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Seminário Teológico Interdiocesano São Pio X

História da Igreja Antiga

A DESCRIÇÃO DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA SEGUNDO SÃO JUSTINO (SÉC.


II)

Remígio Clemente Mbá

Docente: Pe Figueiredo

Maputo, Julho de 2021


ÍNDICE

Introdução......................................................................................................................................3

1. Quem é São Justino?..............................................................................................................3

2. Sobre a apologia de São Justino............................................................................................4

3. A eucaristia em meados do século II........................................................................................4

Conclusão........................................................................................................................................6

Bibliografia.....................................................................................................................................7

2
Introdução

O tema que em páginas subsequentes se desenvolve tem como titulo “a descrição da celebração
eucarística segundo S. Justino (séc. II) ”. Este tema é proposto no âmbito do estudo da disciplina
de “História da Igreja Antiga” como cadeira curricular e crucial no curso de Teologia ministrado
nesta Instituição.
No decurso deste trabalho faz-se um estudo arqueológico-histórico sobre a celebração eucarística
dentro do rito latino da Igreja Católica na religião cristã, desde a antiguidade aos nossos dias,
cujo recurso principal é o livro da “primeira apologia de São Justino Mártir”.
Por questões de método, far-se-á um estudo descritivo e interpretativo que darão um enfoque de
natureza qualitativa ao trabalho. O objetivo geral deste trabalho versa entorno de, compreender a
celebração eucarística nos nossos dias, a partir da descrição que dela se faz na antiguidade.
O trabalho comporta uma estrutura de três partes. A introdução que conta com a biografia de São
Justino; o desenvolvimento do tema, valorização e crítica e a conclusão. É de ressaltar que o
estudo deste tema não pretende trazer abordagens comparativas sobre a celebração eucarística na
antiguidade e na contemporaneidade, nem muito menos pretende delimitar a abordagem do
assunto, apresentando como absoluta, a informação presente.

1. Quem é São Justino?


Justino Mártir, filho de Prisco e neto de Braquio. Nasceu em Flávia, Neapolis em Samaria, a
antiga Siquém e actual Neplusa, em torno ao ano 100, como varão gentil e não circunciso, teve
uma formação filosófica que o levou ao platonismo e possivelmente formou parte dos grupos de
prosélitos ou temerosos de Deus, assistentes das sinagogas locais. Foi conhecido também como
Justino de Roma, porque viveu desde aproximadamente do ano 138 na cidade eterna e sofreu aí o
martírio no ano 165 ou 166, provavelmente sob o pontificado de Aniceto. É distinguido assim
também como filósofo porque ele mesmo sustém que foi a sua profissão transumante durante
parte de sua existência, embora mais tarde abrisse uma escola domestica na cidade.

3
2. Sobre a apologia de São Justino1
A chamada “primeira apologia” de São Justino é uma obra laudatória cristã antiga, escrita ao
emperador romano António Pio, aos seus filhos, e ao Senado romano, nos anos 150-155 d. C.
A apologia de São Justino trata entre numerosos assuntos temas sobre a celebração da liturgia, a
Eucaristia e sobre a reunião e adoração dos Domingos (Cap.66, 67). Igualmente descreve sobre
costumes como o Baptismo e profecias sobre Jesus a partir do Antigo Testamento (Cap. 31, 32,
41, 48) Entre os crimes atribuídos aos cristãos, estava o do ateísmo (os cristãos negavam o
politeísmo e culto aos emperadores) e corrompimento do ordenamento social.

‹‹Al emperador Tito Elio Adriano Antonino Pío (...) y a todo el pueblo romano: en
defensa de los hombres de toda raza injustamente odiados y perseguidos, yo Justino, uno
de ellos, hijo de Prisco, hijo de Bacquio, natural de Flavia Neapolis en la Siria
Palestina, he compuesto este discurso y esta súplica››. (Apología I 1.1)2

3. A eucaristia3 em meados do século II


Para responder aos ataques daqueles que acusam o culto cristão de imoralidade, Justino, em
meados do século II, dirige ao imperador Antonino uma Apologia, isto é, uma carta de defesa
dos cristãos.
‹‹Não há nada de secreto entre nós, “diz ele”, eis como celebramos nosso culto››. Dessa forma,
São Justino traz ao nosso conhecimento o rito do sacramento do baptismo e a sagrada Eucaristia
desde no século II.
Depreender-se-ão facilmente nesse texto as estruturas da celebração eucaristia, que ainda é a
nossa nos dias de hoje: leituras bíblicas, homilias, oração universal, oração eucarística,
comunhão.
- ‹‹No dia a que se dá o nome de dia do sol (cf. em inglês: sunday e, em alemão: Sonntag), todos,
nas cidades e no campo, se reúnem num mesmo lugar: lêem-se as memórias dos Apóstolos e os
escritos dos profetas, tantos quanto o tempo o permitir. Quando leitor terminou, aquele que
preside faz um discurso para advertir e para exortar à imitação desses belos ensinamentos. Em
seguida, nós nos levantamos e rezamos em conjunto, em, voz alta.

1
Ver, JEAN COMBY, para ler a história da igreja, p53
2
Extraído da apologia de S. Justino, na sua versão original e na língua espanhola antiga.
3
Justino, primeira apología, 67-66, trad.MM e Lejay, pp 143-145
4
Depois, quando acaba a oração, traz-se o pão, juntamente com o vinho e a água. Aquele
que preside eleva aos céus as orações e as eucaristias (acções de graças), tanto quanto possível, e
todas as pessoas respondem com a aclamação Amém. Depois, ocorrem a distribuição e a divisão
das coisas consagradas para cada um e é enviada aos ausentes. Pelo ministério dos diáconos, a
parte que lhes cabe. Os abastados que desejam fazer doações doam livremente o que querem e o
que é recolhido é entregue aquele que preside, o qual dá assistência aos órfãos, às viúvas, aos
doentes, aos indigentes, aos prisioneiros, aos hóspedes estrangeiros (...). Nós nos reunimos no dia
do sol porque esse é o primeiro dia, no qual Deus, tirando a matéria das trevas, criou o mundo e
no qual Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos››.

Um pouco antes Justino elucidara as condições para participar da Eucaristia, que não é uma
refeição comum.
‹‹Damos a esse alimento o nome de Eucaristia e ninguém pode participar dela sem que
declare a verdade de nossa doutrina, sem que tenha recebido o banho da remissão dos pecados e
da regeneração e sem que viva de acordo com os preceitos de Cristo. Pois, nós não consideramos
esse alimento como um pão comum e como uma bebida comum.
Da mesma forma que, pela virtude do Verbo de Deus, Jesus Cristo, nosso Salvador, fez-
se carne e sangue para a nossa salvação, assim também o alimento consagrado pela oração
formada das palavras de Cristo, e que deve nutrir nossa carne e nosso sangue, a carne e o sangue
do Verbo encarnado (...) ››

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Conclusão.
Justino de Roma é o primeiro escritor cristão que manteve o vínculo indissolúvel entre a fé e a
razão. Neste sentido afirma-se e confirma-se a natureza universal e única do pensamento cristão
e corresponde-lhe o título de legítimo primeiro filósofo católico. A declaração implica dois
supostos: a admissão de elementos aceitáveis da gentileza da cultura helénica e bárbara e o
reconhecimento da introdução cristã na Lei judaica e os profetas (Sagradas Escrituras do A.T., e
Livros proféticos). Não existe ruptura entre o antigo e o novo, mas sim respeito e superação.
A capacitação desta apologia exige a dissolução da heregia que se opõe à potência divina ao
serviço de sua contra-potência (satanás e os démones) e a assimilação progressiva da filosofia
gentil e a fé dos Judeus para a sua legítima maturidade e o reconhecimento da identidade cristã
perante os gregos e os Judeus.
A piedade humana manifestada no culto e a moral são esclarecidos pela filosofia e lhe são
complementários, mas não interiores a ela. Por isso, ser filósofo católico encerra ao mesmo
tempo em Justino ser o fundador da heresiologia e de uma nova apologética, que é tanto
amostração da própria identidade como mensagem missionaria.

6
Bibliografia

D. R. BUENO, Padres Apostólicos y Apologistas Griegos del siglo II, Madrid: BAC, 2002.

J. COMBY, Para ler a Historia da Igreja I. das origens ao século XV, ed. Loyola, São Paulo,
1993

P. BOBICHON, Justin Martyr : étude stylistique du Dialogue avec Tryphon suivie d’une
comparaison avec l’Apologie et le De resurrectione, Recherches augustiniennes et patristiques
34 (2005), pp. 1-61 disponivel em online, consultado no 13/06/2021 às 14:03hr, por Remígio
Clemente.

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