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INSTITUTO CATÓLICO DE ESTUDOS SUPERIORES DO PIAUÍ – ICESPI

DISCIPLINA: Escritos Joaninos e Cartas Católicas


PROFESSOR: Pe. Clodomiro

O GÊNERO LITERÁRIO DENOMINADO “APOCALÍPTICO”

Introdução

Um pressuposto à interpretação de um texto é a identificação do seu gênero literário.


Um intérprete sempre inicia com a pressuposição sobre o gênero de um texto, pois não pode
haver compreensão alguma do texto, sem ao menos uma noção implícita do seu gênero
literário. O gênero literário corresponde a um grupo de textos escritos marcados por
características distintivas recorrentes, que constituem um padrão de escrita reconhecível e
coerente. Um gênero é, portanto, identificável pelas semelhanças recorrentes entre um número
de escritos. Semelhança não implica necessariamente relações históricas, como se os textos
listados sob um mesmo gênero literário tivessem que derivar de um protótipo comum. A
semelhança à qual nos referimos aqui é especialmente aquela de matiz fenomenológico,
embora algumas implicações para a história do gênero devam emergir da discussão 1.
A obra em análise é comumente denominada com o seu primeiro termo, como
acontece com outros escritos. O substantivo apokálypsis, “revelação”, deriva do verbo
apokalypto, que significa “revelar”. A expressão aparece em 18 passagens do Novo
Testamento, com o sentido de revelação (Gl 1,12; 2,2; 2Cor 12,1.7; Ef 1,17; 3,3) ou referindo-
se à manifestação pública de algo antes escondido como, por exemplo: do Cristo em sua vinda
(1Cor 1,7; 2 Ts 1,7; 1Pd 1,7.13; 4,13), do anticristo em pessoa (2Ts 2,3.6.8), do justo na
glória de Cristo (Rm 8,18). Todavia, o único escrito neotestamentário introduzido como um
“apocalipse” é o Apocalipse joanino. Não se sabe, porém, se a palavra denota ali um tipo
especial de literatura ou se é apenas utilizada no sentido geral de “revelação”. Antes de se
passar ao gênero literário do Apocalipse, convém que se dê uma palavra acerca de alguns
aspectos do gênero chamado “apocalíptico”.

1
COLLINS, John J. Introduction: towards the morphology of a genre. In: ______ (Ed.). Apocalypse:
the morphology of a genre (Semeia 14). Missoula: The Society of Biblical Literature, 1979. p. 1.
2

Definição de “apocalipse”

A presente investigação trata exclusivamente da apocalíptica judaica e cristã, de onde


provém a maioria dos apocalipses, sem discutir a possibilidade da existência de tal fenômeno
literário na cultura greco-romana e persa. Em 1822, o estudioso alemão K. I. Nitzsch cunhou
o termo “apocalipse” para o gênero. Todavia, o primeiro crítico que tentou identificar as suas
convenções foi Friedrich Lücke, que publicou um estudo de literatura apocalíptica em 1832.
Portanto, embora a designação de certas obras judaicas e cristãs como apocalipses já exista
desde a Igreja primitiva, a tentativa de classificação literária é moderna e cada definição que
se dá ao gênero vem acompanhada de muito debate.Os autores parecem concordar, porém,
com a tese de Paul Hanson, segundo a qual as configurações básicas do pensamento
apocalíptico e a sua matéria prima já se encontram na profecia pós-exílica do final do século
VI a.C. (ex.: Ag; Zc; Ez 40–48; Is 24–27; 56–66)2.
O grupo do Apocalipse do Projeto de Gêneros da Society of Biblical Literature seguiu
o processo de construção do gênero apocalíptico por analogia com o Apocalipse joanino. O
trabalho começou com a reunião das obras consideradas pelos estudiosos modernos como
apocalipses, a fim de se catalogarem as suas características de forma e conteúdo. Chegou-se,
então, à conclusão de que existem elementos que são constantes em cada obra designada
como um apocalipse. O resultado da pesquisa foi publicado em Semeia 14 (1979) e a
definição do gênero coube ao editor da pesquisa, John Collins. Esse estudioso definiu como
“apocalíptico” o gênero de literatura revelatória que possui uma estrutura narrativa, no qual
uma revelação é dada a um receptor humano, através de um ser sobrenatural, que desvenda
uma realidade transcendente, que é tanto temporal, na medida em que contempla a salvação
escatológica, quanto espacial, na medida em que envolve outro mundo sobrenatural 3.
A definição acima equivale – nas palavras do próprio Collins – à estrutura do gênero
apocalíptico, que permite reconhecer os apocalipses como uma classe distinta de escritos 4.
Elisabeth Fiorenza fala da dificuldade em se identificar aquilo que é peculiar à literatura
apocalíptica, já que esse tipo de literatura utiliza todas as formas tradicionais de liturgia, mito
e profecia, transformando-as em uma nova forma literária5. Pois bem, os elementos
constitutivos da definição apresentada por Collins não são exclusividade do gênero

2
COLLINS, A imaginação apocalíptica, p. 48.
3
COLLINS, Introduction, p. 9.
4
COLLINS, A imaginação apocalíptica, p. 35.
5
FIORENZA, Elisabeth Schüssler. Composition and structure of the book of Revelation. The Catholic
Biblical Quarterly, Washington, v. 39, n. 3, p. 344-366, July 1977.p. 356.
3

apocalíptico. Esse não é constituído por um ou mais temas distintivos, mas por uma
combinação distintiva de elementos que também podem ser encontrados em outros gêneros
literários. A palavra-chave para a definição é “transcendência”: o modo de revelação requer a
mediação de um ser sobrenatural, já que ela não se enquadra no compasso do conhecimento
humano6. O apelo à origem sobrenatural da revelação fornece uma base de segurança e
orientação, além de conferir autoridade ao texto apocalíptico.
Collins, evidentemente, tenta elevar a sua definição a um nível de generalização que a
torne aplicável também a alguns escritos gnósticos, greco-romanos e persas. Porém, a
definição da versão judaica do gênero requer desdobramentos que evidenciem a sua forma, o
seu conteúdo e a sua função7. Do ponto de vista formal, o escritor apocalíptico compõe sob
um pseudônimo (um vulto da tradição judaica), em primeira pessoa, descrevendo uma visão
(sonho ou êxtase ou rapto celeste) e fazendo discursos de despedida, exortações, orações e até
mesmo recitando hinos. O conteúdo: mostra uma era presente, desprezada e vista com
pessimismo, pois se encontra sob o domínio de Satanás, e uma era vindoura, exaltada como
um tempo de maravilhas; considera o todo do mundo e das pessoas, não apenas os judeus,
destacando a ressurreição e o julgamento individuais; ensina que Deus preordenou todas as
coisas, segundo um plano, inclusive os eventos do fim iminente (eschaton). Finalmente, os
apocalipses têm a função de motivar o leitor/ouvinte a plasmar a sua visão de mundo e,
consequentemente, o seu agir segundo a perspectiva transcendente.

Escatologia apocalíptica

No século XIX, o termo “escatologia” começou a ser utilizado para designar a parte da
teologia sistemática que trata do futuro individual (morte, ressurreição, julgamento, vida
eterna, céu e inferno) e dos tópicos relacionados com as expectativas coletivas de Israel (vinda
do Messias, grande tribulação, ressurreição, julgamento final, reino messiânico temporário e
recriação do universo) e da Igreja cristã, que adota as expectativas de Israel, subordinando-as
à esperança da segunda vinda de Cristo. Os estudiosos geralmente distinguem entre
“escatologia profética” e “escatologia apocalíptica”, destacando seja a continuidade, seja a
mudança que a segunda opera em relação à primeira. A escatologia profética é possuidora de

6
COLLINS, Introduction, p. 10.
7
As características apresentadas a seguir resultam de uma confluência das ideias de Philipp Vielhauser
(1965) e de David Hellholm (1986), referidas respectivamente por THOMPSON, The book of
Revelation, p. 18-19 e AUNE, David E. and Christian Apocalyptic. Word & World, Saint Paul, v. 25,
n. 3, p. 233-245, Summer 2005. p. 234-235.
4

uma perspectiva otimista, que mostra Deus atuando através de processos históricos e que, até
mesmo, antecipa a restauração das condições primordiais da existência humana no mundo
(cf., por exemplo, Is 2,4)8.
A escatologia apocalíptica, ao invés, é pessimista em relação à ordem presente, que é
vista como domínio temporário de Satanás e seus agentes e que há de ser substituída por Deus
pela ordem edênica anterior à queda9. A cosmovisão apocalíptica diz que a vida humana está
situada em um contexto que é modelado pelo mundo transcendente. A escatologia
apocalíptica visa a esse mundo transcendente, apontando para um tipo de existência humana
radicalmente distinta da atual, na qual todos os percalços, inclusive a morte, serão superados.
O conteúdo escatológico da revelação apocalíptica vislumbra, portanto, o outro mundo, que é
a fonte do conhecimento renovado e da salvação futura10. Porém, é importante perceber que
nem todos os apocalipses trazem uma escatologia voltada ao cenário do final da história.
Existem também aqueles (3Baruc, Apocalipse de Sofonias) em que a escatologia assume
simplesmente a forma de um julgamento individual pós-morte, sem referência ao final dos
tempos11. Seja como for, a esperança escatológica apocalíptica está respaldada na retribuição
para além das fronteiras da história.

Linguagem apocalíptica

D. S. Russell diz que os autores apocalípticos liberam de tal modo a imaginação, em


uma linguagem extravagante e exótica e em imagens fantásticas e bizarras, que se pode
mesmo afirmar que a linguagem própria da apocalíptica é o “simbolismo”. Uma parte desse
simbolismo brota da imaginação fértil dos autores e a outra afunda as suas raízes em um
passado longínquo. Alguns símbolos apocalípticos são tomados diretamente do Antigo
Testamento, enquanto outros provêm do imaginário mitológico antigo12. Quando se fala de
referências mitológicas na literatura apocalíptica, se está aludindo aos motivos literários que
derivam originariamente das histórias religiosas do mundo do Oriente Próximo antigo e do
mundo greco-romano. Isso não significa, porém, que os mitos tenham servido como fonte
imediata à imagética apocalíptica, mas apenas que eles se encontram na base da tradição que a

8
AUNE, Understanding Jewish and Christian Apocalyptic, p. 237.
9
Ibid., p. 236.
10
COLLINS, Introduction, p. 10-11.
11
COLLINS, A imaginação apocalíptica, p. 32.
12
RUSSELL, D. S. The method and message of Jewish apocalyptic. London: SCM Press Ltd., 1964.
p. 122-123.
5

modelou. Também, uma alusão mitológica em contexto apocalíptico não implica equivalência
de significado com o mito original13.
O símbolo difere do signo, porque o simbolizante e o simbolizado pertencem a dois
planos distintos – respectivamente o material e o imaterial – enquanto o significante e o
significado pertencem ao mesmo plano material, sensível e observável. O símbolo é, também,
diferente da metáfora, pois essa sempre se formula numa frase, que relaciona duas realidades
distintas, mas que pertencem ao mesmo plano ou ao mesmo nível. Além do mais, enquanto o
símbolo estimula a fantasia, a reflexão e as emoções, a metáfora tem uma função
primordialmente cognitiva: ela procura revelar um aspecto do objeto que ficaria oculto ou
inacessível ou ainda imperceptível. Porém, tanto o símbolo quanto a metáfora são evocativos
e polissêmicos. O símbolo também não se confunde com a alegoria, porque essa é um
fenômeno restritamente literário (como a metáfora) e porque, na alegoria, cada elemento tem
um significado próprio, o que não combina com a polissemia simbólica14.
O símbolo é, portanto, a mais globalizante das formas de linguagem conotativa. Uma
qualidade inerente à imagem simbólica é a sua estrutura triangular, pela qual há uma
coincidência entre aquilo que a imagem é em si mesma, a representação (gráfica, ortográfica,
cromática etc.) daquilo que ela reproduz e a sua referência à coisa simbolizada. A pluralidade
interpretativa se introduz no terceiro nível, quando mais de uma conotação poderia satisfazer
corretamente à projeção evocativa da imagem simbólica. No caso particular de um relato
simbólico, o conteúdo preciso englobado por um símbolo pode sofrer mudanças de um
estágio ao outro da narração, devido às eventuais conotações semânticas, pragmáticas ou
conceituais que se lhe vão agregando ao longo do processo narrativo.A razão de ser do caráter
plurivalente do símbolo repousa justamente na sua natureza analógica. Assim, cabe ao
intérprete perceber, ao longo do movimento mutatório da imagem, qual o sentido analógico
que mais convém a cada situação15.

Apocalipse de João

Uma vez que a definição geral do gênero apocalíptico apresentada por Collins tem
como ponto de partida o Apocalipse de João, é natural que a obra preencha os pré-requisitos

13
COLLINS, A imaginação apocalíptica, p. 41-43.
14
ARENS, Eduardo; MATEOS, Manuel Díaz. O Apocalipse, a força da esperança: estudo, leitura e
comentário. São Paulo: Loyola: 2004. p. 29-32.
15
CUADRADO, José Fernando T. Apocalipsis: estética y teología. Roma: Editrice Pontificio Istituto
Biblico, 2007. (Subsidia Biblica, 31). p. 91.
6

de tal definição. Os primeiros problemas surgem, porém, quando se confronta o Apocalipse


com o corpus de literatura judaica considerada como apocalíptica. O fato de João tratar a sua
obra como uma “profecia” (Ap 1,3; 22,6s.), de se incluir entre “os profetas” (Ap 22,6.9), de
definir o seu ministério como um “profetizar sobre povos, nações, línguas e muitos reis” (Ap
10,11)16, de recusar a pseudonímia (predominante na apocalíptica judaica) e de utilizar uma
moldura epistolar no seu escrito levou alguns estudiosos a questionar ou a minimizar o caráter
apocalíptico do Apocalipse. Elisabeth Fiorenza, por exemplo, reconhece na obra as imagens e
os padrões apocalípticos, mas argumenta que João intentou principalmente compor uma obra
de profecia cristã primitiva, na forma de uma carta apostólica17.
Quando contextualizada, a designação do Apocalipse como uma profecia está correta.
No cristianismo primitivo, o ministério profético conserva uma importância de primeira
grandeza, ocupando o segundo lugar na hierarquia dos carismas (cf. 1Cor 12,28-29; Ef 4,11).
A função principal do profeta neotestamentário é explicar, à luz do Espírito, os oráculos das
Escrituras, particularmente dos antigos profetas (1Pd 1,10-12). A explicação das Escrituras
era necessária, por exemplo, na polêmica dos primeiros cristãos contra os judeus, a fim de se
mostrar que o cristianismo nascente e, sobretudo, a Morte e a Ressurreição de Cristo se deram
“segundo as Escrituras”.Assim, o profeta neotestamentário se apresenta como um revelador
do mistério do plano divino (1Cor 13,2; Ef 3,5; Rm 16,25). Ao apresentar a sua obra como
uma profecia, o escritor do Apocalipse se inclui no grupo dos profetas neotestamentários, que
explicam as profecias antigas em função das circunstâncias presentes.
Visto que a pseudonímia é uma constante nos apocalipses judaicos, o Apocalipse
joanino poderia ser considerado anômalo nesse quesito. Todavia, ele não é o único escrito
cristão do gênero a utilizar o nome do próprio autor: os dois mais antigos apocalipses cristãos,
o Apocalipse de João e o Pastor de Hermas, foram escritos sob a alcunha dos seus autores. Foi
nos escritos apocalípticos cristãos mais tardios, como o Apocalipse de Pedro e o Apocalipse
de Paulo, que a pseudonímia passou a ser adotada também pela versão cristã do gênero 18.
Collins argumenta que “a convicção de que a era escatológica começara fez surgir, no
cristianismo primitivo, um novo transbordar de profecias e conferiu nova autoridade aos
pronunciamentos proféticos”19. Por isso mesmo, João não precisava aumentar a autoridade da
sua obra, atribuindo-a a alguma figura proeminente da história de Israel. Quanto à moldura
epistolar do Apocalipse, essa não contradiz o gênero, uma vez que cartas podem ter os mais
16
João evita, porém, aplicar-se diretamente o título “profeta” (προφήτης).
17
FIORENZA, Composition and structure, p. 358.
18
AUNE, Understanding Jewish and Christian Apocalyptic, p. 235.
19
COLLINS, A imaginação apocalíptica, p. 386.
7

variados conteúdos e que a natureza de um escrito não se condiciona à sua forma de


circulação.
Pikaza aponta ainda três características distintivas do Apocalipse em relação à tradição
apocalíptica judaica. Primeiramente, sabe-se que a salvação já se realizou e que o Filho do
Homem está no céu, de onde determina a marcha da Igreja (Ap 1,12-20; 2–3). Em segundo
lugar, a salvação já se realiza e se condensa na vitória pessoal e decisiva do Cordeiro (Ap 5,5-
6; cf. 12,11). Em terceiro lugar, o triunfo do Cordeiro se realiza em um ritmo de dois tempos:
ele foi imolado e já se encontra vitorioso no céu (Ap 1,12-20; 5,1ss.; 12,5), mas ele ainda
deve manifestar-se como o cavaleiro que conduzirá a sua vitória à meta (Ap 6,1s.; 19,1-
21)20.Mesmo aqui a transformação do gênero não é tão significativa quanto possa parecer,
pois embora o Cristo acumule as funções de revelador, guerreiro celestial e juiz escatológico,
tais funções são concebidas de acordo com a tradição judaica. O que torna peculiar o
Apocalipse não é a sua compreensão da história, e sim o papel central desempenhado por
Jesus Cristo na obra: “a adoração de Jesus e a maneira pela qual a imagética divina é aplicada
a ele marca, talvez, o ponto mais fundamental em que o Apocalipse [...] foge dos precedentes
judaicos”21.

Conclusão

A literatura apocalíptica dos judeus alcançou o seu apogeu no período que começa com a
guerra dos Macabeus e que termina com a revolta sob Adriano, isto é, de 168 a.C. a 132 d.C 22·. Os
exemplos de escritos apocalípticos são muito raros na Bíblia, de modo que a maioria das
obras pertencentes ao gênero é classificada como apócrifa. O livro de Daniel (Dn 7–12) é o
único livro apocalíptico encontrado no Antigo Testamento, mas muitos outros apocalipses
foram escritos no judaísmo primitivo, sendo os principais 1Henoc (composto de cinco
apocalipses distintos), 2Henoc, 2Baruc, os Oráculos Sibilinos e o Apocalipse de Abraão. Do
lado cristão, o Apocalipse de João é a única composição sistemática do gênero incluída no
cânon escriturístico. Porém, o cristianismo primitivo também produziu muitos outros
apocalipses como, por exemplo, o Pastor de Hermas (início do século II), o Apocalipse de

20
PIKAZA, Apocalipsis XII, p. 217-218.
21
COLLINS, A imaginação apocalíptica, p. 388-389.
22
BAILEY John W. Jewish apocalyptic literature. The Biblical World, Chicago, v. 25, n. 1, p. 30-42,
Jan. 1905. p. 30.
8

Pedro (antes do ano 150), a Ascensão de Isaías (final do século II) e o Apocalipse de Paulo
(meados do século III)23.
Certos aspectos da apocalíptica judaica não se aplicam ao Apocalipse, assim como
também algumas características do escrito destoam do padrão do gênero. Dois exemplos
significativos disso são a ausência da pseudonímia no Apocalipse e a vitória final, que não se
concentra exclusivamente na intervenção futura de Deus, mas que já se faz realidade no
sacrifício consumado por Jesus Cristo, o Cordeiro imolado (Ap 5,12; 7,14; 12,11). Ainda
assim, as semelhanças entre a obra do vidente de Patmos e a literatura apocalíptica judaica são
muitas, de modo que a definição básica do gênero se aplica adequadamente ao Apocalipse 24.
A ausência da pseudonímia é uma fuga bastante limitada das convenções do gênero,
exercendo pouca influência na estrutura conceitual da obra, e mesmo que a função do Messias
seja mais exaltada no Apocalipse do que nos apocalipses judaicos, as convenções do gênero
se mostram de maneira clara, por exemplo, na figura messiânica do cavaleiro de Ap 19,11-21
(cf. 4Esd)25.

23
AUNE, Understanding Jewish and Christian Apocalyptic, p. 234.
24
OSBORNE, Apocalipse, p. 15.
25
COLLINS, A imaginação apocalíptica, p. 396.

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