro visita
Cornélio e prega em sua casa. Capítulo 11: Caminho de Antioquia. Barnabé vai buscar Paulo e ambos
trabalham, um ano, em Antioquia. Há sempre o nome do evangelizador e do evangelizado. No
capítulo 9 Saulo é evangelizado; no capítulo 11, já chamado Paulo, é evangelizador.
O capítulo 12, o último desta seção, não trata de caminho, mas relembra o aspecto da
perseguição que causara a dispersão. Tiago é morto à espada; Pedro é preso, mas miraculosamente
liberto.
O Caminho de Jope. Segue-se o caminho de Lida e Jope. O relato volta a Pedro, o qual chega
à cidade de Lida, e ali cura um crente paralítico chamado Enéias (vv. 32-34). Depois vai à cidade de
Jope, à beira-mar. Ali em Jope havia alguém de muita simpatia e de capacidade de trabalho. Era uma
discípula chamada Tabita, o que, traduzido, quer dizer Dorcas (v. 36), isto é, gazela. Estava cheia de
boas obras e de esmolas que fazia. Onde o obstáculo? Parece não haver; era boa crente, cheia de boas
obras... Aconteceu, naqueles dias, que esta irmã morreu e a Igreja toda chorava sua morte. O luto é um
triste problema no caminho do crente. Quantas vezes morrem obreiros que nos parecem
indispensáveis? Mas, perguntamos, não estará Deus vendo que necessitamos da colaboração desses
irmãos? Deus tem Seus planos. Ressuscita Dorcas neste caso. Suscita Josué, em lugar de Moisés,
noutro caso; ou Eliseu, em lugar de Elias. Deus não só premia com o descanso a uns como premia
com maiores responsabilidades a outros que foram fiéis. Não deve haver lugar para desânimo na
Igreja, quando ocorre o luto. "Recebereis poder e sereis minhas testemunhas..." (1.8) O que a Igreja
deve temer é o perder o poder do Espírito Santo. Enquanto houver tal poder não há superstição, não há
ignorância, não há ameaça, não há luto, não há nada que mate a Igreja. "As portas do inferno não
prevalecerão contra ela." (Mt 16.18)
O Caminho de Antioquia. Segue-se, ainda no capítulo 11, o caminho de Antioquia (vv. 19-
30).
Antioquia, cidade grande, movimentada, atraía gente que se encaminhava para maiores centros onde
pudesse ganhar a vida. Atos 11.20 nos revela como Antioquia era uma espécie de ponto de
concentração, dada a sua situação comercial. Ali havia gente de Chipre, cirineus, gregos, e
naturalmente, sírios, visto que falamos de Antioquia da Síria. Era, pois, um ponto de encontro.
Crentes fiéis deram aí o seu testemunho. O verso 19 nos mostra que muitos crentes se
prendiam às tradições judaicas, "...não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus".
Mas os que chegavam a Antioquia não eram somente crentes judeus. Também chegaram "...alguns...
de Chipre e de Cirene..." (v. 20). Estes, abertos a uma maior compreensão, passaram a anunciar o
Evangelho aos gregos. Talvez o precedente de Pedro, indo à casa de gentio, tivesse concorrido para
isso. O fato é que em Antioquia, cidade tão importante e lugar tão estratégico, o Evangelho foi
anunciado pela primeira vez aos gregos. O mesmo versículo nos revela também que o trabalho
missionário começou com leigos, os quais falaram do Evangelho com fidelidade. A fama destas coisas
veio à Igreja mãe; mandaram um homem de confiança, que era Barnabé. "Tendo este chegado e,
vendo a graça de Deus, alegrou-se, e exortava a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem
no Senhor." (v. 23)
A Igreja luta com dificuldade de progressos aparente. Em Antioquia, como tivesse havido
algumas conversões, houvera também curiosidade. Novidade na terra. O ambiente um tanto fervente,
um tanto entusiástico, despertou em Barnabé, que viera de Jerusalém, a desconfiança de que não
houvesse raízes profundas. Por isso exortou-os a que de todo o coração permanecessem fiéis ao
Senhor. Felizmente sua liderança era das melhores. Ele era homem de bem, cheio do Espírito Santo e
de fé. "E muita gente se uniu ao Senhor" (v. 24).
Barnabé sentiu que não dava conta de todas as responsabilidades. Embora fosse homem bom,
embora fosse homem capaz, digno de toda confiança (pois que foi o enviado para uma missão tão
importante), embora fosse cheio do Espírito Santo, compreendeu, desde logo, que precisava de
ajudante; de um bom ajudante. É o que muitos trabalhadores não entendem. A sabedoria está em saber
distribuir o serviço. Até Moisés andou cometendo esse erro: querer ter tudo nas mãos (Êx 18.13-27).
Barnabé encontrou o que queria. "...Partiu... para Tarso à procura de Saulo; tendo-o
encontrado, levou-o para Antioquia. E por todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram
numerosa multidão. Em Antioquia foram os discípulos pela primeira vez chamados cristãos." (At
11.25,26). Assim, o resultado não se fez esperar. Bem organizada a obra da Igreja, com a colaboração
de Barnabé e de Saulo, o trabalho se tornou sólido.
A expansão que analisamos, com a dispersão da Igreja, é uma grande obra da Providência.
Mas, nas lições a seguir, veremos maior ação providencial. Antioquia, o último ponto considerado
nesta fase, tomase o ponto de partida para as viagens missionárias de Paulo. Antioquia, que nesta lição
ocupa, por assim dizer, a nota final da primeira fase missionária da Igreja, é apenas o ponto de partida
para a grande expansão. Deus, que foi capaz de desfazer o ninho de Jerusalém, e dispersar leigos, para
irem fundando as Igrejas mais próximas, foi capaz também, na hora oportuna, de fazer perseguir até
os apóstolos, de deixar que se matassem até alguns deles, para que a Igreja tivesse compreensão ainda
maior do seu sentido missionário.
Alguém disse que o livro de Atos devia chamar-se "atos do Espírito Santo". A expressão é
interessante. Se penso em Pedro, a Bíblia diz: "Estava cheio do Espírito Santo" (4.8); se penso em
Estêvão, a Bíblia diz: "Estava cheio do Espírito Santo" (6.5); se penso em Felipe, a Bíblia diz: "Estava
cheio do Espírito Santo" (8.29); se penso em Barnabé, a Bíblia diz: "Estava cheio do Espírito Santo"
(11.24). "Recebereis poder e sereis minhas testemunhas.” O que seria Pedro sem este poder? Que seria
Barnabé sem este poder? Não seriam nada; a Igreja Cristã é apenas uma agência de poder: o poder do
Espírito Santo.
Mas, a partir de sua experiência evangelística em Antioquia, e daí por diante, ele aparece como
figura de primeira grandeza. Pedro desaparece. Devemos dividir, pois, o livro de Atos em duas partes:
uma referente a Pedro, outra referente a Paulo. O centro missionário no tempo de Pedro era ainda
Jerusalém, mesmo na fase em que começou a expansão, conforme análise já feita em lições anteriores.
No final da aula passada é que nós começamos a perceber o contato com os gentios. A ida de Pedro à
casa de Cornélio é o ponto de partida.
Podemos dizer que em Jerusalém o vulto importante é Pedro. Os judeus são ainda aqueles a
quem o Evangelho é endereçado. É o chamado ministério da circuncisão. Por que circuncisão? Por se
tratar dum rito tipicamente judaico, símbolo de toda essa fase da vida religiosa. Não é a circuncisão,
em si, que está em jogo, mas o ser ela tomada como um símbolo do judaísmo. Daí a referência ao
ministério da circuncisão. Em contraste com esta fase, entramos noutra em que Paulo é a figura
principal. O centro evangelístico é Antioquia. E aos gentios é que se endereça o Evangelho. Daí o
chamado ministério da incircuncisão, em contraste com o ministério da circuncisão.
Por coincidência os capítulos onde se registram os sermões importantes de Pedro (na 1.ª parte)
e os de Paulo (na 2.ª parte) são da mesma terminação: 3 e 4 discursos de Pedro, 13 e 14 discursos de
Paulo. É interessante como a matéria versada por eles seja diferente, ainda que no fundo seja o mesmo
Evangelho. Pedro se dirige aos judeus e o seu sermão se fundamenta na própria história de Israel. Fala
ele das esperanças de Israel até chegar à conclusão de que tais esperanças estavam cumpridas em
Jesus Cristo, a quem Deus ressuscitara dos mortos. Nos capítulos 13 e 14, em grande mensagem,
Paulo fala de um Deus que criou todas as coisas, de um Deus pelo qual nós vivemos, nos movemos e
existimos, um Deus que os gentios estão procurando. Esse Deus, diz ele, dá testemunho, por meio de
um varão a quem Ele mesmo ressuscitou. O ponto de partida, num caso, é a história de Israel; noutro
caso, é a própria aspiração religiosa.
Barnabé. Barnabé, que acompanha a Saulo em toda a trajetória da 1.ª viagem missionária, é
um personagem simpático. Nós o encontramos vendendo sua propriedade em Chipre, trazendo o
dinheiro aos pés dos apóstolos (4.36,37). Nós o encontramos depois mencionado em relação ao
neoconverso Saulo, dando-lhe a destra e o apoio (9.27). Após a conversão de Saulo tinham medo dele
porque não sabiam se sua conversão era verdadeira ou falsa. Havia sido um homem que "respirava
ameaças" (9.1) até então. Quem é que teria coragem de acreditar nele? Foi Barnabé quem revelou
espírito de solidariedade, e, colocando-se ao lado de Paulo, andou com ele abertamente em Jerusalém,
e garantiu-lhe a aceitação por parte até dos apóstolos.
Se Barnabé nada mais tivesse dado à Igreja, senão Paulo, já teria merecido honrosa referência.
Mas ele deu toda a sua propriedade, depois deu toda a sua simpatia. E quando foi designado como
homem de confiança da Igreja de Jerusalém para ir à Antioquia (como vimos na aula passada), ao
chegar lá e ao ver o entusiasmo e as possibilidades da Igreja, foi a Tarso e trouxe a Saulo consigo (l l
.25).
O espírito de Barnabé é como o espírito de João Batista: "Convém que ele cresça e que eu diminua."
(Jo 3.30) Percebera todas as possibilidades do novo convertido, instruído em toda a Lei, inteligência
brilhante, e, por isso, o põe à frente. Paulo começou logo a ter a preeminência. Barnabé não fez
questão: o que é preciso é que este homem vá adiante. Não apenas deu Saulo à Igreja, como um
crente, através de sua simpatia; deu Saulo à Igreja, como um missionário, através de sua humildade.
Barnabé é um extraordinário varão.
O Roteiro. Separado pelo Espírito Santo, junto com Saulo, para uma viagem missionária, que
faz ele? Não era Chipre sua terra? Ali vendera sua propriedade para colocar o dinheiro aos pés dos
apóstolos. Pois, estando em Antioquia, desce ao mar e navega até Salamina, chegando à ilha de
Chipre. Foi visitar parentes, antigos vizinhos; foi levar o grande líder que ele encontrara, Paulo, para
pregar à gente dele o Evangelho. Chegados a Salamina, atravessaram a ilha e estiveram em Pafos, a
capital.
Havia, naquele lugar, um pro-cônsul por nome Sérgio Paulo. Embora homem ilustre e
comandante geral da ilha, Sérgio Paulo mostrou-se interessado pelos assuntos religiosos. Mas, um
judeu chamado Barjesus, metido em artes mágicas, quis opor-se à mensagem de Paulo. Este o feriu de
cegueira, embora temporariamente, para dar um brilhante testemunho do poder de Deus. O sinal foi
suficiente para que o governador da ilha cresse (v. 12).
Desta maneira Barnabé, que já tinha dado uma propriedade; que já tinha dado, através da sua
simpatia, um bom crente; que já tinha dado, através da sua humildade, um grande missionário; dava à
Igreja um bom campo de evangelização, com a conversão do próprio chefe da ilha.
Prosseguem, ainda por mar, e chegam a Perge. Este é um porto na Panfília. Daqui é que volta João
Marcos, sobrinho de Barnabé.
O itinerário, através da Panfília, foi simples: Antioquia (da Pisídia), e depois: Listra, Icônio e
Derbe. Podemos dizer, olhando o mapa, que o itinerário tem a forma de ferradura. Através dessa
comparação vamos guardá-lo mais facilmente.
Pafos. Em Pafos há contraste entre Barjesus e Sérgio Paulo. Barjesus é o homem que tinha tido
os privilégios de uma educação religiosa e, no entanto, se entregava às mágicas. Era repreensível e
Paulo cegou-o, chamando-o de instrumento de Satanás (vv. 10,11). Sérgio Paulo, sem ter tido o
privilégio duma educação religiosa (o próprio nome indica que era um gentio), mostrou-se interessado
no Evangelho e aceitou a mensagem. Há sempre duas classes de ouvintes.
Antioquia da Pisídia. Esta cidade de Antioquia é distinta da cidade do mesmo nome de onde
saíram os missionários. Para diferenciá-las, chama-se uma de Antioquia da Pisídia, com a qual se
identifica a região na qual se encontra. A outra Antioquia ficava na Síria.
Em Antioquia da Pisídia encontramos também um contraste: há os "judeus invejosos" (v. 45),
e gentios que "glorificavam a Deus" (v. 48). Nestes textos estão evidenciadas as duas atitudes. De
certo modo, todos esses invejosos estavam encarnando o espírito de Barjesus. Outros que glorificavam
a Deus, encarnavam o espírito de Sérgio Paulo.
Icônio. Prosseguindo, passamos a Icônio. Atos 14.4 nos diz que ali "...uns eram pelos judeus,
outros pelos apóstolos" (v. 4). Na cidade de Icônio houve uma perseguição, e os missionários tiveram
de fugir.
Listra. Assim foram para Listra. Parecia que as coisas iam correr bem melhor, quando Paulo
curou um homem coxo (v. 10); a primeira reação dos habitantes foi ter Paulo e Barnabé como
encarnação dos seus deuses. "A Barnabé chamavam Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, porque era este o
portador da palavra." (14.12). Segundo a mitologia romana, Júpiter, chefe dos deuses, era imponente;
Mercúrio era baixo e célere: era um mensageiro. Isto parece sugerir que Barnabé teria sido de tipo
imponente e grande, ao passo que Paulo baixo e esperto, de palavra fácil.
Era o orador; nós o vemos sempre tomando a palavra. Ora, ao verem os gentios que os
apóstolos tinham curado um paralítico, tornaram-nos como manifestação de seus próprios deuses:
Júpiter e Mercúrio. Passaram imediatamente a querer oferecer-lhes sacrifícios de animais (vv. 13,18).
Eis o contraste: primeiro a luta para que a multidão não os tomasse como deuses e não lhes fizesse
sacrifícios. Eles que não queriam sacrifícios, são depois sacrificados. O versículo 19 diz:
"Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo,
arrastaram-no para fora da cidade dando-o por morto." As pessoas, que a princípio quiseram
homenageá-los com sacrifícios, logo os apedrejou. O apóstolo Paulo quase morreu. "Rodeando-o,
porém, os discípulos, levantou-se e entrou na cidade. No dia seguinte, saiu com Barnabé para Derbe."
(v. 20)
O Evangelho traz sempre, quando é anunciado, este duplo resultado.
Como diz Paulo: "...nós somos... o bom perfume de Cristo; tanto nos que são salvos, como nos
que se perdem. Para com estes cheiros de morte para morte..." (2 Co 2.15,16). A pregação do
Evangelho torna clara a divisão que há entre duas classes de pessoas: as que estão desejosas de ter
comunhão com Deus, e as que estão entregues a seus próprios interesses, e que se definem, de maneira
impressionante, contra a verdade. O espírito de Barjesus, dos judeus invejosos, dos gentios ignorantes,
que foram movidos pelos perseguidores, se contrapõe ao espírito dos que estão sedentos do Evangelho
e dispostos a glorificar a Deus. Este é o efeito da mensagem do Evangelho.
Penetrando - Paulo e Barnabé não ficaram satisfeitos apenas em confirmar as igrejas, que eles
haviam fundado na 1.a viagem missionária. Também fundaram novas igrejas.
Avançando - O primeiro ponto da Europa ocupado foi efetivamente a Macedônia, sendo a
primeira igreja a de Filipos.
Regressando - De Corinto inicia Paulo sua volta. Passa por Cencréia que é uma cidade
próxima de Corinto, no mar Egeu. Passa por Éfeso e vai a Cesaréia e a Jerusalém. A volta é descrita
em poucos versículos: do 18 ao 22 do mesmo capítulo 18.
As Cartas aos Tessalonicenses - A esta altura devemos ler as primeiras cartas do apóstolo: l e
2 Tessalonicenses, a mesma Tessalônica onde organizara igreja, apesar das perseguições movidas
pelos vadios da cidade, açulados pelos judeus (17.5). Os crentes estavam precisando de certa
orientação. Houvera tribulações, o que não admira em tal cidade (l Ts 3.1-3). Paulo, ainda na Acaia,
sabendo destas notícias, fica aflito e manda Timóteo até lá. Paulo se sente confortado com as boas
notícias; apesar das perseguições aquela gente estava firme (l Ts 3.6-8).
Paulo começa sua viagem para Roma (27:1-26) em torno de 62 d.C. Paulo foi entregue a Júlio, um
centurião romano, e foi acompanhado por Aristarco de Tessalônica e Lucas (27:1-2).
No primeiro dia da viagem, eles foram para o norte perto da costa e chegaram a Sidom, onde Paulo foi
atendido pelos irmãos (27:3). O navio passou entre a ilha de Chipre e a terra de Cilícia e eles desembarcaram
em Mirra (27:4-5). Embarcaram em outro navio, este com destino à Itália, que conseguiu chegar com muita
dificuldade em Bons Portos, na ilha de Creta (27:6-8).
A navegação se tornou difícil e perigosa, porque o inverno, com seus ventos fortes, já estava chegando.
O tempo do Dia do Jejum (Dia da Expiação) já tinha passado. Este dia especial foi observado no mês de
outubro (27:9).
O centurião tinha que escolher entre o conselho de Paulo, um prisioneiro, e os marinheiros. Ele rejeitou
o aviso de Paulo e decidiu continuar a viagem um pouco mais (27:9-12). Eles continuaram perto da costa de
Creta, até que um vento forte (Euroaquilão) levou o navio para o sul, na direção da África (27:13-15). Enquanto
o navio foi levado pelo vento, eles jogaram fora muitas coisas, temendo a possibilidade de naufrágio nas areias
movediças da Sirte, a costa africana entre Cartago e Cirene (27:16-19). Depois de alguns dias sem ver o sol
nem estrelas, eles ficaram desesperados (27:20).
Paulo falou com as pessoas no navio, dizendo que um anjo tinha revelado para ele que o navio seria
destruído, mas que todas as pessoas sobreviveriam (27:21-26).
Paulo e seus companheiros sofrem um grave naufrágio no Mediterrâneo (27:27-44). Depois de duas
semanas, os marinheiros perceberam que estavam chegando perto da terra, e começaram medir a profundidade
do mar. Diminuiu de 20 a 15 braças (uma braça é aproximadamente dois metros), e eles lançaram âncoras para
esperar o dia amanhecer (27:27-29). Os marinheiros prepararam para fugir do navio, mas quando Paulo falou
com o centurião, dizendo que todos teriam que ficar a bordo, ele não permitiu a fuga (27:30-32).
Paulo falou com todas as pessoas no navio (276 ao todo) para animá-las, e todas comeram pela primeira
vez em duas semanas (27:33-37). Eles lançaram a carga de trigo no mar (27:38). Os marinheiros tentaram guiar
o navio até a praia, mas o encalharam nas águas rasas do mar (27:39-41). Quando o navio começou a quebrar
no mar, os soldados quiseram matar os prisioneiros. O centurião, querendo salvar a vida de Paulo, não os
deixou (27:41-43).
Todos chegaram vivos à terra, exatamente como Paulo tinha profetizado (27:43-44; veja 27:22). As
Vítimas do Naufrágio Permanecem na Ilha de Malta até Primavera (28:1-10). O povo da ilha de Malta recebeu
as vítimas do desastre e as tratou bem (28:1-2). Quando Paulo foi mordido por uma cobra, os habitantes da ilha
concluiram que ele era um assassino sendo castigado pelos crimes (28:3-4). Quando eles viram que ele não
sofreu nada, chegaram à conclusão de que ele era um deus (28:5-6).
Públio, o homem principal da ilha, hospedou Paulo e seus companheiros por três dias. Paulo curou o
pai dele e muitos outros habitantes de Malta (28:7-10).
Paulo chega em Roma (28:11-16). Depois de invernar em Malta, eles embarcaram num outro navio
para Roma (28:11). Pararam por três dias em Siracusa, Sicília, e depois foram a Régio (no sul da Itália), e então
chegaram em Putéoli, onde desembarcaram e ficaram uma semana com os irmãos (28:12-14).
Alguns cristãos de Roma foram até à Praça de Ápio e às Três Vendas para encontrarem o apóstolo
Paulo; eles o acompanharam até Roma (28:15). Foi permitido a Paulo morar numa casa alugada com um
soldado o guardando (28:16; veja 28:30). Paulo prega em Roma como prisioneiro (28:17-31). Paulo convocou
os líderes judeus em Roma e explicou que ele foi preso por causa de sua fé na esperança de Israel. Eles
decidiram ouvir mais (28:17-22).
Um grande número de judeus se reuniu na casa de Paulo, e ele tentou convencê-los a respeito de Jesus
(28:23). Houve uma divisão entre os judeus, alguns acreditando e outros rejeitando a palavra (28:24-29). Paulo
aplicou a eles as palavras de Isaías 6:9-10, mostrando que nem Deus nem Paulo eram culpados, porque eles
mesmos rejeitaram a verdade. Paulo disse que os gentios ouviriam a mensagem da salvação que os judeus
tinham rejeitado.
Paulo continuou por dois anos como prisioneiro em Roma, mas com liberdade para pregar e ensinar
sobre Jesus em sua casa (28:30-31).
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http://ebdnovavidavi.blogspot.com.br/2011/03/quarta-viagem-missionaria-de-paulo.html - copiado 10/2017.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 35
(É bem provável que Paulo tenha escrito as cartas aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses e a
Filemom durante estes dois anos em Roma, veja os comentários feitos por Paulo em Efésios 3:1; 4:1; 6:20;
Filipenses 1:7,13,17; 4:22; Colossenses 4:3,10; Filemom 9,10,23).
de Jerusalém a Cesaréia.
de Cesaréia a Sidon.
de Sidon costeando a Cilícia e Panfilia até Mirra.
de mirra, costeando até Cnido e daí a sudoeste, passando por Claudia, até a ilha de Malta.
de Malta a Siracusa.
de Siracusa a Régio e Poeóli.
de Poteóli através da praça de Apito e três vendas,
até Roma.
IMPERADORES _ Augusto era o imperador quando Jesus nasceu. Ele foi sucedido por Tibério. É a efígie
deste governante que Jesus observa em uma moeda, em uma passagem do Novo Testamento: "Dai-me um dinheiro
para o ver. E eles lho trouxeram. Então disse-lhes: De quem é esta imagem e inscrição? Responderam-lhe: De César.
Então, respondendo Jesus, disse-lhes: Dai, pois, o que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus".
A PROVÍNCIA - A Judeia foi conquistada pelos romanos em 63 a.C e virou um reino semi-autônomo.
Quando o rei Herodes morreu, o território foi dividido entre seus três filhos: Felipe (leste do Rio Jordão), Arquelau
(Judeia, Samaria e Idumeia) e Herodes Antipas (Galileia). Arquelau revelou-se tão brutal que foi deposto. Seu reino
foi convertido em província, sob os cuidados de um governador romano. Na época de Jesus, esse governador era
Pôncio Pilatos.
JERUSALÉM _ Principal cidade da Judeia, com 25 mil habitantes, recebia 100 mil peregrinos para festas
como a Páscoa. Sua importância devia-se ao Templo, uma colossal construção que ocupava um quinto da cidade e
era o centro do judaísmo. Jesus foi levado ali oito dias depois de nascer, para que seus pais fizessem a oferenda
obrigatória de um casal de pombos.
A GALILEIA - Jesus nasceu nos confins do império, na Galileia, um reino de 200 mil habitantes. Por
estarem fora da Judeia, galileus como Jesus eram tidos pelos outros judeus como caipiras. A Galileia não era árida e
rochosa como outras terras da região. Ali havia muita chuva e se produziam cereais, azeite de oliva, vinho e frutas.
NAZARÉ - O Novo Testamento relata a pergunta feita por um homem chamado Natanael quando lhe
contaram de que povoado vinha Jesus: "Pode algo bom sair de Nazaré?". Nazaré era pouco mais do que uma aldeia,
segundo algumas fontes com não mais de 20 casas, a 115 quilômetros de Jerusalém.
AS LÍNGUAS DE JESUS
Três idiomas eram amplamente usados na Palestina, conforme o contexto:
Aramaico _ Língua que se aprendia na primeira infância e se usava no dia-a-dia e em família. A estrutura
das frases e o vocabulário de Jesus indicam que ele pregava nesse idioma.
Hebraico _ Idioma litúrgico judaico, que as crianças aprendiam na escola da sinagoga, estudando as
escrituras. Pelo conhecimento dos textos da Torá, Jesus sabia hebraico.
Grego _ O Império Romano tinha dois idiomas, latim e grego. A oriente, o grego era a língua franca, com
papel semelhante ao que o inglês tem hoje, sendo usado em documentos e contratos legais. Permitia falar
com gente de todas as regiões. Os pais queriam que seus filhos o aprendessem, para subir na vida. Essa foi
provavelmente a língua que Jesus usou ao falar com Pilatos.
ECONOMIA - A maior parte das pessoas tirava o sustento da agricultura. As famílias costumavam viver em
povoados e cultivar um pedaço de terra nas redondezas. As propriedades da Galileia tinham em média sete hectares.
Plantava-se grãos, oliveiras e legumes. Vinhedos eram comuns. As árvores frutíferas tinham de ser vigiadas, por
causa de ladrões.
OUTROS OFÍCIOS
- Pastoreio _ Quase sempre de animais menores, como ovelhas e cabras. Gado bovino era raro. Algumas
famílias criavam galinhas ou pombos, usados em sacrifícios
- Pesca _ Existia uma importante indústria pesqueira na Galileia. Essa é a razão para haver pescadores entre
os discípulos de Jesus
- Apicultura _ Havia criadores de abelhas, para produção de mel
- Ofícios manuais _ Eram transmitidos de pai para filho. Existiam ferreiros, oleiros, tecelões, marceneiros,
pedreiros e curtidores (que trabalhavam fora do povoado, por causa do cheiro)
AS CLASSE SOCIAIS
Classe alta: formada pela nobreza sacerdotal e por altos funcionários, latifundiários e grandes comerciantes
Classe média: incluía pequenos proprietários rurais, artesãos e comerciantes
Classe inferior: eram os escravos e os jornaleiros, que trabalhavam na terra dos outros
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https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2013/03/saiba-como-era-a-vida-no-tempo-de-jesus-4090974.html
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 40
CARGA TRIBUTÁRIA - Os romanos ficavam com 12,5% da produção agrícola. O Templo, somando
diferentes tributos, arrecadava outros 22%. Como um quinto do que se colhia era reservado como semente, sobrava
menos da metade da colheita para o agricultor.
VIDA NAS CIDADES - As cidades da Galileia e da Judeia que Jesus percorreu eram locais insalubres,
barulhentos e perigosos. Como muralhas cercavam essas povoações, o espaço era restrito. Quase não havia praças,
quintais ou árvores. Todo terreno costumava ser ocupado por construções, que compartilhavam paredes. As portas
abriam direto na rua. A violência era epidêmica, e não existia polícia. Logo, ninguém se arriscava na rua depois do
anoitecer.
HIGIENE - A imundície era generalizada, porque lixo e dejetos eram despejados na rua. Havia latrinas
públicas em algumas cidades, mas elas eram evitadas pelas condições repulsivas. Os moradores tinham penicos _
que despejavam pela janela, não raro sobre a cabeça de alguém.
CASAS - Ricos viviam em mansões com água corrente. Havia prédios de apartamentos na Judeia, mas as
pessoas mais pobres moravam em casas pequenas, de um ou dois aposentos. Em uma passagem de Mateus, Jesus dá
a entender que uma única lamparina a óleo era suficiente para iluminar um lar. O teto das residências era achatado,
porque quase não chovia. Como faltava espaço nas ruas, os judeus usavam a laje para tomar sol ou ar fresco. Nas
noites quentes, dormiam no telhado.
COSTUMES
DIVISÃO DO DIA - Não havia relógios nem medição precisa do tempo _ as pessoas sequer sabiam direito
sua idade. O dia começava com o raiar do sol. A manhã era destinada ao trabalho. Depois do almoço, mais ou menos
entre as 13h e as 16h, vinha o momento de relaxar: era comum dormir ou ir ao banho público. Quando o sol se
punha, todos estavam em casa, porque as ruas eram perigosas.
Hora grega _ Os gregos desenvolveram a ideia de que o dia era dividido em 12 horas, sendo que cada hora
correspondia a um duodécimo do período de luz solar. Como o tempo diário de sol variava conforme as estações, a
duração da hora não era fixa. Jesus estava familiarizado com esse sistema, conforme o Evangelho de João: "Jesus
respondeu: Não são 12 as horas do dia? Aquele que caminhar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo."
Túnica _ Roupa casual, feita de linho ou algodão, era colocada pelo pescoço e tinha mangas. Existiam
modelos diferentes para homens e mulheres. As peças coloridas eram mais difundidas entre as mulheres.
Manto _ Enrolado no corpo, por cima da túnica, em ocasiões formais ou nos dias frios. Incômodo, era
removido para atividades físicas. Por ser caro, era alvo de ladrões. Só os abastados possuíam mais de um.
Roupa de baixo _ Os homens às vezes usavam uma espécie de tanga, feita de algodão ou lã. No trabalho
sob o sol quente, essa podia ser a única vestimenta. As mulheres vestiam uma peça desse tipo quando
menstruadas.
Cinto _ Um cinto era colocado ao redor da túnica, permitindo baixar ou elevar a altura do traje conforme a
necessidade.
BELEZA
Perfumes, pentes, espelhos, cosméticos e depilações eram comuns no mundo em que Jesus viveu:
Cosméticos _ Eram amplamente usados pelas mulheres, que almejavam uma tez pálida. Na Palestina, a
maquiagem ao redor dos olhos e do nariz prevenia o ressecamento provocado pelo clima árido.
Cabelos _ De forma geral, os homens usavam cabelo curto. Entre os judeus, no entanto, podiam ser mais
longos, acompanhados de barba. As mulheres mantinham o cabelo comprido, arranjado em penteados
elaborados, envolvendo coques, tranças e enfeites, conforme a moda do momento.
Salões de beleza _ Havia barbeiros e cabeleireiros, que também prestavam serviços de manicure e pedicure.
CASAMENTO
Função _ O casamento era a condição natural para homens e mulheres. Um adulto solteiro era tão raro
quanto um homem com várias esposas. Não se tratava de uma união romântica, mas de um acerto entre
famílias. Na época de Jesus, era normal haver o consentimento da noiva.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 41
Idade _ As mulheres casavam logo após a puberdade, raramente após os 15 anos. Maria era adolescente
quando teve Jesus. Os homens contraíam matrimônio mais tarde, mas antes dos 25 anos.
Viuvez _ Por causa da diferença de idade entre os noivos, havia muitas viúvas jovens. Como as escrituras
não fazem menção a José depois dos 12 anos de Jesus, presume-se que ele já estava morto.
Filhos _ A maioria dos casais tinha dois ou três filhos. Não eram comuns famílias numerosos. Métodos de
prevenção a gravidez e abortivos eram bem conhecidos.
EDUCAÇÃO - A escola ficava na sinagoga e era só para meninos. Eles aprendiam a ler, escrever e fazer
contas. Também recebiam algumas noções de geografia.
PROSTITUIÇÃO - No Império Romano, a prostituição era disseminada. Chegava a ser exercida em cabines
portáteis instaladas nas ruas. As várias menções a meretrizes no Novo Testamento indicam que Jesus estava
familiarizado com ela. Não havia preocupação com doenças sexualmente transmissíveis: sífilis e gonorreia não eram
conhecidas.
MORTE - A mortalidade infantil era elevada. Metade das crianças não chegava á idade adulta. As mulheres
morriam frequentemente no parto ou depois dele, por falta de higiene. Também morria-se muito por acidente,
epidemias e falta de assistência médica.
Delação _ Judas agiu de forma aceitável para a época. Havia um exército de informantes, responsáveis por
denunciar quem representava perigo para a sociedade. Os delatores inclusive atuavam como promotores no
julgamento.
Sinédrio _ Os romanos concediam certa autonomia aos judeus. O órgão judaico máximo era o Sinédrio, um
tribunal aristocrático composto pelo Sumo Sacerdote e por nobres. Jesus foi interrogado por esse conselho
sobre questões de doutrina e considerado culpado. O Sinédrio não podia aplicar a pena de morte. Por isso, o
caso foi levado ao governador romano, Pôncio Pilatos.
Pilatos _ Diante do governador, os sacerdotes acusaram Jesus. Na época, o julgamento consistia em
discursos do acusador e do acusado. Por isso, um réu que se recusasse a responder, como Jesus,
desperdiçava a chance de absolvição. Era um comportamento desconhecido, que deixou Pilatos atônito,
conforme o de Marcos: "E os príncipes dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas. E Pilatos interrogou-o
novamente, dizendo: Não respondes coisa alguma? Vê de quantas coisas te acusam. Mas Jesus não
respondeu mais nada, de sorte que Pilatos estava admirado."
Punição - No Império Romano, não havia a ideia de prisão como punição. Quando alguém estava detido,
era à espera de ser punido. As penas envolviam multa, para pequenos crimes, ou exílio, trabalho forçado e
morte, para outros de maior monta. Para réus pobres, era permitida uma execução cruel, com sofrimento.
CULTURA GREGA
A Judeia e a Galileia eram regiões periféricas, mas não estavam intocadas pela influência estrangeira. A
cultura greco-romana influenciava todas as esferas da vida, cumprindo papel similar ao da norte-americana hoje.
Judeus devotos davam nomes helênicos aos seus filhos, por exemplo. A cultura grega era tão forte que alguns judeus
se submetiam a uma arriscada e dolorosa cirurgia de reversão da circuncisão. Assim, podiam tirar a roupa sem
constrangimento nos banhos públicos.
A MENTALIDADE
Desconhecimento científico. Muita gente acreditava que a Terra fosse plana e que o céu consistisse em uma
espécie de bacia virada sobre ela. Se alguém conseguisse atravessá-lo, entraria no paraíso.
DOENÇAS
A ignorância sobre as doenças levava o povo a atribuí-las a demônios. A cura de males como epilepsia,
surdez e paralisia passava por expulsar os espíritos ruins. Jesus era visto como um curandeiro com o dom do
exorcismo.
Um dos mais importantes fatores na época de Jesus, o primeiro século, sem dúvida foi Roma. Muitas
palavras de Jesus foram respostas ao ambiente e as ações que os Romanos provocaram.
Havia uma frase muito conhecida em Latim, “Pax Romana” que traduzida é “Paz por meio de Roma” ou
“Paz Romana”. Roma prometia que se as nações se submetessem a César, eles lhes trariam paz e prosperidade.
Porém, a paz Romana veio por meio de força brutal e dominação absoluta. Roma trouxe paz pela absoluta
destruição de seus inimigos. Eles tinham um exército tão bem treinado e equipado, que trazia medo às nações.
A CRUCIFICAÇÃO
Ainda, o instrumento de maior intimidação de Roma, não era a espada, mas a cruz. Os Romanos não
inventaram a crucificação, mas eles a aperfeiçoaram e a usavam com frequência.
A crucificação era a mais dolorosa e humilhante morte possível. Levava cinco ou mais dias para uma pessoa
crucificada morrer. E cada minuto era de uma dor inimaginável. A vítima tinha as suas roupas removidas e ficava
nua na cruz. Todos os inimigos do crucificado poderiam assistir esse horrendo ato e ainda insultar o seu inimigo.
Os Evangelhos nos falam que os Romanos insultaram Jesus dessa forma. Não era incomum os Romanos
erguerem muitas cruzes, formando uma linha de crucificados, que chegavam até dentro das cidades.
O Historiador Flavio Josefo menciona que os Romanos crucificaram quase 10 mil pessoas em Jerusalém,
durante as diversas rebeliões que ocorreram antes do ano 70 da nossa era. Alguns estimam que aproximadamente
200 mil Judeus foram crucificados por Roma, em todo o período de ocupação da terra de Israel.
A brutalidade de Roma era parte da vida diária no tempo de Jesus. Por exemplo, um soldado Romano tinha
o direito de exigir que qualquer Judeu carregasse qualquer coisa que precisasse ser deslocada, por até uma milha –
1,6 km (“E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” Mateus 5:41).
O fracasso em cumprir qualquer demanda dos Romanos era geralmente punido com tapas no rosto (“mas, se
qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;” Mateus 5:39).
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http://www.santovivo.net/gpage160.aspx, copiado em nov/2017
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 45
4.2-3 “Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em
carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do
anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo”.
4. Como o corpo era considerado mau, devia ser tratado com rigor. Essa forma ascética de
gnosticismo é combatida por Paulo em parte da carta aos Colossenses, como em 2.20-23 “Se
morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a
ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies
(as quais coisas todas hão de perecer pelo uso), segundo os preceitos e doutrinas dos
homens? As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário,
humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate
contra a satisfação da carne”.
5. Paradoxalmente, esse dualismo também levava ao desregramento moral. O raciocínio era que,
como a matéria era considerada má, a violação das leis de Deus não era de consequência
moral.
O gnosticismo com o qual o Novo Testamento lidava era uma forma primitiva dessa heresia,
não o sistema desenvolvido e já complexo dos séculos II e III. Para Paulo o gnosticismo era "engodo
de humildade" (Cl 2.18). Em confronto com o cristianismo dos apóstolos, os mestres gnósticos são
falsos irmãos e causam divisões na igreja (Jd 19), pois se desviaram da graça de Deus (Jd 4). Além da
forma encontrada em Colossenses e nas cartas de João, alguma familiaridade com o gnosticismo
primitivo se vê refletida em 1 e 2 Timóteo, em Tito, em 2Pedro e talvez em 1Coríntios.
Atualmente o gnosticismo ressurge sob o disfarce de “cristianismo esotérico”, como, por
exemplo, a Ciência Cristã, que estabelece forte distinção entre Jesus e o Cristo, negando qualquer
encarnação real, ímpar e ontológica de Deus no homem Jesus.
EBIONISMO
Os ebionistas surgiram no começo do segundo século. Seu nome, derivado do grego
“ebionaioi”, tem seu correspondente no idioma hebraico “ebionim”, que significa “os pobres”. Os
ebionitas eram judeus crentes que não deixaram os preceitos judaicos e também aceitavam Jesus
apenas como Homem. Essa seita tinha um ensino exagerado sobre pobreza; rejeitava os escritos do
apostolo Paulo, porque nas epístolas ele reconhecia os gentios convertidos como cristãos. Eles
acreditavam que a lei mosaica era a maior expressão da vontade de Deus e continuava válida para o
homem. O maior ataque ao cristianismo primitivo estava relacionado à interpretação que tinham a
respeito da divindade de Jesus e de seu nascimento virginal. Para eles, Jesus era o filho de José e
Maria, que observou a Lei de forma especial, sendo assim escolhido por Deus para ser o Messias;
assim logicamente Jesus não era eterno, logo não era Deus. Aprovavam os ensinos do evangelho de
Mateus. Eles insistiam que os cristãos, tanto gentios como judeus, ainda continuavam sob o domínio
da Lei de Moisés e que não havia salvação fora da circuncisão e do cumprimento da Lei.
Os ebionitas eram considerados apóstatas pelos judeus não-cristãos, e também não
contavam com a simpatia dos cristãos-gentios, os quais depois do ano 70 constituíam a maior parte
da Igreja. Nenhum concílio condenou oficialmente o ebionismo, mas Tertuliano, Irineu, Eusébio e
Orígenes foram opositores de grande peso a essa heresia. Os ebionitas diminuíram gradualmente, no
segundo século.
DOCETISMO
O docetismo tem grande ligação com o gnosticismo, para quem o mundo material era mau e
corrompido. O nome vem do grego dokeo e significa “parecer”. Os docetistas defendiam que o corpo
de Jesus Cristo era uma ilusão e sua crucificação teria sido apenas aparente.
Na concepção desse movimento herético, sendo Cristo bom e a matéria essencialmente má,
não haveria possibilidade de união entre Ele e um corpo terreno. Portanto os docetistas negavam a
humanidade de Cristo, dizendo que Ele parecia ser humano, mas era divino. Afirmavam que o corpo
de Jesus não passava de um fantasma, que sofrimento e morte eram apenas meras aparências. Se
sofria, então não podia ser Deus; ou era verdadeiramente Deus e então não podia sofrer.
Não houve uma condenação oficial a esse pensamento, mas Irineu e Hipólito foram os
opositores dessa ideia filosófica grega e pagã da época.
MONTANISMO
Surgido na Frígia, após 155, os montanistas, assim chamados por causa de seu fundador se
chamar Montano, quase não podiam ser incluídos entre as seitas hereges, apesar de seus ensinos
terem sido condenados pela Igreja. Os montanistas eram puritanos, e exigiam que tudo voltasse à
simplicidade dos primitivos cristãos. Eles criam no sacerdócio de todos os verdadeiros crentes, e não
nos cargos do ministério. Observavam rígida disciplina na igreja. Consideravam o dom de profecia
como um privilégio dos seus discípulos. Infelizmente, como geralmente acontece em movimentos
dessa natureza, ele caiu para o extremo e concebeu fanáticas e equivocadas interpretações da Bíblia.
Montano não tinha cargo eclesiástico e percorria os lugares acompanhado de duas mulheres,
Priscila e Maximila, promovendo o que chamou de "Nova Profecia", conclamando pessoas para a
volta de Cristo. Isso era feito através da voz do "Parácleto", uma manifestação profética que falava
através das duas mulheres na primeira pessoa. Montano colocou a si mesmo como parácleto através
de quem o Espírito Santo falava à Igreja, do mesmo modo que falara aos apóstolos. Ele tinha uma
escatologia extravagante. Acreditava que o reino celestial de Cristo seria instaurado brevemente em
Pepuza, na Frígia, e que ele teria um papel de proeminência nesse reino. Para que estivessem
preparados para aquele acontecimento, ele e seus seguidores praticavam um rigoroso ascetismo.
Não se permitia novo casamento se um dos cônjuges morresse.
A Igreja reagiu as essas extravagâncias condenando o movimento. O Concílio de
Constantinopla, em 381, declarou que os montanistas deviam ser considerados pagãos. No entanto
Tertuliano, um dos maiores Pais da Igreja, achou as doutrinas do novo grupo atraentes, e tornou-se
montanista. O movimento foi muito forte em Cartago no Oriente. O montanismo representou o
protesto perene suscitado dentro da Igreja quando se aumenta a força da instituição e se diminui a
dependência do Espírito de Deus.
MONARQUIANISMO
Essa designação foi dada pela primeira vez por Tertuliano. Como a defesa doutrinária dos
apologetas, dos Pais antignósticos e dos Pais alexandrinos sobre o Filho de Deus, não satisfez as
dúvidas teológicas de todos na época e a teologia cristológica ainda era nova e sem consistência,
surgiam assim novos pensamentos.
O monarquianismo surgiu no século III, e a grande dificuldade era combinar a fé em Deus
único (monoteísmo) com a nova fé cristã, no qual Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Essa dificuldade
era complicada de resolver, pois de um lado havia aqueles que criam que o Filho era uma pessoa
divina, parecendo ferir a ideia monoteísta, e de outro lado havia os que defendiam a idéia de que o
Filho era subordinado ao Pai, e isso feria a deidade de Cristo. Esse conflito teológico originou dois
tipos de pensamento: o monarquianismo dinâmico, conhecido também como adocionismo, e o
monarquianismo modalista.
Monarquianismo modalista
Os monarquistas modalistas negavam a humanidade de Cristo, como fizeram os gnósticos.
Viam nele apenas um modo de manifestação do Deus único, em que não reconheciam nenhuma
distinção de pessoas. Qualquer sugestão de que a Palavra ou Filho era outro que não o Pai, ou então
uma pessoa distinta dele, parecia levar inexoravelmente a blasfêmia de dois deuses.
Essa é a outra forma de monarquianismo, ou seja, é o outro modo de apologizar o unitarismo
divino. O modalismo (como também era conhecido) era diferente do adocinismo, que dizia que Jesus
era adotado por Deus, pregava que Jesus era Deus, mas se manifestara como criador do mundo
(Pai), depois viera a terra se encarnando em Jesus para salvar o homem e hoje Ele se manifesta na
pessoa do Espírito Santo. Para o modalismo há uma só pessoa, que se manifestou de forma diferente
e com nomes diferentes, o Pai. A idéia do monoteísmo judaico não fôra ferida.
O primeiro teólogo a declarar formalmente a posição monárquica foi Noeto de Esmirna, que
nos últimos anos do segundo século, foi duas vezes convocado pelos presbíteros daquela cidade a
fim de prestar esclarecimentos. O cerne da pregação de Noeto era a enérgica afirmação de que havia
apenas um Deus, o Pai.
No Ocidente seus discípulos ficaram conhecidos com patripassionistas, isto é, a idéia de que
foi o Pai quem sofreu e vivenciou as outras experiências humanas de Cristo. Portanto, teria sido o
próprio Pai quem entrou no ventre da virgem, tornando-se por assim dizer, seu próprio filho, o qual
sofreu, morreu e ressuscitou. Desse modo, essa pessoa singular unia em si mesma atributos
mutuamente incompatíveis, sendo invisível e também visível, impassível e também passível. Já no
Oriente, este modalismo mais refinado tornou-se conhecido como sabelianismo, em função do
nome do seu autor, Sabélio. Recebendo uma estrutura mais sistemática e filosófica por parte de
ARIANISMO
Os arianos foram seguidores de um presbítero de nome Ário. Ele afirmava que o Verbo (Jesus
Cristo) não era igual ao Pai, mas uma grande criatura. Segundo Ário, Cristo é o primeiro dos seres
criados através de quem todas as outras coisas foram feitas. Em antecipação à glória que haveria de
ter no final, Ele é chamado de Logos, o Filho unigênito de Deus. Dizia Ário que Jesus podia ser
chamado de Deus, apesar de não ser Deus na realidade plena subentendida pelo termo.
Diante desse fato, Alexandre, bispo de Alexandria, convocou um sínodo, que o depôs do
presbiterato e o excluiu da comunhão da Igreja. Logo depois, o imperador Constantino ordenou que
todos os bispos cristãos comparecessem para deliberar a respeito de pessoa de Cristo e da Trindade
em uma reunião que ele presidiria em Nicéia, em 325 d.C. A grande assembléia realizou-se com a
presença de 318 bispos católicos, e somente 22 eram declaradamente arianos desde o inicio. O
próprio Ário não obteve licença para participar de concílio por não ser bispo. Foi representado por
Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia. Alexandre dirigiu o processo jurídico contra Ário e o
arianismo, sendo auxiliado por seu jovem assistente chamado Atanásio, que viria a sucedê-lo no
bispado de Alexandria poucos anos depois. Neste concílio foi formulado o documento chamado de
Credo de Nicéia, onde os ensinos de Ário foram condenados.
MANIQUEÍSMO
De origem persa, foram chamados por esse nome, em razão de seu fundador ter o nome de
Mani, o qual foi morto em 276, por ordem do governo persa. O ensino dos maniqueus dava ênfase a
este fato: "O universo compôe-se do reino das trevas e do reino da luz, e ambos lutam pelo domínio
da natureza e do próprio homem". Recusavam a Jesus, porém criam em um "Cristo Celestial". Eram
severos quanto a obediência ao ascetismo, e renunciavam ao casamento. O maniqueísmo exaltava a
tal ponto a vida ascética que consideravam o instinto sexual pecado e enfatizavam a superioridade
do estado civil do solteiro.
Segundo sua doutrina, o homem primitivo surgiu por emanação de um ser que por sua vez
era uma emanação superior do chefe do reino da luz. Oposto ao reino da luz, havia o reino das
trevas, que enganara o homem primitivo fazendo com que ele se tornasse um ser que misturava luz
e trevas. A alma do homem ligava-o com o reino da luz, mas seu corpo o levava a ser escravo do
reino das trevas. A salvação era uma questão de libertar a luz da alma que estava escravizada à
matéria do corpo. Essa liberação poderia ser conseguida através da exposição à luz, Cristo. A elite, ou
seja, os perfeitos, constituíam a casta sacerdotal.
O maniqueísmo exerceu ainda muita influência por bom tempo após a morte de Mani. Um
pensador do porte de Agostinho, em sua busca pela verdade, foi discípulo do maniqueísmo durante
12 anos. Depois de sua conversão, Agostinho se empenhou em refutar energicamente essa filosofia
no livro "Contra os Maniqueístas". Os maniqueus foram perseguidos tanto por imperadores pagãos,
como também pelos cristãos.
PELAGIANISMO
O Pelagianismo surgiu inicialmente para se contrapor ao gnosticismo maniqueísta, tendo
posteriormente seus ensinos violentamente criticados por Agostinho de Hipona e seu amigo
Jerônimo, tradutor e comentarista bíblico que morava em Belém. Seu principal expoente foi Pelágio,
para quem o homem sozinho podia praticar o bem isento da graça auxiliadora de Deus, uma vez que
não existia o pecado original no tocante à culpa herdada, portanto era também contra a remissão de
pecados. Para ele o sacrifício de Cristo não teve objetivo.
Celéstio foi combatido no sínodo de Cartago, em 412 d.C., e condenado. Pelágio foi
combatido na Palestina por Jerônimo, mas outro sínodo em 415 d.C. aprovou sua doutrina. A Igreja
Africana negou seu reconhecimento às decisões da Palestina e, dois sínodos, em 416 d.C. novamente
condenaram Celéstio. Entretanto morrendo o Papa Inocêncio, seu sucessor, o Papa Zósimo, deu
apoio a Pelágio e Celéstio. O concílio de Cartago, porém, definitivamente condenou as ideias
pelagianas. Mas uma vez conseguiram-se editos imperiais contra os hereges e finalmente Zósimo
concordou com o ponto de vista africano. Muitos bispos, porém subscreveram com reticências e
dezoito deles foram depostos.
Respondendo aos ensinos de Pelágio a respeito do pecado, do livre arbítrio e da graça.
Agostinho desenvolveu sua própria teologia antipelagiana. Em algumas de suas obras, verificamos a
defesa da fé por parte desse cristão. São obras de sua autoria: Do Espírito e da Letra (412), Da
natureza e da graça (415), Da graça de Cristo e do pecado original (418), Da graça e do livre
arbítrio (427) e Da predestinação dos santos (429). Além disso, formou suas próprias opiniões sobre
essas relevantes questões em muitos outros escritos, principalmente em sua obra prima, A Cidade
de Deus, que concluiu pouco antes de sua morte em 440 d.C.
CONCLUSÃO
Todas as heresias que surgiram e que surgem, saíram e saem de dentro da Igreja. Então a
coisa acontece sempre da Igreja para fora e nunca de fora para a Igreja. Sempre há pessoas ou
grupos querendo interpretar a Bíblia de uma maneira que seja adequado a sua vontade.
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Apocalipse: o futuro chegou, Hernandes Dias Lopes, Editora Hagnos, pág. 17-19.
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 51
O APOCALIPSE COMO PROFECIA - O QUE SIGNIFICA ISSO? 50
Já foi visto que, de acordo com o próprio nome do livro (Apocalipse = “revelação”- 1,1), o
escritor procura apresentar o real sentido da vida cristã e do sofrimento através de uma “revelação”
de Jesus Cristo. Mas o escritor também se apresenta como profeta (22,9) e caracteriza seu livro
como profecia (1,3; 22,19). Qual a importância disso para o entendimento do texto?
A importância é muito grande, visto que dependendo da definição que temos de profecia,
será o tipo de interpretação que faremos do livro. O que é profecia para você?
Hoje em dia é muito comum o conceito de profecia como “predição do futuro”. É algo
semelhante ao horóscopo, às profecias de Nostradamus ou coisa assim. Tal visão também é muito
influenciada pelos místicos que fazem previsões e pelas práticas pentecostais, onde a previsão do
futuro, como profecia, ocupa lugar de destaque. Mas será que é isso que o escritor do Apocalipse
tem em mente quando chama seu livro de “profecia”?
O escritor do Apocalipse baseia-se no conceito vétero-testamentário de “profecia” para
definir sua atividade. Nesse sentido, profecia é:
• Uma mensagem recebida diretamente de Deus. Essa era a principal característica dos
verdadeiros profetas em relação aos falsos (Jr 23,18-22). Eles entravam no “conselho” do Senhor.
Esse conselho é composto pela Trindade e os seres celestiais que estão na presença de Deus e pode
ser visto nas cenas dos capítulos 4 e 5 do Apocalipse. É ali que João, como profeta, se encontra (4,1).
Portanto, o profeta é, fundamentalmente o que recebe “de Deus” sua mensagem. Por isso, ela é
importante e não pode ser alterada (22,18-19). Além de provir de Deus, a profecia nos tempos
neotestamentários é centralizada em Jesus (19,10). O espírito, o centro da profecia é o “testemunho
de Jesus”. Ela visa fornecer uma mensagem sobre Jesus Cristo, e não “satisfazer” nossa curiosidade
quanto ao futuro.
• Uma mensagem que aponta para a vinda final de Jesus Cristo. Ela segue aqui a perspectiva
pela qual o Velho Testamento era interpretado: cristologicamente, isto é, vendo nele predições que
apontavam para Jesus Cristo (Lc 24,44). O Apocalipse segue essa linha apresentando uma visão
“cristológica” da história, afirmando que Jesus controla a história e indicando que os eventos
relativos a sua segunda vinda “estão próximos” (1,3). Na realidade, para o Novo Testamento, desde
que Jesus encarnou e ressuscitou, ele “já está chegando”. É por isso que o escritor pode falar do
julgamento sobre Roma como algo muito próximo. Porém o livro não fala de acontecimentos
“particulares”, mas de ações de Jesus que se darão como conseqüência de sua segunda vinda.
• Uma mensagem que chama ao arrependimento. Essa é uma das principais características
da profecia. Na realidade, ela é uma palavra que tem uma forte ênfase no “presente”, no
comportamento do povo. Para criticar a prática pecaminosa, o profeta volta-se para o “passado” e
encontra nele as orientações de Deus dadas no Pentateuco (quando o profeta vive nesse período),
ou nas palavras de Jesus (quando o profeta é cristão). A partir daí faz advertências para que se
abandone a prática do pecado, pois se não houver arrependimento, Deus irá punir tal
comportamento no “futuro”. Portanto, a profecia fala do futuro como conseqüência da vida do povo
no presente. É nesse contexto que o profeta fala às igrejas nos capítulos 2 e 3 chamando-as ao
arrependimento e advertindo-as quanto ao futuro (2,5.16. 21-23; 3,3).
Após essas considerações sobre a profecia no Apocalipse, podemos ver por que o seu autor
usa o gênero apocalíptico e refere-se ao livro como profecia. Seu objetivo através da apocalíptica é
50
http://www.monergismo.com/textos/escatologia_reformada/estudosapocalipse.htm
PANORAMA BÍBLICO NT - Escola Bíblica Dominical - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca 52
chamar a atenção para as tribulações que estão por vir e fornecer fortalecimento e conforto aos que
sofrem. Para dar autoridade a essa mensagem, dá a ela a categoria de profecia.
Visto que a profecia não pode ser vista como um mero “narrar de eventos futuros”, estando,
pelo contrário, mais ligada ao presente, podemos, portanto, concluir que o Apocalipse não é um livro
que narra apenas acontecimentos “futuros”. Essa constatação permite-nos agora buscar uma visão
que substitua essa abordagem futurista que se faz ao livro.
---------SUPLEMENTO EXTRA:
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http://www.geocities.com/eureka/gold/7392/comentarios/texto16.html