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UNIDOCTUM

CURSO DE PEDAGOGIA

ANA CAROLINE GUEDES


ANIELE SANTOS ALVES
DEISE ALMEIDA CAMPOS
LARISSA DE JESUS MELO
VIVIAN FERREIRA R. GUALTER

PIONEIROS DA EDUCAÇÃO: MÉTODO E HISTÓRIA

TEÓFILO OTONI - MG
2023
Nome: Pioneiros na educação: métodos e história.

Local: UniDoctum, Teófilo Otoni, 18:30.

JUSTIFICATIVA: O projeto vigente com o tema pioneiros da Educação: métodos e história, é


um trabalho da disciplina de Projeto Integrador, tem como justificativa o aprendizado conjunto do
curso
de pedagogia.

OBJETIVO GERAL: Além de nos aprofundarmos nos trabalhos pedagógicos de épocas


anteriores, em especial da Grécia antiga com a educação sendo diretamente ligada à filosofia e
seus antecedentes, tendo como foco os processos metodológicos de Platão e e os filósofos sofistas
que influenciaram até os dias atuais diversos fatores da grade educacional. Também se é visto uma
parte da idade média, onde São Tomás e Santo Agostinho tiveram efetiva participação no trabalho
pedagógico religioso. A seguir já na idade moderna, destaca-se em especial o trabalho de João
Comenius, criador da didática moderna, no pensamento de Jean Jacques Rousseau e sua herança
para a educação atual. O método pedagógico do escritor Russo liev Tolstói também é visitado para
nos pormos a par da necessidade e urgência das ideias pedagógicas revolucionárias influenciadas
pelas Revoluções Industriais e a escola de Frankfurt, e o nascimento da sociologia. Após esses
conceitos serem apresentados, veremos a situação da educação brasileira no século XX, em
específico o pós revolução de 1930, onde o manifesto dos pioneiros da Educação Nova fora
publicado como um brado em nome de uma revolução na educação pouco valorizada e acessível
no país. A Influência destes autores se torna presente até os dias atuais e após a decadência da
chamada nova Educação surge outra necessidade, agora sendo encarregada pelo patrono da
pedagogia brasileira, Paulo Freire que nos alerta sobre a urgência da educação libertadora no
Brasil e a importância da autonomia do educando.

OBJETIVO ESPECÍFICO: O objetivo a ser alcançado com o tema escolhido é maior


compreensão dos projetos pedagógicos em outros tempos e observar como o contexto
histórico-cultural da época influenciou nesse processo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: O procedimento do projeto tem início com os


participantes do grupo iniciando a leitura de obras que fornecem informação sobre esses períodos,
culminando em uma apresentação em sala de aula no formato de seminário para assim
compartilhar o estudo realizado com todos.

AVALIAÇÃO: O seminário que será apresentado terá como produto final a revisão sobre os
períodos da educação no qual se foi estudado, dando destaque aos nomes de pedagogos,
pensadores e filósofos de cada período que influenciou e fora de suma importância para a evolução
social da educação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: Editora Unesp, 1999.

LUZURIAGA, L. História da educação e da pedagogia.


SAVIANI, D. A História das Ideias Pedagógicas no Brasil, 2013.

ARANHA, A. LUCIA MARIA, História da educação e da pedagogia - Brasil e Geral.

ROUSSEAU, Jean Jacques, Emílio ou Da Educação. São Paulo, Difel, 1968,

JOÃO AMÓS COMÊNIO, Didática magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos.
Lisboa, Calouste Gulbenkian, 1966.
PIONEIROS DA EDUCAÇÃO: MÉTODO E HISTÓRIA.

Em toda história da humanidade a prática educativa pedagógica se fez presente,


trabalhando de maneiras divergentes em cada civilização, mas com o mesmo objetivo:
inserir e orientar o ser humano na sociedade para que assim ambos evoluem em conjunto.
Seja no antigo Egito onde a transmissão do saber era restrita às camadas mais
privilegiadas da sociedade, como sacerdotes e escribas, ou na antiguidade grega dos
tempos homéricos, onde predominava a visão mítica do mundo e logo em seguida a
concepção de paidéia e no surgimento da filosofia na grécia antiga, onde já se orientava
crianças e jovens com métodos pedagógicos, antes mesmo do termo “pedagogia’ ser
cunhado na história e ter sua etimologia, bem como a prática, amplamente discutida e
disseminada entre pensadores do século XVIII e XIV.

Nesses períodos anteriores ao surgimento da filosofia que se deu por volta do


século VII e VI a.c. A formação do homem grego não era focada no ensino profissional, já
que os ofícios necessários para o funcionamento da polis eram aprendidos de maneira
empírica já no mundo do trabalho, exceto pelas artes consideradas nobre como arquitetura
e medicina. Os métodos usados dificultavam a aprendizagem, em que se acentuava o
recurso de silabação, repetição, memorização e declamação. Geralmente as crianças
aprendiam de cor os poemas de Homero e de Hesíodo, as fábulas de Esopo e de outros
autores. A educação elementar completava-se por volta dos 13 anos. As crianças mais
pobres saíam em busca de um ofício, enquanto as de família rica prosseguiam os estudos,
sendo encaminhadas ao ginásio. Com a aurora da filosofia e a superação do período
arcaico e visões míticas do mundo, as necessidades da parte privilegiada da sociedade
grega se modificam conforme o surgimento do modelo democrático, logo a instrução mais
detalhada, além da formação esportiva e básica intelectual, se torna necessária e os
métodos pedagógicos também.
Ao discutir os fins da paideia, os gregos esboçaram as primeiras linhas conscientes
da ação pedagógica e assim influenciaram por séculos a cultura ocidental. As
questões: o que é melhor ensinar?, como é melhor ensinar? e para que ensinar?
enriqueceram as reflexões dos filósofos e marcaram diversas tendências, como
veremos a seguir. Aliás, vale observar que até hoje essas perguntas são
fundamentais para a pedagogia.
ARRUDA, ARANHA M. LÚCIA. História da Educação e da Pedagogia (p. 58)
A problematização pedagógica surgiu com os sofistas, um grupo de sábios eruditos
itinerários que se moviam de cidade em cidade para repassar seus conhecimentos em
troca de dinheiro. Se destacaram como novos mestres do novo modelo de educação grega,
no qual o intelecto fora valorizado e se tornou independente da educação física
predominante, podemos citar Górgias de Leôncio, Protágoras, Híppias de Élis, bem como,
Trasímaco, Pródico e Hipódamos. Apesar de estarem sobre as constantes críticas de
Sócrates por venderem sabedoria, esses educadores itinerários foram de suma importância
para a valorização da profissão do professor, como precursores do caráter profissional do
educador. Além de promoverem a sistematização das matérias de retórica, dialética,
gramática, geometria, aritmética, música e astronomia em uma grade de ensino, sendo
conhecidas como as sete artes liberais. O legado pedagógico dos sofistas se tornou
inquestionável e foram aperfeiçoados nos séculos seguintes, período helenistico e na idade
média, podemos dizer que o início de um modelo de educação superior começou com os
sofistas, entretanto outros filósofos também se dedicaram e ministraram a educação
superior, ampliando disciplinas de estudo, foi o caso de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Bem como seu mestre, Platão também era um crítico do modelo sofista e o modelo
de educação praticado na época no qual priorizava a instrução dos jovens da elite para
torná-los aptos a ocupar funções públicas, junto aos socráticos protagonizou a rivalidade
histórica entre filosofia e retórica que movimentou todo um século pois "os sofistas
afirmavam que podiam defender igualmente teses contrárias, dependendo dos interesses
em jogo". Ainda que reconhecendo os méritos dos sofistas, Platão é considerado um
verdadeiro expoente no que se refere à atuação pedagógica, na Grécia clássica,
especialmente por ter criado um sistema de educação divergente da paideia vigente, e
empregar uma visão filosófica, ética e sobretudo política em sua proposta pedagógica.
enquanto Sócrates dedicava suas aulas nas praças praças públicas, Platão fundou a
famigerada Academia de Platão ou Academia de Atenas, uma escola na qual seus
seguidores recebiam educação formal, a Academia pode ser considerada a primeira
universidade da história. Na obra literária A República, Platão descreve seu modelo
pedagógico ideal, no qual muitos acharam até mesmo utópico.

Platão imagina, portanto, um lugar que não existe, mas que deve ser o modelo da
cidade, em que são eliminadas a propriedade e a família, e todas as crianças
recebem educação do Estado. A educação deve ser ministrada de acordo com as
diferenças que certamente existem entre as pessoas, a fim de ocuparem suas
posições na sociedade, o que é feito por meio de seguidas seleções. Até os 20
anos, a educação é a mesma para todos. O primeiro corte identifica aqueles que
têm a alma de bronze, ou seja, uma sensibilidade grosseira que os qualifica para a
agricultura, o artesanato e o comércio. A eles seria confiada a subsistência da
cidade. Os outros continuam na escola por mais dez anos. Com o segundo corte,
aqueles que têm a coragem dos guerreiros de “alma de prata” interrompem os
estudos a fim de constituir a guarda do Estado, como soldados encarregados da
defesa da cidade. Desses sucessivos cortes sobram os mais notáveis, que, por
terem “alma de ouro”, serão instruídos na arte de dialogar. Aprendem, então, a
filosofia, capaz de elevar a alma até o conhecimento mais puro, fonte de toda a
verdade. Aos 50 anos, aqueles que passaram com sucesso por essa série de
provas estarão aptos a ser admitidos no corpo supremo dos magistrados. Cabe-lhes
o exercício do poder, pois apenas eles têm a ciência da política. Note-se que Platão
desenvolve ideias avançadas para seu tempo: o Estado assume a educação; a
educação da mulher é semelhante à do homem; os estágios superiores dependem
do mérito de cada um e não da riqueza; valorização da educação intelectual,
coroada pelo estudo das ciências (com especial destaque para a matemática) e pela
dialética, processo que eleva a alma das aparências sensíveis às ideias.

ARRUDA, ARANHA M. LÚCIA. História da Educação e da Pedagogia (p. 62)

Platão defendia uma ideia que, embora utópica em seu tempo, é sustentada por
grande parte da pedagogia atual e fora defendida com veemência por pensadores
renomados como Paulo Freire em sua obra pedagogia da Autonomia, não é possível ou
desejável transmitir conhecimentos aos alunos, mas, antes, levá-los a procurar respostas,
eles mesmos, a suas inquietações, influenciando a curiosidade do educando. Por isso, o
filósofo rejeitava métodos de ensino autoritários. Ele acreditava que se deveria deixar os
estudantes, sobretudo as crianças, à vontade para que pudessem se desenvolver
livremente. Nesse ponto, a pedagogia de Platão se aproxima de sua filosofia, em que a
busca da verdade é mais importante do que dogmas incontestáveis.
Nos séculos seguintes, em especial na idade média o modelo pedagógico de platão se
tornou ainda mais longínquo, com o mundo voltando a ser dominado pela perspectiva
religiosa, a educação se torna extremamente restrita, a educação agora seria mediada pela
fé cristã na tradição europeia, numa parte desse período a educação passa a ser um
privilégio exclusivo dos clérigos em mosteiros afastados da população comum que era
instruída apenas aos assuntos religiosos. Até o surgimento da burguesia como potência
social. Com o desenvolvimento do comércio, as necessidades eram outras, e os burgueses
procuraram uma educação que atendesse aos objetivos da vida prática. No século XII,
procurava-se ampliar os estudos de filosofia, teologia, leis e medicina, a fim de atender às
solicitações de uma sociedade cada vez mais complexa, com isso o surgimento das
universidades foram impulsionados. Os nomes de destaque da vez, fora Santo Agostinho e
Santo Tomás. O cristão Agostinho adaptou essa explicação à teoria da iluminação. O ser
humano receberia de Deus o conhecimento das verdades eternas, o que não significa
desprezar o próprio intelecto, pois, como o Sol, Deus ilumina a razão e torna possível o
pensar correto. O saber, portanto, não é transmitido pelo mestre ao aluno, já que a posse
da verdade é uma experiência que não vem do exterior, mas de dentro de cada um. Isso é
possível porque “Cristo habita no homem interior”. Toda educação é, dessa forma, uma
autoeducação, possibilitada pela iluminação divina. Por exemplo, diz Santo Tomás: “Parece
que só Deus ensina e deve ser chamado Mestre”. Para Santo Tomás, a educação é uma
atividade que torna realidade aquilo que é potencial. Assim, nada mais é do que a
atualização das potencialidades da criança, processo que o próprio educando desenvolve
com o auxílio do mestre. Os séculos seguintes foram de grande modificação na Europa,
com o período de transição entre a idade média e o renascentismo, a educação modificou
junto com a sociedade, passando pela reforma e contrarreforma religiosa, a educação
jesuítica nas colônias, o século XVII dá o ar das graças. Conhecido como o século do
método, a filosofia volta a ser o tema central dos pensadores. O pensamento da Idade
Moderna se direciona a um denominador comum: se há método para conhecer
corretamente, deverá haver para ensinar de forma mais rápida e mais segura. Foi isso que
Comenius defendeu em toda sua vida.

Jan Amos Komensky, ou apenas João Comenius, é considerado o maior educador e


pedagogo do século do método, também denominado pai da didática moderna, Comenius
defendia uma educação para a vida cotidiana, com sistematização de todos os
conhecimentos e o estabelecimento de um sistema universal de educação, com
oportunidades para as mulheres. Ele sustentou a ciência ao mesmo tempo que exaltava a
majestade divina. O maior educador e pedagogo do século XVII, produziu uma obra
fecunda e sistemática, cujo principal livro é Didática magna. Sugestivamente, um dos
capítulos chama-se “Como se deve ensinar e aprender com segurança, para que seja
impossível não obter bons resultados”, enquanto outro trata das “Bases para rapidez do
ensino, com economia de tempo e de fadiga”. Comênio pretendia tornar a aprendizagem
eficaz e atraente mediante cuidadosa organização de tarefas. Ele próprio se empenhava na
elaboração de manuais — uma novidade para a época — e minuciosamente detalhava o
procedimento do mestre, segundo gradações das dificuldades e com ritmo adequado à
capacidade de assimilação dos alunos. O ponto de partida da aprendizagem é sempre o
conhecido, indo do simples para o complexo, do concreto para o abstrato. O verdadeiro
estudo inicia nas próprias coisas, no “livro da natureza”, o que representa viva oposição ao
ensino retórico dos escolásticos. A experiência sensível, como fonte de todo conhecimento,
exige a educação dos sentidos. No livro O mundo ilustrado (Orbis pictus), Comênio
elaborou um texto em que cada passo se relaciona com figuras. Para Comênio, o ensino
devia ser feito pela ação e estar voltado para a ação: “Só fazendo, aprendemos a fazer”.
Além disso, é importante não ensinar o que tem valor apenas para a escola, e sim o que
serve para a vida. A utilidade de que trata Comênio faz da pessoa um ser moral, por isso
as escolas são “oficinas da humanidade”, verdadeira iniciação à vida. Não por acaso, a
religiosidade desempenhava papel marcante na visão de mundo desse educador e pastor
protestante. Em consonância com o espírito do seu tempo, Comênio queria “ensinar tudo a
todos”. Atingir o ideal da pansofia (do grego pan, “tudo”, e sophia, “sabedoria”: sabedoria
universal), no entanto, não significava para ele erudição vazia (ver leitura complementar).
Pensava ser possível um inventário metódico dos conhecimentos universais, de modo que
o aluno alcançasse um saber geral e integrado, ainda que simplificado, desde o ensino
elementar. Nos outros graus, o aprofundamento possibilitaria a análise crítica e a invenção,
pois a educação permitiria ao aluno pensar por si mesmo, não como “simples espectador,
mas ator”. Só assim haveria progresso intelectual, moral e espiritual capaz de aproximar o
indivíduo de Deus. Para Comênio, o complemento de sua pansófia é a aspiração
democrática do ensino, ao qual todos teriam acesso, homens ou mulheres, ricos ou pobres,
inteligentes ou ineptos. Com estas poucas referências, percebemos o caráter inovador do
pensamento de Comênio, de sabor muito atual.

A Didática Magna apresenta as características fundamentais da instituição escolar


moderna.Entre elas podemos apontar: a construção da infância moderna já como forma da
uma pedagogização dessa infância por meio da escolaridade formal; uma aliança entre a
família e a escola por meio da qual a criança vai se soltando a influência da órbita familiar
para a órbita escolar; uma forma de organização da transmissão dos saberes baseada no
método de instrução simultânea, agrupando-se os alunos e, não menos importante, a
construção de um lugar de educador, de mestre, reservado para o adulto portador de um
saber legítimo.

“Que devem ser enviados às escolas não apenas os filhos


dos ricos ou dos cidadãos principais, mas todos por igual, nobres e plebeus, ricos e
pobres, rapazes e raparigas, em todas as cidades, aldeias e casais isolados,
demonstram-no as razões seguintes: Em primeiro lugar, todos aqueles que
nasceram homens, nasceram para o mesmo fim principal, para serem homens, ou
seja, criatura racional, senhora das outras criaturas, imagem verdadeira do seu
Criador. Todos, por isso, devem ser encaminhados de modo que, embebidos
seriamente do saber, da virtude e da religião, passem utilmente a vida presente e se
preparem dignamente para a futura. Que, perante Deus, não há pessoas
privilegiadas, Ele próprio o afirma constantemente. Portanto, se nós admitimos à
cultura do espírito apenas alguns, excluindo os outros, fazemos injúria, não só aos
que participam conosco da mesma natureza, mas também ao próprio Deus, que
quer ser conhecido, amado e louvado por todos aqueles em quem imprimiu a sua
imagem. E isso será feito com tanto mais fervor, quanto mais acesa estiver a luz do
conhecimento: ou seja, amamos tanto mais, quanto mais conhecemos. Em segundo
lugar, porque não nos é evidente para que coisa nos destinou a divina providência. É
certo, porém, que, por vezes, de pessoas paupérrimas, de condição baixíssima e
obscurantíssima, Deus constitui órgãos excelentes da sua glória. Imitemos, por isso,
o sol celeste, que ilumina, aquece e vivifica toda a terra, para que tudo o que pode
viver, verdejar, florir e frutificar, viva, verdeje, floresça e frutifique. (…) Importa agora
demonstrar que, nas escolas, se deve ensinar tudo a todos. Isto não quer dizer,
todavia, que exijamos de todos o conhecimento de todas as ciências e de todas as
artes (sobretudo se se trata de um conhecimento exato e profundo). Com efeito,
isso, nem, de sua natureza, é útil, nem, pela brevidade da nossa vida, é possível a
qualquer dos homens. Vemos, com efeito, que cada ciência se alarga tão
amplamente e tão sutilmente (pense-se, por exemplo, nas ciências físicas e naturais,
na matemática, na geometria, na astronomia etc. e ainda na agricultura ou na
silvicultura etc.) que pode preencher toda a vida mesmo de inteligências
grandemente dotadas que acaso queiram dedicar-se à teoria e à prática, como
aconteceu com Pitágoras na matemática, com Arquimedes na mecânica, com
Agrícola na mineralogia, com Longólio na retórica (o qual se ocupou de uma só
coisa, para que viesse a ser um perfeito ciceroniano). Pretendemos apenas que se
ensine a todos a conhecer os fundamentos, as razões e os objetivos de todas as
coisas principais, das que existem na natureza como das que se fabricam, pois
somos colocados no mundo, não somente para que nos façamos espectadores,
mas também de atores. Deve, portanto, providenciar-se e fazer-se um esforço para
que a ninguém, enquanto está neste mundo, surja qualquer coisa que lhe seja de tal
modo desconhecida que sobre ela não possa dar modestamente o seu juízo e dela
se não possa servir prudentemente para um determinado uso, sem cair em erros
nocivos. (…) Por isso, seja para os professores regra de ouro: que cada coisa seja
apresentada àquele dos sentidos a que convém, ou seja, as coisas visíveis à vista,
as audíveis ao ouvido, as odorosas ao olfato, as saborosas ao gosto, às tangíveis ao
tato; e se algumas podem, ao mesmo tempo, ser percepcionadas por vários
sentidos, sejam colocadas, ao mesmo tempo, diante de vários sentidos. (…)
Desejamos que o método de ensinar atinja tal perfeição que, entre a forma de
instruir habitualmente usada até hoje e a nossa nova forma, apareça claramente que
vai a diferença que vemos entre a arte de multiplicar os livros, copiando-os à pena,
como era uso antigamente, e a arte da imprensa, que depois foi descoberta e agora
é usada. Efetivamente, assim como a arte tipográfica, embora mais difícil, mais
custosa e mais trabalhosa, todavia é mais acomodada para escrever livros com
maior rapidez, precisão e elegância, assim também este novo método, embora a
princípio meta medo com as suas dificuldades, todavia, se for aceite nas escolas,
servirá para instruir um número muito maior de alunos, com um aproveitamento
muito mais certo e com maior prazer, que com a vulgar ausência de método
[ametodeia].”

João Amós Comênio, Didática magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a
todos. Lisboa, Calouste Gulbenkian, 1966, p. 139 e 140; 145 e 146; 307; 455.

Um século após as ideias de comenius a Revolução Francesa abalou todas as


estruturas da Europa, bem como a Primeira Revolução Industrial na Inglaterra. Rousseau
ocupa lugar de destaque na filosofia política — suas obras antecipam o ideário da
Revolução Francesa —, além de produzir uma teoria da educação que não ficou restrita
apenas ao século XVIII: seu pensamento constitui um marco na pedagogia contemporânea
No contexto de sua época, Rousseau foi um dos primeiros pensadores da educação
a humanizar a figura da criança tão subestimada como um papel em branco no qual os
adultos podem escrever o que quiser. Rousseau ressalta a liberdade da criança.
Todos já ouviram a frase “O homem nasce bom, a sociedade que o corrompe” ou
variações envolvendo dinheiro, etc. Em a educação de Emílio, Rousseau tenta provar o
fundamentalismo de sua frase dedicando-se à obra Emílio ou da Educação, um ensaio ou
romance que conta a educação de um órfão nobre e rico, Emílio, de seu nascimento até
seu casamento. Partindo de seu princípio de que o homem nasce naturalmente bom,
Rousseau estima que é preciso partir dos instintos naturais da criança para desenvolvê-los.
A educação negativa (essa que propõe o filósofo), na qual o papel do preceptor (professor)
é, sobretudo, o de preservar a criança, deveria substituir a educação positiva que forma a
inteligência prematuramente e impensadamente. O ciclo completo desta nova educação
comporta quatro períodos:

1. O primeiro período vai de 0 a 5 (zero a cinco) anos, correspondendo a uma vida


puramente física, apta a fortificar o corpo sem forçá-lo; período espontâneo e orientado
graças, notadamente, ao aleitamento materno;

2. O segundo período vai de 5 aos 12 (cinco a doze) anos e é aquele no qual a


criança desenvolve seu corpo e seu caráter no contato com as realidades naturais, sem
intervenção ativa de seu preceptor;"

3. O preceptor intervém mais diretamente no terceiro período que vai de 12 a 15


(doze a quinze) anos, período no qual o jovem se inicia, essencialmente pela experiência, à
geografia e à física, ao mesmo tempo em que aprende uma profissão manual ou ofício;

4. Dos 15 aos 20 (quinze aos vinte) anos compreende-se o quarto período em que o
homem floresce para a vida moral, religiosa e social.

Este é, pois, o modelo básico de educação proposto por Rousseau para substituir a
educação tradicional que, em nome da civilização e do progresso, obriga os homens a
desenvolverem na criança a formação apenas do intelecto em detrimento da educação
física, do caráter moral e da natureza própria de cada indivíduo."

Costuma-se dizer que Rousseau provocou uma revolução copernicana na


pedagogia: assim como Copérnico inverteu o modelo astronômico, retirando a Terra do
centro, Rousseau centralizou os interesses pedagógicos no aluno e não mais no professor.
Mais que isso, ressaltou a especificidade da criança, que não devia ser encarada como um
“adulto em miniatura”. Até então, os fins da educação encontravam-se na formação do
indivíduo para Deus ou para a vida em sociedade, mas Rousseau quer que o ser humano
integral seja educado para si mesmo: “Viver é o que eu desejo ensinar-lhe. Quando sair
das minhas mãos, ele não será magistrado, soldado ou sacerdote, ele será, antes de tudo,
um homem”.
(...)
A educação natural consiste na recusa ao intelectualismo, que leva fatalmente ao
ensino formal e livresco. Ou seja, a pessoa não se reduz à dimensão intelectual, como se a
natureza pudesse ser apenas razão e reflexão, porque antes da “idade da razão” (15 anos)
já existe uma “razão sensitiva”. Portanto, os sentidos, as emoções, os instintos e os
sentimentos são anteriores ao pensar elaborado, e essas disposições primitivas são mais
dignas de confiança do que os hábitos de pensamento inculcados pela sociedade. Como
amante da natureza, Rousseau quer retomar o contato com animais, plantas e fenômenos
físicos dos quais o indivíduo urbano frequentemente se distancia: “As coisas! as coisas!
Nunca repetirei bastante que damos muito poder às palavras”. Desse modo, valoriza a
experiência, a educação ativa voltada para a vida, para a ação, cujo principal motor é a
curiosidade

Toda a nossa sabedoria consiste em preconceitos servis; todos os nossos


usos não são senão sujeição, embaraço e constrangimento. O homem civil nasce,
vive e morre na escravidão; ao nascer, envolvem-no em um cueiro; ao morrer,
encerram-no em um caixão; enquanto conserva sua figura humana está acorrentado
a nossas instituições. Sofrer é a primeira coisa que deve aprender e a que terá mais
necessidade de saber. (…) Que dizer desse amontoado de coisas que reúnem ao
redor da criança para defendê-la contra a dor, até que, já crescida, continue à mercê
deles, sem coragem e sem experiência, que se acredite morrer à primeira picada e
desmaie vendo sua primeira gota de sangue? 1 - O que é o Iluminismo? A saída do
homem da sua minoridade, da qual é ele próprio o responsável. Minoridade, isto é,
incapacidade de se servir do seu entendimento sem a direção de outrem,
minoridade da qual é ele próprio responsável, já que a sua causa reside não num
defeito do entendimento, mas numa falta de decisão e de coragem de se servir dela
sem a direção de outrem. “Sapere aude!” Tem a coragem de te servires do teu
próprio entendimento. Eis aí a divisa do Iluminismo. (Kant) 2 - A educação pública
exige, para ser universal, que todos os indivíduos da sociedade participem dela,
mas cada um de acordo com as circunstâncias e com o seu destino. Assim, o
colono deve ser instruído para ser colono, e não para ser magistrado. Assim, o
artesão deve receber na infância uma instrução que possa afastá-lo do vício e
conduzi-lo à virtude, ao amor à Pátria, ao respeito às leis, uma instrução que possa
facilitar-lhe o progresso na sua arte, mas nunca uma instrução que possibilite a
direção dos negócios da Pátria e a administração do governo. Em resumo, para ser
universal, a educação pública deve ser tal, que todas as classes, todas as ordens do
Estado dela participem, mas não uma educação em que todas as classes tenham a
mesma parte. (Filangieri) 3 - (…) em 24 de setembro de 1770, um edital da Real
Mesa Censória torna pública uma lista de livros proibidos por conterem doutrina
“ímpia, falsa, temerária, blasfema, herética, cismática, sediciosa, ofensiva da paz e
sossego público”. Na longa lista figuram Hobbes, Diderot, Rousseau, Voltaire, La
Fontaine, Espinosa etc. De todos os livros recolhidos e condenados mandou o
marquês de Pombal proceder a grandes fogueiras no Terreiro do Paço e na Praça
do Pelourinho, em Lisboa. (Rómulo Carvalho) A natureza quer que as crianças
sejam crianças antes de ser homens. Se quisermos perturbar essa ordem,
produziremos frutos precoces, que não terão maturação nem sabor e não tardarão
em corromper-se; teremos jovens doutores e crianças velhas. A infância tem
maneiras de ver, de pensar, de sentir que lhe são próprias; nada menos sensato do
que querer substituí-las pelas nossas; e seria o mesmo exigir que uma criança
tivesse cinco pés de altura do que juízo aos dez anos. Com efeito, que lhe
adiantaria ter razão nessa idade? Ela é o freio da força, e a criança não tem
necessidade desse freio. Ponhamos como máxima incontestável que os primeiros
movimentos da natureza são sempre retos: não existe perversidade original no
coração humano. A educação primeira deve portanto ser puramente negativa. Ela
consiste não em ensinar a virtude ou a verdade, mas em preservar o coração do
vício e o espírito do erro. Se pudésseis conduzir vosso aluno são e robusto até a
idade de 12 anos, sem que ele soubesse distinguir sua mão direita de sua mão
esquerda, logo às vossas primeiras lições os olhos de seu entendimento se abririam
para a razão. Sem preconceitos, sem hábitos, nada teria ele em si que pudesse
contrariar o resultado de vossos cuidados. Logo ele se tornaria, em vossas mãos, o
mais sensato dos homens; e começando por nada fazer teríeis feito um prodígio de
educação. Fazei o contrário do uso e fareis quase sempre bem. Como não se quer
fazer de uma criança uma criança e sim um doutor, pais e mestres nunca acham
cedo demais para ralhar, corrigir, repreender, lisonjear, ameaçar, prometer, instruir,
apelar para a razão. Fazei melhor: sede sensatos e não raciocineis com vosso
aluno, principalmente para fazerdes que aprove o que lhe desagrada, pois meter
sempre a razão nas coisas desagradáveis é tornar-lha aborrecida, é desacreditá-la
desde cedo num espírito que ainda não está em estado de compreendê-la. Exercitai
seu corpo, seus órgãos, seus sentidos, suas forças, mas deixai sua alma ociosa
enquanto for possível. Temei todos os sentimentos anteriores ao julgamento que os
aprecia. Detende, sustai as impressões estranhas e, para impedirdes que surja o
mal, não vos apresseis em fazer o bem, porquanto este só o é quando a razão o
ilumina. Encarai todas as dilações como vantagens: ganhar muito, caminhar para o
fim sem nada perder; deixai a infância amadurecer nas crianças. Alguma lição se
faz necessária? Evitai dar-lha desde logo, se puderdes adiá-la sem perigo. Outra
consideração que confirma a utilidade deste método está no temperamento
particular da criança, que é preciso conhecer bem para saber que regime moral lhe
convém. Cada espírito tem sua forma própria, segundo a qual precisa ser
governado, e o êxito depende de ser governado por essa forma e não por outra.
Homem prudente, atentai longamente para a natureza, observai cuidadosamente
vosso aluno antes de lhe dizerdes a primeira palavra; deixai antes de tudo que o
germe de seu caráter se revele em plena liberdade, não exerçais nenhuma coerção
a fim de melhor vê-lo por inteiro. Pensais que esse período de liberdade seja
perdido para ele? Ao contrário, será o mais bem empregado, pois assim é que
aprendereis a não perder um só momento de tão preciosa fase. Ao passo que se
começardes a agir antes de saber como, agireis ao acaso; expondo-vos a engano,
sereis obrigado a voltar atrás; estareis mais afastado da meta do que se tivésseis
tido menos pressa em atingi-la. Não façais portanto como o avarento, que perde
muito por não querer perder nada. Sacrificai na primeira infância um tempo que
recuperareis com juros em idade mais avançada. O médico sábio não receita às
tontas à primeira vista, estuda primeiramente o temperamento do doente antes de
prescrever; começa a tratá-lo tarde mas o cura, enquanto o médico demasiado
apressado o mata. Mas onde poremos essa criança para educá-la assim como ser
insensível, como um autômato? Na lua, numa ilha deserta? Afastada de todos os
humanos? Não terá ela continuamente no mundo o espetáculo e o exemplo das
paixões alheias? Não verá nunca outras crianças de sua idade? Não verá seus pais,
seus vizinhos, sua ama, sua governanta, seu criado, seu mestre, mesmo que, afinal,
não será um anjo? Essa objeção é séria e sólida. Mas vos terei dito porventura que
uma educação natural fosse uma empresa fácil? Ó homens, será culpa minha se
tornastes difícil tudo que é certo? Sinto tais dificuldades, confesso: talvez sejam
insuperáveis, mas o fato é que, procurando aplicadamente preveni-las, até certo
ponto as prevenimos. Mostro a meta que é preciso atingir, não digo que se possa
consegui-lo; mas digo que quem dela mais se aproximar terá tido o maior êxito.
Jean-Jacques Rousseau, Emílio ou da educação. São Paulo, Difel, 1968, p. 17,
59, 75, 78, 80 e 81.

De outro ângulo e em séculos mais tarde, observamos a influência não apenas de


Rousseau, mas do apogeu da sociologia e a escola de Frankfurt que remodelou ideias
novas sobre classe e sociedade. Nesse contexto surge a necessidade de novas ideias
pedagógicas, ideias revolucionárias. Foi a isso que o renomado autor Liev Tolstói
concentrou nos últimos anos de sua vida após a conclusão de alguns de seus mais
famosos romances da literatura Russa.
Tolstói acreditava que a educação devia cultivar o amor à pátria, embora não
favorecesse o nacionalismo. Não havia nenhuma nação superior; o patriotismo tinha
sido amiúde pervertido pelos mestres. Devia-se ensinar às crianças a amar a
humanidade e a olhar mais além das fronteiras da raça, a nação e a civilização. Tolstói
acreditava que a educação tinha um significado espiritual. O ideal não era somente
saber, senão aplicar os conhecimentos com espírito crítico pois, sustentava, “só uma
personalidade livremente desenvolvida, armada de informação e conhecimentos
científicos pode mudar a vida”. Devia-se salvaguardar a dignidade do indivíduo.
Não devia ser doutrinado, pois não devia converter-se em instrumento do Estado.
Tolstói dava importância à personalidade do mestre. Era muito mais importante que o
mestre estivesse convencido da importância do seu ministério e não que fosse um
especialista. O mestre devia interessar-se por todos os aspetos da vida e devia
preocupar-se mais com os problemas do homem que com os da ciência técnica. O tipo
de escola que propugnava não devia fazer uso das classificações nem admitir nenhuma
distinção de classe. O centro da mesma era a criança e não o mestre. Os alunos
deviam aprender pela experiência e a aula seria como um laboratório.
Em todas as suas atividades os alunos estariam guiados por um espírito de
bondade e compaixão. Nas suas teorias pedagógicas, Tolstói Vocação e considerava a
personalidade do aluno, converter-se-ia num pilar da cultura assinalava a importância
da personalidade do mestre. Se este era frio e hostil para os escolares, resultava uma
influência negativa e seria somente um capataz. Porém, se realmente amava a sua e
da civilização. O saber não devia estar restringido a uns poucos.
Tolstói opinava que todos os seres humanos ansiavam conhecer a verdade e
desejavam um melhor modo de vida. Portanto, opinava que se devia dar importância à
educação dos adultos e universalizar a cultura. Tolstói ensinava por meio de preceitos:
“Sede francos com vós mesmos e sede-o com os vossos filhos”, era a base da sua
filosofia pedagógica. Afirmava, ademais, que o homem só podia progredir mediante a
autoanálise. Para Tolstói, a religião, a educação, a filosofia e a ciência, todas tendiam
ao mesmo fim. O seu objeto era formar indivíduos que amassem e tivessem sempre
consciência das suas responsabilidades para com a humanidade. Tolstói reclamava
uma transformação de valores, de modo que a educação desse mais importância ao
afeto e à espontaneidade, que à disciplina formal.
Tolstói criou uma importante escola na sua quinta rural de Iasnaia Poliana, perto
da localidade russa de Tula, em 1859. A metodologia pedagógica da mesma
fundamentava-se nos seguintes aspetos básicos e fundamentais:
1. Preocupação pelo educando e pelo homem, com a necessidade de aprender por sim
mesmos.
2. Importância do espírito de liberdade. Não ao doutrinamento. Os estudantes escolhem
segundo seus interesses e o que mais lhes atrai.
3. Condena total do dogmatismo. Dando valor à ciência e a razão.
4. Repulsa do autoritarismo e intervencionismo. Os alunos decidiam por eles mesmos e o
seu processo e evolução cognitiva eram livres, já que o conhecimento não pode ser
transmitido ou imposto contra a vontade dos estudantes.
5. Implicação da educação e da instrução. Educação integral dos escolares e aquisição de
conhecimentos intelectuais.
6. Vitalismo existencial frente ao mero intelectualismo. Descoberta do mundo em contacto
com a natureza. Uso da experimentação.
7. Pragmatismo científico. Aplicação sempre do método científico no ensino.
8. Humanismo liberal. O educando é o centro do processo educativo e o método de ensino
deve adaptar-se a ele e seus interesses.
9. Sentimento, razão e sugestão (crença seletiva) como causas motivadoras. Tolstói não
utilizava um único método de ensino, pois queria observar que era o que motivava os
estudantes, e mudava de método quando via que se aborreciam. Com acerto opinava
que a criança desfruta quando realmente está a aprender. O bom método é o que
satisfaz os alunos.
10. Educação social-popular. O seu naturalismo está implícito nesta relação. As crianças
preferem os contos e histórias populares no lugar dos relatos literários, pois a sua
compreensão é mais singela. Para que depois cheguem à linguagem literária devem
começar pelos contos.
11. Educação gratuita para todos. A escola de Tolstói era totalmente gratuita e os alunos
que mais a frequentavam eram os das aldeias próximas.

A estrutura e o conteúdo da educação não eram constantes, variavam de acordo


com o desenvolvimento das crianças, com as possibilidades da escola e dos mestres e
com a vontade dos pais. O próprio Tolstói ensinava ao grupo superior matemática,
física, história e algumas outras matérias. Muitas vezes ensinava os rudimentos das
ciências em forma de conto. As crianças não eram castigadas nem pela sua conduta
nem pelos resultados pouco satisfatórios nos seus estudos. A exigência de que se
tratasse com respeito a personalidade dos alunos pressupunha que estes, sem castigo
nem coação por parte dos adultos, deviam convencer-se paulatinamente da
necessidade de submeter-se à ordem de que dependia o sucesso da sua
aprendizagem. Sobre este tema Tolstói escreveu: “Os alunos são pessoas apesar de
serem pequenos. São pessoas que têm as mesmas necessidades que nós e que
pensam igual que nós; todos eles gostam de aprender; por isso vão à escola e por isso
chegarão muito facilmente à conclusão de que devem submeter-se a certas condições
para aprender,

Já no Brasil, passados anos obscuros para a educação, onde a igreja Católica foi a
principal responsável por quase todo processo educativo da história do Brasil Colonial até
boa parte do século XX. Essa história começa a arquitetar uma mudança após a Revolução
de 1930, com o início da Era Vargas, período de grande transformação econômica e sócio
cultural no Brasil. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 compreende um
marco importante na história da educação brasileira como um dos principais difusores do
movimento da Escola Nova no país. Isto foi somado a um profundo espírito republicano de
organização da educação pública como direito de todos e como questão do processo de
modernização do Estado brasileirono início do século XX. O debate sobre o problema
escolarização surge da ideia de que a educação teria o “poder de moldar a sociedade a
partir da formação das mentes e da abertura de novos espaços de mobilidade social e
participação” (SCHWARTZMAN, et. Al., 1984, p. 01). Nesse sentido, o Manifesto de 1932
traduz o desejo de uma renovação no campo educacional movido por um profundo
entusiasmo,pela educação e otimismo pedagógico germinado ainda nos anos de
1920, caracterizado pela crença na escolarização das camadas populares como um
instrumento decisivo na formação de um novo homem e de uma nova sociedade. As
tensões entre diferentes grupos sociais pelo protagonismo no processo de
estruturação da educação no Brasil, como a Igreja Católica e grupos de intelectuais
e educadores, que beberam da fonte do escolanovismo(ideologia da chamada escola nova.
O movimento da Escola Nova teve seu início no Brasil, durante a década de 1920. Ele teve
como uma de suas metas: eliminar o ensino tradicional que mantinha fins puramente
individualistas, pois buscava princípios da ação, solidariedade e cooperação social.) como
Lourenço Filho, Francisco de Azevedo e Anísio Teixeira, estavam inseridos no contexto
mais amplo da Revolução de 1930 liderada por Getúlio Vargas.

Este período foi marcado, num primeiro momento, pela politização da educação,
seguido de uma transição das questões educacionais do campo da política para o
campo da educação como um objeto científico. Como confirmação do exposto, temos
o Projeto Político Pedagógico (PPP), que no parecer de Xavier o Manifesto de 1932
pode ser considerado um instrumento norteador de superação da “crise de valores, crise
social, moral e intelectual de uma civilização em movimento e em mudança”. Nesse
contexto, o documento disputava espaço no debate público com os católicos que
consideravam os problemas sociais como uma questão espiritual, isto é, que a
reforma moral da sociedade ocorreria apenas por meio da fé e do cultivo dos valores
cristãos. Na concepção dos pioneiros, fazia-se necessário que os processos
educacionais fossem capazes de oferecer aos homens uma “educação científica do
espírito” que os conduzissem racionalmente às soluções dos problemas sociais.
Tornava-se urgente que os sujeitos adquirissem referências mais racionais para
interpretar a realidade e compreender suas vidas individuais e coletivas, distante das
determinações sobrenaturais e dogmáticas impostas pela Igreja Católica, e sendo mais
próximas das transformações promovidas pelo avanço científico e tecnológico. Há nesse
sentido um esforço em mudar, antes de mais nada, a mentalidade dos homens por meio
de uma renovação educacional partia de uma adequação dos sistemas educacionais
às transformações sociais localizadas no campo das ciências e da tecnologia e sua
aplicação à vida cotidiana. Os responsáveis pela a agitação do Manifesto são nomes de
grande importância na educação brasileira, redigido por Fernando de Azevedo, o Manifesto
contou 26 assinaturas de intelectuais da época, entre eles Roldão Lopes de Barros, Anísio
Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Antônio F. Almeida Junior, Roquette
Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles.

No Brasil, por volta do fim da década de 1950 e começo do anos de 1960 há uma
inquietação intensificando-se o processo de mobilização popular. O movimento mais
popular deste período se dá por motivo de Paulo Freire, graças a seu projeto de educação
para adultos. Paulo Freire, educador e militante, teve toda a sua vida devotada à
construção de uma educação libertadora capaz de instrumentalizar as camadas populares
para lutar contra as relações opressoras do capitalismo. Considerado subversivo e além de
seu tempo, suas reflexões foram construídas na sua prática enquanto educador no Brasil e
no exílio. Em pouco tempo, tornou-se a pessoa cujas ideias eram mais ouvidas e
dialogadas no âmbito da educação popular. É lembrado como intelectual que mostrou a
profunda coerência entre teoria e prática da educação e do educador, de fato
revolucionário, que nos mostrou a importância da necessária militância na educação –
entendida como um ato político –, contrariando toda a visão que se propunha a uma
concepção de educação como uma prática neutra. A pedagogia freireana é síntese da
teorização implícita na prática de Educação Popular. Ela traz a consideração do
conhecimento como possibilidade de superação de relações verticais contraditórias e de
modelos mecanicistas de análise da realidade social e implantação de novas propostas que
indiquem esperança e a necessidade de mudança. A partir da proposta freireana,
educadores e educadoras, grupos de movimentos sociais e escolas têm desenvolvido uma
ação de Educação Popular. Os elementos defendidos por Freire configuram a teorização
desta prática. Elementos esquematizados e organizados a partir de considerações próprias
e reinterpretação ou inovação de teorias existentes. Com práticas elaboradas na
experiência com o povo excluído, a partir de diálogo experienciado na ação militante de
libertação, Freire revela uma defesa pedagógica baseada na atividade direta com as
classes populares e na defesa de sua necessidade de emancipação social. Porém, o
estudioso não se deteve em apresentar apenas formulações teóricas, filosóficas, didáticas
e metodológicas. Ao contrário, constrói uma reflexão e elabora uma teoria pedagógica para
as classes populares. Sua preocupação era com o processo de aquisição de conhecimento
que fosse propício para que os indivíduos excluídos adquirissem a capacidade de
compreender o funcionamento da sociedade na qual se encontram, compreender sua
localização nesta e promover uma postura criticamente consciente a partir do
reconhecimento e da conscientização. Segundo o educador, sair da condição de oprimido
não é simplesmente deslocar-se para a função de opressor, mas propor uma nova relação
social em que haja igualdade entre homens e mulheres projetando um bem comum.
Partindo dessa premissa, Paulo Freire almeja por uma Pedagogia Libertadora, produtora
do diálogo permanente, fruto do processo que é por natureza dialética. Propõe uma
Pedagogia dialógica na qual parte da problematização da realidade dos educandos para a
finalidade de intervenção no mundo.
Inaugurou uma experiência, inédita no Brasil: alfabetizar adultos em 40 horas de aula,
sem cartilha. Mas não era só isso. Paulo Freire pretendia despertar a consciência política.
Desafio lançado, Freire teve todo um contato prévio com os participantes, estudando suas
realidades, as histórias de vidas e o contexto em que os aprendizes estavam inseridos. Um
grupo de educadores esteve junto de Freire nesta experiência em Angicos. Primeira
experiência foi realizada com 300 trabalhadores rurais, sem acesso à escola, e que formavam
um grande contingente de excluídos da participação social. Freire aplicou um método de
alfabetização baseado nas experiências de vida das pessoas. Em vez de buscar a
alfabetização por meio de cartilhas e ensinar, por exemplo, “o boi baba” e “vovó viu a uva”, ele
trabalhava as chamadas “palavras geradoras” a partir da realidade do cidadão. Por exemplo,
um trabalhador de fábrica podia aprender “tijolo”, “cimento”, um agricultor aprenderia “cana”,
“enxada”, “terra”, “colheita” etc. A partir da decodificação fonética dessas palavras, ia se
construindo novas palavras e ampliando o repertório.

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