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APOSTILA

TEOLOGIA REFORMADA

Professor Rev.Wesley Altero


Apostila de uso restrito aos alunos.
Conteúdo retirado do livro:
O que é a Fé Reformada;
por John De Witt, Terry Johnson,
F. Portela
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SUMÁRIO

01 O QUE É A FÉ REFORMADA?

I Definindo a questão
II Existem fontes de autoridade?
III Diferenças de opiniões sobre definições
IV É possível identificar características da fé reformada?
V Os temas dominantes da fé reformada

02 POR QUE A FÉ É REFORMADA?

I A grandeza de Deus e sua glória


II A pequenez e a depravação do homem
III A graça da obra redentora de Cristo
IV Uma visão otimista do futuro

03 A MENSAGEM DA REFORMA PARA OS DIAS DE HOJE

I Porque lembrar a reforma


II Distorções verificadas na lembrança da reforma
III Esquecimento doutrinário dos princípios da reforma
IV Considerações práticas sobre a reforma e os reformadores
V A mensagem da reforma para os dias de hoje

04 NOSSA IDENTIDADE REFORMADA

http://www.monergismo.com/textos/teologia_reformada/
identidadereformada.htm
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I Definindo a questão

Definindo a questão. Sempre temos de nos relembrar, a nós mesmos, que não
fazemos teologia num vácuo; que a ciência da teologia não começou com a nossa
entrada no mundo. Às vezes tem-se a impressão, pela forma como alguns pregam e
escrevem, que toda a cristandade esperava pelo advento dos seus ministérios, e que é
somente por meio deles, e pelo que têm a dizer, que a fé cristã começou a fazer
sentido e a ser entendida em todas as suas implicações. Mas tal abordagem é
totalmente inaceitável; aqueles que falam dessa maneira introduzem, ao mesmo
tempo, seus próprios absurdos como se eles fossem o próprio evangelho de nosso
Senhor Jesus Cristo. Devem, assim, ser repreendidos e seu ensino deve ser repudiado.
Deveríamos dizer de uma vez por todas que, mesmo a partir de uma perspectiva
histórica, não é fácil chegar a uma definição breve e satisfatória do que significa ser
Reformado. Essa é sem dúvida a questão.

II Existem fontes de autoridade?

Existem Fontes de Autoridade? Em primeiro lugar porque não existe uma única fonte
à qual poderíamos recorrer em busca de uma expressão que defina com autoridade a
fé Reformada. Certamente devemos muito a João Calvino. Mas também devemos
grandemente a muitos outros: a Agostinho por exemplo, bem como a Anselmo, e a
Martinho Lutero. Além do mais, esses homens, não importa quão grandes possam ter
sido, eles não tinham a pretensão de estar falando com uma autoridade equivalente à
autoridade da revelação divina, ou de forma tal que toda a igreja fosse constrangida a
lhes obedecer. No Cristianismo evangélico não existe papa que pode falar ex catedra,
e assim impor pronunciamentos infalíveis aos fiéis.

III Diferenças de opiniões sobre definições

Diferenças de Opiniões sobre as Definições Também é verdade que ser Reformado


quer dizer coisas diferentes para pessoas diferentes. Alguns tendem a identificar a fé
Reformada com os cinco pontos do calvinismo, esquecendo que aqueles cinco pontos
são apenas uma expressão da fé — constituindo-se uma expressão importante —
contra um erro que se infiltrou no começo do século dezessete. Os Cânones de Dort
continuam sendo de extremo valor; e eu particularmente acho inconcebível que
qualquer pessoa possa afirmar ser reformado se os repudiar.
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É muito injusto àquela fé quando alguém restringe seu conteúdo a uma única área de
doutrina, por mais essencial que seja.

IV É possível identificar características da fé reformada?

É possível Identificar Características da Fé Reformada? Isso nos leva a considerar, até


que ponto pode ser possível isolar e identificar certos temas característicos da fé
Reformada? Como poderemos tentar descrever a genialidade desta fé? O que pode ser
identificado no Calvinismo que seja distinto e qual a melhor definição que pode
aproximar-se do seu conceito completo? Muitas respostas a essas perguntas foram
dadas, nenhuma delas totalmente satisfatória. No entanto não devemos perder a
esperança. Sugiro que nós aqui não devemos pensar meramente num único tema
dominante, mas sim numa série de temas que se relacionam uns com os outros e que
contribuem, cada um na sua própria forma, para uma compreensão maravilhosamente
harmônica e eminentemente bíblica da fé Cristã. Esses temas não são isolados uns dos
outros;

V Os temas dominantes da fé reformada

Os Temas Dominantes da Fé Reformada

1) A Doutrina das Escrituras: Em primeiro lugar, extremamente básica para a fé


Reformada é a sua doutrina das Escrituras. A Reforma redescobriu e acentuou de novo
e autoridade da Bíblia. Ela derrubou a tirania de uma hierarquia eclesiástica corrupta
que se tinha colocado acima da Palavra de Deus. A Reforma repudiou a autoridade da
tradição eclesiástica coordenada com aquela palavra, insistindo, com um vigor
proveniente de uma recém descoberta verdade, de que Jesus é Mestre em Sua própria
casa; que Ele fala ao Seu povo através da Sua Palavra; e que esta “palavra é o meio
pelo qual Ele chama pecadores para Si, reinando e subordinando-os ao Seu senhorio”.

Na tradição Reformada no entanto, em sua melhor e mais elevada forma, a ênfase não
caiu na maneira de inspiração, ou numa definição técnica do significado dos vários
atributos da Escritura tomados por eles mesmos (sua perfeição, clareza, suficiência e
necessidade), mas na sua autoridade. É quando abordamos as Escrituras desta
perspectiva, eu creio, que somos capazes de compreender o significado dos vários
adjetivos que usamos para descrever a Bíblia.
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A Bíblia é autoritativa: e muito mais do que isso, ela é absolutamente, e em última


instância, autoritativa. Ela não erra e não pode errar, e nunca jamais nos desviará.
Podemos repousar no seu ensino, confiar nela completamente, depender dela para
tudo que precisamos saber para viver e morrer de maneira feliz.

Qual é a base para a nossa aceitação da autoridade das Escrituras? Como é que
sabemos o que afirmamos ser verdade? Nós sustentamos que a Bíblia é um livro
singular: vemos a sua singularidade e somos por ela afetados. Sua unidade
extraordinária, apesar de ter sido escrita ao longo de vários séculos, seu estilo
majestoso, seu conteúdo glorioso, sua consistência maravilhosa, seu registro marcante
de profecia e do seu cumprimento — todas estas coisas nos movem a uma piedosa
exclamação. Mas não se trata de nenhuma dessas coisas, nem todas elas tomadas
juntas, sendo citadas, que nos convencem, nos persuadem e nos movem a obedecê-la.
Antes, a base de autoridade indispensável, bíblica e singularmente convincente, é,
como Calvino jamais se cansou em insistir, o testemunho do Espírito Santo. Nós
cremos na Bíblia porque ela é a Palavra de Deus: mas nós sabemos que é a Palavra de
Deus por causa do testemunho do Espírito Santo.

Na tradição Reformada, portanto, nossa doutrina, e também nosso sistema


organizacional, nosso louvor, nossa vida pública e privada como cristãos, bem como
aqueles que fazem parte da igreja, estão sob a autoridade suprema da voz do Deus
vivo falando a nós nas Escrituras. Pois para nós a Bíblia não é simplesmente um livro,
mas trata-se do livro de Deus: não é apenas uma coletânea de proposições, mas
tratam-se das palavras do Senhor Vivente.

2) A Soberania de Deus: A Fé Reformada também é caracterizada pela insistência de


que Deus deve ser conhecido e adorado como o Deus Soberano. Alguns fariam desta
soberania a sua característica maior.

Apesar de não entendermos muitas coisas completamente, a despeito disso, louvamos


e adoramos a Ele; nos ajoelhamos perante o Seu trono, de quem e por quem e para
quem são todas as coisas. A Ele somente seja a glória para sempre [Rm 11:36]!

3) A Primazia da Graça de Deus: Outro distintivo principal da Fé Reformada é sua


constante insistência sobre a invencibilidade da graça de Deus. Falamos muito das
doutrinas da graça; e o fazemos com razão.
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Por que insistimos que aqueles por quem nosso Senhor sofreu e morreu, são também
aqueles que serão levantados e exaltados com Ele e se assentarão nos lugares
celestiais, com Ele? Certamente a resposta só pode ser que o que está em jogo aqui é a
invencibilidade da graça de Deus. O nome do nosso Senhor é Jesus, porque Ele salva o
seu povo dos Seus pecados.

4) A Integração de Doutrina com a Vida Cristã: A Fé Reformada, igualmente, acentua a


doutrina bíblica da vida cristã. Quantas têm sido as aberrações nesta área! Em alguns
pontos da história a vida cristão foi entendida em termos de ascetismo e do abandono
da vida neste mundo presente.

A Fé Reformada, com sua compreensão firme da doutrina do pacto da graça, tem


insistido numa vida Cristã de grande amplitude e de órbita completa: uma vida vivida
no mundo, mas ao mesmo tempo uma vida que não é orientada para o mundo e seus
padrões; uma vida que enfatiza a “Cristianização” dos relacionamentos — por
exemplo, o lar e a família. Onde é que alguém encontra a prática do culto doméstico?
Onde é que alguém procura pelo conceito da igreja como uma coleção de famílias, ou
como ela própria sendo a família? Além disso, a ideia Reformada da vida Cristã é a de
uma vida vivida no mundo, cumprindo com as obrigações e as responsabilidades de tal
vida, dando testemunho da fé que está em Jesus Cristo, no sentido de ser sempre
coram Deo, na presença de Deus.

5) A Relação entre Lei e Evangelho: A Fé Reformada também tem sido caracterizada


por um entendimento claro da distinção e da relação entre Lei e Evangelho. Uma das
diferenças que mais impressionam no Protestantismo histórico é encontrado neste
ponto a igreja de Cristo precisa declarar com convicção óbvia e com vigor que, de Deus
não se zomba e que Sua santa Lei não pode ser deixada de lado sem que haja punição.

6) O Relacionamento entre o Reino de Deus e o Mundo: Outra característica principal


da Fé Reformada tem sido sua visão positiva e afirmativa daquilo que talvez eu possa
chamar de relacionamento entre o reino de Deus e o mundo. Neste ponto as opiniões
não têm sido uniformes, e nem todos os teólogos Reformados têm estado preparados
para falar livre e facilmente da ideia do “mandato cultural”, como alguns outros o
fazem. Não obstante, no seu melhor e mais alto ponto a tradição teológica reformada
tem expressado um grande interesse na forma e cultura do mundo: não no sentido, é
claro, de se conformar com o mundo, mas no sentido de transformação do mundo.
Pode-se ver isso fortemente no próprio Calvino, cujos interesses eram bem mais
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amplos do que a proclamação do Evangelho em Genebra. Esta proclamação era de


primeira importância, com certeza; mas tinha suas implicações ao longo do caminho,
por toda a vida da comunidade e do estado.

Mas cristãos reformados creem enfaticamente que a “Ao Senhor pertence a terra e
tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Salmo 24:1), e que Ele
não abandonou nem por um momento os poderes fora dEle mesmo. É por isso que
não podemos ser indiferentes aos males sociais, e à violações da lei de Deus na
sociedade como um todo; é por isso que devemos nos opor ao terrível mal do aborto,
à horrível aliciação da corrupção moral perceptível em todo canto, e também ao
massacre opressor dos pobres e destituídos que estão sob os poderosos, à opressão
dos fracos e desamparados qualquer que seja a forma como se manifeste. Certamente
a transformação social não pode, em nenhum sentido, estar divorciada da pregação do
Evangelho e da regeneração de indivíduos.

Trata-se de uma prostituição do conceito bíblico da vida da fé, de considerar o Cristão


como uma pessoa isolada, vivendo para ele próprio somente, como se ele pudesse
cumprir sua obrigação para com Deus sem ver todas as coisas como estando sujeitas
ao Senhorio de Jesus Cristo. Não temos que ter medo de enfrentar o mundo, apesar do
seu caráter ser mau e de jazer na impiedade (I João 5:19).

7) A Importância da Pregação: Por fim, a teologia Reformada é marcada também por


uma visão muito clara de pregação. Talvez eu deveria ter dito: por uma visão definida e
clara do ministério e da vida na igreja em relação a ele. Aqui, existe muito em comum
entre todos os evangélicos, de qualquer período da história.

Certamente aqueles que se apegam à fé Reformada têm uma visão elevada do


ministério (veja Rm 10:15). Já podemos sugerir e pressupor isso, apesar de não termos
dúvidas que muitos nas chamadas igrejas Reformadas e Presbiterianas esqueceram
sua própria herança a este respeito. A doutrina do ministério que prevalece em muitas
frentes é uma visão muito inferior do que aquela ensinada nas Escrituras: testemunhe
a facilidade com que as congregações se livram de pastores que possam tê-los
incomodado de alguma forma ou desagradado pela objetividade da sua pregação.

É pela pregação que Deus confronta as pessoas e as traz para si, conformando-as ao
padrão do Seu Filho; de fato, é pela pregação que Jesus Cristo se apresenta aos
corações e às consciências dos homens (Rm 10:14). Mas nós prosseguimos e fazemos a
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pergunta básica: O que caracteriza a pregação no sentido neo-testamentário da


palavra?

a) Exposição: Certamente pregação é a exposição da Palavra de Deus.

b) Aplicação: Pregação é inevitavelmente, e na natureza do caso, a aplicação da


palavra de Deus. Aplicar a verdade na pregação não é tarefa fácil; no entanto nós não
teremos pregado enquanto assim não tivermos feito.

Os teólogos de Westminster, no seu pequeno e maravilhoso tratado sobre o assunto,


insistiam que o pregador “não deve ficar só em doutrina geral, apesar de confirmar e
esclarecer, mas deve levá-la à vida e ao uso especial dos seus ouvintes por meio da
aplicação: o que, no entanto, se mostra um trabalho de grande dificuldade para a
pessoa, e que requer muita prudência, zelo e meditação, e será muito desagradável
para o homem natural e corrupto; no entanto ele deve tentar apresentá-la de tal
forma, que os seus ouvintes sintam a palavra de Deus rápida e poderosamente, e
como um discernidor dos pensamentos e propósitos do coração; e que, se qualquer
pessoa ignorante ou descrente estiver presente ele possa ter os segredos do seu
coração manifestos e dar glória a Deus”.

c) Proclamação: Mas não podemos parar por aí. Pois a pregação é a exposição e a
aplicação da Palavra der Deus; mas, além disso ela é proclamação. A própria palavra
“pregar” no Novo Testamento significa isso. Nós somos expositores e aplicadores;
porém somos expositores e aplicadores da Verdade de tal forma que o que nós
fazemos vem a ser proclamação. Nós somos arautos, com uma mensagem, que nos foi
legada para ser entregue às pessoas. Isso nos tira para fora de nós mesmos, nos eleva,
tirando-nos da esfera da comunicação ordinária. O que nossa geração precisa não é de
um grupo de comunicadores, ou de oradores muito espertos, oradores eficazes, ou
professores interessantes, mas sim de um grupo de proclamadores do Evangelho que
permanece para sempre em toda sua riqueza e compreensibilidade.

d) Liberdade: Porém, uma qualidade a mais da pregação no entendimento Reformado


da palavra deve ser mencionado: a sua liberdade. “Eu, irmãos, quando fui Ter
convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de
linguagem, ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo,
e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A
minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
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sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder”, (I Co 2:1-4). E de novo:


“Portanto eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos;
porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (Atos 20: 26,27; e
também 2 Co 5:10,11; 2 Tm 2:9).

Não precisamos de palavras açucaradas, pensamentos anuviados, pregadores que


fazem concessões, cujo primeiro pensamento é se o que eles vão dizer vai ou não
ofender aos ouvintes ou a comunidade como um todo; mas antes precisamos de
pregadores cujo compromisso primordial e portanto o primeiro impulso, seja a
obediência ao senhor Jesus em cujo serviço eles foram alistados, a quem eles
pertencem, e a quem eles devem prestar contas.

No culto não vamos para ouvir uma boa palavra, ou para ouvir uma palestra sobre um
assunto interessante, mas, sim, para nos humilhar, humilhar nosso pensamento, nosso
estilo de vida, nossas práticas sob a Palavra de Deus, e obedecer à Sua Palavra como
nossa lei. É com esta atitude que vivemos toda nossa vida. Ele não é apenas o Rei da
Igreja, ou do nosso compartimento de oração; mas, sim, do mundo todo e de todo
aspecto a Ele relacionado. A vida é um render-se contínuo de nós mesmos como
sacrifícios vivos, para o louvor do grande e glorioso Deus a quem servimos (Romanos
12: 1,2).

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