Você está na página 1de 30

A Importância da Reforma

Protestante para a Igreja


Introdução:

• 31 de outubro de 2010 comemoraremos


os 493 anos de Reforma Protestante.
• Lutero e as 95 teses na Catedral de
Wittenberg.
1. Origem da Reforma:
Alguns pontos que caracterizavam a
igreja romana no início do século XVI; ei-
los:
a) O papado era uma potência religiosa
e política e, grande parte da vida eco-
nômica girava em torno das igrejas paro-
quiais, ocasionando uma insatisfação
por parte das autoridades civis, devido à
ingerência do papa em seus negócios.
b) Havia uma corrupção política, econô-
mica e moral generalizada na "igreja" e
no clero, contribuindo para um sentimen-
to anti-clerical.
c) Uma profunda carência espiritual: A
igreja tornara-se extremamente meticulo-
sa no confessionário e, ao mesmo
tempo, induzia os fiéis a realizarem boas
obras que, como não poderiam deixar de
ser, eram sempre insuficientes para
eliminar o sentimento de culpa latente.
• Tillich (1886-1965), resume: “Sob tais
condições jamais alguém poderia saber
se seria salvo, pois jamais se pode fazer
o suficiente; ninguém podia receber
doses suficientes do tipo mágico da
graça, nem realizar número suficiente de
méritos e de obras de ascese. Como
resultado desse estado de coisas havia
muita ansiedade no final da Idade
Média”.
d) As tentativas reformistas eram cruel-
mente eliminadas pela Inquisição.
e) O Culto há muito que se tornara
apenas num ritual meramente externo,
repleto de superstições, consistindo em
grande parte na leitura da vida dos
santos.
2. A Reforma como Movimento Religioso:
Os séculos anteriores à Reforma são
descritos como período de grande ansie-
dade.
• “Nos fins da Idade Média pesava na alma
do povo uma tenebrosa melancolia”,
constata o holandês Huizinga.
• Lutero (1483-1546) e as suas famosas
angústias espirituais, espelhava “a
epítome dos medos e das esperanças de
sua época” (T. George).
• As insatisfações não visam criar uma
nova igreja mas sim, tornar a existente
mais bíblica.
• A Reforma deve ser vista não como um
movimento externo mas sim, como um
movimento interno por parte de
“católicos” piedosos que desejavam
reformar a sua Igreja, revitalizando-a,
transformando-a na Igreja dos fiéis.
• Não podemos nos esquecer que as
mudanças causadas pelo Renascimento
e Humanismo contribuíram para ela;
afinal, a Reforma ocorreu na história,
dentro das categorias tempo e espaço,
onde o homem está inserido.
• A concepção da Reforma como um
movimento originariamente religioso não
implica a compreensão de que ela esteve
restrita a apenas esta esfera da reali-
dade; pelo contrário, entendemos que a
Reforma foi um movimento de grande
alcance:
• cultural,
• institucional,
• social e
• político
• na história da Europa e, posteriormente
em todo o Ocidente.
• A amplitude da influência da Reforma
em diversos setores da vida estava implí-
cita em sua própria constituição:
• Era impossível alguém abraçar a
Reforma apenas no campo da religião e
continuar em tudo o mais a ser um
homem de uma ética medieval, com a
sua perspectiva da realidade e prática
intocáveis.
• A Reforma em sua própria constituição
era extremamente revolucionária:
• “A Reforma ocupou, e deve continuar a
ocupar, um legítimo e significativo lugar
na história das idéias” (McGrath).
• É significativo o testemunho de dois
estudiosos católicos, Abbagnano e
Visalberghi, quando afirmam que,
“contribuição fundamental à formação da
mentalidade moderna foi a reforma
religiosa de Lutero e Calvino”.
3. A Reforma e a Propagação das Escri-
turas:
“A Reforma não trouxe perfeição social
ou política, mas ela gradualmente gerou
um aperfeiçoamento vasto e único. O
que o retorno da Reforma aos ensina-
mentos bíblicos trouxe para a sociedade
foi uma oportunidade para o exercício de
uma liberdade tremenda, sem recair no
caos” (Schaeffer).
• A Reforma teve como objetivo
precípuo uma volta às Sagradas
Escrituras, a fim de reformar a Igreja
que havia caído ao longo dos séculos,
numa decadência teológica, moral e
espiritual.
•A preocupação dos reformadores
era principalmente "a reforma da
vida, da adoração e da doutrina à
luz da Palavra de Deus“ (Packer).
•Partindo da Palavra passaram a pensar
acerca de Deus, do homem e do
mundo!
• O princípio protestante do "livre exame"
caminhava na mesma direção do espírito
humanista de rejeição a qualquer
autoridade externa:
• As coisas são o que são porque são,
não porque outros dizem que elas
sejam.
• Isto é válido para as verdades cientí-
ficas, como para as verdades teoló-
gicas:
•Não é a Igreja que autentica a Palavra
por sua interpretação "oficial", mas, sim,
é a Bíblia que se autentica a Si mesma
como Palavra autoritativa de Deus.
• Na Reforma deu-se uma mudança de
quadro de referência.
•Por isso, podemos falar deste movimento
como tendo um de seus pilares
fundamentais a questão hermenêutica.
•O “eixo hermenêutico” desloca-se da
tradição da igreja para a compreensão
pessoal da Palavra.
•Partindo desses princípios, a Reforma
onde quer que chegasse, se preocupava
em colocar a Bíblia na língua do povo.
•O reavivamento da pregação foi um dos
marcos fundamentais da Reforma.
•Os Reformadores criam que se as
Escrituras estivessem numa língua
acessível aos povos, todos os que
quisessem poderiam ouvir a voz de Deus
e, todos os crentes teriam acesso à
presença de Deus.
• Contudo, os reformadores esbarraram
num problema estrutural: o analfabetismo
generalizado entre as massas.
• Lutero traduziu a Bíblia para o alemão,
concluindo o seu trabalho em outubro de
1534.
•A sua tradução é uma obra primorosa,
sendo considerada o marco inicial da
literatura alemã.
4. A Necessidade da “Fé Explícita”:
Calvino combate a “fé implícita” – que
era patente na teologia católica –,
declarando que a nossa fé deve ser
“explícita”.
• Calvino denomina a fé implícita de
“espectro papista” e, “fé forjada e implícita
inventada pelos papistas. Pois por fé
implícita eles querem dizer algo destituído
de toda luz da razão”, que “separa a fé da
Palavra de Deus”.
• “Que costume é esse de professar o
evangelho sem saber o que ele significa?
Para os papistas, que se deixam dominar
pela fé implícita, tal coisa pode ser
suficiente. Mas para os cristãos não
existe fé onde não haja conhecimento”
(Calvino).
•Pelas palavras de Calvino, podemos
observar a necessidade latente do
ensino e estudo constante da Palavra de
Deus, a fim de que cada homem, sendo
como é, responsável diante de Deus,
tenha condições de se posicionar diante
de Deus de forma consciente; a fé
explícita é patenteada pela Igreja por meio
do ensino da Palavra.
• A prática de afastar o povo da Palavra,
mantendo-o na ignorância, é uma atitude
anticristã e altamente prejudicial:
•“Daqui se faz evidente que espécie de
cristianismo existe dentro do papado,
onde não só é a crassa ignorância
exaltada em nome da simplicidade, mas
também o povo é rigidamente proibido de
buscar o real discernimento” (Calvino).
•Lamenta que nem todos, mesmo tendo
oportunidade, têm usado deste privilégio:
o estudo das Escrituras.
• O princípio da “Fé explícita” está
relacionado também à produção das
Confissões Reformadas.
5. Algumas Ênfases:
1) A salvação por Graça unicamente
em Jesus Cristo; o Deus encarnado:
Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem.
2) A suficiência do sacrifício de Cristo
para salvar completa e totalmente o povo
de Deus.
3) A fé como a boa obra do Espírito
em nós que nos capacita a responder
positivamente ao chamado de Deus.
4) A Palavra de Deus, e somente Ela é
a autoridade final de todo o nosso pensar,
crer, agir e sentir.
5) A Inerrância e infalibilidade das
Escrituras como princípios teóricos e
práticos que norteiam a nossa perspectiva
da realidade em todas as suas
dimensões: religiosa, social, política,
econômica, ética, profissional, familiar,
etc. Portanto, uma ética comprometida
com as Escrituras.
6) O Culto a Deus como meta e razão
de ser da Igreja, que se manifeste em
consonância com a Palavra, em santo
temor e sincera gratidão para com Deus.
7) Um compromisso com o real a partir
da fé em Cristo, gerada em nós pelo
Espírito.
8) A aceitação incondicional da Majes-
tade de Deus e do Senhorio de Cristo em
todas as coisas a começar de nossa
salvação definitiva.
9) A compreensão de que a Igreja de
Deus não é um conjunto de pessoas
individuais mas, é o corpo de Cristo, o
povo constituído por Deus por meio do
Seu Espírito, para cultuá-Lo, viver a Sua
Palavra e proclamar a Sua salvação em
Cristo.
10) A Valorização do homem como
Imagem e Semelhança de Deus.
11) O zelo pela pregação fiel da Pala-
vra, administração correta dos Sacra-
mentos e o exercício fiel da disciplina.
12) Oração sincera e submissa.
Calvino entendia que “com a oração
encontramos e desenterramos os
tesouros que se mostram e descobrem à
nossa fé pelo Evangelho”.
13) A Glória de Deus como alvo
supremo de toda as coisas (1Co 10.31).
Palestras ministradas no Primeiro
Encontro de Teologia do Instituto
Bispo Roberto McAlister de
Estudos Cristãos, realizado na
Catedral da Igreja Cristã Nova
Vida, Rio de Janeiro, RJ., no dia
23 de outubro de 2010.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

Você também pode gostar