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Alexandria nos primeiros três séculos.

Lista de literatura:
Barnard, L.W., St. Stephen and early Alexandrian Christianity (1961) In: NTStudies 7, 31ev;
Mclelland, Joseph C., The Alexandrian Quest of the Non-Historical Christ (1968) In: CH 37/4, 355-364;
Grant, Robert H., Early Alexandrian Christianity (6/1971) In CH 40/2
NN, Eusebius and the Alexandrian School (6/1971) CH 40/2, 135ev;
Van den Broek, R., Niet-Gnostisch Christendom in Alexandrië voor Clemens en Origenes (1979) NTT 33, 222ev;
Metzger, Bruce, The Canon of the NT (1987); p. 267etc
Bruce, F.F., The Alexandrian Fathers (1988) In: F.F. Bruce, B1, 186-196;
Dawson, David, Allegorical Readers and Cultural Revision in Ancient Alexandria (1992).
Baines, John, Alexandria (1996) In: John Baines, B2, 169;
Levi, Peter, Alexandria (1996) In Peter Levi, B2, 170ev;
Haas, Christopher, Alexandria in Late Antiquity: Topography and Social Conflict (1997);
Lopes, Augusto Nicodemos, Alexandrinos e Antioquinos (2003) In: A. Nicodemos Lopes, B2, 129ev;
Egitomania, Alexandria, o berço da ciência (2006) Egitomania 13, 734ev;
NN, A Biblioteca de Alexandria (2006) Folio, B1, 87
Tilly, Michael, Cidade da LXX (2009) In: Michael Tilly, B1, 43-53;

Robert H. Grant, Early Alexandrian Christianity.

Grant começa a dizer que toda a história de Alexandria dos primeiros séculos é conhecida por meio da História
Eclesiástica de Eusébio. Muitos consideram a obra de Eusébio uma historiografia verdadeira, mas Grant tem
problemas com isso. Especialmente se Eusébio fala sobre Origenes. Ele acha que Eusébio fez uma hagiografia
apologética em favor de Origenes, e o brilho dele ilumine tanto Alexandria como Cesárea, a cidade nativa de
Eusébio. Os Volumes VI e VII da História Eclesiástica, quando fala sobre Origenes, devem ser lidos com cuidado.
Origenes é a personagem principal da Escola da Alexandria. O Cristianismo em Alexandria surgiu do
Judaísmo. Havia uma influência forte na escola de Alexandria do Platonismo e da filosofia de Pitágoras.
Especialmente as ideias de Pitágoras eram populares. A influência de Pitágoras atingiu os seguidores de Valentino,
como também o mais ortodoxo Pantaenus. Com certeza a filosofia de Pitágoras era forte no fim do segundo século.
Sabemos isso observando a assim chamado Sentencias de Sextos, uma coleção de dicas de Pitágoras, que foram
modestamente cristianizadas e usadas por Origenes e outros cristãos. E registramos a mesma influência nos escritos
de Clemente de Alexandria. Ele desse que até Philo era um seguidor de Pitágoras, porque ele aplicou a
numerologia de Pitágoras na interpretação do Decálogo. Ele usou também o método de Alegoria de Pitágoras. Essa
admiração de Pitágoras veio dos Judeus helenísticos (Philo e outros). Eusébio fica calado sobre isso, mas com
certeza Origenes foi fortemente influenciado por Platô e Pitágoras. Origenes junto com Heraclas foram treinados
por Ammonius Saccas, um mestre Neo-pitágoreano. Origenes ensinou na escola de Alexandria a exegeses de textos
inspirados. E ele sempre viu um sentido mais profundo, tipo platônico, nas escrituras. Ele continuou com esse
método quando fugiu para Cesárea. Gregório Thaumaturgo falou sobre essas aulas. Depois das aulas introdutórias
e filosóficas, os alunos podiam começar a ler as sagradas palavras das Escrituras e começar a entender o que era
obscura e enigmática.
Após a saída de Origenes de Alexandria, chegou Dionísio, o bispo de Alexandria, que falou também
positivamente de Platô e Pitágoras. Na mesma época vivia Anatólio, bispo de Laodiceia (269 -?), que era de origem
de Alexandria. Ele era o primeiro diretor da Escola de Aristóteles em Alexandria. Anatólio escreveu um estudo
sobre o sentido numérico dos primeiros dez números (conforme Pitágoras!).
A alegoria foi um método legitimo em Alexandria. E qualquer teólogo, que sabe usar a alegoria,
encontrará o sistema filosófico dele na bíblia. Clemente de Alexandria já encontrou ideias platônicas na bíblia. Os
estudiosos de Alexandria usavam a filosofia eclético daquela época para explicar a sua religião. Eles acreditaram nas
mensagens secretas e mais profundas nos textos da Bíblia e usava a alegoria para descobrir o sentido mais
profundo.

Van den Broek, R., Niet-Gnostisch Christendom in Alexandrië voor Clemens en Origenes (1979) NTT 33, 222ev;
Tese: O que consideramos heresia hoje pode ser tido como ortodoxia no passado!
De acordo com W. Bauer o Cristianismo em Alexandria no segundo século se formava de dois grupos: dos judeus e
dos gentios, que viviam anteriormente num sincretismo e gnosticismo. O primeiro seguia o Evangelho dos Hebreus
e o outro o Evangelho dos Egípcios. O Cristianismo no segundo século era gnóstico (quer dizer o que?) e a situação
mudou gradualmente desde o episcopado de Demétrio (189-231).
Clemente de Alexandria poderia ser considerado ‘ortodoxo’, mas era fraco. Origenes já era mais
‘ortodoxo’, mas finalmente foi expulso por causa das ideias heréticas dele. Bauer é antiquado. Desde Bauer
descobrimos os documentos de Nag Hammadi (1946). Van den Broek analise três desses documentos: Os
Provérbios de Sexto, Autênticos Logos, e Os ensinamentos de Silvano.
1) Os Provérbios de Sexto.
O material é de origem não-cristão, mas da filosofia de neo-pitágorasistas A obra serve para apontar
o caminho que leva ao estado perfeito no sentido espiritual e moral. .
2) O Autênticos Logos.
O documento não é gnóstico, mas platônico. Havia cristões que combinavam a filosofia de Platão
com a fé em Cristo. Isso se manifesta quando se diz que a origem do mundo depende da vontade de
Deus. E o elemento platônico se encontra na doutrina sobre a alma. Ele faz uma distinção entre a
alma racional, a alma espiritual e alma material. Uma distinção platônica.
3) Os ensinamentos de Silvano.
Parece uma obra cristã, porque fala sobre Jesus Cristo.
Clemente de Alexandria e Origenes foram fortemente influenciados pela filosofia grega (Platão e Pitágoras). A Bíblia
foi lida de acordo com a hermenêutica de Philo, que foi fortemente influenciada pela filosofia grega. O físico foi
avaliado como bem baixo, e a ressurreição físico foi espiritualizada. A libertação da alma aconteceu pela ascese e
pelo Gnosis, que dependia do poder inspirativo de Cristo, o Logos. Essa visão estava bem perto da teologia do
Doscetismo.
A estrutura eclesiástica de Egito era diferente em comparação com outras regiões (menos hierárquica, e
por causa disso mais misturado; a ortodoxia crescia somente após a centralização do poder de Demétrio!).
Os provérbios de Sexto e Autênticos Logos são adaptações cristãs do material filosófico grego. Tanto de
Pitágoras, como também de Platão. A tese de Bauer que houve um desenvolvimento em que diminuiu o
Gnosticismo não é correto no sentido que não houve um Gnosticismo dentro da igreja, mas, sim, uma influência
forte da filosofia grego. (Sincretismo?).

Dawson, David, Allegorical Readers and Cultural Revision in Ancient Alexandria (1992). Veja a avaliação do livro
por Joseph W. Trigg em CH 63/2, p. 254etc

Dawson quer provar que a antiga alegoria serve, não somente para interpretar um texto, mas também para usar
essa interpretação para reinterpretar a cultura e a sociedade. Ele observou três pessoas: Philo, Valentino e
Clemente de Alexandria. Eles combinam por dois motivos; em primeiro lugar, porque viviam todos os três no
ambiente cultural da antiga cidade de Alexandria durante um período de 150 anos; em segundo lugar porque
compartilharam o mesmo método de interpretar a Bíblia conforme os princípios da filosofia Platônica. Eles são
apresentados como três métodos paradigmáticos da interpretação bíblica. Philo mantem a distinção entre o
comentário dele e o texto sagrado; Valentino dissolve a distinção entre o texto e o comentário dele, que serve a
visão particular dele; e Clemente subordina o exto sagrado a voz do divino Logos, que fala por meio dele.
O primeiro capítulo coloca a Alegoria antiga no contexto da hermenêutica moderna do texto e começa a
defender a tese dele que a Alegoria pode, mas não necessariamente, oferecer um caminho para criticar a cultura.
Ele defende que a cultura Helenística facilitou (por meio da filosofia de Platô e Pitágoras), mas não mandou a
Alegoria. Os exegetas judeus e cristãos optaram de proposito pelo uso da Alegoria, porque essa lhes deu a
possibilidade de revisar a cultura Helenística. Essa tese é fortalecida no segundo capítulo onde Dawson quer provar
que na obra de Philo, que não foi Platô que revisou Moisés, mas Moisés revisou Platô! Por meio de subordinação e
reinterpretação, Philo procura preservar a particularidade da identidade religiosa, social e política dos Judeus,
defendendo o texto literal e insistindo que a Lei deve ser guardada literalmente, enquanto pode ser lida
alegoricamente.
No terceiro capítulo Dawson fala sobre Valentino, que é o autor do “Evangelho da Verdade”, um texto que
foi descoberto em Nag Hammadi. Ele demonstra que Valentino apaga a linha entre texto e comentário, igual como
o prologo do evangelho de João reinterpreta o início de Gênesis. A interpretação se torna uma nova composição. O
método de interpretação por meio de Alegoria é diferente e distinto, porque a autoridade desse método está ligado
com a reinvindicação da autoridade particular dele.
No quarto capítulo Dawson apresenta Clemente, que representa um “Gnosis domesticado”. O modo de
Clemente de ler qualquer texto (seja literatura clássica, seja o LXX, seja o NT) é pela subordinação desses textos a
um discurso divino mais profundo, que é o novo cântico do Logos (veja o Protrepticus de Clemente). A Bíblia é
diferente em comparação com outros textos, porque a voz do Logos se manifesta mais plena e clara. Porém ele
encontra esse sentido mais profundo tanto nos textos clássicos como também nos textos bíblicos.
Dawson também oferece uma nova avaliação da Alegoria, que serve na Hermeneutica moderna para
apresentar a leitura e o entendimento pessoal do leitor. Ele é mais positivo a respeito da Alegoria, enquanto
antigamente a Alegoria foi considerado como arbitrário e falso em relação ao texto. (AdG: Quem usa a Alegoria, usa
o texto como o ventríloquo usa a fantocha para falar; o texto serve como cabide para expor os seus pensamentos,
que tem nada a ver com o sentido literal do texto).
Quem faltou aqui é Origenes, que é também de Alexandria e usou também a Alegoria. Ele é mencionado
no livro de F.F. Bruce, The Canon of Scripture (1988)

Bruce, F.F., The Alexandrian Fathers (1988) In: F.F. Bruce, B1, 186-196;
O livro de Bruce é interessante, porque fala sobre os pais de Alexandria, porém se limita a falar sobre as ideias que
eles tinham a respeito do Cânon. Apesar disso, Bruce fala também sobre Valentino e a escola dele (cap. 10), sobre
Eusébio de Cesárea (cap. 16) e Atanásio (cap. 17), que era Bispo de Alexandria na época que o Códice Sinaítico e o
Códice Vaticano foram escritos em Egito!! (Pergunta: Atanásio lia a Bíblia de acordo com o texto Sinaítico ou a
Majoritária?)
Bruce começa com o testemunho de Tertuliano, que disse: “Existem duas maneiras de deixar as Escrituras
sem valor. Por um lado aquela de Marcio: ele usou a faca para cortar e tirar das Escrituras as partes que não
combinam com a opinião dele; por outro lado aquela de Valentino, que usa o “instrumentum inteiro” (= o NT
completo), porém o perverte pelas interpretações erradas dele”.
Valentino vivia na primeira parte do segundo século. Ele veio de Alexandria e foi para Roma (AD 135-160).
Ele usava a Alegoria como método de interpretação da bíblia. Um método que ele aprendeu em Alexandria, que
estava sendo influenciado pela filosofia de Platô e Pitágoras e pelas ideias Gnósticas (?? Tem que defini-las). As
ideias de Valentino conhecemos melhor hoje em dia, por meio dos manuscritos que foram descobertos em Nag
Hammadi. Temos dois documentos, que foram provavelmente escritos por Valentino: 1) O Evangelho da Verdade; e
2) A carta de Rheginus sobre a Ressurreição.
O Evangelho de Verdade oferece Alegoria, o que indica que o texto tinha autoridade e um certo nível de
inspiração. O texto era sagrado e servia para oferecer uma interpretação mais profunda ou espiritual por meio da
Alegoria, independente do fato se a interpretação é aceitável ou não. (Veja por exemplo a interpretação da
parábola de Mt 18:12etc sobre a ovelha perdida. As ovelhas simbolizam a humanidade que anda em ignorância e
até o número 99 tem um sentido especial.). A Carta de Rheginus é uma interpretação de Capitulo 15 da carta aos
Coríntios. A carta é de Paulo e tinha autoridade e servia para ser interpretada espiritualmente.
Ptolemy, o aluno principal de Valentino e o substituto dele na escola, reconheceu a autoridade suprema
dos escritos do NT, se foram apropriadamente interpretados (i.e. de acordo com as ideias de Valentino!);
Irineu, que vivia no segundo século, e que é de origem de Ásia menor (Antioquia), foi o porta-voz contra a
escola do Gnosticismo. Os Gnósticos disseram que eles preservaram o ensino original dos apóstolos; a tradição foi
dada aos discípulos selecionados que eram dignos e doados para receber esse ensino. Irineu se dedicou a examinar
aquelas reinvindicações e estabeleceu marcas que serviam para guardar a tradição apostólica.
Bruce fala sobre os três pais de Alexandria: Clemente de Alexandria, Origenes e Dionísio. Dionísio
substituiu Origenes, quando saiu de Alexandria e foi para Cesárea (AD 231). Dionísio foi um aluno de Origenes e se
tornou Bispo de Alexandria (247-265). Dionísio se defendeu contra um colega Bispo em Egito, que se chamava
Nepos. Nepos atacou Dionísio por causa do método dele de usar a Alegoria para interpretar o texto bíblico,
especialmente interpretando o livro de Apocalipse, que Nepos interpretava literalmente. Dionísio não somente
defendia o método alegórico, mas ele também usou uma forma de crítica literária, dizendo que o autor do
Apocalipse não era o João de Evangelho, mas um outro João, porque o estilo e o vocabulário eram muito diferentes.

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