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*Ecumenismo exercido pela aliança evangélica.

Em
angola quando foi fundada a sua cooperação social,
institucional, espiritual governamental e os benefícios
com outras igrejas

Introdução

O *ecumenismo* é um conceito que transcende as fronteiras das igrejas


cristãs, buscando a *unidade* apesar das diferenças. Na *Igreja Primitiva*,
durante os primeiros anos do cristianismo, esse movimento também estava
presente, embora de maneira diferente da que conhecemos hoje. Neste
trabalho, exploraremos como o ecumenismo foi exercido pela Igreja Primitiva,
considerando suas origens, desafios e impacto.

O *ecumenismo* é o processo de busca pela união apesar das diferenças. O


termo *ecumênico* provém da palavra grega *οἰκουμένη (oikouméne), que
significa **mundo habitado*. Num sentido mais restrito, emprega-se o termo
para os esforços em favor da unidade entre igrejas cristãs; num sentido lato,
pode designar a busca da unidade entre as religiões. Antigamente, em teologia,
definia-se ecumenismo como movimento que visaria à unificação das igrejas
cristãs (católica, ortodoxa, luterana, anglicana e protestante). A definição atual,
mais abrangente, considera como ecumenismo a aproximação, a cooperação,
a busca fraterna da superação das divisões entre as diferentes igrejas cristãs.
Do ponto de vista do Cristianismo, pode-se dizer que o ecumenismo é um
movimento entre diversas denominações cristãs na busca do diálogo e
cooperação comum, buscando superar as divergências históricas e culturais, a
partir de uma reconciliação cristã que aceite a diversidade entre as igrejas¹.

O movimento ecumênico atual surgiu na Conferência Mundial de Missão 1910,


que reuniu 1200 delegados para debater fé e comunhão. A celebração do
centenário pôs o ecumenismo, o diálogo, a diferença, a expressão e a
comunhão na agenda.

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O movimento ecumênico tem como foco a unidade cristã, sendo um processo
de entendimento para reconhecer e respeitar as diversidades entre as igrejas,
focando no bem comum entre as religiões denominadas cristãs. O
ecumenismo procurar estabelecer relações de amizade e respeito entre
pessoas de igrejas diferentes.

Quem criou o ecumenismo?


Um dos pioneiros do ecumenismo foi John R. Mott , um leigo metodista
americano, que organizou e presidiu a Conferência Missionária de Edimburgo.
Todos os movimentos surgidos a partir daquela conferência contaram com
metodistas – clérigos e leigos – entre seus líderes.

A *Igreja Primitiva, também conhecida como **Cristianismo Primitivo*

O Significado do Ecumenismo

O termo *ecumênico* deriva da palavra grega *οἰκουμένη* (oikouméne), que


significa *mundo habitado. Inicialmente, no mundo grego, o ecumenismo
referia-se ao "mundo civilizado", aberto à cultura e colaboração humana. Com
as conquistas do Império Romano, o termo ganhou conotações políticas e
espirituais. Na Igreja, o ecumenismo passou a ser utilizado para descrever a
**terra habitada* como uma tarefa a ser realizada em colaboração com Deus¹.

# A Igreja Primitiva e o Ecumenismo

A *Igreja Primitiva* refere-se à comunidade que viveu nos primeiros anos da


Igreja Cristã, durante o tempo dos apóstolos. Durante esse período, a Igreja
enfrentou desafios significativos, mas também demonstrou uma busca pela
unidade:

1. *Diversidade Geográfica e Cultural*: A Igreja Primitiva se espalhou por


diferentes regiões, incluindo o Império Romano, a Ásia Menor e a África. Essa
diversidade geográfica trouxe consigo variações culturais e teológicas.

2. *Unidade na Fé: Apesar das diferenças, os primeiros cristãos


compartilhavam uma fé comum em Jesus Cristo. O **Credo Niceno-

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Constantinopolitano* foi aceito por todos os cristãos como uma profissão de fé
unificadora².

3. *Desafios e Cooperação: Os apóstolos enfrentaram desafios como


perseguição, heresias e questões teológicas. No entanto, eles também
cooperaram na propagação do evangelho. O **Primeiro Concílio de
Constantinopla* (381 d.C.) referiu-se ao *Primeiro Concílio de Niceia* como um
concílio ecumênico, destacando a importância da unidade na doutrina e nos
costumes¹.

Ecumenismo não é cada Igreja ser sombra de si mesma, mas conviver com
quem questione e caminhe junto em direção ao Reino de Deus.

Ecumenismo é ação conjunta de pessoas e grupos diferentes. É vivida no


caminho, e não em castelos. É busca de unidade, e não camuflagem das
divergências e negação das identidades. É proclamação da mesma fé, do
mesmo batismo e do mesmo Cristo (Ef 4,4-6).

Sem comunhão fraterna não há ecumenismo e sem ecumenismo não há


comunhão. Oferecer os bens materiais aos pobres é compromisso de todos os
cristãos e de suas Igrejas. A hipoteca social é também hipoteca ecumênica.
Ser ecumênico é transformar este mundo em um mundo de Deus, ou, como
sonhava Santo Agostinho, inspirado nos Atos, em uma Cidade de Deus.

Ser ecumênico é caminhar em direção ao outro como fizeram Cornélio e Pedro


(cf. Atos 10- 11).

“O ecumenismo não é uma opção para as Igrejas. O imperativo ecumênico


deve ser escutado e respondido em todas as partes. Essa resposta exige
necessariamente a formação ecumênica”[1].
Não se faz ecumenismo sem uma real mudança de coração e sem livrar-se de
alguns defeitos, como orgulho, intolerância, vaidade eclesial e pessoal,
ignorância religiosa, superficialidade na própria fé, entre outros.

Ecumenismo não é: “Ser uma única confissão religiosa. Desconsiderar as


diferenças confessionais. Camuflar as divergências. Considerar a minha
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verdade religiosa em detrimento das demais. Usar a Bíblia como instrumento
de discórdia e divisões”.
O livro dos Atos fala de Pedro e Paulo e da personalidade de cada um deles,
dos conflitos e sensibilidades ecumênicas, fala de comunidades, de intolerância
diante do novo, relata inúmeras prisões e fala muito pouco de doutrina. A
novidade maior é anunciar Jesus a todas as nações — ecumenismo puro, já
que a palavra deverá ser anunciada a toda terra habitada. A pregação já nasce
sob o signo do ecumenismo. As Igrejas devem ser ecumênicas por mandato
evangélico. Não é acessório nem uma pastoral a ser exercida só por alguns
membros ou especialistas. É tarefa de todos, com todos e para todos.
Inspirada, sem dúvida, no Espírito e guiada por ele, mas tarefa comunitária e
boa notícia contra uniformidades, domínios clericais e arrogâncias
denominacionais.

“A intenção primária da obra dedicada a Teófilo é mostrar a atuação da


salvação de Deus no caminho histórico da primeira missão cristã… Resulta
então que os Atos dos Apóstolos, por um lado, estão mais próximos de uma
catequese sobre a história do que de uma crônica oficial; por outro lado, são
mais aparentados com as histórias dos clássicos do que com as diversas
filosofias ou teologias da história dos autores antigos e modernos”.
Atos é chamado Evangelho do Espírito e pretende mostrar a Igreja em ato,
como uma comunidade de caminheiros que seguem os desígnios de Deus. O
livro quer fazer história mais que registrá-la. Lucas toma o mundo como ele é, e
não como deveria ser. Procura destacar a continuidade histórica entre
Jerusalém e Roma. Entretanto, há diversidades e diferenças entre as novas
Igrejas e o grupo da Palestina.
Trata-se de valorizar e harmonizar isso, sem uniformizar. Dois personagens
destacam-se nestes “atos ecumênicos” da Igreja Apostólica: Pedro e Paulo.
Não agem sozinhos. Estão cercados de amigos, discípulos, e, sobretudo, de
comunidades. Se não existe Pedro sem Jerusalém, também não podemos
pensar Paulo sem Antioquia e Corinto.

O coração do livro está no capítulo 15, que relata a Assembleia ou Concílio de


Jerusalém.

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Os vinte e quatro discursos grandes ou menores estão espalhados pelo texto
(um quarto da obra escrita), e, dentre eles, destacam-se os sete discursos
querigmáticos e apologéticos de Paulo que querem responder aos problemas
vividos pelas comunidades cristãs. Lucas escreve aos cristãos do segundo
século, remetendo-os ao período entre os anos 30 e 60 d.C. Olha o passado
com os olhos de sua Igreja[4].
O autor dos Atos quer mostrar que as promessas feitas ao povo de Israel estão
abertas para o universo ecumênico das nações pagãs. O autor quer assegurar
aos cristãos novos sua identidade de fé e superar as tensões existentes quer
no judaísmo, quer no ambiente externo da pregação. Assim os destinatários
são os cristãos que vêm do mundo dos pagãos. Usa da língua e da cultura
mais para construir que para fixar-se obsessivamente à sua verdade.

Sabemos que “o autor dos Atos é Lucas, homem culto, familiarizado com textos
clássicos e helenísticos e com um bom conhecimento da Bíblia grega conforme
a tradução dos Setenta; talvez seja um cristão de Antioquia e médico”[5].
O livro se estrutura em cinco grandes sessões ou blocos que contam
fundamentalmente os atos de dois apóstolos, Pedro (até o capítulo 12) e Paulo
(do capítulo 13 ao 28).

1. Origens da Igreja em Jerusalém, onde a questão ecumênica está no conflito


com o judaísmo legalista. O preço humano desse conflito serão as vidas
ceifadas de Estêvão (pelo ano 34) e Tiago (ao redor do ano 41).

2. Perseguição e missão ecumênica: de Jerusalém a Antioquia, onde a crise


ecumênica se situará no encontro das diversas identidades culturais dos
samaritanos, antioquenos e etíopes. Aqui vivemos a conversão de Paulo (em
torno do ano 36) e a perseguição de Pedro (pelo ano 41-42).

3. Primeira viagem e Concílio (entre os anos 48-50), sendo a questão-chave


no ecumenismo o debate em Jerusalém sobre a circuncisão e os costumes
judaicos. A proclamação de Pedro e o decreto conciliar abrirão caminho para a
liberdade ecumênica sem rupturas internas.

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4. Grande viagem e fundação das Igrejas na Ásia e na Grécia, sendo o tema
ecumênico central a inserção do Evangelho de Cristo no mundo cultural grego
e o confronto com as autoridades e estruturas imperiais de Roma.

5. Paulo prisioneiro, desde sua captura e prisão em Jerusalém (58) e Cesareia


e o complexo processo diante de Félix com a narração das peripécias da
viagem à capital do Império, Roma (no outono-inverno do ano 60), e sua prisão
domiciliar entre os anos 61-63.

1. Paulo de Tarso, exemplo prático


Paulo é o defensor de metodologia e pedagogia ecumênicas marcadas pela
abertura e pela superação de imposições rituais e legais. É o ator central do
livro. De perseguidor a evangelizador, vive na carne o drama das primeiras
divisões entre os cristãos. O clímax da crise ele vive na Igreja de Éfeso. A
experiência pessoal de Damasco irá impregnar-se em seus atos e palavras.
Sua conversão constitui-se na reviravolta histórica fundamental no movimento
cristão primitivo. O autor do livro dos Atos cita três vezes este episódio. Embora
divergentes, os três relatos pretendem legitimar a missão cristã entre os
pagãos e autenticar o papel de Apóstolo ao jovem de 25 anos. Embora não
faça parte do núcleo dirigente de Jerusalém, recebe instruções de um certo
Ananias, da periférica Igreja síria. Paulo une a Igreja dos pagãos (na leitura de
Lucas) à Igreja dos judeu-cristãos (na leitura de Marcos). Depois do que ele
viveu ali em Damasco, tudo será feito como uma grande tarefa ecumênica.

O “neoapóstolo ecumênico”, depois de ficar três dias sem ver, sem comer, sem
nada beber, está preparado para empreender o caminho novo. Escreve cartas
para animar e superar brigas e preconceitos. Fala do único corpo de Cristo em
suas epístolas e realiza viagens para costurar e compor um corpo firme e
unido. Paulo reconhece que todos têm a possibilidade de conhecer a vontade
de Deus e viver o Evangelho.

“Paulo tinha horror àquela uniformidade no agir, imposta em nome da fé. Não
gostava de gente que, por não entender nada do principal, se levantava em

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defensor de coisas secundárias, querendo definir por elas a ortodoxia de
alguém”[6].
Isso para Paulo não é uma concessão tática ou estratégia proselitista, mas seu
modo de viver a mensagem de Cristo. “Os judaizantes esperavam Igrejas
heterogêneas apenas em teoria”.
Paulo, entretanto, veste o cristianismo da roupa helênica para torná-lo
acessível à gente de seu tempo. Cura o licaônico aleijado de nascença (14,8-
20) e procura mostrar que é humano, e não o deus Hermes, que estaria a exigir
sacrifícios e ritos propiciatórios. Rasga sua veste, o que deve ter sido
incompreensível para o povo greco-pagão com quem se encontrava pela
primeira vez. Realiza o que hoje poderíamos chamar de pré-evangelização,
falando do Deus vivente e não ainda de Cristo. A multidão muda de lado e
apedreja Paulo que não morre, mas segue para Derbe junto com Barnabé.

“A visão religiosa ‘ecumênica’ de Paulo oferece a plataforma para um positivo e


fecundo diálogo com as religiões não cristãs. Isso vale de modo particular em
relação ao povo hebraico, do qual ele se considera filho do ponto de vista
humano-histórico, segundo a carne. Paradoxalmente, o mesmo Paulo, que é
considerado o ponto de ruptura com o hebraísmo, poderia tornar-se o elo de
uma nova ligação com o povo da primeira aliança”.

2. Atos ecumênicos
Façamos um breve percurso pelos vinte e oito capítulos de Lucas recolhendo
os atos e práticas ecumênicas presentes no livro e vividos na Igreja primitiva.

• O primeiro grande ato é o olhar retrospectivo que nos é anunciado em 1,1-5,


onde vemos o Ressuscitado ao lado do Pai. O Cristo vivo envia o Espírito que
age no mundo construindo comunidades. A garantia de uma instituição
animada pelo Espírito Santo que anuncia com liberdade é condição básica para
a pregação. Como nos lembraria toda a tradição patrística, agora é tempo da
Igreja, pois concluiu-se o tempo histórico de Jesus. Os Atos são os atos das
comunidades dos seguidores e companheiros de Jesus, que, após breve
período de espera (quase uma gravidez!), recompõem o grupo dos doze, e,
com a liderança de Pedro, partem em missa.

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• O segundo ato ecumênico é vivido pela experiência de Pentecostes (2,1-13),
onde o vento impetuoso já mostra a audácia de Deus e o estrondo da fé. O
falar em línguas (compreensíveis) de gente analfabeta deixa perplexos os
judeus. Os povos enumerados parecem formar um leque de direções
mostrando mais para onde estava indo a mensagem de Jesus do que de onde
ela partia. O Espírito gerando comunidades e presença em povos de distintas
línguas e culturas. Este é o núcleo de um sadio ecumenismo. Respeito às
diversidades e universalidade coesa em torno de um mesmo e único Espírito, o
de Jesus. Esta experiência no Espírito Santo, no fogo e pela expressão múltipla
de dons e línguas, quer realçar o caráter profético deste novo povo. Mais que
milagre e espetáculo, o que se quer mostrar é que os pobres anunciam o Deus
que transforma os corações e as estruturas. Três vezes o autor pergunta sobre
o significado deste evento (2,7.8.12). Alguns dirão que se trata de bebedeira de
vinho doce. Lucas apresenta o discurso de Pedro (o primeiro de três
pronunciados) como o momento introdutório da resposta de fé e uma
explicação razoável para o evento pentecostal. E diz com força e coragem:
“Deus constituiu Senhor e Messias este Jesus que vós crucificastes” (2,36b).
Jesus é o Cristo. Esse é o centro da mensagem cristã proclamada com vigor,
liberdade e coragem (parrhêsia, em grego). Esse momento é conhecido como
a hora do querigma (2,22-26). A ruptura com o passado situa-se no rito do
batismo “em nome de Jesus”. O detalhe final mostrando que os primeiros 120
haviam se multiplicado em três mil mostra o empenho do autor em ampliar
sempre mais a mensagem para que o cristianismo nascente adquira o tamanho
do universo sem distinção de raça e cultura.
• O terceiro ato ecumênico é relatado nos três resumos (2,42-47; 4,32-35;
5,12-16) da vida em comunidade. Palavras fortes como fidelidade, partilha,
venda de bens, distribuição, ensinamento dos apóstolos, alegria mostram para
as Igrejas hoje divididas o escândalo que isso representa e o ideal de unidade
vivido e querido pelos cristãos ecumênicos. Esse estilo ou modo de vida gera
entusiasmo e é a verdadeira fonte de uma espiritualidade libertadora. Afinal é
“uma criação espontânea do Espírito Santo dentro da Igreja”[9].
• O quarto ato é a cura do paralítico no pátio dos pagãos (3,1-10). Cura feita
com a riqueza de Pedro que não era feita nem de ouro, nem de prata, mas da
palavra valiosa que é o nome de Jesus. Pedro faz o segundo discurso dirigido

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aos judeus. A tensão é grande entre o grupo novato dos cristãos e a instituição
judaica. Pedro irá nos oferecer a base para a moderna objeção de consciência
e a defesa da liberdade de consciência.

• O quinto ato é expresso na construção de comunidades fora da Palestina,


de forma pluralista, descentralizada e onde as mulheres exerciam serviços
concretos na missão evangelizadora. O papel das mulheres é valorizado por
Lucas em seu Evangelho e também em Atos. Vemos inúmeras mulheres
vivendo a experiência ecumênica, como Tabita em Jope (9,31.39); Lídia, em
Filipos (16,15.40); Damaris, em Atenas; mulheres da alta sociedade em Corinto
e na Bereia (17,4.12); o casal Áquila e Priscila da cidade de Corinto, e, na
viagem do apóstolo a Éfeso, destaca-se a atividade e força de Priscila (18,26);
as quatro filhas virgens e profetisas de Filipe de Cesareia (21,8); e o destaque
inicial dado à comunidade originária de Jerusalém, onde estavam os doze junto
com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus (1,14); rejeita qualquer machismo
eclesiástico ainda hoje presente em nossas instituições religiosas e na forma
do exercício hierárquico de muitas comunhões cristãs. Ecumenismo também
precisa ser vivido nas questões de gênero e da relação entre homens e
mulheres nas Igrejas.

• O sexto ato é a organização de um fundo de solidariedade (coleta)


promovido entre as comunidades dos pagãos em favor da comunidade dos
judeus. Esse fato hoje se repete quando o Conselho Mundial de Igrejas (que
reúne os evangélicos) financia trabalhos e comunidades da Igreja católica.
Quando coletas de fundos são feitas pela Cáritas católica para apoiar projetos
de Igrejas protestantes, estamos plantando unidade. Os sete companheiros de
Paulo, na viagem para levar a coleta, hoje podem ser representados pelas sete
Igrejas membros do CONIC que realizam projetos em favor das comunidades
empobrecidas de nosso país. São estas as Igrejas que formam hoje a escolta
de honra do Apóstolo Paulo em sua viagem para Jerusalém: presbiterianos
unidos, metodistas, luteranos, anglicanos, cristãos reformados, ortodoxos
sirianos e católicos romanos.

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• O sétimo e fundamental ato ecumênico situa-se no acolhimento e batismo do
oficial romano convertido — Cornélio e toda a sua família (10,1-11,18). Esse
acontecimento exemplar é precedido de dois eventos miraculosos em Lida e
Jope. Em Lida um paralítico conhecido como Eneias é curado (9,32-35) e
assim todos os habitantes da região de Saron se convertem. Em Jope, Pedro
ressuscita uma mulher conhecida como Tabita ou Dorcas (gazela) (9,36-43).
Esse ato ecumênico exerce papel central no livro dos Atos e está conectado ao
Concílio Ecumênico de Jerusalém. A conversão de Cornélio antecipa a
novidade do Concílio de Jerusalém

3. Ecumenismo em ato
Um segundo excurso, em nossa viagem pelo livro dos Atos, será o de verificar
como decisões ecumênicas foram colocadas em prática pelos cristãos e por
suas lideranças e comunidades nascentes.

• O Concílio em Jerusalém vive as tensões entre Pedro e Tiago de um lado e


Paulo e Barnabé de outro. A versão escrita por Paulo em Gálatas diz que nada
mais fora imposto, mas Tiago propõe ao menos quatro normas rituais (At 15,1-
29). De toda forma, a missão de Paulo é aprovada. O texto de Lucas é menos
emotivo e mais distante do fato histórico. A carta que está expressa em Atos
15,23-29 deixa claro que, respeitadas as exigências inevitáveis, não se pode
impor nenhuma outra obrigação. A oração de Jesus para que a experiência de
comunhão fosse real (Jo 17,21), e não só símbolo ritual ou prece bem-
intencionada, foi profundamente valorizada por Lucas em Atos 2,44-45. Muitos
acreditavam que esse mandato prático não era necessário ou sequer oportuno.
Acreditavam que o judaísmo seria a única mediação histórica do divino entre
nós. A Igreja, entretanto, nasceu do encontro fecundo entre a mensagem e
valores cristãos e as culturas locais. A riqueza dos ritos orientais, celebrados
ainda hoje como o melquita, o maronita, o siro-malabar, os coptas
testemunham a riqueza dos dons, maravilhas e mistérios de Deus
diversamente distribuídos entre os seres humanos de todos os povos e nações.
No Concílio de Jerusalém o único compromisso assumido por Paulo foi a ajuda
aos pobres de Jerusalém (Gl 2,10).

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• As quatro viagens de Paulo (13,1-14,28; 15,39-18,22; 18,22-21,16 e 21,17-
28,16), nos lembram que a tarefa ecumênica se assemelha à corrida de um
atleta inteiramente dedicado à meta desejada. Quinze anos de corrida
missionária percorrendo cerca de 10 mil quilômetros mostram o ecumenismo
em ação. Os apóstolos, de forma particular Paulo, utilizam de todas as
estradas e caminhos possíveis para pregar sua mensagem. Vão sozinhos ou
acompanhados. Paulo naufraga, passa frio, é açoitado, preso, extraditado, mas
clama, proclama e reclama. Sempre como o servo de todos, encontra alguns
dispostos ao diálogo e outros completamente intolerantes. Vence a magia e a
religião de resultados (já naquela época havia religião da prosperidade!), mas é
perseguido duramente por isso. O anúncio ecumênico criava simpatizantes e
inimigos (13,48-50).

4. Conflitos ecumênicos internos e externos


Na comunidade primitiva inúmeros conflitos religiosos e ecumênicos foram
enfrentados quer pelos apóstolos, quer pelos cristãos com respostas
diferenciadas.

• “O primeiro conflito interno da Igreja, e o único mencionado por Lucas em


todo o livro, refere-se à questão da manutenção das viúvas helenistas” (6,1)[10].
• O incidente — ou controvérsia — vivido em Antioquia quando Paulo se
separa de Barnabé: este cristão originário de Chipre, que segue para sua terra
com Marcos, por outro caminho evangelizador (15,36-41 e no relato mais
dramático de Gl 2,11-14), e o próprio Paulo, que por questões táticas, segue
com Silas e depois Timóteo (cristão de Listra) pela Síria e, Cilícia (15,41-16-5).

• A incompatibilidade com o mago Elimas (13,4-12).

• O conflito com os artesãos da deusa Ártemis entre os quais Demétrio, e o


grave tumulto que se expandiu por toda a cidade (19,23-29).

• A jovem escrava possuída pelo espírito da adivinhação usada pelos seus


senhores (16,16- 40).

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• Os exorcistas judeus, filhos de Ceva, sumo sacerdote, e a queima de
cinquenta mil moedas de prata em escritos mágicos (19,11-20).

• Encontro com os discípulos de João Batista (19,1-7).

• Encontro e debate com Apolo, pregador alexandrino (18,24-28).

• Prisão de Estêvão (6,8-15) seguida de seu assassinato.

• A generosidade de Barnabé versus a fraude de Ananias e Safira (4,36-5,11).

• Apóstolos diante do Sinédrio (5,17-42).

• A ação dos missionários itinerantes e a pregação de Paulo.

• O conflito em Icônio e a fuga para Licaônia e arrededores (14,1-7).

• A conflitiva conversão do mago Simão e a tentativa de manipulação de Filipe


e Pedro (8,9-25).

• A morte do idólatra Herodes Agripa e o paradoxal crescimento da palavra de


Deus (12,20-25).

• A prisão de Paulo e Silas em Filipos (16,16-40) por razões político-religiosas.

5. Sonhos ecumênicos
O ecumenismo presente no livro é marcado por inúmeros sonhos de unidade:

• Que gente de outro grupo religioso pode falar de modo inspirado assim como
os membros de nossa Igreja? (19,1-7).

• A missão de Filipe e o sonho recebido em face do eunuco etíope (8,26-40)


demonstra a gratuidade da ação de Deus, e a concretização da velha profecia

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de Isaías 40,5: “Então se revelará a glória de Javé, e todo o mundo junto a
verá, pois assim falou a boca de Javé”.

• A alegria que se difundia pelas cidades que conheciam o Evangelho


ecumênico (8,8).

• A constituição da Igreja de Antioquia como uma comunidade mista de


cristãos de várias origens, identidades culturais e religiosas como modelo das
futuras comunidades urbanas do império (11,19-26). O centro de gravidade
passa de Jerusalém a Antioquia. Uma inovadora Igreja plural numa cidade
marcada pela corrupção moral e religiosa. É aí, em Antioquia, que os cristãos
(em grego, christianoi) pela primeira vez assim são chamados. Uma Igreja que
nasce do Espírito em meio de refugiados e perseguidos é sinal de esperança
em tempos de exclusão e idolatrias. O poder de Deus junto aos helenistas
nasce do sangue de um mártir, Estêvão.
• Os belos nomes usados nas Igrejas evangélicas até hoje têm raízes no livro
dos Atos. Assim temos: gente do caminho, irmãos, crentes, discípulos; santos e
cristãos.

• A cena emocionante de Rosa, jovem porteira da casa de Maria, mãe de


João Marcos, relembra o encontro de Jesus Ressuscitado e os discípulos e
também nos anima a construir encontros entre pessoas e povos considerados
mortos e separados há séculos. O beijo e o perdão mútuo de Paulo VI e
Atenágoras reafirmaram o sonho de reatarmos pessoas, Igrejas e tradições
depois de séculos de guerras e incompreensões religiosas.

• Deus chama Paulo em sonhos para ir à Macedônia, porta da Europa (16,9-


10) e sua futura viagem para Roma, capital do Império (23,11).

• Lucas faz questão de não esquecer os missionários menores como o


evangelista Filipe e suas quatro filhas profetisas que viviam em Cesareia (21,8-
9). Cita mesmo profetas desconhecidos como Ágabo, que anuncia momentos
de crise para o Apóstolo Paulo (21,10-14). Uma denominação cristã precisa
aprender a ouvir e conviver com seus inoportunos profetas e não se

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transformar em uma instituição de burocratas e funcionários eclesiásticos. Dizia
Dom Helder Câmara: “Ter ao próprio lado quem só sabe dizer amém, quem
concorda sempre, de antemão e incondicionalmente, não é ter um
companheiro, mas, sim, uma sombra de si mesmo”.

• A pregação no Areópago de Atenas (17,16-34) como grande exemplo de


abertura inter-religiosa e de diálogo com outro pensamento cultural. Já na
primeira frase Paulo destaca que vê, sob todos os aspectos os atenienses,
como “extremamente religiosos”. Paulo é modelo de cristão ecumênico capaz
de viver a inculturação a cada nova realidade: “Fiz-me grego com os gregos…”.
Desenvolve uma pregação ousada até para nossos dias e seu método continua
sendo válido também hoje.

# Conclusão

A Igreja Primitiva, apesar de suas diferenças e desafios, buscou a unidade em


sua fé e missão. Seu exemplo nos lembra que o ecumenismo não é apenas um
movimento moderno, mas uma parte essencial da história cristã. A busca pela
unidade continua a ser relevante nos dias de hoje, à medida que enfrentamos
novos desafios e oportunidades para colaboração entre as igrejas cristãs.

Paulo às vezes exagerava em seus discursos. Em Trôade, por exemplo, faz um


jovem chamado Êutico (que significa afortunado) cair morto da janela do
terceiro andar. Esse relato curioso e dramático da Eucaristia noturna pode nos
ajudar a acordar de tantos sonos litúrgicos em nossas assembleias e de tantos
cultos confessionais que não mais possuem a emoção do amor primeiro.

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Podem, até, fazer ressuscitar a fé ecumênica muitas vezes amordaçada em
nossas Igrejas — por meio de documentos oficiais —, autoproclamando-se,
muitas vezes, donas da verdade e não servidoras humildes do Espírito de
Cristo Jesus. A palavra de Paulo ao povo de Trôade é confortadora: Não vos
perturbeis! Ele está vivo de novo.

Assim também a tarefa ecumênica está vivíssima.

Acolher os irmãos de outras Igrejas com alegria festiva é a tarefa primeira


(15,4).

Anunciar a mensagem em que se crê com paciência, mas sem aprisionar nem
o interlocutor nem o evangelista. Ecumenismo e Evangelho são tarefas de
homens e mulheres livres (26,27-29).

Ao percorrer o livro dos Atos veio-me à mente o rosto sorridente do arcebispo


Helder P. Câmara, apelidado pelos amigos de Dom. Dizia ele: “Se discordas de
mim, tu me enriqueces, se és sincero e buscas a verdade e tentas encontrá-la
como podes, ganharei tendo a honestidade e a modéstia de completar com o
teu, meu pensamento, de corrigir enganos de aprofundar a visão”.

Assim, lendo os Atos dos Apóstolos, agiremos de forma ecumênica e não


seremos mais estranhos uns aos outros, mas membros da grande família de
Deus, apelidados de Teófilos (amigos de Deus). E amigos ecumênicos na
ação, nas palavras e orações.

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